Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Ciclos econômicos
Universidade do Sul de Santa Catarina
Os conteúdos reunidos neste livro focam na
discussão das instabilidades nas economias
capitalistas, destacando a teoria do
desenvolvimento econômico de Schumpeter e a
análise dos ciclos econômicos. Acrescenta-se ao
Ciclos
debate das instabilidades as teorias Keynesianas
e as pós-keynesianas, os conceitos de
Ciclos econômicos
heterodoxia e ortodoxia na economia e as
controvérsias das diferentes correntes teóricas.
econômicos
w w w. u n i s u l . b r
Universidade Sul de Santa Catarina
Ciclos
econômicos
UnisulVirtual
Palhoça, 2018
Copyright © UnisulVirtual 2018
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição.
Esta obra foi publicada originalmente com o título Macroeconomia II no ano 2012 com o ISBN 978-85-7817-501-6
Livro Didático
Professor(es) conteudista(s) Projeto Gráfico e Capa
Wagner Dantas de Souza Equipe UnisulVirtual
Designer Instrucional Diagramação
Marcelo Tavares de Souza Campos Cristiano Neri Gonçalves Ribeiro
Assistente acadêmico Revisão Ortográfica
Thayanny Aparecida Bedinot da Conceição Diane Dal Mago
ISBN
978-85-506-0264-6
e-ISBN
978-85-506-0265-3
S71
Souza, Wagner Dantas de
Ciclos econômicos : livro didático / Wagner Dantas de Souza. – Palhoça :
UnisulVirtual, 2018.
166 p. : il. ; 28 cm.
Inclui bibliografia.
ISBN - 978-85-506-0264-6
e-ISBN - 978-85-506-0265-3
Ciclos
econômicos
Livro didático
UnisulVirtual
Palhoça, 2018
Sumário
Introdução | 7
Capítulo 1
A instabilidade nas economias capitalistas | 9
Capítulo 2
Schumpeter e a teoria do desenvolvimento
econômico | 35
Capítulo 3
Keynes e a instabilidade em uma economia
capitalista | 59
Capítulo 4
Teoria pós-keynesiana e a instabilidade
em uma economia com sistema financeiro
desenvolvido | 93
Capítulo 5
Controvérsias entre as teorias
macroeconômicas | 123
Considerações Finais | 161
Referências | 163
Assim, você perceberá que o sistema capitalista sempre terá seus altos e baixos,
pontos fortes e fracos, desenvolvimento e retração, e verá que hoje dificilmente
observamos uma estabilidade econômica longa e duradora, pois o sistema
capitalista terá sempre momentos de instabilidade.
Bons estudos!
Seção 1
A macroeconomia antes de Keynes
Antes de iniciarmos nossos estudos quanto à caracterização dos ciclos
econômicos, vamos analisar o contexto da macroeconomia sob a ótica do
pensamento da escola clássica, cujo pensamento ditava os estudos econômicos
até Keynes, na década de 1930, inovar com suas ideias apresentadas na Teoria
Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, em fevereiro de 1936.
9
Capítulo 1
Na visão da escola clássica não haveria motivos para se preocupar com uma demanda
agregada deficiente, pois o mercado se ajustaria automaticamente, e devido a esse
ajuste não haveria motivos para preocupação.
1 Podem ser definidos como todos participantes envolvidos nas tomadas de decisões econômicas de um país. São
considerados agentes econômicos de um país as famílias, as empresas, o governo e o restante do mundo por meio
da interação dos demais agentes de outros países ou exterior.
10
Ciclos econômicos
Segundo Keynes, a queda da taxa de juros faria com que as pessoas, em vez
de aplicar seus recursos no mercado financeiro, aumentassem o montante de
dinheiro em espécie mantendo-os em seus “bolsos” e em suas contas correntes.
Dessa forma, nem todo aumento de poupança seria convertido em financiamento
de investimentos produtivos.
Em síntese, Keynes acreditava que nem toda a oferta seria absorvida pela
demanda agregada, e em algum momento necessitaria da intervenção dos
dirigentes econômicos por meio da política monetária ou fiscal.
O poder do governo para administrar alguns preços como da gasolina, gás, alimentos,
entre outros, e a força exercida pelos sindicatos, por meio de convenções coletivas
e acordos, por exemplo, influenciam no valor salarial. Essas ações fazem com que a
flexibilidade não seja perfeita ou até mesmo não exista.
11
Capítulo 1
A Grande Depressão de 1929 foi uma crise generalizada que iniciou nos Estados
Unidos e logo se alastrou para as demais economias capitalistas mundiais, e
somente foi superada em 1939, com o início da Segunda Guerra Mundial em
decorrência do aumento de demanda gerada pela economia da guerra.
Podemos observar que esse período de declínio econômico foi de dez anos,
sendo que os economistas clássicos acreditavam que a economia poderia
recuperar-se automaticamente depois de um grande declínio, o que não era
compartilhado por Keynes.
Eles acreditavam que esse aumento na emissão de moeda no longo prazo apenas
geraria mais inflação 2, ou aumento de preços.
Para compreendermos o raciocínio que está por trás dessa teoria vamos
materializá-la por meio da equação quantitativa da moeda, na qual a relação entre
a moeda e a renda é representada pela equação Mv = PY, sendo M a oferta de
moeda, v a velocidade de circulação da moeda, supostamente constante, P o
nível geral de preços praticados e Y é nível do produto agregado da economia.
2 É aumento generalizado dos preços em uma economia. Em geral, índices de inflação são calculados por institutos
de pesquisa públicos ou privados. No Brasil, o índice de inflação oficial é o Índice de Preço ao Consumidor Amplo
(IPCA), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O excesso de inflação reduz o poder de
compra dos agentes econômicos.
12
Ciclos econômicos
Seção 2
Ciclos econômicos
Os ciclos econômicos são caracterizados por regularidade de períodos de
prosperidade e declínio da atividade econômica, os quais estão diretamente
relacionados às instabilidades e crises na economia mundial. Neste estudo
teremos como base a análise de uma economia capitalista cujos ciclos são
inerentes a esse sistema.
No século XIX, o economista britânico William Stanley Jevons desenvolveu uma das
primeiras teorias referentes à ocorrência de ciclos econômicos, a qual era baseada
em flutuações existentes nos preços das safras agrícolas como causa fundamental
para as altas e baixas das atividades econômicas como um todo, desconsiderando
todos os demais setores econômicos para formação dessa instabilidade na
atividade econômica.
13
Capítulo 1
Essa teoria por isso só, nos dias de hoje, seria pouco acreditada, pois atualmente a
econometria pode comprovar que somente as flutuações dos preços agrícolas não são
suficientes para explicar na totalidade as oscilações de uma economia.
Johan Wicksell apresentava duas hipóteses centrais para fundamentar sua teoria:
Outra linha de estudos referente aos ciclos da economia foi realizada pelo
economista austríaco Joseph Alois Schumpeter, cujas conclusões partiram do
pressuposto que o investimento privado oscilaria a partir das inovações. Portanto,
o fenômeno das oscilações afetava as variáveis reais da economia como produto
agregado, desemprego, renda, e não apenas as variáveis monetárias, por
exemplo, a inflação, conforme afirmavam Wicksell e Friedman.
3 Foi um regime de política monetária que vigorou entre os anos de 1870 e 1931, em que cada país se comprometia em
deixar o valor de sua moeda fixa em uma quantidade específica de ouro. Esse regime se assemelha ao que conhecemos
como câmbio fixo, no qual uma unidade de moeda nacional equivale a uma quantia em moeda estrangeira
14
Ciclos econômicos
15
Capítulo 1
16
Ciclos econômicos
Seção 3
A instabilidade na Teoria Geral de Keynes
John Keynes fez uma abordagem diferenciada daquelas realizadas pelos
estudiosos clássicos referente aos ciclos econômicos, não partindo nem do
comportamento individual dos agentes econômicos – produtores e consumidores
–, nem do ajuste automático dos mercados.
Keynes criticou fortemente a teoria econômica vigente até a década de 1930, na qual
imperava a lógica de que o mercado sempre seria capaz de determinar um preço que
igualasse a quantidade ofertada e demandada de bens ou serviços em qualquer tipo
de mercado.
17
Capítulo 1
18
Ciclos econômicos
A grande contribuição que a teoria keynesiana traz para a economia diz respeito
aos investimentos realizados pelos empresários, os quais não aumentam em
grau suficiente para cobrir a crescente taxa de poupança, ou então o nível de
poupança não é igual aos investimentos na economia.
19
Capítulo 1
Equação 1:
D=C + I +G
Em que:
4 Essa eficiência marginal pode ser entendida como as taxas de retorno esperadas em um investimento. Sendo assim,
caso essas taxas sejam inferiores às taxas de juros praticadas no mercado financeiro, o empresário não investirá.
20
Ciclos econômicos
Equação 2:
Y = C (Y) + I + G
C (Y) = CA + cY
21
Capítulo 1
iguais, os pontos ao longo dessa reta são equidistante dos dois eixos vertical
e horizontal, respectivamente (DA,Y), ou seja, essa reta é a representação
geométrica de todos os pontos em que DA=Y.
Equação 4:
Y=CA+cY+1+G
22
Ciclos econômicos
CA + I + G
Y=
1� c
23
Capítulo 1
S (Y ) = Y � C (Y ) � G
Embutindo a Equação 3 da função consumo é possível transformá-la em função
poupança S(Y), a qual é representada na Equação 6 como sendo a renda
agregada da economia Y menos os gastos das famílias, ou consumo agregado
c(Y) também como função da renda agregada e do consumo do governo G.
Substituindo C(Y) com a definição que o consumo depende do nível de gastos
autônomos CA e do multiplicador do consumo cY, teremos como resultado a
equação 7 a seguir:
24
Ciclos econômicos
Essa formulação resultante é no mínimo intrigante, visto que há uma situação que
contradiz a intuição comum: o paradoxo da parcimônia.
Dessa forma, caso a economia decida ser mais poupadora, aumentando a propensão
marginal a poupar, tal aumento implicará em uma redução da propensão marginal de
consumir, porque essas duas variáveis, uma vez somadas, equivalem a 1.
Com essa redução da propensão marginal a consumir ocorrerá uma queda na renda
de equilíbrio, cujo valor depende da própria propensão marginal a consumir. Uma vez
que a poupança é determinada pela renda, esta redução na renda de equilíbrio pode
fazer com que o desejo de poupar mais, leve a uma redução da poupança.
25
Capítulo 1
Caso as famílias decidam poupar uma quantia muito pequena em relação àquilo que as
empresas desejam investir, essas empresas disputarão os poucos recursos existes no
mercado, ofertando um pagamento maior pelo empréstimo, o qual resultará em uma
taxa de juros mais elevada no mercado e vice-versa.
26
Ciclos econômicos
27
Capítulo 1
Isso ocorre, pois, a partir de certo nível reduzido da taxa de juros, a procura
de moeda seria perfeitamente elástica em relação aos juros, sendo a curva de
procura por moeda horizontal. Desse modo, as autoridades poderiam aumentar a
quantidade de moeda que a taxa de juros não cairia mais, ocorrendo o fenômeno
da armadilha da liquidez que é típica em momentos de recessão.
É importante registrar que a taxa de juros muito baixa é típica das recessões,
sendo que neste período ocorre redução da atividade econômica porque o
valor dos títulos públicos de renda fixa tende a aumentar fazendo baixar a taxa de
juros do mercado.
28
Ciclos econômicos
Keynes centralizava seus esforços na política fiscal, visto que a política monetária
ficava inerte nos momentos mais agudos de crise. Assim, propunha a realização
de grandes investimentos públicos.
Seção 4
Ciclos econômicos versus Teoria Geral de Keynes
Na visão dos economistas clássicos o nível de poupança define a renda da
economia e, por sua vez, o nível de investimento, e quando há um aumento na
poupança, considerando a taxa de investimento constante, há uma redução na
aquisição de bens e serviços na economia. Portanto, pela redução do consumo
de bens e serviços o lucro das empresas se reduz, o desejo de investir dos
empresários diminui a renda e o desejo de poupar também serão menores. Esse
processo traz a economia de volta ao equilíbrio segundo os clássicos onde
poupança será igual a investimento.
29
Capítulo 1
É importante observar que Keynes não estuda em sua teoria o tipo de ciclo que
a economia está vivenciando nem a sua periodicidade, visto que direciona seus
estudos as causas que levam a economia aos seus altos e baixos. Assim, o
desemprego não seria apenas uma condição básica do sistema, e sim inerente ao
próprio sistema capitalista.
6 São eventos que afetam a economia de fora para dentro. Por exemplo, uma crise em um país vizinho afetando a
nossa produção.
30
Ciclos econômicos
Os ciclos dessa forma são explicados por Keynes por meio de flutuações
do nível de investimento na economia. Lembrando que, quando tratamos de
investimento na Teoria Geral de Keynes, estamos considerando a aquisição de
equipamentos do setor produtivo, os quais não são as aplicações no mercado
financeiro.
Para Keynes, o ciclo real de uma economia, ou seus altos e baixos, ocorre devido
à alteração na eficiência marginal do capital. Esta última seria influenciada pela
expectativa de longo prazo.
31
Capítulo 1
A explicação para a variação dos estoques, uma vez que ocorreu o aumento da
demanda, é que as empresas desejam manter certos estoques de sua produção
total. Portanto, depois do aumento na demanda as mesmas ajustam sua
produção a um novo nível.
Y = C + I + �estoques
Sendo que o produto agregado (Y) é função do consumo C, dos investimentos I
e as variações dos estoques serão �estoques .
C = cY
C = C-1
C=cY1
32
Ciclos econômicos
Neste sentido, teremos equilíbrio nesse sistema apenas quando Y-1 - = Y-2, ou
seja, quando a variação dos estoques for igual a zero. No entanto, uma oscilação
inesperada da demanda levará a alterações no estoque e causará ciclos na
economia até o ponto de equilíbrio.
33
Capítulo 2
Schumpeter e a teoria do
desenvolvimento econômico
Seção 1
Quem foi Joseph Alois Schumpeter e quais
contribuições deixou para humanidade?
Joseph Alois Schumpeter foi um economista que marcou sua época ao
desenvolver teorias sobre todo o sistema econômico, teorizando sobre diversas
áreas do conhecimento econômico como a teoria econômica propriamente
dita; a evolução do sistema capitalista; e a história econômica. Assim, podemos
considerá-lo um sociólogo econômico.
De acordo com Costa (2006, p.1), a forma como Joseph construiu sua teoria geral
da economia foi inspirada nos economistas clássicos Adam Smith (1723-1790),
David Ricardo (1772-1823), Karl Marx (1818-1883), dentre outros.
35
Capítulo 2
“O sistema econômico não se modificará arbitrariamente por iniciativa própria, mas estará
sempre vinculado ao estado precedente dos negócios.” (SCHUMPETER, 1997, p. 28).
De acordo com Costa (2006, p. 2), de 1925 até seu falecimento, em 1950,
Schumpeter dedicou-se apenas a atividades ligadas à academia. Depois uma
longa passagem pela Universidade de Bonn, foi para Havard, no período de
1927 e 1928 com um retorno em 1930. Estabeleceu residência nos Estados
Unidos em 1932.
36
Ciclos econômicos
Cabe destacar que aos 50 anos Schumpeter já havia escrito 17 livros, inclusive
novelas e centenas de artigos e ensaios científicos. No conjunto da sua obra há
destaque para os seguintes textos: Theory of Economic Development (1911);
Business Cycles (1939); Capitalism, Socialism and Democracy (1942); e History of
Economyc Analysis (1954), esta publicada depois da sua morte.
Schumpeter, ao longo de suas obras, transita entre quatro grandes temas: Teoria
Econômica, Sociologia Econômica, Estrutura da Sociedade Econômica
e História Econômica. Tanto é que quando escreve Theory of Economic
Development ou Business Cycles, Schumpeter coloca o tema desenvolvimento
econômico em destaque.
37
Capítulo 2
38
Ciclos econômicos
Seção 2
Fundamentos do desenvolvimento econômico
de acordo com a teoria de Joseph Schumpeter
Em suas obras Schumpeter tem uma linha de análise que visa basicamente a
compreender o comportamento da iniciativa privada, a divisão do trabalho
e a livre concorrência, e faz críticas ao que entende como economia do fluxo
circular, que é basicamente um modelo de uma economia na qual a produção
sempre encontrará a sua demanda.
39
Capítulo 2
A sociedade imaginária de Adam Smith, com a mão invisível, não parece muito
diferente daquela idealizada por Karl Marx. Segundo Costa (2006, p. 6), “[...]
Marx parte de uma economia mercantil simples para, então, introduzir elementos
próprios do modo de produzir capitalista”.
Mas como este modelo estático se sustentaria e quais são as suas hipóteses
complementares?
40
Ciclos econômicos
De acordo Costa (2006, p. 3), no fluxo circular “[...] os agentes econômicos apegam-
se ao estabelecido, e as adaptações às mudanças ocorrem em ambiente familiar e de
trajetória previsível”.
Cabe destacar que os estudos realizados por Schumpeter para desenvolver sua
teoria são contemporâneos, visto que, ao analisarmos os fatores que a compõem,
percebemos que são atuais, com aplicabilidade direta aos cenários econômicos
que vivenciamos hoje.
Desse modo os administradores dos meios de produção possuíam funções de
“gerentes rotineiros”, pois administrariam a produção e os meios produtivos usando
os mesmos processos, adequando apenas as quantidades de trabalho e insumos.
Mas por que haveria ciclos na economia se o fluxo circular era perfeito entre a oferta e
a demanda?
41
Capítulo 2
Fica claro nas palavras de Schumpeter que os novos processos produtivos são
responsáveis pelo desenvolvimento: “[...] na medida em que não for este o caso,
e em que as novas combinações aparecerem descontinuamente, então surge o
fenômeno que caracteriza o desenvolvimento (SCHUMPETER, 1997, p. 76).”
Cabe destacar que na economia não há uma mudança “natural”, pois o sistema
não se modifica por ele mesmo. Schumpeter define que produzir significa
combinar forças e coisas que estão ao alcance do agente econômico. Dessa
forma, todos os métodos de produção são diferentes porque as formas de
combinação são distintas.
Y = f (K, N, L, S, U)
Em que:
L = Força de trabalho.
Adelman (1961, p. 9) afirma que “[...] então, nós explicitamente reconhecemos que
a taxa de produto de uma economia não é um fenômeno puramente econômico”.
42
Ciclos econômicos
43
Capítulo 2
Para ilustrar como diferenciar uma ruptura de uma simples continuidade, Schumpeter, nos
fornece em sua obra o seguinte exemplo: “[...] adicione sucessivamente quantas diligências
quiser, com isso nunca terá uma estrada de ferro” (SCHUMPETER, 1997, p. 75).
Para quebrar com o fluxo circular seria necessário haver uma ruptura total com
o processo produtivo anterior por meio de algo novo, inovador, visto que as
mudanças repentinas que ocorrem na economia, como, por exemplo, os ciclos e
crises na economia, para Schumpeter seriam todas causadas pela inovação.
1 Em economia, a análise estática é a comparação de dois diferentes resultados na situação econômica, antes e
depois de uma mudança em algum parâmetro.
44
Ciclos econômicos
A ideia por trás das novas formas de produzir era combinar fatores produtivos que
desenvolvessem produtos ou serviços de melhor qualidade e/ou com um custo
mais baixo. Assim, essas novas combinações apareceriam de forma descontínua,
irreversível e destruiriam as combinações ultrapassadas.
45
Capítulo 2
2 São indivíduos que inovam, independentemente de serem proprietários capitalistas (detentores dos recursos
financeiros investidos na empresa) ou simplesmente gestores dos meios de produção. Os empresários inovadores
estão muito próximos do que conhecemos hoje por empreendedores.
46
Ciclos econômicos
47
Capítulo 2
Seção 3
Os sistemas que integram o mercado financeiro
segundo Schumpeter
Para estudar o mercado financeiro na visão de Schumpeter é primordial
compreendermos o conceito de capital 3, o qual, segundo este autor, é um agente
de trocas, ou um instrumento com o qual o empresário adquire os bens de que
necessita para produzir.
Capital, de acordo com Schumpeter (1997, p. 123), era “[...] soma de meios
de pagamento que está disponível em dado momento para transferência aos
empresários”, sendo que tais recursos de capital seriam conseguidos nas
instituições financeiras criadoras de crédito.
Ademais, a objeção realmente não pode ser feita de modo algum, porque todos
reconhecem o fenômeno análogo de que as mudanças na quantidade ou na distribuição
de dinheiro podem ter efeitos de muito longo alcance. (SCHUMPETER, 1997, p. 102).
3 Não é o estoque de bens reais de uma sociedade, mas sim uma reserva monetária que capacita o empresário
ter o “poder de controle” sobre os fatores de produção, deslocando-se dos processos produtivos ultrapassados e
canalizando-os para os novos usos que a inovação exige.
48
Ciclos econômicos
Parte desse lucro seria destinada aos donos do capital, ou seja, o sistema
financeiro, e no curto prazo as empresas utilizariam os recursos financeiros
para a produção do fluxo circular, desse modo o crédito seria utilizado para
providenciar as inovações e o desenvolvimento econômico.
49
Capítulo 2
4 O significado de boom, muito utilizado em economia, originário do inglês, quer dizer um desenvolvimento
acelerado de uma determinada atividade econômica, de uma cidade, do apoio a uma candidatura política, dentre
outros. Neste texto utilizamos a palavra boom sempre no sentido do desenvolvimento acelerado da economia.
50
Ciclos econômicos
51
Capítulo 2
Essa era a visão que Schumpeter destacou na sua obra sobre o aparecimento
dos ciclos, em que o lucro apareceria enquanto a inovação estivesse em plena
atividade, sendo que entre o ponto inicial da inovação e a sua decadência,
quando então os lucros desaparecem aos poucos e o processo anterior morre, as
empresas antigas vão à falência.
O próprio Schumpeter destacou em sua obra o exato momento em que isso ocorreria:
Podemos imaginar que como as ações de uma empresa oscilam na bolsa de valores a
espera de novidades de seus dirigentes, assim o faz toda a economia.
Para Schumpeter, nem todos os ciclos são regulares, ou seja, não há regularidade
no processo porque dependeria da característica da inovação e, dependendo do
tipo de inovação, esta poderia fazer a “bolha” do desenvolvimento ser maior ou
menor, conforme o caso.
Schumpeter, na sua obra Business Cycles (1939, p. 323), cita os três tipos de
ciclos: o primeiro, chamado de “ondas longas” (ou ciclo de Kondratiev), atribuído
a Nikolai Dimitrievich Kondratiev, conhecido por ter sido o primeiro a tentar provar
estatisticamente o fenômeno das “ondas longas”, movimentos cíclicos (ciclo
econômico) de aproximadamente 50 anos de duração.
52
Ciclos econômicos
Schumpeter analisa e enfatiza que o empresário usa o crédito e o capital para criar
coisas novas, sendo que o papel desse agente econômico especial é inovar, e que por
trás das inovações é que a economia se desenvolve.
Seção 4
A dinâmica capitalista na visão de Schumpeter
Em 1928, Schumpeter nos fornece uma análise referente à dinâmica do
sistema capitalista ao tratar os altos e baixos deste sistema e ao diferenciar as
instabilidades políticas e sociais daquelas ditas econômicas.
Por várias vezes esse autor insistiu na ideia de que não existe nenhuma razão
puramente econômica impedindo o capitalismo de transpor, com sucesso, novas
etapas. Isso pode ser observado pelo capitalismo que temos hoje, que é muito
diferente daquele que Schumpeter analisou nos anos de 1940, em que as invenções
já renderam novos projetos nos dias de hoje e a cada momento temos renovações.
53
Capítulo 2
Schumpeter destaca em sua obra que o capitalismo deveria sofrer três etapas
para completar o ciclo para efetivamente ser destruído pelo seu próprio sucesso:
1) destruição das camadas protetoras; 2) destruição das instituições capitalistas;
e 3) a obsolescência da função empresarial.
54
Ciclos econômicos
Assim, a burguesia rompeu com seu antigo aliado, a nobreza, destruindo o que
antes havia sido sua “camada protetora”, e, sem dúvida, observamos que houve
prejuízo político para a burguesia, pois perdeu apoio político, social e cultural que
a nobreza lhe garantia. Para Schumpeter, este prejuízo se traduzia na capacidade
de a burguesia governar politicamente.
55
Capítulo 2
Por meio desta análise podemos verificar que, se o empreendedor é aquele que
enfrenta as resistências e estas não existem mais, seu papel na economia fica menor
ou desaparece por completo.
56
Ciclos econômicos
Como o próprio Schumpeter (1961, p. 167) escreveu “[...] verifica-se, pois, o que
o progresso econômico tende a se tornar despersonalizado e automatizado”.
As decisões em assembleias substituem a ação do empresário individual e a
própria burguesia, segundo Schumpeter, perece com esse desaparecimento do
empresário individual.
Dessa forma a classe social burguesa seria renovada pela família do empresário
bem-sucedido, e a riqueza proveniente da burguesia empresarial poderia
desaparecer de duas formas: seja pelo empobrecimento que rebaixa a classe ou
por meio do falecimento dos burgueses, sendo sua riqueza distribuída entre os
herdeiros. Sobre isso Schumpeter escreve que
Outro ponto observado é que uma vez distribuída a riqueza de períodos áureos,
esta poderia cair nas mãos de herdeiros sem capacidade administrativa ou
competência para o negócio, fazendo com que durasse poucas gerações. Assim,
à medida que os empresários se tornassem mais escassos, enfraqueceria o
processo de renovação da burguesia.
57
Capítulo 3
Seção 1
Depressões e crises econômicas
59
Capítulo 3
A crise econômica que ocorreu, por exemplo, no ano de 1929 representou uma
grande crise mundial. Naquele momento começava na Bolsa de Valores de
Nova Iorque a maior queda no valor das empresas que o mundo já havia visto,
caracterizando-se por ser um processo de perda de valores acumulativo e com
um “efeito dominó”, que se alastrou da economia americana para outros países,
e que durou até 1932, gerando perdas de aproximadamente 90% no valor dessas
companhias, e um desemprego recorde, sem precedentes na história mundial.
Passados aproximadamente 40 anos, verificamos outra crise na economia, neste
caso decorrente da alta do preço do petróleo que quadruplicou seu valor de
mercado, e como toda a cadeia produtiva dependia, e ainda hoje depende desse
insumo, ocasionou uma expressiva desaceleração na economia mundial.
De acordo com Santana (2006, p. 159), o primeiro choque do petróleo inicia em
outubro de 1973 com a guerra Yom Kippur, em referência a um dos dias mais
importantes do judaísmo, em que a Organização dos Países Árabes Exportadores
de Petróleo cancelou a exportação de sua produção para um conjunto de países
que apoiou Israel no conflito com Egito e Síria.
Essa crise do petróleo foi sentida em diversos países, inclusive o Brasil que naquele
período encontrava-se em ritmo acelerado de crescimento econômico.
60
Ciclos econômicos
1 Pode ser conceituada como a aquisição imediata ou real de bens e serviços em uma economia pelos seus
agentes econômicos. O termo efetivo é enfatizado para diferenciar de potencial, uma vez que este seria apenas a
capacidade prevista de aquisições pelos agentes econômicos.
61
Capítulo 3
Cabe ressaltar que a taxa de juros é determinada pela oferta e pela procura de
moeda na economia, sendo que essa oferta de dinheiro vai depender dos motivos
transacionais (compras/ vendas de bens e serviços) e de precaução (guardar
dinheiro para momentos difíceis), ambas as variáveis relacionadas à renda.
2 É a relação entre o rendimento esperado de um investimento e seu preço de aquisição. Se os fluxos futuros do
investimento, trazidos a valor presente, superarem o preço de aquisição e a taxa resultante for superior aquela
prevalecente no mercado, a operação é eficiente, caso contrário não.
3 Esta lei tinha como principal entendimento a ideia que a procura criaria sua própria demanda.
62
Ciclos econômicos
Diante deste cenário não haveria justificativa de investir na economia uma vez que
não há lucros, sendo que a tendência dos mesmos é reduzir caso não haja uma
iniciativa governamental para incentivá-los.
Em outros termos, de nada adiantaria o Banco Central usar instrumentos para aumentar
a quantidade de moeda, como, por exemplo, baixar a taxa básica da economia (meta
Selic no Brasil) com o propósito de aumentar o crédito no sistema bancário.
De acordo com Keynes (1996, p. 206), quando a taxa de juros chega a um nível
extremamente baixo, ocorre a preferência pela liquidez “virtualmente absoluta”.
É importante observar que uma economia monetária, ao ingressar na armadilha
da liquidez, situação típica em épocas de recessão com redução da demanda,
tende a coincidir com a previsão de lucros menores pelas previsões pessimistas
dos investidores, tudo ocorrendo simultaneamente, justamente devido ao estado
recessivo da economia.
Neste contexto, verificamos uma redução ainda maior dos investimentos e, caso
fosse delegado ao mercado o ajustamento automático para correção dos rumos
da economia, esse nível poderia permanecer por tempo indeterminado.
A taxa de juros baixa, em nível próximo ao da armadilha da liquidez, é resultado
do aumento dos preços dos títulos de renda fixa. Ou seja, em momentos
recessivos aumenta-se o sentimento de precaução o que leva os especuladores a
demandarem mais títulos com um nível de segurança maior.
Esse aumento na demanda por títulos eleva seus preços e diminui a taxa de juros,
fazendo com que os empresários, por exemplo, se sintam mais seguros aplicando seus
recursos nesses títulos que investindo em seus negócios.
4 Significa deixar a economia seguir seus rumos sem a interferência do governo. Ficou consagrada nos anos mais
recentes na figura do liberalismo econômico.
63
Capítulo 3
A solução clássica para o desemprego, uma redução dos salários nominais, não
poderia ser aceita pela teoria keynesiana porque não condizia com a realidade da
armadilha da liquidez. Entretanto, Keynes admitia uma diminuição dos salários
reais utilizando-se de uma política monetária flexível, inflacionando um pouco a
economia, indicando esse processo para momentos de crise.
Com o aumento da inflação o efeito seria uma redução da renda real, uma vez que
o preço médio dos produtos e serviços da economia aumentaria dado o mesmo
nível de salários. John Keynes entende que mesmo a possibilidade institucional de
negociações para a queda do salário nominal dos empregados 5, representaria
um risco muito grande, sendo que no processo político seria praticamente
impossível de ser realizado sem grandes protestos e rupturas.
A forma mais inteligente para enfrentar o desemprego seria adotar uma política
monetária de expansão do crédito, e uma política fiscal para aumentar os investimentos
públicos e de redução dos impostos.
Para que possamos ter uma melhor visualização do que ocorre na armadilha
da liquidez, vamos estudar o conceituado modelo Investment Saving e Liquidity
preference Money supply (IS/LM).
5 É o salário contratual, baseado em uma quantidade de moeda corrente, e que se difere do salário real, salário
medido em termos de poder de compra de bens e serviços. A diferença entre ambos está justamente na inflação,
em que dado um nível de salário nominal, quando temos os preços médios da economia aumentando, o salário real
se reduz mesmo o salário nominal se mantendo estável.
64
Ciclos econômicos
A figura a seguir ilustra, por meio do gráfico IS/LM, uma economia em recessão,
que apresenta a atividade econômica abaixo do produto potencial, e que está
retornando ao nível de equilíbrio.
Cabe destacar que quanto menor for o multiplicador dos gastos e a sensibilidade
dos gastos com investimentos às variações na taxa de juros, mais inclinada
será a curva IS, a qual se deslocará para a esquerda ou para a direita, conforme
as variações nos gastos autônomos, sendo estes menores ou maiores,
respectivamente.
65
Capítulo 3
6 É representado pela quantidade de moeda circulando em uma economia dividida pelo nível de preços (inflação).
Sendo o nível de moeda na economia, M, e o nível de preços, P, o estoque real de moeda será, M/P. Uma queda em
P aumenta o estoque de moeda, e vice-versa.
66
Ciclos econômicos
7 Essa taxa leva em consideração a variação no nível de preços e reflete a alteração no poder de compra dos agentes
econômicos. Podemos obter a taxa de juros real por meio da fórmula de Fisher, ilustrada a seguir pela Equação 1:
67
Capítulo 3
O segundo impacto será causado pela queda de preços (inflação reduzida), visto que
os agentes econômicos em uma recessão esperam que a inflação se reduza devido
à falta de atividade econômica. Pela fórmula de Fischer podemos observar que dada
uma taxa nominal de juros, a queda da inflação aumentará a taxa real de juros.
O efeito do aumento da taxa real de juros na economia resulta numa queda dos
gastos autônomos. Com isso temos a curva IS também se movimentando, mas,
ao contrário da LM, temos uma retração para o ponto B’’, que inclusive poderá
ter um nível de produto menor que aquele inicialmente identificado no início da
recessão, fazendo com que a situação piore ao invés de melhorar.
68
Ciclos econômicos
Diante desses índices vamos desenvolver um cálculo, por meio da fórmula de Fischer,
de modo a comprovar que a taxa real de juros apresentada é realmente 3,3%.
Agora, vamos supor que o aumento da quantidade de moeda faz a taxa de juros
reduzir de 8,5 para 7% ao ano. Com base nessa premissa obtemos a seguinte
taxa de juros real na economia por meio da Equação 3 na sequência:
69
Capítulo 3
Podemos observar por meio desta equação que a taxa de juros real da economia
passou de 3,33% para 3,88% ao ano. Assim, verificamos que o efeito de uma
queda na inflação é o aumento da taxa de juros real.
Essa situação torna-se um ciclo vicioso em que uma recessão poderá se tornar uma
depressão profunda na economia, pois se a taxa de inflação cair mais teremos o
produto respondendo negativamente devido aos aumentos nas taxas reais de juros, e
essa situação levará a economia cada vez mais longe do produto natural.
Em situações como essa o Banco Central, aqui no Brasil – Banco Central do Brasil
(BACEN), possui mecanismos para atuar, tendo por finalidade a estabilização da
economia.
70
Ciclos econômicos
COPOM decide qual será a meta de inflação para determinado ano, ou seja, em
suas reuniões eles determinarão o nível de juros básico da economia, também
chamado de Meta Selic e outros instrumentos.
Para reverter esse cenário na economia o Bacen teria que fazer a taxa real da
economia se estabilizar ou diminuir para aquecer a economia novamente. Para
isso, poderá reduzir a taxa básica de juros, ou outro instrumento que tiver o
mesmo efeito como, por exemplo, redução dos depósitos compulsórios ou até
mesmo do aumento do crédito aos bancos via redesconto.
Inflação = 5% ao ano;
71
Capítulo 3
Inflação = 3% ao ano;
Reduzindo ainda mais as taxas de juros nominal, além daquela que o mercado
negocia e com os novos parâmetros de inflação, o Bacen consegue manter,
ou até mesmo diminuir, a taxa real de juros, sendo que com essa intervenção
promove o crescimento do produto agregado.
Para diminuir o nível anterior de juros real para patamares inferiores aos 3,33%
ao ano, o Bacen teria que estabelecer a taxa nominal (Selic) em algo menor
ainda que os 6,43% ao ano, dependendo dos seus objetivos, conforme ilustra a
Equação 5 na sequência:
72
Ciclos econômicos
Com a taxa de juros nominal igual a zero os agentes econômicos seriam indiferentes
entre manter o seu dinheiro em espécie ou aplicados, pois ambas as decisões levariam
a um mesmo rendimento: zero.
Cabe refrisar que situações nas quais os agentes econômicos prevejam deflação
poderão comprometer a efetividade da política monetária, ao passo que a
deflação (inflação abaixo de zero) ocorre para dado nível de taxa de juros nominal,
o que pode aumentar a taxa real de juros.
73
Capítulo 3
Seção 2
Inflações persistentes no sistema capitalista
A inflação é o aumento generalizado dos preços em uma economia, sendo que
quando esse aumento ocorrer de forma rápida e descontrolada, com os preços
subindo desordenadamente, temos o fenômeno econômico denominado de
hiperinflação.
74
Ciclos econômicos
Esse aumento no déficit orçamentário foi justamente o que ocorreu com o Brasil
na década de 1980 até meados de 1990. Com a interrupção dos empréstimos
externos, o financiamento desse déficit passou a depender cada vez mais do
endividamento interno e da senhoriagem 8.
8 São ganhos que derivam da diferença entre o valor nominal da moeda e o custo em produzi-la. Por exemplo,
a única instituição autorizada a emitir moeda no Brasil é o Bacen. Sendo assim, vamos imaginar que o custo de
fabricação de uma cédula de R$ 100,00 seja R$ 2,00. Dessa forma, o Bacen poderá utilizar, teoricamente, R$ 98,00
como quiser. Este seria o ganho vindo com a senhoriagem.
75
Capítulo 3
Neste caso, a única alternativa que resta a um país para honrar seus
compromissos fiscais é fazer uso da emissão de moeda como financiadora de
seus déficits, utilizando a senhoriagem como escapatória para a crise.
Em quantos por cento a taxa de crescimento da moeda nominal deve crescer para
financiar o déficit orçamentário de um governo?
�M
Senhoriagem =
P
Em que:
�M �M M
= +
P M P
76
Ciclos econômicos
��M M �
� x ÷
Senhoriagem � M P�
=
Y Y
Em que:
Simplificando:
Senhoriagem �M �M / P �
= x� ÷
Y M � Y �
Diante deste cenário, suponhamos que para financiar sua dívida orçamentária a
Grécia pretenda fazer uso da emissão de moeda.
Vamos desenvolver apenas um exemplo teórico, pois a Grécia utiliza como moeda
única o Euro, não se beneficiando da senhoriagem porque a emissão da moeda é
feita pelo Banco Central Europeu. Nesta situação a Grécia apenas tem um repasse
do valor da senhoriagem que, para efeitos deste estudo, não será abordado.
9 Significa apenas a quantidade absoluta de moeda em circulação e não valor de compra real de uma moeda ou
saldos reais. Por exemplo, se temos um produto na economia que custa R$ 25,00 e uma quantidade de moeda
no valor de R$ 100,00 podemos adquirir quatro unidades deste produto. Se os preços se elevarem para R$
50,00, apenas 2 produtos poderão ser adquiridos. Para manter o poder de compra a quantidade de moeda deve
se ajustar, assim o valor nominal ou quantidade nominal deve ser de R$ 200,00.
77
Capítulo 3
Senhoriagem �M �M / P �
= x� ÷
Y M � Y �
78
Ciclos econômicos
Caso o governo inicie a reforma fiscal pelo controle de gastos públicos, a primeira
ação a ser executada é a negociação da dívida, visto que todos os países que
tiveram sucesso na luta contra a inflação negociaram a dívida com seus credores,
obtendo descontos e pausas nos pagamentos.
10 Basicamente está relacionada à administração dos gastos públicos e à arrecadação de impostos. Um bom
programa de estabilização deve alterar a composição de ambos os lados, na arrecadação e nos gastos.
79
Capítulo 3
Somente atuando nas três políticas: monetária, fiscal e cambial será possível
restabelecer a confiança dos agentes econômicos.
O Plano Cruzado foi implantado com muita euforia em 1986, no governo José
Sarney, diante de um aumento excessivo de preços.
80
Ciclos econômicos
11 Foi a parte virtual do Real, que começou a vigorar na economia em 1º de março de 1994. Era, na verdade, um
índice que procurou reproduzir a inflação, ou variação do poder de compra, servindo apenas como unidade de
conta e referência de valores. Era paralela à moeda em circulação na época o Cruzeiro Real (CR$), coexistindo com
ele até o dia 1º de julho de 1994, quando foi lançada a nova moeda, o Real (R$).
81
Capítulo 3
O Brasil, no período de início do Plano Real, tinha uma inflação inercial 12 muito
forte, em que os valores futuros eram corrigidos com frequência muito curta.
12 Termo, criado pelo economista brasileiro Mario Henrique Simonsen, que se refere à ideia de que os agentes
econômicos possuem memória inflacionária, em que o índice atual de inflação é a base para as negociações de
preços no futuro, portanto, sendo a inflação no futuro mais alta devido a este fato
82
Ciclos econômicos
Cabe destacar que nos dias de hoje ainda há um grau de indexação na economia
brasileira, mas esta é incomparavelmente menor que aquela vivenciada até 1995.
83
Capítulo 3
Quando o governo observa que não tem capacidade administrativa para atuar em
determinado setor da economia ou que determinada empresa pública desperdiça
recursos públicos por não ser rentável, uma solução é a privatização.
Foi por meio da Lei nº 9.491, de 09 de setembro de 1997, que criou o Conselho
Nacional de Desestatização, que o então Presidente Fernando Henrique Cardoso
(FHC) (1995-2002) adotou um amplo programa de privatizações. O governo FHC
apenas continuou um processo de privatizações que teve seu início no governo
de Fernando Collor.
84
Ciclos econômicos
A Vale, antiga Vale do Rio Doce, nas mãos da iniciativa privada tornou-se uma das mais
valiosas mineradoras do mundo.
13 Este consenso foi escrito por John Williamson, em 1989, e por outros economistas de Washington D.C., tornando-
se, a partir daquele momento, a política oficial do FMI quando concede fundos para países em dificuldades. É formado
por um conjunto de medidas que possui dez regras básicas: disciplina fiscal; redução dos gastos públicos; reforma
tributária; juros de mercado; câmbio de mercado; abertura comercial; investimento estrangeiro direto, com eliminação
de restrições; privatização das estatais; desregulamentação (afrouxamento das leis econômicas e trabalhistas) e direito
à propriedade intelectual.
85
Capítulo 3
Quando o Plano Real teve início a moeda brasileira foi valorizada artificialmente
com o objetivo de manter as importações que traziam para o Brasil produtos de
qualidade a preços competitivos.
Dessa forma, os similares nacionais eram obrigados a baixar seus preços para
competir. Assim, o câmbio fixo, também foi um importante instrumento para a
estabilidade de preços.
86
Ciclos econômicos
Quando Plano Real passou a vigorar o Bacen do Brasil manteve a taxa de juros
alta e elevados níveis de compulsório. Essas ações tiveram como objetivo
atrair capital estrangeiro e diminuir a circulação de moeda, respectivamente,
consideradas assim uma política monetária restritiva.
A política monetária restritiva, além de manter a inflação sob controle porque diminui
a quantidade de moeda na economia com a taxa de juros elevada, atrai capital
estrangeiro para investir no país.
87
Capítulo 3
Seção 3
Estudos de caso da ocorrência de hiperinflação
em diferentes países
O estudo de caso da ocorrência de hiperinflações em diferentes países, como,
por exemplo, a Alemanha, China e Hungria, visa a inter-relacionar o conhecimento
teórico construído até o momento a casos reais.
Sendo assim, vamos iniciar nossos estudos pela inflação que afetou a economia
alemã no início do século XX.
88
Ciclos econômicos
O dólar americano, por exemplo, que era cotado a 4,2 trilhões de marcos, passou
a ser cotado a 42 bilhões de marcos. Mas como poderia uma nação europeia, que
se orgulhava de seus altos níveis de educação e do conhecimento acadêmico,
sofrer tal destruição completa do seu dinheiro?
Um dos erros da equipe econômica alemã foi o de não assumir logo uma inflação
na economia, pois naquele período o ministro das Finanças, o economista
Helfferich, muitas vezes assegurou que não havia inflação na Alemanha. Assim,
não reconhecendo a existência da inflação, a mesma tomou um efeito galopante
trazendo consequências que foram sentidas por um longo período na Alemanha.
89
Capítulo 3
O líder do partido nacionalista, Chiang Kalshek, entre 1928- 1931, via nos
banqueiros uma oportunidade de reforçar a posição financeira do seu novo
governo. Sendo assim, fechou um acordo com os banqueiros que previa que
Chiang iria suprimir as grandes greves que estavam ocorrendo na China, em troca
o governo nacionalista receberia empréstimos desses banqueiros.
No decorrer dos anos, o banco central chinês passou a ter maior autonomia e
capacidade de emitir moeda, e com o envolvimento da China na Segunda Guerra
Mundial contra o Japão desde 1937, e oficialmente em 1939, os problemas com a
inflação se iniciaram.
90
Ciclos econômicos
Neste período a Hungria enfrentava grande dificuldade para financiar seu alto
déficit orçamentário em virtude de sua capacidade produtiva estar comprometida
devido à destruição dos meios de produção sofrida com a guerra e agravada pela
perda no poder de compra dos húngaros, o que forçava o governo a recorrer à
emissão de moeda sem controle.
Diante deste contexto, agravado pela desconfiança dos agentes econômicos nas
instituições públicas húngaras e do comprometimento do produto agregado pelo
medo da guerra, a Hungria sofre a pior hiperinflação da história.
91
Capítulo 4
Teoria pós-keynesiana e a
instabilidade em uma economia com
sistema financeiro desenvolvido
Seção 1
Análise de uma economia com incertezas dos
agentes econômicos 1
As incertezas dos agentes econômicos em uma economia capitalista podem
agravar ou até mesmo iniciar o processo de uma crise, as quais ocorrem em
virtude de diferentes fatores como, por exemplo, a falta de recursos na economia
para novos negócios; liquidez restrita de capital, alta nos preços de uma matéria-
prima básica; como o petróleo e instabilidade entre os preços dos bens de capital
e financeiro.
93
Capítulo 4
Para Knight o risco está ligado à probabilidade estatística, e poderá ser mensurável
por meio dela, portanto controlado. Já a incerteza é uma situação na qual não se pode
calcular a sua ocorrência, visto que seus fatores determinantes são imensuráveis.
1 Uma carteira de títulos públicos, privados, ações ou produtos de investimento do mercado financeiro.
94
Ciclos econômicos
Keynes tinha conhecimento dos trabalhos desenvolvidos por Knight, tanto que
em sua obra, A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, também elabora
considerações e definições sobre incerteza.
Para Keynes (1996, p.145), as expectativas dos agentes econômicos são formadas
levando em conta dados conhecidos como o nível de consumo agregado, o volume
de capital disponível, o nível de emprego dentre outros e os eventos que ainda
estão por vir e que apresentam um grande grau de subjetividade. Keynes (1996,
p. 202) acrescenta que “[…] a incerteza das futuras variações na taxa de juros é a
única explicação inteligível da preferência pela liquidez […]”.
Podemos verificar que a justificativa para os agentes migrem para ativos mais
líquidos são as futuras variações nas taxas de juros, pois existe a probabilidade
dessas taxas no futuro serem maiores e consequentemente afetarem os
investimentos efetuados no momento atual.
95
Capítulo 4
Tratando sobre incerteza em sua obra, Keynes também faz críticas aos
economistas clássicos, os quais basearam as suas teorias em eventos futuros
conhecidos em maior ou menor grau. De acordo com esses economistas as
expectativas dos agentes econômicos já eram determinadas e o futuro das
variáveis econômicas previsíveis; assim cálculos bem elaborados minimizariam
o risco dos investimentos. Desta forma, análises baseadas na teoria da
probabilidade 2 poderiam reduzir a incerteza.
2 É o estudo matemático das probabilidades. A palavra probabilidade deriva do latim probare (provar ou testar). A
palavra probabilidade é muito associada às palavras incerteza, azar, risco, erro e acerto; e o seu estudo pode ser
considerado uma tentativa de quantificar o provável.
96
Ciclos econômicos
• Aumento dos dividendos, composto por parte dos lucros dos proprietários
de empresas, reais e futuros esperados e uma queda das taxas de juros
reais que aumenta o preço das ações, e dessa forma também eleva a
riqueza e o poder de consumo hoje;
• Queda da taxa de juros nominal atual e futura que tem impacto sobre os
títulos de renda fixa negociados pelo mercado privado e governo. Assim,
uma queda na referida taxa incorrerá na elevação dos preços e causará
aumento da riqueza e do consumo;
97
Capítulo 4
Este simples modelo matemático, que leva o nome de seus autores, Myron J.
Gordon e Eli Shapiro, foi elaborado em 1956 com a finalidade de determinar o
preço justo de ações negociadas no mercado financeiro.
Em que:
Qual será o valor justo de uma ação (P) desta empresa no mercado financeiro?
Para solucionar nosso problema, basta fazermos uma aplicação direta da fórmula
de Gordon e Shapiro:
98
Ciclos econômicos
As ações de uma determinada empresa valem RS 10,00, porém se não tiver nenhum
interessado na compra, os acionistas terão que baixar o preço. Assim, existe o preço
teórico (Gordon) e o preço do mercado (Bolsa).
99
Capítulo 4
E caso o acionista imaginasse que no futuro será mais arriscado investir em ações
e decidisse elevar a exigência de retorno para 30% ao ano, dado o mesmo nível de
retorno dos lucros?
Nesta situação, temos mais uma vez o efeito riqueza atuando, pois se os riscos
aumentam, os preços devem compensar a situação de incerteza. Dessa forma, os
investidores irão preferir investir menos.
Mais uma vez vamos utilizar o modelo de Gordon e Shapiro para ilustrar esse
outro cenário econômico:
Neste caso a riqueza atual para compras de bens e serviços também seria menor,
verificando-se uma queda de R$ 14,42, ou seja, R$ 37,50 menos R$ 23,08.
Desse modo, como saber qual taxa utilizar para a rentabilidade ou crescimento
dos lucros? Não há resposta, pois o futuro é incerto e isso causa instabilidade
hoje. A única forma de evitar as oscilações seriam as operações totalmente
protegidas de instabilidades, as chamadas unidades hedge.
Para concluir, destacamos que um aumento da incerteza quanto aos lucros pode
trazer volatilidade às ações e, dessa forma, volatilidade no nível de consumo,
tendo efeito direto no aumento e/ou queda da renda e dos lucros que também
afetam a riqueza.
100
Ciclos econômicos
Para determinar o valor basta encontramos a seguinte solução para o fluxo de caixa:
Em que:
VP = Valor presente;
n = Prazo
i = Taxa de juros
Qual será o valor presente (VP) deste título caso a taxa de juros básica da economia,
neste caso representado por “ï”, seja de 10% ao ano?
Por estarmos tratando de um título público, podemos trabalhar com a taxa básica
da economia (no Brasil, Selic). Dessa forma, o cálculo seria realizado por meio da
Equação 2 apresentada a seguir:
101
Capítulo 4
E se por conta de uma crise econômica o governo resolver aumentar as taxas de juros
repentinamente para 20%, qual seria o efeito riqueza?
102
Ciclos econômicos
Sobre essa relação de juro e entesouramento Keynes entende que “[...] o erro se
origina em se considerar o juro como a recompensa da espera como tal, em vez
da recompensa pelo não- entesouramento” (KEYNES, 1996, p. 186).
Cabe destacar que a ênfase dada à moeda na teoria de keynesiana difere daquela
observada nos economistas clássicos, pois, enquanto nos primeiros a ênfase
era uma reserva de valor, para os outros era o meio de troca mais importante. Na
interpretação keynesiana os agentes econômicos guardam dinheiro como uma
defesa diante de um futuro incerto, medida totalmente racional.
Quanto maior a incerteza referente às variáveis que afetaram a reserva, maior será a
procura por investimentos com segurança máxima, gerando, assim, um aumento da
procura por liquidez, sendo os títulos, que são facilmente convertidos em moedas, os
de maior preferência pelos investidores.
Para John Keynes, a economia monetária tem um lapso de tempo entre a tomada
de decisão e os resultados finais, pois todas decisões sobre investimento são
afetadas pelo futuro incerto. Assim, se os investimentos estiverem em posições
não líquidas o fato de não conseguir converter em dinheiro merece um prêmio,
atualmente denominado prêmio pela liquidez.
103
Capítulo 4
Seção 2
As funções da moeda na teoria pós-keynesiana
As funções da moeda que estão presentes na teoria pós- keynesiana baseiam-
se nas ideias de John Maynard Keynes, no entanto, se diferenciam em alguns
aspectos em relação às funções identificadas na economia keynesiana.
3Refere-se às variáveis de um modelo econômico como, por exemplo, a moeda que age internamente na economia
causando alterações permanentes ou não no sistema econômico, diferente das endógenas, as quais seriam varáveis
externas ao modelo econômico em questão.
104
Ciclos econômicos
A teoria pós-keynesiana tem como objetivo ilustrar, detalhar e contribuir com novas
ideias para aprimorar a teoria de Keynes, assim seus economistas se apoiaram na
premissa de que Keynes elaborou uma teoria monetária da produção.
Com relação ao tempo, este é irreversível uma vez que qualquer decisão que já
tenha sido tomada não há como voltar atrás, sendo o futuro desconhecido e o
passado irrevogável. Dessa forma, a incerteza domina as decisões financeiras
e afeta outros agentes econômicos. O futuro não é passível de cálculos
probabilísticos de forma confiável.
1. Rendimento da moeda.
2. Custos de manutenção – devido ao desgaste;
105
Capítulo 4
Assim, podemos concluir que a moeda poderá ser utilizada como refúgio,
um porto seguro em momentos de crise, nos quais ocorram um aumento da
incerteza em relação ao futuro, fazendo com que os agentes econômicos,
principalmente os empresários, reduzam seus investimentos em bens produtivos
e de consumo e recorram à segurança da moeda.
Investir em máquinas e equipamentos em uma empresa seria menos líquido que ter
dinheiro em conta-corrente em um banco. Para um investidor se desfazer dessas
máquinas levaria um tempo considerável e a transferência desse risco para outro
investidor poderia levar a um desconto do valor dos equipamentos.
106
Ciclos econômicos
2.2 A moeda
Para tratar do papel da moeda com uma visão pós-keynesiana utilizaremos o
modelo de uma economia monetária da produção, em que há duas formas pelas
quais a moeda circulará: industrial e financeira.
Conforme conclui Mollo (1988, p. 114), “Para Minsky, como para os pós-
keynesianos, a oferta de moeda depende da articulação entre os bancos e os
clientes e da variedade de instrumentos financeiros existentes”.
107
Capítulo 4
4 É uma tentativa de unir a análise individual da teoria neoclássica e a agregada keynesiana. A Síntese Neoclássica
teve destaque com os economistas Hicks, Hansen, Samuelson, Solow, Modigliani, Patinkin e Clower; e vigorou
aproximadamente de 1940 e 1970. A ideia fundamental desta síntese era apresentar uma estrutura analítica comum
às duas teorias.
108
Ciclos econômicos
5 Variável endógena, dependente, ou explicada, tem seu comportamento definido pela teoria em questão,
nomeadamente pelo comportamento da variável independente. Um exemplo é o estudo da demanda como
função do preço da mercadoria, que difere se variável(eis) exógena(s), explicativa(s) ou independente(s), que são
determinadas por ocorrências exteriores a essa teoria.
6 Refere-se à capacidade que os bancos possuem de ampliar a quantidade de moeda em circulação. O depósito
em conta- corrente é um exemplo básico, uma vez que ao deixar o dinheiro na conta o banco poderá emprestá-lo a
outro cliente. Dessa forma, na contabilidade do sistema bancário há dois valores idênticos: o original, depositado na
conta, e o criado a partir do empréstimo bancário.
109
Capítulo 4
De acordo Minsky, não existe nenhuma regra universal para a política monetária
dos bancos, no entanto, os mesmos devem se adaptar à atual condição do
mercado financeiro.
Assim, Minsky (1976, p. 26) conclui que “o banco central deve aceitar sua
responsabilidade de emprestador de última instância para o mercado financeiro
como eles são”, pois, ao negar essa devida responsabilidade à economia, poderá
enfrentar crises severas.
110
Ciclos econômicos
O catalisador da crise de 2007-2008 nos Estados Unidos foi o declínio do preço dos
imóveis, porém caso o preço dos imóveis não tivesse declinado, a vulnerabilidade
cresceria e outro catalisador apareceria.
111
Capítulo 4
Seção 3
A instabilidade do mercado financeiro
As crises vivenciadas ao longo da evolução da história do pensamento
econômico sempre se instalaram nas economias de forma diferente, as quais se
caracterizaram por apresentar a capacidade de mutação ao longo do tempo, e
talvez isso tenha feito os economistas clássicos e neoclássicos confundirem de
certa forma a economia com organismos físicos ou vivos.
Nos seus estudos Minsky apresenta uma interpretação da teoria keynesiana que
chamou de “hipótese da instabilidade financeira”.
112
Ciclos econômicos
Dathein (2000, p. 124) considera que “[…] a economia capitalista não é simplesmente
uma economia de mercado, mas também uma economia de finanças”.
113
Capítulo 4
A moeda é considerada um ativo com preço unitário bem estabelecido, sendo que os
preços dos demais bens dependerão do seu ambiente de negociação e das condições
específicas de mercado, como, por exemplo, a escassez ou excesso de liquidez.
Por que as crises surgem em uma economia capitalista, e qual o motivo das flutuações
dos investimentos?
114
Ciclos econômicos
Diante deste contexto fica claro, ao analisar as três posturas financeiras, que as
unidades especulativas e ponzi apenas serão sustentáveis se a expectativa de
crescimento de preços e ativos se mantiver no futuro.
Em uma economia é importante haver um mix entre essas três unidades financeiras,
visto que a composição, entre esses três tipos de finanças forma o pilar da estabilidade
financeira.
115
Capítulo 4
Esse cenário é dominado pelos grandes bancos comerciais que tentam extrair o
máximo desse lucro; apresenta os preços dos ativos de capital (PK) maior que
os preços dos ativos do mercado financeiro (PI) e as taxas de curto prazo são
menores que as de longo prazo.
116
Ciclos econômicos
Um efeito cascata derruba todos os preços dos ativos e há uma grande redução
da liquidez, em que há dinheiro circulando na economia. Em virtude dessas
dívidas assumidas anteriormente, justamente para financiar a aquisição dos ativos
de capital, os investidores cessam os pagamentos ou começam a ter problemas
de solvência.
Neste contexto verificamos uma venda maciça de ativos que inunda a economia
causando a instabilidade. O momento Minsky de instabilidade ocorre quando PI
é maior PK em que os valores de ativos financeiros são maiores que os de capital
devido à venda generalizada que derrubam os preços.
117
Capítulo 4
O esforço deste encontro foi estabelecer medidas que evitassem desequilíbrios externos
dos países participantes por meio da definição de um conjunto de medidas que
promovesse a liquidez e, ao mesmo tempo, financiasse o desenvolvimento econômico.
Para nortear as ações desenvolvidas pelo FMI foram criados objetivos, entre os
principais, estão: promover a cooperação monetária internacional, principalmente
as discussões monetárias internacionais; facilitar o crescimento equilibrado
do comércio internacional; incentivar a criação de um sistema de pagamentos
internacional; oferecer ajuda financeira aos países membros em dificuldades
econômicas, emprestando recursos com prazos limitados e promover a
estabilidade das taxas de câmbio.
118
Ciclos econômicos
As ajudas financeiras prestadas pelo FMI são provenientes de duas fontes: quotas
de participação dos países membros e empréstimos para países membros. Cabe
destacar que quanto maior o volume de dinheiro investido no fundo por um país
membro maior será seu poder de decisão.
Para que um país receba ajuda financeira do FMI é necessário que o mesmo
se submeta a programas de ajuste das contas públicas tanto externas como
internas. O exemplo de um país membro desse fundo monetário é o Brasil, o
qual se encontra hoje como credor do FMI, porém não foi sempre assim, pois já
recebeu vários empréstimos do Fundo.
119
Capítulo 4
120
Ciclos econômicos
Dathein (2000, p. 136) conclui sobre o tema que “o ponto de chegada não é uma
situação de equilíbrio geral”.
Para finalizar, é importante observar que nas últimas décadas estamos presenciando
mais crises financeiras que abalam o sistema produtivo, ou a economia real, sendo
assim, a hipótese de ciclos econômicos advindos dos fatores produtivos é cada vez
menor dando lugar à instabilidade causada pelo sistema financeiro.
7 Imaginava o equilíbrio geral da economia sendo encontrado na igualdade entre a oferta e demanda agregada nos
mercados de bens e fatores de produção.
121
Capítulo 5
Seção 1
Heterodoxia e ortodoxia em economia
O estudo da Ciência Econômica, ou Economia, pode ser dividido em dois grandes
grupos: Economia Heterodoxa e Economia Ortodoxa. Assim, ao estudarmos os
diversos pontos de vista sobre a instabilidade do capitalismo, transitamos entre
as ideias dos economistas ortodoxos e heterodoxos.
123
Capítulo 5
Já no caso das ciências econômicas, por ser considerada uma ciência social
aplicada, o comportamento humano deve ser levado em conta, pois influencia
o sistema econômico. Sendo assim, o comportamento desses dos agentes
econômicos não pode ser mensurado como os fatores físicos, pois há uma
grande influência da psicologia e da sociologia em suas decisões.
Este comportamento não pode ser regido por regras estabelecidas e automáticas,
visto que o desenvolvimento da teoria econômica ocorre sem regras ou leis
físicas bem estabelecidas, no qual diversos pensadores e escolas do pensamento
interagem e contrapõem seus pontos de vistas de forma diferente.
124
Ciclos econômicos
Neste sentido, uma opção para fazer essa separação entre as premissas
desenvolvidas pelos referidos economistas é caracterizá-los sob os aspectos
da Teoria Quantitativa da Moeda e da Lei de Say, pois aqueles economistas
que aceitam a Teoria Quantitativa da Moeda ou a Lei de Say serão considerados
ortodoxos.
125
Capítulo 5
Um economista para ser considerado heterodoxo não deve aceitar que uma economia
se ajuste por meio de leis naturais, como as existentes na física ou na química,
conforme creditam os economistas ortodoxos.
126
Ciclos econômicos
Dessa forma, abre-se espaço para novas teorias que abordam o comportamento
humano, a influência da moeda na economia real, a irracionalidade dos agentes
ao fazerem escolhas, dentre outras. Essas aberturas no núcleo duro da economia
são devidamente chamadas de heterodoxia.
A Lei de Say, caso fosse aplicada no cenário econômico atual, encontraria desafios,
pois para que funcionasse adequadamente o processo de produção (oferta) geradora
de rendas deveria obrigatoriamente se igualar a compra de produtos (demanda) pelos
agentes econômicos.
Mollo (2004, p. 324) entende que “é preciso que a moeda seja vista como algo
não desejável por si mesma para que não haja vazamentos no fluxo circular de
renda que garante a Lei de Say […]”.
127
Capítulo 5
Assim, fica fácil entendermos por este prisma os argumentos dos economistas
heterodoxos, contrários tanto à Teoria Quantitativa da Moeda quanto à Lei de Say,
uma vez que, para esses economistas, a demanda por moeda não é estável ao
longo do tempo.
Portanto, sem a estabilidade da moeda, o Banco Central não tem como regular
exatamente o fluxo de moeda e por isso podemos ter inflação, não apenas pelo
efeito puramente monetário da emissão, mas em virtude da velocidade criada
pela tecnologia bancária.
A quantidade da moeda pode ter efeitos duradouros na economia uma vez que
existe também o efeito do crédito bancário, o qual quando é concedido a uma
empresa faz aumentar o investimento, o emprego e a renda. Este processo
permite o crescimento da economia, no entanto, quando não regulado, poderá
elevar a inflação.
128
Ciclos econômicos
Keynes entendia ainda que uma intervenção mais rígida das políticas monetária e fiscal
em uma determinada economia ajudaria a solucionar os problemas de instabilidade, os
quais poderiam ser duradouros.
129
Capítulo 5
Cabe destacar que a ortodoxia econômica trabalha com a livre escolha dos
agentes nos mercados econômicos, porém os textos e os economistas
heterodoxos reconhecem que podem ocorrer restrições aos mercados e às
situações nas quais o mercado não cumprirá a livre escolha como nos mercados
de câmbio que sofrem com as intervenções.
Estudos da heterodoxia econômica criticam que haja uma correlação perfeita
entre crescimento econômico e bem-estar. Enfatizam que entre o crescimento e
o bem-estar de uma sociedade há vários fatores que podem comprometer a sua
ligação estatística. Para os economistas ortodoxos, o crescimento da economia é
sinônimo de bem-estar.
Para a ortodoxia há uma economia de egoístas, ou seja, as pessoas são
naturalmente gananciosas, com apetite insaciável ao consumo e aos lucros,
tentando a todo o momento maximizar as suas necessidades. O capitalismo
em parte é bem-sucedido porque oferece um sistema de incentivo baseado no
comportamento de competição humana, em que os melhores colhem os frutos.
A linha de pesquisa heterodoxa condena a visão parcial de homo economicus 1,
tendo evidências de preocupações ambientais, considerações da economia
familiar e não apenas agregada; e que as economias capitalistas atuais devem
incorporar um sistema de governança social para satisfazer as necessidades
humanas e alternativas ao capitalismo devem ser propostas.
A heterodoxia visualiza um ser humano com interesses sociais, tendo um
direcionamento mais para homo sociales 2 que homo economicus. De acordo
com esta visão, o ser humano possui comportamentos que não podem ser
reduzidos aos sistemas mecanicistas, pois possui necessidades biológicas, de
aprovação na sociedade, sucesso e orgulho que conduzem as suas decisões, e
ainda comportamento influenciado pelo sistema social.
1 Existe neste conceito uma abstração do comportamento humano no que se refere às condições morais, éticas,
religiosas, políticas, sociais, filosóficas, etc. Ao assumir o homo economicus, economistas que seguem esse caráter
humano consideram o consumo e a produção como funções básicas para qualquer sociedade.
2 Contrapõe o homo economicus no sentido que as necessidades humanas estão além do consumir e produzir. Há
influência social, biológica e comportamentos individuais que interferem numa abordagem simplista e mecanicista
do desejo humano.
130
Ciclos econômicos
A economia é vista como uma ciência natural A economia é vista como uma ciência social
e o economista, como um engenheiro e o economista, como um teórico social
3 Sendo um exercício da Teoria dos Jogos, é um exemplo de cooperação entre os agentes econômicos, neste caso
dois prisioneiros. Concedidas aos prisioneiros as opções de cooperar com a polícia e diminuir a pena, não cooperar
e pegar a pena máxima ou ambos ficarem quietos e obter metade da pena; ambos os prisioneiros se encontram
em selas separadas. Assim, no decorrer do jogo, a melhor escolha de ambos os jogadores seria cooperar entre
si e ficarem em silêncio, não assumindo a culpa nem delatando seu companheiro. Ou seja, nesse jogo é melhor
cooperar a ser individualista.
131
Capítulo 5
Seção 2
Características das crises financeiras e seus
atuais desdobramentos
A economia capitalista tem como característica o enfrentamento de crises e
por isso entender os seus princípios e desdobramentos é uma necessidade do
economista, neste sentido vamos analisar as crises financeiras contemporâneas,
investigando sua natureza, os agentes que participam no desenrolar da crise
financeira e as diferentes fases que as antecedem.
Contudo, é possível que seja esse desenvolvimento contínuo que cause crises
constantes, conforme destaca Schumpeter, quando descreve que talvez todo
esse sucesso um dia destruirá o capitalismo.
132
Ciclos econômicos
Assim, para entendermos as causas de uma crise financeira como, por exemplo,
a verificada no período recente que teve início em 2008, e se expandiu pelos
anos seguintes, é um exercício interessante. Em primeiro momento temos que a
inovação do mercado financeiro ao que tudo indica foi responsável pelo início de
uma fase de euforia, e essa inovação ficou conhecida como desregulamentação
financeira.
Nos últimos anos diversos tipos de derivativos foram criados, desde os que estão
ligados aos juros internos como, por exemplo, títulos da dívida pública, títulos
privados, sob as ações, commodities; e até mesmo os derivativos que apostam
na falência de países e empresas, ou seja, quem adquire esses papéis teria uma
“proteção” contra a possível falência.
4 É um crédito de recursos financeiros para negociar ativos como, por exemplo, ações, imóveis, empreendimentos
e derivativos, sendo essa negociação em valor maior do que o patrimônio (dinheiro na conta). Em outras palavras, é
investir mais do que se tem.
133
Capítulo 5
Esse agente investidor, também conhecido por analista fundamentalista, estará adquirindo
um negócio empresarial cujos lucros futuros compensarão o investimento inicial.
É justamente sobre esse lucro futuro que Minsky (1980) debateu a possibilidade
das expectativas dos agentes estarem incorretas, pois, caso as expectativas no
futuro não correspondam ao esperado, uma crise poderá se instalar simplesmente
em virtude das novas expectativas terem como base o período anterior. Desse
modo, o erro de previsão dos lucros futuros está no presente, quando o investidor
projeta os seus lucros futuros.
134
Ciclos econômicos
Compra e venda de ativos no mesmo dia, day trade, ou seja, o especulador compra
uma quantidade específica de ações em determinado momento, tornando-se sócio da
empresa em questão, mas quando a cotação da ação sofre valorização, que poderá
ocorrer no instante após a aquisição, o especulador venderá no mesmo dia, auferindo
os lucros.
5 Um especialista que compra e vende ações, derivativos e outros títulos baseado-se em gráficos formados a
partir dos preços dos ativos, volume financeiro de negociação, médias desses valores entre outros indicadores. A
análise desse especialista serve tanto para investimentos de longo quanto de curto prazo; serve para investidores e
especuladores.
135
Capítulo 5
Essa redução de patrimônio pode fazer com que o investidor fundamentalista ceda
às pressões do mercado financeiro e coloque à venda as suas posições que antes
estavam alocados em carteiras de investimento com o objetivo de longo prazo.
Uma vez que essas dúvidas levam esses investidores a refazerem suas contas,
agora com previsões pessimistas, seus cálculos serão refeitos para baixo. Essa
situação causa instabilidade nos mercados e poderá levar a crises mais sérias na
economia.
136
Ciclos econômicos
137
Capítulo 5
Cabe destacar que o papel das expectativas dos agentes econômicos descrita
por Keynes (1936) ajuda a entender o ciclo financeiro atual, sendo que essa
concepção é reforçada por Hawa (2009), o qual destaca que, ao transferirmos a
noção de ciclos de Keynes aos títulos negociados no mercado financeiro, podemos
entender o motivo das oscilações ou volatilidade encontrada nesses preços.
138
Ciclos econômicos
6 De uma forma geral, podemos definir subprime como um crédito de alto risco, concedido pelo sistema financeiro
a um tomador sem garantias suficientes, diferentemente do tomador de crédito que possui tais garantias que é
enquadrado como prime que, devido às garantias, consegue taxas mais baixas para financiar seus bens.
139
Capítulo 5
Figura 5.1 – Taxa básica de juros dos Estados Unidos entre os anos de 1954 a 2011
O gráfico apresentado ilustra uma forte redução na taxa básica de juros. Essa
redução desencadeou um aumento na oferta de crédito, inclusive chegando ao
ponto de taxas reais negativas.
Havia forte expansão dos bens de consumo, motivada pelas baixas taxas de juros,
fazendo com que a demanda agregada se expandisse rapidamente e com ela os
preços dos ativos financeiros.
A expansão do consumo motivada pelas baixas taxas de juros faz com que as
empresas lucrem mais e dessa forma um segundo efeito riqueza, a valorização
das ações dessas empresas em bolsa, pode ocorrer na economia.
7 É um índice criado em 1896 por Charles Dow, nessa época editor do The Wall Street Journal, e representa uma
média do que ocorre com o mercado de ações americano.
Utiliza a cotação das ações de 30 das maiores e mais importantes empresas dos Estados Unidos
140
Ciclos econômicos
Segundo Hawa (2009, p. 10), essa extrema valorização das bolsas de valores e
também dos preços dos imóveis podem ser atribuídos a um período de grande
liquidez na economia mundial, motivada pelo aumento das reservas cambiais dos
países asiáticos e árabes, que investiram seus recursos em títulos do governo
americano, os quais foram facilmente direcionados ao mercado imobiliário.
141
Capítulo 5
Como os preços dos imóveis subiam ano após ano e a taxa de juros estava em queda,
os empréstimos para financiamento ficavam extremamente atrativos, porém, depois
de um período de euforia, os preços do mercado imobiliário começam a cair e a crise
estava estabelecida.
O setor imobiliário, no período entre nos anos de 2001 e 2006, era o destaque dos
negócios no mercado financeiro americano, no qual os bancos, motivados pelo
governo, emprestavam dinheiro aos indivíduos que, em muitos casos, não teriam
como honrar suas dívidas.
142
Ciclos econômicos
Dessa forma, quando boa parte do mercado financeiro mundial percebeu que
os títulos imobiliários eram do segmento subprime americano, iniciou-se um
processo de venda maciça dos mesmos, o que leva à sua desvalorização, pois
“assim, os produtos podres podiam ‘contaminar’ o conjunto de produtos e gerar
uma queda generalizada” (HAWA, 2009, p.11).
De acordo com Hawa (2009, p. 14), são dois os principais canais de transmissão
do desquecimento econômico brasileiro: primeiro a fraca demanda mundial, que
ataca as exportações brasileiras; e, em segundo, as altas taxas de juros que em
momento de crise podem desestruturar a relação investimentos produtivos e
acumulação de capital.
143
Capítulo 5
Figura 5.3 – Movimento das taxas de juros no Brasil entre os anos de 1995 e 2012
144
Ciclos econômicos
Cabe observar que uma crise financeira do setor privado como a subprime
americana pode ocasionar endividamento público caso o governo utilize de uma
política fiscal expansionista, ou seja, atue na emissão de dívida pública para
ajudar o setor privado a se recuperar. Os Estados Unidos foram exemplo de
atuação para salvar entidades privadas, no entanto, um forte endividamento do
Estado foi observado.
Frente a essa crise o governo americano resolveu agir com mais intensidade
depois da quebra do Lehman Brothers com a intenção de evitar que outros
bancos quebrassem e houvesse um dano maior à economia americana.
Assim, governo injetou dinheiro no sistema bancário, não só nos Estados Unidos
como no mundo inteiro, uma vez que o efeito dominó já estava em vigor.
145
Capítulo 5
No entanto, não foi isso que aconteceu, pois a economia americana, por
exemplo, não cresceu na velocidade que se esperava e, com isso, o “remédio” do
salvamento dos bancos americanos surtiu apenas um efeito localizado no sistema
financeiro, mas não resolveu o problema da crise econômica em si.
No caso dos EUA, por sua dívida ser 100% em dólar, o financiamento da
mesma pode ser realizado por meio da emissão de moeda, diferentemente do
caso dos países europeus, pois da forma como está estruturado o Euro, os
países membros não poderiam emitir a sua própria moeda e necessitariam da
autorização do Banco Central Europeu (BCE). Além disso, esses países possuem
culturas e administração fiscal diferentes entre si.
146
Ciclos econômicos
Figura 5.5 – Percentual da dívida pública em relação ao produto interno bruto da Grécia e da Alemanha
Outras formas de combate à crise podem ser utilizadas, como, por exemplo,
as utilizadas no combate à crise europeia que, apesar da necessidade de uma
análise mais detalhada, tem basicamente duas linhas de pensamento que se
opõem nesse momento: a reestruturação da dívida com aperto fiscal e uma
linha de desenvolvimento e maior crédito para as instituições.
147
Capítulo 5
O desfecho da crise nos Estados Unidos e dos países europeus pode dar suporte
às teorias heterodoxas que imaginam uma nova organização econômica. Na
verdade, essa nova organização econômica, ou nova economia, já está em vigor,
conforme estudaremos na sequência.
Seção 3
O que ainda está por vir?
Crises, mudanças atípicas nos preços dos bens, questionamentos sobre o
comportamento humano, novas tecnologias, novos consumidores que reacendem
a tese heterodoxa que algo novo está por vir.
Seria essa a nova economia? Uma nova organização social? A nova economia é
um campo vasto a ser explorado, e neste sentido vamos explorar um pouco do
que pode vir a ser a nova realidade da economia mundial.
148
Ciclos econômicos
Hoje temos blogs, youtube, facebook, twitter, Orkut, 3G, wireless, Iphone, Ipad,
Android, google, Wikipédia, dentre tantos outros. Estamos sem dúvida em uma
nova economia, uma sociedade conectada, on-line, real time.
8 É o campo de estudo das ciências econômicas que se utiliza dos fatores sociais, emocionais e cognitivos para
explicar a tomada de decisões efetuadas pelos agentes econômicos (famílias, empresas, governo), tais como
consumidores, tomadores de crédito e investidores. Em suas análises estuda os efeitos nos preços de mercado,
lucros e na alocação de recursos escassos.
149
Capítulo 5
Hoje estamos, sem dúvida, em uma terceira Revolução Industrial, que pertence
a uma cadeia longa de mudanças desde a linha de montagem padronizada da
indústria automobilística até sofisticados sistemas de telefonia e internet e que
mudou a classificação de eras, tudo está misturado, mudando rapidamente em
questão de segundos.
Sobre isso este autor entende que “[...] o que é novo é o facto de serem de base
microelectrónica, através de redes tecnológicas que fornecem novas capacidades
a uma velha forma de organização social: as redes” (CASTELLS, 2005, p. 17).
No mundo contemporâneo temos uma rede digital definida como rede social
digital, em que a comunicação digital em tempo real faz o papel que outras redes
fizeram no passado, como, por exemplo, toda uma cadeia produtiva gerada a
partir do vapor, os benefícios para a sociedade da eletricidade (redes energéticas),
do petróleo, entre outras.
Uma rede social digital pode ser definida como um conjunto de agentes econômicos
(famílias, empresa ou governo) que faz uso da mais alta tecnologia para integrar
aqueles que partilham dos mesmos interesses: negociar, aproximar, alertar, dentre
outros usos.
150
Ciclos econômicos
151
Capítulo 5
O capital circula pelo mercado financeiro global sendo a empresa simplesmente o elo
entre círculos de produção construídos a partir de projetos de negócios e de redes de
acumulação organizadas em torno das finanças globais.
Com a rede social digital temos mais sociabilidade, e o que observamos hoje não
é o desaparecimento da integração face a face, ou o acréscimo do isolamento das
pessoas em frente aos seus computadores. Há fortes indícios que, na maior parte
das vezes, os utilizadores da internet são mais sociáveis, possuem mais amigos e
contatos e são social e politicamente mais ativos que os não utilizadores.
A rede social digital inaugurou assim uma nova ordem econômica, pautada na
comunicação. Este novo sistema apresenta três grandes tendências, conforme
destacamos a seguir:
• Esses mesmos veículos que assumem o papel central na nova economia a cada
dia se tornam mais digitais e muito mais interativos;
152
Ciclos econômicos
Neste sentido, podemos verificar que estamos em uma sociedade em rede digital
em tempo real, na qual está a nova economia que abre espaço no que antes era uma
sociedade analógica produtiva ou industrial. Dessa forma, não devemos lutar contra
essa nova organização e sim compreendê-la e tirar proveito de seus benefícios.
Uma rede social de criminosos, como resultado fará apologias ao crime, uma rede
social de vegetarianos será contrária ao consumo de carne e assim podemos imaginar
que antes da rede social existe a sociedade propriamente dita.
153
Capítulo 5
9 Aparece quando uma empresa ou organização, entre os seus diversos objetivos, tentam diminuir o seu custo
médio. Para tanto, organizam todo o processo produtivo, como, por exemplo, matérias-primas, mão de obra, entre
outros, para alcançar a máxima produtividade com redução de custos e aumentar da produção de bens e serviços.
Sendo assim, se uma empresa conseguir incrementar a sua produção sem um aumento proporcional nos custos a
mesma estará em uma economia de escala.
154
Ciclos econômicos
10 Entende-se como uma produção exclusiva de um determinado produto, com muita interferência manual e visão
de todo o processo produtivo. Desse modo, podemos associar esse termo à produção artesanal.
11 Foi caracterizado por uma série de programas econômicos implementados nos Estados Unidos entre 1933 e
1936. Eles envolviam ordens executivas presidenciais ou leis aprovadas pelo Congresso durante o primeiro mandato
do Presidente Franklin D. Roosevelt. Os programas foram em resposta à Grande Depressão (1929) e focados no que
os historiadores denominam “3 Rs” (Relief, Recovery, and Reform): socorro, recuperação e reforma.
155
Capítulo 5
Essa intervenção do Estado foi necessária uma vez que a iniciativa privada e
seus agentes não eram capazes de equilibrar o mercado. Sendo assim, coube às
instituições públicas o dever de equilibrá-las. O modo de socorro idealizado no
modelo keynesiano e implementado no New Deal deu resultado, no entanto, os
gastos públicos com este tipo de política foram altíssimos.
A produção em massa ainda foi afetada pelas crises de sua matéria-prima básica,
o petróleo, as quais entre os anos de 1973 e 1979 fizeram aumentar os custos
dos insumos e geraram inflações consistentes no sistema capitalista.
156
Ciclos econômicos
Neste período ocorreu uma imprevisibilidade ainda maior quanto aos rumos da
economia, e a reação dos empresários fordistas na média retraiu seus planos de
investimento e perderam escala de produção decorrente da rigidez de contratos,
preços altos de insumos e uma demanda fraca.
Outro aspecto que podemos citar, que também afetou a produção em série, foi o
aumento dos juros americanos na década de 1980, que, no intuito de combater à
inflação, levou a economia produtiva e países subdesenvolvidos à falência.
O Brasil da década de 1980 foi afetado diretamente pela alta de juros americanos pela
crise de seus títulos públicos que levaram a um calote internacional.
O fato é que o mundo viveu uma crise de superprodução, sendo que os episódios
citados levaram à desordem das economias ancoradas em um processo
produtivo rígido e dependente de alto consumo.
157
Capítulo 5
12 É entendida como uma diversificação dos negócios de uma empresa com o objetivo de ganhos de produtividade
e/ou receita.
158
Ciclos econômicos
159
Considerações Finais
Teve a possibilidade de estudar que uma nova economia está em formação e por
que não dizer em plena atividade hoje.
Compreendeu que essa nova economia está estruturada em rede e cada vez
mais dinâmica e veloz, e que os resultados de equilíbrio econômico dessa nova
sociedade dependem da interação de seus participantes.
161
Cabe destacar que você já faz parte dessa nova realidade econômica, somente
pelo simples fato de que estudar pelo sistema e-learning você está mais do que
inserido nesta nova realidade economia.
Para finalizar, espero ter cumprido com a mediação do contato entre os atuais e
futuros profissionais de economia. Não tenho a pretensão de esgotar o assunto,
e espero que os temas abordados tenham contribuído para a compreensão da
complexa realidade que envolve o estudo e a pesquisa nas ciências econômicas.
Referências
163
COSTA, A. B. D. O desenvolvimento econômico na visão de Joseph Schumpeter.
Cadernos IHU idéias, São Leopoldo, n. 47, p. 1-16, 2006.
______. A teoria geral do emprego, do juro e da moeda. São Paulo: Nova Cultural,
1996.
164
MINISTÉRIO DA FAZENDA. FMI conclui a Primeira Revisão do Acordo Stand-By
com o Brasil. 19 dez.2002. Disponível em: <http://www.fazenda. gov.br/portugues/
releases/2005/r131205.asp>. Acesso em: 1 ago. 2012.
YAHOO FINANCE. Dow Jones Industrial Average (^DJI). Set Date Range:
2 jan. 1992 – 1 ago. 2012. Disponível em: < http://finance.yahoo.com/q/
hp?s=%5EDJI+Historical+Prices>. Acesso em: 1 ago. 2012.
165
Sobre o Professores Conteudistas
166
capa.pdf 1 26/07/2019 12:50
Ciclos econômicos
Universidade do Sul de Santa Catarina
Os conteúdos reunidos neste livro focam na
discussão das instabilidades nas economias
capitalistas, destacando a teoria do
desenvolvimento econômico de Schumpeter e a
análise dos ciclos econômicos. Acrescenta-se ao
Ciclos
debate das instabilidades as teorias Keynesianas
e as pós-keynesianas, os conceitos de
Ciclos econômicos
heterodoxia e ortodoxia na economia e as
controvérsias das diferentes correntes teóricas.
econômicos
w w w. u n i s u l . b r