Desde que eu era crian<;a, o ato de ver sempre me marcou
mais do que apenas como o simples exercfcio de uma capacidade fisica. Era como se ver estivesse diretamente Iigado a ideia de pos- suir o objeto visto. Aventurar-me no mundo das imagens era para mim um grande prazer. Duas experiencias que tive nesse perfodo foram fundamentais: o cinema (uma casa imensa, escura e magica, onde o irreal se materializava) e uma pintura, mostrando as rechon- chudas filhas de Leucipo arrastadas como enormes fardos para os cavalos pelos homens de Rubens. A pintura era a porta de entrada para um outro universo. Os livros de imagens me davam uma estra- nha sensac,;ao de prazer fisico, por eu ser capaz de participar de uma nova realidade. Acho que foi e ntao que me tornei, incuravelmente, um voyeur.
• DAIBERT, Arlindo. Caderno de escritos. Org.: Júlio Castañon Guimarães. Rio de Janeiro: Sette Letras, 1995)