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× Inicialização LTI

A saúde do trabalhador é um campo construído historicamente, e está em


constante transformação. Com as mudanças da sociedade e o desenvolvimento
de novas tecnologias, os processos de trabalho foram se adaptando e evoluindo,
o que pode trazer benefícios à saúde de quem trabalha – ou não. Por isso a
importância da garantia aos direitos à proteção à saúde do trabalhador. Direitos
conquistados com o passar do tempo, principalmente com a luta dos próprios
trabalhadores pelo reconhecimento de seus direitos humanos.

Conhecer a história, os conceitos e os principais aspectos éticos e legais dentro


deste campo parece-nos fundamental. Entender o papel da enfermagem neste
contexto, seu campo de atuação multiprofissional e sua relação com os
trabalhadores e empregadores, também. Tendo em vista que mesmo que este
não seja diretamente o nosso campo de atuação profissional no futuro, seremos
ainda assim trabalhadores e trabalhadoras, em relação direta com outros.

Durante a disciplina vamos entender um pouco deste universo, bem como as


principais legislações vigentes relativas à segurança da saúde do trabalhador, as
principais doenças ocupacionais e a assistência de enfermagem neste contexto.

Esperamos, ao decorrer dela, que muitos questionamentos e reflexões possam


surgir, nos instigando a pensar como as relações de trabalho acontecem e como
podemos atuar frente a elas.

AUTORA
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Compreender a saúde do trabalhador é pensar também o universo do trabalho,


o meio onde este trabalhador está inserido, e as condições e repercussões que
este trabalho oferece. Com isto, vamos iniciar compreendendo um pouco o que
significa trabalho.

A definição do dicionário Míni Aurélio (2006) para “trabalho” é a "aplicação das


forças e faculdades humanas para alcançar determinado fim; lida, labuta". Já a
origem da palavra trabalho vem do latim, tripalium, formada pela junção de
tri (três) e palium (pau). O tripalium era uma ferramenta usada na lavoura e que
foi utilizada como instrumento de tortura pelos romanos para designar quem
perdia sua liberdade – os escravos.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) usa uma terminologia


considerada ainda mais ampla de trabalho, a de “população ocupada”, como
podemos acompanhar no Diagrama 1.
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Diagrama 1. Classificação da população ocupada, de acordo com a posição na


ocupação e a categoria do emprego. Fonte: IBGE, 2019, p. 5.

Toda população ocupada desenvolve algum tipo de serviço ou trabalho, porém


em condições bastante diferentes, que podem ir desde o emprego/trabalho
formal, com garantia de direitos, até a informalidade – onde está grande parte da
população brasileira. Segundo o IBGE, em 2015 61,66% da população com mais
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ocupação e a categoria do emprego. Fonte: IBGE, 2019, p. 5.

Toda população ocupada desenvolve algum tipo de serviço ou trabalho, porém


em condições bastante diferentes, que podem ir desde o emprego/trabalho
formal, com garantia de direitos, até a informalidade – onde está grande parte da
população brasileira. Segundo o IBGE, em 2015 61,66% da população com mais
de dez anos ocupada era contribuinte do Instituto Nacional de Previdência Social,
confirmando que grande parte da população se encontra na informalidade.

Ainda sobre o trabalho e sua origem, temos, segundo o verbete “Processo de


trabalho em saúde”, retirado do Dicionário da educação profissional em saúde, que
desde que o homem iniciou a lascar as primeiras pedras e colocou uma intenção
e um objetivo final ao que gostaria de produzir, iniciou-se o que chamamos de
“processo de trabalho”. As autoras do verbete conceituam o processo de
trabalho a partir de Marx como sendo uma atividade onde

[…] o homem opera uma transformação no objeto sobre o qual atua por meio de
instrumentos de trabalho para a produção de produtos, e essa transformação está
subordinada a um determinado fim. Portanto, os três elementos componentes do
processo de trabalho são: a atividade adequada a um fim, isto é, o próprio
trabalho, o objeto de trabalho, ou seja, a matéria a que se aplica o trabalho, e os
instrumentos ou meios do trabalho (MENDES GONÇALVES, 1979; 1992 apud
PEDUZZI; SCHRAIBER, 2009).

E, a partir destes processos de trabalho, o homem (trabalhador) começou a

adoecer. Portanto, um dos objetivos para compreendermos a saúde do

trabalhador é também entender seus processos de trabalho e seus

determinantes sociais.
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Ao longo do tempo, estes processos foram se aperfeiçoando com novas técnicas


e novos meios de produção. Quando, por fim, o homem, a partir de suas
necessidades, sejam elas vitais (de sobrevivência) ou de desejos (poder),
começou a produzir uma quantidade maior do que aquela que consumia ou do
que sua comunidade necessitava, iniciou-se um processo de acúmulo e
diferenciação entre os homens, e com isso uma nova forma de produção estava
dada.

Assim, para além do sistema feudal, começa a surgir o sistema capitalista,


segundo explicação de Mendes Gonçalves (2017).

A SAÚDE DO TRABALHADOR NO MUNDO


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A SAÚDE DO TRABALHADOR NO MUNDO

Mas, e onde começa a preocupação com a proteção da saúde do trabalhador?


Ela nasce com o surgimento do trabalho?

Os estudos de Hipócrates (460-375 a.C.), em seu tratado Água, ares e lugares,


mostraram a identificação de envenenamento por chumbo em mineiros e
metalúrgicos, e nos indica que, para além da produção, havia um olhar para
aqueles que produziam. Hipócrates, considerado o “pai da medicina”, foi o
primeiro a descrever o quadro clínico de intoxicação saturnina. E Paracelso,
considerado o “pai da toxicologia”, descreveu a intoxicação por mercúrio.

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considerado o “pai da toxicologia”, descreveu a intoxicação por mercúrio.

Em 1.700 foi publicado o livro De Morbis artificum diatriba (As doenças dos
trabalhadores), escrito pelo médico Bernardino Ramazzini, conhecido como o “pai
da medicina do trabalho”. Ele sistematizou conhecimentos acumulados sobre
medicina do trabalho, onde descreveu doenças de aproximadamente 50
ocupações (TIMBÓ; EUFRÁSIO, 2009).

Com o advento do capitalismo, a produção em massa evoluiu de diversas


maneiras, e a partir da Primeira Revolução Industrial (entre os séculos XVIII e XIX),
foi-se percebendo uma maior preocupação com as condições de trabalho, e que
as doenças relacionadas a este aumentavam em proporção à evolução e à
potencialização dos meios de produção. Ou seja, à medida que mais máquinas
eram incorporadas à rotina do trabalho, ou que mais tempo de trabalho era
exigido dos operários, por exemplo, maior era o adoecimento que se causava a
eles. A Figura 1 nos mostra crianças trabalhando em uma fábrica de algodão
durante a Revolução Industrial, fato que hoje em dia consideraríamos um abuso
sobre os direitos das crianças e adolescentes.
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E para além dos estudos realizados sobre as doenças causadas pelos processos
de trabalho, começaram a ser pensadas melhores formas e condições de
trabalho a partir da criação de leis e organizações voltada para a saúde do
trabalhador.

Em 1802 foi aprovada uma das primeiras leis relacionadas ao trabalho, a “Health
and Morals of Apprentices Act” (Lei de Saúde e Moralidade dos Aprendizes),
também conhecida como “Lei de Peel”, na Inglaterra, que proibia o trabalho
noturno para os aprendizes nas fábricas de algodão. Depois dessa lei, muitas
outras conquistas e avanços se sucederam, garantindo mais direito aos
trabalhadores, que culminaram com o desenvolvimento da medicina do
trabalho, por volta de 1830.
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EXPLICANDO
Robert Baker foi o primeiro médico a ser contratado para trabalhar no
interior de uma fábrica, na Inglaterra, quando o industrial Robert

Dernham, preocupado com as péssimas condições de saúde dos seus


empregados, procurou seu médico particular (Baker), que o orientou que

o ideal seria ter um médico dentro da fábrica avaliando os processos de


trabalho.
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EXPLICANDO
Robert Baker foi o primeiro médico a ser contratado para trabalhar no
interior de uma fábrica, na Inglaterra, quando o industrial Robert

Dernham, preocupado com as péssimas condições de saúde dos seus


empregados, procurou seu médico particular (Baker), que o orientou que

o ideal seria ter um médico dentro da fábrica avaliando os processos de


trabalho.

No início do século XX, Frederick Winslow Taylor publica a obra Princípios de


administração cientifica, nos Estados Unidos. Taylor apresentou mecanismos,
como o estudo de tempos e movimentos, a padronização de instrumentos e
ferramentas, a padronização dos movimentos, conveniência de áreas e
planejamento, uso de cartões de instrução, sistema de pagamento de acordo
com o desempenho e cálculo de custos, o que ficou conhecido como taylorismo.

Também nos Estados unidos, em 1910, Henry Ford utiliza os princípios de


produção em massa em linhas de montagem, diminuindo assim o tempo de
duração dos processos, a quantidade de matéria-prima estocada e o aumento da
capacidade de produção mediante a capacitação dos trabalhadores. Estes
princípios ficaram conhecidos como fordismo. Tanto o fordismo quando o
taylorismo são um importante marco dentro das teorias clássicas de

administração e para o mundo (e saúde) dos trabalhadores.


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Outro marco importante aconteceu em 1919, com a fundação da Organização


Internacional do Trabalho (OIT), que tem como missão promover oportunidades
para que homens e mulheres possam ter acesso a um trabalho decente e
produtivo, em condições de liberdade, equidade, segurança e dignidade. Com
ela, houve a internacionalização da tutela aos direitos do trabalhador. Sua
criação foi fruto da organização de sindicatos durante a Primeira Guerra Mundial
(1914-1918), que se mobilizaram para que o tratado de paz tivesse um estatuto
com normas de proteção ao trabalhador, gerando a resolução que cria a OIT e é
parte do Tratado de Versalhes.

Após o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), houve um crescimento ao


reconhecimento dos direitos humanos, o que acabou gerando a Organização das
Nações Unidas (ONU) e posteriormente a Organização Mundial de Saúde (OMS)
e, assim, uma nova etapa na proteção da saúde dos trabalhadores começou a
ser pensada a partir do que passou a ser chamado de saúde ocupacional
(SILVA, 2008).

A saúde do trabalhador passou a ser assim reconhecida somente a partir da

década de 1970, período em que ocorreu uma série de movimentos e


reivindicações dos trabalhadores organizados por sindicatos para a melhoria do

ambiente de trabalho como um todo, principalmente na Itália. Neste momento,


o trabalhador passa a ser o principal interessado na garantia dos seus direitos, e
passa a ser o foco – que deixa de estar no trabalho ou na ocupação.
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Acompanhe o Diagrama 2, que mostra os principais marcos históricos, a partir


da Revolução Industrial, sobre os cuidados voltados para a saúde do trabalhador
no mundo.
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Diagrama 2. Marcos importantes da construção de saúde do trabalhador no mundo.

E com as discussões sobre saúde do trabalhador, além da importância dos


processos do trabalho em si, a questão dos determinantes sociais da saúde
entram em cena, pois a partir de um olhar mais ampliado é possível ter uma
abordagem que transcende as relações de trabalho, o seu ambiente e sua
ocupação, e, desta forma, pode-se realizar um atendimento integral à saúde
desses trabalhadores.

Sabemos que os determinantes sociais influenciam a saúde não só do indivíduo


e de seus familiares, como também de sua comunidade, a sociedade na qual
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entram em cena, pois a partir de um olhar mais ampliado é possível ter uma
abordagem que transcende as relações de trabalho, o seu ambiente e sua
ocupação, e, desta forma, pode-se realizar um atendimento integral à saúde
desses trabalhadores.

Sabemos que os determinantes sociais influenciam a saúde não só do indivíduo


e de seus familiares, como também de sua comunidade, a sociedade na qual
está inserido. Observe a Figura 2.

Figura 2. Determinantes sociais da saúde. Fonte: DAHLGREN; WHITEHEAD,1991 apud


BRASIL, 2019, p. 17.

O excesso de trabalho, bem como a sua falta, pode provocar adoecimentos e


problemas sociais, portanto compreender a realidade na qual os trabalhadores
estão inseridos, para além da ótica dos processos de produção e ocupação, pode
ser um grande diferencial para os profissionais de saúde.
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Segundo Silva (2008), o termo "qualidade de vida do trabalhador" começa a ser


usado a partir de 1985. Este termo nos lembra que, para além do ambiente de
trabalho em que o trabalhador está inserido e sua ocupação, ele não está
alienado do meio onde vive, do seu mundo, das relações que tem, dos seus
desejos e angústias de vida. Assim, nos deparamos com novos desafios para a
proteção da saúde do trabalhador, uma vez que vemos novas formas e
processos de trabalho surgirem a cada dia, como, por exemplo, dentro da
revolução digital.

Contudo, essa classificação descrita por Silva (2008) tem muitas críticas, tendo em vista alguns autores
que consideram que o uso dessa terminologia desqualifica a participação e inserção dos trabalhadores,
como previsto pela conceituação de saúde do trabalhador desenvolvida desde a década de 1970.
Desqualifica na medida em que dá maior importância às ações que o empregador/trabalho realiza e não
à inserção e protagonismo do trabalhador. Assim, Padilha (2010, p. 549) descreve que:

[…] políticas de qualidade de vida do trabalhador adotadas em empresas podem


aliviar momentaneamente alguns sintomas, mas não ferrem as causas estruturais
do problema. A humanização da gestão da força de trabalho pode ser uma
encenação necessária no interior das organizações, mas não deve ser vista como
solução para os males do trabalho.

Muitos desafios estão colocados, e se pensarmos, por exemplo, nos estudos


sobre intoxicação por mercúrio feitos por Paracelso – ou seja, têm origem na
Grécia Antiga – e que foi somente em 2013 que tivemos a assinatura da
Convenção de Minamata sobre os riscos provenientes da utilização deste metal e
seus efeitos nocivos ao ambiente e à saúde, percebemos que temos um longo
caminho para o reconhecimento de muitos direitos relativos à qualidade de vida
do trabalhador.
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Por meio das conquistas de assistência à saúde dos trabalhadores, foi sendo
construído o que conhecemos hoje como SUS (Sistema Único de Saúde). Como
ressaltou Lacaz (2007, p. 757):

Saúde do Trabalhador é campo de práticas e conhecimentos cujo enfoque teórico-


metodológico, no Brasil, emerge da Saúde Coletiva, buscando conhecer (e intervir)
(n)as relações trabalho e saúde-doença, tendo como referência central o
surgimento de um novo ator social: a classe operária industrial, numa sociedade

que vive profundas mudanças políticas, econômicas, sociais.

Um marco importante foi a primeira lei sobre acidentes de trabalho no Brasil,


que ocorreu por meio do Decreto nº 3.724, de 15 de janeiro de 1919. Em 1930 foi
criado o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, que em 2003 passaria a
ser chamado de Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), e em 2019 foi extinto
por meio da Medida Provisória nº 870, de 1º de janeiro de 2019, e atual Lei nº
13.844, de 18 de junho de 2019, e suas ações em maior parte passaram a
compor o Ministério da Economia (ME) por meio da Secretaria Especial da
Previdência e Trabalho (SEPRT).
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Já em 1966 houve a criação da Fundação Centro Nacional de Segurança, Higiene

e Medicina do Trabalho (Fundacentro) – que posteriormente mudou de nome,

mantendo sua sigla –, cuja missão é “Produzir conhecimento aplicado para


subsidiar políticas públicas que promovam o trabalho seguro, saudável e

produtivo” (BRASIL, [s.d.]). Em 1974 foi vinculada ao Ministério do Trabalho, e

atualmente à Secretaria do Trabalho dentro do Ministério da Economia, além de


ser colaboradora da OMS e da OIT.

Na década de 1970, com base na OIT nº 112, de 1959, que definia objetivos e

funções dos serviços médicos nos estabelecimentos de trabalho, o governo


brasileiro regulamenta a obrigatoriedade dos serviços de segurança e medicina
do trabalho por meio da Portaria nº 3.214, de 08 de junho de 1978, que
regulamenta os artigos contidos na Consolidação das Leis do Trabalho (que
surgiu pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943) e cria 28 Normas
Regulamentadoras (NRs), além de estabelecer a concepção de saúde
ocupacional, que incluiu outros profissionais para o cuidado da saúde do
trabalhador, além da medicina do trabalho (LEATE, 2003).

Antes dessa portaria os textos sobre a proteção à saúde do trabalhador estavam


dispersos em diversos documentos, o que dificultava o entendimento e a
aplicação das leis.
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CONTEXTUALIZANDO
Na década de 1970, o Brasil era o país com maior número de acidentes
de trabalho no mundo, registrando 1.220.111 acidentes de trabalho. Por
conta disso, diversas medidas tiveram de ser tomadas para melhorar a

imagem do país. Fazendo um breve comparativo, no ano de 2018 o


Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho identificou 623.782
acidentes de trabalho referentes ao CAT. Porém, se considerarmos os
trabalhadores informais e autônomos, este número pode ser até sete

vezes maior.

Um grande momento para a história da saúde do trabalhador no Brasil foi a


promulgação da Constituição Federal de 1988, que aconteceu por conta da
mobilização de diversos movimentos populares que pediam por reformas
trabalhistas e reformas na saúde. Ela teve como marco principal a introdução da
saúde do trabalhador no sistema jurídico nacional.

E a partir da nova Constituinte, as ações de saúde do trabalhador passaram a ser


competência do SUS, sendo também consagrada a proteção ao meio ambiente,
incluindo o meio ambiente do trabalho. Estas foram conquistas da população,
que por meio das Conferências de Saúde e do Movimento de Reforma Sanitária
Brasileira conseguiram que a saúde fosse instituída, a partir de então, como um
direito de todos e um dever do Estado. Antes, poucas pessoas tinham direito ao
atendimento público de saúde, estando disponível apenas para trabalhadores
com carteira assinada. A Figura 3 mostra a grande participação em uma das
plenárias da 8ª Conferência Nacional de Saúde, responsável pela criação do SUS.
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Figura 3. Plenária da 8ª Conferência Nacional de Saúde em 1986. Fonte: RADIS


Comunicação e Saúde, 2019.

Muitos desafios foram colocados a partir da nova Constituição Federal no Brasil,


e muitos foram os avanços, pois vários direitos foram conquistados,
principalmente no que diz respeito ao acesso à saúde. Isto posto, a nova questão
apresentada era como colocá-los em prática.

Desta forma, em 1993 é criada a Comissão Interministerial de Saúde do


Trabalhador, instituída pela Portaria Interministerial nº 1, de 20 de abril de 1993,
em um esboço de uma futura Política Nacional à Saúde do Trabalhador – que foi
o objetivo da 2ª Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador (CNST), em 1994.
Esta resultou na elaboração da Norma Operacional de Saúde do Trabalhador
(NOST), no SUS, que passou a ser um guia operacional para as ações dos estados
e municípios.

Porém, os números de óbitos e acidentes relacionados ao trabalho ainda eram grandes, e fazia
falta uma política nacional com maior direcionalidade para a prevenção de acidentes. Assim,
nasce a Renast (Rede Nacional de Atenção Integral a Saúde do Trabalhador), por meio da
Portaria GM/MS nº 1679, de 18 de setembro de 2002, com o propósito de implementar ações
de vigilância e de promoção à saúde no SUS, qualificando as ações e informações em todos os
níveis de atenção.
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Em sua atual formatação, suas ações mais descentralizadas encontram-se


articuladas com os CEREST (Centro de Referência à Saúde do Trabalhador),
previstas pela Portaria nº 2.728, de 11 de novembro de 2009.

Em 2011 é instituída a Política Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho por


intermédio do decreto nº 7.602, de 7 de novembro de 2011. E, finalmente, em
agosto de 2012 é instituída a Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da
Trabalhadora (PNSTT) pela Portaria nº 1.823, evento considerado um grande
avanço em consonância com a Política instituída em 2011.

O Diagrama 3 nos mostra, de forma resumida, um pouco da construção histórica


da saúde do trabalhador no Brasil.
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Diagrama 3. Marcos importantes da construção de saúde do trabalhador no Brasil.

Os desafios atuais estão em acompanhar de forma mais descentralizada e


territorializada as ações de proteção à saúde do trabalhador, principalmente
com ações dentro da atenção primária em saúde, em articulação com os CEREST
e todos os serviços do território.

Outrossim, além das doenças clássicas descritas pela medicina do trabalho,


avançar no debate da qualidade de vida do trabalhador, as consequências dos
processos de trabalho e do meio ambiente e o combate às desigualdades sociais
– que são os responsáveis pela existência da exploração de trabalho infantil e
trabalho escravo e que, infelizmente, estão presentes em nosso país e no
mundo.
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Em uma sociedade que cresce e muda constantemente, novas formas e


processos de trabalho são criados, e novas demandas de proteção à saúde do
trabalhador precisam ser pensadas. Acompanhe duas situações que refletem
novas condições de trabalho:

Na Figura 4, temos um trabalhador que realiza entregas de comida em sua


bicicleta, sem equipamentos de proteção e em uma condição “autônoma”, onde,
por meio do uso de aplicativos de celulares para realizar entregas de comida, é
desvinculado das leis trabalhistas e acaba precarizado em sua condição de
trabalho e enquanto trabalhador.

Figura 4. Trabalhador autônomo. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 15/09/2020.


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Na Figura 5 temos uma trabalhadora em um regime de home office que ao


mesmo tempo cuida de sua filha. As crianças estão sem aulas presenciais nas
escolas por conta do isolamento social imposto pela covid-19 durante o ano de
2020, o que obrigou milhares de trabalhadores a reinventarem suas rotinas
dentro de casa.

Figura 5. Trabalho em home office. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 15/09/2020.

As duas situações representadas pelas figuras bastante distintas, inclusive pela


desigualdade social entre elas, nos mostram os desafios colocados para a
garantia a proteção à saúde e aos direitos dos trabalhadores. Como pensar em
qualidade de vida sem garantia de direitos?

Este é o desafio que a transformação social nos mostrou até aqui com diversos
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Figura 5. Trabalho em home office. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 15/09/2020.

As duas situações representadas pelas figuras bastante distintas, inclusive pela


desigualdade social entre elas, nos mostram os desafios colocados para a
garantia a proteção à saúde e aos direitos dos trabalhadores. Como pensar em
qualidade de vida sem garantia de direitos?

Este é o desafio que a transformação social nos mostrou até aqui, com diversos
movimentos que possibilitaram a construção da saúde do trabalhador, que,
como mostramos, está em constante evolução.
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Seção 4 de 5

Conceito e importância da saúde ocupacional e da saúde do


trabalhador

Podemos perceber quão importante foi o desenvolvimento histórico da saúde do trabalhador e


todas as medidas e conquistas para a proteção à saúde, bem como para a garantia de seus
direitos. Seus conceitos foram construídos historicamente, como observamos no tópico
anterior, e, conforme afirma Lacaz (2007, p. 758-9), “[…] as relações trabalho-saúde situam-se
no entrecruzamento dos desígnios do capital com as possibilidades de transformação social
[…]”, ou seja, com a transformação das necessidades e da realidade social é que surge a saúde
ocupacional.

Estes conceitos precisam estar claros para que não nos confundam e que, ao nos
referirmos a eles, possam nos remeter exatamente ao período em que foram
pensados e conceituados e qual seu objetivo.

Dentre eles, alguns merecem destaque, como a saúde ocupacional e a saúde do


trabalhador. Eles acabam sendo usados como sinônimos em muitas ocasiões e
por muitas pessoas, mas têm contextos e conceitos um pouco diferenciados.
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DA MEDICINA DO TRABALHO À SAÚDE OCUPACIONAL

A medicina do trabalho surge durante o grande crescimento de fábricas na


Revolução Industrial, pois ocorre grande adoecimento dos trabalhadores por
conta dos ambientes insalubres e das horas extenuantes de trabalho em busca

de aumento de produtividade. Dessa maneira, o médico é inserido dentro das

fábricas para entender o que estava acontecendo.

Logo, esta preocupação toma conta do cenário internacional e outros países


industrializados inserem o médico em suas fábricas. Em 1959, a Recomendação
nº 112, de 1959, da OIT sobre “Serviços de Medicina do Trabalho” é aprovada
pela Conferência Internacional do Trabalho, e passa a ser referencial para o
estabelecimento de diplomas legais nacionais.
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Segundo a Recomendação 112, “a expressão ‘serviço de medicina do trabalho’


designa um serviço organizado nos locais de trabalho ou em suas imediações,
destinado a:
- assegurar a proteção dos trabalhadores contra todo o risco que prejudique a sua
saúde e que possa resultar de seu trabalho ou das condições em que este se
efetue;

- contribuir à adaptação física e mental dos trabalhadores, em particular pela


adequação do trabalho e pela sua colocação em lugares de trabalho
correspondentes às suas aptidões;
- contribuir ao estabelecimento e manutenção do nível mais elevado possível do
bem-estar físico e mental dos trabalhadores” (MENDES; DIAS, 1991, p. 342).

Com estas definições, conseguimos entender o objetivo e um pouco da


conceituação do termo medicina do trabalho, ou seja, um serviço que estava
voltado principalmente ao próprio trabalho e à relação do trabalhador em
benefício do trabalho/indústria, e centralizado no trabalho do médico. Podemos
visualizar este trabalho sendo realizado por meio dos serviços de exames
admissionais e demissionais, presentes até hoje.

Contudo, essa centralidade médica e na doença mostraram-se insuficientes. Tanto durante o


período da Segunda Guerra Mundial quanto o do pós-guerra exigiram muito dos trabalhadores
em jornadas extenuantes e condições precárias. E, juntamente com um aceleramento da
tecnologia dos meios industriais – que prezavam pela produtividade – aumenta a insatisfação
dos trabalhadores e “desvela-se a relativa impotência da medicina do trabalho para intervir
sobre os problemas de saúde causados pelos processos de produção” (MENDES; DIAS, 1991, p.
343).
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Como resposta a esta impotência, houve um investimento e uma busca em


intervir sobre o meio ambiente do trabalho na medida em que o trabalhador
está em contato com agentes químicos, físicos e biológicos que podem lhe
causar acidentes e enfermidades.

Há, neste momento, uma ênfase na higiene deste ambiente junto da


preocupação em adaptá-lo às condições de trabalho e a inclusão de outros
olhares para além do saber da medicina, com maiores possibilidades de
enxergar além do binômio saúde-doença. Inseria-se, assim, uma equipe
interprofissional e multiprofissional, surgindo a saúde ocupacional (LACAZ, 2007).
É neste momento também que a enfermagem entra em cena, junto com a
engenharia, por exemplo.
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Com a saúde ocupacional, passa a existir uma abordagem que incorpora as

práticas e conhecimentos da clínica, da medicina preventiva e da epidemiologia

clássica. Consequentemente, há o uso das tecnologias de vigilância sanitária e

vigilância epidemiológica, que, em conjunto com a medicina preventiva,

fomentam ações de promoção à saúde do trabalhador.

Não obstante, segundo Mendes e Dias (1991, p. 344), a saúde ocupacional não
conseguia atingir os objetivos propostos pois:

- o modelo mantém o referencial da medicina do trabalho firmado no


mecanicismo;
- não concretiza o apelo à interdisciplinaridade: as atividades apenas se justapõem
de maneira desarticulada e são dificultadas pelas lutas corporativas;
- a capacitação de recursos humanos, a produção de conhecimento e de tecnologia
de intervenção não acompanham o ritmo da transformação dos processos de
trabalho;
- o modelo, apesar de enfocar a questão no coletivo de trabalhadores, continua a
abordá-los como “objeto” das ações de saúde;
- a manutenção da saúde ocupacional no âmbito do trabalho, em detrimento do
setor saúde.

E Lacaz (2007, p. 759) enfatiza que:

a saúde ocupacional pouco tem para contribuir, já que atua sobre indivíduos,
privilegiando o diagnóstico e o tratamento dos problemas de natureza orgânica, a
partir da visão empirista e positivista trazida da clínica. Aqui caberá pouco espaço
para a subjetividade do trabalhador, tomado como paciente e objeto da técnica,

estreitando a possibilidade de apreensão das formas de adoecimento no trabalho


na contemporaneidade, cuja causalidade cada vez mais complexa, envolve a
organização do trabalho e sua relação com a subjetividade dos coletivos de
trabalhadores
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trabalhadores.
(...)
Tal limite epistemológico impede que a saúde ocupacional considere e opere sobre
nexos mais complexos, pouco contribuindo na compreensão da causalidade das
doenças relacionadas ao trabalho, especialmente as cardiovasculares,
psicossomáticas e mentais, características do adoecimento pelo trabalho hoje.

Apesar das críticas, devemos ter clara a importância da saúde ocupacional tanto
em seu contexto histórico quanto em seus dias atuais. A evolução e o

surgimento do conceito de saúde do trabalhador são extremamente necessários,


e sua atuação precisa ocorrer conjuntamente com serviços e equipes de saúde

ocupacional para que os trabalhadores tenham garantido seus direitos de


proteção à saúde, como veremos a seguir.

DA SAÚDE OCUPACIONAL À SAÚDE DO TRABALHADOR


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Mendes e Dias (1991) explicam que o campo da saúde do trabalhador surge da insuficiência da
saúde ocupacional, se apresentando com um olhar para além da fábrica. Seu objeto pode ser
definido com o processo saúde e doença dos grupos humanos em sua relação com o trabalho.
Esse novo conceito está aliado a uma nova classe trabalhadora, inserida dentro do contexto da
cidade e da maturação dos processos de industrialização, que tem engajamento político e
social.

Na definição de Lacaz (2007, p. 760):

Na medida em que as classes trabalhadoras constituem-se em novo sujeito político


e social, conforme sugere o campo saúde do trabalhador, este incorpora ideia de
trabalhador que difere frontalmente da anterior: passiva, como hospedeiro ou
paciente; apreendendo-o como agente de mudanças, com saberes e vivências
sobre seu trabalho, compartilhadas coletivamente e, como ator histórico, ele pode
intervir e transformar a realidade de trabalho, participando do controle da
nocividade; da definição consensual de prioridades de intervenção e da elaboração
de estratégias transformadoras.

É durante a década de 1970 que ocorrem os Movimentos de Reforma Sanitária


no Brasil, exigindo que a saúde seja entendida como um direito humano e tendo
a organização dos movimentos sindicais dos trabalhadores como peça
fundamental nessa luta política em busca da consagração de direitos.

É importante ressaltar que os modelos de saúde ocupacional e saúde do


trabalhador coexistem no Brasil e no mundo, bem como os serviços de medicina
do trabalho, conforme representados pelo Diagrama 4. O desafio é mantê-los
como na representação gráfica, interligados, para que de fato possam cumprir
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trabalhador coexistem no Brasil e no mundo, bem como os serviços de medicina
do trabalho, conforme representados pelo Diagrama 4. O desafio é mantê-los
como na representação gráfica, interligados, para que de fato possam cumprir
com o objetivo maior de garantia à proteção aos trabalhadores que tanto
discutimos até aqui.

Diagrama 4. Representação gráfica dos modelos de atenção à saúde do trabalhador.

E embora saibamos da importância histórica da consagração da saúde do


trabalhador ela vem perdendo força à medida que os movimentos sociais e
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Diagrama 4. Representação gráfica dos modelos de atenção à saúde do trabalhador.

E embora saibamos da importância histórica da consagração da saúde do


trabalhador, ela vem perdendo força à medida que os movimentos sociais e
sindicais estejam desacreditados ou desencorajados perante a sociedade, pois o
trabalhador deixa de ser o agente motivador e impulsionador de mudança, e em
contrapartida o ambiente de trabalho e o próprio trabalho/capital acabam se
fortalecendo – nos colocando em um movimento historicamente inverso, onde o
modelo de saúde ocupacional acaba sendo priorizado.

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Seção 5 de 5

Aspectos éticos e legais na saúde do trabalhador

Os preceitos éticos e legais permeiam e direcionam o trabalho dos profissionais


de saúde. Em função da especificidade da saúde do trabalhador, seu caráter
multiprofissional e as responsabilidades em relação aos trabalhadores, aos
empregadores, ao público em geral, à saúde pública e às autoridades e
entidades específicas, faz-se necessário um Código de Ética destinado a estes
profissionais, bem como algumas legislações que regem a sua atuação, como
veremos a seguir.

CÓDIGO INTERNACIONAL DE ÉTICA PARA OS PROFISSIONAIS DE SAÚDE NO


TRABALHO
× Inicialização LTI

A primeira versão do Código Internacional de Ética foi publicada em 1992, e

desde a primeira publicação houve a necessidade de diretrizes específicas para a

saúde no trabalho – a Comissão Internacional de Saúde no Trabalho (ICOH) usa a


denominação “saúde no trabalho” para se referir à saúde ocupacional. Com o

decorrer dos anos, esta primeira versão sofreu alterações, sendo a mais

atualizada a versão de 2016 (ICOH, 2016).

Segundo o Código Internacional de Ética dos profissionais de saúde no trabalho


de 2016, os princípios éticos básicos na Saúde no Trabalho são:

O propósito da saúde no trabalho é servir à proteção e promoção da saúde


física, mental e social e ao bem-estar dos trabalhadores, individualmente e
coletivamente. O exercício da saúde no trabalho deve ser realizado de acordo
com os mais elevados padrões profissionais e princípios éticos. Os profissionais de
saúde no trabalho devem contribuir para a saúde ambiental e comunitária.

Os deveres dos profissionais de saúde no trabalho incluem a proteção da vida e


da saúde do trabalhador, respeitando a dignidade humana e promovendo os mais
elevados princípios éticos na implementação de políticas e programas de saúde no
trabalho. A integridade na conduta profissional, a imparcialidade e a proteção da
confidencialidade dos dados de saúde e a privacidade dos trabalhadores
constituem parte destes deveres.

Os profissionais de saúde no trabalho são profissionais especializados que


devem gozar ampla independência profissional no exercício de suas funções.
Devem estes profissionais adquirir e manter a competência profissional necessária
para desempenhar seus deveres, exigindo as condições que os permitam executar
suas tarefas, de acordo com as boas práticas e com a ética profissional (ICOH,
2016, p. 21 e 22, grifo nosso).

O Código Internacional de Ética dos profissionais de saúde no trabalho e suas


diretrizes servem como base para a conduta dos profissionais, que juntamente
× Inicialização LTI

O Código Internacional de Ética dos profissionais de saúde no trabalho e suas


diretrizes servem como base para a conduta dos profissionais, que juntamente
com seus códigos de éticas profissionais e com a legislação vigente devem ser
seguidos para garantia dos direitos à proteção da Saúde do Trabalhador.

INSTITUIÇÕES RESPONSÁVEIS NO ÂMBITO DA SAÚDE DO TRABALHADOR NO


BRASIL

Para iniciarmos as discussões sobre os principais aspectos legais da saúde do


trabalhador no Brasil, é importante termos em mente quais são as instituições e
os órgãos responsáveis. Entender suas funções e um pouco de seus
organogramas pode ajudar no entendimento da legislação e a sua aplicação.

Alguns ministérios e secretarias funcionam como grandes guardiões das


did d ã à úd d b lh d A h l Di 5
× Inicialização LTI

Alguns ministérios e secretarias funcionam como grandes guardiões das


medidas de proteção à saúde do trabalhador. Acompanhe pelo Diagrama 5 que,
dentro do Ministério da Economia (ME), temos a Secretaria Especial da
Previdência e Trabalho (SEPRT), que é composta pelas Secretarias da Previdência
(SPREV) e Secretaria do Trabalho (STRAB), e é por meio delas que se realizam a
inspeção e a fiscalização das condições dos ambientes de trabalho, conforme
preconiza o capítulo V da CLT.

Antes das mudanças ocorridas no início de 2019, estas secretarias


representavam o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e estas funções
permaneceram junto ao ME. Outras atividades foram destinadas a outros
ministérios, como o da Justiça.

Diagrama 5. Representação do organograma e instituições relacionadas ao ME.


× Inicialização LTI

As NRs criadas pela Portaria 3.214/1978 e as Normas Regulamentadoras Rurais


(NRRs) de 1988 são as ferramentas mais importantes de trabalho da STRAB e, em
âmbito regional, as fiscalizações e ações são realizadas pelas Superintendências
Regionais do Trabalho e Emprego (SRTE).

Elas ganharam este nome a partir da Portaria nº 153, de 12 de fevereiro de 2009,


e antes disso eram vinculadas ao extinto MTE e eram chamadas de Delegacias
Regionais do Trabalho e Emprego (DRTE). Importante conhecermos também essa
nomenclatura, pois muitos documentos ainda estão desatualizados.

O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) é uma autarquia vinculada à SPREV, que

é responsável pela perícia médica, reabilitação profissional e pagamento de

benefícios. Uma ferramenta bastante utilizada pelo INSS e importante para a

notificação de acidentes de trabalho é a Comunicação de Acidente de Trabalho

(CAT). Seus dados fornecem importantes indicadores relacionados à saúde do

trabalhador.
× Inicialização LTI

O Ministério da Saúde/Sistema Único de Saúde (MS/SUS) é responsável pelas

ações de promoção, prevenção, assistência e vigilância à saúde do trabalhador,


como regulamentado pela Lei Orgânica da Saúde nº 8.080, de 19 de setembro de
1990, que foram garantidas por meio do artigo 200 da Constituição brasileira de
1988, que assegura o direito à saúde. As ações acontecem por meio da atenção
primária à saúde (APS), atenção hospitalar e de urgência e emergência, atenção
especializada, e a vigilância em saúde do trabalhador (VISAT). O Diagrama 6 nos
mostra um pouco do campo de ação do MS/SUS dentro da saúde do
trabalhador.

Diagrama 6. Campo de atuação do Ministério da Saúde/SUS na saúde do trabalhador.

A SPREV, STRAB e o MS/SUS são instituições com atribuições específicas no


âmbito de proteção à saúde do trabalhador, mas que se complementam em
muitas ações, principalmente naquelas voltadas à vigilância da saúde. Ambas
possuem Conselhos Nacionais, que são órgãos colegiados de deliberação e de
controle social. As Conferências ocorrem por meio deles, que têm papel
fundamental na construção da legislação que conhecemos.
× Inicialização LTI

O Conselho Nacional de Saúde abriga ainda a Comissão Interinstitucional de


Saúde do Trabalhador (CIST), que tem como finalidade articular políticas e
programas de interesse para a saúde, cuja execução envolva áreas não
compreendidas pelo SUS.

E além dos Ministérios já citados, temos o Ministério do Meio Ambiente


(MMA), que deve trabalhar em sintonia com a saúde, educação e trabalho

(Diagrama 7). Suas ações devem ser pensadas em um nível de sincronicidade,


visto que podem desencadear problemas graves. Como exemplo, temos as
ações do garimpo, que, além de afetarem o meio ambiente, prejudicam
diretamente a saúde dos trabalhadores envolvidos na atividade e a saúde da
população residente próxima à área garimpada. Outro exemplo é o uso de
agrotóxicos, que podem afetar a saúde daqueles que consumem os alimentos,
bem como a saúde dos trabalhadores em sua manipulação.

Diagrama 7. Articulação das ações do Ministério do Meio Ambiente.

CONTINUE
× Inicialização LTI

Diagrama 7. Articulação das ações do Ministério do Meio Ambiente.

ASPECTOS ÉTICOS E LEGAIS PARA A ENFERMAGEM EM SAÚDE DO TRABALHADOR

Como discutimos até aqui, foi com o surgimento da saúde ocupacional que a

enfermagem entra neste campo de atuação. A partir da Portaria 3.214/1978, que


“aprova as Normas Regulamentadoras - NR - do Capítulo V, Título II, da

Consolidação das Leis do Trabalho, relativas à Segurança e Medicina do


Trabalho” ficou regulamentado o exercício da enfermagem do trabalho.

A NR 4 determina que as empresas públicas e privadas e os órgãos públicos da


administração direta e indireta dos poderes Legislativo e Judiciário, que possuam
empregados regidos pela CLT, devem manter, obrigatoriamente, serviços
especializados em engenharia de segurança e em medicina do trabalho (SESMT),
sendo que estes serviços, a depender do número de trabalhadores e do grau de
risco a que estes estão expostos, deverão contar também com o profissional de
enfermagem do trabalho, que tem como finalidade promover a saúde e proteger
a integridade do trabalhador no local de trabalho.
×g Inicialização LTI

Segundo a Associação Nacional de Enfermagem do Trabalho, são atribuições da


enfermeira e do enfermeiro do trabalho:

- Estudar as condições de segurança e periculosidade da empresa, efetuando


observações nos locais de trabalho e discutindo-as em equipe, para identificar as
necessidades no campo de segurança, higiene e melhoria do trabalho;

- Elaborar e executar planos e programas de promoção e proteção à saúde dos


empregados, participando de grupos que realizam inquéritos sanitários, estudam
as causas de absenteísmo, fazem levantamentos de doenças profissionais e lesões
traumáticas, procedem a estudos epidemiológicos, coletam dados estatísticos de
morbidade e mortalidade de trabalhadores, investigando possíveis relações com
as atividades funcionais, para obter a continuidade operacional e o aumento da
produtividade;
- Executar e avaliar programas de prevenção de acidentes e de doenças
profissionais e não profissionais, fazendo análise de fadiga, dos fatores de

insalubridade, dos riscos e das condições de trabalho do menor e da mulher, para


propiciar a preservação da integridade física e mental do trabalhador;
- Prestar primeiros socorros no local de trabalho, em caso de acidente ou doença,
fazendo curativos ou imobilizações especiais, administrando medicamentos e
tratamentos e providenciando o posterior atendimento médico adequado, para
atenuar consequências e proporcionar apoio e conforto ao paciente;
- Elaborar, executar e avaliar as atividades de assistência de enfermagem aos
trabalhadores, proporcionando-lhes atendimento ambulatorial, no local de
trabalho, controlando sinais vitais, aplicando medicamentos prescritos, curativos,
inalações e testes, coletando material para exame laboratorial, vacinações e outros
tratamentos, para reduzir o absenteísmo profissional;
- Organizar e administrar o setor de enfermagem da empresa, prevendo pessoa e
material necessários, treinando e supervisionando auxiliares de enfermagem
adequado às necessidades de saúde do trabalhador;
- Treinar trabalhadores, instruindo-os sobre o uso de roupas e material adequado
ao tipo de trabalho, para reduzir a incidência de acidentes;
- Planejar e executar programas de educação sanitária, divulgando conhecimentos
e estimulando a aquisição de hábitos sadios, para prevenir doenças profissionais e

lh di õ d úd d t b lh d
× Inicialização LTI
e estimulando a aquisição de hábitos sadios, para prevenir doenças profissionais e

melhorar as condições de saúde do trabalhador;


- Registrar dados estatísticos de acidentes e doenças profissionais, mantendo
cadastros atualizados, a fim de preparar informes para subsídios processuais nos
pedidos de indenização e orientar em problemas de prevenção de doenças
profissionais (ANENT, [s.d.]).

Sendo assim, este profissional faz atividades de medicina e segurança do


trabalho, e atividades relacionadas ao serviço de higiene, compondo a equipe

multiprofissional e proporcionando a preservação da saúde e valorização do


trabalhador.

Além dessas ações específicas dentro da saúde ocupacional (que exigem profissional de enfermagem
com especialização em enfermagem do trabalho), o(a) enfermeiro(a) pode e deve compor as equipes da
VISAT dentro dos diferentes níveis de atenção do SUS, além de desenvolver ações de assistência,
promoção e prevenção à saúde do trabalhador, conforme vimos no Diagrama 6.

CONTINUE
× Inicialização LTI

Agora é a hora de sintetizar tudo o que


aprendemos nessa unidade. Vamos lá?!

SINTETIZANDO

Com o desenvolvimento da sociedade, os mecanismos de trabalho foram se


aprimorando. Com eles, se desenvolveu também um olhar para a proteção à
saúde do trabalhador desde os primeiros passos da medicina do trabalho que
descreveu as doenças acometidas pelos trabalhadores (especialmente no
período da Revolução Industrial), e é um marco para a proteção à saúde do
trabalhador.

Em seguida, acompanhamos o desenvolvimento da saúde ocupacional (que


voltou a sua perspectiva ao ambiente de trabalho), que verificou que
determinadas funções do trabalho poderiam causar doenças. Foi também um
grande passo para a discussão da promoção à saúde dos trabalhadores e
prevenção de doenças relacionadas ao trabalho.

Porém, estes avanços ainda não eram suficientes para a representação de todo o
universo complexo do mundo do trabalhador, e, assim, um olhar mais ampliado
se sucedeu quando se passou para a etapa da saúde do trabalhador, onde o
“homem trabalhador” passa a ser também protagonista deste universo.
× Inicialização LTI

universo complexo do mundo do trabalhador, e, assim, um olhar mais ampliado


se sucedeu quando se passou para a etapa da saúde do trabalhador, onde o
“homem trabalhador” passa a ser também protagonista deste universo.

Este trabalhador é convidado a pensar junto em estratégias para melhores


condições de trabalho que levem em conta os seus determinantes sociais de
saúde. Ele tem respaldo dos movimentos sindicais e de conselhos de
trabalhadores, que podem estar inseridos dentro das próprias
fábricas/empresas, e, quando não é possível, por meio das Instituições Federais
(ME, SEPRT, MS/SUS).

A construção histórica da saúde do trabalhador nos mostra o quanto o caminho


percorrido é fundamental neste campo, sendo os marcos históricos sociais – a
Revolução Industrial, as duas guerras mundiais, o Movimento de Reforma
Sanitária no Brasil – determinantes em seu desenvolvimento.

As organizações internacionais, como a OIT e a OMS, atuam como guardiãs da


proteção à saúde do trabalhador. Foi a partir delas que muitas agendas foram e
são desenvolvidas, tendo papel fundamental na questão da ética e da legalidade
do mundo do trabalho.

A atuação do(a) enfermeiro(a) em empresas privadas começou a acontecer a


partir do momento em que a saúde ocupacional ganhou espaço, e tem papel
fundamental nas atividades de medicina e segurança do trabalho e atividades
relacionadas com serviços de higiene, compondo a equipe multiprofissional e
proporcionando a preservação da saúde e valorização do trabalhador. Já dentro
da esfera pública e nas ações dentro do SUS, o campo é anterior e muito mais
amplo, sendo uma das categorias com maior representatividade dentro da APS,
dos serviços de urgência e emergência, da atenção especializada e da VISAT.
× Inicialização LTI
fundamental nas atividades de medicina e segurança do trabalho e atividades
relacionadas com serviços de higiene, compondo a equipe multiprofissional e
proporcionando a preservação da saúde e valorização do trabalhador. Já dentro
da esfera pública e nas ações dentro do SUS, o campo é anterior e muito mais
amplo, sendo uma das categorias com maior representatividade dentro da APS,
dos serviços de urgência e emergência, da atenção especializada e da VISAT.

A Portaria 3.214/1978, que regulamentou as NRs, representa um marco


importante dentro da legislação vigente, sendo referência para orientação em
serviços de segurança e saúde do trabalhador. É importante estarmos atentos ao
uso correto dos conceitos e legislação vigente, para que possamos trabalhar de
forma integrada com os demais serviços e profissionais, garantindo o direito de
proteção à saúde dos trabalhadores, bem como estimulando sua participação
em conselhos e outros órgãos afins, em manutenção das conquistas até então
realizadas.

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× Inicialização LTI
Seção 2 de 5

Políticas e direitos à saúde do trabalhador no Brasil

Foi a partir de muitas conquistas que, hoje, no Brasil, todo trabalhador tem
direito à assistência à saúde, independentemente de tratar-se de um trabalho
formal com carteira assinada ou um trabalho informal, não importando ainda
que seja este um trabalhador de um serviço público ou de um serviço privado:
todos têm direito à assistência à saúde.

A maioria das ações de assistência são realizadas pelo Sistema Único de Saúde
(SUS), cujo foco é manter a vigilância aos atendimentos realizados de maneira
que se identifique o máximo possível de doenças e acidentes relacionados ao
trabalho. Desta maneira, torna-se viável realizar ações de promoção e proteção à
saúde, visando um baixo número de acidentes, doenças e óbitos relacionados ao
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Inicialização LTI
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(SUS), cujo foco é manter a vigilância aos atendimentos realizados de maneira
que se identifique o máximo possível de doenças e acidentes relacionados ao
trabalho. Desta maneira, torna-se viável realizar ações de promoção e proteção à
saúde, visando um baixo número de acidentes, doenças e óbitos relacionados ao
trabalho.

Isso posto, a seguir iremos então conhecer as principais legislações que


garantem aos trabalhadores todos estes direitos, as quais, como dito
anteriormente, advêm de um grande número de conquistas.

PRECEITOS CONSTITUCIONAIS DE PROTEÇÃO AO TRABALHADOR

// Constituição da República Federativa do Brasil


× Inicialização LTI

A atual Constituição Federal foi aprovada pela Assembleia Nacional Constituinte em


22 de setembro de 1988 e promulgada em 5 de outubro de 1988, após ser

discutida por quase dois anos, na Assembleia Constituinte. Ela é a sétima

constituição de nosso País (sendo a sexta do período republicano) e é

considerada um marco, principalmente no que diz respeito aos direitos


trabalhistas. A Figura 1 apresenta a sessão parlamentar que instituiu a Carta

Magna de 1988.
× Inicialização LTI

CURIOSIDADE
Nossa Carta Magna atual é também conhecida como Constituição

Cidadã, uma vez que traz em seu texto um repertório de direitos

fundamentais e sociais aos cidadãos. Um exemplo é o art. 6º, que afirma

que os direitos sociais devem abranger educação, saúde, trabalho,

moradia, lazer e segurança, entre outros.

Figura 1. Sessão parlamentar que estabeleceu a Constituição de


× Inicialização LTI

Consolidada após um grande período ditatorial em nosso País, foi a partir dela
que garantiu-se eleições diretas à presidência da república, por exemplo. A
Constituição, assim, representa a consolidação da luta dos movimentos sindicais,
de saúde e estudantis da década de 70, articulada a outras forças políticas que
lutaram para a garantia de acesso a direitos essenciais por parte da população.
Até então, uma minoria de grupos e classes se beneficiava do Estado autoritário,
presente desde o golpe militar de 1964.

Foi a partir da Constituição de 1988 que a saúde do trabalhador ganhou novas


diretrizes, uma vez que, com a criação do SUS, a saúde passou a ser um direito
de todos os cidadãos e um dever do Estado. Assim, as ações destinadas aos
trabalhadores ficaram centradas principalmente dentro do próprio SUS.

A Constituição Federal de 1988 é a norma jurídica de eficácia máxima, não podendo


seus princípios serem contrariados ou diminuídos por nenhum outro diploma que a
suceder na hierarquia legal, ou seja, na graduação de positividade jurídica. É também
a regra de maior legitimidade, dado o processo constituinte estabelecido para sua
definição e aprovação, que contou com a maior participação popular jamais vista na
história do Brasil (BRASIL, 2005, p. 15).

A partir da nova carta, os estados e municípios também tiveram de se


reorganizar, criando legislações e estatutos próprios, posto que muitas das
competências destinadas ao cuidado dos trabalhadores vinculou-se a estes
níveis de atenção. Desta forma, é fundamental que possamos nos atentar às
normas estaduais e municipais vigentes, uma vez que elas sempre irão seguir as
diretrizes estabelecidas pela norma máxima – a Constituição – embora trazendo
elementos específicos dentro da complexidade de ações a serem realizadas.
× Inicialização LTI

Contudo, depois de mais de 30 anos de existência, a Constituição já sofreu

algumas alterações, as quais somente podem ocorrer via Emendas


Constitucionais (EMC) ou documentos equivalentes. Até julho de 2020, tivemos

107 EMC, seis EMC de revisão e dois atos internacionais equivalentes às EMC.

A partir de agora, iremos analisar alguns trechos desse órgão máximo da


legislação brasileira, referentes aos direitos dos trabalhadores. Dentro do Título
II, que discorre sobre os direitos e garantias fundamentais, temos o Capítulo II,
que se refere aos direitos sociais e em seu art. 6º estabelece que

são direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o


transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade
e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição
× Inicialização LTI

Este artigo sofreu alteração através da Emenda Constitucional nº 90, de 2015,


que incluiu o transporte como direito social. Portanto, temos a saúde, o trabalho
e a previdência social, os quais estão diretamente relacionados com as políticas
de proteção à saúde do trabalhador, garantidos pela legislação máxima
brasileira. Ainda, dentro da própria carta, haverá um detalhamento sobre esses
direitos, que veremos mais minuciosamente a seguir.

Em seu art. 7º, a Constituição estabelece 34 direitos referentes aos


trabalhadores urbanos ou rurais, além de outros que tenham como objetivo a
melhoria de sua condição social:

I - relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa


causa [...];
IV - salário mínimo, fixado em lei;
V - piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho [...];
VII - garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem
remuneração variável [...];
IX – remuneração do trabalho noturno superior à do diurno;
X - proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa
[...];
XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta
e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da
jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho (vide Decreto-Lei
nº 5.452, de 1943);
XIV jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos
× Inicialização LTI
e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da
jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho (vide Decreto-Lei
nº 5.452, de 1943);
XIV - jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos
de revezamento, salvo negociação coletiva [...];
XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde,
higiene e segurança;
XXIII - adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou
perigosas, na forma da lei [...];
XXVI - reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho [...];
XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem
excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou
culpa [...];
XXX - proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério
de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil;
XXXI - proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de
admissão do trabalhador portador de deficiência [...];
XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de
dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na
condição de aprendiz, a partir de quatorze anos (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 20, de 1998);
XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício
permanente e o trabalhador avulso.

Como é possível observar, a Constituição garante princípios básicos de direitos


aos trabalhadores, cabendo ressaltar a importância da isonomia e igualdade
b lh d b lh d fi d l õ l i d
× Inicialização LTI

Como é possível observar, a Constituição garante princípios básicos de direitos


aos trabalhadores, cabendo ressaltar a importância da isonomia e igualdade
entre trabalhadores e trabalhadoras, a fim de que exclusões relacionadas a
gênero e raça não aconteçam. Além disso, esta delimita jornadas de trabalho,
evitando assim o trabalho exaustivo, e proíbe inclusive o trabalho infantil.

Dados de uma publicação do IBGE em 2019 mostram que, infelizmente, uma


parte da população ainda está aquém destes direitos, trabalhando na
informalidade, como pode-se observar no Gráfico 1. Mesmo que os
trabalhadores avulsos ainda sejam previstos, e inclusive garantidos no que tange
à igualdade de direitos, o não vínculo empregatício/informalidade demonstra
que a relação trabalhista não está sendo cumprida.
× Inicialização LTI

empregatício, segundo o IBGE (2019). Fonte: IBGE, 2019, p. 17.

Outro ponto importante a ser destacado dentro da Constituição é a garantia do


direito à redução de determinados riscos inerentes ao trabalho através de
normas de saúde, higiene e segurança. Portanto, passou a ser um direito do
trabalhador a proteção à sua saúde. A legislação garante ainda a participação
dos trabalhadores em sindicatos, sem intermédio do Estado (como acontecia nas
constituições anteriores), e o direito à greve, além de definir em seu art. 10 que:

É assegurada a participação dos trabalhadores e empregadores nos


colegiados dos órgãos públicos em que seus interesses profissionais ou

previdenciários sejam objeto de discussão e deliberação (BRASIL, 1988,


n.p.).

Este direito é fundamental para a manutenção da garantia dos direitos

consagrados pela constituinte, bem como para o acompanhamento das medidas


que são tomadas em diferentes níveis de gestão. Com a inserção do próprio

trabalhador nos órgãos colegiados, há uma garantia maior de que seus


interesses serão respeitados. A promulgação da Lei 8.142/90 é um dos meios de

garantir este direito dentro da área da saúde, no que compete ao SUS, ao


regulamentar os conselhos e conferências de saúde.
× Inicialização LTI

Dentro do Título VIII, há as questões relacionadas à ordem social, contendo a


garantia de direitos à saúde e, consequentemente, à saúde do trabalhador. O
art. 193, então, assevera que a ordem social baseia-se no primado do trabalho e
objetiva o bem-estar e a justiça sociais. Já o Capítulo II discorre sobre a
seguridade social, e sua Seção II é destinada à saúde:

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante

política [sic] sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de


outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua
promoção, proteção e recuperação;
Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao
poder público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação,
fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através
de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado;
Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede
regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado com
as seguintes diretrizes:
I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo;

II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem

prejuízo dos serviços assistenciais;


III - participação da comunidade.
Art. 199. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada.
Art. 200. Ao Sistema Único de Saúde (SUS) compete, além de outras
atribuições, nos termos da lei:
(...)
× Inicialização LTI
Art. 199. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada.
Art. 200. Ao Sistema Único de Saúde (SUS) compete, além de outras
atribuições, nos termos da lei:
(...)
II - executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as
de saúde do trabalhador;
(...)
VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do

trabalho (BRASIL, 1988, n.p.).

Para muitos este direito à saúde parece parco mas, ao trazer essas diretrizes e
atribuições ao SUS, a Constituição concebeu um legado de extrema importância
à população brasileira. Deve-se ressaltar que em muitos países, onde estes

direitos não estão garantidos à população, há maior desigualdade na


assistência à saúde, o que leva, em alguns casos, à desassistência. Como
esclarecem Fleury e Ouverney:

dependendo da modalidade de proteção social que venha a ser adotada por um


país, são diferentes as condições políticas implicadas, e, em alguns casos, o acesso
à saúde pode ser uma medida de caridade, um benefício adquirido mediante
pagamento prévio, ou o usufruto de um direito de cidadania (2012, p. 25).
× Inicialização LTI

Já a Seção III discorre sobre a previdência social, e a forma como esta organiza-se
é diretamente relacionada à saúde do trabalhador. A previdência garante
proteção às vítimas de acidente de trabalho bem como às gestantes
trabalhadoras e à família dos segurados, permitindo certo nível de segurança
financeira e estabilidade a estes trabalhadores.

Lamentavelmente, o nível de informalidade nas relações de trabalho no Brasil

ainda é alto, o que deixa boa parte da população descoberta destes direitos tão
relevantes e protetores de sua saúde, uma vez que a garantia da previdência

social está atrelada ao emprego com carteira assinada.


× Inicialização LTI

social está atrelada ao emprego com carteira assinada.

Mas, dentro deste contexto brasileiro, a Constituição também abrange os que


estão desprovidos das garantias da previdência social: a Seção IV afirma que esta
poderá ser prestada àqueles que dela precisarem, independentemente da
existência de contribuição à seguridade social, e tem como objetivos:

a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; o

amparo às crianças e adolescentes carentes; a promoção da integração ao


mercado de trabalho; a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de
deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; a garantia de um
salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso
que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la
provida por sua família, conforme dispuser a lei (BRASIL, 1988, n.p.).

Mesmo com tantos avanços e garantias legais, nosso País vive um cenário de
desigualdade social de níveis alarmantes. Portanto, embora a conquista de uma
constituinte seja um marco importante, este é apenas o começo de um caminho
para a efetivação dos direitos conquistados. Conforme ressaltam Pinheiro et al.,

os desafios que se apresentam na implementação das conquistas sociais têm


sido transformá-las em práticas concretas no cotidiano das pessoas, das
instituições de saúde e nos serviços prestados à população (2010, p. 17).

É fundamental que nós, enfermeiros, saibamos da abrangência dos direitos


garantidos aos trabalhadores, a fim de que, em nossa prática, possamos
proporcionar sua garantia. Em relação ao que não couber a nós, é necessário
saber realizar as articulações necessárias com os devidos setores; como ocorre
× q ,
Inicialização LTI
, g
garantidos aos trabalhadores, a fim de que, em nossa prática, possamos
proporcionar sua garantia. Em relação ao que não couber a nós, é necessário
saber realizar as articulações necessárias com os devidos setores; como ocorre
com as secretarias de serviço social, tanto em nível municipal quanto estadual,
proporcionando integralidade no cuidado e assistência desses trabalhadores.

OS DESDOBRAMENTOS DA CONSTITUIÇÃO E A LEI ORGÂNICA DA SAÚDE

// Constituição da República Federativa do Brasil

A necessidade da garantia de direitos básicos relacionados à saúde vinha sendo


instigada pela população desde a década de 70, com as grandes epidemias de
meningite e cólera em nosso País. A dificuldade em ter acesso ao atendimento
era uma realidade para todos aqueles que não tivessem um trabalho com
× Inicialização LTI

A necessidade da garantia de direitos básicos relacionados à saúde vinha sendo


instigada pela população desde a década de 70, com as grandes epidemias de
meningite e cólera em nosso País. A dificuldade em ter acesso ao atendimento
era uma realidade para todos aqueles que não tivessem um trabalho com
carteira assinada, por exemplo.

Assim, os ideais discutidos no movimento da reforma sanitária e na 8ª


Conferência Nacional de Saúde, de 1986, foram marcos que ganharam
materialidade ao serem colocados de forma legal na Constituição, e
posteriormente na Lei Orgânica de Saúde (LOS). São duas as leis que compõem a
LOS, as quais têm como missão abranger e induzir políticas públicas que
garantam os direitos conquistados pela Constituinte de 1988: a Lei Federal nº
8.080, de 19 de setembro de 1990; e a Lei Federal nº 8.142, de 28 de dezembro
de 1990.

// O SUS e a saúde do trabalhador: entendendo a Lei Federal nº 8.080, de 19 de setembro de


1990

A Lei Federal nº 8.080 reitera os princípios e diretrizes do SUS já destacados pela


Constituição, inserindo a saúde do trabalhador neste campo de atuação. Ela
também detalha as atribuições e competências de cada esfera de governo. O
inciso terceiro do art. 2, dentro das disposições gerais do Título I, reforça que

a saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a


alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a
renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços
essenciais; os níveis de saúde da população expressam a organização social e
econômica do País (BRASILa 1990 n p )
× Inicialização LTI
econômica do País (BRASILa, 1990, n.p.).

Este inciso reforça a questão de determinantes sociais da saúde, colocando o


trabalho como um destes. Este fator é, portanto, importante para entendermos
a saúde do trabalhador, visto que não é somente a ocupação em si que pode
levar ao adoecimento e a acidentes de trabalho, mas também o meio no qual
este trabalhador está inserido e o acesso que o mesmo tem de cuidados à sua
saúde e de sua família, além da centralidade das necessidades desse indivíduo.

Pinheiro et al. (2010) discutem as diferentes abordagens sobre determinantes e


necessidades de saúde, atestando que alguns autores mais funcionalistas
enfatizam os fatores externos e ambientais que determinam os processos
saúde-doença (como os citados pelo inciso apresentado). Já outros salientam a
questão do “modo de viver como tradução de diferentes necessidades de saúde,
determinadas pelo lugar que os indivíduos ocupam nos processos produtivos
nas sociedades capitalistas, que determinariam os modos de adoecer e morrer”
(2010, p. 24).

O art. 6 traz os campos de atuação do SUS. Este é um artigo importante, visto


que traz diversas definições sobre a área da saúde do trabalhador. Isso posto,
seus campos de atuação incluem

I - a execução de ações:
a) de vigilância sanitária;
b) de vigilância epidemiológica;
c) de saúde do trabalhador;
×
c) de saúde do trabalhador;
Inicialização LTI

d) de assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica.


[...]
V - a colaboração na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do

trabalho (BRASIL, 1990a, n.p.).

Vale a pena, ainda em relação a este artigo, nos atentarmos às definições


colocadas sobre as vigilâncias, visto que entre suas atividades estão
concentradas diversas ações da temática aqui discutida. Assim, a lei supracitada
define que vigilância sanitária é

um conjunto de ações capaz de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde


e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da
produção e circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da
saúde (BRASIL, 1990a, n.p.)

E entende vigilância epidemiológica como

um conjunto de ações que proporcionam o conhecimento, a detecção ou


prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes de
saúde individual ou coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas
de prevenção e controle das doenças ou agravos (BRASIL, 1990a, n.p.)

Portanto, conforme a própria lei coloca, as ações de vigilância sanitária devem


estar centradas também no ambiente de trabalho, bem como as de vigilância
× Inicialização LTI

Portanto, conforme a própria lei coloca, as ações de vigilância sanitária devem


estar centradas também no ambiente de trabalho, bem como as de vigilância
epidemiológica. Esta é transversal e atua para o melhor entendimento,
acompanhamento e evolução dos casos de adoecimento, bem como de
acidentes relacionados ao trabalho e de indicadores ligados aos determinantes
de saúde, que devem ser acompanhados para a promoção de um ambiente
saudável aos trabalhadores. Ademais, o art. 3 define saúde do trabalhador

como

um conjunto de atividades que se destina, através das ações de vigilância


epidemiológica e vigilância sanitária, à promoção e proteção da saúde dos
trabalhadores, assim como visa à recuperação e reabilitação da saúde dos
trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de
trabalho, abrangendo:

I - assistência ao trabalhador vítima de acidente de trabalho ou portador de


doença profissional e do trabalho;

II - participação, no âmbito de competência do Sistema Único de Saúde (SUS),


em estudos, pesquisas, avaliação e controle dos riscos e agravos potenciais à
saúde existentes no processo de trabalho;

III - participação, no âmbito de competência do Sistema Único de Saúde (SUS),


da normatização, fiscalização e controle das condições de produção, extração,
armazenamento, transporte, distribuição e manuseio de substâncias, de
produtos, de máquinas e de equipamentos que apresentam riscos à saúde do
× Inicialização LTI

IV - avaliação do impacto que as tecnologias provocam à saúde;

V - informação ao trabalhador e a sua respectiva entidade sindical e a


empresas sobre os riscos de acidente de trabalho, doença profissional e do
trabalho, bem como os resultados de fiscalizações, avaliações ambientais e
exames de saúde, de admissão, periódicos e de demissão, respeitados os
preceitos da ética profissional;

VI - participação na normatização, fiscalização e controle dos serviços de saúde


do trabalhador nas instituições e empresas públicas e privadas;

VII - revisão periódica da listagem oficial de doenças originadas no processo de


trabalho, tendo na sua elaboração a colaboração das entidades sindicais; e
VIII - a garantia ao sindicato dos trabalhadores de requerer ao órgão
competente a interdição de máquina de setor de serviço ou de todo o
ambiente de trabalho, quando houver exposição a risco iminente para a vida
ou saúde dos trabalhadores (BRASIL, 1990a, n.p.).

Há a extrapolação das margens obtidas pelo conceito de saúde ocupacional


utilizado anteriormente no ato de vincular as atividades de proteção à saúde dos
trabalhadores com a vigilância epidemiológica e sanitária. Desta forma, há a
perspectiva de voltar o olhar para atividades que influenciam toda uma cadeia
de doenças e acidentes de trabalho ocorridas por determinantes sociais de
saúde. Isso posto, observe no Quadro 1 uma síntese dos principais princípios e
diretrizes do SUS.
× Inicialização LTI

Quadro 1. Síntese dos princípios e diretrizes fundamentais do SUS. Fonte: NORONHA;


LIMA; MACHADO, 2010, p. 370-371.

Estes são princípios e diretrizes fundamentais que devemos encontrar de forma


transversal nas políticas públicas desenvolvidas a partir do SUS, garantindo-os de
maneira universal, ou seja: acesso idêntico a todos os cidadãos brasileiros, sem
discriminação de qualquer ordem aos serviços prestados. Posteriormente ao
princípio da igualdade, tem-se trabalhado dentro do SUS e das políticas públicas
de saúde o princípio da equidade.

Considerando que o Brasil é um país extremamente desigual devemos, portanto,


ter políticas públicas que considerem esta desigualdade e possam oferecer mais
dos serviços públicos àqueles que tiveram ou têm menos acesso e possibilidades
ou estejam em maior risco e/ou vulnerabilidade, proporcionando, desta forma,
equidade no sistema de saúde.

A Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora deverá


× Inicialização LTI

A Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora deverá


contemplar todos os trabalhadores priorizando, entretanto, pessoas e
grupos em situação de maior vulnerabilidade, como aqueles inseridos em
atividades ou em relações informais e precárias de trabalho, em atividades
de maior risco para a saúde, submetidos a formas nocivas de discriminação,
ou ao trabalho infantil, na perspectiva de superar desigualdades sociais e de
saúde e de buscar a equidade na atenção (BRASIL, 2012, n.p.)

Entre as diretrizes, prevê-se um atendimento de forma integral no qual o


indivíduo seja acompanhado em todos os ciclos de sua vida, visando um olhar
amplo a seu território, cultura, educação, religiosidade e tudo que envolva seu
cuidado. Isto poderá garantir formas de promoção e prevenção à saúde e reduzir
os possíveis agravos às doenças existentes e acidentes, sendo a saúde do
trabalhador uma política pública importante na garantia dessa integralidade da
assistência aos cidadãos brasileiros.

D t d i í i d i li ã hi i ã d l b
× Inicialização LTI

Dentro do princípio da regionalização e hierarquização, devemos lembrar que o


desenvolvimento das ações realizadas pelo SUS ocorrem em diferentes níveis, o

que é responsável por conceber uma rede de atenção à saúde.

Esta rede é composta pela Atenção Primária à Saúde (APS), com Unidades
Básicas de Saúde (UBS) e/ou Unidades de Saúde da Família (USF); pela atenção

especializada, com os centros/clínicas de especialidades, policlínicas, Centros de


Atenção Psicossocial (CAPS) e Centro de Atenção à Saúde do Trabalhador
(CEREST), entre outros; pela atenção hospitalar, com hospitais, Unidades de

Pronto Atendimento (UPA) e Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU);


pelas vigilâncias; e pela assistência farmacêutica.

Esta rede de atenção deve ser articulada com os demais setores, como
educação, esportes e o serviço social, por exemplo, visando garantir um
atendimento em saúde integral e o mais resolutivo possível.

// A importância da participação popular e a Lei Federal nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990

A Lei nº 8.142, complementa a Lei nº 8.080 e dispõe sobre a participação da


comunidade na gestão do SUS, com o objetivo de concretizar a diretriz que trata
sobre a participação da comunidade, prevista tanto na Constituição quanto nas
diretrizes do SUS dentro da Lei nº 8.080. Ademais, ela dispõe também sobre as
transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde.

Esta lei cria as instâncias colegiadas da conferência e do conselho de saúde,


sendo que a primeira deve se reunir a cada quatro anos com a representação
dos vários segmentos sociais a fim de avaliar a situação de saúde e propor
× Inicialização LTI

Esta lei cria as instâncias colegiadas da conferência e do conselho de saúde,


sendo que a primeira deve se reunir a cada quatro anos com a representação
dos vários segmentos sociais a fim de avaliar a situação de saúde e propor
diretrizes para a formulação da política de saúde nos níveis correspondentes. Já
os conselhos devem ter caráter permanente e deliberativo, sendo composto por
representantes do governo, prestadores de serviço, profissionais de saúde e
usuários de forma a garantir a representatividade, sendo respeitadas as devidas
proporcionalidades.

Os conselhos devem existir em todas as esferas do governo (municipal, estadual


e nacional) e atuar na formulação de estratégias e no controle da execução da
política de saúde na instância correspondente. Isto deve ocorrer inclusive nos

aspectos econômicos e financeiros, cujas decisões serão homologadas pelo


chefe do poder legalmente constituído em cada esfera do governo.

O Conselho Nacional de Saúde (CNS) conta ainda com 18 comissões


× Inicialização LTI

O Conselho Nacional de Saúde (CNS) conta ainda com 18 comissões


intersetoriais que acompanham e fiscalizam as ações e serviços do SUS no Brasil.
Entre elas, está a Comissão Intersetorial da Saúde do Trabalhador e da
Trabalhadora (CISTT), que tem papel fundamental. Seus membros discutem
periodicamente o Plano Anual de Trabalho, seus encaminhamentos e resoluções,
além de participar na construção das ações dos Centros de Referência em Saúde
do Trabalhador (CEREST) e da Política Nacional do Trabalhador e da Trabalhadora
(PNSTT).

Os conselhos, por serem órgãos deliberativos, foram fundamentais na


construção da legislação relacionada à saúde do trabalhador que conhecemos
atualmente. Por terem composição de paridade, onde há participação da

comunidade, garantem um canal de comunicação importante aos trabalhadores,


no qual suas reivindicações, denúncias e solicitações encontram um lugar para
serem acolhidas. Por fim, este configura-se como um lugar de possível mudança
da realidade em que estes indivíduos se encontram.
× Inicialização LTI

Seção 3 de 5

Políticas públicas de saúde com ênfase na saúde do


trabalhador

A Convenção 155 de 1981 e a Convenção 187 de 2006 da Organização


Internacional do Trabalho (OIT) preveem que os países adotem políticas
nacionais de saúde e trabalho, bem como ações de promoção à saúde no
trabalho. Considerando o histórico de saúde do trabalhador no Brasil e sua
necessidade de efetivar ações de promoção e proteção a saúde dos
× Inicialização LTI

Política Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho (PNSST), instituída


pelo Decreto nº 7.602, de 7 de novembro de 2011;

Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (PNSTT),


instituída pela Portaria nº 1.823, de 23 de agosto de 2012.

A Figura 2 traz a obra Operários, de Tarsila do Amaral, de 1933 – auge da


industrialização e imigração de trabalhadores em São Paulo. A pintura
representa a diversidade dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros e ilustra
brevemente o foco das principais políticas públicas à saúde do trabalhador
discutidas futuramente.
× Inicialização LTI

POLÍTICA NACIONAL DE SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO (PNSST)

Com o objetivo de promover saúde, melhorar a qualidade de vida do trabalhador


e prevenir acidentes e danos à saúde relacionados ao trabalho por meio da

eliminação ou redução dos riscos nestes ambientes, é criada a Política Nacional

de Segurança e Saúde no Trabalho (PNSST) em 2011.

São princípios dessa política: universalidade; prevenção; ações de promoção e


× Inicialização LTI

São princípios dessa política: universalidade; prevenção; ações de promoção e


prevenção, assistência, reabilitação e reparação; diálogo social e integralidade.
Como diretrizes, todas as ações devem constar no Plano de Segurança e

Saúde no Trabalho. Além disso, esta política inclui um sistema nacional de

promoção e proteção à saúde do trabalhador; harmonização da legislação e


ações de saúde do trabalhador; medidas especiais para atividades laborais de
alto risco, promoção da implantação de sistemas e programas de gestão da
segurança no trabalho, estímulo à capacitação e à educação continuada de
trabalhadores e promoção da agenda integrada de estudos e pesquisas em
segurança e saúde no trabalho.
× Inicialização LTI

EXPLICANDO
O Plano Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho – o PLANSAT – foi

criado em 2012 e deve ser construído a partir do diálogo e cooperação

entre órgãos governamentais e representantes dos trabalhadores e

empregadores. O plano articula ações dos mais diferentes atores sociais


em busca da aplicação prática da PNSST, com definição de estratégias e

metas para cada ação definida como prioritária.

A PNSST deverá ser implementada sob a responsabilidade dos ministérios da


saúde, da previdência social e da economia, no qual está inserida a Secretaria
Especial da Previdência e Trabalho (SEPRT). A política ainda detalha a função de
cada um destes ministérios, com suas respectivas responsabilidades.

A consolidação desta política pública representa um avanço e um grande ganho


à sociedade brasileira, onde é sabido que muitas das condições de segurança e
saúde do trabalho são degradantes, especialmente em relação àqueles
trabalhadores em situação de maior vulnerabilidade social. Portanto, a
construção da política, bem como a criação de estratégias e metas para alcançar
os objetivos propostos, são fundamentais para a conquista dos objetivos
propostos.
× Inicialização LTI
propostos.

POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA (PNSTT)

Instituída pela Portaria nº 1.823, de 23 de agosto de 2012, a PNSTT foi um grande


avanço histórico da saúde do trabalhador no Brasil. Ela alicerça diversas
legislações lançadas antes de si e delimita objetivos e estratégias que dão
direção à consolidação dos ideais de atenção à saúde do trabalhador, previstos
desde a formulação do SUS na Constituição Federal.
× Inicialização LTI
desde a formulação do SUS na Constituição Federal.

Sua finalidade é definir os princípios, diretrizes e estratégias a serem


observados pelas três esferas de gestão do Sistema Único de Saúde (SUS), a fim
de desenvolver a atenção integral à saúde do trabalhador com ênfase na
vigilância. Isto visa à promoção e proteção da saúde dos trabalhadores, além da
redução da morbimortalidade decorrente dos modelos de desenvolvimento e
processos produtivos.

I t t lt ê f i ilâ i ã i ifi líti


× Inicialização LTI

Importante ressaltar que a ênfase na vigilância não significa que a política se


restringirá a esta, pelo contrário: a política constrói inclusive alguns caminhos

para que a Vigilância em Saúde do Trabalhador (VISAT) possa ser uma grande
articuladora da atenção à saúde dos trabalhadores em todos os níveis,
especialmente a APS.

Ela inclui todos os trabalhadores e trabalhadoras no âmbito de suas ações,


independentemente de sua inserção no mercado do trabalho ou qualquer outra
prerrogativa. Além disso, reafirma que a questão de saúde do trabalhador é
transversal a todas as questões de saúde e o trabalho um determinante social do
processo saúde-doença. A política, por fim, ratifica os princípios e diretrizes do
SUS e inclui no inciso VII do art. 5 a precaução, que se refere à prevenção de
possíveis agravos à saúde dos trabalhadores.

Os objetivos, tratados no Capítulo II da PNSTT, trazem uma direcionalidade

importante para os serviços de saúde. Dentre eles, pode-se destacar: I -


fortalecer a VISAT, que pressupõe inclusive a intervenção nos processo e
ambientes de trabalho; II - promover a saúde e ambientes e processos de
trabalho saudáveis; III - garantir a integralidade na atenção à saúde do
trabalhador, a qual pressupõe a inserção de ações de saúde do trabalhador em
todas as instâncias e pontos da Rede de Atenção à Saúde do SUS.
× Inicialização LTI

O inciso III traz uma indicação importante de cuidado que será um dos pilares
desta política. Ao criar ações em todas as instâncias e pontos de atenção, os
estados e municípios precisarão se articular e fomentar atuações que promovam
essa discussão em todos os seus serviços. Algumas formas de como realizar isso
podem ser vistas no capítulo seguinte da PNSTT, que prevê estratégias de
implementação da política.

As estratégias de implementação são previstas para acontecer por meio da

integração da VISAT com os demais componentes da Vigilância em Saúde e a


APS; a estruturação da Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do

Trabalhador (RENAST); e o fortalecimento e ampliação da articulação


intersetorial, por exemplo.
× Inicialização LTI

Em seu art. 16, coloca-se que deve ocorrer a avaliação e o monitoramento das
ações. Além disso, as metas e os indicadores devem estar contidos nos
instrumentos de gestão definidos pelo sistema de planejamento do SUS: planos
de saúde, programas anuais de saúde e relatórios anuais de gestão. Assim, “o
planejamento estratégico deve contemplar ações, metas e indicadores de
promoção, vigilância e atenção em saúde do trabalhador, nos moldes de uma
atuação permanentemente articulada e sistêmica” (BRASIL, 2012, n.p.).

Apesar dos avanços desta política, ainda se fazem necessárias ações de


validação da VISAT e da RENAST, que em nível municipal desenvolve suas ações
por meio dos CERESTs, que necessitam de uma autoridade sanitária para que
possam operar de forma efetiva em ações de intervenção, como previstas pela
PNSTT. Como reforçam Costa et al.,

sem autoridade sanitária, como infelizmente ocorre na maioria dos CERESTs,


como desenvolver a competência da própria equipe, que tem a função de ser
referência para a rede? Ou seja, como ser referência sem o desenvolvimento da

própria ação? Como tratar riscos que ultrapassam em muito as fronteiras do


território municipal e mesmo estadual – como podemos exemplificar com a
cadeia produtiva do açúcar e do álcool, ou com as mortes e mutilações que
d d iá i l d
× Inicialização LTI

validação da VISAT e da RENAST, que em nível municipal desenvolve suas ações


por meio dos CERESTs, que necessitam de uma autoridade sanitária para que
possam operar de forma efetiva em ações de intervenção, como previstas pela
PNSTT. Como reforçam Costa et al.,

sem autoridade sanitária, como infelizmente ocorre na maioria dos CERESTs,


como desenvolver a competência da própria equipe, que tem a função de ser
referência para a rede? Ou seja, como ser referência sem o desenvolvimento da

própria ação? Como tratar riscos que ultrapassam em muito as fronteiras do


território municipal e mesmo estadual – como podemos exemplificar com a
cadeia produtiva do açúcar e do álcool, ou com as mortes e mutilações que
ocorrem no transporte de carga rodoviária que apresenta atualmente uma das
maiores taxas de mortalidade pelo trabalho no País? Será possível acreditar que
ações de vigilância e intervenção ocorrerão a partir das ações da rede básica,
atualmente contando com quadro reduzido e focado no aspecto assistencial?
(2013, p. 28).

Estes são alguns dos desafios colocados diante da realidade do trabalho no


Brasil, que encontra, por diversas vezes, situações predatórias. Assim, o
trabalhador em situação de maior vulnerabilidade acaba sendo exposto ao risco
de acidentes e doenças e, devido às suas próprias necessidades, acaba por se
sujeitar a isto.
× Inicialização LTI

Portaria 3.214/78 e suas atualizações

A Portaria 3.214, de 1978, aprovou as Normas Regulamentadoras (NR) do


Capítulo V, Título II, da Consolidação das Leis do Trabalho, relativas à Segurança e
Medicina do Trabalho. Neste momento, haviam 28 normas. Assim, as NR são
disposições complementares ao capítulo V da CLT e consistem em obrigações,
direitos e deveres a serem cumpridos por empregadores e trabalhadores com o
objetivo de garantir trabalho seguro e sadio e prevenir a ocorrência de doenças e
acidentes de trabalho.
× Inicialização LTI

A edição/elaboração das NR era realizada pelo Ministério do Trabalho, sendo


agora responsabilidade do Ministério da Economia, inserido na Secretaria
Especial da Previdência e do Trabalho. Ademais, na atualização e alteração das
normas adota-se o sistema tripartite paritário por meio de grupos e comissões,
compostas por representantes do governo, de empregadores e de empregados.

Estas sofreram diversas atualizações desde que foram publicadas, e o Quadro 2


apresenta um compilado dessas normas para o conhecimento de sua amplitude,
bem sobre o que cada uma dispõe. Tendo em vista haverem muitas atualizações,
traremos somente a última portaria que a atualiza.

// Quadro 2. Lista das Normas Regulamentadoras e suas atualizações


Clique para fazer download do quadro abaixo:

Quadro 2.pdf
63.3 KB

Considerando as duas NR revogadas, temos hoje um total de 35 normas, que


buscam promover ambientes de trabalho com condições preventivas a doenças
e acidentes, especialmente aqueles que ofereçam um risco maior de acidentes
e/ou adoecimento.
× Inicialização LTI

Como é possível observar das 35 NR vigentes, ao menos 23 delas trazem


condições e cuidados específicos para alguns setores, como é o caso do trabalho
em altura, da construção civil, da mineração, com o uso de combustíveis e
inflamáveis, entre outros.

A seguir, exploraremos de maneira mais adequada três NRs: a NR 01, que


fundamenta as demais, e as NRs 04 e 07, que regulamentam dois
serviços/atividades relacionados à atuação direta do enfermeiro em saúde do
trabalhador.

// NR 01: Disposições Gerais e Gerenciamento de Riscos Ocupacionais

Esta norma estabelece as disposições gerais, o campo de aplicação, os termos e


as definições comuns às NR relativas à segurança e à saúde no trabalho, além
das diretrizes e requisitos para o gerenciamento de riscos ocupacionais e as
medidas de prevenção em Segurança e Saúde no Trabalho – SST.

Assim, “as NR são de observância obrigatória pelas organizações e pelos órgãos


públicos da administração direta e indireta, bem como pelos órgãos dos Poderes
Legislativo, Judiciário e Ministério Público, que possuam empregados regidos
pela Consolidação das Leis do Trabalho – CLT” (BRASIL, 2020).
× Inicialização LTI

Isso posto, é ela a responsável por viabilizar a estrutura das demais normas
relacionadas à segurança e à saúde no trabalho, definir os conceitos utilizados e

tornar obrigatória a utilização das NR pelas empresas públicas e privadas.

A Figura 3 evidencia a situação de trabalhadores na região de Serra Pelada em


busca de ouro. Sebastião Salgado, o fotógrafo, capturou diversas imagens que
escancararam a dura realidade de milhares de trabalhadores brasileiros que,
sem nenhuma proteção, arriscaram suas vidas pela necessidade de trabalho.
× Inicialização LTI

A imagem nos remete a uma realidade que muitas vezes desconhecemos, mas
que faz parte do cotidiano de uma população vulnerável e à margem da inclusão
de direitos. As NRs trazem, neste sentido, uma tentativa de proporcionar
condições dignas a todos os trabalhadores brasileiros.

// NR 04: Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho

É a partir desta norma que se tornam obrigatórios os Serviços Especializados em


Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT) em empresas que
possuam empregados regidos pela CLT. Desta maneira, estes serviços devem
existir com a finalidade de promover a saúde e proteger a integridade do
trabalhador no local de trabalho.

Ela também define o dimensionamento dos profissionais que devem compor


estes serviços, bem como suas atribuições, os quais podem ser técnicos,
engenheiros (ou arquitetos), auxiliares de enfermagem, enfermeiros e médicos
de Segurança do Trabalho. A quantidade e o tempo em que estes devem atuar
varia de acordo com o número de empregados e o grau de risco da empresa.

// NR 07: Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional

E “ b l b i i d d d l b ã i l ã
× Inicialização LTI

// NR 07: Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional

Esta norma “estabelece a obrigatoriedade de elaboração e implementação, por


parte de todos os empregadores e instituições que admitam trabalhadores como
empregados, do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO)”
(BRASIL, 1978c. n.p.).

Assim, as atividades da PCMSO devem ter caráter preventivo, realização de


rastreamento e diagnóstico precoce e suas ações devem ser coordenadas por
um dos médicos da SESMT. São atividades previstas pela PCMSO os conhecidos
exames admissionais, periódicos e demissionais, que devem ser custeados pelo
empregador, sem ônus aos trabalhadores.

A norma detalha exames específicos a serem realizados em determinadas

situações de risco trabalhista, bem como os parâmetros para controle biológico


da exposição ocupacional a alguns agentes químicos e de monitoramento da

exposição ocupacional a alguns riscos à saúde.


ç
× Inicialização LTI

Responsabilidade civil do acidente de trabalho

Segundo o Observatório de Saúde e Segurança no Trabalho, entre as doenças


mais comuns relacionadas ao trabalho encontram-se o grupo de doenças
referente às Lesões por Esforço Repetitivo (LERs), problemas de saúde mental
associados ao trabalho, perda auditiva e doenças respiratórias, como a
pneumoconiose. Algumas doenças aparecem mais em empresas privadas do
que em empresas públicas, sendo a construção civil o setor que historicamente
i id i i d d iá i d
× p
Inicialização LTI
ç p
pneumoconiose. Algumas doenças aparecem mais em empresas privadas do
que em empresas públicas, sendo a construção civil o setor que historicamente
mais causa acidentes incapacitantes e o setor de transporte rodoviário de cargas
o que mais causa acidentes fatais.

Figura 4. Imagem de situação de risco na construção civil. Fonte: SINTRACOM, 2015.

O uso de equipamentos de segurança é de extrema importância e, assim, o


primeiro ponto relacionado à segurança concerne ao empregador, que deve
× Inicialização LTI

Figura 4. Imagem de situação de risco na construção civil. Fonte: SINTRACOM, 2015.

O uso de equipamentos de segurança é de extrema importância e, assim, o


primeiro ponto relacionado à segurança concerne ao empregador, que deve
garantir uma obra ou ambiente limpo e organizado. Além disso, ele deve
disponibilizar equipamentos de proteção coletiva e, após estas garantias,
conscientizar e garantir o uso de equipamentos de proteção individual (EPI) por
parte dos trabalhadores.

É importante ressaltar que é função do empregador proporcionar todos os


materiais necessários de EPI, prevenindo, desta forma, os acidentes e doenças
relacionados ao trabalho. Além disso, os custos sociais dos acidentes e doenças
de trabalho são muito altos, e envolvem toda a sociedade. No entanto, fica a
questão: quando um acidente relacionado ao trabalho acontece, de quem é a
responsabilidade?

Conforme estudado, a Constituição Federal garante como direito dos


trabalhadores rurais e urbanos a redução dos riscos inerentes ao trabalho por
meio de normas de saúde, higiene e segurança. Desta maneira, este trabalhador
deve estar seguro contra os acidentes de trabalho, sendo essa uma
responsabilidade do empregador.
× Inicialização LTI

A Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) determina, em seu art. 157, que cabe

às empresas cumprirem e fazerem cumprir as normas de segurança e medicina

do trabalho. Lembrando que a NR 01 coloca que o não cumprimento das


disposições legais sobre a segurança e a medicina do trabalho acarretará ao

empregador a aplicação das penalidades previstas na legislação pertinente.

Mas, para termos claro essa responsabilidade e o que pode desencadear seu
não cumprimento, é necessário compreender o que o direito entende como
responsabilidade, assim como a caracterização do acidente de trabalho.

ENTENDENDO A RESPONSABILIDADE CIVIL


× Inicialização LTI

O termo responsabilidade tem origem na expressão em latim respondere e


significa a obrigação que alguém tem de assumir as consequências jurídicas de
sua atividade. Assim, a responsabilidade civil está assentada no princípio
fundamental da proibição de ofender, que estabelece que não se deve causar

dano a outrem. A responsabilidade tem, portanto, a finalidade de restaurar o


equilíbrio e a paz social, além do dever de reparar o dano na sociedade. São três
as funções da responsabilidade civil:

Função compensatória (do dano a vítima) – tem como objetivo retornar ao


estado anterior à perda do bem;

Função punitiva do ofensor – uma forma de persuadir o ofensor a não mais


lesionar;
× Inicialização LTI

Desmotivação social da conduta lesiva – de caráter socioeducativo, torna


público que este ato não será tolerado pela sociedade.

A responsabilidade civil prevê alguns pressupostos, sendo eles de conduta


humana, dano ou prejuízo e nexo causal.

O pressuposto da conduta humana se baseia na voluntariedade do agente


causador do dano, ou seja: a liberdade de escolha. O sujeito teve, naquela
situação, escolha sobre o que ocorreu? Caso não haja conduta humana
voluntária, não há responsabilidade civil. Essa conduta pode ser positiva
(representada por um comportamento ativo) ou uma conduta negativa
(representada pela omissão, ou o não fazer). Por exemplo: ação ou omissão dos
empregadores ao promover um ambiente de trabalho de acordo com as normas
de segurança do trabalho.
× Inicialização LTI

Já o pressuposto de dano ou prejuízo pode ser caracterizado como material ou

moral a partir da ação ou omissão do agente. Quando ele é material, gerou-se


um ônus que tem valor econômico; já um dano moral está relacionado com um
bem que não tem repercussão econômica, não sendo redutível a dinheiro. Por

fim, o nexo de causalidade, ou nexo causal, diz respeito à relação entre a conduta
do agente e o dano da ação: o nexo irá ligar a conduta do agente ao evento

danoso.

Algumas situações são excludentes de responsabilidade civil, a saber: culpa


exclusiva da vítima, onde ela concorre e contribui para o evento danoso, e
situações alheias à vontade do agente, como casos fortuitos (desastres naturais,
por exemplo) e situações inelutáveis (guerras, revoluções, entre outros). Há ainda
situações de estado de necessidade e legítima defesa, em que o dano causado
ocorreu para evitar um perigo eminente.

CARACTERIZAÇÃO DO ACIDENTE DE TRABALHO


× Inicialização LTI

O art. 19 da Lei nº 8.213 de 1991 define que

acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço de


empresa ou de empregador doméstico ou pelo exercício do trabalho dos
segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, provocando lesão corporal ou

perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou


temporária, da capacidade para o trabalho (BRASIL, 1991).

Portanto, se o acidente ocorrer quando o trabalhador está prestando serviços


por ordem da empresa, seja em viagens ou no trajeto entre a casa e o trabalho
ou do trabalho para a casa, será caracterizado como acidente de trabalho. Além
disso, há as doenças profissionais (provocadas pelo tipo de trabalho) e doenças
do trabalho (causadas pelas condições do trabalho). Por fim, este acidente pode
ocorrer por duas causas: um ato inseguro (contra as normas de segurança) ou
uma condição insegura (quando o ambiente oferece risco ou perigo).

A partir do entendimento da responsabilidade civil e da caracterização do


acidente de trabalho, há duas situações de responsabilidade civil no acidente de
trabalho: a subjetiva, em que há culpabilidade do empregador ou do

empregado; e a objetiva, que não traz a relação de culpa, posto que o ambiente
onde este trabalhador está inserido já pressupõe o risco (é um trabalho
perigoso). Este é o caso do trabalho em construção civil e em plataformas de
petróleo, por exemplo. Por isso, o meio ambiente do trabalho precisa ser
saudável e deve seguir as NR e outras legislações para que os riscos sejam
× Inicialização LTI

trabalho: a subjetiva, em que há culpabilidade do empregador ou do

empregado; e a objetiva, que não traz a relação de culpa, posto que o ambiente
onde este trabalhador está inserido já pressupõe o risco (é um trabalho
perigoso). Este é o caso do trabalho em construção civil e em plataformas de
petróleo, por exemplo. Por isso, o meio ambiente do trabalho precisa ser
saudável e deve seguir as NR e outras legislações para que os riscos sejam
minimizados ao máximo.

Devemos considerar ainda que há no Brasil uma cultura de culpabilizar a vítima.


Quando tem-se normas de medicina do trabalho, fornecimento de EPIs e

conscientização e educação sobre seu uso, e mesmo assim o empregado não os


utilizar, ele pode inclusive ser demitido por justa causa devido à negligência.
Portanto, o acompanhamento do empregador na garantia do cumprimento

desses cuidados também se faz fundamental, uma vez que esta é sua obrigação.
× Inicialização LTI

As indenizações, portanto, podem ocorrer de acordo com o tipo de


responsabilidade civil, por dano moral, dano material, dano estético (cicatriz,
queimadura) e ainda por dano ricochete, quando há morte no acidente de
trabalho e este trabalhador era o responsável pelo sustento da família, por
exemplo. Ademais, a lei da reforma trabalhista ajudou a definir os parâmetros de
indenização para o dano moral, que antes dependiam apenas da avaliação do
Judiciário.

Agora é a hora de sintetizar tudo o que


aprendemos nessa unidade. Vamos lá?!
× Inicialização LTI

SINTETIZANDO

A saúde do trabalhador impulsiona e caminha lado a lado com os caminhos de


organização de nossa sociedade. Assim, a luta por direitos e melhores condições
trabalhistas levaram ao atual formato da Constituição de nosso País e à
instituição de uma política pública de saúde – o SUS.

Ao obter a compreensão dos direitos fundamentais garantidos pela Constituição


Cidadã, ela será retomada constantemente ao refletirmos sobre as políticas
públicas subsequentes, concebidas para dar forma e concretude ao que foi
idealizado anos antes. Apesar de todos os desafios para a implementação prática
destes ideais, ter garantido o direito à saúde como um dever do Estado (o que
inclui a saúde do trabalhador) é de fato um marco bastante importante, sobre o
qual não podemos perder o foco diante de tantas críticas ao SUS.

A participação popular, garantida pelos conselhos e conferências de saúde, pode


mostrar-se esvaziada em determinados locais e momentos históricos. No
entanto, não pode ser desvalorizada, devendo ser o nosso foco, para que a partir
delas a sociedade possa se inserir no debate de construção social, levando suas
necessidades e desejos ao cenário político e na construção de políticas públicas
mais efetivas.
× Inicialização LTI

Dentro da PNSTT, pudemos observar que sua principal questão é a organização


do SUS nos diferentes níveis de atenção. Seu objetivo é que os trabalhadores
sejam assistidos e que a população possa ter seu problema/situação resolvido
de maneira integral. Esta resolução somente será possível com a presença de
profissionais de saúde que possam fazer os devidos nexos causais relacionados
ao trabalho.

Para além das atividades de atenção à saúde e estímulos à participação dos


trabalhadores, temos aspectos legais para a promoção de ambientes de trabalho
saudáveis e que garantam a segurança do trabalhador, minimizando os riscos de
acidentes relacionados ao trabalho. Assim, a Constituição inclui o empregador
como o responsável por essa garantia, ao passo que as NR detalham como isto
deve ocorrer.

É fato que a fiscalização e o acompanhamento da execução destas medidas


ainda carecem de avanços, visto que o Brasil ainda é um dos grandes líderes em
número de acidentes de trabalho no mundo. Assim, é nossa responsabilidade,
enquanto enfermeiros(as) atuantes ou não em serviços diretamente ligados à
saúde do trabalhador, atentar-se a situações que evidenciem que as medidas de
segurança e saúde do trabalhador não estão ocorrendo.
× Inicialização LTI

Ao se conhecer a importância da proteção à saúde do trabalhador, da legislação brasileira e das


políticas públicas que estruturam a atenção à saúde dessa população, é possível aprofundar o
conhecimento sobre o papel do enfermeiro no cuidado aos trabalhadores, bem como suas
atribuições ao compor uma equipe multiprofissional.

É importante ressaltar que o enfermeiro deve atuar no contexto da saúde do


trabalhador, tanto em situações específicas, quando é contratado como
enfermeiro do trabalho e atua no local onde o trabalho é realizado (e
obrigatoriamente deve ser especialista em Enfermagem do trabalho), quanto na
atuação em outros serviços. Deve-se considerar que o atendimento ao
trabalhador não é restrito ao cuidado em seu ambiente do trabalho, sendo que a
maioria das ações é realizada em âmbito geral, como em consultas e exames
dentro dos ambulatórios, na atenção primária em saúde (APS), nos
× Inicialização LTI
atribuições ao compor uma equipe multiprofissional.

É importante ressaltar que o enfermeiro deve atuar no contexto da saúde do


trabalhador, tanto em situações específicas, quando é contratado como
enfermeiro do trabalho e atua no local onde o trabalho é realizado (e
obrigatoriamente deve ser especialista em Enfermagem do trabalho), quanto na
atuação em outros serviços. Deve-se considerar que o atendimento ao
trabalhador não é restrito ao cuidado em seu ambiente do trabalho, sendo que a
maioria das ações é realizada em âmbito geral, como em consultas e exames
dentro dos ambulatórios, na atenção primária em saúde (APS), nos
atendimentos de urgência e emergência e em hospitais. Desse modo, o nexo

causal (relação da doença/acidente com o trabalho) deve ser realizado por todos
os profissionais de saúde, inclusive o enfermeiro, em qualquer atendimento que
esse usuário realize.

Com isso, deve-se olhar também, para o processo do trabalho em enfermagem,


na saúde do trabalhador de modo ampliado, dentro do cotidiano dos serviços de
saúde.

Seção 3 - Assistência de enfermagem em saúde do trabalhador


× Inicialização LTI

Seção 3 de 5

Assistência de enfermagem em saúde do trabalhador

A assistência de enfermagem deve ser realizada de modo sistematizado e integral,


entretanto, para melhor organização das atividades ao longo do exercício da enfermagem,
foram desenvolvidas etapas que compreendem um conjunto de ações conhecido como
processo de enfermagem.

Essas ações devem ser trabalhadas de modo articulado e interligado, sendo a


divisão em etapas, um modo de organização do trabalho da enfermagem.

O processo de enfermagem é a representação maior do método científico da


profissão, sendo direcionado pela sistematização da assistência de enfermagem
(SAE), através da qual ocorre o desenvolvimento e organização do trabalho da
equipe pela qual o enfermeiro é responsável. A SAE permite detectar as
× Inicialização LTI
divisão em etapas, um modo de organização do trabalho da enfermagem.

O processo de enfermagem é a representação maior do método científico da


profissão, sendo direcionado pela sistematização da assistência de enfermagem
(SAE), através da qual ocorre o desenvolvimento e organização do trabalho da
equipe pela qual o enfermeiro é responsável. A SAE permite detectar as
prioridades de cada paciente quanto as suas necessidades, fornecendo assim,
uma direção para as possíveis intervenções (MARIA; QUADROS; GRASSI, 2012, p.
298).

A Resolução do COFEN nº 358, de 15 de outubro de 2009, discorre sobre a


sistematização da assistência de enfermagem (SAE) e a implementação do

processo de enfermagem em ambientes públicos ou privados e coloca a


obrigatoriedade da realização da SAE, mostrando sua importância e
reconhecimento.

Os processos de enfermagem em saúde do trabalhador não se modificam dos


demais já desenvolvidos, o que muda é o foco de atenção: o trabalhador em seu
ambiente de trabalho (quando realizada no local de trabalho) e a abordagem do
processo, com olhar ao usuário-trabalhador e seus agravos e riscos relacionados
ao trabalho (LUCAS, 2013).

CONTINUE
× Inicialização LTI

O processo de enfermagem visa a resolução de problemas, para atender as


necessidades de cuidado à saúde e de enfermagem de uma pessoa. As suas
etapas são apresentadas de diferentes modos, por diferentes autores e, segundo
Brunner (2005), “as etapas comuns são o histórico, diagnóstico, planejamento,
implementação e evolução”.

O processo de enfermagem do trabalho vem implementar o conceito de que


metade da vida do ser humano se passa no ambiente de trabalho, e que esse
ambiente pode apresentar características peculiares, como riscos e condições
inseguras que podem afetar diretamente o processo saúde-doença, levando a um
desequilíbrio biopsicossocial e espiritual e, consequentemente, conduzindo o
trabalhador à doença (LUCAS, 2013, p. 25).

Desse modo, ressalta-se que o trabalho é um determinante social da saúde que


pode desencadear doenças e/ou acidentes que influenciam diretamente no
modo de vida das pessoas.

As etapas comuns citadas por Brunner (2005) são:


× Inicialização LTI

Histórico de enfermagem

É a coleta de dados sistematizada para determinar o estado de saúde do


paciente, capaz de identificar qualquer situação de adoecimento. Faz parte
dessa coleta/histórico o exame físico e a história da saúde. Especificamente na
enfermagem do trabalho, deve ser incluído o conhecimento sobre o
local/ambiente de trabalho, bem como da característica e do tipo de atividade
desenvolvida. A partir desse levantamento, com base no conhecimento das
normas de regulamentação (NR) e dos possíveis riscos associados ao tipo de
trabalho desenvolvido, o enfermeiro deve se atentar para situações específicas
que, quando identificadas, devem fazer parte do diagnóstico de enfermagem;

Diagnóstico

Existem dois tipos para se identificar os problemas do paciente:

Diagnósticos de enfermagem, que são problemas de saúde reais ou


potenciais que podem ser controlados por prescrições de enfermagem
independentes, estando relacionados aos problemas das necessidades
desse paciente;

Problemas interdependentes, que são complicações fisiológicas em que


o enfermeiro pode monitorar o seu início ou suas alterações. As atividades
relacionadas aos problemas interdependentes envolvem prescrições do
× Inicialização LTI

Diagnóstico

Existem dois tipos para se identificar os problemas do paciente:

Diagnósticos de enfermagem, que são problemas de saúde reais ou

potenciais que podem ser controlados por prescrições de enfermagem


independentes, estando relacionados aos problemas das necessidades
desse paciente;

Problemas interdependentes, que são complicações fisiológicas em que


o enfermeiro pode monitorar o seu início ou suas alterações. As atividades
relacionadas aos problemas interdependentes envolvem prescrições do
profissional médico ou de outros membros da equipe. É, nessa etapa,
que se tem a identificação dos principais agravos relacionados ao
ambiente de trabalho. O Diagrama 1 mostra a diferença entre os
diagnósticos de enfermagem e os diagnósticos médicos;
× Inicialização LTI

Diagrama 1. Diferenças entre os diagnósticos de enfermagem e os diagnósticos


médicos. Fonte: LUCAS, 2013, p. 98. (Adaptado).
× Inicialização LTI

Planejamento

Envolve o desenvolvimento de metas e resultados e a elaboração de um plano


de cuidados destinado a assistir o paciente/usuário na resolução dos
problemas diagnosticados;

Implementação

Execução do plano de cuidados de enfermagem. É responsabilidade do


enfermeiro coordenar e orientar, mas o desempenho das atividades pode ser
feito pelo paciente ou sua família, bem como por outros membros da equipe
de enfermagem;

Evolução

Trata-se das respostas de como o paciente reagiu às prescrições realizadas e


como os objetivos colocados no planejamento estão ou não sendo alcançados.
A Resolução do COFEN nº 358, de 15 de outubro de 2009, denomina como
avaliação de enfermagem.
× Inicialização LTI

Diagrama 2. Processo de enfermagem. Fonte: BRUNNER, 2005, p. 38. (Adaptada).

É importante ressaltar que a tarefa do enfermeiro do trabalho, deve envolver um


d f id t d (l l/ bi t d t b lh )
× Inicialização LTI

É importante ressaltar que a tarefa do enfermeiro do trabalho, deve envolver um


processo de enfermagem que considere o todo (local/ambiente de trabalho) e o
individual, sendo que, quando acompanha o todo, deve realizar um
monitoramento de todos os trabalhadores, o que inclui pessoas supostamente
saudáveis. Todavia, é papel do enfermeiro durante o histórico e diagnóstico
identificar grupos de trabalhadores mais expostos a riscos e, com isso, realizar
um acompanhamento individualizado e específico a cada trabalhador, quando
necessário.

Para que as ações do processo de enfermagem sejam realizadas de modo eficaz,


devem ser planejadas previamente para acolher os trabalhadores
espontaneamente (quando há procura do próprio trabalhador), mas também
deve estar organizada no monitoramento periódico desses trabalhadores, com
atendimento da demanda programada desses usuários, ou seja, na saúde do
trabalhador o monitoramento/acompanhamento desses usuários é
fundamental.

Outro ponto essencial é que em todos os atendimentos e especialmente


× Inicialização LTI

Para a efetividade da monitorização o enfermeiro do trabalho


deve ter como diretriz os conceitos da vigilância em saúde.

Outro ponto essencial é que em todos os atendimentos e, especialmente,


durante o histórico, o nexo causal (relacionado ao trabalho) seja feito pelo
enfermeiro. Um atendimento de um adulto hipertenso, por exemplo, pode e
deve ser investigado como relacionado ao trabalho, não se deve banalizar os
atendimentos realizados, sendo essa uma postura ética do profissional de
enfermagem, que deve buscar a integralidade em seus atendimentos.

O PROCESSO DE ENFERMAGEM EM UM GRUPO DE TRABALHADORES

Como se pode observar, as descrições mais clássicas referentes às


etapas do processo de enfermagem trazem o foco centrado ao
indivíduo, muitas vezes colocado como usuário, cliente ou
paciente e, nesse contexto, pode-se chamar de trabalhador, por
× Inicialização LTI

indivíduo, muitas vezes colocado como usuário, cliente ou


paciente e, nesse contexto, pode-se chamar de trabalhador, por
se tratar da atenção ao trabalho desenvolvido no processo de
enfermagem em um grupo de trabalhadores.

Lucas (2013) descreve que as etapas do processo de enfermagem do trabalho,


quando aplicadas a um grupo de trabalhadores, se iniciam com as visitas aos
locais de trabalho, identificação dos grupos de trabalhadores e riscos inerentes
ao trabalho com coleta de dados, diagnóstico de enfermagem, implantação e
desenvolvimento das intervenções de enfermagem propostas, sendo que os
trabalhadores com maior suscetibilidade devem ser encaminhados à consulta
de enfermagem.

Um fator fundamental é o ambiente do trabalho estar seguro e proteger à saúde


dos trabalhadores, portanto, conhecer esse local bem como são desenvolvidas
as atividades dos trabalhadores é tarefa essencial no enfermeiro do trabalho.
Caso haja a identificação de um possível nexo causal, o enfermeiro da APS, por
exemplo, pode fazer essa atividade em parceria com a equipe do Centro de
Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST) de seu município/região ou pode
fazer contato como o enfermeiro do trabalho da empresa, se houver, para
× Inicialização LTI

dos trabalhadores, portanto, conhecer esse local bem como são desenvolvidas
as atividades dos trabalhadores é tarefa essencial no enfermeiro do trabalho.
Caso haja a identificação de um possível nexo causal, o enfermeiro da APS, por
exemplo, pode fazer essa atividade em parceria com a equipe do Centro de
Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST) de seu município/região ou pode
fazer contato como o enfermeiro do trabalho da empresa, se houver, para
realizar a discussão do caso e, posteriormente, fazer uma visita conjunta.

As visitas têm objetivo de avaliar o local de trabalho e controlar os riscos


ocupacionais. Podem e devem ser realizadas, quando possível, em conjunto
com outros profissionais que integram a equipe de Serviço Especializado em
Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT), proporcionando,
assim, uma visão mais ampla das situações encontradas, sendo que “a troca de
experiências e as propostas de melhoria entre os profissionais somente
beneficiam o trabalhador e sua saúde” (LUCAS, 2013).

As visitas devem ser realizadas durante o horário de atuação dos trabalhadores,


em diferentes turnos, para que se possa observar as reais condições de trabalho.

Sendo que o enfermeiro deve elaborar um roteiro de visita bem como um modo
sistematizado para o registro das informações encontradas e ter em mente

questões a serem pontuadas, dependendo da especificidade da empresa com


que se está trabalhando, como a presença e o uso de equipamentos de proteção

individual (EPIs), de proteção coletiva, número de profissionais, entre outros


elementos que possam promover a segurança e proteção à saúde do
× Inicialização LTI
que se está trabalhando, como a presença e o uso de equipamentos de proteção

individual (EPIs), de proteção coletiva, número de profissionais, entre outros


elementos que possam promover a segurança e proteção à saúde do
trabalhador (LUCAS, 2013).

A partir da visita realizada, com os dados coletados, análise e observações feitas


é possível identificar possíveis agravos à saúde do trabalhador.

Os diagnósticos realizados de caráter coletivo devem ser trabalhados juntamente


com a equipe do SESMT, para planejamento conjunto de possíveis ações de
melhorias às condições de trabalho que, eventualmente, podem ser pautas da
Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), que conta com a
participação dos trabalhadores.
× Inicialização LTI

Contudo, quando são identificados problemas individuais que podem ter surgido
a partir da observação da visita ou da monitorização de um grupo de
trabalhadores, esse trabalhador deve ser atendido em uma consultada de
enfermagem.

O Quadro 1 resume informações fundamentais a serem observadas pelo


enfermeiro durante as visitas.

// Quadro 1. Informações relevantes sobre o local de trabalho


Clique para fazer download do quadro abaixo:

Quadro 1.pdf
75.5 KB

Nota-se que, ao realizar a visita, o profissional deve estar atento a diferentes


questões, e que ao abordar algum trabalhador algumas questões podem ser o
diferencial para identificação de problemas. Portanto, avaliar o local, o momento
e a situação, são pontos essenciais. É importante lembrar que a relação
trabalhador-empregador é hierarquizada, muitas vezes de disputa e poder e,
por isso, algumas questões devem ser pontuadas, mas abordadas fora do
coletivo, de modo privativo ou ainda mais investigativo, com entrevista a
familiares, empresas próximas e/ou outras fontes.
× Inicialização LTI

As visitas periódicas fazem parte da vigilância à saúde do trabalhador, sendo


função do enfermeiro a vigilância contínua à saúde dos trabalhadores quanto à
possibilidade de agravos, doenças e acidentes, considerando, ainda, o
monitoramento como uma outra prática de vigilância em saúde do trabalhador.

O monitoramento deve ocorrer por meio do acompanhamento dos trabalhadores

e seus fatores de risco associados ao trabalho, ou seja, doenças preexistentes ou

em andamento, sexo, raça, faixa etária, entre outras; monitoramento sobre os

agentes de risco no trabalho, tais como: biológicos, químicos, físicos,


ergonômicos ou psicossociais, que o trabalhador possa ter contato e

desencadear alguma doença e/ou acidente; e do acompanhamento do próprio


× Inicialização LTI

O monitoramento deve ocorrer por meio do acompanhamento dos trabalhadores

e seus fatores de risco associados ao trabalho, ou seja, doenças preexistentes ou

em andamento, sexo, raça, faixa etária, entre outras; monitoramento sobre os

agentes de risco no trabalho, tais como: biológicos, químicos, físicos,


ergonômicos ou psicossociais, que o trabalhador possa ter contato e

desencadear alguma doença e/ou acidente; e do acompanhamento do próprio

ambiente do trabalho. Deve-se considerar, em especial, aqueles trabalhadores


que estão expostos a situações de exposição e risco maior no trabalho, que

devem ser monitorados, inclusive, de acordo com o estabelecido pelas normas

regulamentadoras (NR).

Esse monitoramento pode ser feito por meio de exames de sangue e/ou de
imagem ou por exames de controle do ambiente de trabalho. Sendo que
compete ao enfermeiro a participação ativa na realização de avaliações de
monitoramento do trabalhador.

O trabalhador dever estar envolvido em todo esse processo e deve ser


informado, por escrito, quanto aos seus resultados. O enfermeiro deve ter
anotado, baseado na SAE, todos os dados em prontuário específico do
trabalhador na empresa e no chamado Perfil Profissiográfico Previdenciário
(PPP) (BRASIL, 2020).
× Inicialização LTI

A CONSULTA DE ENFERMAGEM EM SAÚDE DO TRABALHADOR

A Resolução do COFEN nº 159, de 18 de abril de 1993, descreve a consulta de


enfermagem, como:

[...] atividade privativa do enfermeiro, e que utiliza componentes do método


científico para identificar situações de saúde/doença, prescrever e implementar
medidas de Enfermagem que contribuam para a promoção, prevenção e proteção
da saúde, recuperação e reabilitação do indivíduo, família e comunidade;
[...] tem como fundamento os princípios de universalidade, equidade,
resolutividade e integralidade das ações de saúde;
× g q
Inicialização LTI
p p ç p ç p ç
da saúde, recuperação e reabilitação do indivíduo, família e comunidade;
[...] tem como fundamento os princípios de universalidade, equidade,
resolutividade e integralidade das ações de saúde;
[...] compõe-se de Histórico de Enfermagem (compreendendo a entrevista),

exame físico, diagnóstico de Enfermagem, prescrição e implementação da


assistência e evolução de enfermagem (BRASIL, 1973, grifo nosso).

Essa resolução considera, ainda, a institucionalização da consulta como um


processo da prática de enfermagem que tem como perspectiva a concretização

de um modelo assistencial adequado às condições das necessidades de saúde

da população, como no caso da atenção à saúde do trabalhador. Além disso, faz-

se obrigatória em todos os níveis de assistência à saúde, seja em instituição


pública ou privada.
× Inicialização LTI

Brunner (2005) enfatiza que a capacidade de avaliar o paciente é uma das


principais habilidades do enfermeiro e que

[...] em todos os cenários em que as enfermeiras interagem com os pacientes e


prestam cuidados, o levantamento de uma história de saúde completa e o uso das
habilidades de avaliação apropriados são primordiais para identificar os problemas
físicos e psicológicos e as preocupações que afligem o paciente (BRUNNER, 2005,
p. 63).

Desse modo, no cenário de atenção à saúde do trabalhador, faz-se necessário o


atendimento em consulta de enfermagem. Essa avaliação ou histórico de
enfermagem, segundo Brunner (2005), é uma das primeiras etapas do processo
de enfermagem, sendo indispensável “para se obter dados para elaborar o
diagnóstico de enfermagem, identificar e implementar as prescrições de
enfermagem e avaliar sua eficácia”.

Na saúde do trabalhador, tem-se como finalidade durante a consulta de


enfermagem:
× Inicialização LTI

Na saúde do trabalhador, tem-se como finalidade durante a consulta de


enfermagem:

Conhecer os hábitos do trabalhador;

Abranger o trabalhador em seus aspectos biopsicossociais e


espirituais;

Individualizar a assistência de enfermagem;

Avaliar a evolução das condições do trabalhador e detectar alterações


ou tendências na situação saúde-doença;

Esclarecer dúvidas, reforçando informações prestadas;

Reduzir o grau de ansiedade do trabalhador, quanto aos riscos


relacionados ao trabalho;

Estabelecer uma relação interpessoal;

Identificar problemas que necessitam de ações de enfermagem;

Levantar situações que necessitam de abordagem multiprofissional


e/ou intersetorial;

Fornecer subsídios para a tomada de decisões quanto às condutas de


× ç q
Inicialização LTI
g p
e/ou intersetorial;

Fornecer subsídios para a tomada de decisões quanto às condutas de


enfermagem;

Aumentar o grau de satisfação profissional do enfermeiro em relação


à assistência de enfermagem.

É importante ressaltar que o caráter da multiplicidade do atendimento do


enfermeiro em saúde do trabalhador pode acontecer na rotina dos
acompanhamentos dos trabalhadores de uma fábrica/empresa e em diferentes
ambulatórios, unidades básicas de saúde e em centros de saúde e, desse modo,
as questões pontuadas nesse contexto devem surgir sempre em que for
considerada uma questão relacionada ao trabalho.

// Histórico de enfermagem

Alguns pontos são fundamentais e devem ser verificados durante a realização do


histórico de enfermagem. A primeira etapa da consulta de enfermagem em
saúde do trabalhador deve incluir: identificação, queixa principal (questões
relacionadas à situação atual e à previdência social – abertura de comunicado de
acidente de trabalho, entre outros), história laboral (verificar os trabalhos e/ou
cargos anteriores), histórico familiar, história social, história pregressa, hábitos e
a percepção do trabalhador sobre o trabalho.
× Inicialização LTI

Dentro da história social, vale a pena destacar alguns pontos a serem

investigados e o modo como se deve fazer as perguntas, pois muitas questões a

serem realizadas podem fornecer elementos-chave para o levantamento de


problemas de enfermagem, favorecendo de modo significativo a proteção e a

promoção da saúde do trabalhador.

Portanto, é importante entender sua escolaridade e o modo como o trabalhador


aprendeu a desenvolver sua profissão. A abordagem a ser realizada e o modo
dos questionamentos podem trazer elementos mais reveladores da situação
atual.

Assim, destacam-se alguns pontos importantes a serem abordados sobre a


história social, portanto, sempre se deve avaliar a situação e as possibilidades de
realizar as seguintes perguntas:

1 Qual sua escolaridade?

2 Tem formação profissional?

3 Como aprendeu sua profissão?

4 O trabalho é motivador?
× Inicialização LTI

4 O trabalho é motivador?

5 Como é sua relação com os familiares?

6 E com a vizinhança?

7 Qual sua renda familiar?

8 Como são suas condições de moradia?

9 Quais são as condições de saneamento ambiental da região onde


mora?

10 Há poluição?

11 Quais são seus hábitos alimentares?

12 Que meios de transporte utiliza?

13 Quanto tempo gasta na locomoção de casa ao trabalho?

14 Pratica atividade física?

15 Que tipo de lazer realiza?

16 Participa de ações comunitárias ou voluntariado?


× Inicialização LTI

16 Participa de ações comunitárias ou voluntariado?

O enfermeiro deve manter com o trabalhador uma relação dinâmica de


confiança mútua, e vínculo para êxito em todo do processo. Devendo o
enfermeiro se envolver com empatia, sem julgar as informações trazidas.

A especificidade do tipo de trabalho também deve ser considerada e formulários


específicos devem ser criados para cada área. Por exemplo, um trabalho que tem
um risco acentuado ao desenvolvimento de lesões por esforços repetitivos pode
ter em seu formulário uma área com figuras do corpo humano para que as
lesões possam ser assinaladas e, inclusive, apontadas pelo próprio trabalhador.

Pode-se classificar as informações levantadas no histórico de enfermagem como


objetivas ou subjetivas. As objetivas são aquelas explícitas no modo de ser do
trabalhador, como cansaço ao falar, postura ao sentar-se, condições de higiene
etc. Já as subjetivas são aquelas referidas pelo trabalhador e demonstram sua
visão em relação às suas ideias sobre a situação e suas sensações como medo,
raiva, calor/frio, entre outras (LUCAS, 2013).

É papel do enfermeiro avaliar e realizar os encaminhamentos/resoluções


necessários.
× Inicialização LTI

// Exame físico

Após o levantamento do histórico de enfermagem, é realizado o exame físico,


com objetivo de observar alterações no estado de saúde do trabalhador em
decorrência de doença e/ou outros fatores que alterem seu estado de saúde e
que possam requerer intervenções e orientações de enfermagem. Na
especificidade de saúde do trabalhador, deve-se dar atenção aos dados
encontrados e verificar se possuem nexo causal. Desse modo, é indispensável
que haja o conhecimento de sinais e sintomas relacionados às doenças
ocupacionais e do trabalho, bem como conhecimento das necessidades básicas
alteradas e da nomenclatura dessas necessidades, que devem ser a base para a
próxima etapa do processo de enfermagem, o diagnóstico.

Nesse momento, podem ser incorporados os resultados dos exames periódicos


e o uso de equipamentos de proteção coletiva e individual, dados de
afastamento do trabalho por doença e outras considerações (LUCAS, 2013).

// Diagnóstico de enfermagem
× Inicialização LTI

O diagnóstico de enfermagem é o momento de análise dos dados do histórico

e exame físico, que podem ser somados aos dados da visita ao ambiente de
trabalho e ao resultado dos exames laboratoriais. A partir desses dados, são
levantados os problemas de enfermagem, as necessidades afetadas e o grau de
dependência do trabalhador em relação ao enfermeiro. Para que se torne
possível realizar com sucesso essa etapa do processo de enfermagem, é
fundamental que se tenha conhecimento dos sintomas, das necessidades
básicas alteradas e de suas respectivas nomenclaturas, caso contrário, esse
processo se torna difícil de ser implantado (LOPES, 2000).

Entre as vantagens dos diagnósticos de enfermagem, destacam-se que eles


direcionam os cuidados, fortalecem a atuação profissional nos aspectos

relacionados às especificidades da enfermagem, contribuem na identificação de


lacunas conceituais, validam as funções da enfermagem e aumentam a autonomia
do profissional (MARIN et al., 2008, p. 279).

Para a enfermagem do trabalho é importante determinar a natureza da dependência dos


problemas de enfermagem quando o trabalhador atendido procura o ambulatório e está em
nível primário de atenção à saúde (promoção, proteção e prevenção). O grau de dependência
do trabalhador pode ser total ou parcial.
× Inicialização LTI

Os diagnósticos, ainda, podem ser tipificados em real ou vigente, de risco, de


saúde e síndrome.

O diagnóstico real descreve a avaliação do enfermeiro em que há presença de


fatores relacionados e de características definidoras principais, sendo constituído,
desta forma, de três partes: nome, fator relacionado e características definidoras.
Ao passo que o diagnóstico de risco, na avaliação do enfermeiro, é verificado em
um indivíduo ou grupo que está mais vulnerável ao desenvolvimento de
problemas, comparado a outros na mesma situação. Esse tipo de diagnóstico se
constitui em duas partes: nome/definição e os fatores de risco.

Para os diagnósticos de saúde há a transição de um nível específico de saúde para


outro mais elevado, conforme o julgamento clínico realizado pelo enfermeiro.
O conjunto de diagnósticos reais e de alto risco devido a um fator ou situação
constitui o diagnóstico do tipo síndrome.
A inversão das partes do enunciado deve ser evitada para não haver uma
inadequação na informação (LUCAS, 2013, p. 98-99).

Todos os diagnósticos de enfermagem estão relacionados às necessidades


humanas, podendo e devendo ser aplicados ao processo de enfermagem do
trabalho.

// Prescrição de enfermagem
× Inicialização LTI

// Prescrição de enfermagem

Só é possível realizar a prescrição de enfermagem após ter realizado os


diagnósticos de enfermagem e o levantamento de seus problemas. A prescrição
de enfermagem pode, ainda, ser conhecida e/ou nomeada como intervenções
de enfermagem. Nessa fase, o enfermeiro deve elaborar o plano assistencial
ou plano de cuidados, que pode incluir atividades destinadas a outros

profissionais e ao próprio trabalhador. Vale ressaltar que pode ser tanto um


plano individual, quanto uma prescrição destinada a um grupo de trabalhadores.

As prescrições devem ter objetivos a serem cumpridos em curto, médio e longo

prazos, sendo que o trabalhador deve estar envolvido em todas elas, estando
ciente das prescrições e metas estabelecidas.

Na saúde do trabalhador, as prescrições de enfermagem visam atividades


necessárias à promoção, manutenção e restauração da saúde, sendo que o
enfermeiro auxilia o trabalhador a chegar aos resultados esperados, apoiando a

promoção de um ambiente seguro e terapêutico.


× Inicialização LTI

As prescrições podem ser classificadas como independentes, interdependentes


ou dependentes.

Intervenções independentes são aquelas executadas pelo enfermeiro com base


em seu conhecimento científico, experiência profissional. Essas intervenções são
definidas pelo diagnóstico de enfermagem, e o enfermeiro independe de
recomendações médicas diretas.
Dependente é a intervenção que segue uma recomendação médica com a
indicação de como ser executada, sendo feita pelo médico.

Quando uma intervenção de enfermagem é realizada com a colaboração de outros


membros da equipe de saúde e segurança, dizemos que ela é uma intervenção
interdependente (LUCAS, 2013, p. 103).

É responsabilidade do enfermeiro as ações de enfermagem prescritas à sua


equipe, devendo sempre ter sua identificação profissional, com carimbo onde
conste sua função e registro do Conselho Regional de Enfermagem (COREN). As
prescrições estão sujeitas a mudanças, que dependem das respostas do
trabalhador às mesmas e devem ser acompanhadas na evolução de
enfermagem.

// Evolução de enfermagem

A evolução ou avaliação de enfermagem corresponde ao acompanhamento


× Inicialização LTI

// Evolução de enfermagem

A evolução ou avaliação de enfermagem corresponde ao acompanhamento

das respostas dos trabalhadores às prescrições de enfermagem, que devem ser


registradas de acordo com o prazo previsto nas prescrições. Todavia, não deve
ser confundida com a anotação de enfermagem. O Quadro 2 exemplifica essa
diferença.

Quadro 2. Comparativo entre a anotação e a evolução de enfermagem. Fonte: BRASIL,


2016, p. 17. (Adaptado).

Portanto, uma função privativa do enfermeiro parte da consulta de enfermagem


e objetiva a reflexão e análise de dados, sendo a anotação um registro de uma
observação realizada por toda a equipe de enfermagem.
× Inicialização LTI

Seção 4 de 5

O enfermeiro na saúde do trabalhador

Conforme suas atribuições, o enfermeiro do trabalho:

1. Estuda as condições de segurança e periculosidade da empresa, efetuando


observações nos locais de trabalho e discutindo-as em equipe, para identificar as

necessidades no campo de segurança, higiene e melhoria do trabalho;


× Inicialização LTI

2. elabora e executa planos e programas de promoção e proteção à saúde dos


empregados, participando de grupos que realizam inquéritos sanitários, estudam
as causas de absenteísmo, fazem levantamentos de doenças profissionais e lesões
traumáticas, procedem a estudos epidemiológicos, coletam dados estatísticos de
morbidade e mortalidade de trabalhadores, investigando possíveis relações com
as atividades funcionais, para obter a continuidade operacional e o aumento da
produtividade;

3. executa e avalia programas de prevenção de acidentes e de doenças

profissionais e não profissionais, fazendo análise de fadiga, dos fatores de


insalubridade, dos riscos e das condições de trabalho do menor e da mulher, para
propiciar a preservação da integridade física e mental do trabalhador;

4. presta primeiros socorros no local de trabalho, em caso de acidente ou


doença, fazendo curativos ou imobilizações especiais, administrando
medicamentos e tratamentos e providenciando o posterior atendimento médico
adequado, para atenuar consequências e proporcionar apoio e conforto ao
paciente;

5. elabora, executa e avalia as atividades de assistência de enfermagem aos

trabalhadores, proporcionando-lhes atendimento ambulatorial, no local de


trabalho, controlando sinais vitais, aplicando medicamentos prescritos, curativos,
inalações e testes, coletando material para exame laboratorial, vacinações e outros
tratamentos, para reduzir o absenteísmo profissional;

6. organiza e administra o setor de enfermagem da empresa, prevendo pessoa


e material necessários, treinando e supervisionando auxiliares de enfermagem
adequado às necessidades de saúde do trabalhador;
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Inicialização LTI
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e material necessários, treinando e supervisionando auxiliares de enfermagem
adequado às necessidades de saúde do trabalhador;

7. treina trabalhadores, instruindo-os sobre o uso de roupas e material


adequado ao tipo de trabalho, para reduzir a incidência de acidentes;

8. planeja e executa programas de educação sanitária, divulgando


conhecimentos e estimulando a aquisição de hábitos sadios, para prevenir
doenças profissionais e melhorar as condições de saúde do trabalhador;

9. registra dados estatísticos de acidentes e doenças profissionais, mantendo


cadastros atualizados, a fim de preparar informes para subsídios processuais nos
pedidos de indenização e orientar em problemas de prevenção de doenças
profissionais. (ANENT, s.d.).

Desse modo, o seu trabalho tem articulação com uma equipe multiprofissional, o
trabalho em grupo e o acompanhamento e relacionamento dos usuários
trabalhadores.

O TRABALHO EM EQUIPE E O ENFERMEIRO NA SAÚDE DO TRABALHADOR


× Inicialização LTI

Aprofundando os conhecimentos em saúde do trabalhador, pode-se perceber o


quanto sua área de trabalho é abrangente. Assim, uma só profissão ou um só
saber é incapaz de lidar com tamanha complexidade e ao mesmo tempo garantir
os cuidados e atenção necessários para a proteção da saúde do trabalhador.

Portanto, o trabalho em equipe multiprofissional e interdisciplinar é essencial,


sendo que as funções do enfermeiro se interligam em diferentes áreas de modo
fundamental, visto seu caráter de sensibilidade na promoção, na prevenção e na
identificação de necessidades humanas individuais e coletivas.

O enfermeiro do trabalho compõe a equipe multiprofissional de saúde do


trabalhador, que também inclui outros profissionais de saúde, como médicos do
trabalho, técnicos de segurança, engenheiros de segurança, higienistas
ocupacionais, assistentes sociais, psicólogos ocupacionais, especialistas em
ergonomia, em reabilitação profissional e em prevenção de acidentes, que
atuam objetivando a melhor das condições e ambientes de trabalho e, muitas
vezes, são profissionais que se dedicam à pesquisa nesse campo de estudos.

Sabe-se que cada um dos profissionais envolvidos tem sua especificidade e

responsabilidade e o trabalho em conjunto não significa ter uma hierarquia entre


os diferentes profissionais envolvidos, pelo contrário, deve possibilitar uma

articulação no trabalho entre todos os envolvidos, proporcionando o melhor

atendimento e cuidados possíveis ao público-alvo, nesse caso, os trabalhadores.


× Inicialização LTI

Desse modo, a equipe deve procurar modos e mecanismos que facilitem a


discussão e a comunicação em grupo, para que cheguem em consensos e/ou
direções comuns e não concorrentes.

Para o desenvolvimento do trabalho interdisciplinar é preciso incorporar o

referencial de outras disciplinas. Assim, torna-se profícuo o olhar de cada uma


delas sobre o mesmo objeto e a resultante ultrapassa a soma de enfoques
isolados. O quantitativo não se opõe ao qualitativo, o mensurável não nega o
imensurável, os determinantes imediatos não são descontextualizados dos gerais,
o saber teórico dos técnicos se abre à contribuição do conhecimento tecido no
cotidiano dos trabalhadores (LINO et al., 2012, p. 89).

Sobre a enfermagem, os autores destacam:

A enfermagem do trabalho tem desempenhado papel decisivo no planejamento


da prestação de serviços de saúde e de segurança nos locais de trabalho, onde é
percebida nitidamente a profundidade da assistência e o caráter global no custo-

benefício. Além do conhecimento técnico-científico, o enfermeiro deve possuir


uma visão ampla dentro da empresa, que supere os horizontes da enfermagem,
porém sem interferir ou exercer outra atividade não inerente às suas funções
(LINO et al., 2012, p. 90).
× Inicialização LTI

A legislação estabelece, por meio das normas regulamentadoras, que as


empresas tenham o Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em
Medicina do Trabalho (SESMT), determinando que a equipe completa deve ser
composta por enfermeiro do trabalho, médico do trabalho, engenheiro de
segurança do trabalho, técnico de enfermagem do trabalho e técnico de
segurança do trabalho, sendo que seu dimensionamento depende da graduação
do risco da atividade econômica principal e do número total de trabalhadores da
empresa.

Com base nessa Norma, considera-se cada profissional como uma parcela da força

de trabalho em saúde do trabalhador, o que comprove o caráter multiprofissional


e interdisciplinar, compondo um conjunto de conhecimentos e atribuições
específicos que, somados, possuem a capacidade de intervir em prol de ambientes
e processos produtivos mais seguros e saudáveis. Os objetivos do SESMT tratam
do interesse coletivo, objetivando promoção da saúde e proteção da integridade
física do trabalhador em seu local de trabalho. Assim, os profissionais colocam em
prática o que preconizam os documentos legais da área da saúde e segurança do
trabalhador (ROLOFF et al., 2016, p. 898).

Tendo conhecimento do processo de enfermagem, deve-se trabalhar dentro da


especificidade e articular com os diferentes profissionais da equipe todos os
saberes, que possam garantir à saúde dos trabalhadores que estiverem sob esse
cuidado.

Essa articulação pode ocorrer por meio de reuniões entre a equipe, discussões
de caso, monitoramento conjunto, construção de painéis de informação,
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× Inicialização LTI

Essa articulação pode ocorrer por meio de reuniões entre a equipe, discussões
de caso, monitoramento conjunto, construção de painéis de informação,
construção de mapas de cuidado e mapas territoriais, uso de apoio matricial,

clínica ampliada, atendimento compartilhado, entre outros.

CITANDO
× Inicialização LTI

CITANDO
O apoio matricial objetiva retaguarda especializada a equipes e

profissionais encarregados da atenção a problemas de saúde. Depende


da construção compartilhada de diretrizes clínicas e sanitárias entre os
componentes de uma equipe de referência e os especialistas que

oferecem apoio matricial. Essas diretrizes devem prever critérios para


acionar o apoio e definir o espectro de responsabilidade tanto dos

diferentes integrantes da equipe de referência, quanto dos apoiadores


matriciais (CAMPOS; DOMITTI, 2007, p. 399).
× Inicialização LTI

O trabalhador, por hora nomeado paciente, especialmente quando se encontra em ambiente


hospitalar, deve ser sempre o foco e não se deve perder isso de nosso olhar. Ainda que o
enfermeiro esteja realizando atividades de gestão, de planejamento, de pesquisa ou atividades
relacionadas ao meio ambiente, o grande beneficiador de toda essa atenção é o usuário, ou
seja, o trabalhador.

Muitas vezes o trabalhador é desconsiderado como cuidador e o profissional de


saúde toma a frente liderando as decisões sobre o seu cuidado, pensando que
assim se garante a melhor atenção possível. Entretanto, ao desconsiderar o
trabalhador ou qualquer usuário como principal componente de cuidado, tem-se
grandes chances de não alcançar os objetivos e metas propostas nas prescrições
de cuidado.

Envolver o trabalhador nos problemas de saúde levantados e nos diagnósticos


realizados é parte fundamental na consulta de enfermagem. Discutir com ele as
possíveis intervenções e os possíveis caminhos de cuidado é considerar o
contexto desse trabalhador, seu entendimento sobre a situação-problema e,
desse modo, pode-se obter uma chance muito maior de alcançar os objetivos
propostos, proporcionando sua autonomia no cuidado, de modo que não seja
dependente dos profissionais de saúde.
× Inicialização LTI
propostos, proporcionando sua autonomia no cuidado, de modo que não seja
dependente dos profissionais de saúde.

Essa gama de cuidados pode envolver outros membros da equipe de saúde do


trabalhador e juntos, profissionais e trabalhadores, podem construir um projeto

terapêutico singular (PTS) ou ainda um projeto terapêutico coletivo, quando


o objeto de cuidado for o ambiente seguro da empresa, por exemplo, visando
uma discussão e construção de cuidado conjunta.
× Inicialização LTI

EXPLICANDO
O PTS é um conjunto de propostas de condutas terapêuticas articuladas

para um sujeito individual ou coletivo, resultado da discussão coletiva de


uma equipe interdisciplinar, com apoio matricial se necessário, nesse

caso, as equipes dos Centro de Referência em Saúde do Trabalhador


(CEREST). Geralmente, é dedicado a situações mais complexas e deve

envolver, em alguma de suas etapas, o trabalhador em questão, para


que se possa discutir os problemas levantados com a equipe e pensar

em estratégias de cuidado (BRASIL, 2007).


× Inicialização LTI

Sabe-se que as características e as condições em que o trabalho é realizado pode


desencadear em situações de risco aos trabalhadores, que pode ser um
acidente de trabalho agudo ou crônico. Em acidentes agudos, é mais fácil
estabelecer o nexo causal com o trabalho. Entretanto, em acidentes crônicos,
existe um período longo entre a exposição e o surgimento de doenças, como no
caso dos cânceres relacionados a situações trabalhistas que podem ter ocorrido
em decorrência de acidentes de trabalho, sendo, muitas vezes, mais difícil para
identificar o nexo causal.
× Inicialização LTI

ASSISTA
Para se ter uma maior dimensão da importância das normas de

segurança e saúde relacionadas ao trabalho e do quanto as situações de


exposição do trabalhador podem gerar acidentes agudos e crônicos, vale

a pena assistir a um documentário que mostra um pouco da tragédia

ocorrida, em 1937, na cidade de Goiânia, com o descarte indevido de um

aparelho médico que continha césio 137 e provocou (e ainda provoca)

diversas vítimas.
× Inicialização LTI

ocorrida, em 1937, na cidade de Goiânia, com o descarte indevido de um

aparelho médico que continha césio 137 e provocou (e ainda provoca)

diversas vítimas.

Césio 137 em Goiânia: a cronologia do maior desastre radiativo do Brasil

Importante ressaltarmos que há diversas críticas quanto ao uso das


terminologias utilizadas. Por exemplo, o uso da terminologia acidente para um

evento ocorrido no ambiente ou em situação de trabalho é feito por


conveniência e acaba sendo equivocado “por sugerir que é um evento fortuito e
casual. Na maioria dos casos, são eventos potencialmente previsíveis e
preveníveis. São sempre um alerta sobre as condições de trabalho” (BRASIL,
2018).
× Inicialização LTI

CAUSAS DO ACIDENTE DE TRABALHO: CONDIÇÕES E ATOS INSEGUROS

Pode-se classificar as causas do acidente de trabalho como ato inseguro ou


condição insegura.

Clique nos botões para saber mais


× Inicialização LTI

Os fatores responsáveis pela ocorrência de acidente de trabalho são:

[...] improvisação e arranjo físico inadequado do espaço de trabalho; falta de


proteção em máquinas perigosas e obsoletas;
ferramentas defeituosas; possibilidade de incêndio e explosão; exigência de
esforço físico intenso, como levantamento manual de peso, posturas e posições

anômalas. A esses fatores se somam a pressão das chefias por produtividade,


ritmo acelerado na realização das tarefas, repetitividade de movimentos, jornadas
de trabalho extensas, com horas extras em excesso; ausência de pausas, trabalho
noturno ou em turnos, que predispõem o(a) trabalhador(a) a se acidentar.
Também a presença de animais peçonhentos; substâncias tóxicas nos ambientes
de trabalho podem ocasionar acidentes do trabalho, entre outras (BRASIL, 2018, p.
71).

NOTIFICAÇÃO DO ACIDENTE DE TRABALHO


× Inicialização LTI

Uma ação importante de assistência à saúde do trabalhador, no contexto de


acidente de trabalho, é a notificação. Quando não se realiza a notificação,

defasa-se os dados referentes ao número real de acidentes, que contribuem


para o entendimento da situação dos acidentes de trabalho, suas causas e as
ações que devem ser realizadas para prevenção de acidentes no Brasil.

A notificação deve ser feita com o uso de impresso próprio, a ficha do Sistema de
Informação de Agravos de Notificação (SINAN), e enviada aos órgãos
responsáveis, que pode ser o CEREST ou a diretoria de vigilância. Deve ser
verificado o fluxo em cada município/região. O Fluxograma 1 apresenta uma
sugestão de atendimento e notificação em casos de acidente de trabalho.
Importante ressaltar que, em caso de acidente grave, a notificação é obrigatória,
ou seja, não é uma opção, deve ser feita. São considerados acidentes de trabalho
graves: acidentes fatais, que resultem em mutilações ou que ocorram com
menores de 18 anos.
× Inicialização LTI
Importante ressaltar que, em caso de acidente grave, a notificação é obrigatória,
ou seja, não é uma opção, deve ser feita. São considerados acidentes de trabalho
graves: acidentes fatais, que resultem em mutilações ou que ocorram com
menores de 18 anos.
× Inicialização LTI

Fluxograma 1. Atendimento e notificação do acidente de trabalho. Fonte: BRASIL,


2018, p. 72.

CONSEQUÊNCIAS DO ACIDENTE DE TRABALHO

São muitas as consequências do acidente de trabalho, variando de prejuízos econômicos e


sociais até questões psicológicas e emocionais. Há um impacto de ordem pessoal e familiar,
mas também um grande impacto para a sociedade.

Acidentes que provocam sequelas crônicas ou mutilações impactam diretamente


a qualidade de vida do trabalhador acidentado, que, muitas vezes, não consegue
desempenhar a função exercida anteriormente, sofrendo com as sequelas físicas
e emocionais dessa mudança. Além disso, podem ocorrer mudanças financeiras
significativas já que profissionais informais por exemplo não tem acesso a
× Inicialização LTI

Acidentes que provocam sequelas crônicas ou mutilações impactam diretamente


a qualidade de vida do trabalhador acidentado, que, muitas vezes, não consegue
desempenhar a função exercida anteriormente, sofrendo com as sequelas físicas
e emocionais dessa mudança. Além disso, podem ocorrer mudanças financeiras
significativas, já que profissionais informais, por exemplo, não tem acesso a
benefícios da previdência social, e aqueles que os possuem também estão
sujeitos a uma diminuição em relação aos seus ganhos anteriores ao acidente.

Nas últimas décadas também é crescente a abordagem de consequências


socioambientais de eventos adversos em geral, aí incluídos os acidentes, em

especial, em casos classificados como acidentes maiores ou ampliados,


destacando-se aqueles que provocam contaminações de coleções hídricas,
devastam áreas de proteção ambiental, comprometem a qualidade do ar e
ameaçam a sobrevivência e a qualidade de vida de populações de trabalhadores
e/ou moradores das vizinhanças (BRASIL, 2006, p. 6).

Assim, a prevenção e a promoção à saúde com o objetivo da proteção à saúde


dos trabalhadores, devem ser primordiais durante a prática de enfermagem.
Olhar as questões dos trabalhadores deve sempre permear o nosso cotidiano,
tendo em vista que os prejuízos de um acidente de trabalho podem ir muito
além do que se pode imaginar.

CONTINUE
× Inicialização LTI

SINTETIZANDO

Nesta unidade, vimos que a assistência de enfermagem é uma atividade que tem
potencial para melhorar a qualidade de vida no ambiente de trabalho, levando
satisfação ao trabalhador e, consequentemente, um melhor desempenho em
suas atividades trabalhistas.

O trabalho do enfermeiro está articulado com o princípio da integralidade no


cuidado, visto que seu olhar amplo considera as necessidades do trabalhador
desde seu ambiente/comunidade, até a sua atenção mais individualizada.

A consulta de enfermagem valoriza o trabalho do enfermeiro e, em saúde do


trabalhador, tem papel fundamental na monitorização desses pacientes,
seguindo o princípio da vigilância em saúde, previsto como eixo estruturante nas
políticas públicas de saúde do trabalhador.

Todo esse trabalho deve ser desenvolvido em conjunto com os demais membros
da equipe multiprofissional na empresa ou nos demais serviços de saúde.
Algumas ferramentas facilitam o encontro desses profissionais e a articulação de
× Inicialização LTI
seguindo o princípio da vigilância em saúde, previsto como eixo estruturante nas
políticas públicas de saúde do trabalhador.

Todo esse trabalho deve ser desenvolvido em conjunto com os demais membros
da equipe multiprofissional na empresa ou nos demais serviços de saúde.
Algumas ferramentas facilitam o encontro desses profissionais e a articulação de
seus saberes, com o objetivo maior de dar atenção à saúde e segurança dos
trabalhadores envolvidos.

O trabalhador, entretanto, não pode ser deixado de fora dessa conversa,


devendo ser incluído dentro da perspectiva de cuidado, seja durante a consulta
de enfermagem ou no trabalho conjunto com a equipe. Os profissionais de
saúde devem trabalhar na perspectiva da promoção da autonomia dos sujeitos,
permitindo que sejam protagonistas de seu próprio cuidado.

Portanto, os acidentes de trabalho são situações evitáveis que podem e devem


ser trabalhadas a partir da assistência de enfermagem, promovendo o cuidado e
a prevenção em saúde do trabalhador.
× Inicialização LTI

Seção 2 de 5

Doenças relacionadas ao trabalho

Sabendo da importância da saúde do trabalhador dentro da história de nossa sociedade e em


nosso cotidiano, seja como cidadão/cidadã ou na posição de profissional da saúde, uma etapa
importante referente a este conhecimento é a recognição das principais doenças e agravos
relacionados ao trabalho.

Compreender os principais sintomas e características das patologias


relacionadas ao trabalho fará com que nós, enfermeiros e enfermeiras,
possamos perceber situações que envolvam o adoecimento relacionado ao
trabalho e, dessa forma, intervir de forma mais resolutiva e realizando os
devidos nexos causais.
× Inicialização LTI

Além do mais, este tipo de intervenção irá proporcionar uma aplicação mais
efetiva da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) nas questões
relativas à saúde do trabalhador. Iremos, portanto, durante esta unidade,
mergulhar neste universo e ampliar nosso conhecimento no que diz respeito à
saúde do trabalhador.

FATORES DE RISCO

Assim, como existem riscos para a ocorrência de acidentes de trabalho, algumas situações de
trabalho podem ser consideradas de maior ou menor risco para determinadas doenças.

Portanto, antes mesmo de entendermos as principais doenças relacionadas ao


trabalho é importante considerarmos os principais riscos que levam ao
× Inicialização LTI

Portanto, antes mesmo de entendermos as principais doenças relacionadas ao


trabalho, é importante considerarmos os principais riscos que levam ao
desencadeamento de determinadas enfermidades.

O Quadro 1 traz um levantamento dos principais riscos relacionados ao trabalho


e seus efeitos sobre a saúde, auxiliando-nos a compreender este universo mais
adequadamente.

// Quadro 1. Exemplos de riscos existentes no trabalho e seus efeitos sobre a saúde


Clique para fazer download do quadro abaixo:

Podemos, portanto, compreender que os riscos de adoecimento podem ser


classificados em cinco categorias: físicos, químicos, mecânicos, biológicos e
psicossociais. E é a partir destes riscos que os trabalhadores podem desenvolver
determinadas doenças.
× Inicialização LTI

Apesar deste quadro nos apoiar bastante na compreensão do desenvolvimento


de doenças relacionadas ao trabalho, é fato que, na maioria das vezes, a relação
observada dentro deste universo de adoecimento não é de causa-efeito, ou seja:
não é apenas uma situação ou fator de risco que desencadeia a doença, mas sim
uma combinação destes e/ou de substâncias. Por exemplo: a exposição
simultânea a certos solventes orgânicos e ao ruído pode produzir quadros de
surdez mais graves e mais precoces do que somente a exposição ao ruído
(BRASIL, 2018).

Schilling (1984) propôs uma classificação que compreende a relação entre o


trabalho e o processo de adoecimento dos trabalhadores, a qual combina a
abordagem clínico-individual com a coletivo-epidemiológica e busca integrar
mais adequadamente as situações de exposição do trabalho, como mostra o
Quadro 2.
× Inicialização LTI

Quadro 2. Relação do trabalho com o adoecimento dos trabalhadores. Fonte: BRASIL,


2018, p. 23.

Essa classificação foi utilizada para a elaboração da listagem de doenças


relacionadas ao trabalho da Portaria de Consolidação n. 5, de 28 de setembro de
2017, e no direcionamento do atendimento dos profissionais de saúde no que
diz respeito à saúde do trabalhador, o que facilita o nexo causal com o trabalho.
Conforme consta no Caderno de Atenção Básica n. 41,

ela está organizada em “dupla entrada”: a Lista A, que considera o agente ou


grupos de agentes patogênicos responsáveis pelo adoecimento ou que guardam
evidências sólidas de nexo causal entre a exposição e a doença; e a Lista B, que
tem como referência os códigos dos grupos de patologias definidos na
× Inicialização LTI

Conforme consta no Caderno de Atenção Básica n. 41,

ela está organizada em “dupla entrada”: a Lista A, que considera o agente ou


grupos de agentes patogênicos responsáveis pelo adoecimento ou que guardam
evidências sólidas de nexo causal entre a exposição e a doença; e a Lista B, que
tem como referência os códigos dos grupos de patologias definidos na
Classificação Estatística Internacional de Doenças (CID-10), com elenco de
aproximadamente 400 agravos relacionados ao trabalho. Esta forma de
organização permite ao profissional consultar a lista a partir do reconhecimento da

exposição a um agente, fatores de risco ou condição adversa de trabalho referidos


ou identificados na entrevista com o(a) trabalhador(a) (anamnese ocupacional) ou
a partir dos problemas de saúde que o(a) trabalhador(a) apresenta ao ser atendido
no serviço de saúde (2018, p. 23).
× Inicialização LTI

Portanto, ter conhecimento dessa listagem e saber como consultá-la facilita o

cotidiano do trabalho dos profissionais de saúde, que devem estar atentos em

todos os atendimentos a possíveis relações de adoecimento com o trabalho

desenvolvido.

Como podemos observar, são inúmeras as doenças relacionadas ao trabalho, e


foi a partir da Portaria nº 1.339/GM de 18 de novembro de 1999, (alterada pelo
decreto nº 6.042, de 12 de fevereiro de 2007) que construiu-se uma listagem (A, B
e C) com todas as doenças relacionadas ao trabalho, dispostas segundo sua
taxonomia, nomenclatura e codificação na Classificação Internacional de

Doenças (CID-10) (BRASIL, 2018).


× Inicialização LTI

CONTEXTUALIZANDO
A Classificação Internacional de Doenças (CID), como o próprio nome
evidencia, é utilizada internacionalmente, o que proporciona uma

linguagem comum entre os profissionais de saúde, tornando possível


comparar dados epidemiológicos mundialmente. São mais de 55 mil

códigos para diversos tipos de doenças e agravos. A CID-10 está


entrando em uma nova revisão, a CID-11, que está prevista para começar

a ser utilizada em 2022.

Observe, a seguir, exemplos da listagem A e B da Portaria nº 1339/GM, de 18 de


novembro de 1999.

// Quadro 3. Exemplos da lista A de doenças relacionadas ao trabalho


Clique para fazer download do quadro abaixo:
× Inicialização LTI
Quadro 3.pdf
100.5 KB

// Quadro 4. Exemplos da Lista B de doenças relacionadas ao trabalho


Clique para fazer download do quadro abaixo:

Quadro 4.pdf
93.7 KB

Podemos notar, portanto, que a lista A mostra a classificação de doenças


possíveis a partir do agente etiológico ou fator de risco; ao passo que a lista B
evidencia a relação contrária, ou seja, o fator de risco ou agente etiológico a
partir da doença. São duas formas de consulta, e ambas facilitam o dia a dia dos
profissionais de saúde.

Como mencionado, com a alteração do decreto nº 6.042, de 12 de fevereiro de


2007, houve a inclusão da lista C através da previdência social, elaborada com
base na significância estatística da associação entre a doença identificada como
responsável pela incapacidade do trabalhador e a atividade econômica da
empresa a qual o segurado é vinculado. Assim, o Nexo Técnico Epidemiológico
(NTEP) passou a ser utilizado nas avaliações médico-periciais. (BRASIL, 2018).
× Inicialização LTI

DOENÇAS MAIS COMUNS

Neste momento, exploraremos profundamente algumas das doenças


relacionadas ao trabalho mais comumente atendidas no cotidiano da Atenção
Primária de Saúde (APS), a saber: Doenças Osteomusculares Relacionadas
com o Trabalho (LER/Dort), dermatose ocupacional ou relacionada ao trabalho
transtornos mentais relacionados ao trabalho silicose e outras doenças
respiratórias causadas pela inalação de poeira de sílica; e intoxicação por
agrotóxicos. Deve-se ressaltar, porém, que a intoxicação por agrotóxicos será
detalhada e discutida somente após analisarmos as bases da toxicologia em
saúde do trabalhador.
× Inicialização LTI

Importante ressaltar que, neste momento, iremos trabalhar com a descrição


destas principais doenças, a fim de que seja possível identificá-las no cotidiano
de nossas práticas ou ao menos produzir questionamentos e hipóteses
relacionadas ao trabalho. Lembrando que o manejo e cuidados relacionados
deverão seguir o proposto pela Sistematização da Assistência de Enfermagem.

// Doenças Osteomusculares Relacionadas com o Trabalho – LER/Dort

Dados relatam que as Lesões por Esforços Repetitivos (LER) e os Distúrbios


Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (Dort) são as doenças que mais
× Inicialização LTI

Dados relatam que as Lesões por Esforços Repetitivos (LER) e os Distúrbios


Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (Dort) são as doenças que mais
afetam os trabalhadores no Brasil (BRASIL, 2019).

Essas lesões são agravos relacionados ao trabalho decorrentes de uma utilização


excessiva imposta ao sistema musculoesquelético, sem que haja tempo para sua
recuperação fisiológica. Caracterizam-se pela ocorrência de vários sintomas,
concomitantes ou não, de aparecimento insidioso geralmente nos membros
superiores,

Como dor, sensação de peso e fadiga, limitação funcional e parestesia,


geralmente acompanhados de sofrimento psíquico, dificuldades nas atividades
da vida diária e incapacidade laboral (BRASIL, 2018). Chiavegato Filho e Pereira Jr.
as descrevem como

(...) um conjunto de doenças que afetam músculos, tendões, nervos e vasos dos

membros superiores (dedos, mãos, punhos, antebraços, braços, ombro, pescoço e


coluna vertebral) e inferiores (joelho e tornozelo, principalmente) e que têm
relação direta com as exigências das tarefas, ambientes físicos e com a
organização do trabalho (2004, p. 150).
× Inicialização LTI

E complementam que

Estudos datados do século XVIII (Ramazzini, 1992) descrevem o sofrimento físico e


mental dos escribas e notários acometidos por esses distúrbios. Nas últimas
décadas, com as transformações no processo de produção, a reestruturação
produtiva (automação do processo de produção), as elevadas exigências de
produção, a competitividade exacerbada, as mudanças na gestão do trabalho e as
novas políticas de gestão de pessoal, o que antes se restringia aos artesãos,
escribas e digitadores, se estende a diversas categorias profissionais (p. 150).

Portanto, para além das questões físicas, existem fatores psicológicos e sociais
associados com as LER/Dort. Essa denominação acabou se tornando muito
genérica, tendo em vista a amplitude de doenças que abrange, e foi utilizada
sem critérios muito específicos durante a década de 80, o que causou confusão
entre possíveis tratamentos e as reais causas de doenças associadas como
LER/Dort. Hoje, está mais claro que elas relacionam-se a diversos fatores, como
sociais, culturais e psicológicos.
× Inicialização LTI

Mas, mesmo assim, as LER/Dort ainda são um grande problema de saúde


pública e possuem alta prevalência na população. Elas configuram-se como um
motivo frequente de busca de assistência nos serviços de saúde e possuem
implicações nos campos do trabalho, emprego e seguridade social em
decorrência da incapacidade laboral temporária ou permanente gerada (BRASIL,
2018).

Podemos observar que a causa e a origem das LER/Dort é multifatorial e


complexa. Isto resulta em um desequilíbrio entre as exigências das tarefas
realizadas no trabalho e as capacidades funcionais individuais, que geram
sobrecarga osteomuscular, seja pela utilização excessiva de determinados
grupos musculares em movimentos repetitivos com ou sem exigência de esforço
localizado, seja pela permanência de segmentos do corpo em determinadas
posições por tempo prolongado, particularmente quando essas posições exigem
esforço ou resistência das estruturas musculoesqueléticas contra a gravidade.

As doenças relacionadas às LER/Dort aparecem na Lista de Doenças Relacionadas


ao Trabalho tanto no grupo VI (Doenças do sistema nervoso relacionadas com o
trabalho) quanto no grupo XIII (doenças do sistema osteomuscular e do tecido
conjuntivo relacionadas com o trabalho) da CID-10 (BRASIL, 2018). Já o Quadro 5
id i li t i i i d l i d
× Inicialização LTI

ao Trabalho tanto no grupo VI (Doenças do sistema nervoso relacionadas com o


trabalho) quanto no grupo XIII (doenças do sistema osteomuscular e do tecido
conjuntivo relacionadas com o trabalho) da CID-10 (BRASIL, 2018). Já o Quadro 5
evidencia uma lista com as principais doenças e agravos relacionados com as
LER/Dort.
× Inicialização LTI

// Dermatose ocupacional ou relacionada ao trabalho

Segundo o Ministério do Trabalho (2018), as dermatoses relacionadas ao


trabalho, também conhecidas como dermatoses ocupacionais, são doenças da
pele, mucosas ou seus anexos (cabelo, pelos, unhas) direta ou indiretamente
causadas ou agravadas pelas condições de trabalho, por agente físicos, químicos
e biológicos que causam dor, prurido, queimação, reações psicossomáticas e
outras que podem interferir na condição de realização do trabalho.

A subnotificação de casos deste tipo de doença no Brasil dificulta o acompanhamento real do número de
doenças e agravos relacionadas ao trabalho. Alchorne, Alchorne e Silva colocam que
× Inicialização LTI

A subnotificação de casos deste tipo de doença no Brasil dificulta o acompanhamento real do número de
doenças e agravos relacionadas ao trabalho. Alchorne, Alchorne e Silva colocam que

Estudos epidemiológicos sobre dermatoses ocupacionais no Brasil são raros; não


há notificação obrigatória e o subdiagnóstico é alto, pois muitos trabalhadores não
procuram os serviços de saúde, temendo a perda do emprego e do salário. Nos
países industrializados, as dermatoses ocupacionais correspondem a 60% das

doenças ocupacionais (2010, p. 137).

Brasil (2018) as classificou de acordo com a interação de dois grupos de fatores:

Predisponentes ou causas indiretas: idade, sexo, etnia, antecedentes


mórbidos e doenças concomitantes, fatores ambientais, como o clima
(temperatura, umidade), hábitos e facilidades de higiene e condições
de trabalho;

Causas diretas constituídas por agentes biológicos (bactérias, fungos,


levedura, vírus e insetos), físicos (radiações não ionizantes, frio, calor,
umidade, eletricidade), químicos (irritantes: cimento, solventes, óleos
de corte, detergentes, ácidos e álcalis; e alérgenos: aditivos da
borracha, níquel, cromo e cobalto como contaminantes do cimento,
× Inicialização LTI
de trabalho;

Causas diretas constituídas por agentes biológicos (bactérias, fungos,


levedura, vírus e insetos), físicos (radiações não ionizantes, frio, calor,
umidade, eletricidade), químicos (irritantes: cimento, solventes, óleos
de corte, detergentes, ácidos e álcalis; e alérgenos: aditivos da
borracha, níquel, cromo e cobalto como contaminantes do cimento,
resinas, tópicos utilizados no tratamento de dermatoses) ou
mecânicos presentes no trabalho que atuariam diretamente sobre o
tegumento, produzindo ou agravando uma dermatose preexistente.

Já as Figuras 1, 2 e 3 representam as diferentes causas de dermatoses


relacionadas ao trabalho.
× Inicialização LTI

O Quadro 6, por sua vez, evidencia a listagem de doenças e agravos relacionados


às dermatoses ocupacionais de acordo com a classificação da CID-10.
× Inicialização LTI

Quadro 6. Dermatoses relacionadas ao trabalho e seus respectivos códigos da CID-10.


Fonte: BRASIL, 2018, p. 79.

// Transtornos mentais relacionados ao trabalho

Segundo a Associação Nacional de Medicina no Trabalho, ou ANAMT, os


transtornos mentais aparecem em 3º lugar nos afastamentos do trabalho e
correspondem a 9% da concessão de auxílio-doença e aposentadoria por
invalidez, sendo que os episódios depressivos correspondem à principal causa
deste pagamento não relacionado a acidentes de trabalho. Estes configuram-se
como 30,67% do total, seguidos de outros transtornos ansiosos que totalizam
17,9% (ANAMT, 2017).

São múltiplos os fatores ocupacionais que possuem relação com a saúde mental
dos trabalhadores, e pode-se citar a exposição aguda ou permanente a agentes
× Inicialização LTI

São múltiplos os fatores ocupacionais que possuem relação com a saúde mental
dos trabalhadores, e pode-se citar a exposição aguda ou permanente a agentes
químicos e substâncias tóxicas, além de fatores agressores presentes na
organização e no gerenciamento do processo de trabalho (BRASIL, 2018).

O mundo do trabalho evoluiu consideravelmente nos últimos anos, e a era


tecnológica e de terceirização das relações do trabalho mostra-se cada vez mais
presente. Assim, cada mudança provoca o surgimento de novas formas de
adoecimento que ainda não são identificadas com clareza. Entre os maiores
impactos há as questões relacionadas à saúde mental, que podem levar um
tempo maior para serem compreendidas.
× Inicialização LTI

Segundo o Ministério da Saúde (2018), as situações mais favoráveis ao


desenvolvimento de transtornos mentais estão relacionadas a aspectos da
organização do trabalho; condições físicas, químicas, térmicas e psicossociais;
violência; e algumas ocupações específicas. O quadro a seguir relaciona estes
aspectos com algumas situações possíveis dentro do desenvolvimento do
trabalho.

Quadro 7. Situações favoráveis ao desenvolvimento de transtorno mental no trabalho.


Fonte: BRASIL, 2018, n.p. (Adaptado).
× Inicialização LTI

Segundo o autor supracitado, vale destacar que os transtornos mentais podem


estar associados ou serem potencializados quando em conjunto a outros
agravos, entre eles os acidentes de trabalho e a dor crônica no caso dos Dort. A
ausência do trabalho na situação de desemprego e suas consequências, como
perda de condições materiais e de significado social, podem constituir ou agravar
o sofrimento mental.

Outro destaque é para situações de toxicidade e exposição a alguns metais


pesados e solventes que podem ter ação tóxica direta sobre o sistema nervoso,
determinando distúrbios mentais e alterações do comportamento que se
manifestam por irritabilidade, nervosismo, inquietação, distúrbios da memória e
da cognição, inicialmente pouco específicos e, por fim, com evolução crônica,
muitas vezes irreversível e incapacitante.

O Quadro 8 apresenta uma listagem de doenças e agravos que dizem respeito


aos transtornos mentais relacionados ao trabalho de acordo com a classificação
CID-10.
× Inicialização LTI
O Quadro 8 apresenta uma listagem de doenças e agravos que dizem respeito
aos transtornos mentais relacionados ao trabalho de acordo com a classificação
CID-10.

Quadro 8. Transtornos mentais e do comportamento relacionados ao trabalho e seus


respectivos códigos da CID-10 Fonte: BRASIL 2018 p 87
× Inicialização LTI

Quadro 8. Transtornos mentais e do comportamento relacionados ao trabalho e seus


respectivos códigos da CID-10. Fonte: BRASIL, 2018, p. 87.

// Silicose e outras doenças respiratórias causadas pela inalação de poeira de sílica

Silicose é o nome dado à fibrose pulmonar causada pela inalação de poeira


contendo sílica cristalina. A sílica, ou dióxido de silício, é um composto natural
formado pelos dois elementos químicos mais abundantes na crosta terrestre: o
oxigênio e o silício. Podemos encontrá-la na natureza nas formas amorfa e
cristalina, que, quando combinadas com metais e óxidos, dão origem a silicatos
como talco, feldspato, caulim e mica.

A forma amorfa, embora não seja inerte, é menos tóxica que a cristalina, sendo
encontrada em rochas vulcânicas vitrificadas, terras diatomáceas não aquecidas,
sílica gel, vidro sintético e lã de vidro. A sílica cristalina, que se encontra na areia
e em diversas rochas, como o arenito, o granito e o sílex, apresenta polimorfismo
variado. A forma mais comum, e que corresponde a cerca de 12% da crosta
terrestre, é o quartzo (TERRA FILHO, SANTOS, 2006).

A inalação de poeira contendo sílica está associada à ocorrência de silicose e


diversas outras doenças pulmonares, como doença pulmonar obstrutiva crônica,
câncer de pulmão, insuficiência renal e aumento do risco de tuberculose
pulmonar e de doenças do colágeno.
× Inicialização LTI

As doenças provocadas pela inalação de sílica são evitáveis, porém irreversíveis,


sem tratamento específico e podem progredir para formas mais graves, levando
à morte por insuficiência respiratória. Muitas vezes acometem indivíduos jovens,
interrompendo a capacidade laborativa, o que causa sérios impactos
socioeconômicos (BRASIL, 2018).

A silicose e demais doenças causadas pela inalação de sílica constituem uma


pneumoconiose. Este termo é utilizado para todas as doenças pulmonares
parenquimatosas causadas por inalação de poeiras, independentemente do
processo fisiopatogênico envolvido. São excluídas dessa denominação as
alterações neoplásicas e as reações de vias aéreas, como asma, bronquite e
enfisema.

Segundo Terra Filho e Santos (2006), a silicose pode ser classificada da seguinte
forma:

Clique nos botões para saber mais


× Inicialização LTI

Silicose crônica

Manifesta-se após um longo período de exposição, habitualmente superior a dez anos,



e é caracterizada por fibrose progressiva do parênquima pulmonar.

 
× Inicialização LTI

Silicose acelerada ou subaguda

Decorre da exposição ocupacional a poeiras respiráveis com elevada concentração de


sílica cristalina, manifestando-se entre cinco e dez anos após o início da exposição.

A silicose representa um dos grandes problemas de saúde pública, tendo em


vista que é a principal causa de invalidez no que diz respeito às doenças
respiratórias relacionadas ao trabalho. Ainda segundo Terra Filho e Santos,

O risco de desenvolvimento de silicose depende da concentração, da superfície, do


tamanho da partícula (partículas menores do que 1 m são mais tóxicas), da
duração da exposição, do tempo de latência (tempo decorrido desde o início da
exposição), da forma de sílica cristalina (tridimita e cristobalita são menos

frequentes, mas mais tóxicas do que o quartzo) e do fato das partículas serem
recém quebradas (perfuração de poços, jateamento), provavelmente pelo maior
número de radicais na superfície, que seriam responsáveis por um maior estímulo
à produção de substâncias oxidantes (2006, p. 42).
× Inicialização LTI

Silicose aguda

Ocorre devido à exposição a grandes quantidades de poeira de sílica recém-fraturada.


É caracterizada por um dano alveolar difuso e exsudação de material eosinofílico
lipoproteináceo no espaço aéreo e na inflamação intersticial, que se manifesta após
meses ou poucos anos de exposição.

A silicose representa um dos grandes problemas de saúde pública, tendo em


vista que é a principal causa de invalidez no que diz respeito às doenças
respiratórias relacionadas ao trabalho. Ainda segundo Terra Filho e Santos,

O risco de desenvolvimento de silicose depende da concentração, da superfície, do


tamanho da partícula (partículas menores do que 1 m são mais tóxicas), da
duração da exposição, do tempo de latência (tempo decorrido desde o início da
exposição), da forma de sílica cristalina (tridimita e cristobalita são menos

frequentes, mas mais tóxicas do que o quartzo) e do fato das partículas serem
recém quebradas (perfuração de poços, jateamento), provavelmente pelo maior
número de radicais na superfície, que seriam responsáveis por um maior estímulo
à produção de substâncias oxidantes (2006, p. 42).
× Inicialização LTI

A silicose representa um dos grandes problemas de saúde pública, tendo em


vista que é a principal causa de invalidez no que diz respeito às doenças
respiratórias relacionadas ao trabalho. Ainda segundo Terra Filho e Santos,

O risco de desenvolvimento de silicose depende da concentração, da superfície, do


tamanho da partícula (partículas menores do que 1 m são mais tóxicas), da
duração da exposição, do tempo de latência (tempo decorrido desde o início da
exposição), da forma de sílica cristalina (tridimita e cristobalita são menos

frequentes, mas mais tóxicas do que o quartzo) e do fato das partículas serem
recém quebradas (perfuração de poços, jateamento), provavelmente pelo maior
número de radicais na superfície, que seriam responsáveis por um maior estímulo
à produção de substâncias oxidantes (2006, p. 42).

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× Inicialização LTI

Seção 3 de 5

Bases da toxicologia em saúde do trabalhador

Entre as diferentes causas das doenças ocasionadas pelo trabalho, muitas delas podem estar,
em algum grau, relacionadas ao contato do trabalhador com substâncias químicas. Isso posto, o
estudo do efeito adverso e não esperado de determinadas substâncias químicas é a ciência da
toxicologia.

Para entender a toxicologia, é importante compreender que ela estuda o agente


químico/tóxico, o sistema biológico com o qual irá interagir e o efeito
produzido, que pode ser tóxico para o sistema biológico. Segundo Pedroza

(2011), o estudo da toxicologia pode ainda ser dividido em diferentes áreas, a


saber:
× Inicialização LTI

Toxicologia ambiental

Efeitos nocivos produzidos por substâncias químicas presentes no macro
ambiente dos seres vivos.

Toxicologia ocupacional

Efeitos nocivos produzidos pelas substâncias químicas presentes no
ambiente de trabalho.

Toxicologia de alimentos

Efeitos adversos produzidos por agentes químicos presentes nos alimentos.

Toxicologia de medicamentos

Efeitos adversos decorrentes do uso inadequado de medicamentos, de
interação medicamentosa ou da susceptibilidade individual.

Toxicologia social

× Inicialização LTI

Toxicologia social

Efeito nocivo dos agentes químicos utilizados pelo homem em sua vida em
sociedade, seja sob o aspecto individual ou social.

Ecotoxicologia

Estudo dos efeitos adversos de agentes químicos ou físicos no ecossistema.

// Quanto ao agente tóxico


× Inicialização LTI

Os agentes tóxicos podem ser classificados de acordo com sua natureza


(naturais ou sintéticos); quanto ao órgão/sistema em que atuam (por exemplo,
podem atuar no sistema hepático e serem considerados hepatotóxicos); quanto
às características físicas (sólidos, líquidos, gasosos, vapores, partículas); e quanto
às características químicas (halogênicos, metais, alcalinos, hidrocarbonetos
alifáticos, entre outros).

Quando entendemos o agente tóxico, conseguimos compreender as vias de


intoxicação possíveis e as consequências prováveis desta intoxicação, por
exemplo. A intoxicação irá depender da toxicidade do agente, que nada mais é
que a capacidade deste agente químico/tóxico produzir maior ou menor efeito
nocivo sobre os organismos vivos e trabalhadores expostos a eles.

INTOXICAÇÃO EXÓGENA

A simples suspeita de intoxicação exógena deve ser obrigatoriamente


notificada dentro do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), o
qual deve ser realizado por meio de ficha própria.
× Inicialização LTI

CITANDO
Segundo definição do SINAN, caso suspeito configura-se como “todo

aquele indivíduo que, tendo sido exposto a substâncias químicas

(agrotóxicos, medicamentos, produtos de uso doméstico, cosméticos e

higiene pessoal, produtos químicos de uso industrial, drogas, plantas e


alimentos e bebidas), apresente sinais e sintomas clínicos de intoxicação

e/ou alterações laboratoriais provavelmente ou possivelmente

compatíveis” (BRASIL, [s.d.]).

Por intoxicação podemos entender um conjunto de efeitos nocivos avaliados por


meio de sinais e sintomas que revelam o desequilíbrio orgânico produzido pela
× Inicialização LTI

Por intoxicação podemos entender um conjunto de efeitos nocivos avaliados por


meio de sinais e sintomas que revelam o desequilíbrio orgânico produzido pela
interação do agente químico/tóxico com o sistema biológico. A quantidade e o
tempo de contato (exposição) com este agente são questões fundamentais para
definir a forma desta intoxicação. Assim, uma exposição aguda é aquela que

ocorre após um evento único ou múltiplo dentro do período de 24 horas; já a


exposição subaguda ocorre durante semanas e em até 1 mês; a exposição

subcrônica ocorre entre 1 e 3 meses; e a crônica em um período maior que 3

meses.

Após um evento de exposição, a intoxicação poderá ou não ser confirmada, e


este efeito tóxico dependerá da dose ou concentração do agente. Desta forma,
uma dose única poderá produzir efeito imediato e severo, e menos que a
metade ou nenhum efeito quando dividida em duas ou mais doses em um
período de várias horas ou dias. Os efeitos são classificados de maneira
diferente da exposição, e uma exposição aguda poderá provocar efeitos
crônicos.

A intoxicação aguda é aquela que surge imediatamente após a exposição aguda


e em geral é uma forma grave, embora também possa ocorrer de forma leve ou
moderada, dependendo da quantidade absorvida, do tempo de absorção, da
toxicidade do produto e do tempo decorrido entre a exposição e o atendimento
médico. Já a intoxicação crônica é a decorrente de uma exposição prolongada

ou resultado de uma exposição aguda, mas com uma sintomatologia retardada


× Inicialização LTI
A intoxicação aguda é aquela que surge imediatamente após a exposição aguda
e em geral é uma forma grave, embora também possa ocorrer de forma leve ou
moderada, dependendo da quantidade absorvida, do tempo de absorção, da
toxicidade do produto e do tempo decorrido entre a exposição e o atendimento
médico. Já a intoxicação crônica é a decorrente de uma exposição prolongada

ou resultado de uma exposição aguda, mas com uma sintomatologia retardada


que aparece após um período de latência mesmo quando já não há exposição,
como ocorre com os cânceres, que podem ter uma latência de 20 a 30 anos.

INTOXICAÇÃO POR AGROTÓXICO

A intoxicação por agrotóxicos é um dos agravos que mais causam doenças e


acidentes de trabalho no Brasil, que é o maior consumidor de agrotóxicos do
mundo. O uso intensivo de diferentes tipos de agrotóxicos, como inseticidas e
herbicidas em grandes plantações de soja, milho, algodão e outras culturas, e
mesmo na agricultura familiar, têm impactos diferenciados sobre os grupos
populacionais: trabalhadores de diversos ramos de atividades, moradores do
entorno de fábricas e fazendas e a população geral que consome alimentos e
água contaminados, resultando em um importante problema de saúde pública
(BRASIL, 2018).
× Inicialização LTI

Além disso, os agrotóxicos incluem um grande grupo de substâncias químicas


utilizadas intensamente pelo setor agropecuário, tanto na produção e
armazenamento de grãos e sementes (soja, café, entre outros), cana-de-açúcar e
algodão quanto de flores, frutas, verduras e legumes.

Também são utilizados na saúde pública, no combate a vetores transmissores de


enfermidades, a exemplo do vírus da Dengue, Zika e Chikungunya; na
desinsetização doméstica e controle de pragas em ambientes coletivos e
urbanos; na construção e manutenção de estradas; e no tratamento de madeiras
para construção, entre outras atividades. Portanto, o risco da exposição aos
agrotóxicos não está restrito a quem trabalha diretamente com estes, mas a
todos, posto que estão em nossos alimentos, no leite materno e até nos venenos
que utilizamos para combater pragas residenciais.

Os agrotóxicos podem ser classificados de acordo com sua toxicidade, o tipo de


praga sobre o qual agem e o grupo químico ao qual pertencem. Entender esta

classificação contribui para o diagnóstico das intoxicações agudas e crônicas e


auxilia na definição do plano terapêutico e no desenvolvimento de ações de

vigilância e de promoção da saúde.


× Inicialização LTI

Segundo o Ministério da Saúde, “o reconhecimento da toxicidade de um produto,


considerando os efeitos agudos, baseia-se na Dose Letal 50 (DL 50). A classe
toxicológica do agrotóxico é representada por uma faixa colorida na embalagem
do produto comercial (2018, p. 100)”. Isso posto, o Quadro 9 apresenta essa
classificação de acordo com a toxicidade do agrotóxico.

Quadro 9. Classe toxicológica dos agrotóxicos segundo a DL 50, a dose capaz de matar
um adulto e a cor da faixa no rótulo do produto. Fonte: BRASIL, 2018, pp. 100-101.

Já com relação às pragas nas quais atuam, de acordo com o Ministério da Saúde
(2018), podemos classificar os agrotóxicos mais comuns em:
× Inicialização LTI

Inseticidas

Utilizados no combate a insetos, larvas e formigas. São compostos pelos grupos


químicos dos organofosforados, carbamatos e piretroides.

Segundo o Ministério da Saúde, “o reconhecimento da toxicidade de um produto,


considerando os efeitos agudos, baseia-se na Dose Letal 50 (DL 50). A classe
toxicológica do agrotóxico é representada por uma faixa colorida na embalagem
do produto comercial (2018, p. 100)”. Isso posto, o Quadro 9 apresenta essa
classificação de acordo com a toxicidade do agrotóxico.

Quadro 9. Classe toxicológica dos agrotóxicos segundo a DL 50, a dose capaz de matar
um adulto e a cor da faixa no rótulo do produto. Fonte: BRASIL, 2018, pp. 100-101.

Já com relação às pragas nas quais atuam, de acordo com o Ministério da Saúde
(2018), podemos classificar os agrotóxicos mais comuns em:
× Inicialização LTI

Fungicidas

Utilizados no combate aos fungos. Seus principais grupos químicos são etileno-bis-
ditiocarbonatos, trifenil estânico, captan e hexaclorobenzeno.

Segundo o Ministério da Saúde, “o reconhecimento da toxicidade de um produto,


considerando os efeitos agudos, baseia-se na Dose Letal 50 (DL 50). A classe
toxicológica do agrotóxico é representada por uma faixa colorida na embalagem
do produto comercial (2018, p. 100)”. Isso posto, o Quadro 9 apresenta essa
classificação de acordo com a toxicidade do agrotóxico.

Quadro 9. Classe toxicológica dos agrotóxicos segundo a DL 50, a dose capaz de matar
um adulto e a cor da faixa no rótulo do produto. Fonte: BRASIL, 2018, pp. 100-101.

Já com relação às pragas nas quais atuam, de acordo com o Ministério da Saúde
(2018), podemos classificar os agrotóxicos mais comuns em:
× Inicialização LTI

Herbicidas

Utilizados no combate às “ervas daninhas”. Os principais grupos químicos são glifosato,


paraquat e derivados do ácido fenoxiacético – 2,4 diclorofenoxiacético (2,4 D) e o 2,4,5
triclorofenoxiacético (2,4,5 T).
Segundo o Ministério da Saúde, “o reconhecimento da toxicidade de um produto,
considerando os efeitos agudos, baseia-se na Dose Letal 50 (DL 50). A classe
toxicológica do agrotóxico é representada por uma faixa colorida na embalagem
do produto comercial (2018, p. 100)”. Isso posto, o Quadro 9 apresenta essa
classificação de acordo com a toxicidade do agrotóxico.

Quadro 9. Classe toxicológica dos agrotóxicos segundo a DL 50, a dose capaz de matar
um adulto e a cor da faixa no rótulo do produto. Fonte: BRASIL, 2018, pp. 100-101.

Já com relação às pragas nas quais atuam, de acordo com o Ministério da Saúde
(2018), podemos classificar os agrotóxicos mais comuns em:
× Inicialização LTI

Os sinais e sintomas apresentados irão depender da forma com a qual a


absorção do agrotóxico irá ocorrer, sendo que as principais vias de absorção
pelo organismo humano são a dérmica (pele) e a respiratória (inalatória). A
absorção pela via oral e digestiva é pouco expressiva na situação de trabalho,
exceto quando ingerido acidental ou intencionalmente.

O Quadro 10 mostra os principais sintomas apresentados na intoxicação aguda


por agrotóxicos, ao passo que o Quadro 11 evidencia as principais doenças
ocasionadas pela intoxicação crônica por agrotóxicos.

Quadro 10. Classificação das intoxicações agudas segundo quadro clínico. Fonte:
BRASIL, 2018, pp. 102-103.
× Inicialização LTI
Quadro 10. Classificação das intoxicações agudas segundo quadro clínico. Fonte:
BRASIL, 2018, pp. 102-103.

Quadro 11. Principais efeitos da exposição prolongada a múltiplos agrotóxicos. Fonte:


BRASIL, 2018, p. 104.

A seguir, a Figura 4 mostra uma representação em formato de diagrama para o


atendimento em casos de intoxicação por agrotóxico dentro da APS.
× Inicialização LTI
atendimento em casos de intoxicação por agrotóxico dentro da APS.
× Inicialização LTI

Seção 4 de 5

Instrumental administrativo da saúde do trabalhador

Diversos são os instrumentos utilizados para registro e acompanhamento na saúde do


trabalhador.

Eles estão relacionados com o monitoramento individual e coletivo dos


trabalhadores da empresa, e é obrigatoriedade do enfermeiro mantê-los
atualizados e organizados, facilitando o acesso de toda a equipe.

Um dos instrumentos é o próprio prontuário do trabalhador, além do Perfil


× Inicialização LTI
atualizados e organizados, facilitando o acesso de toda a equipe.

Um dos instrumentos é o próprio prontuário do trabalhador, além do Perfil


Profissiográfico Previdenciário (PPP). Ressalta-se que ambos devem conter a
monitorização destes trabalhadores.

Outros instrumentos, como a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) e as


fichas do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), também são
instrumentos administrativos que compreendem o sistema de vigilância em
saúde destes trabalhadores. Eles devem ser utilizados sempre que necessário, a
fim de que os registros sejam realizados e possam ser acompanhados, tanto
dentro do ambiente de trabalho quanto para o monitoramento epidemiológico
de uma realidade local, municipal, estadual ou até mesmo federal.

// Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT)


× Inicialização LTI

A Comunicação de Acidente de trabalho (CAT) deverá ser realizada para todos


aqueles que trabalham sob o regime da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT).
Isso se dá para que estes trabalhadores possam se apresentar à previdência
social e tenham direito a receber as indenizações e/ou pagamentos a que
tenham direito após o acontecimento de um acidente relacionado ao trabalho.

A ficha pode ser preenchida eletronicamente, no site da Previdência Social, e ser


concebida inclusive pelo próprio trabalhador. A empresa na qual o empregado
que sofreu o acidente trabalha é obrigada a informar o ocorrido até o dia útil
seguinte (após o acidente). Caso o acidente resulte em morte, a comunicação
deve ser imediata.

// Ficha SINAN em saúde do trabalhador

As fichas SINAN devem ser preenchidas pelo profissional de saúde independentemente do contrato trabalhista
do trabalhador, o que difere da forma com a qual realiza-se o preenchimento da CAT. Segundo o SINAN,

O Sistema de Informação de Agravos de Notificação - Sinan é alimentado,


principalmente, pela notificação e investigação de casos de doenças e agravos que
constam da lista nacional de doenças de notificação compulsória (Portaria de
Consolidação nº 4, de 28 de Setembro de 2017, anexo V - Capítulo I), mas é
facultado a estados e municípios incluir outros problemas de saúde importantes
em sua região, como varicela no estado de Minas Gerais ou difilobotríase no

município de São Paulo. Sua utilização efetiva permite a realização do diagnóstico


× Inicialização LTI

para explicações causais dos agravos de notificação compulsória, além de vir a


indicar riscos aos quais as pessoas estão sujeitas, contribuindo assim, para a
identificação da realidade epidemiológica de determinada área geográfica. O seu
uso sistemático, de forma descentralizada, contribui para a democratização da
informação, permitindo que todos os profissionais de saúde tenham acesso à
informação e as tornem disponíveis para a comunidade. É, portanto, um
instrumento relevante para auxiliar o planejamento da saúde, definir prioridades

de intervenção, além de permitir que seja avaliado o impacto das intervenções


(2016, n.p.).

Desta forma, os estados e municípios podem incluir situações e/ou problemas


de saúde para notificação. Muitos estados, considerando a importância da saúde
× Inicialização LTI

Desta forma, os estados e municípios podem incluir situações e/ou problemas


de saúde para notificação. Muitos estados, considerando a importância da saúde
do trabalhador, vêm empenhando-se na inclusão de agravos de notificação
obrigatórios dentro da área de saúde do trabalhador, como é o caso do estado
da Bahia, por exemplo, que atualmente, além da fichas SINAN utilizadas
nacionalmente, conta com as fichas de Acidente de Trabalho Grave e Acidente de
Trabalho com Exposição a Material Biológico e Intoxicação Exógena.

Seção 5 - Importância da ética individual


× Inicialização LTI


Seção 4 - Instrumental administrativo da saúde do trabalhador

Seção 5 de 5

Importância da ética individual

Compreendendo o universo amplo da saúde do trabalhador, a interface entre o mundo do


trabalho e o mundo econômico, torna-se necessária uma reflexão sobre a ética dentro deste
universo permeado por conflitos e relações de poder.

// Ética e bioética

Segundo o dicionário Aurélio, ética é o estudo dos juízos de apreciação


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// Ética e bioética

Segundo o dicionário Aurélio, ética é o estudo dos juízos de apreciação


referentes à conduta humana, do ponto de vista do bem e do mal ou, ainda, um
conjunto de normas e princípios que norteiam a boa conduta do ser humano. Já
bioética, segundo o dicionário de Oxford, é um estudo dos problemas e
implicações morais despertados pelas pesquisas científicas em biologia e
medicina. Ressalta-se que a bioética abrange questões como utilização de seres
vivos em experimentos, legitimidade moral do aborto ou da eutanásia e
implicações profundas da pesquisa e da prática no campo da genética, entre
outras. Portanto, em saúde do trabalhador há normas e princípios que norteiam
nossa conduta ética enquanto profissionais, além da questão bioética.

// Ética em saúde do trabalhador


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Segundo Berlinguer,

A relação entre o trabalho e a saúde se coloca na interface entre a biologia


humana e a economia, isto é, entre dois campos nos quais se manifesta um
crescente interesse pela ética (1993, p. 101).

Pensar na questão ética na saúde do trabalhador é pensar as relações entre


empregador-trabalhador e empregador-mercado econômico, em que, na
maioria das vezes, o trabalhador se encontra do lado explorado, sem as
garantias vitais de seus direitos constituídos.

Ser profissional da saúde dentro deste campo é lidar com essas tensões
presentes no cotidiano do trabalho. Portanto, conhecer as normativas instituídas
para a garantia da saúde dos trabalhadores é fundamental, bem como a
prevenção às doenças e acidentes relacionados ao trabalho. Porém, é essencial
articular os diversos equipamentos territoriais no cuidado a estes trabalhadores,
bem como fomentar sua participação em sindicatos, CIPAs e outros órgãos
colegiados, como as conferências e conselhos de saúde, tanto para a
manutenção dos direitos já conquistados como para os avanços que ainda são
necessários.
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Ciente de todas as disputas, é necessário manter uma conduta ética, que não
prejudique os trabalhadores e que vá de encontro com suas reais necessidades.
Ademais, deve-se trabalhar para que as relações de trabalho sejam mais justas e
produtoras de cuidado isto é, também, proporcionar uma sociedade melhor para
todos nós.

Berlinguer (1993) estudou alguns conflitos entre valores e interesses diferentes


nessa relação entre o desenvolvimento da ciência, as regras do mercado e as leis
civis e penais, observando que as normas deontológicas das profissões da área
da saúde, que lidam diretamente com estes conflitos, ainda não têm fornecido
respostas atualizadas aos problemas éticos que se manifestam em muitos
aspectos do trabalho moderno. O autor elencou os seguintes conflitos presentes
na área de saúde do trabalhador:

O conflito entre o direito à vida, à saúde e à segurança dos


trabalhadores e o direito das empresas a maximizar a produção
(relação trabalhador-empregador);

O conflito que se refere à informação: direito dos trabalhadores a


conhecerem os riscos, direito da empresa aos segredos industriais e
comerciais, direitos e deveres dos experts profissionais;

O conflito entre a produção e o ambiente externo, entre trabalhadores


e população;
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Os conflitos internos entre trabalhadores;

Os conflitos entre trabalho, saúde reprodutiva e reprodução da vida.

Todos estes pontos são importantes para que, durante o desenvolvimento de


nosso trabalho, possamos estar cientes dos contextos em que estamos
trabalhando, e assim atuar de forma ética, justa e de acordo com o direito à
saúde do trabalhador.

Agora é a hora de sintetizar tudo o que


aprendemos nessa unidade. Vamos lá?!

SINTETIZANDO
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Vivemos em um país que vem mostrando avanços no que diz respeito à questão
de cuidados à saúde do trabalhador durante as últimas décadas. Porém, ainda
estamos longe de uma situação confortável. As questões relacionadas à saúde
do trabalhador são tangentes às questões sociais, e exigem situações mais justas
e dignas dentro da nossa sociedade: enquanto houver grandes abismos sociais,
teremos muitas necessidades e avanços a serem conquistados no que se refere
à saúde do trabalhador.

As principais doenças relacionadas ao trabalho no Brasil retratam essa realidade:


observamos que as LER/Dort, as silicoses, os transtornos mentais, as dermatoses
ocupacionais e as intoxicações por agrotóxicos são consequências de uma
relação de desigualdade entre os trabalhadores que as executam. Muitos não
têm acesso aos EPIs necessários ou aqueles disponíveis não são favoráveis ao
uso, e acabam sendo deixados de lado.

As formas de contratação e de pagamento dos trabalhadores por vezes exigem


jornadas de trabalho exaustivas e em condições precárias, fazendo com que os
trabalhadores utilizem seu corpo ao máximo. Com isso, há diminuição de sua
expectativa de vida e aumento dos adoecimentos.

Compreendemos, ainda, as bases da toxicologia e seu enfoque na saúde do


trabalhador por meio da discussão da intoxicação por agrotóxicos. Esta é uma
situação alarmante em nosso país, uma vez que o Brasil é o maior consumidor
de agrotóxicos no mundo. Isto tem consequências tanto para a saúde do
trabalhador quanto para a sociedade como um todo se levarmos em
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Inicialização LTI
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jornadas de trabalho exaustivas e em condições precárias, fazendo com que os
trabalhadores utilizem seu corpo ao máximo. Com isso, há diminuição de sua
expectativa de vida e aumento dos adoecimentos.

Compreendemos, ainda, as bases da toxicologia e seu enfoque na saúde do


trabalhador por meio da discussão da intoxicação por agrotóxicos. Esta é uma
situação alarmante em nosso país, uma vez que o Brasil é o maior consumidor
de agrotóxicos no mundo. Isto tem consequências tanto para a saúde do
trabalhador quanto para a sociedade como um todo, se levarmos em
consideração todo o impacto social e ambiental que as intoxicações podem
causar.

Entender esse contexto relativo à saúde do trabalhador é compreender um


universo de disputa de poderes e de relações de conflitos que devem estar claras
para o profissional de saúde, o qual precisa manter uma conduta ética,
respeitando o direito à saúde e sem priorizar demandas de qualquer ordem em
detrimento das reais necessidades dos trabalhadores.

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