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Anotadas do 5º Ano – 2008/09 Data: 22 de Outubro de 2008

Disciplina: Ortopedia Prof.: Dra. Helena Canhão


Tema da Aula Teórica: Semiologia em Reumatologia
Autor(es): Ana Maçãs e Rita Nair Diaz
Equipa Revisora: Carla Miguel Brito Nobre

Bibliografia
 Anotada de Cirurgia II de 2007

 Serra, L. “Manual de Ortopedia”

 SOARES, J.L.D. (2007), “Semiologia Médica – Princípios, Métodos e


Interpretação”, Lidel – Lisboa

Semiologia em Reumatologia

HISTÓRIA CLÍNICA

A história clínica é fundamental para estabelecer uma correlação entre a


sintomatologia existente e a possível patologia subjacente, sendo que existem
algumas especificidades na história clínica da doença reumatológica/ortopédica.

Identificação:
Algumas doenças reumáticas são mais prevalentes em certos grupos
populacionais:

Sexo
Sexo masculino: Gota úrica, Espondiloartropatias (ex. espondilite anquilosante
(EA)).
Sexo feminino: Artrite Reumatóide (AR), Lúpus Eritematoso Sistémico (LES).

Raça
Raça caucasiana: Arterite Temporal, Granulomatose Wegener.

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Raça negra: LES, Sarcoidose

Idade
Jovens: LES, Febre Reumática
Meia-idade: Gota úrica, AR
Idosos: Artroses, Osteoartrite

Nota 1: Fractura de menisco – num indivíduo jovem, com os músculos


tonificados, este tipo de fractura pode não dar sintomas; num indivíduo com mais de
60 anos, pode haver perda de tonicidade, existindo sintomatologia.

Profissão/hobby/desporto

As profissões ou desportos que implicam sobrecarga funcional de algumas


articulações determinam a ocorrência de artroses secundárias mais frequentes ou
mais graves, e/ou podem exacerbar queixas dolorosas pré-existentes. Da mesma
forma, podem ser causa de patologia periarticular frequente.
Secretárias: Artose do cotovelo, Síndrome do canal cárpico
Carregadores: Lombartroses

Sintomas Major:

DOR

Caracterização do tipo de Dor

1. Ritmo Mecânico/Ritmo Inflamatório


Ritmo Mecânico:
• Dor que agrava ao longo do dia (mais intensa no final do dia), com o
movimento e a sobrecarga da articulação e que alivia com o repouso,
particularmente o nocturno. Não tem importância funcional de manhã.
• É característico das doenças degenerativas.

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Ritmo Inflamatório:
• Dor que é mais intensa durante a noite e de manhã ao acordar e que agrava
com o repouso, aliviando com o movimento.
• A dor é acompanhada de rigidez matinal, e melhora ao longo da manhã.
• Este ritmo é característico das doenças inflamatórias.

Nota 2: A dor óssea é frequentemente mais persistente e “surda” e a dor


periarticular surge habitualmente de noite ou quando a estrutura é colocada sob
tensão.

2. Topografia
Certas patologias têm topografia característica (afectam mais uma determinada
articulação):
Artrite Reumatóide: atinge preferencialmente, de forma bilateral e simétrica, as
articulações metacarpofalângicas e interfalângicas proximais;
Osteoartrose: atinge preferencialmente as grandes articulações; é geralmente
oligoarticular e assimétrica;
Artrite psoriática: atinge preferencialmente as interfalângicas distais e é
acompanhada de distrofia ungueal (diagnóstico diferencial com osteoartrose);
Espondilite Anquilosante: sacroileíte assimétrica.

3. Carácter Aditivo vs Migratório


Carácter Aditivo: atinge de forma adicional e cumulativa as várias articulações
(a dor mantém-se nas articulações afectadas inicialmente). Ex: Artrite Reumatóide;
Carácter Migratório: a dor surge inicialmente numa articulação e, passado
algum tempo, migra para outra (a dor desaparece da articulação inicialmente
atingida). Ex: Brucelose, Febre Reumática.

RIGIDEZ

Sensação de articulação presa. Incapacidade temporária de mobilização


articular ou muscular.
Rigidez > 30 minutos, predominantemente matinal: provável etiologia
inflamatória.

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Rigidez < 30 minutos, a qualquer hora do dia: provável etiologia mecânica ou


degenerativa.

TUMEFACÇÃO

É a expressão do edema inflamatório ou da deformação estrutural da


articulação, traduzindo a sua consistência o processo subjacente: mole no primeiro
caso e dura no segundo.

INCAPACIDADE FUNCIONAL

A repercussão funcional depende da patologia em causa, da sua actividade e


duração (sequelar).

Nota 3: Face a uma monoartrite dolorosa e incapacitante:


− Verificar a presença de eritema/sinais inflamatórios; as duas situações mais
frequentes são: artrite séptica e artrite microcristalina (gota); se existir ausência de
sinais inflamatórios, deve-se pensar primeiro em traumatismo.
− Se tiver 24h de evolução – deve-se pensar em infecção ou gota; a primeira,
embora não seja comum, é extremamente importante, pois é acompanhada de um
elevado risco de destruição articular e, dada a sua elevada capacidade de
disseminação pelo organismo, envolve risco de vida (mortalidade de 10%);
− Se tiver 15 dias/1 mês de evolução – podem ser inúmeras patologias (não se
coloca a infecção como diagnóstico provável)

MANIFESTAÇÕES SISTÉMICAS

1. Febre
2. Emagrecimeto
3. Astenia
4. Pele, olhos (espondilartropatias estão associadas a psoríase e uveíte)
5. Revisão de sistemas (nomeadamente aparelho genitourinário,
gastrintestinal e cardiopulmonar)

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Doença Actual:

Como em qualquer outro grupo de patologias, os sintomas devem ser


caracterizados tendo em conta os seguintes pontos:

1. Como e quando começou a doença? (Determinar possíveis factores


desencadeantes, manifestações prodrómicas…)
2. Como evoluiu? (Aguda/crónica; Aditivo vs migratório)
3. Número de articulações envolvidas? (monoarticular – 1 articulação;
oligoarticular – até 4 articulações; poliarticular – 5 ou + articulações)
4. Topografia (localizações; periférica vs axial; simétrica vs assimétrica)
5. Artralgia vs Artrite
6. Rigidez (quantificação e caracterização)
7. Ritmo circadiano das queixas
8. Factores de agravamento e alívio
9. Resposta aos tratamentos? (Eficácia da terapêutica, intolerância ou
idiossincrasias medicamentosas)
10. Repercussão funcional? (A pessoa consegue efectuar as tarefas
diárias? Acorda com dor?)
11. Sintomas associados

Antecedentes Pessoais:

1. Fracturas/Traumatismos (Podem causar artroses secundárias, patologia


ligamentar ou meniscal. É importante perceber se a intensidade do traumatismo
justifica a lesão).
2. Infecções (Podem condicionar, por extensão directa ou por via
hematogénea, artrite séptica; por outro lado, e mediante um mecanismo imunitário
intermediário, podem dar origem a artrites reactivas. No nosso país, a tuberculose e
a brucelose são causas não raras de patologia osteoarticular e devem ser excluídas,
sobretudo em casos de patologia infecciosa sub-aguda ou crónica).
3. Doenças Neurológicas (Por um lado, várias doenças reumáticas podem
causar compressão neurológica radicular ou medular; por outro, a patologia

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neurológica pode conduzir secundariamente a patologia articular – ex. articulações


de Charcot associadas a tabes dorsal).
4. Doenças Hematológicas (As coagulopatias podem ser causa de
hemartroses; a drepanocitose pode condicionar processos de necrose asséptica; as
leucemias e síndromes mielo ou linfoproliferativos podem simular quadros articulares
e causar dores ósseas, a sua terapêutica com imunossupressores conduz a lise
celular que pode aumentar a síntese de ácido úrico causando gota).
5. Antecedentes ginecológicos (O período pós-menopausa implica um
maior risco de osteoporose; patologias como a sífilis podem ser causas de
manifestações articulares).
6. Leite/Café/Chá/Tabaco/Álcool (A baixa ingestão de produos lácteos e o
excesso de tabaco, álcool e café são factores de risco para a osteoporose.
Episódios de ingestão alcoólica excessiva podem precipitar crises de gota).
7. Terapêuticas (Alguns fármacos podem induzir patologia reumática, como é
o caso da hidralazina e da procainamida que podem determinar quadros lupus-like
ou do eritema nodoso originado por exposição a sulfanamidas ou toma de
contraceptivos orais. A resposta a terapêuticas anteriores é um dado muito
importante em quadros recorrentes).

Antecedentes Familiares:

1. Psoríase
2. Gota
3. Artropatias degenerativas (osteoartrose erosiva das mãos,
poliosteoartrose)
4. Espondilite Anquilosante
5. Artrite Reumatóide
6. Lúpus Eritematoso Sistémico
7. Doenças endócrinas
8. Fractura do Colo do Fémur

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EXAME OBJECTVO

Coluna Vertebral 1:

1. Posição Ortostática
• Curvaturas fisiológicas e alteração das mesmas
• Horizontalidade dos ombros, omoplatas e cristas ilíacas
• Teste Adam
• Tipo de Escoliose (equilibrada/desequilibrada)
• Flexão/extensão/inclinação lateral/rotações da coluna dorsal e lombar

Curvaturas: existem três curvaturas fisiológicas – a lordose cervical, a cifose


dorsal (máximo 40ºgraus) e a lordose lombar.
A cifose dorsal é mais marcada nas mulheres idosas com fracturas vertebrais
provocadas pela osteoporose.
As jovens podem apresentar hiperlordose lombar que é por vezes causa de
lombalgia.

Horizontalidade dos ombros: Uma pessoa sem patologia tem os ombros à


mesma altura. O observador coloca as suas mãos sobre os ombros do indivíduo
(que se encontra de costas para ele, i.e., a avaliação é feita na face posterior) e
verifica a simetria, para além de confirmar a implantação da cabeça (central em
relação às cinturas escapulares).
Uma assimetria dos ombros pode ser devido a uma escoliose OU a uma
dismetria dos membros inferiores. No segundo caso, para corrigir essa situação
pode ser suficiente a utilização de uma palmilha num dos sapatos.

Teste Adams: permite distinguir uma escoliose estrutural de uma atitude


escoliótica (que é postural).

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O EO da coluna vertebral deve contemplar a observação e a caracterização da marcha, e o indivíduo deve ser observado nas
posições ortostática, sentado e deitado.

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O indivíduo coloca-se em posição ortostática, de costas para o observador, e


de seguida faz a anteflexão do tronco com os membros inferiores em extensão: se
se tratar de uma atitude escoliótica a curvatura da coluna é harmoniosa (a postura é
corrigida) (fig.1 A); no caso da escoliose ser estrutural, a flexão anterior do tronco
põe em evidência uma assimetria da coluna com visualização de uma “bossa” dorsal
(fig.1 B).

A B

Fig. 1 - Teste Adams

Escoliose Equilibrada: Quando os dois ombros se encontram ao mesmo nível


devido à existência de duas curvas inversas (duas escolioses combinadas que se
anulam). Há então uma curvatura convexa compensada por uma curvatura côncava
para o mesmo lado.

Escoliose Desequilibrada: Quando esta compensação não ocorre.

Flexão Global: Avaliação da flexibilidade vertebral activa através da distância


dedos-solo OU através da distância indicador-polegar (o observador apoia os dedos
em máxima abertura (1) e, sem os deslocar, pede ao doente que retome a posição
erecta (extensão completa) (2), nessa altura deve apreciar o grau de diminuição do
afastamento entre os dois dedos).

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Para além da observação da amplitude dos movimentos de flexão e extensão,


é também fundamental a observação da amplitude da inclinação lateral e das
rotações da coluna dorsal e lombar e se são acompanhadas, ou não, de dor.

2. Sentado2
• Flexão/extensão/inclinação/rotação cervico-dorsal
• Exploração segmentar - palpam-se as apófises espinhosas e as articulações
interapofisárias posteriores (IAP) que se localizam a cada lado das anteriores.
Na hiperlordose existe artrose destas articulações e a sua palpação
desencadeia dor.

3. Deitado
• Exame segmentar
A exploração segmentar das apófises espinhosas e das articulações IAP
dorsais e lombares deve ser efectuada com o doente em decúbito ventral.
Na região glútea deve proceder-se à palpação das articulações sacroilíacas,
detectar pontos dolorosos (incluindo a palpação da tuberosidade isquioglútea) ou
com contractura muscular.

4. Manobras semiológicas

Shober e “flecha lateral”: avaliam a flexibilidade e mobilidade do segmento


lombar.

Teste de Shober: marca-se um ponto na região lombar entre os discos L4-L5,


tendo como referência as espinhas ilíacas. Em seguida marca-se novo ponto na
vertical, 10 cm acima do primeiro. A distância entre os dois pontos é novamente
medida após flexão anterior do tronco e deve aumentar mais de 3 cm. Se o aumento
da distância for inferior, significa que há diminuição da mobilidade da coluna lombar
ou rigidez lombar e a prova de Shober é positiva.

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A posição sentada é a mais adequada para avaliar os movimentos de flexão, extensão, inclinação lateral e rotações da coluna
cervical e dorsal alta.

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A patologia envolvida pode ser uma espondilite anquilosante ou um


traumatismo lombar.

Fig. 2 – Teste de Shober

Flecha Lateral: é medida a distância dos dedos ao solo com o doente em


posição ortostática, e após inclinação lateral.

Manobras Sacro-Ilíacas – Forçam a abertura ou aproximação das articulações


por pressão directa sobre as mesmas.

− Decúbito dorsal:
Manobra de Volkmann (fig. 3 A) - Pressão nas espinhas ilíacas ântero-
superiores, afastando as cristas ilíacas. É considerada positiva se desencadear dor
na face posterior, nas articulações sacro-ilíacas;
Manobra de Lewin (fig. 3 B) - Pressão simultânea numa crista ilíaca com
quadril contralateral em rotação externa e joelho flectido;
Flexão do quadril e joelho contra-lateral (fig. 3 C).

− Decúbito lateral:
Compressão Lateral (fig. 3 D) – com o doente em decúbito lateral esquerdo e
direito, exerce-se pressão vertical na crista ilíaca homolateral, que pode
desencadear dor na articulação sacro-ilíaca, ao induzir o afastamento dos bordos
articulares.

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A presença de dor em duas ou mais destas manobras é indício de sacroileíte


(que ocorre na espondilite anquilosante).

A B

C D

Fig. 3 – Manobras Sacro-Ilíacas

Manobra de Fabere
Teste realizado em decúbito dorsal, com a anca em posição de Flexão +
Abdução + Rotação Externa. Para obter a associação destes três movimentos
posiciona-se o calcanhar sobre o joelho oposto.
Este teste permite a avaliação da articulação coxo-femoral nos seus três níveis:
muscular, ligamentar e ósseo. Desencadeia dor em patologias da articulação coxo-
femoral, mas também pode evidenciar sacro-ileíte ao provocar dor na região glútea.

Fig. 4 – Manobra de Fabere

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Lasègue do Membro Superior


O médico apoia uma mão na região parieto-temporal do doente e com a outra
abraça o punho homolateral deste, mantendo num 1º tempo o antebraço flectido,
estando este colocado à altura do ombro; num 2º tempo inclina a cabeça do doente
para o lado oposto e estende-lhe o membro superior (cotovelo em extensão e ombro
em abdução a 90º). Se, com esta manobra, o doente tiver dor, é porque há
radiculalgia cervical ou envolvimento do plexo braquial.

Fig. 5 – Lasègue do membro superior

Lasègue do Membro Inferior


Pesquisa de nevrite do ciático nas lombociatalgias, muito comum nas hérnias
discais.
Com uma mão apoiada no calcanhar eleva-se lentamente o membro inferior;
quando há nevrite/compromisso radicular, esta manobra reproduz a dor do paciente
a um valor de elevação inferior a 70º (geralmente aos 40º de elevação), ou seja,
reproduz a dor localizada na região lombar ou glútea e que irradia para o membro
inferior ao longo do território do nervo ciático.
Portanto, o Sinal de Lasègue é POSITIVO se reproduzir a dor espontânea do
paciente; e é tanto mais específico quanto menor o ângulo que causa dor (ângulos
>70º não têm significado!).

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Fig. 6 – Lasègue do membro inferior e manobra de Bragard.

De seguida, pode-se realizar também a Manobra de Bragard para confirmar a


dor. Para esta ser positiva deve-se baixar a perna até a dor desaparecer e verificar
se, com a dorsiflexão do pé, a dor reaparece.

Manobra de Spurling (equivalente do Lasègue para a coluna cervical)


Consiste num movimento combinado de extensão e rotação do pescoço do
lado doloroso, ao qual se adiciona uma compressão vertical de modo a reduzir a
abertura dos buracos de conjugação.
O teste é POSITIVO se a manobra reproduz a dor radicular do paciente; para
além disso, confirma a origem cervical da dor (contra a origem situada no ombro).

Fig. 7 – Manobra de Spurling

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Tracção Cervical
O médico coloca as mãos sob as regiões mentoniana e occipital, de forma a
exercer força de baixo para cima. É considerado positivo se o doente tiver alívio da
dor nos membros superiores.

Exame Neurológico (A avaliação da coluna vertebral deverá ser


complementada com um exame neurológico o mais completo possível, mas que
inclua nomeadamente, a avaliação da força muscular, da sensibilidade e dos
reflexos osteotendinosos).

Pontos Fibromiálgicos
O diagnóstico de fibromialgia consiste num dianóstico de exclusão. É uma
patologia caracterizada por dor e rigidez dos tecidos moles como os músculos, os
tendões e os ligamentos, sendo uma patologia não articular.
Além do quadro álgico pode também existir fadiga, astenia, cefaleias, síndrome
do cólon irritável, dismenorreia, hipersensibilidade ao frio e Raynaud.
A existência de dor mais intensa nos 18 pontos fibromiálgicos é sugestiva desta
entidade.
As manifestações nucleares da fibromialgia são:
- Dor generalizada
- Pontos dolorosos sensíveis à pressão

Fig. 8 – Pontos Fibromiálgicos

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Membro Superior 3

1. Ombro
• Articulação Gleno-umeral
• Articulação Acromio-clavicular
• Bolsa sub-acromiodeltoideia
• Coifa dos Rotadores, particularmente o tendão do Supra-espinhoso
• Longa porção do tendão do bicípite
• Abdução/adução
• Arco doloroso/rot. Coifa
• Flexão/extensão/rotação
• Palpação

Uma forma de avaliar o ombro de uma forma global é pedir ao doente para
levantar o braço, colocar a mão atrás da cabeça e atrás das costas. Se não existir
dor em nenhuma destas posições, não existe patologia reumatológica do ombro.

Fig. 9 – Avaliação global do ombro

A patologia periarticular do ombro é mais frequente do que o envolvimento


articular, nomeadamente a tendinite de inserção da longa porção do bicípite, a
bursite subacromiodeltoideia, que podem, ou não, acompanhar-se de conflito
acromial ou síndrome de impingement.

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O exame do membro superior deve contemplar o estado do ombro, do cotovelo, do punho e da mão.

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Arco Doloroso
Provoca o aparecimento de dor na face ântero-
externa do ombro quando, durante a abdução do
membro, o braço alcança os 60º e que desaparece
cerca dos 120º com a continuação do movimento até
ao seu limite máximo. É indicativo de lesão aguda ou
crónica da coifa dos rotadores (nomeadamente a
tendinite do supra-espinhoso) ou da bolsa sub-
acromiodeltoideia.

Fig. 10 – Arco doloroso

Manobra de Jobe
Testa o músculo supra-espinhoso.
Consiste na abdução contrariada do membro superior com este em pronação e
o polegar em extensão a apontar para o chão.
Teste POSITIVO: Se o doente não consegue resistir à pressão exercida pelo
examinador é indicativo de rotura do tendão do músculo supra-espinhoso. Se o
doente resiste apenas alguns segundos é indicativo de tendinite do supra-espinhoso.

Fig. 11 – Manobra de Jobe

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Palm-up test
Avalia o tendão da longa porção do bicípite.
É realizado com o membro superior em extensão e supinação. Pede-se ao
doente para flectir o membro a partir da horizontal, contrariando-se o seu
movimento.
Teste POSITIVO: se existir dor com o movimento, na localização topográfica do
tendão da longa porção do bicípite.

Nota 4: Se se observar um grande aumento do volume muscular na região


anterior do braço, suspeita-se de rotura do tendão da longa porção do bicípite e
designa-se de “Sinal do Popeye”.

Fig. 12.1 – Palm-up test Fig. 12.2 – Sinal do Popeye

Manobra de Yergason
Com o cotovelo flectido a 90º, pede-se que faça uma supinação contrariada do
antebraço. A manifestação da dor indica, como no teste anterior, a presença de
tendinite bicipital.

Fig. 13 – Manobra de Yergason

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Principais causas de dor no ombro:


− Tendinite do supra-espinhoso ou da longa porção do bicípite
− Artrose acrómio-clavicular (comum em indivíduos > 70 anos)
− Artrite Gleno-umeral (pouco frequente)

Nota 5: Quando a articulação gleno-umeral está envolvida causa dor em todos


os movimentos. As rotações são os movimentos mais precocemente afectados e,
especificamente no ombro, a rotação externa.

2. Cotovelo
• Flexão/extensão/pronação/supinação
• Epitrocleíte/epicondilite/bursite olecraneana
• “flexo” (flexão parcial para diminuição da dor, com incapacidade de efectuar
a extensão completa - frequente nas artrites crónicas)

Principal causa de dor no cotovelo:


− Epicondilite “cotovelo do tenista” - Tendinite dos extensores da mão e do
punho inseridos no epicôndilo. Acontece frequentemente em profissões que
envolvem a mobilidade do punho nomeadamente mexer num teclado ou rato. A
extensão contrariada do punho avaliada isoladamente ou em combinação com a
supinação contrariada da mão desperta dor ao nível do epicôndilo.
− Epitrocleíte “cotovelo do golfista”– Comum em indivíduos que realizam
trabalhos manuais/fábrica. A dor ao nível da epitróclea pode ser desencadeada pela
manobra de flexão do punho contrariada, avaliada de modo isolado ou em
combinação com a pronação contrariada do antebraço e mão.
− Bursite olecraneana – Frequente em indivíduos com gota. Manifesta-se por
tumefacção visível sobre o olecrâneo.

3. Punho e mão
• Flexão/extensão
• Palpação das articulações do punho, 1ª carpo-metacárpica,
metacarpofalângicas (MCF) e interfalângicas

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Palpação das articulações:


Articulações MCF: palpam-se com os polegares as articulações metacarpo-
falângicas das duas mãos, uma a uma.

Articulações interfalângicas: palpam-se uma a uma fazendo a expansão da


cápsula articular e com outros dois dedos comprimindo as mesmas no sentido
antero-posterior.

Manobras de Tinel e de Phalen


Simulam a compressão do nervo mediano ao nível do canal cárpico. Se a
execução destas manobras desperta dor são consideradas positivas e traduzem o
Síndrome do canal cárpico.
Na Manobra de Tinel, a percussão intermitente do canal cárpico provoca o
aparecimento ou agravamento das dores e parestestias da mão e dos dedos
inervados pelo mediano.
Na Manobra de Phalen, estas queixas são reproduzidas mediante a colocação
do punho numa posição de flexão extrema durante 1-2 minutos.

Fig. 14.1 – Manobra de Tinel Fig. 14. 2 – Manobra de Phalen

Nota 6:
Parestesias diurnas: etiologia cervical (compressão das raízes cervicais)
Parestesias nocturnas: etiologia no canal cárpico (compressão do nervo
mediano)

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Manobra de Finkelstein
Deve executar-se quando existe suspeita de patologia do tendão do 1º dedo –
tenossinovite de De Quervain. O doente flecte os dedos sobre o polegar apoiado na
palma da mão, procedendo-se de seguida à mobilização da mão no sentido cubital.
A manobra é considerada positiva quando desencadeia dor ao nível da face externa
do punho e da base do 1º dedo.

Fig. 15 – Manobra de Finkelstein

Membro Inferior 4

1. Anca
• Flexão/extensão/rotação/abdução/adução
• Teste de Thomas (flexo anca)

Teste de Thomas
É usado para identificar contracturas da anca.
Com o doente em decúbito dorsal, pede-se para flectir a anca normal de forma
a fixar a pelve. Pede-se ao doente que a mantenha nessa posição. Se positivo, há
flexão concomitante da coxofemoral contralateral, sugerindo contractura no membro
em extensão.

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O exame do membro inferior deve contemplar o estado da anca, do joelho, da tibiotársica e do pé.

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Fig. 16 – Teste de Thomas

Teste de Trendelenburg
Permite identificar fraqueza nos músculos abdutores da anca. Pode ser útil na
avaliação de patologia neurológca e nos casos de luxação congénita da anca.
Consiste na observação da altura relativa das duas cristas ilíacas enquanto o doente
se apoia alternadamente em cada um dos pés. Na pessoa saudável, observa-se a
elevação da bacia do lado não apoiado; quando existe patologia do médio glúteo e
não ocorre contracção dos abdutores contralaterais ao pé apoiado, a pelve cai para
o lado oposto e o tronco inclina-se excessivamente.

Fig. 17 – Prova Trendelenburg

Medição dos Membros Inferiores (EIAS-MI)


A medição do comprimento dos membros inferiores é feita com o doente em
decúbito dorsal e consiste na distância entre a espinha ilíaca ântero-superior e o
maléolo interno. Permite identificar dismetrias.

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Principais causas de dor na anca:


− Grande trocanterite (bursite trocantérica) – Dor à palpação na região
trocantérica.
- Tendinite de inserção do médio-glúteo – A dor é referida habitualmente na
face externa da coxa e é exacerbada pela palpação local, imediatamente posterior
ao grande trocânter, e pela abdução contrariada da coxa estando o doente em
decúbito lateral.

Nota 7: Enquanto uma dor generalizada no ombro (que condiciona a


mobilidade do mesmo nos vários planos de acção) leva a pensar que a articulação
gleno-umeral está atingida, o mesmo não se passa com a articulação coxo-femoral.
Uma dor generalizada na anca orienta para uma grande trocanterite! Enquanto que
uma dor limitada à virilha e face interna da perna é sugestiva de patologia da
articulação coxo-femoral.

2. Joelho
• Flexão/extensão/rotação
• Choque rótula
• Estabilidade ligamentar (gaveta e lateralidade)
• Teste Apley
• Bursite anserina e bursite pré-patelar

Choque da rótula
Para pesquisar a existência de líquido intra- articular.
O observador coloca a mão esquerda sobre o fundo de saco quadricipital,
esvaziando o fundo de saco supra-rotuliano. Com o indicador da mão direita,
pressiona a rótula, e nesse momento, se existir presença de líquido intra-articular,
sente-se a deslocação de líquido contra a mão e a rótula a flutuar.

Teste da gaveta
Testemunha a integridade dos ligamentos cruzados anterior e posterior do
joelho.

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O doente está deitado em decúbito dorsal, com os joelhos flectidos. O


observador senta-se em cima dos seus pés e coloca os polegares na união do fémur
com a tíbia e os restantes dedos na região gemelar:
− Quando puxa a perna para a frente (Gaveta anterior) e se sente o avanço da
tíbia é indicativo de lesão do ligamento cruzado anterior;
− Quando empurra a perna para trás (Gaveta posterior) e se sente a
deslocação posterior da tíbia é indicativo de lesão do ligamento cruzado posterior.

Fig. 18 - Teste da gaveta

Nota 8: Teste de Lachman – É um teste mais sensível que o da gaveta


anterior. O joelho é colocado a cerca de 15º e fortemente sujeito a pressão pelas
mãos do examinador. A mão que segura a perna executa movimentos de vaivém
ântero-posteriores, que, num joelho normal, vão ter um pequeno efeito. Se houver
lesão do ligamento cruzado anterior vai-se observar um nítido desvio.
É utilizado para a detecção da instabilidade articular provocada por rotura do
ligamento cruzado anterior.

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Fig. 19 – Teste de Lachman

Teste de Apley
Para testar lesão meniscal.
Com o doente em decúbito ventral e o joelho flectido a 90º, o médico imprime
uma rotação interna e externa à perna, acompanhada primeiro de uma tracção para
cima e depois de uma pressão para baixo. Se, aquando do movimento para cima,
surgir dor, a lesão é capsular ou ligamentar. Quando a dor surge também ao
pressionar a perna para baixo, a lesão é meniscal.

Fig. 20 – Teste de Apley

Bursite anserina ou tendinite da pata de ganso – comprometimento


inflamatório da bolsa do músculo costureiro que provoca dor no compartimento
interno do joelho, particularmente ao subir escadas.

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Bursite pré-platelar – dor na região anterior da rótula, podendo ou não haver


aumento de volume local; a compressão local e a flexão do joelho agravam a dor.

Fig. 21 – Região patelar

3. Tibiotársica e pé
• Flexão plantar/dorsal
• Eversão/inversão
• Podoscopia (importante para detectar alterações da base do pé e para
avaliar as curvaturas a conformação do mesmo)
• Metatarsalgias
• Fasceíte plantar
• Tenosinovites tibiais (posterior e anterior) e peroneais

Patologias mais frequentes:


- Metatarsalgias
- Hallux valgus
- Fasceíte plantar
- Tenossinovite dos peroneais, tibial anterior e tibial posterior
- Tendinite aquiliana
- Síndrome do túnel társico.

Fasceíte plantar: caracteriza-se pela existência de dor no centro do calcanhar


(onde se insere a fascia plantar), associada ou não a esporão do calcâneo. Pode ser
causada pela utilização de calçado inadequado, sem protecção a esse nível.

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A maior parte das patologias que os indivíduos pensam ser nas articulações,
são na verdade patologias das estruturas peri-articulares, e não da articulação em si!
Daí a importância de realizar um bom exame objectivo.

Glossário:
Mono-articular: existe uma articulação envolvida;
Oligo-articular: entre duas e quatro articulações envolvidas;
Poli-articular: cinco ou mais articulações envolvidas;
Artralgia: dor articular;
Artrite: inflamação numa articulação independentemente da causa;
Artrose: patologia degenerativa que habitualmente cursa com artralgia de ritmo
mecânico com rigidez de curta duração;
Omalgia: dor no ombro;
Gonalgia: dor no joelho.

Bom estudo 

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