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Identidade Profissional e Ética

nas Relações Professor e Aluno no Ensino Superior

Profa. Ma. Crisleine da Silva Crispin


Profa. Ma. Edna Barberato Genghini

1
CRISPIN, Crisleine da Silva
GENGHINI, Edna Barberato

Identidade Profissional e Ética nas Relações Professor e


Aluno no Ensino Superior (livro-texto) / Crisleine da Silva Crispin;
Edna Barberato Genghini. – São Paulo: Pós-Graduação Lato
Sensu UNIP, 2019.

123 p.: il.

1. Ética. 2. Identidade Profissional. 3. Docência. 4. Ensino


Superior. II. Crispin, Crisleine da Silva. Genghini, Edna
Barberato. Pós-Graduação Lato Sensu UNIP. III. Título.
Identidade Profissional e Ética
nas Relações Professor e Aluno no Ensino Superior

Professora conteudista

Crisleine da Silva Crispin possui graduação em Psicologia pela Universidade


Federal de Mato Grosso do Sul (2015). Especialista em teoria histórico--cultural, pela
Universidade Estadual de Maringá (2018). Mestra em Educação pela Universidade
Estadual de Mato Grosso do Sul (2018), foi professora substituta na Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul, ministrando as seguintes disciplinas: Sociologia
Geral, Orientação Profissional I, Psicologia e Educação I, Tópicos Avançados em
Psicologia e Educação, Estágio Básico Obrigatório I e Estágio Obrigatório IA -
Psicologia e Processos Educativos. Atua principalmente nos seguintes temas:
psicologia e educação, desenvolvimento humano, relação ensino-desenvolvimento-
aprendizagem, formação de professores, precarização do trabalho docente,
sofrimento e adoecimento do professor, políticas públicas educacionais, a partir dos
pressupostos teórico-metodológicos da psicologia histórico-cultural e do materialismo
histórico-dialético.

Professora colaboradora/coordenadora

Edna Barberato Genghini é professora universitária desde 2002. Atualmente


exerce a função de coordenadora de cinco cursos de pós-graduação lato sensu para
todo o Brasil: Psicopedagogia e Neurociências, Psicopedagogia Institucional,
Docência para o Ensino Superior, Formação e Gestão em Educação a Distância e em
Formação em Educação a Distância pela UNIP – Universidade Paulista – UNIP/EAD,
onde também atua como professora adjunta, nas modalidades SEI e SEPI. É diretora
e psicopedagoga da Mentor Orientação Psicopedagógica Ltda. ME desde 1991.
Possui graduação em Economia Doméstica - Faculdades Integradas Teresa D’Ávila,
de Santo André (1980), graduação em Pedagogia pela Universidade Guarulhos
(1985), pós-graduação em Psicopedagogia pela Universidade São Judas (1987),
mestrado em Ciências Humanas pela Universidade Guarulhos (2002) e
pós- graduação lato sensu em Formação em Educação a Distância pela UNIP –
Universidade Paulista (2011). É autora e coautora de livros-texto para os cursos de
Pós-Graduação Lato Sensu em Psicopedagogia Institucional, Docência para o Ensino
Superior e Formação em Educação a Distância da UNIP – EAD. Membro do NAAP –
Núcleo de Acessibilidade e Apoio Psicopedagógico da UNIP-EAD. Áreas de interesse:
Neurociências – Educação Inclusiva – Psicopedagogia Clínica e Institucional –
Formação e Gestão em Educação a Distância – Formação de Docentes para o Ensino
Superior.
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO 05
INTRODUÇÃO 06

Unidade I
APONTAMENTOS PARA A FORMAÇÃO DA IDENTIDADE DOCENTE: O QUE É
SER PROFESSOR? 08
1.1 A consolidação da profissão do professor 08
1.2 Debates sobre os constructos formativos: da formação inicial à continuada 18
1.3 Atuação e formação profissional: os saberes pedagógicos 27

Unidade II
IDENTIDADE DOCENTE: ASPECTOS NECESSÁRIOS PARA SUA CONSTITUIÇÃO 41
2.1 O papel da identidade do professor no exercício do trabalho educativo 41
2.2 Identidade e profissionalização 48
2.3 Valorização da carreira docente 52

Unidade III
AS ESPECIFICIDADES DA DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR 62
3.1 Características básicas da docência universitária 63
3.1.1 O que são as universidades? 64
3.2 A docência universitária na realidade atual do Ensino Superior Brasileiro 75
3.3 Desafios e perspectivas para a atuação docente do ensino superior 83

Unidade IV
A INTER-RELAÇÃO DA ÉTICA E DA DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR 95
4.1 Ética da educação e na educação atual, na relação entre professor-aluno 96
4.2 Ética e moral no exercício da docência no ensino superior 104
4.3 A ética e o discurso ético do professor e do aluno 113

REFERÊNCIAS 122
APRESENTAÇÃO

Olá, aluno(a)!
Bem-vindo(a)!

Neste material, você encontrará os conteúdos pertinentes à disciplina de


Identidade Profissional e Ética nas Relações Professor e Aluno no Ensino Superior.
Abordaremos, nessa disciplina, os seguintes temas:
● O que é ser professor?
● A identidade docente.
● As questões específicas da docência no ensino superior.
● A relação entre ética e docência no ensino superior.

Discutiremos a constituição do trabalho docente e sua relação com a formação


da identidade profissional do professor. Abordaremos quais são os aspectos centrais
para a construção da identidade profissional docente e qual o seu papel no exercício
diário da docência.
Daremos ênfase às especificidades da docência; em especial, à docência
universitária no Brasil e a quais são os desafios principais e as perspectivas para a
atuação docente no ensino superior.
E, em nossa última unidade, estudaremos as questões acerca da ética e da sua
relação com a docência no ensino superior. A problemática da ética e da educação e
a da ética e da moral encerram essa unidade.

Animado(a)?

Então, vamos aos estudos!!!


INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a),

o objetivo dessa disciplina é apresentar uma breve retomada histórica acerca


da construção da identidade profissional, ou seja: o que é ser professor hoje?
Para tanto, vamos pensar acerca da atuação do professor na sociedade em
que ele está inserido, a partir dos saberes pedagógicos e de sua atualidade:
 Quais as características básicas da docência universitária?
 Quais os desafios e as perspectivas que o futuro professor universitário
encontrará em sua atuação?

Por fim, discutiremos quais as implicações éticas sobre a docência


universitária; em especial, na relação professor-aluno.
Para tanto, a disciplina está dividida em quatro unidades, sendo que cada uma
aborda com maior profundidade um dos quatro eixos norteadores da disciplina, que
são:

Unidade Eixo temático norteador

1 O que é ser professor?

2 A identidade docente

3 As questões específicas da docência no ensino superior

4 A relação entre ética e docência no ensino superior

Com a elaboração desses eixos que norteiam o debate, temos o seguinte


objetivo geral:
● analisar elementos que compõem a formação da identidade docente e sua
relação na atuação da docência no ensino superior.
Assim, apresentamos, também, os objetivos específicos para a disciplina:
● discutir acerca da constituição do trabalho docente e sua relação com a
formação da identidade profissional;
● debater sobre os aspectos necessários para a formação da identidade
profissional e do papel desta para o exercício da profissão;
● abordar as especificidades da docência universitária na realidade
brasileira;

6
● tratar as questões éticas no exercício da docência e a relação com os
alunos.

E aí? Preparado(a)?
Vamos aos estudos!

7
UNIDADE I

1. APONTAMENTOS PARA A FORMAÇÃO DA IDENTIDADE DOCENTE: O


QUE É SER PROFESSOR?

Conteúdos trabalhados na unidade: apontamentos para a formação da


identidade docente: o que é ser professor? Consolidação da profissão do professor;
debates sobre os constructos formativos: da formação inicial à continuada; atuação e
formação profissional: os saberes pedagógicos.

Nesta unidade, temos, como objetivo principal, compreender alguns elementos


preliminares à formação da identidade docente. Para isso, vamos debater de que
forma a profissão docente se consolidou ao longo da história, dando destaque
especial à particularidade do Brasil. Também vamos discutir sobre a formação de
1.1
professores, da inicial à continuada, que orienta a pratica do professor, e igualmente
1.2 Atuaçãoà ecompreensão
é importante formação profissional: os saberes
da formação pedagógicos
da identidade docente.
1.3
Ao final, discutiremos os saberes pedagógicos que orientam a prática docente
.
e fazem parte da relação que constitui a identidade do professor.
Para dar início aos nossos estudos, vamos debater sobre a constituição da
atividade do professor enquanto profissão, tendo em vista o ato de ensinar, que é o
objetivo do trabalho docente.

1.1 Discussões sobre a profissão do professor

A subjetividade e a sensibilidade individual de cada ser humano constroem-se,


socialmente, à medida que cada sujeito se insere num determinado contexto social.
Além disso, para se constituir, cada pessoa precisa aprender o que foi produzido pela
própria humanidade, pelas gerações anteriores: valores, cultura, conceitos.
Para se estabelecer como professor, ocorre o mesmo! É a partir das relações
formativas e especializadas, isto é, a partir da formação inicial e/ou continuada de
professores, que você adquire os conhecimentos necessários para o exercício da
profissão. Esta formação, por sua vez, é produto do trabalho coletivo acumulado
historicamente, por meio do qual os adultos transmitem conhecimentos às gerações
mais jovens. Cabe, então, compreendermos como se deu a constituição da
profissionalização da atividade de ensino historicamente.
Antes disso, é importante dizer que não podemos compreender que se tornar
ser humano e se tornar professor são processos que não se relacionam e que são
distintos! Muito pelo contrário. Enquanto isso, nós, seres humanos, não possuímos
diferentes identidades! Somos uma unidade, uma síntese de todas as relações das
quais participamos. Sendo assim, somos uma unidade do diverso. E, no caso de
exercermos a profissão docente, cada professor é um ser social, síntese das diversas
relações e processos formativos dos quais faz parte nos distintos âmbitos da vida,

8
especialmente no que se refere à sua formação científica para exercício da profissão.
Assim, vamos compreender como se dá a profissionalização da atividade de ensino?

Figura 1: Atividade de ensino

Fonte: Google imagens1

A profissão docente é constituída à medida que o Estado intervém e substitui a


Igreja que, antes, tinha a tutela do ensino (NÓVOA, 1991). Cabe lembrar que, ao se
iniciar, a tarefa de ensinar não foi considerada profissão, pois não tinha especialidade
e era secundária.
A partir do controle estatal, sob as ações dos professores, ocorreu a
profissionalização desta atividade. Isso foi possível pela implantação da primeira Lei
Geral do Ensino, em 1827, que tinha como objetivo a organização e a normatização
para o exercício da profissão docente.
De acordo com Nóvoa (1991), o Ato Adicional de 1834 substituiu o
mestre- escola pelo novo professor, de modo que as províncias ficariam responsáveis
pela sua formação.

As escolas normais estão na origem de uma profunda mudança, de uma


verdadeira mutação sociológica, do pessoal docente primário. Sob sua ação,
os mestres miseráveis e pouco instruídos do início do século XIX vão, em
algumas décadas, ceder lugar a profissionais formados e preparados para a
atividade docente (NÓVOA, apud VILLELA, 2000, p. 101).

Esse momento histórico é muito importante para a constituição da profissão


docente, pois, nele, é reconhecida a necessidade de o professor aprender a ensinar
e o que ensinar. Ou seja, o professor deve ser instrumentalizado para exercer a
atividade de formar outros!

1
Disponível em: http://educacao.salvador.ba.gov.br/adm/wp-
content/uploads/2018/10/09_10_2018_Dia-do-Professor_Dejanira-Rainha-Melo_Foto_Jefferson-
Peixoto_Secom_Pms-12-1-800x534.jpg. Acesso em: 09 jul. 19.

9
Você sabia que compreender a importância das escolas normais na
constituição da história brasileira é fundamental? Consulte o texto para se informar
mais sobre esse tema: VILLELA, Heloisa de O. S. O mestre-escola e a professora.
In: LOPEZ, Eliane Marta Teixeira (Org.) et al. 500 anos de educação no Brasil. Belo
Horizonte: Autêntica, 2000. Acesso em: 19 jul. 2019.

Pensar a constituição da profissão docente é, também, pensar o significado do


papel do/a professor/a na sociedade. Além disso, não podemos deixar de atentar para
as diversas transformações sociais econômicas acontecidas ao longo da história que
influenciaram a concepção sobre o papel da escola diante da sociedade e que,
igualmente, influenciaram as transformações no exercício da profissão do professor.
Quais foram essas transformações? Aumento das exigências em relação ao
professor; desenvolvimento de fontes de informação alternativas à escola; ruptura do
consenso social sobre a educação; aumento das contradições no exercício da
docência; menor valorização social do professor; mudança de conteúdos escolares;
escassez de recursos materiais e deficiência nas condições de trabalho; mudanças
nas relações professor-aluno; fragmentação do trabalho docente etc.
Você, professor, que já exerce a docência, com certeza, já se deparou com
alguns dos fatores acima mencionados. E você que está se preparando para iniciar,
certamente, vivenciará algumas dessas situações. Todas elas têm influência sobre o
modo como você se forma professor. Todas as relações que estabelecemos a partir
dessas experiências atravessadas por diversas situações, seja pelas condições de
trabalho, relações professor-aluno, currículo ou valorização docente, vão nos
constituindo enquanto professores, enquanto seres sociais. Isso porque vamos
aprendendo nessas relações.

10
Figura 2: Relação entre ensinar e aprender

Fonte: Google imagens2

Deste modo, constituir-se enquanto professor envolve a articulação entre o


processo de formação, as instituições onde lecionará os conhecimentos e as
condições para o exercício da docência, assim como a relação com o Estado
(NÓVOA, 1991).
É importante lembrarmos que, no contexto brasileiro, ocorreram diversas lutas
e conflitos sobre a definição e a redefinição do papel do professor e da estruturação
do seu campo de atuação. Assim, no decorrer do tempo, surgiram distintos modelos
de formação de professores, que se adequaram às características de cada momento
histórico e que moldaram a constituição do sistema escolar brasileiro.
Diante das diversas transformações no contexto da educação, muitos são os
dilemas impostos à profissão docente, conforme aponta Nóvoa (2002). Para o autor,
são três os dilemas fundamentais: a comunidade, a autonomia e o conhecimento, que
não são dilemas recentes, mas adquirem novas características e configurações no
presente, e que os professores são chamados a responder.
Com isso, o autor aponta três teses que são interligadas aos dilemas acima:
saber relacionar e saber relacionar-se (comunidade), saber organizar e saber
organizar-se (autonomia), saber analisar e saber analisar-se (conhecimento). Para o
autor, essas teses buscam redefinir a essência do ser professor na educação. Isso se
aplica tanto para o ensino básico quanto para o ensino superior!

2
Disponível em: http://2.bp.blogspot.com/-
8Uzdacosh_g/VWpZ2eidibI/AAAAAAAAAJw/9qcqpcApmkw/s1600/582705_491267957549924_13566
74867_n.jpg. Acesso em: 19 jul. 19.

11
Figura 3: Dilemas da docência

Fonte: Google imagens3

Você sabia que os professores têm apresentado muito sofrimento e


adoecimento devido aos dilemas da docência? Além disso, cada vez mais, aumenta
o número de afastamentos, licenças e readaptações. De acordo com a bibliografia, a
maioria desses adoecimentos diz respeito aos diagnósticos psíquicos, tais como:
ansiedade, depressão, síndrome de Burnout etc. Ainda há casos de adoecimentos
devido a problemas osteomusculares, doenças nas cordas vocais, ente outros. Os
estudos apontam que o adoecimento de professores tem relação essencial com as
condições de trabalho. É importante compreendermos como se dá esse processo,
pois, diante da responsabilidade e da tarefa de ser professor, quando adoecemos,
pensamos que a culpa é nossa. Existe uma série de fatores envolvidos e devemos
fazer a correta análise para entender esse processo.
Para saber mais sobre o assunto, consultar a seguinte referência:
https://ufpi.br/arquivos_download/arquivos/EDUFPI/LIVRO_PRECARIZACAO_DO_T
RABALHO_04-12.pdf.
Nessa perspectiva, Nóvoa propõe a redefinição do sentido social do trabalho
docente, numa concepção de escola como espaço aberto, ligado a outras instituições
culturais e científicas e com presença das comunidades locais, pois:

[…] a atividade docente caracteriza-se igualmente por uma grande


complexidade do ponto de vista emocional. Os professores vivem num
espaço carregado de afetos, de sentimentos e de conflitos. Quantas vezes
preferiam não se envolver […] mas sabem que tal distanciamento seria a

3Disponível em:http://1.bp.blogspot.com/-
mMs9ZyQOqd0/Tfdo14i_85I/AAAAAAAAAGo/jTpPi4-d0uU/s1600/la-aventura-de-ser-docente.jpg.
Acesso em: 22 jul. 19.

12
negação do seu próprio trabalho. Que ninguém tenha 2163 ilusões. Ao
alargarmos o espaço da escola, para nele incluirmos um conjunto de outros
“parceiros”, estamos inevitavelmente a tornar mais difícil este processo. Os
professores têm de ser formados, não apenas para uma relação pedagógica
com os alunos, mas também para uma relação social com as “comunidades
locais” (NÓVOA, 2002, p. 24).

Figura 4: Escola como espaço aberto

Fonte: Google imagens4

Figura 5: Comunidade Escolar

Fonte: Google imagens5

Essa relação entre pais, professores, gestores, família e comunidade é


imprescindível para o funcionamento da escola e para a relação pedagógica,
pois é a partir do envolvimento de todos que a escola pode, de fato, cumprir
com o objetivo de humanização dos seres sociais. Isso compõe o que Nóvoa
(2002) chama de ampliação da relação pedagógica para uma relação social. E,
para essa ampliação ser efetivada, os professores têm de ser instruídos, por
meio de processos formativos com qualidade, que possibilitem a efetividade da
relação entre teoria e prática.
É por meio dessa relação social que o ser professor vai se constituindo!
A educação e a profissão docente, por consequência, têm uma
finalidade: possibilitar a apropriação do conhecimento. Mas não é qualquer

4
Disponível em: http://sambio.org.br/wp-content/uploads/2012/10/20121030-2.jpg. Acesso em:
22 jul. 19.
5
Disponível em: https://sites.google.com/site/emefdelcelia/_/rsrc/1468737625665/comunidade-
escolar/nova%20escola.bmp?height=146&width=204. Acesso em: 22 jun. 19.

13
conhecimento! De acordo com Saviani, a escola e o professor devem
possibilitar ao aluno a apropriação do conhecimento científico, pois não temos
acesso a esse conhecimento nas relações cotidianas fora da escola. É o
conhecimento científico que possibilita ao ser humano analisar e compreender
a realidade. Portanto, para que o professor cumpra com sua função de ensinar
o aluno, ele deve ser formado para tal empreitada.

Figura 6: Conhecimento científico

Fonte: Google imagens6

De acordo com Saviani (2015, p. 287), podemos dizer que ser professor
se dá por meio do ato educativo, que se caracteriza como:

[…] o ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular,


a humanidade que é produzida, histórica e coletivamente, pelo conjunto dos
homens. Assim, o objeto da educação diz respeito, de um lado, à identificação
dos elementos culturais que precisam ser assimilados pelos indivíduos da
espécie humana, para que eles se formem humanos e, de outro lado e
concomitantemente, à descoberta das formas mais adequadas para atingir
esse objetivo.

Com isso, o autor quer dizer que o professor deve proporcionar aos
seres humanos, por meio do processo educativo, o acesso ao conhecimento
historicamente acumulado, para que os indivíduos apreendam a realidade. Em
outras palavras, o professor deve ensinar os elementos da cultura e da ciência,
o saber sistematizado, tais como a leitura, a escrita, o cálculo, a biologia, a
geografia, a história, a sociologia, a filosofia etc., para que seu aluno aprenda
aquilo que não lhe foi dado ao nascer. Portanto, a aprendizagem, assim como
o desenvolvimento, não ocorre de forma espontânea! Ocorre por meio de um
processo – o ato educativo – que envolve a intencionalidade e o planejamento
daquele que ensina.
Portanto, a profissão docente, e igualmente, a “identidade” docente, é
um produto das relações entre contexto e sujeitos envolvidos na organização
da vida social e nos compõe enquanto seres sociais. Além disso, está em
constante mudança e não é mais uma identidade que adquirimos.

6Disponível em: https://www.coladaweb.com/wp-content/uploads/2014/12/20160223-


conhecimento-cientifico.jpg. Acesso em: 22 jul. 19.

14
Figura 7: Identidade docente

Fonte: Google imagens7

Saviani (2014) afirma que o esforço, o comprometimento e a paixão dos


professores com a profissão docente deve se pautar a partir de uma paixão
crítica no exercício docente! Assim, para que o professor possa enfrentar os
dilemas da docência, é preciso que, entre outras coisas, saiba fazer uma
análise crítica da sua profissão, assim como Nóvoa (2002) comenta sobre o
saber analisar e o analisar-se.
Para isso, o professor deve ensinar e ter ciência de que o ensino é um
ato planejado intencionalmente, como afirmado acima. Em outras palavras, o
ato de ensinar demanda: a) o planejamento das ações; b) a intencionalidade
para escolher os conteúdos escolares; c) a intencionalidade para escolher as
formas apropriadas de transmissão. Esse ensino deve partir dos
conhecimentos científicos, artísticos e filosóficos!

7
Disponível em:
https://ufrb.edu.br/portal/components/com_chronoforms5/chronoforms/uploads/evento/201607071658
18_identidadade-docente.jpg. Acesso em: 19 jul. 19

15
Figura 8: Intencionalidade e planejamento do ato educativo

Fonte: Google imagens8

Não deixe de ler o texto FORMAÇÃO DE PROFESSORES E


PROFISSÃO DOCENTE de Antônio Nóvoa. Nesse estudo, o autor objetiva
debater a formação de professor, de modo a superar a perspectiva centrada
nas dimensões acadêmicas (áreas, currículos, disciplinas, etc), por meio de
uma perspectiva centrada na experiência profissional. Esta é uma leitura
imprescindível para compreender os aspectos históricos da profissão docente
no contexto de Portugal, mas que tem relação com a forma como a profissão
docente também foi se constituindo aqui no Brasil. Segue abaixo o link do texto:
https://core.ac.uk/download/pdf/12424596.pdf.

8Disponível em:
https://s1.static.brasilescola.uol.com.br/artigos/a%20importancia%20do%20plano%20de%20a
ula.jpg?i=https://brasilescola.uol.com.br/upload/e/a%20importancia%20do%20plano%20de%
20aula.jpg. Acesso em: 22 jul. 19.

16
Por fim, como já pontuado ao longo desse item, o professor deve
apreender esses conhecimentos para conseguir efetivar o ato educativo,
consolidando sua profissão. Isso se dá por meio de relações formativas e
especializadas, ou seja, por meio da formação de professores. Esse é um
processo que vai desde a formação inicial à continuada, que debateremos no
próximo item. Vamos lá?

Figura 9: Formação de professores

Fonte: Google imagens9

1.2 Debates sobre os constructos formativos: da formação inicial à


continuada

Com base no que dialogamos a respeito da profissão docente e do ato


educativo em si, que interferem na constituição da identidade docente, convém agora
conversarmos sobre os constructos formativos.
Vejamos: se o ato educativo, como já afirmamos, é o ato de transformar, direta
e intencionalmente, a humanidade em cada indivíduo singular, o professor deve
aprender a fazê-lo. Pois o mestre não nasce sabendo como planejar suas aulas, quais
materiais utilizar, quais conteúdos deve ministrar. Muito pelo contrário! Essas
especificidades da docência são apreendidas!
Como aprendê-las?
Por meio dos processos formativos, que se iniciam na formação inicial e
seguem nas formações continuadas. É através do processo de formação de
professores, que o professor aprende o conhecimento científico e o modo como ele
deve ser ensinado a seu aluno. Por isso, esse processo é essencial para a formação
do ser professor!

9 Disponível em: http://ceap.org.br/wp-content/uploads/2016/04/logo-Formacao-de-

Professores.png. Acesso em: 08 maio 19.

17
Segundo Cunha, “Refletir a respeito do conceito de formação de professores exige
que se recorra à pesquisa, à prática de formação e ao próprio significado do papel do
professor na sociedade. A pesquisa acompanha os movimentos político-econômicos
e socioculturais que dão forma ao desempenho docente, quer no plano do real, quer
no ideal. Já a prática estabelece-se a partir de uma amálgama de condições teórico-
contextuais” (CUNHA, 2013, p. 3).

De acordo com Pimenta (1995), a centralidade da atividade do professor é o


processo de ensino e aprendizagem, como prática social. Ou seja, a atividade docente
é uma prática em transformação - práxis. Isso quer dizer que ela não é fixa. Está em
constante mudança. Por isso, o processo formativo do professor deve contemplar uma
relação de interdependência recíproca entre teoria e prática.
Quem já não ouviu a famosa frase? “A gente aprende a teoria, mas na prática
é diferente”. Isso acontece porque, muitas vezes, aprendemos teorias que não
dialogam com a realidade. Por isso devemos dar uma atenção especial às teorias,
pois elas devem explicar a realidade e dar direcionamentos do que devemos fazer.
No caso da atividade docente, ocorre o mesmo!
É preciso uma teoria que esteja alinhada à prática docente. Uma teoria que, de
fato, compreenda a realidade escolar nesta sociedade e nos instrumentalize,
enquanto professores, para que possamos lidar com as especificidades em sala de
aula, como por exemplo, a ética nas relações professor aluno, que será abordada ao
final do nosso módulo.
É nesse sentido que afirmamos que a atividade docente deve ser práxis, isto é,
prática em transformação; que, à medida que se concretiza, vai sendo transformada,
a depender de como isso é requisitado em sala de aula.

18
Figura 10: Teoria e prática indissociáveis como práxis docente

Fonte: Google imagens10

Portanto, é preciso uma formação de professores que possibilite a relação de


interdependência teórico-prática, em que os fenômenos da educação e da escola
devem ser investigados, tendo como base teorias que expliquem a realidade e
apontem caminhos de superação das dificuldades encontradas.

Sacristán tem partido do pressuposto de que as atuais tendências investigativas na


formação de professores caracteriza-se, hoje, por duas tendências: a pós-positivista
e a pós-weberiana. Para saber mais sobre o assunto, estude o texto: GIMENO
SACRISTÁN, J. Tendências investigativas na formação de professores. In:
PIMENTA, S. G.; GHEDIN, E. (Org.). Professor reflexivo no Brasil: gênese e crítica do
conceito. São Paulo: Cortez, 2002. Disponível em:
https://www.revistas.ufg.br/interacao/article/download/1697/1667/0. Acesso em: 26 jul. 19.

E como se dá a formação de professores?

10Disponível em:
https://www.researchgate.net/publication/328401758/figure/fig2/AS:683631131500544@15400017712
95/Figura-3-Articulacao-teoria-e-pratica-na-APCC.ppm. Acesso em: 05 jun. 19.

19
Esse processo também se constituiu ao longo da história da educação. O
desenvolvimento de professores, tanto na formação inicial quanto na formação
continuada, nesse sentido, é um processo de acúmulo histórico com várias
transformações. Para Cunha:

Em sentido amplo, a formação de professores se faz em um continuum,


desde a educação familiar e cultural do professor até a sua trajetória formal e
acadêmica, mantendo-se como processo vital, enquanto acontece seu ciclo
profissional (CUNHA, 2013, p. 61).

A formação inicial pode ser compreendida como os processos institucionais de


formação de dada profissão, nos quais possibilita a licença para o exercício
profissional e o reconhecimento legal, como, por exemplo, os cursos de licenciatura
(CUNHA, 2013).

Já a formação continuada refere-se a iniciativas instituídas no período que


acompanha o tempo profissional dos professores. Pode ter formatos e
duração diferenciados, assumindo a perspectiva da formação como processo
(CUNHA, 2013, p. 4).

Figura 11: Formação continuada: pós-graduação

Fonte: Google imagens11

Um exemplo de formação continuada é esse curso que você realiza agora, de


Docência no Ensino Superior!
Portanto, os cursos de pós-graduação, assim como os cursos de capacitação,
ente outros, são aqueles que realizamos para aperfeiçoar nossos saberes em relação
à prática profissional.

11
Disponível em: http://www.newlifecursos.com.br/arquivos/cursos/18/large/posunip.jpg. Acesso em: 06
jun. 19.

20
Figura 12: Formação continuada

Fonte: Google imagens12

A formação inicial e a formação continuada, por muito tempo, foram


consideradas processos nos quais o professor aprenderia um conhecimento pensado
por outro especialista e apenas reproduziria ao seu aluno. Assim, o professor não era
visto como um ser capaz de produzir conhecimentos, pois era visto como um fazedor,
repetidor e aplicador de instruções contidas nos manuais.
Por meio da formação inicial, o professor estaria pronto para a sala de aula,
caso conseguisse acumular os conhecimentos e aprendesse as técnicas necessárias
para resolver as dificuldades do cotidiano.
Esse modelo de formação se baseava no modelo da racionalidade técnica, no
qual o professor deveria seguir e cumprir manuais. O funcionamento da instituição
escolar era fundamentado no modo fabril de produção e controle. Por isso, o professor
era submetido à mera condição de realizador de tarefas. A formação e, por
conseguinte, a prática docente dos professores das décadas de 70 e 80 foram
influenciadas pelo tecnicismo, resultando em práticas pedagógicas carregadas de
tarefas repetitivas que, muitas vezes, não tinham sentido para o professor nem para
o aluno.
Esse fato é fundamental para compreendermos como esse processo molda o
ser professor, pois, como afirmamos anteriormente, é nas diversas relações,
especialmente a partir dos processos formativos, que apreendemos a docência.

12Disponível em: https://espacoeducarsite.files.wordpress.com/2018/08/formac3a7c3a3o-


atual-iii.gif. Acesso em: 07 jun.19.

21
Figura 13: Temáticas da formação de professores

Fonte: Google imagens13

Assim como na história da formação inicial, o modelo da racionalidade técnica


determinou a prática pedagógica. Na formação continuada, ocorreu um processo
similar. Vejamos:

[…] os programas de formação continuada de professores, vigentes no


cenário da educação básica, baseiam-se na perspectiva da “epistemologia
da prática”, destacando-se, nesse processo formativo, a abordagem de
procedimentos de ensino, roteiros e esquemas para orientar a prática,
situações de resolução de problemas diários do cotidiano escolar, modelos
de conhecimentos práticos erigidos das interações em sala de aula, dentre
outros aspectos, que colaboram para a construção de um perfil de professor
ligado ao praticismo, ao individualismo, à banalização da teoria e ao
pragmatismo (BRITO, LIMA e SILVA, 2017, p. 160).

Nesse sentido, o foco dessa formação se centrava no alcance às metas em


avaliações externas, na valorização da prática, na reflexão sobre a prática, na
secundarização do referencial teórico e nas contextualizações histórica, econômica e
social da educação.
Com isso, a formação conduz o professor a se limitar à reflexão apenas do
contexto em sala de aula e o restringe a perceber que as problemáticas escolares
fazem parte de uma realidade mais complexa e ampla!
O reflexo disso é que o professor acaba por assumir uma responsabilidade que
foge à sua formação e à sua atuação. Por esse motivo, muitas vezes, o professor é
responsabilizado pelo fracasso escolar. Isso traz consequências à sua identidade
enquanto ser humano e professor, pois acaba culpando-o por um processo que é mais
complexo e envolve uma série de fatores.

13Disponível em: http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/educacao/img/0443.jpg.


Acesso e 06 jun. 19.

22
Figura 14: Professor se sentindo culpado

Fonte: Google imagens14

Por isso, é necessária uma formação que nos ensine a refletir para além do
contexto em sala! É preciso que aprendamos a refletir sobre o contexto mais amplo e
complexo.
É fundamental que a formação de professores, inicial e continuada, tenha como
objetivo superar a dicotomia entre teoria e prática.
Como fazer isso?
Em um primeiro passo, é preciso que compreendamos a função social da
educação escolar como uma prática social mediadora, que busca promover o
processo de humanização dos seres humanos.
Assim, para atingir esse objetivo, é preciso um professor qualificado, que
ocupará um papel central na relação educativa, pois é ele o portador do conhecimento
científico que será objeto de ensino e aprendizagem.
E, por fim, os cursos de formação devem ser constituídos de modo a possibilitar
que o professor se aproprie dos conhecimentos teóricos e práticos e faça uma análise
crítica e coletiva das finalidades a seres atingidas, assim como dos caminhos para
selecionar e dosar os conteúdos que devem compor os currículos e suas aulas.
Com isso, a formação de professores estará, de fato, contribuindo para que o
professor tenha uma prática mais efetiva diante da realidade educativa.

14 Disponível em: http://www.ambientelegal.com.br/wp-content/uploads/Quem-manda-em-sala-

de-aula_o-aluno-ou-o-professor.jpg. Acesso em: 22 jun.19.

23
Figura 15: Prática docente

Fonte: Google imagens15

Cunha (2013) elaborou uma síntese das tendências que se manifestam no


campo da formação de professores, na qual marca as rupturas epistemológicas,
culturais e políticas nos campos da educação e da formação de professores. Segue,
abaixo, a síntese feita de forma esquemática:

15 Disponível em: https://image.slidesharecdn.com/aprticadocentedoensinar-110425225014-

phpapp02/95/a-prtica-docente-do-ensinar-1-728.jpg?cb=1303771880. Acesso em: 25 maio 19.

24
Fonte: Retirado de Cunha (p. 620, 2013)16.

Agora que debatemos sobre a importância da formação inicial e continuada de


professores, para que o professor tenha instrumentos que efetivem a práxis
pedagógica com o objetivo de passar o conhecimento historicamente acumulado,
precisamos discutir sobre os saberes da docência que atravessam essas formações.
Convido você a embarcar nesse conhecimento comigo, vamos lá?

16
CUNHA, Maria Isabel. O tema da formação de professores: trajetórias e tendências do campo
na pesquisa e na ação. Educ. Pesqui., São Paulo, n. 3, p. 609-625, jul./set. 2013. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/ep/v39n3/aop1096.pdf. Acesso em: 26 jul. 2019.

25
1.3 Atuação e formação profissional: os saberes pedagógicos

Falaremos, agora, do processo de atuação do professor e da formação


profissional, que envolvem os saberes pedagógicos.
Como já discutimos anteriormente nessa apostila, sabemos agora o que é ser
professor, ou melhor, qual o papel do docente frente ao processo educativo. O
professor deve proporcionar, por meio do processo educativo, o acesso ao
conhecimento historicamente acumulado, para que os indivíduos apreendam a
realidade. Em outras palavras, o professor deve ensinar os elementos da cultura e da
ciência, e o saber sistematizado, tais como a leitura, a escrita, o cálculo etc., para que
seu aluno aprenda aquilo que não lhe foi dado ao nascer.
Sendo assim, para que o professor conduza o processo educativo, é necessário
que, primeiro, ele detenha os conhecimentos referentes à profissão docente, que são
conhecidos como os saberes pedagógicos. Ou seja, primeiro, ele precisa aprender;
para, depois, ensinar!
Segundo Carlinda Leite e Kátia Ramos (2012, s/p.), “é reconhecida a
necessidade de um ensino que contribua para superar a fragmentação de funções, de
um ensino profissional que, tendo um caráter propedêutico, se articule com a
investigação e que esteja em sintonia com o contexto social". Assim, para que os
educadores possam fornecer elementos críticos da realidade a seus alunos, é preciso
que tenham aprendido tais elementos nos processos formativos, bem como saibam
combater a visão que separa, em compartimentos fragmentados, a realidade e o
conhecimento científico.

Figura 16: Saberes

Fonte: Google imagens17

17 Disponível em: http://ivanhuiracocha.blogspot.com/2015/10/cognitivismo.html. Acesso em:


02 jun. 2019.

26
Você já deve ter usado a palavra “didática” em alguma aula, ou lido o termo em
algum texto, ou, mesmo, teve que ser “didático” em alguma atividade que exerceu,
certo?
Então, não teremos dificuldades em pensar o que é a didática, correto?
Como é possível, para um professor, ser didático?
Existem critérios para pensarmos quais os profissionais “didáticos”?

Vamos elaborar, junto com você, aluno, essas formulações!

Figura 17: Aprendendo os saberes

Fonte: Google imagens18

De acordo com Pimenta (1997), os saberes do professor são o conjunto de


habilidades e características que compõe o profissional docente. São três os principais
saberes do professor: o conhecimento, a experiência e os saberes pedagógicos.
Diante de nossa realidade, está colocada uma série de desafios para a atuação
do professor, partindo, sempre, da sua prática social. Nesse sentido, as habilidades
necessárias para que um profissional docente possa ser, de fato, um bom professor
são vastas, porém, não podem ser vistas como motivos para o distanciamento do
profissional do constante aprimoramento pessoal.
O conhecimento, ou busca por conhecimento, é, portanto, o primeiro dos
saberes da docência.

18Disponível em: https://outrasantonietas.files.wordpress.com/2015/02/leitora2.png?w=300&h=218.


Acesso em: 08 jun. 2019.

27
A relação indissolúvel entre a teoria que é enriquecida pela prática, esse
constante processo de relação entre teoria e prática, dá elementos para enriquecer a
didática do professor no processo de ensino.
Ou seja, o professor não inicia sua carreira docente dominando todos os
aspectos da atividade docente, e sim, enriquece seus conhecimentos sobre a
realidade profissional ao se relacionar com o dia a dia da profissão, sempre mantendo
firme a relação entre as experiências práticas e a formação teórica, seja nos cursos
de formação superior, como esse, ou individualmente, em associações etc.
Além disso, a experiência é a parte mais singular de todo o processo dos
saberes do docente, porque se constitui pela relação individual, pela trajetória de cada
estudante em busca de formação humana. No caminho de se tornar professor, ele é,
na maior parte do tempo, estudante. São, então, suas relações com outros
professores e estudantes que formam seu conjunto de experiências individuais com o
processo educativo.
Por último, existem os saberes pedagógicos, que surgem da necessidade de
problematizar a realidade onde está inserido o sujeito crítico, ativo, pensante. Tais
saberes são parte constituinte do fundamento do pensamento científico, que é crítico
em relação ao conhecimento historicamente acumulado, no sentido de que busca,
sempre, avançar para além das limitações atuais; e produzem, nesse processo, novas
formas de relacionamento com a realidade e de transformação da existência humana:
representam a materialização do papel do professor diante do processo educativo.

“Do confronto entre as teorias e as práticas, da análise sistemática das práticas


à luz das teorias existentes, da construção de novas teorias, constrói-se, também,
pelo significado que cada professor, enquanto ator e autor confere à atividade docente
no seu cotidiano a partir de seus valores, de seu modo de situar-se no mundo, de sua
história de vida, de suas representações, de seus saberes, de suas angústias e
anseios, do sentido que tem em sua vida: o ser professor. Assim, como a partir de sua
rede de relações com outros professores, nas escolas, nos sindicatos e em outros
agrupamentos” (PIMENTA, 1997, p. 7).

Em sua prática social, ao ensinar, o professor também vai aprendendo. Com


isso, sua identidade carrega as marcas de sua própria atividade e, como afirma Tardiff
(2002, p. 57), “uma boa parte de sua existência é caracterizada por sua atuação
profissional”.
Ao longo do seu tempo de trabalho, o indivíduo vai se tornando um professor,
com sua cultura, suas concepções, seus interesses, funções etc.
É a partir daí que o professor adquire os saberes necessários à realização de
suas tarefas, por meio da aprendizagem de conhecimentos teóricos e técnicos que o
preparem para sua atividade pedagógica. Isso ocorre por meio dos processos
formativos que estudamos anteriormente.

28
Mas o que é saber?

Figura 18: Saber

Fonte: Google imagens19

Tardif (2008, p. 199) define o “saber” como:

[…] os pensamentos, as ideias, os juízos, os discursos, os argumentos que


obedeçam a certas exigências de racionalidade. Eu falo ou ajo racionalmente
quando sou capaz de justificar, por meio de razões, de declarações, de
procedimentos etc., o meu discurso ou a minha ação diante de outro ator que
me questiona sobre a pertinência, o valor deles.

Portanto, os saberes docentes estão ligados ao trabalho e à pessoa que


trabalha, isto é, às funções dos professores!
Atualmente o professor é um profissional da educação. Assim, enquanto
profissional, ele deve ser munido de saberes distintos para refletir sobre a situação e
decidir o melhor encaminhamento.

São muitos os estudiosos que têm pesquisado sobre os saberes docentes,


entre eles estão: Shulman (1986), Nóvoa (1992), Gauthier (1996), Tardif (1996),
Pimenta (1997) e Freire (1996). Não deixe de pesquisar esses autores para saber
mais sobre essa temática tão importante!

19
Disponível em: https://blog.maxieduca.com.br/wp-content/uploads/2016/09/Didatica-1-
1024x728.jpg Acesso em: 12 jun. 2019.

29
Para facilitar seus estudos, segue uma síntese dos saberes docentes
abordados por diferentes estudiosos.

Tabela: Classificação dos saberes docentes

Fonte: Google imagens. 20

Os saberes englobam os conhecimentos, as competências, as habilidades (ou


aptidões) e as atitudes dos docentes, que provêm de uma série de fontes, como
afirmado por Tardiff (2002).
Essas fontes podem ser: as formações iniciais e contínuas dos professores, o
currículo e a socialização escolar, a aprendizagem com os demais professores, assim
como a própria experiência profissional e a cultura pessoal.
Dessa maneira, os saberes são a base para o ensino!
Eles não se limitam ao conteúdo de um conhecimento específico e teórico. A
experiência também é um saber e fonte importante para o saber-ensinar do professor,

20
https://image.slidesharecdn.com/saberesdocentesfinal-140614131119-
phpapp01/95/saberes-docentes-final-8-638.jpg?cb=1402751588. Acesso em: 20 jun. 19.

30
pois é à medida que vai ensinando, que o professor vê o objetivo final da sua atividade
ser atingido e, com isso, ele, igualmente, aprende.
Além disso, é na participação cotidiana da escola e nas relações com os outros
professores que os diversos conhecimentos são compartilhados e coletivizados.

Figura 19: Saberes docentes a partir da experiência cotidiana

Fonte: Google imagens. 21

Alguns exemplos de experiências cotidianas que envolvem diversos saberes


são as horas-atividades coletivas ou conselhos escolares, ou, ainda, as reuniões de
pais, reuniões de colegiado, entre outras em que os professores e/ou pais se reúnem
para pensar as diversas questões da instituição educativa.
Percebemos, então, que os saberes dos professores são heterogêneos e
plurais, pois despertam de conhecimentos e manifestações do “saber-fazer” e do
“saber-ser”, que são diversificados e advêm de fontes variadas (TARDIF, 2002).

A seguir, acompanhe o quadro elaborado pelo estudioso Tardif (2002), no qual


ele propõe um modelo tipológico para identificar e classificar os saberes dos
professores, evidenciando as fontes de aquisição e os modos de integração no
trabalho docente.

21
http://www.construirnoticias.com.br/wp-
content/uploads/2015/09/15_e_quanto_a_nos_docentes.jpg. Acesso em: 05 jul. 19.

31
Quadro: Fontes dos saberes docentes, de acordo com Tardif

Fonte: retirado de Tardif (2002).22

Assim, os saberes dos professores são temporais, uma vez que são utilizados
e desenvolvidos ao longo de sua carreira e, portanto, em um processo que dura sua
vida profissional, permeada por dimensões de identidade e de socialização
profissional, composta por fases e mudanças.
Antônio Nóvoa, um autor que estuda essa temática da formação de professores
dos saberes da docência e da formação da identidade, afirma que há uma separação
entre o eu pessoal e o eu profissional advindos de alguns saberes adquiridos nas
formações de professores.
Por isso, o autor afirma que é importante resgatar a individualidade no
desempenho da profissão docente, para que problemas, como a má qualificação, a
desvalorização e os salários miseráveis, possam ser enfrentados e solucionados na
profissão.

22
TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 4. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2002.

32
Nessa perspectiva, o professor deve ser compreendido como um intelectual em
contínuo processo de formação, no qual sua ação deve abarcar a intuição, a emoção,
as técnicas e a teoria.
Dentre os estudos sobre os saberes da docência, há a discussão acerca da
formação reflexiva, na qual o professor deve aprender a refletir sobre sua própria
prática.
Porém, Pimenta (2002) afirma que essa é apenas uma expressão da moda que
não se concretiza em reais transformações que garantam a melhoria das condições
escolares e a elevação da profissão de professor.
Isso ocorre porque essa formação reflexiva é compreendida como um ato
individual. O professor deveria, individualmente, refletir sobre sua prática.
A reflexão do professor sobre sua prática tem que fazer parte de um processo
coletivo, pois, quanto mais professores pensarem em conjunto, haverá mais
possibilidades de resolver as questões, já que há mais saberes envolvidos!

Figura 20: Formação reflexiva conjunta

Fonte: Google imagens. 23

Assim, essa formação reflexiva dá muita ênfase à prática, e pouca ênfase é


dada à formação, à qualidade, às condições de trabalho e à realidade como um todo,
em toda sua complexidade.
Por isso, devemos lutar por uma formação na qual o professor reflita sobre sua
prática a partir de conhecimentos que conduzam a uma consciência crítica da
realidade, além de um sistema educativo que tenha como meta a transformação de
sua consciência e da consciência de seus alunos em busca de uma sociedade que
valorize a educação.

23
Disponível em: https://nova-escola-
producao.s3.amazonaws.com/abjngbYGe7mt3SXANzGS4hFSVXDHx36yh8jzfzJdxKAzFteRy7GZYrqt
Zwec/como-inserir-o-trabalho-em-equipe-entre-os-professores-gettyimages.jpg. Acesso em: 10 jul. 19.

33
Chegamos ao final da primeira unidade da nossa disciplina.
Aqui, você estudou alguns elementos iniciais sobre a constituição da identidade
docente.
Dentre eles, discutimos, brevemente, a constituição da profissão docente e
alguns dilemas enfrentados pelos professores no exercício da profissão.
Também estudamos sobre o processo formativo pelo qual o professor passa e
que é parte constitutiva da identidade docente. Esses processos são a formação inicial
e a formação continuada, que devem possibilitar que o professor aprenda o
conhecimento (teoria) e saiba compreender a realidade de forma crítica, para poder
atuar nela (prática).
Por isso, discutimos a importância da prática pedagógica ser práxis, isto é, uma
atividade em constante transformação.
Vimos, ainda, quais são os saberes docentes que os professores aprendem,
tanto nos processos de formação inicial e continuada, como na própria experiência
profissional.
Todos esses temas compõem o que conhecemos por identidade docente, mas
não são somente esses!
Na próxima unidade, aprofundaremos a temática. Espero que você tenha
aprendido bastante e esteja animado para continuar.

Não deixe de ler “Saberes docentes e formação profissional”, de Maurice Tardif,


que foi um importante pesquisador e professor universitário no Canadá. Nesse livro,
o autor busca compreender quais saberes têm fundamentado o trabalho e a formação
de professores. O autor defende a tese de que o saber não é reduzido exclusivamente
a processos cognitivos, mas se manifesta nas diversas relações complexas,
estabelecidas entre professores e alunos.
TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. 4. ed. Rio de Janeiro:
Vozes, 2002.

34
Atividade de aplicação

Convido-o a realizar duas atividades sobre as temáticas que discutimos nessa


unidade.

1- Leia o excerto abaixo:

[…] o saber profissional está, de certo modo, na confluência entre várias


fontes de saberes provenientes da história de vida individual, da sociedade,
da instituição escolar, dos outros atores educativos, dos lugares de formação,
etc. (TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. 4. ed. Rio de
Janeiro: Vozes, 2002).

Agora, faça uma reflexão sobre a importância dos saberes docentes para a
formação e a atuação profissional. Elabore um pequeno texto sobre esse tema,
relacionando os saberes que foram discutidos nessa unidade.
Justifique e exemplifique como trabalhar com os diversos saberes abordados
nessa unidade.
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2- Explique por que a prática docente tem que ser uma atividade intencional e
planejada e qual o papel da formação de professores para que a prática
pedagógica seja práxis docente. Lembre-se de relacionar os conceitos de teoria
e prática.
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1. Quais são os dilemas fundamentais impostos atualmente à profissão docente?


a) Os estudantes, as mídias digitais, a criminalização.
b) A competitividade, a meritocracia, a falta de estímulo.
c) A comunidade, a autonomia, o conhecimento.
d) O autonomismo, a falta de direção, a moral.

36
e) A competitividade, o autonomismo, a comunidade.

2. Como o ato educativo se caracteriza?


a) Em dar respostas práticas para as questões imediatas da vida real.
b) Pela realização espontânea, por parte do aluno, da aquisição do conhecimento
científico.
c) Em produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo, a humanidade
produzida, histórica e coletivamente, pelos homens.
d) Pelas experiências estarem acima da teoria nesse processo, ou seja, a ideia
de que mais vale o trabalho que o estudo.
e) Pela ideia de que sempre será livre e sem amarras.

37
UNIDADE II

2. IDENTIDADE DOCENTE: ASPECTOS NECESSÁRIOS PARA SUA


CONSTITUIÇÃO

Conteúdos trabalhados na unidade: identidade docente: aspectos necessários para sua


constituição. O papel da identidade do professor no exercício do trabalho educativo;
identidade e profissionalização; valorização da carreira docente.

Nesta unidade, vamos trabalhar os conteúdos voltados para o processo de


constituição da identidade do profissional docente.
Vamos abordar os elementos centrais que compõem a identidade do professor
ao longo do seu processo formativo, bem como da sua prática profissional.
1.4 Para que possamos compreender como se forma a identidade profissional no
1.5 Atuação
caso dos e formação
docentes,profissional:
discutiremososas
saberes pedagógicos
relações entre a identidade do professor e a
1.6 profissionalização da docência.
. Apresentaremos, também, um breve debate acerca do processo de valorização
da carreira docente e da necessidade de maior incentivo a esta categoria.
Animado(a) para mais esta unidade?
Vamos aos estudos!

2.1 O papel da identidade do professor no exercício do trabalho educativo

[…] a personalidade dos homens é determinada pelas relações que


estabelecem com o mundo, físico e social, por meio da atividade. Assim, as
características desse mundo circunscrevem as condições de seu
desenvolvimento (MARTINS, 2010, s.p.).

Como já afirmado anteriormente, compreendemos que, enquanto seres sociais,


não temos várias identidades e nem compreendemos que há uma cisão entre o eu
pessoal e o eu profissional.
Portanto, compreendemos que, à medida que estabelecemos relações sociais
com a realidade objetiva, estabelecemos uma articulação entre indivíduo e condições
de existência da vida, o que, por sua vez, possibilita múltiplas possibilidades do
processo de personalização.
Nesse sentido, é por meio da atividade de cada indivíduo que ele desenvolve
sua personalidade, seu modo de compreender a realidade e atuar diante dela.

38
Tornar-se professor faz parte desse processo de personalização, em que, por
meio dos processos formativos e da experiência profissional, cria sua personalidade,
enquanto ser social, ao passo que atua diante da realidade.
É um processo dialético, pois, à medida que o mestre atua na realidade, por
meio do seu trabalho, ele também aprende e se desenvolve.

PERSONALIDADE

Atividade docente Realidade objetiva

De acordo com Basso (1994), o trabalho docente é o produto das relações entre
as condições objetivas, que englobam as condições efetivas de trabalho (participação
no planejamento escolar, preparação das aulas, remuneração do professor, estrutura
e lotação das salas de aula, e as condições subjetivas, isto é, a formação de
professores.

Figura 21: Condições objetivas do trabalho docente

Fonte: Google imagens. 24g

As diversas experiências que os professores têm, a partir da relação


estabelecida com essas condições (objetivas e subjetivas), vão sendo apropriadas
subjetivamente, produzindo diversos sentidos pessoais do que é a docência e
compondo a personalidade de cada um.
Cabe lembrarmos que esse sentido pessoal também se dá a partir do
significado social do trabalho docente.

24
Disponível em: http://revistacontemporartes.com.br/wp-content/uploads/2018/09/saude-
professor-300x248.jpeg. Acesso em: 20 de jul. de 2019.

39
O significado deste trabalho é formado pela finalidade da ação de ensinar, ou
seja, pelo objetivo do ato educativo e pelas operações a serem realizadas de forma
consciente, portanto, planejadas, considerando as condições do processo educativo.
Falar do significado do trabalho docente exige falar da mediação feita entre o
professor e o aluno, de modo que o aluno possa apropriar-se do conhecimento do
professor.

Figura 22: Mediação

Fonte: Dicio.com.br25

Então quer dizer que o conhecimento faz a mediação entre o professor e o


aluno? Exatamente!

Conhecimento como mediador da relação professor-aluno

Professor Aluno

Conhecimento

Por isso levanta-se a importância de uma formação de professores que


possibilite ao professor se apropriar do conhecimento, para que ele possa transmitir
esse conhecimento ao aluno!
Nessa relação, a personalidade/identidade do professor é requisitada a todo
tempo. Isso porque, no ato educativo, o professor deve ensinar (objetivo da docência)

25
Disponível em: https://s.dicio.com.br/mediacao.jpg Acesso em: 20 de jun. 19.

40
aquilo que aprendeu na formação de professores (inicial e continuada), que faz parte
do processo de personalização.
Ou seja, o professor compreende que seu objetivo (significado social) enquanto
docente é o ensino, realiza sua atividade porque (motivo/sentido pessoal) a
compreende, e foi formado para tal, e, à medida que realiza essa atividade, ele vai
aprendendo e ajustando sua práxis pedagógica!

Significado social Sentido pessoal


(Objetivo) (Motivo)
Atividade docente

Nesse sentido, Basso afirma que, quando o significado social é coincidente com
o sentido pessoal da atividade docente, o trabalho do professor é menos alienado, dá
a ele prazer, e, portanto, é mais efetivo.
O professor expressa seus sentimentos, seus conhecimentos, seu modo de
ser, seu modo de interpretar a realidade, seu modo de ministrar a aula, seu modo de
planejar a aula, ou seja, sua personalidade/identidade! Esta última, sempre em
desenvolvimento a partir de todas as relações que o professor estabelece com a
realidade objetiva!

Figura 22: Professora

Fonte: Google imagens. 26

26
Disponível em: https://s5.static.brasilescola.uol.com.br/img/2019/04/sugestao-
professores.jpg Acesso em: 22 jul. 19

41
Porém, muitas vezes, o sentido da atividade docente não é coincidente com o
seu objetivo.
Por quê?
Vejamos o que afirma Basso (1994, p. 38):

Se o sentido do trabalho docente atribuído pelo professor que o realiza for,


apenas, o de garantir a sua sobrevivência, trabalhando só pelo salário, haverá
a cisão com o significado fixado socialmente, entendido como função
mediadora entre o aluno e os instrumentos culturais que serão apropriados,
visando ampliar e sistematizar a compreensão da realidade, e possibilitar
objetivações em esferas não cotidianas.

Como produto dessa cisão, o trabalho do professor se torna alienado, isto é, o


que motiva o professor não é o objetivo nem o produto de sua atividade, que é a
aprendizagem do aluno. O motivo pode ser qualquer outra coisa. Na maioria das
vezes, somente o salário a ser recebido. Com isso, a prática educativa escolar pode
ficar descaracterizada.
Isso acontece por vários motivos! Elenquemos alguns: a má formação inicial ou
continuada, a baixa remuneração, a falta de valorização do professor, as
condições de trabalho, a falta de materiais escolares, entre outros.
Com isso, o professor vai se desmotivando, entrando em sofrimento, e muitas
vezes, adoecendo.

Figura 23: Professor em sofrimento

Fonte: Google imagens. 27

A identidade/personalidade do professor também vai sendo deteriorada nesse


processo de alienação, uma vez que ele não encontra sentido na sua atividade e a
exerce porque é obrigado.
Por isso, é preciso que existam condições objetivas (remuneração, condições
de trabalho, estrutura e lotação das salas de aula etc.) e condições subjetivas

27
https://encrypted-
tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTxlbZwBAZGpp8G_PFBbZnC6KcfYVLIZMD2vEYPlHMg7mfk
i955. Acesso em: 21 jun. 19.

42
(formação de professores), dignas de formarem professores que dirijam, ativa e
conscientemente, sua atividade-ensino e que tomem para si a tarefa de superação
das condições alienantes de trabalho.
Destacamos que a principal função social do ato educativo é o acesso ao
conhecimento historicamente acumulado, pois é isso (o conhecimento de tudo aquilo
que foi produzido ao longo da história da humanidade) que nos torna humanos.
Essa é a tarefa dos professores em suas atividades docentes! E sua
personalidade/identidade deve ser constituída, também, a partir dessa função.
Agora que compreendemos que nossa identidade/personalidade é fundamental
para o exercício da atividade de ensino e que deverá, portanto, ser desenvolvida por
meio de processos formativos e condições de trabalho de qualidade, passemos a
outros aspectos que fundamentam o desenvolvimento da identidade do professor.
Dito isso, convido-o(a) a explorar brevemente a relação entre o
desenvolvimento da identidade e a profissionalização.

Você não pode deixar de ler “A formação social da personalidade do professor:


um enfoque vigotskiano”, de Lígia Marcia Martins.
Nesse livro, a autora examina a formação da personalidade do professor no
capitalismo sob a perspectiva do materialismo histórico-dialético.
Para isso, a autora discute as novas abordagens que tratam da formação do
professor na atualidade, salientando que tais concepções se fundamentam,
prioritariamente, nos aspectos direcionados ao desenvolvimento pessoal do
professor. Como exemplo, a autora traz uma análise da teoria do professor reflexivo.
A autora também demonstra de qual concepção parte para compreender a
personalidade, de modo a contrapor-se às concepções que analisa. Para tanto,
recupera o escopo categorial do materialismo histórico-dialético, demonstrando como
a personalidade é forjada por meio da atividade social-humana, do trabalho e como
ocorre o processo de personalização.
MARTINS, L. M. A formação social da personalidade do professor: um
enfoque vigotskiano. Campinas: Autores Associados, 2007.

2.2 Identidade e profissionalização

Já entendemos que a identidade não é inata e constitui-se por meio das


relações que estabelecemos na realidade objetiva, certo?

43
Também já compreendemos que é imprescindível uma formação inicial e
continuada de qualidade, assim como condições de trabalho que possibilitem ao
professor efetivar o que apreendeu com o seu processo formativo, ao passo que,
nesse processo, expressa sua identidade e a transforma ao mesmo tempo.
No entanto, outros fatores também fazem parte do processo de
desenvolvimento da identidade docente.

Figura 24: Identidade em formação

Fonte: Google imagens.28

Trataremos nesse item sobre a relação entre a identidade e a profissionalização


Mas o que é profissionalização?
Vejamos algumas conceituações acerca da profissionalização que são
recorrentes na literatura especializada.

28Disponível em: https://www.google.com/search?hl=pt-


BR&biw=1366&bih=689&tbm=isch&sa=1&ei=gkBbXcCIIpfD5OUPj6aCoA8&q=identidade+profissional
&oq=identidade+pro&gs_l=img.3.0.0l10.6885.7759..9806…0.0..0.107.408.1j3……0….1..gws-wiz-
img…….0i67.hVglcerdRHM#imgrc=dQJV8fkPout6FM: Acesso em: 12 jul. 19.

44
Figura 25: Investigando a literatura científica

Fonte: Google imagens29

Enguita (1991), compreende a profissionalização como a competência


específica, a vocação, a autorregulação e a independência.
Conforme Núñez e Ramalho (2018), a profissionalização se refere à
representação da profissão como processo contínuo/descontínuo no decorrer da
história da docência. Conforme os autores, a profissionalização é:

[…] um movimento ideológico, na medida em que repousa em novas


representações da educação e do ser do professor no interior do sistema
educativo. É um processo de socialização, de comunicação, de
reconhecimento, de decisão, de negociação entre os projetos individuais e os
dos grupos profissionais. Mas é também um processo político e econômico,
porque, no plano das práticas e das organizações, induz novos modos de
gestão do trabalho docente e de relações de poder entre os grupos, no seio
da instituição escolar e fora dela (NÚÑEZ e RAMALHO, 2018, p. 4).

Para Ramalho; Núñez e Gauthier (2004), a profissionalização se constitui da


unidade entre dois aspectos: um interno, designado profissionalidade, e outro externo:
o profissionalismo.
Figura 26: Construindo a identidade docente

29
https://img2.gratispng.com/20180324/zgw/kisspng-france-magnifying-glass-drawing-computer-
icons-loupe-5ab62e0642d033.1578637815218887742737.jpg

45
Fonte: Google imagens. 30

Essas duas dimensões são nucleares à construção da identidade profissional,


como afirmado pelos autores.
Vamos entender melhor o que são essas duas dimensões?
A profissionalidade diz respeito aos conhecimentos, técnicas, saberes e
competências necessários ao exercício da profissão. No caso do professor, é por meio
da profissionalidade que ele adquire saberes e competências próprios da docência.
Já o profissionalismo se relaciona à ética dos valores e normas, às relações no
grupo profissional com outros grupos. Essa dimensão se associa à vivência da
profissão e às relações estabelecidas com os pares, de modo a desenvolver a
atividade docente.
Libâneo afirma que o profissionalismo compreende o

desempenho competente e compromissado dos deveres e responsabilidades


que constituem a especificidade de ser professor e ao comportamento ético
e político expresso nas atitudes relacionadas à prática profissional
(LIBÂNEO, 2004, p. 75).

Libâneo (2004) parte da concepção de que a escola deve ser um espaço de


transformação. Deste modo, é essencial que a prática do professor estabeleça uma
mediação entre o trabalho que se faz em sala de aula e a realidade que os educandos
vivenciam fora da escola e com as diferentes capacidades e aptidões. Nessa
perspectiva, objetiva-se promover o respeito à diversidade cultural e as diferenças no
contexto escolar. Deste modo, o professor deve fazer a discussão sobre os objetos
de estudo nos diferentes enfoques - interdisciplinaridade - permitindo a superação do
senso comum.
Tais dimensões não podem ser consideradas separadas. Elas se articulam, de
modo a culminar na construção da identidade profissional do professor.

PROFISSIONALIZAÇÃO

PROFISSIONALISMO PROFISSIONALIDADE

O processo de profissionalização se insere em um tripé de investimento do qual


participam três processos fundamentais à construção da identidade docente: o
desenvolvimento pessoal, referente aos processos de produção da vida do professor,
o desenvolvimento profissional, que se refere aos aspectos específicos da
profissionalização, e o desenvolvimento institucional, compreendido como os

30
Disponível em: http://raciocinioclinico.com.br/wp-
content/uploads/2018/11/quebracabeca3.jpg

46
investimentos da instituição para o alcance dos objetivos do trabalho pedagógico
(NÓVOA, 1992).
Assim, para o autor, a identidade docente é um espaço no qual se constroem
as maneiras de ser e estar na profissão!

Antônio Nóvoa (1992) propõe um conceito de profissão no qual quatro


processos se articulam e configuram a profissão docente ou a profissionalização.
Esses processos são:
1) a prática de determinada atividade;
2) o suporte legal para o exercício da profissão;
3) os procedimentos para a aquisição de um corpo de saberes e saber-fazer
específicos da profissão, por meio de uma formação específica, especializada e longa;
4) a organização de associações de profissionais para definir as normas da
profissão, controlar o exercício, defender os interesses socioeconômicos, proteger
normas éticas etc.
Não deixe de estudar mais sobre esse autor que tanto contribuiu para a
temática!
Agora que discutimos sobre a relação entre identidade docente e
profissionalização, vamos passar ao nosso próximo assunto: a valorização da carreira
docente!

2.3 Valorização da carreira docente

A temática da valorização da profissão docente tem sido, cada vez mais,


presente no debate educacional no Brasil e em outros países.
Isso porque o cenário educacional brasileiro tem apresentado fatores
preocupantes que afetam a prática docente, como, por exemplo, a carga de trabalho,
os baixos salários, a falta de perspectiva na carreira, entre outros.
Com isso, ocorre um processo de desvalorização da carreira docente, tanto na
educação básica como no ensino superior.

47
Figura 27: Desvalorização do professor

Fonte: Google imagens. 31

De acordo com Oliveira (2013), o termo valorização docente engloba três


fatores que interferem na condição do profissional:
1) a remuneração;
2) a carreira e as condições de trabalho e
3) a formação inicial e continuada.

Já discutimos que o professor é aquele que, por meio do ato educativo,


possibilitará que seu aluno se aproprie do conhecimento, para poder se desenvolver,
certo? E que, para isso, o professor deve ter uma formação de qualidade e condições
de trabalho para efetivar seu trabalho.
No entanto, quando o professor não tem uma remuneração adequada, nem
condições de trabalho dignas e nem formação inicial e continuada de qualidade, como
pode ser possível conseguir ensinar o seu aluno?
Por isso, ressalta-se a importância em discutirmos e exigirmos uma valorização
da carreira docente! Afinal, a educação é um bem precioso da humanidade, os
professores devem ter condições de efetuar o seu trabalho e os alunos devem ter
condições de aprender.
Vocês se lembram que, no item anterior, discutimos acerca da
profissionalização? Aprendemos que a profissionalização é a síntese dos saberes
técnicos adquiridos na formação, além da vivência do professor no exercício
profissional, certo?

31Disponível em: http://2.bp.blogspot.com/-


f6PaNtjva20/TfwKQlS5D9I/AAAAAAAAATk/Re50d2UVuOY/s1600/imagesCAOBHCPR.jpg - Acesso
em: 11 jun. 2019.

48
Isso tem tudo a ver com a valorização docente! Pois, para que ocorra uma
efetiva profissionalização, é necessário que haja, entre outros aspectos, as condições
de exercício da profissão.
Se há uma desvalorização política e social dos professores, isso se reflete no
baixo reconhecimento social do trabalho docente, tanto na forma como o professor se
vê e atua diante da realidade quanto na forma como é visto socialmente.

Figura 28: Reconhecimento da profissão docente

Fonte: Google imagens.32 g

O produto dessa desvalorização engloba aquilo que já discutimos: o sentido


pessoal do professor é alienado. Ele não se reconhece na sua profissão. Sua
identidade docente, que é construída ao longo da sua carreira, cada vez mais se
perde, pois a percepção que o docente possui sobre o valor da sua profissão não pode
ser positiva, uma vez que a própria sociedade não o reconhece.

32Disponível em: http://2.bp.blogspot.com/-


fotCziFF5Vw/TyKJyPA8xsI/AAAAAAAACkE/sijYSz3NbWE/s1600/professor-260112-humor-politico.jpg

49
Barretto (2010) pesquisou sobre como os professores e o trabalho docente são
vistos socialmente e destacou que ocorre uma perda de prestígio nesse exercício
profissional. De acordo com o autor, isso ocorre por causa

[...] da crise da escola em face da expansão da escolaridade e da diminuição


do valor relativo dos certificados que ela fornece, bem como da perda do
monopólio que detinha a instituição escolar sobre a transmissão do saber
autorizado (Barreto, 2010, p. 428).

Para saber mais sobre essa pesquisa, ver: Barretto, E. S. de S. (2010).


Trabalho docente e modelos de formação: velhos e novos embates e
representações. Cadernos de Pesquisa, 40 (140), 427-443.

Outro aspecto importante a ser ressaltado acerca da não valorização docente


diz respeito à atratividade da profissão docente.
Ora, se uma profissão não é valorizada, como pode ser atrativa e desejada?
Não será desejada nem pelos jovens que estão terminando o ensino médio e buscam
um trabalho, muito menos pelos professores que têm vivido diariamente essa
desvalorização e acabam mudando de profissão.
E como ocorre a valorização da carreira docente?

Figura 29: Valorização da carreira docente

Fonte: Google imagens.33 h

33
Disponível em: http://www.mensagens10.com.br/wp-content/uploads/2013/10/o-melhor-presente.jpg

50
A valorização da carreira docente tem avançado nas últimas décadas,
principalmente pelas reivindicações da categoria que culminaram na promulgação de
várias leis. Esse fato é muito importante, pois é por meio destas leis que podemos
exigir que a carreira seja valorizada.
Dentre os fatores que englobam a valorização docente, as políticas de
formação têm se destacado, pois, como afirma Oliveira:

Tais políticas têm adquirido relevância em razão da necessidade de


responder às exigências de titulação ao conjunto dos professores que atuam
nas escolas de educação básica no país. Desde a promulgação da LDB n°
9394/96, o grau de instrução dos professores brasileiros tem aumentado
significativamente. (OLIVEIRA, 2013, p. 69)

Olha só a importância da formação e do grau de instrução para a valorização


da carreira docente! É por meio desse processo que a educação avança
qualitativamente e o professor pode efetivar sua função de ensinar a seus alunos!

Um exemplo de legislação que compõe a valorização da carreira docente é o


Plano Nacional de Educação (Lei nº 13.005/2014). A Meta 18 deste plano obriga que
a União, os estados, municípios e Distrito Federal garantam planos de carreira e
remuneração para os profissionais da educação escolar básica pública. Para mais
informações, estude sobre o PNE: Lei 13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano
Nacional de Educação (PNE) e dá outras providências. Disponível em:
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2014/lei-13005-25-junho-2014-778970-
publicacaooriginal-144468-pl.html. Acesso em: 21 de junho de 2019.

51
Chegamos ao final da segunda unidade da nossa disciplina.
Aqui, você estudou sobre mais elementos que constituem a identidade docente.
Dentre eles, discutimos brevemente acerca do papel da identidade do professor
no exercício do trabalho educativo e como ela vai se constituindo à medida que
interfere na realidade, com o modo de ser do professor.
Também estudamos sobre a relação entre identidade e profissionalização,
demonstrando como o processo de profissionalização engloba a profissionalidade e o
profissionalismo.
Por isso, discutimos novamente a importância da formação inicial e continuada
de qualidade para que a prática pedagógica possa ser efetiva, assim como a
importância das condições de trabalho.
Vimos ainda a necessidade da valorização da carreira docente, como a
profissão docente tem sido desvalorizada, embora seja a profissão que forme outras
profissões, e a importância da valorização docente para a percepção do professor
sobre sua profissão.
Todos esses temas compõem o que conhecemos por identidade docente, por
meio de um processo em que eles se relacionam e se transformam ao longo da
história de vida do professor.
Na próxima unidade, direcionaremos nossa discussão para a docência no
ensino superior. Espero que você tenha aprendido bastante e esteja animado para
continuar.

Atividade de Aplicação

Convido-o a realizar duas atividades sobre as temáticas que discutimos nessa


unidade.

1- A partir do quadrinho abaixo, explique de que forma o professor pode ser


valorizado e qual a importância da valorização da carreira docente:

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Bom trabalho!

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2- Explique como a identidade se constitui a partir do conceito de


profissionalização.

34
Disponível em: https://s3.amazonaws.com/qcon-assets-
production/images/provas/44211/60389fd69500fea7c560.png

53
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1- Assinale a alternativa correta para a seguinte questão: quais são os aspectos


que se relacionam, constituem o que compreendemos como profissionalização
e são nucleares à construção da identidade profissional?
a) Vocação e profissionalidade.
b) Formação continuada e profissionalismo.
c) Profissionalidade e profissionalismo.
d) Competência e autoconhecimento.

54
e) Ética e profissionalidade.

2- A valorização docente é de extrema importância para a constituição da


identidade do profissional e é composta, principalmente, por três fatores
decisivos à forma como o professor percebe e vivencia à docência. Assinale a
alternativa que expressa esses fatores.

a) Sentido pessoal, ética e identidade.


b) Remuneração, condições de trabalho e formação inicial e continuada.
c) Educação formal, tecnologias e ética.
d) Reunião de professores, capacitação e reflexão sobre a prática.
e) Organização de associações de profissionais, normas da profissão e
remuneração.

55
UNIDADE III

3. AS ESPECIFICIDADES DA DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR

Conteúdos trabalhados na unidade: As especificidades da docência no


ensino superior: Docência universitária; Realidade do ensino superior no Brasil;
Desafios e perspectivas na atuação profissional.

Nesta unidade, temos como objetivo principal apresentar para você, aluno,
futuro docente do ensino superior, algumas respostas para a seguinte questão: Qual
docente
1.7 é preciso no ensino superior?
Para isso,
1.8 Atuação debateremos,
e formação no primeiro
profissional: item, pedagógicos
os saberes as características principais que
compõem
1.9 a universidade e a atividade docente em exercício.
No. segundo item, discutiremos sobre a realidade do ensino superior hoje no
Brasil, abrangendo as questões mais emergentes.
Terminaremos essa unidade com um terceiro tópico que irá abordar os desafios
e as perspectivas para o docente em atuação hoje.

Queremos, também, que você construa suas próprias respostas. Então,


teremos algumas questões ao final desta unidade, para que você responda a essa à
pergunta inicial “Qual docente é preciso no ensino superior?” e a outras perguntas!
Faça suas anotações para construir boas respostas!
Vamos ao conteúdo?

56
3.1 Características básicas da docência universitária

Figura 30: Docência universitária

Fonte: Google imagens. 35

Antes de iniciarmos propriamente o estudo desta unidade, é importante


deixarmos claro qual será nosso objeto de estudo, para não incorrermos em
generalidades ao longo do assunto, visto que temos, adiante, uma grande montanha,
em se tratando de possibilidades para se abordar esse tema tão complexo quanto são
as universidades. Portanto, falaremos mais detidamente sobre os aspectos da
docência universitária.
Iniciaremos esta unidade com alguns apontamentos gerais sobre o que é a
universidade diante da sociedade na qual vivemos, para que possamos,
posteriormente, aprofundar o tema da docência universitária.

35
Disponível em: https://imagenes.universia.net/gc/net/images/educacion/i/im/ima/imagem-ensino-
para-adultos. Acesso em: 19 jul. 19.

57
 Você sabe quais são as funções
atribuídas às universidades?

 E quem são os profissionais que


atuam nas universidades?

Fonte: https://publicdomainvectors.org/pt/vetorial-
gratis/Rapaz-pensando-em-
quest%C3%A3o/70001.html

Essas e outras perguntas que todo profissional do ensino superior deve saber
serão debatidas nesta unidade do livro-texto!

3.1.1 O que são as universidades?

As universidades são instituições de ensino que apresentam funções


específicas diante da sociedade. É por meio delas que ocorre o processo de
construção científica e de crítica ao conhecimento historicamente produzido, ou seja,
de investigação e criação de novos horizontes e formas sociais.

Figura 31: Universidade Paulista - UNIP

Fonte: Google imagens.36

36
Disponível em: https://www.unip.br/presencial/ensino/graduacao/tradicionais/index.aspx. Acesso em:
15 jun. 2019.

58
Podemos sintetizar algumas das principais tarefas atribuídas ao processo de
formação superior, para melhor compreendermos sua função social:
I. Introdução ao conjunto de conhecimentos produzidos pela história das
sociedades humanas.
II. Domínio de habilidades e conhecimentos específicos que proporcionam
avanços profissionais.
III. Autonomias intelectual e profissional na busca por conhecimentos.
IV. Elaboração de novos paradigmas para o conjunto da sociedade.

É importante destacarmos, também, que cabe ao processo de formação


universitária a preparação para alguns ramos de atividades profissionais específicas,
como é o caso dos médicos, engenheiros, advogados e, como não poderia deixar de
ser, dos professores.
Para cada uma dessas atividades, exige-se um curso de formação que busque
dar os elementos básicos, e também os mais avançados, do conhecimento que já foi
produzido ao longo da história em cada uma dessas áreas do conhecimento humano.
Para a atuação profissional como docente, são exigidos os cursos de
licenciatura e as especializações; como essa, em docência no ensino superior, assim
como os mestrados e os doutorados.
Agora que apresentamos algumas das atividades centrais atribuídas às
universidades, vamos recorrer às pesquisadoras do tema para complementarmos o
entendimento.
De acordo com Pimenta, Anastasiou e Cavallet, as funções das universidades
podem ser sintetizadas da seguinte forma:

[…] criação, desenvolvimento, transmissão e crítica da ciência, da


técnica e da cultura; preparação para o exercício de atividades
profissionais que exijam a aplicação de conhecimentos e métodos
científicos e para a criação artística; apoio científico e técnico ao
desenvolvimento cultural, social e econômico das sociedades.
(PIMENTA; ANASTASIOU e CAVALLET, 2003, p. 170).

O livro “Docência no ensino superior”, organizado pelas autoras Selma Pimenta


e Léa Anastasiou, situa o trabalho dos professores na sala de aula e busca
problematizar a docência no ensino superior em relação às distintas condições nas
universidades públicas e particulares, nos centros universitários e nas faculdades

59
isoladas. Além disso, o livro traz uma análise do ensino superior no contexto atual,
suas finalidades e suas tradições. Ainda são discutidas questões referentes à
identidade do professor no ensino superior, entre outras. Não deixe de estudar essa
referência importantíssima!
PIMENTA, Selma G. & ANASTASIOU, Léa G. C. Docência no Ensino Superior. 2.
ed. São Paulo: Cortez Editora, 2005, 279 p.

Nesse sentido, o docente universitário tem, em sua atividade profissional,


algumas especificidades que são características desta atividade e devem ser
aprendidas por ele(a) para um bom exercício da docência. Isso ocorre nos cursos de
licenciatura e em cursos, como este, de pós-graduação, ou nas especializações.
São muitas as modalidades de formação, porém, o que deve ser claro para o
docente que se prepara para a atuação universitária é: a formação e o aprimoramento
profissional devem ser constantes, e o professor precisa sempre se manter atualizado
em relação ao campo de atuação. Isso só ocorre por meio do estudo permanente
aliado à formação contínua!
Depois de apresentarmos as funções sociais específicas das universidades, ou
seja, o motivo de ser dessas instituições, podemos passar à discussão acerca daquele
que faz essa função da universidade se efetivar.

Figura 32: Professor universitário

Fonte: Google imagens.37

37
Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-38536327. Acesso em: 01 jul. 2019.

60
 Quem são os responsáveis pelo cumprimento da função social da
universidade?

Até aqui, partindo do que já foi debatido nas unidades anteriores e no início
desta, já é possível pensarmos em algumas respostas para essa pergunta acima.
O responsável pelo cumprimento da atividade central das universidades, que é
o ensino especializado das várias áreas do conhecimento humano, é o professor
universitário.
Vejamos, então, qual é o perfil que devem ter os docentes universitários!
As universidades têm algumas características e funções específicas de ser
diante da sociedade, certo? São elas: construções científica e de crítica ao
conhecimento historicamente produzido, ou seja, de investigação e criação de novos
horizontes e formas sociais.
Nesse sentido, notamos que o processo de ensino é parte central dessa
complexa atividade que se construiu ao longo da história nas universidades.
Essa atividade, o ato de ensinar, é especificamente uma atividade humana, que
se desenvolveu a partir da transformação do ser natural em ser social. E é, portanto,
uma atividade que sofreu uma série de transformações para se desenvolver no que
é, hoje, expressão desse processo histórico.
Existem norteadores para a atuação do professor, sejam eles leis federais,
conselhos que regulamentam a profissão, projetos políticos pedagógicos etc.
São muitas as funções atribuídas aos professores universitários. De acordo
com Zabalza (2004) são três, as funções atribuídas aos professores universitários: o
ensino, a pesquisa e a administração em diversos setores da instituição. Para Veiga
(2005) soma-se a essas funções, a orientação acadêmica: monografias, dissertações
e teses, além artigos e supervisão de estágios o que faz com que o trabalho docente
se torne mais complexo.
Podemos perceber que docência ultrapassa as tarefas de ministrar aulas, pois
os professores desempenham muitas outras funções (VEIGA, 2006).
Além disso, Veiga (2006) afirma que a docência universitária exige a
indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.

Figura 33: Tripé da universidade: ensino, pesquisa e extensão

61
Fonte: Google imagens38
A indissociabilidade entre esses três eixos é essencial ao funcionamento da
universidade e à prática do professor. De acordo com Veiga (2006):

A indissociabilidade aponta para a atividade reflexiva e problematizadora do


futuro profissional. Articula componentes curriculares e projetos de pesquisa
e de intervenção, levando em conta que a realidade social não é objetivo de
uma disciplina, e isso exige o emprego de uma pluralidade metodológica. A
pesquisa e a extensão indissociadas da docência necessitam interrogar o que
se encontra fora do ângulo imediato de visão. Não se trata de pensar na
extensão como diluição de ações - para uso externo - daquilo que a
universidade produzir de bom. O conhecimento científico produzido pela
universidade não é para mera divulgação, mas é para a melhoria de sua
capacidade de decisão (VEIGA, 2006, p. 87).

Portanto, o professor universitário deve desempenhar, não só, atividades


direcionadas à preparação e à execução das aulas, como deve, igualmente,
desenvolver projetos de pesquisa e de extensão.
Deste modo, o ensino deve ser efetivado indissociavelmente à extensão, e o
professor universitário deve possibilitar uma formação contextualizada às questões
contemporâneas da sociedade. O mesmo processo indissociável deve ocorrer em
relação à pesquisa, para que seja possibilitado o domínio de instrumentos específicos
de cada segmento profissional.

Figura 34: A indissociabilidade do tripé: ensino, extensão e pesquisa

Fonte: Google imagens. 39

38Disponível em: https://posgraduando.com/wp-content/uploads/2019/03/trip%C3%A9-


800x325.jpg. Acesso em: 17 jul. 19
39 https://www.apufpr.org.br/files/noticias/29122.png - Acesso em: 01 jul. 2019.

62
Segundo a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da educação), de 1996, o sistema
educacional brasileiro está dividido em dois grandes níveis: o nível do ensino básico
(composto pela educação infantil, pelo ensino fundamental do 1º ao 9º ano e pelo
ensino médio) e pelo ensino superior e a pós-graduação.
Com relação aos profissionais do ensino superior, de acordo com a LDB (Lei
de Diretrizes e Bases da educação), de 1996, foram fixadas algumas atribuições para
a atividade docente, entre elas:

I – participar da elaboração da proposta pedagógica da instituição de ensino;


II – elaborar e cumprir plano de trabalho;
III – zelar pela aprendizagem dos alunos;
IV – estabelecer estratégias de recuperação para os alunos de menor
rendimento;
V – ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos,
VI – participar integralmente dos períodos dedicados ao planejamento, à
avaliação e ao desenvolvimento profissional.

Além das características elencadas acima, não podemos nos esquecer de uma
característica importantíssima: a inovação!

Figura 35: Inovação

Fonte: Google imagens. 40

40
http://www.aen.pr.gov.br/modules/galeria/uploads/56420/news_interna_sinapse12.jpg -
Acesso em: 01 jul. 2019.

63
Essa característica é essencial ao exercício da docência, pois é preciso romper
com as formas conservadoras de ensinar, aprender, pesquisar e avaliar!
Além disso, de acordo com Veiga (2006), a inovação pode possibilitar a
superação de dicotomias entre o conhecimento científico e o senso comum, educação
e trabalho, teoria e prática, uma vez que se busca a reconfiguração dos saberes.
É preciso uma formação de professores universitários que possibilite o
desenvolvimento dessa habilidade tão importante, que é a inovação.
Observe a importância da formação novamente! Seja ela inicial e/ou
continuada, deve sempre servir ao desenvolvimento qualitativo do profissional.
E o que garante essa formação para professores universitários?
Com relação ao amparo legal, o artigo 66 da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação - Lei 9394/96 - diz o seguinte: “A preparação para o exercício do magistério
superior far-se-á em nível de pós-graduação, prioritariamente em programas de
mestrado e doutorado”.
Deste modo, observa-se que o docente universitário não será formado, e sim,
preparado, nos programas de mestrado e doutorado.
O parágrafo único do mesmo artigo reconhece o notório saber, que se refere
ao título concedido por universidade com curso de doutorado em área afim.
Diante disso, observa-se que a formação pedagógica para o exercício da
docência universitária não é possibilitada em sua completude, uma vez que os cursos
de pós-graduação, muitas vezes, exigem somente uma disciplina de metodologia de
ensino e não proporcionam a formação pedagógica de professores.
Assim, é necessária a iniciativa individual aliada aos regimentos das instituições
de educação superior para que se efetive uma formação docente voltada à formação
pedagógica do professor universitário.

Você sabia que existe o Plano Nacional de Graduação: um projeto em


construção (PNG), que se estrutura em torno de princípios e fundamentos, diretrizes,
metas e parâmetros para a graduação? Não deixe de estudar esse documento, para
melhor compreender o funcionamento dessa modalidade de ensino!
FORGRAD, Plano Nacional de Graduação: um projeto em construção. In:
FORGRAD. Resgatando espaços e construindo ideias. 3. ed. ampl. Uberlândia: Edufu,
2004.

64
Em síntese, o que é preciso para o professor exercer o magistério no ensino
superior? "[…] o exercício do magistério da educação superior deve ser
desempenhado por doutores e mestres, com evidente prioridade para os primeiros"
(FORGRAD, 2004, p. 242).

Figura 36: Docência do ensino superior

Fonte: Google imagens. 41

Não basta ao professor universitário possuir a titulação e/ou diploma. É preciso


que este tenha conhecimento de determinado campo científico e dominar os
conhecimentos pedagógicos, necessários para a docência universitária!
Por isso, é importante buscar programas de desenvolvimento profissional que
proporcionem a superação da formação e o desenvolvimento profissional de maneira
fragmentada e descontínua.
Zabalza (2004) propõe que a formação e o desenvolvimento profissional de
professores universitários devam considerar as seguintes questões:

[…] sentido e significado da formação: que tipo de formação? Formação para


quê? - Conteúdo da formação: formação sobre o quê? - Destinatários da
formação: formação para quem? - Agentes da formação: quem deve ministrá-
-los? - Organização da formação: que modelos e metodologias? (p. 146).

Após toda essa discussão acerca das características da docência universitária,


podemos compreender que formar professores universitários demanda que se
reconheça a importância do papel da docência, de modo que seja fornecida uma
profundidade científico-pedagógica.

41
https://www.ifgoiano.edu.br/home/images/IPMR/Imagens/variadas/docencia.png - Acesso
em: 03 jul. 2019.

65
Compreendemos, portanto, que os professores universitários devem ser
desenvolvidos a partir de tais características, para que tenham capacidade de
enfrentar questões fundamentais da universidade:
a) formação científica na área do conhecimento;
b) pós-graduação stricto sensu, preferentemente, no nível de doutorado;
c) domínio do processo histórico de constituição da sua área do conhecimento;
d) crítica à compreensão dos métodos que produziram o conhecimento
acumulado;
e) competência pedagógica.

Não deixe de estudar o livro “Trajetórias e lugares de formação da docência


universitária: da perspectiva individual ao espaço institucional”, organizado pela
pesquisadora Maria Isabel da Cunha e sua equipe do grupo de pesquisa Formação
de professores, Ensino e Avaliação.
Neste livro se buscou compreender e analisar a problemática da formação
específica do professor universitário e a as consequências desta para a
profissionalização dos docentes do Ensino Superior, tanto em nível político, como em
nível institucional.
Nos textos apresentados, são discutidas a existência de iniciativas e
experiências no âmbito da formação acadêmica (cursos e disciplinas, por exemplo) e
a formação continuada, incluindo projetos institucionais, além de haver o
questionamento da necessidade da formação ser somente uma responsabilidade
individual dos sujeitos interessados nessa profissão, entre outras coisas.
CUNHA, Maria Isabel da. Trajetórias e lugares de formação da docência
universitária: da perspectiva individual ao espaço institucional. Araraquara:
Junqueira e Marins Editora, 2010.

3.2 Realidade do ensino superior no Brasil

Discutimos, no tópico anterior, duas questões que são fundamentais tanto para
a formação quanto para a atuação docente no ensino superior, além de constituírem
características da docência universitária. Foram elas:
Quais são as funções atribuídas às universidades?
Quem são os profissionais que atuam nas universidades?
Para este tópico, iremos apresentar alguns elementos que compõem a
realidade do ensino superior no Brasil, retomando aspectos do universo da docência
universitária e como ela tem sido efetivada no contexto brasileiro.

66
Vamos para mais essa unidade desafiadora!

Imagem 37: O desafio do ensino superior no Brasil

Fonte: Google imagens 42.

Uma das primeiras inquietações diante de qualquer profissional docente é a


necessidade em se responder a uma pergunta que, aparentemente, é simples, porém,
carregada de um enorme peso social e que irá influir em muito na prática de cada um:
A serviço de quem está o meu conhecimento?
Podemos colocar essa pergunta de diversas formas, que o conteúdo será o
mesmo: "Qual é o meu objetivo enquanto formador(a) diante da sociedade em que
estou inserido(a)?".
O profissional que tem elaborado para si essas respostas, já em seu processo
de formação e preparação para a docência, será mais confiante e seguro em relação
às suas tarefas e atribuições, assim como ao exercício da docência em si.
E você, aluno(a), alguma vez já parou para se perguntar, ou perguntaram a
você, sobre esse tema? Já consegue responder a essa pergunta? Vamos
complementar um pouco mais nosso debate!
Um passo importante é nos questionarmos acerca do caráter do ensino que
nos foi oferecido ao longo de nosso processo de formação humana e enquanto
profissionais, ou seja, tivemos, de fato, condições para uma educação humana
integral?

42
https://www.123rf.com/photo_49320171_stock-vector-pink-brain-in-the-form-of-a-burning-
light-bulb-on-a-white-background-illustration-drawn-by-hand-.html - Acesso 03 jul. 19.

67
Figura 38: Ensino para o desenvolvimento integral

Fonte: Google imagens. 43

E, por outro lado, qual é o tipo de ensino que queremos ofertar aos nossos
estudantes quando estivermos em atuação no ensino superior?
Segundo Carlinda Leite e Kátia Ramos (2012, s/p.), duas pesquisadoras
importantes acerca dos processos de formação para a docência no ensino superior,

[…] é reconhecida a necessidade de um ensino que contribua para superar a


fragmentação de funções, ou seja, de um ensino profissional que, tendo um
carácter propedêutico, se articule com a investigação e que esteja em sintonia
com o contexto social.

Deste modo, nosso papel como formadores, como docentes no ensino superior,
deve ser o de buscar superar a chamada "fragmentação das funções", ou seja, de
combater as visões que separam a realidade e o conhecimento cientifico em
compartimentos fragmentados, em que pouco ou nada se relaciona e contribui com o
avanço dos conhecimentos para as áreas afins.

43
Disponível em: http://www.fundacaosmbrasil.org/cms/wp-
content/uploads/2016/11/videoeducacaointegral.png - Acesso em: 30 jun. 2019.

68
Figura 39: Superação da fragmentação do conhecimento

Fonte: Google imagens. 44

Como garantir isso?


Depende de, ao professor, ter sido ofertado um conhecimento de mundo que
seja, por sua vez, um conhecimento não fragmentado, que forneça os elementos para
a elaboração crítica acerca da realidade.
Portanto, o professor deve desempenhar um papel ativo na formação integral
do aluno. É por meio desse processo que se possibilitará a humanização de ambos.
Para isso, as autoras ainda afirmam que o ensino deve ter características
propedêuticas, ou seja, que busque sempre articular a investigação e o conhecimento
cientifico à realidade dos estudantes.
É preciso que o professor se faça compreendido e tenha sentido na realidade
de cada estudante.

Figura 40: Conhecimento científico clareando a realidade do aluno

Fonte: Google imagens. 45

44Disponível em: http://marcassconsultoria.com.br/wp-


content/uploads/2016/07/shutterstock_296231522.jpg. Acesso em: 03 jul. 2019.
45 Disponível em: https://www.coladaweb.com/wp-content/uploads/2014/12/20160223-
conhecimento-cientifico.jpg. Acesso em: 04 jul. 2019.

69
Vamos apresentar, agora, alguns dados quantitativos que ajudam a compor o
complexo quadro da realidade do ensino superior no Brasil hoje.
Posteriormente, faremos um debate qualitativo acerca das interpretações
desses dados para completar ainda mais os seus conhecimentos sobre o ensino
superior.
Animado? Vamos lá!

Tabela 01: Número de vagas ofertadas no ensino superior de 1933 a 2005 por setor

A partir da tabela acima, observamos que o número de vagas ofertadas para o


ensino superior, no recorte temporal apresentado pela tabela, em 2004, era pouco
mais de cem vezes maior do que em 1933!
Além disso, o número total de matrículas, tanto para instituições públicas
quanto privadas, passou por uma mudança significativa.
Embora nos dois setores, tanto público como privado, a oferta de vagas tenha
sido largamente ampliada ao longo dos anos, no início da contagem de dados da
tabela, ou seja, em 1933, o quantitativo de matrículas nas instituições públicas era
aproximadamente 13% maior do que nas instituições privadas. Já, em 1985, essa
proporção se inverte e, em 2005, o número de matrículas nas instituições privadas
torna-se cerca de 43% maior em relação às instituições públicas, representando um
total de 2.985.405 matrículas em um universo total de 4.163.733.

70
Figura 41: A expansão do ensino superior

Fonte: Google imagens. 46

Sobre essa mudança no perfil das instituições de ensino que abarca a maioria
dos estudantes no ensino superior no Brasil, de instituições públicas para a rede
privada de ensino, fica evidente uma série de desdobramentos.
Uma delas diz respeito às questões referentes aos recursos destinados a cada
uma das modalidades de ensino no Brasil.
Os recursos financeiros destinados a cada uma das modalidades estão
diretamente ligados à qualidade de recursos materiais e imateriais disponíveis ao
professor para aquele determinado nível de processo de formação humana.
Segundo Alexandre de Paula Franco, em 2006, o percentual do PIB (Produto
Interno Bruto), ou seja, a soma das riquezas produzidas no Brasil ao longo de um ano,
que correspondia aos investimentos federais com a educação em todos os seus
níveis, chegava à casa dos 4,3% do conjunto das riquezas nacionais.
Franco (2008) afirma que, para alguns críticos sobre a temática, o investimento
no ensino superior é ínfimo, se comparado aos demais níveis de educação. Alguns
dados apontam que, em 2006, era até 10 vezes maior o investimento por aluno no
ensino superior em relação ao ensino fundamental.
O autor compreende que "ampliar o investimento no ensino básico não significa
reduzir o que se aplica nesse nível, mas sim ampliar o patamar do PIB, de cerca de
4,3% para 7 a 8%, de modo a aumentar recursos para a educação básica" (FRANCO,
2008, p. 55).

46
Disponível em:
http://www.portoferreirahoje.com.br/thumb/740x428/ahBzfmxvY2FsLW5ld3MtaHJkcg4LEgVJbWFnZRi
u6J4CDA.jpg. Acesso em: 23 jul. 19.

71
Tendo mais recursos à disposição, em todos os níveis de educação, teremos
mais condições de formar nossos alunos com qualidade, de forma integral, humana e
voltada ao desenvolvimento da vida em sociedade.

Figura 42: Investimento na educação

Fonte: Google imagens. 47

A formação de bons professores para a atuação no ensino superior depende,


por sua vez, dessa relação com os demais níveis de ensino.
Se pensarmos que todo professor universitário já foi, em algum momento, um
aluno da educação infantil, do ensino fundamental e do ensino médio, podemos
compreender melhor o quanto os investimentos devem estar presentes em todos os
níveis do sistema de educação, para, só assim, colhermos os bons frutos de um
efetivo sistema educacional.
Além disso, cabe acrescentarmos que, nos últimos anos, houve um
crescimento do ensino superior brasileiro. No início de 1990, havia 1.540.080
estudantes matriculados no ensino superior no Brasil. Em 2000, esse número avançou
para 2.694.245 e para 6.379.299 em 2011 (NEVES, 2012).
Embora os dados demonstrem um aumento sobre o investimento em âmbito
público e privado no ensino universitário, observa-se que tem havido uma redução
crescimento das matrículas e da permanência dos universitários em seus respectivos
cursos.

47
Disponível em: https://st2.depositphotos.com/4764563/9384/v/950/depositphotos_93848422-
stock-illustration-invest-in-education-vector-concept.jpg. Acesso em: 23 jul. 19.

72
Outra característica diz respeito à acentuada diferença étnico-racial entre os
estudantes que frequentam o ensino superior. De acordo com Neves (2012), cerca de
62,6% dos estudantes brancos de 18 a 24 anos estão no ensino superior, enquanto
apenas 28,2% dos estudantes negros, da mesma faixa etária, cursam faculdade ou
universidade.

Você sabia que existe uma série de discussões acerca da exclusão do ensino
superior em vários segmentos da sociedade? Por isso, é importante estudarmos e
compreendermos a necessidade das políticas de ação afirmativas, para pobres e
negros, considerando que mais da metade da população brasileira é negra e tem sido
excluída do acesso e permanência no ensino superior. Para saber mais sobre o
assunto, sugerimos a leitura de uma das publicações da Revista Universidade e
Sociedade, que debaterá, de forma primorosa, o assunto. Abaixo a referência:
ANDES-SN. Universidade e Sociedade. Sindicato Nacional dos Docentes das
Instituições de Ensino Superior. Ano XX, n. 46. p. 8-174, Junho/2010. Disponível em:
https://www.andes.org.br/img/midias/05cd15cdb0e6e8501dc339c5db988971_15481
75025.pdf

A realidade do ensino superior do Brasil foi constituída ao longo dos anos,


passando por distintos processos históricos de continuidades e descontinuidades.
Assim, para se compreender a complexidade de uma série de questões presentes nos
dias atuais, no ensino superior brasileiro, é preciso entender como se constituíram,
historicamente, esses processos. Não nos deteremos nesse debate, nesta unidade,
mas deixamos as referências complementares abaixo para você aprofundar seus
conhecimentos sobre essa temática. Bons estudos!
CUNHA, L. A. A universidade crítica: o ensino superior na república populista. 2. ed.
Revista e ampliada. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1986.
CUNHA, L. A. A universidade reformada: o golpe de 1964 e a modernização do
ensino superior. 2. ed. Revista e ampliada. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1986.
ZABALZA, Miguel. O ensino universitário: seu cenário e seus protagonistas. Porto
Alegre: Artmed, 2004, p. 123.

73
Após estudarmos sobre algumas características da realidade do ensino
superior brasileiro, passemos aos desafios e perspectivas que o professor
universitário enfrenta no exercício da profissão. Essa temática está ligada às outras
que discutimos nessa unidade, portanto, muita atenção!

3.3 Desafios e perspectivas para a atuação docente

Neste último item da unidade, iremos abordar o tema dos desafios e das
perspectivas para o docente universitário em atuação hoje.
Esse tópico completa a unidade 3, de forma a buscar relacionar o que foi
debatido nos dois tópicos anteriores. Assim, a partir do entendimento das
características da docência universitária e da realidade do ensino superior no Brasil,
fornecemos elementos para você, aluno, analisar e compreender os desafios e as
perspectivas que estão diante do docente universitário em nossa realidade!
Os eixos que serão abordados nesse tópico são:
• a formação docente (ensino, pesquisa e extensão) e a precarização do
trabalho docente;
• a desvalorização do trabalho universitário e os desafios diários para a
atuação do docente universitário.

Vamos a mais essa tarefa!


O primeiro eixo de discussões que iremos retomar, brevemente, para
aprofundar nosso entendimento, agora sobre as perspectivas para a atuação do
docente universitário, é o da formação docente e sua relação com a precarização do
trabalho universitário.
Segundo Correia e Góes (2013), pensar a atuação docente no ensino superior
é, incondicionalmente, pensar também em pesquisa científica. A relação entre a
pesquisa e o ensino nos níveis superiores de ensino forma uma unidade que deve
estar presente tanto na formação acadêmica dos professores quanto em sua prática
profissional.

Ambas, pesquisa e docência, deveriam ser consideradas com a mesma


importância, compreendendo que uma influi e respalda a outra, assim como
deveria ser banido o mito sobre a dissociabilidade que muitos fazem quanto
à teoria e à prática (CORREA e GOÉS, 2013, p. 341).

Assim, a pesquisa universitária deve estar aliada à docência, de modo a


relacionar o contexto social em que estão inseridos professores, alunos e instituição
de ensino. Essa unidade deve ser a meta da carreira profissional docente.
No entanto, devemos olhar, igualmente, para as condições de atuação com as
quais o profissional do ensino superior se depara no exercício profissional.

74
É necessário problematizarmos: sob as condições atuais de trabalho, o
professor universitário terá, de fato, condições para desenvolver todas as atividades
que são características da docência universitária?
Algumas das adversidades que influem negativamente no trabalho do professor
são: redução dos postos de trabalho, crescente exigência por formação superior,
redução dos salários médios dos docentes universitários e, em contrapartida, aumento
das jornadas de trabalho.
Essas questões estão diretamente ligadas:
 à qualidade do ensino que esse professor poderá ofertar a seus
alunos;
 ao desempenho individual de cada estudante diante do processo de
formação;
 à saúde mental e física de cada docente que compreende seu papel
ativo e transformador diante de uma realidade que, muitas vezes,
não apresenta possibilidades de transformação;
 ao modo como a sociedade passa a compreender as relações de
ensino;
 a todo um processo que sintetiza a precarização do trabalho
universitário.

Relacionados ao debate acima, encontram-se a desvalorização do trabalho


universitário e os desafios diários para a atuação do docente universitário.

Figura 42: Desafios da docência universitária

Fonte: Google imagens. 48

Assim como no processo de precarização da docência universitária, a


desvalorização do trabalho docente também tem seus desdobramentos para a
qualidade do ensino que será ofertado por cada professor e, consequentemente, à
aprendizagem do aluno.

48
Disponível em: https://encrypted-
tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcR5EYvKeUbN_sXjPWu6Iw0xLRncGgrfDwuFj9kYSnXyITkakY
I8xQ Acesso em: 15 jun.19.

75
O processo de desvalorização da carreira e do profissional docente está
intimamente relacionado com o que foi discutido anteriormente: a precarização da
docência.
Com a precarização do trabalho docente, ampliam-se as jornadas de trabalho
e são flexibilizadas as relações trabalhistas dos professores com as instituições de
ensino.
Diante disso, toda a atividade que deveria ser o foco do docente universitário
(que é ensino, pesquisa e extensão) é secundarizada, em função das condições
materiais de se efetivar a prática docente.
Nesse sentido, a desvalorização da carreira docente entra nessa relação como
um agravante da situação de precarização do trabalho docente e traz, ainda, alguns
elementos que são específicos desse fenômeno.
O que tem maior destaque, no processo de desvalorização da carreira docente,
são questões que estão, também, relacionadas ao financeiro, ao montante de salário
que cada professor receberá ao final do mês, certo? Certo, porém não podemos parar
por aqui…

Figura 43: Aprofundando nossos conhecimentos

Fonte: Google imagens. 49

O que diferencia a precarização de sua expressão mais avançada, a


desvalorização, são alguns elementos que podemos chamar, também, de subjetivos.
É correto pensarmos que o que se desvaloriza, nesse processo de
precarização da carreira docente, são os salários, porém, não é só isso. Aqui,
entramos naqueles elementos que dizíamos ser "subjetivos" um pouco mais acima.

49Disponível em:
https://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&ved=2ahUKEwjpmMudvs
vkAhU6EbkGHdI7C30QjRx6BAgBEAQ&url=https%3A%2F%2Fwww.culturagenial.com%2Fdicas-
livros%2F&psig=AOvVaw308g1WGBMv58V7PQmUG1aU&ust=1568384640408322 Acesso em: 15
jun. 19.

76
A maioria das relações que o docente universitário estabelece em seu ambiente
de trabalho insere-se em diversas contradições: jornadas estendidas, exigência
constante por formação, salas superlotadas, salário precários etc.
Assim, o professor universitário vivencia algo que, em outros níveis de
educação, já ocorreu, posteriormente, em nossa sociedade. Referimo-nos ao
processo onde, socialmente, se compreende o conhecimento, o estudo sistematizado,
científico, teórico, os métodos de pesquisa, que pouco, ou nada, contribuem para a
"realidade prática", para o fazer cotidiano.
É aqui que, possivelmente, se desenvolvem os elementos que chamamos de
"subjetivos" dentro do processo de desvalorização da carreira docente. É quando o
profissional docente internaliza, para si, essas falsas noções acerca do conhecimento
cientifico e passa a reproduzi-las sem crítica ou reflexão.

Figura 44: Sofrimento do docente universitário

Fonte: Google imagens. 50

Na realidade material das condições em que ocorre o processo de ensino


universitário (ensino, pesquisa e extensão), o professor vê-se inserido e, muitas
vezes, sem condições de proporcionar alguma transformação que teria a oferecer.
Ao se deparar com essas contradições da realidade material, o professor pode
desenvolver alguns mecanismos psíquicos de defesa diante desse contexto
desfavorável. Alguns deles são:
• o distanciamento dos processos de elaboração e planejamento dos
conteúdos a serem trabalhados;
• a desmotivação e a reprodução, automaticamente, sem reflexão, das aulas
a serem ministradas;
• a internalização do discurso comum de negação dos conhecimentos
elaborados e científicos;

50Disponível em:
https://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&ved=2ahUKEwiI6PzEnsv
kAhUvIrkGHRS3BVoQjRx6BAgBEAQ&url=http%3A%2F%2Fwww.lapfes.ufc.br%2Fprojetos-de-
pesquisa%2Fsofrimento-ps%25C3%25ADquico-uma-an%25C3%25A1lise-
fenomenol%25C3%25B3gica-existencial-dos-modos-
de&psig=AOvVaw24TgZue_eEX88F7BLf_5e3&ust=1568376075868879. Acesso em 15 jun. 19.

77
• a reprodução das práticas sociais comuns, sem reflexão acerca do seu
papel enquanto docente nessas relações;
• a perda da especificidade daquilo que o faz professor, que é o ato de
produzir, direta e intencionalmente, a humanidade historicamente
acumulada pelos homens, visto que perde, também, parte de sua própria
humanidade.
Diante desse cenário que pode parecer desanimador, é preciso levantarmos a
cabeça e compreendermos que somente poderemos agir de forma transformadora na
realidade se a compreendermos em maior grau.
Por isso, para você, aluno, que está se preparando para a realidade da
docência universitária, esse tópico é de extrema importância e o ajudará em sua
prática profissional.
Retomando o debate com as autoras Correa e Goés, é importante lembrarmos
que nem tudo, na vida do professor universitário, são adversidades! Vejamos o que
dizem as autoras:

Contudo, não são apenas as situações ruins que perpetuam e constituem o


ensino superior. Possibilidades se abrem para aqueles que desejam
melhorias e qualidade no que fazem […] sendo elas a disposição de
inovações tecnológicas para a melhoria do trabalho docente, a
efetivação da docência por meio de um processo coletivo e
emancipatório, e reflexões por parte dos docentes universitários sobre
suas concepções e práticas para uma nova postura frente aos desafios
emergidos (CORREA e GOÉS, 2013, p. 347, grifo nosso)

Figura 45: possibilidades

Fonte: Google imagens. 51

51
http://servicos.catolicavirtual.br/conteudos/moocs/guia_metodologias/images/conteudo/img-06-maa-
06-03.jpg. Acesso em: 16 jul. 2019.

78
Como bem apontam as autoras, os desafios compõem um cenário que também
apresenta uma série de possibilidades, de perspectivas para o docente universitário.
É importante que estejamos atentos a todos os fenômenos de nossa realidade.
Os principais desafios que estão postos para os professores, atualmente, estão
ligados principalmente às novas formas de sociabilidade do século XXI, ou seja, as
inovações tecnológicas e os seus desdobramentos no cotidiano.
Esse curso que você está realizando hoje é parte desses novos desafios!
A modalidade de ensino a distância passou a ser uma realidade em nosso
cotidiano apenas após a difusão da rede mundial de computadores, a internet. Esses
desafios estão presentes tanto na vida do aluno quanto na vida do professor. Cabe a
nós, docentes, manter o radar ligado às novas mudanças da vida cotidiana e buscar,
sempre, a efetivação daquilo que nos torna sujeitos do processo de ensino - o ato de
transmitir direta e intencionalmente a humanidade no outro.
Nesse ponto, entramos no conteúdo da nossa próxima unidade da apostila, na
qual abordaremos a relação ética entre o docente do ensino superior e os alunos.

Figura 46: Vamos falar sobre ética e docência?

Fonte: Google imagens. 52

52Disponível em:
https://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&ved=2ahUKEwiC1eTovs
vkAhVKIrkGHVOPCHQQjRx6BAgBEAQ&url=http%3A%2F%2Fwww.cfn.org.br%2Findex.php%2Fcas
os-eticos-participe-da-consulta-aberta-a-categoria%2F&psig=AOvVaw0T6ON-
ciTIg1sYvpMlt966&ust=1568384791577392). Acesso em 17 de jul. 19.

79
Chegamos ao final da terceira unidade da nossa disciplina.
Aqui você estudou sobre as questões específicas que envolvem a docência no
ensino superior.
Dentre elas, discutimos, brevemente, acerca das características tanto das
instituições de ensino superior quanto do profissional docente que atua nessas
instituições, com uma função social específica.
Dentro desse tema, abordamos, ainda, as características principais que
compõem a atividade docente em exercício e a permanente relação entre o ensino, a
pesquisa e a extensão.
Também estudamos sobre a realidade do ensino superior hoje no Brasil e a
crescente expansão das instituições de ensino superior públicas e privadas.
Vimos, ainda, a necessidade de problematização dos investimentos voltados
para a educação, assim como a relação direta entre os investimentos, a oferta de
vagas e a qualidade do ensino que pode ser ofertado pela comunidade acadêmica.
Por último, encerramos essa unidade com uma discussão acerca dos desafios
que estão postos diante da realidade do professor universitário e, por outro lado, as
perspectivas que se abrem com as mudanças constantes das sociedades em que
vivemos.
Na próxima unidade, direcionaremos nossa discussão para a relação que
envolve a ética docente no ensino superior.
Essa é uma unidade fundamental para o futuro docente universitário! Vamos
seguir para outro debate animador e fundamental para nossa formação!
Animados??

Atividades de aplicação

Convido-o a realizar duas atividades sobre as temáticas que discutimos nessa


unidade.

1. Se pensarmos no que foi apresentado nessa unidade da apostila, mas


sobretudo em nossas experiências práticas, quais as características que são

80
atribuídas às instituições de ensino superior? Elas condizem com aquelas
funções específicas que foram apresentadas nessa unidade? Explique.

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2. A partir do que foi apresentado e debatido nesta unidade sobre a


indissociabilidade entre o ensino, a pesquisa e a extensão na atividade do
docente universitário, explique e dê exemplos práticos sobre essa relação no
cotidiano do professor.

81
Fonte: Google imagens.53

Bom trabalho!

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1- Assinale a alternativa correta para a seguinte questão: Quais são as principais


tarefas que tem o professor no ensino superior enquanto regente do processo
de ensino?

53 Disponível em: https://posgraduando.com/ensino-pesquisa-extensao/ Acesso em: 15 jul. 2019.

82
(a) Deter o conhecimento e, independente da realidade dos estudantes, cumprir
os conteúdos programados.
(b) Localizar no aluno o conhecimento: cabe ao professor ensiná-lo a aprender.
(c) Entender que não é nas instituições de ensino superior que se elaboram os
conhecimentos mais complexos, eles ocorrem na prática cotidiana.
(d) Introduzir os conhecimentos históricos das sociedades humanas; o domínio de
habilidades e conhecimentos específicos; proporcionar a autonomia intelectual
e profissional; formar novos pressupostos para o conjunto das sociedades.
(e) Entender que não existem elaborações sobre as funções do professor no
ensino superior que possam orientar sua prática. Cada docente desenvolve sua
prática partindo de sua subjetividade e vivência.

2- Assinale a alternativa correta para a seguinte questão: Quais as primeiras


tarefas que cabem ao docente universitário que são afetadas pelo processo de
precarização do ensino superior?
(a) O professor não é alvo da precarização do ensino superior.
(b) As relações que o docente do ensino superior estabelece são apenas de ordem
prática, nesse sentido, apenas o ato de ensinar é afetado diante da
precarização do ensino.
(c) A qualidade do ensino; o desempenho individual de cada estudante diante do
processo de formação; a suade mental de cada docente; e o modo como a
sociedade passa a compreender as relações de ensino.
(d) Sendo uma profissão muito bem vista socialmente, o ensino superior ainda não
passa por um processo de precarização e consequente desvalorização dos
profissionais.
(e) Apenas as horas de planejamento são afetadas pela precarização, visto que,
dentro de sala de aula, o professor ainda mantém total autonomia para pensar
e executar os conteúdos planejados.

83
UNIDADE IV
3.
4. A INTER-RELAÇÃO DA ÉTICA E DA DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR

Conteúdos trabalhados na unidade: A inter-relação da ética e da docência


no ensino superior: Ética “da” e “na” educação, no tempo presente, na relação
professor-aluno; Ética e moral no exercício da docência no ensino superior; Ética e o
discurso ético do professor e do aluno.

. Nesta unidade, temos como objetivo principal apresentar, para você, aluno, as
relações que fundamentam o conceito de ética e moral. De que forma esses dois
conceitos estão intimamente relacionados com os processos de formação que o
docente universitário encontrará em sua atuação profissional?

Para isso, debateremos, no primeiro item, as questões específicas da relação


1.10
entre ética e educação. De que forma essa relação está presente entre o professor e
1.11
o aluno? Atuação e formação
profissional: os saberes pedagógicos
No segundo item, discutiremos sobre ética e moral no tocante ao ensino
1.12
superior. De que forma se estabelecem essas relações e como agir, por parte do
docente,
. em determinadas situações?
Terminaremos essa unidade com um terceiro tópico que irá abordar a relação
entre a ética e o discurso ético do docente e do aluno. Abordaremos, também, alguns
exemplos práticos dessas relações e problematizaremos o agir docente.

A relação entre moral e ética é indissolúvel do processo educativo, em especial


em nível superior! Por isso, essa unidade é fundamental para o docente em formação.
Vamos ao conteúdo!

4.1 Ética da educação e na educação atual, na relação entre professor-aluno

A relação entre ética e ação humana é, historicamente, entrelaçada nas


diversas esferas de sociabilidade. Seja qual for a atividade humana realizada, o
comprometimento ético é essencialmente necessário. Dentre as diversas esferas em
que se apresenta essa relação, a educação será nossa temática central.

84
Já estudamos em nosso material que a educação tem a função social de
possibilitar que o indivíduo se aproprie do conhecimento historicamente acumulado,
por meio do ensino do professor. Assim, é por meio desse processo que o indivíduo
aprende tudo que é humano. Aprende a ler, escrever, resolver exercícios
matemáticos, aprende o que é sociedade, como analisá-la, como atuar diante dela,
aprende, portanto, a se tornar humano.
Este é um processo educativo, uma vez que tem como função se apropriar
desta forma de sociabilidade, como já afirmado pelo psicólogo soviético Alexis
Leontiev.

Figura 47: Ética no processo educativo

Fonte: Google imagens. 54

No ensino superior, esse processo se especializa, pois é por meio do


conhecimento científico específico de cada profissão que aprendemos as habilidades,
as competências, as técnicas a serem desempenhadas posteriormente.
E é nessa relação, do professor universitário ensinar ao aluno universitário, que
trataremos a ética.
A educação e a ética são categorias acopladas, que compõem uma rede de
significados, que, em última instância, se direcionam para a condução de uma
sociedade harmônica.

54Disponível em: http://ecos-redenutri.bvs.br/article_image.php?image_type=article&id=758&cache=y


Acesso em: 28 jul. 19.

85
Mas o que é ética, afinal?

Figura 48: ética

Fonte: Google imagens. 55

De acordo com Vázquez (1982, p. 11):

A ética é teoria, investigação, ou explicação de um tipo de experiência


humana ou forma de comportamento dos homens, o da moral, considerado,
porém, na sua totalidade, diversidade e variedade. […] O valor da ética como
teoria está naquilo que explica, e não no fato de prescrever ou recomendar
com vistas à ação em situações concretas.

Nesse sentido, a ética seria a ciência ou teoria que busca compreender as


formas de comportamento moral dos seres humanos em determinadas sociedades.
Ou seja, é essa uma ciência que estuda as formas específicas de comportamento
humano.
Portanto, essa é uma disciplina científica que busca compreender os processos
de constituição do conjunto das normas morais de cada sociedade, não sendo,
portanto, o conjunto de normas em si.
Assim sendo, a ética parte da realidade empírica, porém, busca descobrir os
princípios gerais, seus fundamentos, de modo a não se bastar com a mera descrição
ou registro de determinada realidade, ou fatos que a compõem, transcendo por meio
de conceitos, hipóteses e teorias.
O objeto de estudo da ética, de acordo com Vázquez, é constituído por um tipo
de atos humanos: os atos conscientes e voluntários dos indivíduos que afetam outros
indivíduos, determinados grupos sociais ou a sociedade em seu conjunto.

55 Disponível em: https://www.sonhosbr.com.br/sonhos/wp-content/uploads/2016/10/etica.jpg.


Acesso em: 28 jul. 19.

86
Figura: Ética e educação

Fonte: Google imagens. 56

Aqui, vemos, portanto, que o ato de ensinar, a educação e a ética são aspectos
que se relacionam e andam de mãos dadas.
Além disso, o estudo da ética não tem como objetivo estabelecer regras
fechadas de como se comportar, ou estabelecer soluções para cada situação prática
moral com a qual o professor lidaria em contexto educativo.
A importância do estudo da ética, ao professor que atua na educação, diz
respeito a dar subsídios por meio de uma ciência com princípios gerais voltados para
a reflexão de um comportamento moral e, dessa forma, a saber agir em situações
problemáticas.
De acordo com Vázquez (1982, p. 18),

[…] a ética se relaciona com outras ciências que, sob ângulos diversos,
estudam as relações e o comportamento dos homens em sociedade e
proporcionam dados e conclusões que contribuem para esclarecer o tipo
peculiar de comportamento humano, que é o moral.

Assim, a Ética se relaciona com um conjunto de outras ciências, como, por


exemplo, a Psicologia, as Ciências Sociais, a Economia Política, a História, entre

56Disponível em:
http://www.ctaolavoclaro.seed.pr.gov.br/redeescola/escolas/9/690/4423/arquivos/Image/conselho.jpg.
Acesso em: 27 jul. 19.

87
outras, das quais o professor deve se apropriar para analisar a realidade, o contexto
educativo, e atuar diante dele.

Você sabia que Adolfo Sanches Vazquez, em seu estudo sobre Ética, nos
apresenta as principais formas de compreensão acerca das doutrinas éticas ao longo
da história? O autor destaca quatro: Ética Grega, Ética Cristã Medieval, Ética Moderna
e Ética Contemporânea. Não deixe de estudar mais sobre a temática.
VAZQUEZ, A. S. ÉTICA. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1982.

Isso porque a educação, como fenômeno próprio dos seres humanos, é


complexa e permeada por relações que o professor será chamado a atuar. Assim, a
ciência ética dará subsídios, juntamente a outras ciências, para que o professor
compreenda determinados comportamentos, ou atos de seus alunos, e atue nas
relações estabelecidas nesse contexto.
Diferente de outras profissões, não há um código de ética para o profissional
da docência, que busca regulamentar, elencar, prescrever um conjunto de normas,
formas, de agir na relação entre professor-aluno.
Assim sendo, cabe ao professor, apropriar-se de todo um conjunto de
elaborações científicas, que estão para além do simples conteúdo trabalhado em
determinadas aulas.
Essas elaborações dão subsídios, não só ao planejamento e execução da aula,
mas também à própria relação cotidiana entre professor-aluno. Traremos, abaixo, dois
exemplos práticos de como a ética está presente cotidianamente na prática docente,
seja em nível básico ou superior de educação.

88
Figura 49: Ética e docência

Fonte: Google imagens. 57

EXEMPLO 1: “Na hora da entrada ou na volta do intervalo com as crianças, os


professores/as costumam organizar as filas utilizando o critério de gênero, separando
meninas e meninos”.

Figura 50: Fila organizada sem critério de gênero

Fonte: Google imagens 58.

57
Disponível em: https://canaldoensino.com.br/blog/wp-content/uploads/2018/02/como-ensinar-etica-
na-sala-de-aula_Prancheta-1.jpg. Acesso em: 30 jul. 19.
58
Disponível em:
https://www.google.com/url?sa=i&source=images&cd=&ved=2ahUKEwi6w7TVsPzkAhVjFbkGHTPrA1
EQjRx6BAgBEAQ&url=https%3A%2F%2Fbr.stockfresh.com%2Fstock-
vectors%2Ffila&psig=AOvVaw3f_9kAwC0_Qib41keOJ6M9&ust=1570064566138957). Acesso em: 30
jul. 19.

89
Por que não se deve separar por gênero e qual implicação ética nesse
processo?
A resposta é simples: a função de uma fila é organizar e não separar por
gêneros. Você vai a um supermercado e não há um caixa para homens e outro para
mulheres. No banco, não existe um caixa para homens e outro para mulheres. Onde
há essa separação? Penitenciária e/ou hospício e alguns lugares muito específicos,
portanto, cautela!

EXEMPLO 2: Após a aplicação de uma avaliação, o professor universitário faz


a correção e a devolutiva aos alunos e pede a um aluno que foi mal avaliado para
apresentar suas respostas.

Porque não se deve expor individualmente os alunos em sala de aula?

Figura 51: Exposição desnecessária

Fonte: Google imagens 59

A resposta passa por questões éticas: ao saber que determinado aluno


respondeu de forma errada alguma questão, o professor não deve, voluntariamente,
pedir a ele que responda diante de toda sala. Se assim o fizesse, o professor(a)
falharia na questão ética diante de seus alunos.

59
Disponível em:
https://www.google.com/url?sa=i&source=images&cd=&ved=2ahUKEwjs4OTSsfzkAhWZJbkGHW9XA
8EQjRx6BAgBEAQ&url=http%3A%2F%2Farchivo.unionguanajuato.mx%2Farticulo%2F2014%2F10%
2F08%2Feducacion%2Fla-interesante-historia-del-pizarron-
escolar&psig=AOvVaw0HX5Uu5qvIv3bICKyRPprJ&ust=1570064854082594. Acesso em: 31 jul. 19.

90
Em ambos os exemplos, o professor age de forma equivocada ao expor seus
alunos a situações que podem ser constrangedoras.
Ao questionar um aluno que respondeu de forma errada determinada questão
em frente a toda a sala, o professor expõe o estudante aos demais e pode criar, nesse
estudante, certos traumas, visto que o mesmo pode se tornar motivo de chacota entre
os demais alunos.
Esses exemplos partem da realidade prática do dia a dia do professor em
sala de aula, por isso, são de fundamental importância para repensarmos nossas
práticas docentes e não incorrermos em desvios éticos!

Figura 52: Agir de forma ética

Fonte: Google imagens60

O modo como o professor deve agir nesta ou naquela situação passa


diretamente pelo conhecimento desse professor de um conjunto de normas sociais.
Esse conjunto é, justamente, o objeto de estudo da ciência ética.
É mister dizer que o conjunto de princípios básicos que visa disciplinar e regular
os costumes e a conduta das pessoas refere-se às chamadas Normas de Conduta
que compõem o conjunto do quadro moral das sociedades. O objeto de estudo da
ética engloba e supera as simples normas e condutas sociais.
Nem sempre o professor dará determinadas aulas onde o tema da ética esteja
no plano central das discussões, como está nesse momento dessa apostila.
No entanto, é necessário ao professor, a clareza de que, a todo momento,
dentro das relações que estabelecerá com seus alunos, será esperado um
comportamento em acordo a esse conjunto de normas morais, ou seja, um
comportamento que corresponda à ética.

60 Disponível em:http://www.afilosofia.com.br/media/i/galeria/filosofia-moral.jpg. Acesso em: 31 jul. 19.

91
Sendo assim, vamos aprofundar nossos conhecimentos no próximo item dessa
unidade 4 sobre a relação entre a ética e a moral nas relações específicas do ensino
superior, na relação entre professor e aluno.

Figura 53: Ética nas relações entre professor-aluno

Fonte: Google imagens 61

4.2 Ética e moral no exercício da docência no ensino superior

No item anterior, conceituamos o termo ética, assim como delimitamos que, em


sendo uma ciência, busca compreender as formas de comportamento moral dos seres
humanos em determinadas sociedades. Agora, antes de fazermos as relações sobre
ética e moral no exercício da docência no ensino superior, vamos deixar bem claras
as diferenças e as semelhanças entre os conceitos de ética e moral.
Vamos lá?
Ética é o nome dado ao ramo da filosofia dedicado aos assuntos morais,
significando aquilo que pertence ao caráter. De acordo com o Dicionário de
Significados (in https://www.significados.com.br> acessado em 31/07/19, ética é a
parte da filosofia responsável pela investigação dos princípios que motivam,
distorcem, disciplinam ou orientam o comportamento humano, refletindo esp. a
respeito da essência das normas, valores, prescrições e exortações presentes em
qualquer realidade social. E, por extensão, ética também significa o conjunto de regras

61
Disponível em:
https://www.google.com/url?sa=i&source=images&cd=&ved=2ahUKEwjKg5qf7_3kAhVsHLkGHddGD
T4QjRx6BAgBEAQ&url=https%3A%2F%2Fwww.bahianoticias.com.br%2Fnoticia%2F229024-escola-
sem-partido-especialistas-alertam-para-fim-de-relacao-de-confianca-professor-
aluno.html&psig=AOvVaw3aPnQIxtnsIjJz1coFSjiM&ust=1570115767705829. Acesso em: 31 jul. 19.

92
e preceitos de ordem valorativa e moral de um indivíduo, de um grupo social,
profissional ou de uma sociedade.
Ainda de acordo com o Dicionário de Significados (in
https://www.significados.com.br> acessado em 31/07/19, moral (relativo aos
costumes) é o conjunto de regras adquiridas através da cultura, da educação, da
tradição e do cotidiano e que orientam o comportamento humano dentro de uma
sociedade.
Assim sendo, ética é uma reflexão sobre a moral e seu objeto é um setor da
realidade humana: a moral, que se constitui por um tipo peculiar de fatos ou atos
humanos. São conhecimentos extraídos da investigação do comportamento humano
ao tentar explicar as regras morais de forma racional, fundamentada, científica e
teórica.

Figura 54: Moral e ética

Fonte: Google imagens 62

Marilena Chauí (2009) afirma que ética e moral têm significados diferentes, uma
vez que a ética se relaciona aos valores morais que dirigem o comportamento humano
em sociedade. Por isso, é uma ciência que estuda a moral.
Já a moral se refere aos costumes, regras, tabus e convenções instituídas por
determinada coletividade.
Ainda sobre a distinção entre os conceitos de ética e moral, Terezinha Rios nos
apresenta uma definição que ajuda a avançar com as definições:

62 Disponível em:
https://www.google.com/url?sa=i&source=images&cd=&ved=2ahUKEwieoqna8_vkAhW5HbkGHegOA
JQQjRx6BAgBEAQ&url=https%3A%2F%2Fdescomplica.com.br%2Fblog%2Ffilosofia%2Fquestoes-
comentadas-moral-e-
etica%2F&psig=AOvVaw2MRasHD1voieWj4QvBb5Mu&ust=1570048261604375) Acesso em: 31 jul.
2019.

93
É importante, para seguir adiante, estabelecer a diferença entre os
conceitos de ética e moral. Enquanto a moral se constitui num conjunto de
prescrições – normas, regras, leis – que orientam as ações e relações dos
indivíduos em sociedade e que, portanto, tem um caráter normativo, a ética
é a reflexão crítica sobre a moral, é o olhar agudo que procura descobrir os
fundamentos dos valores, tendo como referência a dignidade humana e como
horizonte a construção do bem comum. (RIOS, 2009, p. 18)

Deste modo, em relação à dimensão ética do ato de ensinar, Therrien (2002)


apud Vasconcelos (2005, p. 283) afirma que “o docente deve ser abordado em sua
tripla relação com o saber: como sujeito que domina saberes, que transforma esses
saberes e como sujeito que precisa manter a dimensão ética desses saberes”.
De acordo com essa perspectiva, a dimensão ética é indissociável ao trabalho
docente! Além disso, a ética na relação professor e aluno envolve decisões de teor
político-ideológico que compõem a concepção de vida e mundo do aluno.

[…] se tomarmos a ética como um dos princípios norteadores da formação


do docente de ensino superior, deveríamos iniciar nos perguntando de que
forma a dimensão ética da docência poderia ser melhor visualizada ou
enfatizada nos processos de formação? Que tipos de ações poderiam ser
desencadeados? Quais os objetivos de tais ações e de que forma elas
poderiam ser trabalhadas? Que tipo de conteúdos possibilitariam as reflexões
pertinentes a esta dimensão? (VASCONCELOS, 2005, p. 283).

Essas são indagações que todo docente universitário tem de se fazer e buscar,
coletivamente, construir alternativas que busquem respondê-las.
Para isso, o docente universitário deve ser formado na perspectiva de analisar
criticamente a realidade, de modo a ter consciência e intencionalidade em ações
éticas e, dessa forma, possibilitar que seu aluno, igualmente, saiba analisar a
realidade, de modo a compreendê-la.
Analisar criticamente refere-se a atender às questões que são colocadas
diariamente no contexto educativo e que permeiam a relação ética entre professor-
aluno.
Dentre as questões, podemos pontuar as de raça, de gênero, de direitos
humanos, de diversidade, que são indagações que sempre aparecem no contexto
educativo e universitário, ainda que não seja o objeto de dada disciplina.

94
Figura 55: Debates interdisciplinares

Fonte: Google imagens 63

Esse debate interdisciplinar, que abrange questões éticas está relacionado com
o conjunto de pressupostos morais da sociedade.
Aí está parte da relação entre ética e moral de que o docente universitário deve
estar ciente para uma boa prática em suas relações com estudantes de nível superior.
Saber como conduzir determinadas situações que envolvam questões éticas é
estar ciente deste conjunto de normas, modos de agir, e de toda a cultura local onde
se estabeleça a relação com o aluno.
Esse conjunto engloba e deve estar fundamentado nos direitos humanos.
Para Vasconcelos, existem algumas características desejáveis que o professor
universitário exerça em sua atividade profissional, enquanto sujeito ético:

[…] se reconheça como professor, o que nem sempre acontece. Esteja


consciente do significado deste papel e saiba que este é indissociado do
papel de educador. Para tanto, seria necessário conceber a educação como
projeto de desenvolvimento humano e social e agir comprometido com esse
projeto, com os fins que orientam a educação. Tenha a oportunidade de
aprimorar conhecimentos sobre ética em geral e ética profissional
aplicada à docência (VASCONCELOS, 2005, p. 284).

Mais uma vez, vemos a importância de uma formação, além de condições de


trabalho que possibilitem ao professor universitário adquirir esses conhecimentos, de

63Disponível em:
https://www.google.com/url?sa=i&source=images&cd=&ved=2ahUKEwjg0trjpIHlAhWDIrkGHVmpCzU
QjRx6BAgBEAQ&url=http%3A%2F%2Fwww.adusb.org.br%2Fweb%2Fpage%3Fslug%3Dnews%26id
%3D9266%26pslug%3D&psig=AOvVaw3bimhfpnumC4e-oXlJiYfo&ust=1570233208160397. Acesso
em: 14 jul. 19.

95
modo a promover o desenvolvimento de uma consciência que conduza à ética na ação
docente.

Figura 56: Conhecimentos e consciência

Fonte: Google imagens 64

Assim, a ética faz parte de um processo em constante movimento, no qual o


professor possibilitará fundamentos ao desenvolvimento do seu aluno em vários
segmentos, inclusive da postura moral do mesmo. E o aluno mantém o professor
sempre em constantes relações com outras gerações, perpetuando o conjunto moral.
Deste modo, o professor estabelece vínculos, conexões que são necessárias
para que o aluno se forme como profissional ético nas relações que manterá com seus
outros.
Rios (2009) afirma que a prática docente e sua dimensão ética se explicitam a
partir de dimensões da competência dos professores, a saber: a técnica, a estética, a
política e a ética.
Nesse sentido, para que seja possível um trabalho docente de boa qualidade,
faz-se necessário o domínio do conhecimento de uma determinada área, além de
estratégias pedagógicas para ensiná-lo.

64 Disponível em: https://www.google.com/url?sa=i&source=images&cd=&ved=2ahUKEwidiK-


StYHlAhXRHbkGHcrBD_UQjRx6BAgBEAQ&url=https%3A%2F%2Frumoasantidade.com.br%2Fopus
culo-formacao-
consciencia%2F&psig=AOvVaw11ZPbOAwGVcSucd3fbdIyD&ust=1570237625720924. Acesso em:
03 ago. 2019.

96
Figura 57: Compondo a personalidade docente

Fonte: Google imagens65

Cabe também citar que, o professor deve adquirir conhecimento sobre si


mesmo e dos alunos, assim como da sociedade, dos processos de ensinar e aprender
e suas características, pois

[…] é com base nos princípios da ética que avaliamos mais amplamente
todas as dimensões de nosso trabalho. Os critérios que nos fazem
estabelecer os conteúdos e os métodos, a forma como estabelecemos
nossas relações com os colegas e os alunos, as escolhas que fazemos,
deverão ser questionados se não tiverem como fim último o bem comum. É
aí que ganha sentido a afirmação de que a escola deve ser construtora da
cidadania. E também da felicidade, que é o outro nome do bem comum
(RIOS, 2009, p. 18)

Um ponto central neste debate da ética docente, e especificamente tratando


dos temas morais, é que não podemos perder de vista o fato de que o processo de
educação onde o professor é regente em relação ao aluno não se dá apenas na
escola, de modo tradicional, em filas, todos sentados, cadernos nas mãos.
O professor é regente do processo educativo ao longo de toda a sua
sociabilidade, esteja diante de pessoas que formalmente são seus alunos, ou não.

65Disponível em:
https://www.google.com/url?sa=i&source=images&cd=&ved=2ahUKEwjyusmbqIHlAhUhA9QKHbtQBu
kQjRx6BAgBEAQ&url=https%3A%2F%2Fblog.lahar.com.br%2Fmarketing-digital%2Festrategias-de-
marketing- digital%2F&psig=AOvVaw0tDJardlBqVoAb_8is_Uff&ust=1570234155323375). Acesso em:
03 ago. 2019.

97
Isso significa que, para o professor, que se forma e compreende os processos
de ensino e de formação humana, o ato de ensinar passa a ser algo praticado
constantemente.

Figura 58: Professor sempre ensinando

Fonte: Google imagens. 66

Não apenas em suas aulas, mas no seu modo de vida, na forma como se
posiciona diante do mundo, o professor está ensinando algo.
Para agir cotidianamente, de modo ético, o professor de nível superior tem de
estar ciente de todo o conjunto moral daquela sociedade em que se formou.
Compreender os processos históricos de constituição da sociedade ajuda o professor
a localizar, no dia a dia, os preceitos morais bem aceitos.

Figura 59: Professor na sociedade

Fonte: Google imagens. 67

66
Disponível em: https://cdn.digitalks.com.br/wp-content/uploads/2017/11/marketing-de-
influ%C3%AAncia.png. Acesso em: 03 ago. 2019.
67Disponível em:
https://www.google.com/url?sa=i&source=images&cd=&ved=2ahUKEwi01oCzuoHlAhUQILkGHSQRD
vwQjRx6BAgBEAQ&url=https%3A%2F%2Fconceitos.com%2Fsociedade%2F&psig=AOvVaw1XPylIn
Aoqs_x0DIyQRMpi&ust=1570239031095399. Acesso em: 03 ago. 2019.

98
No artigo “A relação professor-aluno e a questão da ética”, as autoras Daniela
Ferreira de Freitas e Francisca Daiana Estrela Silva debatem essa relação entre a
ética e o discurso e as práticas morais do professor ao longo de sua vida. Para saber
mais, leia o artigo e aprofunde seus conhecimentos! Segue uma breve passagem do
artigo que trata dessa relação:

“É necessário que a relação professor-aluno seja pautada pela honestidade


e trate a ética como uma prática, não como um discurso vazio. O interessante
é que o professor eduque pautado na ética e a utilize no processo de
formação como uma fonte de inspiração para reflexões críticas de suas atuais
e futuras ações, nesse processo, o educando assimila e reproduz o que
apreende na sala de aula para a sociedade, pois o professor não está
proporcionando aprendizagem só com suas palavras, mas também com suas
atitudes e com seus gestos (FREITAS & SILVA, 2016, p. 95)

Vimos, nessa unidade, portanto, algumas das relações entre os temas ética e
moral e suas implicações para o exercício da docência no ensino superior. De que
forma deve agir o professor diante do tema que envolve posições éticas? Qual a
conduta esperada diante de tal situação?
Essas e outras questões serão bem respondidas e conduzidas pelo docente
universitário a partir do conhecimento do conjunto das normas morais da sociedade.
É importante que o docente universitário esteja sempre atento aos debates
mais evidentes na atualidade, seja dos movimentos sociais, organizações sociais,
sindicatos, grupos de estudantes, assembleia de bairros, partidos políticos etc.
Pois é aí que o professor terá acesso a parte das discussões que serão pauta
em suas aulas próximas.
O ambiente de ensino dentro das universidades está completamente
relacionado com a esfera da vida fora da universidade, pensando diretamente no caso
dos docentes de nível superior.
Cabe ao professor estar atualizado nas discussões e, partindo de uma conduta
ética, se posicionar diante das relações de ensino que esse estabelece e dos
eventuais debates apresentados.

99
Figura 60: Esfera social da prática docente

Fonte: Google imagens68

4.3 A ética e o discurso ético do professor e do aluno

Nos itens anteriores, discutimos e conceituamos ética e moral, assim como


apresentamos algumas relações entre as práticas morais e a atividade docente no
ensino superior.
É necessário construirmos um bom entendimento acerca da ética na esfera da
formação docente, visto que você, aluno(a), está se preparando para entrar nesse
complexo universo do ensino superior e terá que lidar, diariamente, com questões
práticas que envolvem a ética.
Nesse tópico, iremos aprofundar o debate acerca do discurso ético do professor
e abordaremos, também, a temática da relação ética do aluno.
Como conduzir determinada situação onde o professor localiza que um aluno
fere princípios morais?
Em contrapartida, o que é uma forma ética de se portar do estudante?
Essas e outras questões que ajudam o docente a compreender melhor seu
ambiente de trabalho estão no centro de discussão deste tópico.

68
Disponível em:
https://www.google.com/url?sa=i&source=images&cd=&ved=2ahUKEwjNm5Xdx4HlAhUOGbkGHVdtA
HEQjRx6BAgBEAQ&url=https%3A%2F%2Fwww.oeiportugal.org%2Fen%2FOei%2FNews%2Fa-oei-
apela-a-participacao-da-sociedade-civil-na-
revisao&psig=AOvVaw16Sj02Ym2_M7Hg_Y60Vpo4&ust=1570242596620075. Acesso em: 03 ago.
2019.

100
Figura 61: Construindo um espaço ético

Fonte: Google imagens69

Vamos iniciar esse conteúdo apresentando alguns exemplos de situações com


as quais o docente de ensino superior pode se deparar cotidianamente em seu
ambiente de trabalho.
Queremos que você problematize junto dos exemplos quais os
posicionamentos que, enquanto docente, você teria em determinadas situações.
Todos os exemplos estão fundamentados em respostas que o professor deve
dar diante de situações onde a ética e o conjunto dos preceitos morais estão
envolvidos.
Por isso, é fundamental termos cautela em relação aos posicionamentos que
não estão fundamentados em reflexões baseadas em todos os temas já apresentados
até aqui e em outros debates científicos que você tenha tido acesso.
Os exemplos serão de situações onde o discurso ético do professor está
direcionado aos alunos. E também de situações que apresentem comportamentos
éticos dos alunos.

69Disponível em:
https://www.google.com/url?sa=i&source=images&cd=&ved=2ahUKEwjQspWw54LlAhUTA9QKHVwB
ATkQjRx6BAgBEAQ&url=https%3A%2F%2Fwww.sbcoaching.com.br%2Fblog%2Fatinja-
objetivos%2Fteoria-relacoes-humanas%2F&psig=AOvVaw38fsIdbsZzS9AJbJF7IFL-
&ust=1570285470626832) – Acesso em: 03 ago. 2019.

101
Figura 62: Problematizações

Fonte: Google imagens 70

Em seu primeiro dia de aula, o professor que preparou um plano de ensino para
toda a disciplina a ser ministrada organiza junto de seus alunos um momento inicial
para apresentação individual dos estudantes e, posteriormente, de
apresentação do plano de ensino da disciplina.
Esse momento, onde o professor abre espaço para seus alunos se
apresentarem, mesmo que de forma breve, aponta para os estudantes que, de fato,
aquele(a) professor(a) está disposto a conhecer e estabelecer relações humanas com
cada um de seus alunos.
Assim como, ao apresentar o plano de ensino da disciplina e os critérios e
métodos avaliativos que serão utilizados ao longo do curso, o professor age de forma
clara e ética com todos os seus estudantes, mostrando respeito e comprometimento
com o processo de ensino de cada um dos estudantes.
Esse primeiro exemplo pode parecer simples à primeira vista. No entanto,
contém, em si, o fundamento de uma boa relação entre o professor universitário e
seus alunos, uma relação sempre fundamentada em princípios éticos e morais.

70 Disponível em:
https://www.google.com/url?sa=i&source=images&cd=&ved=2ahUKEwiNq8vX8ILlAhVAF7kGHeBxB_
MQjRx6BAgBEAQ&url=https%3A%2F%2Fklickpages.com.br%2Fblog%2Fgatilhos-
mentais%2F&psig=AOvVaw2QMLJNH7lhafCjH1rAzpiu&ust=1570287939878878. Acesso em: 03 ago.
2019.

102
Figura 63: Conhecendo a realidade dos estudantes

Fonte: Google imagens71

Este exemplo está voltado para o agir ético dos alunos dentro das relações
educativas no ensino superior.
Deve ser parte do agir cotidiano dos estudantes o respeito aos professores e
todos os demais funcionários da instituição de ensino. Deve-se respeitar também o
direito de aprender dos outros alunos.
Isso significa que, além da necessidade do professor de buscar construir um
ambiente de ensino que seja agradável e acolhedor para seus alunos, cabe também
ao estudante o respeito, tanto ao profissional docente que está exercendo sua
profissão, quanto aos demais estudantes que procuram por conhecimentos.
Participar de um processo de ensino em nível superior é fundamentalmente
respeitar a liberdade do aluno de aprender e do professor de ensinar!! E isso deve se
dar tanto por parte dos professores quanto dos alunos e demais funcionários do
ambiente universitário.

71 Disponível em:
https://www.google.com/url?sa=i&source=images&cd=&ved=2ahUKEwjJnMTd7ILlAhWhJrkGHbFoCU
8QjRx6BAgBEAQ&url=https%3A%2F%2Frevistaladoa.com.br%2F2019%2F09%2Fnoticias%2Fibda-
realiza-iii-edicao-da-roda-de-conversa-a-pessoa-lgbt-com-deficiencia-neste-
mes%2F&psig=AOvVaw1H_9OJK_FxPo2d0YxKOJpJ&ust=1570286899492557. Acesso em: 03 out.
19.

103
Figura 64: Respeito e discurso ético

Fonte: Google imagens72

Vimos, nestes dois exemplos, algumas formas de agir, tanto do professor


quanto do aluno, que buscam ter acordo com os princípios morais vigentes.
Cabe a você, docente em formação, (re)pensar suas práticas, relembrar de
alguns professores que você já teve e que tiveram comportamentos fundamentados
nos preceitos morais e éticos e tomá-los, também, como exemplos em seu dia a dia.
É importante sempre partirmos de alguns exemplos que tocam de forma mais
imediata a realidade de nossos alunos. Visto que esse é um curso de formação a
distância não temos, a priori, contato com nossos estudantes.
No entanto as situações e exemplos que apresentamos aqui partem não só da
realidade das professoras que escrevem essa apostila, mas de todo um longo
processo de formação humana, na qual os professores em atuação no ensino superior
há algum tempo vivenciam. Nesse sentido, dão subsídios para a formação de nossos
alunos.
Segundo Carla Beatriz Rocha e Genilce Souza Correia, é parte do papel do
docente universitário proporcionar a seus estudantes um ambiente que possibilite
debates, discussões e todo tipo de manifestações artísticas, filosóficas e culturais do
gênero humano.
É importante lembrarmos que todos os debates e manifestações devem estar
sempre fundamentados em práticas éticas e no respeito às diversidades. Segundo as
autoras:

Ao docente compete construir condições favoráveis para que a


aprendizagem aconteça de maneira totalizadora - científica e ética - e,
para tal, toda a criatividade é bem-vinda, mesmo quando implique

72
Disponível em:
https://www.google.com/url?sa=i&source=images&cd=&ved=2ahUKEwiWqYmC8ILlAhW6KLkGHbskD
2oQjRx6BAgBEAQ&url=https%3A%2F%2Fwww.udesc.br%2Fnoticia%2Fudesc_lanca_campanha_de
_conscientizacao_contra_assedios_em_ambiente_universitario&psig=AOvVaw2RWkoD_K9FrsnzMX
4ranPv&ust=1570287757744108. Acesso em: 03 ago. 2019.

104
algumas transgressões ou reinterpretações das regras do jogo. Afinal,
essas foram feitas por homens e serão mudadas por homens que
rejeitem a inexorabilidade das coisas (ROCHA e CORREIA, 2006, p.
6).

Figura 65: Ambiente universitário

Fonte: Google imagens73

Ao analisarmos as relações que se estabelecem entre professores e alunos


dentro da esfera do ensino superior, mediadas pelos preceitos éticos e morais de
nossa sociedade, podemos compreender melhor quais os direitos e deveres de cada
um diante do processo educativo.
Assim sendo:

“Partindo dessa premissa, é inegável a vivência efetiva de educadores


e educandos na ética, “da” e “na” educação no tempo presente, sendo
que professores e alunos se complementam, não sendo um mais
importante do que outro, já que ambos têm papel primordial, cultural e
social dentro da ética (FREITA & SILVA, 2016, p. 97).

Em busca de finalizarmos essa unidade final de nossa disciplina, é fundamental


que o docente, que tem esse material em mãos, saiba que estará constantemente se
relacionando com situações que envolveram princípios morais e sua ética profissional.
Já trabalhamos alguns exemplos da ética profissional do docente, assim,
apresentamos situações onde a ética comparece também na postura do estudante,
como dos demais funcionários do ambiente universitário.
Para que possamos finalizar esse debate de modo satisfatório, traremos mais
uma passagem do artigo de FREITAS & SILVA, onde as autoras apresentam uma
concepção que, a nosso ver, é fundamental para o futuro docente universitário.

73
Disponível em:
https://www.google.com/url?sa=i&source=images&cd=&ved=2ahUKEwjTw_noxIPlAhUKVK0KHU4ZC
AYQjRx6BAgBEAQ&url=https%3A%2F%2Fcaracol.com.co%2Femisora%2F2019%2F05%2F03%2Fp
ereira%2F1556884272_558385.html&psig=AOvVaw0P7KTPY_x-
db_KuQWUunK_&ust=1570310552240937) Acesso em: 03 ago. 2019.

105
Refletimos e nos questionamos cotidianamente acerca de nossas práticas,
saberes, fundamentos teóricos, tudo isso é parte do contínuo processo de formação
humana do docente universitário!
Esperamos que esse debate possa ter contribuído ainda mais para a sua
atuação profissional pautada em preceitos éticos e morais.

É necessário nos reconhecermos como seres inacabados, pois tanto


os educadores quanto os educandos estão em processo de formação
contínua e o melhor para ambas as partes é o respeito e a
competência, juntamente com os princípios éticos. Seguindo este
caminho, podemos trabalhar de forma reflexiva e construir um novo
rumo para a educação de uma sociedade realmente ética (FREITAS &
SILVA, 2016, p. 97)

Chegamos ao final da quarta unidade da nossa disciplina.


Aqui você estudou sobre as questões específicas que envolvem a ética e a
moral no exercício da docência em nível superior.
Discutimos brevemente a relação entre ética e educação. Conceituamos ética
partindo de estudiosos da área e, posteriormente, apresentamos como se estabelece
a relação ética entre professor e aluno.
Dentro desse tema, abordamos, ainda, a relação entre ética e moral.
Novamente conceituamos o que é moral.
Também estudamos sobre o discurso ético do professor e de que forma esse
discurso e práticas éticas do professor estão relacionadas com a formação humana
de seus alunos.
Vimos, por último, alguns exemplos de atitudes éticas por parte dos estudantes,
para completarmos o quadro das relações éticas no ensino superior.
Essa é uma unidade fundamental para o futuro docente universitário!
Esperamos que você se dedique à leitura deste material, assim como das referências
citadas.
Convido-o(a), agora, a realizar duas atividades sobre as temáticas que
discutimos nessa unidade.

106
Atividades de Aplicação

1- Se pensarmos a partir do que foi apresentado nessa unidade da apostila, mas


sobretudo partindo de nossas experiências práticas, quais os elementos que
compõem o conjunto daquilo que compreendemos por Ética? Explique.

Bom trabalho!

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2- A partir do que foi apresentado e debatido nesta unidade sobre a ética e o


discurso e as práticas éticas do docente universitário, explique e dê exemplos
práticos sobre essa relação no cotidiano docente.

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REFERÊNCIAS

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