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o 90 — 17 de Abril de 2002
vi) O Decreto-Lei n.o 45/94 (regime de planea- sequência do despacho n.o 13 799/2000, de 6 de Julho,
mento); do Ministro do Ambiente e do Ordenamento do Ter-
vii) A Directiva Quadro da Água (*) (DQA); ritório, que para o efeito constituiu um grupo de
viii) O Plano Nacional de Política do Ambiente trabalho.
(PNPA); Assim, e de acordo com o calendário da DQA, Portugal
ix) O Plano Nacional de Desenvolvimento Econó- irá assegurar, em conjunto com Espanha, a elaboração
mico e Social (PNDES). de planos de gestão coordenados e dos consequentes pro-
gramas de medidas para prevenir a degradação e asse-
(*) Na medida do possível procurou-se ter em conta as indicações gurar a protecção da qualidade das águas, acção que,
da DQA, embora assumindo a impossibilidade de lhe dar desde já obviamente, também deverá ser estendida às bacias
real cumprimento. nacionais.
Por outro lado, a abordagem integrada às questões
Tendo em conta que cerca de 64 % do território con- relacionadas com a prevenção e controlo da poluição
tinental de Portugal está integrado nas bacias hidro- com origem em descargas tópicas e difusas amplamente
gráficas dos rios internacionais e que, por consequência, consignada na Directiva sobre a Prevenção e Controlo
os nossos recursos hídricos, potencialmente gerados na Integrado da Poluição — IPPC (Directiva n.o 96/61/CE),
parte espanhola daquelas bacias, estão fortemente con- transposta para o direito interno nacional pelo Decre-
dicionados em termos de quantidade, qualidade e de to-Lei n.o 194/2000, de 21 de Agosto, não deixa de cons-
funções ambientais, a problemática das relações luso- tituir uma obrigação dos dois Estados ibéricos, sendo
-espanholas e da gestão e acompanhamento dos acordos indispensável o estabelecimento de uma actuação coor-
existentes entre os dois países é matéria que merece denada.
especial atenção neste PNA. Ainda no contexto da gestão dos rios internacionais,
O planeamento e gestão dos recursos hídricos em existem outras questões que assumem particular rele-
Portugal não pode, pois, deixar de ser articulado com vância, entre as quais se salientam:
o planeamento e gestão dos recursos hídricos da parte
espanhola das bacias partilhadas, no quadro do direito Fixação de caudais ecológicos decorrentes da
internacional (com destaque para a Convenção sobre necessidade de se proceder à definição do regime
a Protecção e a Utilização dos Cursos de Água Trans- de caudais necessário para garantir o bom estado
fronteiriços e Lagos Internacionais — Convenção de das águas, no sentido de minimizar os impactes
sobre os ecossistemas dulçaquícolas a jusante dos
Helsínquia), comunitário (com destaque para a Direc-
aproveitamentos hidráulicos que condicionam as
tiva Quadro da Água) e bilateral (Convénios de 1964
secções de fronteira nos rios internacionais,
e 1968 e a Convenção sobre Cooperação para a Pro-
tendo em vista quantificar os caudais mínimos
tecção e o Aproveitamento Sustentável das Águas das a manter nos cursos de água, ao longo do ano,
Bacias Hidrográficas Luso-Espanholas, adiante desig- que permitam assegurar a conservação e manu-
nada por Convenção de Albufeira). tenção dos ecossistemas aquáticos naturais, a
Assim, a aplicação e implementação da Convenção reprodução das espécies, assim como a conser-
de Albufeira, cuja Comissão para a Aplicação e o Desen- vação e manutenção dos ecossistemas ripícolas
volvimento da Convenção (CADC) já se encontra em e os aspectos estéticos da paisagem ou outros
funções e tem desenvolvido amplo e profícuo trabalho, de interesse científico e cultural;
é matéria que constitui uma das prioridades deste PNA. Os estudos a desenvolver deverão abranger toda
Não cabe ao PNA definir metas e objectivos para a bacia hidrográfica e avaliar os impactes decor-
a implementação desta Convenção, já que a CADC se rentes da sua artificialização;
encontra plenamente mandatada para esse efeito e, no Durante a elaboração dos PBH (quer nos rios
essencial, é esse o objecto e o motivo da sua existência. nacionais, quer nos rios internacionais) não foi
Ao PNA compete prever os mecanismos de acompa- possível proceder ao estabelecimento destes cau-
nhamento e vigilância da Convenção, de modo a poder dais, já que o estado de conhecimento e as pers-
fazer repercutir perante a CADC os objectivos que nos pectivas de aquisição do mesmo não se coadu-
propomos atingir em território nacional e os condicio- navam com os objectivos temporais da conclusão
namentos que possam advir para a política nacional de dos PBH, daí que a «Síntese dos planos de bacia
gestão dos recursos hídricos na decorrência de uma par- hidrográfica dos rios luso-espanhóis», tenha
tilha de interesses com o Estado de montante. avançado com a fixação de valores em cinco sec-
A recente adopção da Directiva n.o 2000/60/CE esta- ções de fronteira nos cinco rios internacionais,
belece um quadro de acção comunitária no domínio muito embora com a noção de que esta matéria
da política da água, adiante designada por Directiva requer ser aprofundada e, nos termos da Con-
Quadro da Água (DQA), e define objectivos de pro- venção de Albufeira, deverá ser conduzida atra-
tecção e de gestão dos usos da águas, de certo modo vés da CADC;
já estão integrados na Convenção de Albufeira. Estabelecimento de redes homogéneas de moni-
O presente PNA propõe a definição das regiões, torização que, nos termos da permuta de infor-
hidrográficas, passo fundamental para que possam ser mação prevista na Convenção de Albufeira e nos
atingidos os objectivos fundamentais da Convenção de objectivos da DQA, terão de ser estabelecidas
Albufeira e da DQA, sobretudo se tivermos em conta e intercalibradas pelos dois Estados ibéricos;
a sua inserção no contexto das bacias compartilhadas Articulação entre Portugal e Espanha para a pre-
e que a sua gestão seja, num futuro próximo, realizada paração da implementação da DQA, o que,
por regiões ou conjuntos de regiões hidrográficas. obviamente, deverá estar inserido na estratégia
Em consequência, torna-se inevitável a efectivação comum da União Europeia.
da já anunciada intenção de reforma do actual quadro
institucional de gestão dos recursos hídricos, cuja pro- Portugal é um dos países que, no contexto europeu,
posta de novo modelo se encontra em elaboração na apresenta responsabilidades significativas em matéria de
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gestão de águas, sobretudo se tivermos em conta os incluída na área do Plano de Bacia Hidro-
objectivos de protecção e preservação das águas mari- gráfica do Sado;
nhas. As ribeiras de costa do concelho de Odemira
Com uma área terrestre de 92 600 km2, Portugal tem ficam incluídas na área do Plano de Bacia
responsabilidades de gestão de recursos hídricos numa Hidrográfica do Mira, exceptuando a
área de 1 834 600 km2 se atendermos às áreas das zonas ribeira de Seixe;
económicas exclusivas, ou seja, uma área cerca de A bacia hidrográfica da ribeira de Seixe fica
20 vezes superior à sua área terrestre. integrada na área do Plano de Bacia Hidro-
Para que este PNA tenha uma base comum a todos gráfica das Ribeiras do Algarve;
os leitores importa aqui reter algumas definições fun-
damentais, tais como: iii) Recursos hídricos superficiais — águas de super-
fície ou águas interiores que não sejam águas
i) Plano Nacional da Água — documento que subterrâneas, águas de transição e águas cos-
define orientações de âmbito nacional para a teiras, excepto no que se refere ao estado
gestão integrada dos recursos hídricos funda- químico;
mentadas em diagnóstico actualizado da situa- iv) Recursos hídricos subterrâneos — águas subter-
ção e na definição de objectivos a alcançar atra- râneas que se encontram abaixo da superfície
vés de medidas e acções, elaborado de acordo exterior do solo na zona de saturação e com
com o Decreto-Lei n.o 45/94, de 22 de Fevereiro; contacto directo com os materiais que consti-
ii) Plano de Bacia Hidrográfica — definição idên- tuem o solo ou o subsolo;
tica à anterior com o âmbito territorial de uma v) Águas interiores — águas lênticas ou correntes
bacia hidrográfica ou da agregação com ou de sobre a superfície exterior do solo e as águas
pequenas bacias hidrográficas cujos limites são subterrâneas existentes até à linha de base a
os seguintes: partir da qual são marcadas as águas territoriais;
As ribeiras de costa do concelho de Caminha vi) Bacia hidrográfica — espaço de terra e de mar
ficam incluídas na área do Plano de Bacia terrestre na qual todas as águas fluem, através
Hidrográfica do Minho; de uma sequência de ribeiros, rios e eventual-
As bacias hidrográficas dos rios Âncora e mente lagos e lagoas para o mar, desembocando
Neiva, as ribeiras de costa do concelho de numa única foz, estuário ou delta;
Viana do Castelo e a zona sul do concelho vii) Região hidrográfica — espaço de terra e de mar
de Ponte de Lima ficam incluídas na área constituído por uma ou mais bacias hidrográ-
do Plano de Bacia Hidrográfica do Lima; ficas vizinhas e pelas águas subterrâneas e cos-
As ribeiras de costa dos concelhos de Espo- teiras que lhes estão associadas;
sende e de Póvoa de Varzim ficam incluí- viii) Águas costeiras — águas de superfície existen-
das na área do plano de Bacia Hidrográfica tes até à linha cujos pontos se encontram a uma
do Cávado; distância de uma milha náutica, na direcção do
As ribeiras de costa do concelho de Vila do mar, a partir do ponto mais próximo da linha
Conde ficam incluídas na área do Plano de base de delimitação das águas territoriais,
de Bacia Hidrográfica do Ave; estendendo-se, quando aplicável, até ao limite
As ribeiras de costa do concelho de Mato- exterior das águas de transição;
sinhos, incluindo a que faz fronteira com ix) Utilização da água — serviços hídricos e qual-
o concelho de Vila do Conde (rio Onda), quer outra actividade definida no artigo 5.o e
ficam incluídas na área do Plano de Bacia no anexo II da Directiva Quadro da Água que
Hidrográfica do Leça; tenha um impacte significativo no estado da
As ribeiras de costa dos concelhos de Ovar, água;
Espinho, Vila Nova de Gaia e a zona oeste x) Serviços hídricos — todos os serviços que for-
do concelho de Santa Maria da Feira ficam neçam para casas de habitação, entidades públi-
incluídas na área do Plano de Bacia Hidro- cas ou qualquer actividade económica:
gráfica do Douro; a) Captação, represamento, armazenagem,
As ribeiras de costa do concelho de Canta- tratamento e distribuição de águas de
nhede ficam incluídas na área do Plano de superfície ou subterrâneas;
Bacia Hidrográfica do Vouga; b) Recolha e tratamento de águas residuais
As ribeiras de costa dos concelhos da Figueira por instalações que subsequentemente
da Foz e Pombal ficam incluídas na área descarregam os seus efluentes em águas
do Plano de Bacia Hidrográfica do Mon- de superfície;
dego;
As ribeiras de costa do concelho de Leiria xi) Águas transfronteiriças — águas superficiais e
e Marinha Grande ficam incluídas na área subterrâneas que definem as fronteiras entre
do Plano de Bacia Hidrográfica do Lis, dois ou mais Estados, que os atravessam ou se
assim como a zona norte do concelho de encontrem situadas nestas fronteiras.
Alcobaça;
A ribeira de Apostiça e as ribeiras de costa 2 — Princípios orientadores e de contexto
dos concelhos de Almada e Sesimbra ficam 2.1 — Princípios fundamentais e da administração
incluídas na área do Plano de Bacia Hidro-
gráfica do Tejo; As decisões político-administrativas associadas ao pla-
A zona oeste do concelho de Setúbal per- neamento de recursos hídricos podem ser enformadas
tencente a bacia hidrográfica do Tejo fica por princípios específicos da actividade de planeamento,
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mas também devem ser conformadas pelos princípios tipo de desenvolvimento, devem realçar-se os seguintes
fundamentais e gerais que tocam todos os modelos de aspectos:
decisão deste subsistema jurídico.
Integração das questões ambientais e sociais em
A Constituição da República Portuguesa (CRP) todas as actividades;
refere que Portugal abrange o território historicamente Dissociação do crescimento económico da degra-
definido no continente europeu e os arquipélagos dos dação do ambiente;
Açores e da Madeira e que na lei própria é definida Análise sistemática das causas dos problemas e dos
a extensão e o limite das águas territoriais, a zona eco- impactes no ambiente;
nómica exclusiva e os direitos de Portugal aos fundos Análise sistemática dos custos e efeitos das soluções
marinhos contíguos (artigo 5.o). desenvolvidas.
No que se refere aos recursos hídricos das bacias
hidrográficas internacionais, a CRP estabelece que nas A par dos princípios gerais de direito do ambiente
relações internacionais Portugal rege-se pelos princípios referidos, são ainda relevantes os vectores que enfor-
da independência nacional, da igualdade entre os Esta- mam a organização da administração do ambiente. De
dos e da não ingerência nos assuntos internos dos outros entre estes, são especialmente importantes os seguintes:
Estados e ainda que as normas e os princípios de direito
internacional geral ou comum fazem parte integrante Gestão integrada de regiões hidrográficas, que,
do direito português. como princípio específico da gestão dos recursos
Também as normas constantes de convenções inter- hídricos, condiciona a actividade administrativa.
nacionais regularmente ratificadas ou aprovadas, bem Embora se deva sublinhar que a região hidro-
como as normas emanadas dos órgãos competentes das gráfica, enquanto unidade operativa de acção e
organizações internacionais de que Portugal seja parte, planeamento, pode não coincidir com o conceito
vigoram na ordem interna, desde que tal se mostre esta- de bacia hidrográfica;
belecido nos respectivos tratados constitutivos (arti- Coordenação e cooperação internacionais, no sen-
gos 7.o e 8.o). tido de que o planeamento dos recursos hídricos
Das tarefas fundamentais do Estado constam a pro- deve procurar, por um lado, articular e com-
moção do bem-estar e a qualidade de vida do povo patibilizar a protecção do recurso água com as
e a igualdade real entre portugueses, defender a natu- demais políticas sectoriais com incidência ter-
reza e o ambiente, preservar os recursos naturais e asse- ritorial, operando uma adequada ponderação
gurar um correcto ordenamento do território dos diversos interesses públicos e privados entre
(artigo 9.o). si e uns com os outros; e, por outro lado, não
Por força destes princípios fundamentais da CRP, no podendo esquecer as situações de partilha do
domínio do ambiente em geral encontram-se definidos recurso com Espanha;
na LBA (n.o 11/87) os princípios que apontam para que Subsidiariedade ou do nível mais adequado de
«todos os cidadãos têm direito a um ambiente humano acção, no sentido de que deverá ser privilegiado
e ecologicamente equilibrado e o dever de o defender» o nível decisório que, em função da natureza
e que «a política de ambiente tem por fim optimizar dos problemas e da consequência das decisões,
e garantir a continuidade de utilização dos recursos natu- seja o que se encontre em melhores condições
rais, qualitativa e quantitativamente como pressuposto (técnicas, de proximidade com os destinatários,
básico de um desenvolvimento auto-sustentado». etc.) para o fazer.
A Comissão Mundial para o Desenvolvimento, das
Nações Unidas (UNCED), através da publicação do Por seu lado, o PNPA refere como princípio que as
relatório «O nosso futuro comum», evidenciou que os intervenções não podem limitar-se a encarar as linhas
problemas ambientais não podem ser separados dos de água, as albufeiras e os aquíferos como meras fontes
assuntos relativos ao bem-estar das populações e ao de captação ou locais de rejeição. É necessário atender
desenvolvimento económico em geral, sendo apresen- aos seus múltiplos valores ambientais e patrimoniais,
tadas formas alternativas de desenvolvimento que pro- designadamente ao seu papel na conservação dos
movam o uso sustentável dos recursos naturais. ecossistemas.
A Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Nos termos do artigo 174.o do Tratado da União
e Desenvolvimento, realizada no Rio em 1992, realçou Europeia, a política comunitária no âmbito do ambiente
a necessidade de incluir o conceito de desenvolvimento deve basear-se nos princípios da precaução e da acção
sustentável no desenvolvimento das políticas ambiental preventiva, da correcção, prioritariamente na fonte dos
e económica. danos causados ao ambiente, e do poluidor-pagador.
A dimensão humana da necessidade de se assegurar
2.2 — Princípios de planeamento e gestão
o desenvolvimento sustentado foi escolhida para o
1.o princípio da Declaração do Rio com a seguinte A DQA encontra o seu fundamento no universo de
expressão: «Os seres humanos estão no centro das preo- princípios gerais, entre os quais merece destaque o da
cupações do desenvolvimento sustentado. Têm direito cooperação e de acção coerente a todos os níveis, supor-
a uma vida saudável e produtiva em harmonia com a tados na informação, consulta e participação do público.
natureza.» O 3.o princípio vai no mesmo sentido com O Decreto-Lei n.o 45/94, de 22 de Fevereiro, estabelece
a forma: «O direito ao desenvolvimento deve ser con- no artigo 2.o, sob a epígrafe «Planeamento de recursos
seguido de modo equitativo, preenchendo as necessi- hídricos», que a referida actividade planificadora tem por
dades de desenvolvimento e ambientais das gerações objectivos gerais «a valorização, a protecção e a gestão
presentes e futuras.» equilibrada dos recursos hídricos nacionais, assegurando
Tendo em vista a definição de uma estratégia de a sua harmonização com o desenvolvimento regional e
desenvolvimento sustentável e tendo em consideração sectorial através da economia do seu emprego e racio-
os acordos internacionais que também preconizam este nalização dos seus usos».
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Daqui se deduz, em primeiro lugar, que a citada acti- dente dos recursos naturais, de acordo com o artigo 174.o
vidade deve conter, desde logo, uma perspectiva tri- do Tratado.
partida assente na valorização dos recursos, na protecção Este PNA não poderia deixar de ter em conta as
dos recursos e na gestão equilibrada dos mesmos. Não novas terminologias e definições constantes do artigo 2.o
perdendo de vista o objectivo geral acima enunciado, da DQA.
o diploma contém, ainda, o que qualifica como «requi-
2.3 — Princípios ambientais
sitos de planeamento» — (artigo 2.o, n.o 2), ou seja, as
linhas de actuação que se pretende que condicionem Uma consequência dogmática da inserção do direito
o processo de planeamento. da protecção da água no direito do ambiente é a rele-
Neste decreto-lei são identificados cinco princípios: vância dos princípios gerais de direito do ambiente nos
Globalidade, para significar que o planeamento de modelos de decisão característicos do direito de pro-
recursos hídricos deve apostar numa apreciação tecção da água. É, assim, claro que a generalidade dos
integrada de vários aspectos relacionados com princípios que condicionam as regras de protecção da
os recursos em causa, designadamente nas ver- água (incluindo as opções de planeamento) são vectores
tentes técnica, económica, ambiental e insti- gerais de direito do ambiente. De entre os vectores que
tucional; merecem uma formulação tendencialmente consensual
Racionalidade, para significar que no processo de na doutrina importa referir os seguintes:
planeamento se deve procurar a optimização das Prevenção, no sentido de que as acções político-
várias origens da água e a satisfação das várias -administrativas devem ser orientadas para a pre-
necessidades, articulando a procura e a oferta venção da ocorrência de danos e disfunções
e salvaguardando a preservação quantitativa e ambientais;
qualitativa dos recursos hídricos, bem como uma Precaução, no sentido da acção, determinando que
aplicação económica dos recursos financeiros; acções preventivas devem ter lugar logo que
Integração, para significar que o planeamento de exista um grau de risco desadequado para a qua-
recursos hídricos não se deve alhear das outras lidade da água, mesmo que não esteja demons-
políticas de racionalização e optimização de trada a existência de um nexo causal entre a
recursos, designadamente do planeamento eco- actividade potencialmente prejudicial e do dano
nómico sectorial e regional, do planeamento ter- — e no sentido da abstenção —, proibindo as acti-
ritorial e das políticas de conservação e protecção vidades que representem um perigo ou um grau
do ambiente; de risco desadequado para a qualidade da água;
Participação, no sentido, hoje largamente consen- Abordagem combinada, entre a fixação de valores
sual, de que não pode haver planeamento sem limite de emissão e a fixação de objectivos de
que no processo se encontrem envolvidos os qualidade para o meio receptor, bem como entre
agentes económicos e as populações; objectivos de qualidade e quantidade para as
Estratégia, no sentido de que deve ser privilegiado águas de superfície e subterrâneas, tendo por
o nível decisório mais próximo da população. base a melhor tecnologia disponível;
Utilização da melhor tecnologia, a fase de desen-
Na abordagem estratégica da Comissão Europeia volvimento mais avançada e eficaz das activida-
(Maio de 1999) para a gestão sustentável dos recursos des e dos respectivos modos de exploração do
hídricos avançam-se princípios de gestão e institucionais, domínio hídrico, que demonstre a aptidão prá-
sendo de realçar: tica de técnicas específicas com vista a evitar
e a reduzir, de um modo geral, as emissões e
i) O envolvimento de organizações de utilizadores os impactes no meio hídrico e no ambiente em
e do sector privado deve ser encorajado; geral.
ii) A formação de competência contínua é neces-
sária nas instituições e nos grupos participantes 2.4 — Princípios sociais
a todos os níveis; e
iii) Os sistemas de gestão devem ser transparentes Com o mesmo alcance do 3.o princípio da Declaração
e responsáveis e devem ser estabelecidos sis- do Rio, o planeamento dos recursos hídricos orienta-se
por princípios, tais como:
temas de informação de gestão apropriados,
para a aplicação dos quais este PNA deve Sustentabilidade e solidariedade intergeracional,
contribuir. devendo o planeamento procurar assegurar a
adequada resposta às necessidades da geração
A DQA n.o 2000/60/CE encontra o seu fundamento actual e, do mesmo modo, a transmissão às gera-
num conjunto de princípios gerais, de que merece des- ções futuras de uma herança que deve ser pro-
taque o da cooperação e de acção coerente a todos tegida, defendida e tratada como tal;
os níveis suportados na informação, consulta e parti- Solidariedade e coesão nacionais, no sentido de
cipação do público. A DQA estabelece um sistema inte- que as opções de planeamento devem procurar
grado de medidas com vista à protecção das águas, de atenuar e não agravar as assimetriais existentes.
modo a prevenir a deterioração do seu «estado», pro-
teger e melhorar o estado dos ecossistemas aquáticos 2.5 — Princípios económico-financeiros
e dos ecossistemas terrestres e zonas húmidas direc-
Cada vez mais presentes na definição das políticas
tamente dependentes, no que respeita às necessidades
de recursos hídricos encontram-se princípios de natureza
de água. A DQA constitui o desenvolvimento da Política
económico-financeira de que se destacam:
Comunitária para o Ambiente, que visa a prevenção,
protecção e melhoria da qualidade do ambiente, a pro- Água bem económico, reconhecendo que a água
tecção da saúde humana e a utilização racional e pru- doce é um recurso finito, cuja disponibilização
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tem um custo e para o qual deve ser estipulado cipais e especiais de ordenamento do território rela-
um preço; tivamente aos quais tenha o PNA incidência espacial.
Uso eficiente da água, visando maximizar a uti- Por outras palavras, estando em face de um plano sec-
lização de um dado volume de água, restringido torial, tal significa que muitas das suas prescrições fica-
utilizações que não são essenciais, de menor rão dependentes da sua ulterior consagração por parte
valor, ou menos eficientes; dos planos municipais. Retenha-se que os planos sec-
Utilizador-pagador, reforçando a ideia de que toriais não vinculam os particulares. É inegável que o
todas as utilizações do recurso suportem o custo PNA — e concretamente as suas prescrições —, vão ser
de utilização do mesmo, no qual se incluem os aplicadas num espaço determinado. Mas o que interessa,
custos ambientais e os custos associados à escas- para efeitos de aplicação do regime jurídico dos ins-
sez do recurso; trumentos de gestão territorial, é identificar nessa
Poluidor-pagador, que implica que os custos de pre- dimensão territorial uma característica essencial do ins-
venção, controlo e redução da poluição do meio trumento que se esteja a analisar. Ora, se pensarmos
hídrico sejam imputados ao poluidor. em aspectos do conteúdo do PNA, como a definição
de normas de qualidade da água, facilmente intuímos
2.6 — Princípio da informação e participação que a dimensão territorial, que obriga à intervenção
das estruturas locais, não releva.
Indissociáveis dos restantes princípios, dando consis- Há, contudo, determinadas matérias no PNA cuja
tência e eficácia às políticas de recursos hídricos, são expressão territorial é inegável — pense-se nas zonas
os princípios da: adjacentes, na previsão de uma barragem ou de limi-
Participação, aponta para o envolvimento dos uti- tações de utilização do solo. Nestes casos, justifica-se,
lizadores na tomada de decisões individualmente porventura, a ulterior intervenção dos planos muni-
ou através das organizações representativas e cipais.
para a assunção pelos agentes das consequências, O PNA deve ser perspectivado no quadro da política
para terceiros, da sua secção, directa ou indi- ambiental. Com efeito, aquele instrumento jurídico não
recta, sobre os recursos hídricos; pode ser entendido fora de um contexto mais amplo — a
Responsabilidade, no sentido de que os agentes protecção do ambiente. Esta tem sido assumida e pros-
devem ser adequadamente responsabilizados seguida através de um vasto conjunto de soluções que
pelos actos danosos para o recurso em causa, passam pela regulamentação pormenorizada da utiliza-
designadamente através da internalização dos ção de bens jurídico-ambientais e pela integração do
custos sociais (princípio do poluidor-pagador) da ambiente em instrumentos de outros ramos do
obrigação de reparação do dano e da utilização direito — máxime do direito do ordenamento do ter-
de penalizações suficientemente eficazes, pro- ritório e do direito do urbanismo.
porcionadas e dissuasivas.
3.2 — Principais envolventes jurídico-normativas
O teor do PNPA tem como desígnios para os recursos no sentido de assegurar a possibilidade institucional de
hídricos, entre outros, a elaboração do PNA e dos PBH cooperação técnica e financeira com as instituições
a fim de dar coerência geral a todas as intervenções comunitárias e de, simultaneamente, enquadrar o inte-
neste domínio. gral cumprimento do normativo comunitário.
O Decreto-Lei n.o 45/94, de 22 de Fevereiro, é o
instrumento jurídico que expressamente atribui a com- 3.4 — As implicações transfronteiriças
petência e, portanto, a obrigação de elaboração do PNA,
cuja aprovação se faz por decreto-lei, ao Instituto da Portugal é subscritor das mais importantes conven-
Água (INAG) (artigo 5.o). ções multilaterais e, no aspecto bilateral, acordou recen-
Também a DQA no seu artigo 13.o estipula que os temente com Espanha normas com vista à preservação
Estados-Membros garantirão a elaboração de um plano e partilha dos recursos hídricos das cinco bacias hidro-
de gestão da bacia hidrográfica inteiramente situada no gráficas internacionais (Minho, Lima, Douro, Tejo e
seu território e assegurarão a coordenação entre si com Guadiana), através da assinatura e entrada em vigor
o objectivo de realizar um plano de gestão de bacia no início do ano 2000 da Convenção sobre Cooperação
hidrográfica para cada região hidrográfica internacional. para a Protecção e o Aproveitamento Sustentável das
Águas das Bacias Hidrográficas Luso-Espanholas.
3.3 — A eficácia nas Regiões Autónomas
A entrada em vigor da DQA também não deixará
de ter profundos reflexos nas relações luso-espanholas.
O Decreto-Lei n.o 45/94 ignora as Regiões Autóno- As convenções internacionais com especificidades
mas em todos os aspectos materiais e orgânicos do transfronteiriças — Convenção sobre o Direito dos Usos
regime jurídico de planeamento de recursos hídricos, não Navegacionais dos Cursos de Água Internacionais,
mas é explícito no seu artigo 4.o, quando estabelece a Convenção sobre Protecção e Utilização dos Cursos
que «o Plano Nacional da Água (PNA), abrange todo de Águas Transfronteiriços e Lagos Internacionais, a
o território nacional». Convenção sobre a Avaliação de Impactes Ambientais
Assim, se parece admissível a aplicação do PNA (e num Contexto Transfronteiriço e a Convenção
do próprio Decreto-Lei n.o 45/94) às Regiões Autóno- OSPAR — trouxeram para o âmbito das relações bila-
mas sem que isso contrarie, necessariamente, o princípio terais a necessidade do estabelecimento de plataformas
da autonomia regional, pelo menos enquanto forem res- técnicas e científicas e diplomáticas que impõem har-
peitadas a iniciativa e os poderes legislativos próprios monização nacional em matéria de recursos hídricos,
das Regiões, a verdade é que tal aplicação pode deparar assumindo-se o PNA como uma das traves mestras.
com a inoperatividade do citado decreto-lei, nos termos A DQA é explícita nesta última matéria, exigindo
em que este diploma se encontra actualmente redigido, a articulação e a coordenação do planeamento das bacias
para esse efeito. A aplicação do PNA às Regiões Autó- transfronteiriças para que as medidas e as acções a esta-
nomas terá sempre de defrontar (e resolver) problemas belecer conduzam ao cumprimento dos objectivos nela
como: previstos.
A ausência de bacias hidrográficas de referência, 4 — Objecto e âmbito territorial
sobretudo no âmbito do artigo 4.o, n.o 1, alí- 4.1 — Objecto, abrangência e integração territorial
nea b), do Decreto-Lei n.o 45/94;
As limitações, em termos de competência territo- O PNA é um plano de recursos hídricos. Todavia,
rial, da entidade responsável pela elaboração do a ideia de «recursos hídricos» deve ser entendida à luz
PNA e a articulação com os organismos próprios do conceito de «água», enquanto componente ambien-
das Regiões; tal, e do planeamento da água como um dos instru-
A ausência de representação das instituições regio- mentos compreendidos no respectivo direito de protec-
nais nos organismos consultivos e de gestão do ção. Nomeadamente, através da definição e orientação
PNA. da política de gestão deste bem, tendo em vista as fina-
lidades da sua protecção e utilização sustentada
Contudo, as relações entre o PNA e os planos regio- (artigo 2.o, n.o 2, do Decreto-Lei n.o 45/94).
nais da água das Regiões Autónomas regem-se pelo Assim, o objecto do PNA será, em princípio, cor-
princípio da articulação, dado que são instrumentos pro- respondente ao do direito de protecção da água, dado
gramáticos da mesma natureza, que estabelecem as que as políticas expressas nas disposições dos planos
grandes linhas de orientação a serem integradas pelos terão de se reportar, necessariamente, às realidades que,
instrumentos de desenvolvimento. Isto significa que não por se encontrarem relacionadas com a água, constituem
podem conter disposições contraditórias, traduzindo o objecto do respectivo direito de protecção.
compromissos recíprocos de integração e compatibili- O objecto do planeamento dos recursos hídricos não
zação das respectivas opções. Não significa isso que em se limita, apenas, à água, abrangendo o «domínio
algumas matérias nas quais a especificidade do interesse hídrico» consagrado no artigo 2.o do Decreto-Lei
regional se esbata, não deva existir uma relação de hie- n.o 46/94 e no artigo 10.o, n.os 1 e 2, da Lei de Bases
rarquia entre o PNA e os planos regionais. do Ambiente, o qual envolve, para além das águas, os
Os planos regionais da água das Regiões Autónomas terrenos em estreita conexão com estas (fundos, leitos,
materializam a sua participação no processo de planea- margens e zonas adjacentes).
mento de recursos hídricos nacional. Esta integração Todavia, da multiplicidade das realidades abrangidas
favorece as reconhecidas especificidades e idiossincra- pelas disposições dos planos de recursos hídricos, con-
sias das Regiões Autónomas, acautelando-as de uma tinua a poder identificar-se, como elemento essencial
forma rigorosa e atempada. Em complemento, assegu- do objecto destes planos, a água (as águas), sendo as
ra-se, por esta via, a posição regional e a coerência nacio- restantes realidades tratadas acessoriamente e na pers-
nal perante a administração da União Europeia na área pectiva da protecção daquela. Assim, é ao nível da água
do ambiente. Esta consistência é duplamente relevante, (ou seja, da determinação dos tipos de águas relevantes
3732 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A N.o 90 — 17 de Abril de 2002
para efeitos de planeamento de recursos hídricos) que Determinados os tipos de águas sujeitos ao planea-
se suscitam as questões mais relevantes a propósito da mento, cabe agora analisar o seu estatuto jurídico. Este
definição do objecto do PNA. estatuto assenta no regime de dominialidade, o qual
A primeira questão é, por isso, a de precisar quais constitui o pressuposto determinante do regime de uso,
os tipos de águas abrangidas pelo PNA. Trata-se, nomea- e portanto, um elemento essencial para a gestão dos
damente, de determinar os conceitos e as relações entre recursos.
os diversos tipos de águas marítimas e interiores e saber, O regime de dominialidade compreende, como rea-
de seguida, quais os tipos de águas abrangidos. lidade global, o conceito de domínio hídrico, nos termos
Por outro lado, importa analisar, no âmbito do objecto em que este vem definido no artigo 2.o do Decreto-Lei
do PNA, o estatuto jurídico das águas em presença, n.o 46/94, de 22 de Fevereiro, e compreende as seguintes
o qual constitui a base do respectivo regime e, por isso, categorias:
um pressuposto essencial para a definição da respectiva Domínio público hídrico, composto pelas águas
política de planeamento e gestão. integradas no domínio público hídrico, nos ter-
Para determinar quais são, efectivamente, as águas mos do disposto no Decreto n.o 5787-IIII, de 10 de
que constituem o objecto do PNA, há que ter presente Maio de 1919 (artigo 2.o, n.o 2, do Decreto-Lei
as normas relativas à definição de água, como bem jurí- n.o 46/94), e pelos terrenos integrados no domí-
dico objecto do respectivo direito de protecção, bem nio público hídrico, nos termos do disposto no
como as que procedem a classificações de águas, nos Decreto-Lei n.o 468/71, de 5 de Novembro
termos dos regimes mais relevantes nesta matéria. (artigo 2.o, n.o 1, do Decreto-Lei n.o 46/94);
Para efeitos de determinação do objecto do PNA, Domínio hídrico privado, nos termos dos arti-
adoptando-se, como base de trabalho, a classificação gos 1385.o e seguintes do Código Civil (artigo 2.o,
feita de acordo com as respectivas características hidro- n.o 2, do Decreto-Lei n.o 46/94).
geológicas, devidamente enquadrada nos termos da clas-
sificação geral constante da Lei de Bases do Ambiente. A propósito da determinação do âmbito espacial do
O artigo 10.o, n.o 1, da Lei de Bases do Ambiente PNA colocam-se as seguintes questões fundamentais:
compreende os seguintes tipos de águas:
Qual o sentido da aplicação do PNA a todo o ter-
Águas interiores de superfície; ritório nacional;
Águas interiores subterrâneas; Qual a estrutura espacial do planeamento;
Águas marítimas interiores; Quais os limites fronteiriços.
Águas marítimas territoriais;
Águas marítimas da zona económica exclusiva. Nos termos do disposto no artigo 4.o, n.o 1, alínea a),
do Decreto-Lei n.o 45/94, o PNA aplica-se a todo o
Estes tipos podem agrupar-se em dois grandes con- território nacional.
juntos — águas interiores e águas marítimas. Todavia, a aparente clareza do texto legal esconde
Assumindo o conceito de bacia hidrográfica como problemas relevantes de interpretação e, consequente-
elemento referenciador da actividade de planeamento mente, da determinação do âmbito espacial do PNA.
e gestão da água, pode concluir-se que estão sujeitos Essas dúvidas decorrem, nomeadamente, do con-
ao planeamento (e, nomeadamente, ao PNA) as águas fronto do âmbito territorial com o objecto dos planos
compreendidas nas bacias hidrográficas. (em particular, como o conceito de bacia hidrográfica
Embora o PNA possua um âmbito e conteúdo dife- acima referido), com os limites territoriais implícitos
rentes dos PBH, no que diz respeito ao objecto, não no Decreto-Lei n.o 45/94 e, sobretudo, como princípio
se justificam quaisquer distinções. Pelo contrário: cons- da autonomia regional, consagrado no artigo 228.o, alí-
tituindo ambos os instrumentos figuras articuladas no nea f), da Constituição.
âmbito do mesmo sistema de planeamento de recursos Deste modo, a ideia de que o PNA cobre a totalidade
hídricos, é forçoso que, embora em escalas diferentes, do território nacional tem de ser confrontada com esta
se reportem à mesma realidade de base. restrição à parte do território nacional abrangida por
Quanto ao objecto do planeamento de recursos hídri- bacias hidrográficas.
cos e, em particular, este PNA, aplica-se a: Por outro lado, há que saber se essas bacias hidro-
gráficas, tal como estão definidas no artigo 4.o, n.o 1,
Águas interiores (superficiais e subterrâneas); alínea b) do Decreto-Lei n.o 45/95, delimitam o âmbito
Águas de transição e águas costeiras, nos termos espacial do PNA, em termos de excluir a sua aplicação
da DQA. às áreas não integradas em nenhuma daquelas bacias.
Ora, não parece que tal suceda. Designadamente,
Esta é a delimitação que resulta do emprego do con- nada parece obstar a que se delimitem as bacias hidro-
ceito de região hidrográfica, enquadrado nos termos do gráficas das Regiões Autónomas, o que viria reforçar
regime jurídico do planeamento da água em função do a ideia da correspondência espacial entre o PNA e a
facto de este regime assentar nessa unidade básica. totalidade do território nacional, abrangido por bacias
Tal não prejudica, no entanto, a possibilidade de for- hidrográficas.
mulação de hipóteses mais abrangentes (nomeada- A segunda questão diz respeito ao confronto entre
mente, a da correspondência integral com o objecto do o âmbito espacial do PNA, como plano de nível estadual
direito de protecção da água) e o enquadramento, num (v. artigo 5.o, n.o 3, do Decreto-Lei n.o 45/94), com o
único sistema de planeamento, de toda a política de princípio da autonomia regional.
gestão da água. Todavia, apesar da relevância jurídica Nos termos do disposto no artigo 228.o, alínea f),
de algumas águas não abrangidas pelas bacias hidro- da Constituição, a gestão dos recursos hídricos é uma
gráficas (sobretudo, de águas costeiras), a verdade é das matérias de interesse específico regional, sujeita,
que o regime do planeamento da água não acolhe tal no âmbito do exercício dos poderes legislativos, à com-
hipótese, ficando esta relegada para o campo do direito petência exclusiva das assembleias legislativas regionais
a constituir. (artigo 232.o, n.o 1, da CRP).
N.o 90 — 17 de Abril de 2002 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A 3733
Todavia, o que decorre do designado interesse espe- uma forma pouco precisa, o artigo 12.o da Lei de Bases
cífico é, essencialmente, a faculdade de exercício dos do Ambiente define os critérios essenciais a ter em conta
poderes legislativo e regulamentar. nesta matéria:
Nomeadamente, para, em função do interesse espe- «A bacia hidrográfica é a unidade de gestão dos recur-
cífico, emitir legislação originária, para desenvolver leis sos hídricos, a qual deverá ter em conta as suas impli-
de bases nacionais e regulamentar leis gerais da Repú- cações socioeconómicas, culturais e internacionais».
blica [artigo 227.o, n.o 1, alíneas a), c) e d), respec- Com efeito, e como foi atrás referido, é difícil definir
tivamente, da CRP]. Assim, o facto de a matéria em uma bacia hidrográfica por critérios que não sejam os
causa ser de interesse específico para as Regiões Autó- hidrológicos. E, à luz desse facto, torna-se efectivamente
nomas não impede que uma lei geral da República, nessa difícil de compreender a integração dos «factores
matéria, vigore nas Regiões Autónomas. Apenas sig- socioeconómicos, culturais e internacionais».
nifica que estas últimas possuem o poder de a adaptar Mas, para se extrair desta disposição legal um sentido
ao seu interesse específico regional ou de emitir legis- útil, há que a interpretar tendo presente que a gestão
lação própria nessa matéria, desde que respeitados os de recursos hídricos, embora tendo por base as bacias
princípios essenciais da lei em causa [artigo 27.o, n.o 1, hidrográficas, não pode ser alheia aos factores socioeco-
alínea a), da CRP].
nómicos que a envolvem e condicionam.
4.2 — Unidades territoriais de planeamento de gestão
Assim, forçoso é concluir que, neste artigo 12.o da
Lei de Bases do Ambiente, estão presentes duas rea-
A situação actual em matéria de unidades territoriais lidades ou unidades distintas:
de planeamento é a que decorre do quadro institucional
criado pelas disposições legais que criaram as direcções A unidade básica — a bacia hidrográfica, enfor-
regionais de ambiente e recursos naturais em 1993, hoje mada pelo parâmetro hidrológico; e
direcções regionais do ambiente e do ordenamento do A unidade operativa — as actuais unidades homo-
território, e o INAG, atribuindo-lhe âmbitos territoriais géneas de planeamento e gestão de recursos
e competência de gestão não coincidentes com as áreas hídricos — cuja definição resulta da integração
das bacias hidrográficas. Com a publicação do Decre- das unidades hidrológicas com os referidos fac-
to-Lei n.o 45/94 sobre as competências de planeamento tores socioeconómicos, de modo a serem obtidas
ficaram definidas as áreas de intervenção expressas na regiões de gestão e planeamento mais adequadas
figura 4.2.1. aos condicionalismos e aos fins específicos resul-
No que se refere às unidades territoriais de planea- tantes de uma abordagem integrada da gestão
mento e de gestão dos recursos hídricos, embora de dos recursos hídricos.
Pode, assim, concluir-se que o conceito de região gação de uma ou mais bacias hidrográficas determinadas
hidrográfica referido na LBA enquanto unidade ope- em termos hidrológicos e, por outro, pode limitar-se a
rativa de planeamento pode, por um lado, incluir a agre- uma parte de uma dada bacia hidrográfica internacional.
3734 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A N.o 90 — 17 de Abril de 2002
Neste PNA são consideradas como unidades base de As águas costeiras e estuarinas encontram-se na con-
planeamento as áreas hidrográficas no sentido mais fluência dos dois grandes grupos de águas previstos na
amplo que as bacias hidrográficas e que são cobertas LBA (águas marítimas e águas interiores) e despertam
pelos PBH; e para as Regiões Autónomas, as ilhas como igualmente problemas na conjugação dos conceitos de
unidades independentes. Assim, teremos no território «águas marítimas interiores» e «águas interiores de
do continente 15 áreas hidrográficas de planeamento, superfície», previstos no artigo 10.o, n.o 1, alíneas a)
na Região Autónoma dos Açores 9 áreas hidrográficas e c), respectivamente, da LBA.
e na Região Autónoma da Madeira 4 áreas hidro- Assim, as águas estuarinas são as águas marítimas
gráficas. (com maior ou menor concentração de água doce) com-
A DQA n.o 2000/60/CE é muito objectiva em matéria preendidas entre o local até onde se fazem sentir as
de unidades territoriais de planeamento e gestão embora correntes de maré (a montante) e a foz.
deixe todos os graus de liberdade para ajustamentos Dada a definição de águas interiores que resulta do
às realidades regionais. No seu artigo 13.o estabelece artigo 10.o, n.o 1, alínea a), da LBA, podemos concluir
que os Estados-Membros garantirão a elaboração de que águas costeiras e estuarinas são águas marítimas
um plano de bacia hidrográfica para cada região hidro- (águas salgadas de origem marítima ou com maior ou
gráfica inteiramente situada no seu território. No caso menor diluição por água doce) e não águas interiores
de uma região hidrográfica internacional inteiramente superficiais. Sendo estas últimas, águas doces, limitadas,
situada num território da Comunidade, os Estados- a jusante, nos cursos de água que contactam com as
-Membros assegurarão a coordenação entre si com o águas marítimas, pela zona a partir da qual se fazem
objectivo de realizar um único plano de gestão de bacia sentir os efeitos das marés, com o consequente aumento
hidrográfica internacional. sensível de salinidade.
Assim, tendo presente o que ficou exposto, são de
4.3 — Limites fronteiriços e continuidade hidrográfica sublinhar os seguintes aspectos:
Quando refere a integração de factores «internacio- As águas costeiras e as águas estuarinas são águas
nais» na gestão dos recursos hídricos, o artigo 12.o da marítimas (ou salgadas) e, portanto, distintas das
LBA contempla este aspecto específico do âmbito espa- águas interiores, que são doces;
cial do PNA. As estuarinas são as águas marítimas interiores
A continuidade hidrográfica transfronteiriça pressu- existentes na zona dos estuários;
põe, assim, a consideração das seguintes particularida- As águas costeiras constituem uma faixa de águas
des, relativamente ao âmbito espacial do planeamento marítimas territoriais, correspondendo à deno-
de recursos: minada «faixa marítima de protecção».
A definição de unidades de planeamento em função Deste modo, partindo do interior para o mar, encon-
deste factor; tram-se os seguintes tipos jurídicos de águas:
A definição de critérios, objectivos e estruturas de
informação, articulação e gestão integrada, as Nos cursos de água:
quais pressupõem a existência de alguma cor-
respondência territorial e material entre as estru- Até ao limite das águas doces, as águas são
turas de gestão e planeamento e os respectivos águas interiores (superficiais);
instrumentos, dos dois lados da fronteira. A partir desse limite e até à foz, as águas
são águas (marítimas interiores) estuarinas;
Estes aspectos justificam disposições especiais por Entre a foz e a batimétrica 30 (o que não
parte do PNA, de modo a promover uma boa articulação sucede nas zonas em que os estuários
com os planos hidrográficos espanhóis, tanto ao nível tenham profundidade superior a essa), as
da bacia hidrográfica como ao nível nacional, em reforço águas são águas (marítimas territoriais) cos-
dos mecanismos de articulação estabelecidos no quadro teiras (faixa marítima de protecção);
das convenções bilaterais e multilaterais em vigor.
As relações bilaterais entre Portugal e Espanha Na costa:
impõem-se pela forte componente hídrica, não apenas Entre a linha da preia-mar e a linha de base
porque cerca de 65 % das fronteiras serem materiali- (linha de base normal — linha da baixa-
zadas por linhas de água, mas porque há uma respon- -mar), as águas são águas marítimas inte-
sabilidade conjunta na integralidade do sistema hidro- riores;
gráfico das bacias luso-espanholas, com situações par- Entre a linha de base normal e a batimétrica 30
ticularmente delicadas na foz dos respectivos rios, onde (nas zonas em que a profundidade na linha
se localizam estuários de elevada importância ecológica, de base normal já não seja igual ou superior
ambiental, económica e social. a 30 m), as águas são águas (marítimas ter-
ritoriais) costeiras (faixa marítima de pro-
4.4 — As relações entre as águas interiores, estuarinas e costeiras tecção).
A LBA estabelece dois grandes tipos de águas
interiores: Em todos os casos, a partir da linha de base e até
à distância de 12 milhas a contar desta em todos os
As águas superficiais; pontos iniciam-se as águas marítimas territoriais.
As águas subterrâneas. Todavia, e como já referimos, este PNA não pode
deixar de ter em conta as novas terminologias e defi-
A definição de águas superficiais e águas subterrâneas nições constantes do artigo 2.o da DQA, nomeadamente
é a apresentada no início deste capítulo. no que se refere a águas de transição e águas costeiras.
N.o 90 — 17 de Abril de 2002 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A 3735
Articulação com Espanha na gestão das bacias Cumpre, então, analisar quais as relações jurídicas
hidrográficas luso-espanholas; que se estabelecem entre o PNA e os outros instru-
Aquisição de conhecimento, dados de base e com- mentos de planeamento ambiental e de gestão territorial
petências de monitorização; que podem, eventualmente, integrar e disciplinar inte-
Qualidade da água dos meios hídricos; resses conflituantes com os definidos no PNA.
Licenciamento das utilizações e fiscalização; O Decreto-Lei n.o 45/94, de 22 de Fevereiro consagra,
Ordenamento do domínio hídrico; ainda, como instrumentos de planeamento de recursos
Protecção dos recursos hídricos subterrâneos; hídricos os PBH.
Regime económico-financeiro; Estes planos, que disciplinam o ordenamento dos
Conservação dos ecossistemas aquáticos e ribei- recursos hídricos pela unidade territorial da bacia hidro-
rinhos; gráfica, são aprovados por decreto regulamentar
Riscos e protecção de pessoas e bens; (artigo 5.o, n.o 3).
Disponibilização de informação e participação das Decorre, ainda, das normas do Decreto-Lei n.o 45/94,
populações e organizações representativas; de 22 de Fevereiro, que a relação entre o PNA e os
Formação e aquisição de competências; PBH é uma relação regida pelo princípio da hierarquia,
sendo o primeiro hierarquicamente superior aos últimos.
e que constituem prioridades para efeitos de definição Esta modalidade de relação que se estabelece entre
das linhas de orientação estratégicas que presidiram à os dois tipos de instrumentos de planeamento significa
sua elaboração. que as disposições dos PBH devem respeitar as deter-
O agrupamento das grandes questões em matéria de minações do PNA e, caso a vigência deste seja posterior,
recursos hídricos constiti os seguintes eixos de orien- devem ser alterados, por forma a tornar as suas dis-
tação estratégica: posições conformes com a disciplina estabelecida por
Conhecimento rigoroso numa base comum das aquele (cf. artigo 5.o, n.o 4, do Decreto-Lei n.o 45/94,
características fundamentais, utilizações e riscos de 22 de Setembro).
associados aos recursos hídricos; O PNPA, aprovado pela Resolução de Conselho de
Protecção eficaz e permanente das águas, gestão Ministros n.o 38/95, de 21 de Abril, define os grandes
da procura e superação de carências básicas em objectivos em matéria de ambiente e traça linhas de
infra-estruturas, numa abordagem sectorializada acção no sentido de promover um desenvolvimento sus-
dos problemas e necessidades e hierarquização tentável, tendo subjacente o princípio de que o ambiente
e programação territorial e sectorial integrada; deve ser assumido como uma vertente essencial na for-
Definição concreta do domínio hídrico e aplicação mulação das políticas sectoriais.
eficiente dos instrumentos para a sua protecção; A relação do PNA com aquele instrumento de pla-
Instalação efectiva do sistema de sustentabilidade neamento é, necessariamente, uma relação de articu-
económico-financeiro dos recursos hídricos; lação, significando esta que, apesar de, em termos mate-
Concretização de uma dinâmica de informação e riais, não haver hierarquia entre os dois instrumentos
participação das populações para a decisão; de planeamento, eles não devem conter disposições con-
Operacionalização dos instrumentos de cooperação traditórias, isto é, devem harmonizar-se entre si.
para a gestão das bacias hidrográficas inter- Nos termos da lei de política de ordenamento do
nacionais. território e de urbanismo visa-se definir e integrar as
acções promovidas pela Administração Pública, com
6 — Articulação e harmonização com os planos de bacia vista a assegurar as adequadas organização e utilização
hidrográfica
do território nacional, na perspectiva da sua valorização,
6.1 — As relações entre os diferentes níveis de instrumentos e tendo por objectivo o desenvolvimento económico,
de planeamento e níveis de aplicação: nacionais, regionais e autonómicos social e cultural integrado, harmonioso e sustentável do
Como já referido, o PNA como instrumento de pla- País, das diferentes regiões e dos aglomerados urbanos.
neamento de recursos hídricos foi consagrado, pela pri- O diploma em causa veio instituir um sistema de ges-
meira vez, no Decreto-Lei n.o 45/94, de 22 de Fevereiro. tão territorial, assente em três níveis (nacional, regional
De acordo com o seu preâmbulo, visava-se, princi- e local), que integra quatro tipos de instrumentos de
palmente, apetrechar a Administração Pública com um gestão territorial: os instrumentos de desenvolvimento
instrumento que, ao proceder a uma abordagem global territorial, os instrumentos de planeamento territorial,
do recurso em causa, lhe permitisse proceder a uma os instrumentos de política sectorial e os instrumentos
gestão integrada em substituição da gestão casuística de natureza especial (artigo 8.o).
que até aí vinha sendo seguida. De acordo com o referido normativo, são instrumen-
Assim, nos termos do artigo 4.o, n.o 1, alínea a), o tos de desenvolvimento territorial o programa nacional
PNA integra a tipologia mais vasta de «plano de recursos da política do ordenamento do território (PNPOT), os
hídricos». planos regionais de ordenamento do território (PROT)
Ainda de acordo com o Decreto-Lei n.o 45/94, de e os planos intermunicipais de ordenamento do terri-
22 de Fevereiro, o PNA é aprovado por decreto-lei tório (PIMOT). Constituem instrumentos de planea-
(artigo 5.o, n.o 3). O seu conteúdo formal consiste num mento territorial os planos municipais de ordenamento
diagnóstico, numa definição de objectivos, numa pro- do território (planos directores municipais, planos de
posta de medidas e de acções e, por último, na cor- urbanização e planos de pormenor). Integram a clas-
relativa programação física, financeira e institucional sificação de instrumentos de política sectorial os planos
(artigo 6.o, n.os 1 e 3). com incidência territorial da responsabilidade dos diver-
Dispõe, ainda, o citado diploma que as acções e as sos sectores da administração central (planos sectoriais).
medidas definidas no PNA devem ser previstas em todos São instrumentos de natureza especial os planos espe-
os instrumentos de planeamento que definam ou deter- ciais de ordenamento do território, a saber, os planos
minem a ocupação física do solo (artigo 13.o). de ordenamento das albufeiras classificadas, os planos
3738 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A N.o 90 — 17 de Abril de 2002
de ordenamento das áreas protegidas e os planos de Estabelecer metas de qualidade e taxas de aten-
ordenamento da orla costeira. dimento e aplicar os princípios globais de gestão
O regime jurídico de cada um dos instrumentos de dos recursos hídricos;
gestão territorial veio, posteriormente, a ser desenvol- Estabelecer o compromisso entre agentes públicos
vido pelo Decreto-Lei n.o 380/99, de 22 de Setembro. para a divulgação da importância da preservação
Constituindo o PNA um instrumento de planeamento da qualidade do recurso água como princípio
ambiental e atenta a perspectiva dual da sua natureza, de sustentabilidade, quer através de acções espe-
importa apurar, muito sumariamente, que relações se cíficas de formação ambiental quer através do
estabelecem entre ele e as diferentes espécies de ins- seu próprio comportamento na acção;
trumentos de gestão do território. Influenciar a tomada de decisão de diferentes agen-
As relações entre o PNA e o PNPOT traduzem-se tes da Administração para que, nos seus próprios
num compromisso recíproco de integração e compa- sectores, considerem a protecção do recurso
tibilização das respectivas opções. água;
As relações entre o PNA e os PROT concretizam-se Criar programas de medidas que, no seu conjunto,
num compromisso recíproco de integração e compa- produzam efeitos concretos e demonstráveis na
tibilização das respectivas opções. Há um carácter orien- melhoria da gestão do recurso água.
tador do PNA em matéria de recursos hídricos, na
medida em que o próprio normativo do Decreto-Lei
n.o 45/94, de 22 de Fevereiro assim o determina A partir destas e tendo como objecto de conteúdo
(artigo 13.o). Assim, os PROT, instrumentos que esta- os trabalhos produzidos e editados nos capítulos ante-
belecem as orientações para o ordenamento do território riores, procura-se neste capítulo proceder à elaboração
regional e definem as redes regionais de infra-estruturas de uma síntese do diagnóstico e simultaneamente mar-
e transportes, devem integrar, se for caso disso, as medi- car-se um conjunto de valores que percorrerão todo
das e acções constantes do PNA. a concepção do Plano, como documento regulamenta-
De igual modo, a relação que se estabelece entre dor e operacional, e que são:
o PNA e os outros planos sectoriais rege-se pelo prin- Clareza — a capacidade de demonstrar de forma
cípio da maximização do interesse público no que se inequívoca as opções tomadas;
refere à matéria dos recursos hídricos. Agilidade — a resposta simples e organizada às
No que respeita aos planos especiais de ordenamento solicitações internas e externas ao próprio Plano;
do território — planos de ordenamento da orla costeira, Rigor — o estudo aprofundado das questões e a
planos de ordenamento de albufeiras classificadas e pla- resposta criteriosa a cada um dos problemas exis-
nos de ordenamento de áreas protegidas —, na estrita tentes no sector;
matéria do planeamento de recursos hídricos, o PNA Complexidade — aceitar que a gestão dos recursos
prevalece sobre os instrumentos especiais de gestão ter-
hídricos, porque detém implicações várias em
ritorial. Apenas não terá essa prerrogativa nas matérias
em que a expressão territorial substancialmente extra- múltiplos sectores da sociedade, possui um ele-
vasa o mero planeamento do recurso. vado grau de dificuldade;
Por último, quanto aos planos municipais de orde- Consequência — acreditar que possuir valor, equa-
namento do território é manifesto que a relação entre cionar as questões e propor soluções não basta
os mesmos se rege pelo princípio da hierarquia, na a um plano, mas que é também necessário criar
medida em que estes instrumentos de planeamento um fio condutor e uma lógica de concretização
devem integrar e respeitar as medidas e acções relativas que permita identificar uma forma credibiliza-
aos recursos hídricos propostas e previstas no PNA dora de actuação.
(artigo 13.o do Decreto-Lei n.o 45/94, de 22 de Feve-
reiro). A síntese do diagnóstico, nos termos do artigo 6.o,
n.o 3, do Decreto-Lei n.o 45/94, decorre de um extenso
CAPÍTULO II conjunto de análises sectoriais suportado pela caracte-
rização da situação actual dos recursos hídricos nacio-
Síntese do diagnóstico nais, que se resumem organizadas em torno dos seguin-
1 — Introdução tes temas:
As finalidades que presidiram à decisão de elaboração Meios hídricos;
do PNA, e que foram continuada e ponderadamente Procura e oferta de água;
actualizadas em consequência dos desenvolvimentos ine- Domínio hídrico e ordenamento;
rentes à realização dos próprios trabalhos de novos dita- Conservação da natureza;
mes internacionais e das alterações na situação econó- Meios institucionais e dispositivos legais;
mica e social do País, são: Regime económico e financeiro;
Aumentar o conhecimento sobre os recursos hídri- Informação, participação e conhecimento.
cos nacionais, as disponibilidades, os usos e a
qualidade dos meios aquáticos; Tendo em consideração a diversidade de problemas
Integrar a aplicação, no território nacional, das nor- e a complexidade da sua análise, para efeitos de sis-
mas comunitárias para o sector, criando condi- tematização do seu conhecimento e operacionalização
ções práticas para a exequibilidade das diversas da sua resolução, a opção tomada foi a de destacar
disposições legais; neste Plano aqueles que, pela sua dimensão, maiores
Definir objectivos para a gestão dos recursos hídri- danos causam e poderão causar ao aproveitamento e
cos à escala nacional, assumindo de forma clara gestão dos recursos hídricos, bem como os que maiores
o facto de sermos um país «jusante» onde as preocupações acarretam à Administração e mais gra-
maiores bacias hidrográficas são partilhadas com vosos poderão ser, caso não venham a ser atempada-
Espanha; mente resolvidos.
N.o 90 — 17 de Abril de 2002 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A 3739
Há, ainda, que distinguir os problemas dos recursos recursos hídricos exerce-se através de funções
hídricos, propriamente ditos, e os decorrentes da sua de planeamento e gestão, cujas áreas de inter-
utilização. venção e entidades competentes não são coin-
Os primeiros são indissociáveis do estado actual das cidentes, sendo que apenas o planeamento tem
massas de água e do domínio hídrico, enquanto os segun- como unidade de base a bacia hidrográfica.
dos são deles independentes, embora também devam Também a restante organização administrativa
constituir objecto de diagnóstico, tendo em vista a defi- tem unidades territoriais com limites bastante
nição de políticas nesses domínios. distintos dos limites das bacias hidrográficas;
De forma resumida, o quadro de referência para este d) Contexto bilateral:
diagnóstico nacional tem os seguintes contornos gerais:
As características das bacias hidrográficas
a) Características da realidade natural: luso-espanholas, que abrangem 64 % do
território nacional, e os limites de fronteira,
Relevo marcadamente muito acidentado a que se realizam em cerca de 65 % da sua
norte da bacia hidrográfica do rio Tejo, extensão por linhas de água, remetem para
originando uma rede hidrográfica densa e a agenda das relações com Espanha, e em
declives acentuados, contrastando com as permanência, as matérias relativas aos
peneplanícies do sul, onde predominam recursos hídricos cujo quadro de trabalho
aquíferos de elevada a média produtivi- foi concretizado pela Convenção de Albu-
dade nas bordaduras do maciço antigo; feira de 1998;
Ocupação do solo, com predominância das Esta Convenção e a DQA estabelecem as
culturas de sequeiro no sul e floresta no bases de relacionamento de cooperação em
centro e norte do País, embora os maiores planeamento e da gestão dos recursos
perímetros de rega públicos se localizem hídricos luso-espanhóis;
no centro e sul, onde as disponibilidades
de recursos hídricos, em regime natural,
são menores; e) Política nacional de recursos hídricos e as
Também a ocupação urbana concentrada nas Regiões Autónomas — a descontinuidade ter-
áreas do litoral são uma das marcas fortes ritorial, característica das regiões insulares, per-
do ordenamento do território, o que nas mite a adopção de políticas próprias para a ges-
últimas décadas tem caracterizado a dinâ- tão de recursos hídricos nas Regiões Autóno-
mica da mobilidade das populações; mas. Porém, a coerência nacional em matéria
de gestão dos recursos hídricos, traduzida pelo
cumprimento das disposições legais nacionais,
b) Pressões sobre os recursos hídricos:
comunitárias e convenções internacionais subs-
A pressão sobre os recursos hídricos está asso- critas por Portugal, torna imperativa a adopção
ciada às actividades humanas que acom- de medidas e estratégias concertadas para estas
panham a distribuição da população e das regiões, que passam pela elaboração de planos
actividades económicas; e aplicação dos respectivos programas de medi-
À distribuição espacial da população e ao tipo das.
de ocupação urbana, em relação à rede
hidrográfica e aos aquíferos, estão associa- 2 — Principais problemas e causas
dos os riscos relativos às situações hidro-
2.1 — Recursos hídricos
lógicas de elevada intensidade e de curta
duração, cheias e acidentes de poluição Se no passado a principal questão relativa aos meios
graves, havendo recorrência dos primeiros hídricos se traduzia na falta de recursos disponíveis, os
e excepcionalidade de ocorrência dos aspectos relativos à qualidade da água têm vindo a
segundos; adquirir importância crescente.
A distribuição das actividades económicas Este facto prende-se, por um lado, com a degradação
relevantes para a gestão dos recursos hídri- progressiva da qualidade das massas de água, como
cos, quer pela quantidade de água que uti- resultado da industrialização e da concentração da popu-
lizam quer pela qualidade de água que exi- lação, e, por outro, com o aumento do conhecimento
gem, centram-se na agricultura de regadio, por parte da Administração e com a crescente capa-
no abastecimento às populações, na indús- cidade de mobilização da opinião pública.
tria, no turismo e na produção de energia Os investimentos em infra-estruturas de recolha e tra-
eléctrica; tamento de efluentes têm produzido melhorias da qua-
A procura de água, que se exprime pelos volu- lidade dos recursos hídricos, apesar da reconhecida insu-
mes de água correspondentes a necessida- ficiência dos sistemas instalados.
des, caracteriza-se pelo notório desajusta- Principais problemas:
mento temporal e espacial em relação às
disponibilidades; Estado da qualidade dos meios hídricos (águas inte-
A qualidade da água, superficial e subterrâ- riores superficiais e subterrâneas, águas de tran-
nea, está intimamente ligada com as suas sição e águas costeiras);
utilizações, delas dependendo o seu bom Dependência das afluências que devem provir de
estado fisico-químico e biológico; Espanha;
Desequilíbrio do sistema de transporte e deposição
c) Organização institucional do planeamento e de sedimentos e alteração da deriva litoral;
gestão dos recursos hídricos — a protecção dos Riscos de poluição acidental.
3740 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A N.o 90 — 17 de Abril de 2002
Risco de contaminação devido ao tráfego marítimo Alteração das condições originais dos habitats dos
e a acidentes com navios; sistemas aquáticos, nomeadamente degradação
Ausência de uma gestão integrada pelas diversas da qualidade da água e rectificação dos perfis
entidades com jurisdição. fluviais;
Artificialização do regime natural de caudais;
2.4 — Conservação da natureza Não valorização da água como suporte da vida e
como factor de produção;
A caracterização e diagnóstico do estado ecológico Não aceitação pelo cidadão do valor ambiental da
das águas interiores e estuarinas constitui o primeiro água;
passo para a definição de estratégias e programas de Monitorização e estado do conhecimento
conservação dos ecossistemas aquáticos a integrar no incipientes.
planeamento e gestão da água a nível nacional.
O diagnóstico incide essencialmente sobre os pro- 2.5 — Meios institucionais e dispositivos legais
blemas e respectivas causas de relevância nacional, quer
pela sua ocorrência generalizada em todo o território As questões legais e institucionais dos recursos hídri-
quer pela importância que, embora local ou regional, cos atravessam transversalmente a generalidade dos
assume um valor nacional, tendo em vista a necessidade temas tratados na caracterização que suporta este
de serem definidas e implementadas medidas preven- diagnóstico.
tivas e correctivas para os problemas diagnosticados. No diagnóstico que se apresenta ressaltam-se os prin-
Com base nos textos de suporte, referem-se alguns exem- cipais problemas e respectivas causas de que enferma
plos de espacialização e ou quantificação dos problemas o quadro de gestão dos recursos hídricos nacionais. As
e ou causas diagnosticados. questões de espacialização não se colocam nesta abor-
Principais problemas: dagem, uma vez que se tratam de problemas de âmbito
nacional sem incidência particular em zonas específicas
Qualidade dos ecossistemas das águas interiores do continente, muito embora para efeitos de uma ava-
superficiais; liação de âmbito nacional se justifique a diferenciação
Qualidade ambiental dos estuários e das zonas cos- entre as diversas regiões do País.
teiras adjacentes; Principais problemas:
Perda de valores de conservação da natureza;
Desequilíbrio nas comunidades biológicas autóc- Défice de execução do direito da água, nacional,
tones em ecossistemas de águas interiores em comunitário e internacional;
que ocorrem espécies exóticas; Fragilidades nas áreas do licenciamento e fisca-
Défice de prevenção e de conhecimento na con- lização;
servação de ecossistemas. Modelo institucional desajustado às necessidades
da gestão dos recursos hídricos;
Principais causas: Desajustamento de algumas disposições legais
vigentes às novas exigências de gestão dos recur-
Deficiente qualidade da água; sos hídricos;
Construção de infra-estruturas hidráulicas sem Ausência de um quadro legal definidor do modelo
medidas minimizadoras; institucional de planeamento e gestão dos
Dragagens e extracções de inertes inadequadas; empreendimentos de fins múltiplos;
Artificialização de leitos e de margens; Exigências orgânicas para o desenvolvimento da
Sobreexploração de adultos e juvenis migradores; Convenção de Albufeira;
Não valorização das zonas húmidas; Complexidade na aplicação da DQA e das con-
Aumento da pressão turística, industrial e urbana; venções internacionais;
Utilização de artes de pesca ilegais; Insuficiência de quadros com formação adequada.
Deficiente qualidade da água;
Construção de infra-estruturas hidráulicas inade- Principais causas:
quadas;
Dragagens e extracções de inertes; Indeterminação do sistema jurídico;
Alteração das condições naturais de bacias hidro- Incapacidade comunicativa do direito de protecção
gráficas e dos leitos e das margens; da água;
Degradação e assoreamento das lagoas costeiras; Gestão deficiente da informação e do conheci-
Destruição de habitats naturais de grande valor mento;
ecológico; Défice de concretização do princípio da respon-
Afectação dos movimentos migratórios das espé- sabilização;
cies diádromas e destruição de campos de Insuficiência de meios humanos e financeiros;
postura; Complexidade processual e jurídica;
Destruição de locais de invernada, alimentação e Dados e informação deficientes e falta de ferra-
reprodução de aves; mentas de actuação e avaliação modernas;
Modificação de regime dos meios lóticos; Ineficiências na estrutura de fiscalização;
Infra-estruturas não adequadas à gestão ecológica; Definição restrita de uma autoridade nacional da
Presença de espécies exóticas condicionadoras da água;
diversidade dos ecossistemas; Gestão parcelada das bacias hidrográficas;
Introdução indevida ou inadvertida de espécies Inexistência de uma lei de águas integradora;
exóticas animais ou vegetais; Incipiente participação da sociedade civil;
Falta de acções de gestão e controlo adequadas Desactualização de algumas disposições legais em
e continuadas das espécies exóticas; vigor;
N.o 90 — 17 de Abril de 2002 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A 3743
Enquadramento deficiente dos procedimentos de Não consideração dos custos externos, apoios
planeamento, fiscalização e licenciamento, a fundo perdido e custos da Administração;
sobretudo para os fins múltiplos; Regulação nacional ainda em «fase de arran-
Falta de instrumentos complementares de aplica- que»;
ção das disposições legais; Inexistência de enquadramento legal para
Articulação indefinida entre instituições; aplicação de taxas e tarifas em empreen-
Sectorialização da utilização de recursos hídricos; dimentos de fins múltiplos;
Quadro de suporte financeiro desajustado às neces- Falta de estatísticas sobre a utilização da água;
sidades; Incipiente contabilização das utilizações da
Falta de tradição nas rotinas dos novos proce- água;
dimentos; Sistema de licenciamento insuficiente nos
Conteúdo e natureza da Convenção com forte com- aspectos económicos e financeiros.
ponente técnica;
Insuficiências orgânicas das entidades competentes 2.7 — Informação, participação e conhecimento
ainda em adequação;
Desajustamentos na articulação institucional; Este domínio de diagnóstico, que não se integra na
Dificuldades de admissão de quadros qualificados; abordagem clássica do sistema de recursos hídricos,
Dificuldade de gestão de recursos humanos. encontra-se, no nosso país, menos bem avaliada que
os restantes, por força da ausência de indicadores de
2.6 — Regime económico e financeiro participação e envolvimento dos cidadãos.
Tal como os domínios legal e institucional e o eco-
Este domínio de diagnóstico tem em linha de conta nómico e financeiro, atravessa transversalmente os res-
a necessidade de se avançar no sentido das exigências tantes temas tratados, focando essencialmente questões
da DQA que atende aos instrumentos económico e de âmbito nacional.
financeiro como medidas de promover a melhoria da Principais problemas:
qualidade das águas.
No diagnóstico que se apresenta, ressaltam-se os prin- Escassa participação nos processos públicos e insu-
cipais problemas e respectivas causas de que enferma ficiente eficácia nos resultados;
o regime económico e financeiro vigente dos recursos Reduzido conhecimento do sistema de partici-
hídricos nacionais, com incidência na não aplicação do pação;
Decreto-Lei n.o 47/94. Dificuldade de acesso do público à informação
As questões de espacialização também não se colocam sobre ambiente e em particular sobre a água;
nesta abordagem, uma vez que se trata de problemas Insuficiente sensibilização, interesse, curiosidade,
de âmbito nacional, sem incidência particular em zonas compreensão e capacidade crítica e de diálogo
específicas do continente. em relação à problemática integrada da água;
Em resultado da análise resulta o diagnóstico que Défice de historial de monitorização sobre a ocor-
se apresenta no quadro seguinte: rência e estado da água e do domínio hídrico;
Informação insuficiente para aplicação da legisla-
Principais problemas: ção vigente;
Não implementação do regime económico e Fluxos de informação inadequados;
financeiro (Decreto-Lei n.o 47/94); Défice de conhecimento sistémico sobre a água.
Ineficácia dos preços, sem reflexos no uso efi-
ciente da água; Principais causas:
Desequilíbrio entre custos e receitas; Participação tardia, e por vezes sobre uma única
Não internalização de todos os custos no preço alternativa, na formação da decisão;
do serviço da água; Deficiências de promoção e condução de processos;
Falta de critérios nacionais, coerentes e homo- Dificuldades de discussão aberta e informada
géneos na fundamentação das tarifas e devida à complexidade técnica dos processos e
taxas; aos conflitos de interesses e de valores sus-
Desconhecimento dos custos nos sistemas não citados;
públicos e deficiência de dados em todos Experiência de participação democrática recente
os sistemas; e insuficientemente consolidada para grande
parte da população e dos serviços públicos;
Principais causas: Escassez de dados objectivos e análise sistémica
Insensibilidade dos utilizadores da função do sobre a participação e sua eficácia;
instrumento legal; Inexistência de sistemas de indicadores sobre grau
Falta de regulamentação específica; de participação e eficácia dos processos que per-
Complexidade de cálculo das taxas; mitam comparar as preferências dos cidadãos
Valores económico e ambiental da água não e o grau de influência da participação na decisão
assumidos pelos utilizadores em geral; final;
Baixo valor das tarifas e ou com estrutura Ausência de estudos e análise integrada, sobretudo
desadequada; no âmbito da ciência política e do funcionamento
Receitas que não cobrem, em muitos casos, real dos sistemas de participação;
os custos; Escassa cultura ambiental;
Não aplicação do regime económico e finan- Formatos e suporte da informação inadequados à
ceiro; divulgação;
Desconhecimento dos custos da água como Escassez de serviços de atendimento ao público
bem económico e ambiental; para disponibilização de informação;
3744 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A N.o 90 — 17 de Abril de 2002
Relutância das entidades e pessoas detentoras da sos hídricos, descrevendo-os no que eles têm de
informação na sua partilha gratuita; mais marcante, pela positiva ou pela negativa
«Estanquidade» entre os círculos técnicos especí- (pontos fortes e pontos fracos).
ficos e a sociedade;
Inexistência de «pontes» entre as perspectivas do ANÁLISE EXTERNA
«mundo técnico-científico» e das populações,
sobretudo as rurais, em relação à água;
Défice de cultura ambiental pela grande maioria
Oportunidades Ameaças
da população;
Número e localização das estações e sistemas de
medição insuficientes;
Recente disponibilização de informação ao público;
ANÁLISE INTERNA
Os levantamentos existentes e os sistemas de moni-
torização e controlo instalados não suportam efi-
cazmente a verificação do cumprimento das con-
dições de licenciamento ou concessão do uso do Pontos Fracos Pontos Fortes
domínio hídrico ao abrigo do Decreto-Lei
n.o 46/94 nem a identificação de utilizações não
licenciadas;
Deficiências do sistema de licenciamento de uti-
lização do domínio hídrico; Do cruzamento destes factores de diagnóstico serão
Insuficiências no controlo das utilizações da água definidos os factores nucleares do sucesso do Plano,
e do domínio hídrico; que serão enformadores dos objectivos que se suce-
Insuficiente informação, a nível nacional, sobre as derão.
actividades socioeconómicas utilizadoras da água Ameaças:
e da sua distribuição no território; Dependência em relação a Espanha quanto às dis-
Dificuldades de partilhar dados entre as numerosas ponibilidades quantitativas de recursos hídricos e
entidades que os recolhem, relevantes ao conhe- condicionamentos de utilização e das suas funções
cimento do domínio hídrico; ambientais decorrentes da sua qualidade;
Inadequação do processo de recolha, ausência de Modelo de ocupação do território que favorece a
rotinas de validação, problemas de método de excessiva concentração urbana, com pressões con-
processamento e ou análise laboratorial, inade- sequentes sobre os recursos hídricos, nomeada-
quação do sistema de arquivo ou erros na agre- mente sobre a orla costeira;
gação e composição dos indicadores; Crescente procura sobre as zonas turísticas que hoje
Escassez de normalização de indicadores e glos- já são as mais pressionadas;
sários; Uma actividade agrícola com margens de comer-
O acesso aos dados é dificultado pelos formatos cialização de produtos muito reduzida e rendi-
e organização de arquivo; mentos baixos, o que dificulta a aplicação de um
Défice de rotinas de actualização contínua; pagamento pelo uso da água;
Extrema complexidade do sistema, a quantidade Dificuldades no estabelecimento de hábitos de coo-
e diversidade de parâmetros, a sua variabilidade peração efectiva para a protecção dos recursos
temporal e espacial, as estreitas inter-relações, hídricos entre diferentes sectores da administra-
a sua natureza de sistema aberto, a dinâmica ção;
e evolução das intervenções antropogénicas e as Consciência arreigada de utilização da água como
recurso não-económico;
características da água como recurso móvel e
Dificuldades de previsão da evolução do sector da
reutilizável; agricultura, responsável pelo consumo de cerca
Articulação interinstitucional insuficiente; de 80 % da água utilizada;
Défice de comunicação, que engloba divergências Subida do nível médio das águas do mar e fenó-
de linguagem e a existência de uma polarização menos continuados de erosão, que põem em causa
de núcleos de «culturas profissionais fechadas»; a actual morfologia costeira.
Políticas de investigação e respectivo financiamento
dissociados dos objectivos e necessidades do pla- Oportunidades:
neamento e administração de recursos hídricos.
O QCA III e as possibilidades de financiamento
de projectos no âmbito de:
3 — Diagnóstico estratégico
Sistemas de saneamento básico, muito particu-
Neste último subcapítulo do diagnóstico procurar- larmente a obrigação de conjugação de pro-
-se-ão cruzar as diversas componentes analisadas nos jectos em «alta» e de «baixa» e de águas de
pontos anteriores, numa dupla perspectiva: abastecimento e de águas residuais que obri-
garão à concretização de uma perspectiva sis-
Análise externa — a avaliação dos factores exóge- témica de resolução dos problemas;
nos ao sector dos recursos hídricos que com eles Majoração de investimentos em sectores pro-
interagem, condicionando-os ou abrindo novas dutivos que utilizem tecnologias menos
perspectivas para o seu desenvolvimento (as poluentes;
ameaças e as oportunidades); Qualificação da orla costeira e outros recursos;
Análise interna — a avaliação dos factores internos Planeamento dos recursos hídricos;
aos diversos subsistemas que compõem os recur- Recuperação de solos contaminados;
N.o 90 — 17 de Abril de 2002 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A 3745
A consciência ambiental das populações e dos agen- Níveis crescentes, mas ainda baixos, de recolha e
tes públicos, que coloca a preservação das águas tratamento de efluentes;
superficiais no topo da lista das preocupações; Deficiências de funcionamento nas estações de tra-
A DQA e a Directiva IPPC que constituem um tamento de águas residuais (ETAR) existentes,
impulso decisivo na alteração da gestão ambien- ditadas por projectos desajustados e por falta de
tal, com efeitos positivos nos recursos hídricos; meios humanos com formação adequada;
Existência de convenções internacionais que intro- Existência de um número significativo de indústrias
duzem o princípio da precaução e o conceito e de explorações agro-industriais fortemente
de desenvolvimento sustentável, entre outros, e poluidoras sem qualquer tipo de tratamento de
visam, nomeadamente, assegurar características efluentes;
mínimas de qualidade nos meios hídricos inter- Profusão de origens de água para consumo humano,
nacionais e salvaguardar os direitos dos utiliza- sobretudo nos concelhos do interior, que dificul-
dores de jusante (cursos de água) ou dos uti- tam, pelo peso financeiro, o controlo efectivo da
lizadores comuns (troços de fronteira de cursos qualidade da água consumida;
de água e Atlântico Norte); Perdas de água significativas durante a sua utilização
A opção nacional de privilegiar os grandes sistemas (abastecimento para consumo humano e agri-
de abastecimento de água e recolha e tratamento cultura);
de efluentes, que permitem encarar a gestão do Baixos padrões de organização na utilização da água
recurso de forma integrada e economicamente no sector agrícola, que contribuem para um uso
sustentável; excessivo e dificuldade de controlo da qualidade
Existência de planos especiais de ordenamento do da água nos retornos;
território, todos eles ditados pela necessidade Redução do trânsito sedimentar, que limita a capa-
de protecção de recursos naturais; cidade de recarga natural das praias e agrava a
Novos programas de regadios que apelam a uma erosão costeira;
melhor gestão dos recursos hídricos na activi- Presença de aproveitamentos hidráulicos em alguns
dade agrícola; cursos de água que interrompem e alteram os regi-
Consolidação de uma tradição de planeamento e mes naturais de escoamento e conduzem à degra-
de existência de restrições ao uso do solo dação ecológica dos ecossistemas;
[nomeadamente a Reserva Ecológica Nacional Dificuldades de manutenção de caudais ecológicos
(REN)] que favorecem a protecção dos recursos; nos rios nacionais e internacionais.
Existência de um regime legal de protecção do
domínio hídrico. Pontos fortes:
Elevados valores anuais médios de precipitação e
Pontos fracos: escoamento no norte e centro litoral, originando
abundância de recursos hídricos e renovação das
Variabilidade espacial, sazonal e interanual do massas de água, conferindo-lhes maior capacidade
regime de precipitação; de autodepuração;
Afluência de massas de água transfronteiriças com Existência de massas de água de boa qualidade nas
características de qualidade desajustadas aos usos áreas ainda não submetidas a pressões antro-
e funções ambientais; pogénicas;
Ocorrência de picos de poluição da água resultantes Diminuição da erosão como resultado da reconver-
da lixiviação de solos e do arrastamento de subs- são de áreas de ocupação agrícola em áreas flo-
tâncias retidas a montante dos cursos de água, restais, com efeitos positivos na qualidade do meio
após as primeiras precipitações significativas; hídrico;
Debilidades de organização e de clarificação de com- Existência de REN delimitada, áreas protegidas e
petências no que diz respeito à gestão e fis- áreas classificadas;
calização; Existência de novas tecnologias que permitem a
Existência de um quadro institucional desactuali- automatização das redes de monitorização de
zado face às exigências actuais, nomeadamente recursos hídricos e a obtenção de dados em tempo
face à necessidade de intervir com rapidez; real (já em instalação);
Existência nos estuários de actividades incompatí- Existência, em algumas regiões do País, de capa-
veis com a protecção dos ecossistemas e falta de cidade laboratorial exterior ao Ministério do
abordagem integrada na gestão destes espaços; Ambiente e do Ordenamento do Território:
Tradição de utilização dos recursos hídricos como Ministério da Saúde, universidades e privados;
factor de localização da actividade industrial; Existência de suporte legal para limitar as quan-
Diferenciação de tarifas e ausência de padrões de tidades de substâncias poluentes afluentes aos
fixação de preço que não contribuem para um meios hídricos e para promover a sua melhoria
uso eficiente da água; contínua de forma a garantir-lhe características
Conflitos de interesses entre utilizadores da água, de qualidade compatíveis com os usos existentes
nomeadamente nos empreendimentos de fins ou potenciais;
múltiplos; Elevada biodiversidade decorrente da posição geo-
Insuficiência de inventários, ou de consulta pouco gráfica do País;
acessível, sobre os usos do domínio hídrico, Existência de sistemas com elevada integridade eco-
nomeadamente o cadastro de fontes poluidoras; lógica (grande valor conservacionista), quer dos
Práticas ainda insuficientes de recolha sistemática, sistemas lóticos, quer dos estuários;
tratamento e divulgação de dados relativos ao uso Existência de boas condições de recuperação dos
e qualidade dos recursos hídricos; sistemas fluviais e ribeirinhos degradados;
3746 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A N.o 90 — 17 de Abril de 2002
Novos empreendimentos de fins múltiplos que con- 2 — Questões nacionais e internacionais fundamentais
tribuem para garantir a correcta gestão da água; 2.1 — Valores ambientais
Investimentos em redes e sistemas de tratamento
de efluentes que conduzirão a uma melhoria pro- Relativamente à política de gestão da água em Por-
gressiva da qualidade dos meios hídricos; tugal, o paradigma que vigorou no século XX, desde
Áreas com maior concentração, quer humana, quer os anos 30 até à década de 80, foi basicamente a noção
de actividades económicas, cobertas por grandes de que o fomento de obras hidráulicas constituía por
sistemas com concepção integradora e sob gestão si só um motor do desenvolvimento e consequentemente
empresarial; a subordinação do ambiente ao aproveitamento dos
Suporte legal e condições que permitem a gestão recursos.
integrada e empresarial dos sistemas de abaste- No final dos anos 80, início dos anos 90, um conjunto
cimento de água e drenagem e tratamento de vasto de reformas anunciam o primado de um novo
águas residuais urbanas; paradigma, centrado no reconhecimento de que o
Suporte legal que permite o correcto ordenamento homem é indissociável do ambiente que o rodeia e que
do território, em particular a protecção dos recur- a alteração desse ambiente pode trazer consequências
sos hídricos; de uma enorme gravidade para a sua própria saúde
Tutela conjunta dos recursos hídricos e do orde- e bem-estar e ainda que a sobrevivência do homem está
namento do território; intrinsecamente ligada à sobrevivência das outras espé-
Elevado potencial hidroeléctrico nos cursos de água cies.
do centro e norte do País; Este paradigma é sustentado por um conjunto de prin-
Condições climáticas e orográficas no centro e sul cípios que a nível internacional vinham já a impor-se
do País para o desenvolvimento hidroagrícola de como inevitáveis. A adesão de Portugal à União Euro-
elevado rendimento; peia viria a constituir-se como um factor determinante
Riqueza paisagística e amenidades abundantes em na assunção desse paradigma, suportado por importan-
zonas de maiores disponibilidades de recursos tes princípios, de que se destacam:
hídricos; Princípio do desenvolvimento sustentável, que tra-
Condições propícias ao desenvolvimento do mer- duz o compromisso entre os interesses de dife-
cado da água e qualidade de serviços; rentes gerações;
Capacidades empresariais para a gestão dos sistemas Princípio da precaução, que se traduz na neces-
e prestação de serviços da água. sidade de agir do lado da segurança, em caso
de dúvida.
CAPÍTULO III
A este conjunto de princípios juntam-se outros de
Paradigmas, desafios e prospectiva para a nova política carácter mais geral, que traduzem direitos fundamentais
de recursos hídricos dos cidadãos, como sejam os princípios da solidariedade
1 — Introdução
nacional, da subsidiariedade, da equidade, da transpa-
rência e da participação.
O PNA, pela sua natureza transversal e a do seu Em matéria da conservação da natureza, a salva-
objecto, como instrumento da política nacional de gestão guarda dos valores mais significativos do património
dos recursos hídricos, pese embora a diversidade de natural e a correcção de desequilíbrios nas comunidades
matérias que abrange, alicerça-se num conjunto de ques- naturais das principais bacias hidrográficas nacionais é
tões enquadradoras que importa realçar e que informam a forma de devolver à natureza a sua capacidade de
a definição dos objectivos e medidas nele propostos. autoregulação e regeneração. Mas a gestão dos recursos
Esses objectivos, que devem produzir efeitos na reso- naturais só através do reconhecimento da natureza como
lução de problemas e conflitos e potenciar as carac- fonte da água doce e consequentemente da devida con-
terísticas mais positivas do sistema, tem como pano de servação e recuperação é que garante a quantidade e
fundo, para além dos fundamentos do seu rigor técnico, qualidade da água de modo sustentável. Estas são as
um conjunto de paradigmas cuja adopção resulta da vias para que os ecossistemas aquáticos e terrestres asso-
análise científica e empírica das tendências mais recentes ciados desempenhem as suas funções de renovação e
do conhecimento. de aferição do equilíbrio entre as actividades humanas.
No essencial, e em razão das suas afinidades, estes A compatibilização entre o desenvolvimento
paradigmas podem agrupar-se em: socioeconómico e a conservação da natureza assenta
na gestão integrada das bacias hidrográficas, por forma
i) Fundamentais de dimensão nacional e inter- a garantir o respeito pelo princípio da utilização sus-
nacional; tentável dos recursos biológicos, que no caso dos ecos-
ii) De administração de recursos hídricos; sistemas aquáticos obriga à conservação e recuperação
iii) De economia da água. da integridade biológica das redes hidrográficas, a qual
não dispensa um aperfeiçoamento do conhecimento dos
Resultante de uma abordagem mais estratégica são ecossistemas aquáticos e associados. A garantia da con-
ainda formulados os principais desafios que se colocam tinuidade e conectividade nos ecossistemas aquáticos,
ao sucesso da nova política de gestão dos recursos hídri- conservação de habitats e comunidades vegetais e ani-
cos nacionais. mais associadas melhora a qualidade da água, incluindo
A natureza preventiva da política de gestão dos recur- o controlo da eutrofização dos meios lóticos e lênticos
sos hídricos exige a avaliação prospectiva das principais e a gestão sustentável dos recursos naturais.
pressões sobre recursos hídricos decorrentes da evolução
socioeconómica do País, traduzida pela evolução dos 2.2 — Ordenamento do território e protecção dos recursos
principais sectores económicos utilizadores desses recur-
sos, com a qual se conclui o quadro de referência de A tradição do planeamento e ordenamento do ter-
definição dos objectivos e medidas propostos. ritório tem vindo a ser suportada por uma visão baseada
N.o 90 — 17 de Abril de 2002 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A 3747
sobretudo na definição de restrições ao uso enunciadas Em Portugal utiliza-se uma quantidade significativa
na sequência de avaliação dos riscos de degradação. de águas subterrâneas tanto para o abastecimento
A mudança para o novo conceito da sustentabilidade doméstico, como para os sectores agrícola ou industrial.
implicará a passagem da minimização dos impactes para A contribuição directa de água proveniente de dessa-
a gestão dos ecossistemas, do controlo do desenvolvi- linizadoras ou de águas residuais tratadas é praticamente
mento de cada projecto e local específico e para a manu- nula. A qualidade das águas subterrâneas é em geral
tenção ecológica dos recursos e do capital natural. superior à das águas superficiais captadas em rios ou
Uma acção tomada de uma forma imediata, mesmo em albufeiras. A sobreexploração de águas subterrâneas
com custos presentes incomparavelmente mais baixos, ocorrida no passado conduziu a problemas pontuais de
pode vir a empreender danos elevados mais tarde. Uma intrusão salina. Hoje verifica-se também que, pontual-
atitude preventiva pode também ser necessária quando mente, ocorrem problemas de contaminação de certos
o conhecimento científico não é conclusivo. aquíferos, com origem em práticas agrícolas incorrectas
Será por essa razão que quando nos propomos planear ou na rejeição de efluentes domésticos e industriais não
utilizações sobre os sistemas naturais devemos ter pre- tratados.
sente que as nossas decisões podem assumir consequên- O crescimento populacional, a centrifugação demo-
cias não desejáveis e que, por isso, merecem uma atitude gráfica na faixa litoral do País e os novos hábitos de
de precaução. consumo resultantes do desenvolvimento económico
Da mesma forma, a consideração das políticas de contribuíram para que se tenha vindo a fazer um esforço
ordenamento numa perspectiva transsectorial implica grande no reforço e melhoria do abastecimento domés-
ter presente que a verdadeira natureza dos sistemas eco- tico de água.
lógicos não se exprime apenas pelas suas características, As características próprias da actividade turística, com
mas pela consideração em simultâneo das características os seus elevados padrões de consumo e uma grande
dos sistemas económicos e sociais presentes. concentração temporal, constituem pressões adicionais
Para uma visão estratégica do planeamento é assim sobre os recursos hídricos, que se tem vindo a acentuar.
fundamental considerar os diferente níveis de interven- As características dos efluentes associados a esta acti-
ção e aplicação das diversas políticas com repercussões vidade causam pois problemas adicionais para a pre-
nos recursos hídricos. servação da qualidade das águas, em particular das zonas
Tendo como incontornável que a generalidade das costeiras.
intervenções com incidência territorial influem, através Os cenários de mudança climática para a região em
dos processos naturais ou artificiais de escoamento, nas que Portugal se localiza apontam para a possibilidade
características dos recursos hídricos que residem ou se de virem a reduzir-se os recursos hídricos disponíveis
escoam pelos aquíferos e rede hidrográfica, não restarão e de se acentuarem os riscos e as intensidades das secas
dúvidas que a protecção mais eficaz e duradoura assenta e das cheias. A modificação do regime hidrológico bem
em políticas de ordenamento do território onde a água como as subidas da temperatura e do dióxido de carbono
deve ter um posicionamento nuclear. na atmosfera poderão acarretar problemas adicionais
Assumindo que uma forma mais ou menos directa na qualidade dos meios hídricos, tanto lóticos como lên-
que todos os usos do território têm repercussões no ticos. Neste contexto, uma política de gestão e controlo
domínio hídrico, e numa perspectiva mais abrangente, integrados da poluição e de precaução torna-se ainda
é, pois, fundamental que o planeamento e ordenamento mais necessária.
do território assumam a implementação dos princípios Para as actividades utilizadoras de água impõe-se
de sustentabilidade e da precaução. ainda promover a construção de bastantes infra-estru-
Neste cenário de desenvolvimento prospectivo, jus- turas, como, por exemplo, no caso de sistemas de dre-
tifica-se a introdução de noção de compensação ambien- nagem, tratamento e destino final de efluentes domés-
tal direccionada para o domínio hídrico, enquanto parâ- ticos e industriais. Neste particular, merece destaque
o Plano Estratégico de Abastecimento de Águas e
metro a considerar no processo de decisão.
Saneamento de Águas Residuais (PEAASAR), que esta-
De facto, assegurar a valorização do domínio hídrico
belece um conjunto de soluções que passam pela criação
para lá dos limites legalmente estabelecidos constitui
de sistemas plurimunicipais de abastecimento de água
um novo desafio a consagrar através dos instrumentos
e de saneamento de águas residuais.
de gestão e ordenamento do território. Reduzir consumos é reduzir efluentes e é promover
a recuperação da qualidade da água. Reutilizar águas
2.3 — Qualidade da água no meio natural e poluição
usadas é diminuir a procura de novos volumes e mobi-
A garantia de abastecimento de água com qualidade lizar a capacidade de renovação das plantas e do solo.
e a conservação e protecção dos recursos hídricos, atra- Diminuir as perdas nas redes de transporte e distribuição
vés de medidas e instrumentos adequados de gestão, é evitar excessos de extracções e assim manter nos sis-
são essenciais para dar suporte a todos os aspectos da temas naturais mais água e fomentar a sua capacidade
vida humana e aos ecossistemas terrestres e aquáticos renovadora.
associados.
Em Portugal têm sido os problemas de qualidade da 2.4 — Ecossistemas aquáticos e ribeirinhos associados
e caudais ecológicos
água que mais têm preocupado os agentes responsáveis
pela gestão dos recursos hídricos, pese embora existirem A boa gestão dos recursos hídricos aconselha uma
ainda algumas situações que justificam ainda a aposta atitude conciliadora das políticas sectoriais face à neces-
num esforço para melhorar o serviço de abastecimento sidade imperiosa de uma gestão sustentável que sal-
de água e fiabilidade da garantia dos serviços associados. vaguarde a integridade estrutural e funcional dos ecos-
Em resultado das crescentes pressões sobre os recur- sistemas dulçaquícolas, que se concretizam por medidas
sos hídricos, tem-se adquirido uma maior consciencia- e acções.
lização em relação ao uso da água, tanto do público No que respeita aos ecossistemas dulçaquícolas, é van-
em geral como de todos os agentes envolvidos. tajosa a consideração individualizada dos subsistemas
3748 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A N.o 90 — 17 de Abril de 2002
fluviais, lacustres e paludosos e albufeiras (massas de A importância biológica dos estuários reflecte-se
água fortemente modificadas ou artificiais), sem, toda- ainda nas imensas populações de aves de invernada ou
via, descurar a sua continuidade estrutural e funcional. nidificantes.
O adequado planeamento e gestão integrados dos As excelentes condições que oferecem levam, no
recursos hídricos requerem o conhecimento aprofun- entanto, à concentração de populações humanas e de
dado dos ecossistemas dulçaquícolas. actividades económicas nas suas margens, agravando as
Os múltiplos factores de ameaça e a particular inci- pressões que se exercem sobre os seus ecossistemas.
dência dos factores antrópicos nos ecossistemas aquá- Para recuperar e manter essas funções transcenden-
ticos e dulçaquícolas justificam a selecção de zonas que tes, o planeamento e a gestão integrada dos estuários
ainda conservam elevado interesse ecológico e a imple- assumem uma natureza paradigmática na política de
mentação urgente de medidas para a sua salvaguarda, gestão dos recursos hídricos.
na óptica da recentemente aprovada, por resolução do
Conselho de Ministros, «Estratégia nacional de conser- Caudais ecológicos
vação da natureza e da biodiversidade», em particular
na da opção n.o 2, «Constituição da rede fundamental Os aproveitamentos hidráulicos e a artificialização do
de conservação da natureza» (versão de Maio 2001). regime natural das bacias hidrográficas alteram o regime
Para a salvaguarda do património genético torna-se, hidrológico dos cursos de água a jusante, devido ao
em alguns casos, necessário garantir formas sustentáveis efeito de regularização de caudais, captação e derivação
de utilização de espécies. de água e às perdas por evaporação. A modificação
As alterações físicas pronunciadas, decorrentes de do regime hidrológico é uma das mais importantes alte-
processos de artificialização, como actividades extrac- rações antropogénicas no ambiente, com consequências
tivas ou de degradação e ocupação indevida das margens importantes ao nível dos ecossistemas lóticos e ribei-
e outros aspectos que provocam a erosão fluvial, com rinhos, dado que constitui um factor determinante da
o alargamento do leito de cheia e a própria erosão da estrutura e diversidade das comunidades bióticas.
bacia de drenagem, originando o carreamento de mate- Perante as grandes pressões que os aproveitamentos
riais sólidos instáveis para o leito, que propiciam um hidráulicos exercem sobre os ecossistemas aquáticos e
empobrecimento das comunidades aquáticas e ribei- ribeirinhos, só com a manutenção dos adequados regi-
rinhas. mes de caudal ecológico será possível manter as carac-
A compatibilização da utilização de água com as acti- terísticas geomorfológicas e hidráulicas do canal fluvial
vidades extractivas, de pesca, recreio, etc., e o controlo e, consequentemente, a heterogeneidade dos habitats
da erosão e de efluentes são essenciais para a reabi- aquáticos e ribeirinhos e as características bióticas daí
litação dos ecossistemas. A melhoria da qualidade da decorrentes.
água e do habitat são, complementarmente, aspectos O estabelecimento de caudais ecológicos constitui a
fundamentais para a recuperação dos ecossistemas resposta necessária aos impactes dos aproveitamentos
fluviais. hidráulicos, minorando-os e permitindo manter um
A identificação e conservação dos raros ecossistemas determinado grau de integridade ecológica, no conjunto
lacustres e paludosos ainda bem conservados justifica-se de toda a bacia hidrográfica.
pelos elevados valores florísticos e faunísticos que, fre- O estabelecimento dos regimes de caudais ecológicos,
quentemente, encerram e pela importância funcional apenas com base nas necessidade específicas das espé-
que se lhes atribui. cies aquáticas, nomeadamente das piscícolas, pode resul-
O importante papel da vegetação na melhoria da qua- tar na degradação do leito, na alteração dos processos
lidade da água pode, entre outros aspectos, ser apontada geomorfológicos, na redução ou alteração da vegetação
como justificativa da necessidade de recuperação das ripícola e na alteração das funções da planície aluvial.
comunidades bióticas em alguns ecossistemas paludosos Assim, a recomendação de um regime de caudal eco-
e lacustres degradados. lógico deve ser acompanhada pela definição de caudais
Salienta-se, ainda, a necessidade de promover a ges- de limpeza (flushing flows, na terminologia anglo-saxó-
tão integrada dos ecossistemas fluviais lacustres, palu- nica) para remoção de materiais finos depositados e
dosos e estuarinos, bem como a interligação com as prevenção da invasão do leito pela vegetação, caudais
águas subterrâneas. para a manutenção da estrutura do leito e da sua capa-
cidade de transporte, caudais para manutenção da zona
O valor e funções dos estuários ripária, leito de cheia, características do vale e manu-
Os estuários são ecossistemas complexos e insuficien- tenção do nível freático, assim como caudais de manu-
temente conhecidos que se tem vindo a compreender tenção dos ecossistemas associados aos cursos de água,
desempenharem um papel fundamental no equilíbrio como, por exemplo, zonas húmidas.
global da biosfera. A necessidade de garantir determinados regimes de
Na transição entre as águas interiores e o mar asse- caudais face a objectivos de recuperação ou manutenção
guram a reciclagem biogeoquímica de muitas substân- de estados de boa ou elevada qualidade ecológica é impli-
cias e, também, equilíbrios mais delicados, como os rela- citamente reconhecida pela Directiva n.o 2000/60/CE, do
cionados com a produção de gases controladores do Parlamento Europeu e do Conselho, de 23 de Outubro
clima. de 2000, que estabelece um quadro de acção comunitária
Além do mais, são importantes zonas de depuração, no domínio da política da água. Com efeito, esta directiva
fornecendo os seus sapais «tratamento» alternativo e considera, no respectivo anexo V, o regime hidrológico,
gratuito de muitas substâncias indesejáveis. incluído nos elementos hidromorfológicos de suporte dos
São também sistemas altamente produtivos que, em elementos biológicos, como um dos elementos de qua-
muitos casos, exportam essa produtividade (outwelling) lidade para a classificação do estado ecológico dos cursos
e proporcionam condições óptimas de reprodução e de água.
viveiro a cerca de 70 % dos estoques de espécies pis- A consagração da definição e manutenção de caudais
cícolas marinhas, contribuindo decisivamente para o ecológicos representa, de forma inequívoca, a vontade
repovoamento das zonas costeiras. de implementar uma nova política de recursos hídricos,
N.o 90 — 17 de Abril de 2002 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A 3749
coerente com as preocupações e atitudes das sociedades de um valor económico ao volume de água utilizado
modernas e em sintonia com o paradigma de desen- ou à carga de poluição produzida.
volvimento que constitui o desenvolvimento sustentável. Para os meios hídricos fronteiriços, a DQA estipula
Neste quadro, a natureza é ela própria reconhecida a sua afectação a uma região de bacia hidrográfica inter-
como um valor patrimonial e um recurso de inegável nacional. Nesta situação, os Estados-Membros que par-
importância, não dissociável de uma concepção moderna tilham a região de bacia hidrográfica deverão envidar
de qualidade de vida, e numa óptica e num quadro de esforços de cooperação e coordenação tendo em vista
responsabilidades intergeracional consubstanciado no a elaboração de um único plano de gestão coordenada
conceito de sustentabilidade. da bacia hidrográfica. Se tal não for possível, os Esta-
dos-Membros ficam responsáveis pela elaboração de um
2.5 — Contributo da Directiva Quadro para o Desenvolvimento plano de gestão de bacia hidrográfica para parte da
Sustentável bacia incluída nos respectivos territórios. A gestão con-
As políticas de desenvolvimento sustentável devem junta proposta pela DQA visa proporcionar uma inte-
ser elaboradas com base na integração de aspectos de gração espacial e temporal dos programas de medidas
carácter ambiental, económico, social e institucional. a aplicar na área em questão.
Pretende-se através da dimensão institucional promover Os enfoques destacados reforçam o facto da imple-
a participação de todas as partes interessadas, por forma mentação da DQA constituir-se como um contributo
a garantir a integração e coerência das diferentes polí- e ao mesmo tempo um desafio para uma estratégia mais
ticas sectoriais. alargada de desenvolvimento sustentável.
A DQA surgiu pela necessidade de desenvolvimento
2.6 — Cooperação luso-espanhola
de um novo instrumento legal que estabelecesse os prin- sobre recursos hídricos
cípios básicos comuns de uma política sustentável da
água na União Europeia e uma abordagem de protecção São as bacias hidrográficas de maiores dimensões que
da qualidade da água mais abrangente. A DQA pre- maiores potencialidades de utilização sustentável dos
coniza que o cumprimento dos objectivos ambientais seus recursos hídricos apresentam, mas também nelas
deverá passar pelo desenvolvimento e pela aplicação se situam os maiores problemas e desafios. Estas bacias
de medidas baseadas na diversidade de condições e hidrográficas coincidem com bacias hidrográficas inter-
necessidades verificadas no espaço comunitário, tanto nacionais, ocupando Portugal, em predominância, a
a nível regional como local, segundo o princípio da posição de jusante.
subsidiariedade. Apesar das excelentes relações entre os dois países
A DQA estabelece uma estrutura para coordenar as ibéricos, é facto que a natureza dos recursos hídricos
iniciativas a aplicar pelos Estados-Membros com vista aconselha avaliações independentes de ambos os países,
à melhoria da protecção dos meios hídricos da Comu- que não anulam as necessárias avaliações e aferições
nidade, de modo a promover o uso sustentável da água, conjuntas.
proteger os ecossistemas aquáticos e os ecossistemas Em termos relativos, as superfícies das bacias hidro-
terrestres e zonas húmidas directamente associados e gráficas luso-espanholas representam 64 % e 42 % dos
a salvaguardar as futuras utilizações da água. territórios peninsulares de cada um dos países, consi-
No contexto da protecção dos recursos hídricos, a derando para estes as áreas de 89 000 km2 e 492 000 km2.
DQA inclui alguns dos elementos usualmente conside- Se tivermos em conta que muitas das actuações no ter-
rados na definição de políticas de desenvolvimento sus- ritório destas bacias hidrográficas têm implicações nos
tentável, como, por exemplo, a integração das questões recursos hídricos e que estes pertencem a bacias hidro-
socioeconómicas no desenvolvimento de soluções, a aná- gráficas internacionais, então a sua gestão judiciosa não
lise sistemática das pressões e impactes das actividades se confina apenas às políticas de recursos hídricos inter-
humanas sobre o meio ambiente e a avaliação dos efeitos nas de cada país, estando, por isso, disciplinadas por
das medidas aplicadas. Desta forma, a DQA pretende convenções internacionais, europeias e bilaterais.
estabelecer o seu contributo para o aprovisionamento Tendo presente que, no essencial, estão em causa
em quantidade suficiente de água de boa qualidade, os aspectos associados às vertentes quantitativa e qua-
através de uma utilização sustentável, equilibrada e equi- litativa das águas transfronteiriças, isto é, volumes, cau-
tativa do recurso. dais e qualidade da água e as respectivas variações tem-
A própria DQA destaca o seu papel como plataforma porais, é inquestionável que só uma troca mútua e per-
para o desenvolvimento de estratégias destinadas a uma manente de dados e informações sobre as variáveis que
maior integração das diferentes políticas comunitárias caracterizam os recursos hídricos permite as avaliações
(e. g., energia, transportes, agricultura, pescas, regional técnicas e científicas necessárias à sustentação do diá-
e turismo) e mesmo da política ambiental (e. g. con- logo para a protecção e o aproveitamento sustentável
servação da natureza). Para o devido cumprimento de das águas das bacias hidrográficas luso-espanholas.
algumas das disposições da DQA será fundamental iden- As afluências de águas superficiais provenientes de
tificar, por exemplo, os elementos de intersecção e con- Espanha sempre tiveram um peso significativo no
flito com a política agrícola comum (PAC), a política balanço dos recursos hídricos nacionais. Nos últimos
dos químicos e a questão das alterações climáticas e anos, a par de uma redução dos caudais afluentes, assis-
da produção de energia hidroeléctrica. tiu-se também ao aumento das cargas poluentes trans-
A DQA promove a integração de abordagens técnicas portadas pelos rios transfronteiriços. A monitorização
e científicas para a gestão dos recursos hídricos com e o permanente diálogo com as autoridades espanholas
abordagens de cariz económico, por forma a assegurar são fundamentais para a concertação de medidas de
uma gestão eficaz da água e o desenvolvimento dos ins- gestão conjuntas que visem a melhoria da qualidade
trumentos de incentivo para um uso mais sustentável da água nas bacias dos rios internacionais.
do recurso. A conjugação de dois importantes documen-
A redução da poluição das águas e a utilização efi- tos — Convenção de Albufeira e DQA — vieram reco-
ciente do recurso podem ser incentivados pela atribuição locar a necessidade de uma estrita cooperação entre
3750 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A N.o 90 — 17 de Abril de 2002
os dois países para que sejam alcançados os objectivos nacionais e partilhados com Espanha e onde interessa
abraçados e assim reforçar a natureza paradigmática centrar a maior atenção no que se refere à evolução
da cooperação luso-espanhola no seio da política de da situação.
recursos hídricos de ambos os países, sendo ainda de
referir a importância da Directiva IPPC (Directiva 2.8 — Reabilitação de sistemas e reutilização
n.o 96/61/CE). de recursos
aprovação da Directiva IPPC, que impõe a abordagem e do funcionamento dos sistemas jurídicos, particular-
integrada no combate à poluição e que a monitorização mente no que respeita à sua vertente institucional.
obedeça à integração temporal e espacial. Neste plano, o desafio traduz-se, no essencial, em
Por outro lado, a coordenação das acções que é neces- superar as deficiências que o actual direito revela a este
sária para alcançar os objectivos luso-espanhóis acolhi- nível, criando modelos de decisão jurídicos que per-
dos na Convenção de Albufeira e que coincidem, em mitam uma gestão integrada e adequada da informação
grande parte, com os da DQA, exige também que a no que respeita, por exemplo, à obtenção, comunicação,
monitorização das variáveis de referência e controlo, tratamento e sistematização entre utilizadores da água,
para além de integrada, seja realizada por meio de redes destes para a Administração e entre entidades admi-
homogéneas entre os dois países. nistrativas. Trata-se, por outro lado, de adequar a orga-
As alterações climáticas vêm reforçar a importância nização institucional a uma gestão adequada do conhe-
de uma cultura de investigação, de conhecimento e de cimento.
gestão que permita antecipar os desafios e desencadear Acresce que actualmente as entidades públicas não
as respostas adequadas. Esta cultura exige um conheci- parecem, em alguns pontos, capazes de gerar e tratar
mento profundo e actualizado sobre todas as vertentes de forma eficaz e eficiente toda a enorme massa de
do domínio de recursos hídricos baseado num sistema informação necessária para avaliar riscos ecológicos,
integrado de monitorização e em programas de inves- ponderar custos/benefícios e especificar tecnologias
tigação e de desenvolvimento tecnológico no domínio do apropriadas. Isto significa que o direito deve poten-
ambiente. O sistema de monitorização deve garantir a ciar — a este nível — a utilização de instrumentos (como
aquisição, tratamento, análise e divulgação de todos os a recepção de normas técnicas, a cooperação com enti-
dados necessários às tarefas de investigação, planeamento dades privadas e a delegação de competências) que esti-
e gestão, nomeadamente dados sobre disponibilidades, mulem o caracter auto-reflexivo do sistema e a produção
licenciamento, necessidades e utilizações da água e do de conhecimento tecnológico.
domínio hídrico, qualidade da água, comunidades bio-
3 — Administração dos recursos hídricos
lógicas, actividades potenciais de risco, etc.; é deste modo
uma peça fundamental de toda a arquitectura do pla- 3.1 — Cumprimento do quadro legal
neamento e gestão da água. Este sistema deve integrar
Pode talvez afirmar-se que a escassa concretização
e articular os esforços de todas as instituições responsáveis
dos objectivos sistémicos essenciais do direito de pro-
pela recolha de dados com interesse para os recursos
tecção da água se deve não a uma insuficiência de
hídricos, de modo a evitar desperdícios e a promover comandos e modelos de decisão jurídica, mas sim a uma
um corpo consistente de conhecimentos. reduzida eficácia e a uma insuficiente determinabilidade
A ecologia lótica é uma área de desenvolvimento rela- e comunicabilidade dessas mesmas regras. Isto significa
tivamente recente dentro da ecologia aquática. No caso que as normas existentes não são em muitos casos efec-
concreto dos sistemas lóticos mediterrânicos, de carac- tivas, originando, assim, em alguns pontos um «direito»
terísticas particulares, o conhecimento é ainda mais meramente virtual, expressão de uma pretensão jurí-
recente. Tal justifica que, apesar do grande esforço rea- dico-política ineficaz. Significa também que tal «direito»
lizado pela comunidade científica ibérica e do nível de é muitas vezes excessivamente indeterminado e impre-
conhecimento já atingido, são ainda muitas as questões visível, desenhando direitos e deveres jurídico públicos
que subsistem. imprecisos e fluidos, sendo na prática efectivamente
A avaliação da eficácia dos regimes de caudal eco- determinado por factores e interesses «extrajurídicos».
lógico em cada tipo de situação implica necessariamente Significa, por fim, que o sistema se apresenta em muitos
que seja caracterizada a resposta dos sistemas aquáticos pontos excessivamente complexo e confuso, com defi-
e ribeirinhos. No caso de se observar que os objectivos ciências graves de comunicação e sistematização, não
estabelecidos não estão a ser atingidos, i. e., que o regime sendo por isso perceptível pelos seus destinatários.
de caudal ecológico não se afigura adequado ao con- Deste modo, os utilizadores do ambiente não sabem,
texto, proceder-se-á, então, aos necessários ajustamen- ex ante, quais são «as regras do jogo», não podendo
tos. A caracterização da resposta dos sistemas naturais incorporar tal informação nos seus processos de decisão.
ao regime de caudais mantido só é possível através do Parece-nos, por isso, que o primeiro desafio funda-
estabelecimento de programas de monitorização abran- mental do direito de protecção da água é o de melhorar
gendo um conjunto de parâmetros. Sem monitorização a sua eficácia, determinação e comunicabilidade. Tra-
não será possível avançar no conhecimento da relação ta-se, numa palavra, de aumentar o grau de implemen-
caudal-habitats-comunidades biológicas e progredir na tação do sistema jurídico.
área dos caudais ecológicos, melhorando as metodo- O direito da protecção da água português utiliza quase
logias e tornando-os instrumentos mais eficazes numa exclusivamente um conjunto de instrumentos directos,
perspectiva de conservação ou recuperação da natureza. os quais configuram um modelo de comando e controlo.
O salto qualitativo da comunidade técnica e científica Contudo, a eficácia do sistema jurídico impele a com-
e a afirmação das nossas capacidades no desenvolvi- binar a utilização de instrumentos directos (normas de
mento e aplicação de tecnologias de ponta passam pela definição de qualidade e respectivo sistema de tutela)
aposta na investigação e na aquisição de novos conhe- com instrumentos indirectos (fiscais, financeiros, de
cimentos sobre os recursos hídricos centradas na con- mercado e relativos à organização das empresas). Assim,
vicção de que este é uma área paradigmática da política a equação metodológica fundamental consiste em deli-
nacional de recursos hídricos. mitar o espaço adequado de cada uma das metodologias
em presença e em desenhar modelos metodológico-ins-
2.11 — Gestão da informação e do conhecimento trumentais que sejam plurais mas também axiologica-
mente coerentes.
Um outro paradigma da gestão dos recursos hídricos Neste contexto, emerge como desafio fundamental
respeita à gestão da informação e do conhecimento, promover o recurso a instrumentos indirectos de regu-
aspectos absolutamente fundamentais da organização lação que possibilitem o reforço do grau de auto-re-
N.o 90 — 17 de Abril de 2002 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A 3753
flexividade e de eficiência do sistema jurídico. Subli- Administração e dos poderes de direcção, superinten-
nhe-se, todavia, que uma eficaz utilização deste tipo dência e tutela dos órgãos competentes» (n.o 2 do
de instrumentos pressupõe, dialeticamente, a redução artigo 267.o).
efectiva do grau de ineficácia e de indeterminação dos Sendo inquestionável a intervenção da Administração
instrumentos directos: é que os utilizadores do ambiente Pública, já não o é o nível dessa intervenção. No entanto,
só tendem a auto-organizar-se de forma ecologicamente a realização de acções que decorram da definição, coor-
sustentada perante um quadro claro, coerente e efectivo denação e execução das políticas do ambiente e dos
de regulamentação ambiental. recursos hídricos pode ser concretizada por recurso a
Clarificar o fundamento das normas de protecção da outsourcing.
qualidade da água, tendo presente que o sistema jurídico Sendo imperioso aliviar o Estado de funções não estri-
parece ter evoluído de forma desordenada, fortemente tamente fundamentais à garantia das suas obrigações
condicionado por impulsos justificativos externos, por e sem prejuízo da qualidade e garantia de serviço
vezes incompatíveis e ininteligíveis, provenientes em público, parece haver espaço na área dos recursos hídri-
grande medida do direito comunitário, sem que seja cos, onde a iniciativa privada pode substituir-se à Admi-
visível uma pedra angular capaz de o estruturar axio- nistração, com ganhos de eficiência e eficácia cujo
logicamente, é decisivo e constitui um desafio, visando estudo e dimensionamento podem constituir um dos
tornar transparente para todos os agentes — públicos vectores reforçadores da política nacional dos recursos
e privados — que intervêm no sistema. Na verdade, é hídricos.
com base em tal determinação que a Administração
actua de forma preventiva e repressiva. Assim, a legi- 3.3 — Desafios da Convenção sobre Cooperação para a Protecção
e o Aproveitamento Sustentável das Águas das Bacias Hidrográ-
timidade e a potencialidade comunicativa do sistema ficas Luso-Espanholas.
jurídico dependem, em grande medida, da capacidade
deste em tornar inteligível o fundamento das normas As grandes alterações expectáveis quanto à susten-
de definição do estado de qualidade da água. tabilidade das utilizações das águas das bacias hidro-
Também emerge como desafio fundamental clarificar gráficas luso-espanholas assentam na letra e no espírito
(através de uma compatibilização adequada entre a da Convenção sobre a Cooperação para a Protecção
dimensão garantística do direito e a necessária dimensão e o Aproveitamento Sustentável das Águas das Bacias
público-ingerente do direito de protecção da água) as Hidrográficas Luso-Espanholas que colocam à Admi-
consequências que a protecção jurídico-ambiental acar- nistração dos recursos hídricos desafios e oportunidades
reta para os direitos de uso dos recursos hídricos como não haviam antes.
(incluindo os direitos reais como o direito de proprie- O êxito da Convenção, que se traduzirá por elevados
dade) atribuídos antes do aparecimento da nova axio- níveis de confiança mútuo sobre uso sustentável das
logia ambiental. Isto porque, no actual direito da água águas dos rios internacionais, não passa apenas por
português, tal «reconfiguração» ou não existe em zonas aspectos técnicos mas também depende muito do fun-
onde talvez se revele necessária — como, por exemplo, cionamento dos órgãos já instituídos e dos que se torna
no que respeita à definição da propriedade das águas ainda necessário criar no seio destes.
subterrâneas — ou, quando existe, não é nítida ou São desafios de natureza funcional que mais pesam
adequada. para fazer operar com eficiência e eficácia os meca-
Por outro lado, num segundo plano, parece impor- nismos previstos na Convenção. Como já se referiu atrás,
tante rever o regime do domínio público hídrico. É que o fortalecimento da confiança mútua passa pelas ava-
este ponto do sistema parece estar em vários aspectos liações técnicas que cada uma das parte necessita rea-
(incluindo o do regime jurídico das zonas costeiras) cla- lizar, as quais, por sua vez, requerem a troca de dados
ramente desactualizado e incapaz de prosseguir de modo e informações permanentes e considerados fiáveis por
adequado os fins jurídico ambientais, devendo por isso ambos. Tal como previsto na Convenção:
ser globalmente adaptado de forma coerente à nova O âmbito material da Convenção abarca não ape-
axiologia. nas as actividades relativas ao aproveitamento
das águas mas também a descarga de efluentes
3.2 — Necessidade e nível de intervenção da administração e outras actividades susceptíveis de contribuir
nos recursos hídricos para a alteração do estado de qualidade das
águas, incluindo as transferências de água;
Nos termos que se encontram consagrados na CRP, Passaram a ser objectivo da cooperação entre as
entre as incumbências prioritárias do Estado no âmbito partes a minimização dos efeitos das cheias e
económico e social inclui-se: a mitigação das secas;
«[. . .] adoptar uma política nacional da água, com No seu anexo I são estabelecidas as matérias sobre
aproveitamento, planeamento e gestão racional dos as quais devem ser permutados registos, bases
recursos hídricos» [alínea m) do artigo 81.o]. de dados e estudos, que num prazo de cinco
«[. . .] a Administração Pública visa a prossecução anos devem ser homogéneos e comparáveis, e
do interesse público, no respeito pelos direitos e inte- identificadas as substâncias poluentes prioritá-
resses legalmente protegidos dos cidadãos» (n.o 1 do rias;
artigo 266.o). No seu anexo II são definidas as condições que
«[. . .] a Administração Pública será estruturada de determinam a necessidade de avaliação de
modo a evitar a burocratização, a aproximar os serviços impacte transfronteiriço e as acções
das populações e a assegurar a participação dos inte- consequentes.
ressados na sua gestão efectiva» (n.o 1 do artigo 267.o).
«[. . .] a lei estabelecerá adequadas formas de des- Os desafios da Convenção exigem a mobilização e
centralização e desconcentração administrativas, sem coordenação de diversos organismos em cada país para
prejuízo da necessária eficácia e unidade de acção da que de forma coerente e eficiente sejam cumpridos os
3754 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A N.o 90 — 17 de Abril de 2002
seus desígnios. É neste plano que se devem concentrar 3.5 — Organização da administração dos recursos hídricos
os maiores esforço para pôr a funcionar as competências
São por demais conhecidas as limitações, inconsis-
técnicas de engenharia, sem a qual o referido êxito estará
tências e ineficiência de actuação que hoje em dia
comprometido. Este enfoque e a prioridade do assunto
enferma a gestão dos recursos hídricos nacionais e que
fazem com que nesta fase de desenvolvimento da Con-
urge ultrapassar sem que daí decorram maiores encargos
venção a operacionalização técnica emirja como um vec-
para o Estado.
tor destacado da política nacional dos recursos hídricos.
Definido, e assumido, o planeamento dos recursos
hídricos por bacia hidrográfica, enquanto as componen-
3.4 — As unidades de planeamento e gestão tes de administração e de responsabilização da sua ges-
dos recursos hídricos
tão não forem concretizadas, também, no âmbito das
A LBA (Lei n.o 11/87, de 7 de Maio) consagra a bacias hidrográficas, a eficiência de todo o processo de
bacia hidrográfica como a unidade de gestão dos recur- «planeamento — administração — responsabilização»
sos hídricos e a DQA determina que o que nela se ficará, necessariamente, negativamente afectada.
encontra estabelecido se aplique em cada região hidro- A viragem nesta situação exige a aposta numa nova
gráfica. política da água que, relativamente ao tema em análise,
O Decreto-Lei n.o 194/2000, de 21 de Agosto, relativo possa alterar o modo de funcionamento actual da admi-
à prevenção e ao controlo integrados da poluição gerada nistração dos recursos hídricos, constituindo um dos vec-
por certas actividades listadas em anexo do mesmo tores fortes e paradigmático, designadamente concre-
diploma cujas instalações, onde elas tenham lugar, pas- tizados por considerar a criação de uma autoridade
saram a estar sujeitas a licença ambiental (cf. artigo 1.o), nacional da água que prossiga, na dependência do Minis-
está concebido, em termos de entidades intervenientes, tério do Ambiente e do Ordenamento do Território,
a nível da administração central e a nível das áreas de e este em nome do Governo, a política definida para
jurisdição das direcções regionais do ambiente [actuais os recursos hídricos, associando-lhe a delimitação das
direcções regionais do ambiente e do ordenamento do bacias hidrográficas e, por convenientes agregações, as
território (DRAOT)], coincidindo estas com as das regiões hidrográficas, e atribuir-lhes a qualidade de uni-
dades territoriais para efeitos da gestão da água (pla-
comissões de coordenação regionais (CCR). As emis-
neamento, administração e responsabilização).
sões a ter em conta nas licenças ambientais respeitam,
conforme definido na alínea d) do n.o 1 do artigo 2.o
3.6 — A Administração, os utilizadores e a população
do mesmo decreto-lei, «a libertação directa ou indirecta
de substâncias, vibrações, calor ou ruído para o ar, a Como se sabe, o instrumento paradigmático utilizado
água ou o solo, a partir de fontes pontuais ou difusas no direito do ambiente para que os utilizadores par-
com origem numa dada instalação». ticipem na gestão dos recursos hídricos é o autocontrolo,
A circunstância de serem as DRAOT a intervir no que se traduz em obrigar o próprio utilizador a se auto-
licenciamento ambiental das actividades definidas no controlar, de acordo com determinada metodologia
decreto-lei que ficou citado e o licenciamento implicar imposta pela lei, impondo depois o envio da informação
a consideração conjunta de todas as emissões, incluindo para a Administração. É justamente este o instrumento
as de efluentes líquidos, que possam afectar compo- mais utilizado no direito português (cf. artigos 22.o e
nentes ambientais naturais, em particular a água, não 69.o do Decreto-Lei n.o 236/98, de 1 de Agosto, e 12.o
conduz a que a gestão dos recursos hídricos não possa do Decreto-Lei n.o 152/97, de 19 de Junho).
ser, ou deixe de ser, exercida no quadro das bacias e Um exemplo de norma cuja função é permitir a reco-
das regiões hidrográficas. Apenas, e só, o que for fixado lha de informação é o dever de informação dos uti-
nas licenças ambientais (designadamente valores limite lizadores (artigo 11.o do Decreto-Lei n.o 47/94, de 22 de
de emissão e medidas de monitorização) deverá sê-lo Fevereiro).
em articulação com as entidades responsáveis pela ges- Por outro lado, por parte da Administração existe
tão da água nas bacias e regiões hidrográficas. Não se a obrigação de tratamento, sistematização e comuni-
deve, todavia, pôr de parte que estas mesmas entidades cação da informação, mas normalmente as regras sobre
responsáveis pela gestão da água possam vir a ter par- o tratamento da informação estão associadas a normas
ticipação no licenciamento ambiental das actividades em sobre a publicitação de relatórios, não existindo um coe-
questão. rente de princípios sobre esta matéria.
Os instrumentos de planeamento dos recursos hídri- As regras sobre circulação da informação entre ins-
cos são o PNA e os PBH. Os âmbitos do PNA e dos tituições da Administração Pública são relativamente
PBH, os respectivos conteúdos e, ainda, o facto da dis- escassas no direito de protecção da água português. Um
posição contida no artigo 13.o daquele diploma de que exemplo consiste na obrigação de comunicação pelas
«as acções e medidas definidas nos planos de recursos DRAOT ao INAG das licenças de descarga de águas
hídricos devem ser previstas em todos os instrumentos residuais (cf. n.o 9 do artigo 65.o do Decreto-Lei
de planeamento que definam ou determinem a ocupação n.o 236/98, de 1 de Agosto).
física do solo, designadamente planos regionais e muni- A lei prevê determinadas normas que obrigam a
cipais de ordenamento do território», torna inequívoca Administração a sistematizar e publicitar a informação
a opção pela bacia hidrográfica como unidade de gestão recolhida ou a obrigação da entidade gestora do sistema
da água e a prevalência dos PBH sobre outros instru- de publicitar os resultados obtidos com as análises da
mentos de planeamento. água para consumo humano através de editais e publi-
Portanto, não só o planeamento dos recursos hídricos cação na imprensa regional.
presume a consideração da unidade territorial confi- A DQA também vem reforçar, de forma inequívoca,
gurada pela bacia hidrográfica, como a própria gestão o direito à informação e participação dos cidadãos.
está assumida no sentido da administração do domínio A «ideia» de responsabilidade é concretizada quase
hídrico e na responsabilização pelo respectivo Estado. exclusivamente através do direito administrativo de
N.o 90 — 17 de Abril de 2002 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A 3755
mera ordenação social, que assim se assume como o blemas provocados nos recursos hídricos por determi-
instrumento sancionatório por excelência do direito do nado modelo social e económico, as políticas incorporam
ambiente português. perspectivas económicas e ambientais mais abrangente.
Ou seja, o modelo sancionatório dirige-se predomi- Surge, assim, a necessidade de encarar a água como
nantemente para a punição do agente, deixando quase um bem económico, cuja gestão deve orientar-se por
na sombra a função reparadora, o que tem consequên- princípios de eficiência económica, satisfazendo a pro-
cias prejudiciais ao nível da concretização do princípio cura numa óptica de sustentabilidade.
do poluidor-pagador. Isto significa, em síntese, que não A análise económica das utilizações de água assume
há uma actuação tendente à reparação dos danos eco- hoje destaque acrescido com a aprovação da DQA.
lógicos (por exemplo: limpeza de solos e de aquíferos Nesta directiva é claramente expresso que os custos dos
contaminados, demolição de construções e reposição da serviços da água, designadamente para as utilizações
situação anterior, inter alia). industriais, domésticas e agrícolas, deverão ser recupe-
Acresce que, o próprio modelo de responsabilidade rados obrigatoriamente até ao ano 2010 (artigo 9.o),
punitiva sofre de deficiências estruturais profundas que devendo para tal ser realizada uma análise económica
afectam claramente a sua eficácia. das utilizações da água no País. Os Estados-Membros
Note-se, por fim, que a utilização de meios de tutela devem ter igualmente em consideração a aplicação do
pelos cidadãos e pelo Ministério Público tem sido ine- princípio de recuperação dos restantes custos, designa-
ficiente e em grande medida ineficaz. damente os custos ambientais e os custos de escassez.
Neste contexto, podemos afirmar que o problema do A economia da água destaca-se pela sua actualidade
incumprimento das normas ambientais, que assume uma como um dos principais paradigmas e desafios que se
expressão significativa no direito português, coloca a colocam na definição da nova política de gestão dos
ideia de responsabilidade no centro do discurso dog- recursos hídricos nacionais.
mático do direito do ambiente. O mesmo seria dizer
que, de um primeiro momento em que a construção 4.1 — Valor, custo e preço da água
do Estado de direito ambiental se alicerçou fundamen-
talmente em mecanismos de prevenção, se tende, actual- Uma adequada gestão dos recursos hídricos deve pas-
mente, a passar para uma nova fase na qual, a par do sar pela aceitação da água como um bem económico,
princípio da prevenção, o princípio da responsabilização afirmação que é sustentada pela Declaração de Dublin
se assume progressivamente como estruturante. da Conferência Internacional da Água e do Ambiente
Dar mais e melhor informação aos cidadãos, dar aos (1992), onde no princípio 4 se refere que «A água tem
cidadãos formas de se fazerem ouvir, sensibilizar e edu- um valor económico em todos os seus usos, devendo
car os cidadãos e responsabilizar os cidadãos e dinamizar ser reconhecido como um bem económico». A definição
a sua participação assumem-se como desafios que con- de bem económico está baseado nos princípios de escas-
figuram um paradigma para a nova política de recursos sez de um recurso, que ocorre quando este recurso não
hídricos emergente. Justificando-se ainda porque: tem quantidade suficiente para satisfazer a totalidade
da procura.
Actualmente em Portugal os níveis de envolvi- A água, como bem económico, tem um valor para
mento do público no domínio dos recursos hídri- o utilizador, que corresponde ao valor que este estará
cos são baixos. Este facto é particularmente rele- disposto a pagar por esse bem. Neste sentido, a análise
vante, porque a participação e a responsabili- económica do recurso «água» deverá ser realizada atra-
zação são valores assumidos repetidamente nas vés da interacção destes dois factores, que servirão de
leis gerais da nossa sociedade. Urge por isso base ao estabelecimento do preço da água.
melhorar as formas existentes de relacionamento A avaliação dos custos da água constitui uma tarefa
com os cidadãos; complexa, mas concretizável, dado o seu cálculo ser
A melhoria da qualidade da água passa, em muitos baseado em variáveis quantificáveis em termos econó-
casos, pela mudança de comportamentos, desde mico-financeiros. Já o cálculo do valor da água é uma
a poupança de água de consumo até à alteração tarefa mais complexa, para a qual é necessário recorrer
das práticas de rega ou ao licenciamento das a metodologias da economia do ambiente e dos recursos
descargas. Essa mudança de comportamentos já naturais.
foi decretada, em lei, mas só pode ser posta em Os custos financeiros incluem, num primeiro nível,
prática se houver uma consciência da importân-
os custos de investimento ou de capital (recuperação
cia dos problemas do domínio hídrico e o empe-
do investimento inicial numa perspectiva de substituição
nhamento dos cidadãos na sua resolução.
das infra-estruturas no final da sua vida útil), bem como
os custos de exploração, manutenção e administrativos.
4 — Economia da água
Num segundo nível, os custos económicos incluem os
O desenvolvimento das sociedades nas economias custos de oportunidade e as externalidades económicas
modernas provoca grandes pressões sobre os recursos (custos de escassez ou de recurso).
hídricos geradas quer pelas populações (problemas de Para os bens correntes num mercado livre, os custos
poluição e de garantia decorrentes da concentração são crescentes com a quantidade produzida e os bene-
urbana, do crescimento demográfico, etc.), quer pelas fícios são decrescentes, podendo ser medidos através
actividades produtivas (agricultura, industria, energia, dos custos e dos benefícios marginais. Os preços mais
etc.). Neste quadro, num primeiro momento, torna-se adequados são os obtidos pela intersecção da função
necessário investir fortemente em infra-estruturas que da oferta e da procura.
possibilitassem o aumento da oferta, sem preocupações Para o produto «água» os mecanismos correntes de
de utilização racional, impactes no ambiente, susten- mercado livre não são apropriados para fixar os preços
tabilidade económico-financeira, etc. Nesta fase, o inves- de água a níveis correctos, implicando a necessidade
timento é realizado integralmente pelo Estado, o que de intervenção do Estado, normalmente através de enti-
mais acentua na opinião pública a ideia de serviços de dades reguladoras que procuram compatibilizar os inte-
água gratuitos. Num segundo momento, face aos pro- resses da Comunidade com os interesses privados, prin-
3756 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A N.o 90 — 17 de Abril de 2002
biológica das redes hidrográficas, o qual não promover uma gestão integrada, equilibrada,
dispensa um aperfeiçoamento do conhecimento eficaz e solidária entre os vários sectores uti-
dos ecossistemas aquáticos e associados; lizadores da água, incluindo a conservação da
5.o A boa gestão dos recursos hídricos aconselha natureza, que reforce a cooperação e a articu-
uma atitude conciliadora das políticas sectoriais lação e promova a maximização dos benefícios
face à necessidade imperiosa de uma gestão sus- da utilização da água e a minimização dos custos
tentável que salvaguarde a integridade estru- de investimento e de operação;
tural e funcional dos ecossistemas dulçaquícolas, 16.o As alterações climáticas vêm reforçar a impor-
que se procura nas medidas e acções propostas; tância de uma cultura de investigação, conhe-
6.o A monitorização e o permanente diálogo com cimento e de gestão que permita antecipar os
as autoridades espanholas é fundamental para desafios e desencadear as respostas adequadas;
a concertação de medidas de gestão conjuntas 17.o Uma gestão qualitativa sustentável deve pro-
que visem a melhoria da qualidade da água nas teger e preservar todas as águas subterrâneas
bacias dos rios internacionais; e melhorar a qualidade actual;
7.o Uso eficiente e racional da água no regadio tem 18.o É necessário dar a máxima prioridade à dimi-
melhorado nos últimos anos através de sistemas nuição da pressão ambiental proveniente das
e tecnologias de rega mais modernas, mas o fontes difusas que estão associadas às activida-
uso das boas práticas agrícolas pode ainda cres- des agrícolas;
cer bastante, caminhando-se desta forma para 19.o Deve-se garantir um elevado nível de protecção
a minimização dos actuais impactes negativos em relação às actividades e instalações que pro-
resultantes desta actividade; duzem efluentes líquidos e sólidos, garantindo
8.o Reconhecimento da importância da formulação ao mesmo tempo a desactivação e a transfor-
de uma estratégia para a gestão integrada das mação desses focos de poluição pontual (por
zonas costeiras e dos estuários, consubstanciada exemplo, aterros e minas abandonados);
nos necessários ajustamentos institucionais; 20.o Uma gestão quantitativa sustentável deve garan-
o
9. As respostas a dar para a resolução dos pro- tir a disponibilidade a longo prazo das águas
blemas da qualidade da água passam pela apli- subterrâneas e garantir que estas não sejam
cação do quadro legal, pela construção e recu- sobreexploradas de modo a evitar alterações
peração de infra-estruturas e pela gradual trans- irreversíveis e a deterioração dos ecossistemas
formação da gestão pelo lado da procura; que dependem dela ou ainda fenómenos como
10.o Para as actividades utilizadoras de água im- os de intrusão marinha em aquíferos costeiros;
põe-se ainda promover a construção de bastan- 21.o Tendo em conta a complementaridade hidro-
tes infra-estruturas, como, por exemplo, no caso lógica entre as águas superficiais e subterrâneas,
de sistemas de drenagem, tratamento e destino deve a sua gestão integrada contemplar a uti-
final de efluentes domésticos e industriais; lização da água subterrânea numa perspectiva
11.o Para muitas das infra-estruturas existentes de da regulação dos recursos hídricos, optimizando
adução e distribuição de água que apresentam no espaço e no tempo as potencialidades hídri-
elevados níveis de perdas e fugas é necessário cas de cada sistema aquífero de acordo com
promover a sua reabilitação funcional. No caso a procura prevista;
de infra-estruturas como as barragens, há que 22.o Desafio fundamental do direito de protecção
desenvolver acções conducentes à sua melhoria da água é o de melhorar a sua eficácia, deter-
funcional em termos ambientais; minação e comunicabilidade;
12.o Para a gestão do lado da procura é fundamental 23.o Promover o recurso a instrumentos indirectos
promover a aplicação de instrumentos econó- de regulação de natureza jurídica que possibi-
micos que sustentem uma política de gestão de litem o reforço do grau de auto-reflexividade
recursos hídricos com maior equidade e justiça e de eficiência do sistema jurídico;
social, a par com uma maior e melhor parti- 24.o Clarificar o fundamento das normas de protec-
cipação do público; ção da qualidade da água;
13.o Estabelecimento de caudais ecológicos constitui 25.o Clarificar (através de uma compatibilização ade-
a resposta necessária aos impactes dos apro- quada ente a dimensão garantística do direito
veitamentos hidráulicos, minorando-os e permi- e a necessária dimensão público-ingerente do
tindo manter um determinado grau de integri- direito de protecção da água) as consequências
dade ecológica; que a protecção jurídico-ambiental acarreta
14.o A elevada variabilidade espacial e temporal das para os direitos de uso dos recursos hídricos
disponibilidades de água exige políticas de ges- (incluindo os direitos reais como o direito de
tão que atenuem os efeitos desta variabilidade propriedade) atribuídos antes do aparecimento
nos vários usos da água e promovam desenvol- da nova axiologia ambiental;
vimento sustentado de todas as regiões do País. 26.o Superar as deficiências que o actual direito
Uma gestão cuidada da procura de água, que revela a este nível, criando modelos de decisão
promova a racionalização do uso da água e uma jurídicos que permitam uma gestão integrada
utilização planeada da capacidade de armaze- e adequada da informação no que respeita, por
namento disponível, que permita armazenar em exemplo, à obtenção, comunicação, tratamento
períodos húmidos para fazer face a períodos e sistematização entre utilizadores da água, des-
mais secos, são os elementos de base dessas tes para a Administração e entre entidades
políticas; administrativas;
15.o Em articulação com instrumentos de ordena- 27.o A gestão e planeamento dos recursos hídricos
mento do território e do domínio hídrico e ins- presume a consideração de unidades territoriais
trumentos económicos, essas políticas deverão configuradas a partir das bacias hidrográficas;
N.o 90 — 17 de Abril de 2002 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A 3759
28.o Necessidade de encarar a água como um bem pelos quais deverão ser pautados os exercícios prospec-
económico, cuja gestão deverá orientar-se por tivos. Não obstante a cenarização socioeconómica partir
princípios de eficiência económica, satisfazendo de pressupostos de grande abrangência temática e geo-
a procura numa óptica de sustentabilidade; gráfica, por força da inserção regional e institucional
29.o Os custos dos serviços da água, designadamente de Portugal, no PNA pretendeu-se uma prospectiva
para as utilizações industriais, domésticas e agrí- socioeconómica profundamente direccionada sobre os
colas, deverão ser recuperados obrigatoria- factores que importa considerar em planeamento de
mente até ao ano 2010 (DQA, artigo 9.o), recursos hídricos e que designadamente influenciam as
devendo para tal ser realizada uma análise eco- necessidades de água e o grau de modificação dos sis-
nómica das utilizações da água no País; temas hídricos que decorrem das actividades humanas
30.o Os mecanismos correntes de mercado livre não (artificialização dos meios hídricos, geração de resíduos,
são apropriados para fixar os preços de água etc.). Consideraram-se, por isso, os seguintes agrupa-
a níveis correctos, implicando a necessidade de mentos de usos da água: uso urbano (que inclui o uso
intervenção do Estado, normalmente através de doméstico), industrial, agrícola e turístico e produção
entidades reguladoras, que procuram compati- de energia.
bilizar os interesses da comunidade com os inte- Assim, a prospectiva socioeconómica de suporte ao
resses privados; PNA tornou necessário estimar variáveis fundamentais,
31.o A existência de um mercado da água em pleno designadamente relacionadas com o produto das acti-
desenvolvimento, as características específicas vidades económicas, evolução demográfica (população
do produto «água» e a entrada de novas enti- residente) e evolução das áreas de rega. Tal exercício
dades na gestão da água (empresas públicas, foi efectuado tomando como horizonte prospectivo o
privadas ou mistas) levam a realçar, com par- ano de 2020 e dois patamares intermédios, 2006 e 2012.
ticular atenção, dentro do âmbito da economia Estes horizontes temporais de curto, médio e longo pra-
da água, os aspectos relativos ao binómio mer- zos inserem-se numa estratégia mais vasta que se rela-
cado da água-qualidade dos serviços; ciona com as opções de planeamento de recursos hídri-
32.o Necessidade de estabelecer um novo quadro de cas assumidas pelo INAG e que foram aplicadas já aos
financiamento das entidades públicas, uma vez PBH.
que o Estado continua a ter um papel insubs-
6.2 — Horizontes de planeamento
tituível, em que os próprios beneficiários (uti-
lizadores de água) da acção destas entidades As intervenções nos recursos hídricos, para além dos
deverão contribuir. Em termos económicos, sig- efeitos imediatos que podem produzir, têm repercussões
nifica que, em algumas áreas, deixa de ser toda mais ou menos significativas, a médio e longo prazos,
a comunidade a suportar os custos de benefícios pelo efeito de persistência ou de acumulação decor-
associados a grupos de utilizadores bem iden- rentes de outras acções diferidas no tempo e no espaço.
tificados. Por outro lado, muitas das soluções necessárias para
a correcção de situações, resolver problemas ou satis-
6 — Cenários de evolução socioeconómica fazer a procura actual e previsível de água implicam
6.1 — Introdução intervenções de grande envergadura ou de execução
faseada no tempo. Estas intervenções têm de ser pre-
Um dos elementos chave do planeamento de recursos vistas de modo a responderem a solicitações actuais e
hídricos é a análise prospectiva da evolução das neces- futuras, apesar da incerteza associada a estas.
sidades de água dos diferentes sectores de actividade, Assim, é necessário estabelecer um período de ava-
no quadro do desenvolvimento socioeconómico nacional liação de planeamento significativamente amplo para
e regional e do ordenamento do território, em horizontes se retirarem dos investimentos a realizar os resultados
temporais relativamente alargados. Porém, deverá económicos e ambientais optimizados, tendo em linha
entender-se a este propósito que as realidades futuras de conta a vida útil dos equipamentos e a evolução
são o resultado de interacções complexas de variáveis, da procura.
algumas delas controláveis, mas muitas outras que não O PNA, por um lado, avalia as pressões futuras sec-
o são. Na verdade, o planeamento é um processo dinâ- toriais e espaciais sobre os recursos hídricos e, por outro,
mico no domínio dos recursos hídricos onde as incer- avança propostas para a satisfação da procura que lhe
tezas são especialmente relevantes e não podem deixar estão inerentes, combinando as distintas soluções pos-
de ser consideradas de forma explícita. Estas incertezas, síveis, estruturais e não estruturais, os recursos super-
desde logo presentes nos fenómenos hidrológicos e nas ficiais e subterrâneos e o aumento da oferta e redução
leis e métodos estatísticos que permitem a sua avaliação, das ineficiências.
são sobretudo insuperáveis no que respeita à formulação As previsões para o futuro, tendo em conta as incer-
dos cenários socioeconómicos que influem nas utiliza- tezas próprias do exercício de previsão, exigem a for-
ções da água. De facto, as utilizações da água influen- mulação de cenários alternativos quantificados para dis-
ciam e são influenciadas por factores de carácter mais tintos momentos de avaliação.
ou menos permanente à escala da vida humana (cli- O Decreto-Lei n.o 45/94 estabelece que os planos
máticos, geomorfológicos e biofísicos) e outros de natu- devem definir objectivos de curto, médio e longo prazos,
reza profundamente dinâmica, como são os socioeco- logo o planeamento tem de estabelecer horizontes ade-
nómicos e demográficos. quados aos objectivos.
A última década veio introduzir um dinamismo suple- Face à natureza dos recursos a planear, entende-se
mentar às realidades socioeconómicas, fazendo surgir como de curto prazo 6 anos, médio prazo 12 anos e
um conceito novo que as influencia, a globalização. A longo prazo 20 anos.
complexificação dos mercados, a realização de alianças Além disso, para a fixação dos horizontes de pla-
e parcerias económicas e um serviço tecnológico em neamento consideraram-se como factores determinan-
permanente evolução posto ao dispor do desenvolvi- tes: a vigência do 3.o Quadro Comunitário de Apoio
mento, da inovação, da produção e da redução do tempo (2000-2006), os horizontes de planeamento dos planos
de vida dos produtos são afinal os vectores fundamentais de bacia espanhóis (1992, 2002 e 2012), o período de
3760 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A N.o 90 — 17 de Abril de 2002
vigência do próprio PNA (10 anos — 2012) e um período do Planeamento e da Administração do Terri-
razoável de longo prazo tendo em consideração as incer- tório (1995);
tezas associadas às previsões e a extensão mínima para Portugal 2000-2006, Plano de Desenvolvimento
que as quantificações de dimensionamento cubram a Regional, Ministério do Equipamento, do Pla-
vida útil dos equipamentos que consubstanciam as medi- neamento e da Administração do Território
das a propor. (1995);
Com estes pressupostos foram estabelecidos como Energia 1995-2015, Estratégia para o Sector Ener-
horizontes de planeamento: gético, Direcção-Geral da Energia, Ministério da
Indústria e Energia;
Situação actual — 2001 (embora reportado à data Estatísticas Demográficas Nacionais Provisó-
de conclusão dos PBH — 2000); rias — Censos 2001, Instituto Nacional de Esta-
Horizonte de curto prazo — 2006; tística;
Horizonte de médio prazo — 2012; Recenseamento Geral Agrícola de 1999, Instituto de
Horizonte de longo prazo — 2020. Hidráulica, Engenharia Rural e Ambiente.
Para cada cenário de cada horizonte de planeamento Nos cenários socioeconómicos adoptados para os
são avaliadas as pressões sobre os recursos hídricos e horizontes 2006, 2012 e 2020 consideram-se os atributos:
as respostas aos problemas e desafios colocados.
Os horizontes de planeamento, embora se estabele- i) População residente;
çam em momentos concretos na evolução temporal, não ii) Área irrigável; e
implicam a descontinuidade das muitas intervenções iii) Activos na indústria.
necessárias nos recursos hídricos, designadamente no
que se refere a trabalhos permanentes de monitorização Em face da informação disponível e na ausência de
e avaliação. estatísticas oficiais elaboradas para os horizontes de pla-
neamento pretendidos e para as áreas definidas como
6.3 — Prospectiva socioeconómica bacias de avaliação (em cujo limite se faz balanço
hídrico), a projecção do número de residentes teve como
Portugal tem vindo a operar alterações significativas base valores relativos ao número de residentes por fre-
da sua economia por via da alteração da estrutura pro- guesias e por concelhos na situação actual (RGP 2001).
dutiva, da qualificação dos seus recursos humanos, da Em seguida os residentes foram «distribuídos» pelas
penetração em novos mercados, da execução de infra- bacias hidrográficas e pelas bacias de avaliação e, pos-
-estruturas e do próprio posicionamento do Estado teriormente, foram utilizadas as taxas de crescimento
perante a economia. propostas pelos PBH com vista à obtenção do número
Para compreensão do exercício de prospectiva de residentes nos horizontes de planeamento.
socioeconómica que enquadra o PNA, deverá partir-se Relativamente aos activos na indústria transforma-
do pressuposto de que está em causa um exercício pro- dora, assume-se o elenco de activos na indústria trans-
fundamente direccionado do ponto de vista temático. formadora recolhidos no âmbito dos PBH para 1996
Foram produzidos elementos de trabalho internamente e toma-se esse valor como situação de referência. As
no INAG, porém, o exercício prospectivo em causa tra- projecções para os horizontes de planeamento foram
duz sobretudo a harmonização e compatibilização dos indexadas ao crescimento demográfico, admitindo cons-
cenários constantes dos PBH, bem como alguma actua- tante a taxa de actividade da população activa, que,
lização de dados relativos à situação de referência. como é sabido, tem sido uma característica da economia
Alguma da informação que interessa à prospectiva portuguesa nos últimos anos.
socioeconómica utilizada nos PBH foi actualizada recen- No que concerne à previsão da evolução das áreas
temente. Exemplos disso foram os dados sobre as áreas de regadio, parte-se da área de regadio na situação de
irrigáveis em Portugal. Está em causa informação actua- referência por bacia hidrográfica recolhida por concelho
lizada em períodos de 10 anos, sendo que vigoram pelo RGA 99 e projectam-se nos horizontes de pla-
actualmente as estatísticas do Recenseamento Geral neamento utilizando as taxas de crescimento indicadas
Agrícola de 1999 (RGA 99), cujos resultados finais só pelos respectivos PBH.
foram conhecidos em 2001. Interessa ainda referir a consideração simultânea do
Relativamente aos dados sobre a população residente aumento da eficiência dos usos da água.
em Portugal, no início de 2001, eram conhecidos apenas Como é sabido, das actividades humanas decorrem
dados definitivos do Recenseamento Geral da Popu- impactes sobre os recursos e sistemas hídricos, funda-
lação de 1991 (RGP 91) e projecções do número de mentalmente por quatro vias:
residentes para datas posteriores. O Recenseamento
Geral da População de 2002 (RGP 2001) veio revelar i) Pela extracção ou mobilização de volumes de
recentemente que muitas das projecções demográficas água, envolvendo modificação local ou regional
estimavam por defeito o número de residentes. Quase do ciclo natural da água;
todos os modelos demográficos utilizados em Portugal ii) Lançamento de efluentes;
(também os que se usaram nos planos de recursos hídri- iii) Modificação do regime hidrológico e sedimen-
cos) determinam uma tendência regressiva da popu- tar;
lação. iv) Alteração das biocenoses, nos meios hídricos
Outros documentos de carácter nacional foram tidos e nas galerias ripícolas associadas.
em conta para efeitos da prospectiva dos planos de
recursos hídricos, sem prejuízo de outros de carácter Para avaliação dos reflexos do desenvolvimento
regional, particularmente: socioeconómico no domínio dos recursos hídricos, são
considerados dois cenários, traduzindo duas possíveis
Portugal 2010, Posição no Espaço Europeu, Depar- alternativas de pressão diferencial sobre os recursos e
tamento de Prospectiva e Planeamento (DPP), sistemas hídricos e avaliados sob três determinantes:
Ministério do Equipamento, do Planeamento e
da Administração do Território (1995); i) A evolução demográfica;
Plano Nacional de Desenvolvimento Económico e ii) A evolução da área de regadio; e
Social 2000-2006, Ministério do Equipamento, iii) A evolução das actividades industriais.
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Tais determinantes são considerados numa versão que As bacias hidrográficas das ribeiras do Oeste e do
traduz o seu desenvolvimento minimalista (cenário A) Lis traduzem uma tendência de estabilização demográ-
e noutra que traduz uma versão maximalista do seu fica e económica, da mesma forma que a bacia do Tejo.
desenvolvimento (cenário B). Nesta última, a concentração no troço final da bacia
Quanto à evolução demográfica (figura 6.3.1), é a é um fenómeno que continua, em virtude de continuar
tendência para o envelhecimento da população resi- a ser o maior pólo de atracção de conhecimento, de
dente acompanhado por fenómenos de diminuição de mais-valia e de oferta de emprego (o que acentua as
taxas de fertilidade que marca os cenários futuros, jus- variáveis anteriores). Em contrapartida, as bacias dos
tificando-se em causas médicas relacionadas com a ele- rios do Noroeste tendem a despovoar-se, à excepção
vação dos cuidados de saúde e o aumento da esperança do Leça, que, por ser uma bacia urbana, continua a
funcionar como área de atracção da coroa metropolitana
média de vida. do Porto.
Decorrem das novas estatísticas demográficas previ- De todas as bacias hidrográficas, a das ribeiras do
sões evolutivas positivas do quantitativo populacional Algarve apresenta uma franca tendência para o cres-
que apontam para um crescimento da população no cimento demográfico. Certamente as actividades turís-
continente acima de 10 milhões de habitantes em 2020. ticas, porque assumem uma dinâmica fortíssima, mesmo
O cenário A considera um crescimento populacional no quadro nacional, poderão justificar este facto.
moderado para o continente, escondendo, porém, a nível No cenário B em 2020 considera-se um quantitativo
regional algumas tendências importantes, regressivas ou populacional significativamente superior ao correspon-
de estabilização do número de residentes. Expressa afi- dente de 2001: será mais 1 milhão de pessoas, o que
nal uma litoralização e aumento da concentração metro- traduz um aumento anual de cerca de 50 000 pessoas.
politana, embora a taxas menores do que as da década Este cenário é forçosamente justificado pela continua-
de 80 e início de 90. As cidades médias do interior ção da tendência de Portugal como país de acolhimento.
tendem a consolidar-se e adquirir uma dimensão crítica O cenário B explora tendências de crescimento forte-
que polariza novas actividades económicas, fazendo-o mente positivo para quase todas as bacias hidrográficas
porém à custa do despovoamento dos pequenos meios do continente. Algumas tendências em bacias como a
rurais. Da mesma forma, centros de maior dinâmica do Minho, que no cenário A é de regressão populacional,
económica tendem a manter-se e a reforça-se, polari- no cenário B é de crescimento ou noutros casos de esta-
bilização, continuando a bacia do rio Guadiana como
zando em seu torno maiores concentrações demográ- regressiva mas de forma muito mais ligeira que no
ficas de malha alargada e justificada pelas residências cenário A.
secundárias. A evolução das áreas de regadio (figura 6.3.2) é em
grande medida dependente dos desenvolvimentos que
a nova PAC trouxer e das quotas de mercado que forem
permitidas para as diferentes culturas de regadio. O
cenário A ensaia, sobretudo, um aumento gradual das
áreas de regadio, enquanto que o cenário B constitui
o limite máximo até onde é plausível pensar que se
poderão expandir as áreas de regadio no continente.
a manifestação tendencial do comportamento dos pri- indústrias de material de transporte (fileira automóvel
vados perante o mercado agrícola nos próximos anos. designadamente) e materiais de construção (cerâmicas
Da área a implementar neste período, parte signi- em particular).
ficativa corresponde ao empreendimento de Alqueva,
que será responsável por 26 200 ha. Em contrapartida,
noutras zonas do País são seguidas as tendências his-
tóricas das últimas décadas na criação de novos regadios
ou de abandono dos mesmos. Este último é o caso das
bacias hidrográficas do Noroeste, onde o regadio tra-
dicional é tendencialmente abandonado (como no
Minho) ou estabilizaria em termos do total da área irri-
gável (Lima, Cávado e Ave).
O período de até 2012 parece razoável considerar-se
como sendo aquele em que o crescimento é maior.
Representa quase 120 000 ha de novas áreas, de um
total de aproximadamente 140 000 ha, sendo que, entre
2012 e 2020, a taxa de crescimento são apenas de
3000 ha/ano (e de cerca de metade no período sub-
sequente).
De todas as bacias hidrográficas do continente, as
bacias do Guadiana e Sado (também o Algarve) são
aquelas que têm um aumento mais significativo das áreas Figura 6.3.3 — Prospectiva sobre a evolução dos activos no sector
irrigáveis. As obras de fins múltiplos que foram, estão da indústria transformadora no continente
ou virão a ser construídas aumentam significativamente
os recursos hídricos disponíveis. Todavia, o projecto de O cenário A corresponde a um aumento moderado
Alqueva encontra com o cenário A uma implementação dos efectivos da indústria transformadora até 2020 de
incompleta até 2020. O projecto prevê que até 2025 cerca de 50 mil efectivos (totaliza 777 mil activos), o
pudesse vir a ficar concluído, porém, a conjuntura pre- que traduz uma taxa de crescimento médio de 2300 efec-
vista pelo presente cenário não o propiciaria. tivos por ano, o que se afigura como razoável para o
O cenário B apresenta-se com latitude suficiente para crescimento demográfico minimalista e traduz bem a
permitir a implementação integral do projecto de tendência recente de estabilização do sector industrial
Alqueva e que, por prever a implementação de na economia (em termos de sector empregador).
110 000 ha de área total equipada com rega, tem pre- Seguindo de perto as tendências demográficas, as bacias
visivelmente implementado até 2020 as áreas de rega hidrográficas «mais industriais» continuam a sua pre-
previstas, manifestando-se o voluntarismo hidroagrícola ponderância. A bacia do Leça representa cerca de 10 %
do Estado a par de um dinamismo suplementar intro- da população empregada no sector da indústria trans-
duzido por agricultores privados. formadora, seguida de muito perto por bacias hidro-
O cenário B traduz um aumento da área de rega gráficas como o Douro e Vouga e o Ave com 9 %. A
de até 220 000 ha, totalizando portanto nesse horizonte bacia do Tejo representa 8,5 % da população e todas
1 010 000 ha. Até 2006 a taxa de crescimento é muito as restantes percentagens significativamente inferiores.
elevada, cerca de 17 500 ha/ano. É uma tendência cons- O cenário B traduz uma espacialização idêntica dos
trastante com qualquer realidade homóloga no passado efectivos da indústria transformadora, sendo que, inflac-
em Portugal e que, além de 70 000 ha de iniciativa cionada do maior número de residentes. O cenário prevê
pública deixa a possibilidade de privados virem a imple- que em 2020 cerca de 820 mil pessoas possam exercer
mentar até 30 000 ha. Traduz portanto uma conjuntura a sua actividade na indústria transformadora, tradu-
de mercado extremamente favorável e que de algum zindo, portanto, um aumento de cerca de 100 mil efec-
modo contraria o futuro tendencial, conhecidos que são tivos desde 2000.
os constrangimentos ao desenvolvimento da agricultura
portuguesa. 7 — Principais pressões sobre os recursos hídricos
No que se refere à evolução proposta para a indústria
transformadora (figura 6.3.3), adoptando para a situação 7.1 — Introdução
de referência a informação estatística de 1996, de acordo
com os PBH, existirão na situação de referência cerca Neste subcapítulo é apresentada a avaliação das pres-
de 730 mil activos, representando 7,4 % da população sões que as principais actividades humanas exercem
residente total ou cerca 24 % da população activa (que sobre os recursos hídricos associadas aos cenários de
por sua vez representa 48 % da população total). O sec- evolução socioeconómica antes estabelecidos.
tor de emprego na indústria transformadora traduz na O simples facto de se estabelecerem cenários
perspectiva da evolução recente alguma introversão das socioeconómicos para cada horizonte de planeamento
fileiras química e alimentar, alguns ganhos de compe- não conduz de forma directa aos cenários de pressão
titividade do sector da metalurgia reflectidos pelo cres- sobre os recursos hídricos. Ou seja, aos cenários
cimento do VAB no sector, alguma internacionalização socioeconómicos maximalistas podem não corresponder
do sector da metalomecânica e da produção de equi- as maiores pressões sobre os recursos hídricos, o que
pamentos, algumas debilidades das fileiras têxtil e flo- também é válido para a condição inversa. Portanto, é
restal (tradicionalmente as indústrias de exportação do necessário determinar para cada cenário socioeconó-
País), devidas basicamente às desvantagens de uma afir- mico de cada horizonte de planeamento as repercussões
mação internacional com base no factor preço, e dina- sobre os recursos hídricos em termos de necessidades
mismo dos novos pólos de especialização industrial, e consumos de água e respectivas águas residuais de
agindo na produção de bens intermédios, com fortes retorno, para delas se extraírem as características dos
possibilidades de internacionalização e baseados nas cenários de pressão sobre os recursos hídricos.
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As condições determinantes dos cenários para os hori- considera-se que haverá um acréscimo moderado das
zontes de planeamento compõem-se de condições natu- capitações que as aproximará das taxas padrão. Para
rais, por um lado, e das que decorrem das actividades taxas de atendimento baixa (entre 25 % e 50 %) haverá
humanas, por outro, estas mais incertas que as naturais. a aquisição de hábitos de consumo superiores ao da
Contudo, a aleatoriedade das variáveis naturais carac- população que já se encontra servida e, portanto, assis-
terísticas dos recursos hídricos pode ser perturbada por tir-se-á a um crescimento acentuado dos valores das
fenómenos de larga escala temporal e espacial nos quais capitações.
se incluem as alterações climáticas. As pressões sobre Os cenários completam-se associando-lhe taxas de
os recursos hídricos nos cenários de planeamento não perdas de água nas redes e equipamentos que deverão
podem deixar de reflectir esses efeitos, embora o hori- diminuir ao longo do período de planeamento 2000-2020
zonte de longo prazo para o PNA seja significativamente do actual valor médio nacional 33 % para 15 %.
pouco extenso quando comparado com a escala a que Tendo por base as projecções da população residente
se avaliam os possíveis efeitos das alterações climáticas reportada às sedes de freguesia, determinou-se a evo-
sobre as disponibilidades e necessidades de água. O lução temporal das capitações, por dimensão do aglo-
estado dos recursos hídricos para cada cenário e para merado, a evolução do índice de atendimento e a evo-
cada horizonte de planeamento resulta da avaliação con- lução da taxa de perda de água nas redes de distribuição,
jugada das diversas contribuições sectoriais num quadro de modo a obter-se a espacialização das necessidades
de análise onde concorrem pressões endógenas e exó- para abastecimento urbano. As capitações, as taxas de
genas e condicionantes. perda e os índice de atendimento nos horizontes de
planeamento de acordo com a dimensão do aglomerado
7.2 — Principais pressões sobre os recursos hídricos constam no quadro 7.2.1. Para concelhos cuja densidade
nos horizontes de planeamento de população, referente ao ano de 2001, seja superior
a 100 hab./km2, por se considerar que estes concelhos
A avaliação das pressões sobre os recursos hídricos, têm hábitos de consumo de água marcadamente urba-
para os cenários e horizontes de planeamento estabe- nos, o valor da capitação é associado à totalidade da
lecidos anteriormente, centra-se na procura de água e população do concelho e posteriormente distribuída
na produção de águas residuais associadas às popula- pelas sedes de freguesia em função da relação percentual
ções, agricultura e indústria. entre a população do concelho e da freguesia. Para os
Para os horizontes de planeamento considera-se em restantes concelhos, a capitação é associada à população
simultâneo a evolução da pressão sobre os recursos da sede de freguesia.
hídricos e os efeitos das medidas de aumento de capa- Os valores das necessidades de água e a produção
cidade de resposta dos sistemas existentes e a instalar, de águas residuais associadas à população, que se apre-
designadamente o aumento de capacidade de regula- senta no quadro 7.2.5, tem ainda como principais
rização, o aumento da eficiência de utilização e da redu- pressupostos:
ção das perdas nas redes e sistemas.
O cálculo das necessidades de água e águas residuais Os volumes das águas residuais produzidas pela
das populações não se esgota na consideração do população correspondem aos volumes dos retor-
número de habitantes servidos para cada horizonte de nos das águas de abastecimento;
planeamento 2000, 2006, 2012 e 2020. Para tais efeitos, A taxa de retorno de águas de abastecimento é
completa-se com indicadores de capitações variáveis em de 80 % em todos os horizontes de planeamento;
função das taxas de atendimento actuais e de valores No ano 2006 atinge-se a taxa de atendimento em
de capitações padrão. Ou seja, para populações com abastecimento domiciliário de água por sistemas
taxas de atendimento elevadas na situação actual (mais públicos prevista no PEAASAR de 95 % e que
de 75 %) o aumento da taxa de atendimento não altera em 2020 a taxa máxima de 97 % (3 % de
o padrão de consumo dos que actualmente são servidos isolados);
e os novos «clientes» assumirão o padrão vigente. Para As alterações climáticas não afectam os parâmetros
taxas de atendimento moderadas (entre 50 % e 75 %) da procura de água das populações.
QUADRO 7.2.1
Horizontes de planeamento
Indicadores
2000 2006 2012 2020
Da análise da figura 7.2.1 e comparativamente com O regadio em Portugal é a actividade de maior con-
a situação actual (8 090 240 habitantes servidos) veri- sumo de água.
fica-se que as maiores evoluções das pressões no período Para os horizontes de planeamento adoptados (2006,
2000-2020 (9 600 000 habitantes ou 9 800 000 habitantes 2012 e 2020) as necessidades de água para regadio para
servidos em 2006, 9 780 000 habitantes ou 10 140 000 cada cenário socioeconómico dependem de múltiplos
habitantes em 2012, 10 010 000 ou 10 640 000 habitantes factores que podem ter efeitos em sentidos opostos. Por
em 2020) sobre os recursos hídricos se observa nas bacias isso, pode não haver aumento de consumo quando
hidrográficas dos rios Tejo e Douro (mais 160 hm3/ano aumentam as áreas de regadio em termos globais e regio-
na bacia hidrográfica do rio Tejo e 80 hm3/ano na bacia nais, o que constitui uma das grandes linhas de orien-
hidrográfica do rio Douro) e assiste-se a uma manu- tação do PNA.
tenção das necessidades na bacia hidrográfica dos rios Concorrem como factores de avaliação das pressões
Minho e Mira bem como a uma diminuição das neces- do regadio sobre os recursos hídricos, para além das
sidades na bacia hidrográfica do rio Guadiana (menos áreas de regadio, as dotações das culturas, as eficiências
6 hm3/ano). Nas restantes bacias hidrográficas assiste-se de transporte, distribuição e aplicação da água e a taxa
a um crescimento moderado das necessidades. Desta- de utilização efectiva das áreas susceptíveis de serem
ca-se que não estão contabilizados os valores referentes regadas e que são variáveis no espaço e no tempo.
ao turismo e população flutuante, que assume especial As necessidades de água actuais para regadio foram
relevância no PBH das ribeiras do Algarve. calculadas pelo Instituto de Hidráulica, Engenharia Rural
No que se refere às águas residuais, cujos resultados e Ambiente do Ministério da Agricultura, do Desen-
volvimento Rural e das Pescas (IHERA/MADRP) com
se apresentam no quadro 7.2.6, essa conclusão não é
base nas áreas regadas em cada concelho do RGA 99,
totalmente válida em termos de evolução tendo presente
nas dotações determinadas em cada concelho conside-
que na actualidade a generalidade da população dispõe
rando um conjunto de culturas representativo na região
de uma qualquer forma de abastecimento domiciliário agro-ecológica e nas eficiências globais de rega por região
público ou não público e que de forma directa ou indi- agrária apresentadas no quadro 7.2.2.
recta as águas residuais acabam por afluir à rede hidro- Com base nas áreas de rega, nas dotações por con-
gráfica ou aquíferos. Todavia, os maiores valores da evo- celho do RGA 99, que se consideraram constantes nos
lução das necessidades de água e respectivos retornos horizontes estudados, e nestas eficiências foram calcu-
por unidade de área não se verificam nas mesmas bacias ladas as necessidades potenciais futuras de água para
hidrográficas. Estes acontecem nas bacias hidrográficas regadio para dois cenários (um de maior expansão e
dos rios Leça e Ave com 11,7 hm3/km e 4,3 hm3/km2, outro de menor expansão da área de regadio).
respectivamente. Sendo que as necessidades potenciais correspondem
Na figura 7.2.2 apresenta-se a distribuição espacial à rega da totalidade da área equipada, calcularam-se
das cargas geradas no cenário no território do continente ainda as necessidades efectivas que correspondem à área
onde se destaca o valor do parâmetro CQO da bacia efectivamente regada (650 000 ha ou 693 000 ha em
hidrográfica do rio Tejo no cenário B do ano 2020. 2006, 678 000 ha ou 750 000 ha em 2012 e 678 000 ha
Em termos de geração de carga por unidade de área ou 808 000 ha em 2020) dentro da área equipada e que
o maior valor verifica-se na bacia hidrográfica do rio assume as taxas médias cujos valores constam no
Leça com o valor de 80 t/ano/m2. Este tipo de análise quadro 7.2.3.
geral não reflecte, contudo, os desequilíbrios regionais As áreas de regadio prováveis para os horizontes de
dentro do espaço das bacias hidrográficas sobretudo nas planeamento foram calculadas aplicando as taxas de
de maior dimensão, onde a população se concentra na crescimento das áreas de regadio propostas pelos PBH,
sua parte de jusante (Lisboa, Porto, Setúbal, Viana, que tiveram em conta a proposta de novos regadios
Aveiro, etc.). 2000-2006 do MADRP.
QUADRO 7.2.2
Minho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55 58 63 68
Lima . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55 58 63 68
Cávado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55 58 63 68
Ave . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55 58 63 68
Leça . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55 58 63 68
Douro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55 63 68 72
Vouga . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55 58 62 69
Mondego . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55 58 62 69
Lis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55 58 62 69
Tejo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62 64 68 71
Ribeiras do Oeste . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62 67 73 77
Sado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 62 64 70
Mira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 62 64 70
Guadiana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 63 69 75
Ribeiras do Algarve . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60 69 73 77
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As dotações actuais disponíveis para cada concelho consideram-se que se mantêm constantes ao longo do
período de planeamento, admitindo que no conjunto das culturas de referência qualquer alteração não introduz
variações significativas nas dotações médias.
QUADRO 7.2.3
PBH 2000
Cenário A Cenário B Cenário A Cenário B Cenário A Cenário B
As eficiências globais de rega assumem-se que evo- Tendo presente o fim em vista deste PNA, apenas
luem progressivamente e foram estabelecidas tendo se calcularam as cargas geradas em termos de fósforo
como referência os valores propostos pelo e azoto de origem agrícola de regadio e as com origem
IHERA/MADRP e pelos PBH, tendo como factor na suinicultura. Neste caso, considerou-se que para efei-
determinante o tipo de rega predominante e a dimensão tos prospectivos se adopta uma redução dos seus valores
tipo das parcelas de regadio para cada região agrária. como poluição difusa para 50 % até ao ano 2020. As
Está subjacente a esta estimativa o facto de apenas 13 % maiores cargas poluentes de origem difusa destacam-se
da área de regadio corresponder a perímetros de rega para as bacias dos rios Tejo, Douro e Mondego.
públicos e que, portanto, nos 87 % de área é de regadio A indústria é o sector económico onde é mais difícil
privado, o que pressupõe eficiências de rega superiores, fazer avaliação de necessidades de água e produção de
tendo em conta que parte significativa de águas é dis- águas residuais, devido às grandes mudanças tecnoló-
gicas que caracterizam o sector e ao incentivo para a
tribuída por bombagem.
utilização das melhores tecnologias disponíveis.
A conclusão a que se chega pela análise do qua- Para a situação actual foi possível determinar as
dro 7.2.5 é a de que, apesar do aumento da área de necessidades de água e cargas poluentes a partir do
regadio em todos os cenários dos horizontes de pla- número de trabalhadores afectos a cada actividade
neamento [com expressão máxima de 221 900 ha (28 %) industrial classificada. Contudo, para os horizontes de
no cenário de maior expansão de área no horizonte planeamento de médio e longo prazos não se dispõe
2020], as necessidades potenciais apenas sofrem um de projecções que forneçam esses factores de cálculo,
aumento de 3 % e as necessidades efectivas 8 %. Este sendo necessário estimá-lo de forma indirecta a partir
facto fica a dever-se aos aumentos de eficiência globais da evolução do PIB e da população activa.
propostos e às taxas de utilização de área equipada. Tendo em vista o balanço hídrico torna-se necessária
Os maiores valores de necessidades efectivas a desagregação ao nível de sub-bacias o que acrescenta
(6870 hm3+8 %) a que a rede hidrográfica e os aquíferos um outro grau de dificuldade à determinação pre-
terão de responder verificar-se-ão apenas no cenário tendida.
de maior expansão de área de regadio (172 000 ha) no Com os indicadores disponíveis, não é possível rea-
horizonte de planeamento de 2012. lizar, com adequada fiabilidade, a avaliação do volume
O efeito das alterações climáticas não foi introduzido de água utilizado nos processos industriais que não seja
tendo em consideração o curto período de avaliação baseado no número de activos da indústria transfor-
e as razões aduzidas no n.o 7.5. madora, admitindo ser este tipo de indústria a que releva
para o efeito. Idealmente tal estimativa deveria ser
As práticas agrícolas de regadio, e também as de baseada na quantidade de produto produzido, o que
sequeiro, são também responsáveis pela poluição difusa. não está acessível por razões de segredo industrial. Uma
A poluição difusa também é provocada por outras acti- vez na posse de tal informação, tornar-se-ia útil a uti-
vidades, tais como a agro-pecuária, a florestal, a sui- lização de projecções de indicadores macroeconómicos
nicultura, bem como a própria vegetação natural. Os (com adequada espacialização), designadamente a pro-
parâmetros usuais de avaliação deste tipo de pressão dutividade, VAB e PIB e com eles determinar para os
sobre os recursos hídricos são o fósforo (P) e o azoto sectores mais relevantes da indústria (os que são mais
(N). consumptivos ou utilizadores e ainda os que produzem
Os resultados apresentados no quadro 7.2.4 abrangem maior quantidade de poluentes) o volume de produto
apenas as cargas referentes às áreas de regadio e às que se poderia ter em diferentes horizontes temporais
suiniculturas. de análise.
3766 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A N.o 90 — 17 de Abril de 2002
QUADRO 7.2.4
A B A B A B A B A B A B
Como não se dispõem das projecções daqueles indi- A distribuição espacial da procura de água não deverá
cadores macroeconómicos com a desagregação espacial sofrer alterações significativas nas origens e sistemas
suficiente para planeamento de recursos hídricos, que hoje utiliza, ou seja, as grandes unidades industriais
optou-se por indexar os activos na indústria transfor- manterão origens próprias e autonomia e as pequenas
madora ao número de residentes calculados pelas pro- e médias unidades continuarão a ser abastecidas pelos
jecções demográficas (mantendo a proporção em cada sistemas públicos que também abastecem as populações
concelho) e utilizar uma dotação bruta média de água e as restantes actividades da malha urbana.
por unidade de trabalhador e por dia equivalente à da As pressões da industria também se fazem sentir pela
situação de referência, como forma de obter as neces- via da rejeição de águas residuais cujas cargas poluentes
sidades de água. Admite-se, também de forma simpli- geradas estão incluídas nos valores do quadro 7.2.6.
ficada, na estimativa das necessidades de água que se Os valores obtidos revelam que a maior carga gerada
deverá manter a produtividade por trabalhador. no futuro se localizará na bacia hidrográfica do rio Tejo
Para cálculo das necessidades de água para a indústria para todos os parâmetros e que terá maior expressão
parte-se do pressuposto base de que a estrutura pro- por unidade de área nas bacias hidrográficas do rio Leça
dutiva nos sectores da indústria utilizadora de água se com 93 t/ano/km2 e 43 t/ano/km2, para os parâmetros
manteriam como na situação de referência. CQO e SST, respectivamente.
Nas projecções que são definidas nos cenários apenas
varia o número de activos no sector da indústria trans- 3000
2006 Cen. A 2006 Cen. B
formadora (740 000 trabalhadores ou 753 000 trabalha- 2500 2012 Cen. A 2012 Cen. B
dores em 2006, 778 000 trabalhadores ou 754 000 tra- 2020 Cen. A 2020 Cen. B
1500
às de 2000. 500
s
a
te
ve
ro
a
ve
ho
go
an
Li
m
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A B A B A B A B A B A B A B A B A B A B A B A B
3767
3768 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A N.o 90 — 17 de Abril de 2002
O balanço hídrico exige duas interacções, a primeira, valor ocorre na bacia hidrográfica do rio Ave, com
considerando apenas a capacidade de regularização ins- 0,2 hm3/km2 para o horizonte de planeamento de 2020
talada em cada horizonte de planeamento, identifican- e para o cenário de maior expansão.
do-se assim as bacias hidrográficas deficitárias, a Efectuando um balanço para a desagregação temporal
segunda, incluindo o efeito de armazenamento e regu- mensal, cujos resultados se apresentam no quadro 7.2.7,
larização das novas infra-estruturas e equipamentos tomando em considerando que a bacia hidrográfca se
necessários às supressões de tais défices, comprovando comporta como um grande reservatório e que a dis-
as garantias que esses equipamentos devem propor- tribuição mensal das necessidades se mantém seme-
cionar. lhante à actual, verifica-se que a garantia mensal e anual
No diagnóstico da situação actual, através de um para os vários cenários aumenta significativamente nas
balanço hídrico em que se confrontaram as disponibi- bacias hidrográficas dos rios Vouga e Guadiana, facto
lidades de água das várias regiões do País, com neces- que é justificado pela construção da barragem de Ribei-
sidades de águas para os diversos usos, obtiveram-se radio e Alqueva até ao horizonte de 2006. Nas bacias
resultados que revelaram, sobretudo, uma forte assi- hidrográficas dos rios Leça e Lis e das Ribeiras do Oeste
metria entre as Regiões Norte e Centro, capazes de e do Algarve a garantia ao nível anual e mensal é inferior
satisfazerem, de um modo geral, as suas necessidades à unidade e assiste-se a uma tendência para a diminuição
de água, e uma Região Sul, em que as situações de do nível de garantia. Das referidas áreas que estão sujei-
escassez de água são mais frequentes, sobretudo nas
tas a stress hídrico destaca-se o caso das bacias hidro-
zonas de cabeceira.
gráficas das ribeiras do Algarve, onde foram tomadas
Os resultados do balanço obtidos para vários cenários
em consideração as necessidades provenientes da popu-
de desenvolvimento não são muito diferentes. No que
lação flutuante. É de realçar que as transferências de
respeita às disponibilidades de água, estão em conclusão
água não estão incluídas neste balanço, analizando-se
as barragens de Alqueva, no Guadiana, e dos Minutos,
no Tejo, prevendo-se ainda a construção das barragens unicamente a capacidade que a bacia hidrográfica tem
de Odelouca, na bacia hidrográfica das ribeiras do para satisfazer unicamente as sua próprias necessidades.
Algarve, Ribeiradio, na bacia hidrográfica do rio Vouga, Na determinação do balanço hídrico por bacia hidro-
e Crato, na bacia hidrográfica do rio Tejo. Não foram gráfica para a desagregação temporal anual conside-
considerados nesta análise os possíveis efeitos das alte- ram-se as transferências de água existentes e as já deci-
rações climáticas sobre as disponibilidades de água, que didas para o período abrangido pelo PNA, desdobrando
podem ter alguma expressão para horizontes muito para temporalmente estas de acordo com o planeado nos
além dos do PNA, sobretudo, no sul do País. respectivos projectos, sendo assumido que não haverá
Do lado da procura de água, ao aumento das neces- lugar a novas transferências. Dado que não se procedeu
sidades de água devido ao crescimento da população à determinação da evolução das necessidades de água
e da área de regadio sobrepõe-se uma previsão de da população flutuante ao longo dos vários horizontes
melhoria da eficiência da utilização da água, que conduz de projecto, pois a expressão quantitativa destas neces-
apenas a um ligeiro aumento dos consumos efectivos sidades são reduzidas face à totalidade das necessidades
de água. de água, foi tomada em consideração a expressão que
No futuro os maiores volumes de água para satisfação a população flutuante tem na bacia hidrográfica das
das necessidades anuais médias são requeridos nas ribeiras do Algarve, considerando-se as necessidades
bacias hidrográficas dos rios Tejo e Douro. Em termos actuais definidas pelo respectivo PBH para os vários
de necessidades específicas por unidade de área o maior horizontes de projecto.
QUADRO 7.2.6
2006
Cenário A Cenário B
PBH
Minho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 624 3 312 2 354 108 518 1 702 3 472 2 467 116 560
Lima . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 864 18 541 7 818 285 1 109 7 980 18 810 7 933 290 1 133
Cávado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 441 29 186 14 192 506 1 661 12 613 29 589 14 389 515 1 691
Ave . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 648 48 090 27 709 901 2 906 21 943 48 746 28 085 916 2 950
Leça . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 004 39 444 21 025 477 1 562 19 254 39 963 21 299 484 1 583
Douro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49 625 100 937 74 029 2 992 7 968 50 398 102 498 75 090 3 070 8 127
Vouga . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 162 40 546 27 621 867 3 108 19 828 41 968 28 514 899 3 226
Mondego . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 006 35 810 37 622 935 3 664 15 570 31 208 23 269 981 3 831
Lis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 689 10 643 9 492 222 814 4 767 10 818 9 643 226 830
Tejo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115 621 321 293 233 599 3 836 13 238 118 169 328 537 228 251 3 928 13 564
Ribeiras do Oeste . . . . . . . . . . . 27 853 55 308 28 414 694 2 429 28 295 56 183 28 857 704 2 463
Sado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 771 28 040 28 048 450 1 669 12 025 28 638 28 595 466 1 732
Mira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 701 1 635 703 87 390 718 1 675 720 96 434
Guadiana . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 311 18 535 7 708 364 1 269 8 506 18 975 7 889 393 1 374
Ribeiras do Algarve . . . . . . . . . 16 482 37 886 17 040 484 1 680 16 700 38 385 17 265 492 1 712
Total . . . . . . . . 333 802 789 205 527 375 13 208 43 986 338 467 799 463 522 264 13 574 45 209
N.o 90 — 17 de Abril de 2002 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A 3769
2012
Cenário A Cenário B
PBH
Minho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 589 3 240 2 302 105 497 1 737 3 543 2 518 117 563
Lima . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 866 18 547 7 816 291 1 138 8 038 18 945 7 986 298 1 169
Cávado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 676 29 746 14 456 515 1 697 12 930 30 342 14 745 527 1 735
Ave . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 088 49 073 28 265 917 2 959 22 525 50 044 28 822 937 3 020
Leça . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 123 39 695 21 138 479 1 569 19 469 40 417 21 513 488 1 597
Douro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49 717 101 112 73 827 3 010 7 986 49 955 101 594 74 188 3 069 8 079
Vouga . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 750 39 672 27 066 851 3 054 20 001 42 340 28 741 905 3 252
Mondego . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 221 34 193 36 108 896 3 516 15 591 31 252 23 299 986 3 859
Lis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 677 10 617 9 473 221 808 4 832 10 964 9 775 229 840
Tejo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121 054 338 309 230 811 4 030 13 912 126 591 354 052 240 712 4 224 14 598
Ribeiras do Oeste . . . . . . . . . . . 28 139 55 855 28 643 699 2 446 28 723 57 000 29 198 713 2 493
Sado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 162 29 020 29 546 466 1 733 12 760 30 453 30 774 494 1 841
Mira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 685 1 600 683 89 402 753 1 753 758 103 469
Guadiana . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 011 17 870 7 451 367 1 282 8 397 18 738 7 810 423 1 483
Ribeiras do Algarve . . . . . . . . . 17 257 39 667 17 832 509 1 771 17 748 40 796 18 341 525 1 829
Total . . . . . . . . 340 015 808 216 535 418 13 445 44 769 350 049 832 234 539 179 14 039 46 827
2020
Cenário A Cenário B
PBH
Minho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 543 3 146 2 235 101 475 1 790 3 650 2 593 119 571
Lima . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 843 18 482 7 799 288 1 125 7 963 18 744 7 913 296 1 163
Cávado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 028 30 570 14 861 523 1 721 13 175 30 913 15 030 536 1 762
Ave . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 818 50 685 29 198 941 3 039 23 074 51 252 29 526 957 3 088
Leça . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 107 39 643 21 166 481 1 574 19 364 40 173 21 462 488 1 598
Douro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48 742 99 156 73 443 3 004 7 920 51 738 105 224 77 578 3 211 8 427
Vouga . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 503 39 137 26 873 840 3 012 20 347 43 065 29 336 923 3 317
Mondego . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 436 32 592 34 683 851 3 334 15 607 31 284 23 319 984 3 837
Lis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 683 10 627 9 481 220 802 4 903 11 116 9 900 233 852
Tejo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126 936 335 785 239 019 4 207 14 497 136 886 383 622 255 497 4 542 15 681
Ribeiras do Oeste . . . . . . . . . . . 28 454 56 457 28 898 705 2 462 28 888 57 304 29 299 717 2 508
Sado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 952 30 982 32 353 492 1 825 14 024 33 558 34 662 546 2 035
Mira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 684 1 600 682 89 403 800 1 860 812 110 502
Guadiana . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 672 17 116 7 177 364 1 275 8 294 18 519 7 749 464 1 635
Ribeiras do Algarve . . . . . . . . . 19 069 43 833 19 694 558 1 937 20 036 45 919 20 677 591 2 058
Total . . . . . . . . 347 470 829 810 547 564 13 663 45 402 366 889 876 205 565 352 14 717 49 034
3770 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A N.o 90 — 17 de Abril de 2002
2006 Cenário A CBO5 2006 Cenário A CQO 2006 Cenário A SST 2006 Cenário A P 2006 Cenário A N
450 000
2006 Cenário B CBO5 2006 Cenário B CQO 2006 Cenário B SST 2006 Cenário B P 2006 Cenário B N
2012 Cenário A CBO5 2012 Cenário A CQO 2012 Cenário A SST 2012 Cenário A P 2012 Cenário A N
2012 Cenário B CBO5 2012 Cenário B CQO 2012 Cenário B SST 2012 Cenário B P 2012 Cenário B N
2020 Cenário A CBO5 2020 Cenário A CQO 2020 Cenário A SST 2020 Cenário A P 2020 Cenário A N
400 000
2020 Cenário B CBO5 2020 Cenário B CQO 2020 Cenário B SST 2020 Cenário B P 2020 Cenário B N
350 000
300 000
250 000
[Ton/ano]
200 000
150 000
100 000
50 000
ga
na
do
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go
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ho
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Figura 7.2.2 — Distribuição espacial das cargas geradas globais futuras anuais médias
QUADRO 7.2.7
No quadro 7.2.8 verifica-se que as transferências actuais para as bacias hidrográficas dos rios Leça e Lis e
das ribeiras do Oeste e do Algarve não são suficientes para garantir a satisfação da totalidade das necessidades
nessas bacias hidrográficas. Analisando os quadros 7.2.9 e 7.2.10 verifica-se que as transferências para a bacia
hidrográfica do rio Sado são suficientes para garantir as necessidades, mantendo-se no entanto ratios inferiores
à unidade nas bacias hidrográficas dos rios Leça e Lis e nas ribeiras do Oeste e do Algarve.
QUADRO 7.2.8
Quadro comparativo disponibilidades versus necessidades — Águas de superfície para o cenário B em 2006
QUADRO 7.2.9
Quadro comparativo disponibilidades versus necessidades — Águas de superfície para cenário o B em 2012
QUADRO 7.2.10
Quadro comparativo disponibilidades versus necessidades — Águas de superfície para o cenário B em 2020
Os resultados apresentados revelaram algumas situa- que se mantém em todos os horizontes a situação de
ções de escassez de água que, por constituírem alguma escassez a norte da barragem da Aguieira, na bacia
surpresa, merecem uma investigação mais cuidada no hidrográfica do rio Mondego. As situações deficitárias
sentido de as corrigir ou confirmar. As limitações resul- poderão ser mais gravosas se nos mesmos locais ocorrer
tantes dos dados disponíveis e da escala de trabalho elevada produção de cargas poluentes cuja expressão
utilizada impediu que se procedesse a essa análise no gráfica se apresentou na figura 7.2.2. Dela se destaca
âmbito do PNA. a bacia hidrográfica do rio Tejo com valores da ordem
Observando as figuras 7.2.3 e 7.2.4, que expressam dos 250 000 t/ano para o CQO no horizonte de planea-
a distribuição espacial do balanço hídrico, verifica-se mento 2020 e cenário de maior expansão.
3772 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A N.o 90 — 17 de Abril de 2002
7.4 — Reflexos das procura e oferta de água ETAR se aproxime dos objectivos para que foram con-
sobre a qualidade da água cebidas, contribuindo então, de forma crucial, para uma
efectiva melhoria da qualidade da água nos meios
Nos últimos 20 anos assistiu-se a um generalizado hídricos.
e acentuado crescimento demográfico nas grandes zonas A segunda razão pela qual não se tem assistido a
urbanas e a um ritmo de desenvolvimento económico
que constituíram porventura os principais factores de uma perceptível melhoria da qualidade da água dos
pressão sobre os recursos hídricos. Em consequência meios hídricos, apesar de existir uma subida dos níveis
disso, o estado da qualidade das águas superficiais e de atendimento no tratamento das águas residuais urba-
subterrâneas, interiores e costeiras, sofreu uma certa nas, prende-se com o contributo que a poluição difusa
degradação que em alguns casos teve implicações tanto tem em algumas bacias, em particular naquelas em que
a nível da saúde pública, como a nível dos ecosistemas existe uma área de superfície regada percentualmente
aquáticos. importante na totalidade da área das bacias. Para além
A integração dos diversos aspectos sociais, tecnoló- de problemas específicos e pontuais criados pela polui-
gicos, institucionais, legislativos e económicos tem sido ção difusa em grandes áreas urbanas, a poluição pro-
objecto das políticas de recursos hídricos que as auto- veniente da agricultura de regadio e de um certo tipo
ridades têm procurado pôr em prática para resolver os de pecuária é a que se afigura como a que poderá ter
problemas existentes e fazer face aos referidos desafios. um peso importante nas cargas poluentes afluentes às
Nesta matéria, Portugal está hoje muito mais próximo linhas de água.
dos padrões europeus, esperando-se que no final do Não se prevendo um aumento significativo dos con-
3.o Quadro Comunitário de Apoio, em 2006, se atinjam sumos de água na agricultura e esperando-se que os
os valores de 95 % no atendimento das populações em sistemas de rega possuam cada vez mais uma maior
termos de abastecimento de água e de 90% em termos eficiência no uso da água, poder-se-á esperar que a con-
de drenagem e tratamento de águas residuais. tribuição da poluição difusa venha a diminuir gradual-
Sem prejuízo do grande esforço que tem sido feito mente ao longo do horizonte temporal do Plano.
na construção de infra-estruturas neste sector do sanea- No que respeita ao sector industrial, e apesar de não
mento básico, a correspondente expectativa de melhoria ser fácil fazer previsões a médio prazo sobre a evolução
da qualidade da água nos meios hídricos nem sempre das características do tecido industrial nas diversas
se tem verificado de imediato. Se, por um lado, a recu- regiões do País, haverá por certo uma tendência para
peração ambiental das massas de água poluídas nem se consolidar a integração de um número significativo
sempre é tão célere quanto seria desejável, existem, por de indústrias nos sistemas urbanos de drenagem, com
outro, outras razões pelas quais a melhoria dos níveis adequados pré-tratamentos. Certas unidades de maior
de atendimento não têm sido acompanhadas por uma dimensão manterão os seus sistemas próprios de tra-
melhoria da qualidade dos meios hídricos. tamento e destino final, estimulando-se de forma cres-
É de esperar que no horizonte 2012 os problemas cente a adopção das melhores tecnologias disponíveis
de infra-estruturação de drenagem e tratamento de em detrimento das tecnologias de fim-de-linha. Nesta
águas residuais cubram já uma larga percentagem da medida, há seguramente que aprofundar o conheci-
população servida e que, cumulativamente, em virtude mento das características de certas actividades indus-
de um esforço que se terá de acentuar na formação triais, sendo previsível a gradual diminuição das cargas
profissional e no autocontrolo, o desempenho das afluentes aos meios hídricos.
costa e, mais especificamente, na envolvência de um positivos nas águas costeiras, designadamente no trân-
estuário. sito sedimentar longilitoral.
Este crescimento populacional junto à costa deveu-se A reconhecida sensibilidade das áreas em causa
sobretudo ao crescimento industrial que aí ocorreu, deverá motivar a introdução de algumas alterações na
suportado pela facilidade de transporte de materiais por sua gestão. Na verdade, os POOC não os abrangem
via marítima, o que, aliás, originou também a construção e não há nenhuma outra figura de planeamento espe-
de várias infra-estruturas portuárias para apoio ao cífico, como por exemplo acontece com as albufeiras
desenvolvimento da actividade industrial. de águas públicas, que os inclua, pelo que se torna neces-
Por outro lado, o desenvolvimento da actividade turís- sário a criação de uma figura de plano integrado para
tica que ocorreu sobretudo a partir dos anos 70, asso- a gestão dos estuários que altere a actual situação de
ciada ao produto sol e mar, veio também introduzir «marginalização» destes sistemas.
novas pressões sobre as zonas costeiras, trazendo um
enorme crescimento populacional sazonal, sobretudo no 7.6 — Impactos das alterações climáticas nos recursos hídricos
Algarve, originando também a deslocação de uma parte No que respeita às alterações climáticas resultantes
da população do interior, em busca de emprego. do aquecimento global, foi reconhecido que poderiam
Esta concentração da população e de actividades ocorrer alterações importantes no regime hidrológico
industriais acarretou a inevitável produção de efluentes e noutros aspectos da gestão dos recursos hídricos, o
urbanos e industriais, que estão na origem da degra- que acarretaria impactes significativos em vários sec-
dação da qualidade de alguns sistemas estuarinos e cos- tores da economia, da sociedade e do ambiente.
teiros, situação essa que já sofreu nos últimos anos uma À escala global, os últimos resultados apresentados
evolução positiva com a entrada em funcionamento de pelo painel intergovernamental sobre alterações climá-
várias estações de tratamento de efluentes. ticas (IPCC) apontam claramente para uma subida da
A alteração do regime hidrológico dos rios, a retenção temperatura média global entre 1,4oC a 5,8oC até 2100,
de caudais sólidos e a diminuição da ocorrência de cheias consoante o cenário de emissão de gases considerado.
vieram a revelar-se fontes de pressão sobre as águas A incerteza associada às previsões da precipitação é
estuariais e costeiras, designadamente sobre a evolução maior e não se distribui igualmente por todas as regiões
da linha de costa, com a aceleração dos processos ero- do globo. Embora se preveja um aumento global da
sivos e também, de forma acentuada, sobre a sua qua- precipitação, poderão vir a ocorrer diminuições da pre-
lidade e o equilíbrio dos ecossistemas. A utilização de cipitação em várias regiões. Os diferentes modelos cli-
fertilizantes, de pesticidas e de herbicidas na agricultura máticos são unânimes em prever um aumento da pre-
veio ainda a constituir-se numa fonte de poluição difusa, cipitação para as regiões a latitudes mais elevadas e
que afecta em termos gerais as linhas de água e que para grande parte das regiões a latitudes médias. As
atinge também as águas estuarinas e costeiras. previsões para as regiões a mais baixa latitude são dís-
No horizonte de curto prazo não deverão ocorrer pares, mas apontam, na sua maioria, para uma redução
grandes alterações à situação actual. A população não da precipitação.
deverá crescer significativamente e o crescimento pre- O impacte das alterações climáticas na gestão de
visível far-se-á sobretudo à custa da imigração. A popu- recursos hídricos faz-se sentir quer do lado da oferta
lação imigrante tenderá a concentrar-se nos locais onde quer do lado da procura de água. No que respeita à
a oferta de trabalho for maior, pelo que, até 2006, oferta, o aumento da temperatura, associado a uma alte-
período de vigência do QCA III, não deverá haver uma ração do regime de precipitação, conduzirá a variações
deslocação significativa para o interior. do volume e da distribuição temporal das disponibili-
Já nos horizontes de médio e longo prazos poderá dades de água. Acresce que a alteração da qualidade
presumir-se que venha a ocorrer uma maior incidência dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos tem
de investimentos no interior do País, condicionada pelos também impactes na quantidade de água disponível e
apoios da União Europeia, que deverão futuramente com qualidade adequada para os diversos usos. Do lado
vir a concentrar-se fora das zonas onde o PIB atinge da procura são de esperar alterações, sobretudo nos
já valores muito próximos da média europeia. Aí será volumes de água necessários para a irrigação, mas tam-
então previsível que uma parte da população, sobretudo bém para a produção de energia. A intensidade e fre-
a imigrante se desloque para o interior em busca de quência de situações de cheia e a variação do nível médio
emprego. do mar são outras áreas que podem vir a ser afectadas
A contaminação que se acumulou ao longo de anos, pelas alterações climáticas.
designadamente a nível dos sedimentos, tende a per- Este ponto apresenta de forma sumária os resultados
sistir. A recuperação dos ecossistemas é também um preliminares do Projecto SIAM («Climate change in
processo lento, pelo que não será de esperar mudanças Portugal: scenarios, impacts and adaptation measures»)
espectaculares em pouco tempo, mesmo que o conjunto que tem por objectivo o estudo das alterações climáticas
de medidas propostas pelo PNA seja inteiramente previstas para Portugal, bem como a avaliação dos seus
aplicado. impactos. São apresentados os cenários climáticos pre-
Como já foi referido, os caudais fluviais afluentes aos vistos para Portugal resultantes de um aumento de CO2
estuários são um elemento de grande importância na à taxa de 1 % ao ano e analisados os impactos de tais
manutenção do equilíbrio destes sistemas. A aplicação cenários nos recursos hídrico.
das medidas previstas deverá ter um impacte positivo O principal motor do processo das alterações climá-
na diminuição das pressões. A existência da DQA e ticas é o aumento da concentração atmosférica dos gases
as obrigações dela decorrentes, bem como a existência de efeito de estufa, iniciado no período pós-revolução
da Convenção de Albufeira, são elementos que deverão industrial. O aumento da concentração de gases, como
pesar positivamente na aplicação destas medidas, o dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e o óxido
podendo prever-se que no horizonte de médio prazo nitroso (NO2), têm provocado um aumento do efeito
se façam já sentir os seus efeitos, também com reflexos de estufa com uma diminuição da libertação de calor
N.o 90 — 17 de Abril de 2002 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A 3775
16 HadCM2
HadCM3
14
HadRM2 é neste sector que deverão ocorrer alterações mais sig-
12 PROMES nificativas no que respeita às necessidades de água. A
10 ECHAM4
CGCM1 previsão destas alterações é, no entanto, extremamente
8
6
Histórico difícil, mesmo assumindo que se mantêm as actuais cul-
4 turas e práticas agrícolas e respectivas áreas de inter-
2 venção. Enquanto que o aumento da temperatura pro-
0 voca um aumento da capacidade evaporativa, o aumento
Norte Centro Sul
do teor de CO2 na atmosfera afecta os mecanismos de
utilização de água pelas plantas através de um processo
Figura 7.6.1 — Comparação das simulações da temperatura média complexo cujo resultado final é difícil de prever. Com
anual, para o cenário 1×CO2, com o registo histórico efeito, o aumento do teor de CO2 diminui a taxa de
transpiração das plantas, mas, por outro lado, aumenta
2000 a taxa de crescimento das plantas e, consequentemente,
1800 a sua área de transpiração. O resultado líquido destas
Precipitação média anual (mm)
HadCM2
1600
HadCM3 tendências antagónicas não é claro. Não é, no entanto,
1400
1200
HadRM2
PROMES
expectável que se mantenham em Portugal as culturas
1000 ECHAM4 agrícolas praticadas actualmente. As alterações climá-
800
CGCM1
Histórico
ticas poderão contribuir para tornar inviáveis algumas
600 culturas e recomendar a introdução de outras. Como
400 tem vindo a ocorrer até hoje, o clima, em conjunto com
200
outros factores, condicionará as escolhas dos agricul-
0
Norte Centro Sul
tores, no que diz respeito a culturas praticadas e áreas
utilizadas e, consequentemente, às necessidades de água
para a agricultura. Mas, uma vez mais, a tendência não
Figura 7.6.2 — Comparação das simulações da precipitação média
anual, para o cenário 1×CO2, com o registo histórico
é clara.
As alterações climáticas poderão afectar a qualidade
A variabilidade dos diferentes cenários de precipi- dos meios hídricos através da modificação do regime
tação tornam difícil a apresentação de estimativas quan- de precipitação e de escoamento e do aumento da tem-
tificadas dos impactes das alterações climáticas sobre peratura da água.
as disponibilidades de água. A prevista diminuição da A afluência de cargas poluentes ao meio hídrico
precipitação acompanhada por um aumento da evapo- poderá vir a ser afectada, quer de forma directa através
transpiração potencial, relacionada com o aumento da da alteração do regime de precipitação e dos seus efeitos
temperatura, tenderá a provocar uma diminuição das erosivos, quer de forma indirecta através de modifica-
disponibilidades de água. As variações sazonais das alte- ções no uso do solo e da água. Não é, no entanto, claro
rações da temperatura e precipitação podem, no qual o sentido desta tendência, pois à diminuição da
entanto, não confirmar esta tendência. precipitação contrapõe-se um aumento dos fenómenos
Assumindo os resultados dos modelos de circulação extremos responsáveis pelo carreamento da maior parte
global do Hadley Centre, designadamente os do dos sedimentos afluentes aos cursos de água.
HadCM3, como os mais prováveis, é possível avançar Os principais impactes sobre a qualidade de água em
com um conjunto de previsões, a que está associada consequência das alterações climáticas, provêm da dimi-
uma margem de incerteza não desprezável. Na Região nuição do escoamento anual e do aumento das assi-
Norte e Centro do País estima-se que o escoamento metrias sazonais. Estas alterações poderão afectar a qua-
anual não sofra alterações significativas. O aumento da lidade do meio hídrico através da diminuição da sua
precipitação do Inverno poderá provocar um aumento capacidade de renovação, sobretudo nos períodos secos
dos escoamentos mensais entre Novembro e Abril infe- que se estima venham a ser mais prolongados. Acresce
rior a 10 %, enquanto que nos restantes meses do ano que o aumento da temperatura da água provocará uma
3776 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A N.o 90 — 17 de Abril de 2002
diminuição do teor de oxigénio na água e uma aceleração condições de transferência de água entre bacias hidro-
das velocidades de reacção entre os constituintes da gráficas.
água. Em particular, o aumento da taxa de produtividade Relativamente às transferências de água referidas no
biológica poderá conduzir a um aumento dos problemas citado diploma legal, o Plano não prevê novas e sig-
de eutrofização existentes no nosso país. nificativas transferências de água entre bacias objecto
De um modo geral, será de prever que as alterações de PBH, para além da que naturalmente decorrerá da
climáticas, se não forem acompanhadas por medidas implementação do Empreendimento de Fins Múltiplos
de adaptação, terão um impacte negativo na qualidade de Alqueva.
dos meios hídricos, mas a quantificação destes impactes Nesse contexto, foram seleccionados os programas
terá de ser objecto de estudos mais aprofundados. Estes e projectos que pela sua dimensão e características são
efeitos deverão ter uma maior expressão no Sul do País, susceptíveis de interagirem significativamente com os
onde se prevê um maior aumento da temperatura e recursos hídricos tanto na óptica da procura, como da
uma maior diminuição da precipitação. redução ou aumento de emissões para o meio hídrico.
Os ecossistemas aquáticos e ribeirinhos sofrerão as O critério de selecção assentou não apenas na dimen-
consequências das alterações da qualidade da água de são financeira dos programas e projectos mas também
alguns meios hídricos, incluindo o aumento da tempe- na sua importância relativa para a bacia hidrográfica
ratura da água. Os ecossistemas associados a estuários em que se inserem e ainda nas funções que realizam
e lagunas costeiras poderão ainda sofrer os efeitos de no âmbito da gestão dos recursos.
uma intrusão de água salgada devido à subida do nível Do vasto conjunto de programas e projectos de
médio do mar. dimensão nacional identificados nos PBH e de outros,
O aumento da intensidade e frequência de cheias e que, à luz dos critérios gerais referidos, poderiam igual-
inundações poderá resultar da concentração da preci- mente ser considerados de escala nacional, selecciona-
pitação nos meses de Inverno. Esta tendência é mais ram-se os seguintes, já aprovados:
provável nas bacias hidrográficas da Região Norte, para Sistemas preconizados no PEAASAR;
as quais são previstas subidas relevantes nos caudais Novos regadios 2000-2006;
mensais de Inverno. A previsão de diminuição do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva;
número de dias com precipitação superior a 10 mm Empreendimento de Ribeiradio;
acompanhada pelo aumento ou manutenção da preci- Empreendimento de Odelouca;
pitação média anual reforça este cenário. Novo aeroporto da OTA.
Além disso, a subida do nível médio do mar provocará
uma diminuição da capacidade de vazão dos troços de Todavia, existem outros projectos com intenções de
jusante dos cursos de água de maior dimensão, o que serem avançados no âmbito do PESESP e dos novos
poderá determinar inundações. regadios, designadamente o Aproveitamento Hidroeléc-
Os efeitos das alterações climáticas sobre os recursos trico do Baixo Sabor, ou em alternativa o do Alto Côa,
hídricos ainda não são conhecidos na sua totalidade e e o Aproveitamento Hidroagrícola do Crato.
de forma rigorosa, mas existe já um elevado grau de
confiança sobre algumas tendências que deverão impli- PEAASAR 2000-2006
car alterações nas estratégias de gestão da água. É, por
isso, fundamental que o País se prepare para estas alte- Este Plano, apresentado em Abril de 2000, traduz
rações ao mesmo tempo que mantém o esforço de inves- os objectivos do Ministério do Ambiente e do Orde-
namento do Território no domínio do abastecimento
tigação nesta matéria, nomeadamente através do envol-
de água e do saneamento de águas residuais.
vimento em projectos de cooperação e investigação
O Plano tem como metas a atingir no final da sua
internacional.
execução o «cabal cumprimento da legislação, nacional
A principal mudança conceptual que é necessário e comunitária, em vigor, e a integral satisfação, durante
introduzir consiste em descartar a hipótese tradicional o período 2000-2006, dos seguintes objectivos, que cons-
da engenharia que o registo histórico é um bom indi- tam do Plano de Desenvolvimento Regional» para o
cador das futuras condições climáticas. Os agentes de território do nacional:
planeamento e gestão dos recursos hídricos deverão
começar a considerar a mudança climática como um 95 % da população servida com água potável no
dos vários factores de decisão. domicílio;
Os resultados das previsões dos estudos sobre alte- 90 % da população servida com drenagem e tra-
rações climáticas não afectam as avaliações de neces- tamento de águas residuais.
sidades e disponibilidades do PNA, dado que, como
se referiu no início, sendo o período de previsão das Segundo o PEAASAR, todos os sistemas, quer de
alterações climáticas de 100 anos (2100), não são per- abastecimento, quer de saneamento de águas residuais,
ceptíveis para já os efeitos sobre períodos tão curtos deverão servir, pelo menos, 90 % da população das res-
como os contemplados nos primeiros horizontes de pla- pectivas áreas de implantação.
neamento, 6 e 12 anos. Se entretanto vierem a con- Para melhor assegurar a racionalização da cobertura
firmar-se as conclusões provisórias dos estudos em curso, da área de atendimento e a optimização dos custos de
haverá oportunidade de as incluir na primeira revisão investimento e exploração dos sistemas procura-se
do PNA. garantir a criação de sistemas plurimunicipais que, nas
partes respeitantes à «alta» (seja no abastecimento de
7.7 — Programas e projectos de escala nacional água ou no saneamento de águas residuais), permitirão
estruturar as redes, permitindo obter uma melhor qua-
A alínea iii) do Decreto-Lei n.o 45/94, de 22 de Feve- lidade de serviço, com tarifas menores.
reiro, estabelece que o PNA, na proposta de medidas Neste Plano Estratégico, os sistemas plurimunicipais
e acções, deve conter a definição de programas e pro- constituem as componentes fundamentais que permi-
jectos de escala nacional, nomeadamente a previsão e tirão atingir os níveis de atendimento propostos.
N.o 90 — 17 de Abril de 2002 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A 3777
Estado razoável e bom estado químico. 2012 Todas as massas de água de superfície.
Todas as massas de água onde ocorram descargas de poluentes sujeitas à aplicação
da abordagem combinada ao abrigo da legislação comunitária relevante.
Bom estado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2015 Águas de superfície ou subterrâneas em que se verifique que as necessárias melhorias
podem ser todas razoavelmente alcançadas neste prazo.
Bom potencial ecológico e bom estado 2015 Águas de superfície artificiais ou fortemente modificadas em que se verifique que
químico. as necessárias melhorias podem ser todas razoavelmente alcançadas até 2015.
QUADRO 1.3.2
Prazos de protecção das águas subterrâneas destinadas a produção de água para consumo humano
Poluição tópica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2004 Águas destinadas ao abastecimento de aglomerados populacionais até 500 habitantes
e com caudal de exploração até 100 m3/dia.
Poluição difusa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2012 Águas destinadas ao abastecimento de aglomerados populacionais com mais de
500 habitantes ou com causal de exploração superior a 100 m3/dia.
Águas destinadas a aglomerados populacionais até 500 habitantes e com causal
de exploração até 100 m3/dia.
Aquíferos contaminados, nomeadamente na orla ocidental, no Ribatejo, no vale
do Sorraia, na península de Setúbal, no Maciço Antigo em algumas zonas do
Alentejo e na orla meridional.
Intrusão salina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2012 Para os casos já identificados e para os aquíferos vulneráveis a este tipo de con-
taminação que constituam reservas importantes para abastecimento futuro de
aglomerados populacionais, nomeadamente no aquífero cretácico de Aveiro e
nos aquíferos costeiros do Algarve.
Promover a execução das infra-estruturas de tra- residuais urbanas ou escorrências de solos agrí-
tamento de águas residuais urbanas necessárias colas, nomeadamente nas bacias sensíveis (*) e
para assegurar o cumprimento da Directiva zonas vulneráveis (**), de maneira que:
n.o 91/271/CEE, transposta para o direito interno
pelo Decreto-Lei n.o 152/97, de 19 de Junho, Até 2015, as águas que estão em estado hipe-
com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei reutrófico ou eutrófico atinjam o estado
n.o 172/2001, de 26 de Maio, de forma que: mesotrófico;
Até 2020, as águas que estão em estado meso-
As aglomerações com mais de 10 000 e. p. trófico atinjam o estado oligotrófico;
descarregando em bacias sensíveis dispo-
nham de tratamento mais avançado que o Evitar a deterioração ou reduzir a poluição das
secundário; águas marinhas de maneira a garantir qualidade
As aglomerações com mais de 15 000 e. p. dis- adequada:
ponham pelo menos de tratamento secun-
dário; e Nos prazos previstos por legislação específica,
Até finais de 2005, as aglomerações com nomeadamente nos locais em que existe ou
menos de 15 000 e. p. disponham das infra- é suposto vir a existir a prática de activi-
-estruturas de tratamento adequadas; dades de recreio com contacto directo entre
o homem e a água ou que se encontrem
Recuperar a qualidade das águas superficiais com abrangidos por convenções internacionais;
alterações do estado trófico que recebam águas Até 2020, nos restantes locais;
3782 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A N.o 90 — 17 de Abril de 2002
A curto, médio e longo prazos a recuperação e c) Promover a protecção de recursos hídricos sub-
conservação das zonas húmidas abrangidas pela terrâneos, com prioridade para os considerados estra-
Convenção de Ramsar e da diversidade das tégicos como origens de água para produção de água
comunidades ictiofaunísticas. para consumo humano.
N.o 90 — 17 de Abril de 2002 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A 3783
d) Assegurar que as utilizações sectoriais da água, b) Garantir a quantidade de água necessária na ori-
nomeadamente para fins agrícolas, turísticos, industriais, gem e promover o adequado nível de abastecimento
energéticos e de abastecimento urbano, contemplem a de água às populações e às actividades económica, de
potenciação e a harmonização de objectivos e fins múl- forma a:
tiplos incluindo os ambientais.
e) Promover a valorização económica dos recursos Garantir a quantidade de água necessária na ori-
hídricos, nomeadamente os com interesse ambiental e gem, visando o adequado nível de atendimento
paisagístico, cultural, de recreio e lazer, turísticos, ener- no abastecimento às populações e o desenvol-
gético e outros, desde que contribuam ou sejam com- vimento das actividades económicas, mesmo
para períodos e meses mais secos;
patíveis com a protecção dos meios hídricos lênticos
Promover o aumento do índice de atendimento em
e lótico.
sistemas de abastecimento de água, com água
f) Promover o ordenamento das áreas ribeirinhas
potável no domicílio, para o valor de 95 %, cons-
sujeitas a inundações e a definição de critérios de regu-
tante do PDR;
larização e conservação da rede hidrográfica, a consagrar
Alcançar os objectivos e concretizar as estratégias
nos planos de ordenamento, bem como estabelecer solu-
do PEAASAR;
ções de contingência, visando a protecção de pessoas
Promover a redução progressiva das perdas nos
e bens e a minimização dos prejuízos dos efeitos das sistemas públicos de abastecimento de água com
cheias, das secas e de acidentes de poluição. os seguintes critérios de evolução: no caso de
g) Promover o planeamento integrado das zonas cos- perdas actuais superiores a 50 %, uma evolução
teiras, garantindo uma adequada articulação com águas para 35 % até 2006 e para 30 % até 2012; no
interiores. caso de perdas actuais entre 30 % e 50 %, uma
1.3.3 — Promover a gestão sustentável da procura de evolução para 30 % até 2006, com um limite
água, baseada na gestão racional dos recursos e nas máximo a atingir de 15 % de fugas;
disponibilidades existentes em cada bacia hidrográfica Assegurar 80 % das necessidades no abastecimento
e tendo em conta a protecção a longo prazo dos meios para rega, garantindo sempre o volume anual
hídricos disponíveis e as perspectivas socioeconómicas: correspondente às necessidades de água para a
a) Garantir a qualidade da água em função dos usos rega das culturas permanentes, e ainda 95 % das
actuais e potenciais, designadamente para consumo necessidades estimadas para abastecimento dos
humano, para suporte da vida aquícola — piscícola e efectivos pecuários, assegurando em anos de
conquícola — e, ainda, para fins balneares, de acordo falha pelo menos um volume de água igual a
com os objectivos constantes do quadro 1.3.3. 80 % do volume total necessário:
QUADRO 1.3.3
Classificação Objectivo
Usos da água 1998 de qualidade Prazo Observações
VMA VMA
Águas balneares . . . . . . . . . . Alguns parâmetros Todos os parâme- 2005 Em conformidade com o Plano Nacional Orgânico
não conformes. tros conformes para a Melhoria das Zonas Balneares não Con-
relativamente formes — Portaria n.o 573/2001, de 6 de Junho,
aos VMA. 1.a série-B.
QUADRO 1.3.4
Análise económica das utilizações da 2004 Análise dos custos e benefícios de todas as utilizações da água e forma de imputações
água. aos utilizadores, incluindo os custos ambientais.
Amortização dos custos dos serviços 2010 Estabelecimento de políticas de preços da água incentivadoras da utilização racional,
hídricos. por sector utilizador, com especial ênfase no princípio do poluidor-pagador.
Elevação dos níveis de atendimento da população das melhores técnicas disponíveis e a redução da polui-
com abastecimento de água ao domicílio e ção de origem agrícola, é coerente com os objectivos
melhoria da sua qualidade para consumo; do POADR.
Abordagem estruturada do tratamento de efluentes No que concerne ao Plano de Novos Regadios
do sector doméstico e industrial, apoiada em 2000-2006, no qual se prevê um acréscimo da área equi-
soluções municipais, intermunicipais ou mul- pada de cerca de 72 500 ha, dos quais 26 000 ha res-
timunicipais; peitam ao Empreendimento de Alqueva, também os
Aprofundamento das funções de planeamento e objectivos do PNA são consistentes, uma vez que assu-
de gestão da água, reforçando o papel do Con-
mem, na decorrência dos PBH, as áreas a equipar pre-
selho Nacional da Água, criando condições de
estudo e planeamento da utilização do recurso vistas no Plano de Regadios, sendo no entanto de salien-
de forma descentralizada e integrada, nomea- tar, que à excepção das áreas de Alqueva, as novas áreas
damente à escala de bacia hidrográfica — PBH a equipar não envolverão, em geral, acréscimos de dota-
e PNA. ções globais de água, sendo compensadas com o
aumento das eficiências da utilização da água na rega.
No mesmo PDR as intervenções operacionais regio- Sobre a componente energia salientam-se não apenas
nais evidenciam como objectivos e estratégias a com- as perspectivas decorrentes da «Energia 1995-2015:
ponente recursos hídricos seja na perspectiva do aten- Estratégia para o Sector Energético», expressas nos
dimento das populações seja na perspectiva da sua valo- objectivos gerais, mas também os cenários do Plano de
rização para fins económicos e ambientais. Expansão do Sistema Eléctrico de Serviço Público, em
O PNA ao estabelecer como objectivos, de entre que qualquer deles aponta para um reforço significativo
outros, a sustentabilidade ambiental, a gestão integrada da componente hidroelectricidade apenas variando nas
da procura e oferta de água, a valorização económica alternativas em termos temporais de construção de
e social dos recursos hídricos e a elevação dos níveis novos aproveitamentos ou reforço dos existentes.
de atendimento das populações em termos de abaste- Ainda no âmbito do aproveitamento para fins ener-
cimento, drenagem e tratamento através de soluções géticos dos recursos hídricos merece referência:
integradas, harmoniza-se com os objectivos e orienta-
ções estratégicas do PDR. O objectivo assumido por Portugal perante a União
Sobre a articulação dos objectivos do PNA com os Europeia de assegurar que, em 2010, 39 % do
do PEAASAR, a coerência e convergência é absoluta consumo bruto de electricidade possa ter origem
porquanto os objectivos e estratégias deste Plano Estra- em fontes de energia renováveis, objectivo este
tégico são vertidos nos objectivos do PNA não apenas que, sendo ambicioso, requer desde já a tomada
em termos de soluções preconizadas mas também em de decisões tendente à sua concretização
termos de metas a atingir nos prazos nele estabelecidos.
(preâmbulo do projecto de decreto-lei para ges-
Relativamente ao POADR são de destacar:
tão de pontos de interligação e expansão da rede
A medida n.o 6, «Gestão dos recursos hidroagrí- eléctrica);
colas», na qual se estabelece como objectivos: A proposta de directiva do Parlamento e do Con-
Dotar as áreas de boa aptidão agrícola, através selho da União Europeia na qual se prevê o
de uma intervenção integrada na gestão dos objectivo de 12 % do consumo interno bruto de
recursos hídricos, do conjunto de infra-es- energia corresponder a electricidade, aqueci-
truturas adequadas a uma gestão racional mento e combustíveis biológicos provenientes de
e eficiente da água; fontes renováveis de energia, no conjunto da
Melhoria da gestão dos recursos hídricos agrí- Comunidade, em 2010, conforme sugerido no
colas numa perspectiva de completo e efi- Livro Branco (COM 884, final — 28 de Dezem-
ciente aproveitamento do potencial exis- bro de 2000).
tente;
No quadro descrito para as energias renováveis e em
A medida n.o 8, «Desenvolvimento tecnológico e particular para a sua componente hidroelectricidade é
experimentação», na componente objectivos:
previsível um acréscimo de intensidade da procura de
Incentivar e apoiar acções com carácter utilização dos recursos hídricos para fins energéticos,
demonstrativo que levem à transferência e tanto na vertente «grande hídrica» como na «pequenos
divulgação de novas tecnologias, bem como aproveitamentos».
ao desenvolvimento e difusão de práticas Esse aumento da procura previsível em geral não é
culturais compatíveis com o ambiente; incompatível com os objectivos do PNA, salvaguardados
Apoiar acções de experimentação e demons- os impactes ambientais, uma vez que promove a valo-
tração no âmbito da protecção do ambiente rização económica e social dos recursos hídricos, na qual
e da gestão sustentável dos espaços flo- a produção de energia se insere.
restais;
Apoiar acções que conduzam a uma maior Em conclusão e no que se refere à convergência de
racionalização da utilização de produtos objectivos do Plano e de política económica e social
fitofarmacêuticos, visando a redução do verifica-se uma compatibilidade global com as linhas
risco para o ambiente, para a saúde pública orientadoras dos planos referidos, sendo, no entanto,
e para os intervenientes na distribuição e de salientar as abordagens sectoriais específicas do PNA,
aplicação destes produtos. nomeadamente no que respeita à protecção ambiental,
disponibilidades, eficiência e racionalização das utiliza-
O PNA, estabelecendo como objectivos o aumento ções do recurso água numa lógica de gestão integrada
da eficiência da utilização da água na rega, a utilização e sustentada dos meios hídricos.
3788 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A N.o 90 — 17 de Abril de 2002
Caracterização e diagnóstico
Objectivos Programação 2 — Gestão integrada do domínio Assegurar a gestão integrada do
situação de referência
hídrico. domínio hídrico, promovendo a
integração da componente
Figura 3.1.1 — Sequência do programa de medidas recursos hídricos nas outras
políticas sectoriais e assegu-
Na formulação do programa de medidas atende-se rando a integridade hídrica das
ao facto de o Decreto-Lei n.o 45/94, de 22 de Fevereiro, regiões hidrográficas, bem
estabelecer na alínea c) do n.o 3 do seu artigo 6.o que como a integração dos aspectos
o PNA deve conter uma proposta de medidas e acções da quantidade-qualidade da
água e dos recursos hídricos
que compreenda, de entre outras, as medidas para a subterrâneos e superficiais.
coordenação dos diferentes PBH.
Com efeito, as medidas propostas em sede do PNA,
se por um lado assumem um carácter geral para o con- 3 — Gestão sustentável da pro- Promover a gestão sustentável da
cura. procura de água baseada na
tinente, por outro assentam na perspectiva da gestão gestão racional dos recursos e
por bacias hidrográficas como deve ser timbre da gestão nas disponibilidades existentes
de recursos hídricos e em consonância com as orien- em cada bacia hidrográfica e
tações decorrentes da DQA. tendo em conta a protecção a
Nesse quadro é fundamental a coordenação e arti- longo prazo dos meios hídricos
disponíveis e as perspectivas
culação entre o programa de medidas do PNA e as socioeconómicas.
dos programas dos diferentes PBH. Essa coordenação
é assegurada, não apenas pelo facto de o programa de
medidas PNA integrar, após avaliação, as medidas con- 4 — Sustentabilidade económica Promover a sustentabilidade
e financeira. ambiental, económica e finan-
sideradas relevantes propostas em cada PBH, mas tam- ceira das utilizações dos recur-
bém por haver uma articulação efectiva entre os objec- sos hídricos como forma de
tivos expressos nos PBH e no PNA. gerir a procura e garantir as
melhores condições ambientais
futuras.
3.2 — Estrutura e articulação do programa de medidas
A programação do PNA é estruturado em eixos, pro- 5 — Racionalização, optimização Promover a racionalização, a opti-
gramas e medidas, constituindo as últimas o nível mais e eficácia do quadro legal e mização e a eficácia do quadro
desagregado da informação que suporta a programação institucional. institucional, bem como o cum-
primento dos acordos interna-
da execução física e financeira elaborada para efeitos cionais subscritos por Portugal,
do Plano. nomeadamente a Convenção de
Os eixos constituem as grandes áreas de actuação Albufeira, a legislação comu-
e de intervenção associadas aos objectivos do PNA, nitária e a adequação do quadro
enquanto que os programas, na acepção do PNA, são normativo nacional às novas
perspectivas e exigências da ges-
o conjunto de medidas afins e complementares, con- tão e planeamento em matéria
vergentes para um objectivo definido. Para a realização de recursos hídricos.
dos programas identificam-se medidas que se desen-
N.o 90 — 17 de Abril de 2002 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A 3789
6 — Informação e participação Promover a informação e a par- 6 — Informação e participação P12 — Divulgação e Sensibiliza-
dos cidadãos. ticipação das populações e das dos cidadãos. ção.
suas instituições representati- P13 — Promoção da Participação
vas nos processos de planea- dos Utilizadores.
mento e gestão dos recursos
hídricos.
7 — Conhecimento, estudo e P14 — Sistemas de Monitoriza-
investigação aplicada dos ção e de Informação.
7 — Conhecimento, estudo e Promover o aumento do conhe- recursos hídricos. P15 — Estudos e Investigação.
investigação aplicada dos cimento, estudo e investigação P16 — Avaliação do PNA e dos
recursos hídricos. aplicada dos sistemas hídricos. PBH.
Os programas de acção, em número de 16 (P1 a P16), O PNA assegura o enquadramento dos PBH, pelo
foram agrupados por eixos em função da sua natureza que os programas de medidas destes últimos têm de
e contribuição para a realização do objectivo geral asso- ser necessariamente coerentes e articulados com os eixos
ciado a esse eixo e são constituídos por medidas que e respectivos programas de acção do PNA por forma
constam dos estudos de base do Plano e que se rela- que da execução dos projectos previstos nos PBH resulte
cionam de forma mais directa, não com os grandes pro- em simultâneo uma contribuição para a concretização
blemas identificados na caracterização e diagnóstico, do programa de medidas do PNA.
mas antes com os problemas específicos inventariados Os programas de medidas propostos nos PBH são
naquela parte do Plano. susceptíveis de serem enquadrados nos eixos de actuação
Atendendo à natureza e características do PNA, são e intervenção previstos no PNA, sendo de salientar não
apenas apresentados os programas e as principais medi- apenas que para determinados eixos concorrem mais
das que os integram, excepto no que respeita à pro- de um programa de medidas dos PBH, mas também
gramação física em que os mesmos serão desagregados que não existe, na generalidade, uma relação recíproca
com mais pormenor a fim de permitir uma mais ade- entre os eixos e os programas dos PBH, o que se com-
quada percepção da intensidade de realização física do preende face à natureza, âmbito espacial e hierarquia
programa de medidas. de cada plano.
No quadro 3.2.2 evidenciam-se os programas por eixo Considerando que, por um lado, a execução global
de actuação e intervenção, bem como a relação entre do programa de medidas vai ser materializada através
eles. dos programas específicos dos PBH e, por outro, por
QUADRO 3.2.2
medidas e acções inerentes ao próprio PNA, nos pro-
gramas foi tomado em consideração esse facto, pelo
Articulação eixos-programas que os programas de carácter transversal a todas as
bacias hidrográficas, ou que comportam as medidas só
Eixos Programas executáveis em termos nacionais (por exemplo medidas
legislativas), são identificados como de âmbito nacional.
No fluxograma (figura 3.2.1) é ilustrada a sequência,
1 — Sustentabilidade ambiental . . . P1 — Protecção, Recuperação e
Promoção da Qualidade dos suporte e articulação dos programas de medidas do PNA
Recursos Hídricos. com os programas dos PBH, bem como a sua estrutura
P2 — Redução e Controlo da e interligação com os objectivos definidos.
Poluição Tópica.
P3 — Conservação Ambiental e
da Integridade Biológica. 3.3 — Eixos de actuação e programas
Caracterização Caracterização
Programas Programas
Principais Problemas Objectivos Operacionais
Objectivos Específicos
Medidas Sub Programas
Projectos
Programa Valorização do Domínio Hídrico (P4) Programa Conservação dos Recursos Hídricos (P7)
Principais problemas — desequilíbrio do sistema de Principais problemas — baixa eficiência das utiliza-
transporte e deposição de sedimentos e alteração da ções da água, escassez de água e falta de garantia das
deriva litoral, degradação ambiental dos ecossistemas origens para utilizações e requisitos ambientais, insu-
das águas interiores superficiais, degradação ambiental ficiência e precariedade dos sistemas e gestão não arti-
dos estuários e das zonas costeiras adjacentes, deficiente culada das origens e captações de água.
sistematização fluvial, licenciamento casuístico das uti- Articulação com a DQA — o programa P7 articula-se,
lizações do domínio hídrico para navegação, recreio e em especial, com a actividade «Programa de medidas
lazer e utilização de albufeiras de águas públicas por para cumprimento dos objectivos».
actividades incompatíveis. Medidas:
Articulação com a DQA — o programa P4 articula-se,
P7M1 — Uso eficiente da água — abastecimento
em especial, com a actividade «Programa de medidas
doméstico e industrial;
para cumprimento dos objectivos».
P7M2 — Eficiência da rega e controlo das per-
Medidas:
das — rega.
P4M1 — Valorização para recreio e lazer;
P4M2 — Valorização para navegação fluvial; 3.3.4 — Eixo n.o 4 — Sustentabilidade económica e
P4M3 — Gestão dos inertes; financeira — que integra as medidas e projectos rela-
P4M4 — Outros usos. tivos à aplicação dos princípios do utilizador-pagador
e do poluidor-pagador, mercado da água, custos e preços
Programa Ordenamento e Gestão do Domínio Hídrico (P5) da água e componente económica da DQA.
Principais problemas — desequilíbrio do sistema de Programa Promoção e Consolidação do Mercado da Água (P8)
transporte e deposição de sedimentos e alteração da
deriva litoral, deficiente protecção das origens e cap- Principais problemas — desequilíbrio entre custos e
tações, conflituosidade entre os diferentes usos e entre receitas, ineficácia dos preços sem reflexos no uso efi-
estes e os requisitos ambientais, ocorrência recorrente ciente da água, não internalização de todos os custos
de inundações em zonas urbanas e agrícolas ribeirinhas no preço do serviço da água e inadequação da política
e inundações induzidas pelas actividades humanas, ine- de preços e do modelo de financiamento.
xistência de planos de gestão integrada dos estuários, Articulação com a DQA — o programa P8 articula-se,
dificuldade de gestão integrada das zonas costeiras, defi- em especial, com a actividade «Programa de medidas
ciente sistematização fluvial, clarificação da titularidade para cumprimento dos objectivos».
dos terrenos do domínio público hídrico, deficiente arti- Medida:
culação na gestão das origens superficiais e subterrâneas, P8M1 — Avaliação e definição de instrumentos fis-
utilização de albufeiras de águas públicas por actividades cais, de financiamento e de gestão.
incompatíveis e degradação das zonas costeiras.
Articulação com a DQA — o programa P5 articula-se, Programa Aplicação do Regime Económico e Financeiro (P9)
em especial, com as actividades «Programa de medidas
para cumprimento dos objectivos» e «Planos de gestão Principais problemas — não implementação do
de bacia hidrográfica». regime económico e financeiro, ineficácia dos preços
Medidas: sem reflexos no uso eficiente da água, desequilíbrio entre
custos e receitas, ocorrência de situações de água com
P5M1 — Domínio hídrico e ordenamento;
qualidade insuficiente para algumas utilizações e requi-
P5M2 — Prevenção e minimização de cheias;
sitos ambientais, ocorrência de potenciais riscos de
P5M3 — Conservação da rede hidrográfica.
poluição acidental, degradação ambiental e perda de
valores conservacionistas, deficiente protecção e gestão
3.3.3 — Eixo n.o 3 — Gestão sustentável da pro-
não articulada das origens e captações, escassez de água
cura — abrange os projectos e medidas relacionados
e baixas eficiências, insuficiência e precariedade dos sis-
com a satisfação da procura de água por parte das popu-
temas de abastecimento de água e de saneamento de
lações, indústria, energia e agricultura, sistemas de dre-
águas residuais urbanas e industriais e insuficiência de
nagem e tratamento de águas residuais, eficiências da
cumprimento e aplicação do quadro legal.
utilização da águas e controlo de perdas nos sistemas
Articulação com a DQA — o programa P9 articula-se,
de abastecimento e de rega.
em especial, com as actividades «Instrumentos econó-
micos» e «Programa de medidas para cumprimento dos
Programa Garantia do Abastecimento de Água às Populações e
Actividades Económicas (P6) objectivos».
Medidas:
Principais problemas — escassez de água e falta de
P9M1 — Princípio do utilizador-pagador;
garantia das origens, insuficiência e precariedade dos
P9M2 — Custo da água.
sistemas de abastecimento de água, deficiente protecção
das origens e captações e deficiente articulação na gestão
das origens e captações de água. 3.3.5 — Eixo n.o 5 — Racionalização, optimização e
eficiência do quadro legal e institucional — que com-
Articulação com a DQA — o programa P6 articula-se,
preende os projectos e medidas propostos no Plano rela-
em especial, com a actividade «Programa de medidas
cionados com o cumprimento da legislação em vigor,
para cumprimento dos objectivos».
preenchimento das insuficiências da DQA, aumento da
Medidas:
qualificação, capacidade e eficácia da administração dos
P6M1 — Abastecimento doméstico e industrial; recursos hídricos, licenciamento, fiscalização e vigilância
P6M2 — Garantia de água para rega. e aplicação da Convenção de Albufeira.
3792 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A N.o 90 — 17 de Abril de 2002
Programa Implementação da Convenção de Albufeira (P10) autoridades competentes adequadas, para aplicação das
Principais problemas — partilha das bacias e depen- regras da presente directiva em cada região hidrográfica
dência qualitativa e quantitativa das afluências geradas existente no seu território.
em Espanha, deficiente ordenamento dos recursos e 3 — Os Estados-Membros garantirão que uma bacia
falta de garantia das origens, «défice de execução» do hidrográfica que abranja o território de mais de um
direito da água, aplicação da DQA e outros acordos Estado-Membro seja incluída numa região hidrográfica
internacionais. internacional».
Articulação com a DQA — o programa P10 articu- Tendo presente o diagnóstico e os termos do artigo 3.o
la-se, em especial, com as actividades «Monitorização», da DQA, é apresentada como medida:
«Programa de medidas para cumprimento dos objec- Identificação e designação das regiões hidrográficas
tivos» e «Planos de gestão de bacia hidrográfica». (RH) (v. figuras 3.3.1 e 3.3.2):
Medida:
RH1 — Minho/Lima, correspondente ao âmbito
P10M1 — Gestão articulada das bacias dos rios geográfico dos PBH do Minho e Lima, integra
luso-espanhóis. as bacias hidrográficas do Minho e Lima e as
ribeiras de costa (no prolongamento da Região
Programa Adequação do Quadro Legal e Institucional (P11) Hidrográfica Norte I, de Espanha), incluindo as
Principais problemas — estado da qualidade dos respectivas águas subterrâneas e águas costeiras
meios hídricos, escassez e falta de garantia nas origens, adjacentes;
deficiente protecção das origens, heterogeneidade de RH2 — Cávado/Ave/Leça, correspondente ao
procedimentos e de decisões e fragilidade nos licen- âmbito geográfico dos PBH do Cávado, Ave e
ciamentos e na fiscalização, desajustamento do quadro Leça, integra as bacias hidrográficas dos rios
legal, falta do modelo institucional de planeamento e Cávado, Ave e Leça e as bacias hidrográficas
gestão de empreendimentos, não implementação do das ribeiras de costa, incluindo as respectivas
regime económico e financeiro, falta de critérios coe- águas subterrâneas e águas costeiras adjacentes;
rentes e homogéneos na fundamentação das tarifas e RH3 — Douro, correspondente ao âmbito geográ-
taxas e complexidade na tomada de decisões. Ausência fico do PBH do Douro, integra a bacia hidro-
de gestão articulada nas zonas costeiras. gráfica do rio Douro e as bacias hidrográficas
Articulação com a DQA — o programa P11 articu- das ribeiras de costa (no prolongamento da
la-se, em especial, com as actividades «Implementação Região Hidrográfica Duero, de Espanha),
das disposições legais e administrativas», «Caracteriza- incluindo as respectivas águas subterrâneas e
ção das regiões hidrográficas», «Programa de medidas águas costeiras adjacentes;
para cumprimento dos objectivos» e «Divulgação da RH4 — Vouga/Mondego/Lis, correspondente ao
informação e participação do público». âmbito geográfico dos PBH do Vouga, Mondego
Medidas: e Lis, integra as bacias hidrográficas dos rios
P11M1 — Adequação do quadro legal; Vouga, Mondego e Lis e as bacias hidrográficas
P11M2 — Reforço da administração; das ribeiras de costa, incluindo as respectivas
P11M3 — Delimitação das regiões hidrográficas e águas subterrâneas e águas costeiras adjacentes;
modelo de gestão dos recursos hídricos. RH5 — Tejo/ribeiras do Oeste, correspondente ao
âmbito geográfico dos PBH do Tejo e das ribei-
A DQA (Directiva n.o 2000/60/CE) consagra a bacia ras do Oeste, integra a bacia hidrográfica do rio
hidrográfica como unidade base de planeamento e de Tejo e as bacias hidrográficas das ribeiras de
gestão dos recursos hídricos, quer individualmente costa (no prolongamento da Região Hidrográ-
quando as suas dimensões assim o justifiquem, quer fica Tajo, de Espanha), incluindo as respectivas
agregando pequenas bacias hidrográficas. águas subterrâneas e águas costeiras adjacentes;
Para este efeito sublinha-se parte do conteúdo do RH6 — Sado/Mira, correspondente ao âmbito geo-
artigo 3.o da Directiva n.o 2000/60/CE, sobretudo no gráfico dos PBH do Sado e Mira, integra as
que diz respeito à gestão de bacias internacionais: bacias hidrográficas dos rios Sado e Mira e as
«1 — Os Estados-Membros identificarão as bacias bacias hidrográficas das ribeiras de costa,
hidrográficas que se encontram no seu território e, para incluindo as respectivas águas subterrâneas e
efeitos da presente directiva, incluirão cada uma delas águas costeiras adjacentes;
numa região hidrográfica. RH7 — Guadiana, correspondente ao âmbito geo-
As bacias hidrográficas de pequena dimensão podem
gráfico do PBH do Guadiana, integra a bacia
ser combinadas com bacias de maior dimensão ou,
quando aplicável, associadas a outras bacias de pequena hidrográfica do Guadiana (no prolongamento da
dimensão para formar uma única região hidrográfica. Região Hidrográfica Guadiana I e confinante
Nos casos em que uma massa de águas subterrâneas com a Região Hidrográfica Guadiana II, de
não corresponda rigorosamente a uma determinada Espanha), incluindo as respectivas águas subter-
bacia hidrográfica, essas águas subterrâneas serão iden- râneas e águas costeiras adjacentes;
tificadas e incluídas na região hidrográfica mais próxima RH8 — Ribeiras do Algarve, correspondente ao
ou mais indicada. âmbito geográfico do PBH das Ribeiras do
As águas costeiras serão identificadas e incluídas na Algarve, integra as bacias hidrográficas dos rios
região ou regiões hidrográficas mais próximas ou mais e das ribeiras entre o estuário do rio Guadiana
indicadas. e a foz da ribeira de Seixe, incluindo as res-
2 — Os Estados-Membros tomarão as disposições pectivas águas subterrâneas e águas costeiras
administrativas adequadas, incluindo a designação das adjacentes;
N.o 90 — 17 de Abril de 2002 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A 3793
RH9 — Açores, integra todas as bacias hidrográ- Estas ARH deverão dispor de poderes em matéria
ficas de todas as ilhas do arquipélago, incluindo de planeamento, licenciamento e fiscalização das uti-
as respectivas águas subterrâneas e águas cos- lizações do domínio hídrico, bem como da aplicação
teiras; do regime económico e financeiro associado, na res-
RH10 — Madeira, integra todas as bacias hidro- pectiva área da região hidrográfica.
gráficas de todas as ilhas do arquipélago, A organização dos serviços ao nível das Regiões Autó-
incluindo as respectivas águas subterrâneas e nomas será assegurada pelos respectivos Governos
águas costeiras. Regionais.
Regiões hidrográficas
Articulação com a DQA — O Programa P12 articu- biológicas autóctones em ecossistemas de águas inte-
la-se, em especial, com a actividade «Divulgação da riores em que ocorrem espécies exóticas, ocorrência
informação e participação do público». recorrente de inundações em zonas urbanas e agrícolas
Medidas: ribeirinhas e inundações induzidas pelas actividades
urbanas.
P12M1 — Sensibilização, informação e formação
Articulação com a DQA — o Programa P15 articu-
das populações.
la-se, em especial, com as actividades «Caracterização
das regiões hidrográficas», «Programas de monitoriza-
Programa Promoção e Participação dos Utilizadores (P13)
ção» e «Planos de gestão de bacias hidrográficas».
Principais problemas — conflitualidade entre os dife- Medidas:
rentes usos e entre estes e os requisitos ambientais,
P15M1 — Desenvolvimento de estudos, cartografia
escassa participação nos processos públicos e insufi-
ciente eficácia nos resultados e desconhecimento do sis- e sistemas de informação.
tema de participação.
Articulação com a DQA — o Programa P13 articu- Programa Avaliação do Plano Nacional da Água e dos Planos de
la-se, em especial, com a actividade «Divulgação da Bacia Hidrográfica (P16)
informação e participação do público».
Medidas: Principais problemas — Degradação do estado da
qualidade dos meios hídricos, dependência das afluên-
P13M1 — Reforço da participação dos utilizadores cias de Espanha, degradação ambiental dos ecossistemas
e das populações. aquáticos, insuficiência e precariedade dos sistemas de
abastecimento de água e de saneamento de águas resi-
3.3.7 — Eixo n.o 7 — Conhecimento, estudo e inves- duais urbanas, falta de integração das múltiplas pers-
tigação aplicada dos recursos hídricos — que contempla pectivas sectoriais, ausência de tradição e de definição
projectos, medidas e acções relativos ao sistema de de estratégias de planeamento integrado e participado,
monitorização e de informação sobre recursos hídricos, complexidade na tomada de decisões, défice de execução
cadastros e inventários, cooperação com as instituições do direito da água, nacional, comunitário e internacio-
de investigação. nal, modelo institucional desajustado às necessidades
da gestão dos recursos hídricos, escassa participação dos
Programa Sistemas de Monitorização e de Informação (P14) cidadãos nos processos públicos e consequente insufi-
ciente eficácia nos resultados, défice de monitorização
Principais problemas — ausência significativa de apli- sobre a ocorrência e estado da água e do domínio
cação dos instrumentos de monitorização, controlo e
hídrico, não implementação do regime económico e
autocontrolo, insuficiência de cumprimento e aplicação
financeiro e falta de critérios coerentes e homogéneos
do quadro legal, ocorrência de água com qualidade insu-
a nível nacional na fundamentação das tarifas e taxas.
ficiente para algumas utilizações e requisitos ambientais
de zonas de interesse especial, dependência das afluên- Articulação com a DQA — o Programa P16 articu-
cias de Espanha, deficiente protecção e gestão desar- la-se, em especial, com a actividade «Planos de gestão
ticulada das origens e captações, ocorrência de riscos de bacias hidrográficas».
de poluição acidental e insuficiência e precariedade dos Medidas:
sistemas de abastecimento de água e águas residuais
urbanas e industriais, degradação ambiental e perda de P16M1 — Auditoria e avaliação sistemática dos
valores conservacionistas, desequilíbrio do sistema de planos.
transporte e deposição de sedimentos e alteração da
deriva litoral, não internalização dos custos da água e 3.4 — Contribuição dos programas para a resolução dos problemas
desconhecimento de custos nos sistemas não públicos.
Articulação com a DQA — o Programa P14 articu- A caracterização permitiu elaborar o diagnóstico do
la-se, em especial, com as actividades «Caracterização estado dos recursos hídricos no continente a partir do
das regiões hidrográficas» e «Programa de medidas para qual foram identificados os principais problemas e as
cumprimento dos objectivos». respectivas causas e, em paralelo, foram igualmente
Medidas: identificadas as potencialidades, oportunidades e estran-
P14M1 — Redes, monitorização, postos; gulamentos.
P14M2 — Inquéritos, inventários, cadastro e SIG. Perante a situação de referência diagnosticada, foram
estabelecidos os objectivos que enquadram, delimitam
Programa Estudos e Investigação (P15)
e estabelecem as metas a assegurar através da execução
do programa de medidas. Existe, portanto, uma forte
Principais problemas — défice na prevenção e conhe- relação entre os problemas e os programas de medidas,
cimento sobre ecossistemas, aplicação da DQA e con- pelo que importa avaliar, ainda que de forma qualitativa,
venções internacionais, deficiente conhecimento sobre até que ponto e com que relevância é que os programas
ecossistemas de águas interiores superficiais, de estuá- contribuem para a resolução dos problemas ou elimi-
rios e de zonas costeiras, desequilíbrio em comunidades nação das causas que lhes estão subjacentes.
3796 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A N.o 90 — 17 de Abril de 2002
P16
I
I
I
liação qualitativa faz-se a avaliação da relação dos pro-
blemas agrupados por domínio de diagnóstico com os
II
II
P15
I
I
I
programas de medidas, evidenciando-se a importância
da contribuição de cada programa para a resolução dos
II
P14
I
I
I
I
I
problemas (quadro 3.4.1).
Da análise do quadro é evidente a contribuição, clas-
P13
I
sificada como de muito importante, do Programa Pro-
tecção, Recuperação e Promoção da Qualidade dos
P12
I
Meios Hídricos (P1) para a resolução de problemas rela-
cionados com a degradação da qualidade dos meios
II
P11
I
I
I
I
hídricos, riscos de poluição acidental, garantia das ori-
gens, protecção de captações e com a insuficiência e
II
P10
I
precariedade dos sistemas de abastecimento de água
Programas de medidas
e saneamento de águas residuais urbanas. Para a reso-
II
II
II
II
II
I
P9
lução deste último problema é igualmente significativa
a contribuição dos Programas Redução e Controle da
P8
Poluição Tópica (P2), Garantia de Abastecimento de
Água às Populações e Actividades Económicas (P6),
I
I
P7
Contribuição dos programas para a resolução dos problemas
Conservação dos Recursos Hídricos (P7), Aplicação do
Regime Económico e Financeiro (P10) e Adequação
P6
do Quadro Legal e do Quadro Institucional (P11).
O Programa Conservação Ambiental e da Integridade
II
I
I
I
I
P5
II
I
P4
II
II
II
II
II
I
I
P3
I
P2
II
I
P1
servação de ecossistemas.
costeiras adjacentes.
3797
Degradação das zonas costeiras . . . . . . . . . . . . . . . . . I I I I I I I I
3798
Programas de medidas
II Contribuição elevada.
I Contribuição média.
N.o 90 — 17 de Abril de 2002 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A 3799
Os programas relacionados com a «Divulgação e sen- um lado, ou que, por outro, careçam de gestão e orde-
sibilização» (P12) e com a «Promoção da participação namento específico pelo facto de actualmente já serem
dos utilizadores» (P13) contribuem de forma muito origens muito importantes para o abastecimento
importante para que possam ser minimizados e erra- humano.
dicados os problemas que se verificam actualmente rela- Com essa finalidade, esta vertente contempla a pre-
cionados com a insuficiente informação e sensibilização servação das bacias drenantes e das albufeiras que cons-
das populações para a problemática da água, bem como tituem as grandes reservas estratégicas para abasteci-
com a relativamente diminuta co-responsabilidade dos mento das principais zonas urbanas do País, nomea-
utilizadores na gestão da água. damente da albufeira de Castelo do Bode e da bacia
Para a resolução da situação diagnosticada acerca da do rio Paiva.
insuficiência da informação para suporte à gestão e ao A mesma vertente integra, ainda, os estudos e as
planeamento e do défice de conhecimento sistémico acções de monitorização e protecção da qualidade das
sobre a água os programas Sistemas de Monitorização origens para produção de água para consumo humano,
e de Informação (P14) e Estudos e Investigação (P15) designadamente através do ordenamento dos usos no
dão um muito importante contributo para que a situação território envolvente das origens superficiais e subter-
melhore no horizonte do Plano. râneas, habitualmente designado por protecção das
Em conclusão, os programas de medidas do PNA captações.
além de procurarem dar resposta aos principais pro- O sucesso desta vertente está necessariamente asso-
blemas identificados em cada domínio do diagnóstico ciada à sustentabilidade financeira dos sistemas a imple-
mais directamente associado ao âmbito do cada pro- mentar e a uma gestão racional e eficiente do recurso
grama contribuem ainda para a resolução de problemas água considerado como bem económico, o que implica
de outros domínios. Há a salientar que em geral todos um aumento da consciencialização da população e dos
os principais problemas encontram resposta nas medidas agentes para esse facto, na linha do preconizado
programadas. na DQA.
3.4.1 — Síntese das intervenções preconizadas por 3.4.3 — Tratamento de águas residuais — a vertente
vertentes — foram descritas, por programa, as medidas «Redução da poluição tópica» assume como estratégia
de forma a relacionar as intervenções propostas com a realização do objectivo estabelecido no
a resolução dos problemas identificados sem que para PDR 2000-2006, de elevar para 90 %, até 2006, o índice
o efeito fossem tomadas em consideração as vertentes de atendimento da população com sistemas de trata-
de actuação que em geral são tidas como fundamentais mento de efluentes na dupla perspectiva de redução
na resolução de carências e da gestão dos meios hídricos. das emissões e de tratamento dos efluentes urbanos.
Nesse âmbito, o PNA prevê um vasto conjunto de Esta vertente reflecte intervenções no âmbito dos sis-
acções envolvendo agentes dos diversos sectores da temas de drenagem e tratamento de efluentes, englo-
administração central, regional e local, das actividades bando estudos, projectos e obras e nomeadamente a
económicas e os privados, e que podem ser sintetizadas implementação de sistemas integrados de saneamento
nas seguintes vertentes de intervenção. preconizados no PEAASAR.
3.4.2 — Abastecimento — nesta vertente é assumida Contempla as medidas de redução das cargas poluen-
a concretização não só do objectivo estabelecido no PDR tes afluentes aos meios hídricos, através de drenagem
2000-2006, de abastecer com água potável 95 % da popu- e tratamento adequados, designadamente para as áreas
lação com sistemas públicos até 2006, mas também o populacionais deficientemente equipadas e para as áreas
de aumentar a garantia de abastecimento e o de reduzir já dominados por sistemas de abastecimento de água
as perdas nos sistemas de abastecimento. que potenciam o volume de efluentes ao meio hídrico,
Nesse âmbito, as medidas previstas compreendem a cobrindo assim convenientemente uma das partes do
elaboração de estudos, projectos e obras de execução ciclo urbano de água.
de sistemas de abastecimento de água às populações Esta vertente integra as medidas «Caracterização da
e indústria, incluindo origem, adução e tratamento, qualidade dos meios hídricos», «Classificação das massas
nomeadamente através da implementação dos sistemas de água em função dos usos» e «Definição e imple-
integrados previstos no PEAASAR. mentação do tratamento adequado», com base na carac-
Essas medidas têm em vista a promoção da qualidade terização do efluente e do meio receptor, complemen-
do serviço de abastecimento, com o aumento do nível tadas, quando justificado, por estudos para reutilização
de atendimento e da fiabilidade dos sistemas, a elimi- de efluentes tratados.
nação de perdas e a minimização das fugas e dos con- Esta vertente tem incidência relevante nas bacias dre-
sumos não contabilizados nos sistemas, a melhoria da nantes para zonas sensíveis, para zonas de infiltração
garantia das disponibilidades para abastecimento, a máxima, para meios aquáticos com frequente utilização
redução do número das origens existentes e uma ade- balnear e para as zonas estuarinas e costeiras de par-
quada articulação entre origens superficiais e subter- ticular fragilidade ambiental, nomeadamente os estuá-
râneas, no sentido da melhoria das suas condições de rios do Tejo e do Sado, a ria de Aveiro e a ria Formosa.
gestão, e ainda a melhoria e o controlo da qualidade Tal como na vertente anterior, o conjunto das inter-
da água distribuída nos sistemas e a promoção do uso venções apontadas é suportado pela realização do cadas-
racional da água na indústria através da adopção das tro e inventário das descargas, pela monitorização dos
melhores técnicas disponíveis. meios hídricos, pelo licenciamento e fiscalização das des-
O abastecimento de água à maioria da população, cargas, pela adequação da legislação pertinente e pela
nomeadamente a das áreas metropolitanas de Lisboa implementação do regime económico-financeiro, atra-
e Porto, está dependente de um reduzido número de vés dos princípios do utilizador-pagador e do polui-
origens superficiais, pelo que importa assegurar a pre- dor-pagador.
servação de bacias com meios hídricos de boa qualidade 3.4.4 — Actividade agrícola — esta vertente é pers-
que se possam constituir com origens alternativas, por pectivada com uma estratégia de, por um lado, assegurar
3800 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A N.o 90 — 17 de Abril de 2002
e garantir na origem disponibilidades para as actuais Estão ainda inseridas nesta vertente todas as acções
áreas de rega e para as previstas no Plano Novos Rega- respeitantes ao estudo, caracterização e gestão dos
dios 2000-2006 e, por outro, aumentar a eficiência global estuários e zonas costeiras, podendo constituir planos
em ordem a que ao aumento da área a regar, com excep- integrados para os estuários, à valorização dos sistemas
ção do sistema de Alqueva, não tenha de corresponder lagunares e paludosos, através da sua protecção e recu-
necessariamente um aumento das dotações globais de peração em situações de degradação, à monitorização
água para a actividade agrícola. biológica e ecológica dos meios hídricos, com vista à
A vertente «Agricultura», concretamente o regadio, sua tipificação no âmbito da implementação da DQA,
engloba medidas relativas à melhoria da garantia da e à sua adequada fiscalização.
água disponível, no sentido da minimização dos efeitos 3.4.6 — Ordenamento do domínio hídrico — esta ver-
da seca e da satisfação de carências das áreas já regadas tente prossegue como estratégia a integração da com-
ou de novas áreas com manifesta apetência para o rega- ponente «Protecção do domínio hídrico» em geral nos
dio, nem sempre implicando a criação de novas origens, instrumentos de gestão territorial e nos planos sectoriais
mas resultante da reabilitação das infra-estruturas, mini- e a protecção específica através dos planos especiais
mização de perdas nos sistemas já existentes e do de ordenamento em paralelo com a valorização ambien-
aumento da eficiência de utilização da água, designa- tal dos meios hídricos e o aumento da segurança de
damente nos regadios privados e tradicionais. pessoas e bens.
Destaca-se, pela sua importância nacional em termos As acções relativas à vertente «Ordenamento do
de desenvolvimento socioeconómico da região em que domínio hídrico e valorização dos recursos hídricos»
se insere, a realização do Empreendimento do Alqueva, contemplam as medidas de classificação e conservação
a que está associada uma área de rega de cerca de da rede hidrográfica, de protecção das encostas e das
110 000 ha, constituindo em parte o reforço de apro- margens, de delimitação e titularidade do domínio
veitamentos hidroagrícolas já existentes no Alentejo. hídrico, a delimitação de áreas sujeitas a cheias e inun-
No que respeita à qualidade, esta vertente prevê, por dações, a redefinição de zonas de protecção das albu-
um lado, a prevenção, avaliação e controlo da poluição feiras, o ordenamento e o licenciamento dos usos de
difusa com origem na actividade agrícola, designada- recursos hídricos e do domínio hídrico, da extracção
mente através da aplicação do código de boas práticas de inertes e das actividades não consumptivas, nomea-
agrícolas e da respectiva monitorização e, por outro, damente a pesca, navegação, recreio e lazer.
a protecção das origens de modo a assegurar a qualidade As orientações relativas ao ordenamento do domínio
da água adequada ao uso para rega. hídrico são materializadas nos instrumentos de gestão
A este conjunto de intervenções, que inclui também territorial, designadamente em planos de ordenamento
um cadastro e inventário dos usos e dos sistemas para de albufeiras, planos de ordenamento da orla costeira,
o sector da agricultura e acções de adequação do quadro num plano integrado de gestão de estuários e na moni-
institucional, nomeadamente no que respeita à gestão torização, fiscalização, aplicação do regime económi-
dos empreendimentos de fins múltiplos, e que envolve co-financeiro.
quer a Administração quer os agentes económicos 3.4.7 — Bacias luso-espanholas — respeita à vertente
privados. «Bacias luso-espanholas», objectivamente à implemen-
3.4.5 — Conservação da natureza — na vertente tação da Convenção de Albufeira, que entrou em vigor
«Conservação da natureza» a estratégia compreende as em Janeiro de 2000, prevendo acções que incluem a
orientações da «Estratégia nacional da conservação da classificação dos troços fronteiriços em função dos usos,
natureza e da biodiversidade» em particular no que con- a definição de medidas de intervenção conjugadas, do
cerne aos ecossistemas dependentes dos meios hídricos. aproveitamento dos troços de fronteira e de medidas
Em termos espaciais de intervenção privilegiaram-se as de gestão dos estuários das bacias internacionais, com-
áreas classificadas pela legislação nacional e comu- plementadas com a monitorização prevista no quadro
nitária. da Convenção estabelecida.
Nesta vertente estão previstos estudos e acções neces- 3.4.8 — Monitorização, informação e conheci-
sários à protecção dos ecossistemas aquáticos e ribei- mento — a vertente «Monitorização, informação e
rinhos, com relevância para as zonas de protecção espe- conhecimento» assume uma estratégia de integração e
cial, para as áreas protegidas ou classificadas, para os horizontalidade, procurando evitar a pulverização de
sítios da Lista Nacional de Sítios e para os troços com redes de monitorização temática e específicas, antes con-
especial interesse conservacionista apontados nos PBH. centrando de forma integrada a monitorização dos diver-
A preservação dos ecossistemas é suportada por uma sos aspectos quantitativos e qualitativos necessários à
caracterização e avaliação ambiental dos troços das gestão e planeamento dos recursos hídricos e ao cum-
linhas de água com vista à protecção e recuperação de primento das exigências legais.
troços degradados, dos troços com interesse conserva- Relativamente à componente «Conhecimento e
cionista, pela recuperação de albufeiras em estado de preenchimento das lacunas de conhecimento» a opção
eutrofização e pela recuperação e gestão da vegetação estratégica foi a de privilegiar as parcerias com insti-
ripícola. tuições de investigação, enquanto que no que respeita
Esta vertente contempla ainda a realização de estudos aos inventários e cadastros a opção assenta na cons-
e acções relativos à implementação dos caudais ambien- tituição de bases de dados nacionais suportadas em bases
tais a estabelecer a jusante das obras hidráulicas, à ade- por bacia hidrográfica.
quação das obras e à satisfação e manutenção desses Esta vertente de monitorização, informação e conhe-
caudais e de estudos e acções relativos à recuperação, cimento dos meios hídricos integra um conjunto de
protecção e gestão das populações piscícolas, nomea- medidas transversais às vertentes atrás descritas, através
damente das espécies diadrómas, com a instalação de do estabelecimento e manutenção de sistemas de moni-
equipamento adequado à passagem da ictiofauna através torização e procedimentos diversos ajustados aos objec-
das obras hidráulicas. tivos, da recolha de informação e realização de cadastros
N.o 90 — 17 de Abril de 2002 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A 3801
e inventários de usos e do desenvolvimento de estudos os gerais (artigo 1.o) e os ambientais (artigo 4.o). De
específicos, no sentido da colmatação das lacunas detec- certa forma, pode-se considerar que os primeiros serão
tadas e da manutenção e actualização da informação alcançados através do cumprimento dos objectivos mais
pertinente. concretos, neste caso os objectivos ambientais. Estes
3.4.9 — Quadro legal e institucional — no quadro devem ser cumpridos através do estabelecimento de pro-
legal e institucional, face aos problemas diagnosticados gramas de medidas (artigo 11.o), que por sua vez devem
e ao previsto na DQA, a opção foi a da alteração do ser incluídos nos planos de gestão de bacia hidrográfica
quadro legal e institucional, promovendo uma nova ter- (artigo 13.o).
ritorialização da gestão da água que assenta na gestão 3.5.2 — Principais disposições da DQA — o planea-
por bacia hidrográficas com a institucionalização das mento dos recursos hídricos a nível da bacia hidrográfica
regiões hidrográficas. proposto pela DQA é, em termos gerais, composto pelas
A vertente «Quadro legal e institucional» reflecte seguintes etapas:
igualmente um conjunto de medidas transversais às ver-
tentes anteriores, incluindo aspectos relativos a falta de A — Definição das regiões hidrográficas;
adequação ou a situações decorrentes da necessidade B — Caracterização das regiões hidrográficas;
de dar cumprimento à legislação em vigor, no quadro C — Identificação das pressões e impactes sobre
dos princípios e normas internacionais recentemente o estado das águas de superfície e subterrâneas;
aprovadas, nomeadamente a DQA. D — Análise económica das utilizações da água:
No âmbito desta vertente estão ainda previstas medi-
das relativas ao reforço, aumento da qualificação e da Desenvolvimento de políticas de preços da
eficácia da administração dos recursos hídricos, bem água;
como as que se relacionam com a optimização e racio- Identificação das medidas com melhor relação
nalização dos processos administrativos. custo-eficácia para cumprir os objectivos
ambientais;
3.5 — Implementação da Directiva Quadro da Água
E — Estabelecimento de objectivos;
3.5.1 — Enquadramento geral — a DQA estabelece F — Estabelecimento de medidas «básicas» e
um sistema para coordenar as iniciativas a aplicar pelos «suplementares»;
Estados-Membros com vista a uma melhoria da pro- G — Estabelecimento de programas de monito-
tecção dos meios hídricos da Comunidade, de modo rização;
a promover o uso sustentável da água, proteger os eco- H — Revisão das medidas estabelecidas.
ssistemas aquáticos e os ecossistemas terrestres e zonas
húmidas directamente associados e salvaguardar as futu- A implementação do processo de planeamento é feita
ras utilizações da água. De entre os principais aspectos
segundo uma sequência de actividades para as quais
introduzidos pela DQA devem-se destacar os seguintes:
são estabelecidos prazos específicos de execução. A
Avaliação do estado das águas através de uma abor- implementação da DQA e, por conseguinte, o cumpri-
dagem ecológica; mento dos objectivos ambientais exigem o desenvolvi-
Planeamento integrado a nível da bacia hidro- mento e a aplicação dos princípios e orientações da
gráfica; DQA, através do estabelecimento e implementação de
Estratégia para a eliminação da poluição causada um conjunto de medidas, tanto por parte dos Estados-
por substâncias perigosas; -Membros como da Comissão.
Aplicação de instrumentos financeiros; No quadro 3.5.1 são apresentadas as principais dis-
Aumento da informação e participação do público. posições da DQA que deverão ser aplicadas pelos Esta-
dos-Membros e os respectivos prazos de execução, sendo
A partir da análise da estrutura da DQA pode-se igualmente apresentados os prazos estabelecidos para
observar a existência de dois conjuntos de objectivos: a revisão das mesmas.
QUADRO 3.5.1
Principais disposições da DQA a aplicar pelos Estados-Membros e respectivos prazos de execução e revisão
Identificação das autoridades competentes das regiões hidrográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.7 Dezembro de 2003.
Transposição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24.1
Registo provisório das estações da rede de intercalibração do estado ecológico das águas . . . . Anexo V. 1.4.1
Relatório da lista de autoridades competentes das regiões hidrográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.8 Junho de 2004.
Caracterização das regiões de bacia hidrográfica, análise do impacte das actividades humanas 5.1 Dezembro de 2004.
sobre o estado das águas de superfície e subterrâneas e análise económica das utilizações
da água.
Prazos para a execução das sucessivas revisões — 2013, 2019 e 2025 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Anexos II e III
Registo das zonas de protecção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
Estabelecimento de critérios para a protecção das águas subterrâneas, na ausência de critérios 17.4 Dezembro de 2005.
adoptados a nível comunitário.
Exercício de intercalibração do estado ecológico das águas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Anexo V. 1.4.1 Junho de 2005.
Implementação dos programas de monitorização do estado das águas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8.2 Dezembro de 2006.
Publicação do programa de trabalhos para a elaboração dos planos de gestão de bacia hidro- 14.1 (a)
gráfica, incluindo o processo de consulta prévia.
Prazos para a execução das sucessivas revisões — 2012, 2018 e 2024.
Relatório sobre os programas de monitorização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15.2
Estabelecimento de normas de qualidade ambiental para todos os meios hídricos afectados 16.8
por descargas de poluentes incluídos na lista de substâncias prioritárias e controlo das
principais fontes de descargas.
Prazos para a execução das sucessivas revisões — 2010, 2014, 2018, 2022 e 2026 . . . . . . . . . . . .
Publicação da síntese dos principais aspectos da gestão dos recursos hídricos identificados 14.1 (b) Dezembro de 2007.
para análise nos planos de gestão de bacia hidrográfica
Prazos para a execução das sucessivas revisões — 2013, 2019 e 2025 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Publicação das versões para consulta pública dos planos de gestão de bacia hidrográfica 14.1 (c) Dezembro de 2008.
Prazos para a execução das sucessivas revisões — 2014, 2020 e 2026 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Implementação dos controlos das descargas pontuais e difusas de acordo com a abordagem 10.2 Dezembro de 2012.
combinada.
Cumprimento dos objectivos ambientais após a primeira derrogação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.4 Dezembro de 2021.
Cumprimento dos objectivos ambientais após a segunda derrogação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.4 Dezembro de 2027.
Disposições relativas às regiões hidrográficas internacionais países, tanto a nível técnico e científico como a nível
político. Salienta-se o papel que a Comissão estabelecida
Todas as partes envolvidas no processo de implemen-
no âmbito da Convenção sobre Cooperação para a Pro-
tação da DQA partilham a ideia da necessidade de esta- tecção e Aproveitamento Sustentável das Águas das
belecer uma interpretação comum e harmonizada das Bacias Hidrográficas Luso-Espanholas, assinada pelos
obrigações da directiva, havendo também a consciência dois países, na Cimeira de Albufeira, em 30 de Novem-
de que, no caso das bacias hidrográficas partilhadas por bro de 1998, possa vir a assumir no processo de aplicação
dois ou mais Estados-Membros, esta questão assume das disposições da DQA. A Convenção aplica os prin-
maior relevância. cípios estabelecidos pelo direito comunitário e inter-
Para além destes aspectos técnicos, a própria DQA nacional relativamente às águas transfronteiriças e, neste
estabelece, para os Estados-Membros que partilham a caso específico, o disposto na DQA.
região de bacia hidrográfica, o dever de envidar todos Em certa medida, o facto de os dois países estarem
os esforços de cooperação e coordenação de actividades, a participar nos projectos desenvolvidos no âmbito da
tendo em vista a elaboração de um único plano de gestão «Estratégia comum europeia para a implementação da
de bacia hidrográfica, ou, se tal não for possível, a ela- DQA» e serem partes subscritoras de uma convenção
boração de planos coordenados para a parte da bacia que estabelece, entre outras medidas, a troca sistemática
incluída nos respectivos territórios. de informação sobre o estado das águas, a avaliação
Assim, pode-se constatar que o processo de imple- de impactes fronteiriços e a elaboração de projectos
mentação da DQA nas bacias hidrográficas partilhadas conjuntos, constitui um primeiro passo para o estabe-
entre Portugal e Espanha passará pelo estabelecimento, lecimento de uma plataforma de trabalho adequada para
desde o início do processo, de uma estrutura de trabalho a aplicação do disposto na DQA na eco-região Ibé-
que garanta a coordenação de esforços entre os dois rico-Macaronésica.
N.o 90 — 17 de Abril de 2002 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A 3803
Transposição
DEZ 2003 1
da água
DEZ 2004 2
DEZ 2005 2
DEZ 2006 4 7 5
DEZ 2007 7
DEZ 2008 7
DEZ 2009 5 6 7
DEZ 2010 3
DEZ 2012 5 6
DEZ 2015
Figura 3.5.1 — Cronograma das principais acções a serem desenvolvidas no âmbito da implementação da DQA
até 2015 e respectivos prazos de execução e grupos de actividades
N.o 90 — 17 de Abril de 2002 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A 3805
P16
M1
O conjunto de actividades a desenvolver no âmbito
P15
M1
c
do processo de implementação da DQA deve estar arti-
M2
culado com o conjunto de medidas proposto no contexto
P14
do PNA, devendo-se, no entanto, ter em consideração
M1
o facto de o âmbito do planeamento do PNA ser mais
P13
M1
abrangente do que o preconizado na DQA. Com base
no teor dos objectivos gerais e específicos do PNA, é
P12
M1
de se prever que os programas de medidas propostos
no PNA contribuam em larga medida para o cumpri-
M2
c
c
c
c
P11
mento da disposições da DQA e vice-versa.
M1
c
A relação entre as actividades a desenvolver no
âmbito da DQA e o conjunto de programas propostos
P10
M1
pelo PNA está representado no quadro 3.5.2. Preten-
M2
de-se, assim, evidenciar os principais pontos de ligação
P9
entre os dois processos e destacar os programas que
M1
se revestem de maior importância no contexto do cum-
M1
P8
primento da directiva.
Do conjunto de projectos previsto para desenvolvi-
M2
mento no PNA, os que assumem maior relevância para
P7
M1
a primeira etapa de implementação da DQA, corres-
pondente ao período entre 2000-2006, estão incluídos
M2
nos programas P11, P14 e P15, relativos à racionalização,
Articulação entre programas (PNA) e actividades (DQA)
P6
M1
optimização e eficácia do quadro legal e institucional,
aos sistemas de monitorização e de informação e aos
M3
estudos e investigação, respectivamente. No que se M2
P5
c
P3
M1 M2 M3 M4 M5 M1 M1 M2 M1 M2 M3 M4 M1 M2 M3 M1 M2 M1 M2 M1 M1 M2 M1 M1 M2 M1 M1 M1 M2 M1 M1
A3 — Instrumentos económicos
Realização da análise económica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . c c
Estabelecimento de uma política de preços da água . . . . . . . . . . . . . . . . c c
A4 — Programas de monitorização
Desenvolvimento de métodos de monitorização dos parâmetros indi-
cativos dos elementos de qualidade biológica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . c c c
Desenvolvimento de métodos de monitorização dos parâmetros indi-
cativos dos elementos de qualidade hidromorfológica . . . . . . . . . . . . c c
Desenvolvimento de métodos de monitorização dos parâmetros indi-
cativos dos elementos de qualidade físico-química . . . . . . . . . . . . . . . c c
Estabelecimento de programas de monitorização do estado ecológico,
potencial ecológico e estado químico das águas de superfície . . . . . . c c c c
Definição de critérios para identificar pontos de monitorização obri-
gatória de parâmetros de quantidade de água relevantes para a
DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A
M1
c
c
4.1 — Considerações gerais
P15
M1
c
A programação da execução física assenta em termos
M2
c
c
c
c
P14
c
c
M1
c
veis que poderão condicionar à programação física são
P12
M1
c
muitas, o que afecta o grau de precisão da programação,
pelo que é mais seguro prever a realização física por
M2
c
c
c
c
M1
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M1
planeamento de 20 anos.
M3
c
c
período de duração.
P4
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c
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c
Divulgação da DQA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Nos períodos seguintes a taxa de realização assume da sua maior ou menor contribuição para os objectivos
valores mais moderados, sendo no essencial determi- do PNA, da qual resultou um valor global de inves-
nada, ainda que de forma muito menos intensa, pelos timentos previstos para a implementação do PNA infe-
programas referidos anteriormente, nomeadamente o rior à simples adição dos valores orçamentados por cada
relativo ao «Abastecimento às populações e actividades PBH.
económicas», reflectindo o efeito Alqueva, e pelos pro- Como princípio de orçamentação foi adoptado o cri-
gramas «Ordenamento e gestão do domínio hídrico» tério de que quando os elementos disponíveis por
e «Conservação ambiental e da integridade biológica». medida permitiam estimar com rigor o investimento glo-
Em face do que antecede a programação física pro- bal fosse considerado o investimento total, mas quando
posta no pna, estando no seu início concentrada, vai as acções propostas contemplavam estudos prévios, dos
mobilizar meios e capacidades elevadas, sendo neces- quais decorrerão posteriormente intervenções cujo valor
sário que as instituições estejam preparadas para asse- não é possível prever com o mínimo de rigor, adoptou-se
gurar o seu cumprimento de acordo com o programado. o custo dos estudos como referência para a estimativa.
Tomando por base o quadro de premissas referido,
Plano Nacional da Água a estimativa elaborada para a implementação do PNA
PLANO NACIONAL DA ÁGUA
para o horizonte de planeamento estabelecido de 2020
é de 1780 milhões de contos (8850 milhões de euros),
100.0%
dos quais 1340 milhões de contos (6660 milhões de
80.0%
euros) até 2006, 290 milhões de contos (1435 milhões
de euros) de 2007 a 2013 e 150 milhões de contos
60.0%
(760 milhões de euros) de 2013 a 2020.
40.0%
20.0%
5.2 — Programação por eixos de actuação e de intervenção
0.0%
2000 2003 2006 2009 2012 2015 2018
Ascendendo o montante total do investimento a cerca
Figura 4.2.1 — Estimativa da evolução da realização do PNA de 1780 milhões de contos (8850 milhões de euros) para
o período de 2001 a 2020, são os eixos «Gestão sus-
5 — Programação da execução material e financeira tentada da procura», «Sustentabilidade ambiental» e
5.1 — Considerações gerais «Gestão integrada do domínio hídrico» aqueles aos
quais é afecto o maior volume de investimentos, res-
A programação financeira do PNA para os horizontes pectivamente 63,8 %, 27,5 % e 5,7 % (figura 5.2.1 e qua-
de planeamento adoptados (2006, 2012 e 2020) tomou dro 5.2.1).
por base as medidas referidas no capítulo anterior, as A importância elevada do eixo «Gestão integrada da
quais foram agrupadas, consoante a sua afinidade, por procura», quando comparada com outros eixos, deriva
programas, e estes por sua vez integrados nos eixos de da conjugação de dois factores: por um lado, a orien-
actuação, estabelecendo-se assim a relação problemas- tação assumida no âmbito do PDR de assegurar que
-potencialidades — objectivos — eixos-programa de 95 % da população em 2006 seja abastecida por sistema
medidas — programação física — programação finan- públicos; por outro, a opção decorrente do quadro pre-
ceira. visto no Plano Novos Regadios 2000-2006, nele incluído
As estimativas de investimentos elaboradas conside- a componente rega prevista pelo Empreendimento de
raram as programações financeiras realizadas pelos Fins Múltiplos de Alqueva.
diversos PBH e a sua compatibilização entre bacias e
depois de seleccionados os projectos que foram con- Eixo 1
siderados como susceptíveis de integrar o PNA e os 27.5%
que, pela sua natureza, compreendem uma perspectiva
não exclusivamente de bacia hidrográfica, nomeada-
mente os que respeitam ao quadro normativo e ins-
Eixo 2
titucional, à Convenção de Albufeira e à DQA, entre 5.7%
Eixo 7
outros. 1.8%
Foram ainda tomadas em consideração as propostas Outros
apresentadas pelas equipas de especialistas e cientistas 3.0%
que colaboraram na elaboração do PNA, desde que essas Eixo 5
propostas não estivessem já abrangidas pela programa- 0.9%
ção dos PBH, por forma a evitar duplicações de pro- Eixo 6
postas e de estimativas. 0.2%
Nesse quadro, em que a base das estimativas não Eixo 3 Eixo 4
correspondeu a uma mera adição da programação finan- 63.8% 0.1%
ceira dos PBH, foram tomadas em consideração outras
vertentes, nomeadamente a selectividade na perspectiva Figura 5.2.1 — Distribuição dos investimentos por eixos
QUADRO 5.2.1
1 — Sustentabilidade ambiental . . . . . . . . . . . . . . Milhares de contos . . . 486 440 400 849 43 168 42 414
Milhares de euros . . . 2 426 352 1 999 426 215 370 211 560
N.o 90 — 17 de Abril de 2002 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A 3809
1 — Gestão integrada do domínio hídrico . . . . . . Milhares de contos . . . 100 955 58 911 20 193 21 851
Milhares de euros . . . 503 561 293 846 100 722 108 992
3 — Gestão sustentada da procura . . . . . . . . . . . . Milhares de contos . . . 1 129 151 841 756 212 282 75 113
Milhares de euros . . . 5 632 181 4 198 661 1 058 858 374 662
6 — Informação e participação dos cidadãos . . . Milhares de contos . . . 3 751 1 781 1 034 936
Milhares de euros . . . 18 709 8 883 5 157 4 668
7 — Conhecimento, estudo e investigação apli- Milhares de contos . . . 31 125 20 733 5 694 4 698
cada aos recursos hídricos. Milhares de euros . . . 155 250 103 415 28 401 23 433
Total . . . . . . . . . . . . . . . Milhares de contos . . . 1 774 833 1 335 320 287 778 151 736
Milhares de euros . . . 8 852 829 6 660 548 1 435 430 756 855
A estes dois factores deve ser acrescentado o que dos recursos hídricos», «Quadro legal e institucional»,
decorre dos investimentos necessários à concretização «Informação e participação dos cidadãos» e «Susten-
do objectivo do PNA de aumentar a eficiência de uti- tabilidade económica e financeira».
lização da água na rega e de reduzir as perdas nos sis-
temas de abastecimento, o que implica investimentos 5.3 — Programação por programas
significativos.
No que concerne ao eixo «Sustentabilidade ambien- As medidas equacionadas no capítulo respectivo
tal», a sua importância relativa em termos de inves- foram agregadas por 16 programas de acção, pelo que
timento total deriva do objectivo igualmente estabele- as estimativas de investimento foram igualmente objecto
cido no PDR de elevar para 90 % até 2006 o índice de abordagem por programa, de forma a ser passível
de atendimento da população servida com redes de dre- estabelecer a adequada relação entre as medidas e os
nagem e tratamento de efluentes, o que, se tivermos meios financeiros necessários à sua concretização.
em consideração o actual índice de atendimento, irá Assim, do montante global de investimentos de cerca
implicar investimentos consideráveis nesta área em de 1 780 milhões de contos (8850 milhões de euros),
ordem a reduzir ou se possível eliminar a poluição tópica já referidos como necessários à implementação dos pro-
que afecta muitos dos cursos de água da rede hidro- gramas de medidas previstos no PNA, a afectação res-
gráfica. pectiva em termos de investimento é a que consta do
O valor orçamentado para este eixo de actuação deve quadro 5.3.1.
igualmente ser perspectivado no quadro da orientação De entre a totalidade dos programas orçamentados
no PNA, três deles merecem destaque, uma vez que
estratégica de resolução das carências e de garantia de
polarizam cerca de 85 % investimento total (figura 5.3.1)
abastecimento através da adopção de sistemas inte-
e que são:
grados.
Apesar de apresentar uma importância relativa P6 — Garantia do Abastecimento de Água às
menor, o eixo «Gestão integrada do domínio hídrico» Populações e Actividades Económicas (fi-
evidencia ainda assim um valor absoluto com significado, gura 5.3.3);
sendo de salientar as componentes relativas à valori- P2 — Redução e Controlo da Poluição Tópica
zação dos recursos hídricos e do ordenamento e gestão (figura 5.3.2);
do domínio hídrico, cuja importância em termos estru- P7 — Conservação dos Recursos Hídricos (fi-
turantes para o planeamento e gestão dos meios hídricos gura 5.3.4).
não tem a equivalente correspondência em termos finan-
ceiros, por força da natureza específica das suas inter- Apenas ao programa P6 — Garantia do Abasteci-
venções não ser comparável às das que se enquadram mento de Água às Populações e Actividades Económicas
nos eixos acima referenciados. cabe cerca de metade (53 %) do volume total de inves-
Em situação semelhante encontram-se os restantes timento do PNA, correspondendo-lhe 940 milhões de
eixos, que, apesar de no montante global dos investi- contos (4710 milhões de euros), o que evidencia a rela-
mento representarem 3 %, são, no entanto, fundamen- tiva carência do País no domínio do abastecimento de
tais para a implementação de uma gestão sustentada água às populações e actividades económicas, nomea-
dos recursos hídricos, merecendo particular destaque damente a rega, e por outro lado o esforço financeiro
os eixos «Conhecimento, estudo e investigação aplicada que será necessário promover para inverter a situação.
3810 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A N.o 90 — 17 de Abril de 2002
QUADRO 5.3.1
P2 — Redução e Controlo da Poluição Tópica . . . Milhares de contos . . . 377 439 326 783 22 317 28 340
Milhares de euros . . . 1 882 657 1 629 986 111 316 141 359
P4 — Valorização dos Recursos Hídricos . . . . . . Milhares de contos . . . 15 703 11 861 2 082 1 759
Milhares de euros . . . 78 326 59 162 10 384 8 773
P5 — Ordenamento e Gestão do Domínio Hí- Milhares de contos . . . 85 253 47 050 18 111 20 092
drico. Milhares de euros . . . 425 240 234 684 90 337 100 218
P6 — Garantia do Abastecimento de Água às Milhares de contos . . . 944 601 706 493 178 493 59 615
Populações e Actividades Económicas. Milhares de euros . . . 4 711 649 3 523 972 890 319 297 358
P7 — Conservação dos Recursos Hídricos . . . . . Milhares de contos . . . 184 550 135 263 33 789 15 498
Milhares de euros . . . 920 531 674 689 168 538 77 303
P10 — Implementação da Convenção Luso-Es- Milhares de contos . . . 5 927 1 927 1 720 2 280
panhola. Milhares de euros . . . 29 563 9 611 8 579 11 372
P11 — Adequações do Quadro Legal e do Qua- Milhares de contos . . . 15 060 7 089 3 602 4 369
dro Institucional. Milhares de euros . . . 75 118 35 359 17 966 21 792
P13 — Promoção da Participação dos Utiliza- Milhares de contos . . . 672 387 199 86
dores. Milhares de euros . . . 3 351 1 930 992 428
P14 — Sistemas de Monitorização e Informação Milhares de contos . . . 15 913 11 962 1 983 1 967
Milhares de euros . . . 79 373 59 666 9 891 9 811
P16 — Avaliação do PNA e dos PBH . . . . . . . . . Milhares de contos . . . 2 552 747 830 975
Milhares de euros . . . 12 729 3 726 4 140 4 863
Total . . . . . . . . . . . . . . . Milhares de contos . . . 1 774 833 1 335 320 287 778 151 736
Milhares de euros . . . 8 852 829 6 660 548 1 435 480 756 855
N.o 90 — 17 de Abril de 2002 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A 3811
P2
P7
10.40% P7 — Conservação dos Recursos Hídricos, cabendo-lhe
21.27%
184,6 milhões de contos (920 milhões de euros), ou seja,
P5
4.80%
P14
10 % do total do investimento, o que evidencia o esforço
P1
0.90%
financeiro ainda necessário para reduzir as perdas
3.46%
P4
actuais nos sistemas de abastecimento para valores acei-
P3
2.69%
0.88%
táveis em termos de gestão racional dos recursos hídricos
Outros
P11
e para aumentar as eficiências globais de rega.
4.17%
0.85%
P10
0.33%
P12 15498
0.17%
16123
P16
0.14% 64719
P9 17666
P6 0.13%
53.22%
P13
0.04%
P8
0.01%
trumentos de planeamento de âmbito municipal devem preservação dos meios hídricos, a eficácia do Plano colo-
«acautelar a programação e concretização das políti- ca-se a dois níveis distintos:
cas [. . .] de ambiente, com incidência espacial, promo- Nível interno — será tão mais eficaz quanto melhor
vidas pela administração central, através dos planos sec- forem assumidas as suas apostas, concretizadas
toriais.» (artigo 24.o, n.o 3). Esta obrigação é reforçada as suas medidas e concebido um modelo orga-
pelo facto de no Decreto-Lei n.o 45/94, de 22 de Feve- nizativo ajustado;
reiro, se prever expressamente que «as acções e as medi- Nível externo — a sua eficácia depende da capa-
das definidas nos planos de recursos hídricos devem cidade de influenciar os planos de ordenamento
ser previstas em todos os instrumentos de planeamento que comprometem os particulares (planos espe-
que definam ou determinem a ocupação física do solo, ciais e planos municipais de ordenamento do ter-
designadamente [. . .] nos planos municipais de orde- ritório) e de participar nas decisões dos restantes
namento do território» (artigo 13.o). sectores da Administração.
Em relação às demais disposições legais o PNA tem
a força jurídica que lhe é conferida pela forma do A forma principal de garantir a eficácia interna do
diploma que as aprova — decreto-lei. Plano passa, naturalmente, pelo cumprimento das medi-
das que este preconiza. No entanto, há mecanismos de
1.3 — Obrigações criadas pelo PNA controlo da eficácia que transcendem o pragmatismo
das acções que este encerra e que serão da maior impor-
O PNA como plano sectorial aplica-se à Adminis- tância para ser consequente com os valores prosseguidos
tração Pública, não vinculando directamente os parti- neste exercício de planeamento e que foram indicados
culares. Todavia, podem-se extrair comandos vinculan- no início do capítulo 2.
tes da actuação daquela Administração. Na verdade, De entre as acções que suportam a eficácia do Plano
apesar de se tratarem de normas tarefa, não deixam e a sua avaliação, destacam-se:
de conter obrigações que devem ser cumpridas e nos
prazos estabelecidos, quando for caso disso. Nível interno
Prevê-se um acompanhamento fortemente empe-
(coerência interna do Plano)
nhado e calendarizado, com um programa pré-definido,
a executar pelas entidades definidas como responsáveis Modelo organizativo.
pelo acompanhamento e avaliação. É também calen- Plano de comunicação.
darizada a avaliação e fixada a obrigação de auto- Avaliação permanente e interna.
-avaliação, quer para os municípios, quer para a admi- Avaliação externa, intercalar e final.
nistração central.
A relevância das normas do PNA sobre as instituições 2.2 — Modelo organizativo
é a que decorre da própria natureza jurídica do PNA.
Como já foi abundantemente referido, a administra-
1.4 — Instrumentos económicos e financeiros
ção dos recursos hídricos, composta pelas actividades
de planeamento, gestão e licenciamento de usos, deverá
Os instrumentos económicos e financeiros disponíveis ter como base territorial a unidade «bacia hidrográfica».
para aplicação do PNA são o Orçamento do Estado Esta opção decorre de uma lógica natural que con-
para os organismos sem autonomia financeira e os fun- sagra o facto de só assim ser possível garantir uma pers-
dos comunitários pertinentes em função da natureza pectiva integrada de gestão equilibrada do recurso água
do investimento. e também dos próprios imperativos resultantes da DQA.
A figura de contrato-programa contém em si mesma A existência de 17 PBH no País com dimensões ter-
as mais amplas potencialidades para funcionar como ritoriais muito distintas recomenda naturalmente a sua
o instrumento económico e financeiro por excelência agregação para a gestão, sob pena de se multiplicar exa-
para a aplicação e desenvolvimento das medidas pre- geradamente a Administração, sem que daí decorram
vistas no PNA e a executar por entidades exteriores ganhos óbvios de eficácia.
ao Ministério do Ambiente e do Ordenamento do As bacias deverão agrupar-se em regiões hidrográ-
Território. ficas, sendo também recomendável que estas se reúnam
O desenvolvimento do regime económico e financeiro em número compatível com a real capacidade técnica
e financeira do Estado.
proposto pelo PNA assume um papel destacado como
Do ponto de vista do modelo organizativo, uma polí-
instrumento de financiamento das medidas prioritárias tica de gestão da água deve:
com a vantagens de ao mesmo tempo poder servir como
mecanismo moderador dos excessos nas utilizações dos Considerar a criação de uma autoridade nacional
recursos hídricos e incentivado das correcções às ine- da água tutelada pelo Ministério do Ambiente
ficiências identificadas. e Ordenamento do Território;
O autofinanciamento das entidades de natureza pri- Conceber um nível de administração à escala da
vada que progressivamente vêm sendo motivadas a par- bacia ou região hidrográfica, articulada com a
ticipar na área económica do ambiente em geral e dos autoridade nacional, directamente responsável
recursos hídricos em especial constitui outro dos ins- pelos licenciamentos, e co-responsável pela ges-
trumentos económicos e financeiros em que o PNA tão e planeamento dos recursos hídricos.
assenta a sua viabilidade.
Para a eficácia da concretização do PNA, em cada
2 — Eficácia e avaliação do Plano um dos níveis de gestão deverão ser correctamente inter-
pretados os:
2.1 — Introdução
Princípios e orientações gerais para a gestão;
Considerando o facto de o PNA ser um plano sectorial Objectivos e desafios para a gestão;
e a necessidade imperativa de garantir a qualidade e Domínios de inovação a privilegiar.
N.o 90 — 17 de Abril de 2002 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A 3815
As funções de cada organismo pressupõem o esta- tomada de decisão. Destina-se a julgar os méritos do
belecimento de requisitos que incluem: Plano, a fornecer informação sobre os seus fins, a sua
gestão e funcionamento e permite introduzir correcções
Referenciais de actuação;
nos vários momentos do seu desenvolvimento.
Domínios de flexibilidade;
2.4.1 — Avaliação interna — a avaliação interna (sis-
Funções e competência centrais;
tema de acompanhamento) do Plano será assegurada
Condições gerais de eficácia da gestão.
pelo INAG, garantindo a articulação técnica com as
entidades da Administração Pública (central e local),
Por último, o modelo organizativo e institucional
às quais compete em concreto (para além do próprio
deverá incluir:
INAG) a execução das normas do Plano, recolhendo
Figura organizativa e suas implicações; e tratando a informação de carácter estatístico, técnico
Responsabilidades, funções e competências dos e científico relevante, elaborando relatórios de avaliação
órgãos de gestão; e recomendando, quando for caso disso, as alterações
Dependências e relações funcionais; que se afigurem necessárias.
Grau de externalização de funções; O sistema de acompanhamento a criar deverá incluir
Funções e tipologia de actividades; as seguintes componentes:
Atribuições e perfil de recursos necessários;
Relacionamento com outros sectores da Admi- Orgânicas e funcionais:
nistração; Reuniões de reconhecimento de actividades
Relacionamento com representantes da sociedade anuais dos organismos cuja acção tem
civil. impactes nos recursos hídricos, bem como
com as entidades responsáveis pelo orde-
2.3 — Plano de comunicação namento do território (PDM, PROT, REN:
Deverá ser definido, em complemento ao PNA, um áreas protegidas);
plano de comunicação do mesmo que lhe confira visi- Reunião anual específica do PNA no Con-
bilidade e possa exercer uma função dúplice: selho Nacional da Água;
Reunião anual específica do PNA na Comis-
Um elemento de divulgação da concretização das são para Aplicação e Desenvolvimento da
acções do plano; Convenção Luso-Espanhola;
Um elemento de controlo externo por parte da Criação de uma jornada anual do
sociedade. PNA — representantes nas intersectoriais
internas, ONG e organizações de classes e
Este plano de comunicação deverá estabelecer três dos sectores de actividade económica;
públicos alvo:
Público interno — os próprios agentes do plano, Instrumentais:
incluindo os funcionários e colaboradores do Produção do relatório bianual de progresso;
Ministério do Ambiente e Ordenamento do Transmissão de informação (suportes de
Território; dados e informação de acompanhamento,
Público institucional — os demais agentes da planos de actividades, relatórios de pro-
Administração Pública, empresas, associações, gresso, relatórios específicos de situação);
autarquias e ONGA; comunicação dos suportes de acompanha-
Público indiferenciado — cidadãos com diferentes mento (site do INAG na Internet com sín-
formações e diversos graus de interesse e conhe- teses dos suportes de dados e informação,
cimento. CD-ROM dos suportes de dados e infor-
mação);
As formas, produtos, materiais e conteúdos do plano Medição e aferição (indicadores de estado,
de comunicação deverão ser adaptados aos diversos pressão e resposta e indicadores de pro-
públicos. gresso).
2.4 — Avaliação
Como exemplos de indicadores a avaliar periodica-
A avaliação é uma componente do processo de pla- mente e que deverão constituir o suporte numérico de
neamento e um importante instrumento de apoio à avaliação do Plano indicam-se os seguintes:
Controlo da qualidade das massas de água e desig- E Percentagem do comprimento e do volume de mas- Decreto-Lei n.o 236/98.
nação das águas em função dos usos. sas de água controlados.
E Percentagem de locais de utilização classificados . . .
Avaliação e controlo das fontes de poluição . . . . . . . . E Número de fontes poluidoras caracterizadas . . . . . . . Decreto-Lei n.o 236/98.
R Número de fontes poluidoras controladas . . . . . . . . .
Sistemas de drenagem e tratamento de águas residuais P Volume de águas residuais produzido . . . . . . . . . . . . Anual.
(urbanas e industriais). R Taxa de remoção de parâmetros . . . . . . . . . . . . . . . . . Anual.
Controlo de perdas no abastecimento público . . . . . . P Percentagem de volume de água captado não uti- Anual.
lizado.
Eficiência da rega e controlo de perdas no regadio . . . . R Percentagem de volume de água captado não uti- Anual.
lizado.
Promoção e consolidação do mercado da água . . . . . . E Número de empresas e volume de negócio . . . . . . . . Anual.
Aplicação do princípio de utilizador-pagador . . . . . . . E Montante cobrado e aplicado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Anual.
Avaliação do custo da água . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . R N. A . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . N. A.
Implementação da Conveção Luso-Espanhola . . . . . . R Número de situações de incumprimento . . . . . . . . . . Anual.
Adequações do quadro legal e do quadro institucional R Número de queixas e omissões . . . . . . . . . . . . . . . . . . Anual.
Preparação para a implementação da DQA . . . . . . . . R Nível de cumprimento de prazos, dados e infor- Anual.
mações.
Divulgação e sensibilização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . E Número de eventos da água promovidos e docu- Anual.
mentos de divulgação produzidos.
Promoção da participação dos utilizadores . . . . . . . . . E Número de consulta ao site do INAG e de parti- Anual.
cipantes em iniciativas da água.
Sistemas de monitorização e de informação . . . . . . . . R Número de valores de variáveis recolhidos pelas Anual.
redes e sistemas.
Promoção do conhecimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . R Número de estudos promovidos ou apoiados . . . . . . Anual.
(*) P — pressão; E — estado, e R — resposta, tendo em conta as definições do relatório sobre indicadores de desenvolvimento sustentável — DGA 2000.
2.4.2 — Avaliação externa — para além do sistema de O facto de a aplicação das medidas aprovadas com
acompanhamento referido, é fundamental instituir dois o PNA não ser da exclusiva responsabilidade dos orga-
momentos específicos de avaliação do Plano por enti- nismos da administração dos recursos hídricos reforça
dades externas à sua aplicação que, nomeadamente, pos- a importância destas avaliações, como momentos de
sibilite avaliar a execução do Plano a um nível dife- interface de conhecimento e de reconhecimento múl-
renciado do que decorre das acções de acompanha- tiplo do seu calendário de acções e práticas ambientais.
mento sistemático.
Nível externo
Para além da avaliação das medidas propriamente
ditas, estes processos de avaliação deverão incidir sobre (complementaridades e sinergias do Plano)
o cumprimento dos objectivos, a «aproximação» aos Planos directores municipais e outros instrumentos de
paradigmas fixados e a consecução prática das apostas gestão territorial.
definidas. Planos sectoriais.
Estes processos de avaliação deverão incidir em dois Comprometimento de outros sectores da Administra-
momentos do Plano: ção — dever de informação.
Avaliação intercalar no ano de 2006, ano final do Planos directores municipais e outros instrumentos
QCA III, com dois principais objectivos: avaliar de gestão territorial
a execução do Plano, corrigir objectivos e medi-
Sendo o PNA um instrumento de gestão territorial
das e antecipar intervenções futuras e respectivas
que não é vinculativo para os particulares, mas contendo
formas de financiamento; aquele um conjunto de medidas e acções cuja concre-
Avaliação final, que deverá anteceder a revisão do tização é indispensável ao seu sucesso e que têm uma
próprio Plano e que tem como principais objec- expressão territorial, é fundamental que os PMOT e
tivos identificar factores de sucesso e de fracasso PEOT considerem a existência do PNA em fases pos-
do Plano, factores de sustentabilidade dos seus teriores de execução ou revisão.
resultados e impactos e fornecer conclusões apli- A necessidade de protecção de ecossistemas ribei-
cáveis a futuros planos e programas. rinhos e de aquíferos, a defesa de pessoas e bens em
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relação à ocorrência de cheias, a protecção de captações deverão também considerar como instrumento decisório
de água para consumo humano sendo objectivos do as imposições e sugestões decorrentes deste Plano.
Plano não se esgotam neste. É fundamental que os ins-
trumentos de gestão territorial que definem com exac- Comprometimento de outros sectores da Administração
tidão as regras de uso do solo integrem estes — entre
Nos dois pontos anteriores pretendeu-se influenciar
outros — objectivos, dando-lhe a expressão territorial
externamente a actuação dos agentes públicos na sua
necessária. actividade de planeamento.
É no entanto imprescindível que essa influência se
Planos sectoriais estenda às tarefas quotidianas de todos os serviços da
administração central e local: a gestão e o licenciamento.
A administração central promove a elaboração de Não só as atitudes destes serviços devem privilegiar
diversos planos sectoriais, muitos deles com incidência o uso racional da água, como exemplo vivo do com-
territorial e consequentemente com impactes nos recur- portamento sustentável, como sobretudo na concessão
sos hídricos. São exemplo o Plano Energético Nacional, de licenças de localização e desenvolvimento de acti-
o Plano Hospitalar e mesmo outros dentro do próprio vidades económicas ou assentamentos humanos, o «fac-
Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Ter- tor água» deverá estar presente como factor limitante
ritório, como sejam os planos que regulam as soluções a essas operações de transformação do uso do solo.
de destino final de resíduos sólidos. Neste contexto, os processos de avaliação do Plano
A protecção dos recursos hídricos faz-se através do deverão incidir também sobre este tipo de acções.
conjunto de medidas internas que integram este Plano, Referenciada como um dos pontos fracos de todo
mas também da regulação dos efeitos externos conse- o sistema de gestão da água, a ausência de práticas
quentes dos referidos planos sectoriais. de partilha de informação entre os diversos sectores
A tomada de decisão em relação à localização ou da Administração deverá ser alterada no futuro ime-
intensidade de uso dos equipamentos que fazem parte diato, contribuindo para aumentar o conhecimento
do referidos planos sectoriais considerará obrigatoria- sobre o sector.
mente a necessidade de protecção de recursos hídricos. É necessário alcançar um compromisso objectivo
As propostas de novos regadios, sendo positivas no nesse sentido, devendo para o efeito estabelecer meca-
sentido em que contribuem para a gestão da água no nismos concretos que promovam essa obrigatoriedade
sector mais consumidor deste recursos (agricultura), de troca de informação.