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RESUMO CRÍTICO DO TEXTO “RACISMO NO PLURAL: UM ENSAIO SOBRE O

CONCEITO DE RACISMOS”1
Jacqueline Arielle Cardoso Silva Sousa
Sarah Maia Costa
Thalita do Nascimento Oliveira

O autor inicia com uma análise acerca da evolução história do conceito de


raça, destacando que a sua definição sofreu diversas alterações no curso da
história, mas sempre com uma constante: o termo sempre foi usado para tentar
categorizar as pessoas em grupos distintos e, como aponta o autor, essa divisão
nem sempre dependeu de características físicas, mas também religiosas e de
ascendência.

Contudo, ao contrário do conceito de raça, o racismo manteve o seu conteúdo


praticamente sem alterações, sempre implicando na ideia de que determinados
grupos possuem características particulares que justificariam a sua inferioridade em
relação a outros grupos, sendo o racismo diretamente motivado por razões políticas,
servindo à discriminação e segregação daqueles considerados inferiores,
semelhante ao que aconteceu com os Judeus durante o governo de Hitler na
Alemanha.

Nesse sentido, o autor destaca que, embora seja evidente que inexistem
“raças humanas”, o conceito continua sendo manifestado através de atos de racismo
dentro de uma estrutura política que não se limita às características fenotípicas dos
indivíduos. Todavia, a despeito disso, em seguida o autor passa a discutir acerca
dos modos de manifestação do racismo, evidenciando que uma das duas formas
mais decorre da cor da pele.

O autor do texto, de modo direto, expõe algumas formas pelos quais o


racismo se manifesta. Embora o racismo ultrapasse características físicas, a
predominância em relacioná-lo à cor da pele é evidente, uma vez que quanto mais
escura for a cor do sujeito, mais distante de um parâmetro branco está, logo, maior é
a discriminação sofrida pelo indivíduo.

Durante séculos houve a depreciação do negro com o intuito de motivar a


prática do racismo. O estereótipo do negro como um ser selvagem, preguiçoso,
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Emanuel Fonseca Lima
indolente e outras características atribuídas a ele permitiam a continuidade da
discriminação.

Porém o racismo contra negros não se manifesta apenas por políticas de


segregação, mas também quando se nega a existência de racismo, como é o caso
do Brasil, dificultando, dessa maneira, a implementação de políticas cujo objetivo
seja a extinção da prática no país.

O autor ressalta que o racismo ainda se fundamenta na cor do sujeito, pois


mesmo que o negro compartilhe da mesma cultura, mesma religião e costumes
dominantes, a sua cor ainda será motivo para as discriminações que pode vir a
sofrer. Apesar disso, expõe algumas outras situações em que o aspecto cultural
apresenta-se como fator principal da discriminação.

O racismo em desfavor dos povos indígenas visualiza-se através do racismo


cultural praticado contra eles, sob o discurso de retirarem tais povos primitivos de
seu estado de barbárie. Segundo o autor, as especificidades culturais dos povos
indígenas sofreram constantes ataques, sob o argumento de se criar uma
“sociedade de iguais”, baseada em uma civilização avançada, buscando resgatar os
povos indígenas do seu primitivismo. Hoje ataques culturais são comumente
visualizados no que diz respeito ao direito indígena sobre suas terras, terras essas
ancestrais.

O autor ressalta que o racismo manifestado contra esses povos baseia-se


também na noção de desenvolvimento, uma vez que tais grupos são identificados
como obstáculos para o desenvolvimento do ambiente em que se encontram,
propagando, de forma mais direta, o racismo exercido sobre eles.

O racismo religioso, por sua vez, se constitui a partir de discriminação e até


“demonização” de religiões de determinados grupos. Trata-se da atribuição de
características negativas a determinados grupos ou comunidades religiosas,
ocasionando, dessa forma, sua discriminação. Consideradas como atrasadas,
primitivas e nocivas à sociedade, algumas religiões sofrem diretamente o racismo
religioso, como exemplo disso o autor cita o islamismo e as religiões afro-brasileiras,
que constantemente são discriminadas.
A justificativa desses atos discriminatórios norteiam o fato de tais religiões
não serem fundadas no cristianismo, mas sim em aspectos e costumes indígenas e
africanos. Segundo o autor, o racismo manifestado nesses casos nada mais é do
que o desrespeito às heranças africanas e indígenas dos povos, não sendo
motivado, portanto, apenas pelo conflito de fé, mas sim pelo desprezo e
inferiorização das religiões de matriz africana.

Destaca o autor diz ser possível fazer uma distinção entre racismo individual
e institucional. O primeiro seria a forma mais evidente e conhecida, que diz respeito
às ações dos indivíduos. Já o racismo institucional atua de forma mais sutil, é feito
por ação ou omissão de órgãos de gestão. Geralmente este último é mais difícil de
ser reconhecido como racismo, sendo menos condenado pela opinião pública.

Assim, os “racismos” não se manifestam somente no âmbito privado, mas


também por meio de políticas públicas. Ele pode se expressar por meio da
indisponibilidade ou acesso reduzido a políticas de qualidade, no acesso à
informação e na menor participação social.

No Brasil, um exemplo evidente de racismo institucional se dá em relação às


políticas de segurança pública e a população negra. De acordo com o IPEA, em
2016, a taxa de homicídios de negros foi duas vezes e meia maior do que a de não
negros (40,2% contra 16%). Os dados relativos à violência praticada pela polícia no
Rio de Janeiro evidenciam o racismo institucional: o número de vítimas entre a
população negra é três vezes maior que o da branca. Em relação aos indígenas, o
racismo institucional se manifesta na ausência de protagonismo dos povos
indígenas enquanto destinatários de políticas públicas.

O autor pontua também sobre o racismo ambiental, que surge a partir da


constatação de que a maior parte dos riscos ambientais decorrentes da atividade
humana recaem, desproporcionalmente, sobre minorias étnicas (ACSELRAD, Henri;
BEZERRA, 2009).

Alude que em 1987, a Comissão de Justiça Racial da United Church of


Christ realizou uma pesquisa em que ficou comprovado que a existência de
depósitos de rejeitos perigosos em uma determinada área é diretamente relacionada
à composição étnica das comunidades que nela habitam. Outra conclusão foi a de
que as multas impostas por violações ambientais em áreas habitadas por população
de baixa renda ou por minorias raciais eram significativamente menores do que as
aplicadas nos bairros de população predominantemente branca. Sendo esta, uma
forma de expressão do racismo institucional.

Assevera também que o racismo é uma construção social que, para


viabilizar projetos políticos, atribui a determinados grupos étnicos características
físicas e/ou culturais que seriam transmitidas a cada geração. Apresenta faces
distintas de acordo com cada contexto histórico, e o fato de seu conteúdo ter variado
historicamente comprova que é uma construção poderosa e contínua.

Para ressaltar essa complexidade das formas de expressão do racismo, o


autor optou por usar o termo no plural. Ao utilizar o termo “racismos”, enfatiza que
essas várias manifestações podem assumir, em cada caso, contornos muito
distintos.

Nesse sentido, à luz do texto, observa-se que o racismo é uma construção


social que assumiu aspectos muito distintos, e que apesar de as características
físicas ainda desempenharem um papel importante em certas formas de
discriminação, como a que se volta contra os negros e que se fundamenta
essencialmente na cor da pele, as características fenotípicas partilham lugar com as
diferenças culturais nos discursos racistas, o que invoca a necessidade de
observação às particularidades de tais discursos, a fim de facilitar sua compreensão
e o possibilitar o desenvolvimento de estratégias mais eficazes para o seu
enfrentamento.

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