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II - O MEDIUNISMO NA HISTÓRIA(1)

(1)
Alexandre AKSAKOF empregou, em 1890, o termo mediumnismus (em francês, mediunisme)
para designar o uso das faculdades mediúnicas.
A comunicação entre desencarnados e encarnados é tão antiga quanto a própria Humanidade. Desde
tempos imemoriais, em todas as civilizações, profetas, sacerdotes, videntes, xamãs, adivinhos,
pitonisas, curadores, magos, feiticeiros, prestavam-se à intermediação mediúnica, apoiando-se,
muitas vezes, para chegarem ao transe, em ritos, cerimoniais, exercícios físicos, jejuns, contenção
sexual, uso de drogas e outros expedientes.
Informações constantes do papiro de Ebers (1553-1550), e do papiro Edwin SMITH (a cerca de
1700 a.C., cópia de outro, escrito a cerca de 3.000 a.C.), dão conta que já no Neolítico, com o início
da estruturação da sociedade em classes, constituíram-se as primeiras castas sacerdotais que,
invocando os Espíritos (deuses), dispunham-se a curar em nome da Divindade, utilizando plantas e
outros medicamentos(2).
(2)
V. MEIRA, Rubens Policastro. O Passe, Terapêutica Espírita. São José do Rio Preto (SP): NOVA
EDITORA, 1996, pp. 23 e 24.
Os Vedas, surgidos milhares de anos antes da era cristã, já registravam a existência dos Espíritos,
que acompanhavam os brâmanes “sob uma forma aérea”. No antigo Baghavad Chita (A Sublime
Canção da Imortalidade) conforme DELANNE, muito antes de deixarem o envoltório carnal, “ as
almas que só praticavam o bem, como as que habitam o corpo dos sannyassis e dos vana-prastha
(anacoretas e cenobitas) adquirem a faculdade de conversar com as almas que as precederam no
Swargá(3).
(3)
V. DELANNE, Gabriel. O Fenômeno Espírita (Orig. Le Phénomène Spiríte),6 a. ed. Rio de
Janeiro: FEB, 1992, pp.18 e segs., Trad. Francisco Raymundo Ewerton de Quadros.
Entre os brâmanes, a doutrina que dispõe sobre os Pitris, os Espíritos desencarnados, estabelecia
que a evocação destes era reservada somente aos brâmanes de segundo grau, conhecidos como
exorcistas, adivinhos e profetas evocadores dos Espíritos, entre estes, os famosos faquires, médiuns
extraordinários que se prestavam à produção de diversos tipos de manifestação, desde levitação e
materialização, até psicografia e pneumatografia (escrita direta).
No Egito, os sacerdotes comunicavam-se com os “mortos” e, realizando “prodígios”, eram
respeitados por seus poderes sobrenaturais e misteriosos.
Entre os hebreus, o mediunismo esteve sempre presente em sua história. Atesta-o a Bíblia, em
inúmeras passagens, a partir, já, da proibição de “consultar os mortos” por meio de adivinhos
necromantes(4), constante em Levítico (19.31) e Deuteronômio (18.10-12), imposta para coibir os
abusos que perpetravam, com o uso indevido da faculdade mediúnica para a satisfação de interesses
inferiores (como, aliás, ainda ocorre, hoje, em certos círculos, ensombrados pela ignorância)(5).
(4)
Os termos adivinhou, adivinhador e necromante, presentes em certos textos bíblicos,
designavam as pessoas que serviam à comunicação dos Espíritos. Em edições atuais, todavia, da
Sociedade Bíblica do Brasil, com a tradução de João Ferreira de Almeida, já aparece o vocábulo
médium.
(5)
Ressalte-se que, em verdade, nas palavras de KARDEC, “O Espiritismo condena tudo o que
motivou a interdição de Moisés”.
A respeito, observa o Codificador: “Os israelitas não deviam contratar alianças com as nações
estrangeiras, e sabido era que naquelas nações que iam combater encontrariam as mesmas práticas.
Moisés devia pois, por política, inspirar aos hebreus aversão a todos os costumes que pudessem ter
semelhanças e pontos de contato com o inimigo. Para justificar essa aversão, preciso era que
apresentasse tais práticas como reprovadas pelo próprio Deus (...)”
Mais adiante sublinha: “A proibição de Moisés era assaz justa, porque a evocação dos mortos não se
originava nos sentimentos de respeito, afeição ou piedade para com eles, sendo antes um recurso
para adivinhações, tal como nos augúrios e presságios explorados pelo charlatanismo e pela
superstição. Essas práticas, ao que parece, também eram objeto de negócio, e Moisés, por mais que
fizesse, não conseguia desentranhá-la dos costumes populares”. (KARDEC, Allan. O Céu e o
Inferno, 39a. ed. Rio de janeiro: FEB, 1994, p. 157, Cap. XI., trad. de Manuel Justiniano Quintão.
Em Juízes (4:4-5), noticia-se a atividade da profetisa Débora, orientando “os filhos de Israel”.
O primeiro livro de Samuel (9:1-20) narra a história de Saul buscando localizar um vidente que o
ajudasse a encontrar umas jumentas extraviadas, culminando com o seu encontro com Samuel que,
declarando-se o vidente que procurava, deu-lhe a notícia de que os animais já haviam sido
encontrados e que ele, Saul, deveria ser ungido o rei de Israel, por determinação do Senhor, que
assim lhe revelara.
Nesse mesmo livro (1 Sm 28:5-14) consta a narrativa do encontro de Saul, já rei de Israel, com
Samuel, Espírito, por intermédio de uma médium, que, de começo, mostrou-se temerosa em servi-
lo, dada a perseguição existente contra “os médiuns e adivinhos”.
Tais citações servem apenas de ilustração, pois em verdade, o Velho Testamento, desde o episódio
do recebimento do Decálogo por Moisés, mostra uma notável sucessão de ocorrências mediúnicas,
demonstrando a importância do mediunismo profético, presente, aliás, em todos os povos da
Antiguidade.

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