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O ACONTECIMENTO:
Inferências reflexivas no campo midiático1
Linda BULIK 2 F
1. Preâmbulo
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Trabalho apresentado ao Grupo de Trabalho “Práticas Interacionais e Linguagens na Comunicação”, do XX
Encontro da Compós, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, de 14 a 17 de junho de
2011.
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Linda Bulik é Doutora pela Universidade de Paris II (Sorbonne) com Pós-Doutorado na França e na
Dinamarca (Paris VIII e Nordisk Theatre Laboratorium) e Jornalista (Ecole des Hautes Etudes Sociales /
section Ecole Supérieure de Journalisme). Autora dos livros Doutrinas da Informação no Mundo de Hoje e
Comunicação e Teatro. Professora do Curso de Jornalismo e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação
da Universidade de Marília – UNIMAR – Marília / SP - Brasil.
E-Mail: bulik@sercomtel.com.br
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Há uma distinção portanto entre o presente e o atual, entre o hoje e o agora. O atual
é construído a partir de um “certo elemento do presente que se trata de reconhecer”,
como “diferença histórica”. Este reconhecimento, que é o da crítica, da
problematização, desatualiza o presente, desatualiza o hoje, no movimento de uma
interpelação. Nesse sentido o presente não é dado, nem enquadrado numa
linearidade entre o passado e o futuro.
(CARDOSO, 1995, p. 56)
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No Vocabulário de Foucault (2009), Edgardo Castro, amparado nos Ditos e Escritos, assinala que para Michel
Foucault isto implica uma multiplicidade causal : 1) analisar os acontecimentos segundo os processos múltiplos
que os constituem (por exemplo, no caso da prisão, os processos de penalização, encerramento, a constituição
dos espaços pedagógicos fechados, o funcionamento da recompensa e da punição); 2) analisar o acontecimento
como um polígono de inteligibilidade sem que se possa definir antecipadamente o número de lados; 3) um
polimorfismo crescente dos elementos que entram em relação, relações descritas, domínios de referência.
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Was ist Aufklarung ? – pergunta-se, mais tarde Kant. O Iluminismo – responde o filósofo alemão - « é o
momento em que o homem sai de uma minoridade imputável a sua própria culpa”» , conf. Bulik, 1991, p. 64.
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2. O acontecimento midiático
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In: PORTO, Sérgio Dayrell (org.) O JORNAL – Da forma ao sentido. Brasília: Ed. UnB, 2002. [Col.
Comunicação, 2]
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A Atualidade parece sem memória porque é feita de presentes que se apagam uns
aos outros. O jornal não faz memória, e a coleção de um jornal não tem existência
para seu leitor. O fundamento da Atualidade é o próprio leitor. É a seu presente que
ela é ligada e é nele que ela encontra sua evidência. Desta forma, a História e a
Atualidade parecem cruzar sem se reconhecer: uma funda uma dimensão profunda
no tempo, a outra extrai uma sincronia na superfície. A primeira enraíza os
acontecimentos numa cronologia, a segunda costura acontecimentos diversos como
uma pele que envolve o planeta (uma pele que se renovaria todos os dias. Uma tem
como símbolo o passado hegeliano que vem depois do acontecido, no entardecer; a
outra, a fênix que renasce das cinzas todas as manhãs. A relação das mesmas no
espaço também está invertida; a História é talhada em uma área homogênea (“O
Mediterrâneo no tempo de Felipe II”), a Atualidade é um patchwork cosmopolita. A
ideologia de ambas recebe cores opostas; a História é da terra, e de bom grado
chauvinista; a Atualidade é estrangeira e, com freqüência, suspeita. Uma atenuação,
todavia, deve ser feita nesta opção: Se a coleção não se constitui memória para o
leitor, ela pode se constituir arquivo para o historiador.
(MOUILLAUD, 2002, p. 77)
Neste contexto, Maurice Mouillaud considera que o acontecimento ocupa um local privilegiado
que é a região dos títulos. É no nível dos títulos que o leitor se depara com o acontecimento no estado
puro.
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“Desabou” e nada mais restou a dizer sobre a derrota do Brasil por 1 X 0 na Copa do Mundo
de 2006.
3. Considerações Finais
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Além do mais, as Atualidades não se referem ao sentido filosófico de lançar um novo olhar
portador de veridicidade sobre os fatos. Assim sendo, as Atualidades correspondem às
informações, notícias do momento (na imprensa e sobretudo em imagens) cuja legitimidade é
expressa pela evidência do momento e não pela verdade ou mesmo objetividade.
Segunda consideração: Pensar quer dizer experimentar, “problematizar” – como queria
Deleuze – o acontecimento em função do sentido que é chamado a tomar na sua recepção e
nas representações que dele resultam sobretudo quando se torna midiático.
Terceira consideração: O acontecimento requer uma abordagem das situações e dos
atores sociais. O paradigma é a condição de leitura do acontecimento. É ele que a cada
movimento aparece sob a forma de um projeto “político”, “social”, “econômico”,
“financeiro”, “estético”...
Quarta e última consideração: Os grandes acontecimentos nas mídias produzem efeitos
de sentido. Estaríamos nós à deriva de uma semiose da acontecimentalidade? Memória e
esquecimento são dois aspectos cruciais a levar em conta na nossa cultura contemporânea
obcecada pelos traumas políticos e sociais.
Referências
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1990.
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FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. Rio de Janeiro, Graal, 2008. (26ª ed).
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