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Saúde Mental
e Trabalho
Autor:
Liliana Andolpho Magalhães Guimarães
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 62
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INTRODUÇÃO
Prezado acadêmico(a),
Bem-vindo(a) a mais uma disciplina do seu curso de Pós-graduação: a
Saúde Mental e Trabalho!!
É importante que você saiba que a Saúde Mental geral tem merecido
grande destaque na imprensa leiga, que relata o enorme consumo de
antidepressivos e tranquilizantes e as capas das revistas semanais apresentam
temas como estresse, depressão e ansiedade, propondo muitas vezes soluções
mágicas e mirabolantes. No entanto, constatamos que em nosso país ainda há falta
de estudos e pesquisas relevantes nesta área, particularmente no que se refere ao
ambiente de trabalho.
As proporções epidêmicas das afecções emocionais e mentais exigem a
adoção de estratégias adequadas e cientificamente comprovadas, compatíveis com
a cultura de nosso país.
Com relação ao ambiente de trabalho, constatamos, por meio das
estatísticas de afastamentos e acidentes no trabalho que o capítulo “F” do Código
Internacional de Doenças (CID), relacionado às doenças mentais e emocionais,
emerge como uma das mais prevalentes.
Dados do Ministério da Previdência demonstram o crescimento do
afastamento do trabalho por uso abusivo do álcool e drogas. Estarão os
profissionais da área de saúde ocupacional capacitados para conduzir programas
de prevenção, de diagnóstico e tratamento neste campo?
Neste contexto, urge que os profissionais e pesquisadores de saúde
ocupacional não abordem somente os riscos ambientais, mas busquem entender e
abordar as questões psicossociais associadas ao trabalho. É emblemática a
inserção deste pilar no modelo de ambiente de trabalho saudável proposto pela
Organização Mundial da Saúde (2010).
Ogata (2012), refere uma pesquisa realizada pela empresa Gallup com
mais de 1 milhão de participantes em todo o mundo que constatou que o trabalho é
o elemento mais importante do bem-estar, em relação aos outros domínios como
financeiro, social, comunitário e físico. O bem-estar estaria relacionado
primordialmente à realização e ao sentido do trabalho (RATH, 2010). A abordagem
unicamente individual, em geral, não é efetiva se não forem abordadas as questões
psicossociais relacionadas ao trabalho.
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Os gestores dos programas de promoção de saúde e qualidade de vida
reconhecem que a questão emocional e o estresse são fatores muito importantes,
pois estão relacionados a adoecimento precoce,
Presenteísmo: refere-se à
absenteísmo e presenteísmo, aumento dos presença “física” do trabalhador
custos de assistência médica e doenças no ambiente de trabalho, sem
que o mesmo esteja conectado,
ocupacionais. Frequentemente, as abordagens causando repercussões
são pontuais, como palestras, feiras de saúde, pessoais, profissionais,
organizacionais e sociais.
Semana Interna de Prevenção de Acidentes do
Trabalho (SIPATs) ou sessões de massagem, o dia da fruta, entre outros. A
abordagem dos fatores emocionais exige conhecimento teórico e preparação de
programas de Saúde Mental que propiciem resultados efetivos e sustentáveis
(OGATA, 2012).
Existem duas lacunas na literatura científica nacional. A primeira é oferecer
pesquisas e reflexões sobre questões conceituais e novos aportes teóricos, além de
analisar a questão da saúde emocional em diferentes ocupações, como policiais,
bancários, funcionários públicos, trabalhadores rurais e da área de serviços. A
segunda é oferecer propostas práticas de abordagem, particularmente no que se
refere ao estresse ocupacional e às novas realidades do contexto do trabalho.
Nesta disciplina abordaremos a cronologia das leis e regulamentações
sobre fatos da saúde geral e mental do trabalhador, as principais correntes teórico-
metodológicas existentes, os principais fatores de risco e proteção à saúde do
trabalhador, com ênfase aos fatores psicossociais de risco, o diagnóstico dos
transtornos mentais relacionados ao trabalho e por fim, programas de promoção,
prevenção, intervenção, reabilitação e readaptação do trabalhador. A sequência e
os temas propostos foram elaborados para que você adquira conceitos, que serão
trabalhados de forma interativa, permitindo um aprendizado mais efetivo.
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UNIDADE 1 - BREVE HISTÓRICO DA SAÚDE OCUPACIONAL
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1890 - Primeira legislação sobre condições de trabalho industrial, criada
por meio do Conselho de Saúde Pública.
1910 - Oswaldo Cruz dirige pessoalmente estudos e o combate a
epidemias na ferrovia Madeira-Mamoré.
1919 - foi criada a Organização Internacional do Trabalho - OIT. Foi
aprovada a primeira lei sobre acidentes de trabalho no Brasil (Decreto-
legislativo n. 3754, de 15/01/1919).
1920 - Indústria de fiação em São Paulo contrata o que seria o primeiro
médico de fábrica brasileiro.
1923 - Criação da Inspetoria da Higiene Industrial (HI) pelo Departamento
Nacional de Saúde em que, a higiene profissional e industrial seria
incluída no âmbito da saúde pública.
1934 - Na USP, inicia- se o ensino da disciplina de Higiene do trabalho,
na Escola de Higiene e Saúde Pública. Foi decretada a segunda lei de
acidentes do trabalho (Decreto
n. 24.637 de 10/07/1934).
1939 a 1943 - Fundada a
Associação Americana de
Higiene Industrial- AIHA. O
serviço de Higiene do trabalho
torna-se Divisão de Higiene e
Segurança no trabalho.
Fonte: http://migre.me/eUD6E
1948 - Criação da Organização Mundial de Saúde – OMS. As
concentrações máximas permitidas passaram a ser chamadas de limite
de tolerância.
1953-1959 - A OIT faz a recomendação 97, que trata da Proteção da
Saúde do trabalhador. Na Conferência Internacional do Trabalho é
aprovada a recomendação 112 sobre os serviços de Medicina do
trabalho.
1960-1970 - Surgem os movimentos sindicais representando as
reivindicações dos trabalhadores na Alemanha, França, Inglaterra,
Estados Unidos e Itália. O governo brasileiro convidou técnicos da OIT
para estudarem as condições de Segurança e Higiene do Trabalho no
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Brasil. A lei n. 5.161 criava a Fundação Centro Nacional de Segurança,
Higiene e Medicina do trabalho - FUNDACENTRO em São Paulo, ligada
ao Ministério do Trabalho e Emprego do Brasil.
Década de 1970 - O modelo de atuação da Saúde Ocupacional não
consegue mais responder a todos os problemas causados pelas
mudanças dos processos de trabalho: a automação em alto grau, a
robotização, entre outros.
1972 - Cursos (FUNDACENTRO) para a formação de Médicos do
Trabalho.
1978 - Começam a ser instituídas as Normas Regulamentadoras (NR) de
Segurança e Saúde no Trabalho, com uma grande proporção delas a
partir da década de 1990. Interessa-nos focalizar aquelas relacionadas à
saúde, em particular à Saúde Mental do trabalhador, citadas a seguir:
Década de 1980 - Observou-se um avanço nos estudos toxicológicos,
especialmente com relação a fatores de risco potencial genotóxico.
Década de 1990 - Verifica-se a tendência de estabelecer limites de
tolerância, dado que os mesmos são cada vez menores.
1996 - NR 07- Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional
PCMSO é um programa que deve ser elaborado e implantado em todas
as empresas que possuam funcionários registrados. Sobre essa NR,
você terá mais detalhes na Unidade 3.
1999 - Portaria/MS n. 1339 de 1999, que lista os Transtornos Mentais e
do Comportamento relacionados ao trabalho, que implica a utilização de
modelos diagnósticos e o estabelecimento do nexo causal entre o Dano
e/ou a Doença e o Trabalho. O Decreto n. 3.048 de 06/ 05/1999 pelo
Ministério da Previdência e Assistência Social discrimina os Transtornos
Mentais Relacionados ao Trabalho, traz novos desafios aos profissionais
de saúde e de recursos humanos de organizações públicas e privadas no
reconhecimento e prevenção dessas patologias.
2007 - Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário (NTEP) (I.N. 16/07
INSS 27/03/07). Para você compreender melhor o que ocorre com a
introdução do NTEP, listamos:
o incentivo para se investir em prevenção e na redução das
doenças ocupacionais, ou seja, a doença cuja incidência for
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elevada em determinada atividade econômica será
caracterizada como do trabalho, independentemente da
notificação pela empresa, por meio da Comunicação do
Acidente de Trabalho - CAT;
transfere-se o ônus da prova para o empregador: até agora, o
trabalhador é quem precisava provar que estava doente,
ficando a cargo do médico da empresa, ou do INSS, conceder a
emissão do CAT;
mudanças na forma de pagamento do Seguro Acidentário de
Trabalho – SAT.
O enfrentamento desses desafios é especialmente importante no contexto
atual, em que passa a vigorar o NEXO TÉCNICO EPIDEMIOLÓGICO
PREVIDENCIÁRIO (BRASIL, 2006). Trata-se de lei que permite à previdência social
conceder benefício acidentário ao trabalhador incapacitado para o trabalho que seja
acometido por doença cujo risco de adquiri-la seja maior no ramo econômico ao qual
pertence a empresa em que trabalha, ou seja, com base em critério epidemiológico.
Agora, no item 1.2., detalharemos em pormenores as contribuições de
Ramazzini, que podem ser consideradas as bases da Medicina do Trabalho, da
Saúde Ocupacional e também da Saúde Mental Ocupacional, a Saúde Mental e
Trabalho, dada sua completude e atualidade.
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Fonte: http://migre.me/eUDwQ
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irritava as narinas, e se sentia náuseas. Nada disso, respondeu ele,
somente os olhos são atacados e se quisesse prosseguir neste
trabalho muito tempo, sem demora perderia a vista, como tem
acontecido aos outros’. Assim, atendendo-me, cobriu os olhos com
as mãos e seguiu para casa. Depois observei muitos operários
dessa classe, quase cegos ou cegos completamente, mendigando
pela cidade [...] (MENDES, 2000)
A propósito das "doenças dos que trabalham em pé" (capítulo XXIX de seu
livro), assim se expressa Ramazzini:
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De fato, deste critério de classificação empírica utilizado por Ramazzini, é
possível pinçar as bases para uma sistematização da Patologia do Trabalho, onde,
no primeiro grupo estariam as "doenças profissionais" ou "tecnopatias", e no
segundo, as "doenças adquiridas pelas condições especiais em que o trabalho é
realizado", ou as "mesopatias" - classificação até hoje utilizada para fins médico-
legais e previdenciários em muitos países, inclusive no Brasil.
Muitas outras contribuições poderiam ser aqui identificadas, tais como sua
visão das inter-relações entre a Patologia do Trabalho e o Meio Ambiente, quando
estuda as "doenças dos químicos" (capítulo IV de seu livro), e a ênfase na
prevenção primária das doenças dos trabalhadores, o que ele faz no interior de
inúmeros capítulos de seu livro. Ainda, é no estudo das "doenças dos químicos" que
ele descreve a utilização potencial de registros de óbito para o estudo dos impactos
da poluição ambiental sobre a saúde das comunidades - estratégia metodológica
que até hoje se utiliza.
Apesar das relações Trabalho, Saúde e Doença dos trabalhadores serem
reconhecidas desde os primórdios da história humana registrada, expressa em
obras de artistas plásticos, historiadores, filósofos e escritores, é relativamente
recente uma produção mais sistemática sobre o tema.
Desde então, acompanhando as mudanças e exigências dos processos
produtivos, e dos movimentos sociais, as práticas da Saúde Ocupacional têm se
transformado, incorporando novos enfoques e instrumentos de trabalho, em uma
perspectiva interdisciplinar, delimitando o campo da Saúde Ocupacional e mais
recentemente, da Saúde dos Trabalhadores e da Saúde Mental do trabalho ou
Saúde Mental Ocupacional.
Dica de Aprofundamento
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Exercício 1
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UNIDADE 2 - SAÚDE MENTAL E TRABALHO
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Há pessoas que percebem o trabalho predominantemente como sofrimento
e outras como prazer, embora se saiba que, prazer e sofrimento sempre existirão,
variando os graus.
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As transformações introduzidas nos contextos laborais, nos últimos anos,
têm oportunizado, em geral, melhores condições de trabalho, com ambientes mais
limpos, menos insalubres, com menos riscos de acidentes e doenças. Por outro
lado, tais transformações nos processos de trabalho têm suscitado novas formas de
sofrimento e/ou doença, vinculadas, preferencialmente, com o funcionamento
psíquico dos trabalhadores e disseminadas pelos mais diferentes espaços de
trabalho, incluindo o setor de serviços. As estatísticas de auxílio-doença e
aposentadoria por invalidez refletem este novo perfil.
Segundo dados da Organização
Mundial da Saúde - OMS, cerca de 30% dos
Transtornos Mentais Menores: De
trabalhadores ocupados sofrem de acordo com Santos (2002, apud
MARAGNO, 2006), trata-se da
Transtornos Mentais Menores - TMM, e
situação de saúde de uma
cerca de 10% sofrem de Transtornos Mentais população, com indivíduos que não
Graves (GUIMARÃES et al, 2006). preenchem os critérios formais para
diagnósticos de depressão e/ou
As maiores conquistas no âmbito da ansiedade, segundo as
Saúde do Trabalhador se devem à luta classificações do DSM-IV
(Diagnostic and Statistical Manual of
histórica e cotidiana da classe trabalhadora
Mental Disorders – Fourth Edition) e
como atestam os registros da História. Voltar- da CID-10 (Classificação
Internacional de Doenças- 10ª
se, hoje, para as relações entre Saúde
Revisão), mas que apresentam
Mental e Trabalho é o novo desafio a ser sintomas proeminentes que trazem
coletivamente assumido. Para tanto, faz-se uma incapacitação funcional
comparável ou até mais grave que
necessário demandar sustentação teórica, quadros crônicos já bem
estudos empíricos, pactos com diversos estabelecidos.
segmentos sociais, posições políticas e um trabalho de militância, trabalho este
potencialmente promotor de saúde.
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os estudos que tratam da Relação entre estresse e trabalho (Work
Stress) (GLINA e ROCHA, 2006).
Fonte: http://migre.me/eUGkq
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A situação saudável de trabalho seria a que permitisse o desenvolvimento
do indivíduo, alternando exigências e períodos de repouso com o controle do
trabalhador sobre o processo de trabalho.
Como referido anteriormente, são vários os autores que classificam as
abordagens teórico-metodológicas em Saúde Mental e Trabalho. Iniciaremos com a
pioneira desse campo de estudos no Brasil: Seligmann-Silva (1995, apud
JACQUES, 2003), apresenta três diferentes abordagens teórico-metodológicas em
Saúde Mental e Trabalho:
as Teorias sobre estresse (work stress);
a Psicodinâmica do Trabalho;
o Desgaste mental.
Essa autora pode ser considerada a pioneira nos estudos em Saúde Mental
e Trabalho no Brasil.
Para Jacques (2003), existem quatro (4) amplas abordagens em Saúde
Mental:
as teorias sobre estresse,
a Psicodinâmica do Trabalho;
as abordagens de base epidemiológica ou diagnóstica,
os estudos e pesquisas em subjetividade e trabalho.
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uma psicologia abstrata, que explica o processo de saúde-doença
prioritariamente com base em processos psíquicos.
Psicodinâmica do Trabalho: já descrita acima.
Abordagens psicossociológicas: As abordagens psicossociológicas
na Psicologia Social são descritas por vários autores (e.g., ALVARO,
1995; MONTERO, 2000; SANDOVAL, 2000; PRADO, 2002; ALVARO;
GARRIDO; SCHWEIGER; TORREGROSA, 2007), a cujos textos
recomendamos recorrer para aprofundamento sobre o assunto.
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saudável e produtora de novos saberes. Tal diálogo requer, entretanto, cuidados e
prudência, como tem alertado Fielding e Schreier (2004), principalmente se tais
diferenças partem dos pressupostos básicos.
O respeito pela produção do outro é uma atitude profissional saudável, que
permite reconhecer méritos e limitações de cada abordagem. Voltamos, então, a
assinalar que já há algum tempo surgem iniciativas que indicam a construção de tal
diálogo. Certamente vale a pena citar os livros “Trabalho em Transição, Saúde em
Risco” (MENDES; BORGES e FERREIRA, 2002), “Trabalho e Saúde” (MENDES,
2008) e “Clínicas do Trabalho” de (BENDASSOLLI; SOBOLL, 2011), que são
coletâneas organizadas reunindo autores de diversas abordagens.
Exercício 2
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mental); suporte organizacional.
d) Individualista; Psicodinâmica do Trabalho; abordagens psicossociológicas; as
teorias sobre Estresse (work stress).
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UNIDADE 3 - PRINCIPAIS FATORES DE RISCO À SAÚDE MENTAL
DO TRABALHADOR
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Segurança e saúde no trabalho em estabelecimentos de saúde. Destacam-se entre
elas a NR-7 e NR-9.
A NR-7, Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional – PCMSO,
consiste na promoção e proteção à saúde do trabalhador, por meio de ações
primárias (programas educativos e preventivos) e secundárias de saúde,
representadas pelos exames ocupacionais (admissional, periódico, mudança de
função, retorno ao trabalho e demissional) aos quais são submetidos
obrigatoriamente todos os trabalhadores. É coordenado pelo médico do trabalho, e
a cada exame o trabalhador recebe o atestado de saúde ocupacional com o
resultado sobre sua aptidão ou inaptidão física e mental para o trabalho.
A NR-9, Programa de Prevenção e riscos ambientais, tem como
preocupação o reconhecimento dos riscos ambientais por meio da identificação dos
mesmos, determinação e localização das possíveis fontes geradoras, identificação
das funções e do número dos trabalhadores expostos, caracterização das
atividades e do tipo de exposição. Integra essa NR-9 o Mapa de Riscos, que pela
representação gráfica, estimula e auxilia o trabalhador a conhecer melhor o seu
ambiente de trabalho e a identificar os Principais Riscos Ocupacionais em grupos
existentes na NR-9 na Tabela I do Anexo IV, existem cinco grupos, a saber:
Você deve ter percebido que falamos em cinco (5) grupos e o Mapa de
Riscos, enquanto que o Quadro 1 contempla somente quatro (4). Em segundo
lugar, você poderia pensar: O que os riscos mencionados têm a ver com a Saúde
Mental do trabalhador? Tudo!! é a nossa resposta. Porque é nesse cenário
permeado por toda a sorte de riscos que os trabalhadores desempenham seu ofício
no cotidiano de trabalho. Esses fatores podem trazer vários comprometimentos à
Saúde Mental do trabalhador, que são descritos no Quadro 2 que contém a
Classificação dos Transtornos Mentais e do Comportamento Relacionados com o
Trabalho (Grupo V da CID-10), mostrado mais adiante.
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Mas o que dizer dos Fatores Psicossociais de Risco no Trabalho (FPRT),
aqueles que sequer estão incluídos no mapa de risco? Veremos mais à frente, após
falarmos sobre os 4 tipos de risco do Mapa, com especificidade, quais são os mais
comuns e suas implicações para a Saúde Mental do trabalhador.
De qualquer forma, é bom você já ir sabendo que são chamados fatores de
risco todos os aspectos da situação de trabalho que têm a propriedade ou a
capacidade de causar um dano e de interferir negativamente na segurança, na
saúde e no bem-estar dos trabalhadores. Alguns desses riscos constituem-se em
fatores importantes no desencadeamento de transtornos mentais, e suas
repercussões psicossociais são analisadas a seguir:
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aerodispersóides e representadas por névoas e neblinas, poeiras, fumos e
fibras, podendo levar à enfermidade como a rinite alérgica, a asma
ocupacional e as pneumoconioses (silicose, asbestose e outras);
b) Gases e vapores: os gases e vapores são diferenciados pela
concentração de cada um no ambiente e divididos em: irritantes e asfixiantes.
Os gases e vapores irritantes (ácido clorídrico, o cloro gasoso, os óxidos de
enxofre e nitrogênio, a amônia, entre outros) são assim denominados por
provocarem lesões e desencadearem processo inflamatório quando em
contato com a pele, olhos e outros tecidos do organismo, em particular as
mucosas (BUSCHINELLI, 2000). Os gases e vapores asfixiantes são
classificados em asfixiantes simples (nitrogênio, dióxido de carbono) e pelo
gás cianídrico. O monóxido de carbono pode desencadear distúrbios
psíquicos com característica demencial;
c) Solventes: os solventes são apontados como estressores psicossociais
no trabalho e podem desencadear inúmeros distúrbios psíquicos (SAUTER et
al, 1998), sendo conhecidos em nosso meio, como hidrocarbonetos alifáticos
e aromáticos, alcoóis, cetonas, hidrocarbonetos alifáticos alogenados, entre
outros sendo utilizados para a fabricação de vernizes, tintas, colas,
fabricação de sapatos, nas indústrias de agrotóxicos e limpeza de metais
(BUSCHINELLI, 2000). Tricolorotileno, tetracloroetileno e outros solventes
aromáticos neurotóxicos, podem produzir alterações mentais e do
comportamento.
d) Metais pesados representados pelo chumbo inorgânico, mercúrio
metálico, manganês e outros, apresentam como característica toxicológica o
acúmulo no organismo, a afinidade por um órgão específico e também o fato
de serem excretados lentamente. (CAMARGO; OLIVEIRA, 2010).
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acarretam déficit cognitivo e alguns casos de transtornos afetivos, psicoses e
convulsões.
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Dependendo do local acometido, da extensão e gravidade da lesão e da
eficácia do tratamento, as repercussões neuropsíquicas dos acidentes de trabalho,
podem levar a sérios danos mentais, por vezes, irreversíveis (BRASIL, 2007).
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Entretanto, a complexidade da origem destas ocorrências e a especificidade
do contexto têm trazido dificuldades até o momento, para a prática orientada a ser
desenvolvida e que poderia ser adaptada e usada em vários contextos, setores e
países.
É importante perceber que, os riscos psicossociais têm a sua origem no
complexo âmbito da organização do trabalho e, embora as suas consequências
negativas para a saúde não sejam tão evidentes como as dos acidentes de trabalho
ou as doenças profissionais, também podem ter uma relevância notável,
manifestando-se por meio de problemas como o absenteísmo, rotação de pessoal,
defeitos de qualidade ou o stress que, em conjunto, representam importantes custos
tanto em termos de saúde para as pessoas, como econômicos para a empresa.
A OIT (1986) definiu risco psicossocial em termos da interação entre
conteúdo do trabalho, organização do trabalho e gerenciamento, e outras condições
ambientais e organizacionais, por um lado, e competências e necessidades dos
empregados, de outro. Estas interações que podem provocar riscos influenciam a
saúde dos empregados através de sua percepção e experiência.
Uma definição de riscos psicossociais no trabalho simplificada é dada por
Cox e Griffiths (1995, p.23): “são todos aqueles aspectos do desenho e
gerenciamento do trabalho e os contextos social e organizacional que têm potencial
para causar dano físico ou psicológico”.
Os FRPT podem também ser definidos como aquelas características do
trabalho que funcionam como “estressores”, ou seja, implicam em grandes
exigências no trabalho, combinadas com recursos insuficientes para o
enfrentamento das mesmas (GUIMARÃES, 2006). Enfim, os fatores psicossociais
podem ser definidos como aquelas características das condições de trabalho e,
sobretudo, da sua organização que afetam a saúde das pessoas por meio de
mecanismos psicológicos e fisiológicos a que também chamamos de estresse,
detalhado em seção adiante.
De acordo com o exposto até aqui, quando ocorre um desequilíbrio entre as
interações de, por um lado, o trabalho, o seu ambiente, a satisfação no trabalho e
as condições da sua organização e, por outro lado, a capacidade do trabalhador, as
suas necessidades, a sua cultura e a situação pessoal fora do trabalho, aparece o
risco de origem psicossocial. Assim sendo, o 5º grupo do qual falamos
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anteriormente como faltando no Quadro 1, deveria avaliar os fatores psicossociais
de risco.
Exercício 3
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Carga de trabalho
Temporariamente, se existe uma demanda aumentada de trabalho, que exija
mais do que o habitual ou muito pouco, o trabalhador, provavelmente, não terá
dificuldades para se adaptar, mas se esta situação persistir, tanto por excesso
(sobrecarga), como por falta (infracarga), pode tornar-se uma fonte importante de
estresse. Quando as exigências do trabalho superam a capacidade do sujeito para
responder às mesmas (NIOSH, 1999), falamos de sobrecarga de trabalho
(FRANKENHAUSER, 1988), que pode ser:
Sobrecarga quantitativa: ocorre quando a pressão pelo tempo de
execução do trabalho é intensa, isto é, quando o trabalhador não
pode regular o ritmo imposto de trabalho e este é elevado; quando
ocorre um grande volume de trabalho em relação ao tempo
disponível; e/ou quando são numerosas as interrupções que
obrigam o trabalhador a deixar momentaneamente as tarefas e
voltar a elas mais tarde.
Sobrecarga qualitativa: se dá quando a realização do trabalho
exige demasiado do trabalhador e este se sente incapacitado ou
sem condições de realizar a tarefa a ele designada. Costuma
aparecer quando ocorre uma mudança tecnológica e
organizacional; quando um trabalhador é promovido sem ter sido
previamente informado ou treinado sobre o novo trabalho ou
processo de trabalho; ou nos trabalhos de atendimento a usuários,
público e/ou clientes.
Pode parecer estranho, mas também, quando a realização das tarefas
apresenta poucas exigências ao trabalhador, esse pode ser um fator, por vezes de
risco para a Saúde Mental e fala-se de infracarga de trabalho (GRUPO ISASTUR,
2013), e esta pode ser:
Infracarga quantitativa: quando a atividade (física e/ou
mental) da tarefa é escassa, ou quando a presença do
trabalhador é necessária, mas as suas intervenções são
limitadas;
Infracarga qualitativa: quando o conteúdo do trabalho é
escasso, ou quando o trabalho é pouco criativo e a
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realização do mesmo não permite ter iniciativa nem tomar
decisões.
Autonomia
Podemos diferenciar três tipos de autonomia, segundo Ferreira e Mendes
(2006):
Autonomia de tempos: possibilidade de controlar o ritmo de
trabalho, a duração e distribuição das pausas e de adaptar o horário
e as férias às suas necessidades.
Autonomia operacional: possibilidade de influir na ordem das
tarefas, de escolher entre elas e o modo de execução, bem como a
influência sobre a quantidade e a qualidade das respostas.
Autonomia organizacional: possibilidade de intervir na política
da empresa, nos objetivos, normas e processos.
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Dicas de Aprofundamento
Dicas de Aprofundamento
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3.2.9 Fatores Ligados à Estrutura da Organização
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dos métodos de trabalho. O poder do líder é conferido pelo grupo
e o mesmo tem preocupação com as relações humanas.
Canais de informação e comunicação
A informação que o trabalhador precisa conhecer, tanto para desempenhar
adequadamente o seu trabalho, como para trabalhar sem riscos para a sua
segurança e saúde, deve ser transmitida de forma clara e simples e deve chegar a
todo o pessoal.
Daí a importância de estabelecer e manter ativos canais de comunicação
eficientes, que irão favorecer a participação dos trabalhadores e que podem ajudar
a reduzir a acidentalidade.
Relações entre departamentos e trabalhadores
As boas relações entre os diferentes departamentos da empresa e entre os
próprios trabalhadores contribuem para a melhoria do ambiente de trabalho e da
produtividade.
Desenvolvimento profissional
A possibilidade de desenvolvimento profissional é um elemento claramente
motivador para os trabalhadores, especialmente quando existe uma relação entre
formação e promoção.
A falta de possibilidades de promoção pode provocar a perda de interesse
por tudo aquilo não relacionado com a rotina diária e, por outro lado, uma formação
inadequada para o desempenho dos trabalhos poderia constituir uma fonte de
estresse, tanto quando os trabalhos exigem superar as capacidades do trabalhador,
como quando estas são infrautilizadas.
Exercício 4
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Em sequência será abordado aquele fator psicossocial de risco que mais
afeta a saúde mental e física, segundo a Conferência do Ministério Europeu sobre
Saúde Mental (WHO, 2005): o estresse.
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UNIDADE 4 – ESTRESSE OCUPACIONAL E SÍNDROME DE
BURNOUT
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quantidade e o tipo de demanda, e b) a dimensão do controle sobre as tarefas que
se realizam no marco da divisão do trabalho (ver figura abaixo):
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FIGURA
Fatores SUPERCOMPROMETIMENTO
intrínsecos
(Necessidade de controle)
(Pessoais)
Salário
Fatores Demandas
Reconhecimento
extrínsecos Obrigações
Fonte: Guimarães, Siegrist e Martins (2004) Segurança
(Situacionais) Oportunidade
Exercício 5
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4.3 Causas e consequências do estresse ocupacional
Para Siegrist (2001, apud GUIMARÃES e FREIRE, 2004), é necessário se
observar as transformações ocorridas nas indústrias nas últimas décadas para
sabermos encontrar as causas do estresse ocupacional (EO).
Algumas causas que contribuem para a ocorrência do EO são: a
globalização da economia, a racionalização e concentração de empresas, a
crescente pressão da competição, as inovações necessárias da tecnologia e
economia e o encurtamento do ciclo produtivo. Os trabalhadores se veem
obrigados a fazer alguns tipos de reciclagem e adaptações, que em alguns casos é
complicado do indivíduo se recuperar (LEVI, 1988).
Guimarães e Freire (2004), referem que alguns fatores como: acúmulo de
exigências, carga horária elevada e alto nível de responsabilidade, todos esses
fatores associados, podem fazer com que o indivíduo tenha uma sobrecarga de
esforços mentais.
Segundo Karasek (1979), os lugares que pressupostamente apresentam
um alto nível de estresse fisiológico relacionado com uma demanda quantitativa
e/ou uma margem de decisão limitada.
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disfuncionais e aumento de habilidades comunicativas, de solução de problemas,
de manejo do tempo e de autocontrole, a fim de minimizar o impacto dos
estressores ocupacionais.
Do ponto de vista do conteúdo, tipicamente estes programas têm utilizado
técnicas para redução de tensão fisiológica, tais como meditação, relaxamento e
biofeedback1, ou técnicas cognitivo-comportamentais associadas, tais como treino
assertivo, reestruturação cognitiva, treino em solução de problemas, manejo de
tempo e fornecimento de instruções sobre autocuidado à saúde (MURPHY, 1996
apud MURTA e TROCCOLI, 2009, p.27).
É da cronificação do estresse ocupacional que poderá surgir um quadro
clínico mental extremo denominado Síndrome de Burnout, definido por Guimarães
(2005), como uma síndrome depressiva específica do trabalho, que será exposta a
seguir. Antes, no entanto, teste seu nível de estresse ocupacional, corrija e veja
dicas úteis para sua redução.
Pensando no seu trabalho atual, o quanto cada uma das seguintes afirmações
descreve como você sente? Circule o número correspondente.
ÀS
QUESTÔES NUNCA RARAMENTE FREQUENTE MUITO
VEZES
MENTE
1. As condições de
meu trabalho
são desagradáveis 1 2 3 4 5
ou inseguras.
2. Sinto que meu
trabalho está
afetando
negativamente 1 2 3 4 5
meu bem-estar
físico e/ou
emocional.
3. Tenho excesso
de trabalho
a fazer e/ou muitos 1 2 3 4 5
prazos curtos.
4. Tenho
dificuldade para
expressar minhas
opiniões ou
1 2 3 4 5
sentimentos sobre
minhas condições
de trabalho a meus
superiores.
5. Sinto que as
pressões do
trabalho interferem 1 2 3 4 5
em minha vida
familiar ou pessoal.
5. Tenho
controle sobre 1 2 3 4 5
minhas tarefas no
trabalho.
7.Recebo o
reconhecimento ou
1 2 3 4 5
recompensas
apropriadas para o
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meu bom
desempenho.
8.Posso utilizar
minhas outras
habilidades e 1 2 3 4 5
talentos no
trabalho.
Inicie a contagem, somando os pontos das oito (8) perguntas que você respondeu,
veja onde você se encaixa:
Pontuação Total -15 ou abaixo (33% das pessoas estão nesta categoria):
Seu nível de estresse não é significativo.
Pontuação Total 16 a 20 (35%): Baixo nível de estresse.
Pontuação Total 21-25 (21%): Nível Moderado de Estresse Alguns aspectos
do seu trabalho podem ser consideravelmente estressantes, mas não muito mais do
que para a maioria das pessoas. Examine o que pode ser feito para reduzir os
aspectos cujas pontuações encontram-se elevadas.
Pontuação Total 26-30 (9%): Nível Severo de Estresse. Você ainda consegue
enfrentar o estresse, mas seu trabalho às vezes pode ser bastante aversivo.
Provavelmente, diversas de suas pontuações são extremas. Preste atenção se este
é o trabalho certo para você, mas o dimensionamento da intensidade e dos tempos
para execução do trabalho está inadequado. Você pode beneficiar-se com um
aconselhamento psicológico, ou psicoterapia de apoio.
Pontuação Total 31-40 (2%): Nível de estresse potencialmente perigoso –
Verifique o aspecto que no qual você obteve maior pontuação. Você deve procurar
auxílio profissional especializado, especialmente se sente que sua saúde física e ou
mental está afetada, ou pode considerar seriamente uma mudança de trabalho e/ou
emprego.
Analise todas as questões onde você pontuou altos níveis de estresse e a forma
de poder autocontrolá-lo, particularmente se você sente que sua saúde está sendo
afetada significativamente. Tenha em mente que uma escala e suas categorias é
subjetiva e que alguns eventos circunstanciais ou não, tais como “cumprir prazos
apertados”, por exemplo, podem realmente afetá-lo significativamente. Avalie se
você está constantemente sob esta circunstância ou não, e tente verificar o que
pode ser mudado em sua rotina de vida e trabalho.
Lembre-se que o estresse é diferente para cada pessoa. Há coisas que são
angustiantes para uns que podem ser agradáveis para outros. Da mesma forma,
nenhuma técnica de redução do estresse funciona igualmente para todas as
pessoas. Fazer caminhadas, meditar ou praticar ioga poderá ser eficiente para
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alguns, mas ser fonte de estresse quando impostos arbitrariamente, a outros.
Procure detectar o que funciona para você.
Não suponha automaticamente que suas dores de cabeça ou outras queixas
físicas estão relacionadas somente ao estresse, só porque você teve uma
pontuação elevada em estresse ocupacional. Um médico deve sempre ser
consultado se você tiver novos sintomas ou se após a ocorrência de problemas
você se sentir mal frequentemente, pois estes, podem estar sendo causados por
outro fator, que uma vez detectado, será sempre muito mais fácil de tratar em seus
estágios iniciais.
Finalmente, embora o estresse seja difícil de definir, a sensação de ter pouco
controle sobre suas tarefas é sempre angustiante. Tudo o que você puder fazer
para ter mais controle sobre suas atividades diárias, resultará em importantes
resultados para a redução do estresse e consequentemente para sua saúde e
qualidade de vida.
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Para Maslach, Leiter e Schaufeli (2001), a Síndrome de Burnout é composta
por três dimensões:
A dimensão de exaustão emocional [EE] se caracteriza pelo fato do
sujeito encontrar-se exaurido, esgotado, sem energia para enfrentar outro
projeto, outras pessoas e incapaz de recuperar-se de um dia para o
outro. Seus indicadores, conforme descritos por MASLACH E JACKSON
(1981), buscam verificar o esgotamento emocional para o trabalho, o
sentimento de cansaço após a jornada de trabalho e a dificuldade para
enfrentar uma nova, o sentimento de exaustão pelo fato de ter que
trabalhar com pessoas diariamente, a sensação de estar trabalhando em
demasia e no limite de suas possibilidades, bem como, o sentimento de
frustração pelo trabalho realizado. Ou seja, a variável exaustão
emocional caracteriza-se pela experimentação psicofísica da exaustão e
pelo fato da pessoa ter chegado ao limite de suas forças.
A dimensão de despersonalização [D] é caracterizada pelo fato do
sujeito adotar atitudes de descrença, distância, frieza e indiferença em
relação ao trabalho e aos colegas de trabalho (MASLACH, LEITER &
SCHAUFELI (2001), assiste e experimenta-se culpado por elas terem
seus problemas e, por fim, se tem se tornado alguém emocionalmente
mais endurecido em função do trabalho que realiza. Ou seja, a dimensão
de despersonalização abrange a relação com os outros é caracterizada
pela indiferença, descaso, cinismo e descomprometimento com as
necessidades e sofrimentos das pessoas assistidas e de seus colegas.
Nesse sentido, burnout não é somente a síndrome do profissional
exausto, mas também do profissional indiferente e descomprometido em
relação às pessoas com quem trabalha.
A dimensão de perda da realização pessoal [PRP] é caracterizada
pelo fato da pessoa experimentar-se ineficiente, incapaz e certa de que
seu trabalho não faz diferença (MASLACH, LEITER e SCHAUFELI
2001). Seus indicadores (MASLACH & JACKSON, 1981), buscam
verificar se o profissional entende com facilidade o que os seus pacientes
necessitam, se consegue criar uma atmosfera tranquila e fica estimulado
após o trabalho realizado, se lida de forma eficaz com os problemas das
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pessoas assistidas, e se sente sua influência positiva na vida dos outros
através do trabalho que realiza.
Dado o acima exposto pode-se dizer que burnout é a síndrome do
profissional que perdeu a realização de si mesmo, descomprometido com os outros
e exaurido emocionalmente. Benevides-Pereira
(2002), Maslach, Leiter e Schaufeli (2001) e Schaufeli
e Bunnk, (2003), além de confirmarem a definição de
burnout como constituído essencialmente por [EE], [D],
[PRP], têm descrito também uma série de sintomas
físicos e emocionais comumente relacionados à
síndrome: dores de cabeça, tensão muscular,
distúrbios do sono, irritabilidade, sentimentos
negativos que começam a afetar o relacionamento
familiar e a vida em geral, propensão a largar o
emprego e absenteísmo.
Fonte: http://migre.me/fkwM1
Schaufeli e Bunnk (2003), publicam um estudo sobre o estado da arte a
respeito de burnout e, da mesma forma, confirmam a definição de burnout como
constituída pelas mesmas três dimensões essenciais – [EE], [D], [PRP] –
distinguindo-o dos demais fenômenos ligados ao trabalho, tais como o estresse
profissional e a fadiga. Demonstram, desta forma, que burnout não é apenas “um
velho vinho em uma nova garrafa” (SCHAUFELI & BUUNK, 2003, p.390), e deixam
claro que só é possível compreender tal fenômeno levando-se em consideração a
relação das três dimensões entre si e suas relações com os estressores
organizacionais que as determinam.
Tendo definido burnout como um fenômeno multidimensional constituído
por suas três dimensões fundamentais ([EE], [D] e [PRP]), faz-se necessário
demarcar o conjunto de dimensões presentes na realidade do trabalho e das
organizações que estão relacionadas ao desencadeamento de burnout.
Maslach e Leiter (1997) e Maslach, Leiter e Schaufeli (2001), especificam o
seguinte conjunto de dimensões: aquelas relacionadas às altas demandas de
trabalho e aquelas relacionadas a poucos recursos. Em relação à alta demanda,
são especificadas as seguintes: aumento da carga de trabalho, caracterizada pelo
fato de menos pessoas estarem fazendo mais trabalho; pressão de tempo,
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caracterizada pelo tempo não ser suficiente para cumprir exigências de trabalho;
aumento da complexidade das tarefas, caracterizada pelo fato de um mesmo
profissional desempenhar múltiplas funções simultaneamente; papel conflitante
caracterizado pela obrigação profissional de executar duas funções contrárias e
conflituosas, (e.g., um médico que tem como objetivo prestar o melhor atendimento
a seus pacientes, mas é obrigado pelas exigências organizacionais a prestar um
atendimento rápido e precário); e por último, a ambiguidade de papéis, decorrente
de informações inadequadas ao comprimento da função profissional, que prejudica
a realização dos objetivos de trabalho.
Em relação ao conjunto de dimensões relacionadas a poucos recursos são
especificadas as seguintes: falta de suporte no trabalho por parte de supervisores,
que deixa o profissional sem uma chefia que dê apoio para o enfrentamento e
resolução dos problemas; a falta de apoio de colegas, caracterizado pela perda da
confiança no trabalho de equipe, criando relações de competição e isolamento entre
os profissionais; falta de controle e autonomia sobre dimensões importantes de
suas atividades profissionais, que impede os profissionais de resolverem os
problemas relacionados ao seu trabalho e assim os inviabiliza realizar corretamente
as tarefas para as quais têm formação e capacidade; e, por fim, a falta de
recompensa material caracterizada pela redução de salários e benefícios e por
menos oportunidades de progresso na carreira.
Schaufeli e Buunk (2003), ao falarem sobre o estado da arte2 do fenômeno
de burnout confirmam o mesmo conjunto de dimensões estressoras organizacionais
relacionadas ao desencadeamento de burnout, dando especial destaque para a
sobrecarga, a pressão de tempo, ao conflito de papéis e a falta de suporte. Jardim,
Silva Filho e Ramos (2004), ao realizarem uma revisão da literatura sobre burnout
em livros, dissertações e teses no plano internacional, publicados entre os anos de
1980 e 2001, confirmam a prevalência de burnout em profissionais da área de
serviços de assistência (professores, profissionais da saúde, policiais, assistentes
sociais, advogados). Maslach, Leiter e Schaufeli (2001), corroborando os autores
acima, verificam que os estressores mais importantes presentes na organização de
trabalho que predispõe os trabalhadores ao problema de burnout são: o papel
uma área científica, alcançado em um tempo definido. Pode encontrar-se a expressão "estado da
arte" na composição de teses acadêmicas, seja como parte da introdução ou no capítulo seguinte,
que se destina a documentar o que está sendo feito atualmente no campo em estudo.
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conflitante, a perda de controle ou autonomia sobre seu fazer, ausência de suporte
social e sobrecarga.
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UNIDADE 5 - INTRODUÇÃO DE MUDANÇAS NO AMBIENTE DE
TRABALHO
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Imagem social: uma boa imagem social gera nos trabalhadores maior
identificação com a empresa, e isto influi no ambiente de trabalho, no
rendimento e na satisfação no trabalho, podendo cobrir ainda as suas
necessidades de status e prestígio.
Localização: a deslocação a outras cidades ou grandes distâncias
entre o local de trabalho e a residência e locais de lazer, e a influência de
um espaço natural circundante, incidem diretamente na qualidade de vida
dos trabalhadores.
Atividade: a atividade da empresa pode gerar "conflito de função" se
o trabalhador realizar tarefas não compatíveis com os seus interesses ou
valores. O mesmo pode chegar a envergonhar-se do seu trabalho,
quando este entra em conflito com os interesses ou valores da
sociedade, tornando-se uma fonte de insatisfação.
Concepção do local de trabalho: o espaço disponível, a distribuição
e o acondicionamento do mesmo para um determinado posto de
trabalho, são fatores psicossociais a serem levados em conta, já que
entre os seus efeitos negativos se encontram a insatisfação, o
desenvolvimento de sintomatologia do estresse e até mesmo
manifestações psicopatológicas graves, tais como a claustrofobia ou a
agorafobia3, geradoras de graves episódios de angústia ou ansiedade.
Cabe destacar como especialmente negativos os trabalhos realizados em
situação de isolamento ou confinamentos, e.g., trabalho em plataformas
de petróleo.
3Agorafobia (do grego ágora - assembleia; reunião de pessoas; multidão + phobos - medo) é
originalmente o medo de estar em espaços abertos ou no meio de uma multidão. Em realidade, o
agorafóbico teme a multidão pelo medo de que não possa sair do meio dela caso se sinta mal e não
pelo medo da multidão em si. Muitas vezes é sequela de transtorno do pânico. Quando o medo
surge é difícil saber se, se está tendo um ataque de pânico ou Agorafobia, porque ambos têm quase
os mesmos sintomas.
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minimizada, informando os trabalhadores afetados sobre as possíveis mudanças,
com a devida antecedência.
a) Reações de comportamento
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organizações. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) classifica os
transtornos do comportamento em:
Comportamentos ativos: reclamações, greves, enfrentamentos com
chefes e superiores hierárquicos, atrasos, etc.
Comportamentos passivos: resignação, indiferença pela qualidade
do trabalho, absentismo, falta de participação, não ter vontade de estar
com outras pessoas, sentir-se agoniado, infeliz, não conseguir dormir
bem, abusar da comida, do álcool ou o tabaco, de drogas ou
substâncias ilícitas, etc.
b) Consequências psicofisiológicas
4 A doença de Crohn é uma doença crônica inflamatória intestinal, que atinge geralmente o íleo e o
cólon (mas pode afectar qualquer parte do trato gastrointestinal). Apresenta-se sob três formas
principais: inflamatória, fistulosa e fibroestenosante. Muitos danos são causados por células
imunológicas que atacam uma ou mais partes dos tecidos do tubo digestivo, mas não há certeza de
etiologia autoimune. Os sintomas e tratamentos dependem do doente, mas é comum haver dor
abdominal, diarreia, perda de peso e febre. Atualmente não há cura para esta doença, no entanto os
tratamentos permitem alívio dos sintomas e melhoria de qualidade de vida.
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profissional (Burnout)5; o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT)6,
dependência de bebidas alcoólicas e outras substâncias (drogas ilícitas e
psicotrópicos).
Dica de Aprofundamento
5
Apesar de não constar como diagnóstico da CID-10 (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1992), a
síndrome do Burnout faz parte, no Brasil, da lista de 12 transtornos mentais relacionados ao
trabalho que se tornou oficial a partir da Portaria nº 1.339 /1999 do Ministério da Saúde (BRASIL,
2001).
6 A Invisibilidade do TEPT nos registros previdenciários do Brasil: os dados do Instituto Nacional de
Seguridade Social (INSS) sobre causas médicas dos benefícios em auxílio-doença e auxílio-
acidentário não incluem avaliação específica do código F43.1, que é o referente ao TEPT. Constata-
se, assim, a invisibilidade dos casos de TEPT relacionado ao trabalho nas estatísticas brasileiras da
Previdência Social e consequente prejuízo para a análise dos impactos da violência na saúde
mental.
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marcador biológico da exposição. Pontuações médias, nas quais todos os
trabalhadores de uma dada ocupação fornecessem os escores relativos à mesma,
poderiam ser uma forma de estimar uma probabilidade da contribuição ambiental de
um fator de risco psicossocial, mas essa é apenas uma possibilidade.
Dica de Aprofundamento
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CONCLUSÃO
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REFERÊNCIAS
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ROSEN, G. Uma História da Saúde Pública. São Paulo: Editora
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