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Universidade do Sul de Santa Catarina

Formação Econômica do Brasil


Disciplina na modalidade a distância

Palhoça
UnisulVirtual
2009
Créditos
Universidade do Sul de Santa Catarina – Campus UnisulVirtual – Educação Superior a Distância
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Sebastião Salésio Heerdt Alessandro Alves da Silva Pedro Paulo Alves Teixeira (Coord.)
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Chefe de Gabinete da Maria de Fátima Martins Djeime Sammer Bortolotti e Desenvolvimento de Alice Demaria Silva
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Reitoria
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Roberto Iunskovski Mauro Faccioni Filho Andrei Rodrigues Maurício dos Santos Augusto
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Bruno Lucion Roso Pós-Graduação Graciele Marinês Lindenmayr (Coord.) Vanessa Trindade
Marcelo Fraiberg Machado Coordenadores Pós-Graduação Clarissa Carneiro Mussi (Coord.) Ana Paula de Andrade Orivaldo Carli da Silva Junior
Tenille Catarina Aloisio Rodrigues Cristilaine Santana Medeiros
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Assessoria de Assuntos Bernardino José da Silva Soraya Arruda Waltrick (Coord.) Edesio Medeiros Martins Filho Jonatas Collaço de Souza (Coord.)
Internacionais Carmen Maria Cipriani Pandini Paula Sanhudo da Silva Fabiana Pereira Juliana Cardoso da Silva
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Giovani de Paula Rodrigo Martins da Silva Fernando Steimbach Priscilla Geovana Pagani
Assessoria DAD - Disciplinas a Karla Leonora Nunes Marcelo Jair Ramos
Distância Luiz Otávio Botelho Lento Capacitação e Assessoria ao Prouni
Patrícia da Silva Meneghel (Coord.) Thiago Coelho Soares Docente Logística de Materiais Tatiane Crestani Trentin (Coord.)
Carlos Alberto Areias Vera Regina N. Schuhmacher Enzo de Oliveira Moreira (Coord.) Carlos Eduardo D. da Silva (Coord.) Gisele Terezinha Cardoso Ferreira
Franciele Arruda Rampelotti Adriana Silveira Abraão do Nascimento Germano Scheila Cristina Martins
Luiz Fernando Meneghel Gerência Administração Alexandre Wagner da Rocha Fylippy Margino dos Santos Taize Muller
Acadêmica Cláudia Behr Valente Guilherme Lentz
Assessoria de Inovação e Angelita Marçal Flores (Gerente) Elaine Cristiane Surian Pablo Farela da Silveira
Qualidade da EaD Fernanda Farias Juliana Cardoso Esmeraldino Rubens Amorim
Dênia Falcão de Bittencourt (Coord.) Simone Perroni da Silva Zigunovas
Rafael Bavaresco Bongiolo Financeiro Acadêmico
Marlene Schauffer Monitoria e Suporte Gerência de Marketing
Assessoria de Relação com Poder Rafael Back Enzo de Oliveira Moreira (Coord.) Fabiano Ceretta (Gerente)
Público e Forças Armadas Vilmar Isaurino Vidal Anderson da Silveira Alex Fabiano Wehrle
Adenir Siqueira Viana Angélica Cristina Gollo Márcia Luz de Oliveira
Gestão Documental Bruno Augusto Zunino Sheyla Fabiana Batista Guerrer
Assessoria de Tecnologia Lamuniê Souza (Coord.) Claudia Noemi Nascimento Victor Henrique M. Ferreira (África)
Osmar de Oliveira Braz Júnior (Coord.) Clair Maria Cardoso Débora Cristina Silveira
Felipe Jacson de Freitas Janaina Stuart da Costa Ednéia Araujo Alberto  Relacionamento com o Mercado
Jefferson Amorin Oliveira Josiane Leal Francine Cardoso da Silva Eliza Bianchini Dallanhol Locks
José Olímpio Schmidt Marília Locks Fernandes Karla F. Wisniewski Desengrini Walter Félix Cardoso Júnior
Marcelo Neri da Silva Ricardo Mello Platt Maria Eugênia Ferreira Celeghin
Letícia Cristina Bizarro Barbosa
Rogério Santos da Costa

Formação Econômica do Brasil


Livro didático

Design instrucional
Marina Melhado Gomes da Silva

Palhoça
UnisulVirtual
2009
Copyright © UnisulVirtual 2010
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição.

Edição – Livro Didático


Professor Conteudista
Letícia Cristina Bizarro Barbosa
Rogério Santos da Costa

Design Instrucional
Marina Melhado Gomes da Silva

Projeto Gráfico e Capa


Equipe UnisulVirtual

Diagramação
Delinea Tecnologia Educacional

Revisão Ortográfica
B2B

330.09
B21 Barbosa, Letícia Cristina Bizarro
Formação econômica do Brasil : livro didático / Letícia Cristina Bizarro
Barbosa, Rogério Santos da Costa ; design instrucional Marina Melhado
Gomes da Silva ; [assistente acadêmico Pamella Rocha Flores da Silva].
– Palhoça : UnisulVirtual, 2009.
172 p. : il. ; 28 cm.

Inclui bibliografia.

1. História econômica. 2. Brasil – Período colonial, 1500-1822. 3. Brasil –


Império, 1822-1889. 4. Brasil – República Velha, 1889-1930. 5. Industrialização.
6. Dívida externa - Brasil I. Costa, Rogério Santos da. II. Silva, Marina Melhado
Gomes da. III. Silva, Pamella Rocha Flores da. IV. Título.

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul


Sumário

Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
Palavras do professor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
Plano de estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

UNIDADE 1 – Período Colonial (1500 a 1822). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17


UNIDADE 2 – A formação econômica do Brasil Império (1822-1889) . . . 59
UNIDADE 3 – A República Velha: formação do capital industrial
(1888-1930) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
UNIDADE 4 – Da industrialização por substituição de importação à crise
da dívida externa (1930-1984) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125

Para concluir o estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 161


Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 163
Sobre o(s) professor(es) conteudista(s). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 167
Respostas e comentários das atividades de autoavaliação . . . . . . . . . . . . . 169
Biblioteca Virtual. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 171
Apresentação

Este livro didático corresponde à disciplina Formação Econômica


do Brasil..

O material foi elaborado visando a uma aprendizagem autônoma


e aborda conteúdos especialmente selecionados e relacionados
à sua área de formação. Ao adotar uma linguagem didática
e dialógica, objetivamos facilitar seu estudo a distância,
proporcionando condições favoráveis às múltiplas interações e a
um aprendizado contextualizado e eficaz.

Lembre-se que sua caminhada, nesta disciplina, será


acompanhada e monitorada constantemente pelo Sistema
Tutorial da UnisulVirtual, por isso a “distância” fica
caracterizada somente na modalidade de ensino que você optou
para sua formação, pois na relação de aprendizagem professores
e instituição estarão sempre conectados com você.

Então, sempre que sentir necessidade entre em contato; você tem


à disposição diversas ferramentas e canais de acesso tais como:
telefone, e-mail e o Espaço Unisul Virtual de Aprendizagem,
que é o canal mais recomendado, pois tudo o que for enviado e
recebido fica registrado para seu maior controle e comodidade.
Nossa equipe técnica e pedagógica terá o maior prazer em lhe
atender, pois sua aprendizagem é o nosso principal objetivo.

Bom estudo e sucesso!

Equipe UnisulVirtual.

7
Palavras da professora

Bem vindos (as) à disciplina de Formação Econômica do


Brasil.

A partir de agora, vamos analisar como a economia do Brasil


se formou desde o seu descobrimento.

Os conhecimentos sobre a formação econômica no Brasil


proporcionarão a você uma visão histórica da economia
brasileira. A partir destes conhecimentos, será possível
compreender a sociedade brasileira, os caminhos tomados
para o desenvolvimento econômico e as consequências que se
formaram ao longo dos tempos de geração de desigualdade
social, desenvolvimento tardio, para, então, propor alternativas
de desenvolvimento.

O objetivo desta disciplina é identificar os principais


condicionantes da ação colonizadora no Brasil e suas
repercussões ao longo do espaço brasileiro; compreender
as verdadeiras dimensões dos diferentes ciclos econômicos,
que levaram à formação da nacionalidade brasileira; analisar
as origens, natureza e as características da industrialização
brasileira para, com isso, analisar o processo do
desenvolvimento brasileiro e suas diferentes transformações.

Aproveite para se aprofundar neste assunto e, a partir do


conhecimento construído, participar do desenvolvimento
econômico do Brasil como profissional da área e de forma ativa.

Bons estudos!

Professora Letícia Cristina Bizarro Barbosa.


Plano de estudo

O plano de estudos visa a orientá-lo no desenvolvimento da


disciplina. Ele possui elementos que o ajudarão a conhecer o
contexto da disciplina e a organizar o seu tempo de estudos.

O processo de ensino e aprendizagem na UnisulVirtual leva


em conta instrumentos que se articulam e se complementam,
portanto, a construção de competências se dá sobre a
articulação de metodologias e por meio das diversas formas de
ação/mediação.

São elementos desse processo:

„„ O livro didático.

„„ O Espaço UnisulVirtual de Aprendizagem (EVA).

„„ As atividades de avaliação (a distância, presenciais e


de autoavaliação).

„„ O Sistema Tutorial.

Ementa
As diferentes fases e interpretações da formação econômica
brasileira. O sistema colonial e a escravidão. A emergência do
trabalho assalariado e as origens do desenvolvimento industrial
brasileiro.
Universidade do Sul de Santa Catarina

Objetivos

GeraL:

Analisar o processo do desenvolvimento brasileiro e as diferentes


transformações.

Específicos:

1. Identificar os principais condicionantes da ação


colonizadora no Brasil e suas repercussões ao longo do
espaço brasileiro;

2. Compreender as verdadeiras dimensões dos diferentes


ciclos econômicos, que levaram à formação da
nacionalidade brasileira;

3. Identificar as origens, natureza e características da


industrialização brasileira.

Carga Horária
A carga horária total da disciplina é de 60 horas-aula.

Conteúdo programático/objetivos
Veja, a seguir, as unidades que compõem o livro didático desta
disciplina e os seus respectivos objetivos. Estes se referem aos
resultados que você deverá alcançar ao final de uma etapa de
estudo. Os objetivos de cada unidade definem o conjunto de
conhecimentos que você deverá possuir para o desenvolvimento
de habilidades e competências necessárias à sua formação.

Unidades de estudo: 4

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Formação Econômica do Brasil

Unidade 1 – Período Colonial (1500 a 1822)

Na primeira unidade, veremos as principais condicionantes da


ação colonizadora no Brasil e suas repercussões ao longo do
espaço brasileiro. Compreenderemos as verdadeiras dimensões
dos diferentes ciclos econômicos, que levaram à formação
da nacionalidade brasileira. Entenderemos as instituições
econômicas deste período: grande propriedade, monocultura
e trabalho escravo. Identificaremos as causas do declínio do
sistema colonial.

Unidade 2 – A formação econômica do Brasil Império (1822-1889)

Na segunda unidade, vamos conhecer a estrutura econômica


formada no período após a independência do Brasil, em que o
país assume a postura de Império. Vamos analisar os avanços
da agricultura e os caminhos que a cultura do café tomou
no decorrer deste período, além de compreender as políticas
tomadas pelo governo para direcionar a economia brasileira.
Vamos compreender as dificuldades e os desafios na transição do
trabalho escravo ao trabalho livre.

Unidade 3 – A República Velha: formação do capital industrial (1888-1930)

Já nesta unidade, vamos conhecer as políticas econômicas


que objetivavam tanto o modelo agroexportador como a
industrialização no Brasil. Entenderemos a emergência da
economia exportadora capitalista e a formação do capital cafeeiro
e do capital industrial. Compreenderemos as configurações
políticas que se apresentaram no período da República Velha.
Analisaremos os acordos de defesa do café, assim como os
investimentos na indústria.

Unidade 4 – Da industrialização por substituição de importação à crise da


dívida externa (1930-1984)

Por fim, vamos verificar como ocorre a aceleração da


industrialização brasileira a partir da crise mundial de 1929.
Compreenderemos as características da intervenção do Estado

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Universidade do Sul de Santa Catarina

e as consequências na economia do Brasil da década de 50


até o golpe militar de 1964. Vamos entender como ocorre o
milagre econômico brasileiro e o esgotamento do processo de
industrialização por substituição de importações. Identificaremos
as causas do estrangulamento externo da economia brasileira, a
influência na crise da dívida externa e a consequente entrada do
país numa era de altas taxas de inflação.

14
Formação Econômica do Brasil

Agenda de atividades/ Cronograma

„„ Verifique com atenção o EVA, organize-se para acessar


periodicamente a sala da disciplina. O sucesso nos seus estudos
depende da priorização do tempo para a leitura, da realização
de análises e sínteses do conteúdo e da interação com os seus
colegas e professor .

„„ Não perca os prazos das atividades. Registre no espaço a seguir


as datas com base no cronograma da disciplina disponibilizado
no EVA.

„„ Use o quadro para agendar e programar as atividades relativas


ao desenvolvimento da disciplina.

Atividades obrigatórias

Demais atividades (registro pessoal)

15
1
UNIDADE 1

Período Colonial (1500 a 1822)

Objetivos de aprendizagem
„„ Identificar os principais condicionantes da ação
colonizadora no Brasil e suas repercussões ao longo do
espaço brasileiro.
„„ Compreender as verdadeiras dimensões dos diferentes
ciclos econômicos, que levaram à formação da
nacionalidade brasileira.
„„ Entender as instituições econômicas deste período:
grande propriedade, monocultura e trabalho escravo.
„„ Identificar as causas do declínio do sistema colonial.

Seções de estudo
Veja, a seguir, as seções que compõem esta unidade de
aprendizagem.
Seção 1 A colonização do Brasil

Seção 2 Os ciclos econômicos

Seção 3 Economia escravista

Seção 4 Declínio da economia colonial


Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo


Você já parou para pensar por que o Brasil tomou este formato
econômico que conhecemos hoje? Ou já relacionou os problemas
sociais atuais com a nossa história de formação econômica?

Nesta primeira unidade, vamos analisar como se deu a formação


econômica do Brasil no inicio de sua história. Veremos, na
primeira seção, que a ocupação do Brasil pelos portugueses teve
objetivos diferentes de outros colonizadores. Eles moldaram
toda a lógica social e política desta nação que se criava:
desigualdades sociais, escravidão, lógica econômica exportadora
de produtos primários, submissão a grandes potências. Teremos a
oportunidade de identificar os principais condicionantes da ação
colonizadora no Brasil e suas repercussões ao longo do espaço
brasileiro.

Já na segunda seção, realizaremos o estudo dos ciclos econômicos


principais e secundários, o que nos permite compreender as
verdadeiras dimensões dos diferentes ciclos econômicos, que
levaram à formação da nacionalidade brasileira.

Na terceira seção, estudaremos a escravidão e seu papel


fundamental no desenvolvimento econômico no período
colonial. Os fatores do declínio do sistema colonial serão vistos
na quarta seção.

Seção 1 – A colonização do Brasil


Vamos explorar, então, o processo de ocupação e de colonização
do território brasileiro pelos portugueses, além de estudarmos
como a influência de outras nações, como Inglaterra, determinou
algumas transformações ocorridas na história econômica do
Brasil. Além disso, é pertinente analisar as instituições que foram
base em todo este processo: a grande propriedade, a monocultura
e o trabalho escravo.

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Formação Econômica do Brasil

Entre os anos de 1534 e 1536, o rei de Portugal, D. João III,


resolveu dividir a terra brasileira em faixas, que partiam do litoral
até a linha imaginária do Tratado de Tordesilhas. Estas enormes
faixas de terras, conhecidas como Capitanias Hereditárias, Tratado de Tordesilhas
foram doadas para nobres e pessoas de confiança do rei. Estes, (1494) dividiu o continente
que recebiam as terras, foram chamados de donatários, e tinham americano em duas partes:
Uma para Portugal e outra
a função de administrar, colonizar, proteger e desenvolver a
para a Espanha.
região. Cabia também aos donatários combater os indígenas
que tentavam resistir à ocupação do território. Em troca destes
serviços, além das terras, os donatários recebiam algumas
regalias, como a permissão de explorar as riquezas minerais e
vegetais da região. 

Capitanias Hereditárias: As capitanias hereditárias


eram grandes faixas de terra (15 no total), que iam da
costa até a linha do Tratado de Tordesilhas, e foram
doadas aos capitães-mores. Esses donatários, que
recebiam títulos de governadores de suas posses,
mantinham poderes soberanos sobre elas, estando
apenas proibidos de vendê-las ou subdividi-las.
As capitanias diziam-se hereditárias porque eram
transmissíveis aos herdeiros dos donatários.

Figura 1.1: Capitanias Hereditárias, do início do século XVI até ao século XVIII.
Fonte: Um sistema de colonização: as capitanias. Disponível em: <http://blog.educacional.com.br/
clau2210/files/2010/03/capitanias_hereditarias1.jpg>. Acesso em: 20 maio 2010.

Unidade 1 19
Universidade do Sul de Santa Catarina

Como você sabe, o Brasil foi uma colônia oficial de Portugal. A


conquista e a ocupação do território foram dirigidas oficialmente
pelo governo português. Sendo assim, toda a exploração das
terras conquistadas foi processada sob a influência dominante dos
interesses do capitalismo mercantil ao longo de três séculos.

O que mobilizou as grandes navegações e os grandes


descobrimentos foi o comércio, ou, mais precisamente, os lucros
que ele poderia proporcionar. Portugal, por exemplo, país
católico, tinha o objetivo oficial de “dilatar a Fé e o Império”.
Na verdade, mais o Império do que a Fé propriamente dita.
Assim, instituiu-se o colonialismo e o mercantilismo, os quais
determinaram a orientação da economia e a vida da sociedade em
formação por três séculos.

O mercantilismo se entendia a partir de normas


e concepções gerais de política econômica, que
implicavam em “uma ampla intervenção do Estado,
seja assumindo diretamente certas atividades
econômicas, seja criando condições favoráveis a
determinados grupos para alcançar os objetivos
visados” (BRUM, 1999, p. 123).

O mercantilismo também consistia na exclusividade da


Metrópole sobre o comércio com suas colônias. Com isso, a
Metrópole tinha o direito de impedir que os navios estrangeiros
fizessem o transporte de produtos da colônia e vendessem na
colônia manufaturados produzidos em outros países. Além
dos impostos cobrados, podiam-se impor preços reduzidos às
mercadorias exportadas pela Colônia e forçar a alta dos preços
dos produtos por ela importados.

Para evitar confrontos internos e desequilíbrios econômicos


internos, a Coroa teve que fazer concessões a grupos portugueses,
depois a luso-brasileiros e, mais tarde, também a comerciantes
brasileiros. Para poder manter equilibrada as suas relações com
outras nações e seu poder sobre sua Colônia sem guerras, a Coroa
fez concessões também a grupos holandeses e, mais tarde, foi
obrigada a se submeter a tratados com a Inglaterra (1642, 1654,
1703 e 1810). De acordo com esses tratados firmados, Portugal
recebia proteção política e militar, dando, em troca, vantagens

20
Formação Econômica do Brasil

comerciais e econômicas. Desta forma, Portugal passou a viver


sob a influência econômica e o poderio militar da Inglaterra.

Devido à grande interferência da Inglaterra, Portugal não


conseguiu desenvolver manufaturas e indústrias próprias. Porém,
o país teve ganhos políticos, como:

a Metrópole e suas colônias foram respeitadas mesmo


pelas potências mais poderosas, já que nenhum país
se atrevia a desafiar o poder militar inglês.

Além disso, ele manteve a maior e mais rica colônia do mundo


sob seu domínio, o Brasil. Chegou a triplicar o território
colonial, beneficiando o Brasil, depois da Independência,
como veremos a seguir.

O processo de conquista e exploração


Ao contrário de outros processos de colonização, a ocupação do
Brasil não se deu com o objetivo central de criação de uma nova
sociedade – uma sociedade para si -, lançando bases e criando
condições para que a colônia se tornasse, dentro de um prazo
razoável, uma nação independente.

A colonização realizada pelos portugueses no Brasil


deu-se pelo processo de conquista por exploração.
O Brasil foi considerado como uma grande empresa
extrativista, integrada dentro de um sistema
mercantilista, explorada em função da Metrópole
e destinada a fornecer produtos primários para
abastecer os centros econômicos da Europa.

Segundo Brum (1999, p.125),

A título de comparação, vale registrar que outra forma


de ocupação de um território é o processo de colonização
por povoamento. Por exemplo, as treze colônias inglesas
que deram origem aos Estados Unidos. Neste caso,
a sociedade assume a sua vida e decide o seu destino.
Gera suas próprias formas de organização e se capacita a
alterá-las de acordo com suas próprias necessidades, seus
interesses e suas ações.

Unidade 1 21
Universidade do Sul de Santa Catarina

Outra consequência desta colonização por exploração é a forma


com que se tratou o desenvolvimento da educação, da cultura
e das ciências, impedindo ou dificultando o surgimento de
uma elite intelectual local, que viesse a liderar um processo de
emancipação não desejado pela Metrópole portuguesa.

Como resultado, a economia não se estruturou e se preparou para


o atendimento das necessidades básicas de uma sociedade local
em formação, senão prioritariamente em função dos grandes
centros econômicos. Não havia uma promoção de mercado
interno, ou seja, a sociedade não produzia para si, mas, sim, para
os outros. “Toda a vida brasileira – econômica, social, política,
cultural, psicológica – foi profundamente influenciada por essa
condição colonial e pelo papel dela decorrente no contexto do
Império Português e do mundo.” (BRUM, 1999, p. 126)

A “Empresa Brasil”, como era chamada, envolvia quatro esferas de


atuação empresariais:
a) a empresa escravista (açucareira, aurífera, etc.), que integrou
o Brasil ao comércio internacional, garantindo o fornecimento
dos grandes centros;
b) a empresa comunitária jesuítica, que empreendeu a formação
de reduções coletivas com os indígenas, na tentativa de criar
formas de colonização alternativas, destribalizando os índios e
buscando integrá-los num tipo diferente de sociedade, o que
contribuiu para amaciar a resistência indígena;
c) a pluralidade de microempresas de produção de mantimentos
de subsistência e os empreendimentos (maiores) de criação
de gado, que eram atividades complementares da empresa
açucareira ou mineradora e incorporavam os mestiços;
d) o núcleo urbano - portuário de banqueiros, armadores,
comerciantes de exportação e traficantes de escravos, que foi
o componente predominante da economia colonial e o mais
lucrativo.

Desde a vinculação das relações de Portugal à Inglaterra de


forma dependente em 1642, a política portuguesa passou a
seguir os seus ditames, concedendo vantagens econômicas em
troca de proteção política e militar. Já o tratado de 1654 garantiu

22
Formação Econômica do Brasil

aos ingleses o direito de negociar diretamente com a colônia


brasileira. Com o tratado de 1703, Portugal abandonou o projeto
de desenvolvimento de uma manufatura própria e teve que passar
a consumir manufaturados ingleses em troca da livre entrada
de vinhos portugueses na Inglaterra. O comércio se consolidava
com o pagamento da diferença da balança comercial com ouro e
diamantes que saiam das minas do Brasil.

Dessa forma, grande parte dessa riqueza acabou


nos cofres de Londres e contribuiu para financiar o
processo de industrialização na Inglaterra.

Num momento, houve um importante intento de implantação


manufatureira em Minas Gerais, Rio de Janeiro e em
outras cidades. Produções no setor têxtil, de ourivesaria e
aproveitamento de ferro eram atividades com a mesma qualidade
dos produtos produzidos na Inglaterra. Todo este promissor
surto manufatureiro foi destruído pelo Alvará de 1785, assinado
pela D. Maria, a Louca, que determinava a extinção de todos
os teares, manufaturas e fábricas existentes no Brasil na época. D. Maria, a Louca, foi
Além disso, ele estabelecia multas severas aos proprietários que, rainha de Portugal de 24
porventura, mantivessem suas atividades. de março de 1777 a 20
de março de 1816. Ela
ficou conhecida como
Dona Maria, a Louca
(assim chamada no
Brasil), devido à doença
mental manifestada com
veemência nos últimos 24
anos de sua vida.

Figura 1.2: Manufatura de algodão


Fonte: <http://3.bp.blogspot.com/_39ephwOkYhQ/Sh61p4Mz6UI/AAAAAAAAAM0/Ftz43h9pJjY/
s1600-h/manufatura.jpg>. Acesso em: 20 maio 2010.

Unidade 1 23
Universidade do Sul de Santa Catarina

Somente com a transferência da Corte Portuguesa para o Brasil,


o Príncipe Regente D. João baixou alvará, em 1809, com medida
de incentivo à implantação de fábricas e manufaturas. Em 1810
era assinado um novo tratado com a Inglaterra, que estabelecia
taxas alfandegárias privilegiadas para a importação dos produtos
ingleses, o que liquidava as nascentes iniciativas manufatureiras
locais pela concorrência.

Brum (1999, p. 128) nos esclarece que

Nas negociações diplomáticas para o reconhecimento


da nossa independência, em que a Inglaterra serviu de
intermediaria, o Brasil acabou fazendo seu primeiro
empréstimo externo, de dois milhões de libras esterlinas,
em bancos ingleses, e assinado um tratado de comercio
(1827) pelo qual os produtos ingleses continuavam
a pagar taxas alfandegárias privilegiadas (baixas)
para entrar no país – o que praticamente impedia o
surgimento de fábricas aqui.

Desta forma, a colonização do Brasil se deu a partir da necessidade


de defender o território conquistado das outras nações.

A economia colonial
Caio Prado Jr. (1969) caracterizou a economia colonial como uma
economia que servia para fornecer gêneros tropicais ao comércio
europeu. A economia colonial se estruturou de forma a atender
esse objetivo, com base em três elementos essenciais: a grande
propriedade, a monocultura e o trabalho escravo.

Sobre o sentido colonizador, o historiador Caio Prado Jr. (1969.


p. 119) explica que:

Aquele sentido é o de uma colônia destinada a fornecer ao


comércio europeu alguns gêneros tropicais ou minerais de
grande importância (...). A nossa economia se subordina
inteiramente a este fim, isto é, se organizará e funcionará
para produzir e exportar aqueles gêneros. Tudo o mais que
nela existe, e que é, aliás, de pouca monta, será subsidiário
e destinado unicamente a amparar e tornar possível a
realização daquele fim essencial.

24
Formação Econômica do Brasil

Vale lembrar que, para Caio Prado Jr., o sentido da colonização


determina a estrutura da economia colonial brasileira como
complemento da expansão comercial europeia ou/e pela
motivação do colono português disposto à aventura colonial.

A monocultura é uma característica principal do sistema colonial.


Isso porque o objetivo dos colonizadores era a produção em
grande escala para a exportação dos produtos primários aqui
produzidos para outros países.

A principal característica de um sistema de monocultura consiste


em culturas extensivas de produtos primários agrícolas, em que
o produtor se concentra somente na produção de um produto. A
monocultura está extremamente ligada ao sistema de latifúndio
por necessitar de grandes extensões de terras para a cultura. Este
sistema resulta na incorporação de pequenas propriedades que
não têm acesso aos grandes mercados, submetendo os pequenos
produtores aos grandes latifundiários.

Complementa ainda Gremaud (1997, p. 14),


A monocultura acompanha a grande propriedade: como o
objetivo é obter um produto lucrativo destinado ao mercado
externo, todos os esforços devem concentrar-se na direção
daquele produto específico. Não há razões para diversificar a
produção, fugindo ao ‘sentido da colonização’ (por exemplo,
produzindo para o mercado interno).

A grande propriedade, por exemplo, está relacionada a estas


duas determinações: a complementação da expansão comercial
europeia e a motivação do colono português disposto à aventura
colonial. O colono português buscava a oportunidade para
estabelecer um negócio. Já o colono inglês da Nova Inglaterra
buscava abrigo dos conflitos políticos e religiosos de seu país e a
recomposição das suas condições originais no Novo Mundo, isto
é, de pequenos proprietários rurais.

No Brasil, a grande propriedade foi fator de atração dos


colonizadores portugueses. Substancialmente, a grande
propriedade seria a forma mais adequada de produzir para o
mercado europeu, inibindo o desenvolvimento da pequena
propriedade com esse objetivo.

Unidade 1 25
Universidade do Sul de Santa Catarina

Temos que lembrar que, após o período de colonização portuguesa,


as colonizações italianas e alemãs, principalmente, que chegaram
ao Brasil a partir de 1824, trouxeram seus propósitos de reproduzir
seus cultivos e tradições originais. Nas regiões onde se instalaram,
predominou a pequena propriedade rural e os sistemas comunais,
dentro das comunidades de identidade étnica semelhantes. Muitos
implantaram formas econômicas distintas da implantada pelos
portugueses, como os faxinais.
Faxinais são comunidades que,
tradicionalmente, caracterizam-se
por praticar um sistema de uso
integrado da terra (atividades
silvipastoris e extrativas, além de
agricultura de subsistência). Sua
organização espacial é singular,
composta por criadouros de
uso comum e terras de plantar,
separados por valos/cercas.

Figura 1.3: Esquema de um faxinal.


Fonte: REDE FAXINAL. Disponível em: <http://redefaxinal.tripod.com/id1.html>. Acesso em: 20 abr. 2010.

O último elemento da estrutura econômica colonial é o trabalho


escravo. Desde o início, os colonizadores portugueses usaram
os indígenas como mão de obra, principalmente no corte e no
transporte do pau-brasil, ou até mesmo nos ancoradouros, onde
aportavam os navios em troca de bugigangas de pouco valor
e ferramentas, com a intenção de proporcionar-lhes melhor
capacidade extrativista.

O tema do trabalho escravo você estudará com mais


profundidade a seguir, ainda nesta unidade. Observe que os
temas da monocultura, grande propriedade e trabalho escravo
aparecem diluídos ao longo das seções do livro por eles serem a
base para a formação econômica do Brasil.

26
Formação Econômica do Brasil

Seção 2 – Os ciclos econômicos


A economia brasileira viveu vários ciclos ao longo do período
colonial. Em cada ciclo, um setor foi privilegiado em detrimento
de outros, o que provocou sucessivas mudanças sociais,
populacionais, políticas e culturas dentro da sociedade brasileira.

Assim, a formação econômica do Brasil se deu com


base em ciclos econômicos: começou com a extração
do pau-brasil, tendo como ciclo subsequente o cultivo
da cana-de-açúcar, logo seguido pelo ciclo do ouro,
e, por fim, houve o ciclo do café, quando se deu a
transição do período colonial à independência.

O destino das atividades econômicas foi dirigido para a


exportação desde o início da colonização, devido à situação
colonial e aos interesses dominantes do mercantilismo. Isso teve
como consequência a formação de um mercado interno muito
fraco, quase inexistente. A classe dos senhores consumia produtos
importados, além dos produtos do próprio latifúndio. Enquanto
isso, a imensa maioria da população – brancos pobres, mestiços,
negros, índios – vivia submissa, em condições precárias de
subsistência e marginalizada do processo econômico dominante.

Como explicado na seção anterior, o colonialismo e


o mercantilismo determinaram o rumo da economia,
direcionando-a para o comércio exterior. Assim como explana
Brum (1999, p. 131),

O ciclo econômico pode ser definido como o período em


que determinado produto, beneficiando-se da conjuntura
favorável do momento, se constitui no centro dinâmico
da economia, atraindo as forças econômicas – capitais
e mão-de-obra – e provocando mudanças em todos os
outros principais setores da sociedade, como na criação
de novas atividades, no uso de novos equipamentos, na
distribuição das rendas, na constituição das classes sociais
ou frações de classe, como o declínio de umas e ascensão
de outras etc.

É comum a caracterização de um ciclo estar relacionada à


supremacia de determinado produto na exportação. Um ciclo

Unidade 1 27
Universidade do Sul de Santa Catarina

se constitui por três fases: o inicio da expansão, o auge e a


decadência. No caso do Brasil, o açúcar e o café tiveram seus
ciclos bem definidos, tendo sido fundamentais para a economia
brasileira, embora se mantenham, até a atualidade, como
produtos de relativa importância econômica para o Brasil tanto
na produção como na exportação.

Os produtos que marcaram a formação econômica do


Brasil foram o açúcar, o ouro e o café, sucessivamente.
Simultaneamente a estes ciclos principais, ocorreram outros
menores, como a do algodão, da borracha e do cacau, além do
extrativismo inicial do pau-brasil. Houve também subciclos, que
tiveram a função de complementar e auxiliar os ciclos principais,
como o do gado e o do fumo.

Na tabela abaixo, está demonstrada a importância econômica de


cada produto ao longo dos anos, em percentuais:

Decênio Café Algodão Cacau Borracha Açúcar


1821-30 18,6% 19,9% 0,4% 0,1% 32,2%
1861-70 45,2% 18,3% 0,9% 3,1% 12%
1891-00 63,8% 2,4% 1,5% 15,8% 5,6%
1901-10 51,4% 2,1% 2,8% 27,9% 1,2%
1921-30 69,5% 2,4% 3,1% 2,5% 1,4%

Tabela 1.1: Exportações brasileiras do período de 1820-1930.


Fonte: Buescu e Tapajós (1058, p. 24).

Os ciclos principais:
Agora, leia um pouco sobre os principais ciclos econômicos que
ocorreram no Brasil entre o período de 1820 e 1930.

Pau-brasil
O primeiro ciclo econômico do Brasil foi o da extração do pau-
brasil, madeira avermelhada utilizada na tinturaria de tecidos
na Europa e abundante em grande parte do litoral brasileiro na
época do descobrimento, que se deu no século XVI.

28
Formação Econômica do Brasil

O pau-brasil era uma riqueza de exploração imediata, de fácil


acesso e investimento mínimo. Permaneceu como monopólio
da Coroa até 1859. O período mais intenso da exploração vai do
período pré-colonial até meados do século XVI. A extração era
feita ao longo do litoral, desde o Rio Grande do Norte até o Rio
de Janeiro, em sistema de arrendamento usando contratos entre
o Estado e companhias particulares, que pagavam um quinto da
extração ao governo português.

Posteriormente, a exploração passou a ser feita mediante prévia


autorização do governador-geral. Até a segunda metade do séc.
XVI, o corte e o transporte local eram feitos pelos índios, sob
controle de feitores, comerciantes ou colonos. Depois, escravos
negros foram deslocados para o serviço, nas entressafras da cana-
de-açúcar. A partir do final do séc. XVI, a Coroa portuguesa
começou a temer o risco de esgotamento do produto e, em 1605,
tentou regulamentar a exploração editando o Regimento do Pau-
brasil. (Almanaque Abril, 1989 e 1994).

Figura 1.4: Exploração do pau-brasil


Fonte: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/pau-brasil/
imagens/pau-brasil-15.jpg>. Acesso em: 20 maio 2010.

Unidade 1 29
Universidade do Sul de Santa Catarina

Os exploradores portugueses se deram conta de que esta matéria-


prima poderia satisfazer suas ambições. Espalhado pela costa
brasileira e com relativa densidade, o pau-brasil era semelhante à
outra matéria-prima já conhecida no Oriente, da qual se extraía
uma matéria corante empregada na tinturaria.

Os primeiros contatos com o território, que hoje constitui o


Brasil, devem-se àquela madeira que se tornaria o nome do
país. Os espanhóis, embora tivessem concorrido com eles nas
primeiras viagens de exploração, abandonaram o campo em
respeito ao Tratado de Tordesilhas (1494) e à bula papal, que
dividira o mundo a ser descoberto com uma linha imaginária
entre as coroas portuguesa e espanhola. Mais tarde, haveria
disputas territoriais entre Portugal e Espanha, como a disputa
pela região de Colônia do Sacramento.

Diferente dos espanhóis, os franceses não respeitavam os direitos


de Portugal. O rei (Francisco I) afirmaria desconhecer a cláusula
do testamento de Adão, que reservara o mundo unicamente a
portugueses e espanhóis. Com isso, eles entraram no cenário,
disputando uma concorrência que só se resolveria pelas armas.
Mas, com ou sem direitos, o certo é que, até quase meados do
séc. XVI, portugueses e franceses traficavam ativamente o pau-
brasil na costa brasileira.

A exploração rudimentar não deixou traços apreciáveis, mas, sim,


destruição em larga escala das florestas nativas, de onde se extraía
a valiosa madeira. Os traficantes recebiam a madeira cortada
e trazida pelos indígenas. Esta atividade só foi possível pela
existência de muitos indígenas, que trocavam esta mercadoria por
pequenos presentes europeus.

Só as tripulações dos navios que efetuavam o tráfico


não dariam conta, a não ser de forma muito limitada,
da árdua tarefa de cortar árvores de grande porte como
o pau-brasil, que alcança um metro de diâmetro na
base do tronco e 10 a 15 m de altura, transportá-las até
a praia e daí às embarcações. Não foi difícil obter que
os indígenas trabalhassem; miçangas, tecidos e peças
de vestuário, mais raramente canivetes, facas e outros
pequenos objetos os enchiam de satisfação; e em troca
desta quinquilharia, de valor ínfimo para os traficantes,
empregavam-se arduamente em servi-los. Para facilitar
o serviço e apressar o trabalho, também se presenteavam
os índios com ferramentas mais importantes e custosas:
serras, machados. (PRADO JR., 1969, p. 16)
30
Formação Econômica do Brasil

A exploração do pau-brasil não serviu para fixar qualquer núcleo


de povoamento no país. Ainda não se apresentava o risco de se
perder a propriedade da colônia. Esta exploração começou a se
dar somente com a necessidade de ocupar o território colonial e
garantir a propriedade portuguesa frente aos novos colonizadores
de outros países.

Não havia interesse em fixar residência numa mesma região


justamente porque a madeira procurada se encontrava na
natureza ao longo do território colonial e se esgotava rapidamente
pelo corte intensivo. A indústria extrativista do pau-brasil tinha
necessariamente de ser nômade. Com isso, ela não era capaz
de dar origem a um povoamento regular e estável. No que se
relaciona com os portugueses, sabemos que a extração do pau-
brasil foi, desde o início, considerada um monopólio real. Para
explorar esta atividade, era necessária a autorização da coroa
portuguesa. Este era o sistema empregado por Portugal com
relação a todas as atividades comerciais ultramarinas.

A primeira concessão de exploração do pau-brasil foi outorgada


a Fernando de Noronha em 1501, associado a vários mercadores
judeus. A concessão era exclusiva e durou até 1504. Depois desta
data, por motivos que não são conhecidos, não se concedeu mais
a ninguém, com exclusividade, a exploração da madeira, que
passou a ser feita por vários traficantes.

A decadência da exploração do pau-brasil chegou


antes do previsto. Em alguns decênios, acabara-se
o melhor das matas costeiras que continham esta
madeira, e o negócio perdeu a sua importância.

Mesmo com a decadência da exploração do pau-brasil, a


exploração esporádica do produto continuou, sempre sob o
regime do monopólio real, com pequenas exportações, que
duraram até princípios do século XVIII.

Cana-de-açúcar
Após o ciclo do pau-brasil, iniciou-se o ciclo da cana-de-açúcar
(séculos XVI-XVIII), utilizada na Europa para a manufatura
de açúcar em substituição à beterraba. O plantio de cana adotou

Unidade 1 31
Universidade do Sul de Santa Catarina

o latifúndio como estrutura fundiária e a monocultura como


método agrícola, o que introduziu o modo de produção escravista
no Brasil, baseado na importação e escravização de africanos.

No terceiro decênio do séc. XVI, o Rei de Portugal já se


convencia que o seu direito sobre as terras brasileiras era
suficiente para afugentar os franceses, que chegavam ao
continente americano para se apossar de terras. Para evitar isso
e defender as suas posses, cogitou-se, por processo mais amplo
e seguro, a ocupação efetiva pelo povoamento e colonização. O
problema é que ninguém se interessava pelo Brasil, a não ser os
traficantes de madeira, sendo que estes mesmos já começavam a
abandonar uma empresa cujos proveitos iam a declínio. Ninguém
se interessara seriamente, até então, por habitar as novas terras.

Todas as atenções de Portugal estavam voltadas para


o Oriente, cujo comércio chegara naquele momento
ao seu apogeu.

Prado Jr. (1998, p. 18) nos explica que,

Nem o Reino contava com população suficiente para


sofrer novas sangrias; os seus parcos habitantes, que não
chegavam a dois milhões, já suportavam com grande
sacrifício as expedições orientais. Nestas condições,
realizar o povoamento de uma costa imensa como a
do Brasil era tarefa difícil. [...] Podemos inferi-lo da
qualidade das pessoas que se apresentaram, entre as
quais não figura nenhum nome da grande nobreza ou do
alto comércio do Reino. São todos (doze apenas, aliás),
indivíduos de pequena expressão social e econômica.
A maior parte deles fracassará na empresa e perderá
nela todas as suas posses (alguns até a vida), sem ter
conseguido estabelecer no Brasil nenhum núcleo fixo de
povoamento. Apenas dois tiveram sucesso; e um destes
foi grandemente auxiliado pelo Rei.

Para promover a colonização, foi traçada a divisão da costa


brasileira em doze setores lineares com extensões que variavam
entre 30 e 100 léguas (o interior, até o momento, era terreno
desconhecido). Estes setores, chamados de capitanias

32
Formação Econômica do Brasil

hereditárias, foram doados a titulares que gozaram de grandes


regalias e poderes soberanos.

Entre estes poderes, estava o de nomear autoridades


administrativas e juízes em seus respectivos territórios, receber
taxas e impostos, distribuir terras, etc. O Rei passou a conservar
apenas direitos de suserania, semelhantes aos que vigoravam na
Europa feudal. Em compensação, os donatários das capitanias Suserania: você já deve ter
arcariam com todas as despesas de transporte e estabelecimento estudado que o suserano
de colonos. era quem dava um lote
de terra ao vassalo, sendo
que este último deveria ser
Somas relativamente grandes foram despendidas nestas primeiras fiel e prestar ajuda ao seu
empresas colonizadoras do Brasil. Os donatários, que normalmente suserano.
não dispunham de grandes recursos próprios, levantaram fundos
tanto em Portugal como na Holanda, tendo obtido boa parte das
contribuições de banqueiros e negociantes judeus.

A perspectiva principal do negócio estava na cultura da cana-


de-açúcar. Tratava-se de um produto de grande valor comercial
na Europa, fornecido em pequena quantidade à Sicília, às ilhas
do Atlântico, ocupadas e exploradas pelos portugueses desde o
século anterior (Madeira, Cabo Verde), e ao Oriente, onde a cana
chegava por intermédio dos árabes e dos traficantes italianos do
Mediterrâneo.

Já se conhecia o Brasil suficientemente para saber que a cana-


de-açúcar se desenvolveria muito bem, devido ao clima quente e
úmido da costa. Quanto à mão de obra, contou-se, a princípio,
com os indígenas, que eram relativamente numerosos no litoral,
além de pacíficos. A região do Extremo-Nordeste, na planície
litorânea hoje ocupada pelo Estado de Pernambuco, mostrou-
se a mais favorável para o plantio da cana-de-açúcar, além do
contorno da baía de Todos os Santos (o Recôncavo baiano, como
seria chamado). De maneira geral, toda a costa brasileira era
propícia ao cultivo da cana-de-açúcar.

Foi com esta base, portanto, que se iniciou a ocupação efetiva


e a colonização do Brasil. O regime de posse da terra foi o da
propriedade. As doações de terras para formar as capitanias
foram muito grandes, medindo-se em léguas. Sobravam terras, o
que fazia a ambição daqueles pioneiros, recrutados a tanto custo,
ir muito além da posse de propriedades pequenas. Ao contrário

Unidade 1 33
Universidade do Sul de Santa Catarina

da posição dos modestos camponeses, que aspiravam um novo


mundo, os pioneiros buscavam se tornar grandes senhores e
latifundiários no Brasil.

Além disso, há um fator material que determina este tipo de


propriedade fundiária. A cultura da cana somente se prestava,
economicamente, para grandes plantações. Já no caso de
desbravar as terras brasileiras, era necessário o esforço reunido de
muitos trabalhadores. Pequenos proprietários isolados não dariam
conta deste tipo de cultivo. A plantação, a colheita e o transporte
do produto até os engenhos, onde se preparava o açúcar, só se
tornavam rentáveis quando realizados em grandes volumes.
Nestas condições, o pequeno produtor não podia subsistir.

A cultura da cana somente se prestava,


economicamente, a grandes plantações, ou não seria
rentável.

Prado Jr. (1998), ao descrever a determinação do tipo de


exploração agrária adotada no Brasil como grande propriedade,
ignorou as formações litorâneas de pequenas propriedades. Isso
porque o solo não era propício para estes tipos de cultivo e pouco
interessava aos latifundiários. Nestes espaços, entretanto, os
pequenos cultivos de subsistência, necessários à reprodução social
na época, desenvolveram-se muito bem.

A cultura da cana-de-açúcar trouxe o primeiro surto


de prosperidade ao Brasil colonial. Foi ela que voltou
à colônia os olhos mercantilistas da Coroa, até então
voltados ao comércio com o Oriente, promoveu a
ocupação da faixa litorânea do Nordeste, determinou
a composição étnica da região, definiu sua estrutura
fundiária e delineou alguns dos traços marcantes da
cultura brasileira.

estrutura fundiária e delineou alguns dos traços marcantes da


cultura brasileira.

34
Formação Econômica do Brasil

Figura 1.5: Cultivo da cana-de-açúcar.


Fonte: MUNDO DA EDUCAÇÃO. Os holandeses e a economia açucareira. Disponível em: <http://
www.mundoeducacao.com.br/historiadobrasil/os-holandeses-economia-acucareira.htm>. Acesso
em: 20 abr. 2010.

O cultivo da cana-de-açúcar se caracteriza pelo regime da grande


propriedade, na forma de monocultura com utilização de mão-
de-obra escrava, principalmente a partir de 1600. A fazenda
era constituída de instalações de produção, como o engenho e a
destilaria. Além disso, havia a casa grande e a senzala, que serviam
de moradia para os proprietários e os escravos respectivamente.
As fazendas eram consideradas autossustentáveis porque, além do
plantio da cana, havia a criação de animais de grande e pequeno
porte e o cultivo de alimentos para fins de subsistência.

A cana, originária do sudeste da Ásia, era plantada pelos portugueses,


na ilha da Madeira, desde meados do séc. XV.  A introdução da cana-
de-açúcar no Brasil, em 1532, foi atribuída a Martim Afonso de  Souza.
Ela expandiu-se rapidamente, em especial em Pernambuco e na Bahia.
Em 1570, existiam na colônia 60 (sessenta) engenhos, dos quais 23
(vinte e três) em Pernambuco e 18 (dezoito) na Bahia, que produziam
60000 (sessenta mil) arrobas de açúcar anualmente. Treze anos depois,
eles já eram 115 (cento e quinze): 66 (sessenta e seis) em Pernambuco
e 36 (trinta e seis) na Bahia -, e sua produção ultrapassava as 350000
(trezentas e cinquenta mil) arrobas. Em meados do séc. XVII, quando
o Brasil ainda liderava a produção mundial, seu número era superior
a 300 (trezentas) arrobas de açúcar, apesar das invasões holandesas
terem causado o abandono de muitas plantações.

Unidade 1 35
Universidade do Sul de Santa Catarina

A pior consequência da ocupação, no entanto, viria algumas décadas


após a reconquista do Nordeste pelos portugueses: com as técnicas
aprendidas no Brasil, os holandeses inundaram a Europa, a partir
de 1660, de açúcar barato produzido em suas colônias nas Antilhas;
pouco depois, também os franceses e ingleses passaram a exportar
o produto. Em 1670, os produtores brasileiros venderam em Lisboa
apenas a metade de sua produção de 65000 (sessenta e cinco mil)
toneladas. Em 1700, as exportações já haviam caído para 26000 (vinte
e seis mil) toneladas e o eixo da economia da colônia já começava a
mover-se para as minas da região centro-sul.
(ALMANAQUE Abril. São Paulo: Abril, 1989 e 1994. 15ª. e 20ª. ed.).

Ouro e diamante
 O ciclo do ouro e diamante se deu no século XVIII. Descoberto
no final do século XVII pelos bandeirantes, o ouro povoou uma
área superior a dois milhões de quilômetros, deu origem a cidades
como Ouro Preto, Mariana, Sabará e São João del Rei, e rendeu
muita riqueza a Lisboa. Esta descoberta resultou na imigração de
cerca de dois terços da população de Portugal para o continente
Atlântico (BRUM, 1998).

A crise da economia açucareira, a partir da metade do século


XVII, levou os colonos portugueses a intensificarem a busca
por metais. As bandeiras, que exploravam o sertão brasileiro,
Os bandeirantes eram sertanistas finalmente encontraram ouro e pedras preciosas nos Estados de
que, a partir do século XVI, Minas Gerais, Bahia e Mato Grosso, ainda no final daquele século.
desbravaram o Brasil em busca
de riquezas minerais, sobretudo Já no final do século XVII, era evidente que os acordos assinados
a prata (abundante na América
espanhola), indígenas para
com o governo britânico não seriam capazes de solucionar a crise
escravização ou extermínio de econômica decorrente da decadência da produção açucareira. As
quilombos. Eles se organizavam primeiras descobertas de ouro trouxeram de volta a esperança.
nas chamadas “bandeiras”.
Foi na região do Rio das Velhas onde se descobriu ouro de
aluvião em quantidade compensadora. As bandeiras que
atravessavam a região entre a Serra da Mantiqueira e as
cabeceiras do Rio São Francisco tinham notado que os leitos
e as margens de muitos rios e riachos cruzados por eles eram
idênticos aos de Paranaguá e demais lugares que produziam ouro
de aluvião, embora em pequena quantidade.

36
Formação Econômica do Brasil

Com a descoberta de ouro, teria início um novo ciclo na


economia colonial, alterando-se também as relações entre
Portugal e o Brasil. Desta forma, o interesse da metrópole
pelo Brasil e o desenvolvimento consequente de sua política
de restrições econômicas e opressão administrativa tomaram
considerável impulso. Após a descoberta da mineração, as demais
atividades entraram em decadência, e as zonas em que elas
ocorriam se empobreceram e se despovoaram.

Entre as principais características da economia


mineradora, estão: a condução da grande parte da
população das regiões costeiras de Pernambuco, Bahia
e Rio de Janeiro, para regiões do interior do Brasil; o
estímulo à economia colonial, ajudando a resolver
uma crise econômica, e dando início a outra, atraindo
mão de obra escrava e livre das plantações de açúcar e
tabaco das regiões costeiras; o aumento da procura de
escravos no oeste africano para as minas e plantações
do Brasil conduziu a um aumento correspondente
do comércio escravagista com a África Ocidental e à
procura de novos mercados escravos nessa região.

Com uma produção estimada de 1000 (mil) toneladas entre


1700 e 1800, a maior preocupação portuguesa foi com o controle
da atividade mineradora. Já em 1702, era criada a Intendência
das Minas, subordinada diretamente à Coroa, para recolher
os impostos e cobrir o contrabando. Mas foi em 1725 que se
organizou melhor o recolhimento do tributo, com a  proibição do
transporte de ouro em pó, ou em pepitas, e a criação das Casas de
Fundição, onde ele era fundido em barras e o fisco recolhia sua
parte - 1/5 (chamado de quinto) da produção, sendo 37 arrobas
(cerca de 500 Kg) o mínimo exigido por ano pela Fazenda Real.

Mais tarde, essa contribuição mínima foi elevada para 100


arrobas (cerca de 1500 Kg). Quando esta quantia não era
atingida, obrigava-se a população toda (e não apenas os
mineradores) a completar a soma. Essa prática ficou conhecida
como a derrama, que passou a ser responsável por muitas
rebeliões. Porém, depois de 1762, o quinto nunca chegou às 100
arrobas e, em 1803, o tributo foi reduzido a 1/10 da produção.

A exploração de diamantes começou por volta de 1729, nas


vilas de Diamantina e Serra do Frio, no norte de Minas Gerais.
A produção atingiu grande volume, chegando a causar pânico

Unidade 1 37
Universidade do Sul de Santa Catarina

no mercado joalheiro, por forçar a baixa dos preços. Em 1734,


constituiu-se uma intendência, com autonomia quase total na
administração das lavras. E a extração passou a ser controlada
por meio de medidas severas, que incluíam confisco, proibição da
entrada de forasteiros e expulsão de escravos.

Figura 1.6: Caminho das Tropas


Fonte: <http://www.limeiraonline.com.br/imagens_atlas/pag22_rota_tropeiros.jpg>. Acesso em:
20 abr. 2010.

Com o advento do ciclo do ouro, desencadeou-se uma “crise


da fome” por causa da migração de milhares de pessoas das
atividades de subsistência para a região das minas, debilitando o

38
Formação Econômica do Brasil

setor. Para compensar esta debilidade de alimentos, as tropeadas


se intensificaram neste período. Tropeadas: transporte
de tropas de animais
desde os campos do sul
Café do Brasil para as regiões
de Sorocaba, para serem
A decadência da mineração foi acompanhada pelo renascimento comercializados. Os
das atividades agrícolas. O principal produto de exportação tropeiros seguiam até a
região das minas.
passaria a ser o café. A expansão da cultura cafeeira, ao longo do
século XIX, atraiu os melhores recursos econômicos do País.

A declaração de Independência não alterou os


fundamentos econômicos do Brasil, e a produção
de café contribuiu para reafirmar o modelo de tipo
colonial, estruturado no latifúndio, na monocultura, na
produção para o mercado externo e, principalmente,
na escravidão. Na primeira metade do século XIX, este
modelo econômico conheceria o seu apogeu.

A produção comercial de café iniciou-se na cidade do Rio de


Janeiro, espalhando-se pelo Valo do Rio Paraíba do Sul, nos
atuais Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Posteriormente, em decorrência da implantação de ferrovias e
do trabalho assalariado imigrante, desenvolveu-se plenamente o
chamado Oeste Paulista.

Figura 1.7: Café de Cândido Portinari (1934)


Fonte: <http://3.bp.blogspot.com/_e2vCMsCWBf8/SWXUIiRlPzI/AAAAAAAAFpc/wJ1z_D0gAyg/s1600-h/
portinari15.jpg>. Acesso em: 06 jul. 2010.

Unidade 1 39
Universidade do Sul de Santa Catarina

As ferrovias e a expansão para o oeste paulista


Os custos de transporte representavam outra restrição à cultura
cafeeira. Até a implantação das primeiras ferrovias, o principal
meio de escoamento da produção eram as mulas, pela configuração
geográfica da região. Isto explica, em parte, o fato de a maior
distância atingida entre a cultura cafeeira e os portos exportadores
não ter ultrapassado 200 km. Assim, a introdução das primeiras
ferrovias permitiria a superação das restrições impostas pelos meios
de transporte, fazendo com que o café se expandisse para uma
região extraordinariamente fértil: o oeste paulista.

A cidade de Campinas foi o grande polo de expansão do século


XIX, tendo duas irradiações marcadas pelas estradas de ferro: uma
linha, a Companhia Paulista de Estradas de Ferro (zona paulista), ia
de Campinas a Catanduva, passando por várias cidades; e a outra, a
Companhia Mogiana de Estradas de Ferro (zona mogiana), partia
de Campinas em direção a Ribeirão Preto e depois Franca.

É importante assinalar que as ferrovias foram implantadas com


técnicas e capitais britânicos, embora o governo brasileiro tenha
tido uma participação direta no seu desenvolvimento, por meio da
constituição de empresas, das quais ele era o principal acionista, e
também pela concessão de aval aos empréstimos obtidos na Inglaterra.

Cultivos de outros produtos

Vocês lembram que a formação econômica se deu


com base na monocultura?

Sendo assim, não sobrou espaço para os cultivos de outros


produtos que, por mais que servissem para abastecer o mercado
interno, não interessavam para a exportação. Apesar disso,
alguns produtos tiveram seu desenvolvimento entre a época da
mineração e o advento do café, entre o final do século XVIII a
meados de 1830.

Passada a euforia inicial da extração do ouro, começaram a surgir


áreas de agricultura e pecuária, ao longo dos caminhos, para os
depósitos auríferos. Essas atividades passaram a ser lucrativas por

40
Formação Econômica do Brasil

causa do crescimento demográfico. As sesmarias (terras incultas


ou abandonadas) foram doadas a quem quisesse cultivá-las.

O algodão, o tabaco e o cacau tornaram-se os principais produtos


agrícolas de exportação. Os maiores centros produtores de algodão
surgiram no Nordeste (Maranhão e Pernambuco). O tabaco
funcionou como moeda de troca para aquisição de escravos nos
mercados da costa africana, ao longo do séc. XVII, tendo sido
cultivado principalmente na Bahia, seguida por Alagoas.

O cacau, visto inicialmente como um produto de atividade


extrativista, era cultivado no Pará e em Rio Negro, passando a
ser cultivado na Bahia e no Maranhão, com o uso de mão de obra
escrava negra.

A agricultura foi fator essencial na ocupação e povoamento do


interior. As fazendas de criação de gado eram latifúndios assentados
em sesmarias. O proprietário, ao tomar posse da terra, arrendava
as regiões mais distantes a pequenos criadores. A atividade não era
dirigida para a exportação e, em vez de escravos, usava mulatos,
mestiços, negros forros, índios e brancos assalariados. Foi no Sul
onde se deu o maior desenvolvimento da criação de gado.

Seção 3 - Economia escravista


Ao longo dos ciclos econômicos no período colonial, a escravidão
foi o motor do desenvolvimento econômico do Brasil, fosse ela
indígena ou africana.

A escravidão indígena
Para o desenvolvimento da grande propriedade monocultural,
instalou-se, no Brasil, o trabalho escravo. Isso de deu porque
os colonos portugueses tinham o objetivo de explorar a terra
e seus recursos e não o de recomeçar uma nova vida a partir
do trabalho. Além disso, Portugal não contava com população
suficiente para abastecer sua colônia de mão de obra. A
alternativa foi, portanto, a escravidão de índios.

Unidade 1 41
Universidade do Sul de Santa Catarina

Este problema e sua solução foram idênticos em todas as colônias


tropicais e mesmo subtropicais da América. Nas colônias inglesas,
por exemplo, onde se tentou outra forma de trabalho, mais
parecido à semiescravidão de trabalhadores brancos (os inden-tured
servants), a substituição pelo escravo negro veio logo em seguida.

Já no Brasil, no princípio, recorreu-se ao trabalho indígena para a


tarefa da extração do pau-brasil.

Porém, os indígenas se adaptariam ao trabalho em


cultivos?

Com certeza, não. Pelo simples fato de não ser da sua natureza
este tipo de atividade. À medida que afluíam mais colonos
e, com isso, também as solicitações de trabalho, o interesse
dos índios pelos insignificantes objetos com que eram dantes
pagos pelo serviço ia decrescendo. Eles tornaram-se aos poucos
mais exigentes e a margem de lucro do negócio ia diminuindo
proporcionalmente.

Prado Jr. nos explica que,

Chegou-se a entregar-lhes armas, inclusive de fogo,


o que foi rigorosamente proibido, por motivos que se
compreendem. Além disto, se o índio, por natureza
nômade, se dera mais ou menos bem com o trabalho
esporádico e livre da extração do pau-brasil, já não
acontecia o mesmo com a disciplina, o método e os
rigores de uma atividade organizada e sedentária como
a agricultura. Aos poucos se foi tornando necessário
forçá-lo ao trabalho, manter vigilância estreita sobre ele
e impedir sua fuga e abandono da tarefa em que estava
ocupado. Daí para a escravidão pura e simples foi apenas
um passo. (Prado Jr., 1998, p. 21)

Em menos de 30 anos de ocupação efetiva do Brasil e do


estabelecimento da agricultura, a escravidão dos índios se
generalizara e se instituíra firmemente por toda a parte.
Os nativos se defenderam valentemente, lutando contra sua
escravidão, pois eram guerreiros e não temiam a luta. A
princípio, os índios fugiam para longe dos centros coloniais, mas
tiveram que enfrentar também os colonos, que iam buscá-los
em seus refúgios. Passaram a revidar à altura, indo assaltar os
42
Formação Econômica do Brasil

estabelecimentos dos colonos, e, quando obtinham vitória, devido


ao elevado número de indígenas frente aos poucos colonos,
destruíam tudo nos núcleos coloniais.

Em 1570, estabeleceu-se a primeira Carta Régia, que


descrevia o direito da escravidão dos índios, mas limitada
aos aprisionados em “guerra justa”, o que significa que, com Missões dos Jesuítas: As
isso, seria permitido escravizar os indígenas agressivos ou reduções dos jesuítas não
pertencentes a tribos que se recusavam submeter-se aos colonos eram aldeias, mas, sim,
verdadeiras cidades, que
ou entrar em entendimentos com eles. se instalavam nas selvas,
com toda a infraestrutura.
Durante o século XVII, os paulistas continuaram buscando Além da igreja, que era
os índios em fuga nos mais longínquos territórios usando as o centro de tudo, havia
expedições. Assim, a escravidão indígena somente seria abolida hospital, asilo, escolas,
casa e comida para todos
inteiramente em meados do séc. XVIII, e a questão indígena e os
e em abundância, oficinas
atritos resultantes dela nunca foram resolvidos no Brasil, senão e até pequenas indústrias.
indiretamente pelo recurso de outras fontes de trabalho. Fabricavam-se todos os
instrumentos musicais, tão
Estas expedições, conhecidas por bandeiras, como você já bem quanto na Europa,
viu, percorreram todo o interior do continente e alargaram por exemplo. Imprimiam-
se livros em plena selva,
consideravelmente os limites das posses portuguesas. Entre
alguns até em alemão.
suas vítimas, estão as Missões dos Jesuítas, reduções que se
localizavam desde o rio Uruguai, no Sul, até o alto Amazonas.

Figura 1.8: As Missões Jesuítas


Fonte: PORTAL DA EDUCAÇÃO. Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais. Disponível em:
<http://crv.educacao.mg.gov.br/sistema_crv/banco_objetos_crv/%7B2964DDB0-CF44-440E-8B21-
34A7880A3F36%7D_image002.jpg>. Acesso em: 22 abr. 2010.

Unidade 1 43
Universidade do Sul de Santa Catarina

Com a perda sucessiva de terras e de liberdade que sofreram


os bandeirantes paulistas, que buscavam escravos para suprir a
escassez de mão de obra, os tupi-guaranis aceitaram a proposta
dos jesuítas de se assentarem e formar comunidades fixas. Assim,
eles estariam mais seguros sob a “guarda” da coroa espanhola,
haja vista tamanha pressão causada pelos avanços da colonização
portuguesa e sua exploração.

Além disso, a coroa espanhola tinha interesse em formar pueblos


(vilas) estáveis dependentes e sob a administração de jesuítas,
franciscanos, dominicanos ou outros. Essa situação acabava por
favorecer estes agrupamentos de índios tupi-guaranis, livrando-os
dos pesados tributos e trabalhos em propriedades coloniais.

Figura 1.9: Uma redução jesuítica


Fonte: <http://www.limeiraonline.com.br/imagens_atlas/pag32_missao.jpg>. Acesso em: 22 abr. 2010.

A escravidão indígena prevaleceu ao longo do primeiro século


de colonização, sendo superada pela escravidão negra, no século
XVII. A proteção (dúbia) dos padres, sobretudo jesuítas, e
a legislação frouxa, que proibia a escravidão dos índios, não
impediram a sua escravidão.

44
Formação Econômica do Brasil

De acordo com Brum (1999, p. 146),

A legislação proibitiva, sob a bênção religiosa, tinha


tantas licenças e subterfúgios que, como muitas outras
leis, se tornava quase letra morta nos imensos espaços do
vasto território, onde o poder em geral se decidia pelo
número de homens armados com que cada um podia
contar. No fundo, ao proibir o cativeiro indígena, a
legislação acabou na prática por substituí-lo.

A caça ao índio foi uma das principais características do Brasil


colonial. Além da resistência que ofereceu ao trabalho, o índio
se mostrou um trabalhador de pouca resistência física, não sendo
adequado para uma tarefa colonizadora levada em grande escala
(BRUM, 1999).

A escravidão africana
Desde meados do século XV, traficavam-se os escravos vindos
de países da costa da África e introduzidos no Reino europeu,
onde eram empregados em várias ocupações: serviços domésticos,
trabalhos urbanos pesados e na agricultura. Também eram utilizados
nas ilhas (Madeira e Cabo Verde), colonizadas pelos portugueses
na segunda metade daquele século. Não se sabe ao certo quando os
escravos africanos apareceram pela primeira vez no Brasil, mas há
historiadores que afirmam que a vinda deles ocorreu já na primeira
expedição oficial de povoadores, em 1532. (CUNHA Jr., 2010).

O processo de substituição do índio pelo negro prolongou-se até o


fim da era colonial. Nas regiões de Pernambuco e Bahia, no entanto,
o processo se deu de maneira mais rápida. Já em outras regiões, foi
um pouco mais lento, como no Extremo-Norte, na Amazônia e em
São Paulo, onde o processo se deu até o século XIX.

De acordo com Brum (1999, p. 148),

[...] comerciantes brasileiros estabelecidos no Rio de


Janeiro entraram no negócio e, em poucas décadas,
superaram os portugueses no controle do tráfico negreiro.
Mas tarde, já no século XIX, com a expansão da lavoura
de café, primeiro no Rio de Janeiro e depois em Minas
Gerais e em São Paulo, essas posição se consolidou e,
consequentemente, aprofundando-se as raízes de seus
interesses nesse comércio.

Unidade 1 45
Universidade do Sul de Santa Catarina

E ainda acrescenta:

O tráfico de escravos tornou-se excelente negócio.


‘Escravos foram as maiores importações brasileiras’,
ao longo de três séculos (1550-1850). E os traficantes,
particularmente do Rio de Janeiro, tornaram-se grandes
empreendedores, passando a constituir provavelmente
a fração mais importante da classe dominante do país.
(BRUM, 1999, p. 148)

Fosse com escravos africanos, ou com escravos, ou com


semiescravos indígenas, a organização das grandes propriedades
açucareiras da colônia foi sempre, desde o início, baseada na
economia escravista. A exploração em larga escala com áreas
extensas e numerosos trabalhadores era como uma única
organização coletiva do trabalho e da produção. Opunha-
se, assim, à pequena exploração, realizada diretamente por
proprietários ou arrendatários. O seu elemento central era o
engenho, isto é, a fábrica propriamente dita, onde se reuniam as
instalações para a manipulação da cana e o preparo do açúcar.

Brum (1999, p. 148) explica que,

Calcula-se que mais da metade do capital gerado pela


exportação do açúcar e o ouro era aplicado na compra de
novos escravos. O tráfico negreiro, iniciado no final da
primeira metade do século XVI, ganhou impulso com
a expansão da lavoura de cana e da produção de açúcar,
sobretudo em Pernambuco e na Bahia. Era exercido por
comerciantes portugueses e, já no final daquele século,
esse comércio estava bem-estruturado e apresentava
compensadora lucratividade.

O auge da economia escravista se deu no ciclo do


açúcar.

Com a evolução do trabalho dos engenhos de açúcar, a mão de


obra indígena foi escasseando e se mostrando insuficiente. Na
segunda metade do século XVI, introduziram-se, aos poucos,
os escravos africanos. Por volta de 1600, eles já eram cerca de
20.000 (vinte mil). A importação se dava, principalmente, para

46
Formação Econômica do Brasil

as capitanias da Bahia e do Norte, onde estava assegurada a


indústria do açúcar; e no Sul, onde a situação era de pobreza, o
braço escravo tinha que ser o do indígena.

Com a expulsão dos franceses e a fundação do Rio de Janeiro,


e à medida que se iam desenvolvendo as culturas do Norte,
acentuou-se a necessidade crescente de mão de obra no Sul. O
encarecimento do transporte e a menor fertilidade das terras
não permitiam a obtenção de recursos para a compra de escravos
africanos naquela região.

Assim, a preferência dos paulistas pelos escravos indígenas


acabou tendo como fundamento econômico as expedições ao
interior (“entradas”). As entradas se acentuaram no período da
expansão da indústria açucareira e das guerras com a Holanda
(entre 1624 e 1654), pelas dificuldades de mão de obra nas Guerras com a Holanda:
capitanias do Sul. Mas a própria diferença de preços dos escravos A “Guerra do Açúcar”
indicava a maior valorização do escravo africano. Assim é que, queimava canaviais,
destruía engenhos, invadia
no período de maiores preços, o indígena alcançava de 4$000
fazendas, arruinava
a 70$000 e o negro valia de 50 a 300 mil-réis, 20 a 100 libras proprietários. A rendição
esterlinas, pelos câmbios de então. foi inevitável e o invasor foi
virando amigo de negócios
da classe dominante
Para a indústria açucareira, iniciada nas Antilhas, e para colonial, propondo aos
a mineração do ouro, uma vez esgotadas as primeiras grandes senhores e aos
populações, procuraram os espanhóis se abastecer de comerciantes duas coisas
mão-de-obra nas ilhas das Lucaias; mas as tribos aí fundamentais: paz e
colhidas suicidavam-se em massa, tal o esgotamento dinheiro.
a que chegavam e o horror pelo trabalho que lhes era
imposto. Surgiu, então, a necessidade de se recorrer a
outra espécie de mão-de-obra, que resistisse onde o íncola
assim fracassava. Os espanhóis conheciam a mão-de-obra
africana, pois já a haviam utilizado na indústria açucareira
das ilhas das Canárias e na própria Península Ibérica. .
(SIMONSEN, 2005, p. 167)

Unidade 1 47
Universidade do Sul de Santa Catarina

Figura 1.10: Escravos trabalhando


Fonte: VIVA BRAZIL. Disponível em: <http://www.vivabrazil.com/vivabrazil/images/abolic8.jpg>. Acesso
em: 22 abr. 2010.

No Brasil, a introdução de escravos africanos foi autorizada a


partir de 1549, como indicam os registros da época, mas, desde
1535, já havia alguns escravos negros nos engenhos de São
Vicente, no estado de São Paulo.

A maior parte de escravos negros estava na zona mundial,


atribuída aos portugueses pelo Tratado de Tordesilhas. Deve-
se a isso a interferência do elemento lusitano em muitos desses
fornecimentos à América espanhola.

Como mencionado antes, o ciclo do açúcar só foi


possível devido à solução do problema da mão de
obra com a introdução do escravo africano.

Simonsen (2005, p. 126) destaca, a respeito do trabalho escravo, que

Surgiu, assim, o uso dessa instituição como um


imperativo econômico inelutável: só seriam admissíveis
empreendimentos industriais, montagem de engenhos,
custosas expedições coloniais, se a mão-de-obra fosse
assegurada em quantidade e continuidade suficientes. E
por esses tempos e nestas latitudes, só o trabalho escravo
proporcionaria tal garantia.

48
Formação Econômica do Brasil

No século XVIII, os escravos representavam metade da


população das capitanias nordestinas, mas nas regiões onde
se plantava açúcar eles eram, frequentemente, 65 a 70% da
população. No outro extremo da pirâmide social estavam os
senhores de engenho, a aristocracia local, branca e concentradora
de poderes sociais, econômicos e políticos.

Figura 1.11: Classes sociais da sociedade colonial


Fonte: Ateliê de História. Disponível em: <http://3.bp.blogspot.com/_8K0nUhvVsZQ/SYHv2zxYRDI/
AAAAAAAAAKo/NuTnRbJKQ7s/s400/pir%C3%A2mide+escravista.jpg>. Acesso em: 20 maio 2010.

No período de exploração dos cultivos agrícolas e da extração do


ouro, o trabalho escravo era intensamente usado e considerado
mais duro nas minas que nos engenhos. Entretanto, a relação dos
senhores com seus escravos era diferente da dos ciclos anteriores.
Isso porque os senhores tinham características distintas, mas,
também, porque o escravo tinha algum poder nessa relação. A
Coroa havia instituído uma legislação pela qual o escravo podia
ganhar sua liberdade por meio da denúncia sobre evasão fiscal,
que era um ato comum por parte dos senhores. Assim, fraudar o
fisco na prestação do que havia sido extraído das minas de ouro
passou a ser passível de delação, que, mesmo infundada, podia

Unidade 1 49
Universidade do Sul de Santa Catarina

causar sérios transtornos, sendo usada como instrumento de


extorsão por parte dos escravos.

Você sabia que as pessoas escondiam ouro e


diamantes dentro de estatuetas de madeira ocas para,
assim, evitar o pagamento de impostos altíssimos à
Coroa? São os chamados santos do pau oco.

Roubo: os escravos escondiam


as pepitas de ouro dentro de suas
Além disso, frequentemente, os escravos compravam a
roupas e do próprio cabelo.
própria alforria. Inicialmente, por meio do roubo. Depois,
passou a ser permitido que o escravo trabalhasse parte do tempo
por conta própria, pagando uma parte ao senhor. Os escravos
podiam roubar ou esconder o que encontrassem e os mineradores
A Revolução Francesa é considerada dependiam da disposição deles em reportar descobertas para
como o acontecimento que deu início que o empreendimento fosse lucrativo. Com isso, a porcentagem
à Idade Contemporânea. Ela aboliu a de escravos livres na população descendente de africanos, que
servidão e os direitos feudais e proclamou correspondia a apenas 1,4% entre os anos de 1735 e 1749, aumentou
os princípios universais de “Liberdade,
Igualdade e Fraternidade” (Liberté, Egalité,
para 41% em 1786. Uma razão para isso é que, com a decadência,
Fraternité), frase de autoria de Jean- tornou-se impossível ou desnecessária a posse de escravos.
Jacques Rousseau. Para a França, abriu-se,
em 1789, o longo período de convulsões
políticas do século XIX, fazendo-a passar
por várias repúblicas, uma ditadura, uma
monarquia constitucional e dois impérios.
Seção 4 - Declínio da economia colonial
A Revolução Industrial consistiu em
um conjunto de mudanças tecnológicas Vimos a formação econômica do Brasil no seu início e
com profundo impacto no processo colonização. Desde o começo, esteve claro o objetivo de
produtivo em nível econômico e social. colonização voltada à exploração das riquezas dos recursos
Iniciada na Inglaterra em meados naturais para saciar as necessidades de Portugal. Com a
do século XVIII, ela se expandiu pelo
necessidade de manter o poder sobre o território conquistado,
mundo a partir do século XIX.
a colonização e o envio de famílias para o novo continente
Ao longo do processo (que, de acordo
serviram de alavanca para o desenvolvimento de uma nova nação,
com alguns autores, se registra até aos
nossos dias), a era agrícola foi superada,
mesmo que de forma truncada.
a máquina foi suplantando o trabalho
humano, uma nova relação entre capital Este modelo não vingaria frente às transformações sociais,
e trabalho se impôs, novas relações políticas e, consequentemente, econômicas na Europa. A
entre nações se estabeleceram e surgiu Revolução Francesa, que aboliu a servidão e divulgou os
o fenômeno da cultura de massa, entre
preceitos de liberdade, igualdade e fraternidade, culminou em
outros eventos.
transformações estruturais, como a Revolução Industrial.

50
Formação Econômica do Brasil

Figura 1.12: Revolução Francesa


Fonte: Mania de História. Disponível em: <http://maniadehistoria.files.wordpress.com/2009/03/rev-
franc.jpg>. Acesso em: 20 maio 2010.

No Brasil, os preceitos da Revolução Francesa levaram tempo


para chegar. O declínio da economia colonial já havia mostrado
que a Era Colonial teria fim, para o Brasil, em 1808, quando se
transferiu o governo português para a colônia, muito embora
a oficialização date de quatorze anos depois. No entanto, a crise Momento em que a Corte
teve muita influência das questões escravocratas da época. portuguesa foge dos
exércitos napoleônicos
invasores.

Figura 1.13: Chegada da Corte no Brasil Colônia


Fonte: UNIBLOG. Disponível em: <http://www.uniblog.com.br/img/posts/imagem33/332536.jpg>. Acesso
em: 20 maio 2010.

Unidade 1 51
Universidade do Sul de Santa Catarina

De acordo com Brum (1999, p. 153),

A forma como se deu a emancipação política não


possibilitou a formação da nação. Ao contrário, a
Independência foi pouco mais que um arranjo político de
cúpula: manteve-se o regime monárquico, e o herdeiro
do trono português tornou-se Imperador do Brasil;
manteve-a mesma estrutura econômica e o sistema
escravista, com uma estrutura social dicotomizada e
acentuada discriminação.

E o autor complementa: “A sociedade brasileira continuou sendo


formada basicamente de senhores e escravos; [...]”.

No Brasil, a crise do sistema colonial foi marcada por


contestações diversas, que comprovavam as aspirações de
liberdade do povo brasileiro. Entre as revoltas que desencadearam
este processo, podemos destacar as Conjurações Mineira e
Baiana, que sofreram influências diretas dos movimentos
revolucionários ocorridos na Europa e nos Estados Unidos (a
Independência das 13 colônias).

Revoltas Coloniais e Conflitos:


Em função da exploração exagerada da metrópole,
ocorreram várias revoltas e conflitos neste período:
„„ Guerra dos Emboabas: os bandeirantes queriam
exclusividade na exploração do ouro nas minas que
encontraram. Entraram em choque com os paulistas,
que estavam explorando o ouro das minas.
„„ Revolta de Filipe dos Santos: ocorrida em Vila Rica
(MG), representou a insatisfação dos donos de minas
de ouro com a cobrança do quinto e das Casas
de Fundição. O líder, Filipe dos Santos, foi preso e
condenado à morte pela coroa portuguesa.
„„ Inconfidência Mineira (1789): liderados por
Tiradentes, os inconfidentes mineiros queriam a
libertação do Brasil de Portugal. O movimento
foi descoberto pelo rei de Portugal e os líderes
condenados.
„„ Revolução Pernambucana (1817): Advém de uma
crise econômica regional, o absolutismo monárquico
português, e tinha a influência das ideias iluministas,
propagadas pelas sociedades maçônicas.

52
Formação Econômica do Brasil

Outro fator gerador da crise estava relacionado com as


mudanças nos sistemas de produção, com a advinda Revolução
Industrial. A indústria capitalista tomou um tamanho vulto
que ofuscou o capitalismo comercial e assumiu cada vez mais
o domínio da economia europeia, tornando-se um sistema
hegemônico. Resultou, daí, o declínio do antigo sistema
colonial, representado pelo pacto, que é uma expressão perfeita
do capitalismo comercial. Assim como explica Brum (1999,
p. 153) “a Independência do Brasil, no início do século XIX,
ocorreu quando a Europa já começava a superar o Mercantilismo
e as forças e os interesses da Revolução Industrial tornavam-se
hegemônicos, sob a liderança da Inglaterra”.

O sistema de trabalho escravo (servil) atravessava, neste período,


uma crise muito séria. O processo difícil e complicado da
emancipação política do Brasil, pondo em evidência todas as
contradições do regime anterior, polarizava as forças políticas e
sociais em gestação e desencadeava o embate, não raro de grande
violência, entre os diferentes grupos e classes em que se dividia a
sociedade colonial.

Os escravos, apesar de representar um terço da população total,


não tiveram um papel ativo e de vanguarda neste processo, ao
contrário do ocorrido em situações semelhantes noutras colônias
americanas.

Assim como o capitalismo industrial era incompatível


com o sistema colonial mercantilista, também era
a escravidão. A Abolição da escravatura no Brasil
decorreu das pressões externas pela extinção do
tráfico negreiro, vindas, principalmente, da Inglaterra.

A legislação britânica passou a considerar pirataria aquele


comércio, conferindo à Armada daquele país o direito de
confiscar os navios negreiros e prender os infratores.

A Abolição, por outro lado, não trouxe nenhuma mudança


nas condições de vida dos ex-cativos. Enquanto o trabalhador
se emancipava, o Estado criava mecanismos para impedir que
os libertos se tornassem proprietários. Criou-se, assim, um
cinturão de marginalidade, que perdura até os dias atuais. “Sem

Unidade 1 53
Universidade do Sul de Santa Catarina

instrução, sem acesso à posse da terra e a outras condições básicas,


os ex-escravos, que se tornavam legalmente cidadãos, ficavam, na
realidade, marginalizados” (BRUM, 1999, p.152). Garantia-se,
assim, pela falta de opções, a mão de obra barata para as fazendas.

Figura 1.14: A abolição


Fonte: Blog da educadora Cristina Souza. Disponível em: <http://2.
bp.blogspot.com/_xb1q_4q537U/Sf20IpHQReI/AAAAAAAAFF4/
vWE4kCea3E0/s400/Aboli%C3%A7%C3%A3o.jpg. Acesso em: 20
maio 2010.

A abolição da escravatura está diretamente ligada ao


desenvolvimento do capitalismo e à própria formação de um
mercado de trabalho no Brasil resultando no sistema de mercado
de reserva de força de trabalho. Para se fazer uma análise,
devemos levar em conta os problemas referentes a uma economia
com características ainda coloniais e suas contradições, dentro do
quadro mais amplo do capitalismo industrial do século XIX. Na
verdade, foram essas contradições, aliadas à perda de base moral
da escravidão, que levaram ao seu questionamento e, afinal, à sua
liquidação.

O Brasil não chegou a constituir-se em uma economia propriamente


nacional na era colonial, isto é, em um sistema organizado de
produção e distribuição de recursos para a subsistência material
da população nela aplicada. Esta é a característica que sintetiza a
economia brasileira no momento em que o país alcançava a sua
autonomia política e administrativa. Todas as suas atividades
econômicas giraram em torno deste fim único: de fornecer ao
comércio internacional alguns produtos tropicais de alto valor
mercantil, metais e pedras preciosas. O restante serviu apenas para
tornar possível a realização deste objetivo.
54
Formação Econômica do Brasil

Síntese

Nesta primeira unidade, estudamos os processos de formação


econômica no período colonial. Abordamos as instituições
que fizeram parte das bases de desenvolvimento deste tipo de
economia. As instituições econômicas deste período, que são
a grande propriedade, a monocultura e o trabalho escravo,
estenderam-se a outros períodos. Como sabemos, estas
instituições tornaram-se um legado, que moldou nossa identidade
econômica.

Vimos que a ocupação do Brasil teve, como objetivo principal,


a exploração das riquezas naturais do território. Já a colonização
se deu por motivos que estão relacionados com as ameaças
de invasão e perda do território conquistado. Tivemos a
oportunidade de identificar os principais condicionantes da ação
colonizadora no Brasil e suas repercussões ao longo do espaço
brasileiro. Estas primeiras atividades de exploração e de cultivo
também contribuíram para a formação de uma lógica social e
política: desigualdades sociais, escravidão, lógica econômica
exportadora de produtos primários, submissão a grandes
potências.

Analisamos os principais ciclos econômicos, como os do pau-


brasil, da cana-de-açúcar e do ouro; além dos ciclos secundários,
como os do algodão, cacau e outros. Isso nos permitiu
compreender as verdadeiras dimensões dos diferentes ciclos
econômicos, que levaram à formação da nacionalidade brasileira.

Retomamos a análise de uma das três instituições de papel


fundamental no desenvolvimento econômico no período colonial:
a escravidão. O escravo era considerado uma mercadoria e o
principal instrumento de trabalho nas atividades econômicas
que se desenvolveram na colônia. Com as transformações nos
países do velho continente e na América do Norte, este sistema
servil entrou em crise, atingindo as colônias que mantinham
escravos e utilizavam o tráfico negreiro para desenvolver as suas
atividades econômicas. Formou-se, assim, um rol de fatores que
culminaram no declínio da economia colonial.

Unidade 1 55
Universidade do Sul de Santa Catarina

Atividades de autoavaliação

1) De acordo com seus estudos desta unidade sobre o Tratado


de Tordesilhas, explique em que consistiu e qual o objetivo da
instituição deste tratado.

2) Com a conquista do território brasileiro, surgiu a necessidade


de se trabalhar a terra para consumar a posse. Explique por
que o Brasil adotou a escravatura de africanos como mão de
obra no período colonial.

56
Formação Econômica do Brasil

Saiba mais

ALMANAQUE Abril. São Paulo: Abril, 1989. 15. ed.

ALMANAQUE Abril. São Paulo: Abril, 1994. 20. ed.

BUESCU, Mircea & TAPAJÓS, Vicente. História do


desenvolvimento econômico do Brasil. Rio de Janeiro: A Casa
do Livro, 1958.

BRUM, Argemiro J. O desenvolvimento econômico brasileiro.


20. ed. Ijuí: UNIIJUÍ, 1999.

CAMPOS, Nazareno José de. Terras Comunais na Ilha de


Santa Catarina. Florianópolis: UFSC, 1991.

GREMAUD, Amaury Patrick, SAES, Flávio Azevedo Marques


de; TONETO JR., Rudinei. Formação econômica do Brasil.
São Paulo: Atlas, 1997.

MENDONÇA, Marina Gusmão de; PIRES, Marcos Cordeiro.


Formação econômica do Brasil. São Paulo: Pioneira Thomson
Learning, 2002.

PRADO JR., Caio. Formação do Brasil contemporâneo:


colônia. 9. ed. São Paulo: Brasiliense, 1969.

SIMONSEN, Roberto C. História econômica do Brasil: 1500-


1820. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2005.

Unidade 1 57
2
UNIDADE 2

A formação econômica do Brasil


Império (1822-1889)

Objetivos de aprendizagem
„„ Conhecer a estrutura econômica formada no período
após a independência do Brasil, em que o país assume a
postura de Império.

„„ Entender as primeiras tentativas de industrialização


brasileira dentro de um contexto de Revolução Industrial
na Europa.

„„ Identificar a interferência que a Guerra do Paraguai teve


na formação econômica do Brasil.

„„ Compreender as dificuldades e desafios na transição do


trabalho escravo ao trabalho livre.

Seções de estudo
Veja, a seguir, as seções que compõem esta unidade de
aprendizagem.
Seção 1 O Brasil Império (1822 – 1889)

Seção 2 A introdução da indústria no Brasil

Seção 3 A Guerra do Paraguai

Seção 4 Transição do trabalho escravo ao assalariado


Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo


Nesta unidade, iremos estudar a formação econômica do Brasil
no seu período Imperial. Na primeira seção, vamos percorrer as
principais características econômicas do Brasil Imperial. Todas as
ações na economia brasileira foram pensadas e postas em prática
em função da balança comercial. O Brasil começava a se firmar
como um grande exportador de café, quando surgiram alguns
entraves ao sistema, como o transporte do produto até os portos.

Com a instalação da Corte Imperial no Brasil, o país passou a ter


uma autonomia nas relações internacionais. Na segunda seção,
veremos que a industrialização no Brasil teve seus primeiros
indícios nas oficinas artesanais, e as barreiras que estas tiveram
para se desenvolver, principalmente, porque a Inglaterra tinha
interesse em vender seus produtos e não gostaria de encontrar
concorrência no mercado brasileiro.

A transição de uma economia escravocrata para uma economia


assalariada teve os seus primeiros sinais já na Guerra do
Paraguai, descrita na seção 3. A transição foi lenta e muito
difícil para os latifundiários, que movimentavam a economia
do país e dependiam da mão de obra escrava. Com o fim da
escravidão, começou, então, um período importante da história
econômica do Brasil: a imigração de famílias europeias com o
objetivo de buscar melhores oportunidades de vida, que ocorreu
principalmente com o papel da Inglaterra no fim da escravatura.

Começamos, então, explorando os principais acontecimentos no


período do Brasil Império.

Seção 1 - Brasil Império (1822 – 1889)


Antes de entrar no período republicano, devemos analisar o que
se produziu enquanto o Brasil era um Império. No momento
em que o Brasil tornou-se independente em 1822, sua economia
estava voltada à exportação de matérias-primas. Não havia

60
Formação Econômica do Brasil

mercado interno significativo devido à falta de créditos e a quase


completa subsistência das cidades, vilas e fazendas do país, que
se dedicavam à produção de alimentos e à criação de animais
(FAUSTO, 1995, p. 225).

O Estado imperial investiu pesadamente na estruturação da


malha de estradas terrestres durante a primeira metade do
século XIX, para somar ao já existente sistema de portos, que
possibilitava uma melhor troca comercial e comunicação entre as
regiões do país (FAUSTO; DEVOTO, 2005).

O governo monárquico teve que se esforçar muito para realizar


uma transmutação de sistema econômico puramente escravocrata
e colonial, baseado em alguns poucos produtos primários, para
uma economia moderna e capitalista. Justamente porque o Brasil
daquela época não possuía empreendedores. “A classe econômica
dominante era constituída de grandes proprietários rurais, de
grandes comerciantes de exportação e importação e de traficantes
de escravos” (BRUM, 1998, p. 156).

Figura 2.1: A chegada de Dom João ao Rio.


Fonte: Revista Época. Disponível em:
< http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/foto/0,,12717027,00.jpg> Acesso em: 20 ago. 2010.

Unidade 2 61
Universidade do Sul de Santa Catarina

A monarquia conseguiu manter até o fim de sua existência o


evidente crescimento econômico iniciado com a vinda do então
príncipe-regente Dom João ao Brasil. Isto foi possível com a
Dom João escapou de perder seu contribuição do liberalismo adotado pelo regime monárquico, que
reino para Napoleão ao vir com a favorecia a iniciativa privada. No entanto, o Brasil não possuía
família para o Brasil. nem estrutura nem capital e seria necessário investir o máximo
possível nas exportações para alcançar uma balança superavitária
com o objetivo de reverter esta situação. Contudo, como era de
se esperar, esta situação se complicou devido à completa falta
de produtos manufaturados no país, que resultou num aumento
considerável das importações, criando um déficit contínuo. As
importações se concentravam em artigos como: tecidos, vinhos,
sabões, comestíveis, perfumarias, dentre outros.

Até a década de 1850, artigos como carvão, maquinaria,


cimento, ferro e ferramentas representavam 11% das
importações brasileiras em relação à Grã-Bretanha. O processo
de industrialização do Brasil faria com que este percentual
alcançasse 28% em 1889 (VAINFAS, 2002. p. 360).

Todas as ações na economia brasileira foram pensadas


e postas em prática em função da balança comercial.

Com o passar das décadas, com o surgimento de novas


tecnologias e com o aumento da produtividade interna, as
exportações aumentariam significativamente, possibilitando
alcançar o tão almejado equilíbrio na balança comercial.

Durante a década de 1820, as exportações apresentavam o


seguinte cenário:

Tabela 2.1: Exportações de produtos primários em 1820

Produto Porcentagem das exportações


Açúcar 30%
Algodão 21%
Café 18%
Couro e peles 14%

Fonte: a autora.

62
Formação Econômica do Brasil

Em vinte anos, este cenário se alterou, mostrando que o açúcar,


como principal produto exportado, foi ultrapassado pelo café:

Tabela 2.2: Exportação de produtos primários após vinte anos

Produto Porcentagem das exportações


Café 42%
Açúcar 27%
Couro e peles 9%
Algodão 8%

Fonte: a autora.

Neste período de apenas vinte anos, as “[...] exportações


brasileiras dobraram em volume e triplicaram em valor nominal.”,
enquanto seu valor em libras esterlinas aumentou em 40%
(FAUSTO; DEVOTO, 2005, p. 46).

Na década de 1820, o Brasil exportou cerca de 11 mil toneladas


de cacau, enquanto que em 1880, o valor foi de 73.500 toneladas.
Entre os anos 1821 e 1825, exportou-se 41.174 toneladas de
açúcar, que atingiram o incrível valor de 238.074 toneladas entre
1881 e 1885 (VAINFAS, 2002. p. 250).

A produção da borracha foi considerada insignificante até 1850,


porém, entre os anos de 1881 e 1890, ela passa a aparecer com
expressividade nas exportações, alcançando o terceiro lugar nas
exportações brasileiras. Tal produção chegou a atingir a marca de
24.301.452 toneladas em 1900.

No período em que o café foi o carro chefe da economia


brasileira, exportou-se cerca de 3.377.000 toneladas entre 1821 e
1860. Enquanto entre 1861 e 1889 alcançou 6.804.000 toneladas.

A inovação tecnológica foi um dos fatores principais que contribuiu


para o crescimento das exportações. Neste período, a tecnologia
de energia gerada a vapor, aplicada tanto na indústria, como nos
navios e nas ferrovias, permitiu ao transporte de carga tornar-se
bem menos oneroso e muito mais rápido. O valor absoluto das
exportações do Império em 1850 era o mais elevado da América
Latina e manteria esta posição até o final da monarquia.

Unidade 2 63
Universidade do Sul de Santa Catarina

O comércio exterior, composto pelas importações e exportações,


Comércio exterior: A prática acumulava um valor total de 79.000:000$000 entre 1834 e 1839,
do comércio exterior pode ser para atingir 472.000:000$000 em 1886 (taxa de crescimento
conceituada como o intercâmbio anual de 3,88% desde 1839). A partir de 1859, a balança
de mercadorias e serviços entre
comercial entre importação e exportação se equilibrou até esta
agentes econômicos que operam
sob a égide da legislação nacional. última tornar-se maior do que a primeira em 1865.
(SOUZA, 2003).
Após 1874, a balança comercial ficou claramente favorável. As
exportações apresentavam números bem mais altos do que as
importações. A maior parte das exportações brasileiras era de
produtos agrícolas (SODRÉ, 2004).

O historiador Heitor Lyra (1977, p. 9) sintetiza a ideia do


desenvolvimento do Brasil naquela época da seguinte forma:

O Império, sob o ponto de vista do progresso e do


desenvolvimento material do país, não foi o atraso e a
estagnação, de que ainda hoje é acusado por quantos não
se querem dar ao trabalho de estudar e conhecer melhor
esse período da nossa História. E a verdade é o que o
Brasil era, de fato, e de direito, sob este e outros aspectos,
a primeira Nação da América Latina. Essa hegemonia ela
iria conservar até o último dia da Monarquia.

Frente a este cenário, vamos nos aprofundar na temática da


agricultura por ser o motor da economia brasileira.

Agricultura no período imperial


Durante o período imperial, o Brasil já se apresentava como país
tipicamente agrícola: 80% das pessoas se dedicavam às atividades
agrárias, contra uma minoria no setor industrial. No interior
do país, havia uma agricultura realizada por produtores (sem a
utilização de escravos), abastecendo o mercado local. Na região
norte e nordeste, principalmente nas províncias do Maranhão,
Pernambuco, Alagoas e Paraíba, ocorria o cultivo de algodão em
conjunto com culturas de alimentos (para a própria subsistência
e venda nos mercados locais), que era produzido por pequenos e
médios lavradores.

64
Formação Econômica do Brasil

Lembre-se que os grandes latifúndios se dedicavam


em produção visando à exportação.

As grandes distâncias e a deficitária infraestrutura de transporte,


que encareciam o custo do produto, mais os impostos
interprovinciais para o trânsito de mercadorias, restringiam
consideravelmente a capacidade de distribuição por parte dos
produtores destes setores voltados ao mercado interno.

Figura 2.2: transporte de produtos agrícolas


Fonte: ARQUIVO NACIONAL. Disponível em: < http://www.an.arquivonacional.gov.br/seminario/
imagens/caf%E9.jpg>. Acesso em: 20 ago.2010.

Figura 2.3: Estrada de ferro na cidade de Petrópolis, Brasil. 1885.


Fonte: WIKIMEDIA. Dsiponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/20/
Petropolis1885.jpg>. Acesso em: 20 ago.2010.

Unidade 2 65
Universidade do Sul de Santa Catarina

O cultivo do café ganhou importância na economia brasileira


neste período, principalmente devido ao aumento extraordinário
no mercado consumidor internacional. As fazendas cafeeiras
eram praticamente autossustentáveis, pois não só o café era
produzido, mas também a alimentação e vestuário para os
escravos, negando a possibilidade de surgimento de outros setores
econômicos voltados para este setor. Entretanto, a extinção do
tráfico negreiro e o consequente encarecimento no valor dos
escravos obrigaram os produtores a focarem na manutenção da
mão de obra em detrimento da autossustentabilidade na tentativa
de impedir uma alta nos custos da produção.

Para se manterem competitivos nos mercados internacionais, os


produtores agrícolas buscaram modernizar a produção, adotando
inovações técnicas e tecnológicas. No Norte e Nordeste do país,
foram instaladas grandes unidades de processamento de cana-
de-açúcar, chamados de engenhos centrais, que revolucionaram
a economia tradicional. Estas usinas vieram a ocupar o lugar
das antigas fábricas de açúcar, que datavam do período colonial,
industrializando efetivamente o setor.

Nas regiões cafeeiras, os produtores realizaram a transição da


mão de obra escrava para a paga, com a absorção dos imigrantes
estrangeiros, que chegavam aos milhares a cada ano, e também
de ex-escravos. O sustento de escravos começava a se apresentar
como algo muito mais oneroso que o pagamento de salários a
trabalhadores livres. A província de São Paulo foi a que mais teve
sucesso nessa empreitada, realizando a transição do antigo sistema
econômico escravocrata para o moderno capitalista. A província do
Rio de Janeiro, contudo, revelou-se incapaz de assimilar as novas
tendências do mercado, preferindo manter a utilização de mão de
obra escrava até o fim, o que eventualmente causaria o seu colapso.

O governo imperial não se limitou a facilitar o crédito para a


compra de equipamentos modernos ou a vinda de imigrantes,
mas também diminuiu vários impostos para colaborar com o
esforço de modernização da produção agrícola do país. Uma
destas medidas ocorreu em 1874, quando o gabinete Rio Branco
fixou em 40% a taxa de imposto para todas as mercadorias
importadas (e que viria a incentivar a indústria nacional).
Ademais, ele criou franquias aduaneiras para importações
relacionadas a plantas vivas, sementes, raízes, bulbos e aparelhos
mecânicos com o intuito de desenvolver a agricultura.

66
Formação Econômica do Brasil

Balanço da produção cafeeira no século XIX


Após a introdução do transporte ferroviário, como parte da
estrutura necessária para o desenvolvimento econômico do
Brasil, e a implantação do trabalho de imigrantes, os dois
grandes entraves à expansão da agricultura cafeeira foram
eliminados. Assim, a expansão cafeeira não encontrou restrições
que impedissem o seu vigoroso crescimento. Os problemas
que se apresentaram foram superados com sucesso, permitindo
um crescimento das exportações da ordem de 1600% entre
1821/1830 e 1881/1890.

Tabela 2.3- Exportações brasileiras de Café – 1821 – 1890 (em


1000 sacas de 69 kg)

Década Quantidade Década Quantidade


1821-30 3178 1861-70 29103
1831-40 10430 1871-80 32509
1841-50 18367 1881-90 51631
1851-60 27339

Fonte: Mendonça e Pires (2002, p. 128).

A lavoura de café marcou a evolução econômica do Brasil.


Durante três quartos de século, o Brasil foi o grande produtor
mundial, monopolizando a produção do gênero, que, em
seguida, tomou o primeiro lugar entre os artigos alimentares do
comércio internacional. Tanto dentro do país como no conceito
internacional, o Brasil era efetivamente, e só, café. Ele vivia
exclusivamente da exportação, somente o café contava seriamente
na economia brasileira. Para a exportação, o precioso grão chegou
a contribuir com mais de 70% do valor.

No entanto, com a Revolução Industrial acontecendo na


Europa, as dificuldades de se manter um país agroexportador
e frente à necessidade de desenvolvimento econômico
considerável, a industrialização ganha o seu devido espaço. E é
isso que veremos agora.

Unidade 2 67
Universidade do Sul de Santa Catarina

Seção 2 - A introdução da indústria no Brasil


A indústria brasileira tem sua origem remota nas oficinas
artesanais do início do século XIX. A maior parte dos
estabelecimentos industriais surgiu no Sudeste brasileiro
(principalmente na província do Rio de Janeiro, Minas Gerais e,
mais tarde, São Paulo). De acordo com as Juntas de Comércio,
de Agricultura, de Fábricas e de Navegação, 77 estabelecimentos
foram registrados entre os anos de 1808 e 1840, os quais
receberam a classificação de “fábricas” ou “manufaturas”.

Na realidade, a maior parte, cerca de 56 estabelecimentos, se


encaixavam na categoria de oficinas artesanais e estavam voltados
para os ramos de sabão e velas de sebo, rapé, fiação e tecelagem,
alimentos, fundição de ferro e metais, lã e seda, dentre outros. Eles
utilizavam como mão de obra tanto elementos livres como também
escravos (SZMRECSÁNY e LAPA, 2002, p. 282).

Entretanto, todos os estabelecimentos eram de pequeno porte e se


assemelhavam mais a oficinas artesanais maiores do que a fábricas
propriamente ditas. Atuavam em ramos extremamente diversos,
tais como: chapéus, pentes de tartaruga, ferraria e serraria, fiação
e tecelagem, sabão e velas, vidros, tapetes, oleados, etc. Apenas
nove destes estabelecimentos ainda estavam em funcionamento
em 1841, provavelmente pela instabilidade do período regencial,
mas, em compensação, eles eram de grande porte e poderiam ser
considerados um “prenúncio de uma nova era para as manufaturas”
(SZMRECSÁNY e LAPA, 2002, p. 283).

As razões pelas quais o advento de manufaturas reais foi


extremamente limitado anteriormente à década de 1840 foram:
a autossuficiência das regiões do país, principalmente das
fazendas de café e cana-de-açúcar, que produziam seus próprios
alimentos, vestuário, equipamentos, etc., a falta de capitais e o
alto custo da produção.

Este último, por exemplo, impossibilitava as


manufaturas nacionais de competirem com produtos
estrangeiros, apesar de alguns já utilizarem máquinas,
pois a maior parte da matéria-prima era importada.

68
Formação Econômica do Brasil

A promulgação da tarifa Alves Branco, entretanto, viria a


modificar este quadro. Esta tarifa tinha por objetivo aumentar Tarifa Alves Branco:
a arrecadação do Estado e incentivar o crescimento da indústria estabelecia que cerca de
nacional, logrando sucesso em ambas as empreitadas. três mil artigos importados
pagassem taxas que
variavam de 20 a 60%. A
Contudo, num crescimento maioria foi taxada em 30%,
industrial sem precedentes, ficando as tarifas mais altas,
surgiram múltiplos entre 40% e 60%, para as
estabelecimentos mercadorias estrangeiras,
manufatureiros, tais como que já poderiam ser
produzidas no Brasil. Para as
de: fundição e maquinaria, mercadorias muito usadas
sabão e velas, vidros, cerveja, na época, necessárias ao
vinagre, galões de ouro e prata, consumo interno, foram
calçados e cordoaria, couros, estabelecidas taxas de 20%.
chapéus e tecidos de algodão.

É provável que a indústria


têxtil tenha sido a mais
Figura 2.4: Ministro da Fazenda Alves Branco beneficiada pelo fato de ser
Fonte: Portal Multi Rio. Disponível em: <http://
portalmultirio.rio.rj.gov.br/historia/modulo02/ a mais antiga em atividade
imagens/f6014.jpg>. Acesso em: 20 ago.2010. no país. Surgiu em 1830,
com a instalação da fábrica
Santo Antônio do Queimado na cidade de Salvador, capital
da província da Bahia. O setor têxtil foi bastante dinâmico no
período monárquico e recebeu grandes investimentos até 1890,
quando entrou em decadência.

Figura 2.5: Tecelagem


Fonte: ARQUIVO NACIONAL. Disponível em: <http://www.an.arquivonacional.gov.br/seminario/
imagens/foto2-hi530AEL.jpg> Acesso em: 20 ago.2010.

Unidade 2 69
Universidade do Sul de Santa Catarina

Várias modernizações ocorreram, principalmente entre


os anos 1840 e 1860, quando fábricas de alto nível
de capacitação tecnológica foram criadas. Elas eram
capazes de competir com outros centros internacionais
importantes.

Outras melhorias surgiram com a implantação de


fábricas e forjas voltadas para a produção de peças
para os estabelecimentos têxteis (SZMRECSÁNY;
LAPA, 2002, p. 318). O polo industrial, que surgiu na
província da Bahia, expandiu consideravelmente o seu
alcance econômico, atingindo o sul do Ceará, Piauí e
Figura 2.6: Eusébio de Queirós até mesmo Minas Gerais.
Fonte: CAPOEIRA RONDONOPOLITANA. Disponível
em: < http://capoeiraroo.blogspot.com/2008_06_01_
archive.html>. Acesso em: 20 ago.2010. Outro fato importante deste período, chamado Era
Mauá (1845-1864), foi a Lei Eusébio de Queirós, que
Lei Eusébio de Queirós: “Esta extinguiu o tráfico negreiro em 1850, liberando capitais para outras
Lei de 1850 proibiu o tráfico atividades, estimulando ainda mais os negócios urbanos no Brasil.
de escravos, que era realizado Contudo, o capital antes empregado no tráfico foi direcionado a
no Oceano Atlântico em sentido
setores, como os de: empresas de serviços urbanos, transportes,
ao Brasil. A lei do Segundo
Reinado atendia a um interesse da
bancos e comércio.
Inglaterra e foi fundamental para
dar início ao completo processo de A indústria brasileira passou a competir com maior facilidade,
abolição da escravatura no país” estando protegida pela taxação sobre os produtos importados.
(Wikipédia) Além disso, o fim do tráfico negreiro resultou em uma intensa
liberação de verbas para investimento em outras áreas.

Diferente da visão costumeira acerca do tema, o governo imperial


criou diversos incentivos para a industrialização do país. Os mais
antigos datam ainda do reinado de Dom Pedro I, com concessões
de subvenções governamentais.

Em 1857, sete manufaturas eram beneficiadas por esta prática de


incentivo, dentre elas, o Ponta de Areia, de propriedade de Irineu
Evangelista de Sousa (futuro visconde de Mauá).
Irineu Evangelista de Sousa
Buscava-se, então, não só a transição do antigo sistema
(futuro visconde de Mauá): Foi
por causa de seu pioneirismo em econômico colonial para o moderno capitalista, mas também da
vários setores econômicos do Brasil mão de obra escrava para a livre. Outros incentivos ocorreram,
que se designou de Era Mauá o como o Decreto 8 de agosto de 1846 que: isentava os produtos
período de 1845 a 1864. manufaturados de direitos de transporte (tanto no interior quanto
no exterior); dispensava do recrutamento militar um determinado

70
Formação Econômica do Brasil

número de empregados dos estabelecimentos industriais; e


eliminava a taxação sobre peças e maquinários importados pelas
fábricas têxteis.

No ano seguinte, novo decreto, datado de junho, declarava que


todos os estabelecimentos industriais em solo nacional estariam
livres de impostos sobre matérias-primas importadas. Desta
maneira, os custos de produção da indústria nacional diminuíram
consideravelmente, permitindo competir com produtos
estrangeiros.

A tarifa Alves Branco sofreu modificação em 1857,


reduzindo para 15% as taxas sobre os produtos importados
(SZMRECSÁNY e LAPA, 2002, p. 295). Entretanto, as taxas
sobre produtos estrangeiros foram elevadas novamente para 40%
no gabinete Rio Branco, e novas matérias-primas receberam
isenções tributárias sobre as importações.

Ao final da década de 1860, ocorre um novo surto industrial


causado por dois conflitos armados: a Guerra Civil norte-
americana e a Guerra do Paraguai. Na primeira, a produção de
algodão foi interrompida pelo bloqueio realizado pelas forças
da União contra a Confederação. A segunda causou a emissão
de moeda e o aumento de tarifas de importação para cobrir os
gastos com o conflito. O resultado foi um grande estímulo não
só para a indústria têxtil, mas também para setores, como: a
indústria química, de cigarro, de vidro, de papel, de couro, de
instrumentos ópticos e náuticos, etc. (VAINFAS, 2002. p. 375).

Durante a década de 1870, graças à decadência da região cafeeira


do vale do Paraíba e de algumas áreas de produção açucareira,
muitos fazendeiros investiram não somente na indústria têxtil
de algodão, mas também em outros setores manufatureiros.
A implantação de uma malha ferroviária por todo o território
nacional também estimulou o surgimento de novas atividades
industriais, principalmente em São Paulo. A indústria naval
sofreu um grande impulso neste período. Foi a partir da década
de 1870 que o processo de industrialização do Brasil se tornou
constante e revelou uma grande expansão.

Unidade 2 71
Universidade do Sul de Santa Catarina

Figura 2.7: Tecelagem


Fonte: A nova democracia. Disponível em: <http://www.anovademocracia.com.br/13/f30.jpg>
Acesso em: 20 ago. 2010.

Em 1888, foi criada a Associação Industrial, que atuou no


sentido de apoiar novos incentivos industriais a realizar
propagandas contra os defensores de um Brasil essencialmente
agrícola.

Do capital empregado na economia brasileira até 1884, 9,6%


eram direcionados à indústria. Com o passar dos tempos,
este percentual foi crescendo, atingindo 11,2% a partir de
1885. Entretanto, ele sofreu uma abrupta queda no período
republicano, atingindo 5% entre 1890 e 1894, e revelou uma
leve melhora para 6% entre 1900 e 1904, mas seriam necessários
muitos anos até retornar aos patamares dos tempos do Império.

Em 1889, quando a monarquia foi extinta, existiam 636 fábricas


com um capital de 401.630.600$000, estando distribuídas da
seguinte forma:

72
Formação Econômica do Brasil

Tabela 2.4: Fábricas no período imperial

Setores Participação
Têxtil 60%
Alimentação 15%
Químico 10%
Madeireiro 4%
Vestuário 3,5%
Metalúrgica 3%

Fonte: a autora.

Com a Proclamação da República em 1889, a estrutura política


do país mudou, mas as estruturas de poder se mantiveram.
Destacou-se o fato de que a política esteve inteiramente
dominada pela oligarquia cafeeira, em cujo nome e interesse
o poder foi exercido. Na próxima seção, veremos como essas
relações se estabeleceram a partir da Guerra do Paraguai.

Seção 3 – A Guerra do Paraguai


A Guerra do Paraguai, que ocorreu no final do Século XIX, teve
grande influência na proclamação da República no Brasil. Ao se
envolver numa guerra de proporções regionais e com a implicação
de interesses de potências europeias, o Brasil expôs a sua
realidade e pôs em risco um de seus maiores fatores de produção:
a escravatura.

Unidade 2 73
Universidade do Sul de Santa Catarina

Figura 2.8: Desfile militar em 1° de março de 1870, depois da vitória sobre a Guerra do Paraguai.
Fonte: Unirio. Disponível em: <http://hemi.nyu.edu/unirio/studentwork/imperio/projects/
RicardoBrugger/image008.jpg>. Acesso em: 20 ago.2010.

Esta guerra, que começou no fim de 1864, durou cinco anos,


matou pelo menos 250.000 pessoas, além de envolver quatro
países. O custo da guerra foi além de todas as expectativas,
nenhum dos países envolvidos poderia imaginar as dimensões
que este conflito iria tomar. O Brasil proveu a maior parte dos
soldados e era o único país na aliança que podia suportar a pressão
financeira dessa guerra. Ainda assim, resultou em um impacto
negativo e em uma imensa pressão sobre o Tesouro brasileiro.

O custo da vitória na Guerra do Paraguai não foi apenas


financeiro para o Brasil. Dentre outras questões, a política
monetária conservadora adotada pelo país foi inviabilizada e o
grande número de escravos libertos nas tropas, pelo receio de
revolta destes escravos nas zonas próximas ao conflito, obrigou o
governo a fazer algumas concessões durante e depois da guerra.

As mudanças no cenário econômico já eram visíveis com o aumento


do número de indivíduos que passaram a receber uma remuneração,
mesmo que baixa. Ainda assim, aumentou substancialmente
a quantidade de pessoas que usavam dinheiro e ampliou
proporcionalmente o número de transações monetárias no país.

Nesse período de guerra, os países, como o Brasil, tinham


mais dificuldade para levantar recursos financeiros do que

74
Formação Econômica do Brasil

para produzir e suprir materiais para a guerra. O armamento


consistia essencialmente de pequenas armas, como facas, sabres
e baionetas. Assim como nas guerras europeias, os exércitos
não usavam mais do que 20 a 25% de armamento do que foi
utilizado na Guerra de 1914. “O problema logístico era suprir de
munição, comida, manufaturas (essencialmente produtos têxteis)
e medicamentos.” (PRADO, 1999, p.177).

O Brasil tinha duas alternativas para financiar o conflito,


segundo Prado (1999):

1) Aumentar a dívida pública.

2) Aumentar a emissão do tesouro.

Porém, isto obrigava a uma reorganização do sistema monetário


doméstico, para tentar reconciliar os preconceitos do grupo
metalista, que controlava a política monetária do império,
com as necessidades de sua participação na guerra. “O rápido Metalistas: o grupo de
crescimento da oferta monetária para financiar a guerra metalistas via no déficit
estimulou a economia doméstica que vinha sendo contida com fiscal e no excesso de
emissões de moeda as
baixa liquidez, desde a reforma bancária de 1860” (PRADO, razões para a crônica
1999, p. 10). fraqueza da moeda
nacional. O termo não
Para voltar à conjuntura anterior à da guerra, foram realizadas deve ser confundido com
várias tentativas, que levaram a novos problemas financeiros. As monetaristas.
autoridades tentaram reduzir o estoque de papel moeda a um
montante que seria suficiente para o nível de transações da economia
no início da guerra. A ideia de progresso era completamente ausente
das concepções dos ministros da fazenda metalistas.

Seção 4 - Transição do trabalho escravo ao assalariado


Durante o período em que acontece a proibição do tráfico
negreiro, na metade do século XIX até a abolição da escravatura,
a situação de mão de obra disponível para a produção cafeeira
ficou insustentável, justamente num momento de plena ascensão.
Então, se uma solução não fosse encontrada, o mercado de
trabalho capitalista perderia força e capacidade para sustentar-se,

Unidade 2 75
Universidade do Sul de Santa Catarina

uma vez que a formação histórica da sociedade e da economia


brasileira era pouco desenvolvida em relação às demais nações.

As oligarquias cafeeiras, incluindo segmentos de outras oligarquias


vinculadas à economia açucareira, começaram a temer que a
proibição do tráfico internacional de escravos e o fim da escravidão
gerassem uma grave escassez de força trabalhadora no Brasil.

O que era de se esperar diante dos fatos que levaram a


abolição da escravatura em 1888? Qual o caminho que
se tomaria para superar esta situação de escassez de
força de trabalho?

O receio dos oligarcas cafeeiros acabou se transformando,


principalmente, numa questão de política nacional: solucionar o
problema de mão de obra para atender a produção cafeeira.

Este conflito está dentro de uma discussão sobre modos de


produção e a relação entre capital e trabalho. O Brasil, então,
começou a entrar numa crise de tal envergadura quando o fator
trabalho, antes absolutamente atendido por escravos, passou a dar
sinais de formação econômica capitalista. Configuraram-se, de
fato, as relações de trabalho nos termos de autores da economia
política, como Karl Marx.

A exploração escravista marcou a cultura brasileira e a formação


de valores nas relações de trabalho entre donos e escravos, e entre
donos e assalariados.

Afinal, que motivos levaram a Coroa Portuguesa a


optar por mão de obra escrava?

O interesse econômico é o principal motivo. Já que a metrópole


recebia uma porcentagem do lucro dos traficantes por cada
escravo que era vendido. Infelizmente, a escravidão fez com que
o trabalho (braçal) assumisse um papel de inferioridade, sendo
destinado ao negro quase que com exclusividade. Os escravos
foram utilizados principalmente na agricultura, onde o fator
humano era mais necessário, com ênfase na produção açucareira
e na mineração.

76
Formação Econômica do Brasil

Prado (1999, p. 167) nos esclarece que:

Mesmo após a independência do Brasil o preconceito


racial e as determinações dos poderosos fazendeiros
mantiveram o regime escravista intacto. Para eles, era
motivo de temor imaginar que perderiam seu sistema de
mão de obra. Receando uma revolta social, o governo
retardou ao máximo qualquer lei ou política abolicionista.

O que realmente influenciou nesta transição foram os interesses


da Inglaterra. Desde que D. João saiu de Portugal com destino
ao Brasil, com a proteção da esquadra inglesa, seu governo
ficou dependente da Inglaterra e os comerciantes ingleses
se tornaram um grupo influente e poderoso. Como o Brasil
passava por problemas econômicos, começou a se preocupar em
diminuir as importações e produzir aqui diversos produtos. A
Inglaterra não queria que isso acontecesse, pois estava em pleno
desenvolvimento industrial e precisava de consumidores.

Além disso, as colônias inglesas produziam açúcar e o Brasil


concorria com uma grande produção açucareira, movida pela
mão de obra escrava. Essa situação não agradava à Inglaterra,
que mantinha Portugal e, consequentemente, o Brasil sob seu
comando usando tratados políticos.

Se houvessem poucos escravos no Brasil, a produção


de açúcar entraria em decadência, mas se os
trabalhadores recebessem pelo seu trabalho, mais
pessoas teriam dinheiro para comprar as mercadorias
produzidas pelas máquinas inglesas. Portanto, a
Inglaterra resolveu lutar contra o tráfico de escravos.

Entre os fatores internos que levaram ao fim do sistema


escravocrata no Brasil está a relevante ação de grupos abolicionistas
oriundos de diversas camadas da sociedade. Estes grupos favoráveis
à abolição caracterizavam-se por uma bifurcação:

1) Os emancipacionistas: que visavam a uma abolição


lenta e gradual do trabalho escravo.

2) Os abolicionistas: que defendiam o fim imediato dessa


relação de trabalho.

Unidade 2 77
Universidade do Sul de Santa Catarina

Além da ação destes grupos, deve-se notar a resistência dos


próprios escravos, visto que eles já não demonstravam passividade
e resistiam das mais variadas formas à dominação, seja fugindo
para os quilombos, organizando revoltas, envolvendo-se em
assassinatos, ou, até mesmo, cometendo suicídio.

Embora havendo estes fatores internos, as pressões vindas do


império britânico sobre o governo brasileiro foram cruciais. A
Inglaterra, que passava por um momento histórico de apogeu
da Revolução Industrial, necessitava de mercados consumidores
para se manter em pleno crescimento. Já o Brasil se apresentava
como grande potencial consumidor, porém havia a necessidade
de eliminar o sistema escravocrata para abrir espaço ao sistema de
trabalho assalariado com poder aquisitivo (FERREIRA, 2008).
Por isso, o governo inglês decretou o fim da escravidão em todas
as suas colônias, dando direitos de abordar e apreender os navios
negreiros em águas internacionais.

É importante saber que:


No Congresso de Viena em 1814, os britânicos
difundiram a outros países a adoção de uma política
a favor da abolição da escravatura. Logo, toda a
Europa se moveria fazendo tratados para a proibição
do tráfico. O Tratado de Ashburton em 1842, entre
Inglaterra e Estados Unidos, alvitrava que, cada um
desses países formasse e mantivesse uma esquadra
nas costas africanas, para que a proibição do tráfico
fosse reforçada e cumprida (FERREIRA, 2008).

No início do século XIX, os ingleses passaram a interferir


decisivamente nas políticas de Portugal e da colônia brasileira.
Em 1810, D. João teve que cooperar por meio de um tratado que
visava ao fim do comércio de escravos e o considerava ilegal. Com
isso, D. João liberou a ação da campanha naval inglesa contra
os navios negreiros portugueses, o que resultou no aumento do
tráfico de negros e de seu comércio clandestino.

Em 1822, a Independência do Brasil passou a ser moeda de troca


no fim do tráfico negreiro. Esta só seria reconhecida se houvesse
a extinção do tráfico.

78
Formação Econômica do Brasil

Em meio a conflitos de interesses em que a “sociedade brasileira


não estava de acordo com o término da escravidão, justamente
porque a estrutura política e econômica do Brasil dependia do
trabalho escravo” (FERREIRA, 2008), leis foram criadas para
se proibir tal prática, mas que nem sempre eram cumpridas. A
Inglaterra, então, amparada pela lei Aberdeen, em que o tráfico
podia ser proibido pela força (FERREIRA, 2008), passou a
enviar seus navios para a costa brasileira.

Os navios ingleses capturavam e afundavam os navios negreiros,


desrespeitando as águas territoriais do Brasil. Ainda assim, o
tráfico resistia. A maneira encontrada para que os brasileiros
tomassem uma postura abolicionista foi ameaçar mandar os
navios de guerra ingleses para os portos brasileiros.

Aos poucos, a luta abolicionista começou a ganhar


terreno, não somente com as leis criadas por pressão
externa, mas também por mobilizações da elite
pensante do Brasil, como jornalistas, políticos e
escritores, que se juntaram para formar uma opinião
pública a favor da libertação dos escravos.
Com o fim do tráfico negreiro, houve uma
readequação das economias frente às mudanças deste
fator de produção, que é a mão de obra. Os negros
que ainda restavam no Brasil foram enviados à região
sudeste, por exemplo, onde as atividades econômicas,
como o cultivo do café, encontravam-se em plena
expansão (FERREIRA, 2008).

Apesar da libertação, os escravos não tinham nenhuma


preparação para trabalhar como assalariados. Com raríssimas
exceções, eles não sabiam ler nem escrever, e a filosofia da
escravidão fazia com que eles não fossem estimulados a pensar
e agir, apenas obedecer. Os escravos que viviam nas cidades
estavam mais atentos ao que acontecia, alguns podiam trabalhar
para seus donos e ficar com algum dinheiro desse trabalho.

Deste modo, ao chegar à liberdade, os negros não tiveram


condições de se igualarem no mercado de trabalho, porque eram
considerados inferiores e sem qualificações.
Este ex-escravo negro chegou ao mercado de trabalho sem
estímulo para participar de um modelo de parceria, pois quase

Unidade 2 79
Universidade do Sul de Santa Catarina

não possuindo hábitos de vida familiar, a ideia de acumulação de


riqueza lhe era praticamente estranha.

Segundo Ferreira (2008):

[...] sendo o trabalho para o escravo uma maldição e o


ócio o bem inalcançável, a elevação de seu salário acima
de suas necessidades, que estão definidas pelo nível de
subsistências de um escravo, determina de imediato uma
forte preferência pelo ócio. Por isso, o ex-escravo passa a
viver para suprir apenas suas necessidades, renunciando
ao modelo de parceria.

Embora haja esta constatação de que os escravos não tinham


cultura, devemos considerar que os escravos vinham de outro
continente, possuindo outra cultura e outro modo de vida
diferente da que estava se formando no contexto mundial e,
inclusive, brasileiro.

De acordo com Franco (1984, p. 190):

Na virada do século XIX para o XX, quando abolida a


escravidão, embora houvesse um potencial grande de mão
de obra livre, este não fora totalmente expropriado e não
sofria pressões econômicas suficientes para transformar-
se em força de trabalho assalariada. O fazendeiro voltou-
se, pois, para o exterior em busca dos braços de que
necessitava.

O Brasil estaria preparado para se inserir nesta nova


relação de trabalho?

De acordo com Mello (1982, p. 78):

[...] a agricultura escravista de exportação colocava os


homens livres e pobres à margem, porque dispensáveis,
mas ao mesmo tempo não os deixava à disposição
do capital, como força de trabalho passível de ser
transformada em mercadoria, desde que a eles era
permitido produzirem a sua própria subsistência.

80
Formação Econômica do Brasil

Lembramos que o latifúndio ainda é, e será por muito tempo, o


modelo de sistema produtivo no Brasil, como nos explica Brito
(2004, p. 6):

O latifúndio era uma unidade social-econômica e, no seu


entorno, gravitava a mão de obra livre nacional, como os
parceiros, arrendatários ou proprietários de minifúndios
– todos reduzidos à mera economia de subsistência ou a
uma pequena agricultura de alimentos.

Até 1822, as famílias que chegavam ao Brasil eram consideradas


colonizadoras. A proibição do tráfico internacional de escravos
pressionou a promoção da migração de famílias de agricultores da
Europa, como italianos e alemães em busca de oportunidade de
vida mais próspera.

Veja os motivos da preferência pelos imigrantes:


1 - Os imigrantes já tinham noção de salário e de
administração de tempo.
2 - Era considerada mão de obra melhor qualificada.
3 - A possibilidade da exploração de um trabalho
familiar, muito mais vantajoso para o fazendeiro
que o trabalho do nativo livre, cuja mulher e filhas
restringiam-se às atividades domésticas.

Figura 2.9: Chegada dos primeiros imigrantes alemães ao Rio Grande do Sul, 1824
Fonte: WIKIPÉDIA. Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c4/
Alem%C3%A3es2.jpg>. Acesso em: 20 ago.2010.

Unidade 2 81
Universidade do Sul de Santa Catarina

Com o alto custo da imigração internacional, além da manutenção


destas famílias nos seus períodos iniciais, fez-se necessário a
participação do governo para viabilizar economicamente a grande
entrada de imigrantes no mercado de trabalho cafeeiro. Assim,
o governo assumia o ônus dessa transferência, garantindo um
abastecimento imediato e sistemático, de acordo com os interesses
da classe produtora representada no poder. A partir de então,
representantes do imperador brasileiro atuaram em companhias
internacionais de colonização, sediadas em diversas cidades
europeias, incentivando a imigração.

Ainda sobre a atuação do governo,

Na perspectiva das oligarquias brasileiras, a abolição


gradual da escravidão ou a transição para o trabalho
assalariado, utilizando-se da mão de obra nativa ou
estrangeira, passava pela regulação do acesso à terra. Elas
sempre estiveram disponíveis para as oligarquias e, depois
da chegada da família real ao Brasil, em 1808, D. João
VI garantiu uma farta distribuição das sesmarias entre os
que apoiavam a Corte. (BRITO, 2004, p. 11).

Umas das primeiras experiências com o trabalho livre nas fazendas


de café começaram em 1847, por iniciativa do senador Nicolau
de Campos Vergueiro, político e latifundiário paulista. Vergueiro
trouxe, para sua fazenda, famílias de colonos suíços e alemães para
trabalhar em regime de parceria ao lado dos escravos.

Os imigrantes comprometeram-se a cuidar de


certa quantidade de pés de café em troca de uma
porcentagem do que era obtido na venda dos grãos.
Eles podiam plantar pequenas roças de subsistência,
partilhando a produção com o proprietário das terras,
relacionando-se com o modo de produção servil do
feudalismo europeu.

82
Formação Econômica do Brasil

De acordo com Brito (2004, p. 12),

A Lei de Terras, a abolição gradual da escravidão e


as migrações, interna e internacional, são dimensões
de um mesmo processo: a transição para o trabalho
assalariado no Brasil com o menor custo possível para
as oligarquias, principalmente as do café. A estratégia
do governo imperial nesse processo, devido à grande
disponibilidade de terras, foi restringir ao máximo o
acesso à propriedade, garantindo assim os interesses
oligárquicos.

Em 1852, financiado pelo governo, Vergueiro começou a


contratar diretamente imigrantes na Europa. Firmando contratos
de parceria, os imigrantes vendiam seu trabalho para o futuro.
Eles ficavam devendo as passagens, as comissões de contrato,
além de outras despesas com o transporte.

Depois que grandes fazendeiros de café contrataram estrangeiros


para trabalhar em suas terras, os governos provinciais da região
seguiram o exemplo da iniciativa privada e desenvolveram
programas de incentivo à vinda de trabalhadores de outros países,
levando o Império a formular uma política oficial de imigração.
Com isso, criou-se um fluxo regular de chegada de estrangeiros
aos estados do Rio de Janeiro, de São Paulo e de Minas Gerais,
tradicionais zonas cafeeiras. Além da preocupação em obter mão
de obra para a agricultura, houve também o interesse de atrair
a população branca para o país, a fim de reduzir o número de
negros e mestiços no Brasil.

De acordo com estudos de Sidnei Machado (2008), “conflitos,


desentendimentos, greves, denúncias de cobranças de taxas
abusivas pelo importador, rebeldia contra o controle moral e
disciplina severa imposta nas colônias” foram recorrentes durante
a implantação deste novo sistema de trabalho.

Unidade 2 83
Universidade do Sul de Santa Catarina

Síntese

Para fazer uma síntese desta unidade, tomaremos os objetivos de


estudo estipulados no início.

Conhecemos a estrutura econômica formada no período após


a independência do Brasil, em que o país assumiu a postura
de Império com a vinda da Família Imperial. Analisamos que
os avanços da agricultura e os caminhos tomados pela cultura
do café, no decorrer deste período, levaram o país a status de
economia agroexportadora. Enquanto isso, o continente europeu
se preparava para se tornar uma economia industrial. Assim,
é possível compreender as políticas tomadas pelo governo
para direcionar a economia brasileira de acordo com o cenário
econômico internacional na época.

O processo de industrialização estava muito ligado ao processo


do fim da escravidão, já que a industrialização requeria mão
de obra assalariada e vasto mercado consumidor. Assim,
conhecemos as primeiras tentativas de industrialização brasileira
dentro de um contexto de Revolução Industrial na Europa e,
paralelamente, a transição do trabalho escravo para o trabalho
livre. Por fim, destacamos o tema da imigração e da proibição do
tráfico internacional e os conflitos gerados entre os latifundiários,
industriais e governo, mostrando que, realmente, a sociedade
brasileira não estava preparada para uma mudança radical no
modo de produção econômica.

84
Formação Econômica do Brasil

Atividades de autoavaliação

Ao final de cada unidade, você realizará atividades de


autoavaliação. O gabarito está disponível no final do livro
didático. Mas, esforce-se para resolver as atividades sem a ajuda
do gabarito, pois, assim, você estará promovendo (estimulando) a
sua aprendizagem.

1) No período Imperial, o Brasil atingiu o superávit na balança


comercial apesar das crises de produção. Identifique que
produto teve destaque nas exportações, explicando o porquê.

2) O Brasil já apresentava sinais de industrialização no Período


Imperial. Descreva que tipo de estabelecimento deu início ao
processo de industrialização nesta época.

Unidade 2 85
Universidade do Sul de Santa Catarina

3) A transição do trabalho escravo para o trabalho livre foi muito


complicada e difícil para os fazendeiros e as oligarcas. Qual o
registro feito de primeiras experiências com o trabalho livre?
Assinale a alternativa correta.

a) ( ) Uma das primeiras experiências com o trabalho livre foi


nas fazendas de café por iniciativa do senador Nicolau de
Campos Vergueiro;

b) ( ) Uma das primeiras experiências com o trabalho livre foi


consolidada por Eusébio de Queirós em fazendas no Rio
Grande do Sul;

c) ( ) O trabalho livre foi primeiramente implantado nas


fazendas de café no interior de São Paulo.

86
Formação Econômica do Brasil

Saiba mais

FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. São Paulo:


Companhia Editora Nacional, 1974.

KOSHIBA, Luiz e PEREIRA, Denise Manzi F. História do


Brasil. São Paulo: Atual, 2003.

LACERDA, Antônio C. et al. Economia brasileira. 3. ed. São


Paulo: Saraiva, 2006

PRADO, Luiz Carlos Delorme. A Economia Política das


Reformas Econômicas da Primeira Década Republicana. IV
Encontro da SEP. Anais eletrônicos... Porto Alegre, 1999.
Disponível em: <http://cac-php.unioeste.br/cursos/toledo/
historiaeconomica/eeb1-2.pdf>. Acesso em: 1 abr. 2010.

SCHULZ, John. O Exército na política, origens da


intervenção militar: 1850-1894. São Paulo: EDUSP, 1994.

THOMPSON, Jorge. La guerra del Paraguay. Buenos Aires:


Juan Palumbo, 1910.

Unidade 2 87
3
UNIDADE 3

A República Velha: formação do


capital industrial (1889-1930)

Objetivos de aprendizagem
„„ Conhecer as políticas econômicas tanto do modelo
agroexportador como da industrialização no Brasil.

„„ Entender a emergência da economia exportadora


capitalista e a formação do capital cafeeiro e industrial.

„„ Compreender as configurações políticas que se


apresentaram no período da República Velha.

„„ Analisar os acordos de defesa do café, assim como os


investimentos na indústria.

Seções de estudo
Veja, a seguir, as seções que compõem esta unidade de
aprendizagem.
Seção 1 Configuração econômica

Seção 2 Configuração política

Seção 3 A industrialização no contexto


da República Velha
Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo


Entramos na República Velha, que começou em 1889, com a
Proclamação da República, e foi até 1930, com a crise que culminou
na Revolução de 30 e, consequentemente, no Golpe de Estado.

É importante lembrar que o café foi o responsável pelo


desenvolvimento econômico do país, apesar das dificuldades
financeiras e da declarada dependência econômica do Brasil à
Inglaterra.

Nesta unidade, veremos que o café continua sendo, durante a


república velha, o principal produto motor da economia nacional
e praticamente o único, resultando em grandes dificuldades para
se gerenciar as contas nacionais. No entanto, o governo identifica
a necessidade de desenvolver políticas econômicas que promovam
a industrialização do país.

A primeira seção descreverá uma configuração econômica


que se instalou diante dos fatos históricos de mudanças. Já a
segunda seção nos esclarece sobre as configurações políticas,
principalmente a Política dos Governadores e a Política do Café
com Leite. Ambas tiveram o coronelismo como base para o seu
desenvolvimento. A terceira seção demonstra o desenvolvimento
da formação industrial e o surgimento das iniciativas de fomento
deste setor econômico. O setor agroexportador da economia
cafeeira, com grande importância da balança comercial,
juntamente com a borracha e o próspero setor pecuário, caminha
em paralelo ao tímido processo de industrialização do Brasil.

Assim, convidamos você a acompanhar a configuração econômica


e política da República Velha e, por consequência, o processo de
industrialização no Brasil durante esse período.

90
Formação Econômica do Brasil

Seção 1 – Configuração econômica


Com a Proclamação da República, a estrutura econômica do país
modificou-se também, influenciando e sendo influenciada pela
instabilidade política. A política econômica, naquele momento,
oscilava desde o papelismo exacerbado de Rui Barbosa até o
metalismo igualmente exacerbado de Joaquim Murtinho. Este
período é marcado pela volatilidade das taxas de câmbio e dos
fluxos de capitais, mas também pelo sucesso da economia cafeeira
e da rápida ascensão da borracha.

As expectativas, com a conjuntura que se apresentava, eram


animadoras. Esperava-se que o fim do império implicasse em
melhorias na situação econômica e social brasileira, já que o
mesmo ocorreu com os Estados Unidos da América. O esperado
era que este seria um momento de gênese de um Brasil moderno,
porém esquecendo que a Modernidade seria sempre incompleta
no caso do Brasil.

No entanto, os fatos não confirmam as expectativas acima.


A primeira década republicana foi de muitas mudanças, mas
também de muitas crises, bancarrotas de negócios urbanos e
agrícolas, além de uma instabilidade política.

As reformas econômicas do período não atenderam às


expectativas dos setores progressistas do movimento republicano.
Além das sucessivas crises que levaram à ascensão de Joaquim
Murtinho, como ministro da fazenda, depois de nove ministros
em nove anos de república.

De acordo com Fonseca (2008. p. 03):

O clima de revolta que caracterizou este período reflete


as frustrações com as promessas não cumpridas da
República. A descentralização republicana transforma-
se em regionalismo. A política dos Governadores marca
uma nova estabilidade oligárquica, fundada no poder
econômico e político regional anos de república, marca o
fim dessas ilusões.

Unidade 3 91
Universidade do Sul de Santa Catarina

Fonseca (2008, p. 03) explica, ainda, que:

[...] o progresso, um conceito fundamental na visão


positivista de mundo, seria consequência inevitável da
aplicação da razão (e do conhecimento) para os negócios
de Estado. A descentralização política e administrativa
liberaria o potencial criativo dos estados. A atrasada
monarquia seria substituída por um dinâmico governo,
moderno e democrático, em que os interesses dos
agricultores seriam respeitados, mas também haveria
espaço para os crescentes negócios urbanos, no comércio,
nas finanças, nos serviços e até em determinados ramos
industriais.

A República viria a ser herdeira de uma crise financeira que já se


esboçava nos últimos anos do império. Desde o início da década
de 1880, o aumento da demanda por moeda, em consequência
do crescimento econômico do país e da difusão do trabalho
assalariado, acarretava em cada vez mais frequentes reclamações a
respeito da falta de meios de pagamentos.

O antigo sistema de escrituração das dívidas e


a compensação periódica , dos compromissos
financeiros no campo, na época das safras, davam
lugar à crescente necessidade de dinheiro por parte
dos fazendeiros.

Como a demanda de dinheiro crescia sazonalmente por ocasião


das safras, nesse período a demanda por adiantamentos nos
bancos do Rio de Janeiro aumentava sensivelmente. A abolição
agravaria esse problema, obrigando o governo a fazer uma
reforma monetária que atendesse às demandas da sociedade.

O Encilhamento
A situação mudou com a abolição da escravatura e a grande
imigração, no final do Período Imperial. Com o trabalho
livre e assalariado, o dinheiro passou a ser utilizado por todos,
ampliando o mercado de consumo. Porém, o grande desafio
era superar a escassez de moeda, agravada pelo crescimento do
trabalho assalariado, resultado do fim da escravidão e da maciça
chegada de imigrantes.

92
Formação Econômica do Brasil

Figura 3.1: Populares se agitam em frente à Bolsa de Valores do


Rio de Janeiro
Fonte: História Viva.
Disponível em: <http://www2.uol.com.br/historiaviva/
reportagens/img/encilhamento.jpg>. Acesso em: 20 ago. 2010.

Durante a escravidão, os fazendeiros eram encarregados de fazer


as com­pras para si, para seus escravos e agregados. O mercado de
consumo estava praticamente limitado a essas compras, de maneira
que o dinheiro era utilizado quase exclusivamente pelas pessoas
ricas. Por isso, as emissões de moeda eram irregulares: emitiam-se
as mesmas conforme a necessidade e sem muito critério.

O Governo Provisório adotou uma política emissionista, por


meio de um Decreto, em 17 de janeiro de 1890. A administração Governo Provisório:
monarquista deixara-lhe um Tesouro falido, mas Rui Barbosa, Compreende o governo
Ministro da Fazenda, obstinado diante de seus objetivos de de Deodoro da Fonseca de
1889 a 1991.
substituir a antiga estrutura agrária, baseada na exportação de
café, promoveu a industrialização e incentivou o crescimento
econômico.

Unidade 3 93
Universidade do Sul de Santa Catarina

Em que consiste a política emissionista? A política


emissionista foi a primeira política econômica adotada
no período Republicano. Ela foi instituída pelo decreto
de 17 de janeiro, que autorizava alguns bancos a
emitirem mais dinheiro, tendo como reserva ou lastro
os títulos da dívida pública, no lugar do ouro. Por
sua vez, o dinheiro que os bancos emitissem seria
prioritariamente destinado à diversificação da lavoura
e às atividades industriais.

Rui Barbosa dividiu o Brasil em quatro regiões, autorizando, em


cada uma delas, um banco emissor. As quatro regiões autorizadas
eram: Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul. O
objetivo da medida era cobrir as necessidades de pagamento dos
assalariados – que aumentaram com a abolição – e, além disso,
expandir o crédito, a fim de estimular a criação de novas empresas.

Todavia, a desenfreada política emissionista acarretou uma


inflação incontrolável, pois os “papéis pintados” não tinham
como lastro outra coisa que não a garantia do governo. Por isso,
o resultado foi muito diverso do espera­do: em vez de estimular
a economia a crescer, desencadeou uma onda especulativa. Os
especuladores criaram projetos mirabolantes e irrealizáveis e,
em seguida, lançaram as suas ações na Bolsa de Valores, onde
elas eram vendidas a alto preço. Desse modo, algumas pessoas
fizeram fortunas da noite para o dia, enquanto seus projetos
permaneciam apenas no papel. Esse processo foi chamado de
encilhamento.

O encilhamento foi o termo usado para a política


de emissão de dinheiro em grande quantidade, que
redundou numa desenfreada especulação na Bolsa
de Valores. O termo faz analogia ao momento em que
se apertavam, com as cilhas (tiras de couro), as selas
dos cavalos, por ser o instante em que as tensões
transpareciam no nervosismo das apostas.

Em 1891, depois de um ano desta loucura especulativa, Rui


Barbosa se deu conta do cará­ter irreal de sua medida e tentou
remediá-la, buscando unificar as emissões no Banco da República
dos Estados Unidos do Brasil. Mas a demissão coletiva do
ministério naquele mesmo ano frustrou a sua tentativa.
94
Formação Econômica do Brasil

Após a renúncia de Deodoro da Fonseca, seu vice, Floriano


Peixoto, assumiu o poder. A ascensão de Floriano foi considerada
como o retorno à legalidade. As Forças Armadas – Exército e
Marinha – e o Partido Republicano Paulista, apoiaram o novo
governo. Os primeiros atos de Floriano foram: a anulação do
decreto que dissolveu o Congresso; a derrubada dos governos
estaduais que haviam apoiado Deodoro; o controle da especulação
financeira e da especulação com gêneros alimentícios, pelo seu
tabelamento. Tais medidas desencadearam, imediatamente,
violentas reações contra Floriano. Para agravar ainda mais a
situação, a esperada volta à legalidade não aconteceu.

O mercado interno
Na última década do século XIX, o mercado de consumo se
expandiu e se transformou, devi­do à implantação do trabalho
livre. Na época da escravidão, os senhores concentravam o poder
de compra, já que eles adquiriam os produtos necessários não
apenas para si e sua família, mas também para os escravos. Antes
da imigração dos europeus, o mercado de consumo interno era
fundamentalmente formado pelos fazendeiros.

Com a introdução do trabalho livre, não apenas os escravos


foram emancipados, mas também os consumidores. Com isso,
constituiu-se um mercado consumidor interno formado não
somente por fazendeiros como também por trabalhadores,
colonos e ex-escravos, pequenos camponeses, etc.

Consumidores, com dinheiro na mão, decidiam por si


mesmos o que e onde comprar. Com isso, o mercado de
consumo se pulverizou. Esse crescimento e segmentação do
mercado de consumo exerceram uma pressão poderosa na
modernização da economia brasileira (TREVISAN, 1982).

A cafeicultura se mantinha como a principal atividade econômica


no Brasil, mas seguia crescendo dentro dos moldes coloniais.
Devido ao domínio político dos latifundiários, a cultura do café,
assim como de outros produtos agrícolas, era necessária para
preservar o caráter colonial da economia nacional. Por sua vez, a
cafeicultura, como produto agroexportador, serviu para financiar
a importação de produtos manufaturados.

Unidade 3 95
Universidade do Sul de Santa Catarina

Devido à monocultura, o desenvolvimento econômico brasileiro


se tornou fraco. Isso porque não se investia na produção
de produtos manufaturados e tampouco na agricultura de
subsistência (TREVISAN, 1982).

Figura 3.2: Plenário do Senado 1915


Fonte: WIKIPÉDIA. Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/01/
Plenariosenado1915.jpg> Acesso em: 20 ago. 2010.

Com este crescimento do mercado interno consumidor,


consequência da abolição, e, depois, da imigração, as importações
de produtos manufaturados e alimentícios aumentaram. Em
decorrência disso, as exportações não acompanharam este
crescimento na mesma proporção. Para poder seguir importando
mesmo assim, o governo precisou fazer empréstimos com outros
países, principalmente com a Inglaterra, país que tornou-se o
maior credor do Brasil.

Foi necessário, então, um acordo com os credores ingleses para


saldar as dívidas externas antes que se agravasse de vez uma
crise por falta de capacidade de liquidar as dívidas. Com isso,
Campos Sales renegociou a dívida, atrasando os pagamentos
e continuando a emprestar dinheiro da Inglaterra. De acordo
com Trevisan (1982), “o Brasil substituiu o pagamento em
dinheiro por pagamento em títulos dos juros dos empréstimos
anteriores e um novo empréstimo lhe foi concedido para criar

96
Formação Econômica do Brasil

condições futuras de pagamento dos débitos”.


Este acordo se chamou funding loan (empréstimo
de consolidação) e afetou a indústria e o comércio
nacionais.

A economia da cafeicultura
O Brasil se apresentava com 70% da produção
mundial de café. Este enorme surto no cultivo de
café no Brasil deveu-se à imigração europeia, que
agregou mão de obra a esta atividade econômica.
Figura 3.3: Joaquim Duarte Murtinho
A organização da economia cafeeira se constituiu Fonte: MINISTÉRIO DA FAZENDA. Disponível em:
num complexo de fazendas de café espalhadas <http://www.fazenda.gov.br/portugues/
pelo interior de São Paulo, principalmente, institucional/ministros/rep010.jpg> Acesso em: 20
ago. /2010.
porém distantes dos grandes centros urbanos.
A distância destes centros, onde se vendia a
produção, era agravada pelas difíceis condições de transporte.
Na época, ainda se utilizava muito o transporte por muares.
Os latifundiários entregavam a sua produção aos chamados
comissários para colocá-la no mercado. Geralmente, tratava-se
de pessoas de confiança com a missão de realizar as vendas no
lugar do fazendeiro. Com o passar dos tempos, este comissário
identificou a oportunidade e passou a intermediar grandes cargas
entre produtores e exportadores (TREVISAN, 1982).

Como vocês podem ver no fluxograma abaixo, aparece ainda


outro intermediário: os ensacadores. Estes compravam o café dos
comissários nas casas comissárias, classificavam e uniformizavam
o produto de acordo com o que os consumidores estrangeiros
buscavam. Os comissários se profissionalizaram e passaram a atuar
também financiando a produção, por conta da safra a ser colhida.

Em meados de 1896, essa estrutura apresentada abaixo começou


a mudar. De acordo com Trevisan (1982), os intermediários
caíram e os exportadores passa­ram a procurar diretamente os
fazendeiros para negociar a compra antecipada das safras e assim
aumentar os lucros.

Unidade 3 97
Universidade do Sul de Santa Catarina

Fazendeiros
Comissários

Exportadores
Ensacadores
/importadores
comissários

Fluxograma 3.1: Esquema de venda da safra de café até 1896.


Fonte: a autora.

Figura 3.4: Sacas de café em grão


Fonte: VISÃO GLOBAL. Disponível em: <http://visaoglobal.org/wp-content/uploads/2008/02/cafe.
jpg> Acesso em: 20 ago. 2010.

98
Formação Econômica do Brasil

De acordo com Prado Jr (1969), por um lado, esta expansão


da produção cafeeira acarretou em riqueza e progresso; por
outro lado, a super superprodução se faria presente em vários
momentos, criando ciclos econômicos do café e influenciando as
políticas econômicas de estabilização e equilíbrio.

Desde 1895, a economia cafeeira oscilava entre crises econômicas


de superprodução. Enquanto a produção do café crescia, o
mercado consumidor europeu e norte-americano não se expandia
suficientemente para absorver a oferta. Logo, sendo a oferta
maior do que a procura, o preço do café despencou no mercado
internacional, trazendo sérios riscos para os latifundiários.

A produção de café deu um salto de um milhão de sacas acima da


capacidade de consumo do mercado internacional nos primeiros
dois anos do século XX (para mais de quatro milhões em 1906),
alarmando o setor cafeeiro (TREVISAN, 1982).

Segundo Prado Jr. (1969, p. 173), chegou-se a uma situação


Política de valorização:
efetivamente mais grave em 1906, pois “os preços, em declínio a política de valorização
desde muito, chegam agora, com a valorização da moeda, a um do café compreendia
nível nitidamente abaixo do custo de produção”. Ainda assim, medidas financeiras
o produtor era o único a sentir tal crise, que levou à primeira que mantivessem
intervenção oficial no mercado cafeeiro, evitando a risco da venda baixo o valor da moeda
nacional (desvalorização
do produto por um baixo preço. da moeda). Com isso,
os latifundiários do
A intervenção feita foi mal escolhida. No lugar da criação de café teriam seus lucros
um de crédito que socorresse os produtores e não os levasse a preservados mesmo que o
venderem precipitadamente a sua produção, o governo optou por café estivesse com baixos
preços nos mercados
retirar o contingente extra da produção do mercado, comprando
exteriores. Houve outra
o excedente e forçando a alta nos preços. política de valorização
decorrente do Convênio de
Juntamente com esta política, o presidente Afonso Pena pôs em Taubaté.
prática uma política de valorização, ainda que ela prejudicasse as
importações de manufaturados e a implantação de novas fábricas
pelo fato de que as máquinas e os equipamentos importados
estavam mais caros. Veremos mais a fundo esta questão das
políticas de valorização na próxima seção sobre a configuração
política do Brasil.

Unidade 3 99
Universidade do Sul de Santa Catarina

Os governadores de São Paulo, Minas Gerais e Rio de janeiro


reuniram-se, na cidade de Taubaté, interior de São Paulo, para
assinar o Convênio de Taubaté (1906). Eles decidiram que o
próprio governo buscaria um empréstimo junto ao capital financeiro
inglês para comprar o excedente de café produzido no país.

Apesar de o governo federal ser contra a este convênio, a solução


dada pelo Convênio de Taubaté foi implementada. De 1906
a 1910, cerca de oito milhões e quinhentas mil sacas de café
haviam sido retiradas de circulação no mercado (TREVISAN,
1982).

Furtado (1987, p. 141) nos esclarece que, neste convênio,


definem-se as bases desta política de valorização do produto. Esta
política consistia:

a) na compra do excedente por parte do governo, com


o objetivo de restabelecer o equilíbrio entre oferta e
procura de café;

b) no financiamento desta intervenção comercial do


governo, que far-se-ia com empréstimos estrangeiros;

c) na instituição de um novo imposto sobre cada saca de


café exportada para cobrir este empréstimo, que seria
cobrado em ouro;

d) na promoção de políticas para diminuir a expansão das


plantações, pelos governos dos estados produtores, a fim
de evitar futuras crises.

Ao longo deste período de vigências das políticas econômicas


para salvar o mercado cafeeiro, agentes financeiros internacionais
e produtores se aproveitaram da boa situação econômica do
café. Porém, as políticas não se sustentaram por muito tempo.
Verificaram-se, então, sintomas clássicos de superprodução e de crise
do café: o declínio de preços e a formação de estoques invendáveis.

100
Formação Econômica do Brasil

O ciclo da borracha (1877-1913)


Em meio ao período relativamente próspero da cafeicultura
no Brasil, surgiu um ciclo importante, o da borracha, devido
às demandas internacionais desta matéria-prima como insumo
da industrialização. A região amazônica começou, então, a
presenciar a vinda de empresários, fazendeiros e trabalhadores
em busca do “ouro negro”.

Assim, como exposto no Tom da Amazônia (FRM, 2010):

[...] uma intensa migração de homens vindos de todas


as partes do mundo. Fascinados pela promessa de
riqueza, novas levas de europeus atravessaram o oceano,
aventuraram-se em cidades e vilas até então isoladas
na floresta. O contingente mais numeroso era de sírio-
libaneses, especializados no comércio, mas vieram
também italianos, franceses, portugueses e ingleses em
grande número.

A Revolução Industrial estava em plena ação na Europa e abriu


inúmeras possibilidades de utilização da borracha natural.
Contudo, as limitações impostas pelas estações do ano refreavam
o seu aproveitamento. A borracha tornou-se extremamente
necessária para a fabricação de pneus de bicicletas e automóveis.
A Europa acelerou os processos de aperfeiçoamento e,
rapidamente, impulsionou a procura pelo insumo.

Unidade 3 101
Universidade do Sul de Santa Catarina

Figura 3.5: Indústria automobilística


Fonte: MANIA DE HISTÓRIA. Disponível em: http://maniadehistoria.files.wordpress.com/2009/04/
ford_model_t_henry.jpg. Acesso em: 20 ago. 2010.

O trabalho de extração e de produção do látex era penoso e


a procura por borracha aumentava no mercado internacional.
Precisava-se de mais trabalhadores. Como forma de resolver
essa demanda, os portugueses passaram a utilizar a mão de
obra cabocla e mameluca até 1877. Entretanto, desde 1844,
nordestinos, principalmente do Ceará, ocuparam áreas da
Amazônia, formando a primeira leva dos chamados “soldados
da borracha”. Mais tarde, em 1879, outra seca no Nordeste
impulsionou mais um movimento de pessoas rumo aos seringais.

O Nordeste do Brasil, empurrado pela miséria e


pelas grandes secas, como as de 1877 e 1878. Antes
que o século findasse, mais de 300 mil nordestinos,
principalmente do sertão do Ceará, migraram para a
Amazônia. Nos seringais, esses homens valiam menos
que os escravos. Na outra extremidade da sociedade
regional, os seringalistas e grandes comerciantes
usufruíam da riqueza fácil proporcionada pela borracha.
(FUNDAÇÃO ROBERTO MARINHO, 2010).

102
Formação Econômica do Brasil

O ciclo da borracha foi considerado um período “dourado”


para a Amazônia, beneficiando o surgimento de uma elite que
estabeleceu um sistema de aviamento, e que, a seu modo,
marcaria as relações socioeconômicas na região. Sistema de aviamento:
o comerciante ou
A presença dos nordestinos no sistema de aviamento contribuiu aviador adiantava bens
de consumo e alguns
para um processo de escravização de sua mão de obra na extração
instrumentos de trabalho
da borracha. Este sistema gerou, em Belém (Pará) e Manaus ao produtor, e este
(Amazonas), uma cultura urbana aos moldes europeus, tanto pela restituía a dívida contraída
sua oferta de mão de obra quanto pela abundância da arquitetura. com produtos extrativos e
agrícolas.

Fotografia 3.6: Belém ficou conhecida no Ciclo da Borracha como Paris N’América.
Fonte: Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/_lOSe7CxJx6Q/SZ9zqrM84zI/AAAAAAAAA2c/
wz5Gsz1Ctqo/s400/Belle+-+Bel%C3%A9m+ficou+conhecida+no+Ciclo+da+Borracha+como+Paris+
N+Am%C3%A9rica.jpg> Acesso em: 20 ago.2010.

Apesar de todo o movimento econômico gerado pela atividade da


extração da borracha, o sistema econômico era de exploração.

Para que, em 1904, o volume exportado ultrapassasse 2.000


toneladas e, em 1907, alcançasse 11.000, colocando o Acre
em primeiro lugar entre as regiões produtoras do Brasil, os
trabalhadores tinham que caminhar por picadas de quatro a seis
quilômetros até as seringueiras. Eles construíam choupanas perto
das estradas, ficavam isolados por semanas a espera de transporte
fluvial com artigos de consumo (PRADO Jr., 1969). Segundo o
autor, seria nos dias de folga que os seringueiros se afundavam

Unidade 3 103
Universidade do Sul de Santa Catarina

na bebida com o pouco salário que tinham recebido, criando,


assim, um processo de dependência permanente por estarem
em dívida com a mercearia, que era do próprio seringalista. “As
dívidas começam logo ao ser contratado: ele adquire a crédito os
instrumentos que utilizará, e que, embora muito rudimentares (o
machado, a faca, as tigelas onde recolhe a goma), estão acima de
suas posses, em regra nulas” (PRADO Jr., 1969, p. 179).

Em 1912, a exportação da borracha brasileira alcançou um total


de 42.000 toneladas, configurando o seu auge, a partir do qual
começou a entrar em declínio.

Este aumento da importância da borracha no cenário


internacional culminou nos interesses de terceiros em lucrar com
a mesma atividade. Os ingleses colheram sementes de seringueira
no Brasil e implementaram o cultivo na Malásia. Com isso, o
declínio da exploração da borracha foi fatal. Com o passar do
tempo, a produção da Malásia superou a brasileira.

Logo os ingleses implantaram enormes seringais


de cultivo no sudeste asiático, racionalizando e
modernizando a produção da borracha. Assim,
conseguiram reduzir de forma drástica os custos de
produção, que, na Amazônia, eram extremamente altos,
e derrubaram os preços internacionais. A rede de crédito
do sistema de aviamento era como um castelo de cartas
que desabou inteiro, uma vez que foi rompido pelos
grandes compradores internacionais. (FUNDAÇÃO
ROBERTO MARINHO, 2010).

Durante a Segunda Guerra Mundial, mais


precisamente no final de 1941, os países aliados
perderam o acesso à borracha asiática, que era
necessária para a indústria bélica. Para não sofrer
perdas na guerra, as autoridades norte-americanas
voltaram suas atenções para a Amazônia, que ainda
era o grande reservatório natural da borracha.

Diante deste cenário econômico, poderemos analisar a


configuração política que desencadeou as políticas econômicas no
Brasil.

104
Formação Econômica do Brasil

Seção 2 - Configuração política

A Proclamação da República e a participação militar


A política do Brasil esteve dominada pela oligarquia cafeeira,
em um período de transição do Brasil Imperial para o Brasil
República. Começaram, então, a surgir novos interesses no país,
associados à elite cafeeira, aos militares, às camadas urbanas e aos
imigrantes, que representavam a nova força de trabalho.

Segundo alguns, a República Velha pode ser dividida em dois


períodos: o primeiro período, chamado República da Espada,
de 1889 a 1894; e o segundo período, chamado República
Oligárquica, que durou de 1895 a 1930. Segundo outros
observadores, os militares só se afastaram definitivamente da
política com a ascensão de Campos Sales, em 1898.

Figura 3.7: Proclamação da República (óleo sobre tela de Benedito Calixto, 1893).
Fonte: <http://letrasdespidas.files.wordpress.com/2009/04/proclamacao-da-republica.jpg> Acesso
em: 20 ago. 2010.

No Brasil, em 1889, proclamou-se a República. Um grupo de


militares, liderado pelo marechal Deodoro da Fonseca (1889-
1891), derrubou a monarquia, e ele se tornou o nosso primeiro
presidente brasileiro, chefiando um Governo Provisório
com poderes ditatoriais. O exército, em conjunto com a
elite cafeeira do oeste paulista, principalmente, comandou o
movimento que acabou com a monarquia no país. Esta elite

Unidade 3 105
Universidade do Sul de Santa Catarina

agrária procurou conquistar o apoio dos setores urbanos, de


diferentes classes e das elites regionais, por meio da promoção
de seus ideais republicanos, de abolição da escravatura
e de federalismo, que garantiria a autonomia estadual.
A organização de um partido político, o PRP – Partido
Republicano Paulista, para defender este ideário, era evidente
(A FORMAÇÃO..., 2001).

Os republicanos históricos, chamados evolucionistas, eram maioria


e defendiam mudanças paulatinas, sem a participação popular. Isso
os marginalizava de todo o processo, principalmente da construção
do novo modelo político. Muitos cafeicultores eram monarquistas,
e alguns ainda possuíam escravos. Eles achavam que chegariam
ao poder disputando as eleições com os partidos tradicionais, pois
perceberam que o governo, como instrumento de ação econômica,
era, de alguma forma, estratégico para seus interesses. (A
FORMAÇÃO..., 2001).

Os militares haviam adquirido prestígio após a Guerra contra o


Paraguai. Com isso, eles conseguiram se estruturar e suas escolas
militares ganharam importância na sociedade. Passaram a ser
responsáveis pela formação ideológica da maioria dos soldados
das grandes cidades a partir da ideologia positivista. Destacamos
Benjamim Constant, professor da Escola Militar, dentro do
exército brasileiro. Constant acusava o ministério imperial de
falta de patriotismo por causa da punição de militares que se
recusaram a capturar negros foragidos e dos que criticaram os
desmandos de políticos corruptos. (A FORMAÇÃO..., 2001).

O positivismo, de acordo com o artigo aqui citado:

é uma ideologia que desenvolveu-se na França e ganhou


o mundo ocidental, tornando-se predominante já no final
do século XIX. O nome vem da obra de Augusto Comte,
“Filosofia Positiva”, quando o autor faz uma análise
sobre o desenvolvimento de seu país ao longo do século,
atribuído à indústria e a elite industrial, grupo esclarecido
e capacitado, que, se foi o responsável pelo progresso
econômico, deveria ser o responsável pelo controle do
Estado (A FORMAÇÃO..., 2001).

Esta concepção de relação capital-trabalho ganha uma forte


resistência e produção teória acerca da alienação do trabalhor.

106
Formação Econômica do Brasil

Karl Marx deflagrou seus escritos teóricos sobre este tema,


dizendo que a autoalienação do homem tinha sua raiz em uma Karl Marx: Seria
alienação do trabalhador, do produto de seu trabalho, o qual não um absurdo que a
pertence àquele para o seu usufruto, mas ao empregador. humanidade inteira se
dedicasse a trabalhar e a
produzir subordinada a
Como mencionado anteriormente, a República foi obra dos um punhado de grandes
partidos republicanos, principalmente de São Paulo. No entanto, empresários. A economia
logo que o objetivo foi alcançado, os “republicanos históricos” e do futuro, que associaria
os militares entraram em desacordo. Estes desacordos tinham todos os homens e povos
relação com a questão federalista, uma vez que os civis defendiam do planeta, só poderia ser
uma produção controlada
o federalismo e os  militares o centralismo do poder.
por todos os homens e
povos. Para Marx, quanto
Naquele momento de mudanças políticas, três forças de interesses mais o mundo se unificasse
se apresentaram. Nas camadas urbanas, o movimento republicano economicamente, mais ele
ganhava adeptos, e a elite agrária formava uma segunda força necessitaria do Socialismo.
disposta a chegar ao poder, mesmo de forma
moderada. Já os militares, com seus propósitos
positivistas, tornavam-se importantes como uma
terceira força política, mesmo que dividida e em
disputas internas. Estes últimos, de uma forma
geral, não compartiam com os mesmos ideais
dos políticos civis. Entretanto, fizeram alianças
com os evolucionistas não para garantir o fim da
monarquia, mas a manutenção da “ordem”. (A
FORMAÇÃO..., 2001).

A “Política dos Estados”, conhecida como


“Política dos Governadores”, e a Constituição Figura 3.8: Karl Marx (1818-1883)
da República Oligárquica Fonte: <http://blog.cancaonova.com/fatimahoje/
files/2007/12/karl-marx.jpg> Acesso em: 20 ago. 2010.

Em 1894, com a saída de Floriano Peixoto,


começou a se firmar a República Oligárquica, dominada pelas
oligarquias paulistas, mineiras e gaúchas.

Como mencionado antes, a República tornou-se realidade, em


grande parte, graças à aliança entre os militares e cafeicultores,
ainda que as duas partes tivessem ideais distintos quanto à forma
de organização do novo regime. Os militares eram centralistas e
os latifundiários eram federalistas.

Unidade 3 107
Universidade do Sul de Santa Catarina

Os militares não tinham suficiente influência para impor o seu


projeto nem contavam com aliados que pudessem lhes dar o poder
de que precisavam. Já os cafeicultores contavam com muitos aliados
e formavam o setor mais poderoso economicamente da sociedade.
Com Prudente de Morais, que sucedeu Floriano, em 1894, o poder
passou terminantemente para esses grandes latifundiários. Porém,
foi no governo de Campos Sales que se instituiu uma fórmula
política de dominação denominada “Política dos Governadores”
(TREVISAN, 1982).

Em que consistia a Política dos Governadores?

A Política dos Governadores consistia numa política de dominação


do poder nacional por elites econômicas do país. O presidente da
República teria que apoiar os governadores estaduais e seus aliados
e, em troca, os governadores garantiriam a eleição, ou a quantidade
de votos suficientes para garantir estas eleições em seus territórios.
Com isso, o poder Legislativo aprovava as leis de seu interesse.
Eliminavam-se, assim, os conflitos entre os dois poderes. As
oligarquias dominantes de cada estado, aliados ao governo federal,
se perpetuava no poder (TREVISAN, 1982).

Além disso, Trevisan (1982) nos explica que existia uma


oligarquia que dominava o poder federal e era composta pelos
políticos paulistas e mineiros. São Paulo e Minas Gerais moviam
grande parte da economia brasileira, e, consequentemente, se
instituiu uma política através da qual os lideres políticos destes
dois estados mais poderosos se revezariam na presidência. Esta
política ficou conhecida como a política do café com leite.

108
Formação Econômica do Brasil

Figura 3.9: Política dos Governadores


Fonte:< http://1.bp.blogspot.com/_lOSe7CxJx6Q/SX--DaeGMYI/AAAAAAAAAog/qE9WYZiAt6Q/
s400/Republica+do+Cafe+com+Leite.+Caricatura+de+Oswaldo+Storni,+sobre+as+elei%C3%A7%C
3%B5es+presidenciais+de+1910..jpg>. Acesso em: 20 ago. 2010.

Coronelismo
As peças para o funcionamento da Política dos Governadores
foram, basicamente, a Comissão de Verificação e o Coronelismo.
As eleições na República Velha não eram, como hoje, garantidas O termo “coronelismo”
por uma justiça eleitoral. A aceitação dos resultados de um teve sua origem nos
pleito era feita pelo poder Legislativo, por meio da Comissão “coronéis” da extinta
Guarda Nacional, criada
de Verificação. Essa comissão, formada por deputados, é que
em 1931, por iniciativa do
oficializava os resultados das eleições.   padre Diogo Antonio Feijó.

O Coronelismo existiu na vida política do interior do Brasil.


Tinha características de política municipal, onde existia voto,
eleição e concentração de terra em grandes propriedades.

A maioria da população morava nas terras de outros e estava


sujeita aos seus donos, numa dependência econômica e social
inadequada, marcada pela pobreza. A maioria dos eleitores, 70%,
pertencia à população rural. No Império, havia fazendeiros que
exerciam poder regional, mas não havia coronelismo.

Unidade 3 109
Universidade do Sul de Santa Catarina

O Coronelismo era, sobretudo, um compromisso, uma


troca de favores, caracterizada pelo poder público
progressivamente fortalecido e pelo poder privado
em decadência, relacionado à influência social dos
senhores de terras. O ponto de encontro destas
duas retas oferecia o ponto ótimo para a existência
do Coronelismo, portanto, este fenômeno tinha
relação com a estrutura agrária e estava baseado na
sustentação das manifestações de poder privado.

Política do Café com Leite


De acordo com o que estudamos anteriormente, na política
do governo republicano, continuavam as mesmas práticas
centralizadoras do Império, por meio da política dos Estados, que
controlava o poder local com os coronéis (Coronelismo), além de
dar sustentação aos presidentes.

O governo civil republicano assumia compromissos com o


objetivo de garantir a cooperação dos credores estrangeiros com
o novo regime, para pagar dívidas contraídas por cafeicultores
brasileiros. Era o camanho funding loan.

O Funding loan, já mencionado na seção anterior,


um acordo da dívida externa, foi pago à custa de
aumento de impostos, paralisação de obras públicas e
abandono da ideia de incentivo à indústria nacional.

Figura 3.10: Política do Café com Leite


Fonte: <http://www.historiabrasileira.com/files/2010/01/cafe-com-leite.jpg> Acesso: 20 ago. 2010.

110
Formação Econômica do Brasil

A configuração oligárquica ganhou espaço com a Política do


Café com Leite. São Paulo e Minas Gerais dominaram o governo
federal na maior parte desse período de 1894 a 1930 por meio
desta política. O café era referência a São Paulo, maior centro 1894 a 1930: Período que
produtor e exportador de café do país, e o leite era uma referência diz respeito ao segundo
a Minas Gerais, tradicional produtor de leite, além de segundo período da República
Velha, denominada
maior produtor de café na República Velha.
República Oligárquica, que
sucede a República das
A Política do Café com Leite que, inicialmente, foi o arranjo Espadas (1889-1894).
político no qual se lançava um paulista candidato a presidente
e um mineiro a vice presidente, surgiu com a preocupação de
Campos Sales com a estabilidade política do Brasil, que não
contava com partidos políticos organizados a nível nacional.

A base política deste sistema foi o coronelismo. Os coronéis,


grandes latifundiários, tinham o direito de formar milícias
em suas propriedades e de combater qualquer movimento
popular. Deste modo, os trabalhadores e camponeses se viam
subordinados ao poder militar e, sobretudo, político, dos
coronéis. Contrariar o candidato preferido do coronel na eleição,
por exemplo, era uma atitude que poderia resultar no assassinato
do indivíduo, uma vez que o voto era aberto. Essa dinâmica
eleitoral ficou conhecida como voto de cabresto.
Voto de cabresto:
Entretanto, no período compreendido entre a década de 1890 Consistia na coerção
e a década de 1930, o café paulista enfrentava, cada vez mais, a exercida pelos coronéis,
concorrência internacional, uma vez que o café de outros países obrigando seus
empregados e pessoas da
passava a apresentar preços mais competitivos. Assim, o imposto
comunidade a votar num
de exportação, que rotineiramente sofria aumentos e tinha candidato pré-acordado
importância crescente na arrecadação do estado de São Paulo, entre os membros da elite
passava a ser menos viável, pois ele aumentava o preço do café brasileira.
paulista no mercado internacional.

Com a quebra da Bolsa de Nova York, em 1929, o preço do


café brasileiro caiu drasticamente, o que levou os cafeicultores
paulistas a terem uma crise de superprodução. Esta fragilidade
econômica de São Paulo foi decisiva para que Minas Gerais
se juntasse com o Rio Grande do Sul e a Paraíba e formasse a
chamada Aliança Liberal, a qual resultou na eleição do gaúcho
Getúlio Vargas à presidência e no fim da política café com leite.

Unidade 3 111
Universidade do Sul de Santa Catarina

Seção 3 – A industrialização no contexto da


República Velha
Depois de diversas iniciativas, a indústria brasileira teve seu
primeiro surto considerável no último decênio do Império (1880-
89). O número de estabelecimentos industriais, pouco mais
de 200 em 1881, cresceu para mais de 600 no último ano da
monarquia. O capital investido no setor industrial

[...] sobe então a 400.000 contos (cerca de 25 milhões


de libras), sendo 60% na indústria têxtil, 15% na de
alimentação, 10% na de produtos químicos e análogos,
4% na indústria de madeira, 3 1/2% na de vestuário
e objetos de toucador, 3% na metalurgia. (PRADO
JUNIOR, 1969, p. 119).

Esta fase de progresso industrial prolongou-se na República,


correspondendo à febre de iniciativas dos primeiros anos do
novo regime. O brusco declínio do câmbio que se verificou
ainda reforçaria a situação próspera da indústria. Além disso,
o rompimento do equilíbrio conservador do Império abriria as
portas para uma política emissionista mais consciente, de amparo
à produção do país. As tarifas alfandegárias seriam sucessivas e
grandemente elevadas, e já, desta vez, com o objetivo deliberado
de protecionismo industrial.

A revalorização da moeda, depois de 1898, trouxe novas


dificuldades para as indústrias. Mas a política de saneamento
financeiro as compensaria com um fator que, sobretudo no
futuro, seria para elas de grande significação: a cláusula ouro.
Cláusula ouro é a cobrança em Esta medida, adotada para permitir ao Tesouro Público fazer
ouro de uma porcentagem dos frente a seus compromissos externos, sem sofrer as contingências
direitos alfandegários. das oscilações cambiais, representou, desde logo, um acréscimo
considerável de tarifas. Ela funcionaria, no futuro, como um
reforço da barreira tarifária em consequência de qualquer nova
depreciação cambial, o que, aliás, se verificaria continuamente
dali por diante.

A distribuição das atividades industriais ainda manteve, em


1907, a estrutura anterior: a indústria têxtil e a de alimentação
compreendiam a parte substancial do conjunto. Outro caráter
a assinalar era a sua extrema dispersão. Somente as indústrias

112
Formação Econômica do Brasil

de fiação e tecelagem de algodão, lã e juta, apresentavam certa


concentração. Nas demais, encontrava-se excepcionalmente
algum grande estabelecimento, o resto era de pequenas unidades,
que não passavam de modestas oficinas com reduzido número de
operários e inversão insignificante de capital.

A abertura dos portos ao livre comércio exterior, em 1808,


aniquilou a rudimentar indústria artesanal que existia na colônia.
Não somente se abriram os portos, mas permitiu-se que as
mercadorias estrangeiras viessem concorrer no mercado brasileiro
em igualdade de condições com a produção interna, graças a
tarifas alfandegárias muito baixas (15% ad valorem), que se
mantiveram até 1844.

Além das condições gerais, que embaraçavam o progresso


industrial do Brasil, ocorreram circunstâncias específicas, que
dificultaram excessivamente o estabelecimento da indústria
moderna no país.

Mas o que, afinal, dificultava o estabelecimento da


indústria moderna no Brasil?

1) A deficiência das fontes de energia. O Brasil era pobre


em carvão de pedra, e as jazidas existentes eram de
qualidade inferior, além de sua exploração ser difícil e
precária. A energia abundante era condição primordial
da moderna indústria maquinofatureira, mas, no
século passado, não podia ser fornecida em quantidade
apreciável. Nem a lenha nem a força motriz da água ou
do vento, que eram as únicas fontes então disponíveis,
eram suficientes.

2) Além da deficiência de energia, faltou ao Brasil


outro elemento fundamental da indústria moderna: a
siderurgia. Neste caso, a matéria-prima era abundante,
pois o território brasileiro encerrava uma das principais
reservas de ferro do universo, tanto em qualidade
como em quantidade. Porém, as fontes se encontravam
em lugares de difícil acesso para os grandes centros

Unidade 3 113
Universidade do Sul de Santa Catarina

consumidores do país, e a falta de carvão de pedra


(embora parcialmente substituível pelo de lenha)
embaraçava o seu aproveitamento.

3) Mas o que, sobretudo, dificultava o estabelecimento


da indústria moderna no Brasil era a deficiência dos
mercados consumidores, cuja amplitude encontrava,
na produção em larga escala - que caracterizava a
maquinofatura - uma condição essencial que nada podia
suprir. A situação brasileira, neste particular, era a mais
inconveniente. O nível demográfico e econômico do país
e o padrão de vida da sua população eram ínfimos. Isto
ainda se agravava pela estrutura compartimentada das
diferentes regiões brasileiras, largamente separadas umas
das outras e desarticuladas pela falta de transportes.

Assim, como explica Luiz Carlos Delorme Prado (1999, p. 2):

Modernidade sempre incompleta, desde sua origem


assombrada por uma sociedade dividida, partida entre
manchas regionais transformadas pelo sucesso de um
crescimento derivado do dinamismo das exportações, e a
insuficiente difusão dos frutos do crescimento econômico,
entre as famílias e entre as regiões.

A orientação da economia brasileira, organizada em produções


regionais que se voltam para o exterior, impedira a efetiva
unificação do país e o estabelecimento de uma estreita rede de
comunicações internas, que as condições naturais já tornavam,
por si só, muito difíceis. Os poucos milhões de habitantes
espalhavam-se ao longo de um litoral de quase 6.000km
de extensão, e sobre uma área superior a 8 milhões de km²,
agrupando-se, por isso em pequenos núcleos largamente
apartados uns dos outros, e sem contatos apreciáveis. Era assim
constituído o mercado que se oferecia à indústria brasileira, e que
não lhe podia ser mais desfavorável.

A Primeira Grande Guerra (1914-1918) trouxe um grande


impulso à indústria brasileira. Não somente a importação dos
países beligerantes, que eram nossos habituais fornecedores
de manufaturas, declinou e, até mesmo, se interrompeu em
muitos casos, mas também a forte queda do câmbio reduziu
consideravelmente a concorrência estrangeira.

114
Formação Econômica do Brasil

Alguns autores, como Prado Junior (1969), defendem que a I


Guerra Mundial representou um marco na industrialização
brasileira. O fluxo de importações interrompido abriu, à indústria
instalada no Brasil, a possibilidade de ampliar suas vendas.

Figura 3.11: Primeira Guerra Mundial (1914-1918)


Fonte: <http://3.bp.blogspot.com/_xtdQEPHToBc/RzViq53Ek4I/
AAAAAAAAAmg/3Vx_GNSYF0g/s1600-h/Primeira_Guerra_Mundial.jpg>
Acesso em: 20 ago. 2010.

No entanto, o crescimento de qualquer atividade implica em


novos investimentos, traduzidos na incorporação de mais
máquinas, matérias-primas e trabalho para a produção. Nesse
sentido, a guerra mais inibiu do que estimulou o crescimento
industrial, pois o conflito também impedia o fornecimento dos
produtos necessários às empresas brasileiras para a continuidade
de sua expansão.

De acordo com Prado Junior. (1969, p. 198):

No primeiro grande censo posterior à guerra, realizado


em 1920, os estabelecimentos industriais arrolados Crises de
somarão 13.336, com 1.815.156 contos de capital e superprodução: este
275.512 operários. Destes estabelecimentos, 5.936 tipo de crise acontece
tinham sido fundados no quinqüênio 1915-19, o que quando a produção de
revela claramente a influência da guerra. um determinado produto
ou de um conjunto deles
supera a capacidade do
Um acontecimento que atravessou todo o período republicano
mercado em absorvê-los.
anterior à Revolução de 30 foram as crises de superprodução
do café.

Unidade 3 115
Universidade do Sul de Santa Catarina

A desvalorização cambial foi a medida tomada pelos governos


Desvalorização cambial: da Primeira República para solucionar o persistente problema.
consiste na desvalorização da Isso também estava associado à política de valorização do café,
moeda nacional em sua relação discutida na primeira seção desta unidade.
com as moedas de outros países.

Como a libra esterlina intermediava todas as transações


financeiras e comerciais do Brasil, era ela que servia de referência
para o nível de desvalorização do mil-réis, que era a moeda
nacional. Consequentemente, com a mesma quantidade de
libras, era possível comprar um volume maior de café. Esse
recurso estimulava os importadores do café brasileiro, que se
aproveitavam da desvalorização cambial para comprar grandes
quantidades e fazer estoques. Ao simplesmente estimular a
formação de estoques sem nenhum aumento significativo do
consumo, os especuladores mantinham o café brasileiro no
mercado, o que resultava na queda de seu preço real.

Tanto as desvalorizações cambiais quanto as políticas


de valorização do café trouxeram consequências para
a indústria.

Ao desvalorizar a moeda nacional, o governo favorecia a venda


dos produtos nacionais de exportação; porém, para a felicidade
dos industriais, ele dificultava as importações, à medida que
uma mercadoria, cujo valor fosse estimado em libras, exigiria
uma quantidade maior da combalida moeda nacional. Contando
com mão de obra e matérias-primas baratas, os produtos
nacionais podiam concorrer e vencer facilmente os importados.
Desse modo, as desvalorizações cambiais, ao encarecerem os
importados, favoreceram a indústria nacional, ainda que a
intenção não fosse essa.

Quanto à política de valorização do café, sua relação com


a industrialização é um pouco mais complexa. Ao tomar
empréstimos para comprar o excedente de café, o governo
aumentava suas dívidas junto aos credores internacionais.

As receitas para o pagamento desses débitos originavam-se dos


impostos sobre importação ou sobre as sacas de café exportadas.
Durante algum tempo, os impostos sobre a importação

116
Formação Econômica do Brasil

beneficiaram a indústria nacional, uma vez que encareceram


os importados que concorriam com similares nacionais. Logo,
porém, a manutenção indiscriminada do imposto sobre a
importação transformou-se num obstáculo.

A indústria, quanto mais se expandia, mais necessitava da


incorporação de bens e equipamentos à produção, como ferro,
aço, máquinas, algumas matérias-primas, etc. Esses bens, que
chamaremos de bens de capital, não eram produzidos no Brasil,
o que levava os industriais a importá-los.

Os impostos sobre a importação não faziam


nenhuma discriminação e incidiam sobre todos os
produtos, inclusive sobre os bens de capital, que eram
normalmente os mais caros.

Para os industriais, interessava uma política que os protegesse da


concorrência, encarecendo os importados, ao mesmo tempo em que
facilitasse a aquisição de bens de capital. Seria necessário um Estado
que privilegiasse os interesses da indústria para que tais medidas
fossem adotadas, o que, de fato, só ocorreria depois de 1930.

Quanto ao caráter desta indústria recenseada em 1920, ela


se conservou mais ou menos idêntica à de 1907, tanto no que
dizia respeito à sua dispersão como à distribuição percentual da
produção. A modificação mais sensível seria a transferência para
o primeiro lugar das indústrias de alimentação, que passariam
de 26,7% da produção em 1907, para 40,2% em 1920, de acordo
com Prado Junior (1969). Isto ocorreu por causa do aparecimento
de uma nova indústria que tomaria um grande vulto durante a
guerra: o congelamento de carnes.

Estimulou-se o consumo crescente dos países beligerantes e


a exportação brasileira de carnes, que era nula até o conflito
e chegou a 60.509 toneladas anuais em 1918. Esta indústria,
localizada no Rio Grande do Sul, era o principal centro
pecuário no país desde o século XVIII, seguida por São Paulo,
que contava não somente com seus rebanhos, mas com os do
Triângulo Mineiro, Mato Grosso e também Goiás.

Unidade 3 117
Universidade do Sul de Santa Catarina

Chegando a este ponto de desenvolvimento, a


indústria passou a ocupar um lugar de grande
relevância na economia do país. Uma boa parcela
dos artigos manufaturados do seu consumo era de
produção interna, dispensando, assim, importações
correspondentes de artigos estrangeiros. Este será
um importante fator de equilíbrio das nossas contas
externas e da normalidade financeira do país.

É nesta conjuntura, aliás, que repousava, em grande parte,


a indústria: ela tornou-se um elemento indispensável ao
funcionamento normal da economia brasileira. Isto deu à
indústria uma grande segurança, mas teve, ao mesmo tempo,
consequências muito graves.

A maior parte das indústrias brasileiras viveu parasitariamente


das elevadas tarifas alfandegárias e da contínua depreciação
cambial. Não houve, para essas indústrias, a luta pela conquista e
pelo alargamento de mercados, que constitui o grande estímulo
das empresas capitalistas. Isto acabou sendo o responsável
principal pelo progresso vertiginoso da indústria moderna. Pode-
se dizer que os mercados viriam a elas, num apelo à produção
interna de artigos que a situação financeira do país impedia que
fossem comprados no exterior.

Quanto à concorrência entre os diferentes produtores nacionais,


esta sempre seria pequena, porque o campo era grande demais,
assim como os recursos deles reduzidos para empreendimentos e
aspirações de envergadura.

Além disto, a ação indiscriminada das tarifas e da depreciação


monetária tinha estimulado indústrias inteiramente fictícias,
simples atividades de “ajuntamento de peças”, que dependiam
de fontes externas e longínquas de abastecimento para todas as
suas necessidades, desde a maquinaria até a matéria-prima e os
insumos semiprocessados que elas empregavam.

De acordo com Prado Jr. (1969, p. 199),

Doutro lado, se as tarifas e a depreciação monetária asseguravam


a existência da indústria, também a oneravam consideravelmente
com o encarecimento do material que precisava adquirir no
exterior. Constituiu sempre como um obstáculo muito sério

118
Formação Econômica do Brasil

oposto à renovação e ao aperfeiçoamento das indústrias. As


já estabelecidas, mesmo quando obsoletas, gozavam com isto
de um privilégio contra que, dificilmente, podiam lutar com
concorrentes novos.

As circunstâncias gerais do país, já assinaladas em época anterior


e que, embora atenuadas, ainda persistiam (debilidade do mercado
interno, dificuldades de transporte, deficiência técnica), resultaram
em uma indústria rotineira e de baixo nível qualitativo. Não houve,
no seu conjunto, nem progresso técnico sustentado (uma das
características essenciais da indústria moderna), nem a paralela e
indispensável concentração da produção.

A maior parte da indústria brasileira continuará como antes:


largamente dispersa em unidades insignificantes, de rendimento
reduzido e produzindo exclusivamente para estreitos mercados
locais. Ainda assim, foi a carência de capitais que contribuiu para
uma situação tão precária da indústria. O baixo nível econômico
do país e, sobretudo, deficiências estruturais, tornam o processo
de capitalização lento e muito débil.

Não se chegará a formar no Brasil nada que se


parecesse com um mercado de capitais semelhante ao
de todos os países industriais da atualidade.

Para isto, seria necessário o agrupamento de camadas da


população que tivessem atingido certo nível de prosperidade
financeira. Isto não era possível nas condições econômicas e
sociais predominantes no país. A débil acumulação popular mal
dava para os empréstimos públicos.

Então, como se acumulou capital no Brasil?

A acumulação capitalista ainda é, essencialmente no Brasil,


um fato individual restrito. Aqueles que têm capitais aplicados
na indústria são unicamente indivíduos que lograram reunir
fundos suficientes para se estabelecerem nela por conta própria
e independentemente. Alguns obtiveram grandes lucros na

Unidade 3 119
Universidade do Sul de Santa Catarina

lavoura, particularmente no cultivo do café. Depois de 1907, o


café produzia larga margem de proveitos, graças à política de
valorização, mas o seu plantio estava limitado e havia o perigo
da recorrência da crise. Naquele período, muitos dos lucros
foram aplicados na indústria, que se desenvolveu com rapidez,
efetivamente, depois de 1910.

Outros enriqueceram nos momentos de grande atividade financeira,


nos períodos de crédito largo e especulação fácil, como por exemplo,
no período imediatamente posterior ao advento da República. O
jogo de bolsa e de câmbio representou, para aqueles que conseguiram
se salvar do desastre posterior, uma fonte de acumulação capitalista,
que foi, em parte, para alimentar a indústria.

Não podemos esquecer o papel das emissões de moeda fiduciária,


Moeda fiduciária: No princípio, realizadas para alimentar o crédito e o giro dos negócios ou, mais
os depósitos correspondiam frequentemente, para atender às necessidades do Tesouro Público.
exatamente à mesma quantidade Os excessos do meio circulante, que sempre ocorreram quando
de ouro nos cofres. Com o tempo,
as máquinas de imprimir moeda começaram a funcionar para
os banqueiros passaram a emitir,
por sua conta, recibos em maior atenderem aos gastos públicos indiscriminados e excessivos, ou para
quantidade que os depósitos de atenderem à especulação, acumularam-se nas mãos de privilegiados
ouro recebidos. O valor desses momentaneamente bem situados, e deram margem para a formação
recibos dependia da confiança de capitais que, de preferência, procuraram a indústria.
(fiducia, em latim) que o banco
emissor recebia. Portanto, é o
papel-moeda que tem valor pela
No decorrer da I Grande Guerra e no período imediatamente
confiança no emissor. posterior, houve grandes emissões, até 1924, quando estas
cessaram. Como, nestes casos, verificou-se uma elevação
geral dos preços e encarecimento da vida, que não foram
acompanhados no mesmo ritmo pelos salários e outros
rendimentos fixos, a acumulação capitalista se fez, efetivamente,
à custa de um empobrecimento relativo da massa da população,
sobretudo, de suas classes trabalhadoras, e do acréscimo de
exploração do trabalho.

É esta a verdadeira origem dos novos capitais formados. É o que


na linguagem técnica dos economistas ortodoxos denomina-se
poupança forçada. Trate-se de um tipo curioso de poupança,
pois quem “poupa” são os trabalhadores, mas quem se apropria
da “poupança” assim realizada são os capitalistas de seus
empregadores. Outra fonte importante de acumulação capitalista
no Brasil tem sua origem nos próprios lucros diretos e normais da
indústria e do comércio. Ela é condicionada, principalmente, pelo
caráter particular de seus detentores.

120
Formação Econômica do Brasil

Síntese

Estudamos, nesta unidade, a formação econômica que


compreende a República Velha. Ela teve início em 1889, com a
Proclamação da República, até 1930, com a crise que culminou
na Revolução de 30 e, consequentemente, no Golpe de Estado.

Durante a República Velha, o café continuou sendo o principal


produto motor da economia nacional, e praticamente o único,
trazendo grandes dificuldades para se gerenciar as contas
nacionais. No entanto, o governo identificou a necessidade de
serem desenvolvidas políticas econômicas que promovessem a
industrialização do país.

Na configuração econômica, estudamos os fatos históricos e


as mudanças que se instalaram. Entramos nos conceitos do
papelismo, postura adotada por Rui Barbosa como ministro, até
o metalismo, adotado por Joaquim Murtinho.

Além disso, o decreto de 17 de janeiro autorizava alguns bancos


a emitirem mais dinheiro, tendo como reserva ou lastro os títulos
da dívida pública. Este foi uma das políticas que incentivou a
industrialização no país, que resultou no chamado encilhamento.
Outra política que resultou no avanço econômico da economia
cafeeira foi o acordo firmado em Taubaté entre os cafeicultores
de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, que decidiram que
o governo tomaria um empréstimo junto ao capital financeiro
inglês e compraria o excedente produzido.

As configurações políticas da República Velha foram,


principalmente, a Política dos Governadores e a Política do Café
com Leite. Ambas tiveram o Coronelismo como base para o
seu desenvolvimento. O Coronelismo existiu na vida política do
interior do Brasil e tinha características de política municipal,
onde existia votação, eleição e concentração de terra em grandes
propriedades.

A Política dos Estados, conhecida como Política dos


Governadores, fez parte da chamada República Oligárquica.
Já a Política do Café com Leite foi o arranjo político no qual se

Unidade 3 121
Universidade do Sul de Santa Catarina

lançava um paulista candidato a presidente e um mineiro a vice-


presidente.

A terceira seção demonstrou o desenvolvimento da formação


industrial e o surgimento das iniciativas de fomento deste setor
econômico. Além da indústria, o setor agroexportador, como
o da economia cafeeira, que ainda tinha grande importância
da balança comercial, a economia da borracha, e o próspero
setor pecuário, caminhou em paralelo ao tímido processo de
industrialização do Brasil.

Fatores internos e externos impulsionaram a industrialização


do Brasil, como a Primeira Grande Guerra (1914-1918) e
as desvalorizações cambiais. Além das condições gerais que
embaraçavam o progresso industrial do Brasil, ocorreram
circunstâncias específicas que dificultaram sobremaneira o
estabelecimento da indústria moderna no país, tais como a
pressão dominante dos interesses dos grandes latifundiários em
suas atividades econômicas agrárias por políticas de investimento
para este setor, a deficiência das fontes de energia, etc.

122
Formação Econômica do Brasil

Atividades de autoavaliação

Ao final de cada unidade, você realizará atividades de


autoavaliação. O gabarito está disponível no final do livro
didático. Mas, esforce-se para resolver as atividades sem a ajuda
do gabarito, pois, assim, você estará promovendo (estimulando) a
sua aprendizagem.

1) O governo provisório instituiu uma política econômica


apelidada de Encilhamento. Cite e explique qual ministro foi
responsável por esta política e em que ela consistia.

2) Explique como funciona a estrutura de exportação a partir


de 1886 em que aparecem as figuras do comissário, além do
fazendeiro, do exportador e do ensacador.

Unidade 3 123
Universidade do Sul de Santa Catarina

Saiba mais

Se você desejar, aprofunde os conteúdos estudados nesta unidade


ao consultar as seguintes referências:

CALMON, Pedro. História da civilização brasileira. Brasília:


Senado Federal, 2002.

FAUSTO, Boris; DEVOTO, Fernando J. Brasil e Argentina:


um ensaio de história comparada (1850-2002). 2. ed. São Paulo:
Editoria 34, 2005.

FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Fundação de


Desenvolvimento da Educação, 1995.

LYRA, Heitor. História de Dom Pedro II (1825 – 1891):


Fastígio (1870 – 1880). v. 2. Belo Horizonte: Itatiaia, 1977.

Cultura, 1980. Silva, Hélio. 1889: a república não esperou o


amanhecer. Porto Alegre: L&PM, 2005.

124
4
UNIDADE 4

Da industrialização por
substituição de importação à crise
da dívida externa (1930-1984)

Objetivos de aprendizagem
„„ Verificar como ocorreu a aceleração da industrialização
brasileira a partir da crise mundial de 1929.

„„ Compreender as características da intervenção do


Estado e as consequências na economia do Brasil desde
a década de 50 até o golpe militar de 1964.

„„ Entender como ocorreu o milagre econômico brasileiro


e o esgotamento do processo de industrialização por
substituição de importações.

„„ Identificar as causas do estrangulamento externo da


economia brasileira, a influência na crise da dívida
externa e a consequente entrada do país numa era de
altas taxas de inflação.

Seções de estudo
Veja, a seguir, as seções que compõem esta unidade de
aprendizagem.
Seção 1 A crise mundial de 1929/30 e a marcha forçada à
industrialização (1930-1950).

Seção 2 O Estado como motor do crescimento e


desenvolvimento econômico (1950-1964).

Seção 3 O milagre econômico e o esgotamento do processo


de industrialização por substituição de importações
(1964-1974).
Seção 4 Estrangulamento externo, a crise da dívida e o início
do processo inflacionário brasileiro (1974-1984).
Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo


Nesta última unidade, você irá finalizar o estudo da formação
econômica do Brasil e conhecer um de seus períodos mais
marcantes: a Industrialização por Substituição de Importações ou
simplesmente ISI.

O processo de ISI é assim chamado porque foi uma forma de


indução da industrialização a partir da produção interna dos
produtos manufaturados, que anteriormente eram comprados
via importação. Este processo foi muito difundido para países
em desenvolvimento após a crise de 1929, mas particularmente
no Brasil e em muitos países da América Latina, ele foi
primeiramente forçado pela crise mundial de 1929, para depois
ser uma ação deliberada do Estado na sua indução.

A unidade possui quatro seções distribuídas de forma a dar


conta das principais periodizações feitas para o entendimento da
formação da economia brasileira.

Assim, na seção 1, você poderá verificar como ocorreu a


aceleração da industrialização brasileira a partir da crise mundial
de 1929. Nesta época, a economia brasileira tinha uma base
essencialmente agroexportadora, ou seja, exportava produtos
produzidos na agricultura e com as divisas conseguidas comprava
os produtos industrializados de que precisava. Com a crise de
1929, este modelo entra em crise e o país passa a se industrializar,
substituindo importações.

Na seção 2, você poderá compreender as características da


intervenção do Estado e as consequências na economia do
Brasil desde a década de 50 até o golpe militar de 1964. Este
período é de reafirmação da ISI com forte intervenção estatal via
investimentos diretos e planejamento econômico. Nesta época,
surgiu a formação de um sólido pensamento sobre a economia
brasileira, que definiria as ações estatais em países com baixos
índices de desenvolvimento.

Na seção seguinte, você estudará como ocorre o milagre


econômico brasileiro e o esgotamento do processo de
industrialização por substituição de importações. Este período

126
Formação Econômica do Brasil

se inicia com uma ruptura política, a partir do golpe militar


de 1964, que marcou o restante da formação econômica
brasileira. As mudanças realizadas pelos militares no poder
proporcionaram um momento de crescimento conhecido como
o milagre econômico brasileiro, resultando em muitas mazelas e
fragilidades, fundamentais para a crise da dívida externa. Este
é o principal tema da seção 4, que finaliza a unidade buscando
identificar as causas do estrangulamento externo da economia
brasileira, a influência na crise da dívida externa e a consequente
entrada do país em uma era de altas taxas de inflação.

Bons estudos e bom aprendizado!

Seção 1 – A crise mundial de 1929/30 e a marcha


forçada à industrialização (1930-1950)
A formação da economia brasileira, em diversos aspectos,
teve como destaque os diferentes ciclos que caracterizam as
periodizações. A inserção do Brasil, na economia mundial,
aconteceu tardiamente. Isto significa que, enquanto a economia
mundial estava se desenvolvendo de forma dinâmica na Europa e
nos Estados Unidos da América, na América Latina e no Brasil
a situação era de economias que serviam para o desenvolvimento
e para a consolidação destas economias dinâmicas. Assim, o
país foi um dos responsáveis por abastecer o centro dinâmico da
economia mundial com matérias-primas e produtos agrícolas,
com baixo valor agregado, bem como fazia parte do mercado
deste centro dinâmico.

Esta situação se desenvolveu de forma mais ou menos igual para


os diferentes ciclos da economia brasileira. Com a crise mundial,
houve uma marcha forçada para a industrialização, pois foi
praticamente o único caminho existente.

No entanto, isto não significa dizer que o período anterior não


teve muita implicação para o processo de industrialização. Ao
contrário, foi exatamente por ter um capital formado pelas

Unidade 4 127
Universidade do Sul de Santa Catarina

culturas e atividades primário-exportadoras que houve uma base


para esta industrialização.

Além disto, a situação foi favorável por contar ainda com uma série
de aprendizados trazidos por diversos imigrantes que trabalharam
na indústria europeia. Estes trabalhadores estiveram na indústria
mesmo quando ela ainda não possuía capacidade e dinâmica de
mercado, tampouco auxílio decisivo do Estado brasileiro. Esta base
foi montada principalmente nas últimas décadas do século XIX e
nas primeiras do seguinte. Como aponta Cano (1995, p. 22):

Até meados da década de 1880, as transformações de


nosso padrão de acumulação, embora importantes,
foram pequenas, e praticamente tivemos que esperar
o 13 de maio de 1888 para completar a total liberação
dos escravos. No caso de São Paulo, a transição efetiva
(e parcial) antecipa-se um pouco em função das elites
cafeeiras à ‘questão da mão de obra’ e das pressões das
classes médias urbanas, promovendo a transição do
trabalho escravo para o livre na maior parte da frente de
expansão cafeeira, em meados da década 1880. É esse
período que nos mostra, de fato, o próprio nascimento
do capital industrial brasileiro, a partir de metamorfoses
parciais do velho capital mercantil nacional, que
conduzira o padrão de acumulação primário-exportador
da economia nacional cafeeira-escravista.

Dadas estas condições, Cano (1993, p.16) aponta que a


característica principal desta incipiente industrialização antes de
1930 era o seu baixo volume de capital, mas que foi suficiente para
impulsionar a industrialização e o próprio Capitalismo no país:

[...] em que pesem os relativamente baixos volumes de


capitais requeridos para a implantação da indústria leve
naquele momento, a fragilidade do capital nacional era
notória. Fizemos, ao longo do período 1880-1930, apenas
a implantação dos principais setores da indústria leve
de bens de consumo não-durável. A maturação desta
indústria leve ao longo dos anos 20, a precipitação de
duas crises de sobreacumulação produtiva – a cafeeira
e a industrial -, a expansão das classes médias urbanas,
notadamente no Rio de Janeiro e em São Paulo, a
constituição de uma força trabalhadora urbana de
dimensões nacionais modestas e a as transformações
ensejadas e impelidas pela modernização mundial que
estava ocorrendo acumularam pressões no sentido do
avanço da indústria e do capitalismo brasileiro.
128
Formação Econômica do Brasil

A primeira metade do século XX é recheada de crise na economia


e na política internacional. Neste período, ocorreram as duas
grandes guerras e a crise que levaria a uma grande depressão na
economia mundial. Estes acontecimentos fazem parte de um ciclo
na economia mundial, que tem seus primórdios no último quarto
do século XIX, e se estende até a II Guerra Mundial, terminada
em 1945. Neste processo, ocorreu uma mudança no centro
hegemônico mundial, deixando a Inglaterra o posto de maior
potência, e tomando o seu lugar os EUA. Segundo aponta Rego e
Marques (2000, p. 67), estes ciclos são comuns no capitalismo:

A instabilidade cíclica atinge, em alguns momentos,


dimensões e consequências significativas, abalando
profundamente um grande número de países,
configurando crises econômicas mundiais. Assim,
podemos classificar a Primeira Grande Depressão
(1873/1896) como a primeira destas crises globais. A
Segunda Grande Depressão (1929/1933, mas que na
verdade só terminou com o início da Segunda Guerra
Mundial), é comumente chamada de Grande Depressão
e foi o período histórico de maior redução do nível de
atividade em quase todos os países do mundo, com
exceção da União Soviética.

O acontecimento mais marcante, em termos econômicos


mundiais e para o entendimento da formação econômica
brasileira, foi a queda da Bolsa de Nova Iorque em 1929,
resultando em uma profunda depressão econômica mundial. A
crise da bolsa foi um reflexo dos baixos níveis de produtividade
e de lucratividade das empresas que acabaram por detonar um
efeito bolha na Bolsa de Nova Iorque, um dos maiores centros de
negócios do mundo.

A queda da Bolsa de Nova Iorque em 1929 foi muito


sentida em todas as economias desenvolvidas,
cujas empresas tiveram sérias perdas patrimoniais.
O resultado global foi uma drástica e crescente
diminuição de todas as atividades nestas economias,
com a consequente diminuição do comércio global.

Os dados sobre a grande depressão foram impressionantes, e


deram conta de uma diminuição no comércio internacional
da ordem de 60% e dos empréstimos internacionais em cerca

Unidade 4 129
Universidade do Sul de Santa Catarina

de 90%. Os resultados em termos de desemprego mostram o


tamanho da crise, tendo países como os EUA alcançado índices
de 44%, e os países europeus, no auge da crise, em média, 25%.

Um dos reflexos predominantes no mundo, em termos de


pensamento econômico, foi a diminuição da influência dos
preceitos do liberalismo econômico e uma grande influência da
ideia de intervenção do Estado na economia para diminuir e até
reverter as suas tendências de crise.

O liberalismo econômico pressupõe que o mercado e as suas


leis de oferta e procura, deixados por si só e sem a intervenção
do Estado, dariam ótimos resultados econômicos para toda
a sociedade. Contrapondo-se ao liberalismo, as novas ideias
ficaram conhecidas desde então como políticas de tipo
keynesianas, em uma referência ao proeminente economista
inglês John Maynard Keynes. Tanto em termos de marcha
John Maynard Keynes foi um forçada para a industrialização como por esta influência
economista britânico cujos ideais keynesiana, a economia brasileira seria profundamente afetada
serviram de influência para a após a crise de 1929.
macroeconomia moderna, tanto
na teoria quanto na prática. Ele
defendeu uma política econômica
A crise da década de 30 foi muito grave e impactante para a
de Estado intervencionista, pela principal atividade primário-exportadora do Brasil: a produção
qual os governos usariam medidas e exportação do café, de onde saía a maior parte das divisas que
fiscais e monetárias para mitigar serviam para a compra no comércio internacional dos produtos
os efeitos adversos dos ciclos industrializados.
econômicos - recessão, depressão
e booms. Suas ideias serviram de
base para a escola de pensamento É importante salientar que, na falta de incentivos à
conhecida como economia industrialização, os lucros obtidos pela cultura do
keynesiana. Disponível em: café eram reinvestidos na própria produção, pois
<http://pt.wikipedia.org/wiki/ as condições de terra e mão de obra eram muito
John_Maynard_Keynes>. Acesso favoráveis.
em: 18 jun. 2009.

Assim, o Brasil era quase um monopólio na produção e na


distribuição mundial deste produto, mas existia uma dependência
muito grande do sucesso desta atividade para manter o círculo
virtuoso de exportação do café e importação de produtos
industrializados. Além disto, esta atividade era responsável pela
maior parte da renda dos brasileiros, entre lucros, salários e
impostos, o que dá a dimensão do impacto político de uma crise
nesta atividade.

130
Formação Econômica do Brasil

Quando os países desenvolvidos, maiores consumidores do


produto, começaram a ter maiores dificuldades econômicas, com
recessões, eles passaram a diminuir suas compras internacionais,
consumindo menos produtos, como o café, que não era um
produto de primeira necessidade. Assim, o que ocorreu na década
de 30 foi uma drástica queda da compra do café no mercado
internacional.

Numa situação como esta, o impacto no Brasil é


facilmente deduzido: enormes perdas de renda
como um todo, descontentamento político e
pressão para ações compensatórias emergenciais.

Vale lembrar que, em função do modelo agrário exportador na


formação econômica do Brasil, os grupos políticos hegemônicos no
país eram oriundos desta atividade. Assim, a chamada burguesia
agrária comandava as principais fontes de decisão política e o
próprio Estado no país. Isto teve uma implicação direta com as
soluções que foram encontradas para amenizar a crise.

O Estado brasileiro começou, então, a fazer uma política de


defesa do café. As medidas implicaram em desvalorizações
cambiais e em compra de produtos pelo Estado, com o objetivo
de manter os preços no âmbito internacional, consequentemente,
a renda dos produtores. No entanto, além de garantir esta renda,
a política acabou mantendo o estímulo do café como um produto
rentável. O resultado foi um aumento ainda maior da produção,
incluindo alguns outros países, que já estavam iniciando a
produção e virando competidores internacionais com o Brasil.

Num segundo momento, o Estado passou a queimar o café para


poder manter seu preço, e, assim, continuar com a política de
desvalorização cambial. O resultado tinha um duplo impacto na
renda e na sociedade nacional. Por um lado, a sociedade, como
um todo, pagava o preço para manter a renda dos cafeicultores,
o que resultava na diminuição da renda nacional em torno de
30% em relação à crise até 1933. Por outro lado, os preços dos
produtos importados aumentaram em função das constantes
desvalorizações cambiais, que chegaram a representar 40% em
seu início. O resultado foi um estrangulamento do balanço de
pagamento e uma crise cambial, que diminuiria gradativamente a
capacidade de importação do país.

Unidade 4 131
Universidade do Sul de Santa Catarina

As importações chegaram a cair 60% no auge da crise cambial,


em 1933. É este movimento de dificuldade de importação que
fez com que o mercado interno passasse a ser explorado por
produtores e consumidores de produtos industrializados. Por
isso, a grande depressão acabou caracterizando a aceleração
da industrialização brasileira como uma marcha forçada.
Gradativamente, parte dos capitais antes investidos no café
passou a se deslocar para outras culturas de exportação,
principalmente o algodão.

A demanda interna passou a ser suprida por produção interna, com o


uso das capacidades instaladas ociosas naquele primeiro momento da
crise. Num momento seguinte, foi possível a importação de bens de
capital com preços reduzidos, isto por consequência da crise mundial
e pelos diversos processos de falência que ocorreram. A própria
desvalorização cambial e a industrialização crescente acabaram
incentivando a instalação de uma incipiente indústria de bens de
capital, que produzia máquinas e equipamentos para a produção de
outros produtos industrializados.

No modelo agroexportador, as divisas conseguidas pela


exportação de produtos como o café eram utilizadas para as
compras de bens de capital da indústria existente. Com a crise de
1929 e a crise cambial, este sistema entrou em colapso, gerando a
oportunidade para um rápido crescimento da indústria no Brasil.
O café aprisionou e ao mesmo tempo auxiliou na industrialização
brasileira, conforme salienta Ohlweiler (1986, p. 113):

A enorme expansão do capital cafeeiro, entre 1888 e


1933 criou certas premissas fundamentais para que a
economia brasileira pudesse encontrar uma saída para
as dificuldades originadas pela crise de 1929. O fator
dinâmico preponderante, nos anos posteriores, será o
mercado interno. O processo de industrialização do
país vai libertar-se da dependência, direta ou indireta,
que o condicionava com respeito à economia cafeeira.
O desenvolvimento de uma agricultura mercantil de
alimentos e a modernização da indústria produtora de bens
de consumo para assalariados, de um lado, e a estruturação
de um núcleo de indústrias leves de meios de produção – a
pequena indústria do aço, a do cimento e outras – e de
uma agricultura mercantil produtora de matérias-primas,
de outro lado, exercerão um papel relevante no posterior
desenvolvimento da economia brasileira tão logo ela se
restabeleça dos efeitos da crise de 1929.

132
Formação Econômica do Brasil

Para Becker e Egler (1992, p. 74), a atividade em torno do


café possibilitou alguns outros fatores para a industrialização
brasileira. A crise de 1929 forçou o processo de substituição de
importações:

No entanto, foram várias as condições criadas pelo


complexo exportador cafeeiro para o surgimento
da indústria de substituição de importações. Essas
condições incluíam a demanda por bens salários
nas áreas de produção e no seu segmento urbano; a
existência de lucros comerciais excedentes, na burguesia
cafeeira; a ação do Estado concedendo farto crédito à
agricultura, permitindo aos bancos se transformarem em
empreendedores industriais e estabelecendo proteções
tarifárias; a disponibilidade de mão de obra nas cidades;
a capacidade de importar meios de produção, alimentos e
bens de consumo para a reprodução da força de trabalho.

O processo forçou uma mudança na pauta de importações e abriu


espaço para os bens de capital e os bens intermediários. Assim,
o mercado interno e a indústria passaram a andar juntos, o que
levou grandes economistas, como Celso Furtado, a teorizar sobre
o processo que passou a ser conhecido como Industrialização
por Substituição de Importações – ISI.

Alguns teóricos da economia atentaram para a limitação da ISI,


como a economista Maria da Conceição Tavares, em seu livro Da
substituição de importações ao capitalismo financeiro. O argumento
é relativamente simples e verificado empiricamente. Parte do
pressuposto de que uma economia capitalista só consegue entrar
para o rol de economia desenvolvida quando tem estruturada
uma indústria de bens de capital, ou seja, aquela indústria que
produz as máquinas e equipamentos para a indústria produtora de
bens de consumo, assim como a indústria de bens intermediários,
ou seja, aqueles bens que servem para a produção de outros bens.

Desta maneira, em países que entraram de forma tardia no


sistema capitalista e assumiram, em função disto, o papel de
fornecedores de matérias-primas e produtos primários, os níveis
de desenvolvimento das indústrias de bens de capital e bens
intermediários ficaram muito baixos. Houve um claro limite
espaço-temporal de desenvolvimento em toda a cadeia produtiva
da economia.

Unidade 4 133
Universidade do Sul de Santa Catarina

Como o modelo ISI dependia de divisas para a compra destes


bens intermediários e de capital para manter a industrialização
de bens de consumo, uma saída seria o incentivo das exportações
via desvalorizações cambiais. Mas este instrumento também
acarretava o aumento dos preços dos bens de capital e dos bens
intermediários, tornando-se uma ferramenta ineficaz. Em uma
situação, onde os produtos agrícolas encontram restrições, como
no caso do café na crise mundial da década de 30, o modelo ISI
mostrava seus estrangulamentos.

A crise cambial, após o resultado de estrangulamento do processo


ISI, tentou ser resolvida pelo Estado com a criação de diversos
mecanismos ao final da década de 30. Do mesmo modo, as cotas
de importações e as taxas múltiplas de câmbio selecionaram
aquilo que seria mais benéfico importar, restringindo outros
menos importantes. No entanto, este processo tem suas
implicações políticas internas e não se mostrou igualmente
adequado para mudar o rumo do estrangulamento externo.

Em 1937, ocorre um golpe militar no Brasil que daria


novos contornos para a formação econômica do país.
O fenômeno ficou conhecido como Estado Novo,
marcado pela entrada de Getúlio Vargas no poder,
eleito indiretamente em 1934, após eleição de uma
Assembleia Constituinte. O mandato, previsto para
terminar em 1938, estendeu até 1945.

As características mais importantes deste período foram: a


magnitude e a amplitude da intervenção do Estado na economia,
com as políticas de corte keynesiana, inauguradas nos países
centrais a partir da crise de 1929. O Estado, então, assumiu
as rédeas do crescimento econômico utilizando um forte
investimento direto, onde o capital privado não poderia investir,
seja pela falta de acumulação prévia ou pelos grandes riscos que
acarretavam os investimentos naquela época.

Assim, permaneceu a economia brasileira até a finalização da


II Guerra Mundial, em 1945, já com Vargas fora do poder,
entrando o presidente Dutra com forte tendência liberal. Com
isto, instalou uma política de câmbio flutuante e sem restrições ao
movimento de capitais. O resultado foi a evaporação rápida das
divisas internacionais que existiam até então, e também em uma

134
Formação Econômica do Brasil

nova crise cambial. Durante todo o período até 1949, o governo


teve ainda que manter uma política econômica restritiva, em
função das pressões inflacionárias.

Após a crise cambial, o governo Dutra passou a implementar


novamente o controle cambial, cuja cotação passou a estar
sobrevalorizada. Esta sobrevalorização da moeda interna,
em conjunto com o controle cambial, teve os mesmos efeitos
benéficos sobre a ISI, ocasionando um novo impulso ao processo
de industrialização brasileira.

É importante salientar que, após a II Guerra Mundial,


ocorreu a emergência de uma nova ordem mundial.
Nesta nova ordem, houve o predomínio dos EUA,
como país hegemônico na economia e na política,
que, principalmente a partir de 1947, rivalizou termos
estratégicos com a União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas – URSS. Como resultado, houve o impacto
na economia e na política brasileira no final da década
de 50 e nos primeiros anos da década de 60.

Os EUA, na sua ascensão no pós II Guerra Mundial, montaram


uma estrutura de instituições internacionais como parte de
suas pretensões hegemônicas e de estabilidade internacional.
No âmbito econômico, cabe destacar as instituições de Bretton
Woods, ou seja, o Fundo Monetário Internacional – FMI, o
Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento –
BIRD (mais conhecido como Banco Mundial) e os Acordos
Gerais de Tarifas e Comércios – GATT (que, em 1995, deram
lugar à OMC – Organização Mundial do Comércio).

No mesmo movimento foi criada a Organização das Nações


Unidas – ONU e dentro dela as comissões regionais. Uma destas
foi a Comissão para a América Latina e o Caribe – CEPAL.
Deste órgão, nasceu um dos maiores economistas latino-
americanos, Raul Prebisch, cujas teses sobre o desenvolvimento
dos países da região, seriam a pedra fundamental para o
aprofundamento da formação econômica do Brasil e do debate
sobre as amarras que existiam para o país galgar maiores índices
de desenvolvimento.

Unidade 4 135
Universidade do Sul de Santa Catarina

Prebisch observou que o desenvolvimento dos países da América


Latina estava limitado por um fenômeno que ele chamou
deterioração dos termos de troca. O que ocorria na prática com
os países da região é que, ao se especializarem como produtores
de produtos primários, seguindo as orientações neoclássicas e as
de David Ricardo, para comprarem produtos onde seriam menos
eficazes, no caso produtos manufaturados, estes países passariam
a comprar cada vez menos manufaturados com a mesma
quantidade de produtos primários.

O que significa e em que medida isto poderia ser


superado?

É preciso relembrar um conceito de economia para entendermos


este processo de deterioração dos termos de troca - utilidade
marginal decrescente. A utilidade marginal decrescente ocorre
na medida em que passamos a nos satisfazer com o consumo
de um bem. Por exemplo, quando estamos com fome e vontade
de comer uma maçã, a primeira mordida dá uma excelente
satisfação, atende em muito a nossa necessidade e a maçã possui
plena utilidade para nós. A cada mordida ou nova maçã, ficamos
com menos fome e vontade de comer essa fruta e sua utilidade
diminui.

Esta situação coloca um limite claro para os produtos primários.


Ninguém consegue, por exemplo, comer mais do que duas maçãs
por dia, ou três bananas, ou dez laranjas, etc.

Desta forma, para os produtos primários, o valor fica


sempre o mesmo, porque eles não possuem agregação
de valor, ou possuem baixa agregação de valor, e seu
consumo é limitado pela própria natureza humana, que
se sacia com um número restrito destes produtos.

É claro que podemos contar o aumento da população como


aumento de demanda para produtos primários, mas também
como aumento de demanda para produtos secundários ou
industrializados. Os próprios produtos primários podem e são
industrializados em muitos casos, gerando agregação de valor.

136
Formação Econômica do Brasil

Porém, para industrializá-los, também será preciso a agregação


de valor e tecnologia, que geralmente estará disponível nos países
que possuem maior grau de desenvolvimento do setor industrial,
e não em países especializados em produtos primários. Um
exemplo bem conhecido é o da laranja. O Brasil exporta a fruta
in natura aos EUA e lá ela é processada, industrializada e vendida
com valor agregado.

Ao vender produtos com demanda e valor agregados limitados


e comprar produtos com cada vez mais valor agregado e com
base tecnológica, como computadores e telefonia, os países
especializados em produtos primários, como o Brasil, vendiam
cada vez mais para comprá-los. Ou seja, estavam deteriorando
os termos de troca, como apontado pelo economista da CEPAL,
Raul Prebisch, e pelos teóricos da corrente cepalina, que
propunham um amplo leque de medidas do Estado para formar Corrente cepalina: a
uma base de indústria em todos os setores, de bens de capital, de teoria cepalina surge de
bens intermediários e de bens de consumo. dentro da CEPAL e tem
como base a premissa
de que as economias da
Esta situação daria à economia brasileira, e também à latino- América Latina fazem
americana, a capacidade de ter uma matriz econômica completa, parte da periferia da
que é justamente o pleno desenvolvimento das indústrias economia internacional;
nestes três ramos de bens. Foi exatamente o que faltou para dar e, nestas condições, não
sustentação e completar o processo de ISI. Assim, a ISI teria possuem capacidade de
se desenvolver, apenas
sempre que ser complementada com ações do Estado para suprir
se houver um amplo
as deficiências da matriz econômica na indústria de bens de conjunto de ações do
capital e bens intermediários. Estado induzindo o
desenvolvimento.
Com o resultado e até a necessidade da industrialização, outros
dois processos foram se formando no Brasil: de interiorização e
de urbanização. Martine (1995, p. 62) resume estes dois processos
e suas implicações:

Na década de 30 o movimento interiorano direcionou-se,


preferencialmente, para o sudoeste de São Paulo e para o
norte e oeste do Paraná e Santa Catarina. Na década dos
40, beneficiada pela proximidade aos mercados nacionais
em formação, a ocupação das terras novas pela região Sul,
especialmente do Paraná, intensificou-se. Paralelamente,
a população expulsa do campo iniciou a migração para
as cidades. Aí, particularmente nas cidades do Centro-
Sul, a industrialização via substituição de importações
criou oportunidades de emprego nos setores industrial,
comercial e de serviços.

Unidade 4 137
Universidade do Sul de Santa Catarina

Quando Vargas estava no poder no início da década de 40,


já havia um processo de urbanização muito forte, fazendo
com que os trabalhadores começassem a se organizar e a
reivindicar melhores condições de trabalho. Com as pressões
da industrialização, Vargas criou a Consolidação das Leis do
Trabalho – CLT, em 1º de maio de 1943, dando garantias
trabalhistas, que diminuiriam as pressões sociais sobre seu
governo e que seria uma das maiores marcas do que ficou
conhecido como um governo populista. Martine (1995, p. 62)
destaca outros fatores da urbanização brasileira:

Os primeiros movimentos sociais e as respostas dadas


pelo Estado brasileiro contribuíram para aumentar a
atração das localidades urbanas. A Segunda Guerra
Mundial provocou uma aceleração da atividade
industrial, promovendo a modernização do processo
produtivo e das relações de trabalho, aumentou o
emprego e alimentou a continuação da imigração para as
cidades.

É importante salientar que a CLT não foi estendida


para as áreas rurais, pois isto, aliado a outros processos
de concentração de terras e de dificuldades de
sobrevivência, expulsaria um grande contingente de
moradores nestas áreas para áreas urbanas, onde o
processo de industrialização necessitava de mão de
obra. A não aplicação dos direitos trabalhistas às áreas
rurais foi também uma forma de estabilização da
hegemonia de poder de Vargas, pois ela acomodou
a então classe hegemônica, a burguesia rural,
beneficiada, mas que estava, desde a aceleração da
industrialização, perdendo este espaço hegemônico
para a emergente classe da burguesia industrial.

Assim, a crise mundial empurrou o Brasil para a industrialização,


acompanhado de ações do Estado para tentar manter sustentável
o processo de industrialização por substituição de importações,
o que significou fortes medidas de intervenção do Estado e
acomodações políticas. Este movimento teria continuidade e
aprofundamento no período da década de 50 até 1964, como você
estudará na próxima seção.

138
Formação Econômica do Brasil

Seção 2 – O Estado como motor do crescimento e


desenvolvimento econômico (1950-1964)
O período que vai de 1950 a 1964 é de continuidade do processo
de Industrialização por Substituição de Importações. No entanto,
duas características são marcantes: a entrada mais forte da
intervenção e investimento do Estado e dos capitais internacionais,
e os ciclos de estabilidades e instabilidades econômicas e políticas,
que culminariam com o golpe militar de 1964.

O período é particularmente importante para o


entendimento da formação econômica do Brasil,
porque houve a implantação de várias indústrias
que são importantes para a economia até hoje,
como a petrolífera e a automobilística. Apesar destas
importâncias, o período é muito lembrado pelo
suicídio de um dos maiores estadistas do país, Getúlio
Vargas, e pela intervenção militar que inaugurou uma
época de exceção, perseguições e mortes.

Getúlio Vargas fora deposto do poder em 1945 fechando um


ciclo conhecido como do Estado Novo. Em 1950, Vargas voltou
à presidência do Brasil eleito diretamente, com a principal missão
de contornar os estrangulamentos e o processo de ISI. A situação
mundial estava um pouco diferente de quando ele havia deixado
o poder em 1945, ano do final da Segunda Guerra Mundial.

A Guerra Fria estava em pleno desenvolvimento, pois, ao final


da década de quarenta, ocorreu a Revolução Chinesa, em 1949,
e logo depois ocorreu a Guerra da Coreia. Os anos 50 foram
de ampla expansão das empresas dos países capitalistas mais
desenvolvidos, pois a concorrência no centro do sistema estava
muito acirrada. Este período foi chamado de Fordismo, num
amplo processo de desenvolvimento sustentável da economia
mundial. No Brasil, ocorreu o início de um período que será
conhecido como desenvolvimentista, que só se encerrou ao
final da década de 70, junto com o esgotamento do processo de
industrialização por substituição de importações.

Ao voltar ao governo, Vargas tentou recuperar o dinamismo


da ISI. Para isso, ele fez grandes investimentos em indústria

Unidade 4 139
Universidade do Sul de Santa Catarina

pesada. É desta década a instalação da Petrobras, da Companhia


Siderúrgica Nacional, a vale do Rio Doce e a Eletrobrás. Foi uma
era conhecida como nacionalista, como realçam Rego e Marques
(2000, p. 82):

A proposta nacionalista de Vargas restringiu as


possibilidades de financiamento externo desses projetos
ou a participação de capitais estrangeiros na forma de
investimentos diretos. Era uma acumulação financiada
internamente pelas altas taxas de lucro das atividades
industriais impulsionadas pela política de valorização
cambial e de transferência dos excedentes do setor
agroexportador para a indústria.

Em 1952, foi criado o Banco Nacional de Desenvolvimento


Econômico – BNDE (que viraria BNDES mais recentemente,
ganhando o “Social” ao final do nome). O BNDE serviu de
aporte para o financiamento de infraestrutura e indústrias. A
tentativa de Vargas era implantar a indústria de bens de capital, o
grande gargalo da economia sob a ISI.

No entanto, houve resistências de muitos setores, como é comum


num processo desta magnitude, que, também, se repete em outros
momentos da história da formação econômica do Brasil. Além
disto, Vargas passou a ter também dificuldades em sua base de
sustentação política e de legitimidade popular-nacionalista, que era
a classe trabalhadora. Assim, em meio ao turbilhão de pressões,
Vargas suicidou-se e com ele ficou para a história um dos primeiros
projetos de desenvolvimento nacional mais autônomo.

Um dos principais problemas do segundo governo Vargas para


implementar um projeto desenvolvimentista, era a insuficiência
de recursos e de financiamentos, principalmente para a
infraestrutura. O governo seguinte, de Café Filho, passou
a aplicar políticas econômicas mais ortodoxas, ou seja, mais
restritivas ao crescimento usando o controle monetário das
finanças públicas e de investimentos estatais, com consequente
tentativa de controle do processo inflacionário.

Este período pequeno do governo Café Filho foi, como no


período maior seguinte, com JK, de aberturas ao capital
estrangeiro e de políticas econômicas de corte liberal. Não
houve uma sequência de crescimento econômico, ao contrário,

140
Formação Econômica do Brasil

ocorreram algumas importantes crises no sistema financeiro.


Além disto, as medidas mais liberais acabaram por desacreditar o
governo junto à classe industrial, criando um clima favorável para a
entrada de Juscelino Kubitschek – JK no governo por eleição direta.

O período de JK ficou conhecido no Brasil e no mundo pelo


Plano de Metas, o qual propunha ao país realizações de 50 anos
em apenas 5 anos.

O planejamento governamental era uma realização no


governo Vargas, principalmente, no âmbito da Cepal,
mas também com a criação do BNDE.

No entanto, o Plano de Metas foi a grande experiência de


planejamento, efetivado com uma forte participação do capital
estrangeiro e da intervenção estatal. Como “sócio menor” estava
o capital industrial nacional, formando o que é conhecido na
formação econômica do Brasil de tripé de investimentos, ou
seja, uma economia baseada em três tipos de capital: estatal,
estrangeiro e nacional.

O Planejamento de Programas, com intervenção do Estado,


teve origem na antiga URSS – União de Repúblicas Socialistas
Soviéticas - na década de 20 e, após a crise de 1929 e da grande
depressão, passou a ser uma prática com as teses keynesianas de
planejamento da economia capitalista. É neste cenário que se
desenvolveu o planejamento no Brasil e que teve, no Plano de
Metas, sua melhor experiência até então.

O Plano de Metas restaurou a ideia de investimentos para


liberar os pontos de estrangulamento à efetivação da ISI.
Foram previstos investimentos nas áreas de energia, transporte,
siderurgia, petróleo, além de contar com a mega construção
de Brasília, que passou a ser o centro político e administrativo
no lugar do Rio de Janeiro. Os investimentos do Estado ainda
visaram à criação de subsídios para o setor secundário na área de
produção de insumos e equipamentos básicos de alta tecnologia.

No plano político, JK procurou agregar os diferentes grupos e


elites do país ao chamá-los a participar da implementação do
Plano de Metas, o que era imprescindível para congregar os

Unidade 4 141
Universidade do Sul de Santa Catarina

maiores interesses, algo que ficou deficiente ao final do segundo


governo Vargas. Como apontam Rego e Marques (2000, p. 91):

Para a implementação efetiva do Plano, especialmente


nos aspectos de responsabilidade do setor privado, foram
criados grupos executivos colegiados que congregavam
representantes públicos e privados, para a formulação
conjunta de políticas aplicáveis às atividades industriais.
Os grupos mais conhecidos e atuantes foram o grupo
executivo da indústria automobilística (GEIA), da
construção naval (GEICON), de máquinas agrícolas e
rodoviárias (GEIMAR), de indústria mecânica pesada
(GEIMAP), de exportação de minério de ferro (GEMF),
de armazenagem (Comissão Consultiva de Armazéns e
Silos) e de material ferroviário (GEIMF).

O resultado foi um período de altas taxas de crescimento


econômico, com o PIB aumentando 8% em média de 1957 a
1961. Além disto, setorialmente, houve enormes ganhos, sempre
na busca de diminuição dos gargalos da ISI. No geral, o Plano de
Metas foi mais impulsionado pela indústria de bens de capital e
da indústria de bens de consumo durável. Este crescimento esteve
estruturado no chamado Tripé de investimentos, como apontado
anteriormente, do capital estatal, estrangeiro e nacional.

O capital estrangeiro teve papel fundamental, por exemplo, na


indústria automobilística que se instalou no Brasil. Estes capitais
externos estavam em busca de novos mercados por conta da
acirrada concorrência nos países centrais. Neste sentido, o Brasil
era um destino estratégico por causa de seu amplo mercado
interno e de seus gargalos de crescimento sustentável.

Porém, o que parecia ter as suas vantagens iniciais podia trazer


outros gargalos no médio e longo prazo.

No período em estudo, houve um processo de


oligopolização da economia brasileira, que ficou
dominada por grandes empresas multinacionais. Este
processo refletiu a extensão da abertura da economia
brasileira para o capital estrangeiro e tem reflexos até
os dias atuais para o país.

142
Formação Econômica do Brasil

Apesar de ter estimulado o processo de ISI, o Plano de Metas


começou a mostrar seu esgotamento no início da década de
sessenta. Um dos principais problemas detectados para a
ocorrência deste estrangulamento foi a falta de autonomia na
criação da indústria de produção de bens de capital, ou seja,
máquinas e equipamentos.

A situação é típica de países de economias tardias, que entraram


no sistema capitalista depois que ele já estava formado. Quando
o país precisa produzir mais bens de consumo final, seja duráveis
ou não duráveis, e estas indústrias precisam aumentar sua
capacidade produtiva, elas não vão encontrar respostas adequadas
na indústria de produção de bens de capital. O resultado é
o estrangulamento da autonomia do país em produzir um
padrão de acumulação de capital, que gere um crescimento e
desenvolvimento sustentável.

Além deste problema no sistema de produção material,


houve dificuldades em função da dependência financeira e de
desequilíbrios no Balanço de Pagamento causados, entre outros
fatores, por um novo ciclo de deterioração dos termos de troca.
Em 1959, estes problemas externos causaram o rompimento de
JK com o Banco Mundial e o FMI.

Os níveis de investimento passaram a diminuir cada


vez mais e, apesar de ainda apresentar bons índices
de crescimento até 1961, em 1962, instaurou-se uma
crise econômica que se transformaria em crise política
e culminaria no rompimento da ordem constitucional
com o golpe militar de 1964.

Se o período que vai até 1962 foi de crescimento relativamente


sustentável, o problema do estrangulamento do processo de
Industrialização por Substituição de Importações mostrou,
naquele ano, sua mais perversa face. Isto porque ocorreu uma
brusca queda do crescimento econômico, fenômeno que iria se
estender até 1967.

Além da queda no crescimento econômico, tivemos diminuição


da formação bruta de capital fixo, que é um importante
indicador de investimento na produção futura, bem como índices
galopantes de inflação, chegando à casa de 90 % em 1964.

Unidade 4 143
Universidade do Sul de Santa Catarina

As explicações sobre este período de crise econômica são


variadas. Pode-se falar de o fim de um ciclo, principalmente
a saturação dos investimentos do Plano de Metas, ou como
resultado da crise política, que culminou e se desdobrou após
a renúncia do presidente eleito Jânio Quadros, em 1961, a
dependência externa, incluindo a dívida, ou, ainda, pelas
políticas mais ortodoxas, que foram usadas durante o governo
de João Goulart, que assumiu no lugar de Quadros, e que tinha
o economista Celso Furtado como a principal liderança na área
econômica.

A saída de Jânio Quadros colocou em xeque a estabilidade


política e repercussões econômicas negativas. O sucessor de
Jânio, constitucionalmente, deveria ser seu vice, João Goulart.
No entanto, ocorreu um movimento político que, primeiro,
tentou evitar que ele tomasse posse, depois, tentou criar o
parlamentarismo no Brasil e deixar João Goulart sem poderes.
Conforme Rego e Marques (2000, p. 102):

Assim, de setembro de 1961 até janeiro de 1963, houve


três gabinetes parlamentares que, diante do quadro
de indefinição política, não conseguiam implementar
nenhuma política econômica consistente. Desse modo, a
taxa de inflação alcançou 45,5%, em 1962, contra 33,2%,
em 1961. No final de 1962, poucos meses antes do
plebiscito que restabeleceria o regime presidencialista, foi
apresentado por Celso Furtado, ministro extraordinário
para Assuntos do Desenvolvimento Econômico, o Plano
Trianual, uma resposta política do governo à aceleração
inflacionária e à deterioração econômica externa, que
objetivava dar continuidade ao desenvolvimento do país.

O esgotamento das negociações políticas, a influência externa,


as desarticulações da sociedade política e civil, tendo sido elas
articuladas para ocorrer ou não, culminaram com uma crise
política que foi propícia para o golpe militar de março de 1964.
Iniciaria ali uma nova fase da economia e da política brasileira;
encerrar-se-ia ali a fase populista inaugurada por Getúlio Vargas.

A era populista foi também um marco no planejamento


econômico e da intervenção estatal, das tentativas de superação
das dificuldades de uma economia, que entrou tardiamente no
capitalismo, e das tentativas de se forjar um desenvolvimento
mais autônomo das forças econômicas e políticas externas.

144
Formação Econômica do Brasil

Observa-se, do ponto de vista populacional, que o processo de


urbanização foi intensificado nestas duas décadas, com importante
participação do Estado. Conforme Martine (1995, p. 63):

Ainda nesse período, o Estado iniciou uma intervenção


mais abrangente na economia e um fortalecimento
da industrialização via substituição de importações.
Os investimentos no parque industrial tiveram forte
influência sobre o lócus de expansão das atividades
econômicas, o que serviu para aumentar a hegemonia
da região dominada por São Paulo. Ao mesmo tempo,
o dinamismo econômico estimulou a mobilidade
geográfica, particularmente para as áreas urbanas do
Centro-Sul. Consequentemente, o número de cidades
com mais de 20 mil habitantes do Centro-Sul saltou de
51 em 1940 para 147 em 1960.

Na próxima seção, você estudará como uma abrupta ruptura


política pela via militar influenciou os destinos econômicos do
país por várias gerações. É o período da ditadura militar após o
golpe de 1964.

Seção 3 – O milagre econômico e o esgotamento do


processo de industrialização por substituição
de importações (1964-1974)
O período de dez anos, que você estudará nesta seção, é de
suma importância para o entendimento da formação econômica
brasileira, em função dos impactos que gerou nos períodos
subsequentes, onde o principal problema era o combate à inflação,
particularmente nas décadas de oitenta e noventa. É importante
salientar que as ações dos militares na área econômica também
estavam sob o crivo da população, pois o sucesso ou não nesta
área daria, mais ou menos, legitimidade para a continuidade no
poder e, portanto, para legitimar o uso da força e das restrições
constitucionais e individuais.

Unidade 4 145
Universidade do Sul de Santa Catarina

Como salientam Becker e Egler (1992, p. 136):

O regime autoritário militar abrange um período


bastante complexo: a crise dos anos sessenta, o
‘milagre’ entre 1968 e 1972, até as vésperas da recessão
que caracteriza os primeiros anos da década de 80.
Procurando uma modernização acelerada, o Estado
sustentou níveis elevados de investimento com grandes
gastos governamentais e intervenção direta no aparato
produtivo da economia, às custas do endividamento
com o sistema bancário nacional e internacional. O seu
programa para a modernização baseou-se também num
projeto territorial fundado no ideário da integração
nacional e do Brasil potencia.

Os militares chegaram ao poder com sérias críticas ao populismo


do governo derrubado de João Goulart e aos políticos de forma
geral, mas com o mesmo discurso desenvolvimentista, agora
acobertado por um manto tecnocrático. Isso significou que
os militares tentariam inserir, na sociedade, o fato de que os
políticos eram dispensáveis, e que as ferramentas técnicas e
modernizantes poderiam fazer o país alcançar altos índices de
desenvolvimento.

O principal efeito das mudanças que os militares


fariam de 1964 até 1967, foi uma enorme
centralização de recursos e poder. Esse processo
foi feito com medidas políticas de cerceamento dos
direitos individuais dos brasileiros, administrativas
e com uma reforma no setor público e econômico,
principalmente a partir de uma reforma tributária
que concentrou recursos na União em detrimento de
Estados e municípios.

No âmbito mundial, o período teve muitas especificidades


importantes. Em 1962, ocorreu a crise dos mísseis de Cuba,
quando os EUA descobriram que a URSS estava instalando
mísseis que poderiam atingir os EUA com ogivas nucleares.
A crise dos mísseis significou um momento de muita tensão
na Guerra Fria. Logo depois ocorreu a Guerra do Vietnã, que
deixaria uma marca muito indigesta nos EUA, tanto política
como financeiramente, já que eles empregaram muitos recursos
que causaram um grande déficit nas suas contas públicas.

146
Formação Econômica do Brasil

Neste período, havia também claros sinais de esgotamento do


Fordismo, modelo de desenvolvimento que vigorou desde o final
da Segunda Guerra Mundial. Neste caminho do fim do ciclo do
Fordismo também estava a incapacidade de se efetivar a ideia de
um padrão ouro-dólar, que havia sido instituído com o acordo
de Bretton Woods, em 1945, com a criação do FMI, do BIRD e
do GATT. No início da década de 70, este modelo veio abaixo e
deu lugar a um padrão de taxas flutuantes de câmbio, ou seja, um
modelo sem padrão.

A década de 70 é, também, o período dos dois choques do Bretton Woods, criado ao


petróleo, um em 1974 e outro em 1979. Ao final da década, final da Segunda Guerra
as políticas liberais começaram a ganhar corpo na Inglaterra Mundial, foi um sistema
de normas e instituições
e depois nos EUA. Entre o final dessa década e o início da
que visavam a regular a
seguinte, os EUA aumentaram em quase o dobro as suas taxas economia internacional.
de juros. O impacto foi fulminante na economia brasileira, pois Seus aspectos mais
os empréstimos feitos anteriormente eram com juros flutuantes. relevantes foram a criação
Já os dois choques do petróleo enterraram de vez as pretensões da paridade ouro-dólar
para a conversão de
de continuidade da ISI, pois a crise cambial impedia sua
moedas, e as instituições
continuidade nos moldes do que foi estudado acima. Fundo Monetário
Internacional- FMI e
Outro dado importante foi o expressivo aumento da liquidez o Banco Internacional
internacional, ou seja, de recursos financeiros que ficavam de Reconstrução e
disponíveis para empréstimos. Este movimento foi resultado da Desenvolvimento – BIRD.
Este sistema entrou em
criação de flexibilidade na Europa para investimentos financeiros,
colapso em seus principais
atraindo recursos para aqueles mercados, criando o que ficou pontos de regulação nos
conhecido como eurodólares. primeiros anos da década
de 70, sendo abandonado
Na mesma direção, a situação de liquidez na economia se formalmente em 1973
aprofundou com a criação dos chamados petrodólares, que pelos EUA, deixando,
consequentemente, de
eram os recursos resultantes do primeiro choque do petróleo em
funcionar
1974. Estes dois movimentos, mais o fim do sistema de Bretton
Woods, em 1973, apontaram igualmente para o aumento da
liquidez, o que, no conjunto, significava taxas de juros muito
baixas e capitais financeiros em busca de alocação.

A economia brasileira sentiu os efeitos da crise econômica e


política do início da década de sessenta até 1967. A partir dali,
as reformas feitas pelos militares e um redirecionamento da
política econômica terminaram por produzir o chamado milagre
brasileiro, entre 1968 e 1973.

Unidade 4 147
Universidade do Sul de Santa Catarina

Mas, o que foi o milagre econômico? Como se


constituiu o milagre brasileiro? Por que este milagre
não teve sustentação?

Um milagre econômico é assim considerado porque ocorre


o crescimento do PIB de uma economia de forma constante,
acima de 3 anos, e numa média igual ou acima de 10% ao ano. É
possível reconhecer o milagre japonês e alemão do pós II Guerra
Mundial, o milagre dos Tigres asiáticos na década de noventa, a
China em diversos momentos depois da década de noventa e da
primeira década do novo milênio.

Chama-se milagre porque não é comum economias


nacionais crescerem de forma sistemática durante
tanto tempo. Isto porque a tendência é que a
economia encontre gargalos para crescer, como no
caso da ISI no Brasil, e consiga apenas um ou dois
anos de crescimento acima de 10%. Este crescimento
poderia ser o resultado de situações conjunturais,
como um aumento mundial da demanda de um
produto em que um país é forte exportador. Este
impulso exógeno tende a gerar uma aceleração da
produção e exportação do produto, gerando renda
e crescimento. No entanto, de forma mais ou menos
constante, ele é mais raro na história econômica
mundial, daí os chamados milagres.

O milagre brasileiro se caracterizou pelo período de 1968 a


1973 quando o PIB do país cresceu em média 11% ao ano.
Este crescimento foi baseado na indústria de bens de consumo
durável, ou seja, bens como carro, televisões, geladeiras, fogões,
etc., resultado das medidas de centralização do pós-golpe militar,
aliado a uma política econômica expansionista do então ministro
da fazenda Delfim Neto, com utilização da grande capacidade
ociosa existente na indústria como um todo e com predominância
do capital estrangeiro na forma de investimentos diretos e
empréstimos.

Com relação aos empréstimos externos captados pelo Brasil, os


dados de análise de balanço de pagamento levaram Cruz (1984)
a concluir que não foi o endividamento que trouxe consequências

148
Formação Econômica do Brasil

positivas para a economia brasileira e a ocorrência do milagre


econômico. O endividamento do período do milagre econômico
foi feito porque os recursos estavam disponíveis e baratos, em
termos de taxas de juros, mas não para cobrir dificuldades no
balanço de pagamentos, como os verificados no início da década
de 30. Como apontam Rego e Marques (2000, p. 113):

Em função disso, a única explicação para o


extraordinário crescimento da dívida externa ao longo do
milagre seria de origem financeira: o excesso de liquidez
internacional diminuiu bastante as taxas reais de juros,
tornando os empréstimos muito atraentes. Ao mesmo
tempo, o sistema financeiro brasileiro, especialmente
o setor privado, nunca se voltou para o financiamento
produtivo de médio e longo prazo. Portanto, mesmo sem
uma necessidade estrita de empréstimos externos que
financiassem grandes déficits em transações correntes,
ocorreu um aumento do endividamento, por meio da
captação de recursos do exterior e seu repasse para
empresas de dentro do país.

Assim, a dívida externa bruta do Brasil, que era 3,5 bilhões de


dólares em 1965, passou para 12,6 bilhões de dólares em 1973,
segundo dados do Banco Central. O endividamento, por si
só não é um problema, mas, sim, a forma como é feito e o seu
emprego. No caso deste período, eles foram feitos a juros baixos,
mas flutuantes, e sem uma preocupação de política industrial que
garantisse o retorno dos investimentos para posterior pagamento
dos empréstimos contraídos.

Há, ainda, que salientar que este crescimento econômico não


significou desenvolvimento no sentido de um amplo conjunto
de vantagens sociais para toda a população brasileira. Ao
contrário, o milagre econômico foi concentrador de renda,
numa situação em que historicamente o país já havia produzido
uma concentração de renda nas classes média e alta. O período
marcou perdas muito significativas do salário mínimo real, o que
corrobora esta análise.

No último ano do milagre, em 1973, novamente a economia


brasileira entrou em crise, em função de seu histórico
constrangimento do departamento I da economia, de bens de
capital, conjugados com o esgotamento da capacidade ociosa
na indústria de bens de consumo duráveis, que, desde 1968,

Unidade 4 149
Universidade do Sul de Santa Catarina

vinha contribuindo para aumentar os índices de crescimento


da economia. O choque do petróleo de 1973 detonou a crise
no balanço de pagamentos pelas necessidades de pagamento
da dívida, e o país passou a experimentar fortes pressões
inflacionárias.

Neste contexto, começaram a ficar fortes as pressões políticas


de descontentamento, tanto daqueles excluídos política
e economicamente, quanto daqueles que estavam sendo
beneficiados, porém sem conseguir manter suas rendas e
posições. Este cenário estaria cada vez mais presente na condução
da política econômica dos militares desde então, culminando
com ações anticíclicas, que se mostrarão de pouca efetividade, de
muito prejuízo socioeconômico e de dependência externa. Este é
o tema que você vai estudar na próxima e última seção a seguir.

Seção 4 – E strangulamento externo, a crise da dívida


e início do processo inflacionário brasileiro
(1974-1984)
O choque do petróleo de 1973 precipitou uma desaceleração
na economia brasileira por causa dos estrangulamentos já
explicitados anteriormente, bem como pela dificuldade de
equilíbrio no balanço de pagamentos em função da conta-
petróleo. A partir daquele momento, o governo militar tentou
recuperar a economia com o lançamento do II Plano Nacional
de Desenvolvimento – II PND, em 1974 (o I PND havia sido
lançado em 1969).

Daquele momento até 1984, o Governo militar passou a


tentar recuperar sua credibilidade junto à população usando
a recuperação econômica. No entanto, as condições históricas
e estruturais, aliadas às condições conjunturais, tanto
internacionais quanto nacionais, impediram o alcance dos
objetivos.

150
Formação Econômica do Brasil

Assim, o período de 1974 a 1984 foi de deterioração da


economia brasileira e da capacidade de recuperação.
Significou uma herança viciosa de inflação com
recessão, que só teria reversão em meados da
década de 90 com o Plano Real. O período significou,
principalmente, uma saída “lenta, gradual e segura”
dos militares do poder no Brasil, como eles próprios
afirmavam. No entanto, do ponto de vista econômico
e social, o período foi um enorme desastre.

Ernesto Geisel assumiu o poder em março de 1974 e alinhavou


uma nova política econômica para o Brasil. Ao lançar o II PND,
ele buscava reeditar os altos índices de crescimento econômico do
país, que lhe renderam a alcunha de milagre brasileiro. Segundo
Rego e Marques (2000, p. 122):

Partindo da avaliação de que a crise e os transtornos da economia


mundial eram passageiros e de que as condições de financiamento
eram favoráveis (taxas de juros ex-ante reduzidas e longo prazo
para a amortização), o II PND propunha uma ‘fuga para a
frente’, assumindo os riscos de aumentar provisoriamente os
déficits comerciais e a dívida externa, construindo uma estrutura
industrial avançada que permitiria superar conjuntamente a crise
e o subdesenvolvimento.

Desta vez, as indústrias priorizadas seriam as chamadas pesadas


ou de bens de capital, de infraestrutura, de energia e siderurgia,
com amplo aporte de capital estatal. O financiamento viria de
captações externas a partir dos petrodólares, da captação por
parte de empresas estatais, mantendo as taxas de juros flutuantes.
As empresas estatais foram forçadas a estas captações externas, na
medida em que o governo central restringia sua participação em
financiamentos dentro do país.

As tentativas de manter o ritmo de crescimento, num momento


de crise internacional, deixaram pouca margem para o sucesso
do II PND. Em 1976, ele dava mostras de que não conseguiria
obter seus resultados. A sociedade civil e a política brasileira
passaram a questionar a legitimidade dos militares no poder.
Afinal, eles estavam afirmando, desde o início, que os propósitos
de se manterem na condução do país eram para dar condições
ao crescimento econômico e à consolidação do Brasil como uma
potência internacional. Como salienta Cano (1995, p. 25):

Unidade 4 151
Universidade do Sul de Santa Catarina

As excepcionais taxas de crescimento desfrutadas pelo


governo autoritário, entre 1967 e 1974, induziram seus
dirigentes e sua tecnocracia à formulação do projeto
‘Brasil-Potência’, imaginando poder converter a economia
brasileira numa das maiores potências econômicas
mundiais. A impossibilidade de sustentação desse
megalômano plano (que previa uma taxa de inversão –
I/Y – de cerca de 40%) logo se mostrou e a tentativa de
correção de sua trajetória resultou no Segundo Plano
Nacional de Desenvolvimento Econômico – Segundo
PND, que buscava aprofundar a industrialização pesada
(principalmente infra-estrutura, insumos básicos e
bens de capital), procurando, com isto, criar graus de
liberdade para tentar corrigir, tardiamente, os gravíssimos
desequilíbrios cambiais e financeiros gerados pelo
megalômano projeto.

No entanto, as crises apareceram até mesmo dentro dos grupos


que sustentaram o golpe e o governo militar. Uma das razões
para isto foi a mudança de foco da indústria motriz, ou seja, a
indústria que comandaria o processo de crescimento econômico.
Se no período do milagre econômico, tivemos a liderança e os
incentivos para a indústria de bens de consumo duráveis, naquele
momento, o foco estaria na indústria de bens de capital e nas
empresas estatais.

Isto significava satisfação de alguns interesses e insatisfação de


outros, o que, junto com as dificuldades de manter as taxas de
crescimento, acarretaram uma crise de legitimidade do próprio
governo militar, que, com isso, iniciou a implementação de um
processo de abertura econômica, que resultaria no fim da era
militar em 1985. Parte dos interesses privados começou a ser
atendida ao final da década de 70, com o processo de estatização
da dívida. Com aponta Cano (1995, p. 27):

O Estado autoritário facilitou o setor privado devedor,


‘estatizando’ seus débitos externos, fazendo com que as
obrigações privadas junto aos bancos internacionais, que
representavam cerca de três quartos da dívida externa
brasileira passassem a cerca de um quarto, estatizando,
assim, a maior parte da dívida externa brasileira.

No ano de 1979, com o governo do presidente João Batista


Figueiredo e com o retorno de Delfim Neto às rédeas da

152
Formação Econômica do Brasil

economia, existia uma tentativa de reativação da economia


por meio das exportações. Quando assumiu, no seu retorno ao
governo, Delfim Neto proclamou: “preparem os arados, vamos
voltar a crescer”. O que Delfim pretendia era buscar um incentivo
ao crescimento econômico com a produção e a exportação de
produtos agrícolas. No entanto, a partir do final de 1980, as
condições não favoráveis, os aumentos das taxas de juros dos
EUA, um novo choque do petróleo resultaram numa volta à
ortodoxia da política econômica e em ações de cunho recessivo.

Uma visão corrente sobre o período da economia brasileira com


o primeiro choque do petróleo, em 1974, é que a tentativa de
reedição do milagre econômico se mostrou equivocada. Uma
estratégia alternativa seria manter um crescimento pequeno ou
até uma recessão administrada, pois a crise não dava sinais claros
de sua magnitude e, portanto, de que sua duração seria breve.
Apesar disso, prevaleceu a tentativa de manter a legitimidade de
um governo, que estava no poder não por meio de eleições diretas
e da constitucionalidade, mas por meio da força.

A estatização da dívida externa foi o principal componente da


alternativa de livrar os capitais privados de uma quebra geral. No
entanto, a dívida acabou por vir novamente para a sociedade e
para o Estado. Conforme Cano (1995, p. 27):

Essa dívida, ao ser estatizada, fez com que o Estado se


convertesse no maior comprador de cambiais para fazer
frente ao serviço financeiro e, para comprá-las, dada
a impossibilidade de se fazer uma profunda reforma
tributária, viu-se obrigado a se endividar internamente
e a elevar cada vez mais a taxa de juros no mercado
financeiro para poder colocar seus títulos públicos. É
a partir desse momento que nascia a chamada ‘ciranda
financeira’ com o circuito dívida externa/ divida interna/
déficit público/ emissão de títulos/ nova ampliação da
dívida interna.

O período recessivo no início da década de 80 não foi uma opção,


foi o resultado destes diferentes fatores em conjunto, incluindo o
processo de estatização da dívida externa.

O Brasil era um país de industrialização tardia, que não


conseguiu completar na ISI a formação de uma autônoma
indústria de bens de capital e de bens intermediário, com uma

Unidade 4 153
Universidade do Sul de Santa Catarina

grande dívida externa com taxas de juros flutuantes, e que


estava muito frágil a choques exógenos. Foi o que ocorreu com o
aumento abrupto e elevado das taxas de juros dos EUA, descrito
assim por Cano (1995, p. 50):

A política econômica norte-americana submetera os


países capitalistas, via brutal elevação da taxa de juros
(a Prime sobre de 11,75% em 1977 para 15% em 1978
atingindo 21,50% em 1979) agravando ainda mais a
posição dos países subdesenvolvidos endividados. Essa
elevação não só fazia aumentar o serviço da dívida,
estrangulando ainda mais o balanço de pagamentos,
como também exercia pressão junto aos tomadores
privados para que cancelassem seus débitos em divisas.

O aumento da dívida externa foi muito grande, não só para o


Brasil, mas também para vários países da América latina, como o
México. Conforme Rego e Marques (2000, p. 134):

O efeito da recessão foi uma queda de três pontos


percentuais do PIB em 1981. O PIB de 1982, apesar do
agravamento do quadro externo, cresceu 1%, o que não
evitou, porém, a queda do PIB per capita. Sem dúvida,
a realização de eleições em 1982 diminuiu um pouco
o ardor recessivo da política econômica. Passadas as
eleições de novembro de 1982, no entanto, o país teve de
recorrer formalmente ao FMI.

O FMI sugeriu auxiliar o Brasil com recursos para o equilíbrio


do balanço de pagamento mediante o fechamento de acordos
com o governo brasileiro nas chamadas Cartas de Intenções. E
elas foram inúmeras na década de oitenta. Geralmente, estas
políticas adotadas como recomendação pelo FMI eram de
contração de demanda para geração de superávits nas contas
públicas e externas, dando solvência ao país. Ou seja, o objetivo
do FMI era tornar o país capaz de pagar suas contas.

A crise da dívida atingiu várias economias subdesenvolvidas,


como Polônia, Brasil e México. Existiam muitos recursos
internacionais nestes países e o sistema financeiro internacional
forjado desde o fim de Bretton Woods ainda não havia se
desenvolvido a ponto de aliviar os riscos de crises desta
magnitude. Ou seja, a crise da dívida era também a crise de
muitos bancos com matrizes em países centrais, o que dava o
clima de crise internacional, e deixava ao FMI uma importante tarefa.

154
Formação Econômica do Brasil

A política econômica alternava medidas de contração da demanda


com desvalorizações cambiais. Os resultados, em termos de contas
externas, alcançaram alguns patamares exigidos pelo FMI. No
entanto, ocorreram também impactos muito negativos em termos
de crescimento econômico, nas contas públicas e na própria
inflação. Em 1983, a inflação chegou à casa de 211 %.

O ano de 1984 teve uma retomada do crescimento econômico,


impulsionado por uma rápida recuperação da economia dos EUA.
Porém, a inflação continuou galopante, terminando este ano na
casa de 235%. Este indicador é muito próximo ao do ano de 1983,
o que revela um alto grau de indexação da economia brasileira
à época. Com uma inflação atingindo este percentual, havia
uma forte pressão por causa de outros fatores: choques de oferta,
choques cambiais e mudanças na estrutura de renda da economia.

O período que compreende a entrada no poder dos militares, até


1980, possui grande importância para a consolidação da indústria
no país, setor que cresceu em média 9,5% ao ano.

Segundo Ferraz (1997, p. 55):

[...] dentre os países em desenvolvimento esse número


foi suplantado somente pela coréia do Sul, Cingapura e
Indonésia. A estrutura industrial resultante dessa fase
da expansão industrial acelerada não diferia de modo
significativo da maior parte das economias da OCDE
[Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico]. ..., 1980, a participação conjunta dos
complexos químico e metalmecânico no produto industrial
era de 59% no Brasil, enquanto nas três economias mais
desenvolvidas – EUA, Japão e Alemanha Ocidental – esses
valores eram de 64,4, 64,5 e 69,8%, respectivamente.

No entanto, o mesmo autor (ibdem) alerta para as dificuldades


estruturais que permaneciam, ou seja, não houve mudança nos
principais problemas históricos da economia brasileira:

Porém, a debilidade do mercado interno brasileiro após


a conclusão do ciclo de substituição de importações, a
deficiente integração com o mercado internacional e,
principalmente, a limitada capacitação das empresas
nacionais para desenvolver novos processos e
produtos, constituíam, já naquele momento, elementos
potencialmente desestabilizadores do processo de
industrialização brasileiro.

Unidade 4 155
Universidade do Sul de Santa Catarina

Assim, após um período de tentativa de crescimento econômico


ao estilo milagre, o Brasil passou cada vez mais a ficar diante de
uma luta infrutífera contra o processo inflacionário. Esta situação
não auxiliou em nada a deficiência da economia brasileira
no que concerne à indústria em suas diferentes matrizes de
produção. A própria base agrícola acabou sendo afetada, pois os
descontroles de preços e a inflação inercial tornavam limitadas as
possibilidades de planejamento microeconômico.

Martine (1995, p. 64), além dos impactos econômicos diretos, salienta


os impactos em termos de concentração de renda e de urbanização:

O modelo de modernização agrícola adotado veio a


beneficiar, de forma complementar, a concentração da
propriedade e do uso da terra. Por um lado, subsídios
incentivaram a mecanização e, consequentemente,
a redução da necessidade de mão de obra. Por outro
lado, incentivou-se a especulação com a propriedade
da terra, expulsando pequenos produtores. Desse
modo, a concentração da propriedade rural expulsou
da terra um grande número de pequenos agricultores,
posseiros, proprietários, parceiros e arrendatários. E
como essas categorias de produtores eram justamente as
que utilizavam mais intensivamente mão de obra, uma
parcela significativa da população agrícola acabou sendo
‘liberada’ ao mesmo tempo. Além disso, a mecanização
nos grandes estabelecimentos teve um efeito líquido
negativos sobre a necessidade de mão de obra. Estima-se
que cerca de 28,4 milhões de pessoas deixaram as áreas
rurais entre 1960-80, sendo 12,8 milhões na década dos
60 e 15,6 milhões na dos 70.

Ao final deste período, não houve nenhum avanço no que diz


respeito à completa conclusão do processo de industrialização por
substituição de importações. Ao contrário, se antes deste processo
começar, ao final da década de 30, o Brasil era dependente dos
mercados externos para seus produtos agrícolas exportáveis, ao
final dele, em 1984, a dependência externa era financeira. Havia
um componente a mais nesta dependência, a inflação, que só
estaria dominada efetivamente a partir de meados dos anos 90 e
após muitas tentativas infrutíferas e danosas. A herança da crise
é descrita por Ferraz (1997, p. 57) com impactos em diversos
aspectos do país. Em termos do próprio Estado, o autor destaca:

156
Formação Econômica do Brasil

A deterioração das condições macroeconômicas


ocorreu em um período em que já se configurava uma
desarticulação institucional do Estado desenvolvimentista
de caráter estrutural. O resultado foi desastroso
em termos dos fatores político-institucionais da
competitividade. O Estado foi progressivamente
perdendo capacidade tanto de intervenção no que diz
respeito a políticas fiscais, industriais e tecnológicas ativas
quanto de ordenar e operar as políticas nas quais seu
papel é mais passivo e de caráter regulatório.

Igualmente na ação do Estado, o autor (1997, p. 57) continua


alertando para os impactos em termos de infraestrutura:

Ainda como decorrência das dificuldades fiscais e


operacionais do setor público, a expansão e mesmo a
manutenção dos níveis concorrentes de qualidade e
confiabilidade das infra-estruturas de energia, transporte
e telecomunicações, que no Brasil são controladas pelo
Estado, ficaram comprometidos em vista do colapso na
capacidade de investimento público.

Por último, de acordo com Ferraz (1997, p.57), ocorreram


impactos do ponto de vista social e em decorrência de
competitividade da nossa economia, fundamentais para agravar o
quadro de desigualdade de renda no Brasil até hoje:

Finalmente, esse quadro de estagnação econômica,


aceleração inflacionária e desorganização do setor público
teve também impactos desfavoráveis sobre os determinantes
sociais da competitividade, principalmente no que diz
respeito à educação e qualificação da mão de obra e aos
padrões de vida da grande maioria dos consumidores.

O fim deste período representa também o fim de uma ditadura, que


não resiste aos percalços da falta de crescimento e sucumbe pela falta
de legitimidade. Em seguida, inaugurou-se uma nova era na política
da economia brasileira. No entanto, esta nova era trouxe consigo,
até os dias de hoje, as agruras e as dificuldades da sua formação,
proporcionando uma experiência aos tomadores de decisão, bem como
a consolidação cada vez mais positiva do país no cenário mundial.

Unidade 4 157
Universidade do Sul de Santa Catarina

Síntese

Nesta unidade, você estudou um dos principais períodos da


formação econômica do Brasil. De 1930 a 1984, o país viveu
seu mais intenso processo de crescimento econômico. Isto foi
possível graças às condições externas e internas. Externamente,
ocorreu a crise de 1929 e a grande depressão na década de 30,
culminando com a II Grande Guerra Mundial, que durou até
1945. Internamente, o Brasil tinha uma incipiente indústria
instalada e capital proveniente da atividade agroexportadora,
que foi utilizado para impulsionar a industrialização. Estes
condicionamentos formaram o que ficou conhecido como
processo de industrialização por substituição de importações.

Em um momento em que este processo mostrava suas limitações,


começaram as intervenções do Estado, tanto para a regulação
da economia brasileira como para ser o motor dos investimentos
que deveriam tentar suprir o gargalo da inexistência de uma
indústria produtora de bens de capital e de bens intermediários.
Em diferentes episódios na história da economia brasileira,
houve choques de interesses políticos, que culminaram no golpe
militar de 1964, o que mudaria o perfil nacional-populista
implementado por Getúlio Vargas.

Os militares no poder conseguiram manter sua legitimidade


até o ponto de dar resultados econômicos para a sociedade civil
e política. Quando tentaram manter esta legitimidade num
momento desfavorável internacionalmente, eles corroeram o
pouco de oportunidades que o país teria para se desenvolver em
época próspera. A economia do Brasil entrou em um período
de trevas, com inflação e estagnação num primeiro momento,
seguidas por hiperinflação, que só foram resolvidas quase duas
décadas à frente.

158
Formação Econômica do Brasil

Atividades de autoavaliação

Ao final de cada unidade, você realizará atividades de


autoavaliação. O gabarito está disponível no final do livro
didático. Mas, esforce-se para resolver as atividades sem a ajuda
do gabarito, pois, assim, você estará promovendo (estimulando) a
sua aprendizagem.

1) O Brasil foi particularmente afetado pela crise de 1929 e a


grande depressão. Sobre as consequências desta crise no Brasil,
e os efeitos para o processo de industrialização, aponte a única
afirmação incorreta abaixo:

a) ( ) Afetou o Brasil porque o país não podia contar mais com


todos os mercados que tinha para seus produtos agrícolas.

b) ( ) Afetou o Brasil porque o país não podia contar mais


com todos os mercados que tinha para o café.

c) ( ) A industrialização passou a ser uma necessidade, e não


uma opção.

d) ( ) A indústria pesada já estava consolidada, a crise reforçou


sua condição de motor da economia a partir de então.

2) O processo de industrialização por substituição de importações


– ISI foi implementado no Brasil a partir da década de 30
em função da crise internacional. No entanto, apesar do país
ter se industrializado, não foi possível completar o processo.
Explique o que é a ISI, qual o papel das crises cambiais e do
Estado, e aponte as causas deste resultado parcial.

Unidade 4 159
Universidade do Sul de Santa Catarina

Saiba mais

Se você desejar, aprofunde os conteúdos estudados nesta unidade


ao consultar as seguintes referências:

TAVARES, Maria da Conceição. Da substituição de


importações ao capitalismo financeiro. Rio de Janeiro: Zahar
Editores 1975.

Filme: Zuzu Angel - retrata a situação do país em meados da


década de setenta em plena ditadura militar.

160
Para concluir o estudo

Esta é somente uma etapa da caminhada neste curso.


O desafio que tivemos em resumir a história econômica
em um livro é, praticamente, o mesmo desafio que
você pode ter tido em compreender como se formou
economicamente o Brasil.

Você leu e analisou quatro unidades separadas


por períodos importantes no desenvolvimento das
instituições econômicas e as culturas que se tornaram
base para esta formação.

O seu papel como profissional será de interpretar a história


e atuar de forma a minimizar as mazelas resultantes das
posturas políticas ao longo na nossa história.

Você está apto a identificar os principais condicionantes da


ação colonizadora no Brasil e suas repercussões ao longo
do espaço brasileiro, além de compreender as verdadeiras
dimensões dos diferentes ciclos econômicos, que
levaram à formação da nacionalidade brasileira. Poderá,
inclusive, analisar as origens, natureza e as características
da industrialização brasileira para, com isso, avaliar o
processo do desenvolvimento brasileiro e as diferentes
transformações. Após isso, você será capaz de contribuir
para o futuro de nossa história econômica brasileira.

Grande abraço,

Professora Letícia Cristina Bizarro Barbosa.

Professor Rogério da Costa.


Referências

ALMANAQUE Abril. 15. ed. São Paul: Abril, 1989.


ALMANAQUE Abril. 20. ed. São Paulo: Abril, 1994.
BRITO, Fausto. Crescimento demográfico e migrações na
transição para o trabalho assalariado no Brasil. R. bras. Est. Pop.,
Campinas, v. 21, n. 1, p. 5-20, jan./jun. 2004.
BRUM, Argemiro J. O desenvolvimento econômico brasileiro.
20. ed. Ijuí: UNIIJUÍ, 1999.
BUESCU, Mircea & TAPAJÓS, Vicente. História do
desenvolvimento econômico do Brasil. Rio de Janeiro: A Casa
do Livro, 1958.
CALMON, Pedro. História da civilização brasileira. Brasília:
Senado Federal, 2002.
CAMPOS, Nazareno José de. Terras comunais na Ilha de Santa
Catarina. Florianópolis: UFSC, 1991.
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internacional. Campinas: Ed. da UNICAMP; São Paulo: FAPESP,
1993.
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CUNHA Jr., Henrique. A Abolição da Escravidão. Disponível em:
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FAUSTO, Boris; DEVOTO, Fernando J. Brasil e Argentina: um
ensaio de história comparada (1850-2002). 2. ed. São Paulo:
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Desenvolvimento da Educação, 1995.
FERRAZ, João Carlos. Made in Brazil: desafios competitivos para
a indústria. Rio de Janeiro: Campus, 1997.
FERREIRA, Aline Fernanda S. Transição do trabalho escravo
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Disponível em: <http://www.administradores.com.br/informe-
Universidade do Sul de Santa Catarina

se/artigos/transicao-do-trabalho-escravo-para-o-trabalho-
assalariado/25098/>. Acesso em: 01 abr. 2010.
FONSECA, Pedro Cezar Dutra. A controvérsia entre papelismo e
metalismo e a gênese do desenvolvimentismo no Brasil. IX Congresso
Internacional da Brazilian Studies Association (BRASA). Tulane University:
New Orleans, Estados Unidos, 27 e 29 mar. 2008.
FUNDAÇÃO ROBERTO MARINHO (FRM). História da ocupação da
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FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. São Paulo: Companhia
Editora Nacional, 1974.
FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. São Paulo, Companhia
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MENDONÇA, Marina Gusmão de; PIRES, Marcos Cordeiro. Formação
econômica do Brasil. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002.
OHLWEILER, Otto Alcides. Evolução sócio-econômica do Brasil. Porto
Alegre: Tchê, 1986.

164
Formação Econômica do Brasil

PRADO JUNIOR, Caio. Formação do Brasil contemporâneo: Colônia. 9.


ed. São Paulo: Brasiliense, 1969.
PRADO JUNIOR, Caio. História econômica do Brasil. São Paulo;
Brasiliense, 1980.
PRADO, Luiz Carlos Delorme. A Economia Política das Reformas
Econômicas da Primeira Década Republicana. IV Encontro da SEP. Porto
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REGO, José Márcio; MARQUES, Rosa Maria (Org.). Economia brasileira. São
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SILVA, Hélio. 1889: a república não esperou o amanhecer. Porto Alegre:
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SODRÉ, Nelson Werneck. Panorama do segundo império, 2. ed. Rio de
Janeiro: GRAPHIA, 2004.
SOUZA, Cláudio Luiz Gonçalves. A teoria geral do comércio exterior:
aspectos jurídicos e operacionais. Belo Horizonte: Líder, 2003.
SZMRECSÁNY, Tamás; LAPA, José Roberto do Amaral. História econômica
da independência e do império, 2. ed. São Paulo: USP, 2002.
TAVARES, Maria da Conceição. Da substituição de importações ao
capitalismo financeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.
THOMPSON, Jorge. La guerra del Paraguay, Buenos Aires: Juan Palumbo,
1910.
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www.culturabrasil.org/republicavelha.htm. 1982. Acesso em: 20 ago. 2010.
VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil imperial. Rio de Janeiro: Objetiva,
2002.

165
Sobre o(s) professor(es)
conteudista(s)
Letícia Cristina Bizarro Barbosa

Possui graduação em Relações Internacionais pela


Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL).
Mestre em Economia Social pela Universidad Nacional
de General Sarmiento (UNGS) de Buenos Aires,
com bolsa de estudos do Centro Latino-americano
de Ciências Socais (CLACSO), tendo desenvolvido
a pesquisa com o tema “subjetividade econômica dos
produtores familiares de moluscos”. Desenvolveu
pesquisas nas áreas internacionais sobre a economia
solidária, lógicas econômicas e institucionalização de
diferentes racionalidades econômicas. Atualmente
é professora da UnisulVirtual, nos cursos de Gestão
de Cooperativas, Filosofia e Ciências Econômicas. É
membro e colaboradora da Red de Investigadores en
Economía Social y Solidaria (RILESS). Editora da
revista científica Otra Economía, conceito B1 pela Capes
Qualis. Pesquisadora membro do Centro Cultural de
la Cooperación (CCC) em Buenos Aires, na área de
Economia Social do departamento de Economia Política
e Sistema Mundial. É membro do Grupo Interdisciplinar
de Pesquisa em Administração, Relações Internacionais
e Turismo - GIPART.

Rogério da Costa

Possui graduação em Ciências Econômicas pela


Universidade Federal de Santa Catarina (1992), mestrado
em Administração pela Universidade Federal de Santa
Catarina, com ênfase em Políticas e Planejamento
Governamental (1998), e doutorado no Curso de
pós-graduação em Ciência Política da UFRGS, na Área de
Política Internacional, sob orientação do doutor Marco Aurélio
Chaves Cepik (2010). É professor da Universidade do Sul de
Santa Catarina (Unisul), no Curso de Relações Internacionais
no Campus Norte da Ilha, Florianópolis, e nos cursos da
UnisulVirtual, tendo escrito livros didáticos na área de Relações
Internacionais, Mercados Internacionais da Europa, África, Ásia
e Oceania, bem como de Economia Política. Tem experiência
de ensino, extensão e pesquisa na área de Economia, Comércio
Exterior, Ciência Política e Relações Internacionais, com
ênfase em Organizações Internacionais, Integração Regional,
Conflito, Guerra e Paz. É membro fundador e atual líder do
Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em Administração, Relações
Internacionais e Turismo (NIPART), membro da Associação
Brasileira de Ciência Política (ABCP) e da Associação Brasileira
de Relações Internacionais (ABRI).
Respostas e comentários das
atividades de autoavaliação

Unidade 1
1) Entre os objetivos de se estabelecer este Tratado está o de
assegurar a posse das terras conquistadas, tanto por Portugal
como por parte da Espanha, evitando, assim, o desgaste
militar entre os dois reinados. O Tratado de Tordesilhas
consiste num acordo entre Portugal e a Espanha, firmado em
1949, com o intuito de dividir o continente americano em
duas partes: Uma para o Portugal e outra para Espanha.
2) Você deve explicar que o intuito de Portugal não era o de
colonizar a princípio, mas, sim, o de explorar os recursos da
colônia. A escravidão dos indígenas foi a primeira opção,
mas sem sucesso. Por isso, os portugueses optaram pelos
africanos.

Unidade 2
1) O café era o produto. O Brasil se especializou neste produto,
as terras e clima eram propícios a esta cultura e a demanda
internacional era grande.
2) A indústria brasileira tem sua origem remota nas oficinas
artesanais, que estavam voltadas para os ramos de sabão e
velas de sebo, rapé, fiação e tecelagem, alimentos, fundição
de ferro e metais, lã e seda, dentre outros.
3) A resposta correta é a alternativa “a”.

Unidade 3
1) Rui Barbosa. A política econômica consistia na emissão
de moeda com o objetivo de promover a substituição da
antiga estrutura agrária baseada na exportação de café, pela
industrialização e incentivar o crescimento econômico.
2) A organização da economia cafeeira se constituía num
complexo de fazendas de café espalhadas pelo interior,
distantes dos grandes centros urbanos, onde a produção era
Universidade do Sul de Santa Catarina

vendida. Com as precárias condições de transporte, aliadas ao fato de


que os fazendeiros administravam diretamente as suas propriedades,
os cafeicultores acabaram delegando a terceiros (os chamados
comissários) a colocação de sua produção no mercado.

Unidade 4
1) Resposta incorreta: questão d, pois a indústria pesada só se consolidaria
muitas décadas depois.
2) A ISI é um processo no qual um país se industrializa produzindo
internamente o que antes era importado. Este processo se dá por dois
movimentos: pela necessidade em função de uma crise cambial, que
dificulta a compra dos importados, e pela indução do Estado a partir de
políticas diferenciadas para produtos que se queira produzir dentro do
país ao invés de importados. As causas dos resultados parciais no Brasil
foram a falta de mercado para os produtos exportáveis do país e, com
isso, a dificuldade de importação de produtos das indústrias de bens
de capital e dos intermediários. Assim, para completar a ISI, o país deve
formar uma indústria de bens de capital e de bens intermediários.

170
Biblioteca Virtual

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„„ Pesquisa a publicações online
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9610/98) pode-se reproduzir até 10% do total de páginas do livro.
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