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CULTURA E IDENTIDADE DA ORGANIZAÇÃO POLICIAL | CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS

Sumário
1 HISTÓRICO DA INSTITUIÇÃO .......................................................................................................... 1029
Formação Histórico-Legal do Sistema Policial Brasileiro .............................................................. 1029
As Origens da PMPB ...................................................................................................................... 1031
A Guarda Municipal Permanente no Brasil ................................................................................... 1031
A Guarda Municipal Permanente da Paraíba ................................................................................ 1031
A Polícia Militar ............................................................................................................................. 1032
2 COMPETÊNCIAS CONSTITUCIONAIS ............................................................................................... 1032
Introdução ..................................................................................................................................... 1033
Antecedentes ................................................................................................................................ 1033
Segurança pública como dever e direito: o conceito de ordem pública................................... 1035
Órgãos responsáveis pela segurança pública............................................................................ 1035
As principais continuidades........................................................................................................... 1036
Modelo dualizado de polícias .................................................................................................... 1036
Polícias Militares como forças auxiliares do Exército ............................................................... 1037
3 MISSÃO ORGANIZACIONAL E VISÃO DE FUTURO DA ORGANIZAÇÃO .................................... 1039
3.1 Missão Organizacional ...................................................................................................... 1039
3.2 A Visão de Futuro .................................................................................................................... 1041
O SISTEMA DE SEGURANÇA PÚBLICA E DEFESA SOCIAL E ORGANOGRAMA DA CORPORAÇÃO ...... 1042
PRINCÍPIOS E VALORES DA CORPORAÇÃO – CULTURA E CLIMA ORGANIZACIONAL ........................ 1045
A Cultura Organizacional ............................................................................................................... 1045
Introdução ................................................................................................................................. 1045
Cultura Organizacional: uma abordagem antropológica .......................................................... 1046
Socialização Organizacional: conceitos, estratégias e processo ............................................... 1047
A Iniciação na Cultura Militar .................................................................................................... 1048
Princípios e Valores da Corporação .............................................................................................. 1049
5.3.1 O clima organizacional – definições e consequências para as organizações ................ 1051
5.3.2 Tipologia e componentes do clima organizacional ................................................... 1053
5.3.4 Descrição e Análise de Dados .................................................................................... 1054
5.3.5 Conclusões................................................................................................................. 1056
PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVOS DISCIPLINARES (DOCUMENTOS ESPECÍFICOS DA INSTITUIÇÃO)
........................................................................................................................................................... 1056
Sindicância .................................................................................................................................... 1056

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Inquérito Policial Militar (IPM) ...................................................................................................... 1058


Atestado de Origem (AO) .............................................................................................................. 1059
Outros Procedimentos .................................................................................................................. 1060
Formulário de Apuração de Transgressão Disciplinar (FATD) ................................................... 1060
Procedimento Administrativo Disciplinar ................................................................................. 1060
Conselho de Disciplina .............................................................................................................. 1060
Conselho de Justificação ........................................................................................................... 1060
Conselho de Promoção por Ato de Bravura .............................................................................. 1060
Inquérito Técnico (IT) ................................................................................................................ 1061

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CULTURA E IDENTIDADE DA ORGANIZAÇÃO POLICIAL

O material para a referida disciplina foi compilado a partir da legislação vigente em conjunto com
alguns textos e artigos selecionados que alcançam o mérito de entrelaçar os aspectos que são
naturalmente da ciência da administração, relacionados ao clima e à cultura organizacional, e os
aspectos que trazem à tona a realidade policial militar. Os textos não estão reproduzidos na íntegra, a
fim de que não ficasse repetitivo. Dessa forma, foram selecionadas as principais ideias de cada texto. A
fim de que a apostila não se tornasse extensa demais, as referências citadas pelos autores foram
omitidas, mas elas podem ser facilmente consultadas nas respectivas obras.

1 HISTÓRICO DA INSTITUIÇÃO

Formação Histórico-Legal do Sistema Policial Brasileiro

Texto extraído do livro:


SULOCKI, Victoria-Amália de Barros Carvalho G. de. Segurança Pública e Democracia: aspectos
constitucionais das políticas públicas de segurança. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007.

O Brasil de 1500 nasce sob o signo da violência. Violência essa que se incorporará desde então
como elemento constitutivo da realidade social brasileira. Extermínio das nações indígenas, escravidão
dos povos africanos, submissão dos trabalhadores, brasileiros e imigrantes, desclassificação da pessoa
humana, marginalização dos pobres, exclusão social: a violência sempre esteve presente nas relações
sociais, econômicas e políticas de nossa sociedade, e o sistema policial, sendo parte dessa realidade,
foi profundamente marcado por esse aspecto.
A história oficial do Brasil trabalha com uma historiografia fragmentada, como es os diferentes
períodos históricos fossem momentos estanques, sem continuidade. Dessa forma, ficamos impedidos
de perceber as permanências existentes entre os diferentes contextos, não permitindo assim que se
revelem as significativas semelhanças entre estes, o que facilitaria a compreensão da verdadeira
dinâmica da história. E, na história brasileira, o que permanece é a violência, o autoritarismo, o
extermínio, embora estes tenham se revestido das mais diferentes roupagens, embora tenham sido
embalados pelos mais diferentes discursos políticos ou jurídicos (...).
Após a instalação das doze capitanias hereditárias, o poder político e administrativo estava
completamente disperso e nas mãos privadas dos donatários. A segurança era feita por voluntários e
mercenários que só conheciam como lei os limites impostos pelas ordens do patrão, que tinham poder
de vida e de morte em seus domínios. Assim, de 1500 até a chegada da Corte portuguesa em 1808, não
se fala em organização policial pública no Brasil, pois os poderes estavam nas mãos dos donos das
terras (...).
Na verdade, o Brasil era um imenso depósito de homens e de riquezas a serem espremidos até
o último sumo para satisfação da metrópole. O caráter predatório da colonização gerou determinado tipo
de ocupação em que a pulverização geográfica e a fragmentação do poder em grandes, e distantes entre
si, núcleos de propriedades privadas agrárias, foram características essenciais em nossa formação. Na
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dispersão do poder político durante a colônia e na formação de centros efetivos de poder locais, se
encontram os fatores reais do poder, que darão a característica básica da organização política do Brasil
(...): a formação coronelística oligárquica.
A partir de 1626, temos a instituição dos Quadrilheiros, que era um esboço de organização
policial na cidade do Rio de Janeiro. Havia também os capitães do mato e os alcaides e
organizações paramilitares e militares atuando no âmbito de um policiamento civil. Entre 1769 e 1779,
temos a criação da Tropa de 1ª Linha (Exército Regular), a Tropa de 2ª Linha (os Terços Auxiliares de
Milícias), e a Tropa de 3ª Linha (as Ordenanças). Todas tinham funções de prevenção e repressão, mas
agiam indiscriminadamente contra escravos e pobres. Assim, nos séculos XVII e XVIII, diversas formas
de controle social foram estabelecidas, variando conforme o local e o seu desenvolvimento, mas sempre
com a mesma tônica no exercício do poder: a subjugação dos menos favorecidos, especialmente os
escravos.
Com a instalação da Corte Portuguesa em 1808, completa-se o processo de instalação de uma
máquina administrativa no Brasil. Temos então algumas mudanças na organização da Colônia: o impulso
comercial, a criação de instâncias administrativas, de uma ordem jurídica e de órgãos públicos, e a
organização do serviço policial na cidade do Rio de Janeiro. Contudo, o desenvolvimento de cada região
continuava movido pelos interesses (econômicos, geralmente) das elites privadas locais. Dessa maneira,
a violência e a miséria continuavam iguais.
Quanto aos órgãos policiais, em 1808 temos a criação da Intendência Geral da Polícia da Corte
e do Estado do Brasil, que centralizou as atribuições policiais e poderia ser comparada a uma polícia civil
burocrática. Paralelamente, em 1809, é instituída uma organização regular, uniformizada e estruturada
com base na hierarquia e disciplina. Tratava-se da Divisão Militar da Guarda Real de Polícia, de onde se
originou a Polícia Militar dos Estados e cuja atribuição era de patrulhar as ruas, reprimindo os crimes e
zelando pela segurança individual e pela proteção do patrimônio. Realizava o controle social sobre as
camadas mais baixas.
Em 1822, ocorre a Independência do Brasil, fato que não provocou muitas mudanças, pois as
relações coloniais foram mantidas, ou seja, estrutura colonial, dependência econômica e relações
escravagistas. Com a sede do Império instalada no Rio de Janeiro, é normal que o processo de
desenvolvimento da polícia brasileira se inicie nessa cidade, espalhando-se depois para as demais
províncias do Império, as quais tinham cada uma as suas peculiaridades. Após a Proclamação da
República, através da Constituição de 1891, os Estados garantem certa autonomia na organização de
seus aparatos mantenedores da ordem e segurança públicas. Tal disposição possibilitou o surgimento
de um poder, sobretudo militar, enfeixado nas mãos dos governadores dos Estados, transformando as
forças policiais estaduais em forças políticas desses governadores.
Ainda, outro fator importante a ser examinado, pois que deixou profundas marcas em nossas
instituições policiais, é a expansão de um sistema policial independente, praticamente sem um controle
por parte da administração pública, criando assim uma resistência ao princípio de que polícia é um
serviço público, ensejando as constantes situações de abuso de poder. Assim, formou-se uma cultura
policial, em vigor até hoje, forjada no dia-a-dia das relações entre as forças policiais e os indivíduos. E
nesse cotidiano a polícia acabou por elaborar a sua própria lista de “inimigos públicos”, além daqueles
que as elites apontavam, criando assim “códigos” informais de justiça, subsistentes até hoje nos
procedimentos policiais. As chacinas, os grupos de extermínio, a atuação violenta das polícias nas
favelas e no campo, os lemas como “bandido bom é bandido morto”, e outras aberrações do sistema,

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tiveram sua origem nessa cultura violenta policial, existente desde então. Esta última desenvolve-se,
primeiramente, na esteira da sociedade escravocrata, onde determinadas pessoas eram “coisas”,
portanto, passíveis de destruição; e depois, no cotidiano das cidades, onde segmentos inteiros da
população tinham que ser mantidos à distância para melhor “assepsia” dos reluzentes centros urbanos
que se formavam.
Assim, importantes antecedentes histórico-legais da formação do sistema policial no Brasil, sua
atuação e cultura se encontram nesses períodos ora examinados. As deformações que sofremos até
hoje deitam raízes na formação do nosso Estado, na escravidão, nas oligarquias, na atuação sem
compromissos sociais de uma classe dominante que sempre visou apenas o benefício próprio. A inserção
da polícia na sociedade brasileira e no Estado se deu pelo viés da prestação de um serviço mais político
do que público.

As Origens da PMPB

Criada ainda no tempo do Império, a Polícia Militar é, atualmente, o mais antigo órgão público
em atividade no Estado da Paraíba. Para que se possa avaliar a importância dessa instituição no contexto
histórico estadual e nacional, vamos apresentar uma síntese.

A Guarda Municipal Permanente no Brasil

Durante o Governo de D. Pedro I, os Presidentes das Províncias não dispunham de um


organismo capaz de auxiliá-los na manutenção da ordem pública. As organizações militares existentes
nas Províncias, em caráter permanente, eram as Tropas de Linhas, subordinadas diretamente ao Ministro
da Guerra. Em 1830, em consequência da abdicação de D. Pedro I e da menoridade de D. Pedro II, o
Império passou a ser dirigido por Regentes, que, na concepção popular, não gozavam de legitimidade
para governar. Por esse motivo, teve início, em todo país, uma série de movimentos revolucionários,
como a Balaiada, (Maranhão) a Sabinada, (Bahia) e a Guerra dos Farrapos (Rio Grande do Sul), entre
outros. Além de representar perigo para a manutenção do Império e para a integridade territorial
brasileira, esses movimentos também comprometiam a ordem pública, o que ocorria com mais
intensidade no Rio do Janeiro, Capital do Império.
Por conta dessa situação, o Ministro da Justiça, Padre Antônio Diogo Feijó, propôs à Regência
que fosse criado, no Rio de Janeiro, um Corpo de Guardas Municipais Permanentes, destinado a manter
a ordem pública naquela Província. A proposta de Feijó foi acolhida, e no dia 10 de outubro de 1831,
através de Decreto Regencial, foi criado o Corpo de Guardas Municipais Permanentes do Rio de Janeiro.
No mesmo documento, os respectivos Presidentes das demais Províncias foram autorizados a também
criarem suas Guardas.

A Guarda Municipal Permanente da Paraíba

A Paraíba não teve condições ou interesse de criar sua Guarda de imediato. No ano seguinte,
assumiu a Presidência da Paraíba o Padre Galdino da Costa Vilar, que sentindo a premente necessidade
de manutenção da ordem pública, de imediato tratou de criar um órgão com esse fim. Como nessa época
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as Províncias não tinham autonomia, por não ter em Assembleia Legislativa, a criação da Guarda
Municipal foi discutida no Conselho Provincial, que tinha suas decisões formalizadas através da
Consignação de Resoluções nos livros de atas. Dessa forma, o Corpo de Guardas Municipais
Permanentes da Paraíba foi criado no dia 03 de fevereiro de 1832.
Sob o Comando de Francisco Xavier de Albuquerque, que foi nomeado Capitão pelo Presidente
da Província, e com um efetivo de 50 homens, sendo 15 a Cavalo e 35 a pé, a nova organização foi
efetivamente posta em funcionamento no dia 23 de outubro de 1832. O primeiro Quartel ocupado foi o
prédio onde antes funcionava um convento e hoje está instalado o Palácio do Arcebispado, na Praça
Dom Adauto, no centro da capital paraibana. Suas primeiras missões foram a Guarda da Cadeia e a
execução de Rondas no centro da cidade.

A Polícia Militar

Em 1834, com o advento de uma emenda à Constituição do Império, as Províncias ganharam


autonomia, sendo criado o poder Legislativo Provincial. Na primeira reunião da Assembleia Legislativa
da Província do Cel PM Elísio Sobreira, patrono da PMPB Paraíba, no dia 2 de junho de 1835, através
da Lei nº 09, o Corpo de Guardas Municipais Permanentes recebeu a denominação de Força Policial.
Essa mesma lei ampliava o efetivo da Corporação e destinava fração de tropa para compor os primeiros
Destacamentos do interior da Província, que foram Areia e Pombal. Assim denominada, a Corporação
permaneceu até 1892, quando passou a denominar-se de Corpo Policial. Ao longo da sua história a
Corporação foi denominada ainda de Corpo de Segurança, Batalhão de Segurança, Batalhão Policial,
Regimento Policial, Força Policial, por três vezes, e Força Pública duas vezes.
Finalmente, em 1947, por força de dispositivo Constitucional, a Corporação recebeu a
denominação de Polícia Militar da Paraíba.
A Polícia Militar da Paraíba participou de importantes acontecimentos da história do país e no
campo de ordem pública a Corporação mantém desde 1835, Destacamentos Policiais em todo território
paraibano. Hoje, mesmo incompreendida, criticada, e carente de recursos, a Polícia Militar procura,
através das diversas modalidades de policiamento que executa, e por meio de várias outras formas de
prestação de serviço de alcance social, continuar sua gloriosa marcha histórica, na permanente busca
de bem servir a sociedade Esses esforços são permanentemente reciclados pela adoção de uma política
de renovação dos recursos materiais, modernização de métodos de atuação e de valorização dos
recursos humanos materializados por uma formação humanista e profissional contextualizada com a
ordem social vigente.

2 COMPETÊNCIAS CONSTITUCIONAIS

Texto extraído da publicação:


FONTOURA, Natália de Oliveira. RIVERO, Patrícia Silveira. RODRIGUES, Rute Imanishi. Segurança
Pública na Constituição Federal de 1988: continuidades e perspectivas. In: BRASIL. Secretaria de
Assuntos Estratégicos da Presidência da República. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Políticas

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Sociais: acompanhamento e análise n° 17. Vinte anos da Constituição Federal. 2. ed. v. 3. Brasília,
2009.

Introdução

A segurança pública no Brasil é um tema fundamental, a partir do qual se pode estruturar um


diagnóstico a respeito de alguns aspectos políticos, institucionais e sociais centrais. Partindo deste tema
pode-se abordar a posição do Estado como aparelho burocrático que detém o monopólio da violência
legítima e é delegado pela sociedade a fazer uso desta violência. A legitimidade supõe a crença por parte
da sociedade nesta legitimidade (WEBER, 2004). Nesta perspectiva, as instituições que compõem o
sistema de segurança pública teriam a função de assegurar que a coerção com legitimidade seja
cumprida. Do ponto de vista das garantias civis e sociais, o Estado deve preservar o direito dos indivíduos
no seu caráter de cidadãos, velando pelo cumprimento dos direitos humanos fundamentais, entre os
quais o direito à vida, à igualdade, à segurança, à liberdade e o acesso à justiça (MONDAINI, 2006).
Nesse sentido, chama atenção o fato de que o Brasil apresente até hoje altas taxas de
mortalidade por homicídio, principalmente, cometidos com armas de fogo, mesmo se tratando de um
país que não está em guerra, nem tem passado por insurreições recentes (FERNANDES, 2005;
WAISELFISZ, 2008). Junto aos dados de mortes violentas, fundamentalmente nas grandes metrópoles,
estudos constatam a presença de bandos armados que ocupam territórios e o desenvolvimento de uma
sociabilidade que submete populações pobres inteiras à violência (SOARES, 2008a; SILVA, 2008;
BEATO et al., 2001). A situação agrava-se quando é constatado que o controle ilegal das áreas urbanas
e parte destes crimes são cometidos pelos próprios agentes responsáveis por exercer o poder legítimo
de uso da violência (SILVA, 2004; MESQUITA, 2008).
Soma-se a esse panorama a sensação de insegurança e medo que prevalece entre a população,
constatada por diversas pesquisas de vitimização (ILANUD, 2002; ISP, 2008). Como consequência deste
sentimento, estudos de atitude realizados no Brasil constatam que tanto entre as elites como entre o
povo, a falta de segurança é identificada como um dos maiores problemas do país (SCALON, 2007).
Dessa forma, a legitimidade do Estado é colocada em questão, seja pela ineficácia em manter o controle
exclusivo do uso da coerção, por sua incapacidade para garantir os direitos fundamentais dos cidadãos
sob sua jurisdição, seja porque às vezes é o próprio Estado que está envolvido em atos ilegais e que
geram violência. Nesta última forma, a mais perversa de todas, evidencia-se a dificuldade institucional
para impulsionar os princípios democráticos e a defesa dos direitos e garantias dos cidadãos.
O Estado democrático vem tomando diversas medidas na área da segurança pública,
fundamentalmente a partir da CF/88 e ao longo dos sucessivos governos. Porém, como apresentaremos
neste estudo, as leis e políticas resultam insuficientes quando não equivocadas, na medida em que ainda
se mantêm intactas regras e práticas institucionais que respondem à lógica do período ditatorial, ou,
ainda, que não conseguem superar o que se chama de autoritarismo socialmente implantado, isto é, as
práticas autoritárias presentes tanto na sociedade quanto no Estado, tanto na macropolítica quanto no
“microdespotismo da vida diária” (PINHEIRO, 1997).

Antecedentes

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Em 1969, ocorre a fusão entre as guardas civis e as forças públicas dos Estados, por meio do
Decreto-Lei nº 667, modificado pelo Decreto-Lei no 1.072/1969, que extingue as guardas civis e institui
as Polícias Militares (PMs) estaduais com competência exclusiva pelo policiamento ostensivo. Antes
dele, existia a PM como uma polícia aquartelada, utilizada para conter greves de operários,
manifestações públicas etc. Esta PM estava isolada da população e era chamada a agir em questões de
ordem interna. A partir do Decreto-Lei, ela passa a incumbir-se do policiamento ostensivo e torna-se
proibida a criação de qualquer outra polícia fardada pelos estados.
As PMs, como as conhecemos hoje, foram instituídas pelo regime autoritário em substituição às
forças públicas nos enfrentamentos e às guardas civis, no policiamento preventivo e passaram a se
subordinar diretamente ao Exército. Uma polícia que havia sido criada e treinada para garantir a ordem
interna, dentro da lógica do combate ao inimigo, mostrou-se adequada para garantir o combate aos
guerrilheiros e opositores do regime.
De fato, em 1946, na Constituição, a função da Polícia Militar aparecia como “segurança interna
e manutenção da ordem”; em 1967, esta ordem é invertida “manutenção da ordem e segurança interna”;
e, em 1969, a função das PMs passa a ser a manutenção da ordem pública, o que é preservado em
1988.
Outra característica importante do modelo policial adotado em nosso país, e a ser examinado a
seguir, é a subordinação das polícias às Forças Armadas. Desde a Constituição de 1934, prevê-se que
as Polícias Militares sejam consideradas reserva do Exército. Estas corporações, no entanto, não tinham
as atribuições que o regime militar lhes determinou a partir de 1969.2 O mesmo Decreto-Lei no 667/1969
que reorganiza as PMs e os Corpos de Bombeiros (CBs) define-os como forças auxiliares, reserva do
Exército e remodela a Inspetoria-Geral das Polícias Militares (IGPM), que passa a integrar o Estado-
Maior do Exército (EME). Este Decreto e outros que o seguiram – Decreto-Lei no 1.072/1969 e Decreto
no 88.777/1983 – regulamentam o papel de controle e de coordenação do Exército sobre as Polícias
Militares. Este papel abrange organização, legislação, efetivos, disciplina, adestramento e material bélico
das corporações estaduais, todos assuntos gerenciados pela IGPM.

2.3 Segurança pública na Constituição de 1988

A Constituição Federal de 1988, pela primeira vez em nosso direito constitucional, dedica um
capítulo à segurança pública. Trata-se do terceiro capítulo do título V – Da Defesa do Estado e das
Instituições Democráticas. Os capítulos que o antecedem são os que tratam do estado de defesa, do
estado de sítio e o referente às Forças Armadas. Para além da discussão acerca da necessidade de se
constitucionalizar o tema, caracteriza-se como positivo o fato de que o capítulo se insere na defesa do
Estado e das instituições democráticas. Por outro lado, chama atenção a impropriedade de se colocar
sob um mesmo título a segurança pública e as questões de segurança nacional, o que significaria uma
reprodução da confusão entre uma e outra presente ao longo do regime militar e mesmo antes dele. Isto
contribuiria para visão inadequada de segurança pública não como serviço público voltado para o
cidadão, mas como matéria voltada a garantir a segurança do Estado.
Devido a isso, argumenta-se que a Constituição Federal de 1988 teria reproduzido elementos
importantes da doutrina de segurança nacional, presente em nosso ordenamento jurídico desde a década
de 1930. A CF põe lado a lado segurança da população e segurança externa, ambiguidade que se deve

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ao próprio processo de conciliação de interesses no decorrer dos debates da Assembleia Nacional


Constituinte.

Segurança pública como dever e direito: o conceito de ordem pública

A Constituição Federal de 1988, além de estabelecer o direito à segurança como um dos direitos
individuais fundamentais, definido no caput do Art. 5º, e também como direito social, elencado no caput
do Art. 6º, traz um capítulo intitulado Da segurança pública, composto pelo Art. 144, o qual prevê que: “A
segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação
da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio”.
Ao atribuir ao Estado o dever pela segurança pública, reconhece-o como serviço público a ser
garantido pela máquina estatal, direito inalienável de todos os cidadãos. Já a definição da segurança
também como responsabilidade de todos pode ser interpretada à luz da necessidade de que haja
participação social nas políticas públicas relacionadas a esse campo. Adicionalmente, é possível
compreender que a segurança pública não pode ser vista apenas como atribuição do Estado, uma vez
que a sociedade tem um papel importante não somente na participação e controle das políticas, como
também na socialização dos indivíduos, na perpetuação dos mecanismos informais de controle social e
de autocontrole, a partir da perspectiva de que não é somente o controle pelo Estado que garante a
segurança de todos.
Outro conceito importante que chama atenção no exame dos preceitos constitucionais sobre
segurança pública é o de ordem pública. Essencial para compreender a função do Estado no âmbito da
segurança pública e a missão das polícias, este é o que se costuma chamar de conceito jurídico
indeterminado, ou seja, o texto constitucional não o define para garantir a discricionariedade da
administração pública. Com isso, segundo alguns autores, dá margem a interpretações ambíguas,
podendo legitimar práticas autoritárias de manutenção da ordem, pacificação social a qualquer custo e
sobretudo preservação da ordem de uns em relação à desordem de outros – neste sentido, cabe lembrar
o fato de que no Brasil, historicamente, as polícias têm sido usadas para garantir o status quo e proteger
uma classe social em detrimento às outras. Mas a ordem pública também pode ser entendida como a
ordem do Estado democrático. Neste sentido, preservar a ordem pública é preservar a ordem
estabelecida pela Constituição.
Os autores que trabalham com o tema relacionam o conceito de ordem pública com segurança,
tranquilidade e salubridade, além de noções de ordem moral, política e econômica. Mas o principal
elemento da ordem pública é a segurança pública, sendo que esta última deve ser exercida em função
da primeira.

Órgãos responsáveis pela segurança pública

O Art. 144 lista, ainda, os órgãos responsáveis pela segurança pública: “I – Polícia Federal; II –
Polícia Rodoviária Federal (PRF); III – Polícia Ferroviária Federal; IV – Polícias Civis; V – Polícias
Militares e Corpos de Bombeiros Militares”.
Questiona-se a validade de um texto constitucional chegar ao detalhe de enumerar os órgãos
federais e estaduais que devem se encarregar da segurança pública, sendo que, a maior prova desta
inadequação seria o fato de que a polícia ferroviária federal, na prática, inexiste até hoje. A enumeração

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é, além de tudo, taxativa, o que significa que não podem ser criados outros órgãos policiais incumbidos
da segurança pública. Define-se, portanto, um desenho institucional único para as organizações policiais
estaduais. A PF e as PMs já haviam sido objeto de dispositivos em constituições anteriores. Já a PC e a
PRF aparecem pela primeira vez em uma constituição, sendo que a criação da PRF foi objeto de
emendas às propostas parciais de dispositivos constitucionais.
Chama atenção, ainda, que o capítulo dedicado à segurança pública trate tão somente de órgãos
de natureza policialesca e não incorpore o papel do Ministério Público (MP), do Judiciário ou dos agentes
penitenciários neste campo de atuação do Estado. Isto corrobora uma visão de segurança como
repressão policial, que pode ser avaliada como limitadora e produtora de políticas pouco eficientes,
porque restritas. E talvez se explique em alguma medida pela própria inserção do tema na organização
do texto constitucional.

As principais continuidades

Entre as continuidades na letra da lei, destacam-se o modelo dualizado de polícias – PC


encarregada da apuração das infrações e PM encarregada do policiamento ostensivo; as Polícias
Militares como forças auxiliares do Exército; e a permanência da justiça militar – que complementa o
segundo ponto. Uma quarta continuidade diz respeito aos direitos do apenado, já previstos na Lei de
Execução Penal, de 1984, e confirmados pela CF, de maneira positiva, mas que não foram levados a
efeito até os dias de hoje.

Modelo dualizado de polícias

Conforme descrito anteriormente, o modelo dualizado de polícias não é fruto do regime militar.
Existe no Brasil desde o século XIX e apresenta-se de formas bastante diferenciadas de estado para
outro. Isto traz consequências para o conflito de competências e a eficácia do sistema de segurança
pública como um todo. O ano de 1969 foi determinante, contudo, na ampliação e fortalecimento do papel
das Polícias Militares e, portanto, na militarização do sistema. A EC nº 1/1969, pela primeira vez, institui
como papel das PMs a manutenção da ordem pública – até então seu mandato limitava-se a questões
de segurança interna – e o Decreto-Lei no 1.072/1969 coroa este princípio, ao determinar que as Polícias
Militares têm exclusividade no policiamento ostensivo fardado.
A CF/88 não rompe este modelo; na verdade, o institucionaliza, ao definir claramente as
atribuições das Polícias Civis – pela primeira vez matéria constitucional – e das Polícias Militares. Assim,
a corporação que temos hoje nas nossas ruas com função de garantir a segurança de todos os brasileiros
surgiu como tal no auge do período ditatorial. Se na Constituição Federal de 1988 a função das Polícias
Militares é o policiamento ostensivo e a manutenção da ordem pública, cabe às Polícias Civis as funções
de polícia judiciária e a apuração de infrações penais.
Com isso, diferentemente da maioria dos países, onde as polícias são de ciclo completo – isto
é, a mesma corporação que investiga realiza o policiamento nas ruas – no Brasil, como aponta Mariano,
temos duas “meias” polícias, o que acarreta “conflitos de competência, distanciamento das direções das
instituições policiais, duplicidade de equipamentos e de gerenciamento das operações, que, somados,
constituem uma das principais causas estruturais da ineficiência do setor” (MARIANO, 2004, p. 21).

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Hoje, a PM é a que tem o contato com a população no momento do crime ou da tentativa de


crime. É ela que, muitas vezes, dá a notícia do crime para a PC, que, por sua vez, irá investigá-lo. Mas
esta divisão de tarefas não tem se mostrado eficiente. Em geral, a PM não respeita a cena do crime, a
PC não investe em investigação e os inquéritos policiais tornam-se pouco qualificados, o que faz com
que o percentual de crimes não esclarecidos seja inaceitavelmente alto no Brasil. Apesar da
interdependência – o trabalho de uma depende do trabalho da outra – não há integração e, pelo contrário,
há disputas – por espaço, por salários, por poder. Tanto que a Polícia Militar acaba criando mecanismos
de investigação – como o chamado PM2, ou 2a seção do Comando – e as Polícias Civis “não raramente
criam unidades de policiamento ostensivo” (MARIANO, 2004, p. 52). Se a atividade de policiamento
ostensivo é muitas vezes marcada pela violência e o despreparo, as atividades ligadas à investigação
criminal não são poupadas de críticas pelos estudiosos do tema.
Para repensar o modelo dualizado de polícias, as opções apresentadas são, entre outras: I)
desconstitucionalizar a questão – cada estado poderia implantar o melhor arranjo, sendo possível haver
polícias de ciclo completo civis e militares; II) regulamentar o § 7o do Art. 144, para que se promova
melhor divisão de tarefas, se maximize a cooperação e se minimizem as disputas;23 III) desmilitarizar as
polícias e criar polícias de ciclo completo civis; IV) criar polícias de ciclo completo militares; ou, ainda, V)
implantar polícias organizadas por circunscrição geográfica ou por tipo de crime.
Adicionalmente, discute-se ampliação do papel das guardas municipais para que passem a
desempenhar funções de proteção do cidadão e de policiamento ostensivo, nos moldes das polícias de
proximidade.
Não há, portanto, nenhum tipo de consenso entre estudiosos da área, que são unânimes
somente em avaliar que da forma como atualmente está organizado o sistema de segurança pública no
país, não há eficiência, aumenta-se a impunidade, a violência policial se perpetua, a população não
confia nas instituições policiais, as investigações criminais são falhas, o policiamento das ruas é ineficaz,
além de outros problemas, relacionados à corrupção, ao excesso de letalidade no trabalho policial e à
forma como os policiais interagem com os cidadãos comuns, problemas estes que afetam a população
como um todo – e a população pobre em particular – mas que também trazem repercussões sobre os
policiais e suas condições de trabalho, riscos no exercício da profissão, entre outras.

Polícias Militares como forças auxiliares do Exército

Desde 1934, a subordinação das Polícias Militares ao Exército é matéria constitucional. Antes
do período de exceção iniciado em 1964, contudo, estas eram polícias aquarteladas e voltadas para
questões de segurança interna. A manutenção de sua vinculação às Forças Armadas, aliada ao seu
papel central nas ações de segurança pública, de atribuição dos governos de estado, ambos princípios
consagrados pela CF/88, geram situação ambígua e que traz questionamentos relevantes. Por isto, os
autores são unânimes ao afirmar que a Constituição de 1988 deu continuidade ao modelo instituído pelo
regime autoritário e que traz sérias consequências para as políticas de segurança pública até a
atualidade.
A centralização e a militarização da segurança pública ocorridas durante o regime militar
normalmente são associadas a três fatores: I) a preocupação da União com alguns estados e suas PMs,
que haviam participado ativamente do golpe de 1964 e estariam desgastadas; II) o aumento da
criminalidade e a necessidade de atender as demandas populares por mais polícia nas ruas; e III) a

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dificuldade das Polícias Civis de lidarem com as tarefas de controle impostas pela consolidação do
regime autoritário e das antigas polícias estaduais de darem conta do enfrentamento da luta armada
desenvolvida por alguns setores da oposição (PINHEIRO, 1982, p. 65).
A vinculação das Polícias Militares estaduais como forças auxiliares do Exército é tema dos mais
controversos e criticados por todos que estudam a Constituição Federal sob a ótica dos direitos humanos
e/ou da relação entre militares e civis na história de nosso país. A confusão entre polícia para defender
o cidadão e polícia para defender o Estado permanece – ou seja, teríamos continuidade da lógica da
doutrina de segurança nacional, como colocado anteriormente.
De qualquer forma, a configuração perpetuada pela Constituição Federal suscita duas questões
fundamentais: uma relacionada à própria militarização da atividade policial e a outra ao duplo comando
vivenciado pelas PMs brasileiras. Segundo diferentes especialistas, a atividade policial, em uma
sociedade democrática, deveria ter caráter civil. Não somente porque não se deve imiscuir defesa do
Estado e proteção do cidadão, mas devido à própria lógica militar, inadequada para atividades
relacionadas à prevenção da violência e da criminalidade.
O policial que age na rua deve ter consciência de sua função preventiva e deve ter iniciativa, e
não somente dever disciplina e obediência a um superior. A sua atuação não deve estar fundamentada
em princípios bélicos, ligados à lógica de guerra e de combate ao inimigo, mas na proteção aos cidadãos
de maneira democrática e equitativa. A atividade de policiamento seria, portanto, eminentemente civil,
porque a polícia tem que prestar serviço público para o cidadão.
Um grave problema decorrente da subordinação dos policiais militares ao Exército é o duplo
comando. As Polícias Militares respondem ao Estado-Maior do Exército, mas também, aos governadores
estaduais. O governador nomeia os comandantes e confere patentes, a fazenda estadual remunera os
integrantes da corporação, mas eles podem ser chamados a qualquer tempo para compor a força do
Exército, que controla uma série de elementos relativos às corporações.
É uma ambiguidade que gera muitas dificuldades, em relação ao duplo comando, mas também
a uma crise de identidade por parte dos policiais. Como coloca Silva:

Forças ambíguas, as Polícias Militares continuam com dificuldade de se identificar


plenamente com a função policial, ao mesmo tempo em que já não se identificam com
a função militar do Exército. Sendo as duas coisas sem discernir claramente este fato,
não conseguem ser nem uma coisa nem outra (2008a, p. 410).

Um dos institutos criados durante o período de arbítrio e mantidos na Constituição de 1988 é a


prerrogativa por parte dos policiais militares de serem julgados pelas justiças militares estaduais. Esta
prerrogativa havia sido concedida em 1977, no chamado “pacote de abril” (EC nº 7), que incluiu na
Constituição a possibilidade de criação de justiça militar estadual “com competência para processar e
julgar, nos crimes militares definidos em lei, os integrantes das Polícias Militares”. Devido a esta inclusão,
o STF, já em 1978, reviu a Súmula nº 297, de 1963, que não considerava oficiais e praças das milícias
dos estados no exercício da função policial como militares para efeitos penais, “sendo competente a
justiça comum para julgar os crimes cometidos por ou contra eles”.
A CF/88 manteve dispositivo semelhante ao inserido pelo pacote de abril, autorizando a criação
de justiça militar estadual e prevendo tribunais de justiça militar nos estados em que o efetivo militar seja
superior a 20 mil integrantes (Art. 125, § 3º). Este dispositivo, aliado ao § 4º do Art. 144 – “às Polícias
Civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as

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funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares” – desenham o foro
privilegiado para militares estaduais e federais. A Constituição Cidadã, portanto, manteve
regulamentações de 1970, ano de promulgação do Código de Processo Penal Militar (CPPM), e de 1978,
quando o STF decidiu que o policial militar, se comete crime no exercício do policiamento, deve ser
julgado pela justiça especial.
A maior crítica a este desenho é que se trata de justiça rigorosa com transgressões disciplinares,
mas, em geral, complacente com crimes cometidos contra o cidadão no exercício do policiamento.
Atualmente, quando um policial comete um crime, é aberto inquérito policial militar (IPM),
presidido por um colega, e o julgamento se dá nos chamados conselhos de sentença, compostos por
quatro juízes militares e um juiz togado, sendo que, para ser juiz militar basta ter patente ou posto superior
ao do policial que está sendo julgado. Esta é a receita para grande impunidade decorrente de crimes
cometidos por policiais militares, o que perpetua as práticas de violência, por um lado, e a falta de
confiança da população nos agentes de segurança pública, por outro lado.
A perpetuação de institutos herdados do período militar, portanto, gera situações que ferem
frontalmente importantes preceitos constitucionais relacionados ao Estado democrático de direito. Neste
sentido, a violência policial mostra-se atualmente como um dos grandes problemas relacionados ao
modelo adotado pelo Estado brasileiro para a segurança pública.
Todos os ingredientes apresentados – a crise de identidade dos PMs, a lógica do combate em
detrimento da lógica do serviço público, a dupla vinculação das PMs e dualização da atividade policial –
fazem com que tenhamos a polícia violenta que temos, que trabalha na lógica da guerra contra o crime
– o inimigo externo é substituído pelo inimigo interno, agora não mais o guerrilheiro, mas o traficante, o
bandido, o morador de favela.

3 MISSÃO ORGANIZACIONAL E VISÃO DE FUTURO DA


ORGANIZAÇÃO

Texto extraído do curso:


BRASIL. Ministério da Justiça. Secretaria Nacional de Segurança Pública. Curso Planejamento
Estratégico. Organizadores: LIMA, Washington Rodrigues (CEL BMDF). MENEZES, Jodir Cezar (TC
BMDF). Brasília, 2009.

3.1 Missão Organizacional

Segundo Teles (1998), as organizações existem para cumprir determinadas missões, que são
seus objetivos maiores e imutáveis no tempo. O processo de gestão visa a levar a organização de uma
situação atual a uma situação futura desejada ou objetivada.
Toda a organização tem um propósito singular que justifica sua existência, a qual deve estar
refletida na declaração de sua missão. Segundo Drucker (1994), “uma empresa não se define pelo seu
nome, estatuto ou produto que faz; ela se define pela sua missão”.

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Os autores descrevem a essência da importância da missão, como composição do que


chamaram de “ideologia central” das organizações: essa “finalidade básica” deve estar permeada do
poder de “dar significado ao trabalho”, inspirar e motivar as pessoas.
Esse poder aglutinador da missão e dos valores é a força-motriz da organização: por meio da
percepção deles, ainda que inconscientemente, seus membros se sentem fazendo parte de um
movimento que lhes dá plenitude, que lhes reveste de sentido social. Isso transcende à simples tentativa
de descrição por palavras, é algo intangível, abstrato e sinérgico, que reflete as necessidades mais
básicas do ser humano e, por isso mesmo, tem a capacidade de emocionar, de mover uma energia
empática que realiza a adesão à sua causa.
A construção de empresas visionárias requer 1% de visão e 99% de adesão. pode-se afirmar
que a energia empática – adesão – conecta as pessoas às organizações: pessoas motivadas têm a
missão pessoal alinhada à missão organizacional. Tal é a importância da missão bem entendida por
todos os seus membros.

Para o EXÉRCITO BRASILEIRO, a missão é:


- Preparar a Força Terrestre para defender a Pátria, garantir os poderes constitucionais, a lei e
a ordem;
- Participar de operações internacionais;
- Cumprir atribuições subsidiárias;
- Apoiar a política externa do país.

Para a POLÍCIA MILITAR DA PARAÍBA:


Não há especificação exata para a missão da PMPB, mas pode-se inferir alguma denominação
a partir das legislações vigentes que tratam da estrutura da PMPB. Nesse sentido:
 Lei n° 3.907/1977 – Organização Básica da Polícia Militar do Estado da Paraíba – artigo 1°:
A Polícia Militar do Estado da Paraíba, considerada Força auxiliar, reserva do Exército,
organizada com base na hierarquia e na disciplina, em conformidade com as disposições do
Decreto-lei nº. 667, de 02 de julho de 1969, destina se à manutenção da ordem pública na área
do Estado.
 Lei n° 3.909/1977 – Estatuto dos Policiais Militares do Estado da Paraíba – artigo 2°: A
Polícia Militar, subordinada, diretamente, ao Governador do Estado, e, operacionalmente, ao
Secretário de Segurança Pública, é uma Instituição destinada à manutenção da ardem pública
no Estado, sendo considerada força auxiliar do Exército.
 Constituição Federal de 1988 – artigo 144 § 5º: Às polícias militares cabem a polícia ostensiva
e a preservação da ordem pública;
 Lei Complementar 87/2008 – artigo 2°: A Polícia Militar do Estado da Paraíba é parte do
Sistema de Defesa Social do Estado, atuando de forma integrada com os órgãos do respectivo
Sistema, em parceria com a comunidade e as instituições públicas e privadas, de maneira a
garantir a eficiência de suas atividades, cabendo-lhe, com exclusividade, a polícia ostensiva, a
preservação da ordem pública e a incolumidade das pessoas e do patrimônio.

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É importante lembrar que a Missão compõe a ideologia central da corporação, pois reflete a sua
finalidade básica e seus valores e filosofia, o que tem o poder de manter a unidade e a inspiração entre
seus membros, dando-lhes significância social.
Assim, nossa Corporação se define pela sua Missão. O poder empático da Missão
organizacional, principalmente no que tange às Corporações componentes do setor de Segurança
Pública, revela sua legitimidade, pois é reflexo das necessidades mais básicas da Sociedade: busca de
proteção ante as ameaças ambientais.

3.2 A Visão de Futuro

A visão de futuro, que exprime uma conquista estratégica de grande valor para a organização.
Esse é o estabelecimento de onde e de que forma a organização gostaria de estar em um futuro de longo
prazo, apoiando-se no ambiente e principalmente na clientela. Pode-se perceber que a visão de futuro
aparece como um dos precursores da elaboração dos objetivos estratégicos.
A visão de futuro não pode ser confundida com missão: enquanto esta representa a finalidade
básica da organização, que não pode jamais terminar – como “uma estrela no horizonte cuja busca é
eterna”; aquela se refere à “meta ambiciosa claramente articulada”.
A visão de futuro deve ser capaz de motivar e causar o nível de adesão ao planejamento
estratégico que a organização pretende que seus membros tenham. A questão aqui é fazer com que o
“organismo” se torne confiante e engajado, não só com sua própria sobrevivência, mas com sua
evolução, com seu posicionamento adequado no futuro.
A dimensão cultural da organização deve ser entendida com a maior clareza possível e isso é
determinante para uma adequada visão de futuro. Isso porque a qualidade do desafio tem que ser bem
ajustada à qualidade do engajamento organizacional, a partir da alta administração.
A capacidade específica da organização não pode ser nem sobrepujada, nem negligenciada, de
forma que o cenário futuro deve ser desafiador, mas não impossível de ser alcançado, ou mesmo muito
fácil de ser alcançado. A medida certa do desafio deve ser função direta da relação entre valores
organizacionais e valores socioculturais de seus membros. Quanto mais alinhados, maior a coerência e
a coesão organizacional e mais significado o indivíduo percebe de seu esforço e sua vida profissional.
É comum que o processo de formulação se desenvolva por meio de dinâmicas que podem
envolver diferentes níveis organizacionais e funcionais. Durante as dinâmicas, busca-se estimular a
reflexão de forma orientada a identificar o que será chamado aqui de “senso 3D”, baseado em Hamel e
Prahalad (1994):
1) O senso de direção a ser tomada
Qualidade da posição no ambiente institucional e no ambiente competitivo e qualidade da
situação interna que a organização quer construir nos próximos 10 anos, pelo menos –
aonde se quer chegar.
2) O senso da descoberta a ser realizada
Exploração de territórios novos do ponto de vista competitivo: o desafio motivador de
produzir inovação – o que terá que ser feito para chegar lá.
3) O senso de destino.

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Meta com apelo emocional, que se perceba como válida, que dê significado ao caminho
que se deverá percorrer – porque você fará o que quer que tenha que ser feito para chegar
lá.

Salientando que todos os envolvidos no processo de formulação da visão de futuro devem


possuir adequado nível de conhecimento sobre a organização no presente. Conhecendo sobre a
organização, deve-se entender qual é o core business da organização, isto é, o principal negócio de
uma organização. Numa corporação da área de Segurança Pública, o entendimento do core business é
facilitado justamente pela existência de um marco legal que praticamente o define. No entanto, sabe-se
que há muitas atividades que consomem recursos e que têm pouco ou nada referentes ao “negócio
central” da organização.
Por fim, é possível observar ainda que, ao se alcançar a Visão de Futuro, deve-se substituí-la
por outra: o ambiente estimulador e motivacional deve continuar a mover a energia intrínseca da
organização, caso contrário, tornar-se-á obsoleta em breve.
Após o exposto, cabe a reflexão: qual a visão de futuro da sua organização?

O SISTEMA DE SEGURANÇA PÚBLICA E DEFESA SOCIAL E


ORGANOGRAMA DA CORPORAÇÃO

4.1 Lei nº 8.186, de 16 de março de 2007 - Define a Estrutura Organizacional da Administração


Direta do Poder Executivo Estadual e dá outras providências.

CAPÍTULO I
Dos Órgãos da Administração Direta do Poder Executivo
Art. 1º A Administração Direta do Poder Executivo tem a Estrutura Organizacional composta pelos
seguintes Órgãos:
(...)
IV – Núcleo Finalístico:
(...)
c) Secretaria de Estado da Segurança e da Defesa Social – SEDS;
(...)
o) Polícia Militar do Estado da Paraíba – PMPB.

Art. 2º Integram a Secretaria de Estado do Governo:


I – a Casa Civil do Governador, dirigida pelo Secretário Executivo Chefe da Casa Civil do Governador;
II – a Casa Militar do Governador, dirigida pelo Secretário Executivo Chefe da Casa Militar do
Governador, cargo de natureza policial-militar, a ser ocupado, exclusivamente, por policial militar em
serviço ativo.
Parágrafo único. Considera-se organização policial-militar a Casa Militar do Governador, sendo os
cargos a ela integrados ocupados exclusivamente por policial militar em serviço ativo, para fins do
disposto na Lei nº 3.909, de 14 de julho de 1977, e suas alterações.
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CAPÍTULO II
Da Finalidade, Competência e Classificação dos Órgãos Integrantes do Poder Executivo
Art. 3º Os Órgãos integrantes da Estrutura Organizacional da Administração Direta do Poder Executivo
têm as seguintes finalidades e competências:

XI – SECRETARIA DE ESTADO DA SEGURANÇA E DA DEFESA SOCIAL


a) coordenar, planejar e gerenciar o Sistema Estadual de Segurança e de Defesa Social, efetivando o
Plano Estadual de Segurança;
b) manter a ordem pública e a segurança em todo o território paraibano;
c) definir políticas e diretrizes relativas à manutenção da ordem e da segurança do Estado, em função
da prevenção e repressão ao crime;
d) planejar e gerenciar as atividades de policiamento civil e militar em todo o Estado, inclusive em ações
integradas entre os órgãos policiais estaduais e também com órgãos públicos de outros Estados e da
União;
e) coordenar o Serviço de Inteligência no âmbito estadual;
f) gerenciar a aplicação dos recursos do Fundo Estadual de Segurança Pública – FESP e demais Fundos
vinculados a atividades fins;
g) gerenciar a política de desenvolvimento, formação e gestão de pessoas, no âmbito da SEDS;
h) integrar e manter o relacionamento administrativo com órgãos federais, estaduais e municipais e com
a sociedade em geral, na prestação de serviços de cidadania e defesa social;
i) apoiar ações de prevenção e de atendimento em caso de calamidades;
j) coordenar as atividades do Sistema Estadual de Trânsito e executar a fiscalização de trânsito, quando
e conforme convênio firmado com agente de Entidade ou Órgão executivo de trânsito ou executivo
rodoviário, concomitantemente com os demais agentes credenciados;
k) integrar as atividades do Corpo de Bombeiros Militar com o Sistema Estadual de Segurança e de
Defesa Social;
l) fiscalizar o cumprimento das normas emanadas do Sistema Estadual de Segurança e de Defesa Social
por parte das Polícias Civil e Militar.
(...)
XXIII – POLÍCIA MILITAR
a) dirigir suas ações para efetivo cumprimento das normas, emanadas da Secretaria de Estado da
Segurança e da Defesa Social, no que diz respeito ao planejamento, à execução e ao controle das
atividades inerentes à segurança pública e à defesa social;
b) exercer as funções de Polícia Ostensiva e de preservação da Ordem Pública, assegurando a guarda
e a vigilância do patrimônio público e privado, das vias de circulação, e a garantia das instituições da
sociedade civil, dentre outras previstas em lei;
c) atuar de maneira preventiva, como força de dissuasão, em locais e áreas onde se presuma ser possível
qualquer perturbação da ordem pública;
d) atuar de maneira repressiva, em caso de perturbação da ordem pública, precedendo o emprego das
Forças Armadas;
e) atender à convocação do Governo Federal, observando o princípio da autonomia do Estado, em
conformidade com o que dispuser a legislação específica.

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(...)
Art. 13. A Polícia Militar do Estado da Paraíba, submetida ao comando supremo do Chefe do Poder
Executivo do Estado, ficará, funcional e operacionalmente, vinculada à orientação, ao planejamento e ao
controle da Secretaria de Estado da Segurança e da Defesa Social – SEDS.

4.2 Lei Complementar n° 87, de 02 de dezembro de 2008 – Organização Estrutural e Funcional


da Polícia Militar do Estado da Paraíba.

Art. 5° A Polícia Militar será estruturada em órgãos de direção estratégica, de direção setorial, de
execução e vinculados.

Art. 6° Os órgãos de direção estratégica realizam o comando e a administração da corporação,


executando as seguintes atribuições:
I – planejar institucionalmente a organização da Corporação;
II – acionar, por meio de diretrizes e ordens, os órgãos de direção setorial e os de execução, para suprir
as necessidades de pessoal e de material no cumprimento de suas missões;
III – coordenar, controlar e fiscalizar a atuação dos órgãos de direção setorial e de execução.

Art. 9° Os órgãos de direção estratégica compreendem:


I – Comando Geral;
II – Subcomando Geral;
III – Estado-Maior Estratégico;
IV – Corregedoria;
V – Ouvidoria;
VI – Comandos Regionais;
VII – Comissões;
VIII – Procuradoria Jurídica;
IX – Assessorias.

Art. 7° Os órgãos de direção setorial atendem as necessidades de pessoal e logística de toda a


Corporação, realizam a atividade-meio e atuam em cumprimento às diretrizes e ordens dos órgãos de
direção estratégica.

Art. 28 Os órgãos de direção setorial compreendem:


I – Diretorias; (de Finanças – DF; de Gestão de Pessoas – DGP; de Apoio Logístico – DAL; de saúde e
assistência social – DSAS)
II – Centro de Educação;

Art. 35 Os órgãos de execução da Polícia Militar constituem as Organizações Policiais Militares que
executam a atividade-fim da Corporação, com atribuição de realizar os seguintes tipos de policiamento
ou missões policiais militares:
I – Policiamento ostensivo geral em seus processos a pé, montado, motorizado, aéreo, em embarcação
e em bicicleta, nas zonas urbanas e rurais;

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II – Policiamento de guarda, que tem a seu cargo a segurança externa dos estabelecimentos prisionais,
das sedes dos poderes estaduais e, em particular, de estabelecimentos públicos;
III – Policiamento de trânsito urbano e/ou rodoviário;
IV – Policiamento ambiental;
V – Policiamentos especiais de choque e/ou operações táticas;
VI – Policiamento suplementado pelo uso de cães;
VII – Policiamento velado.

Obs.: Destaque-se que os órgãos de execução são divididos em Unidades Operacionais e


Subunidades Operacionais, onde os efetivos serão distribuídos em Companhias e Pelotões e estes ainda
podendo ser divididos em Grupos PM (Destacamentos).

Art. 46 Os Órgãos Vinculados são entes públicos que possuem, em suas estruturas orgânicas, a previsão
legal de emprego de policias militares, observados os limites quantitativos e a respectiva competência.
§ 1° São Órgãos Vinculados:
I – Secretaria de Estado da Segurança e da Defesa Social;
II – Secretaria de Estado da Cidadania e da Administração Penitenciária;
III – Casa Militar do Governador, vinculada à Secretaria de Estado do Governo;
IV – Tribunal de Justiça;
V – Assembleia Legislativa;
VI – Procuradoria Geral de Justiça;
VII – Tribunal de Contas do Estado;
VIII – Justiça Militar Estadual;
IX – Secretaria Nacional de Segurança Pública;
X – Prefeitura Municipal de João Pessoa.

PRINCÍPIOS E VALORES DA CORPORAÇÃO – CULTURA E CLIMA


ORGANIZACIONAL

A Cultura Organizacional

Texto extraído do artigo:


BRITO, Mozar José de. PEREIRA, Valéria da Glória. Socialização Organizacional: a iniciação na cultura
militar. In: Revista de Administração Pública. v. 30, n. 4. Rio de Janeiro. 1996. p. 138-165.

Introdução

O objetivo deste artigo é estudar um programa de treinamento, como parte do processo de


socialização de recrutas, privilegiando os ritos organizacionais e as estratégias de socialização na cultura
organizacional de uma corporação militar. A análise limita-se a um curso específico de treinamento,

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particularizando os aspectos subjetivos da experiência vivenciada pelos recrutas iniciantes na carreira


militar.

Cultura Organizacional: uma abordagem antropológica

Este artigo parte do pressuposto de que as organizações são uma cultura. A noção de cultura
organizacional resgata a ideia de identidade, de distinção, enfim, daqueles caracteres que particularizam
e distinguem uma organização da outra. Nesse contexto, a dimensão objetiva da cultura organizacional
refere-se aos artefatos visíveis criados pela organização, enquanto a dimensão subjetiva envolve os
significados que os indivíduos atribuem à realidade.
A abordagem da cultura corporativa interpreta a cultura como um fenômeno integrado,
consistente e uniforme. Nessa abordagem, a cultura organizacional é um conjunto de significados
coletivamente aceitos por determinado grupo, ou melhor, é um conjunto ideológico de símbolos,
discursos, crenças, rituais e mitos (Pettigrew, 1979). Assim, é importante verificar como os valores são
expressos nos símbolos, nas histórias, nos mitos e nos rituais organizacionais.
Os símbolos são as maiores manifestações da cultura, pois são referências por si sós. Os
símbolos são objetos, atos, eventos, qualidades ou relações, e formações linguísticas que apresentam
diversos significados (Beyer & Trice, 1984) e que evocam emoções e impelem pessoas a agirem. A
construção simbólica serve como meio para a formação da identidade organizacional (Tomei &
Braunstein, 1993).
As histórias são narrativas que organizam as crenças sobre a organização e seu sistema de
valores, funcionando como um guia, que ajuda os membros de uma organização a compreenderem como
as "coisas são feitas". As histórias são filtradas por uma rede cultural que continua a reforçar e lembrar
aos membros da organização "o porquê fazemos as coisas assim".
Para Beyer e Trice história é "uma narração que traz uma mistura de eventos verdadeiros e
mensagens de ficção", enquanto "o mito seria uma narração dramática de eventos imaginados,
geralmente utilizada para explicar as origens ou as transformações de alguma coisa". O mito também
resgata e toma viva a imagem de heróis e de indivíduos carismáticos, e memoriza as façanhas da
organização e dos atores produtores das ideologias organizacionais.
Para Beyer e Trice (1984), o rito pode ser entendido como "um conjunto de atividades
relativamente elaboradas, dramáticas e planejadas, que combinam várias formas de expressões
culturais, as quais têm consequências práticas expressivas" e o ritual como "um conjunto de técnicas e
comportamentos padronizados, que lida com ansiedades, mas raramente produz consequências práticas
intencionais de qualquer importância". Esses autores sistematizam seis tipos de ritos organizacionais
que se destinam a manter a unidade e a identidade organizacional:
1) Os ritos de passagem - facilitam a transição de pessoas para estados e papeis, trazem como
consequências latentes a minimização das resistências à incorporação dos novos papéis
sociais e o restabelecimento do equilíbrio das relações sociais em processo. Possui três
etapas: a fase de separação ou preliminar representa o afastamento do indivíduo de seu
grupo de semelhantes; A fase de margem ou liminar é aquela onde ocorrem as
transformações propriamente ditas; e a fase pós-liminar ou de agregação ao novo mundo,
que é frequentemente acompanhada de festividades, cerimônias que acompanham o
"nascimento" do novo membro da comunidade.

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2) Os ritos de degradação ou exclusão - possibilitam a dissolução de identidades sociais e a


redução de seu poder, especialmente quando os indivíduos transgridem as normas de
conduta da organização.
3) Os ritos de reforço - celebram publicamente os resultados positivos e reforçam as
identidades sociais e seu poder.
4) Os ritos de renovação - têm como propósito renovar as estruturas sociais e aperfeiçoar sua
dinâmica. Eles trazem, como consequências latentes, a reafirmação da busca de soluções
para problemas.
5) Os ritos de mediação de conflitos - procuram reequilibrar as relações sociais, através de
estratégias de mediação de conflitos.
6) Os ritos de integração - estimulam e possibilitam o reviver dos sentimentos comuns e a
manutenção do envolvimento das pessoas com o sistema social.

Socialização Organizacional: conceitos, estratégias e processo

O processo de socialização se realiza através da aprendizagem, que, por sua vez, determina a
estruturação e organização, no nível inconsciente, das posições, restrições e proibições dos mais
diferentes desejos e necessidades dos indivíduos. Em outros termos, é através do processo de
aprendizagem que os indivíduos internalizam uma série de valores e normas que são socialmente
estabelecidos e tomados como verdade.

Para Beger e Beger (1977), o processo de socialização vivido pelos indivíduos ocorre em duas
fases: a socialização primária é a fase do processo pela qual o indivíduo aprende a ser membro de uma
sociedade; a socialização secundária é aquela que compreende "todos os processos posteriores" por
meio dos quais o indivíduo é introduzido num mundo social específico. a socialização secundária
(aprendizado do "outro generalizado") representa a internalização de "submundos" institucionais.
Nesse sentido, a socialização organizacional trata da interação entre o indivíduo e uma
organização, sendo um processo dinâmico e bidirecional, que depende de diversos fatores, incluindo a
forma como os indivíduos são aculturados ou socializados nos valores e normas da organização, as
relações de poder e as disposições institucionais empregadas pela organização. Para Van Maanen
(1975), a socialização organizacional é o processo pelo qual o indivíduo aprende valores, normas de
comportamentos esperados, que permitem a ele participar como membro de uma organização, sendo
um processo que ocorre durante toda a carreira do indivíduo dentro da organização.
Normalmente, esse processo envolve o conhecimento dos objetivos básicos da organização, as
estratégias para seu alcance, as responsabilidades básicas do papel, os padrões de comportamento
necessários para o efetivo desempenho no papel e uma série de regras ou princípios inerentes à
manutenção da identidade e integridade da organização (Schein, 1988). Do ponto de vista
organizacional, o processo de socialização gera uniformidade comportamental e aderência aos valores,
desenvolvendo, assim, uma base para a cooperação e estabilidade do sistema.
Portanto, é através das estratégias de socialização que os valores e comportamentos são
transmitidos, internalizados ou introjetados pelos indivíduos. Assim, a cultura organizacional é transmitida
aos novos integrantes a partir dos rituais de socialização organizacional, que podem assumir um papel
de duplo sentido. À medida que esse processo integra alguns indivíduos à organização, exclui aqueles
que não se ajustaram à cultura organizacional em questão. Entretanto, a introjeção de novos valores não
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é um processo simples que assume uma natureza passiva, ou seja, não ocorre como uma lei absoluta.
Esse processo não é uma via de mão única. A organização exerce um forte domínio, mas o indivíduo
carrega consigo valores e crenças. Logo, por mais forte que seja a identidade de valores, a
compatibilidade não é total. Para mediar os possíveis conflitos de identidade, ocorre um processo de
negociação de significados, de experiências e de interpretações.

A Iniciação na Cultura Militar

O processo de socialização na cultura militar tem um caráter bastante distinto e peculiar, que se
propõe a '"transformar um civil em um militar". Essa transição, que se processa de forma abrupta, súbita,
é uma espécie de choque cultural, um rito de passagem, que se inicia com a seleção.
A iniciação na cultura militar, realizada através do curso de formação de soldados, é de natureza
formal, com duração fixa, onde os recrutas são processados de forma coletiva e por meio de estratégias
de despojamento. A formalização do processo é expressa nas regras básicas disciplinares da
organização militar, nos procedimentos burocráticos, nas anotações sobre o desempenho e
transgressões às normas. Todas as atividades exercidas pelos recrutas fora e dentro dos limites da
companhia-escola são reguladas pelas normas disciplinares. Portanto, são normas que controlam o
comportamento fora e dentro da organização. Durante o período de formação os recrutas cumprem
horários rígidos e cursam disciplinas, que, além do aspecto técnico necessário ao exercício da profissão,
introduzem os valores e a ética militar e possibilitam "docilizar" os corpos, tornando-os úteis (Foucault,
1989). É através das disciplinas e dos rituais socializadores que os recrutas aprendem as normas e os
valores apropriados à cultura militar.
A hierarquia militar é retratada nas divisas de autoridade, que os recrutas devem aprender a
reconhecer, diante das quais deve ter uma postura específica (continência). São símbolos que retratam
o poder formal dos oficiais e dos praças. Ao reconhecerem essas expressões objetivas da cultura militar,
os recrutas assumem a postura ritualizada da continência. O não cumprimento do ritual significa
transgressão às regras disciplinares, portanto, fato passível de punição.
O processo se realiza de forma coletiva e tem uma função pedagógica, na medida em que se
propõe a testar a tolerância dos recrutas e a ensiná-los o autocontrole e, principalmente, a obediência à
hierarquia militar. É importante lembrar que essa obediência não é "cega"; existem recrutas que oferecem
resistências à disciplina. São indivíduos que não introjetaram os valores militares. No entanto, entram
em cena os ritos de regulação de conflitos, como a prisão temporária, sessões terapêuticas
(acompanhamentos psicológicos) e até mesmo a exclusão da corporação. O ritual de exclusão reforça,
simbolicamente, a importância do atendimento à hierarquia e do cumprimento das regras (Beyer & Trice,
1984).
Nesse contexto, os recrutas são processados conjuntamente e de forma idêntica, através das
experiências coletivas de treinamentos militares, testes de vivacidade, marchas coletivas, treinamentos
físicos, revistas aos alojamentos, refeições coletivas e prestação de serviços militares à comunidade
(Van Maanen, 1989). Desse processamento resulta um soldado ideal do ponto de vista da organização
militar.
Além disso, as experiências coletivas vivenciadas pelos recrutas possibilitam o desenvolvimento
de um sentimento coletivo, que, na linguagem militar, é o espírito de corpo. Desse modo, o
companheirismo é a solução coletiva encontrada para resistir à pressão, possibilitando o

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desenvolvimento do espírito de corpo e até mesmo o mito de que a Polícia Militar é uma família. Essa
estratégia coletiva do processo de socialização, na realidade, é marcada pelo sofrimento físico e mental
e pela interdependência das pessoas que compartilham as mesmas experiências. Ao mesmo tempo em
que o espírito de corpo é estimulado, o curso de formação de soldado transmite valores meritocráticos e
estimula uma competição tida pelos recrutas como sadia.
A iniciação na cultura militar rompe com os antigos valores e sensibilidades civis dos recrutas,
"domesticando-os" e mudando as suas auto concepções. Em síntese, durante o treinamento, ocorre de
forma simultânea a perda de parte da identidade civil e a aquisição da identidade militar. Dessa maneira,
observa-se que o curso de formação de soldado é um treinamento que possui uma estrutura similar à
dos ritos de passagem. Ou melhor, ele apresenta de forma definidas as fases de separação ou preliminar,
de margem ou liminar e a de agregação ou pós-liminar.
Em síntese, o curso de formação de soldados tem a sua função pedagógica e envolve várias
estratégias ritualizadas, assemelhando-se, pelo menos em termos de estrutura, a um rito de passagem.
Do ponto de vista simbólico, o processo representa para a corporação e seus membros a morte do civil
e o nascimento do militar.

Princípios e Valores da Corporação

LC 87/2008: Art. 3° São princípios basilares a serem observados pela Polícia Militar do Estado
da Paraíba:
I – a hierarquia;
II – a disciplina;
III – a legalidade;
IV – a impessoalidade;
V – a moralidade;
VI – a publicidade;
VII – a eficiência;
VIII – a promoção, o respeito e a garantia à dignidade e aos direitos humanos;
IX – o profissionalismo;
X – a probidade;
XI – a ética.

Lei n° 3.909/77 - Estatuto dos Policiais Militares:

TÍTULO II – Das Obrigações e dos Deveres Policiais Militares

CAPÍTULO I

SEÇÃO I
DO VALOR POLICIAL MILITAR
Art. 26 São manifestações essenciais do valor policial militar:

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I O sentimento de servir à comunidade estadual, traduzido pela vontade inabalável de cumprir o dever
policial militar e pelo integral devotamento à manutenção da ardem pública, mesmo com o risco da própria
vida;
II - A fé na elevada missão da Policia Militar;
III O civismo e o culto das tradições históricas;
IV O espírito de corpo, orgulho do policial militar pela organização policial militar onde serve;
V O amor à profissão policial militar e o entusiasmo com que é exercida; e
VI – O aprimoramento técnico profissional.

SEÇÃO II
DA ÉTICA POLICIAL MILITAR
Art. 27 O sentimento do dever, o pundonor policial e o decoro da classe impõem, a cada um dos
integrantes da Polícia Militar, conduta moral e profissional irrepreensíveis com a observância dos
seguintes preceitos da ética policial militar:
I - Amar a verdade e a responsabilidade como fundamento da dignidade pessoal;
II - Em Exercer com autoridade, eficiência e probidade as funções que lhe couberem em decorrência do
cargo;
III - Respeitar a dignidade da pessoa humana;
IV - Cumprir e fazer cumprir as leis, os regulamentos, as instruções e as ordens das autoridades
competentes;
V - Ser justo e imparcial no julgamento dos atos e na apreciação do mérito dos subordinados;
VI - Zelar pelo preparo próprio, moral, intelectual, físico e também pelos dos subordinados, tendo em
vista o cumprimento da missão comum;
VII - Empregar todas as suas energias em beneficia do serviço;
VIII - Praticar a camaradagem e desenvolver permanentemente o espírito de cooperação;
IX - Ser discreto em suas atitudes, maneiras e em sua linguagem escrita e falada;
X - Abster se de tratar, fora do âmbito apropriado, de matéria sigilosa relativa à Segurança Nacional;
XI - Acatar as autoridades civis;
XII - Cumprir seus deveres de cidadão;
XIII - Proceder de maneira ilibada na vida pública e na particular;
XIV - Observar as normas de boa educação;
XV - Garantir assistência moral e material a seu lar e conduzir-se como chefe de família modelar;
XVI – Conduzir-se mesmo fora do serviço ou na inatividade, de modo que não sejam prejudicados os
princípios da disciplina, do respeito e do decoro policial militar;
XVII – Abster-se de fazer uso do posto ou da graduação para obter facilidades pessoais de qualquer
natureza ou para encaminhar negócios particulares ou de terceiros;
XVIII – Abster-se o policial militar na inatividade do uso das designações hierárquicas quando:
a) em atividades político partidárias
b) em atividades comerciais;
c) em atividades industriais;
d) para discutir ou provocar discussões pela imprensa a respeito de assuntos políticos ou policiais
militares, excetuando-se os de natureza exclusivamente técnica, se devidamente autorizado; e

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XIX - Zelar pelo bom nome da Polícia Militar e de cada um dos seus integrantes, obedecendo e fazendo
obedecer aos preceitos da ética policial militar.
Art. 28 Ao policial militar da ativa, ressalvado o disposto nos parágrafos 2º e 3º, é vedado comerciar ou
tomar parte na administração ou gerência de sociedade ou dela ser sócio ou participar, exceto como
acionista ou quotista, em sociedade anônima ou por quotas de responsabilidade limitada.

CAPÍTULO II
DOS DEVERES POLICIAIS MILITARES
Art. 30 Os deveres policiais militares emanam de vínculos reacionais que ligam o policial militar à
comunidade estadual e a sua segurança, e compreendem, essencialmente:
I - A dedicação integral ao serviço policial militar e a fidelidade à instituição a que pertence, mesmo com
sacrifício da própria vida;
II - O culto aos Símbolos Nacionais;
III - A probidade e a lealdade em todas as circunstâncias;
IV - A disciplina e o respeito à hierarquia;
V - O rigoroso cumprimento das obrigações e ordens;
VI - A obrigação de tratar a subordinado dignamente e com urbanidade.

4.3 O Clima Organizacional

Texto extraído do artigo:


SANTOS JUNIOR, Aldo Antônio dos. SOUZA, Renato José de. CABRAL, Aline Bub. Clima
Organizacional em Organizações Policiais Militares. In: Revista Brasileira de Gestão e
Desenvolvimento Regional. v. 5. n. 1. Taubaté, São Paulo. 2009. p. 26-70.

O presente estudo tem como objetivo levantar o clima organizacional e sua influência na
atividade policial militar da 1ª Região Policial Militar da polícia Militar do Estado de Santa Catarina. A
amostra perfaz os policiais militares que exercem suas atividades operacionais nas
diversas organizações policiais, durante o mês de julho, em dias alternados, do ano de 2008. Os dados
foram coletados por intermédio de uma entrevista focus group, contendo vinte questões referenciando
as dimensões constantes do clima organizacional e sendo utilizada em uma amostra de setenta policiais
militares de seis unidades operacionais diferentes. Logo a pesquisa é do tipo exploratória ou estudo de
caso, empregando uma perspectiva de análise de dados qualitativa e qualitativa, utilizou-se um modelo
de enfoque de clima organizacional integrado. Inferiu-se que, os policiais militares se sentem tensionados
com relação às diversas variáveis do clima organizacional.

O presente trabalho tem como questão de pesquisa a seguinte: O constructo clima


organizacional influencia na atividade operacional?

5.3.1 O clima organizacional – definições e consequências para as organizações

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Sublinha Vasconcelos (2005), acerca de uma política de recursos humanos efetiva, que, as
organizações somente obterão o sucesso se atraírem e reterem os talentosos, proporcionando-lhes uma
ambiência organizacional favorável à geração de sinergias positivas, ocasionando na motivação e
engajamento para a criatividade.
As dificuldades na interação entre colegas, administradores e subordinados, a comunicação
deficiente, as atitudes negativistas e a instabilidade emocional são os principais propulsores de um clima
organizacional tenso, nefasto para a promoção das metas organizacionais, impedindo de cumprir suas
finalidades, quais sejam produtos ou serviços com maior qualidade, além de deixar a finalidade social
prejudicada.
Para confirmar a assertiva, o estudo de clima organizacional compõe uma das pesquisas mais
usuais em administração de recursos humanos.
Segundo Bergamini & Coda (1997), em administração, clima organizacional é o indicador do
nível de satisfação dos membros de uma empresa, em relação à realidade aparente da organização,
v.g., política de recursos humanos, modelo de gestão, missão da empresa, processos de comunicação,
valoração profissional e a identificação com
a empresa.
Abbey & Dickson (1983) observam que clima organizacional se refere à qualidade de um
ambiente interno de uma organização, que orienta o comportamento e a conduta dos seus
integrantes, servindo como estribo para interpretar a situação, agindo, também, como uma fonte de
tensão que direciona as atividades. Simetricamente, Isaksen et al (2000), o relacionam à frequência de
um padrão de comportamento, atitude e sentimento, que caracteriza a interação social na organização.
Para Bergamini & Coda (1997), clima organizacional nada mais é do que o indicador do nível de
satisfação-insatisfação experimentado pelos empregados no trabalho. Assim, o clima organizacional
reflete a percepção que as pessoas têm da organização em que trabalham, podendo sofrer influências
externas e internas à organização, de forma peremptória
em razão de novos eventos oriundos de variáveis intra e interorganizacionais.
Inúmeras são as definições abordadas por cientistas sobre o tema, mas não é um labor fácil
descrever e compreender o comportamento humano em razão de sua complexidade.
Alguns pesquisadores asseveram que o clima organizacional reflete o universo da empresa, dos
tipos de pessoas que a organização atrai, de seus processos de trabalho e arranjo físico, das
modalidades de comunicação e do exercício da autoridade dentro do sistema.
Afirma Vasconcelos (2005), acerca do clima organizacional, que, uma atmosfera soturna, eivada
de desrespeito, promessas não cumpridas, ausência de transparência, autocracia, injustiças dentre
outras, orientam as pessoas para a desmotivação e redução do
desempenho organizacional.
Detectar e aferir quais os motivos de satisfação e os eventos que causam tensão nos
colaboradores, com fito de construir um ambiente de trabalho que reforce as relações dos colaboradores
com a empresa, com seus colegas, com suas equipes e com seus diretores, procurando sempre a
aderência, motivação, comprometimento e integração de seu pessoal deve ser a preocupação das
organizações na procura de um clima favorável ao grupo, colaboradores e organização.
De acordo com Chiavenato (2000), a variável motivação no foro individual orienta o clima
organizacional no âmbito de organização.

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Boldrini (2008) estabelece as variáveis que compõem o clima organizacional: (1) Atividade
realizada pelos setores e participação individual nos resultados. (2) Política salarial e de benefícios. (3)
Integração entre departamentos. (4) Composição do estilo de funcionamento - times, grupos ou equipes.
(5) Supervisão / Liderança / Estilo Gerencial. (6) Integração entre os Departamentos da Empresa. (7)
Comunicação e Relacionamento Interpessoal. (8) Estabilidade no emprego. (9) Processo decisório. (10)
Segurança do Trabalho. (11) Objetivos Organizacionais. (12) Orientação da Empresa para Resultados.
(13) Vitalidade Organizacional. (14) Ética e Responsabilidade Social. (15) Qualidade e Satisfação dos
clientes internos e externos. (16) Envolvimento e comprometimento em todos os níveis. (17)
Planejamento estratégico.
Propugna Robbins (2002), com relação aos aspectos individuais como fontes potenciais de
estresse, têm-se a relação do indivíduo com a família e a ponte entre o trabalho e as relações familiares.
As pesquisas demonstram, consistentemente, que as pessoas prezam muito por seus relacionamentos
familiares e pessoais e que, dependendo do tipo de relacionamento e da ligação com os aspectos do
trabalho, estes podem causar níveis elevados de estresse ocupacional.
Para Stoner & Freeman (1999), de uma maneira geral, os fatores ambientais, organizacionais e
individuais agem como fontes potenciais de estresse no trabalho.
Sublinha Vasconcelos (2005) que o componente relacionamento interno é igualmente
indispensável para que uma organização trabalhe sob um padrão de eficiência minimamente aceitável.
A satisfação com o trabalho pode ser definida como a atitude geral de uma pessoa em relação
ao trabalho que executa, destacando-se que o trabalho envolve várias dimensões que não apenas
aquelas correlacionadas à tarefa realizada.
Assegura Hodson (1991) que o clima organizacional também envolve as relações sociais, as
regras e políticas organizacionais. A avaliação que um colaborador faz de sua satisfação ou insatisfação
com o trabalho é resultado de um complexo multifatorial.
Outra consequência de um clima tenso é a resistência à mudança, conforme estabelece Pinheiro
(2002). Na prática, a resistência à mudança é um dos eventos mais presentes nas organizações. Quanto
mais radical a proposta de inovação, maiores serão as probabilidades de resistência para a aceitação
das propostas.
Por último, encerrando este bloco, para Fischer; Veloso & Nakata (2006), o chamado ambiente
organizacional pode se encerrar como um eficaz patrimônio da organização, todavia pode se consagrar
num fator altamente restritivo para o sucesso organizacional, variando do quanto suas características
estão simétricas com o negócio e com a estratégia da organização.
Concluindo, podemos dizer que clima organizacional positivo resulta em maior motivação e
resultados organizacionais.

5.3.2 Tipologia e componentes do clima organizacional

Asseguram Cançado; Genelhu; Moraes (2007), que a evolução das teorias administrativas
permitiu compreender a relação entre homem e organização ao longo do tempo e a influência do contexto
sobre esse relacionamento.
Postula Chiavenato (1993), o clima organizacional é o ambiente interno existente entre os
membros da organização e está intimamente relacionado ao grau de motivação dos funcionários, o qual

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depende de seis dimensões: (1) Estrutura da organização. (2) Responsabilidade. (3) Riscos. (4)
Recompensas. (5) Calor e apoio. (6) Conflito.
Resende & Takeshima (2000) levam em conta, nas pesquisas de clima organizacional, os
seguintes fatores: as condições de trabalho, os relacionamentos, a comunicação, o treinamento, salários
e benefícios, a liderança, a gestão, a organização, a imagem da empresa, a qualidade, a produtividade,
a segurança e o meio ambiente, os princípios e valores da organização.
Puente-Palacios (2002, p. 98), acerca da diferença de clima para cultura organizacional, afirma
que “A cultura da organização é um conjunto de normas, crenças, valores e mitos mais ou menos estável
que define os padrões de comportamento esperado dos
membros que a ela pertencem e são utilizados como modelos de comparação e julgamento”.
A cultura organizacional norteia o comportamento e o desempenho dos seus membros; já o clima
organizacional reflete o compartilhamento das representações das pessoas, o agir da
organização, construídas com base na cultura e, mais peremptória, em relação à cultura organizacional.
Delimita Salles (2001), que a sobrecarga de trabalho é também uma forma de pressão, que age
negativamente sobre a criatividade e que se caracteriza pelo excesso de tarefas em um curto espaço de
tempo. Diversos estudos apresentam que a sobrecarga de trabalho pode ocasionar sequelas, como o
desequilíbrio da integridade física, cognitiva, mental ou tensional.
Segundo Chiavenato (2000), o clima organizacional varia ao longo de um contínuo que vai desde
um clima favorável e saudável até um clima desfavorável e negativo. Entre esses dois extremos existe
um ponto intermediário que é o clima neutro.
Maldonado; Pérez & Uzcátegui (2006, tradução nossa) asseguram que o resultado do clima
organizacional é engendrado pelas interações que ocorrem do composto de variáveis que se dão de
modo dinâmico, cambiante e carregadas de afetividade.
Dependendo do desenvolvimento das macro e micro-conexões e entre as dimensões que
compõem o clima organizacional, pode-se obter a caracterização dos tipos de clima organizacionais
imperantes nas organizações.

5.3.4 Descrição e Análise de Dados

A análise dos resultados das reuniões de focus group apresentasse ordenada segundo os
parâmetros avaliados, com as tendências globais das orientações da amostra envolvida no processo, as
quais, de modo geral, foram marcadas pela convergência, pouco variando em
função das dicotomias presentes – pessoas que trabalham em atividades administrativas – pessoas que
trabalham diretamente na atividade fim.

COMPONENTE ANÁLISE GERAL DAS PERCEPÇÕES


Percepção sobre a Ausência do emprego operacional planejado e racionalizado leva à
carga de trabalho sobrecarga de trabalho, gerando fortes tensões no trabalho. A hora extra
já se constitui um componente do salário.
Carga de trabalho e A sobrecarga de trabalho prejudica as relações intra-familiares.
interferência na vida
familiar

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Carga de trabalho e a Pode-se inferir grande descontentamento quanto à carga de trabalho paira
percepção de estresse uma percepção de que é exagerada e que existe a percepção de estresse.
no trabalho
PPRH e oportunidade Quanto ao treinamento, percebe-se que está sendo pouco difundido, talvez
de treinamento em razão da escassez desses importantes instrumentos voltados à
qualidade.
PPRH relacionados à Os processos de comunicação nas organizações estão deficitários, tanto o
comunicação verbal, escrito e digital, este último em razão de que as pessoas possuem
organizacional muito pouco tempo para tal, se atendo exclusivamente a se apresentarem
no quartel para cumprimento das escalas de serviço. Apresentando sérias
dificuldades no compartilhamento de informações.
Estrutura, aspecto Existe rejeição com relação às características dos ambientes físicos de
ambiente físico trabalhos nas organizações.
Estrutura, aspecto Paira um sentimento de elevada insegurança em razão de trabalharem
segurança física isoladamente em locais de alto risco. Certamente, a ausência de um
programa de treinamento efetivo acirra este sentimento de insegurança.
Reconhecimento pelo Transpareceu, com base nos depoimentos, que, em algumas
superior imediato organizações, existe o reconhecimento do superior imediato, porém não é
operado nas organizações como definem os regulamentos militares, que
prescrevem uma série de programas para motivação das pessoas.
Relações com a chefia e Detectou-se, quanto ao estabelecimento das metas, que estas são bem
estabelecimentos de definidas e os resultados acompanhados.
metas de trabalho e
resultados
Responsabilidade e Com fulcro nos depoimentos, conclui-se que existe uma percepção de
percepção de responsabilidade pessoal pelos resultados.
responsabilidade
pessoal
Reconhecimento e A orientação estabelecida nos depoimentos é de que os policiais militares
qualidade estão conscientes de que a responsabilidade é fator preponderante deles,
porém que as deficiências de recursos prejudicam, em muito, a qualidade
dos serviços realizados pela Polícia Militar.
Conhecimento da Ficou evidenciado que os policiais militares, em sua grande maioria,
missão organizacional desconhecem a missão da PMSC, poucos declinaram o termo:
manutenção da ordem pública.
Estímulo de novas Caracterizou-se que as ideias que poderiam apresentar alguma melhora
ideias aos serviços não são aceitas pelos superiores imediatos, certamente o
cunho do projeto organizacional dificulta tal intento.
Responsabilidade por Ficou fortemente matizada a impressão de que é rotineira a percepção de
assunção de riscos assunção de riscos de vida, mesmo quando fora da atividade operacional.
Ambiência e tensão Consagrou-se, por meio dos depoimentos, que o nível de tensão influencia
organizacional no desempenho da função.
Ambiência quanto às De acordo com as pessoas o tratamento dispensado com respeito e
variáveis respeito e dignidade estabelece um tipo de orientação voltada à maior produtividade.
dignidade
Reconhecimento por Segundo o que se delineou pode se assegurar que, no imaginário dos
serviços policiais das organizações envolvidas, eles não são reconhecidos pelos
bons serviços prestados.
Relações com a chefia Escopados neste quadro semântico depreende-se que existem

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divergências entre as organizações.


Conflito Ficou consagrado que existe uma grande divergência entre os
componentes das organizações. Ou seja, esta variável depende do estilo
de comando adotado.
Calor e apoio Circunscrito nos depoimentos pode-se asseverar que no âmbito externo,
ou seja, quando em operações policiais a coesão grupal é boa. Porém, no
âmbito administrativo existe uma atmosfera de desavenças, inveja e
conflitos.

5.3.5 Conclusões

O clima organizacional apresenta-se como fator fundamental na determinação do


comportamento do policial militar no trabalho. As variáveis independentes, tratadas nesta pesquisa,
impõem restrições à qualidade dos serviços prestados pela Polícia Militar.
Ainda, à guisa de uma contemplação de maior envergadura, a análise das representações
sociais permitiu vislumbrar, por meio dos fragmentos discursivos, em síntese, que estas são ecos das
diversas possibilidades de significação do contexto profissional pelos sujeitos. Existem inúmeras
variáveis intervenientes nesse raciocínio, como v.g., valores individuais e familiares, a formação moral e
religiosa, o nível educacional, a fase da vida em que os sujeitos se encontram a posição social, as
perspectivas para o futuro, dentre outras.
Caso se objetive a colheita de resultados relevantes e sustentáveis sobre o clima, será essencial
investir em programas de recursos humanos simples e práticos, capazes de intervir no imaginário social,
e que não se atenham a ofertar teorias e conceitos, enfim, programas com corpo suficiente para manter
os recursos humanos motivados, integrados e produtivos, gerando a procura pela qualidade na Polícia
Militar.

PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVOS DISCIPLINARES


(DOCUMENTOS ESPECÍFICOS DA INSTITUIÇÃO)

Nessa seção, busca-se, com base na legislação vigente, identificar e comentar rapidamente os
principais procedimentos administrativos que estão presentes na Polícia Militar do Estado da Paraíba e
que podem surgir com mais frequência como consequência da própria natureza do serviço policial, em
especial a atividade-fim.

Sindicância

Um inquérito diz respeito a um conjunto de diligências para esclarecimento de um fato. O núcleo,


portanto, está no verbo esclarecer. É isso o que faz um inquérito policial, é isso o que faz uma comissão
parlamentar de inquérito, é isso o que faz um inquérito civil público. É da natureza jurídica do inquérito,
portanto, o esclarecimento. Diferente é o processo, que podemos conceituar como um conjunto de atos
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encadeados para subsidiar a formação da vontade jurídica. Naquele, esclarece-se; neste examina-se a
responsabilidade, confrontando acusação e defesa para formar-se um convencimento e aplicar, se for o
caso, uma punição previamente prevista em lei.
Na Administração Pública, o raciocínio é o mesmo. Só que não se usa inquérito. A autoridade
administrativa tem outra figura jurídica a utilizar no lugar do vulgarmente chamado inquérito
administrativo. Trata-se da sindicância. É a ela que cumpre o papel de esclarecimento. Seguindo o
modelo do delegado de polícia, o sindicante – ou a comissão de sindicância – trabalha com três objetivos:
 Verificar se ocorreu o fato;
 Se o fato representa falta disciplinar;
 Quem é o autor.

Em 1990, com a edição da Lei nº 8.112, que dispõe sobre regime jurídico dos servidores públicos
civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais, o legislador formatou, pelo art. 143, o
seguinte modelo: A autoridade que tiver conhecimento de irregularidade no serviço público é obrigada a
promover a imediata apuração, mediante sindicância ou processo administrativo disciplinar.
Portanto, a lei só contempla dois institutos: o da sindicância e o do processo. O primeiro, para
investigar e esclarecer; o segundo, para examinar as responsabilidades, no confronto de acusação e
defesa, e dar a solução jurídica. Sendo assim, a sindicância utilizada para punir servidores por faltas
leves é, na verdade, um delírio do legislador. A sua natureza é de expediente processual.
O mesmo legislador, entretanto, estabeleceu a possibilidade de, a partir de uma sindicância, a
autoridade aplicar pena de advertência ou de suspensão até 30 dias. Com isso, deixou outra janela
aberta para a confusão. Cabe aos juristas – e à jurisprudência – dar uma interpretação lógica, racional e
científica para o delírio legislativo. E a melhor interpretação é a de que essa sindicância, da qual poderá
brotar punição, é, na verdade – independentemente do nome que se lhe der – um processo
administrativo. Como tal, tem que seguir o raciocínio jurídico e as garantias inerentes a um processo.

No âmbito da PMPB, têm-se o Manual de Sindicância, aprovada pela Resolução nº 0005/2001 -


Gabinete do Comando Geral. Ele prevê a forma como deve ser instaurada e procedida a sindicância,
determinando as finalidades, as competências para designação e instauração, os prazos, os
impedimentos, a instrução, a defesa, a solução e os recursos. Nesse sentido, o seu artigo 1° é bem claro:
Art. 1º A Sindicância constitui-se num Procedimento Administrativo, de caráter investigatório,
visando a apuração de ocorrência envolvendo integrantes da Corporação, buscando a produção de
elementos probatórios que levem à autoria e à materialidade, motivando:
a) A aplicação de sanção disciplinar, à luz do RDPM, se os fatos apurados caracterizarem
Transgressão Disciplinares;
b) A instauração de Inquérito Policial Militar (IPM), quando o fato apurado apresentar indícios de
Crime previsto no Código Penal Militar;
c) A instauração de Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD), se Praça não estável, quando
os fatos apurados e, devidamente comprovados, contrariarem à ética, a honra pessoal, o pundonor
policial-militar e o decoro da classe;
d) A instalação de Conselho de Disciplina (CD), se praça especial ou estável, quando os fatos e,
devidamente, comprovados, contrariarem à ética, a honra pessoal, o pundonor policial-militar e o decoro
da classe;

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e) A instalação do Conselho de Justificação (CJ), se Oficial PM, quando os fatos apurados e,


devidamente, comprovados, contrariarem à ética, a honra pessoal, o pundonor policial-militar e o decoro
da classe;
f) O seu arquivamento, em caso de serem considerados improcedentes os fatos apurados;
g) O seu encaminhamento à autoridade competente, quando a infração apurada for de natureza
comum.

Inquérito Policial Militar (IPM)

O Inquérito Policial Militar (IPM) presta-se à apuração sumária de fato (e de sua autoria), que,
nos termos legais, configure crime militar. Tem caráter de instrução provisória, com finalidade principal
de fornecer elementos para a propositura da ação penal, sendo, porém, ações efetivamente instrutórias
da ação penal as perícias, exames e avaliações realizadas regularmente no curso do inquérito, desde
que realizados com peritos idôneos e com as formalidades especificadas no CPPM.
O IPM possui algumas características básicas, sendo relevante citar:
a) a natureza informativa e instrumental, isto é, o IPM deve oferecer um suporte probatório
mínimo para a formalização da opinio delicti do Ministério Público Militar (MPM),
possibilitando apreciar, para oferecimento da Denúncia, a prática do fato delituoso com todas
as suas circunstâncias, isto é, do fato que infringiu a norma jurídica e sua autoria.
b) Não Contraditório, ou seja, a garantia constitucional ao contraditório não é aplicada na fase
investigativa, em virtude de que o IPM não é um processo, mas sim mero procedimento
administrativo onde não existem partes, nem tampouco acusação, portanto, nenhum
acusado.
c) Sigiloso, para preservar o bom andamento das investigações, embora o Estatuto da OAB já
delibere que o advogado deve ter acesso aos autos do IPM: Art. 7º. São direitos do
advogado: (...) XIV - examinar em qualquer repartição policial, mesmo sem procuração,
autos de flagrante e de inquérito, findos ou em andamento, ainda que conclusos à
autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos. Ainda assim, essa temática ainda
gera discussões doutrinárias;
d) Discricionariedade nas investigações, pois o encarregado do IPM não está atrelado a
nenhum rito para a sua elaboração, devendo dar sequência às investigações de acordo com
a sua discricionariedade.
e) Inquisitoriedade, de modo que o caráter inquisitório que lhe é conferido se deve a alguns
fatores tais como a ausência de contraditório, a discricionariedade da autoridade policial
judiciária militar, a falta de acusação e de defesa e a imposição do sigilo quando necessário
à elucidação dos fatos.

Vale relembrar o conceito de crime militar no ordenamento jurídico brasileiro. O Brasil adotou
para definir como crime militar o aspecto formal, ou seja, o legislador enumera, taxativamente, por meio
de lei, as condutas tidas como crime militar. Assim, em regra, crime militar são condutas descritas no
Código Penal Militar – CPM, Decreto-Lei nº 1.001 de 21 de outubro de 1969, o qual, também, por via do
seu artigo 9º estabelece outros critérios para definição, como em razão da pessoa, em razão do local,
enfim.

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Atestado de Origem (AO)

O Atestado de Origem (AO) é um documento administrativo-militar destinado à comprovação de


acidentes ocorridos em consequência de ato de serviço, em tempo de paz, que, por sua natureza,
possam dar origem à incapacidade física temporária ou definitiva dos militares das Forças Armadas e
Forças Auxiliares.
Como a Polícia Militar da Paraíba não dispões de instituo específico para regulamentar a feitura
do AO, então, conforme disciplina a Lei n° 3.909/77 – Estatuto dos Policiais Militares do Estado:
Art. 134 São adotados na Polícia Militar, em matéria regulada na Legislação Estadual, as leis e
regulamentos em vigor no Exército Brasileiro, no que lhe for pertinente, até que sejam adotados leis e
regulamentos peculiares.

Sendo assim, a legislação adotada é a Portaria nº 064-DGP, de 04 DE JULHO DE 2001, que


aprova as Instruções Reguladoras dos Documentos Sanitários de Origem - IRDSO (IR 30-34). Nesse
sentido, a referida Portaria estabelece que Acidente em Serviço:
É todo aquele que se verifica em consequência de ato de serviço, nas circunstâncias definidas
no Decreto nº 57.272, de 16 Nov 65, modificado pelos Decretos nº 64.517, de 15 Mai 69 e 90.900, de
05 Fev 85, e aquele que, mesmo não sendo a causa única e exclusiva da morte ou da perda ou redução
da capacidade do militar, tenha relação de causa e efeito entre o acidente e a morte ou a incapacidade.

Decreto n° 57.272, de 16 de novembro de 1965 - Art 1º - Considera-se acidente em serviço,


para os efeitos previstos na legislação em vigor relativa às Forças Armadas, aquele que ocorra com
militar da ativa, quando:
a) no exercício dos deveres previstos no Art. 25 do Decreto-Lei nº 9.698, de 2 de setembro de
1946 (Estatuto dos Militares);
b) no exercício de suas atribuições funcionais, durante o expediente normal, ou, quando
determinado por autoridade competente, em sua prorrogação ou antecipação;
c) no cumprimento de ordem emanada de autoridade militar competente;
d) no decurso de viagens em objeto de serviço, previstas em regulamentos ou autorizados por
autoridade militar competente;
e) no decurso de viagens impostas por motivo de movimentação efetuada no interesse do serviço
ou a pedido;
f) no deslocamento entre a sua residência e a organização em que serve ou o local de trabalho,
ou naquele em que sua missão deva ter início ou prosseguimento, e vice-versa.

Também são considerados acidentes em serviço os verificados no interior das Organizações


Militares, independente de ação das vítimas e em virtude de sinistros, tais como, incêndios, explosões,
desabamentos, desmoronamentos e outras ocorrências que independam de sua vontade.
Não serão considerados acidentes em serviço se os mesmos forem resultado de crime,
transgressão disciplinar, imprudência ou desídia do militar acidentado ou de subordinado seu, com sua
aquiescência. Esses casos serão comprovados em Inquérito Policial Militar ou, quando não for caso dele,
em sindicância, para esse fim mandada instaurar, com observância das formalidades legais.

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Para a garantia dos benefícios previstos na legislação pertinente, a relação de causa e efeito do
acidente em serviço deve estar perfeitamente caracterizada no processo em que se solicita amparo do
Estado.
Todos os processos em que for solicitado amparo do Estado, em decorrência de acidente em
serviço, deverão conter o parecer da Seção de Saúde Regional, indicando se a morte ou a incapacidade
física foi consequência de acidente em serviço. Os encaminhamentos seguirão os canais de Comando,
que expressarão seus pareceres.

Outros Procedimentos

Formulário de Apuração de Transgressão Disciplinar (FATD)

Procedimento administrativo realizado para apurar fatos que apresentem indícios de


cometimento de transgressões disciplinares. Trata-se de um procedimento semelhante à sindicância,
porém ele é sumário, ou seja, são fatos menos complexos que, via de regra, não demandam grandes
diligências, motivo pelo qual o prazo é menor que o da sindicância.

Procedimento Administrativo Disciplinar

O Procedimento Administrativo Disciplinar é destinado a julgar a incapacidade da praça da


Polícia Militar da Paraíba, sem estabilidade assegurada, para permanecer na ativa, criando-lhe, ao
mesmo tempo, condições para se defender.

Conselho de Disciplina

O Conselho de Disciplina é destinado a julgar a incapacidade do aspirante-a-oficial PM e das


demais praças da Polícia Militar da Paraíba, com estabilidade assegurada, para permanecerem na ativa,
criando-lhes, ao mesmo tempo, condições para se defenderem.

Conselho de Justificação

O Conselho de Justificação é destinado a julgar, através de processo especial, a incapacidade


do oficial da Polícia Militar da Paraíba para permanecerem na ativa, criando-lhe, ao mesmo tempo,
condições para se justificar.

Conselho de Promoção por Ato de Bravura

Conselho designado para apurar e formular parecer acerca das condições sobre determinado
fato envolvendo policial militar que apresenta indícios de ser julgado um ato de bravura para fins de
promoção por ato de bravura, a qual é conceituada no Decreto n° 8.463, de 22 de abril de 1980 –
Regulamento de Promoção de Praças:
“Promoção por ato de bravura é aquela que resulta de ato ou atos não comuns de coragem e
audácia que, ultrapassando os limites normais do cumprimento do dever, representem feitos
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indispensáveis ou úteis às operações policias militares, pelos resultados alcançados ou pelo exemplo
positivo deles emanados”.

Inquérito Técnico (IT)

O IT corresponde a uma averiguação processada para apurar as causas, consequências e


responsabilidades por avarias, em qualquer tipo de viaturas em uso na Corporação, ocasionadas por
acidente culposo ou doloso. A instauração do Inquérito Técnico visa, exclusivamente, à apuração da
responsabilidade pelos danos materiais oriundos de acidentes, da não observância das regras de uso
ou manutenção, da negligência, imperícia ou imprudência ou do usuário credenciado.

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