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FAMOSAS

ORAÇÕES
A ió O '
ATENDIDAS

W AR R EN W. W IERSBE
FAMOSAS
ORAÇÕES
M5ü
ATENDIDAS

Por
Warren W. Wiersbe

Tmprensa Uatisla TRecjular


■LITERATURA EVANGÉLICA PARA O BRASIL"

Rua Kanta* 770, Brooklin - 04558 - S4b Paulo - SP.

1989
Título em inglês:
Famous Unanswered Prayers
Copyright© 1986 por The Good News
Broadcasting Association, Inc.

Traduzido e publicado com a devida autorização

Primeira edição: 1989


Tradutora: Yolanda M. Krievin
Capa: Daniel Faliosa

Todos os direitos reservados.


É proibida a reprodução deste livro no todo ou em parte,
sem a permissão por escrito dos editores.
Capítulo Página

1. Barreiras à Resposta às Orações........................... 5


2. Deus disse "N ã o !" a Moisés................................ 15
3. Oração A tre v id a ................................................. 26
4. O Profeta que Queria M orrer............................. 39
5. Uma Reunião de Oração no C e m ité rio ............51
6. Uma Oração no A lé m ........................................ 64
7. Uma Oração Gananciosa.................................... 77
8. 0 A lto Preço da Oração...................................... 92
9. Oração e S ofrim ento.........................................105
C ap ítu lo 1

Barreiras à Resposta às Orações

Exatamente como os pais e as mães desejam


atender às necessidades dos seus filhos em expres­
são do seu amor por eles, também o nosso Pai Ce­
lestial se deleita em atender às nossas orações. Con­
tudo, oração é m uito mais do que aproximar-se
de Deus com pedidos. A oração é uma experiência
preciosa de comunhão e adoração; é conhecer me­
lhor o nosso Pai e a nós mesmos. A oração é um dos
mais altos privilégios que temos na vida cristã, e
Deus se deleita em responder orações. Nosso Se­
nhor Jesus disse: "Ora, se vós, que sois maus, sa­
beis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto
mais vosso Pai que está nos céus dará boas cousas
aos que lhe pedirem?" (Mt. 7: 11).
Isso nos leva ao grande problema das orações
não respondidas. Algumas pessoas argumentam que
Deus sempre responde às orações. Ou ele diz sim,
ou diz espere. Eu creio, contudo, que essa é uma
maneira um tanto superficial de lidar com o pro­
blema da oração não atendida. É verdade que às
vezes Deus retarda a resposta às nossas orações.
Seus horários são diferentes dos nossos. Quando
Lázaro estava m uito doente, suas irmãs, Maria e
Marta, mandaram um recado ao Senhor Jesus.
Mas o Senhor deliberadamente retardou a sua ida.
Quando finalmente chegou a Betânia, Lázaro já
estava na sepultura há quatro dias. Cristo proposi­
talmente adiou a sua ida para que a glória de Deus
fosse maior em ressuscitar esse homem dos mortos
(veja João 11:1-44). Nesse caso o Senhor atrasou-
-se porque aguardou o momento certo para reali­
zar os propósitos de Deus.
Além disso, Deus às vezes retarda ou nega um
determinado pedido porque Ele tem uma bênção
maior para nós. Muitas vezes somos como crianças
que desejam algum brinquedo barato agora mesmo.
Nosso Pai Celestial, sendo um bom pai, não nos dá
o que nós queremos naquela hora porque tem algu­
ma coisa m uito melhor planejada para nós.
Assim, mesmo quando estamos orando dentro
da vontade do Senhor, podemos ter alguns pedidos
modificados ou adiados para o nosso bem. Mas
continuam sendo formas de orações atendidas. Mas
a Bíblia ensina que às vezes Deus não ouve ou não
atende às nossas orações. Essas orações não aten­
didas não são devido à incapacidade dele de ouvir
ou de responder, mas são o resultado de barreiras
que nós levantamos em nossos corações. Portan­
to,. o problema da oração não respondida é real­
mente um problema nosso, não de Deus. O Senhor
não vai atender a uma oração simplesmente para
nos estragar com mimos. Embora Ele saiba e veja
todas as coisas e seja todo-poderoso, não atende
nossas orações quando estão fora da Sua vontade
ou quando são inconsistentes com a natureza dele.
Quais são as barreiras que interrompem a nossa
linha de comunicação com Deus? Embora a Bíblia
descreva alguns impedimentos à oração, quatro
apresentam de maneira particular sérios problemas
em nossa vida de oração. Vamos examinar algumas
dessas barreiras às orações.

Pecado Acariciado

A primeira barreira à oração é o pecado acari­


ciado em nossas vidas. 0 Salmo 6 6 :1 8 declara:
"Se eu no coração contemplara a vaidade, o Se­
nhor não me teria ouvido". Nessa passagem, o
salmista não está falando acerca de uma natureza
pecadora. Cada pessoa que já passou pela terra
teve uma natureza pecadora, com uma exceção
importante: Jesus Cristo. Ele "não conheceu peca­
d o " (II Co. 5 :2 1 ). Ele "não cometeu pecado".
(II Pe.2 :2 2 ). Nele "não existe pecado" (I Jo.
3:5).
Mas, embora tenhamos natureza pecadora, só
isso não impede nossas orações. É o contemplar
o nosso pecado que impede que nossas orações se­
jam atendidas. A palavra "contem plar" significa
saber que alguma coisa está presente, reconhe­
cê-la e não fazer nada acerca disso. Se eu tenho
consciência de algum pecado em meu coração e
reconheço a sua presença mas não estou disposto
a enfrentá-lo honestamente e fazer alguma coisa
acerca disso, então Deus não me ouve quando eu
oro.
O motivo dessa reação de Deusé óbvia. Estamos
sendo hipócritas. Primeira João 1 :6 diz: "Se disser­
mos que mantemos comunhão com ele, e andarmos
nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade".
Estamos dizendo uma coisa mas praticando outra.
Ignorar nossos pecados e uma ofensa séria aos
olhos de Deus, pois "se dissermos .que não temos
cometido pecado, fazêmo-lo mentiroso e a sua pa­
lavra não está em nós" (v. 10).
Jó também confirmou o perigo da hipocrisia.
Ele declarou: "Porque qual será a esperança do ím ­
pio, quando lhe for cortada a vida, quando Deus
lhe arrancar a alma? Acaso ouvirá Deus o seu cla­
mor, em lhe sobrevindo a tribulação?" (J ó 2 7 :8 ,
9). Muitas pessoas nos dias de hoje andam tão ocu­
padas acumulando riquezas que ignoram os seus
pecados e o próprio Deus. Quando têm problemas
e estão para morrer, clamam a Deus pedindo ajuda.
Mas o Senhor lhes diz o seguinte: "Olhe, você não
me procurou antes nem resolveu os seus pecados.
Por que eu teria de ouvi-lo agora?" >
Quando estamos considerando, ou acariciando,
um pecado oculto em nossos corações, o Senhor
não ouve nem nos responde. Acariciar um pecado
significa praticá-lo secretamente, pensar nele, gos­
tar de relembrá-lo, não desejar encará-lo honesta­
mente. Não devemos consentir que os pecados per­
maneçam em nossas vidas dessa maneira, mas deve­
mos resolvê-los drasticamente. Jesus disse: "Se teu
olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o
de ti . . . E se a tua mão direita te faz tropeçar,
corta-a e lança-a de t i ” (veja Mt. 5 :2 9 , 30). Obvia­
mente, nosso Senhor não está falando em termos
literais. Cirurgia física não produz espiritualidade.
Ele está nos dizendo o seguinte: "Resolva o peca­
do de maneira drástica antes que ele se espalhe e
destrua todo o seu ser".

Por isso, quando nos aproximamos de Deus em


oração, devemos ter um período de confissão e
purificação primeiro. "Se confessarmos os nossos
pecados, ele é fiel e justo para nos .perdoar os pe­
cados e nos purificar de toda injustiça" (I João
1:9). No Antigo Testamento, para que os sacer­
dotes pudessem entrar no Lugar Santo do taber-
náculo e do templo, e queimar incenso no altar
de ouro (que representava as orações do povo),
tinham de parar junto à bacia para lavar os pés e
as mãos. Embora estivessem servindo ao Senhor,
os sacerdotes continuavam impuros. Por isso, antes
de entrar na santa presença de Deus, tinham de
se purificar na bacia. Da mesma forma eu e você
precisamos de purificação. "Purifica-me com hisso-
po, e ficarei limpo; lava-me, e ficarei mais alvo
que a neve" (SI. 51: 7).

Egofsmo

A primeira barreira à oração atendida é o pecado


oculto que nós acariciamos e defendemos em nos­
sas vidas. Uma segunda barreira que impede nossas
orações é o egoísmo. Tiago destacou que, quando
somos egofstas em nossas orações, Deus não nos
ouve: "De onde procedem guerras e contendas,
que há entre vós? De onde, senão dos prazeres que
m ilitam na vossa carne?" (Tiago 4 :1 ). A passagem
prossegue dizendo: "Cobiçais, e nada tendes; ma­
tais e invejais, e nada podeis obter; viveis a lutar e
a fazer guerras. Nada tendes, porque não pedis;
pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para es­
banjardes em vossos prazeres" (vs. 2 ,3 ). É uma
declaração um tanto dura, não é mesmo? Aparen­
temente, a congregação de Tiago estava tendo al­
gumas discussões, divisões e disputas dolorosas.
Um dos motivos porque estavam divididos entre si
era que não estavam orando como deveriam. Es­
tavam orando de maneira egoísta.
Embora não seja errado que o povo de Deus ore
por si mesmo, não devemos colocar os nossos pedi­
dos à frente dos pedidos de Deus de maneira egoís­
ta. Na oração do Pai Nosso, notamos que os inte­
resses de Deus vêm antes dos nossos: "Pai nosso
que estás nos céus, santificado seja o teu nome; ve­
nha o teu reino, faça-se a tua vontade" (Mt. 6 :9 ,
10). Depois de orar pelos interesses de Deus, pode­
mos dizer: "O pão nosso de cada dia dá-nos hoje"
(v. 11). Isso nos mostra que podemos orar por nós
mesmos. Muitas pessoas na Bíblia o fizeram. Quan­
do lemos o Livro dos Salmos, vemos que Davi orou
por si mesmo muitas vezes, pedindo purificação es­
piritual, poder, proteção física e livramento dos ini­
migos. No Novo Testamento, nosso Senhor Jesus
orou por si mesmo em diversas ocasiões. Da mesma
forma, Paulo orou por si mesmo como também
pelos outros.

Como já observamos anteriormente, Deus gosta


de atender orações e resolver as nossas necessida­
des. A oração egoísta, entretanto, não é o mesmo
’ que orar por nós mesmos. Oramos por nós mesmos
para podermos servir aos outros. Oramos pelas
nossas necessidades para podermos atender as ne­
cessidades dos outros. Isso é m uito diferente da
atitude descrita em Tiago 4: 2, 3: " . . . Nada ten­
des, porque não pedis; pedis, e não recebeis, por­
que pedis mal, para esbanjardes em vossos praze­
res". Nessè caso, nosso único propósito de oração
é satisfazer os nossos próprios prazeres e desejos.
Quais são as evidências de uma oração egoísta?
Primeiro, somos pessoas de d ifícil convivência.
Estamos constantemente brigando e discutindo
com os outros. Também queremos que as nossas
vontades sejam satisfeitas. Não estamos interessa­
dos em glorificar â Déus, apenas em apaziguar os
nossos desejos.
Mas o propósito da oração não é auto-gratifica-
ção. O propósito da oração é realizar a vontade de
Deus. O Apóstolo João tornou isso m uito claro
quando escreveu: "E esta é a confiança que temos
para com ele, que, se pedirmos alguma cousa segun­
do a sua vontade, ele nos ouve. E, se sabemos que
ele nos ouve quanto ao que lhe pedimos, estamos
certos de que obtemos os pedidos que lhe temos
fe ito " (I João 5 :1 4 , 15). Assim, vemos que quando
pedimos de acordo com a vontade do Senhor, Deus
promete atender nossos pedidos.
Já se disse que o propósito da oração não é fa­
zer a vontade do homem no céu. E fazer a vontade
de Deus na terra. Por isso é que devemos estudar
as Escrituras para descobrir qual é realmente a von­
tade de Deus.
O egoísmo é uma barreira às orações respondi­
das. Às vezes nossas orações podem ser egoístas
e nós nem o percebemos. Por isso é que devemos
busdar o discernimento do Espírito quando oramos.
Além disso, devemos ter uma vida cheia da Palavra
de Deus para saber como orar dentro da vontade
de Deus.

Discórdia no Lar

Uma terceira barreira às orações é a discórdia


no lar. 0 fundamento dessa verdade se encontra
em I Pedro 3 :7 , onde o Apóstolo Pedro disse: "M a­
ridos, vós, igualmente, vivei a vida comum do lar,
com discernimento; e, tendo consideração para
com a vossa mulher como parte mais frágil, tra­
tai-a com dignidade, por isso que sois juntamente
herdeiros da mesma graça de vida, para que não se
interrompam as vossas orações". A palavra "in te r­
romper" tem um significado interessante no origi­
nal. Significa fechar uma estrada para que o exér­
cito não possa passar. Esse método era freqüente-
mente usado nas guerras da antiguidade. Os solda­
dos bloqueavam as estradas com pedras, árvores e
outro tipo de barreiras para evitar que o exército
inimigo avançasse. Assim, I Pedro 3: 7 nos diz que
maridos e esposas, quando não convivem* em har­
monia, têm suas orações impedidas. Estão colo­
cando barricadas e barreiras ao longo da estrada
evitando que Deus atenda suas orações.
A oração é importantíssima no lar. Maridos e
esposas precisam orar juntos diariamente. Mas
fico admirado com a quantidade de maridos e
esposas cristãos que ignoram esse aspecto do seu
casamento. Eu e minha esposa temos frequente­
mente orientado jovens casais para que edifiquem
o seu casamento sobre o fundamento do seu amor
ao Senhor Jesus e sua fidelidade para com Ele.
Qualquer outro fundamento simplesmente não
pode permanecer.
Essa passagem de I Pedro nos mostra a impor­
tância de nosso relacionamento com todas as pes­
soas e especialmente com nossos maridos ou espo­
sas. Devemos ter o máximo cuidado quando trata­
mos com outras pessoas. Se não estamos andando
juntos de acordo com a orientação da Palavra de
Deus e não estamos respeitando nossos cônjuges
e outras pessoas como co-herdeiros em Cristo, en­
tão Deus não vai atender nossas orações.
Além disso prejudicar o lar cristão, também afe­
ta a igreja. Se um pastor, professor ou líder da igre­
ja não ora e não convive harmoniosamente com a
sua fam ília no lar, então as suas orações particula­
res e públicas não irão m uito longe. Antes de um
reavivamento na igreja, precisamos de um reaviva-
mento em nosso casamento e lar. Temos de come­
çar lendo a Palavra de Deus e orar junto em casa
para que o nosso ministério na igreja seja tudo o
que deve ser.

Rejeição da Palavra de Deus

Abrigar pecados conhecidos em nossos corações,


orar de maneira egoísta e ter discórdias no lar, tudo
isso impede que nossas orações sejam respondidas.
Um quarto impedimento em nossa vida de oração
é a rejeição da Palavra de Deus. Lemos em Provér­
bios 2 8 :9 : "O que desvia os seus ouvidos de ouvir
a lei, até a sua oração será abominável''. Ignorar e
rejeitar a Palavra de Deus é uma barreira à oração
respondida.
A Palavra de Deus e a oração estão sempre ju n ­
tas. Jesus disse: "Se permanecerdes em mim e as
minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o
que quiserdes, e vos será fe ito " (João 15:7). Em
Atos 6 :4 descobrimos que os líderes da igreja pri­
mitiva dedicavam-se continuamente ao ministério
da oração e da Palavra de Deus. A Palavra de Deus
e a oração têm de andar juntas porque a Bíblia re­
vela-nos a mente, o coração e a vontade de Deus.
Quando os conhecemos, podemos reivindicar Suas
promessas, a Sua vontade e a Sua provisão pelas
nossas necessidades na oração.
A oração não é uma coisa que podemos fazer
por nós mesmos. A oração é o resultado do Espí­
rito de Deus usando a Palavra de Deus em nossas
vidas. Se rejeitamos a Palavra, Deus não pode ouvir
e atender nossas orações. Estaria violando a santi­
dade de Sua natureza.
Deus deseja atender nossas orações. Infelizmen-
te, Ele nem sempre pode fazê-lo porque nós colo­
camos uma barreira entre nós e Ele. Quando recu-
samo-nos a confessar e abandonar os pecados ocul­
tos em nossas vidas, quando oramos com motivos
egoístas, quando permitimos que haja discórdia
em nossos lares e ignoramos a Palavra de Deus, co­
locamos barreiras em nossa vida de oração. Talvez
devamos examinar nossos corações e vidas, pedindo
a Deus que derrube algumas dessas barreiras. "D er­
ruba cada ídolo, expulsa cada inimigo. Lava-me
agora e eu serei mais alvo do que a neve".
Deus Disse " N â ò !" a Moisés
(Deuteronômio 3:23-28)

Costumamos pensar em Moisés como o grande


líder e o grande legislador. Naturalmente ele foi
um líder magnífico e um grande legislador. Mas ele
também foi um mestre, um profeta e um poderoso
guerreiro da oração. Encontramos muitos exem­
plos da dedicada vida de oração de Moisés no An­
tigo Testamento. Quando Deus enviou as pragas
ao Egito, foram as orações de Moisés ao Senhor
que frequentemente fizeram as pragas acabar (ve­
ja Êx. 7 :1 4 — 12:36). Quando os amalequitas ata­
caram os israelitas no deserto, Moisés subiu ao topo
da montanha e elevou suas mãos em oração. En­
quanto as mãos de Moisés estavam levantadas, os
israelitas venciam no vale (veja 17:8-16).
Quando a nação de Israel pecou grandemente
contra o Senhor adorando o bezerro de ouro, foi
Moisés, o intercessor, que intercedeu por eles (ve­
ja 32:7-14). Ele retornou ao Monte Sinai e orou a
Deus em favor do povo (veja vs. 30-35). Quando
Deus feriu M íriã com lepra por criticar a Moisés,
foi ele que intercedeu por ela, e Deus a curou (veja
Nm. 12:1-16). Em Cades-Barnea, quando o povo
judeu desobedeceu a Deus, recusando-se a entrar
na Terra Prometida, Moisés novamente intercedeu
pelos israelitas e o Senhor poupou o povo (veja
14:1-21). Quando os israelitas foram mordidos
pelas serpentes abrasadoras, foi a intercessão de
Moisés que trouxe a cura (veja 21: 5-9).
É interessante notar que Moisés era um grande
intercessor. As pessoas o criticavam. Elas se queixa­
vam do que ele fazia. Elas achavam que ele tinha
obrigação de fazer as coisas, mas se não fosse pelas
orações de Moisés, onde teria parado a nação de Is­
rael? Acho que freqüentemente isso acontece com
famílias e igrejas também. Os filhos não dão o de­
vido valor às orações dos seus pais e avós. Algumas
pessoas talvez até estejam colhendo os benefícios
das orações de seus bisavós. Deus tornou claro que
a oração é vital no lare na igreja. Portanto, não de­
vemos achar que as orações de nossas famílias ou
nossos pastores são coisas de pouca importância,
pois se temos pais que oram por nós e se temos l í ­
deres espirituais, temos a resposta a cada problema
e a provisão para cada necessidade.
Moisés geral mente orava pelos outros, e Deus lhe
dava o que ele pedia. Mas nem todas as orações de
Moisés foram atendidas. Descobrimos que, quando
Moisés fez um pedido particular, Deus recusou-se
a atender a sua oração. Em Deuteronômio 3:2 3 -
28 lemos: "Também eu nesse tempo, implorei gra­
ça ao Senhor, dizendo: Senhor, ó Senhor! passas­
te a mostrar a teu servo a tua grandeza e a tua po­
derosa mão: porque, que deus há nos céus ou na
terra, que possa fazer segundo as tuas obras, se­
gundo os teus poderosos feitos? Rogo-te que me
deixes passar, para que eu veja esta boa terra que
está dalém do Jordão, esta boa região montanhosa,
e o Líbano. Porém o Senhor indignou-se muito
contra mim por vossa causa, e não me ouviu; antes
me disse: Basta, não me fales mais nisto. Sobe ao
cume de Pisga, levanta os teus olhos para o Ociden­
te, e para o Norte, e para o Sul, e para o Oriente,
e contempla com os teus próprios olhos, porque
não passarás este Jordão. Dá ordens a Josué, e ani­
ma-o e fortalece-o; porque ele passará adiante deste
povo, e o fará possuir a terra que tu apenas verás".
Porque esse pedido tão simples foi negado a
Moisés? Para entender a razão dessa oração nãó
atendida, temos de voltar a um outro incidente na
vida de Moisés que provocou essa reação de Deus.
Vamos descobrir a í alguns motivos importantes
por que algumas de nossas orações não são aten­
didas por Deus.

O Significado da Oração

Essa dolorosa experiência de Moisés nos revela


alguns lembretes importantes que vão nos ajudar
em nossa vida de oração e em nossa caminhada
com o Senhor. A oração de Moisés que não foi
atendida nos faz lembrar, em primeiro lugar, o
significado da oração.
O que é oração? A oração é pedir a Deus que
realize a Sua vontade. Oração não é discussão com
o Senhor. Quando Moisés pediu a Deus que lhe per­
mitisse atravessar o Rio Jordão e entrar em Canaã,
ele já sabia qual era a vontade de Deüs acerca desse
assunto. Em resultado de um pecado anterior, o
Senhor havia proibido Moisés de entrar na Terra
Prometida. Lemos em Números20: "Disse o Se­
nhor a Moisés: Toma a vara, ajunta o povo, tu e
Arão, teu irmão, e, diante dele, falai à rocha, e
dará a sua água; assim lhe tirareis água da rocha, e
dareis a beber à congregação e aos seus animais.
Então Moisés tomou a vara de diante do Senhor,
como lhe tinha ordenado. Moisés e Arão reuniram
o povo diante da rocha, e lhe disseram: Ouvi, ago­
ra, rebeldes, porventura faremos sair água desta
rocha para vós outros? Moisés levantou a mão, e
feriu a rocha duas vezes com a sua vara, e saíram
muitas águas; e bebeu a congregação e os seus ani­
mais. Mas o Senhor disse a Moisés e a Arão: Visto
que não crestes em mim, para me santificardes
diante dos filhos de Israel, por isso não fareis en­
trar este povo na terra que lhe dei (vs. 7-12).
Moisés e Arão pecaram contra Deus sob dois as­
pectos. Primeiro, Moisés desobedeceu à ordem dire­
ta de Deus de falar à rocha e bateu'nela com a sua
vara. Segundo, eles assumiram o crédito da produ­
ção da água em vez de dá-lo ao Senhor. Por causa
do pecado deles, Deus tornou claro que Moisés e
Arão não introduziríam o povo na terra de Canaã.
Moisés conhecia a vontade de Deus e, mesmo as­
sim, em Deuteronômio 3, lemos que tentou mudar
a mente de Deus.

Naturalmente, há quem argumente que Deus


já havia mudado a Sua mente em ocasiões anterio­
res quando Moisés orou a Ele em benefício do po­
vo. Por exemplo, quando o Senhor estava se pre­
parando para destruir o povo em Cades-Barnea,
Moisés lhe rogou, dizendo: "Se matares este povo
como a um só homem, as gentes, pois, que antes
ouviram a tua fama, dirão: Não podendo o Senhor
fazer entrar este povo na terra que lhe prometeu
com juramento, os matou no deserto . . . Perdoa,
pois, a iníqüidade deste povo, segundo a grandeza
da tua misericórdia, e como também tens perdoa­
do a este povo desde a terra do Egito até aqui”
(Nm. 14:15,16,19).

Moisés sabia que Deus já lhe havia proibido de


entrar èm Canaâí, mas ele achou que podia fazer
o Senhor mudar de opinião. Embora fosse possí-
yel Deus mudar de opinião e atender a oração de
Moisés, fazê-lo seria contradizer a Sua natureza de
justiça. Permitindo que Moisés entrasse na terra
mesmo depois de ter pecado, Deus teria feito dis­
criminação contra os filhos de Israel. Por causa do
pecado deles em recusar-se a crer e honrar a Deus
em Cades-Barnea, toda uma geração foi condenada
a morrer no deserto. Deus também teria feito dis­
criminação contra-Arão. Por causa de seu pecado
junto à rocha' de Meribá, Arão não tinha permissão
de entrar na terra. Deus havia falado a Moisés e a
Arão no Monte Hor, perto de Edom, dizendo:
"Arão será recolhido a seu povo, porque não en­
trará na terra que dei aos filhos de Israel, pois fos­
tes rebeldes à minha palavra, nas águas de Meri­
bá'' (Nm. 2 0 :2 4 ). Depois de passar os seus deve­
res de sumo sacerdote a seu filho Eleazar, Arão
morreu na montanha (veja vs. 27-29). Consideran­
do que Arão e toda a geração dos israelitas morre­
ram, teria sido justo que Deus poupasse Moisés?
Por causa disso, por causa de sua posição de auto­
ridade e liderança, as conseqüências do seu pecado
tinham de ser muito maiores. Assim, Deus não
podia ignorar o pecado de Moisés e ainda assim
permanecer justo.
Embora Moisés fosse um grande intercessor,
ele esqueceu o significado da oração. Tal como
Moisés, todos nós precisamos que nos lembrem o
propósito da oração. Com muita freqüência ouvi­
mos dizer: ''A oração não é vencer a relutância
de Deus, mas ó assimilar a vontade de Deus". A
oração não é discutir com o Senhor ou jogar bra­
ço de ferro com Ele para obter o que desejamos.
A oração é pedir a Deus que realize a Sua vonta­
de em nossas vidas e, então, aceitar a Sua vontade.
Quando èstamos orando dentro da vontade de
Deus, recebemos uma resposta: "E esta é a con­
fiança que temos para com ele, que, se pedirmos
alguma cousa segundo a sua vontade, ele nos ouve.
E, se sabemos que ele nos ouve quanto ao que lhe
pedimos, estamos certos de que obtemos os pedi­
dos que lhe temos fe ito " (I João 5 :1 4 ,1 5 ).

A Seriedade do Pecado

A experiência de Moisés com a oração não res­


pondida nos lembra, além do significado da oração,
também a seriedade do pecado. Quando os israeli­
tas se queixaram a Moisés acerca da falta de água,
Deus ordenou a Moisés que falasse à rocha, prome­
tendo que a água sairia deja (veja Nm. 2 0 :8 ). Não
foi a primeira vez que Deus providenciou água de
uma rocha (veja Ex. 17:5-7). Na primeira ocasião,
o Senhor ordenou a Moisés que batesse na rocha.
Agora, em vez de obedecer à ordem do Senhor de
falar, Moisés recorreu à sua experiência passada e
bateu duas vezes na rocha. Embora Deus ainda
cumprisse a Sua promessa dando água da rocha,
tornou claro a Moisés que ele havia cometido um
pecado sério.
Por que esse pecado foi tão sério? Por que foi
tão importante que Moisés falasse à rocha em vez
de bater nela? A desobediência de Moisés revelou
a sua falta de fé no poder de Deus. Em vez de con­
fiar em Deus para fazer o que Ele disse que faria,
Moisés tentou depender dos métodos que funcio­
naram no passado. Aos olhos do Senhor, Moisés
e Arão cometeram o pecado da incredulidade. Deus
lhes disse: "V isto que não crestes em mim, para me
santificardes diante dos filhos de Israel, por isso
não fareis entrar este povo na terra que lhe dei"
(Nm. 20:12).
O pecado de incredulidade de Moisés foi sério
também sob outro aspecto. O Senhor providenciou
água da rocha nas duas ocasiões para apresentar ao
povo uma figura de Jesus Cristo, a Rocha da qual
flue a água viva, o Espírito Santo. Foi uma ilustra­
ção de como Cristo seria ferido uma vez na cruz,
não repetidas vezes, para que tivéssemos Água V i­
va. A partir daquele ponto, não foi mais necessá­
rio ferir a Rocha novamente. Pelo contrário, pode­
mos pedir à Rocha e receber a plenitude e o poder
do Espírito Santo. Ferir a rocha representa a morte
de Cristo na cruz; falar à rocha representa o Seu
ministério celestial. Nós nos aproximamos dele, e
Ele nos dá o que precisamos. Quando Moisés deso­
bedeceu à ordem de Deus e bateu na rocha em vez
de falar, arruinou a bela figura que Deus.estava
procurando apresentar.

Moisés não cometeu apenas o pecado da incre­


dulidade recusando-se a obedecer às instruções es­
pecíficas de Deus, mas também foi culpado do pe­
cado do orgulho. O Senhor disse a Moisés: " . ..
não crestes em mim, para me santificardes diante
dos filhos de Israel" (veja v. 12). Antes disso, Moi­
sés fora um homem m uito manso e humilde (veja
1 2:3), mas essa mansidão desapareceu naquele
momento. Temporariamente ele esqueceu-se que
o propósito da liderança é glorificar a Deus. Ele
perdeu o controle e gritou com o povo, chaman­
do-o de rebelde e dizendo: "Ouvi, agora, rebeldes,
porventura faremos sair água desta rocha para vós
outros?" (20:10). Moisés assumiu o crédito do
milagre que Deus ia realizar, glorificando a si mes­
mo em vez de glorificar ao Senhor.
É interessante observar quantas pessoas na B í­
blia falharam por causa de sua força, não por causa
de sua fraqueza. A grande força de Moisés estava
na sua humildade, e Satanás usou o orgulho para
fazê-lo tropeçar. A força de Abraão estava em sua
yande fé. Foi onde ele falhou. Duas vezes ele men­
tiu acerca de sua esposa, Sara (veja Gn. 12:10 —
1 3 :4 ; 20:1-18). A grande força de Davi estava em
sua integridade. Ele foi um homem segundo o co­
ração de Deus. Mas esqueceu-se de sua integridade
e planejou como tirar a mulher de Urias (veja II
Sm. 11). A grande força de Pedro estava em sua
coragem. Mas na hora da prova, ele negou a Cristo
três vezes porque temeu por sua vida (veja Lucas
22:54-62).

O pecado de Moisés foi tão sério diante de Deus


porque fo i um pecado de rebeldia, além de incredu­
lidade e orgulho. Números 27:12-14 diz: "Depois
disse o Senhor a Moisés: Sobe este monte Abarim,
e vê a terra que dei aos filhos de Israel. E, tendo-a
visto, serás recolhido também ao teu povo, assim
como o foi teu irmão Arão; porquanto, no deserto
de Zim , na contenda da congregação, fostes rebel­
des ao meu mandado de me santificar nas águas
diante dos seus olhos. São estas as águas de Meribá
de Cades, no deserto de Z im ” .
Naturalmente o povo era parcialmente culpado
pelo pecado de Moisés. Como todos os líderes,
Moisés era provocado pelos filhos de Israel. Em
Deuteronómio 1: 37 Moisés declarou: "Também
oontra mim se indignou o Senhor por causa de vós,
dizendo: Também tu lá não entrarás” . Encontra­
mos ainda outra explicação no Salmo 106:32, 33:
"Depois o indignaram nas águas de Meribá, e, por
causa deles, sucedeu mal a Moisés, pois foram re­
beldes ao Espfrito de Deus, e Moisés falou irrefle-
tidamente".
Às vezes o povo de Deus cria problemas para o
servo de Deus. Por isso é tão importante que seja­
mos pacientes com os nossos pastores e os I íderes
da igreja. Devemos amá-los e apoiá-los em vez de
falar mal deles e apoquentá-los. Que nunca sejamos
culpados de uma pessoa cair em pecado.

A Graça de Deus

Este incidente na vida de Moisés nos ensina não


apenas o significado da oração e a seriedade do pe­
cado, mas também a graça de Deus em responder,
ou não responder nossas orações. Onde o pecado
abunda, a graça abunda ainda mais (veja Rm. 5:
20). Embora Deus, na Sua graça, tenha perdoado
Moisés pelo seu pecado, em Seu governo, obrigou
Moisés a colher o que havia semeado.
Mas o Senhor tinha ainda outro motivo para
recusar-se a atender a oração de Moisés para entrar
na Terra Prometida. Ele não atendeu a sua oração
por nossa causa. Novamente Deus usou esse inci­
dente na vida de Moisés como lição objetiva para
as futuras gerações. Moisés não teve permissão de
introduzir 6 povo na Terra Prometida porque ele
representava a Lei. Deus queria nos ensinar que
não podemos reivindicar a nossa herança obede­
cendo a Lei. Pelo contrário, Deus designou Josué
para liderar o povo, capacitando-o a receber a sua
herança. Josué é uma figura de nosso Senhor Jesus
Cristo. O nome Josué significa "Jeová é salvação".
Josué é a versão de Jesus no Antigo Testamento,
a Palavra Viva do Novo Testamento. O Senhor
usou Josué em vez de Moisés para nos mostrar que
não podemos reivindicar a nossa herança espiritual
por meio da Lei mas através da vitória de Jesus
Cristo.

Qual é a sua posição em relação à Terra Prometi­


da (a sua herança em Cristo)? Canaã não é uma f i­
gura do céu; é uma figura de nossa herança em Cris­
to. Há pessoas que nada sabem acerca da terra.
Estão perdidas. Outras sabem alguma coisa, mas
querem retroceder como a multidão mista que
Moisés liderou na saída do Egito. São cristãos que
viram e experimentaram parte da vida vitoriosa em
Cristo, mas preferiram voltar para o mundo. São
como os dez espias que morreram. Eles entraram
na terra, experimentaram os seus frutos e viram
suas bênçãos, mas não as reivindicaram por causa
de sua incredulidade. Ainda outras pessoas vivem
na fronteira da terra como as duas e meia tribos
que viveram do outro lado do Rio Jordão. Estão
pertinho da terra (vida em Cristo), mas ainda não
a possuem.
Como Moisés, muitos de nós não podemos en­
trar na terra e experimentar as bênçãos da oração
respondida porque nos esquecemos do significado
da oração ou porque temos algum pecado impedin­
do nossas orações. Em vez de argumentar com
Deus ou tentar convencê-lo a atender nossos dese­
jos, precisamos nos submeter ao Seu plano, dizen­
do: "Seja feita a tua vontade". Além disso, preci­
samos examinar nossos corações para ver se não
somos culpados de pecados de incredulidade, or­
gulho, rebeldia ou quaisquer outras coisas que
possam se interpôr entre nós e Deus. Para nos apro­
ximarmos do trono da graça e da comunhão com
o Senhor, precisamos limpar nossos corações de
todo pecado.
Quando estamos lutando na agonia da oração
não respondida, devemos nos lembrar que a graça
de Deus continua sendo suficiente. Ainda que Moi­
sés não fosse capaz de entrar na terra durante a
sua vida, teve o privilégio de estar com Cristo no
Monte da Transfiguração, entrando finalmente na
terra (veja Mt. 17:1-3). Da mesma forma, embora
tenhamos de colher os resultados do que semea­
mos, podemos ser fortalecidos no conhecimento
de que fomos perdoados por Deus quando reconhe­
cemos o nosso pecado diante dele. "Acheguemo-
-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da
graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos
graça para socorro em ocasião oportuna" (Hb. 4:
16).
Oração A trevida
(Deuteronômio 1:41-46)

Nosso Deus é cheio de graça e paciente. Fre-


qüentemente Ele nos dá, a nós que somos o Seu
povo, outra oportunidade depois que fracassamos.
Quando Abraão mentiu ao rei dò Egito, dizendo
que Sara era sua irmã, pôde voltar ao altar e con­
fessá-lo a Deus (veja Gn. 12:10 — 13:4). Isaque
também mentiu acerca de sua esposa, mas Deus lhe
perdoou e lhe deu um novo começo (veja 2 6 :6 -
12). Jacó tramou para roubar a herança e a bênção
do seu irmão Esaú, mas Deus ainda assim respeitou
a aliança abraâmica através de Jacó (veja 27:1 —
2 8 :4 ). Até mesmo Jonas, que pecou tão seriamen­
te contra o Senhor recusando-se a levar a Sua men­
sagem para Nínive, recebeu outra oportunidade.
"Veio a palavra do Senhor segunda vez a Jonas,
dizendo: Dispõe-te, vai â grande cidade de N ín i­
ve" (Jonas 3: 1, 2). Naturalmente, o exemplo clás­
sico na Bíblia é o Apóstolo Pedro, que negou o
Senhor três vezes (veja Lucas 2 2 :54-62 ). E mesmo
assim Deus não o abandonou. O Senhor Jesus per­
doou a Pedro, restaurou-o e lhe deu uma outra
oportunidade.
Nós realmente servimos a um Deus amoroso,
misericordioso e perdoador. Contudo, jamais de-
vemos presumir a graça de Deus. Nem deveriamos
presumir que, tendo confessado os nossos pecados,
não teremos de receber nenhuma disciplina pelos
nossos atos. Deus nos perdoa de boa vontade, mas
Ele não garante que nossas vidas vão permanecer
do jeito que eram antes de termos pecado.
A nação de Israel aprendeu essa lição de maneira
d ifíc il em Cades-Barnea. Os israelitas chegaram à
fronteira da Terra Prometida e enviaram espias
para fazer um levantamento da situação (veja Nm.
13:1-25). Os espias retornaram com um relatório
dizendo que a terra era realmente boa. Contudo,
dez espias advertiram dizendo que os cananeus
eram fortes demais para serem enfrentados pelos
israelitas (veja vs. 26-33). Josué e Calebe tentaram
oonvencê-los a confiar em Deus para receber a vi­
tória, dizendo: "Eia! subamos, e possuamos a terra,
porque certamente prevaleceremos contra ela"
(v. 30). Os filhos de Israel recusaram-se a crer em
Deus e deram ouvidos ao conselho dos dez espias.
Eles queriam voltar ao Egito (veja 1 4 :1 4 ).
Por causa de sua incredulidade, Deus teve de
disciplinar os israelitas. Os dez espias incrédulos
morreram imediatamente (veja vs. 36, 37), e Deus
condenou o restante do povo a vagar pelo deserto
até que toda pessoa acima de 20 anos de idade
morresse (veja vs. 28-35). Os filhos de Israel t i­
veram de aguardar 40 anos para que a nova geração
pudesse entrar na Terra Prometida.
Depois que a nação ouviu a Palavra do Senhor
através de Moisés, Seu servo, o povo decidiu ten­
tar conquistar a terra por iniciativa própria. Lemos
em Números 14:39-45: "Falou Moisés estas pala­
vras a todos os filhos de Israel, e o povo se con-
tristou muito. Levantaram-se pela manhã de ma­
drugada, e subiram ao cume do monte, dizendo:
Eis-nos aqui, e subiremos ao lugar que o Senhor
tem prometido, porquanto havemos pecado. Po­
rém Moisés respondeu: Por que transgredis o man­
dado do Senhor? pois isso não prosperará. Não
subais, pois o Senhor não estará no meio de vós,
para que não sejais feridos diante dos vossos ini­
migos. Porque os amalequitas e os cananeus estão
diante de vós, e caireis à espada; pois, uma vez que
vos desviastes do Senhor, o Senhor não será con-
vosco. Contudo, temerariamente, tentaram subir
ao cume do monte, mas a arca da aliança do Se­
nhor, e Moisés não se apartaram do meio do arraial.
Então desceram os amalequitas e os cananeus, que
habitavam na montanha, e os feriram, derrotan­
do-os até Hormá".

Moisés mencionou esse incidente novamente


em seu discurso de despedida. Ele lembrou ao po­
vo: "Então, respondestes, e me dissestes: Pecamos
contra o Senhor; nós subiremos e pelejaremos, se­
gundo a tudo o que nos ordenou o Senhor nosso
Deus. Vós vos armastes, cada um dos seus instru­
mentos de guerra, e vos mostrastes temerários em
subindo à região montanhosa. Disse-me o Senhor:
Dizei-lhes: Não subais nem pelejeis, pois não estou
no meio de vós, para que não sejais derrotados
diante dos vossos inimigos. Assim vos falei, e não
escutastes; antes fostes rebeldes às ordens do Se­
nhor, e, presunçosos, subistes às montanhas. Os
amorreus, que habitavam naquela região monta­
nhosa, vos saíram ao encontro; e vos perseguiram
como fazem as abelhas, e vos derrotaram desde
Seir até Hormá. Tornastes-vos, pois, e chorastes
perante o Senhor, porém o Senhor não vos ouviu,
não inclinou seus ouvidos a vós outros. Assim per­
manecestes muitos dias em Cades" (Dt. 1:41-46).
Vemos nessa passagem que os israelitas oraram
ao Senhor e confessaram os seus pecados, mas Deus
recusou-se a ouvir suas orações. Ele não os restaura­
ria à sua situação anterior.
Porque Deus não lhes deu a vitória? Ele já ha­
via lhes dado a Terra Prometida e queria que a pos­
suíssem. Deus não atendeu suas orações e não lhes
deu a vitória porque sabia que seus corações não
estavam em ordem. Sabia que a visão que tinham
dos assuntos espirituais era completamente inade­
quada. Vamos examinar algumas dessas questões
espirituais e observar como o povo de Israel falhou.

Visão Inadequada do Pecado

Os israelitas confessaram o seu pecado, mas Deus


não atendeu aos rogos deles. Por que o Senhor re­
cusou-se a atender? Porque o povo tinha uma visão
totalmente inadequada do pecado. Embora disses­
se: "Pecamos", seus corações não concordavam.
Simplesmente adm itir a culpa não significa que a
pessoa esteja realmente arrependida.
Encontramos vários exemplos na Bíblia de pes­
soas que também fizeram essa confissão. Contudo,
embora suas palavras fossem as mesmas, o signifi­
cado era diferente. Balaão disse: "Pequei" quando
desobedeceu à ordem do Senhor, mas na verdade
não estava arrependido (veja Nm. 22:20-34). Da
mesma forma, Faraó o disse quando Deus enviou
as pragas ao Egito, mas a sua confissão também
não foi sincera (veja Éx. 9:27-35). Contudo, ou­
tros admitiram a sua culpa com arrependimento
genuíno. Quando Davi foi confrontado com o
93U pecado quando matou Urias para lhe tomar a
esposa, ele disse: "Pequei contra o Senhor'' (II Sm.
12:13). Como o Filho Pródigo que retornando ao
lar também disse: "Pai, pequei'' (Lc. 15:21). Em
cada um desses casos, o Senhor examinou as m oti­
vações e atitudes deles e fundamentou a Sua res­
posta sobre esses sentimentos e atitudes, não sobre
as palavras.
Embora os filhos de Israel dissessem: "Pecamos
contra o Senhor" (Dt. 1:41), o que disseram e f i­
zeram imediatamente após, parece indicar que não
estavam verdadeiramente arrependidos. Declara­
ram: "Subiremos e pelejaremos” (v. 41). Essas
palavras me incomodam. Ainda que o Senhor lhes
dissesse que não tentassem conquistar a terra por­
que não estaria com eles, estavam determinados a
fazê-lo de qualquer forma. E, naturalmente, foram
derrotados. Então voltaram e clamaram a Deus,
mas o Senhor lhes disse: "Não vou prestar a m ín i­
ma atenção à oração de vocês. Não vou escutar o
que vocês estão dizendo porque o coração de vo­
cês não é sincero. Vocês não tiveram a atitude cor­
reta, e vocês não têm uma compreensão adequada
do que é pecado".
Qual foi o pecado dos israelitas? Primeiro, co­
meteram o pecado da incredulidade. Não creram
em Deus quando Deus disse: "Vão e tomem posse
da terra". Esse pecado levou a outro pecado: a de­
sobediência. Eles recusaram-se a entrar em Canaã.
Terceiro, foram culpados de murmuração. Eles se
queixaram: "Vamos voltar para o Egito. Porque
haveriamos de morrer no deserto?" (veja Nm. 14:
3 ,4 ). Por causa de sua murmuração e desobediên­
cia, Moisés lhes disse: "Vocês mesmos enunciaram
a sentença que mereciam. Vocês vão vagar neste
deserto até que cada pessoa de 20 anos de idade pa­
ra cima tenha morrido, porque vocês se rebelaram
contra Deus" (veja vs. 28, 29).
Esses pecados levaram os filhos de Israel ao de­
sespero, e o desespero levou-os a mais presunção.
Disseram: "Estamos arrependidos pelo que fize­
mos. Vamos subir e tomar a terra como Deus nos
mandou" (veja vs. 4 0 4 5 ). Contudo, não tinham
idéia da gravidade do seu pecado. Pensaram que po­
diam simplesmente dizer a Deus que estavam arre­
pendidos e que tudo estaria bem. Creram que en­
tão Ele os ajudaria a conquistar a terra. Mas, os is­
raelitas tinham uma visão inadequada do pecado.
Eles haviam roubado a glória de Deus e tinham de­
sobedecido à vontade expressa dele; portanto, Ele
não ouviria suas orações.
Como os israelitas, freqüentemente não perce­
bemos o que o pecado é real mente. Se percebés­
semos exatamente a seriedade do pecado da deso­
bediência, da rebeldia e da incredulidade, fugiria­
mos deles. Deus nos adverte que se possuímos um
coração perverso de incredulidade, nosso fim será
o mesmo dos filhos de Israel no deserto (veja Hb.
3:7-4:1).

Visão Inadequada do Perdão de Deus

Além de ter uma visão inadequada do pecado,


os israelitas tinham também uma visão inadequada
do perdão de Deus. Embora tivessem de sofrer as
consequências do seu pecado, o Senhor os perdoou
pela incredulidade e pela desobediência. Números
14:20 nos diz: "Tornou-lhe o Senhor: Segundo a
tua palavra eu lhe perdoei". Mas o povo não apre­
ciou o perdão que recebeu. Tudo o que viram foi
o castigo que receberam e a proibição de entrar
na Terra Prometida.
Nos versículos precedentes, descobrimos que
Deus perdoou o pecado do povo, não por causa
do povo, mas por causa de Moisés. Por causa de
Sua grande ira para com o pecado deles, o Senhor
estava pronto a matar toda a nação e começar tu ­
do de novo com Moisés eseus descendentes, como
fizera nos dias de Noé. Moisés rogou a Deus que
poupasse o povo, argumentando que outras nações
diriam que Ele não tivera poder de introduzir o
Seu povo na terra (veja vs. 13-16). Deus ouviu a
oração de Moisés e perdoou o povo por causa dele
(não porque o povo merecesse), permitindo que os
filhos deles entrassem na terra 40 anos depois.
No pedido que Moisés fez em favor do povo,
percebemos uma verdade importante acerca do
perdão de Deus. Moisés declarou: "O Senhor é
longânimo, e grande em misericórdia, que perdoa
a iniqüidade e a transgressão, ainda que não inocen­
ta o culpado, e visita a iniqüidade dos pais nos
filhos até a terceira e quarta geração'' (v. 18). Nos­
so Deus é realmente paciente e misericordioso. Ele
vai nos perdoar quando formos a Ele com verdadei­
ro arrependimento. Contudo, isso não significa que
Ele vai remover os resultados do nosso pecado. Fre-
qüentemente temos de aguentar, e até mesmo nos­
sos filhos e netos, as conseqüências naturais e dolo­
rosas do que fizemos.
Os filhos de Israel estavam olhando para os resul­
tados do seu pecado e por isso não gostaram do
perdão que receberam. O perdão de Deus deveria
ter levado essa gente a um sentimento mais profun­
do de submissão e obediência. O Salmo 130:4 diz:
"Contigo, porém, está o perdão, para que te te­
mam". Quando as pessoas realmente entendem o
perdão de Deus, percebendo que o perdão tem um
preço alto, leva-as a um respeito mais profundo pe­
lo Senhor.

Visão Inadequada de Arrependimento

Considerando que os israelitas não perceberam


a gravidade do seu pecado ou a grandeza do perdão
de Deus, tiveram uma visão inadequada de arrepen­
dimento. Na realidade, o povo não se arrependeu
coisa nenhuma. Simplesmente os israelitas experi­
mentaram um sentimento de pena e remorso.
Em II Coríntios 7: 10, Paulo descreveu a dife­
rença entre remorso e arrependimento quando de­
clarou: "Porque a tristeza segundo Deus produz
arrependimento para a salvação que a ninguém
traz pesar; mas a tristeza do mundo produz mor­
te". Os filhos de Israel estavam sentindo um gran­
de remorso e tristeza pelo que haviam feito e por
causa dos seus resultados materiais, não porque
haviam pecado contra Deus. Eles se entristeceram
pelo seu pecado porque isso significou que não
poderíam entrar na terra, mas teriam de morrer no
deserto. Não estavam preocupados com a situação
dos seus corações; estavam preocupados apenas
com as conseqüências dos seus atos. Adm itiram sua
culpa apenas porque esperavam conseguir fugir às
conseqüências.
O Dr. William Culbertson, o finado presidente
do Instituto Bíblico Moody, geralmente falava
sobre "as conseqüências do pecado perdoado".
Embora Deus, na Sua graça, nos perdoe quando
nos arrependemos de nossos pecados, Deus, no Seu
governo, nos diz: "Você vai ter de colher o que se­
meou". O verdadeiro arrependimento leva à sub­
missão à vontade de Deus e à aceitação dos resulta­
dos de nosso pecado. Embora os israelitas admi­
tissem que haviam pecado, o fato de não estarem
dispostos a aceitar o ju íz o de Deus prova que não
estavam verdadeiramente arrependidos. Em vez
de se submeterem a Deus em humilde obediência,
desobedeceram à Sua ordem direta de não lutar
contra os amalequitas e cananeus (veja Nm. 14:
39-45).

Visão Inadequada da Oração

Além disso, os filhos de Israel tinham uma visão


inadequada da oração. Eles criam que podiam mu­
dar a mente de Deus através da oração. Afinal, eles
pensavam, Moisés já orou em ocasiões anteriores e
Deus cedeu (ou pareceu-lhes assim). Mas o propó­
sito da oração não é mudar a mente de Deus. É des­
cobrir a vontade dele. Para que a oração seja eficaz,
tem de andar de mãos dadas com a Palavra de
Deus. "Se permanecerdes em mim e as minhas pa­
lavras permanecerem em vós, pedireis o que quiser­
des, e vos será fe ito " (João 15:7). O povo havia
rejeitado a palavra de Deus e havia desobedecido
às Suas ordens; portanto, o Senhor não responde­
ría às suas orações.
Em Zacarias 7 :1 2 , 13 descobrimos uma decla­
ração interessante sobre o elo existente entre a ora­
ção e a Palavra de Deus: "Sim, fizeram os seus co­
rações duros como diamante, para que não ouvis­
sem a lei, nem as palavras que o Senhor dos Exérci­
tos enviara pelo seu Espírito mediante os profetas
que nos precederam; daí veio a grande ira do Se­
nhor dos Exércitos. Visto que eu clamei e eles não
me ouviram, eles também clamaram e eu não os
ouvi, diz o Senhor dos Exércitos” . Nessa passagem
Deus está dizendo: "Vocês clamaram, e eu não os
ouvi. Querem saber por que? Porque quando eu
clamei, vocês não quiseram me ouvir". Esses ver­
sículos têm graves implicações para os crentes de
hoje. Deus nos trata como o tratamos. Se nos to r­
narmos duros e calejados, recusando-nos a ouvir
e obedecer à Palavra de Deus, então o Senhor vai
fazer ouvidos surdos às nossas orações pedindo
ajuda.

Visão Inadequada da Vontade de Deus

Os israelitas tinham uma visão inadequada do


pecado, do perdão de Deus, do arrependimento e
da oração. Na raiz dessas interpretações erradas
estava a sua visão inadequada da vontade de Deus.
Eles não percebiam que a vontade de Deus envolve,
além do que deveria ser feito, também a pessoa que
faz a coisa, como deveria fazer, por que deveria ser
feita e quando. Deus dissera aos israelitas: " A mi­
nha vontade é que vocês entrem na Terra Prometi­
da. Vocês serão conduzidos por Josué. Vocês pos­
suirão a terra através do meu poder e para a minha
glória. Não quero que vocês esperem, mas quero
que vocês conquistem a terra imediatamente, des­
cansando na minha orientação e poder". Contudo^
eles não seguiram as instruções de Deus. Ignoraram
a vontade dele eseguiram seus próprios planos. Em­
bora desejassem entrar na terra, desejavam fazê-lo
do seu próprio jeito e na sua hora.
Lemos uma declaração interessante referente à
questão do tempo de Deus em H e bre us4:1: "T e­
mamos, portanto, que, sendo-nos deixada a pro­
messa de entrar no descanso de Deus, suceda pare­
cer que algum de vós tenha falhado". A palavra
grega que foi traduzida para "ter falhado" é um
termo m ilitar que significa "chegar tarde" ou " f i ­
car para trás". É a figura de um soldado que mar­
cha fora de passo, ficando para trás do restante do
exército. Assim, esse versículo poderia ser traduzi­
do da seguinte forma: ".Temamos, portanto, que,
sendo-nos deixada a promessa de entrar no descan­
so de Deus, suceda parecer que algum de vós che­
gue tarde demais1'.

Foi exatamente o que aconteceu aos israelitas.


Eles chegaram com um dia de atraso. No dia ante­
rior, quando receberam o relatório dos espias, po­
deríam ter entrada na terra se cressem em Deus.
Contudo, por terem duvidado do Seu poder e da
Sua vontade, esperaram. No dia seguinte perce­
beram que estavam enganados, mas era tarde de­
mais. Eles estavam atrasados no horário de Deuse,
assim, perderam a oportunidade de entrar no re­
pouso que Deus havia preparado para eles.
Não brinque com a vontade de Deus. O Senhor
odeia a presunção, a falsa confiança e a teimosia.
Os israelitas imaginaram que, tendo admitido os
seus pecados, Deus ainda os ajudaria a conquistar
a terra. Mesmo quando Moisés os advertiu de que
Deus não os ajudaria, teimosamente fizeram a sua
própria vontade e confiantemente marcharam para
lutar contra o inimigo. Resultou uma derrota total.
Da mesma forma, não devemos presumir que
Deus vai sempre nos ajudar, mesmo quando esta­
mos fora de Sua vontade e Seus planos. George
MacDonald disse: "Em tudo o que o homem fizer
sem Deus, vai falhar miseravelmente, ou ter sucesso
ainda mais miserável". Embora falhemos freqüente-
mente porque não estamos seguindo a vontade de
Deus, às vezes o Senhor permite que tenhamos su­
cesso em nossas presunções e em nossa teimosia;
contudo, sempre nos arrependemos disso. No ca­
so dos israelitas, Deus disse: "Vocês não terão su­
cesso". E realmente falharam miseravelmente.

O Senhor muitas vezes se vê forçado a nos dis­


ciplinar. Quando brincamos com a vontade de
Deus, precisamos gritar depois: "Oh! Deus, faça
tudo voltar como era antes!" Nessas ocasiões,
Deus tem de responder: "Não posso". Como no
caso dos filhos de Israel, Deus tem de muitas ve­
zes começar tudo de novo com uma outra geração.
Isso geralmente acontece em nossas igrejas e minis­
térios. Às vezes chegamos à nossa Cades-Barnea e
simplesmente temos de entrar pela fé reivindicando
o que Deus tem para nós. Mas, em vez de dar o pas­
so da fé, retrocedemos. Então, depois de perder­
mos tempo precioso, presunçosamente tentamos
avançar seguindo o plano original de Deus. Contu­
do, o Senhor tem de nos dizer: "Não, sinto muito,
mas não posso abençoá-lo agora".
Por isso é que se torna tão importante obedecer
a Deus quando Ele nos diz para obedecer. "Eis ago­
ra o tempo sobremodo oportuno, eis agora o dia
da salvação" (II Co. 6 :2 ). Se Deus está lhe falando
acerca de alguma coisa para fazer, faça. Não se
atrase.
Deus, na Sua graça, nos perdoa quando perce­
bemos a seriedade do nosso pecado e nos apro­
ximamos dele em atitude de arrependimento e sub­
missão genufnos. Contudo, Deus, no Seu governo,
disciplina os Seus filhos com amor quando deso­
bedecem. Ele permite que a nossa teimosia produza
conseqüências. Assim, é vital que entendamos o
propósito da oração e busquemos honestamente
a Sua vontade. Como filhos de Deus, além de fazer
a vontade de Deus também devemos fazê-la no mo­
mento certo.
O Profeta que Queria M orrer
(I Reis 19: 1-14)

0 profeta Elias queria morrer. Ele pediu a Deus


que lhe tirasse a vida porque chegou à conclusão
de que era um fracasso. Elias acabara de sair-se
vitorioso no encontro com os 450 profetas de Baal
no Monte Carmelo. Deus enviara fogo do céu para
consumir o sacrifício de Elias (veja I Reis 18: 17-
40). Além disso, o profeta havia predito a terrível
fome e o Senhor deixou de mandar chuva durante
três anos. Depois disso, Elias orou pedindo chuva
e Deus deu uma chuva torrencial (veja os vs. 41-
46).
Deus estava operando poderosamente através
do Seu servo Elias. Isso o tornou m uito impopular
com Acabe e Jezabel, o perverso rei e rainha de
Israel. Lemos em I Reis 19: 1-3: "Acabe fez saber a
Jezabel tudo quanto Elias havia feito, e como ma­
tara todos os profetas à espada. Então Jezabel
mandou um mensageiro a Elias a dizer-lhe: Fa­
çam-me os deuses como lhes aprouver se amanhã
a estas horas não fizer eu à tua vida como fizeste
a cada um deles. Temendo, pois, Elias, levantou-se
e, para salvar sua vida, se foi e chegou a Berseba,
que pertence a Judá; e ali deixou o seu moço".
Quando Elias ouviu a ameaça de morte da parte
de Jezabel, fugiu para salvar a vida. Viajou cerca
de 160 quilômetros de Jezreel até Berseba, que f i­
cava fora dos limites de Israel. Considerando to ­
das as obras poderosas que o Senhor acabara de
realizar por meio de Elias, torna-se d ifíc il de en­
tender por que o profeta não ficou para enfrentar
Jezabel, confiando em Deus para protegê-lo. Em
vez disso, fugiu para o deserto e pediu para morrer.
"Ele mesmo, porém, se foi ao deserto, caminho
de um dia, e veio e se assentou debaixo de um zim ­
bro; e pediu para si a morte, e disse: Basta; toma
agora, ó Senhor, a minha alma, pois não sou me­
lhor do que meus pais. Deitou-se, e dormiu debai­
xo do zimbro; eis que um anjo o tocou, e lhe disse;
Levanta-te, e come. Olhou ele, e viu, junto à cabe­
ceira um pão cozido sobre pedras em brasa, e uma
botija de água. Comeu, bebeu, e tornou a dormir.
Voltou segunda vez o anjo do Senhor, tocou-o e
lhe disse: Levanta-te, e come, porque o caminho
te será sobremodo longo. Levantou-se, pois, co­
meu e bebeu; e com a força daquela comida cami­
nhou quarenta dias e quarenta noites até Horebe, o
monte de Deus.
A li entrou numa caverna, onde passou a noite; e
eis que lhe veio a palavra do Senhor, e lhe disse:
Que fazes aqui, Elias? Ele respondeu: Tenho sido
zeloso pelo Senhor, Deus dos Exércitos, porque os
filhos de Israel deixaram a tua aliança, derribaram
os teus altares, e mataram os teus profetas à espa­
da; e eu fiquei só, e procuram tirar-me a vida. Dis­
se-lhe Deus: Sai, e põe-te neste monte perante o
Senhor. Eis que passava o Senhor; e um grande e
forte vento fendia os montes e despedaçava as pe­
nhas diante dele, porém o Senhor não estava no
vento; depois do vento um terremoto, mas o Se­
nhor não estava no terremoto; depois do terremoto
um fogo, mas o Senhor não estava no fogo; e de­
pois do fogo um cicio tranqüilo e suave. Ouvindo-o
Elias, envolveu o rosto no seu manto e, saindo,
pôs-se à entrada da caverna. Eis que lhe veio uma
voz e lhe disse: Que fazes aqui, Elias? Ele respon­
deu: Tenho sido em extremo zeloso pelo Senhor
Deus dos Exércitos, porque os filhos de Israel dei­
xaram a tua aliança, derribaram os teus altares, e
mataram os teus profetas à espada; e eu fiquei só,
e procuram tirar-me a vida" (vs. 4-14).
Elias teve uma experiência e tanto, não acha?
Estava terrivelmente desanimado. Fora fiel procla­
mando a mensagem de Deus, mas o único resulta­
do, até onde ele podia perceber, foi uma ameaça
contra a sua vida. Ele pensou que fosse a única
pessoa fiel que sobrara. Como muitos outros gran­
des líderes, Elias pediu para morrer em vez de con­
tinuar trabalhando. Quando o seu fardo lhe pare­
ceu pesado demais para carregar, Moisés também
pediu a Deus que lhe tirasse a vida (veja Nm. 11:
11-15). Igualmente, Jonas preferiu morrer a veros
ninivitas arrependendo-se e sendo poupados por
Deus (veja Jn. 4: 3). Jeremias amaldiçoou o dia do
seu nascimento (veja Jr. 20:14-18), como também
Jó (Jó3: 1-16). Todos eles foram grandes homens
de Deus, mas por maiores que fossem, eram apenas
homens. Tiago diz em 5 :1 7 que Elias possuía a
mesma natureza (sujeita às mesmas emoções) que
nós temos.
Esses exemplos deveriam constituir um lembrete
para nunca colocarmos qualquer pregador ou obrei­
ro cristão num pedestal. Se o fizermos, deveriamos
sempre nos lembrar de olhar para os seus pés, não
para o seu rosto. Pois assim perceberemos que eles
também têm pés de barro. Por melhor que um ho­
mem seja, continua sendo um homem. Todos fa­
lham. Algumas das maiores pessoas da Bíblia falha­
ram em seus pontos mais fortes. Moisés, que era
um servo manso e humilde, tornou-se arrogante e
presunçoso. Abraão, o grande homem da fé, duvi­
dou de Deus e mentiu acerca de sua esposa. Pedro,
um homem corajoso, ficou com medo e negou o
Senhor três vezes. Percebendo que os nossos líde­
res não são perfeitos podemos entendê-los melhor
e ajudá-los mais em seu ministério.
Quando ficou deprimido e desanimado, Elias
reagiu como a maioria das pessoas: quis o alívio
para os seus problemas na morte. Contudo Deus
recusou-se a responder à sua oração. Em vez disso,
o Senhor providenciou-lhe alimento físico e estí­
mulo espiritual para ele prosseguir. Por que Deus
preferiu não responder à oração de Elias? Nessa
passagem descobrimos diversos fatores importan­
tes que nos ajudam a entender por que Deus res­
pondeu daquela forma. O Senhor avalia as nossas
orações dessa forma para determinar se vai ou não
vai atendê-las.

Deus Olhou o Passado

Quando Elias pediu para morrer, Deus primeiro


olhou o passado e viu o que ele tinha acabado de
sofrer. A confrontação de Elias com os profetas de
Baal no Monte Carmelo fora espiritual, física e
emocionalmente desgastante. Sua vida estivera em
perigo. Ele estava cansado. Os seus nervos foram
forçados ao máximo. Emocional e fisicamente
não estava bem.

Todos nós sabemos que quando estamos cansa­


dos, com fome e emocionalmente desgastados, f i­
camos desanimados. Nesse estado mental, geral­
mente dizemos coisas sem pensar. O Senhor enten­
de a nossa natureza humana. Ele nos ama e sabe o
que é melhor para nós, mesmo quando não sabe­
mos. O Salmo 103 nos d iz: "Como um pai se com­
padece de seus filhos, assim o Senhor se compadece
dos que o temem. Pois ele conhece a nossa estrutu­
ra, e sabe que somos p ó " (vs. 13, 14). Deus leva
em consideração a nossa natureza humana com os
seus problemas, quando considera nossos pedidos.
Às vezes Ele se recusa a nos dar o que lhe pedimos,
sabendo que não é a melhor solução.

O Senhor examinou os acontecimentos recen­


tes na vida de Elias e percebeu que o seu pedido
fora motivado pela exaustão física, mental e emo­
cional, não por um desejo genuíno de morrer. As­
sim, Deus não atendeu à oração de Elias. Em vez
disso, deu ao profeta o que realmente precisava. O
Senhor enviou um anjo para atender às necessida­
des físicas dele, providenciando-lhe alimento e
água. Então Deus mandou que Elias fosse ao Monte
Horebe, onde fez o profeta se lembrar do Seu gran­
de poder. Isso renovou a fé de Elias e a sua força
espiritual e o preparou para voltar e enfrentar os
seus inimigos (veja I Reis 19: 15-19).
Além de Deus olhar o passado e observar o que
Elias tinha atravessado, Deus também olhou den­
tro de Elias e viu que o problema real estava dentro
do seu coração. 0 coração de Elias estava cheio de
incredulidade. Quando ele recebeu a mensagem de
que Jezabel pretendia matá-lo, fugiu para o deserto
e g rito u : "Senhor, tira-me a vida” .
Obviamente, Elias não estava realmente queren­
do morrer. Se quisesse, teria ficado onde estava e
teria deixado que Jezabel o executasse! Da mesma
forma, eu penso que Jezabel realmente não preten­
dia matar Elias. Ela o ameaçou a fim de afugentá-
-lo. Elias acabara de obter uma grande vitória con­
tra os falsos profetas de Baal. Quando o povo viu
0 poder de Deus consumindo o sacrifício, excla­
mou: "O Senhor é Deus!" (I Reis 18:39). Jezabel
temeu que Elias iniciasse um grande reavivamento,
pregando ao povo e levando-o de volta a Deus.
Fugindo, Elias deu a Jezabel exatamente o que ela
desejava.
Elias estava andando segundo as coisas visíveis,
não pela fé. Quando Jezabel ouviu contar tudo o
que o profeta havia feito, ela disse: "Vou acabar
com você" (veja 19:2). Então lemos no versículo
seguinte: "Temendo, pois, Elias, levantou-se e, para
salvar a sua vida, se foi . . (v. 3). Em vez de con­
fiar em Deus para cuidar dele, Elias viu as circuns­
tâncias e fugiu de medo.
Antes desse incidente, vimos que sempre quando
Deus queria que Elias fizesse alguma coisa, o profe­
ta ouvia e obedecia à palavra do Senhor. Lemos em
1 Reis 17: 2, 3: "Veio-lhe a palavra do Senhor, d i­
zendo: Retira-te daqui, vai para a banda do oriente,
e esconde-te junto à torrente de Querite, fronteira
ao Jordão". Também lemos mais adiante: "Então
lhe veio a palavra do Senhor, dizendo: Dispõe-te,
e vai a Sarepta, que pertence a Sidon" (vs. 8 ,9 ).
Mais tarde, quando Deus mandou que o profeta
aparecesse a Acabe, imediatamente ele foi, ainda
que soubesse que a sua vida estaria em perigo
(veja 1 8 :1 ,2 ).
Mas Satanás começou a operar na área da força
de Elias, sua obediência constante à palavra de
Deus, e levou-o a começar a duvidar e ficar impa­
ciente. Ele adiantou-se a Deus em vez de aguardar
que o Senhor lhe revelasse a Sua vontade. Isaías
nos diz em 28: 16: "Aquele que crer não foge".
Elias também tinha orgulho. Ele declarou: "Bas­
ta; toma agora, ó Senhor, a minha alma, pois não
sou melhor do que meus pais" (I Reis 19:4). Pa­
rece que o profeta estava mais preocupado com a
sua reputação do que com o seu ministério. Além
disso, houve também auto-piedade. Elias sentiu
pena de si mesmo. Ele havia trabalhado m uito, mas
só recebera ódio em troca. Por isso decidiu prote­
ger-se em vez de fazer a obra de Deus. Contudo,
Jesus declarou: "Quem acha a sua vida, perdê-la-á;
quem, todavia, perde a vida por minha causa,
achá-la-á" (veja Mateus 10: 39).
Em vez de confiar em Deus e permanecer para
enfrentar a Jezabel, Elias fugiu para o deserto, on­
de se entregou à auto-piedade. Ele ficou desanima­
do e sentiu-se solitário. Quando ficamos desani­
mados, não devemos ficar m uito tempo sozinhos.
Isso apenas aumenta ainda mais a nossa depressão
e auto-piedade. Elias deveria ter levado o seu servo
com ele em vez de deixá-lo em Berseba.
No deserto Deus instruiu Elias a encontrar-se
com Ele no Monte Horebe, localizado cerca de 300
quilômetros adiante. Era o mesmo local em que
Moisés havia conversado com Deus. Elias teve de
viajar 40 dias. Normal mente essa viagem não leva
tanto tempo; portanto, Elias deve ter vagado pelo
deserto durante algum tempo, de mau humor e de­
sobedecendo à ordem de Deus. Mas o Senhor não
disse uma palavra a Elias enquanto vagava pelo de­
serto. Mas, no Monte Horebe, Deus disse ao profeta
o seguinte: "Elias, o problema todo está em você
manter os seus olhos fixos nas pessoas. Você preci­
sa ter os seus olhos em m im ".
Assim como Elias, os pastores geralmente ficam
desanimados e cansados. O pior momento para nos
aproximarmos do pastor com alguma crítica é logo
depois dele ter pregado. É um momento em que
ele se sente muito cansado e os seus nervos estão
desgastados. Ele precisa de descanso especial que
só Deus pode lhe dar. Não critique o seu pastor
depois dele ter pregado, pois ele se sente muito
vulnerável depois de passar um tempo enorme par­
tilhando a Palavra de Deus. Espere até que tenha
descansado e se refrescado.
Deus olhou dentro de Elias e viu um coração
cheio de incredulidade, impaciência, orgulho e
auto-piedade. Ele viu que Elias andava segundo as
coisas visíveis, não pela fé. O profeta estava com os
olhos fixos em Jezabel, nos desviados de Israel e
nele mesmo, em vez de mantê-los fixos no Senhor.
Assim, Elias fez uma oração com motivação e per-
cepção erradas. Ele precisava de uma mudança de
coração, não morrer.

Deus Olhou Para o Futuro

O Senhor tinha ainda outro motivo para não


atender a oração de Elias. Além de olhar o passa­
do vendo o que ele havia atravessado e olhar den­
tro dele vendo a sua condição espiritual, também
olhou para o futuro e viu o que havia planejado
para ele.
E se Deus tivesse resolvido atender à oração de
Elias? E se o Senhor lhe dissesse: "M uito bem,
Elias, vou deixar você morrer. Deite-se no deserto
e aguarde que vou buscá-lo". Elias teria”perdido o
maravilhoso plano de Deus para a sua vida. O Se­
nhor planejara que Elias não morreria nunca. Em
vez disso, apareceu um carro de fogo e Elias foi
levado ao céu num redemoinho (veja II Reis 2 :11).
Através da história, Elias tem sido lembrado como
um dos maiores profetas de Deus. Mais tarde ele
recebeu o privilégio de estar com Jesus Cristo e
Moisés no Monte da Transfiguração (veja Mt. 17:
1-3). Se Deus respondesse positivamente a oração
de Elias, teria morrido como um homem derrota­
do. Mas, em vez disso, o Senhor viu o futu ro e dis­
se a Elias: "Não desista! Tenho uma coisa m uito
melhor planejada para você. Confie em mim e eu
lhe concederei glória e honra''.
Mesmo quando nos parece que estamos oran­
do dentro da vontade do Senhor, Deus freqüente-
mente não atende nossas orações porque tem algu­
ma coisa melhor em mente para nós. Quando eu
examino a minha vida e o meu ministério, posso
ver como Deus foi muitas vezes cheio de graça co­
migo não me atendendo as orações. Eu orei pedin­
do certas coisas que achava que precisava e certas
coisas que eu achava que deviam acontecer, mas
Deus disse: "Eu não vou lhe dar o que você quer.
Vou lhe dar uma coisa m elhor". O Senhor sabe o
que é melhor para nós.

A Resposta de Deus de Acordo com Aquilo que


Ele Viu

O Senhor olhou o passado de Elias, o futu ro e


dentro de Elias e determinou que a oração dele
não estava de acordo com os seus melhores inte­
resses. Mas, ainda que Deus se recusasse a atender
a oração do profeta, não o deixou sozinho e desam­
parado. O Senhor deu a Elias exatamente o que ele
precisava para que a sua vida fosse recomposta.
O que Deus fez pelo Seu servo? Em primeiro lu­
gar, percebeu que Elias estava cansado e com fome
e, por isso, alimentou-o e lhe deu descanso (veja
I Reis 19:5-7). Enquanto Elias dormia sob um
zimbro, o Senhor enviou um anjo para preparar
uma refeição para o profeta. Quando o anjo des­
pertou Elias, este encontrou um pão e um jarro
com água à espera dele. Tendo dormido e comido
duas vezes, Elias estava fisicamente restaurado e re­
novado. Isso o capacitou a ter uma visão mais posi­
tiva da vida.
Como povo de Deus, freqüentemente perdemos
muito tempo e energia servindo-o e negligencia­
mos nossas necessidades. Quando ficamos física,
mental e emocionalmente exauridos, não podemos
lhe dar o melhor. Também nos inclinamos a ficar
desanimados e a nos sentir infelizes. Às vezes, a
coisa mais espiritual que podemos fazer é descan­
sar. Nossos corpos são o templo do Espírito San­
to (veja I Co. 3: 16); portanto, Deus espera quecui-
cfemos adequadamente deles.
Depois de restaurado fisicamente, Deus o man­
dou ao Monte Horebe. No monte, o Senhor apare­
ceu ao profeta. Ele perguntou a Elias o que estava
fazendo ali e o profeta se queixou dizendo que era
a única pessoa que sobrara dos que eram fiéis ao
Senhor (veja I Reis 19:9, 10). Deus fez Elias se
lembrar do Seu grande poder e repreendeu-o por
sua falta de fé.

Enquanto Elias estava na montanha, Deus man­


dou um vento terrível (possivelmente um ciclone)
que fendeu a rocha. Então o chão começou a tre­
mer com um violento terremoto. Isso foi seguido
de um fogo. Durante essa magnífica exibição do
Seu poder, o Senhor permaneceu silencioso. En­
tão, quando tudo se aquietou novamente, Deus
falou com Elias numa voz tranquila e suave (veja
os vs. 11-13). Ele disse mais ou menos o seguinte:
"Elias, embora eu tenha o poder de realizar gran­
des milagres, é a Minha palavra que transforma as
pessoas. Você está à procura de sucesso e milagres
instantâneos. Você quer que a nação toda se volte
para mim. Pare de olhar para você mesmo. Pare de
avaliar o seu ministério pelos seus próprios padrões.
Isso apenas conduz ao desânimo. Confie em mim
e no meu plano. Volte ao seu lugar e comece a pre­
gar a minha mensagem. E, lembre-se, você não está
sozinho. Eu tenho 7.000 pessoas em Israel que ain­
da confiam em m im ".
Depois que Elias se refez física e mentalmente
e fo i repreendido por Deus para renovar-se espiri­
tualmente, o Senhor tornou a comissioná-lo. En­
viou o profeta de volta ao campo da batalha. Man­
dou que Elias andasse cerca de 480 quilômetros
do Monte Horebe até Berseba e, então, a Jezreel.
Elias havia se afastado do caminho que Deus havia
escolhido para ele. Por isso teve de voltar sobre os:
seus passos até o lugar em que o Senhor desejava
que ficasse.
Mas Deus não mandou que Elias voltasse sozi­
nho. O Senhor providenciou alguém para ajudar
Elias durante o restante do seu ministério e o subs­
tituiu quando ele partiu. Deus instruiu Elias a
ungir Eliseu como Seu profeta (veja vs. 16,19-21).,
Quando lhe parecer que Deus não está respon­
dendo suas orações, lembre-se, Ele conhece o seui
coração. Ele sabe o que você tem passado e o que
terá de enfrentar no futuro. Ele sabe o que é me­
lhor para você. Confie no Senhor e aguarde pacien­
temente para que a vontade dele se revele, consi­
derando que pode ter alguma coisa melhor plane­
jada para você do que aquilo que você lhe tem pe­
dido.
C ap ítu lo 5

Um a Reunião de Oração no Cem itério


(Lucas 8: 26-40)

A Bíblia registra algumas reuniões de oração di­


ferentes. Jonas orou ao Senhor na barriga de um
grande peixe (veja Jn. 2: 1). Daniel foi jogado na
cova dos leões porque orava a Deus, onde sem dú­
vida passou a noite toda orando (veja Dn. 6:4-24).
Durante uma terrível tempestade no mar, Paulo
orou enquanto esteve a bordo do navio e mais tar­
de nadando para a praia (veja Atos 2 7 :14-44 ).
Além disso, Paulo frequentemente orava na prisão.
Contudo, uma das reuniões de oração mais es­
tranhas registrada nas Escrituras aconteceu quando
o Senhor Jesus viajava pela região dos gadarenos
(ou gerasenos). Lemos em Lucas 8: 2 6 4 0 : "Então
rumaram para a terra dos gerasenos, fronteira da
Galiléia. Logo ao desembarcar, veio da cidade ao
seu encontro um homem possesso de demônios
que, havia m uito, não se vestia, nem habitava em
casa alguma, porém vivia nos sepulcros. E quando
viu a Jesus, prostrou-se diante dele, exclamando, e
disse em alta voz: Que tenho eu contigo, Jesus,
Filho do Deus Altíssimo? Rogo-te que não me
atormentes. Porque Jesus ordenara ao espírito
imundo que saísse do homem, pois muitas vezes
se apoderara dele. E embora procurassem conser-
vá-lo preso com cadeias e grilhões, tudo despedaça­
va e era impelido pelo demônio para o deserto.
Perguntou-lhe Jesus: Qual é o teu nome? Respon­
deu ele: Legião, porque tinham entrado nele m ui­
tos demônios. Rogavam-lhe que não os mandasse
sair para o abismo. Ora, andava ali, pastando no
monte, uma grande manada de porcos; rogaram-
-Ihe que lhes permitisse entrar naqueles porcos.
E Jesus o permitiu. Tendo os demônios saído do
homem, entraram nos porcos, e a manada preci-
pitou-se despenhadeiro abaixo, para dentro do la­
go, e se afogou. Os porqueiros, vendo o que acon­
tecera, fugiram e foram anunciá-lo na cidade e
pelos campos.
Então saiu o povo para ver o que se passava, e
foram ter com Jesus. De fato acharam o homem
de quem saíram os demônios, vestido, em perfeito
juízo, assentado aos pés de Jesus; e ficaram dom i­
nados de terror. E algumas pessoas que tinham pre­
senciado os fatos contaram-lhes também como fo ­
ra salvo o endemoninhado. Todo o povo da cir-
cunvizinhança dos gerasenos rogou-lhe que se reti­
rasse deles, pois estavam possuídos de grande me­
do. E Jesus, tomando de novo o barco, voltou. O
homem de quem tinham saído os demônios, ro­
gou-lhe que o deixasse estar com ele; Jesus, porém,
o despediu, dizendo: Volta para casa e conta aos
teus tudo o que Deus fez por ti. Então foi ele anun­
ciando por toda a cidade todas as cousas que Jesus;
lhe tinha feito.
Ao regressar Jesus, a m ultidão o recebeu com
alegria, porque todos o estavam esperando” .
Nessa interessante história notamos três orações]
diferentes que foram enunciadas. Primeiro, os de­
mônios oraram para que o Senhor não os enviasse
ao lugar da punição mas lhes permitisse entrar no
bando de porcos (veja vs. 3 1 ,3 2 ). A segunda ora­
ção foi a dos cidadãos, que cheios de medo, roga­
ram a Jesus que saísse da região (veja v. 37). En­
tão o homem que fora libertado dos demônios
orou para ter o privilégio de acompanhar Jesus e
se tornar um dos Seus discípulos (veja v. 38). É
muito interessante que o Senhor Jesus tenha aten­
dido o pedido dos demônios e dos cidadãos incré­
dulos, mas que não tenha atendido a oração do
homem que fo i libertado. Vamos examinar os mo­
tivos por trás das respostas que Cristo deu a essas
orações.

A Oração dos Demônios

Nessa passagem, vemos Cristo respondendo pri­


meiro à oração dos demônios. Quando Jesus e Seus
discípulos desembarcaram na praia da região dos
gadarenos, viram um homem possuído pelos demô­
nios vagando pelo cemitério fora da cidade. Quan­
do aquele homem descabelado e nu viu o Senhor
Jesus, os demônios dentro dele imediatamente
gritaram: "Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do
Deus Altíssim o?" (Lucas 8: 28).
É interessante observar que em cada exemplo
em que Cristo encontrou demônios, esses espíri­
tos sempre reconheceram quem Ele era: o santo Fi­
lho de Deus. Nesse aspecto, os demônios são mais
espertos do que alguns liberais de hoje. Muitos teó­
logos liberais não crêem que Jesus é o Filho de
Deus, mas os demônios sabem quem Ele é. Eles
reconhecem o Seu grande poder e tremem na pre­
sença dele. Tiago 2 :1 9 diz: "Crês, tu, que Deus é
um só? Fazes bem. Até os demônios creem, e tre­
mem". Embora o conhecimento de quem Cristo é
deveria nos levar a ter reverência e temor diante de
Sua presença maravilhosa, o simples reconhecimen­
to dele não basta. Temos de Lhe submeter as nos­
sas vidas em completa obediência à Sua vontade.
Caso contrário, não diferimos dos demônios.
Embora muitas pessoas tenham tentado expli­
car a possessão demoníaca, dizendo que esse ho­
mem estava apenas perturbado mentalmente, os
demônios eram muito reais. Eles haviam roubado
a esse homem tudo o que tem valor na vida. Uma
legião de maus espíritos haviam tomado posse de
sua vida, roubando-lhe a saúde, a sanidade mental,
a moral e a decência. Estavam destruindo a sua
mente e o seu corpo, roubando-lhe a paz. Isso é o
que Satanás faz àqueles que lhe permitem assumir
o controle. Ele é um destruidor e um ladrão. Des­
crevendo o diabo, Jesus declarou: "O ladrão vem
somente para roubar, matar, e destruir; eu vim para
que tenham vida e a tenham em abundância" (João
10: 10) .

Embora Satanás possa controlar e destruir vidas,


ele e os seus demônios não têm poder na presença
do Senhor Jesus. Observe que os demônios nunca
questionaram o fato de que podiam ser expulsos.
Quando Jesus chegou para dar vida a esse homem,
eles não tiveram poder de lhe resistir. Essa narrati­
va nos ensina diversas lições valiosas. Primeiro, ve­
mos que os demônios criam na divindade de Jesus
Cristo e na realidade do inferno. Eles também
criam no poder da oração, rogando ao Senhor que
não os enviasse ao abismo (veja Lucas 8:31). Se
Satanás e os seus demônios crêem nessas importan­
tes verdades, quanto mais nós devemos crer nelas!
Segundo, embora Satanás seja capaz de nos contro­
lar quando nós o permitimos, devemos nos lembrar
que o poder de Cristo é muito maior. Quando per­
mitimos que o Senhor governe os nossos corações,
o diabo fugirá aterrorizado.

A Oração dos Cidadãos

Além de atender a oração dos demônios, permi­


tindo que entrassem na manada de-porcos, Jesus
também atendeu à oração dos cidadãos daquela lo­
calidade que lhe imploraram que saísse da região
(veja Lucas 8: 37).
Quando os demônios receberam permissão de
entrar nos porcos, os pobres animais enlouqueci­
dos correram desenfreada mente até um despenha-
deiro e afogaram-se no mar lá embaixo. Vendo
isto, os porqueiros nervosos e assustados correram
de volta para a cidade e contaram a novidade. Em­
bora não possamos saber com certeza quem eram
essas pessoas, crê-se geralmente que eram gentios.
Por causa da proibição de comer carne de porco e
lidar com animais imundos, duvidamos que um gru­
po de judeus possuísse esse tipo de gado. Quando
os cidadãos ouviram o que havia acontecido, cor­
reram ao local para averiguar.
Depois de chegar, a multidão descobriu que os
porcos haviam sido realmente destruídos. Mas
também viram o seu antigo endemoninhado total­
mente vestido e calmamente assentado aos pés de
Jesus. Que mudança se operou nele! Quando as
pessoas viram o que Jesus havia feito pelo homem,
deveríam ter se alegrado. Esse homem havia sido o
terror da vizinhança por m uito tempo. Ele não t i ­
nha apenas um demônio, mas toda uma legião de
demônios. É uma referência às legiões romanas que
tinham 600 soldados em cada uma. Ele antes cor­
ria nu pela cidade, gritando e se cortando. Ele ame­
drontava as crianças. Os cidadãos o tentavam do­
minar amarrando-o com correntes, mas ele as arre­
bentava. Então o isolaram e o ameaçaram, mas isso
também não resolvera o problema. Eles deveríam
se sentir gratos a Jesus por ter resolvido o proble­
ma. Na verdade, é de se notar que Mateus mencio­
na dois endemoninhados (veja Mt. 8:28). Sem dú­
vida Jesus curou ambos, portanto os cidadãos de­
veríam se sentir duplamente gratos.
Mas em vez de gratidão, o povo demonstrou uma
atitude de medo, ira e alarme. Ficaram zangados e
alarmados por causa da destruição da manada de
porcos. O Senhor destruira a economia da cidade.
Os habitantes ficaram com medo do que podería
acontecer depois. É interessante que não pareceram
assustados quando o homem estava perigosamente
endemoninhado. Eles se acostumaram com isso.
Contudo, ficaram assustados com as mudanças que
ocorreram nele. Jesus havia perdoado o homem e
lhe restaurado a sanidade e a paz. Uma vez que nin­
guém podia explicar essa transformação, ficaram
com medo. Queriam que Jesus abandonasse a re­
gião para que não tivessem de enfrentar a realida­
de.
É assim que o mundo geral mente reage quando
confrontado com o poder do Cristianismo que efe­
tua mudanças nas vidas das pessoas. Eu conheci
pessoas que não eram cristãs que antes eram do­
minadas pela bebida, pela imoralidade sexual e
outros hábitos destruidores. Eram pessoas que es­
tavam destruindo os seus lares e aterrorizando suas
■famílias e vizinhos. Mas, depois de salvos, suas vi­
das passaram por uma transformação dramática.
Abandonaram seus antigos hábitos eestilo devida.
Começaram a frequentar a igreja e a ler a Bíblia.
Eram cheias de amor e bondade para com suas fa­
mílias e amigos. Mas, em vez de se alegrar, os pa­
rentes começaram a persegui-los e dizer que haviam
perdido o juízo. Preferiam aceitar essas pessoas
quando bebiam e maltratavam seus filhos. Real­
mente creio que o mundo prefere ver as pessoas
chafurdando na escravidão do pecado do que vi­
vando para a glória de Deus.

Os cidadãos de Gadara não podiam explicar a


transformação que havia acontecido no homem as­
sentado aos pés de Jesus. Nem queriam fazê-lo.
Se o fizessem, seriam forçados a aceitar a verdade.
Eles percebiam que a resposta se achava em Jesus, e
não queriam aceitá-lo. Isso continua acontecendo
nos dias de hoje. Exatamente como as pessoas da­
quele tempo rejeitaram o Senhor quando Ele es­
tava aqui na terra, também o mundo de hoje não-
quer aceitar a Jesus Cristo, nem o Seu povo. Jesus
sabia que essa seria a reação do mundo para com
Ele. Ele nos advertiu: "Não é o servo maior do que
seu senhor. Se me perseguiram a mim, também
perseguirão a vós outros; se guardaram a minha
palavra, também guardarão a vossa" (João 15:20).
Podemos ver que isso é o que está acontecendo. O
Senhor Jesus fo i expulso de nossos governos, de
nossas escolas e de muitos lares e igrejas. As pessoas
não o querem. É muito alto o preço a pagar para
que fique.
Tendo ficado com medo do que testemunhou e
não desejando aceitar a Jesus Cristo, a multidão
não quis que o Senhor permanecesse no seu país.
Por isso lhe pediram que fosse embora. Jesus aten­
deu ao pedido deles. Ele e os Seus discípulos subi­
ram no barco e partiram (veja Lucas 8:37). E in­
teressante notar o contraste entre as duas m u lti­
dões. Os cidadãos de Gadara não quiseram que
Jesus ficasse com eles, enquanto que o povo ao
qual Ele retornou o recebeu alegremente.
Porque Jesus atendeu a oração dos cidadãos
incrédulos? Porque Ele não obriga ninguém a acei-
tá-Lo. Embora Cristo tenha todo o poder e deseja
que todos sejam salvos (veja II Pedro 3 :2 0 ). Ele
não obriga ninguém a fazer a Sua vontade. Jesus
está à porta batendo (veja A p .3 : 20). Se nós nos
recusamos a atender à porta, Ele vai final mente se
afastar. Tragicamente, há de chegar o dia em que
as pessoas vão chamá-lo, mas porque lhe pediram
que partisse, Ele não estará mais ali para ouvi-las.
Por isso é que é vital o que Isaías 5 5 :6 diz: "Bus­
cai o Senhor enquanto se pode achar, invocai-o
enquanto está perto".

A Oração do Novo Crente

Cristo respondeu a oração dos demônios e dos


cidadãos de Gadara, mas lemos que Ele não aten­
deu a oração do novo crente do qual havia expul­
sado a legião de demônios.
Quando o homem foi libertado da escravidão
da possessão demoníaca, sua reação natural foi a
de extrema gratidão e felicidade. Ele queria estar
com Jesus e aprender mais dele (veja Lucas 8:38).
Era uma oração lógica. Além disso, o Senhor e
Seus discípulos tinham passado por dificuldades
para salvar esse homem. Portanto, seria natural que
Jesus quisesse que esse homem se juntasse a eles.
Eles haviam enfrentado uma terrível tempestade
no mar em que Jesus havia acalmado as ondas en­
furecidas e os discípulos apavorados (veja vs. 22-
25). Quando desembarcaram, encontraram o peri­
goso endemoninhado nu, gritando. Esse homem
poderia tê-los atacado e ferido a Jesus e aos discí­
pulos. O Senhor corajosamente enfrentou o louco
e ordenou aos demônios que saíssem dele. Quando
os demônios saíram, o homem se tornou uma pes­
soa diferente por causa do seu relacionamento com
Cristo (veja 11 Co. 5:17).
Isso levanta a questão: Considerando que esse
homem era uma nova criatura em Cristo, porque o
Senhor não atendeu a sua oração? Jesus recusou-
-Ihe que o acompanhasse, mas o despediu dizendo:
"V o lta para casa e conta aos teus tudo o que Deus
fez por t i " (Lucas 8 :39).

A Vida Cristã Começa em Casa

Nesta passagem descobri dois motivos por que


Jesus preferiu não atender a oração do homem. Pri­
meiro, a vida cristã começa em casa.
Eu me lembro de um incidente que aconteceu
em uma das igrejas que pastoreei. Um homem me
telefonou querendo encontrar-se comigo para al­
moçar. Ele havia se convertido há pouco através
do ministério de um bom amigo meu. Durante o
almoço, o homem me perguntou: "Agora que sou
cristão, o que devo fazer?"
Eu respondi: "E a sua família?
"B em ", ele respondeu, "m inha esposa não é cristã''
"Então você deve voltar para casa e começar a
dar o seu testemunho a ela. Você deve também
começar a ir à igreja onde se converteu e dar a
Deus uma oportunidade de operar em sua casa".
Mas o homem não quis seguir o meu conselho.
Ele decidiu que queria se envolver em um trabalho
cristão. Deu início a uma organização e começou a
viajar pelo país, pregando e cantando. Pouco tem­
po depois o seu lar se desfez. A vida cristã não se
inicia no campo missionário; ela começa em casa.
O ex-endemoninhado ficou entusiasmado com a
sua nova vida em Cristo e imediatamente quis se
tornar um dos discípulos do Senhor. Contudo,
Cristo percebeu que ele tinha um trabalho a ser
feito em casa. Jesus lhe disse: "Não, você não pode
me acompanhar. É muito mais importante que vol­
te para a sua casa e diga a sua fam ília e aos outros
que grandes coisas Deus fez por você. Essa é a sua
primeira responsabilidade"

O Trabalho Cristão Começa Com o Testemunho

O segundo motivo por que o Senhor não aten­


deu a oração do homem fo i porque o trabalho cris­
tão começa com o testemunho. O que a maioria
das pessoas não percebe é que ser obreiro de Cris­
to e dar testemunho não são necessariamente a
mesma coisa. Embora Deus tenha dado a cada cris­
tão algum dom que possa ser usado para o benefí­
cio dos outros e para a glória dEle, o Senhor não
chama todos os crentes para a obra cristã propria­
mente dita. Contudo, cada cristão é chamado para
dar testemunho (veja Lucas 24:46-48; Atos 1:8).
Temos muitas pessoas em nossas igrejas atualmen­
te que são obreiros da igreja, mas não dão testemu­
nho. Elas nunca falaram a alguém sobre o que Cris­
to fez por elas. Mas, o Senhor nos diz: "Antes de
chamá-lo como obreiro, quero que você seja teste­
munha''.
Descobrimos ainda uma outra verdade impor­
tante. Quando Jesus estava aqui na terra em um
corpo humano, Ele tinha limitações. Não podia
estar em todos os lugares ao mesmo tempo. As­
sim, Jesus estava dizendo ao ex-endemoninhado:
"Veja, eu não posso ir à sua casa. Eu tenho de vol­
tar para o lugar de onde vim, mas você pode me
representar. Eu quero que você tome o meu lugar
e conte às pessoas o que eu fiz por você''.
Isso continua acontecendo nos dias de hoje.
Embora Jesus não esteja mais limitado, Ele resol­
veu operar através dos Seus discípulos em vez dele
mesmo fazer a obra. Ele nos disse: "Assim como o
Pai me enviou, eu também vos envio" (João 20:
21). A base de todo o trabalho cristão é o teste­
munho. Contar aos outros acerca de Cristo deve­
ria ser a nossa mais alta prioridade, porque se não
o fazemos, isso não será feito por outros.
Observe a reação do homem diante da recusa de
Cristo. Ele não ficou desapontado nem se queixou,
mas imediatamente foi para casa e contou a toda a
cidade as grandes coisas que Jesus havia feito por
ele. Sabemos que às vezes o lugar mais d ifícil de
assumir a posição de cristão é entre os nossos ami­
gos e parentes. Contudo, esse homem não se en­
vergonhou de falar de Cristo aos outros. Não sa­
bemos como as pessoas reagiram ao seu testemu­
nho, mas sem dúvida algumas pessoas aceitaram o
Senhor.
Esse incidente nos ensina que, além da importân­
cia do testemunho e do serviço prestado em casa,
o Senhor tem propósitos em atender ou não aten­
der nossas orações. Enquanto os demônios e os ci­
dadãos não mereciam que suas orações fossem
atendidas, o Senhor resolveu atender aos seus pe­
didos tendo em vista um fim maior. Embora Jesus
pudesse ter mandado os demônios para o abismo,
permitiu que entrassem nos porcos como uma dra­
mática demonstração do Seu poder. Da mesma fo r­
ma, Cristo preferiu partir como o povo lhe pediu
a fim de servir àqueles que o desejavam e dar opor­
tunidade ao endemoninhado libertado de dar o seu
testemunho. E mesmo que o pedido do ex-endemo-
ninhado fosse nobre, o Senhor não o atendeu por­
que tinha um outro propósito em mente para o
novo crente. Cumprindo com a sua responsabili­
dade de dar testemunho em casa, o homem desen­
volveu a sua fé e glorificou mais a Deus.
Freqüentemente o Senhor tem propósitos em
mente que nós não podemos perceber. Ele pode
recusar-se a atender nossas orações porque isso
prejudicaria o Seu plano. Se o Senhor não aten­
deu nossas orações para sermos usados por Ele
em Sua obra, talvez tenhamos algum trabalho ain­
da não terminado de testemunho em nossa casa.
Seja qual fo r o motivo de Sua recusa, devemos
confiar em Cristo e aceitar Suas negativas, mesmo
quando não podemos ver o propósito por trás
dessas orações não respondidas. Ele talvez pre­
fira nos revelar a Sua vontade na hora. Mas, mes­
mo se não o fizer, sabemos que finalmente Deus
será glorifiçado, e isso nos basta.
Uma Oração no Além
(Lucas 16: 19-31)

Nos Evangelhos Cristo enfatizou a atitude apro­


priada para com o dinheiro e o seu uso. Em Lucas
16 encontramos uma mensagem dupla referindo-se
aos recursos que nos foram confiados.
O Senhor começou os Seus ensinamentos nesse
capítulo com a parábola sobre o mordomo infiel
(veja vs. 1-13). Embora Jesus não tolerasse as ati­
tudes do mordomo infiel em enganar o seu patrão,
elogiou-o pela maneira em que aproveitou-se da
oportunidade de defender os seus interesses antes
de ser despedido. A mensagem de Cristo nessa pará­
bola é a seguinte: Aproveite ao máximo as suas
oportunidades.
Jesus contou depois dessa parábola a história do
homem rico e Lázaro. Embora muitos considerem
essa história como uma parábola, creio que é uma
narrativa real. Nessa narrativa, Jesus apoiou-se so­
bre a sua mensagem anterior. Além de aproveitar
as oportunidades, devemos também fazer uso sá­
bio e adequado de nossas riquezas para o Seu ser­
viço. Na primeira parábola, o mordomo infiel fez
amigos através do uso do seu dinheiro. Cristo, en­
tão, usou a segunda narrativa para fazer uma apli­
cação espiritual. Ele disse, resumindo: "Façam
amigos com o seu dinheiro de maneira que, ao en­
trar no céu, eles estejam esperando por vocês.
Aproveitem o dinheiro e as oportunidades agora
para servir a Deus",
Na narrativa do rico e Lázaro, o Senhor contou
a história da vida de um homem que desperdiçou
riquezas e oportunidades que Deus lhe deu. Ele as
usou totalmente para o seu próprio prazer, nunca
ajudando ninguém que precisasse. Por causa disso,
o rico sofreu , tormentos eternos. Lemos: "Ora,
havia certo homem rico, que se vestia de púrpura
e de linho finíssimo, e que todos os dias se regala­
va esplendidamente. Havia também certo mendi­
go, chamado Lázaro, coberto de chagas, que jazia
à porta daquele; e desejava alimentar-se das miga­
lhas que cafarn da mesa do rico; e até os cães vi­
nham lamber-lhe as úlceras. Aconteceu morrer o
mendigo e ser levado pelos anjos para o seio de
Abraão; morreu também o rico, e foi sepultado.
No inferno, estando em tormentos, levantou os
olhos e viu ao longe a Abraão e Lázaro no seu seio.
Então, clamando, disse: Pai Abraão, tem miseri­
córdia de mim! e manda a Lázaro que molhe em
água a ponta do dedo e me refresque a língua, por­
que estou atormentado nesta chama. Disse, porém,
Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os teus
bens em tua vida, e Lázaro igualmente os males;
agora, porém, aqui, ele está consolado; tu, em to r­
mentos. E, além de tudo, está um grande abismo
entre nós e vós, de sorte que os que querem passar
daqui para vós outros não podem, nem os de lá
passar para nós. Então replicou: Pai, eu te imploro
que o mandes à minha casa paterna, porque tenho
cinco irmãos; para que lhes dê testemunho a fim
de não virem também para este lugar de tormento.
Respondeu Abraão: Eles têm Moisés e os profetas;
ouçam-nos. Mas ele insistiu: Não, pai Abraão; se
alguém dentre os mortos fo r ter com eles, arrepen-
der-se-ão. Abraão, porém, lhe respondeu: Se não
ouvem a Moisés e aos profetas, tão pouco se dei­
xarão persuadir, ainda que ressuscite alguém den­
tre os m ortos" (vs. 19-31).
Embora possamos aprender muita coisa dessa
passagem com referência ao uso do nosso dinheiro
e oportunidades para o Senhor enquanto estamos
na terra, eu creio que essa narrativa nos ensina uma
lição importante acerca da oração também. Nessa
história, o Senhor Jesus Cristo levantou o véu exis­
tente entre a vida e a morte, entre o tempo e a eter­
nidade, e nos deu um vislumbre da vida do além.
Conforme vimos, havia dois homens. Lázaro, um
mendigo pobre e doente aqui na terra, que morreu
e foi levado para o seio de Abraão (o paraíso),
onde aguardava suas recompensas eternas no céu.
Um homem rico morreu logo depois e encontrou-se
no hades, um lugar de torm ento para aqueles que
aguardam o castigo eterno no inferno. O rico que
estava sofrendo clama a Abraão e Lázaro, fazendo
duas orações: uma oração pedindo água e uma ora­
ção pedindo um testemunho. Nenhuma dessas ora­
ções fo i atendida pelo Senhor. Nessa passagem des­
cobrimos três motivos por que as orações do ho­
mem rico não foram atendidas.

Ele Orou no Lugar Errado

O primeiro motivo porque as orações do rico


não foram atendidas foi porque ele orou no lugar
errado. Lucas 16:23 diz: "No inferno (hades), es­
tando em tormentos, levantou os o lh o s. .
Embora as traduções brasileiras digam "in fe r­
n o", a palavra usada no original grego é "hades",
um lugar temporário de punição para onde vão os
incrédulos depois da morte. O inferno é a habita­
ção permanente dos que não são salvos. No Dia do
Ju fzo, tanto os vivos como os mortos que não acei­
taram a Cristo serão lançados no inferno pela eter­
nidade. " . . . aos homens está ordenado morrerem
uma só vez e, depois disto, o juízo . . . " (Hb. 9:
27).

O fato do hades e do inferno serem dois lugares


distintos está ainda mais evidente em Apocalipse
20, onde lemos que no ju ízo final os mortos serão
levantados da morte e do hades e serão lançados no
lago de fogo (veja vs. 13, 14). Assim, o hades e o
lago de fogo não são a mesma coisa. A palavra
"m o rte " aqui refere-se à sepultura. Enquanto a se­
pultura reivindica o corpo da pessoa na hora da
morte, o hades reivindica a sua alma e o seu espí­
rito. Após o Juízo, o corpo, a alma e o espírito do
incrédulo serão novamente reunidos e serão lança­
dos no lago de fogo (o inferno).
Vemos, assim, que, na morte, a alma e o espíri­
to do homem rico foram transportados para o ha­
des à espera do Juízo Final. Por que ele estava na­
quele local? Não era por ter sido rico. Abraão tam­
bém foi um homem rico. A diferença entre os dois
estava em seus corações. Abraão era um grande ho­
mem de fé, que confiava e servia continuamente a
Deus. O rico, por outro lado, havia se colocado an­
tes de Deus. Ele se recusara a arrepender-se. Endu­
recera o seu coração à mensagem do Senhor que
lhe fora enviada através de Moisés e os profetas
(veja Lucas 16:29-31). Portanto, selou o seu pró­
prio destino e foi parar nesse lugar de punição e so­
frim ento, onde deveria permanecer até que o vere-
dito final de Deus fosse apresentado.
Você já parou para considerar quanto testemu­
nho esse homem deve ter ouvido durante a sua vi­
da? A té as suas riquezas foram testemunhas divinas
para ele. Jesus declarou que esse homem "todos os
dias se regalava esplendidamente" (v. 19). A pala­
vra grega para "esplendidamente" significa "de ma­
neira deslumbrante" ou "com resplandecência"
Quando esse homem viu o quanto o Senhor o havia
abençoado, deveria ter se sentido arrependido e
humilde, percebendo que não merecia tais bên­
çãos. Romanos2 :4 nos diz: "Ou desprezas a ri­
queza da sua bondade, e tolerância, e longanimi-
dade, ignorando que a bondade de Deus é que te
conduz ao arrependimento?" Contudo, em vez de
arrepender-se e perm itir que a sua vida esplêndida
o levasse ao Senhor, esse homem deixou que suas
riquezas se interpusessem entre ele e Deus.
Quando paramos para refletir sobre a bondade
de Deus, esse conhecimento deveria nos levar ao
arrependimento. Contudo, como no caso do ho­
mem rico, a bondade de Deus só leva algumas pes­
soas a endurecerem os seus corações ainda mais.
Em vez de dar primazia a Deus, eles se centralizam
em si mesmos. Qual é o resultado? "Mas, segundo
a tua dureza e coração impenitente acumulas con­
tra ti mesmo ira para o dia da ira e da revelação
do justo juízo de Deus" (v. 5). Quando começa­
mos a considerar nossos tesouros materiais e endu­
recer nossos corações para com Deus, estamos ar­
mazenando tesouros para o nosso torm ento na
eternidade.
Além de toda a riqueza, o Senhor também usou
a Lázaro para dar testemunho ao homem rico. Es­
se mendigo ficava sentado junto ao portão do rico
durante horas, esperando receber um pouco de
comida do abastado residente daquela casa (veja
Lucas 16: 20, 21). Lázaro deu ao homem rico mui­
tas oportunidades de confiar em Deus e servi-lo.
Obviamente, a presença desse mendigo não poderia
ter sido ignorada. Contudo, o rico ignorava seu tes­
temunho e suas necessidades, perdendo assim uma
oportunidade.
Nessa passagem fica evidente que Lázaro fora
uma testemunha para o rico. No hades, o rico pe­
diu: "Pai, eu te imploro que o mandes (a Lázaro)
à minha casa paterna, porque tenho cinco irmãos;
para que lhes dê testemunho a fim de não virem
também para este lugar de torm ento" (vs. 27, 28).
Por que esse homem rico fez tal pedido? Porque
Lázaro havia lhe dado o seu testemunho, talvez
por palavras, talvez através de sua presença apenas.
Quando o rico passava pelo portão, Lázaro talvez
lhe falasse, lembrando-o de sua necessidade de
confiar em Deus. Mesmo se Lázaro nunca dissesse
uma palavra, a sua presença era um exemplo vivo
ao homem rico de que a riqueza e as propriedades
materiais são passageiras; portanto, ele deveria
colocar a sua fé no que é permanente: Deus. O
rico percebeu tarde demais que o testemunho de
Lázaro fora verdadeiro. Ele esperava poupar o res­
tante de sua fam ília para que não tivesse o mesmo
destino.
Até a morte de Lázaro deveria ter sido um tes­
temunho para esse homem. O versículo 22 parece
indicar que Lázaro morreu primeiro. Quando a
morte bate à porta de uma pessoa, como aconte­
ceu no caso do homem rico, geralmente faz a pes­
soa perceber a sua necessidade de Deus. Contudo,
mesmo a morte de Lázaro não despertou o homem
rico para a sua desesperada necessidade. Então a
morte o levou e já era tarde demais.
Além do testemunho de sua riqueza e de Láza­
ro, o homem rico também tinha o testemunho da
Palavra que lhe falava de sua necessidade de confiar
em Deus. Sem dúvida ele ia à sinagoga todos os sá­
bados e ouvia a leitura da Lei e dos Profetas. Con­
tudo, não obedecia aos seus ensinamentos. Igno­
rando o testemunho da Palavra, de suas riquezas
e de Lázaro, o rico selou o seu destino. Depois de
morto e entrando no hades, foi tarde demais
para transformar a sua vida.
Na verdade, o homem rico não desejou transfor­
mar a sua vida. A morte não altera o caráter de
uma pessoa. O homem rico era egoísta antes de
morrer; continuou sendo egoísta depois de sua
morte. Suas orações pedindo água e testemunho
foram motivadas pelo desejo egoísta de obter a lí­
vio aos seus sofrimentos.
Assim, vimos que o homem rico orou no lugar
errado. Ele deveria ter orado e confiado em Deus
enquanto ainda se achava na terra, não no hades.
Deus não podia responder às orações do homem ri­
co porque ele já havia selado o seu próprio julga­
mento. A morte acaba com todas as oportunidades
do incrédulo aceitar Cristo. Por isso é que é tão
importante que aproveitemos ao máximo as nos­
sas oportunidades no dia de hoje. "Eis agora o tem­
po sobremodo oportuno, eis agora o dia da salva­
ção" (II Co. 6:2).

Ele Orou à Pessoa Errada

Além de orar no lugar errado, o homem rico


orou à pessoa errada. Por causa disso suas orações
não foram atentidas. Em vez de orar a Jeová, ele
orou a Abraão. Lemos: "Então, clamando, disse:
Pai Abraão, tem misericórdia de m im !" (Lucas 16:
24).
Nessa passagem é importante que se observe o
significado da frase "seio de Abraão" (veja v. 22).
No Antigo Testamento, a frase "seio de Abraão"
era usada pelo povo judeu para indicar o paraíso,
o lugar para onde iam os fiéis depois da morte. Sen­
do o pai da nação hebréia e um grande homem de
fé, parecia natural que Abraão estivesse esperando
os filhos fiéis de Israel depois que morriam. Os is­
raelitas tinham m uito orgulho de serem descen­
dentes de Abraão. Além disso, era costume naquele
tempo que os hóspedes mais honrados e mais res­
peitados numa festa ficassem sentados perto do
anfitrião. A posição melhor era encostar-se no pei­
to do dono da casa. Assim, nesta passagem, o Se­
nhor Jesus descreveu um belo quadro. Na sua mor­
te, Lázaro (o mendigo pobre e desprezado) foi le- -
vado pelos anjos para o lugar de mais honra: o
seio de Abraão. Mas o rico, que deveria ter tido um
funeral dispendioso e muitos pranteadores, acabou
no lugar de maior desonra: o hades.
Seria lógico que o homem rico achasse que
Abraão poderia fazer alguma coisa por ele. Afinal,
Abraão era um homem de grande fé, foi amigo de
Deus e foi um grande intercessor. Na verdade, os
judeus se orgulhavam do fato de serem descenden­
tes diretos de Abraão (veja Mt. 3 :9 ). Mas Abraão
não poderia salvar o homem rico; ele estava orando
à pessoa errada. Da mesma forma, há pessoas nos
dias de hoje que crêem que podem orar às pessoas
que estão do outro lado. Contudo, não conheço
nenhum versículo das Escrituras que nos instrua a
invocar a ajuda de outra pessoa que tenha morrido
ou passado para o outro lado, quer esteja no paraí­
so ou no hades. A única Pessoa que pode responder
a orações é Deus. Orar a uma outra pessoa, morta
ou viva, é futilidade. Assim, o homem rico orou
à pessoa errada.

Ele Orou Pedindo Benefícios Impróprios

Vemos um terceiro motivo por que a oração do


homem rico não foi atendida. Além de orar no
lugar errado e.à pessoa errada, ele também orou
pedindo benefícios impróprios. O que ele pediu?
Ele queria água. "Manda a Lázaro que molhe em
água a ponta do dedo e me refresque a língua,
porque estou atormentado nesta chama" (Lucas
16:24).
Era um pedido muito interessante quando nos
lembramos de que o homem rico desprezava Lá­
zaro. Antes ele não teria perm itido que Lázaro o
tocasse. Mas tudo havia se invertido. Ele daria tudo
para tocar em Lázaro agora. A mesma coisa aconte­
ce nos dias de hoje. Aqueles que não conhecem a
Cristo como Salvador não querem ter nada a ver
conosco. Eles nos desprezam e nos rejeitam, espe­
cialmente quando lhes damos o nosso testemunho.
Mas um dia vão querer nos ver. Um dia eles vão
ansiar por um pouco do amor e do interesse que
tentamos lhes demonstrar.
Embora o rico pedisse por Lázaro, na realidade
desejava alguma coisa que aliviasse o seu sofrimen­
to. Ainda era um homem egoísta. Mas a ironia de
tudo isso é que água nenhuma teria aliviado o seu
sofrimento. O sofrimento das pessoas no inferno
não poderá ser aliviado com um pouquinho de
água.
Vemos aqui em operação a lei da compensação
divina. O homem rico não estava sofrendo porque
fora feliz durante a sua vida. Estava sofrendo por­
que rejeitara a Deus enquanto vivo. Por outro lado,
Lázaro, que tivera dor e sofrimento durante a vi­
da, estava agora regozijando-se com todas as coisas
boas que eram suas agora. Deus não promete aos
Seus filhos conforto e vida fácil neste mundo. Mas
Ele promete que um dia irão para a casa dele (veja
João 14: 1-3). A li conhecerão a alegria eterna e
vão receber todas as bênçãos que Ele preparou para
eles.
Se ele tivesse recebido a água que pediu, não lhe
teria ajudado em nada. Mas outro motivo porque
seu pedido não foi atendido foi o grande abismo
existente entre o rico e Lázaro. Lucas 16:26 nos
diz que quem desperta no local do juízo não tem
mais escapatória; como também ninguém do lu­
gar de gozo e glória pode fazer alguma coisa por
essa pessoa. Por isso é “preciso resolver a questão
de onde você vai passar a eternidade enquanto há
oportunidade. Depois da morte é tarde demais.
O homem rico, além de querer água, também
queria um testemunho. Quando finaímente enten­
deu que sua condição era desesperadora, começou
a pensar nos outros. Talvez fosse a primeira vez em
sua vida que se preocupou em ajudar uma outra
pessoa. Começou a pensar nos seus cinco irmãos e
onde eles passariam a eternidade. Não queria que
fossem para aquele lugar de tormentos. Esse ho­
mem conheceu a realidade do hades e do inferno.
Era diferente de muitas pessoas que nos dias de ho­
je pensam que o inferno é uma piada. Quando al­
guém lhes diz que estão destinadas ao inferno, res­
pondem: "O tim o. Vou ter um bocado de compa­
nhia". Não têm idéia do terror e tormentos que os
aguardam se preferirem ir para lá. Não vão desejar
muita companhia então. Vão rogar e implorar a
Deus que faça alguma coisa para que os seus ami­
gos e queridos não vão para o mesmo lugar. Mas
ninguém tem de passar pelo horror do inferno se
confiar no Senhor Jesus para salvá-los.
O homem rico pediu um milagre, mas tal como
a água, não lhe adiantaria nada. Ele disse: "Se al­
guém ressuscitar dos mortos, meus irmãos vão se
arrepender e crer'' (v. 30). Não, eles não se arre­
penderíam. Temos o exemplo de Lázaro (irmão
de Maria e Marta), a quem Jesus ressuscitou dos
mortos (veja João 11: 1-44). Aqueles cujos cora­
ções estavam endurecidos não se impressionaram
quando Lázaro ressuscitou dos mortos. Para dizer
a verdade, planejaram matá-lo! (veja 12:10). As
pessoas não são salvas por causa de milagres. São
salvas quando são convencidas pela Palavra de
Deus.
Abraão disse ao homem rico: "Os seus irmãos
têm o testemunho da Palavra de Deus: a Léi e os
Profetas. Se não os ouvirem, nada mais há de trans­
formá-los" (veja Lucas 16:31). Eu gosto da pala­
vra "persuadir" no versículo 31. "Tão pouco se
deixarão persuadir, ainda que ressuscite alguém
dentre os m ortos". Deus não força as pessoas a
confiarem nele. Ele as persuade gentilmente. Ele
quer que conheçamos a verdade acerca do inferno,
que é um lugar de sofrimento e tormento, mas Ele
deseja também que conheçamos o Seu coração
cheio de amor. A fim de evitar a nossa ida para o
inferno, Ele enviou o Seu único Filho para morrer
por nós. O Seu Filho assumiu o sofrimento e o
castigo que deveria ser nosso. Ele nos persuade
gentilmente a confiar nele e a lhe submeter a nossa
vontade.
O Senhor não podia atender a oração do homem
rico porque ele orou no lugar errado, à pessoa er­
rada e pediu benefícios errados. Nossas orações
ficarão sem resposta se esperarmos morrer primei­
ro para depois orar. O lugar de oração é a terra e a
hora certa é agora. Da mesma forma, é preciso ter
certeza de que nossas orações são dirigidas ao Úni­
co que pode ouvi-las e atendê-las e que estamos ho­
nestamente buscando a vontade do Senhor em
nossos pedidos. É preciso aproveitar ao máximo
as nossas oportunidades agora, inclusive a oportu­
nidade de confiar em Cristo como Salvador (se
você ainda nâío foi salvo), ou de servi-lo (se você
já é crente). Ninguém sabe quanto tempo vai viver.
Amanhã pode ser tarde demais. Não adie o momen­
to de clamar ao nome do Senhor. "Todo aquele
que invocar o nome do Senhor, será salvo" (Rm.
10:13).
Uma Oração Gananciosa
(Lucas 12: 13-21)

Alguém já djsse que uma pessoa chata é aquela


que fala quando nós queremos falar. É uma decla­
ração bastante verdadeira. A verdade é que nin­
guém quer ser interrompido. Quando eu pregava
ao ar livre, freqüentemente me sentia frustrado
quando alguém me interrompia para fazer uma per­
gunta ou negar o que eu estava dizendo.
Até o Senhor Jesus não ficou imune de interrup­
ções durante as Suas mensagens. Os Evangelhos
registram alguns desses incidentes. Um exemplo
disso se encontra em Lucas 12. Cristo estava pre­
gando um sermão sobre a importância de confiar
nele no meio da adversidade e de confessá-Lo dian­
te dos homens (veja vs. 1-12), quando foi interrom ­
pido por um homem que desejava resolver uma
questão. Lemos o seguinte: "Nesse ponto, um ho­
mem que estava no meio da multidão lhe falou:
Mestre, ordena a meu irmão que reparta comigo a
herança. Mas Jesus lhe respondeu: Homem, quem
me constituiu juiz ou partidor entre vós? Então
lhes recomendou: Tende cuidado e guardai-vos de
toda e qualquer avareza; porque a vida de um ho­
mem não consiste na abundância dos bens que ele
possui. E lhes proferiu ainda uma parábola, dizen-
do: O campo de um homem rico produziu com
abundância. E arrazoava consigo mesmo, dizendo:
Que farei, pois não tenho onde recolher os meus
frutos? E disse: Farei isto: Destruirei os meus ce­
leiros, reconstruí-los-ei maiores e aí recolherei
todo o meu produto e todos os meus bens. Então
direi à minha alma: Tens em depósito muitos bens
para muitos anos: descansa, come e bebe, e rega­
la-te. Mas Deus lhe disse: Louco, esta noite te pe­
dirão a tua alma; e o que tens preparado, para
quem será? Assim é o que entesoura para si mes­
mo e não é rico para com Deus” .
Na comunidade judia do tempo de Jesus, não
havia diferença entre a igreja e o estado. Os líde­
res religiosos eram também advogados, juizes e
funcionários da justiça. Assim, quando as pessoas
tinham uma questão familiar ou com os vizinhos,
iam procurar o rabino local e este tinha autorida­
de para fazer justiça. Aos olhos dos judeus, Jesus
era considerado um grande rabino, ou mestre (veja
João 1 :3 8 ,4 9 ; 3 :2 ; 20:16). .Contudo, quando
um homem veio procurar Jesus, que estava pregan­
do, Ele recusou-se a atendê-lo. Porque Ele se re­
cusou a envolver-se nessa questão familiar? Porque
o problema estava real mente no coração do ho­
mem.
O que teria acontecido se o Senhor ouvisse o
caso e apresentasse uma solução justa e perfeita
como só Ele sabia apresentar? Não teria resolvi­
do a questão. Por que? Porque o coração da pes­
soa envolvida continuaria sendo o mesmo. Apa­
rentemente, o outro irmão era egoísta e avarento e
não queria dividir a herança. Contudo, o irmão
que fez o pedido era tão egoísta e avarento quan­
to o outro. A única diferença era que ele não tinha
nada. O coração de ambos precisava mudar. Quan­
do julgamos com base nas circunstâncias externas
sem considerar as atitudes internas, só tornamos o
problema pior. O Senhor sabia disso. Em vez de
considerar quem deveria ficar com a herança, Ele
foi diretamente à fonte da disputa: o egofsmo e a
avareza.
Vivemos numa época quando a ganância é geral.
A sociedade nos diz: "Procure ser o primeiro.
Consiga o que você merece". Assim, nossos trib u ­
nais estão cheios de pessoas que estão processan­
do outras por somas exorbitantes. Muitos desses
casos não são motivados pela justiça ou verdadei­
ra necessidade, mas ganância e egoísmo. Jesus en­
frentou esse mesmo tipo de atitude no Seu tempo.
Em Lucas 12, e muitas outras passagens, Ele nos
advertiu sobre a avareza. Na verdade, Sua adver­
tência foi tão forte que Ele usou a palavra "guar­
dai-vos" para enfatizar a seriedade dessa atitude
(veja v. 15). Ele nos disse que nossas vidas deve­
ríam ser dirigidas para o serviço prestado a Deus e
aos outros e não para acumular riqueza que é só
temporária.
Novamente descobrimos uma pessoa fazendo
um pedido ao Senhor, e Jesus recusando-se a aten­
der a sua oração. Nessa passagem, descobrimos
que esse homem tinha algumas atitudes erradas
ao aproximar-se de Jesus. Elas foram a causa da
recusa de Cristo em atender o seu pedido. Igual­
mente, a fonte de muitas das nossas orações não
respondidas têm motivações erradas. Para enten­
der qual deveria ser a nossa atitude quando ora­
mos, vamos comparar o pedido deste homem com
a Oração do Senhor, a oração modelo que Cristo
nos deu (veja Mt. 6:9-13).

Egoísmo

Quando comparamos a Oração do Pai-Nosso


com a oração deste homem, vemos, antes de mais
nada, que o homem estava orando de maneira
egoísta e não por amor ao seu irmão ou ao Pai. A
oração do Pai-Nosso começa com as palavras "Pai
nosso que estás no céu" (Mt. 6 :9 ). Observe que
não é meu Pai, mas nosso Pai. As primeiras pala­
vras dessa oração nos mostram que pertencemos
uns aos outros. Assim, quando oramos, as necessi­
dades dos outros deveríam ter a primazia em nos­
so pensamento.
Contudo, a oração desse homem foi egoísta
desde o início. Ele disse a Jesus: "Mestre, ordena
a meu irmão que reparta comigo a herança" (Lu­
cas 12:13). Ele tinha uma atitude e uma motiva­
ção erradas por trás do seu pedido. Em vez de di­
zer: "Senhor, eu faço parte da fam ília e o meu
coração está partido com o que está acontecendo.
Por favor, ajude-me a fazer o que é certo. Ajude-me
a amar o meu irmão", ele exigiu que o Senhor Je­
sus forçasse o seu irmão a lhe dar o que ele queria.
Ele não tinha verdadeira preocupação pelas neces­
sidades do seu irmão.
Jesus viu através da oração do homem o verda­
deiro problema: o problema do seu coração. Ele
disse ao homem: "Homem, quem me constituiu
juiz ou partidor entre vós?" (v. 14). O egoísmo
desse homem o deixara cego, não apenas para com
as necessidades do seu irmão, mas também para
com o caráter de Jesus. O Senhor é nosso Pai, não
nosso juiz. Cristo veio ao mundo para salvar as
pessoas, não para condená-las (veja João 3:1 6 ,1 7 ).
Ele deseja lidar conosco, não nos tratando como a
criminosos, mas como filhos, com amor e graça.
Por causa do egofsmo desse homem e suas fal­
sas idéias acerca do propósito da oração e do cará­
ter de Cristo, o Senhor recusou-se a ouvir a sua ora­
ção. Em vez disso, Ele ensinou-lhe uma importan­
te lição sobre qual deveria ser a sua atitude na ora­
ção. Na verdade, ele lhe disse: "Você não pode
orar dizendo 'Pai nosso' se está em desavença com
o seu irmão".

Deixar de Glorificar a Deus

Um segundo motivo por que a oração desse ho­


mem ficou sem resposta foi porque ele deixou de
glorificar a Deus. Honrar e glorificar a Deus é um
dos propósitos principais da oração. Imediata­
mente após à saudação introdutória do Pai-Nosso,
lemos: "Santificado seja o teu nome" (Mt. 6 :9 ).
Quando oramos, além de iniciar a oração com lou­
vor e adoração a Deus, todo pedido que fazemos
deveria ser do tipo que agrade e honre ao Senhor.
Em Lucas 12 parece que esse homem pertencia
à comunidade judia. Ele conhecia Deus Jeová e en­
tendia a Lei. Ao fazer aquele pedido, estava enver­
gonhando o nome de Deus. Além disso, estava
dando um mau exemplo a outras pessoas. Talvez
houvesse alguns gentios na multidão ouvindo a
Jesus. Esse homem, além de interromper a mensa­
gem de Cristo, possivelmente não deixou que al­
gumas pessoas o aceitassem, pois o seu pedido
egoísta lançou uma luz deformante sobre a "raça
escolhida de Deus" e finalmente sobre o próprio
Senhor.
Como representantes de Cristo na terra, os cris­
tãos devem evitar qualquer coisa que possa levar
os outros a rejeitar o Senhor. Contudo, tal como
esse homem, muitos crentes atualmente estão le­
vando a público suas brigas com os membros da
família e companheiros crentes. Será que isso glo­
rifica o nome de Deus? Eu penso que não.
Quanto a essa questão, Paulo nos advertiu: "A -
ventura-se algum de vós, tendo questão contra ou­
tro, a submetê-la a juízo perante os injustos e não
perante os santos? Ou não sabeis que os santos hão
de julgar o mundo? Ora, se o mundo deverá ser ju l­
gado por vós, sois acaso indignos de julgar as cou-
sas mínimas? . . . Para vergonha vo-lo digo. . . . Mas
irá um irmão a juízo contra outro irmão, e isto pe­
rante incrédulos? O só existir entre vós deman­
das já é completa derrota para vós outros. Por que
não sofreis antes a injustiça? Por que não sofreis
antes o dano? Mas vós mesmos fazeis a injustiça
e fazeis o dano, e isto aos próprios irmãos" (I Co.
6: 1,2, 5-8).
O que Paulo está nos dizendo nessa passagem?
Quando levamos uns aos outros aos tribunais e
processamos os membros de nossa fam ília e nossos
amigos, prejudicamos o nosso testemunho diante
dos incrédulos. O mundo não vê em nós nenhuma
diferença. Somos tão egoístas e gananciosos quan­
to os demais. Além de prejudicar as oportunida­
des de levá-los ao Senhor, também envergonha­
mos publicamente o santo nome de Deus. Assim,
é melhor sofrer injustiças e perdas do que propa­
gar nossos ressentimentos publicamente.
Abraão também percebeu a seriedade desse as­
sunto. Quando Ló teve uma desavença com ele por
causa de divisão de terras, Abraão lhe disse: "Não
haja contenda entre mim e ti, e entre os meus pas­
tores e os teus pastores, porque somos parentes
chegados" (Gn. 13:8).
O Salmo 133: 1 nos diz: "Oh! Como é bom e
agradável viverem unidos os irmãos!" G lorifica­
mos a Deus quando vivemos em amor e união com
os nossos familiares e companheiros crentes. Igual­
mente, quando temos desavenças com os outros,
não podemos santificar o nome de Deus; assim,
nossas orações ficam sem resposta.

Cobiça

Além de não glorificar a Deus e ter uma atitude


egoísta, esse homem também era cobiçoso, deseja­
va ter mais do que tinha. Quando oramos com es­
se tipo de espírito, o Senhor não atende nossas
orações.
Que tipo de atitude deveriamos ter em nossas
orações? Deveriamos desejar que a vontade do Se­
nhor seja feita e que o Seu reino avance. Lemos em
Mateus 6: 10: ''Venha o teu reino, faça-se a tua
vontade, assim na terra como no céu". Está eviden­
te que o homem em Lucas 12 não estava interes­
sado no reino de Deus nem na Sua vontade. Ele dis­
se ao Senhor mais ou menos isto: "Quero que a
minha herança venha. Quero que a minha vontade
seja feita".
Considerando que esse homem estava tão preo­
cupado em obter riquezas materiais, ignorou com­
pletamente o sermão de Cristo. Se realmente tives­
se prestado atenção à mensagem do Senhor, nunca
teria feito um pedido daqueles. Esse homem, e
muitos outros, são ilustrações da parábola do se­
meador que Cristo contou (veja Lucas 8:5-15).
Como semente que cai entre espinhos, algumas pes­
soas ouvem a Palavra mas vivem tão sufocadas com
os cuidados desta vida, as riquezas e o prazer, que
não produzem frutos amadurecidos (veja v. 14).
Muitas pessoas ficam sentadas em nossas igrejas
aos domingos e na verdade não recebem a semen­
te da Palavra de Deus. Por quê? Porque seus cora­
ções estão cheios de ervas daninhas da cobiça e do
desejo de propriedades materiais que não têm lu­
gar para o Senhor ou a Sua vontade.
Sim, somos instrufdos a orar pelas nossas neces­
sidades. Imediatamente após as palavras, "faça-se
a tua vontade", na Oração do Pai-Nosso, lemos:
"o pão nosso de cada dia dá-nos hoje" (Mt. 6:1 1 ).
Mas, embora não seja errado orar pelas nossas ne­
cessidades, nossa preocupação principal deveria
ser a de buscar a vontade do Senhor em nossas
vidas. Quando estamos orando assim, então Ele
atende também as nossas necessidades. Em Mateus
6 :3 3 Jesus nos instruiu: "Buscai, pois, em primei­
ro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas
cousas vos serão acrescentadas".
Contudo, embora o Senhor prometa nos dar o
que precisamos, Ele nem sempre nos dá o que de­
sejamos. Quando começamos a desejar mais do que
precisamos, então estamos em perigo de cometer
o pecado da cobiça. A palavra "cobiça" significa
"um desejo de ter mais". Quando o homem apro­
ximou-se de Jesus, exigindo que o Senhor forçasse
o seu irmão a dividir a herança, não foi porque real­
mente precisava dela, mas ele simplesmente queria
mais.
Jesus advertiu o homem, e o restante da m ulti­
dão, do perigo da cobiça (veja Lucas 12:15). Para
ilustrar o Seu ponto, Cristo contou a parábola do
homem rico. Esse homem havia terminado de fazer
uma colheita abundante e não tinha lugar para ar­
mazenar tudo. Em vez de usá-la para ajudar os ou­
tros, apenas se preocupou consigo mesmo. Obser­
ve que os verbos estão todos na primeira pessoa do
singular nessa passagem: "Que farei, pois não tenho
onde recolher os meus frutos? . . . Farei isto: Des­
truirei os meus celeiros, reconstruí-los-ei maiorese
aí recolherei todo o meu produto e todos os meus
bens. Então direi à minha alma: Tens em depósito
muitos bens para muitos anos; descansa, come e
bebe, e regala-te" (vs. 17-19). Os verbos na primei­
ra pessoa do singular e os possessivos "m eu" e "m i­
nha" foram usados num total de onze vezes. A
tragédia é que enquanto o homem estava pensan­
do que simplesmente providenciava um futuro
garantido e confortável, estava realmente arrui­
nando a sua vida e condenando-se à eternidade de
sofrimentos. Deus lhe disse: "Louco, esta noite te
pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para
quem será?" (v. 20).
Cristo concluiu essa parábola com uma severa
advertência: Assim é o que entesoura para si mes­
mo e não é rico para com Deus (v. 21). Aqueles
que armazenam tesouros para si mesmos e não ser­
vem a Deus, sofrerão o mesmo destino desse ho­
mem rico. "Não se satisfaça com o que você tem.
Agarre tudo quanto puder, mesmo que tenha de
tirá-lo do seu irmão". Essa atitude é predominan­
te em nossa sociedade. É perigosa porque podemos
cair nessa armadilha sem percebê-lo. Começamos
olhando para o que os outros têm, e a semente do
desejo é plantada em nossos corações. Então come­
çamos a comprar algumas das "necessidades" para
uma vida feliz e confortável. Logo estaremos tra­
balhando mais horas e roubando a Deus o tempo
e o dinheiro que é dele, crendo que estamos sim­
plesmente "cuidando de nossa fam ília".
Enquanto a cobiça nos diz que devemos possuir
tudo quanto fo r possível nesta vida, Cristo nos
disse: "Não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto
ao que haveis de comer, nem pelo vosso corpo,
quanto ao que haveis de vestir" (v. 22). Ele acres­
centou que a preocupação por essas coisas não nos
ajuda em nada. Pelo contrário, devemos confiar
em Deus. Quando fazer a vontade de Deus e traba­
lhar para o Seu reino é o que nos importa mais,
então Ele providencia que tenhamos também aqui­
lo de que precisamos (veja vs. 23-34).

Falta de Perdão

Um quarto motivo por que Jesus não atendeu à


oração desse homem foi que ele demonstrou falta
de perdão. Aparentemente o seu pai havia morrido
e agora os dois irmãos estavam brigando pela he­
rança. As famílias são muitas vezes divididas por
causa de heranças. Irmãos geralmente brigam pelo
que acham ser seu de direito. Um testamento pode
despertar o que há de pior nas pessoas, e divisões
podem resultar que levam anos para cicatrizar.
Aparentemente o homem que procurou Jesus acha­
va que o seu irmão o estava defraudando na ques­
tão da herança, e ele não estava disposto a perdoar.
Se esse homem demonstrasse um espírito de per­
dão, teria procurado Jesus em particular dizendo:
"Mestre, sinto meu coração pesado. Meu irmão
está me defraudando. Eu o amo e não quero pro­
vocar um escândalo. Poderia orar por meu irmão
e por mim? Ajude-me a amá-lo e ajude-o a glori­
ficar a Deus''.
A Oração do Pai-Nosso diz: "Perdoa-nos as nos­
sas dívidas, assim como nós temos perdoado aos
nossos devedores" (Mt. 6 :1 2 ). Se o Senhor nos
perdoasse como nós perdoamos os outros, onde
estaríamos em nosso relacionamento com Ele? Vo­
cê sabe porque Deus nos instruiu a perdoar os
outros? Porque se não perdoamos, nós mesmos
saímos machucados. Um dos truques de Satanás
é nos levar a crer que guardar rancor contra al­
guém prejudica essa pessoa e vinga o que ela nos
fez. Se você quiser ter um inimigo, é melhor arran­
jar um que valha a pena porque inimigos são mui­
to dispendiosos. Eles nos causam toda sorte de des­
graças. Eles nos roubam o sono e a paz. Esse é um
dos motivos por que a Palavra de Deus nos diz que
é melhor ser defraudado do que processar um ir­
mão e lutar pelo que é nosso (veja I Co. 6: 7).
Naturalmente a melhor coisa a fazer é não ter
inimigos, é perdoar os outros mesmo quando eles
nos magoam profundamente. Mas esse homem não
queria perdoar o seu irmão. Estava convencido de
que o seu irmão era culpado. Ele mesmo não podia
estar errado. Com muita freqüência em nossas ora­
ções oramos por aqueles que nos magoaram. Nunca
perguntamos: "Pai, será que eu magoei alguém?
Será que devo interromper a minha oração e pro­
curar alguma pessoa para lhe perguntar se a mago­
ei?"
A Oração do Pai-Nosso continua dizendo: "Não
nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal
(do M aligno)" (Mt. 6 :13). Esse homem estava
caindo direitinho nas mãos do diabo por não per­
doar. Em Efésios4 :2 6 , 27 lemos: "Irai-vos, e não
pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira, nem
deis lugar ao diabo". Esse homem estava dando ao
diabo uma oportunidade perfeita de destruir a sua
fam ília e o seu próprio relacionamento com Deus.
Estava enfurecido com o seu irmão e alimentava
um ressentimento contra ele. Ele deveria ter procu­
rado o seu irmão e dizer: "Irm ão, você me magoou,
estou com raiva. Mas vamos resolver esse assunto.
Vamos procurar a Jesus juntos e vamos tentar es­
clarecer tudo".
Efésios4 continua dizendo: "E não entristeçais
o Espírito de Deus .. . Longe de vós toda a amar­
gura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmias, e bem
assim toda a malícia. Antes sede uns para com os
outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns
aos outros, como também Deus em Cristo vos per­
doou" (vs. 30-32). Deus está nos dizendo o que fa­
zer para evitar que o diabo aproveite as oportuni­
dades. Devemos abandonar toda a amargura, ira
e malícia. A malícia (agir com dolo) é o câncer da
alma que pode consumir uma pessoa, espalhando
o seu veneno por todo o nosso sistema e nos to r­
nando pessoas difíceis de se conviver. Pelo contrá­
rio, devemos ser bondosos uns para com os outros
e nos perdoar mutuamente. Deus nos deu um
exemplo a seguir. Quando nos lembramos quantas
vezes e quanto Ele nos perdoou, não temos cora­
gem de alimentar um ressentimento contra um ir­
mão.
"E não nos deixes cair em tentação" (Mt. 6:
13). O desejo de possuir riquezas materiais geral­
mente é uma fonte de tentação. Paulo escreveu:
"Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os
males" (I T m . 6 : 10). Você percebeu que a cobiça
leva uma pessoa a transgredir todos os outros man­
damentos? O últim o mandamento é "Não cobiça­
rás" (Êx. 20: 17). Quando uma pessoa cobiça, ela
começa a se tornar idólatra (veja vs. 3-5). Na ver­
dade, Colossenses 3: 5 nos diz que a cobiça é ido­
latria. Por quê? Porque estamos colocando coisas
no lugar de Deus. Se uma pessoa é cobiçosa, vai
mentir para obter o que deseja. Vai roubar (veja
Ex. 20:15). Vai até mesmo cometer adultério
(veja v. 14). Vai dar falso testemunho (veja v. 16).
Vai desonrar sua própria fam ília a fim de obter o
que deseja (veja v. 12). Assim o desejo de possuir
cada vez mais vai nos levar a transgredir outros
mandamentos e vai nos levar cada vez mais nas pro­
fundezas do pecado.
Em vez de perm itir que sejamos levados à ten­
tação, devemos pedir a Deus que nos livre do mal,
"pois teu é o reino" (Mt. 6 :1 3 ). Considerando que
todas as coisas estão sob o controle de Deus, pode­
mos confiar nele. Ele pode resolver o problema.
Ele pode nos dar muito mais do que qualquer pes­
soa possa nos tirar. "Teu é . . . o poder" (v. 13).
Além de tudo estar sob o controle soberano de
Deus, Ele também possui o poder necessário para
realizar o que promete. Ele tem o poder de cuidar
de nossas necessidades de forma que nós nunca
passemos necessidades. Deveriamos perm itir que
esse poder opere em nossas vidas. "Tua é a glória"
(v. 13). É aqui que geral mente se encontra o verda­
deiro problema quando nos aproximamos de Deus
em oração. Quem é que vai ser glorificado? Se Deus
fo r glorificado, podemos orar confiantemente.
Mas se eu apenas quero fazer a minha própria von­
tade para andar me vangloriando por a i sobre o que
recebi, então o assunto é outro. Podemos ter cer­
teza de que Deus não vai atender a nossa oração.
"Pois téu é o reino, o poder e a glória para sem­
pre" (v. 13). Daqui a cem anos que aparência terá
essa situação à luz da eternidade? Você não vai se
arrepender das atitudes erradas que adotou? Você
não vai se arrepender de ter se importado tanto
com uma questão tão insignificante? Algumas coi­
sas que nos parecem tão importantes e tão cruciais
são insignificantes à luz da eternidade. Examine as
situações que o preocupam e que talvez até o levem
a brigar. À luz da eternidade esse problema valerá
o tempo e a energia que você está lhe dispensan­
do?

É óbvio que o homem que levou o seu pedido


a Jesus não sabia muita coisa acerca da Pessoa que
estava procurando. Seu pedido não se encaixava
nas regras que nos foram dadas na Oração do Pai-
-Nosso. O Senhor recusou-se a atender o seu pedi­
do por diversos motivos. Primeiro, o homem erà
egoísta. Ele não percebeu que o problema estava
em seu próprio coração. Ele estava olhando para
o seu irmão e para a quantia que lhe fora roubada.
Segundo, esse homem não glorificou a Deus. Não
se importou em levar uma briga de fam ília a pú­
blico. Estava só pensando em suas necessidades
e no seu conforto. Esse homem também era co­
biçoso. Por mais que tivesse, queria mais. Ele não
ia perm itir que o seu irmão lhe tirasse um centavo
que fosse. Finalmente, esse homem estava dando
ao diabo uma tremenda oportunidade de vitória
por causa de sua falta de perdão. Seu amor ao d i­
nheiro o levou à tentação e a todos os tipos de ma­
les. Precisamos tomar cuidado para que o dinhei­
ro e as propriedades materiais não se tornem im­
portantes demais para nós. Nossos desejos vão nos
levar a cometer outros pecados e vão também pre­
judicar o nosso relacionamento com o Senhor de
modo que Ele não poderá atender nossas orações.
Mark Twain disse uma vez: "A civilização é uma
multiplicação ilimitada de necessidades desnecessá­
rias''. Acho que é verdade. Podemos nos envolver
tanto com coisas que começamos a pensar que as
posses materiais constituem a própria vida. E não
constituem. Nosso Senhor nos advertiu: "Tende
cuidado e guardai-vos de toda e qualquer avareza;
porque a vida de um homem não consiste na abun­
dância dos bens que ele possui" (Lucas 12:15).
O A lto Preço da Oração
(Mateus 20:20-28)

Todo cristão que leva a oração a sério acaba en­


frentando o desapontamento da oração não aten­
dida. Quando isso acontece, as pessoas reagem de
diferentes maneiras. Algumas discutem com Deus.
Outras ficam zangadas com Ele, revoltando-se con­
tra a Sua vontade e abandonando a igreja. Outras
ainda reagem com amargura silenciosa, deixando
que suas vidas sejam envenenadas pelo desaponta­
mento e pela depressão. Outras continuam orando
corajosamente, esperando que aconteça alguma coi­
sa de alguma maneira. Considerando que todos
nós vamos enfrentar o trauma da oração não aten­
dida em algum ponto de nossas vidas, devemos
aprender a lidar realisticamente com esse assunto.
Quando estamos lutando com o problema da
oração não atendida, devemos nos lembrar, em
primeiro lugar, que não estamos sozinhos. Como
já vimos, alguns dos maiores servos de Deus expe­
rimentaram essa situação algumas vezes. Em cada
caso, vemos motivos específicos para o Senhor re­
cusar-se a responder. Geralmente, o ponto central
do problema está no coração, quer seja egoísmo,
cobiça, falta de perdão ou qualquer outro pecado.
Quando recebemos um "não " de Deus, geral mente
é porque temos algum problema em nossa vida que
está impedindo nossas orações. Contudo, às vezes
o Senhor prefere não atender as nossas orações
porque tem alguma coisa melhor para nós, como
no caso de Elias e o endemoninhado gadareno. E,
conforme veremos neste capítulo, freqüentemente
nossas orações não são atendidas porque temos
uma atitude errada para com a oração.
Em Mateus 20 lemos acerca da oração de Tiago,
João e sua mãe, Salomé, e a resposta de Cristo ao
pedido deles. Lemos: "Então se chegou a ele a mu­
lher de Zebedeu, com seus filhos e, adorando-o, pe­
diu-lhe um favor. Perguntou-lhe ele: Que queres?
Ela respondeu: Manda que, no teu reino, estes
meus dois filhos se assentem, um à tua direita, e o
outro à tua esquerda. Mas Jesus respondeu: Não sa­
beis o que pedis. Podeis vós beber o cálice que eu
estou para beber? Responderam-lhe: Podemos.
Então lhes disse: Bebereis o meu cálice; mas o as­
sentar-se à minha direita e à minha esquerda não
me compete concedê-lo; é, porém, para aqueles a
quem está preparado por meu Pai. Ora, ouvindo
isto os dez, indignaram-se contra os dois irmãos.
Então Jesus, chamando-os, disse: Sabeis que os go­
vernadores dos povos os dominam e que os maio-
rais exercem autoridade sobre eles. Não é assim
entre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-se
grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem
quiser ser o primeiro entre vós, será vosso servo;
tal como o filh o do homem, que não veio para ser
servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate
por m uitos" (vs. 20-28).
Tiago e João eram discípulos fiéis e dedicados
de Jesus. Contudo, vemos nessa passagem que eram
presunçosos. Sua oração foi motivada, em parte,
pelo seu orgulho. Na verdade, estavam tão certos
que Cristo lhes atenderia o pedido que o fizeram
publicamente. Mas o Senhor não atendeu o pedido
deles porque percebeu que eles interpretavam mal
o propósito do ministério dele e o propósito da
oração. Ele lhes disse: "Não sabeis o que pedis.
Podeis vós beber o cálice que eu estou para beber?"
(veja v. 22). Se Tiago e João realmente entendes­
sem o propósito do reino de Cristo e Suas profe­
cias acerca dos acontecimentos futuros (veja vs.
17-19), jamais teriam feito um pedido desses. Em­
bora não recebessem o privilégio de sentar à Sua
direita ou esquerda, eles beberam do mesmo cáli­
ce de Jesus. Tiago foi o primeiro dos 12 apóstolos
que foi martirizado. O Rei Herodes mandou deca­
pitá-lo (veja Atos 1 2 :1 ,2 ). João foi muito perse­
guido, preso diversas vezes e finalmente deporta­
do para a ilha de Patmos, onde morreu (veja Ap.
1:9).

Oração Envolve Relacionamentos, Não Regras

Nessa experiência Jesus ensinou aos discípulos


(e a nós) três lições importantes e surpreendentes
acerca do propósito da oração e qual deve ser a
nossa atitude na oração. Primeiro, aprendemos que
a oração envolve relacionamentos, não regras.
Vivemos num mundo que é m uito orientado por
fórmulas. Essa mentalidade se deve, em grande par­
te, à ciência. Nossa sociedade é muito mecanizada
e lógica. Somos ensinados que se apertarmos os bo­
tões A,B e C, teremos D. Os cientistas nos ensinam
que tudo tem uma explicação lógica, que se encon­
tra usando a razão e seguindo as regras da ciência.
Os cristãos são também geralmente culpados des­
se tipo de pensamento quando se trata de suas vi­
das espirituais. Dedicam-se a fórmulas: cinco pas­
sos para nos enchermos do Espírito Santo, oito
passos para a solução dos problemas, crendo que
seguindo essas regras, terão sucesso em sua cami­
nhada com o Senhor. Temos até criado fórmulas
para orar. Seguimos uma certa ordem: adoração
a Deus, confissão de pecados, ação de graças, pe­
didos para os outros e para nós mesmos, e obede­
cemos certas "regras" de oração, tais como ser es­
pecífico e orar com fé. As pessoas me escrevem e
telefonam dizendo: "Irm ão Wiersbe, demos todos
esses passos e continuamos na mesma bagunça. O
que está errado?" A minha resposta é simplesmen­
te a seguinte: A vida cristã não é feita de regras e
regulamentos; é feita de relacionamentos. Isso se
aplica especialmente à oração.
Embora essas regras e fórmulas para a oração se­
jam boas, não garantem automaticamente que nos­
sas orações serão atendidas. Observamos em Mateus
20 que Salomé e seus dois filhos obedeceram a to ­
das as regras da oração. Primeiro, vemos que eles
tiveram a atitude correta. Começaram adorando o
Senhor (veja v. 20). Segundo, foram específicos
em seu pedido. O problema de muitas pessoas que
oram nos dias de hoje é que são demasiadamente
generalizadas. Nós oramos: "Senhor, abençoe o
nosso pastor e os missionários ao redor do mundo.
Dê-nos a paz". Então ficamos imaginando porque
nunca vemos nossas orações atendidas! A Palavra
de Deus nos instrui a sermos específicos quando
oramos. Na Oração do Pai-Nosso, que é o nosso
padrão de oração, encontramos pedidos específi­
cos para provisão de nossas necessidades diárias,
ajuda na tentação e perdão, entre outras coisas
(veja 6:9-13).
Além de uma atitude correta na oração e no pe­
dido específico, eles também reivindicaram uma
promessa. Isso também é um aspecto importante
da oração. Que promessa Salomé e seus filhos rei­
vindicaram? Um pouco antes desse incidente, Je­
sus dissera aos Doze: "Em verdade vos digo que vós
os que me seguistes, quando, na regeneração, o
Filho do homem se assentar no tronó da sua gló­
ria, também vós assentareis em doze tronos para
julgar as doze tribos de Israel” (19:28). Salomé
lembrou-se dessa promessa e reivindicou-a para
os seus filhos. Ela disse, realmente: "Eu me lembro
do que tu disseste. Senhor. Uma vez que tu prome­
teste que os discípulos vão sentar-se em tronos no
Teu reino, poderíam os meus filhos ocupar os luga­
res de honra à Tua direita e esquerda?"
Além disso, esses três discípulos de Jesus tinham
fé. Como sabemos que tinham fé? Por causa do que
Jesus acabara de predizer (veja 20: 17-19). O Se­
nhor acabara de contar aos Seus discípulos acerca
de Sua iminente traição, crucificação e ressurrei­
ção no terceiro dia. Embora eles não entendessem
o propósito de Sua morte ou o Seu reino, creram
que Cristo cumpriría a Sua promessa de fazê-los
governar, apesar da Sua morte na cruz. Foi preci­
so uma grande fé para crer que Jesus ressuscitaria
e estabelecería o Seu reino como havia prometido.
Além disso, Salomé, Tiago e João concordaram
acerca do seu pedido. Anteriormente o Senhor
também lhes dissera: "Em verdade também vos di­
go que, se dois dentre vós, sobre a terra, concorda­
rem a respeito de qualquer cousa que porventura
pedirem, ser-lhes-á concedida por meu Pai que está
nos céus" (18: 19). Considerando que eles concor­
daram acerca do que queriam, pareceu-lhes natural
que Cristo atendesse sua oração.
Assim, vemos que Salomé e seus filhos atende­
ram a todas as "condições" para ter sua oração
atendida. Tiveram uma atitude correta de adora­
ção. Seu pedido foi específico. Reivindicaram uma
promessa de Cristo e tiveram fé de que Ele a reali­
zaria. E concordaram acerca do seu pedido. Mas
Jesus não atendeu a oração deles. Por quê? Porque
seus relacionamentos estavam errados. Podemos
seguir todas as "regras" da oração, mas se o nosso
relacionamento com o Senhor e com os outros não
for o que deveria ser, nossas orações não serão
atendidas.
No que seus relacionamentos estavam errados?
Vemos, em primeiro lugar, que Tiago, João e Sa­
lomé tinham cada um deles um relacionamento
errado consigo mesmo. Cada um deles desejava
um lugar de destaque. Salomé queria o reconheci­
mento que recebería se os seus filhos tivessem posi­
ções de honra no reino de Cristo. E Tiago e João
queriam ter mais poder e serem mais favorecidos
do que os outros discípulos.
Além disso, essa mãe e seus filhos tinham um
relacionamento errado entre si. Salomé estava mi­
mando os seus filhos. Ela não estava preocupada
em edificar o caráter deles ou torná-los pessoas me­
lhores; ela simplesmente desejava agradá-los. Da
mesma forma, Tiago e João talvez estivessem usan­
do a sua mãe para obter o que desejavam. Prova­
velmente não tiveram a coragem de fazer esse pe­
dido a Jesus pessoalmente, por isso pediram à mãe
deles que o fizesse. Mas o Senhor lhes disse que eles
não podiam obter aqueles lugares de honra através
de seus próprios preparativos ou promoções. Os
tronos eram daqueles para os quais o Pai os havia
preparado (veja 20:23).
Salomé e seus filhos tinham também um relacio­
namento errado com os demais discípulos. Es-
queceram-se de que outras pessoas estavam envol­
vidas em sua oração. Não pararam para pensar acer­
ca das conseqüências do seu pedido e o que acon­
teceria com o seu relacionamento com os outros
discípulos. Vemos que de fato criou certa desar­
monia entre os Doze (veja v. 24).
Finalmente, vemos que tiveram um relaciona­
mento errado com o Senhor. Do pedido deles to r­
na-se evidente que ignoravam a vontade de Deus
e o preço pago pela oração atendida. Se realmen­
te conhecessem a Jesus, teriam percebido que Ele
ama a todos de maneira igual. Ele não tem favori­
tos. E Ele não vai atender a uma oração que pos­
sa magoar alguém no processo.
Assim, a palavra chave na oração é "submeter"
Melhoramos nossos relacionamentos quando nos
submetemos aos outros. Quando temos um rela­
cionamento acertado com uma pessoa, conhecemos
essa pessoa por dentro e por fora. Temos um laço
tão íntim o com essa pessoa que sabemos o que es­
tá pensando e sentindo. Porque a amamos, quere­
mos agradá-la. Esse é o tipo de relacionamento
que devemos ter com o Senhor. Quanto mais nos
achegamos a Ele, mais sabemos o que Ele quer que
façamos. Podemos então orar de acordo com a
vontade do Senhor, resultando numa oração aten­
dida.
A Oração Envolve Receber Ordens, Não Dá-las
Quando temos de enfrentar orações não aten­
didas, temos de nos lembrarem primeiro lugar que
a oração envolve relacionamentos, não regras. Se
o nosso relacionamento com o Senhor e com os
outros não é o que deveria ser, então nossas ora­
ções serão impedidas. A segunda lição importan­
te que devemos aprender é que a oração envolve
receber ordens, não dá-las. Geralmente as pessoas
têm a idéia errada de que Deus é um moço de re­
cados cósmico. A oração se transforma num bal­
cão de barganhas onde dizemos ao Senhor: "Se Tu
cumprires a tua parte, eu cumpro a minha". Con­
tudo, a oração não éum relacionamento comercial
com o nosso Pai que está nos céus. Não podemos
barganhar o que desejamos.
Salomé e seus dois filhos tinham uma visão fal­
sa do propósito da oração. Em vez de dizer a Deus
o que Ele deve fazer por você, a oração envolve pri­
meiramente dizer a Ele: "Estou à disposição, Se­
nhor. Santificado seja o Teu nome. Venha o Teu
reino. Seja feita a Tua vontade aqui na terra a
começar com igo".
Se Tiago, João e Salomé tivessem vindo a Cristo
para dizer: "Senhor Jesus, nós te adoramos, e de­
sejamos ser Teus servos. O que queres que faça­
mos?" a situação teria mudado completamente.
Você tem sido um servo na oração? A oração não
nos dá o direito de subir num trono e dizer aos
outros o que queremos. Pelo contrário, a oração
é colocarmo-nos à disposição de Deus para que Ele
possa operar em nós e através de nós. "Ora, àque­
le que é poderoso para fazer infinitamente mais do
que tudo quanto pedimos, ou pensamos, conforme
o seu poder que opera em nós, a ele seja a glória, na
igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para
todo o sempre" (Ef. 3 :2 0 ). Quando cumprimos
prontamente as ordens de Cristo em vez de dar or­
dens, o Seu poder vai operar em nossas vidas muito
além do que poderiamos pedir, ou até mesmo ima­
ginar.

A Oração Envolve Dar, Não Receber

A terceira lição vital que temos de aprender é


que a oração envolve dar, não apenas receber. Na­
turalmente recebemos muita coisa através da ora­
ção, e parte do propósito da oração é pedir a Deus
o que necessitamos: "O pão nosso de cada dia
dá-nos hoje" (Mt. 6:11). Contudo, se estamos ape­
nas recebendo, sem dar nada em troca, então nos­
sas orações e as respostas de Deus geralmente se
tornam sem valor.
No deserto os israelitas clamaram a Deus: "Es­
tamos cansados do maná. Queremos carne" (veja
Nm. 1 1 :4 -6 , 16-20,31-33). Deus atendeu ao pe­
dido deles mandando codornizes. Mas também
mandou abatimento ás suas almas (veja SI. 106:
14, 15). Teria sido melhor se suas orações não t i ­
vessem sido atendidas. Enquanto tiveram o seu
desejo físico atendido, sua vida espiritual sofreu
dano.
Você já chegou ao ponto em que sente-se grato
pela oração não atendida? Examine alguns dos
pedidos da sua lista de oração. Você realmente de­
seja o que está pedindo? E se Deus lhe desse tudo
o que você pediu? Não teria sido uma resposta sem
valor a uma oração sem valor?
Temos de entender que a oração tem um alto
preço, tanto para Deus como para nós. Quando
Tiago e João pediram lugares de honra no reino
de Cristo, Jesus olhou para eles e disse mais ou me­
nos o seguinte: "Vocês sabem o que vai me custar
preparar um trono para vocês? Eu terei de derra­
mar o meu sangue numa cruz para que vocês te­
nham o privilégio de me servir e um dia reinar co­
migo na glória". O Senhor teve de pagar um preço
tremendo para vivermos e reinarmos com Ele. Da
mesma forma, Deus tem de dar alguma coisa pre­
ciosa para atender nossas orações. Quando Deus
atende nossas orações, Ele opera em nós e a nosso
favor para que possa operar por nosso intermédio
a realização de Sua vontade.
Muitas vezes Deus se recusa a atender nossas
orações mesquinhas e egoístas, porque elas nos pri­
variam de bênçãos mais profundas e significativas
mais tarde. Além disso, Ele pode não atender nos­
sas orações porque não estamos preparados para a
resposta. Jesus poderia ter dado a Tiago e João os
tronos de honra, mas Ele sabia que não estavam
ainda preparados. Eles tinham de ser provados e
purificados pelo fogo da adversidade.
Ter sucesso quando não estamos preparados
para o sucesso acaba em tragédia. Tenho visto is­
so acontecer freqüentemente no ministério. Uma
pessoa entra para o ministério sem estar preparada
para aquela quantidade de trabalho, para a posi­
ção, o louvor e os aplausos que vai receber e acaba
arruinando a sua própria vida e o seu ministério.
Por quê? Porque teve sucesso antes de estar prepa­
rada.
A beleza da oração é que Deus nos prepara para
o que Ele está preparando para nós. Quando de­
senvolvemos esse relacionamento especial com o
Senhor e buscamos constantemente a Sua vontade
na oração, Ele não atenderá nossas orações até que
tenha nos preparado completamente para receber
a resposta e usá-la.
Muitas vezes essa preparação envolve usar-nos
para atender nossas orações. Por exemplo, se pedi­
mos a Deus que salve um amigo ou uma pessoa
querida, temos de ficar preparados para sermos o
instrumento que Ele vai usar para atrair essa pes­
soa. Freqüentemente a chave para responder nos­
sas orações jaz na nossa prontidão em nos entre­
garmos a Ele a fim de tornar a resposta possível.
Quando Moisés sentiu a necessidade dos israelitas
e orou por sua libertação, o Senhor chamou-o para
libertá-los (veja É x.3 :7 -1 0 ). Da mesma forma,
quando Neemias orou pelas grandes necessidades
de Jerusalém, Deus o enviou àquela cidade para
ajudar seus habitantes (veja Ne. 1:5-11; 2: 11).
Quando Tiago e João pediram o privilégio de
sentar junto ao trono de Jesus, nem sabiam o que
isso lhes custaria. Jesus lhes disse que o caminho
da grandeza é calçado com o serviço. Ele decla­
rou: "Quem quiser tornar-se grande entre vós,
será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o pri­
meiro entre vós, será vosso servo'' (Mt. 2 0 :26,
27). Para ser o primeiro, temos primeiramente de
ser o últim o. Para sermos servidos, temos primei­
ramente de servir. E o lugar para iniciar o nosso
serviço é junto ao trono da graça, onde nos curva­
mos e dizemos: "Não a minha vontade, mas a tua
vontade seja feita".
Se a nossa vida de oração nos tornar egoístas
e exigentes, então alguma coisa está errada com
a nossa vida de oração. Eu acho que Salomé e seus
filhos aprenderam essa oração. Logo após esse in­
cidente, encontramos Salomé e João junto à cruz
(veja Marcos 1 5 :40; João 19:25, 26). Enquanto
estavam ali olhando para Jesus, imagino que se
lembraram do recente pedido de prestígio e poder
e entenderam como haviam errado.
Você já colocou o seu pedido junto à cruz algu­
ma vez e o mediu pelo Calvário? Pode ser uma ex­
periência m uito humilhante. O que antes achava
que era tão importante geralmente se torna insig­
nificante e bobo quando comparado com o que
Cristo já nos deu.
No pedido de Salomé e seus filhos, aprendemos
uma importante verdade acerca da oração: A res­
posta de uma oração não é coisa sem importância
para Deus ou para nós. Se quisermos receber res­
postas às nossas orações, temos de estar prontos a
pagar o preço. Primeiro, devemos estar prontos a
gastar tempo e energia necessários para criar os
devidos relacionamentos com Deus e com os ou­
tros, pois a oração é um relacionamento, não uma
lista de regras e fórmulas. Segundo, devemos es­
tar prontos a receber ordens e não dá-las. Nossos
momentos de oração não devem ser reuniões de
negócios onde fazemos exigências de Deus. Em
vez disso, devemos orar, pedindo ao Senhor que
realize a Sua vontade em nós e, então, aguardar
que Ele nos diga o que fazer. Terceiro, devemos
estar prontos para sermos instrumentos usados
por Deus no cumprimento do nosso pedido, pois
a oração envolve dar além de receber. Quando
aprendemos essas importantes lições, começare­
mos então a experimentar a alegria da oração res­
pondida.
Oração e Sofrim ento
(II Coríntios 12: 1-10)

Em muitos exemplos de orações não atendidas


que examinamos, vimos facilmente por que o Se­
nhor não atendeu. O homem que veio a Jesus quei­
xando-se do seu irmão fez uma oração cobiçosa.
Tiago, João e Salomé fizeram uma oração egoís­
ta. Mas não é fácil entender por que o Senhor ne­
garia um pedido a uma pessoa como o Apóstolo
Paulo quando ele orou pedindo cura. Lemos acer­
ca disso em II Coríntios 12: "Se é necessário que
me glorie, ainda que não convém, passarei às visões
e revelações do Senhor. Conheço um homem em
Cristo que, há catorze anos foi arrebatado até ao
terceiro céu, se no corpo ou fora do corpo, não sei,
Deus o sabe. E sei que o tal homem, se no corpo
ou fora do corpo, não sei, Deus o sabe, foi arreba­
tado ao paraíso e ouviu palavras inefáveis, as quais
não é lícito ao homem referir. De tal cousa me glo­
riarei; não, porém, de mim mesmo, salvo nas mi­
nhas fraquezas. Pois se eu vier a gloriar-me não se­
rei néscio, porque direi a verdade; mas abstenho-
-me para que ninguém se preocupe comigo mais
do que em mim vê ou de mim ouve.
E, para que não ensoberbecesse com a grande­
za das revelações, foi-me posto um espinho na car-
ne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a
fim de que não me exalte. Por causa disto três ve­
zes pedi ao Senhor que o afastasse de mim. Então
ele me disse: A minha graça te basta, porque o po­
der se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade,
pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que so­
bre mim repouse o poder de Cristo. Pelo que sinto
prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades,
nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo.
Porque quando sou fraco, então é que sou fo rte ”
(vs. 1-10).
Os coríntios eram crentes m uito presunçosos e
relapsos. Tinham até começado a atacar Paulo e
sua autoridade apostólica. Por isso achou que de­
via partilhar com eles, até mesmo se vangloriar um
pouco, algumas evidências de sua chamada ao
apostolado. Ele lhes contou o seu passado e as d ifi­
culdades que havia passado na defesa do Evange­
lho. Então começou a partilhar com eles como ha­
via recebido permissão de contemplar a glória do
reino celestial. Foi uma honra tão extraordinária
que o Senhor deu a Paulo uma aflição física para
evitar que se tornasse orgulhoso demais.
Ao partilhar essas coisas com os coríntios, Paulo
usou um pouco de santa ironia. Os coríntios ha­
viam se gloriado em suas bênçãos, por isso Paulo
disse: "Eu poderia me gloriar de ter estado no céu.
Durante 14 anos silenciei acerca disso. Eu poderia
me gloriar dessa revelação especial, mas em vez
disso vou me gloriar de minhas fraquezas” .
Paulo havia orado três vezes para que o seu sofri­
mento físico fosse removido, mas a sua oração não
foi atendida. É de se imaginar que se uma pessoa
merecia ser atendida em suas orações, essa pessoa
era o Apóstolo Paulo, mas sua oração não foi
atendida. E interessante notar que Paulo orou
três vezes, exatamente como o Senhor Jesus no
Getsêmane (veja Mt. 26: 36-46). Exatamente como
o Pai não poupou o Filho do sofrimento que tinha
de suportar, Deus não removeu a aflição de Paulo;
pelo contrário Ele lhe deu a graça necessária para
suportar o sofrimento para a glória de Deus. E
Paulo começou a aprender que Deus havia permi­
tido a sua aflição com um propósito específico.
Vamos examinar mais de perto a experiência de
Paulo nessa oração não atendida e ver que lições
valiosas podemos aprender com ele.

As Aflições Têm um Propósito Divino

A primeira lição que podemos aprender da ex­


periência de Paulo é que as aflições têm um pro­
pósito divino. Contudo, nem todas as aflições vêm
de Deus. Às vezes nós mesmos provocamos nossos
sofrimentos físicos. Não deveriamos ficar surpre­
sos se contraímos uma doença quando falhamos
na prática dos padróes morais divinos. Se não co­
memos os devidos alimentos, podemos desenvol­
ver deficiências que acabam em enfermidades. Às
vezes os hábitos, como fum ar e beber, são preju­
diciais ou perigosos para o nosso organismo. Natu­
ralmente, de um modo geral não paramos para ava­
liar nossos atos até que enfrentamos as consequên­
cias. Então geralmente clamamos a Deus: "Oh!
Deus, nunca mais vou fazer isso". Mas, se nos re­
cuperamos de nossa aflição, geralmente voltamos
a fazer tudo de novo. Que coisa triste quando os
cristãos provocam os seus próprios sofrimentos!
Mas, às vezes, Deus permite aflições em nossas
vidas embora a culpa não seja nossa. No caso de
Paulo Deus permitiu que Satanás fizesse de manei­
ra limitada a Paulo o que fez a Jó. Não sabemos
com certeza qual era a aflição de Paulo. Sabemos
que era um problema físico de algum tipo porque
o chamou de "espinho na carne" (II Co. 12:7).
Satanás não o perturbou mental ou emocionalmen­
te. Ele o afligia fisicamente com um problema que
era uma constante irritação. Paulo se referiu a ele
dizendo que era "mensageiro de Satanás, para me
esbofetear" (v. 7).
Quando Deus permite uma aflição, Ele tem um
propósito divino. Às vezes quer nos corrigir, às
vezes quer nos aperfeiçoar e, às vezes, Ele quer nos
proteger, Hebreus 12 nos ajuda a entender por que
Deus tem de nos corrigir às vezes. Quando peca­
mos, Deus tem de nos disciplinar porque é um Pai
amoroso. Hebreus 12 chama isso de correção: "O
Senhor corrige a quem ama" (v. 6). Todo pai amo­
roso conhece o valor da disciplina na vida da crian­
ça. Para a criança aprender a diferenciar o certo
do errado, tem de ser disciplinada. Embora o cas­
tigo nunca seja agradável, ajuda a criança a se lem­
brar de qual é o comportamento aceitável. Os pais
usam a disciplina para quebrar a vontade egoísta
e rebelde da criança. Embora os pais amorosos
usem a disciplina para a realização de bons propó­
sitos, Deus tem um alvo ainda mais elevado em
mente: aperfeiçoar-nos na santidade. "Pois eles
(os pais físicos) nos corrigiam por pouco tempo,
segundo melhor lhes parecia; Deus, porém, nos dis­
ciplina para aproveitamento, a fim de sermos par­
ticipantes da sua santidade" (v. 10).
Às vezes Deus deseja nos aperfeiçoar. Ele permi­
te que venham aflições, não porque tenhamos fei­
to alguma coisa errada, mas porque Ele deseja que
façamos alguma coisa certa. Ele permite que passe­
mos pela fornalha da aflição para nos refinar. Exa­
tamente como aquecer um metal imperfeito pro­
voca a subida das impurezas à superfície, para que
possam ser retiradas, a provação revela-nos as im ­
perfeições de nossa fé. "N isto exultais, embora,
no presente, por breve tempo, se necessário, sejais
contristados por várias provações, para que o valor
da vossa fé, uma vez confirmado, muito mais pre­
cioso do que o ouro perecível, mesmo apurado
por fogo, redunde em louvor, glória e honra na
revelação de Jesus Cristo" (I Pe. 1:6, 7).
Às vezes as aflições são permitidas para nos pro­
teger. Foi o propósito de Deus no caso de Paulo.
Deus permitiu que Paulo tivesse um espinho na
carne para evitar que se tornasse orgulhoso demais
pelo fato de ter estado no céu e voltado. O orgu­
lho é um pecado terrível. O orgulho é o pecado que
transformou Lúcifer (o arcanjo mais esplêndido)
em Satanás (veja Is. 14:12-17). Sucesso e bênçãos
espirituais podem às vezes constituir um grande
obstáculo. Começamos a receber as bênçãos co­
mo coisa merecida, e ficamos espiritualmente re­
laxados. Podemos até esquecer o que Deus fez
por nós e podemos começar a nos vangloriar do
que temos realizado. O Senhor advertiu os israe­
litas exatamente disso antes deles entrarem na ter­
ra: "Comerás e te fartarás, e louvarás ao Senhor
teu Deus pela boa terra que te deu. Guarda-te não
te esqueças do Senhor teu Deus, não cumprindo
os seus mandamentos, os seus juízos e os seus esta­
tutos, que hoje te ordeno; para não suceder que,
depois de teres comido e estiveres farto, depois de
haveres edifiçado boas casas, e morado nelas; de­
pois de se multiplicarem os teus gados e os teus re­
banhos, e se aumentar a tua prata e o teu ouro, e
ser abundante tudo quanto tens, se eleve o teu co­
ração e te esqueças do Senhor teu Deus, que te
tirou da terra do Egito, da casa da servidão" (Dt.
8: 10-14). Quando o Senhor vê que estamos cres­
cendo espiritualmente e estamos tendo sucesso,
Ele pode perm itir que a aflição apareça em nossas
vidas para evitar que nos tornemos orgulhosos.
As aflições têm um propósito divino, quer seja
para nos corrigir, nos aperfeiçoar ou nos proteger.
Quando estivermos enfrentando aflições e quando
soubermos que não as provocamos, nossa primei­
ra pergunta não deveria ser: "Como é que vou sair
dessa?'' mas, antes: "O que-posso aprender com
isto? O que Deus está tentando fazer?" Se puder­
mos entender os desígnios de Deus, será mais fá­
cil aceitar a aflição e perm itir que ela realize o seu
propósito.

As Bênçãos Vêem Equilibradas Com Responsa­


bilidades

Uma outra lição que podemos aprender com


a experiência de Paulo na oração não atendida é
que as bênçãos vêem equilibradas com responsa­
bilidades. Nosso Pai no céu mantém tudo perfei-
tamente equilibrado. Ele sabe como equilibrar as
estações do ano. Ele sabe como equilibrar o dia e
a noite. Ele sabe como equilibrar as bênçãos com
responsabilidades, e as visões com provações. Foi
o que fez com Paulo. Ele permitiu que Paulo, no
corpo ou fora do corpo, não sabemos, fosse ao céu
onde teve visões gloriosas e ouviu palavras mara­
vilhosas.
Se eu tivesse permissão para receber uma expe­
riência dessas, imagino que convocaria uma en­
trevista com a imprensa depois que voltasse. Tal­
vez escrevesse um livro ou produzisse uma série de
filmes ou cassetes. Talvez iniciasse um seminário
a fim de preparar as pessoas para a glória dos céus!
Mas Paulo não fez nada disso. Ele não falou a nin­
guém acerca da honra que recebeu. Durante 14
anos foi afligido em resultado dessa experiência,
e mesmo assim não contou a ninguém por que so­
fria essa aflição.
Posso imaginar o que os inimigos de Paulo de­
vem ter dito. Quando ministrava aos crentes, seus
inimigos deveriam estar ali. Essa multidão legalis­
ta que se opunha à mensagem da graça de Deus
poderia dizer: "Viram só? Paulo tem um proble­
ma. Se ele fosse um bom cristão, se tivesse bastan­
te fé, não teria esse problema. Gostaria de saber
por que ele tem esse problema". Talvez falassem
a Paulo acerca de sua condição de estar "em pe­
cado". Nesse caso ele poderia ter respondido: "Te­
nho essa aflição porque estou perto do Senhor.
Estive no céu e voltei. Vocês já estiveram tam­
bém?" Mas Paulo manteve a sua boca fechada.
Ele não disse nada a ninguém até que os corín-
tios o forçaram a defender o seu apostolado.
Quando Deus concede a uma pessoa uma gran­
de bênção, geralmente a equilibra com grandes
responsabilidades. Deus sabe que se Ele enche m i­
nhas mãos continuamente com bênçãos, final­
mente vou acabar com a cara no chão! Por isso,
enquanto Ele vai enchendo minhas mãos com
bênçãos, também vai colocando fardos nas minhas
costas. Dessa maneira Ele mantém o meu equilí­
brio para que eu não caia. O Senhor sabe como
manter o fardo exatamente equilibrado. Ele nunca
me dá um fardo grande demais para carregar.
Podemos até ver esse princípio funcionando na
vida do Senhor Jesus quando Ele estava aqui na
terra. Você deve se lembrar que Ele foi batizado
por João Batista. Quando saiu da água, viu o Es­
p írito Santo descendo sobre Ele na forma de uma
pomba (Mt. 3:16) e ouviu o Seu Pai dizer: "Este
é o meu Filho amado, em quem me comprazo"
(v. 17). Que experiência gloriosa deve ter sido!
Mas o versículo seguinte declara: "A seguir, foi
Jesus levado pelo Espírito, ao deserto, para ser
tentado pelo diabo" (4:1). Depois de jejuar 40
dias, Ele foi tentado três vezes por Satanás. Assim
a bênção do Seu batismo foi equilibrada pela ten­
tação de Satanás.
E normal que desejemos apenas bênçãos e v itó ­
rias na vida. Mas não podemos alcançar o topo das
montanhas sem passar pelos vales. E o ar lá em
cima da montanha é m uito rarefeito; não poderia­
mos viver sempre lá em cima. Da mesma forma,
nunca ninguém pode celebrar uma vitória sem lu­
tar e vencer a batalha. Se você quer reivindicar os
despojos da vitória, antes é preciso que se envolva
na batalha. E o entusiasmo da vitória é ainda mais
doce depois que experimentamos as agonias da
derrota.
Natural mente, poucas pessoas são capazes de
sair de uma batalha ilesas. Para experimentar a
vitória, temos de suportar antes a dor e o descon­
forto da batalha. Ninguém gosta da dor e da derro­
ta. Todos nós oramos de vez em quando: "Se­
nhor, cura o meu corpo. Tira essa dor” . Paulo
orou dessa maqeira e não há nada de errado nessa
oração. Mas, se Deus não atende essa oração, não
se desespere pensando que Ele não se importa com
você. Lembre-se de que as aflições têm um propó­
sito divino e que as bênçãos sempre vêem equili­
bradas com fardos. Deus não quer nenhum filho
mimado. Pelo contrário, Ele quer que cresçamos.

As Bênçãos Espirituais Ultrapassam as Bênçãos


Físicas

Uma terceira lição que podemos aprender da


oração de Paulo que não fo i atendida é que as bên­
çãos espirituais são mais importantes que as bên­
çãos físicas. Naturalmente, isso não significa que
Deus não esteja preocupado com o nosso físico.
Ele comprou o nosso corpo, além da nossa alma e
espírito, na cruz. Quando fomos salvos, o Espírito
Santo veio selar a nossa conversão e fez do nosso
corpo o Seu templo (veja I Co. 6: 19,20). Assim,
o Espírito Santo habita dentro de nosso ser físico.
Por isso, os cristãos são instruídos por Deus a
cuidar dos seus corpos: o Seu templo. Contudo,
o Senhor freqüentemente parece estar mais inte­
ressado em nossos corpos do que nós mesmos.
Nós frequentemente nâb cuidamos deles como de­
veriamos. Embora o Senhor queira nos manter
fisicamente seguros e sadios. Ele está muito mais
preocupado com a nossa condição espiritual. As
bênçãos espirituais são mais importantes para Ele
do que as físicas. Deveriamos ter essa mesma ati­
tude. Nossa primeira preocupação deveria ser acer­
ca de nosso bem-estar espiritual, não o nosso con­
forto físico e a nossa felicidade (veja R m .8 :5 -
13).
Naturalmente, Deus pode nos curar, e Ele nos
cura. Eu creio que Ele pode curar qualquer tipo
de doença, exceto a últim a. Quando o Senhor re­
solver nos levar para o lar, não vai atender nossas
orações pedindo cura. Deus tem o poder de curar
qualquer enfermidade; mas Ele não é obrigado a
fazê-lo. Embora tenhamos herdado todas as bên­
çãos através da cruz, isso não significa que vamos
experimentá-las todas aqui na terra. Por exemplo,
sabemos que vamos receber um corpo da ressur­
reição por causa do Calvário, mas não vamos her­
dar esse corpo até a volta do Senhor (veja v. 23).
Muitas vezes o Senhor prefere não responder
às nossas orações de cura ou qualquer outra bên­
ção física porque isso nos privaria de bênçãos es­
pirituais ainda maiores. Podemos ver isso na ex­
periência do Apóstolo Paulo. Deus fez uma coisa
muito melhor para ele do que curar o seu "espi­
nho na carne". O Senhor usou-o para edificar o
seu caráter.
Recentemente recebi uma carta de um querido
ouvinte que me contou os grandes sofrimentos e
provações que tem passado. Ela dizia: "Deus não
me curou, mas fez uma coisa muito melhor. Ele
usou essa aflição para me abençoar espiritualmen­
te".

Além de usar as nossas aflições físicas para nos


abençoar espiritualmente, o Senhor também nos
concede a graça de aceitar e suportar as nossas fra­
quezas, quando somos chamados para isso. Quan­
do Paulo orou três vezes pedindo alívio para o seu
sofrimento, o Senhor lhe disse: "A minha graça te
basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza”
(II Co. 12:9). O Senhor deu a Paulo graça sufi­
ciente para aceitar e entender e até mesmo se glo­
riar na sua fraqueza. De fato, a Sua graça fo i sufi­
ciente para transformar a fraqueza de Paulo em fo r­
ça. Quando o apóstolo entendeu que a sua aflição
permitia que o poder de Cristo operasse através
dele, foi capaz de se alegrar em sua fraqueza por
amor a Jesus em vez de se queixar disso (veja v. 9).

Acho que é m uito mais importante para Deus


converter o nosso sofrimento do que curara nossa
dor. Quando a graça de Deus capacita o crente a
regozijar-se no seu sofrimento em vez de se queixar
dele, o mundo que não é salvo fica grandemente
influenciado por esse poderoso testemunho. Ge­
ralmente o Senhor é mais glorificado quando per­
mite que soframos do que seria se nos curasse.

As Aflições Não São Barreiras Para o Serviço

Como já vimos, as aflições têm um propósito


divino que é m uito mais importante do que as bên­
çãos físicas. Embora o Senhor nos abençoe rica­
mente, Ele equilibra as bênçãos com fardos para
que não caiamos. Mas, quando lutamos com os far­
dos, devemos também nos lembrar que as aflições
não são barreiras para o serviço.
O Apóstolo Paulo sofreu grandemente com o
seu "espinho na carne". Quando não recebeu a
cura, teria sido fácil para ele abandonar o minis­
tério, raciocinando que a sua enfermidade o im ­
pedia de servir a Deus de maneira eficiente. Mas ele
não agiu assim. Quando ficou sabendo que o Se­
nhor não pretendia curá-lo, não continuou pedindo
um alívio, ou simplesmente que lhe ajudasse a su­
portá-lo. Pelo contrário, orou para que pudesse in­
vestir no seu problema e usá-lo para a glória de
Deus.
Vivemos na era da "aspirina". São muitos os
cristãos que usam a dor e o sofrimento como des­
culpa para não servir ao Senhor. Com que freqüên-
cia os membros da igreja faltam à igreja por causa
de alguma pequena dor ou incômodo? Quantas
vezes usamos a dor de cabeça ou algum outro des­
conforto como desculpa para faltar a uma reunião
da diretoria ou ensaio do coro? Em vez de usar o
sofrimento como um bode expiatório, deveriamos
procurar meios de explorá-lo para o serviço de
Deus.
A história está cheia de exemplos daqueles que
serviram a Deus de maneira eficiente apesar de suas
aflições, e por causa delas. Jacó ficou coxo grande
parte de sua vida adulta, sofrimento que resultou
de sua luta com o Senhor (veja Gn. 32: 24-31).
Os muitos espancamentos, apedrejamentos e pri­
sões deixaram Paulo fraco e prejudicaram a sua
saúde, mas ele serviu o Senhor incansavelmente.
David Brainerd, missionário junto aos índios em
1740, ficou tão doente que, às vezes, poderia se di­
zer por onde ele passou pelo sangue que cuspia na
neve. Robert Murray McCheyne, o piedoso prega­
dor presbiteriano, tinha sérios problemas de cora­
ção, mas trabalhou com eficiência. Charles Spur-
geon e G. Campbell Morgan, ambos tinham afli­
ções'. Am y Carmichael, cujos livros têm sido uma
bênção para tantas pessoas, passou a maior parte
do seu ministério na cama. As vidas desses homens
e mulheres, e muitos outros iguais a eles, mostram-
-nos que as aflições não constituem barreiras para
o serviço.
Quando Deus não atende nossas orações e não
nos cura como nós achamos que deveria, é preciso
lembrar que "é melhor orar pela conversão da dor
do que por sua remoção" (P.T. Forsyth). Deve­
mos buscar a vontade de Deus e o Seu propósito
em nossas aflições. Talvez Ele esteja usando nossos
fardos para abençoar-nos espiritualmente ou para
a glória dEle. Seja qual fo r o motivo, não devemos
perm itir que nosso sofrimento impeça o nosso
serviço. Deveriamos descobrir o que o Senhor de­
seja que façamos, e então lutar para isso, lembran­
do que a Sua graça e o Seu poder é suficiente na
nossa fraqueza.
Você fica desanimado quando pede alguma
coisa a Deus e não recebe nada? Você fica tenta­
do a pensar que Deus não se importa com o seu
pedido, ou, pior ainda, que Ele não se importa
com você?
Se você já deixou de receber alguma coisa que
pediu a Deus; você não é o único. Provavelmente
todos os cristãos já se sentiram frustrados na ora­
ção uma vez ou outra. Até mesmo algumas das
personalidades mais conhecidas da Bíblia deixa­
ram de receber o que pediram.
O homem rico no hades queria que alguém fos­
se advertir os seus irmãos para que mudassem de
vida. Tiago e João sonharam em sentar-se â direita
e à esquerda de Jesus no reino. O endemoninhado
gadareno que foi curado pediu para acompanhar
Jesus como seu discípulo. Esses pedidos não foram
atendidos.

Em FAMOSAS ORAÇÕES
NAO ATENDIDAS
o autor examina esses e outros pedidos negados, de­
monstrando que quando Deus diz não ao crente, está
pensando no que é m elhor para o Seu filh o .

rensa üatísta Hetjular


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