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C APÍTULO 1

Higiene do Trabalho

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

33Proporcionar ao(à) pós-graduando(a) uma visão ampla dos riscos ambientais.

33Simular através de situações de risco a intervenção e a adequação do


ambiente de trabalho.
Higiene do Trabalho I

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Capítulo 1 Higiene do Trabalho I

Contextualização
O crescente desenvolvimento tecnológico levou o homem a buscar
mecanismos para a melhoria e a prevenção de acidentes no ambiente de
trabalho, pois nele encontramos as mais variadas situações de riscos e das
doenças ocupacionais.

Melhorar o ambiente laboral significa evitar os acidentes e as doenças


causadas pelo trabalho, ou seja, este deve ser realizado em condições
adequadas com o objetivo de não causar prejuízos físicos, mentais e sociais,
permitindo, assim, um desenvolvimento integral dos indivíduos através do seu
trabalho.

Os primeiros estudos sobre a saúde dos trabalhadores, ao que se sabe,


datam do século XVI, com a publicação do livro De re Metallica, de George Bauer.

Ele estudou os diversos problemas relacionados com a extração de


minerais, prata e ouro, e a fundição destes, destacando, assim, os acidentes
de trabalho e as doenças entre os trabalhadores mineiros, chamada de “asma
dos mineiros”.

Pela sua história, a evolução da doença e os sintomas demonstram ser,


sem dúvidas, a “silicose” ou como hoje é conhecida a pneumoconiose.

Em 1700, na Itália, foi publicado um livro que teve grande repercussão


em todo mundo: De morbis artificum diatriba, obra de autoria de Bernardinus
Ramazzini, médico que, por esse motivo, é com justiça chamado de o “Pai da
Medicina do Trabalho”. Nesse famoso tratado, o autor descreve, com extrema
perfeição, uma série de doenças relacionadas com cerca de 50 profissões
diversas. (SOARES; JESUS; STEFFEN, 1994).

A partir daí e principalmente após a Revolução Industrial (1760 a 1830),


os estudos avançaram até surgirem às primeiras leis trabalhistas, no sentido
de proteger os trabalhadores dos riscos de acidentes e das possíveis doenças
relacionadas ao trabalho e que mudariam toda a história da humanidade.

Em 1802, na Inglaterra, foi aprovada a primeira lei de proteção aos


trabalhadores, chamada de “Lei de Saúde e Moral dos Aprendizes”, e, em
1819, as leis complementares. Em 1862, na França, foi criada a primeira lei de
segurança, higiene e medicina do trabalho, seguida pela Alemanha, em 1865,
e Estados Unidos, em 1921.

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Higiene do Trabalho I

A criação da A Espanha também incorporou as leis de segurança em 1873, proibindo


Organização o trabalho para menores de 10 anos em fábricas e minas, bem como exigindo
Internacional do melhores condições de higiene aos demais trabalhadores.
Trabalho (OIT)
ocorreu em 1919 A criação da Organização Internacional do Trabalho (OIT) ocorreu em
e levou a todos os 1919 e levou a todos os países à evolução das legislações trabalhistas,
países à evolução
estabelecendo, assim, condições necessárias para o desenvolvimento da
das legislações
Medicina do Trabalho, considerando os aspectos técnicos da Higiene Industrial.
trabalhistas,
estabelecendo,
assim, condições No Brasil, o surgimento das leis relacionadas ao trabalho, como seguro
necessárias para o a empregados, criação de conselhos, aposentadorias e pensões, aconteceu
desenvolvimento da entre 1919 e 1930, porém somente 13 anos mais tarde é que foi criada a
Medicina do Trabalho, Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), texto do Decreto-lei n° 5.452, de
considerando os 1° de maio de 1943, em seu Capítulo V do Título II, artigos 154 a 201, que
aspectos técnicos da trata da Segurança e Medicina do Trabalho. Após 34 anos surgiu uma nova
Higiene Industrial. Lei n° 6.514, de 22 de dezembro de 1977, alterando este capítulo da CLT e o
transformando em Normas Regulamentadoras através da Portaria N° 3.214,
de 08 de junho de 1978, aprovando, assim, as normas relativas à Segurança e
Medicina do Trabalho.

Mesmo à luz destas normas, pouco se avançou na prevenção dos


acidentes e das doenças ocupacionais, fato que se comprova, pois ainda somos
um país que paga muito caro em decorrência dos números desses acidentes.

Segundo consta no site do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS),


em 2005 o Brasil teve 491.711 acidentes de trabalho registrados, com maior
incidência aos ferimentos do punho e mão e das doenças ocupacionais:
a sinovite e a tenossinovite, seguidas das lesões nos ombros, gerando um
aumento de 5,6% em relação ao ano anterior. Os últimos dados registrados
pelo INSS através do Anuário Estatístico da Previdência Social (AEPS) foram
em 2010, tendo como consequência um aumento de aproximadamente 43%
em relação a 2005, predominando ferimentos no punho e mãos e as doenças
ocupacionais, as lesões no ombro, seguidas da sinovite e tenossinovite.

Para obter mais informações sobre a Previdência Social,


acesse o site:

http://www.mpas.gov.br/

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Capítulo 1 Higiene do Trabalho I

Como já vimos, os acidentes não param de acontecer. É necessário,


então, o comprometimento dos nossos governantes, empregadores, sindicatos
e trabalhadores no sentido de reduzir drasticamente estes índices que tanto
nos atormentam, a fim de estabelecer uma cultura que promova condições de
higiene e trabalho seguro.

Conceitos
A Higiene do Trabalho é uma das ciências que atuam no campo da Saúde
Ocupacional, aplicando os princípios e recursos da Engenharia e da Medicina,
no controle e na prevenção das doenças ocupacionais. Estas, chamadas
também de doenças do trabalho ou moléculas profissionais, são estados
patológicos característicos, diretamente atribuíveis às condições ambientais
ou de execução de determinadas atividades remuneradas. (COX,1981).

Saúde Ocupacional: é aquela que visa à promoção e


manutenção, no mais alto grau do bem-estar físico, mental e
social dos trabalhadores em todas as ocupações; à prevenção,
entre os trabalhadores, de doenças ocupacionais causadas
por suas condições de trabalho; à proteção dos trabalhadores
em seus labores, dos riscos resultantes de fatores adversos
à saúde; à colocação e conservação dos trabalhadores nos
ambientes ocupacionais adaptados às suas aptidões fisiológicas
e psicológicas. (Comitê misto da Organização Internacional do
Trabalho-OIT e da Organização Mundial da Saúde - OMS, 1950).

Higiene do trabalho
Classicamente, a higiene do trabalho costuma ser definida como sendo costuma ser definida
a ciência e a arte dedicadas ao reconhecimento, avaliação e controle de como sendo a ciência
fatores e riscos ambientais originados nos postos de trabalho e que podem e a arte dedicadas
causar enfermidade, prejuízos para a saúde ou bem-estar dos trabalhadores, ao reconhecimento,
também tendo em vista o possível impacto nas comunidades vizinhas e no avaliação e controle
meio ambiente em geral. (SALIBA et al., 2002). de fatores e riscos
ambientais originados
Ela é encarada por muitos como a área em que se unem e completam nos postos de
mutuamente a Medicina do Trabalho e a Segurança do Trabalho, que passam trabalho e que podem
a atuar com um único objetivo comum: prevenir os danos à saúde do causar enfermidade,
trabalhador decorrentes das condições do trabalho. prejuízos para a saúde
ou bem-estar dos
trabalhadores.

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Higiene do Trabalho I

Além disso, existe uma relação muito próxima entre a Higiene do Trabalho
e as outras áreas de atuação, como, por exemplo: a Ergonomia para analisar
e fazer a intervenção no ambiente de trabalho, proporcionando melhorias e a
qualidade de vida dos trabalhadores.

Na Segurança do Trabalho sua atuação está voltada à inspeção, avaliação


e o controle dos riscos no ambiente de trabalho, bem como a Engenharia que
está presente em todas as áreas de atuação no campo profissional.

Os outros segmentos mostrados na Figura 1 também são importantes


porque estão presentes em todas as atividades e porque fornecem dados
essenciais e subsídios técnicos para o desenvolvimento de ações na melhoria
do ambiente de trabalho.

Na Figura 1 podemos verificar a relação das áreas de atuação no campo


da Higiene do Trabalho e que possuem interligações entre si.

Figura 1 – Relacionamento com ramos profissionais

Fonte: Adaptado de Saliba e colaboradores (2002).

Partindo do princípio de que os riscos ambientais contribuem na


formação de situações de risco, a Higiene do Trabalho é então a responsável
pela identificação e avaliação, objetivando a determinação das melhorias
necessárias para a correção destas condições, que, por sua vez, acarretariam
prejuízos à saúde dos trabalhadores.

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Capítulo 1 Higiene do Trabalho I

A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera que para um bom Para um bom
programa de Higiene do Trabalho devemos considerar os seguintes aspectos: programa de Higiene
do Trabalho devemos
• Determinar e combater nos lugares de trabalho todos os fatores físicos, considerar os
químicos, mecânicos, biológicos e psicossociais de reconhecida presença seguintes aspectos:
da nocividade;
- Determinar e
combater nos
• Conseguir que o esforço físico e mental que exige de cada trabalhador no
lugares de trabalho
exercício de sua profissão esteja adaptado às suas atitudes, necessidades
todos os fatores
e limitações anatômicas, fisiológicas e psicológicas; físicos, químicos,
mecânicos, biológicos
• Adotar medidas eficazes para proteger as pessoas que sejam especialmente e psicossociais de
vulneráveis às condições prejudiciais no ambiente de trabalho e reforçar a reconhecida presença
sua capacidade de resistência; da nocividade;

• Descobrir e corrigir aquelas condições de trabalho que podem deteriorar


a saúde dos trabalhadores, a fim de conseguir que a morbidez geral
dos diferentes grupos profissionais não seja superior a do conjunto da
população;

• Educar e orientar a administração e os trabalhadores no cumprimento de


suas obrigações no que diz respeito à proteção e ao fomento da saúde;

• Aplicar nas empresas programas de ação sanitária, consolidando todos os


aspectos da saúde, pois ajudará os serviços de saúde pública a elevarem o
nível sanitário da coletividade.

Nesse sentido, o profissional da área da segurança do trabalho deve estar


apto para:

• Reconhecer os riscos profissionais capazes de ocasionar alterações na


saúde do trabalhador ou afetar o seu conforto e eficiência;

• Avaliar a magnitude desses riscos, através da experiência e treinamento, e


com o auxílio de técnicas de avaliação quantitativa;

• Prescrever medidas para eliminá-los ou reduzi-los a níveis aceitáveis.

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Higiene do Trabalho I

Figura 2 – Riscos ambientais

Fonte: Disponível em: <http://www.pixel.art.br/sindsep/


cipa/cipa.html> Acesso em: 07 fev. 2013.

A Figura 2 nos dá uma visão geral do que é o trabalho em condições


precárias, com vários tipos de riscos ocupacionais que podem ser identificados,
promovendo assim, acidentes de trabalho.

Dentro do campo da higiene do trabalho podemos citar três aspectos


importantes que contribuem para a prevenção da saúde do trabalhador:
Segundo o Comitê
de Estudos da • Saúde Ocupacional;
Organização
Internacional do • Medicina do Trabalho;
Trabalho (OIT) e a
Organização Mundial
• Segurança do Trabalho.
da Saúde (OMS), a
Saúde Ocupacional
tem como finalidade Segundo o Comitê de Estudos da Organização Internacional do Trabalho
promover e manter (OIT) e a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Saúde Ocupacional tem
o mais alto grau do como finalidade promover e manter o mais alto grau do bem-estar físico,
bem-estar físico, mental e social dos trabalhadores em todas as profissões; evitar todo o dano à
mental e social dos saúde causado pelas condições de trabalho; protegê-los dos riscos resultantes
trabalhadores em da presença de agentes nocivos; colocar e manter os trabalhadores em tarefas
todas as profissões; adequadas às suas aptidões fisiológicas e psicológicas e, em suma, adaptar o
evitar todo o dano à trabalho ao homem e cada homem ao seu trabalho.
saúde causado pelas
condições de trabalho. O enfoque primitivo consistia em fornecer o tratamento aos trabalhadores
afetados por acidentes ou condições ambientais adversas e controlar os
riscos tóxicos evidentes, cujas ações se originavam em reclamações por
compensações. Hoje, a situação é um pouco diferente, pois a empresa é
obrigada por lei a proteger a saúde de seus trabalhadores, porém, em muitas

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Capítulo 1 Higiene do Trabalho I

situações precárias de trabalho, ainda pagamos a compensação em forma do


adicional de insalubridade.

A Medicina do Trabalho é um segmento da medicina tradicional,


porém com características diferenciadas dentro de um programa de saúde
ocupacional, objetivando a realização das avaliações da capacidade física,
mentais e emocionais, para que o trabalhador possa iniciar suas atividades
laborais sem correr riscos para si e para seus colegas de trabalho.

Muitas empresas possuem um Serviço Especializado em Engenharia e


em Medicina do Trabalho (SESMT) composto por engenheiros de segurança,
técnicos de segurança, enfermeiros do trabalho e médicos do trabalho que
dão assistência médica em casos de emergência, de lesões ou doenças
ocupacionais. Também o SESMT elabora o programa de controle médico
de saúde ocupacional de acordo com a Norma Regulamentadora NR-7 do
Ministério do Trabalho e Emprego, prevenindo, assim, a saúde do trabalhador. A Segurança do
Trabalho trata
A Segurança do Trabalho trata da prevenção de acidentes no trabalho. da prevenção de
acidentes no trabalho.
Nesse sentido, a elaboração do programa de prevenção de riscos
ambientais é fundamental para salvaguardar o trabalhador dos possíveis
riscos que possam ocorrer durante o seu trabalho laboral. O PPRA, como é
chamado, está amparado pela Norma Regulamentadora NR-9 do Ministério do
Trabalho e Emprego.

BRASIL. Manuais de Legislação Atlas: Segurança e medicina


do trabalho. São Paulo: Editora Atlas, 2012.

ARAUJO, Giovanni Moraes de. Normas regulamentadoras


comentadas. Rio de Janeiro: Editora Gvc, 2011.

POSSIBOM, Walter Luiz Pacheco. NRs 7, 9 e 17: PCMSO-


PPRA-Ergonomia. São Paulo: Editora LTr, 2001.

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Higiene do Trabalho I

Riscos Ambientais
São os agentes físicos, químicos e biológicos presentes nos ambientes de
trabalho capazes de produzir danos à saúde, quando superados os respectivos
limites de tolerância. Estes limites são fixados em razão da natureza, concentração
ou intensidade do agente e tempo de exposição. (SALIBA et al., 2002).

A NR-9 considera como os agentes físicos o ruído, vibrações, pressões


anormais, temperaturas extremas, radiações ionizantes, radiações não
ionizantes, infrassom e ultrassom. Os agentes químicos que possam estar
expostos os trabalhadores são considerados as poeiras, fumos, névoas,
neblinas, gases ou vapores e os agentes biológicos como as bactérias, fungos,
bacilos, parasitas, protozoários, vírus, entre outros.

Esses agentes que, muitas vezes, são consequências do próprio processo


de transformação da matéria-prima em produtos, são capazes de dispersar
substâncias químicas ou poeiras diversas que, ao serem absorvidas pelo
organismo, podem provocar as ditas doenças ocupacionais ao trabalhador.

Os riscos ambientais são classificados em cinco grupos: riscos físicos,


riscos químicos, riscos biológicos, riscos ergonômicos e riscos de acidentes.
Porém, como já visto na definição, no Programa de Prevenção de Riscos
Ambientais (PPRA), os riscos ergonômicos e os de acidentes não são
contemplados por se tratar de riscos que não agridem o ambiente de trabalho.

Riscos Físicos
Segundo a NR-9, os Segundo a NR-9, os agentes físicos são as diversas formas de energia a
agentes físicos são
que possam estar expostos os trabalhadores.
as diversas formas de
energia a que possam
São encontrados nos diversos locais de trabalho, como nas máquinas
estar expostos os
trabalhadores. desprotegidas, na manutenção inadequada das ferramentas ou equipamentos
elétricos, mecânicos, pneumáticos e hidráulicos, no processo produtivo ou nas
diversas operações de trabalho.

Nos capítulos II, III, IV, V e VI deste caderno, abordaremos estes agentes
agressivos com maior profundidade, a fim de conhecer os seus conceitos, as
formas de avaliação, análise e o controle. As pressões anormais, radiações
ionizantes, radiações não ionizantes, infrassom e ultrassom, serão conhecidos
na disciplina de Higiene II.

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Capítulo 1 Higiene do Trabalho I

Riscos Químicos
A NR-9 considera agentes químicos as substâncias, compostos ou
produtos que possam penetrar no organismo pela via respiratória, ou que, pela
natureza da atividade de exposição, possam ter contato ou ser absorvidos pelo
organismo através da pele ou por ingestão.

O controle destes agentes químicos que contaminam o ar requer Existem quatro


conhecimentos do profissional da área da segurança e medicina do trabalho maneiras de contato
para proteger os trabalhadores da ação destes elementos. A melhor solução é a destes agentes: pelo
eliminação, porém, não havendo esta possibilidade, devemos, então, requerer contato com a pele ou
ações para minimizar a exposição e, consequentemente, o tratamento para via cutânea, inalação
manter o ambiente menos agressivo. por via respiratória,
pela boca ou via
Existem quatro maneiras de contato destes agentes: pelo contato com a digestiva e pela via
parenteral.
pele ou via cutânea, inalação por via respiratória, pela boca ou via digestiva e
pela via parenteral.

Os contaminantes químicos são classificados de acordo com a sua forma


de apresentação e pelos efeitos no organismo. As Figuras 3 e 4 mostram a
ocorrência de situações de contatos e manuseio destes agentes.

Figuras 3 e 4 – Manuseio de agentes químicos

Fonte: Disponível em: <http://office.microsoft.com/pt-br/images/results.


aspx?qu=produtos+quimicos&ex=1>. Acesso em: 07 fev. 2013.

O contato pela via cutânea é a que afeta a maioria dos trabalhadores


envolvidos nos ambientes agressivos, seguido da via respiratória. Para
compreendermos os processos de absorção, é necessário conhecermos os
mecanismos do sistema respiratório, digestivo e a superfície que envolve o
corpo humano.

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Higiene do Trabalho I

A via respiratória é um sistema formado por nariz, boca, laringe, brônquios


e alvéolos pulmonares. É a via de entrada mais importante para a maioria
dos contaminantes químicos. Qualquer substância em suspensão no ar
pode ser inalada, porém somente as partículas que possuem um tamanho
adequado é que podem chegar aos alvéolos. A quantidade total absorvida
de um contaminante é em função da concentração no ambiente, o tempo de
exposição e da ventilação pulmonar. (FUNDACIÓN MAPFRE, 1996). Para
melhor entendermos a passagem do fluxo do ar contaminado até chegar ao
pulmão, apresentamos na Figura 5 o sistema respiratório.

Figura 5 – Sistema respiratório

Fonte: Putz e Pabst (2001).

O destino de um contaminante do ar, uma vez que tenha chegado à zona


mais profunda do pulmão (alvéolo) para provocar uma lesão, vai depender da
sua solubilidade e reatividade. As substâncias mais solúveis e reativas podem
provocar reações inflamatórias agudas e edema pulmonar, entretanto, algumas
substâncias particuladas ou em estado de vapor que chegam à profundidade
do pulmão são capazes de serem absorvidas pelo sangue. (CONSEJO
INTERAMERICANO DE SEGURIDAD).

LEMBRE-SE: A dosagem por inalação de um agente químico


depende da sua concentração no ambiente de trabalho e do tempo
de exposição.

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Capítulo 1 Higiene do Trabalho I

A via dérmica ou cutânea compreende toda a superfície que envolve o


corpo humano. Não são todas as substâncias que podem penetrar através da
pele, já que para algumas a pele é impermeável.

Segundo Silva Filho (1999), o sistema digestivo compreende os


órgãos responsáveis pela mastigação, ingestão e absorção dos alimentos
e eliminação dos resíduos decorrentes da digestão. É um longo tubo
músculo-membranoso, dividido em boca, faringe, esôfago, estômago,
intestino delgado e intestino grosso.

Esta via para a Higiene Ocupacional tem pouca importância, salvo para
os trabalhadores que se alimentam no próprio local de trabalho, utilizando-
se de talheres e copos às vezes contaminados ou em situações precárias
para tal atividade.

A via parenteral é entendida como sendo a penetração direta do


contaminante no organismo através de uma descontinuidade da pele, ou seja,
o contaminante penetra pelas feridas ou cortes, principalmente em regiões
muito vascularizadas.

Quadro 1 – Vias de entrada dos contaminantes químicos

VIAS DE ENTRADA DOS CONTAMINANTES QUÍMICOS

É a via de penetração de
substâncias tóxicas���������������
mais importan�
tes no meio ambiente de trabalho,
VIA RESPIRATÓRIA
já que com o ar que respiramos po�
Através do nariz, boca até
dem penetrar no nosso organismo
os pulmões.
as poeiras, fumos, gases, aerossóis
e vapores de produtos voláteis.

É a via de penetração de muitas


substâncias que atravessam a pele,
sem causar erosões ou alterações,
VIA DÉRMICA
incorporando ao sangue e poste�
Através da pele.
riormente serem distribuídas por
todo o corpo.

É a via de penetração através da


boca, o esôfago, o estômago e
VIA DIGIGESTIVA os intestinos. Também devemos
Através da boca, estôma� considerar a possível ingestão de
go, intestinos, etc. contaminantes dissolvidos nas mu�
cosidades do sistema respiratório.
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Higiene do Trabalho I

É a via de penetração direta do


VIA PARENTERAL
contaminante no corpo através dos
Através dos ferimentos e
cortes ou ferimentos no corpo.
cortes na pele.

Fonte: Adaptado do Instituto Nacional de Seguridade e Higiene no Trabalho (2012).

Os riscos químicos estão definidos em duas classes: gases/vapores e


aerodispersoides, como podemos observar na Figura 6.

Figura 6 – Os riscos químicos

Os gases se aplicam
a substâncias
que são gasosas Fonte: Adaptado de Soares, Jesus e Steffen (1994, p. 76).
a temperaturas e
pressão ambientais e Os gases se aplicam a substâncias que são gasosas a temperaturas e
vapor a fase gasosa pressão ambientais e vapor a fase gasosa de uma substância que é sólida
de uma substância ou líquida nestas condições. Tanto os gases como os vapores formam
que é sólida ou líquida verdadeiras dissoluções na atmosfera. Caracterizam-se por permanecer no
nestas condições. ambiente durante longos períodos de tempo e se expandem rapidamente
no espaço e, em muitas ocasiões, não apresentam cheiro e cor. Por isso,
devemos prestar muita atenção a essas substâncias que se encontram neste
estado. Podemos exemplificar o uso de gases em operações industriais, como
na soldagem oxiacetilênica com atmosfera inerte, assim como os vapores
orgânicos presentes em solventes na limpeza e desengraxe,entre outros.

A presença desses agentes químicos no ar podem causar riscos à


saúde dos trabalhadores, porém não significa que esta exposição possa
acarretar uma doença ocupacional. Para que isso aconteça é necessário
que o trabalhador fique exposto a uma determinada concentração durante
um determinado tempo. Cada tipo de produto químico possui um Limite de
Tolerância em que o trabalhador possa ficar exposto repetida e diariamente
sem acarretar comprometimento à saúde.

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Capítulo 1 Higiene do Trabalho I

A Norma Regulamentadora NR-15 (Atividades e Operações Insalubres), em


seu Anexo N°11, trata dos agentes químicos cuja insalubridade é caracterizada
por limite de tolerância e inspeção no local de trabalho. A insalubridade só
ocorrerá quando forem ultrapassados os limites de tolerância constantes neste
anexo. Já o Anexo N°13 trata dos agentes químicos, considerados insalubres
em decorrência de inspeção realizada no local de trabalho.

Aerodispersoides são dispersões de partículas sólidas ou


líquidas, de tamanho bastante reduzido, que podem manter-
se por longo tempo em suspensão no ar. (SOARES; JESUS;
STEFFEN, 1994).

Estas partículas podem ser sólidas, como as poeiras provenientes


do processo de corte e retificação de pedras em marmorarias, pedreiras,
afiação de ferramentas de corte ou, ainda, em minas de carvão, e os fumos
metálicos provenientes da fusão de metais, além de fumaças decorrentes
da combustão de materiais. As poeiras são relativamente grandes,
possuindo tamanhos que variam de ¼ a 20 microns, capazes de estar
temporariamente suspensas ao ar.

A NR-15, em seu Anexo n°12, define o limite de tolerância para poeiras


minerais, especificamente para o asbesto, manganês e seus compostos e
para a sílica cristalizada. Outras poeiras são consideradas insalubres e são
apresentadas no Anexo 13 desta Norma Regulamentadora.

As partículas líquidas que podem estar presentes na forma de névoas


são particulados que possuem de 0,01 a 10 microns e são geradas por
condensação de um estado gasoso ou desintegração de um estado líquido
por atomização, ebulição ou outros. As neblinas variam entre 2 a 60 microns,
vistas a olho nu, são originadas de condensação do estado gasoso. (SILVA
FILHO, 1999)

Os riscos ocupacionais (físicos, químicos e biológicos) presentes


no ambiente de trabalho e que podem causar danos à saúde devem ser
reconhecidos, avaliados e controlados. Para tanto, necessitamos elaborar o
Laudo Técnico das Condições Ambientais de Trabalho (LTCAT) / Laudo dos
Riscos Ambientais (LRA). A partir desses laudos, a empresa poderá elaborar
o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) e o Programa de
Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO).

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Higiene do Trabalho I

Todas as empresas são obrigadas a elaborar e a manter estes laudos


sob a sua guarda para efeitos de fiscalização e, principalmente, para o
Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do
Trabalho (SESMT) e para a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes
(CIPA). O SESMT e a CIPA devem fiscalizar e implementar as medidas de
segurança necessárias ao ambiente de trabalho, objetivando a eliminação
ou redução desses agentes, ou, quando esgotar todos os meios possíveis,
utilizar os equipamentos de segurança para a proteção e a integridade
física dos seus trabalhadores.

MANUAIS DE LEGISLAÇÃO ATLAS. Segurança e medicina


do trabalho. São Paulo:Editora Atlas, 2012.

ARAUJO, Giovanni Moraes de. Normas regulamentadoras


comentadas. Editora Gvc, 2011.

SALIBA, Tuffi Messias et al. Higiene do trabalho e programa


de prevenção de riscos ambientais. 3. ed. São Paulo: LTr Editora
Ltda, 2002.

Revista CIPA.

Revista PROTEÇÃO.

Riscos Biológicos
Segundo a Norma Regulamentadora NR-32, considera-se Risco
Biológico a probabilidade da exposição ocupacional a agentes biológicos. Os
agentes biológicos citados na norma são os microrganismos, geneticamente
modificados ou não, as culturas de células, os parasitas, as toxinas e os príons.

O Instituto Nacional de Seguridad e Higiene en el Trabajo – INSHT,


órgão do Ministério do Emprego e Segurança Social do governo espanhol,
complementa que a exposição destes agentes e pela atividade laboral
podemos considerar as seguintes situações:

• Atividades profissionais em que existe a intenção deliberada de manipular


ou utilizar agentes biológicos em diagnósticos microbiológicos ou
nas indústrias cujos processos se utilizam destes agentes, como as
farmacêuticas, de alimentos e as de biotecnologia, etc.
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Capítulo 1 Higiene do Trabalho I

• Atividades profissionais em que não existe a intenção deliberada de


manipular estes agentes, porém pode existir a exposição devido à natureza
do trabalho como, por exemplo, os centros de produção de alimentos,
trabalhos agrários ou pelo contato com os animais e/ou seus produtos, na
coleta de lixo urbano e em tratamento de residuais.

A simbologia utilizada mundialmente para a contaminação ou perigo


biológico é representada de acordo com a Figura 7.

Figura 7 – Simbologia aplicada aos riscos biológicos

Fonte: Disponível em: <http://www.quimicaonline.


net/?p=1565>. Acesso em: 14 fev. 2013.

Os riscos biológicos estão presentes em quase todas as atividades


exercidas por trabalhadores que laboram em ambientes onde possam Os riscos biológicos
estar presentes esses agentes. Nesse sentido, às vezes, não depende da estão presentes
vontade do trabalhador em estar exposto aos riscos biológicos, como é o em quase todas as
atividades exercidas
caso do trabalho em hospitais, laboratórios clínicos, lixo urbano, cemitérios
por trabalhadores que
(exumação de corpos), estábulos e cavalariças, resíduos de animais
laboram em ambientes
deteriorados, entre outros.
onde possam estar
presentes esses
Nessas atividades são encontrados os microrganismos que são formas de agentes.
vida de dimensões microscópicas, ou seja, organismos visíveis individualmente
apenas ao microscópio e se classificam segundo as características em cinco
grupos principais:

• Bactérias.

• Protozoários.

• Vírus.

• Fungos.

• Parasitas.

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Higiene do Trabalho I

Para melhorar os conhecimentos indicamos o site:

www.sobiologia.com.br

PARASITA: organismo que sobrevive e se desenvolve a


expensas de um hospedeiro, podendo localizar-se no interior ou no
exterior deste. Usualmente causa algum dano ao hospedeiro.

PRÍONS: partículas proteicas infecciosas que não possuem


ácidos nucleicos.

A Norma Regulamentadora NR-32, em sua redação dada pela Portaria no


485 de 11 de novembro de 2005, classifica os agentes biológicos de acordo
com as seguintes classes de risco:

Classe de risco 1: baixo risco individual para o trabalhador e para a


coletividade, com baixa probabilidade de causar doença ao ser humano. Esta
classe contempla os agentes não perigosos ou de mínimo perigo e que não
exigem equipamentos ou profissionais qualificados para a sua manipulação.

Classe de risco 2: risco individual moderado para o trabalhador e com


baixa probabilidade de disseminação para a coletividade. Podem causar
doenças ao ser humano, para as quais existem meios eficazes de profilaxia ou
tratamento.

A classe 2 está representada por agentes de perigo potencial comum, mas


podem ser controlados, de forma segura, por técnicos de laboratório.

Classe de risco 3: risco individual elevado para o trabalhador e com


probabilidade de disseminação para a coletividade. Podem causar doenças
e infecções graves ao ser humano, para as quais nem sempre existem meios
eficazes de profilaxia ou tratamento.

Esta classe requer condições restritivas especiais. Nesse caso, somente


profissionais especialmente habilitados podem trabalhar com este tipo de risco
e, ainda, devem seguir às orientações de procedimentos estabelecidos para
tal finalidade.

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Capítulo 1 Higiene do Trabalho I

Classe de risco 4: risco individual elevado para o trabalhador e com


probabilidade elevada de disseminação para a coletividade. Apresenta grande
poder de transmissibilidade de um indivíduo para outro. Pode causar doenças
graves ao ser humano, para as quais não existem meios eficazes de profilaxia
ou tratamento.

Na Classe 4 são enquadrados os agentes que requerem as condições


restritivas mais estreitas, por sua extrema periculosidade ou porque podem
causar epidemias.

O INSHT resume as quatro classes de agentes biológicos de acordo com


o Quadro 2.

Quadro 2 – Características dos agentes biológicos segundo sua


classificação dentro de um grupo de risco determinado

CLASSE DE RISCO DE PROPAGAÇÃO PROFILAX OU


RISCO DE INFECÇÃO
RISCO A COLETIVIDADE TRATAMENTO EFICAZ

Pouco provável que cause


1 Não Não necessário
enfermidade

Podem causar uma enfer�


2 midade e constituir um peri� Pouco provável Geralmente possível
go para os trabalhadores

Pode provocar uma enfer�


midade grave e constituir
3 Provável Geralmente possível
um sério perigo para os
trabalhadores

Provocam uma enfermi�


dade grave e constituem Não conhecido na
4 Elevado
um sério perigo para os atualidade
trabalhadores

Fonte: Disponível em: <http://www.insht.es/portal/site/Insht/menuitem.


1f1a3bc79ab34c578c2e8884060961ca/?vgnextoid=d8388dd6caa6
2110VgnVCM100000dc0ca8c0RCRD&vgnextchannel=75164a7f8a651
110VgnVCM100000dc0ca8c0RCRD>. Acesso em: 14 fev. 2013.

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Higiene do Trabalho I

A NR-15, em seu Anexo N°14, relaciona as atividades que envolvem


agentes biológicos cuja insalubridade é caracterizada pela avaliação qualitativa:

a) Insalubridade de grau máximo

• Trabalhos ou operações em contato permanente com:

• Pacientes em isolamento por doenças infectocontagiosas, bem como


objetos de seu uso, não previamente esterilizados;

• Carnes, glândulas, vísceras, sangue, ossos, couros, pelos e dejeções


de animais portadores de doenças infectocontagiosas (carbunculose,
brucelose, tuberculose);

• Esgotos (galerias e tanques);

• Lixo urbano (coleta e industrialização).

b) Insalubridade de grau médio

• Trabalhos e operações em contato permanente com pacientes, animais ou


com material infecto contagiante em:

• Hospitais, serviços de emergência, enfermarias, ambulatórios, postos


de vacinação e outros estabelecimentos destinados aos cuidados da
saúde humana (aplica-se unicamente ao pessoal que tenha contato com
os pacientes, bem como aos que manuseiam objetos de usos desses
pacientes, não previamente esterilizados);

• Hospitais, ambulatórios, postos de vacinação e outros estabelecimentos


destinados ao atendimento e tratamento de animais (aplica-se apenas ao
pessoal que tenha contato com tais animais);

• Contato em laboratórios, com animais destinados ao preparo de soro,


vacinas e outros produtos;

• Laboratórios de análise clínica e histopatologia (aplica-se tão só ao pessoal


técnico);

• Gabinetes de autópsias, de anatomia e histoanatomopatologia (aplica-se


somente ao pessoal técnico);

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Capítulo 1 Higiene do Trabalho I

• Cemitérios (exumação de corpos);

• Estábulos e cavalariças;

• Resíduos de animais deteriorados.

A insalubridade considerada pela norma regulamentadora para agentes


biológicos é dada pelos percentuais de 20% e 40% do salário mínimo vigente
no país.

LEMBRE-SE: No contato com agentes biológicos devemos


estar sempre atentos à possibilidade da ocorrência de um acidente
e, para isso, é importante observar as normas de segurança
existentes e se proteger.

Algumas medidas de prevenção e proteção que podemos adotar quanto


ao contato com os agentes biológicos:

• Instruir e informar os trabalhadores quanto ao risco biológico.

• Reduzir quando possível o número de pessoas expostas ao agente biológico.

• Estabelecer normas e procedimentos de trabalho à exposição ao agente


biológico.

• Criar um plano de emergência frente aos acidentes de trabalho destes


agentes.

• Utilizar meios de proteção como os equipamentos de proteção individual


(EPI) para a situação de risco como: máscaras faciais, óculos, avental,
luvas, botas (quando houver necessidade) e uniformes de trabalho.

• Sinalizar o local do perigo, utilizando a simbologia e informando seus riscos.

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Higiene do Trabalho I

Atividade de Estudos:

1) Através do Quadro 2, na classe de risco 3, pesquise sobre 5


atividades que possam provocar uma enfermidade grave e
constituir um sério perigo aos trabalhadores.
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Acidentes de Trabalho
Acidente do trabalho A Constituição Federal de 1988 fortaleceu a questão da responsabilidade
é o que ocorre pelo civil do empregador e a garantia ao seguro do trabalho para os trabalhadores
exercício do trabalho urbanos e rurais. O acidente de trabalho pode acarretar várias consequências
a serviço da empresa jurídicas ao empregador, resultando, inclusive, na indenização ou, até mesmo,
ou pelo exercício
numa ação criminal.
do trabalho dos
segurados referidos
Ele está definido em vários documentos legais, como, por exemplo, no
no inciso VII do art. 11
desta Lei, provocando artigo 19 da Lei no 8.213/91, que trata dos benefícios da Previdência Social,
lesão corporal ou a apresentado da seguinte forma:
perturbação funcional
que cause a morte Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do
trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho
ou a perda ou dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei,
redução, permanente provocando lesão corporal ou a perturbação funcional que
ou temporária, da cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou
capacidade para o temporária, da capacidade para o trabalho.
trabalho.

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Capítulo 1 Higiene do Trabalho I

§ 1º A empresa é responsável pela adoção e uso das


medidas coletivas e individuais de proteção e segurança da
saúde do trabalhador.

§ 2º Constitui contravenção penal, punível com multa, deixar


a empresa de Cumprir as normas de segurança e higiene do
trabalho.

§ 3º É dever da empresa em prestar informações


pormenorizadas sobre os riscos da operação a executar e
do produto a manipular.

§ 4º O Ministério do Trabalho e da Previdência Social


fiscalizará e os sindicatos e entidades representativas de
classe acompanharão o fiel cumprimento do disposto nos
parágrafos anteriores, conforme dispuser o Regulamento.

Segundo Barsano (2011), a palavra acidente é de origem latina e definida


como qualquer fato inesperado e indesejado que interrompe o andamento
normal de um acontecimento, causando naquele que sofre essa ação um
determinado dano, seja à integridade física, seja ao patrimônio, seja a ambos.

Se analisarmos uma situação em que você está praticando um


determinado tipo de esporte e se machuca, não podemos dizer que foi um
acidente de trabalho, e sim uma lesão ocorrida durante a prática do esporte.
Porém se o funcionário que trabalha no local onde houve a prática do esporte
sofre um acidente, então, consideramos que foi um acidente de trabalho porque
a atividade ali desenvolvida e suas ferramentas de trabalho fazem parte da
tarefa desse funcionário. Nesse sentido, qualquer tipo de ocorrência, mesmo
não havendo alguma perturbação ou dano físico, é considerado acidente de
trabalho, pois o simples fato de danificar uma ferramenta ou equipamento
caracterizou naquele momento o acidente. Esta ocorrência deve ser registrada
e computada como acidente sem lesão para que os serviços especializados
de segurança e medicina do trabalho (SESMT), bem como a comissão interna
de prevenção de acidentes (CIPA) possam fazer a análise e, posteriormente,
adotar medidas preventivas para eliminar tal ocorrência.

Não devemos confundir o acidente com a lesão. A lesão é uma


consequência ou o resultado de um acidente. Outrossim, nem sempre um
acidente resulta numa lesão ou numa enfermidade.

Para caracterizar o acidente, é importante considerar os seguintes aspectos:

• O eve nto causador do acidente;

• A existência do dano pessoal e

• Estabelecer o nexo causal entre o dano e o evento.

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Higiene do Trabalho I

Como exemplos de acidentes de trabalho, podemos citar:

1) Um operário encontrava-se trabalhando numa cobertura de um prédio


industrial cujo telhado era com telhas onduladas de fibrocimento. Em um
dado momento, dando uma pisada em falso, o operário caiu de uma altura
de 5 metros e quebrou a perna e algumas costelas. Nesse caso, houve um
acidente de trabalho resultando em lesões.

2) Um operador de uma prensa depois de colocada a peça na máquina


para fazer a operação de prensagem deixou por descuido sobre a
mesa um instrumento de medição e a acionou, danificando, assim, o
instrumento. Houve o acidente de trabalho, porém sem a lesão, mas
com danos materiais.

Sob qualquer ponto de vista, contudo, acidentes do trabalho são


ocorrências altamente indesejáveis, que devem ser evitadas e controladas
através das várias técnicas prevencionistas.

LEMBRE-SE: A doença ocupacional é considerada legalmente


como um acidente de trabalho, muito embora seus efeitos possam
se manifestar após anos de exposição.

A Norma Regulamentadora NR-4 trata dos Serviços Especializados em


Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho. Em seu item 4.14 da
competência, cabe aos profissionais integrantes do SESMT:

[...] analisar e registrar em documentos específicos todos os


acidentes ocorridos na empresa ou estabelecimento, com
Participar, em conjunto ou sem vítima, e todos os casos de doença ocupacional,
com o SESMT, onde descrevendo a história e as características do acidente
houver, ou com o e/ou da doença ocupacional, os fatores ambientais, as
características do agente e as condições do indivíduo
empregador da análise
portador de doença ocupacional ou acidentado.
das causas das
doenças e acidentes
Cabe, ainda, à Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA/NR-
de trabalho e propor
medidas de solução 5), “participar, em conjunto com o SESMT, onde houver, ou com o empregador
dos problemas da análise das causas das doenças e acidentes de trabalho e propor medidas
identificados. de solução dos problemas identificados”.

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Capítulo 1 Higiene do Trabalho I

Atividade de Estudos:

Um trabalhador de uma determinada empresa sempre utilizou


os serviços de transporte contratados pela empresa para o
deslocamento de casa para o trabalho e vice-versa. Em certo dia,
este trabalhador optou por não usar este serviço e foi trabalhar com
o seu próprio veículo. No deslocamento para sua residência sofreu
um acidente de trânsito, tendo algumas escoriações no corpo
e a quebra do braço direito. Antes do acidente, este trabalhador
desviou seu trajeto convencional para passar no supermercado,
ficando em torno de 30 minutos. Geralmente, o transporte feito
pela empresa terceirizada era feito em 15 minutos da empresa até
a sua casa.

Responda:

1) Podemos considerar o acidente como um acidente de trajeto?


Explique.
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a) Causas do acidente
Ato Inseguro é um
Tecnicamente existem três causas de acidentes: atos inseguros, condições termo técnico utilizado
inseguras e fator pessoal de insegurança. em prevenção de
acidentes que,
conforme a escola,
Segundo Piza (1997), o Ato Inseguro é um termo técnico utilizado em
possui definições
prevenção de acidentes que, conforme a escola, possui definições diferentes,
diferentes, porém com
porém com o mesmo significado. o mesmo significado.

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Higiene do Trabalho I

Entende-se ato inseguro como sendo as causas de acidentes


do trabalho que residem exclusivamente no fator humano, isto
é, aqueles que decorrem da execução de tarefas de uma forma
contrária às normas de segurança.

Exemplos bastante comuns de atos inseguros, frequentemente observados


na indústria, são: utilizar ferramentas defeituosas, realizar manutenção em
máquinas ou equipamentos em operação, não usar equipamento de proteção
individual, adotar posição inadequada para realizar uma tarefa, eliminar os
dispositivos de segurança, entre outros.

A condição insegura, segundo Barsano e Barbosa(2012), são os fatores


ambientais de risco a que o trabalhador está exposto, em que ele não exerce
nenhuma influência para sua ocorrência. Entretanto, essas condições podem
também ser geradas pelo próprio trabalhador que, pela natureza do seu trabalho
ou pelo desvio de atenção de suas tarefas ou por hábito comportamental,
colocam em risco os seus colegas de trabalho. Podem-se citar algumas
condições inseguras, como os espaços de trabalho em desacordo com as
normas de segurança, condições ambientais como gases, poeiras e vapores
com risco à saúde, exposição ao ruído, iluminação excessiva ou deficiente,
máquinas ou equipamentos sem proteção ou defeituosas, falta de manutenção
das máquinas, fiações elétricas expostas, máquinas sem os dispositivos de
segurança, etc.

Nessas situações, podemos perguntar: Por que ocorreu a condição


insegura? Por que deixamos trabalhar com equipamento defeituoso? Por que
a chefia não impediu o trabalho, sabendo da situação de risco? Enfim, são
várias as atitudes que podem evitar os acidentes de trabalho.

O fator pessoal de insegurança são as falhas humanas decorrentes,


na maior parte das vezes, de problemas de ordem psicológica (depressão,
tensão, excitação, neuroses, etc.), social (problemas de relacionamentos,
preocupações com necessidades sociais, educação, dependências químicas,
etc.), congênitos ou de formação cultural, que alteram o comportamento do
trabalhador, permitindo que cometa Atos Inseguros. (PIZA, 1997).

Alguns exemplos de fator pessoal de insegurança são a falta de


conhecimento para realizar a tarefa, falta de habilidade, não estar motivado
para o trabalho, capacidade física ou mental inadequada, estresse, problemas
de ordem social ou familiar, etc.

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Capítulo 1 Higiene do Trabalho I

b) Consequências do acidente

O acidente de trabalho por sua natureza ou seus efeitos pode gerar O acidente de trabalho
doenças ocupacionais ou lesões com as suas devidas gravidades que podem por sua natureza
interferir no desempenho ou afastamento temporário ou indeterminado ou seus efeitos
do trabalhador. Sendo assim, para podermos analisar as consequências, pode gerar doenças
separamos as lesões em duas categorias: lesão imediata e lesão mediata. ocupacionais ou
lesões com as suas
As lesões imediatas são aquelas que os traumas físicos ou estados devidas gravidades
que podem interferir
patológicos se observam imediatamente, ou no espaço de algumas horas,
no desempenho
após a ocorrência do acidente. É o caso, por exemplo, das lesões traumáticas,
ou afastamento
como cortes, fraturas e escoriações; queimaduras e choques elétricos e,
temporário ou
também, das intoxicações agudas com substâncias nocivas. indeterminado do
trabalhador.
Convém observar que as intoxicações agudas com substâncias tóxicas
no trabalho podem levar rapidamente a estados patológicos que também
devem ser considerados doenças profissionais. Em tais casos, as doenças do
trabalho passam a constituir lesões imediatas.

As lesões mediatas são aquelas em que os estados patológicos demoram


meses, às vezes anos, para se manifestarem. É o caso das intoxicações
crônicas e da maioria das doenças profissionais que decorrem de exposições
constantes e prolongadas com agentes ambientais agressivos.

Alguns exemplos conhecidos são: a silicose, que resulta da exposição à


poeira de sílica nos processos industriais, como na britagem de pedras, nas
marmorarias, nas minas de carvão; o benzolismo, que resulta da exposição a
vapores de benzeno e vários outros agentes agressivos prejudiciais à saúde
do trabalhador.

c) Investigação do acidente

A investigação do acidente de trabalho tem a finalidade de descobrir a


relação de causa e efeito. Ela não está condicionada apenas à aplicação
A análise do acidente
do controle estatístico de acidentes/acidentados, mas em investigação
deve ser bem
aplicando os recursos disponíveis da engenharia, da tecnologia, da
investigada para que
educação e da medicina.
possamos aplicar as
medidas corretivas das
A análise do acidente deve ser bem investigada para que possamos falhas que o causaram
aplicar as medidas corretivas das falhas que o causaram e, assim, adotar e, assim, adotar
medidas preventivas para a não ocorrência de novos acidentes. Nesse sentido, medidas preventivas
recomendam-se os seguintes passos para uma boa investigação: para a não ocorrência
de novos acidentes.

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Higiene do Trabalho I

• Buscar as informações em relação ao acidente (quem, onde, o quê, como,


quando, por quê e qual a atividade de trabalho do acidentado);

• Identificar as causas reais;

• Analisar as informações;

• Utilizar métodos para a análise (ex. árvore de causas);

• Conclusões e Recomendações.

A importância da realização de uma boa investigação é imprescindível


para a melhoria do ambiente de trabalho e no incentivo dos trabalhadores para
uma vida laboral mais segura e consciente sem prejuízos para a sua saúde,
para o seu desenvolvimento profissional, pessoal e social.

d) Importância e vantagens da prevenção

Para o empregador, que é o responsável pelo ambiente e


pelas condições de trabalho, os acidentes são fonte de constantes
aborrecimentos, quer devido às implicações desfavoráveis na produção,
quer devido a eventuais reclamações e demandas trabalhistas. Muitas
vezes, estas demandas são originárias por pessoas fora da empresa, pela
própria família, pelos sindicatos, pela fiscalização dos órgãos públicos
municipal, estadual ou federal entre outros.

Apesar disso, o empregador, principalmente entre as empresas de


médio e pequeno porte, reluta em distender verbas para o controle dos
riscos profissionais, pois, via de regra, desconhece o montante dos prejuízos
financeiros decorrentes dos acidentes de trabalho.

Os custos destes acidentes podem ser calculados com uma relativa


precisão e constitui o argumento principal de que dispõe o profissional
de segurança para convencer a Direção da empresa da necessidade de
investir na área de segurança. Sem uma demonstração clara dos prejuízos
ocasionados pelos acidentes, dificilmente a empresa destinará recursos
financeiros necessários para a prevenção e controle destes.

A redução dos acidentes do trabalho traz, entre outros, os seguintes


benefícios às empresas:

• redução dos prejuízos financeiros decorrentes dos desperdícios de material;

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Capítulo 1 Higiene do Trabalho I

• melhoria no moral do trabalhador com implicações positivas na produtividade;

• redução no preço final do produto;

• redução das taxas de seguro contra acidentes do trabalho.

A prevenção do acidente é a principal causa que o empregador pode


abraçar, pois é aí que está a valorização do ser humano.

ZOCCHIO, Álvaro. Prática da prevenção de acidentes: abc


da segurança do trabalho. São Paulo: Atlas, 2002.

VENDRAME, Antonio Carlos. Gestão de risco ocupacional:


o que as empresas precisam saber sobre insalubridade,
periculosidade, PPRA, PPP, LTCAT, entre outros documentos
legais. São Paulo: IOB Thomson, 2005.

Atividade de Estudos:

1) Um eletricista ao fazer a manutenção em um quadro de


comando elétrico levou um choque e morreu no local. Para fins
de concessão de benefícios da previdência, a família do falecido
tem direito aos benefícios? Caso positivo, quais os benefícios?
Por quanto tempo?
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Higiene do Trabalho I

Algumas Considerações
O acidente de trabalho sempre foi e sempre será um transtorno para o
trabalhador, para o empregador, para a sociedade e para o governo. Nesse
sentido, prevenir o trabalhador e adequar o ambiente de trabalho de forma a
Trabalhar sem promover a saúde e proteger a integridade física do trabalhador no local de
segurança é não saber trabalho é uma tarefa para todos que querem trabalhar com segurança. Pois,
trabalhar. trabalhar sem segurança é não saber trabalhar.

Para os nossos futuros especialistas deixamos aqui um lembrete para


sempre ficar atentos às normas de segurança, porque são elas que definem e
nos amparam para quaisquer ações relacionadas ao trabalho.

Referências
BARSANO, P. R. Segurança do trabalho para concurso público. Rio de
Janeiro: Livre Expressão, 2011.

_____.; BARBOSA, Rildo Pereira. Segurança do trabalho: guia prático e


didático. São Paulo: Érica, 2012.

BRASIL. Manuais de Legislação Atlas: segurança e medicina do trabalho.


70. ed. São Paulo: Editora Atlas S.A., 2012.

COX, Joe W. A conceituação da higiene do trabalho. São Paulo:


FUNDACENTRO, 1981.

FUNDACIÓN MAPFRE. Manual de higiene industrial. Madrid: Editorial


Mapfre,1996.

INSHT. Prevención de riesgos laborales. Galícia: Plana Artes Gráficas,


2008.

PIZA, Fábio de Toledo. Informações básicas sobre saúde e segurança no


trabalho. São Paulo: CIPA, 1997.

PUTZ, R.; PABST, R. Sobotta: atlas de anatomia humana. 21. ed. Vol.1.
Munich: Deutchland. Appl., 2001.

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Capítulo 1 Higiene do Trabalho I

SALIBA, Tuffi Messias et al. Higiene do trabalho e programa de prevenção


de riscos ambientais. 3. ed. São Paulo: Editora LTR, 2002.

SILVA FILHO, Armando Lopes da. Segurança química. São Paulo: LTr, 1999.

SOARES, Paulo; JESUS, Carlos A. Boeira; STEFFEN, Paulo Cezar.


Segurança e higiene do trabalho. Canoas: Editora ULBRA, 1994.

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