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23/05/2021 A lei da educação domiciliar não vem só para quem já a pratica

A lei da educação
domiciliar não vem só
para quem já a
pratica
Por Jônatas Dias Lima 22/05/2021 12:33 3

Quando a lei for aprovada, a educação domiciliar estará à


disposição de todas as famílias que quiserem usufruir do direito|
Foto: Pexels

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No longo caminho de tramitação do homeschooling no


Congresso Nacional, partindo do correto intuito de
defender a urgência na aprovação de uma lei, alguns
defensores caem num equívoco desnecessário que pode ter
consequências injustas. Refiro-me ao argumento de que a
lei sobre educação domiciliar servirá para atender apenas,
ou principalmente, as famílias que já aderiram à prática.
Sem dúvida, é verdade que hoje são elas que mais
precisam de uma lei para tirar-lhes da clandestinidade na
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qual se encontram. Mas essa situação não justifica a tese


de que são as expectativas dessas famílias, e apenas delas,
que devem ser atendidas pela lei que virá.

A partir do momento em que a educação domiciliar for


incluída na legislação brasileira, logicamente, a
modalidade estará à disposição de todas as famílias que
quiserem usufruir do direito de praticá-la, contanto que
cumpram os pré-requisitos que a lei trará. Isso vale para
esta e para as próximas gerações, ao menos até que a lei
mude.

Convém destacar que, hoje, quem já pratica a modalidade


mesmo sem lei, o faz porque nutre a convicção de que
educar os filhos dessa maneira é tão importante que
compensa, inclusive, o risco de ter problemas com a
justiça. Alguns desses, aliás, talvez para aliviar a própria
preocupação, prosseguem fiéis à crença de que a
Constituição e tratados internacionais lhe garantem o
direito de fazer o que fazem, mesmo que o Supremo
Tribunal Federal (STF), em 2018, tenha rechaçado essa
tese por largo placar e declarado textualmente que esse
direito “não existe” e que precisa ser “criado por lei”.

Contudo, há evidências de que uma porcentagem nada


desprezível da população brasileira se interessa pelo
assunto e, dependendo do que a legislação disser, cogitaria
aderir ao modelo. Em fevereiro de 2020, a Câmara dos
Deputados revelou que o Projeto de Lei 2401/2019 era o
mais acompanhado eletronicamente entre todas as
propostas em tramitação na Casa naquele momento. Trata-
se do projeto elaborada pelo próprio governo federal para
regulamentar a prática e que está apensado ao projeto
3179/2012, sob a relatoria da deputada Luísa Canziani.

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Em março desse ano, o DataSenado fez um


levantamento sobre o tema com perguntas mais diretas,
uma delas questionando claramente se o entrevistado
“optaria por esse regime de ensino”, caso fosse permitido.
As respostas afirmativas ficaram em 41%, numa amostra
que envolveu 2.400 entrevistados. O nível de confiança do
levantamento é de 95%.

Parece-me bastante razoável supor, portanto, que há


famílias brasileiras que querem aderir ao homeschooling,
mas não estão dispostas a fazê-lo na ilegalidade, por isso,
aguardam ansiosamente a aprovação de uma lei para
realizar o sonho de educar os filhos da forma como acham
melhor, e não da forma como são obrigadas a fazer hoje.
Esse público também precisa estar no radar dos
legisladores.

Parte dessas famílias, provavelmente, migrará da


educação escolar para a domiciliar, então, estarão
acostumadas com o vínculo a uma escola, conforme
previsto no parecer da relatora. As avaliações periódicas
também não serão nenhuma novidade, bem como as
eventuais conversas com a equipe pedagógica da escola,
sempre que a família considerar necessário.

Diante disso, embora o texto da relatora seja realmente


rigoroso, é inevitável notar como algumas das
reclamações feitas por defensores do homeschooling soam
exageradas, pois são provenientes de apenas um nicho.
Legítimo, é verdade, mas ainda assim pequeno, e que se
incomoda mais com a parceria das escolas do que a média
da população brasileira. Considero um erro supor que
todos ou mesmo a maioria dos interessados e
potencialmente beneficiados pela lei

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de homeschooling pensem dessa forma. Para muitos, basta


que haja lei e que suas exigências sejam razoáveis.

Cabe lembrar, inclusive, que esse modelo de vínculo com


escolas é adotado na maioria dos estados norte-americanos
e em vários países com homeschooling legalizado, como
Portugal, França e Rússia.

Há outros formatos? Há. Seriam aprovados pela atual


formação do Congresso Nacional? Definitivamente, não.
Portanto, lutemos pela melhor lei possível, mas não
deixemos que a intransigência e o apego excessivo a um
único modelo comprometam a própria existência da lei.
Essa e as futuras gerações de homeschoolersdependem
dela.

Jônatas Dias Lima é jornalista e presidente da Associação


de Famílias Educadoras do Distrito Federal (Fameduc-
DF). E-mail: jonatasdl@live.com.

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