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DECA – ARQUITECTURA
2009/2010
ÍNDICE DE CONTEÚDOS
RESUMO/ABSTRACT .................................................................................................... IV
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 1
5.3. OS INTERIORES............................................................................................. 50
6. CONCLUSÃO ........................................................................................................ 55
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................ 56
ANEXOS ........................................................................................................................ 60
II
AGRADECIMENTOS
III
PSICOLOGIA NA ARQUITECTURA:
Resumo
Abstract
IV
LISTA DE TABELAS E ILUSTRAÇÕES
http://snap3.uas.mx/RECURSO1/Diapositivas/Egipto/18.Templo%20Egipcio.jpg
http://meshboxbb.com/viewtopic.php?t=488
http://intranet.arc.miami.edu/rjohn/images/Greektownplanning/Temple%20Construction%20copy.jpg
http://downloads.open4group.com/wallpapers/ruinas-do-partenon-ad5f8.jpg
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Domus_blank.png
http://www.jeronimo.com.br/internas/sub_mono/capitu01.htm
http://goeurope.about.com/od/chartresfrance/ss/chartres_tour_2.htm
http://www.minerva.uevora.pt/pag2002/renascimento/brunellesci.htm
V
Figura 11 - O Homem de Vitrúvio, Leonardo da Vinci ................................................. 17
http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/leonardo-da-vinci/o-homem-de-vitruvio.php
http://www.oldhousejournal.com/products2/lighting/2662
http://www.travelblog.org/Photos/54568
http://www.emich.edu/public/geo/335book/335ch5.html
http://www.dezeen.com/2007/03/18/private-house-near-moscow-by-zaha-hadid/
http://www.spirit-of-paris.com/2006/05
http://www.prettyyourworld.com/color-theory.html
http://blog.lib.umn.edu/glend015/architecture/
http://www.mqclub.com/BackOffice/UserFiles/Image/MQS_corridor.JPG
http://tascasdamalta.blogspot.com/2009/09/petiscando-no-geres-2.html
VII
1. INTRODUÇÃO
2
2. INTRODUÇÃO À ARQUITECTURA E SUA EVOLUÇÃO AO
LONGO DA HISTÓRIA
Comparada a outras actividades humanas, a arquitectura é uma arte que teve o seu
início há muito tempo atrás, quando os homens e as mulheres, havendo descoberto a
agricultura e a pecuária, abdicaram da procura de comida, passando a cultivar os seus
próprios alimentos. Até lá, foram expostos às condições climatéricas, precariamente
protegidos por tendas de pele de animais: eles cozinhavam em fogueiras e reuniam-se
em pequenas tribos. Tudo isto mudou quando as pessoas se tornaram sedentárias. As
tendas foram substituídas por casas e, um lar permanente tornou-se o centro de abrigo.
Inúmeras barracas surgiram em zonas férteis; aldeias cresceram. De aldeia em aldeia
uma rede de caminhos foi executada. Os caminhos teriam de atravessar rios, exigindo a
construção de pontes, feitas em troncos de árvores ou suspensas em cordas de fibra
vegetal (Carvalho, 1970). Na verdade, ao longo do tempo, temos vindo a testemunhar
mudanças incríveis nas nossas culturas, sendo a revolução industrial um dos momentos
mais marcantes.
Para esta definição contribuiu o arquitecto Marcus Vitruvius (séc. I a.C.). Os seus
padrões de proporções e os seus princípios para a Arquitectura, utilitas, firmitas e
venustas, estabeleceram a base para a Arquitectura Clássica que abordaremos mais à
frente. Marcus Vitruvius, engenheiro e arquitecto romano foi o autor de “De
3
Architectura” (séc. 40 a.C.), obra com 10 volumes também conhecida como os 10 livros
da arquitectura. Este foi o primeiro e mais famoso texto da história da arquitectura, da
arquitectura paisagista ocidental, da engenharia e do planeamento urbano. De acordo
com este teórico da arquitectura, tal como consta na Figura 1, as componentes da
arquitectura são:
― Utilitas
― Firmitas
A sua origem encontra-se no termo grego teknné, que significa a “arte ou maneira
de agir”. A técnica define-se como o conjunto de regras ou procedimentos para se fazer
algo com determinada finalidade.
― Venustas
Poderemos então retirar destas ideias que o primeiro passo para a criação de um
projecto de arquitectura é a elaboração de um programa de necessidades, que
corresponde ao conjunto de especificações funcionais a que o espaço arquitectónico irá
4
dar resposta. A componente técnica corresponde aos elementos, materiais e técnicos,
que garantem a execução de uma obra e, consequentemente, a definição da sua forma
tridimensional. A arquitectura é sempre uma construção no espaço. Quanto à
componente estética, toda a obra arquitectónica é composta por elementos visuais
(volumes, planos, linhas, cores, tons, texturas, etc.), portadores da mensagem estética e
de significado.
No entanto, a estética poderá ser vista por dois lados: a estética do objecto e a
estética de valor. A estética do objecto refere-se à descrição dos sinais e características
das obras arquitectónicas, através da expressão verbal sobre os mesmos e da sua
importância sobre os espectadores ou utilizadores. A estética de valor corresponde à
importância dada pelo espectador aos objectos artísticos e arquitectónicos em relação
aos conceitos subjectivos de valores e de acordo com o sistema de normas
socioculturais (Castelnou, 2004).
Então, estes três princípios poderão nos ajudar a passar uma mensagem, uma
comunicação estética. Ou seja, um processo pelo qual o arquitecto emite mensagens
dirigidas aos sentidos do utilizador a partir de um objecto ou obra arquitectónica, no
qual o utilizador é receptor passivo e, ao mesmo tempo, activo, pois emite respostas,
através da acção ou uso. No entanto, primeiramente, justifica-se fazer uma análise da
evolução histórica da arquitectura, o modo como os habitantes de cada época encaravam
a arquitectura e como esta influenciava as suas vidas.
Tanto na Idade Antiga como na Era Medieval, a actividade arquitectónica não era
como a conhecemos agora, uma vez que as grandes obras eram realizadas por grupos ou
corporações de artesãos, sem qualquer formação técnica. Só com o Renascimento é que
o arquitecto adquiriu a condição de grande mestre. Assim, a evolução da Arquitectura
ao longo da história da humanidade pode dividir-se em períodos ou idades (Figura 2). A
apresentação dos aspectos distintivos dos vários períodos, contribui para compreender
como a arquitectura evoluiu a par do desenvolvimento das sociedades.
6
A Idade Antiga ou antiguidade pode ser dividida em dois grandes períodos: o
primeiro, de ≈ 4000 a.C. ao séc. VII a.C., abarca a Arquitectura Egípcia e a
Mesopotâmica, e o segundo, com início por volta do séc. VII a.C., que se reporta à
antiguidade clássica, englobando a Arquitectura Grega e a Romana.
― Arquitectura Egípcia
Os templos egípcios
são a imagem da casa de
Deus (Figura 3). Nas épo-
cas da pré-dinastia eram
apenas simples capelas com
tecto arqueado, construídas
com elementos vegetais. Só
nas primeiras dinastias
surgiram os primeiros tem-
plos em adobe. Os templos Figura 4 - Templo egípcio do Império Novo (Editorial La Muralla)
8
apropriado para celebração das cerimónias religiosas.
Por seu lado, a vivenda egípcia era constituída por várias habitações, dispunha de
uma grande sala de estar com colunas e luz zénite, de terraços, adega subterrânea e um
jardim (Figura 4). Muitas vivendas dispunham de pátios interiores de onde provinha a
luz, com todos os quartos dispostos em torno do mesmo, e sem janelas para o exterior,
para assim estar protegidas do calor.
― Arquitectura Grega
1
Pólis ou cidades-estado, referem-se a várias regiões que são governadas por apenas uma cidade.
2
A acropolis ou acrópole, é a parte mais elevada das cidades gregas e que constituía a cidadela: recinto protegido por
muralhas onde se situavam os principais edifícios sagrados.
10
Este foi o princípio no qual assentou a criação das ordens: a formulação de um
sistema normalizado de construção baseado num traçado geométrico que regulava as
dimensões de todos os elementos que compõem o edifício e as relações entre eles, ou
seja, uma regra que estabelecia a relação proporcional das partes entre si e das partes
com o todo. A natureza destas relações resulta do princípio de harmonia, que mais tarde
se veio a converter num ideal de beleza.
11
rado uma obra invulgar que expressa o ideal de beleza dos gregos, pois o seu aspecto
resulta de um sistema de proporções da Secção de Ouro3 (Figura 6).
Uma das criações artísticas que mais facilmente identificamos como pertencente à
cultura grega é o teatro. Este era usado tanto para reuniões públicas como para
espectáculos ao vivo, normalmente ligados a cerimónias religiosas. Geralmente, os
teatros compreendiam três componentes: (1) a bancada, um recinto circular com cerca
de ¾ de círculo, construída numa encosta de uma colina de forma a aproveitar o declive
natural; (2) a cena, lugar onde decorre a acção dos interpretes; e (3) a orquestra, situada
entre a cena e o público, destinado ao coro ou actos rituais dionisíacos.
― Arquitectura Romana
3
A Secção de Ouro é um sistema de proporções utilizado na Antiguidade, originado no conceito de Pitágoras de que
o universo podia ser explicado através de números. Esta Secção de Ouro foi ainda utilizada pelos arquitectos no
Renascimento e também foi por Le Corbusier para elaborar o “Modulor”.
4
O período helenístico foi um período compreendido entre a morte de Alexandre (O Grande) que se caracterizou
pela difusão da cultura grega aos territórios que conquistava. É exemplo disso a cidade de Alexandria no Egipto.
5
O domus, ou casa de peristilo, é assim chamada por organizar os seus espaços em torno de um átrio/peristilo,
porticado e ajardinado, que é o centro da casa.
12
Também construíram: (1) basílicas, palácios
de justiça, de planta rectangular com pronaos
ou pórtico; (2) “arcos de triunfo”, construídos
em honra de algum vencedor glorioso; (3)
termas, ou edifícios de banhos para serviço
público; (4) anfiteatros, de planta circular ou
elíptica, para luta de gladiadores, matança de
feras e corridas de bigas6; (5) circos, que
serviam para as corridas de carros como os
hipódromos gregos; (6) naumaquias, para
representar combates navais, realizados por
Figura 7 - Dómus romana
vezes nos mesmos anfiteatros onde
decorriam as lutas dos gladiadores; (7)
pontes e aquedutos; e (8) calçadas.
6
As bigas são os carros de duas rodas, movido por dois cavalos, e eram usados como carros de combate.
7
Pátio rodeado de colunas com tanque central, repuxos ou jogos de água, por vezes ajardinado.
8
Augusto (63 a.C.-14 d.C.) foi o primeiro imperador romano. Foi responsável pela implementação de um programa
de organização do território, urbanização e monumentalização: a pax romana.
13
monumentos, pontes, estradas, aquedutos, edifícios púbicos, fóruns9 e infra-estruturas
que se estendeu por todo o império, criou uma dinâmica de desenvolvimento que
nenhuma civilização havia conseguido até à altura. O sistema urbanístico utilizado, de
divisão da cidade em zonas e bairros, não só facilitava a administração da cidade como
também o sistema de circulações.
A Cristianismo definiu uma nova visão do mundo, que não só submetia os desejos
humanos a desígnios divinos, mas também esperava que o indivíduo buscasse o divino.
Num primeiro momento, e devido a limitações técnicas, a concepção do espaço
arquitectónico dos templos era voltado para dentro, convidando à reflexão. Mais tarde,
com o desenvolvimento da arquitectura gótica, buscou-se alcançar os céus através da
projecção de edifícios em altura.
9
O fórum era o centro vital da cidade romana, lugar de comércio, culto, administração e justiça, dinamizando toda a
vida urbana.
10
As corporações de ofício eram constituídas por um conjunto de associações de pessoas em que cada grupo
desenvolvia determinada actividade profissional.
14
― Arquitectura Islâmica
― Arquitectura Gótica
Na arquitectura dá-se grande importância aos vitrais que, ao filtrar e colorir a luz,
desmaterializam a arquitectura e convertem o seu interior num espaço mágico,
sobrenatural, metafísico, totalmente diferente de qualquer outro que recebe directamente
a luz do sol. Era objectivo reduzir ao mínimo a superfície da parede.
15
Se bem que as catedrais sejam a
construção mais característica do Gótico,
também o meio urbano se desenvolveu
(Figura 9). Organizando-se em volta da
praça do mercado, câmara municipal e
catedral, a cidade proporcionava o aumento
da indústria, do comércio e do artesanato.
Todas as cidades góticas tinham em
comum esse símbolo de orgulho dos
habitantes e a imagem de poder e de
riqueza. A preocupação básica da vida Figura 9 - Catedral de Chartres, França
(James Martin)
terrena era assegurar um lugar no céu,
assim, toda a morfologia urbana era baseada em linhas verticais dirigidas para o céu.
Mesmo no centro da cidade, onde se encontravam as praças, elevava-se uma torre
quadrada, cuja altura devia rivalizar com a das catedrais.
11
Teoria segundo a qual o Homem é o centro de tudo.
12
Teoria segundo a qual Deus é o centro do universo.
16
― Renascimento
De um novo enquadra-
mento do homem no mundo,
decorreu uma nova concepção
do universo. Para os renascen-
tistas, o Homem continuava a
ser uma obra de Deus. O artista Figura 10 - Perspectiva linear
renascentista submeteu o sen-
sorial ao racional, daqui resultando uma
necessidade de traduzir o mundo tal como era
percepcionado pelos olhos. Brunelleschi aplicou
a perspectiva linear o que possibilitou a
representação do espaço de um modo rigoroso e
racional (Figura 10). Aberti13 refere que o belo
na arquitectura atinge-se através da geometria
dos traçados, cuja perfeição é uma questão de
harmonia e proporção entre as partes que
compõem um todo. O quadrado e o círculo são
as figuras geométricas que representam a
perfeição (Figura 11). Numa construção
Figura 11 - O Homem de Vitrúvio,
profundamente romana, a arquitec-tura clássica Leonardo da Vinci
18
França, a Art Nouveau. Uma arte que se destaca pelas formas orgânicas. Gaudí é um dos
mais reconhecidos artistas dentro deste estilo, sendo as suas obras caracterizadas pelas
linhas curvas e irregulares e a utilização de mosaicos e ladrilhos na decoração dos seus
edifícios (Figura 13).
Depois das primeiras décadas do século XX, havia já uma clara distinção entre os
arquitectos que estavam mais próximos das vanguardas artísticas em curso na Europa e
aqueles que praticavam uma arquitectura mais ligada à tradição, ou seja com
características historicistas. A renovação estética proposta pelas perspectivas
vanguardistas, especialmente o cubismo, o neoplasticismo, o construtivismo e a
abstracção no campo das artes, abriu caminho para uma aceitação mais natural de
propostas de novos conceitos arquitectónicos. Estas propostas baseiam-se na crença de
uma sociedade marcada pela indústria, na qual a máquina surge como elemento
absolutamente integrado na vida humana.
19
ligado com a fundação e evolução da escola alemã Bauhaus. De lá saíram os principais
nomes desta arquitectura. A busca de uma nova sociedade, naturalmente moderna, era
entendida como universal. Desta maneira, a arquitectura influenciada pela Bauhaus
caracterizou-se como sendo internacional, daí o surgimento da corrente Estilo
Internacional.
20
habitámos um lugar, porque esse espaço é um universo único, seja para habitar,
socializar ou apenas estar.
Assim, propomos uma nova concepção de espaço arquitectónico que não cumpra
apenas conceitos abstractos de estética ou funcionalidade mas que também procure ser
um objecto artístico que transmita, que remeta, que crie, ao mesmo tempo dando
resposta às necessidades do ser humano. É, portanto, importante conhecer como a mente
humana actua em termos motivacionais e emocionais para, assim, identificar os factores
que constituem estímulos a que o ser humano responde.
21
3. PERCEPÇÃO DO AMBIENTE
Mas, afinal, como é que os humanos percebem o espaço? Susana Vilaça (2008)
refere que percebemos o espaço da mesma maneira que percebemos as outras coisas, ou
seja, através dos sentidos. A informação recebida através dos sentidos são em seguida
processadas no cérebro e, com base no tipo de receptores sensoriais estimulados, David
Mark (1993) propõe a seguinte taxonomia do espaço:
14
Entende-se por cognição o conjunto de processos mentais que levam à aquisição de conhecimentos.
22
― Espaços intelectuais, que envolvem o pensamento abstracto.
Entende-se por captação sensorial do meio a recepção física através dos sentidos,
ou seja, a sensação, que é mais ou menos idêntica entre as pessoas, e é necessária à
sobrevivência do ser humano. Os espaços arquitectónicos são presenciados e percebidos
a partir dos sentidos humanos: visual, auditivo, táctil, cinestésico, gustativo e olfactivo.
O sentido visual é um sentido dominante nos seres humanos, pois proporciona mais
informação que os outros sentidos, apoiando-se na percepção de distância,
profundidade, cor, contraste, tamanho, etc. Toda a informação recebida através deste
sentido é processada ao nível cerebral. O sentido auditivo é um sentido transitório,
muito mais fluído e passivo que a visão. O espaço acústico não tem limites. Ou seja, se
não quisermos ver, fechamos os olhos, não sendo possível fazer o mesmo quanto aos
nossos ouvidos. O sentido táctil é o sentido através do qual se percebe a textura, cuja
experiência se faz através das mãos e pés. A percepção táctil de duro/macio, liso/rugoso,
etc., compõe todo o ambiente. O sentido cinestésico é o sentido que comtempla as
sensações de deslocamento e mudança de posição, relacionada com as variações de
escala, forma, direcção, sentido, etc. O sentido gustativo é o sentido do gosto, que
permite sentir, juntamente com o olfacto, os quatro sabores (doce, salgado, ácido e
amargo). O sentido olfactivo é um sentido imediato, emotivo e primitivo, podendo ser
mais ambíguo que exacto. Tem um papel essencial na recordação de locais,
enriquecendo o sentido de lugar. Da atribuição de significado às diversas sensações
recebidas por todos os sistemas sensoriais, resulta um conhecimento do espaço que se
23
adquire e modifica a partir das experiências sob o mesmo. Assim podemos dizer que a
cognição ambiental diz respeito à compreensão e ao conhecimento, tratando da
descrição de como as pessoas estruturam, apreendem e conhecem o seu meio, através de
formas como esquemas, noções, etc., que variam com a cultura. Por exemplo,
reconhece-se um local como “bar” pela noção que possuímos de bar. É um processo
mais abstracto e variável. A avaliação ambiental está ligada às preferências, baseando-
se na definição de valores em relação ao ambiente, às qualidades do meio e à
imaginação “idealizada” do meio ambiente. É um processo muito subjectivo e variável,
pois cada grupo social tem a sua imagem do que é um ambiente de qualidade. Por
exemplo em relação a preferências de cor, forma, privacidade, segurança, etc.
Por seu lado, Daniel Serrano (2000) refere que a percepção é o processo de
descodificar os estímulos que recebemos do meio. “O processo perceptivo inicia-se com
a captação, através dos órgãos dos sentidos, de um estímulo que, em seguida, é enviada
ao cérebro15”. Este processo inicia-se com a sensação, mecanismo fisiológico através do
qual os órgãos sensoriais registam os estímulos externos e efectuam a transdução de
energia física em energia nervosa, que de seguida é interpretada na área cerebral
respectiva, permitindo dar um significado a esses mesmos estímulos.
3.1. A MOTIVAÇÃO
A concepção mais antiga e mais partilhada pelo senso comum é a de que o ser
humano é um ser racional. As opções, as decisões e a sua acção seriam orientadas pelo
15
Ver: Serrano, D. (2000, 8 de Setembro). Percepção. In: http://educacaodialogica.blogspot.com/2008/07/percepo-o-
processo-de-decodificar-os.html.
24
pensamento. Se reflectirmos sobre alguns
dos nossos comportamentos, será mais fácil
compreender o conceito de motivação:
comemos, bebemos, dormimos, etc. Estes e
outros comportamentos têm origem numa
força interna que predispõe as pessoas a
desenvolver uma acção com vista a um
objectivo: um alimento, uma bebida.
Podemos, então, utilizar o termo para
designar um conjunto de forças internas que
Figura 16 – Tipos de comportamentos
mobilizam e orientam a acção do organismo (adaptado de Lawson, 2001)
Outra perspectiva que permite explicar o que leva o ser humano a agir, é a teoria
da hierarquia das necessidades de Maslow. Segundo Maslow (1968), as necessidades
humanas estariam organizadas numa hierarquia, representadas numa pirâmide, em que
na base estariam as necessidades fisiológicas e, no cume, as necessidades mais elevadas,
16
Poderemos chamar de conotativo ao significado para além do sentido literal de um conceito. Ou seja, muitas vezes
um conceito é entendido dependendo do contexto em que está inserido.
25
que seriam as de auto-realização (Figura 17). Após satisfeitas as necessidades básicas, o
indivíduo ascenderia a outras mais complexas e, se no decurso da sua existência não
houvesse obstáculos, progrediria até ao topo.
26
cada um, a concretização das capacidades pessoais será manifestada. Um facto a ter em
conta é que as necessidades não desaparecem somente porque foram satisfeitas
(Monteiro e Santos, 2003b). Posteriormente Maslow acrescentou as necessidade
cognitivas, ou de conhecimento (compreender, explicar, satisfazer curiosidades,
entender o misterioso) e as necessidades estéticas (ordem, simetria, beleza), antes das
necessidades de auto-realização.
Assim, em arquitectura,
podemos propor uma pirâmide
semelhante, onde poderemos
hierarquizar o que seriam as
nossas necessidades espaciais
(Figura 18). Essa pirâmide seria
composta por duas partes: a
consciente, onde estariam todas
as necessidades básicas, que os
27
pertence, uma necessidade enorme de voltar às raízes das suas vidas. Também
poderemos encarar isso como uma necessidade de identidade e de pertença, ou seja,
uma necessidade de pertencer a um local. Robert Ardrey (1967), citado por Lawson
(2001), foi o primeiro a apontar que não só temos estas três necessidades espaciais de
estimulação, segurança e identidade, mas também que isso pode ajudar a explicar as
razões para o comportamento territorial.
Como referido, nos dias que correm, arquitectos e clientes apenas se limitam a
traçar ideias para a base da pirâmide. A segurança e protecção, como é óbvio estariam
em primeiro lugar. Todas as pessoas pretendem que os espaços que idealizam sejam
espaços seguros, que possam ser habitados/utilizados sem receio, quer sejam espaços
privados ou públicos. Todos nós temos uma necessidade fundamental por um nível de
estabilidade, continuidade e previsibilidade nas nossas vidas. Poderá ser excitante não
ter essa estabilidade, mas uma vida de constante imprevisibilidade poderá ser stressante.
Por um lado é excitante porque pode representar progresso ou uma nova fase da vida.
Por outro lado não temos bem a certeza como nos comportarmos nesse novo contexto e
a incerteza pode gerar insegurança e, consequentemente, desconforto ou mal-estar.
Como já vimos no capítulo anterior, desde os primórdios da humanidade, havia a
necessidade de nos abrigarmos contra os animais selvagens e o tempo, em outros casos,
de nos defendermos contra outros povos, daí construírem-se castelos, fortalezas,
abrigos, para que nos sentíssemos mais seguros. Durante a época greco-romana o
urbanismo era limitado à construção de moradias em lugares defensivos e próximos a
fontes de água para abastecimento. Durante o séc. XIII, as cidades já proporcionavam
protecção contra os invasores. A inclusão de regras ou normas nesses povos trouxe
alguma estabilidade da vida do ser humano. As normas sociais regulam o
comportamento, o vestuário, formas de linguagem e até, em alguns casos, definem
inteiramente aspectos locais. Estas normas dão segurança às pessoas de um grupo,
permitindo que estas se comportem de um modo regular, sem medo que o seu
comportamento seja inapropriado em relação aos seus vizinhos, colegas ou amigos
(Lawson, 2001).
28
desempenhar a função para que foi concebido, pode levar a que as pessoas se sintam
desconfortáveis ou até confusas.
29
O topo da pirâmide seria
considerado o elemento em falta,
que deveria ser pensado na
altura em que se está a projectar.
Quando falamos em criação,
falamos dos diferentes tipos de
mensagens que a obra arquitectónica deveria passar, falamos na criação de ambientes
que nos façam lembrar de algo, falamos na criação de estímulos que o espaço deveria
proporcionar ao utilizador. Este é o elemento da base do topo da pirâmide, que ao ser
satisfeita, poderá levar à auto-satisfação. Como já foi referido, normalmente, poucas
pessoas pensam nesse elemento “criação”. Apenas se confinam a projectar algo para
servir algo. Primeiramente o indivíduo percebe o ambiente, identifica-o e, só depois,
consegue dizer se se sente bem ou não. A relação ambiente construído/comportamento
humano é muito forte, por isso é necessário que, antes de o projecto ser concebido, haja
uma leitura do que o cliente idealiza e do que não idealiza, pois o cliente não se
apercebe como poderá fazer do espaço um espaço que transmita algo, que crie, ao
mesmo tempo que cumpre com todas as suas funções.
Quanto às necessidades de
estimulação, Bryan Lawson (2001) afirma
que não estamos concebidos para existir
num espaço neutro, por isso compensamos
ao inventar a nossa mesma estimulação
mental interna, que rapidamente pode sair
fora de controlo. Pessoas sem qualquer
contacto com o exterior, colocadas em
espaços fechados e silenciosos, podem ter Figura 19 - Curva de relação entre estimulação e
performance (adaptado de Lawson, 2001)
consequências bastante dolorosas a nível
psicológico. Pelo contrário, um ambiente com excesso de estímulos parece igualmente
ser perturbante, e pode ser encarado como forma de tortura. Algumas pessoas gostam
simplesmente de uma vida serena, enquanto que outros preferem mais acção. Mas,
mesmo assim, as nossas necessidades mudam, assim como muda o nosso humor e
também a nossa idade. É, no entanto, impossível produzir um ambiente que possa ser
considerar ideal para todos. Lawson elaborou um referencial no qual relaciona os níveis
de estimulação com a nossa performance (Figura 19). Se estivermos inadequadamente
30
estimulados, sentimo-nos aborrecidos e perdemos o interesse no que estamos a fazer.
Um excesso de estimulação pode implicar dificuldade em nos conseguirmos concentrar.
No entanto, existem certos lugares que esperamos que nos providenciem grandes
quantidades de estimulação. Por exemplo, um jardim público ou uma praça, à noite, as
luzes que provêm dos candeeiros ou por vezes do próprio chão proporcionam um outro
ambiente, do qual não nos apercebemos durante o dia. O uso destes pontos de luz torna
a nossa atenção mais selectiva, e à medida que nos movimentamos, estamos
constantemente a descobrir novos locais (Lawson, 2001). Evans e McCoy (1998),
citado por Lawson (2001), afirmam que, no dia-a-dia, as pessoas necessitam de mais
continuidade e previsibilidade, mas também necessitam de um pouco de mistério e
complexidade para manter o interesse no que está à sua volta. Maija Ojala (2007)
considera que a atenção aos detalhes é um aspecto unificador. Por exemplo, o impacto
da atenção, que ultrapassa as nossas necessidades básicas, pode ser enorme. Pode fazer
com que as pessoas se sintam especiais, melhorarem a sua auto-estima e contribuir de
maneiras inesperadas para as coisas que estão a fazer. Em arquitectura podemos
interpretar isto como uma negação das nossas necessidades básicas. O nosso ambiente
deveria estar cheio de surpresas escondidas, coisas que não saltem à vista, e quando
damos por isso, pensamos que já houve alguém que pensara nesse pormenor. É, então,
necessário encontrar o ponto de equilíbrio entre o nível de estimulação em arquitectura
para que as pessoas se sintam confortáveis.
Todos nós sabemos que os objectos não mudam de tamanho à medida que se
afastam de nós. As pessoas que estão no fim de uma determinada fila não são mais
pequenas das que estão ao nosso lado. Então, embora as imagens mudem, a nossa
percepção não o faz. Do mesmo modo, aprendemos que se algo se vira a nossa frente,
não muda de forma. Estes são truques mentais que tivemos de aprender e que não o
podíamos fazer quando éramos mais novos. Uma criança aprende a reconhecer certos
objectos, mas se estes estiverem colocados de uma forma não usual, esta já não os
consegue identificar. O tamanho, a forma e a cor de um objecto são normalmente
percebidos por nós para permanecerem constantes quando se movem no espaço, ou nos
movemos. Em arquitectura, podemos ter edifícios que podem ser de grande escala ou
edifícios que são mais de uma escala modesta. Como estes adjectivos sugerem, os
31
edifícios parecem tentar cumprir um
papel na sociedade, com a sua
grandiosidade ou humildade. A
famosa Ópera de Paris, completada
por Garnier em 1874, é uma
construção de enorme escala (Figura
20). Tudo neste edifício é simples-
mente enorme: a entrada, o vestí-
bulo, a famosa escada e até o Figura 20 - Ópera de Paris, Garnier, 1874
Quanto à cor e à luz, Frank Vodvarka17 (1999), refere que o estudo da cor é muito
complexo, pois envolve as componentes estéticas, psicológicas, fisiológicas,
associativas e simbólicas. Este afirma que a cor tem um poder extraordinário no nosso
nível emocional. Leonardo Da Vinci acreditava que o propósito da luz era revelar a
forma e que a cor só funcionava localmente. Emilio Ambasz (1980), citado por
Vodvarka (1999), salienta os efeitos emocionais criados pela arquitectura de Bárragan.
Ambasz aponta as qualidades sensuais dos materiais que utiliza, assim como uma
arquitectura baseada em elementos construtivos com um sentido místico criado através
da cor. O estudo da cor iniciou-se através da interacção da luz e da cor, concluindo que,
sem luz não conseguíamos observar a cor, a forma ou o espaço. Segundo a história,
sabemos que Isaac Newton descobriu, no século XVIII, que a luz branca continha todas
as cores visíveis, que quando esta encontrava uma pirâmide a luz era difundida num
17
Em “Aspects of color”, por Frank Vodvarka, 1999. Frank Vodvarka é um professor de belas artes da Universidade
Loyola de Chicago, onde desenvolveu vários estudos referentes à teoria da cor, design, fotografia e história da
arquitectura.
32
leque de cores. Johann Goethe (1982) refere que “quando o olho vê uma cor, é
imediatamente excitado e, é da sua natureza, espontaneamente e por necessidade, querer
produzir outra, no qual compreende toda a escala cromática. Nisto reside a lei
fundamental para toda a harmonia das cores18”. Ostwald, citado por Johannes Itten
(1970), escreve que “a experiência ensina-nos que certas combinações de diferentes
cores são agradáveis, desagradáveis ou indiferentes19”. Este refere que as cores que nos
parecem agradáveis são aquelas que mantêm um relacionamento. Ambos os autores
concordam com a organização das cores usando uma cor “sólida” com uma cor definida
com o mesmo valor e matiz20. Estudos na área da psicologia da cor e da decoração
referem que, quando as pessoas são obrigadas a olhar por um determinado período de
tempo para o vermelho, observa-se que há uma estimulação em todo o nosso sistema
nervoso: há um aumento da pressão arterial e nota-se que o ritmo cardíaco se altera.
Observar o azul produz o efeito exactamente oposto: o ritmo cardíaco e a respiração
diminuem21.
Em relação à sinestesia, esta pode ser entendida como um fenómeno em que uma
estimulação causa a percepção em um ou mais dos nossos sentidos (Zimm, 2000). A
sinestesia é basicamente a junção de todos os nossos sentidos. Husserl (1972) chama
sinestesia à unidade de sensações e movimento do corpo vivo. Para sentirmos certos
18
Goethe, J. (1982). Theory of Colours. Cambridge, Massachusetts: The M.I.T. Press, p.317.
19
Itten, J. (1970). The Elements of Color. Ed. Faber Birren, New York: Van Nostrand Reinhold Company, p.21.
20
Segundo Itten, o valor ou brilho, o matiz e a intensidade ou saturação são três propriedades para definir a cor. O
valor ou brilho mede o quão escura ou clara está determinada cor, ou seja, mede o grau de claridade ou obscuridade
da cor. O matiz refere-se ao estado puro da cor sem o branco e sem o preto, ou seja, é a qualidade que nos permite
distinguir as cores uma das outras. A intensidade ou saturação mede o grau de saturação de determinada cor, isto é,
mede a intensidade da cor, se ela é pura ou não, e pode ser definida pela quantidade de cinza que contém uma cor.
21
Ver: http://www.nucleodecoracao.com.br/default2.asp.
22
Para mais informações ver: Birren, F. (1961). Color Psychology and color therapy. New York: University Books.
33
aspectos ao nosso redor, como a luz, cor, texturas, temos que mover a cabeça, as mãos,
os olhos, etc. As associações “isto lembra-me aquilo” permitem-nos anteceder o
reconhecimento dos objectos e despertam-nos para uma acção. Ou seja, “todos os
aspectos experimentados sinestesicamente, suscitam associações sempre variáveis de
modo mais ou menos vaga de objectividades, que vão introduzindo constantemente
motivações para ir mais além do que actualmente se vê23”. O arquitecto deveria partir
precisamente destes conhecimentos e deveria também questioná-los, para que consiga
desenhar um espaço que nos incite a usá-lo. Malin Zimm (2000) refere que a
arquitectura deveria abranger estas experiências para levar a arquitectura e a sua função
aos limites da percepção.
23
Pedragosa, P. (2005). Phenomenology 2005, Vol. 3, Selected essays from the euro-mediterranean area, Part 2. Ed.
Ion Copoeru & Hans Rainer Sepp, Bucharest: Zeta Books 2007, p. 437.
34
Entre outros elementos, para além dos enunciados anteriormente, poderemos
alcançar, de várias formas, esse factor de criação, seja através de pormenores
minuciosos ou até a geração de novos ambientes. Importa agora realçar estudos de
como, ao longo dos tempos, diversos autores interpretam o espaço arquitectónico e
modo como este influencia o nosso comportamento.
35
4. INTERPRETAÇÃO ESPACIAL
24
A Gestalt é uma teoria da psicologia, desenvolvida por psicólogos alemães em 1920, que possibilitou o estudo da
percepção visual.
36
4.1. INTERPRETAÇÃO SEGUNDO ZEVI
Tal como o nome indica, são aquelas que buscam explicar o espaço arquitectónico
a partir do seu conteúdo, ou seja, das razões da sua existência.
― Interpretações psicofisiológicas
Bruno Zevi refere estas interpretações como aquelas que recorrem a evocações
literárias de “estados de alma”, emoções e sentimentos produzidos pelos estilos
arquitectónicos, decorrentes das diferentes épocas históricas (Tabela 1).
37
Círculo Perfeição, equilíbrio
Triângulo Tensão
― Interpretações formalistas
― Interpretações espaciais
São aquelas que não se limitam aos efeitos visíveis abordados pela análise
formalista ou às questões mais abstractas, que são abordadas pelas interpretações ao
nível do conteúdo e psicofisiológicas, mas valorizam o espaço, considerado como
38
objectivo e fim da arquitectura. Aqui o espaço arquitectónico é visto como a
materialização de conteúdos sociais, efeitos psicológicos, valores formais e
funcionalidade. Scott (2000), citado por Zevi (2000), considera o espaço interior como o
valor próprio e original da arquitectura, sendo todos os outros elementos válidos para
apreciação do edifício em função do modo como acentuam ou escondem o valor
espacial. Como a interpretação da arquitectura requer uma vivência do seu espaço,
pode-se dizer que este modo de ver seria o mais completo de todos, já que envolveria
todos os demais aspectos, os quais se concretizam no contacto directo com o ambiente.
Talbot Hamlin (1916), citado por Zevi (2000), afirma que a arquitectura pode
proporcionar um número de emoções limitado. Segundo este, todo o edifício, todo o
ambiente, deve encerrar uma mensagem de poder, paz ou repouso e alegria. Também
refere que a atracção que o edifício exerce sobre os sentidos é produzida apenas por
duas coisas: o jogo da luz e das sombras sobre as superfícies, e a cor dos materiais de
que se compõem.
Irving Pond (1918), citado por Zevi (2000), num dos seus livros, ilustra o efeito
psicofisiológico das diversas unidades geométricas. Segundo o autor deve-se construir
verticalmente nas planícies, referindo o Egipto como exemplo e com predominância de
linhas horizontais nas colinas, referindo-se à Grécia. Contudo, também refere que, nos
países de céu mais limpo, a arquitectura deve adoptar formas mais simples enquanto que
nos países de céu mais enevoado, se num terreno plano, formas piramidais, se num
terreno montanhoso, formas mais cúbicas, exemplificando o Gótico e os castelos
medievais.
Claude Bragdon (1922), citado por Zevi (2000), refere que, no quadro das artes,
existem dois pólos, sendo estes constituídos pela música e pela arquitectura. A primeira
vive essencialmente no tempo, a segunda, no espaço. Este autor revela que a Unidade é
a primeira lei da arquitectura. A segunda é a Polaridade, ou seja, todas as coisas têm um
sexo, masculino ou feminino, indicando que na arquitectura verifica-se um contacto
constante entre o masculino (simples, directo, positivo, primário, activo) e o feminino
(indirecto, complexo, passivo, negativo), referindo que “as formas duras, rectas, fixas,
verticais são masculinas; as suaves, curvas, horizontais, flutuantes são femininas”. A
39
terceira lei é a Trindade. O contacto entre o masculino e o feminino tende para uma
terceira coisa que é neutra, como por exemplo, da junção do vertical com o horizontal
resulta o arco. A quarta lei é a Consonância, a repetição de algo com variações. A
Diversidade na monotonia é a quinta lei. O Balance é a sexta lei e a Transformação
rítmica a sétima. Assim como um dedo se alonga numa diminuição rítmica, a coluna
grega se estreita ritmicamente, o que explica a ênfase.
Howard Robertson (1924), citado por Zevi (2000), afirma que a unidade, a
composição das massas e o elemento contraste constituem as leis da arquitectura,
enquanto a ênfase, a expressão de carácter, as proporções e a escala são princípios
secundários. Este explica estes elementos exemplificando através das fachadas e
volumes dos edifícios.
William Newton (1925), citado por Zevi (2000), critica a ignorância dos
funcionalistas, que acreditam que a utilidade e a estrutura determinam a forma do
edifício. Este aponta para que os edifícios sejam pensados de dentro para fora, em vez
do contrário.
Arthur Butler (1926), citado por Zevi (2000), refere que a beleza do edifício está
na sua aparência. Este menciona que nem todos os edifícios produzem o mesmo efeito
de todos os ângulos de visão. O autor exemplifica com o Baptistério de Pisa que,
“completamente circular e uniforme, faz com que o olhar rode indefinidamente sem
nunca alcançar a satisfação total”.
Georges Gromort (1938), citado por Zevi (2000), divide o campo da arquitectura
em três interesses tradicionais: solidez estrutural, utilidade prática e beleza. Georges
enuncia a unidade, o contraste, a simetria, a proporção, as proporções geométricas e
matemáticas, os valores estéticos do partido, da franqueza e da verdade, o carácter, a
escala, a decoração arquitectónica e escultórica, a simplicidade e a sobriedade e o estilo
e a matéria como categorias do belo arquitectónico.
Tristan Edwards (1945), citado por Zevi (2000), afirma que “a função do design
nas artes visuais é dar às coisas inanimadas as qualidades da vida”, e confere essas
qualidades à arquitectura através de três princípios fundamentais: o número, a
pontuação e a inflexão. O número é tratado juntamente com a unidade, dualidade e a
trindade que analisa exclusivamente a composição das fachadas; a pontuação é definida
como o “processo do desenho através do qual se dá a um objecto uma certa consciência
40
das suas extremidades”, ou seja, trata-se de uma análise da ênfase estendida à totalidade
da fachada de um edifício; a inflexão é definida como “o princípio que governa as
relações das partes com o todo e a relação do todo com o que o rodeia”.
Clough Williams-Ellis (1946), citado por Zevi (2000), diz, de um modo muito
irónico, que para se compreender um edifício é preciso que ele fale, ou seja, que
responda a perguntas concretas como: “és prático?; tens uma construção sólida?; se és
novo, qual será o teu aspecto daqui a dez anos?; transmites alguma ideia?; és repousado
e vigoroso, alongado (horizontal) ou todo recto (vertical), calmo ou alegre, delicado ou
forte, luminoso ou sombrio, feminino ou masculino?; és bom vizinho?; tudo o que te
rodeia ganha ou perde com a tua presença?”.
Mark Thomas (1947), citado por Zevi (2000), responde à pergunta “como se deve
ver a arquitectura?” afirmando: “uma vez que o objectivo principal da arquitectura é
encerrar espaços, um edifício deve ser antes de mais nada avaliado, quer nos
encontremos dentro ou fora dele, pela maneira segundo o qual realiza esse encerramento
do espaço; é preciso sentir o edifício não como um conjunto de massas, à maneira de
uma montanha, de um monumento ou de uma fachada (os edifícios concebidos e
elaborados em função de uma única fachada nos chocam por serem uma negação da
base tridimensional da arquitectura), mas como uma combinação de vazios de contorno
variado”.
42
5. INTERLIGAÇÃO DE CONCEITOS DE PSICOLOGIA COM A
ARQUITECTURA NO ESPAÇO URBANO, EDIFÍCIOS E INTERIORES
“Os edifícios devem contar qualquer coisa, não ser apenas um jogo sério de
formas e luzes26” (Charles Moore, 2000).
25
A Psicologia Ambiental estuda a relação do meio ambiente com o comportamento humano.
26
Citação retirada de: Consiglieri, V. (2000). As significações da arquitectura: 1920-1990. 1ª Edição, Lisboa: Ed.
Estampa, p.220.
44
suas necessidades, o ser humano estabelece novas relações com a obra arquitectónica, e,
na base deste novo relacionamento situamos não só a motivação como a emoção, dois
processos psicológicos básicos que se relacionam com a capacidade adaptativa dos
indivíduos (Palmero & Sánchez, 2008). Talvez, por isso, tendamos a sentir-nos atraídos
por corredores, escadas, nichos, etc., espaços que prometem a revelação de algo mais
que nos escapa à primeira vista. “Halls de entrada, portas sólidas; caminhos de acesso à
entrada da casa com curvas, esquinas, cantos; cortinas que não ocultam totalmente os
ambientes mas velam os seus conteúdos”, ou seja, espaços com pequenos mistérios
parecem atrair-nos mais (Scardua, 2009).
“Uma das ideias dominantes actualmente nas neurociências é que o nosso cérebro
se sente recompensado com padrões”. Do ponto de vista biológico e psicológico, “o
equilíbrio das proporções, a regularidade e a ordem parecem também sinalizar boas
condições para a perpetuação da espécie”. A existência de formas ordenadas e
padronizadas, a simetria e o equilíbrio parecem não só sinalizar confiabilidade, como
também influenciam o modo como se percepciona (Scardua, 2009).
45
evidente no caso dos espaços públicos, onde a experiência é de natureza dinâmica27”
(Farshchi e Fisher, 1997). Este autor refere que a memória a curto-prazo nos humanos
tem uma capacidade limitada e, no caso de estarmos a viajar de carro pela cidade, o
cérebro humano apenas consegue registar uma visão da estrada, que é confinada a
linhas, sinais, ligações e movimentos. Isto limita o número de detalhes que podem ser
observados pelo condutor, enquanto que o utilizador, caminhando, poderá experienciar
uma quantidade mais detalhada de todos os eventos. Quando relacionamos o objecto
arquitectónico com o meio ambiente ou lugar, e encontramos uma imagem isolada no
fundo, podemo-nos referir a esse objecto como um ícone, seja ele enquadrado em
qualquer período da história, egípcio, grego, romano, renascimento, etc. Actualmente, a
relação entre o objecto e o fundo é algo importante e a ter em conta. Algumas leis
sugere-nos isso mesmo, ou seja, respeitar a envolvente, os materiais, para que assim
exista uma identidade, coisa que se tem vindo a perder ao longo do tempo.
Quanto ao surgimento das cidades e das grandes metrópoles, sabemos que elas se
desenvolveram perto dos grandes rios, primeiro na antiga Mesopotâmia, perto do rio
Nilo, alargando-se para a Europa e, posteriormente, para o resto do mundo. O elemento
água era fundamental para o desenvolvimento da agricultura e sustento das famílias. Por
isso, ainda hoje temos uma tendência para viver perto de rios, ribeiros, onde a natureza
nos proporcione essa qualidade.
Gordon Cullen (1971) escreve que os ambientes agradáveis não são projectados
ao acaso. Este estabelece que o sucesso de uma cidade pode ser conseguido através da
sua capacidade para despertar emoções, entusiasmo e/ou dramatismo. Para este autor, a
complexidade visual é um aspecto fundamental neste processo, pelo que propõe uma
análise sequencial da paisagem urbana através da visão serial 28 recorrendo
sistematicamente a imagens (Figuras 24 e 25).
27
Farshchi, M. e Fisher, N. (1997). The Emotional Content of the Physical Space. London: RICS, p.4.
28
Segundo o autor, a visão serial pode ser entendida como a sucessão de surpresas ou revelações súbitas que a
paisagem urbana proporciona ao transeunte.
46
Elementos como os arcos,
que separam uma ambiência de
um lado e outra do lado oposto,
cantos que escondem praças, são
elementos que dão “a sensação de
estar a desvendar um mistério, de
poder vir a descobrir sempre mais
alguma coisa se continuarmos a
andar”. Gordon Cullen menciona
que o “abrigo, sombra, conveniên- Figura 25 - Visão serial desenvolvida por Cullen
(Cullen, 1961)
cia e um ambiente aprazível são as
causas mais frequentes da apropriação do espaço, as condições que levam à ocupação de
determinados espaços”; o ponto focal como símbolo vertical de convergência. Esse
ponto focal (coluna, cruz, pelourinho) surge como um ponto de encontro entre as
pessoas, normalmente existente nas cidades, vilas ou praças. É certo que em muitas
cidades, já não se dá muita importância a isso; Pórticos, varandas e terraços, possuem a
capacidade para nos orientar para o exterior; um ponto iluminado, uma pessoa a apontar
para algo, guia o nosso olhar, o que suscita as nossas emoções para algo que nos é
exterior; “uma descrição das nossas reacções emotivas perante a posição que ocupamos
num determinado espaço deverá, forçosamente incluir a questão dos níveis”. Um nível
abaixo do terreno onde nos encontramos proporciona sensações de intimidade,
inferioridade, encerramento enquanto que acima do nosso nível produz sensações de
euforia, domínio ou superioridade. Cullen refere que “o acto de descer significa ir ao
encontro do que conhecemos enquanto que o de subir implica ascender ao
desconhecido”; as saliências e reentrâncias nas fachadas de uma rua, impedem que
apreendamos a rua de uma só vez, pelo que o nosso olhar fica “embrenhado numa
complexidade e sinuosidade que ajudam o espírito a deter-se tranquilamente”; a
importância de criar fachadas que se realcem das outras para, assim, “prender o olhar,
impedindo-o de deslizar para longe, e evitando, desta forma, a monotonia”; os
estreitamentos de ruas através dos edifícios, proporcionam uma espécie de pressão, que
podem ser compensadas quando existam praças ou um espaço amplo depois desse
estreitamento; a racionalização de todos os espaços numa grelha ortogonal “parece ser
contrária à natureza humana”. Os espaços são criados pelos próprios edifícios; arcos ou
túneis estão envoltos de mistério, pois levanta a expectativa do que vai aparecer depois
do que esconde; entre outros. Gordon Cullen escreve que o homem “necessita de
47
emoção, do dramatismo que é possível fazer surgir do solo e do céu, das árvores, dos
edifícios, dos desníveis e de tudo o que o rodeia…”.
Por seu lado, Kyvin Lynch (1960) fala da existência de cinco elementos
fundamentais para uma melhor legibilidade da paisagem urbana, podendo ser definida
como a “facilidade com a qual as partes podem ser reconhecidas e organizadas numa
estrutura coerente29”. O autor entende que a imagem é resultado de sensações imediatas
e da memória de experiências anteriores. Só através destes cinco elementos – vias, nós,
elementos marcantes, bairros e limites – seria possível actuar sobre a cidade.
5.2. O EDIFÍCIO
29
Lynch, K. (1960) The Image Of The City, MIT Press, Cambridge, Mass. (Trad. 1998) A Imagem da Cidade.
Lisboa: Edições 70, p.13
30
Muga, H. (2005). Psicologia da arquitectura. 2ª Edição, Canelas VNG: Edições Gailivro, Lda, p.154.
31
Idem, p.162
32
Idem, p.166.
48
é necessário que exista também uma relação entre o espaço privado e o espaço púbico, a
porta de casa e a rua, para que não haja uma rígida divisão entre esses dois espaços.
Muga dá o exemplo das portas que recuam relativamente às fachadas, criando um
espaço aberto semi-público, o que contribui para a relação entre o edifício e a rua.
Bryan Lawson (2001) refere que para dar um sentido de grandiosidade a um edifício, se
o piso principal estiver sobrelevado, faz com que o nosso centro das atenções se volte
para cima, para esse mesmo piso. Outros elementos que poderão dar essa sensação são
as colunas, quando expostas o mais alto possível. Relativamente ao ritmo, este refere
que uma simples e regular repetição de um objecto, faz com que o objecto desapareça,
dando o exemplo das florestas, ao não nos conseguirmos aperceber das árvores.
33
Ibidem, p.168
49
5.3. OS INTERIORES
“Deste modo, a experiência do visitante não será apenas uma monótona sequência
de vistas, mas uma transformação gradual e constante, criada pela perspectiva e pela
iluminação em cada parede ou constelação de elementos, com um sentido de avanço e
34
Ibidem, p.170
35
Ibidem, p.171-172.
50
um desejo de ficar” (Muga, 2005). Arnheim (1988) realça as igrejas medievais em
forma de cruz, em que, quando o espectador chega ao cruzamento criado pelo transepto,
nos convida a olhar à nossa volta.
No que diz respeito às cores, Massel e Kail (1989), Rasmussen (1998) e Beresniak
(1987), citado por Muga (2005), concordam que estas desempenham funções
importantes na arquitectura. Para eles, a cor pode ser utilizada com vários propósitos,
entre os quais:
Diversos estudos sobre o papel da cor têm sido utilizados. Nancy Stone e Anthony
English (1999) testaram, tal como Faber Birren, os efeitos da cor no local de trabalho e
a sua correlação com a performance dos trabalhadores. Concluíram que um escritório
vermelho é mais estimulante e pode causar sentimentos de raiva ou tensão. No entanto
aumentava a performance dos trabalhadores. Também notaram que o azul pode causar
maior depressão, assim como tristeza, sentimentos de fadiga ou relaxamento. Os
trabalhadores queixavam-se mais de dores de cabeça.
51
Para alguns estudiosos, a
arquitectura tem o poder de criar
ambientes que proporcionem harmonia e
até com capacidades curativas. Vivek
Sabherwal (2010) refere que a harmonia
pode ser conseguida através da esti-
mulação de todos os elementos sensoriais,
por exemplo o som da água, na arqui- Figura 28 - Corredor Monte da Quinta Suites,
Quinta do Lago, Algarve
tectura Zen, a cor, a natureza, a arte, o
aroma ou até o próprio odor ambiente. Este autor explica que o contacto diário com a
natureza, com o uso de materiais o mais naturais possíveis e com qualidades artísticas
como a música, poesia, dança ou decorações florais proporciona às pessoas um estado
de espírito e mental saudáveis (Figura 28). As divisões devem ser planeadas com
clareza de modo a perceberem-se os espaços, espaços públicos mais públicos e espaços
privados mais privados. Os espaços públicos devem encorajar a actividade social. Os
espaços e os acabamentos devem antecipar o comportamento humano. E, como já
referido, o feng shui tem muito a dizer acerca deste assunto. Estes princípios chineses de
colocar os objectos em harmonia com o ambiente, anteciparam o que os neurocientistas
e os arquitectos têm vindo a evidenciar.
36
Segundo Itten (1970) são consideradas cores quentes as cores: vermelho, cor-de-laranja e amarelo.
37
Ver: Sabherwal, V. (2010). Healing aspects of architecture. In: http://www.expresshealthcare.in/201004/
strategy04.shtml.
38
Entendem-se por cores primárias o vermelho, o azul e o amarelo.
52
com que as actividades pareçam mais longas; num espaço onde de realizam tarefas mais
monótonas, uma cor fria faz com que o tempo passe mais rapidamente (Sabherwal,
2010).
Sabherwal refere, ainda, que portas repetidas num longo corredor podem
desorientar o utilizador; a iluminação e o tratamento do tecto podem ajudar a reduzir
visualmente o tamanho dos corredores; para encurtar os corredores também poderão ser
colocados nichos para as pessoas se sentarem, o que também incita a mobilidade; as
crianças necessitam de espaços que lhes estimulem todos os sentidos, desde espaços
onde possam correr, superfícies com texturas, que reflictam luz, que convidem ao toque;
as portas de entrada da casa devem ser claras e convidativas; deve-se evitar arranjos,
mobiliário no hall, pois bloqueia a linha de visão com todo o ambiente que nos envolve.
53
a-dia de modo a contribuir, de modo favorável, para uma arquitectura que proporcione
mais e melhor para as pessoas que dela vão fruir.
54
6. CONCLUSÃO
As nossas escolhas são determinadas pelo nosso sistema límbico, que rege uma
variedade de funções tais como as emoções e o comportamento. Podemos
eventualmente justificar o nosso estilo ou as nossas preferências, mas a nossa actividade
mental indica que tem mais a ver com as emoções do que com a lógica. Mesmo um
ambiente que tenha uma vista fantástica, tende, com o tempo, a que nos habituemos e,
de seguida, já não tem a mesma importância que lhe demos no início.
Podemos concluir que um dos pontos-chave para que a arquitectura crie estímulos
que levem as pessoas a usufruir plenamente do espaço é a criação, a criação de
ambientes que mudem e que nos envolvam. Um espaço que não nos diga tudo à
primeira vista, um espaço que prometa mais do que estejamos à espera. No interior pode
passar pela organização espacial, luz e cor; no exterior pela criação de espaços que
incitem a actividade social; na relação exterior/interior pela própria natureza. Este
estudo permite-nos definir, de algum modo, como poderemos conceber esses espaços,
acabando por respeitar as precisões do cliente, o próprio meio envolvente e também as
necessidades humanas dos utilizadores que deles vão usufruir.
39
Zumthor, P. (2005). Pensar a arquitectura. Barcelona: Editorial Gustavo Gilli, p.53.
55
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59
ANEXOS
60
Anexo 1 – Elementos a ter em conta no acto de projectar
61