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ISSN 2176-7181

N. 44
Maio 2010
Ano XXVII

Tribunal de Contas do Município do Rio de Janeiro


www.tcm.rj.gov.br

Controle Externo
e Democracia

Por um Rio sustentável


Ouvidoria do TCMRJ:
canal de comunicação
com a sociedade.

Recebendo e encaminhando sugestões,


reclamações, denúncias e críticas, a Ouvidoria
do TCMRJ completa mais um ano de serviços
prestados ao cidadão carioca.

Pelo telefone 0800-2820486 ou no site


www.tcm.rj.gov.br, o cidadão poderá colaborar
com o acompanhamento da gestão pública.
A
s constantes reivindicações da sociedade cidadãos, através
para que se reduza a carga tributária da fiscalização e
ensejaram as recentes declarações do do controle externo
Presidente da República, afirmando que o das contas públicas,
palavras do Presidente

país que arrecada somente 10% de impostos não tem severa vigilância
Estado, numa clara referência à impossibilidade de o com o patrimônio
poder público arcar com suas funções constitucionais e com a aplicação
se não houver disponibilidade suficiente de do dinheiro público,
recursos. quanto à legalidade,
Por outro lado, a sociedade queixa-se não só legitimidade, efi-
pelo peso dos impostos no orçamento familiar, mas, ciência, efetividade
sobretudo, pelo desconhecimento do destino dos e economicidade,
recursos arrecadados, pela falta de transparência zelando pelo rigoroso
dos governos com relação à aplicação do dinheiro cumprimento do
público, tudo isso somado à constante insatisfação direito fundamental à boa administração.
com a prestação dos serviços por parte do Estado e aos Se, por um lado, a ação do Tribunal de Contas incomoda
frequentes escândalos de corrupção que, infelizmente, os maus gestores, por outro, atende plenamente aos anseios
ainda maculam a imagem do poder público, graças da sociedade, beneficiária do bom emprego das verbas
ao comportamento antiético de determinados homens públicas.
que ainda recalcitram em não obedecer a lei. As competências constitucionais dos Tribunais de
A missão constitucional do Tribunal de Contas é Contas, elencadas no art. 71 da CRFB, convergem para o
essencial para intermediar as relações entre Estado entendimento inequívoco de que são eles um poderoso
e sociedade, oferecendo-se como instrumento instrumento de controle social, instituídos exclusivamente
democrático a serviço dos cidadãos que, como nos países regidos pelo Estado Democrático de Direito,
contribuintes, têm o direito de exigir a prestação e podem, ao cobrarem dos gestores a correta e eficiente
de contas daqueles que administram o dinheiro aplicação dos recursos públicos, equilibrar as divergências
proveniente dos impostos. entre sociedade e governo e aproximá-los uns dos outros,
O Tribunal de Contas, como órgão independente fortalecendo a democracia.
e autônomo, constitui-se, assim, em um dos pilares Thiers Montebello
da democracia, na medida em que garante aos Presidente

Revista TCMRJ
Revista TCMRJn. 44 - maio
n. 44 2010
- maio 2010 1
sumário Rio, capital da ciência e tecnologia
O ex-Secretário Municipal de Ciência e Tecnologia, Rubens
63
Andrade, lembra a criação da Secretaria e afirma que o Rio de
Janeiro tem condições de se transformar na capital da Ciência
e Tecnologia do país.

A voz do povo
Como os cariocas podem contribuir para
tornar o Rio mais sustentável? 66
Enquete realizada pela Revista TCMRJ mostra as soluções
Controle externo e Democracia 3 apresentadas pelos entrevistados para tornar o Rio mais
O controle externo, para ser eficiente, precisa se desenvolver sustentável.
em um ambiente democrático. O ministro Ubiratan Aguiar,
presidente do TCU, o presidente do IBRAOP, Cezar Augusto
Pinto Motta, o conselheiro do TCE/MT, Antonio Joaquim,
Retrato dos bairros 68
Ipanema, mundialmente famosa pela beleza da praia e da(s)
o professor de Direito Wremir Scliar, o conselheiro diretor-
garota(s), e Vila Isabel, berço de sambistas, são os bairros
presidente da Escola de Contas e Capacitação do TCE/CE,
percorridos nesta edição.
Alexandre Figueiredo e equipe, e o Senador Renato Casagrande
opinam sobre os diversos aspectos do controle.
25 anos do Sambódromo:
retrato da alegria carioca 72
Um Rio sustentável 50 Projeto do arquiteto Oscar Niemeyer,
O Secretário Municipal o Sambódromo veio substituir por
de Meio Ambiente, concreto as estruturas de ferro e
Carlos Alberto Muniz, em madeira que eram montadas para o
entrevista à Revista TCMRJ, desfile das escolas de samba. Duas
fala do Programa “Rio décadas e meia depois, a obra, realizada
Sustentável”, e do “olhar em 120 dias, mudou definitivamente o
ambiental sobre o Rio” que a
destino do carnaval carioca.
atual gestão municipal vem
adotando.
Carnaval, 25 anos depois 74
Entrevista com o presidente da Liga Independente das Escolas
A Educação e o de Samba do Rio de Janeiro, Jorge Castanheira, mostra o quanto
o carnaval mudou desde a construção do Sambódromo.
desenvolvimento sustentável 55
Claudia Costin, Secretária Municipal de Educação, considera
que não se pode pensar em futuro seguro com medidas Revelações de Nestor Rocha mudam
paliativas. E aposta na educação como solução para as história do Sambódromo 76
disparidades sociais e econômicas. Entrevista com o conselheiro do TCMRJ, revela a ideia
original de construção da “Passarela do Samba”
2014: o desafio de organizar uma Copa
Sustentável no Brasil 57 Gente que faz a diferença 78
Especialmente contratado pelo Ministério do Esporte para Fundador do Banco de Leitos Hospitalares, o Sr. Aroldo
traçar planos de sustentabilidade para a Copa do Mundo de Mendonça há mais de 20 anos recolhe, reforma e conserta
2014, Claudio Langone fala do desafio de organizar uma Copa leitos hospitalares e cadeiras de roda para emprestar a quem
sustentável. necessita.

A revitalização do Porto e o turismo 60


O projeto de revitalização do Porto, batizado “Porto Maravilha”,
já está modificando a economia e qualidade de vida no local,
avalia Antonio Pedro Viegas Figueira de Melo, Secretário
Especial de Turismo.

Reestruturação do transporte público


de modo sustentável 62
As medidas que estão sendo adotadas para oferecer à cidade
do Rio de Janeiro “maiores condições de acessibilidade e Um caso de amor com o Rio 80
mobilidade sustentável” são exemplificadas pelo Secretário O chef Claude Troisgros declara seu amor pela cidade:
Municipal de Transportes, Alexandre Sansão. “Marravilha!”
ARTIGOS

Controle
Produtividade e Ociosidade na Rede Médica da
Estratégia de Saúde da Família (ESF) no Município
do Rio de Janeiro 82

externo e
O técnico de controle externo do TCMRJ, Amâncio Pulcherio,
compara 2006 e 2007 e conclui que o número de consultas
poderia ter sido maior.

Democracia
O Fundo Municipal para atendimento aos direitos
da criança e do adolescente e as despesas com
a manutenção das atividades dos conselhos
tutelares e do CMDCA-Rio 88
Para Marcelo Simas Ribeiro, contador do TCMRJ - CAD,
“há muito que ser feito para que os direitos da criança e do
adolescente sejam respeitados”.

Algumas considerações sobre a transferência


de tecnologia para o setor público 93
Rodrigo da Fonseca Chauvet aborda aspectos econômicos e legais
referentes ao tema.

Água de Lastro 108


Observador, o desembargador José Geraldo da Fonseca mostra os
estragos provocados pela água de lastro à nossa fauna marinha,
e a possível transmissão de doenças.

Vale a pena ler de novo 112


Matérias publicadas na imprensa que, por seu interesse,
e atualidade, merecem ser relidas.

SAÚDE
Atividade Física Inclusiva 114
Idealizadora do Projeto AFIN, Cristine Ottoni Lourenço
promove, por meio da atividade física, a inclusão de pessoas
com necessidades especiais.

U
A importância da estruturação do Programa de
Saúde da Família no fortalecimento da rede pública m órgão de controle
de atenção oncológica em pediatria: da detectação deve ser visto como
precoce aos cuidados paliativos 115 órgão de orientação, que
Claudia A. F. Guimarães Rabello trata da necessidade de
comunicação da rede do SUS e o papel do Programa de Saúde
contribui para que tudo
da Família. na administração pública
ocorra da melhor forma possível.
TCMRJ Em Pauta 121 Prestar contas dos valores recebidos
O 3º Coninter e a aprovação do
Planejamento Estratégico do TCMRJ é dever de quem emprega recurso
estão entre os diversos eventos que público. No momento em que todos
o TCMRJ realizou ou participou
no período de fevereiro a maio de os gestores estiverem investidos
2010. dos princípios norteadores da
administração pública - transparência,
Visitas 144 publicidade e economicidade - o papel
Votos dos Conselheiros 145 do controle será mais fácil e melhor
Por dentro do TCMRJ 156 compreendido.
Livros 157
Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 3
Cartas 159 Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 3
ta
Entrevis
Controle Externo e Democracia

Controlar incomoda O presidente do TCU, conselheiro Ubiratan Aguiar,


Foto: Saulo Cruz

concede entrevista à Revista TCMRJ em que aborda as


dificuldades de se implementar atividades de controle no
Brasil e possíveis estratégias para superá-las. Confira.

Conselheiro Ubiratan Aguiar


Presidente do Tribunal de Contas da União

Apesar de descritas Sempre há uma reação a pagar de acesso aos controlados ou às


em normas constitucionais, as impostos, e o nome já diz, é imposto, informações que devem ser prestadas?
competências do TCU e dos demais e a ser fiscalizado, porque é uma Que dificuldades são encontradas?
Tribunais de Contas nem sempre são forma de controle. Tenho certeza de Não era para ter dificuldades. É
plenamente compreendidas. Por que a que pode incomodar tanto os gestores dever de quem emprega recurso público
atuação dos órgãos de controle externo bem-intencionados como os mal- prestar contas dos valores recebidos.
nem sempre tem sido compreendida? intencionados. Aos bem-intencionados, Nós temos, aqui ou acolá, algumas
“Controlar” incomoda? “Ser incomoda no momento em que parece dificuldades. Frequentemente, aqueles
controlado” incomoda? uma reprimenda para atos que não são que não ficam conformados com
Elas não são compreendidas praticados de forma dolosa e, sim, por nossa atuação impetram mandados de
exatamente porque incomodam, mas desconhecimento da legislação. Pode segurança contra decisões nossas. Eu
incomodam àqueles que se afastam acontecer de o gestor ser chamado a diria que, num determinado momento,
dos princípios basilares da cidadania. prestar esclarecimentos em audiência a Petrobras seria um exemplo daqueles
Um órgão de controle deve ser visto ou ser sancionado mesmo quando não que reagem ao fornecimento de dados e
pelo gestor, seja ele qual for, no âmbito praticou um ato doloso, o que não deixa de informações, embora publicamente
municipal, estadual ou federal, da de incomodar. Agora, o Tribunal tem diga que todos os dados e informações
administração direta ou indireta, seu aspecto de formação e orientação sempre estiveram abertos ao Tribunal.
como órgão de orientação, como órgão e tem seu aspecto legalístico. Tudo Em recente reunião, houve um progresso
que contribui para que tudo ocorra da que nós fazemos, todos os nossos significativo e nós esperamos que agora
melhor forma possível. É o objetivo votos e todos os nossos acórdãos têm se abra um novo caminho no sentido
maior: que os recursos públicos sejam o embasamento da lei e da norma de que tudo seja disponibilizado. Não é
bem empregados. Mais do que qualquer técnica. O que fazemos, ou você vai um favor os órgãos disponibilizarem as
outro, ele se reverte em favor da encontrar amparo na Lei de Licitações, informações. É um dever legal.
sociedade, que é a grande beneficiária ou na Lei nº 8.112, ou na Lei de
do bom emprego de verbas públicas. Diretrizes Orçamentárias, ou na Lei Os recursos e a quantidade de
Isso porque os recursos se multiplicam. de Responsabilidade Fiscal, enfim, controladores têm sido suficientes
Se você não exerce um bom controle, dentro das muitas leis que norteiam para atender aos controlados?
dá margem para que recursos sejam a atuação do TCU. Não há de se falar Nós somos muito rigorosos na
desviados, e não é isso que se espera que o Tribunal age em desacordo com utilização dos recursos, ao ponto
de um país que luta para poder ser um a lei. Nós sabemos que incomoda, que nós não temos verba sequer para
país de ponta, um país referência. mas, infelizmente, administrar (é um publicidade. Às vezes, nós nos tornamos
adágio antigo) é contrariar interesses. um estranho, um desconhecido perante
As atividades de controle incomodam E controlar também é contrariar a sociedade porque não temos nem
somente a quem esteja em desacordo interesses. meios para divulgar, a não ser aqueles
com os dispositivos normativos ou meios limitados do esforço da Assessoria
também aos demais controlados? Os Os Tribunais de Contas e, em de Comunicação Social. No que diz
brasileiros reagem ao controle? especial, o TCU têm dificuldade respeito à quantidade de pessoal, não

4 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


adianta pensar num exército. São evitar que haja dano ao erário, ou correr com todos os órgãos da pública
12 mil órgãos para fiscalizar. Se atrás do prejuízo? administração. Tratamos de forma
nós tivéssemos que imaginar uma temática e discutimos, por exemplo,
pessoa para acompanhar cada um, Até que ponto as notícias da meio ambiente, transportes, energia,
seriam 12 mil auditores. Nós temos, imprensa facilitam ou dificultam o ensino superior e tecnologia da
atualmente, 10% disso em campo, serviço do TCU? informação. Trazemos para cá todos os
ou seja, 1.200 auditores. Temos que Facilitam. O controle social, ou seja, protagonistas, quer seja da iniciativa
investir na ferramenta da tecnologia. a sociedade utilizando-se da Ouvidoria privada, quer seja do setor público,
Temos que utilizar todos os meios à e dos meios de comunicação por todas para, junto com os nossos técnicos,
nossa disposição para que os recursos as formas, nos dá as condições para discutir os melhores caminhos e
sejam disponibilizados em tempo detectar fatos que tantas vezes escapam soluções para o setor de forma a
real, on line, para que a gente faça o à nossa ação, porque é impossível, aperfeiçoar a gestão pública e os
acompanhamento. Da mesma forma como eu disse há pouco, estar presente mecanismos de controle.
como já existe um Siafi, nós precisamos em cerca de 6 mil municípios no Quanto aos custos, eles serão
de um Sisconv, quer dizer, um sistema país, 12 mil órgãos e saber o que está reduzidos na medida em que haja
para que toda a parte de convênios seja ocorrendo em cada um. Se não fosse integração entre todos os que estão
disponibilizada via internet. Assim, a o papel da imprensa alertando, se relacionados diretamente ao controle.
movimentação financeira do emprego não fosse a sociedade civil organizada A Rede de Controle da Gestão Pública,
dos recursos do convênio pode ser denunciando, se não fossem os órgãos que iniciamos com protocolo de
vista e acompanhada pelos órgãos de com competência para representar intenções em 25 de março de 2009,
controle. Assim, ao final, na última representando, se tornaria muito mais faz com que se evite a superposição
parcela disponibilizada, as contas difícil a ação do controle externo. de ações, ou seja, permite que os
estarão prestadas. Esse procedimento órgãos de controle, como CGU, TCU,
acabaria com uma burocracia imensa Que estratégias o Tribunal de Contas Ministério Público e Polícia Federal,
e uma enorme quantidade de papel da União pode adotar para tornar o atuem concomitantemente, cada um
e prestações de contas que ficam controle menos incômodo? com sua expertise, na investigação e
acumuladas nos órgãos públicos. O Tribunal espera que o controle comprovação da boa aplicação dos
se torne menos incômodo, à medida recursos públicos. Assim, juntando
Recentemente houve discordância que as ações de cidadania estejam as forças e o conhecimento, vamos,
acerca da intervenção (impedimento mais presentes. No momento em que de um certo modo, reduzir, e muito,
e interrupção) em obras de iniciativa os gestores estiverem todos investidos os custos nessa ação conjugada,
do governo federal. Considerado daqueles princípios norteadores da nesse esforço conjugado na área do
o sistema de equilíbrio entre os administração pública, transparência, controle.
Poderes da União, qual a posição do publicidade e economicidade, o papel
TCU diante de decisões e estratégias do controle será facilitado. Também Especula-se a possibilidade de
polêmicas do governo? vamos contribuindo com as nossas criação de órgão independente para
O Tribunal cumpre a sua parte. recomendações, determinações, com exercer a fiscalização dos Tribunais
Cumpre o que está escrito na Lei de os cursos que oferecemos para gestores de Contas. Qual a opinião do Senhor
Diretrizes Orçamentárias, que é votada e toda uma série de publicações, de a respeito dessa iniciativa?
pelo próprio Congresso Nacional cartilhas, de livros, para que haja Eu acho que os Tribunais de Contas,
ano após ano, e aponta ao Congresso uma plena consciência daqueles que que nasceram com a genialidade
as obras que têm irregularidades. O administram do que deva ser feito. de Rui Barbosa, permanecem com
Parlamento é que decide pelo bloqueio a qualificação dos quadros que os
ou não de recursos, com fundamento Que tipo de atividades, palestras, compõem. E digo o seguinte: com a
nas razões técnicas apresentadas seminários o TCU pode promover vinda, que eu aplaudo, do Conselho
pelo Tribunal. Hoje, o Tribunal tem para incentivar os órgãos fiscalizados Nacional de Tribunais de Contas,
convicção plena de que a paralisação (evidentemente com a parceria como existe o Conselho Nacional
só se deve dar em último caso. Nós dos gestores desses órgãos), a do Ministério Público, o Conselho
utilizamos todos os meios possíveis apresentarem seus balanços antes Nacional de Justiça, cada vez mais serão
para que uma obra não seja paralisada. mesmo da intervenção do TCU? aperfeiçoados esses mecanismos de
Vamos desde a retenção de parcelas Seria uma forma de atenuar o controle. Eu espero que, realmente, o
até o oferecimento de garantias reais. desgaste que as atividades de País saiba valorizar o controle da mesma
Agora, a sociedade é quem deve controle implicam? forma que a iniciativa privada sempre o
dizer: é melhor prevenir com medidas Nós realizamos frequentemente adotou como ferramenta de qualificação
cautelares que procuram, no começo, seminários, simpósios e workshops de tudo que ela realiza.

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 5


O Controle Externo das Obras
Controle Externo e Democracia

Públicas no Brasil
Para o auditor público e presidente do Ibraop, Cezar
Augusto Pinto Motta, a atividade de controle muitas vezes
desagrada aquele que é fiscalizado, no entanto, no que se
refere ao dinheiro público, “é uma condição fundamental
para o desenvolvimento de uma sociedade justa,
democrática e igualitária”.

Cezar Augusto Pinto Motta1


Auditor Público Externo do TCE-RS
Presidente do Instituto Brasileiro de Auditoria de Obras Públicas –Ibraop

Introdução

O
controle externo brasileiro óbvio, respeitando-se os regramentos envolvidos.
é constituído por trinta próprios de cada ente. É certo que a Sociedade reconhece
e quatro tribunais de No caso das obras públicas - onde a a necessidade de um efetivo controle
contas, cada qual com atuação das cortes de contas é recente e sobre as despesas com suas obras
legislação e regimento próprios, existem características peculiares que públicas e, neste sentido, há uma
específicos e independentes entre requerem atuação diferenciada - soma- intensa atuação das cortes de contas
si. Esta inexistência de um “sistema” se a ocorrência de uma intensificação brasileiras, mesmo contrariando
formal e hierárquico resulta em de inversões em infraestrutura, interesses corporativos de alguns
uma significativa diversidade nas seja pela recuperação da economia, grupos que buscam maximizar seus
formas de sua atuação e, mesmo, seja pela organização de eventos lucros em detrimento do atendimento
em entendimentos acerca de temas mundiais em que serão realizados dos princípios legais vigentes.
similares. vultosos investimentos, é oportuno Na direção da melhoria dos
Em função da percepção de que o desenvolvimento de padrões de instrumentos de gestão e controle
seria adequado dar tratamento mais atuação integrada e o aperfeiçoamento públicos, este artigo pretende
equânime a problemas comuns, dos métodos que sirvam à totalidade demonstrar peculiaridades da auditoria
atualmente existem muitos esforços dos entes de controle e fiscalização, de obras e serviços de engenharia e
visando à formação de consensos com o fito de garantir que a execução apresentar alguns fatos e experiências
mínimos e uniformização nos destes empreendimentos ocorra com que traduzem a evolução do “estado
procedimentos de auditoria 2, por o uso adequado dos recursos públicos da arte”.

1
Auditor Público Externo do TCE-RS, Engenheiro Civil , Mestre em Engenharia de Produção, Presidente do Instituto Brasileiro de Auditoria de
Obras Públicas –Ibraop

2
Neste contexto destaca-se o Programa de Modernização dos Tribunais de Contas –Promoex. No caso específico das Obras Públicas, o Instituto
Brasileiro de Auditoria de Obras Públicas –Ibraop vem atuando em diversas frentes, em especial na edição de Orientações Técnicas.

6 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


1. Características das obras em geral e daquelas da administração pública

O “
bras são atividades de cunho destas atividades, além dos saberes
industrial que apresentam próprios, há se ter noções bastante
características peculiares
que as diferenciam de O sistema razoáveis sobre legislação – onde
devem estar claras as consequências
outras atividades fabris. São muito educacional ainda de seus atos, quando influem na
usuais, no meio técnico e científico,
as classificações e definições que não gera um licitação, na fiscalização e controle
da execução contratual, que têm
dizem sobre estas diferenças, sendo profissional com regras bastante distintas daquelas das
fundamental entender este “ambiente”
para se analisar corretamente as perfil direcionado obras privadas. Também há que estar
familiarizado com o funcionamento
condicionantes do exercício de e plenamente dos instrumentos de planejamento
controle, fiscalização e de gestão
sobre elas. adequado ao orçamentário e financeiro, além dos
mecanismos de realização de despesa,
Como exemplo destas exercício, nas dentre outros.
peculiaridades, podem ser citadas:
- As obras trazem a “fábrica” e os atividades Neste contexto, sucintamente
apresentado, encontra-se a auditoria
“meios” ao seu canteiro, ao contrário públicas, de de obras e serviços de engenharia
dos produtos industriais comuns,
dificultando o emprego de algumas engenharia e - AOP, que agrega, em adição, mais
um grupo de habilidades e formação
arquitetura.


técnicas de padronização e produção incomuns aos engenheiros e arquitetos.
em escala. Em função disso, há uma São técnicas e métodos que incluem,
grande artesania na consecução do desde o planejamento das auditorias,
produto final; montagem de equipe, formas de
- A obra, salvo exceções, é singular, gestão e eficiência. São componentes abordagem e busca de informações
sendo resultado de um projeto que advêm da falta de cultura de e de seus achados, até a elaboração
específico, onde muitas soluções são planejamento, ou melhor, da “cultura de relatório, folhas de instrução (ou
desenvolvidas para emprego apenas de falta de planejamento”, que papéis de trabalho) e outros informes
uma vez; potencializam o aumento de seus técnicos, afora outras atividades
- A mão de obra, via de regra, não custos e o não alcance da qualidade não usuais nos currículos destes
possui treinamento formal, sendo o desejada, se comparadas com as profissionais.
conhecimento advindo de uma cultura obras privadas, mesmo que existam Mesmo que as AOP comportem a
oral e de observação, mais do que de dispositivos legais e normativos utilização de equipes multidisciplinares
estudo ou método. Soma-se a isto um obrigando ao contrário3. – e, na prática, isto é comum, –
baixo nível médio de escolaridade dos Além disto, o processo burocrático são engenheiros e arquitetos que
operários; e formal que rege a Administração concentrarão a maior parte das análises
- A padronização ainda é insipiente, Pública, somado aos poucos e exames empreendidos, sendo
mesmo que tenha havido uma investimentos na estruturação fundamental a formação complementar
evolução significativa no emprego de de setores de projeto, controle e que estes profissionais recebem ao
materiais, elementos e componentes fiscalização nos órgãos públicos ingressar nos respectivos entes de
construtivos, nas últimas duas contratantes, produz um meio prático- controle externo. Nos órgãos executores
décadas, especialmente; cultural que conduz a uma quase-regra de obras, esta formação adicional é
- Os projetos frequentemente não de atrasos, aditivos contratuais e praticamente inexistente.
possuem um nível de detalhamento qualidade indesejável. Ante estas peculiaridades já se
e precisão adequados, restando No que tange à formação acadêmica, verifica o tratamento diferenciado e
muitas soluções definidas no próprio o sistema educacional ainda não gera “nem tão simples” que o tema deve
canteiro. um profissional com perfil direcionado receber, inclusive dentro dos próprios
Às obras públicas agregam- e plenamente adequado ao exercício, órgãos de controle e fiscalização, sob
se características adicionais que nas atividades públicas, de engenharia pena de desperdício das potencialidades
modificam as condicionantes de e arquitetura. Isto por que, na seara que estas atividades têm na eficiência

3 Ver artigo do autor: “Obras Públicas de Qualidade: Obrigação Legal e Normativa”, Revista de Licitações e Contratos (ILC), Editora Zênite, março
de 2010, Curitiba.

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 7


do Estado e na economia do dinheiro Portanto, além do entendimento do desenvolvimento e disseminação
Controle Externo e Democracia
público, em especial, quando há um sobre a urgência e imprescindibilidade de instrumentos e ferramentas de
horizonte de curto e médio prazo, do controle eficaz e a tempo sobre auditoria, por não existirem prontos
com aporte de recursos de magnitude esta série de inversões, faz-se no mercado, na forma exata das
raramente vivenciado, no país. oportuno e necessário a aceleração demandas sociais atuais.

2. O mito do controle excessivo e as reais causas de obras paralisadas

R
ecentemente, os meios de consubstanciada na inexistência de inserção de dispositivo nas respectivas
comunicação foram palco bons projetos e orçamentos é, de fato, Leis de Diretrizes Orçamentárias
de inúmeras matérias onde a principal causa da paralisação de da União que, dentre outras
se questionava a atuação obras, da sua má qualidade, ou de determinações, obriga ao TCU relatar
dos tribunais de contas –em especial preços acima dos previstos. ao Congresso Nacional sobre a
do TCU – na fiscalização das obras Aliado a isto, há décadas tem execução física das obras auditadas,
públicas, chegando ao extremo de ocorrido o sucateamento das estruturas indicando quais possuem indícios de
responsabilizá-los por entravar o técnicas de engenharia, num contexto irregularidades graves.
desenvolvimento do país. Ao tratar mais amplo, onde se confundiu o Devido a este comando legal, o
de controle externo de obras públicas, conceito de Estado mínimo, com o TCU apresenta anualmente o produto
não se pode deixar de mencionar estes de Estado inexistente, resultando de suas auditorias ao CN que, ao
fatos. na incapacidade de gerir de forma analisar detidamente estes relatórios,
Ao longo destes dois últimos anos, adequada às demandas fundamentais determina quais obras deverão ter
de norte a sul do Brasil, ocorreram da população. a liberação de recursos suspensa,
debates e discussões acaloradas e que, No âmbito federal, por exemplo, até que as causas dos apontes sejam
ao final, vieram a demonstrar que os ocorre o reconhecimento implícito corrigidas, concluindo-se que é o
“entraves” não estavam localizados desta situação no momento em que se Congresso Nacional que determina
nos entes de controle. admite a possibilidade de criação de um – e não poderia ser diferente, visto
É uma constatação óbvia que a setor específico para elaborar projetos, o mandamento legal positivado – a
atividade de controle muitas vezes além da ampliação dos quadros paralisação das obras com “indícios
desagrada aquele que é fiscalizado. técnicos de diversos setores, tais como de irregularidades graves”. Pertine
No entanto, no que se refere ao o DNIT e a Infraero. Isto também reparar que, mesmo que a denominação
dinheiro público, esta é uma condição ocorre no Ministério do Planejamento, técnica contenha a palavra “indícios”,
fundamental para o desenvolvimento Orçamento e Gestão, especificamente o informe já apresenta, de fato, a
de uma sociedade justa, democrática nas áreas de engenharia. comprovação técnica da existência
e igualitária. Em função desta realidade, quando destas irregularidades, sendo utilizada
No caso específico das obras o Controle Externo atua de forma esta terminologia apenas devido
públicas, o atingimento das metas eficiente, estas deficiências estruturais ao fato de ainda não ter ocorrido a
de custos, de prazos e de qualidade se revelam e, num determinado conclusão do “processo”, em todas as
é obrigação que complementa e momento, tentou-se deslocar o foco instâncias, servindo para que o Poder
aperfeiçoa esta condição de cidadania. dos problemas para possíveis excessos Legislativo proteja a cidadania, em
Ao contrário, resta o desperdício de rigor dos entes de controle externo, uma ação preventiva, evitando gastos
de recursos e o esforço coletivo de sem justificar objetivamente tais em atividade de validade duvidosa.
pagar impostos torna-se inócuo nos ilações. Este “mecanismo” em muito tem
seus fins, nivelando o efeito destas Cabe mencionar, por oportunos e auxiliado na defesa do interesse
ineficiências às irreparáveis mazelas exemplares, os debates específicos à público, visto que também limita
da corrupção. paralisação de obras pelo Tribunal de a ocorrência de sobrepreços e os
A “cultura da falta de Contas da União. consequentes superfaturamentos, além
planejamento”, no caso em pauta Ocorre que, desde 2001, há a de permitir rastrear a autoria de maus

3
Auditor Público Externo do TCE-RS, Engenheiro Civil , Mestre em Engenharia de Produção, Presidente do Instituto Brasileiro de Auditoria de
Obras Públicas –Ibraop.
Neste contexto destaca-se o Programa de Modernização dos Tribunais de Contas –Promoex. No caso específico das Obras Públicas, o Instituto
Brasileiro de Auditoria de Obras Públicas –Ibraop, vem atuando em diversas frentes, em especial na edição de Orientações Técnicas.
Ver artigo do autor: “Obras Públicas de Qualidade: Obrigação Legal e Normativa”, Revista de Licitações e Contratos (ILC), Editora Zênite, março
de 2010, Curitiba.

8 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


orçamentos, visto obrigar a emissão nas esferas estaduais e municipais 10/2009, produzida pelas consultorias
de Anotação de Responsabilidade poderia ser uma relevante forma de de orçamento da Câmara e do Senado
Técnica –ART sobre os orçamentos aperfeiçoamento na gestão das obras Federal, que esclarece de forma
que embasam as contratações havidas públicas. objetiva e irrefutável o “mito” criado
com recursos federais. A propósito Sobre este tema, recomenda-se a para encobrir as verdadeiras causas de
disto, replicar-se mecanismo similar leitura da Nota Técnica Conjunta no paralisação de obras públicas.

3. Atividades desenvolvidas no aperfeiçoamento de metodologias e procedimentos de


auditoria e/ou de gestão de obras públicas

C “
onforme já citado, a de um tema único sobre o qual
auditoria de obras públicas especialistas e técnicos da área
pelos tribunais de contas apresentam experiências e estudos,
é atividade recente, no visando firmar entendimentos que
Brasil, passando a existir com maior permitam a uniformização ou, ao
consistência e efetividade a partir da
metade da década de 1990.
Os Sinaop são menos, a adoção de métodos ou
procedimentos mais consensuais, em
Em consequência disto, e eventos de relação ao conjunto dos profissionais
e organizações que atuem sobre este
por necessidade de desenvolver
ferramentas de trabalho e o intercâmbio grande porte, tema.
de informações e experiências, a partir No presente ano, estarão sendo
de 1996, passam a ser realizados os abrangendo realizados um Enaop, tratando sobre
Simpósios Nacionais de Auditoria Serviços de Limpeza Urbana / Resíduos
de Obras Públicas – os Sinaop, a totalidade Sólidos Urbanos, e o XIII Sinaop.
culminando com a criação, em 2000, Neste Sinaop, pretende-se mostrar
do Instituto Brasileiro de Auditoria dos temas de as práticas e experiências de vários
países, visando confrontar os modelos
de Obras Públicas – Ibraop, que
assume a realização dos simpósios e, auditoria de de controle e fiscalização com aqueles
posteriormente, de Encontros Técnicos
Nacionais – eventos que tratam de obras. das cortes de contas brasileiras.
Antes de prosseguir, pertine


discutir e propor aperfeiçoamentos informar que todos os artigos e as
sobre temas específicos. palestras apresentadas nestes eventos
Por ser uma organização que são disponibilizadas no site do Ibraop
tem membros atuando na maioria (www.ibraop.org.br), que constitui
dos tribunais de contas – além de extrapolando os limites do controle um importante acervo que tem sido
centralizar diversas ações de inter- externo, mantendo, porém, seu foco objeto de consulta permanente, além
relacionamento entre profissionais principal nas atividades de controle de despertar o interesse de periódicos
e instituições, o Ibraop é partícipe, externo. nacionais que buscam seus autores
direta ou indiretamente de parcela Nestes eventos, sempre apoiados para reproduzi-los em suas páginas.
importante das atividades na área –, pelos tribunais de contas com
serão apresentadas algumas frentes de jurisdição no local de sua realização, 3.2. Edição de Orientações Técnicas
atuação que estão sendo desenvolvidas são apresentados estudos de caso, e outras diretrizes
com sua participação, demonstrando artigos técnicos ou científicos e
com bastante abrangência o estado da acontecem palestras com autoridades A partir de 2006, são emitidas
arte das AOP. da área, além de debates tratando dos Orientações Técnicas, documentos
diferentes temas atinentes ao controle em forma de Norma, de adoção
3.1. Fóruns de discussão e eventos e fiscalização de obras e serviços de voluntária, que versam sobre temas
técnico-científicos engenharia, sempre com a intenção relevantes, passíveis de uniformização
principal de promover o avanço de entendimento.
Desde 1996 até a presente data, prático dos assuntos tratados. Os temas das OTs são propostos a
foram realizados 12 Sinaop e 8 Enaop, Os Sinaop são eventos de grande uma Comissão Gestora que seleciona
tornando o Instituto uma referência porte, abrangendo a totalidade dos aqueles com maior relevância
brasileira na gestão, controle temas de auditoria de obras. Os e nomeia um grupo de técnicos
e fiscalização de obras públicas, Encontros Técnicos - Enaop tratam experientes e qualificados na área

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 9



para compor um Subcomitê para sua
Controle Externo e Democracia
elaboração, passando, ao final, por
crivo de um Comitê Deliberativo, com
representatividade nacional.
A primeira Orientação Técnica A atuação isolada de
e d i t a d a , a O T I B R- 0 0 1 / 2 0 0 6 ,
abordando a conceituação de Projeto
cada um dos trinta e
Básico, teve repercussão imediata e quatro tribunais de
bastante ampla, visto ter conseguido
consolidar este conceito, antes contas brasileiros pode
disperso em vários dispositivos legais ser um grande entrave
e normativos. Mesmo que estabelecido
formalmente na Lei 8.666/93, nas ao alcance dos objetivos
normas da Associação Brasileira
de Normas Técnicas - ABNT e em
constitucionais do
resolução específica do Conselho controle externo.


Federal de Engenharia, Arquitetura e
Agronomia –Confea, seu entendimento
era complexo e pouco conciso.
Talvez um dos grandes méritos
da OT 001, que está sendo adotada implantada, certamente melhorando Público Federal, o Departamento de
formal ou informalmente por os resultados das contratações Polícia Federal, o Conselho Federal de
vários tribunais de contas e outras havidas dentro dos parâmetros lá Engenharia, Arquitetura e Agronomia
instituições, tenha sido a sua concisão estabelecidos. -Confea, além da Câmara Federal e do
e clareza, resultando no entendimento Senado Federal.
imediato e direto do conceito. Porém, 3.3. Integração e formação de redes A aproximação destas organizações
a escolha do conceito a “uniformizar” interinstitucionais foi consolidada posteriormente,
foi determinante em seu destaque, por iniciativa do TCU, que formou
visto ser a ausência de bons projetos A atuação isolada de cada um dos uma Rede Institucional onde há um
refutada como a principal causa no trinta e quatro tribunais de contas Grupo de Trabalho específico ao tema
insucesso das obras públicas. brasileiros, em especial nos dias das Obras Públicas, que mantém
Desde setembro passado, está atuais, onde há uma grande facilidade atividades periódicas no âmbito
vigendo a OT IBR-002/2009, versando de intercâmbio de informações e de federal. Esta Rede já foi implementada
sobre o conceito de Obras e Serviços comunicação, pode ser um grande em diversos estados.
de Engenharia, e está em elaboração entrave ao alcance dos objetivos Na mesma direção, sob a
a OT 003, que trata sobre Serviços constitucionais do controle externo. coordenação do Ibraop, foi formado
de Limpeza Urbana, além de outras No que se refere às obras públicas, um Grupo de Trabalho visando realizar
proposições que estão em análise, esta assertiva se confirma. Por esta ações em direção ao Aperfeiçoamento
tais como “Livro ou Diário de Obras”, razão, o do XII Sinaop, realizado e Gestão de Obras Públicas. Este GT
“Serviços Comuns de Engenharia”, em Brasília, em 2008, teve por tema está composto por representantes do
“Bonificação e Despesas Indiretas central “O Controle de Obras Públicas: TCU, dos TCEs do Paraná, Rio Grande
–BDI”. A integração das ações institucionais do Sul e Santa Catarina, do Confea, do
Deve-se esclarecer que o espaço como elemento de aumento da eficiência Crea-PR, da Consultoria de Orçamento
decorrido entre a edição da primeira na administração”, promovendo o do Senado Federal, além do Gabinete
OT e das demais se deveu à grande encontro de instituições que atuam, do Senador Jefferson Praia, onde o
demanda havida para a divulgação e de alguma forma, no controle e próprio senador compõe o GT.
implantação do conceito de Projeto fiscalização de obras públicas, que Sua atuação centra-se em três frentes:
Básico que, mesmo aparentando apresentaram suas experiências e Sensibilização Social, Planejamento de
simplicidade, envolveu inúmeras relataram como poderiam interagir Longo Prazo, e Ações e Proposições
apresentações, palestras e debates, com os demais membros da mesa. Legislativas. A Sensibilização
em âmbito nacional, gerando uma Compuseram a mesa o Tribunal de Social iniciou-se pela produção de
alteração significativa nos patamares Contas da União -TCU, a Associação um “folder” distribuído a todos os
de exigência qualitativa dos projetos dos Membros dos Tribunais de Contas prefeitos municipais, orientando sobre
utilizados nas licitações públicas, do Brasil -Atricon, a Controladoria- a condução correta de obras. Este folder
onde a discussão ocorreu e a OT foi Geral da União –CGU, o Ministério deve evoluir para a forma de cartilhas e

10 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


manuais, a serem acrescidos de outros e municipais, o que já ocorre de forma também parciais e incompletas.
instrumentos de divulgação de boas pioneira e exemplar no estado do Neste conjunto expressivo de obras
práticas (audiovisuais e treinamento). Paraná, sobretudo no que se refere à a serem realizadas nos próximos anos,
Quanto ao Planejamento a Longo Prazo, intensa integração entre o TCE-PR e pode-se desenvolver ferramentas,
foram solicitados estudos à consultoria o Crea-PR, que já propicia diversos instrumentos e mecanismos capazes
de orçamento do Senado Federal e ao resultados positivos à melhoria na de aproveitar as melhores qualidades
TCU, visando conhecer a forma de fiscalização e na execução das obras de controle existentes, além de
planejamento em alguns países, visando públicas daquele estado. fornecer meios capazes de suprir às
comparação e encaminhamentos para suas deficiências, de forma integrada
introdução de mecanismos similares 3.4. Outras atividades em e em mútua colaboração, otimizando
no Brasil, se pertinentes. No caso desenvolvimento o emprego dos recursos disponíveis e
das Proposições Legislativas, vários ampliando seus efeitos.
temas já foram objeto de proposições Além das atividades anteriores, A segunda consiste no
ao Congresso Nacional, em especial, mencionadas de forma exemplificativa, aproveitamento dos amplos debates
buscando regulamentar dispositivos visto uma gama muito mais ampla de nacionais que tratam dos critérios
de controle e fiscalização (na Lei nº ações em andamento, há diversas de formação de preços públicos.
8.666/93 e em novos diplomas), além do outras que mereceriam destaque. Estes debates passam pelas críticas
estabelecimento de referências de preços No entanto, serão mencionadas sobre a atuação do controle externo
e de planejamento governamental, duas que poderão ser aproveitadas nas obras públicas, pelas audiências
ambos vinculados à atuação dos entes como parâmetro para a evolução públicas ocorridas no Senado Federal
de controle e fiscalização. rápida do Controle Externo de Obras e prosseguem no momento em que o
Outros temas que deverão ser Públicas, visto a sua oportunidade e Ministério do Planejamento, Orçamento
abordados são: padrões de preços pertinência. e Gestão coordena discussões sobre os
(Sinapi e Sicro, como parâmetro); A primeira delas está vinculada sistemas existentes em todos os entes
indicadores de desempenho para à realização da Copa do Mundo de federais, buscando seu aperfeiçoamento.
a administração pública na área; Futebol, em 2014, em 12 cidades Estes esforços poderiam ampliar estas
cadastro nacional unificado de obras do país. Trata-se dos esforços discussões, levando-as às demais esferas
públicas; criação de identidade única capitaneados pelo TCU, no sentido governamentais e aos TCs, visando ao
(ID) das obras públicas (através do de buscar elementos comuns de desenvolvimento de diretrizes para a
Confea) com vinculação das Anotações controle e integração das cortes de formação de um sistema nacional que
de Responsabilidade Técnica –ART contas, visto que os recursos utilizados unifique os critérios de coleta de dados,
aos empenhos, por exemplo; cadastro na melhoria da infraestrutura das metodologias de formação de preços
nacional de inidôneos. cidades-sede advirão das esferas e democratize os resultados finais,
Estas ações foram iniciadas no federal, estadual e municipal, e a oportunizando sua contínua melhoria,
âmbito federal, mas podem – e devem análise particionada destas verbas respeitadas as diferentes tipologias de
– ser replicadas nas esferas estaduais públicas poderá resultar em análises obras e particularidades regionais.

Considerações finais

E
ste artigo trouxe apenas desenvolvimento, onde há um fluxo de público!
algumas considerações recursos públicos raramente visto na Há também que se cuidar com
julgadas oportunas para história recente do país, direcionado metas muito ousadas no sentido da
expor fatos, experiências e às obras públicas e melhorias na aceleração das contratações e queima
ações que estão sendo desenvolvidas infraestrutura nacional, que deve ser de etapas na execução destas obras,
no país. Por certo, mesmo que algumas fiscalizado apropriadamente sob risco visto que grande parte dos atrasos,
delas não se desenvolvam diretamente de perdas de recursos equivalentes. paralisações ou insucessos históricos
no âmbito dos entes de controle Aqui não se tratou diretamente são fruto, não dos procedimentos
externo, todas estão relacionadas de corrupção, de fraudes ou má-fé, formais, mas da falta de cultura
a pontos cruciais das auditorias de mas a inação ou falta de eficiência de planejamento, isto sim passível
obras públicas a serem realizadas no controle dos recursos públicos de ataque frontal e imediato pelos
nestas importantes instituições. envolvidos pode, além de privilegiar tribunais de contas, visto serem
Ao finalizar, pertine reafirmar os agentes destas más práticas, igualar geradores crônicos de prejuízos ao
a necessidade de que não se perca os resultados desta ineficiência aos erário público.
o contexto histórico que está em daquelas: o desperdício do dinheiro

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 11


Também odeio a indiferença
Controle Externo e Democracia

“Antes que o leitor erga barricada,


matutando que pregar controle
social não passa de discurso fácil,
peço algumas linhas de atenção”.

Conselheiro Antonio Joaquim


Vice-presidente do Tribunal de Contas de Mato Grosso

E
mbora não tenha, ao longo se pode contar; é aquilo que confunde ativação dessa chama, fazendo aquilo
da minha vida, me alinhado os programas, que destrói os planos que para os Tribunais é até pequeno e
às teses comunistas, nem me mesmo os mais bem construídos; é a facílimo, pois portam esse conteúdo,
espelhado em doutrinadores matéria bruta que se revolta contra a mas para a sociedade é grandioso,
dessa corrente de pensamento, inteligência e a sufoca (...)”. pois é o que lhe falta no cotidiano,
confesso que comungo com o ponto Recorri a Gramsci para ilustrar que é o fornecimento de informação
de vista do pensador, político e o meu pensamento a respeito da sobre a gestão dos recursos públicos.
líder comunista Antonio Gramsci imperiosidade de os Tribunais de Informação é a matéria prima do
(1891-1937), que em um dos seus Contas manterem permanente diálogo controle social. Os Tribunais de
escritos bradou contundente contra com a sociedade. Mais adiante farei Contas não podem ficar indiferentes
a indiferença. Trata-se de texto muito essa ligação. Mas, por ora, antecipo a esse fato solar. Ainda mais levando-
conhecido. No passado, populava com estar advogando abertamente que o se em consideração que os nossos
frequência em panfletos distribuídos relacionamento dos órgãos de controle Tribunais são grandes “armazéns” de
pela clandestinidade nos corredores externo com o cidadão deve ser mais informações da administração pública
das universidades; atualmente é que uma obrigação institucional, ou brasileira, notadamente na questão do
facilmente encontrado na internet. É mais que um dever constitucional de uso de recursos públicos.
denominado “Odeio os indiferentes”. prestar contas, de dar publicidade aos Sem o olho do cidadão, sem
Recomendo a sua leitura. atos oficiais, ou bem além do dever a participação do cidadão, sem o
O autor diz que “não pode existir de ser transparente. Concebo essa dedo indicador do cidadão, sem
os apenas homens, estranhos à interação como se ela fosse da gênese o livre conhecimento do cidadão
cidade. Quem verdadeiramente vive dos Tribunais de Contas, sentido sobre todos os negócios e assuntos
não pode deixar de ser cidadão, e de existência do procedimento de do poder público, tudo o mais sobre
partidário”. O comunista arremata controle da gestão dos recursos controle é balela, é encenação, é
afirmando que “indiferença é abulia, públicos. cumprimento de tabela sem maiores
parasitismo, covardia, não é vida Sem participação popular inexiste consequências, posto que fazer sem
(...) A indiferença é o peso morto da efetividade no controle. E este é um dar conhecimento é qualificar e
história. É a bala de chumbo para dos papéis que os Tribunais de Contas justificar o encoberto. Mesmo sendo
o inovador, é a matéria inerte em devem desempenhar (e lá vou eu integrante de um órgão de controle
que se afogam frequentemente os novamente me expor aos críticos desta externo, criado com a precípua
entusiasmos mais esplendorosos (...) posição): o de estimular, fomentar, finalidade de auditar e fiscalizar as
A indiferença atua poderosamente na instrumentalizar o controle social. contas públicas, sou entendedor que
história. Atua passivamente, mas atua. Entendo que os órgãos de controle essa missão somente estará completa
É a fatalidade; e aquilo com que não externo devem desejar sempre a quando funcionar o tripé controle

12 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


interno-controle externo-controle demora na análise. grande obra da gestão a construção de
social. Os Tribunais de Contas não Em Mato Grosso, antes do início alguns mecanismos e o fortalecimento
podem ficar indiferentes a essa da revolução que vem ocorrendo em de outros que visam a abastecer
necessidade. nosso Tribunal de Contas (desde 2007 ou estimular o controle social. Em
O primeiro controle, funcionando julgamos 100% das contas anuais Mato Grosso, toda a movimentação
lá no seio das unidades públicas, como do exercício anterior e atualmente financeira mensal dos órgãos públicos
fase preliminar de auditoria exercida já estamos fazendo auditorias municipais já está disponível a
por servidores públicos de carreira concomitantes), ocorreu o julgamento um click na página (www.tce.
- porém, antes de tudo, cidadãos das contas de um convênio, assinado mt.gov.br) da internet, por meio do
atuantes; o segundo, pelos Tribunais por um gestor que já tinha morrido, nosso portal/canal do cidadão. Os
de Contas, que devem exercer com com uma instituição que já tinha sido balancetes mensais recebidos são
zelo e denodo a sua finalidade. extinta. Aquele fato foi o extremo disponibilizados à sociedade sem
Afinal, existem e foram criados para e o começo da reviravolta para a nenhum juízo de valor, em fácil
isso; e o terceiro, pelo cidadão, pela reconhecida referência que o TCE-MT compreensão, inclusive com as
sociedade em geral, pela organização está conseguindo alcançar na rede dos informações dos empenhos no caso
da sociedade através dos seus mais Tribunais de Contas. Alí decidimos de pagamentos. Qualquer pessoa tem
diversos segmentos. Ela, legítima mudar e, como uma das principais conhecimento de como o prefeito
controladora, como destino final dos metas, cumprir com rigor os prazos e gastou ou quanto arrecadou no
recursos públicos utilizados; ela, a julgar as contas, aproximar o controle mesmo momento que os auditores
sociedade, como ponto de partida, externo do cidadão e exigir unidades do próprio Tribunal de Contas. Na
a fonte arrecadadora, e também o de de controle interno em todos os mesma página, por meio do Geo-
chegada, usufruidora dos resultados órgãos. Obras, as informações de todas as
das políticas públicas. Voltemos, porém,  à questão da obras estaduais e municipais em
Antes que o leitor erga barricada, interação com a sociedade, alentada andamento estão à disposição, com
matutando que pregar controle social no princípio e motivadora deste artigo dados sobre medições, pagamentos,
não passa de discurso fácil, peço mais para esta importante publicação. Eu fotografias etc. Pelo módulo cidadão,
algumas linhas de atenção. Não sou navegava pelo artigo de Gramsci... qualquer pessoa pode entrar e
indiferente aos argumentos de que o O italiano afirma, com indiscutível enviar informações, fotos, vídeos, ou
efetivo controle social exige, antes propriedade, que “o que acontece denunciar, reclamar, indicar obras
de mais nada, e na prática, fartura de não acontece tanto porque alguns com defeitos. Nossa Ouvidoria tem
informações nas mãos dos cidadãos. querem que aconteça, quanto porque sido a porta de entrada de denúncias
Afinal, não se controla o que não se a massa dos homens abdica da sua que são convertidas em processos e
conhece, o que não se domina, não se vontade, deixa fazer, deixa enrolar julgadas em poucos meses pelo Pleno.
controla o que não se vigia. Também os nós que, depois, só a espada As sessões plenárias são ao vivo, pela
reconheço que o controle social pode desfazer, deixa promulgar leis internet e TV Assembléia Legislativa;
exercido pelo povo no dia da eleição, que depois só a revolta fará anular, todos os processos julgados
quando se decide se aquele líder deixa subir ao poder homens que, estão disponíveis com relatórios,
ou partido político deve continuar depois, só a sublevação poderá pareceres e votos, meia hora após
no poder, continua muito precário, derrubar. A fatalidade, que parece os julgamentos. E as ementas dos
pois ao controlador falta o amplo dominar a história, não é mais do acórdãos são lidas imediatamente
conhecimento do que foi produzido que a aparência desta indiferença, minuto após  o julgamento. No dia
no período de gestão. deste absentismo”. Guardadas as seguinte ao da sessão, também está
Pois bem, o controle social deve devidas proporções da história e disponível na página de internet
acontecer na rotina, no costume, do momento (hoje não precisamos trecho de vídeo com o julgamento
no cru e não no cozido, na mais de espadas), a indiferença de cada um dos processos, para que
concomitância do fato - neste último continua grassando e ditando qualquer um saiba como a conta
caso, principalmente, pelos órgãos de ordens e regras. A ela, lamentável e pública foi julgada.
controle externo. Daí a importância e impiedosamente, alia-se a esperteza Antes de fazer propaganda do
a sabedoria daqueles que defendem daqueles que querem manter a TCE-MT, uso deste espaço para atiçar
que a prática do controle deve ocorrer situação como está, pois sabem que os demais Tribunais a buscarem essa
como se fossem biópsias (no durante), a indiferença também se alimenta mesma linha de atuação. É preciso
ao invés das autópsias (no posteriori) da sombra, do desconhecimento, da acreditar que a população brasileira,
que os Tribunais de Contas realizam desinformação. abastecida de informações, tem
em contas públicas de fatos contábeis Deixei a Presidência do TCE- condições de construir um novo
pretéritos, alguns quase caducos pela MT no final de 2009 e reputo como mundo, uma nova utopia, decidir

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 13


com mais qualificação sobre como
Controle Externo e Democracia
os recursos públicos devem ser
aplicados, ou no mínimo, atuar
de maneira mais politizada, não
aceitando as encomendas ou os
“arranjos” feitos indevidamente
por aqueles que têm a legitimidade
de definir as políticas públicas,
ou seja, os detentores de mandato
popular. Para estes, principalmente
para estes, a informação na mão do
cidadão funciona como mecanismo
de controle. Ninguém tem coragem
de tentar ludibriar um povo bem
informado. O autor mencionado ao
longo deste texto diz que “há fatos
que amadurecem na sombra porque
poucas mãos, sem qualquer controle a
vigiá-las, tecem a teia da vida coletiva,
e a massa não sabe, porque não se
preocupa com isso”. Certamente,
informação estimula atuação.
 Aliás, Gramsci diz que tudo na vida
(e na sociedade) é política. Fornecer
informação à sociedade talvez seja a
atuação política permitida para uma
instituição técnica como os Tribunais de
Contas. O que não podemos permitir é a
indiferença funcionar como balizadora
de nossas ações. Devemos odiar a
indiferença.

“ A informação
na mão do
cidadão
funciona
como
mecanismo
de controle.

14 maio 2010 - n. 44

Revista TCMRJ
Democracia e o indispensável
controle da administração
Auditor Substituto de Conselheiro
aposentado do TCE/RS, Wremyr Scliar
analisa, neste ensaio para a Revista TCMRJ, as
origens e evolução histórica da democracia e
do controle social, e conclui: a relação entre
democracia e controle se revela na afirmação
de que a administração não deve ser apenas
a expressão democrática de conquistas, mas
sua efetividade.

Wremyr Scliar
Mestre em Direito do Estado
Professor da Faculdade de Direito - PUC/RS

“O homem é a medida de todas as coisas”


Protágoras  (filósofo grego)

1. Introdução

O
controle da administração ética  administrativa. exercício das suas funções inerentes
pública nasce com as Não são paralelos, a democracia aos  poderes delegados.
práticas da democracia e o controle, são intrínsecos em uma Analisa-se nesse ensaio, não
grega praticada pelos relação necessária, nascido o controle apenas a origem da democracia e do
atenienses na antiguidade clássica. da própria democracia na visão de que controle, mas a sua evolução histórica,
Desde antes, entretanto, entre os esta era o governo da maioria do povo, abordados como duas vertentes de
hebreus bíblicos, o controle do governo ao qual cabia a soberania,  mediante afirmação e efetivação civilizatória da
era um exercício democrático, nas suas delegação aos seus representantes, dignidade humana.
diferentes formas, relacionado com a os quais deveriam ser controlados no

2. A democracia

2.1. A democracia como valor divinizadas relativas à proteção de justiça e na ética.


direitos sociais e individuais, como os A justiça, a liberdade e a
Para os hebreus, a questão da dos órfãos, viúvas, pobres, estrangeiros fraternidade são os principais valores
democracia não significava a delegação e escravos. do povo bíblico – a democracia,
dos poderes soberanos do povo aos As orações do Pessach, uma festa portanto, não é um valor relativo
seus representantes, mas sim como que relembra o êxodo do cativeiro do à designação dos representantes
os governantes exerciam o poder e a Egito, iniciam com a lembrança de do povo, mas o que eles devem
administração. que o povo fora escravo e é sobretudo praticar, sob a pesada pena do castigo
Os textos bíblicos, especialmente a comemoração da liberdade. Durante divino. Nesse sentido, a igualdade
a Torá e o Talmude, ressaltam a a fuga, Moysés entrega ao povo o e a submissão do rei à lei são uma
imposição ética de que o governo decálogo das 10 leis, as quais têm afirmação evidente de democracia
deveria ser justo, governar com significado essencialmente social e religiosa, ao contrário dos gregos, cuja
equidade e praticar as normas de conduta individual, fundadas na democracia é política.

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 15



O nascimento da democracia do rei.
Controle Externo e Democracia
moderna encontra-se em Atenas, à Não era um controle em nome do
época de Péricles, e sobreviveu por povo, mas no interesse daqueles que
aproximadamente quatro séculos. estavam no poder, com a finalidade de
A democracia grega exercia-se fiscalizar o cumprimento das normas
publicamente na praça denominada e a observância dos valores que eram
Ágora, onde cerca de 70 vezes ao divinizados.
ano os cidadãos atenienses (a saber,
com propriedade, homens, maiores e
A história  Esses controladores oficiais
em nome do rei exerciam funções
nascidos em Atenas) reuniam-se para
votar as leis elaboradas pelo Conselho,
dos fatos  administrativas, como membros de
uma oficialidade governamental cuja
aprovar punições, declarar guerras,
celebrar a paz e julgar e punir, ou
passados é atividade era a observância da lei.
Os gregos possuiam na Ágora um
instituir tributos.
Os magistrados da polis (cidade)
a lição para tribunal formado por auditores, os
quais exigiam dos administradores
eram deginados por três  formas:
mediante sorteio, o que fazia com
a prática a prestação dos resultados das suas
funções;  eram dotados dos  poderes de
que um cidadão grego pudesse ser
designado magistrado aleatoriamente; política atual. magistrados, inclusive o de punição.
Eram respeitados e formavam com os
mediante eleição; ou mediante demais magistrados o suporte superior
escolha, para funções especializadas da democracia.
(comandantes de navios, generais). Roma havia criado a figura do


Enquanto o valor principal para os censor, um magistrado sem possuir,
hebreus eram os relativos à ética, os entretanto, poderes plenos (não tinha a
gregos praticaram uma democracia na potestas) e cuja função era controlar a
qual o centro era ser cidadão da cidade administração dos bens da república.
e com ela identificado. Tinham os censores poderes para
Narra Sófocles que um viajante punir, com a perda das funções, exílio,
encontra uma mulher de luto, Quando Cesar Augusto resolve morte, além de sanções civis, dentre
chorando após a derrota militar de punir a sua própria filha por adultério as quais impedimentos de contratar
Atenas frente a Esparta. Indagada, ela (uma lei proposta por ele mesmo) e ou  herdar.
diz que seu filho voltou da guerra. O vai ao Senado propor o exílio da filha,  
viajante diz que isso seria motivo de os senadores tentam encontrar uma 2.3. O renascimento da república
alegria e não de luto e choro, ao que exceção, sob o argumento de que se e da democracia
responde  a mãe: “choro porque ele tratava da filha do imperador. A isso,
não morreu por sua pátria”. Cesar Augusto, em um gesto firme e A idade média é o ocaso do Estado,
Em Roma, os valores também eram afirmativo, responde aos senadores: da democracia e da república, assim
distintos, o princípio mais importante “vós, senadores de Roma, ainda não como do controle de governo.
era o da república. compreenderam o valor da república Coube ao florentino Maquiavel,
A noção de que as coisas do Estado romana e não fazem jus a ele - em uma na renascença italiana, em duas obras
eram propriedade pública e de que república, a lei é para todos”. principais, O Príncipe e Discursos
os administradores geriam bens que   sobre a Década de Tito Lívio, além da
não lhes pertenciam (res publica - 2.2. O controle como valor sua própria atividade administrativa
coisa pública) é o principal legado como segundo secretário de
romano. O controle do governo e da Florença e embaixador, preconizar a
Segundo Cícero (jurisconsulto e administração é implícito aos valores restauração dos valores republicanos
senador romano), o valor da república democráticos, ainda que eles sejam e democráticos, que haviam sido
era, de um lado, as leis feitas pelo distintos, como o representantivo exercidos no império romano.
Senado e, de outro, o cumprimento (grego), ético (hebreu) e notadamente Nesse sentido, Maquiavel sonha
das leis por todos. republicano (como o romano). com o restabelecimento do poder da
A responsabilidade do Os hebreus praticaram o controle península italiana, agora dividida
administrador na gestão das questões mediante oficiais designados pelo em vários Estados - Florença, Roma,
da república, suas leis e os bens rei, os quais tinham a atribuição de Veneza, Turin, antagônicas, em
do Estado são os principais valores controlar o patrimônio real, as rendas, constantes guerras e disputas, aliadas
legados por Roma. a corveia e as obras públicas, em nome a países estrangeiros, seguidamente

16 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


invadidas. Estado e o direito de contrato e Rousseau entendia que Hobbes
A unificação italiana, a criação propriedade. havia narrado a situação do homem
de um Estado unitário sob um único A revolução russa revoga a de seu tempo, mas não a condição
governo, é o que preconiza Maquiavel propriedade, adota a reforma agrária, natural, a essencialidade do homem.
para a Itália. estabiliza os países integrantes do A afirmação magistral de Rousseau
Propõe a forma republicana, ex-império grão russo e busca elevar é que os homens nascem livres e
embora possa aceitar a aristocracia a qualidade de vida da população iguais, mas a civilização rompe com
por questões estratégicas, com um urbana e rural. as relações humanas, violenta o
corpo de funcionários profissionais, A revolução francesa é, entretanto, homem, e, em consequência, o homem
assim como um exército profissional um marco histórico. Nela se afirmam é acorrentado.
e próprio, e não recrutado entre os direitos democráticos da liberdade A síntese é perfeita, na concepção
mercenários, e a separação da igreja e igualdade fundados, pela primeira do genebrino. Apesar das críticas
do Estado, em uma antevisão de um vez na história, em ideias defendidas ao seu estilo, a frase e as ideias de
Estado moderno. por filósofos e escritores. Rousseau são suficientemente claras,
Maquiavel não assiste a unificação Denominados iluministas elabo- criativas e lúcidas para permanecerem,
italiana, a qual só ocorreria no séc. ram sob a orientação editoral de Denis qualidade primeira do clássico em
XIX com o rei Vítor Emanuel, mas Diderot, a Enciclopédia Francesa, cuja qualquer atividade.
suas obras e sua atuação política (na finalidade é “trazer luz onde havia Também desnecessário recordar-
qual a história  dos fatos  passados é trevas”. se que essa é a ideia central e
a lição para a prática política atual), As trevas referem-se predominante da Revolução Francesa
o movimento político constante  ao  conteúdo  feudal da sociedade, o de 1789, daí porque se pode firmar o
e a aguda observação da arte de predomínio da igreja sobre a educação elo liberal-burguês entre Rousseau e
governo constituem-se o importante e a cultura. os revolucionários de 1789.
legado de  quem compreendeu a As figuras de Voltaire (um Os homens livres e iguais
necessidade de superação de práticas racionalista), Montesquieu, que contratam a sociedade, ato concebido
medievais e sua substituição por por suas viagens à Inglaterra volta por Rousseau em que se denota,
valores democráticos e republicanos. convencido da necessidade da claramente, o sentido liberal e burguês
  separação dos poderes para o exercício de sua doutrina, revolucionária para
2.4. A revolução francesa - da democracia e da limitação de cada a época.
democracia e controle um dos poderes, além de D’Alembert, Para Rousseau, o homem é
constituem-se, por suas ideias e previamente livre e igual ao seu
Os três principais movimentos oposição ao ancient regime, nos semelhante e por contrato constitui
revolucionários da época moderna fundamentos teóricos da revolução a sociedade, enquanto que, para
e contemporânea são a revolução francesa. Locke, o contrato funda não apenas a
inglesa (revolução gloriosa), a Até então, jamais um movimento sociedade, mas também o governo.
revolução francesa e a revolução histórico fora precedido por A finalidade da fundação
russa. Esses movimentos históricos, conhecimentos e valores críticos em da sociedade em contrato,
que alteraram radicalmente a história relação aos poderes e à sociedade. segundo Rousseau, é propiciar o
da humanidade, embora com vertentes Pelo seu papel, Rousseau foi um desenvolvimento e a livre expansão
distintas, tem em comum a adoção de precursor da revolução francesa. da personalidade dos homens.
diferentes formas da democracia. J e a n J a c q u e s Ro u s s e a u e r a Para a sociedade, o povo não pode
Para os ingleses, o essencial em genebrino e adotou as concepções alienar a sua soberania; ele continua
sua revolução gloriosa (em realidade o liberais do calvinismo, e assistiu, soberano, ou seja, em Rousseau, a
século XVII assiste a duas revoluções vivendo intensamente, o surgimento soberania pertence exclusivamente
na Inglaterra) era a redução dos do Estado moderno. ao povo.
poderes do rei, a outorga de poderes Nascido em 1712 e morto em 1778, Segundo revela Luciano Gruppi,
ao parlamento, a liberdade religiosa e Rousseau não é apenas um espectador comentando sobre Rousseau, a
a limitação do Estado - portanto, uma ativo do Estado liberal nascente com a sociedade e o Estado criados pelo
revolução essencialmente política. marca da democracia burguesa. povo não podem ser distintos nem
Na França, trata-se de uma Oposto a Hobbes, para Rousseau superiores ao povo.
revolução em que a burguesia, que existe uma condição natural, inata Se o povo não deve alienar a
nos  300 anos anteriores já era a aos homens, que é a da felicidade, da soberania, completa Rousseau, o único
classe com maior poder econômico, virtude e da liberdade, destruída pela órgão criado pelo povo que expressa a
reinvidica direitos políticos e civis, civilização e pelo Estado. Neste ponto sua soberania é a assembléia. Nela se
como a participação na gestão do situa-se sua antítese a Hobbes. exerce a soberania e nela, acrescenta,

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 17


exerce-se a democracia. para conservar o equilíbrio entre o acumulado riqueza e poder econômico,
Controle Externo e Democracia
Com a ideia de soberania através soberano e o governo. São eles: os sustentando a realeza e o clero.
da assembléia (Rousseau defendia éforos de Esparta, os tribunos do Quando o velho regime cai, a burguesia
incondicionalmente – um apaixonado povo e os censores de Roma, e, como instaura política e economicamente a
– a assembleia), surge o segundo excepcionalidade, a ditadura. formalização do seu poder.
elo (assembleia) de Rousseau com Importante salientar que Rousseau, Comparativamente ao bill of rights,
a Revolução Francesa; o primeiro, inspirado na história de Roma, admitia com exceção de Jefferson, estavam
como se viu, eram a igualdade e a medidas de exceção para conservar o mais interessados os americanos na
liberdade. equilíbrio entre o soberano e o governo. sua própria independência, enquanto
Rousseau vai adiante e demonstra Seria de Rousseau a inspiração original que a Revolução Francesa julgava-se
compreender a questão crucial (hoje para a ditadura do proletariado como uma revolução para o mundo.
atualíssima) da igualdade formal, governo transitório? Com toda a clareza, a declaração
ou burguesa, em confronto com a   universal deveria ser de todos os
igualdade concretizada, ou real. 2.5. Revolução Francesa - tempos e de todos os povos; as
Quanto à democracia, como se a democracia é exercida circunstâncias poderiam mudar, mas
viu, Rousseau foi o primeiro pensador ela seria invariável para todas as outras
moderno a defender o seu exercício. A revolução francesa implanta revoluções. As leis sofrem o influxo do
Aliou a teoria a uma proposta prática – e exerce a democracia segundo caráter nacional ou dos costumes, mas
o que iria ocorrer após a sua morte. os ideários dos enciclopedistas, os direitos são sempre os mesmos.
Rousseau distingue, de forma letrados do iluminismo e autênticos Sob o aspecto que se busca nesta
radical, “soberano” e “governo”. Para herdeiros intelectuais e políticos da dissertação, ou seja, a realidade material
ele, o povo reunido na assembleia vota Renascença. e objetiva da Revolução Francesa como
às leis, e o governo é seu subordinado As ideias de Rousseau sobre a afirmação e concretização burguesa,
para executá-las. soberania do povo, cerca de uma inclusive dos seus direitos privados,
No seu entendimento, só é legítimo década após a sua morte, em 1778, na declaração universal (que seria
o Estado constituído em que o povo, começam a se tornar realidade em 14 preâmbulo da primeira constituição),
soberanamente, exerce diretamente o de julho de 1789. cumpre, em primeiro lugar, notar
poder legislativo. Como se observou, a vertente que nela são indissociáveis das
Restaria, por fim, ressaltar a de Rousseau para a Revolução virtudes cívicas as virtudes privadas,
idéia contida no Livro Terceiro do Francesa era a liberdade, a igualdade e a garantia de propriedade privada é
Contrato Social, intitulado “Do abuso e a democracia, exercida por meio da fundamento de todas as produções, de
do governo e de sua tendência à assembleia, ainda que, para Rousseau, todos os meios de trabalho e de toda a
degeneração”: “Assim como a vontade devesse ser direta. Mas a soberania do ordem social.
particular age incessantemente contra povo é afirmada pela primeira vez, É a consagração da ordem privada
a vontade geral, também o governo na prática, nos tempos modernos, na burguesa e do sistema capitalista de
faz um contínuo esforço contra a Revolução Francesa. produção, aliás, redigida originalmente
soberania”. Como resolver? A outra vertente da Revolução por Lafayette com a colaboração
Afirmando que a subordinação do Francesa, também democrática, é a de Jefferson, então embaixador em
governo à soberania deve ser mantida tripartição de poderes, preconizada Paris.
por meios normais ou excepcionais, por Montesquieu, ainda que o poder Na Declaração dos Direitos do
Rousseau recorre ao melhor governo executivo resida na assembleia. É Homem e do Cidadão, de 1789, essa
que já existiu, segundo o seu erudito essencialmente democrática quando consagração está explícita:
entendimento: o de Roma! impõe um sistema de controle e Art. 2. A finalidade de
Os meios normais são a assembleia auto-limitação entre os poderes do toda associação política é a
constante do povo e o objeto, manter o governo. conservação dos direitos naturais
pacto social. Quando a assembleia se A Revolução Francesa exprime e imprescritíveis ao homem.
reúne, cessa a delegação, não há mais a tomada de poder pela burguesia, Tais direitos são a liberdade, a
poder executivo. cujos anseios principais residiam propriedade, a segurança e a
A democracia direta, na forma de na liberdade – nesta centrada a resistência à opressão.
assembleísmo, como preconizada por propriedade – e na igualdade, aqui (...)
Rousseau, era o horror dos governantes, a prática política, além da separação Art. 4. A liberdade consiste
o ápice do corpo político e o freio dos clássica dos poderes e na soberania em poder fazer tudo o que
governantes. popular. não prejudique a outrem: em
Os meios excepcionais são Durante os três séculos anteriores conseqüência, o exercício
buscados entre os gregos e romanos ao 14 de julho, a burguesia havia dos direitos naturais de cada

18 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ



homem só tem por limites os que
assegurem aos demais membros da
sociedade a fruição desses mesmos
direitos. Tais limites só podem ser
determinados pela lei.
A principal conquista
(...) da Revolução
Art. 17. Sendo a propriedade
um direito inviolável e sagrado,
Francesa é, sem
ninguém pode ser dela privado, dúvida, a igualdade
a não ser quando a necessidade
pública, legalmente verificada, o
política adotada em
exigir de modo evidente, e sob a termos relativos;
condição de uma justa e prévia
indenização.
mas conquista
Nas constituições que se seguem também importante
em 1791 e em 1795 (que não chegou a
ser aplicada), reafirmam-se o direito à
é a liberdade e a
propriedade privada, livre iniciativa e propriedade como
competição, autonomia das vontades,
direito dos homens.


liberdade de comércio e indústria, a
defesa da propriedade como direito de
todos e o direito do proprietário contra
o Estado e à expropriação abusiva.
Os textos constitucionais notáveis concurso de todos para assegurar A primeira afirmação da Declaração
são os seguintes: os direitos de cada qual. é a igualdade e nisso há uma retomada
1793 (...) dos ideais ocidentais de Aristóteles.
Art. 1. A finalidade da sociedade Art. 5. A propriedade é o direito Apesar, entretanto, do ideário
é a felicidade comum. – O governo de gozar e dispor de seus bens, republicano, a realeza permanece
é instituído para garantir ao homem de suas rendas, do fruto de seu intocada no poder executivo e no
a fruição de seus direitos naturais trabalho e de sua indústria. poder judiciário. A República somente
e imprescritíveis. (...) se instaura dois anos após a queda da
Art. 2. Esses direitos são a Art. 8. Ninguém pode ser citado Bastilha.
igualdade, a liberdade, a segurança, em juízo, acusado, detido ou preso, Inobstante a proclamação da
a propriedade. senão nos casos determinados em igualdade, a Assembleia não aplica esse
(...) lei e de acordo com as formas por princípio de forma absoluta à política.
Art. 8. A segurança consiste na ela prescritas. Convencidos de que para votar com
proteção, concedida pela sociedade Art. 9. Os que solicitam, independência e convenientemente é
a cada um de seus membros, para a expedem, assinam, executam ou preciso ser instruído e independente
conservação de sua pessoa, de seus fazem executar atos arbitrários são economicamente, isto é, ser proprietário,
direitos e de sua propriedade. culpados e devem ser punidos. os membros da Assembleia distinguem
(...) Dos textos, curiosamente, se os cidadãos em passivos e ativos. Os
Art. 22. A garantia social lançam alguns laços com Roma, como cidadãos ativos terão direitos políticos
consiste na ação de todos, para a virtude cívica e a virtude privada, o plenos.
assegurar a cada qual a fruição e caráter religioso da propriedade. Quem são os cidadãos ativos?
a conservação de seus direitos; Relevante é o fato de que a Franceses, com 25 anos, que morem
essa garantia repousa na soberania Revolução Francesa é o preâmbulo do há pelo menos um ano em um cantão,
nacional. capitalismo como regime econômico, tenham prestado juramento cívico,
social e político e o surgimento do não trabalhem como domésticos,
1795 Estado liberal. não estejam falidos e paguem uma
Direitos A principal conquista da Revolução contribuição direta igual ou superior
Art. 1. Os direitos do homem Francesa é, sem dúvida, a igualdade ao valor de três dias de trabalho.
em sociedade são a liberdade, política adotada em termos relativos; As mulheres também estão
a igualdade, a segurança, a mas conquista também importante é a excluídas dos direitos políticos, ainda
propriedade. liberdade e a propriedade como direito que tenham desempenhado papel
Art. 2. A segurança resulta do dos homens. decisivo na revolução, como lembram

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 19


os quadros de Jean Louis David. democracia, sob um estado nacional mas o marco novo, a partir do Estado-
Controle Externo e Democracia
Além das mulheres, três milhões de forte (Hegel teoriza sobre o estado nação, para o exercício da democracia
franceses estão excluídos da nação guerreiro e vencedor), a encontrar política.
política. outros mecanismos não apenas sob o A democracia da Ágora pressupõe
O sufrágio é censitário e efetua- aspecto de governo, mas de poder. a liberdade e a igualdade; a democracia
se em dois níveis, pois a massa de A ideologia nacionalista centrava- emergente de 1789 pressupõe a
4,3 milhões de cidadãos ativos só é se (como atualmente) na ideia, aliás liberdade e a igualdade – e também
admitida em assembleias primárias. de Montesquieu, de que o povo sabia os nascentes direitos humanos
Essas elegem os grandes eleitores, escolher, mas não governar. garantidos por lei, para ser plenamente
cujo censo se eleva a dez jornadas de É verdade que muitos defendiam exercida.
trabalho e serão aqueles habilitados a também a tese radical – nem mesmo A democracia semidireta, que Paulo
eleger os deputados. escolher, é preciso ser “preparado”, Bonavides identifica principalmente
  “ter propriedades” para votar. no após Iª Guerra Mundial, tem sua
2.6. Democracia contemporânea Entre o Estado nacional (e característica principal na soberania
nacionalista) e a cidade-estado ou popular, na qual reside o poder
A democracia, portanto, não a comuna, o elo está rompido. A do povo, e nos representantes que
alcançou um determinado degrau e realidade do Estado é radicalmente exercem o governo. Qual a sua prática?
nele se estabilizou. Reciprocamente, nova. Referendo, plebiscito, iniciativa
enquanto se aumentava o espectro de O homem, da Revolução Francesa popular de lei e, também, o controle
reivindicações populares, a democracia, em diante, é cidadão (“citoyen”) e popular dos governantes. Há ainda
até então um valor eminentemente também um homem civil, cuja vida o “recall”, que é a destituição do
estatal (forma de governo e escolha privada é dividida com a pública. mandato do governante (ou dos juízes,
de governo), passou por profundas O homem moderno é, antes de mais na Califórnia e no Oregon).
modificações, desvinculada (mas nada, um auto-provedor responsável O poder é do povo, mas o governo
sedimentada) do histórico modelo pela sua família. é dos representantes, em nome do
clássico da Ágora e inspirada na A vida política é episódica – ele é, povo: eis aí toda a verdade e essência
tradição cultural hebraico-heleno e portanto, um “homem massa”. da democracia representativa.
cristã, segundo a qual o homem é o O próprio Rousseau compreende Com a democracia semidireta,
centro do reino (e do universo, na o problema – e a solução se põe a alienação política da vontade
Renascença). mediante delegação, comissariado ou popular faz-se apenas parcialmente. A
A democracia direta somente democracia representativa. soberania está com o povo, e o governo,
poder-se-ia exercer em pequenas O poder, como sonhava Rousseau – mediante o qual essa soberania se
comunidades (assim percebeu que reside na soberania –, seria ainda comunica ou exerce, pertence por
Rousseau) ou na descentralização inalienável e continuaria pertencendo igual ao elemento popular nas matérias
radical (como pretendiam os ao povo soberano. mais importantes da vida pública.
anarquistas). Na democracia representativa Determinadas instituições, como o
O fortalecimento dos estados surge uma nova categoria política – a referendum, a iniciativa, o veto e o
nacionais, com as vertentes vontade geral, a qual advém da maioria direito de revogação, fazem efetiva a
nacionalistas, cujas expressões (“la volonté générale” de Rousseau). intervenção do povo, garantem-lhe um
políticas podem ser atribuídas a Quais são as suas características? poder de decisão de última instância,
Napoleão Bonaparte, Bismarck e O povo mantém sua soberania, supremo, definitivo, incontrastável.
Alexandre II, é também um dado novo sua vontade se manifesta no sufrágio
após 1789. em que são escolhidos os seus 2.7. Democracia participativa
As rígidas fronteiras, a crescente representantes, os partidos políticos
militarização, a proteção das (são essenciais para o sufrágio), a Uma nova forma de democracia,
burguesias nacionais, o receio do separação de poderes, a liberdade de recém-surgida e teorizada, é a
“espectro que ronda a Europa” e o escolha e a igualdade dos eleitores, democracia participativa, mesmo
início das primeiras ideologias racistas a temporariedade da representação, quando ainda não legalizada.
(Clemenceau, Gobineau e Malthus) a livre manifestação e associação, A democracia participativa é
também encontram reflexo na o estado de direito constituidor das ampla.
literatura (“a aldeia é meu universo”, vontades e garantidor do exercício Ela se inicia, ainda no século XIX,
escreveu Tolstoi) e na música (os cinco democrático, a limitação e o controle com a participação popular (mediante
nacionalistas russos e a utilização na dos governantes. delegados eleitos ou indicados por
Alemanha, Polônia e Hungria de temas A democracia representativa não é associações) na gestão de órgãos
folclóricos nacionais) e impeliram a uma derrogação da democracia direta, com fins sociais ou previdenciários.

20 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


Aqui se incluem os conselhos ou A experiência, que merece participativa se realiza mediante
entes de assessoramento. Com a destaque na democracia participativa, representação formal em conselhos
evolução da democracia participativa, são os conselhos orçamentários, ou órgãos diretivos, a democracia
mesmo os órgãos colegiados de aos quais, segmentadamente (ou deliberativa tem uma vocação de
gestão passaram a ter a representação descentralizadamente), o povo é espontaneidade e improvisação. É
popular nos seus corpos para a gestão chamado a opinar sobre as políticas consequência da complexidade social,
partilhada. Não se deve confundir orçamentárias a serem seguidas pelos do crescimento urbano e do pluralismo
com o corporativismo, prática anti- governantes. acentuado da democracia – fenômeno
democrática e discriminatória, adotada Na Constituição brasileira de típico da era da globalização, com
em regimes totalitários, como Portugal 1988, podem ser identificadas a a interseção de fatores econômicos,
(durante o período salazarista) ou na democracia direta (iniciativa de lei, sociais e culturais.
carta brasileira outorgada em 1937. plebiscito, referendo e a ação popular Seus primórdios teóricos
A democracia participativa, – essa como meio de controle do remontam a Joseph Bessete, na
inicialmente no âmbito social e governo), a democracia representativa década de 1980, quando teceu
previdenciário (em Israel, a previdência (a escolha dos corpos legislativos críticas às interpretações elitistas
é gerida pela federação sindical – e dos executivos) e a democracia da Constituição americana. Era
“Histradut”, certamente inspirada participativa – previdenciária, a visão contrária ao pensamento
na social democracia europeia, tributária e colaborativa. d e S c h u m p e t e r, p a r a q u e m a
principalmente no trabalhismo inglês), desinformação, a apatia e a
alcançou notável desenvolvimento 2.8. Democracia deliberativa manipulação pela propaganda
nos países socialistas europeus que levavam os cidadãos, tal como
não partilhavam o estalinismo, como Um fenômeno político novo, ocorrera em 1933, à ascensão do
a Iugoslávia, com a auto-gestão das conquista recente, é a democracia totalitarismo nazista. Segundo
empresas estatais, e, por breve lapso, deliberativa. Joseph Schumpeter, a apatia dos
a Hungria. Enquanto que a democracia cidadãos era o fato preponderante de
Mais recentemente, o Peru, na participativa é formalmente manutenção da democracia.
sua Constituição da década de 1970, institucionalizada, como observado A crise de 1968 e a derrota
adotou a co-gestão empresarial e no item anterior, a democracia americana no Vietnam, assim como o
modificou radicalmente os tipos de deliberativa nasce da integração dos feminismo, os direitos nascentes dos
propriedade – dividindo-as em três: cidadãos com a sociedade e com o consumidores, a afirmação dos negros
propriedade estatal para uso popular, Estado. É a produção legítima de americanos e os interesses crescentes
propriedade social ou coletiva e ideias que expressem a concretização pelas questões públicas, são os
propriedade privada ou particular. dos anseios democráticos, nos mais pressupostos políticos do surgimento
No Brasil, a experiência retroage diferentes âmbitos individuais, da democracia deliberativa.
à Revolução de 1930. Os órgãos grupais ou sociais, paralelamente à A propósito, convém recordar o
governamentais previdenciários e atividade democrática estatal formal amplo caráter comunitário da vida
os entes privados criados por lei e e representativa ou direta. Poderão pessoal dos cidadãos americanos,
denominados “entes de colaboração” resultar na produção de leis, ou de presentes em processos deliberativos
são co-geridos, e assim permanecem, de comportamentos públicos, medidas que dizem respeito ao seu bairro, rua,
forma tripartite: governo, empresários e providências, assim como em escola, meio ambiente, consumo, e
e empregados. políticas públicas. assim por diante.
Notável também a experiência Funda-se na herança histórica Sua fundamentação reside nas
no Brasil no âmbito tributário – os liberal das liberdades e da igualdade. liberdades e igualdades, atuantes a
conselhos ou juntas paritárias de É uma nova forma de ação cada instante, em qualquer lugar,
julgamento em segunda instância, democrática, mais avançada quando sobre todos os assuntos.
obrigando o Estado a acatar a decisão. comparada com a democracia O conflito que surge entre essa
mesmo quando desfavorável. participativa, sem dispensá-la, nova forma de democracia e a
Na função colaborativa, devem entretanto. democracia clássica liberal está na
ser destacados os conselhos tutelares Sua principal característica é a polêmica entre a efetividade das
de menores e adolescentes (com discussão e troca de argumentos, liberdades e igualdades liberais
a inclusão de conselheiros eleitos obtendo informações novas, e a concretização constante e
popularmente!), os conselhos de permitindo aos agentes ratificar ou permanente da vontade soberana
cultura, meio ambiente, urbanismo, mudar suas posições, sempre baseados do povo, não apenas no momento
política de entorpecentes, dentre na igualdade e na liberdade. do sufrágio.
outros. Enquanto a democracia A principal tese a embasar a

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 21


democracia deliberativa é a sua representatividade para governar.
Controle Externo e Democracia
2.9. Conceito de democracia
justificação. A democracia moderna, contudo,
contemporânea
Como entender que um regime ou é mais do que a moralidade
governo, ou até mesmo determinadas e o compromisso cumprido dos
A democracia é um processo
políticas públicas são democráticas governantes.
histórico e dialético, em movimento
e deliberadas segundo a vontade do A democracia moderna tem
constante, integrado com o processo
povo? um novo valor, um novo sentido
revolucionário de emancipação da
O processo formal deliberativo político. Ela não é mais apenas questão
humanidade.
(representativo ou direto) somente de sufrágio, representatividade –
A experiência prática da
se torna legítimo quando, a partir de tampouco somente uma questão de
democracia moderna é a da república
um poder legitimado, produz ações Estado.
democrática fundada na igualdade,
permeáveis às discussões, ideias e A democracia perpassa a sociedade
no sufrágio universal e nos institutos
valores adquiridos historicamente, em e tem no homem o seu centro – é o
democráticos, atributos da soberania
cada povo e em cada país. homem em sociedade que forma uma
popular, do governo da maioria e que
Fundamentada na justificação, nova organização, espaço público de
conduzem à dignidade da pessoa
seus objetivos são o consenso e o discussão, de luta, de negociação e
humana.
compromisso; seu processo envolve a de aprofundamento de conquistas de
A democracia atual, desde a
ampla discussão pública, seu próprio novos direitos.
democracia direta grega e a justiça
caráter, as instituições e os métodos A democracia é um processo
e ética dos hebreus, é a conquista e
de decisão. histórico que conduz atualmente
afirmação dos direitos humanos e a
A democracia deliberativa à substantivação garantidora
passagem revolucionária para o reino
é a inclusão dos cidadãos, da dignidade da pessoa humana,
do trabalho.
independentemente das suas individual e coletivamente
A democracia não é apenas um
condições, no amplo rol daqueles que considerada.
procedimento ou as regras postas do
decidem, o que inclui, previamente, Ela é o cenário substancial da
jogo – como pretende o entendimento
o exercício pleno das liberdades emancipação do homem e para o qual
de Norberto Bobbio, ainda que as
públicas e da igualdade. tudo é feito em seu nome.
regras sejam fundamentais.
É, desde logo, um projeto nascido O século XX foi o século de
Em relação ao jogo político, a
de um conceito. duas guerras mundiais, de uma
democracia não institui as regras da
Como conceito, ela parte da crítica revolução social planetária, o século
disputa, mas garante à maioria, por
à democracia formal e responde à da tecnologia e da informação.
si mesma, o estabelecimento dessas
necessidade da construção coletiva Todas estas características, mais
regras, conquista da própria maioria.
em uma nação multicultural. o totalitarismo, o holocausto e
Não é a democracia que descumpre as
Como projeto, é o anúncio de uma os genocídios e a hegemonia de
suas promessas – as promessas não são
nova forma democrática, superando um sistema antidemocrático são
cumpridas pelas elites que se utilizam
a antinomia entre representação verdadeiras.
de instrumentos antidemocráticos
formal e democracia real. Preserva Mas foi o século XX, sobretudo, o
para frustrar a democracia.
as conquistas históricas – como as da extensão, ampliação e arraigamento
Paulo Bonavides, em Ciência
liberais, de liberdade e igualdade, da democracia.
Política, faz o elogio da definição de
mas avança nos fatos substantivos, A democracia do fim da escravidão,
Lincoln (governo do povo, para o povo,
como a organização autônoma da liberdade e da igualdade, dos
pelo povo – governo que jamais perecerá
da sociedade (a sociedade civil Estados-providência; a democracia da
sobre a face da Terra), afirmando que
organizada), e no pluralismo cultural. educação e da saúde; da informação,
a oração do presidente americano
Atua diretamente na formação da opinião; a conquista do espaço
dissipa as dúvidas substanciais sobre
do processo de opinião e busca público e privado.
o conceito da democracia.
decidir incisivamente na formulação Se, conforme o The Economist,
Diz Bonavides que a peroração de
legislativa e de políticas públicas, em 1900 não havia mais do que seis
Lincoln é a “mais curta e comovente
estas por mais amplas ou estritas que países que poderiam ser considerados
oração que a eloquência política de
se possam apresentar. democráticos, em 1945, o século já
todos os tempos já produziu”.
Para Geraldo Tadeu Monteiro: conta com 117 países democráticos e
É o próprio cientista político e
“A força da democracia deliberativa 54% da população mundial vivendo
jurista brasileiro quem atribui à frase
advém justamente de sua neles. O avanço é espantoso.
o sentimentalismo e a emotividade
aplicabilidade plena às condições Se o nazismo e o fascismo
do discurso político. Na frase de
reais e atuais do século XXI”. assassinaram 50 milhões de seres
Lincoln, denota-se o caráter moral da
  humanos e destruíram, no leste

22 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


europeu, 3.000 cidades e 30.000 ao restaurar a soberania popular, o e consolidação do colonialismo (etapa
aldeias, a sua derrota não foi vingança sufrágio universal (ampliado), as antecedente do imperialismo).
dos vencedores – mas a democracia instituições democráticas, a liberdade, As consequências foram o
social para os vencidos. a igualdade e a solidariedade, e surgimento de amplas camadas da
A força histórica da democracia é o estabelecer um elenco jamais população social e econômica em
seu caráter revolucionário em destruir conquistado de direitos políticos, relação de produção assalariada
os antigos regimes – aristocráticos ou sociais e econômicos. e em condições de trabalho que
ditatoriais. Nessa força histórica – o É o Estado da ação para a dignidade não as permitiam destinatárias ou
motor histórico, o espaço deixou de humana, da sua manutenção, da sua autoras plenamente de valores como
ser individualista e tornou-se público ampliação e da sua garantia. liberdade, igualdade e fraternidade
e coletivo. Nesse espaço, garante-se Com a República – 1889 inicia- e para as quais o sufrágio ainda
o privado. se uma nova fase constitucional de não representava uma forma de
O drama da democracia é incipiente democracia, denominada emancipação ou mesmo de melhoria
que o processo revolucionário da de República Velha, quando, até das suas condições de vida.
sua instauração conduz muitos então, o corpo eleitoral no Império O crescimento urbano, as zonas
revolucionários a condutas autoritárias era de 145 mil pessoas, menos de industriais, a produção e o comércio
e antidemocráticas. 1,5% da população de 10 milhões de racionalizado e realizado em série,
A democracia não é apenas um habitantes. ao invés de melhorar as condições
sistema institucional – ela é uma Com o 15 de novembro, os votantes dessas amplas e majoritárias camadas
realidade histórica que pode sofrer atingiram apenas 3,4% da população assalariadas, aumentavam seus níveis
retrocessos. do país (!). A miséria da República de miséria, as desigualavam do restante
Como garanti-la? votante foi revertida após 1946 e da minoria controladora do capital, e
Pela unidade e coesão, com atualmente (eleições de 2006), para a liberdade, para elas, significava a
base na cultura democrática que a população de 187 milhões, estão liberdade de serem exploradas.
é a autoconsciência individual e habilitados à cidadania sufragista Pa r a o s o p e r á r i o s , E s t a d o ,
coletiva daqueles que conquistaram 125 milhões de eleitores – ou 67% da democracia, representatividade e
a democracia. população! república eram valores alheios à
O objetivo da democracia, afirmou- É a maturidade da sociedade que sua condição de assalariados. Letras
se, é a emancipação humana – irá atingir o quinto processo eleitoral constitucionais, cujas conquistas
civilizatória – e a instauração do reino democrático, plenamente universal anteriores pareciam ter perdido a sua
do trabalho desalienado e apropriado em apenas 18 anos. atualidade.
pelo próprio produtor. Nos aspectos da democracia Era preciso uma nova república e
É a liberdade, igualdade e econômica e social, o Estado modelado uma nova democracia.
fraternidade concretizadas. em 1988 contém elementos inequívocos A democracia, agora ladeada com
Juridicamente, a sua concretização de uma democracia avançada – Estado- a república, tomava novos rumos
pragmática é o Estado Democrático providência, possui um sistema de após lutas políticas que resultaram
de Direito. saúde pública inigualável, observada em conquistas democráticas, sociais
O princípio está adotado a proporção recursos financeiros – e econômicas.
perenemente nas Cartas Magnas de população – serviços. A mortalidade Não é, igualmente, objeto dessa
muitos povos e, para o povo brasileiro, infantil é a mais reduzida da história dissertação analisar como foram
é cláusula inarredável na Constituição do país. A educação pública, laica, obtidas essas novas conquistas,
restauradora da democracia, de 5 de obrigatória e gratuita encontra-se em sendo exato que muitas delas foram
outubro de 1988. ritmo acelerado de universalização e concessões do Estado controlado
A cláusula afirma a dignidade qualidade. pela burguesia como forma de
humana fundante, a prevalência dos A democracia social e econômica reduzir o ímpeto revolucionário,
direitos humanos. – igualdade e distribuição de riquezas conciliar interesses ou melhorar a
Eles se efetivam na democracia, – jamais alcançou esse nível. produtividade, enquanto que muitas
natureza mesma do Estado brasileiro,     outras são resultados obtidos no seio
cuja ação política se dirige ao 2.10.  As conquistas econômicas, de lutas, sobretudo através das greves
homem. sociais e democráticas realizadas na Inglaterra, Alemanha,
No Estado Democrático brasileiro, contemporâneas – uma visão geral França e América do Norte e, não
instituído em 5 de outubro de 1988, poucas vezes, em conflitos armados.
o povo é o seu autor, ainda que O século XIX, como observado, A alfabetização, na Europa e Estados
indiretamente, mas exprimiu a Carta os é o período em que ocorrem duas Unidos, em grande medida, também
desejos e os anseios da imensa maioria, revoluções industriais e a ampliação resulta de política concessiva, assim

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 23



como o transporte coletivo, a higiene econômico e social, e os direitos
Controle Externo e Democracia
e a saúde pública. O analfabetismo políticos já afirmados mas não
prejudicava a produtividade, sendo realizados, é o principal legado que a
necessárias políticas sociais que, A primeira humanidade herda dos movimentos
alfabetizando, tratando da saúde e sociais de diferentes correntes do
higiene pública, visavam ampliar a conquista século XIX, as quais se podem
capacidade produtiva.
Paralelamente, a jornada de
civilizatória denominar, genericamente, como
movimento humanista.
trabalho, a vedação de trabalho a do homem é Para conquistar os direitos sociais
menores e gestantes, a regulamentação e econômicos, dos quais se destacam
do trabalho noturno, a duração semanal a da liberdade a jornada semanal e a duração da
do trabalho e o próprio direito de greve
são conquistas do operariado.
seguida da jornada diária, além de outros direitos
igualmente protetivos, o operariado
A jornada semanal foi obtida nos igualdade, a empreende movimentos políticos na
Estados Unidos após greve reprimida Europa e na América.
com violência, em Chicago, em 1º de qual se pode Os movimentos políticos
maio de 1886.
Pode-se afirmar que as relações de
denominar conscientizaram-se de que os direitos
econômicos e sociais somente podem
trabalho, submetidas à proteção do de conquista ser instituídos pela força normativa do
Estado, se transformaram também em Estado, e não através de conciliações
valores democráticos, como satisfação fundamental dos ou acordos.


de necessidades econômicas e sociais
da maioria da população.
homens. Desde então, cerca dos anos 1890,
o Estado, a princípio debilmente, mas
O operariado percebe também que logo impulsionado pelos movimentos
o sufrágio e a composição do governo sociais e políticos, deixa de ser
(ele compõe a maioria dos votantes tipicamente liberal e passa a intervir na
e da população), atributos novos da voltar a ser escravo. vida econômica e social, restringindo,
democracia do século XIX, podem ser A primeira conquista civilizatória ampliando e fiscalizando as relações
mecanismos de luta para obter novas do homem é a da liberdade seguida da de trabalho.
conquistas democráticas, sociais e igualdade, a qual se pode denominar O Estado-providência só irá
econômicas, através da participação de conquista fundamental dos homens. ressurgir na Europa em 1945, após
pacífica do povo na vida política. Ela, entretanto, não é absoluta. A a hecatombe mundial (a IIª Guerra
À medida que as conquistas sociais liberdade e a igualdade são relativas Mundial), enquanto que nos Estados
iam sendo obtidas, a maioria do no âmbito do trabalho e da economia, Unidos a política do New Deal é
povo também obtinha direitos que se enquanto o trabalho se mantiver numa desenvolvida após a crise de 1929.
convencionou denominar de direitos relação de subordinação ao capital. A outra consequência da IIª Guerra,
do homem ou direitos fundamentais. A sociedade liberal oferecia ao quanto aos direitos humanos, é que o
Vinte e cinco séculos foram burguês o direito de ser proprietário Estado é declarado constitucionalmente
trilhados, desde os escravos com a segurança da legalidade e a guardião dessas conquistas, mas ao
de Nabucodonosor, a revolta de isonomia mostrava-se insuficiente homem também se atribuem direitos
Espártaco, as insurreições camponesas para igualar os cidadãos naquilo que de autoproteção e de defesa contra o
da França e da Alemanha na Idade lhes é essencial: o suprimento das suas Estado.
Média, a escravidão da África, até necessidades econômicas e sociais na As dimensões novas da liberdade
que, restaurados os valores clássicos sociedade liberal. são: a dimensão política, como
e colocado o Homem no centro do A imparcialidade da lei e a participação ativa no Estado e no
Universo, em pleno Iluminismo segurança outorgada a todos eram controle da administração pública, e a
do século XVIII, se proclamasse apenas formais. Não cumpriam a dimensão individual, como afirmação
universalmente que “todos os homens concretização da liberdade e da da autonomia e do caráter humanístico
nascem livres e iguais em dignidade e igualdade. Em consequência, a do homem.
direitos”. fraternidade, como atributo real da Ao fim da década de 40, no século
Com a abolição da escravidão, solidariedade, era apenas palavra XX, estreita-se a relação entre os
entretanto, cria-se um verdadeiro lançada à Constituição, sem a direitos políticos, sociais, econômicos,
marco histórico – após a abolição (em concretização na sociedade. e se atribuem outros direitos
1888, no Brasil), a escravidão não mais O reconhecimento da realidade fundamentais, como a liberdade de
ressurgiria e jamais alguém poderia dos direitos humanos, com caráter opinião, a livre organização, o direito

24 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


de greve e manifestação, o voto o Estado Novo (1937 a 1945) instituem paulatinamente.
universal não-censitário, a proteção o Departamento Administrativo do A democracia atual, cuja proto-
do trabalho e a previdência, o direito Serviço Público, em 30.07.1938; os história é grega e hebraica (entre os
das minorias, das crianças, dos idosos, Institutos previdenciários (IAPC hebreus entendida como conjunção
dos deficientes, da família, e, ainda, – comerciários, em 1934; IAPB – de justiça e ética como modo de vida
do meio ambiente, da cultura e do bancários, em 1934; IAPI – industriários, e obrigação sagrada imposta aos
patrimônio histórico, para citar alguns 1936; IPASE – funcionários públicos, governantes), resulta de um processo
direitos fundamentais. em 1938). A Fundação Getúlio Vargas histórico cuja vertente é a democracia
O novo marco civilizatório é a Carta e o Serviço de Patrimônio da União moderna, constituída em 1789, e que se
das Nações Unidas e o fundamento são instituídos em 1944 e 1937, afirmara como princípio revolucionário.
jurídico de que os direitos humanos, respectivamente. As suas demais conquistas, perenes como
no plano geral, e os políticos, sociais e Na área econômica, são criados a liberdade, a igualdade, a solidariedade,
econômicos, nos planos particulares, o Conselho Técnico de Economia e são os direitos sociais do trabalho, da
são a construção constitucional e legal, Finanças (1937) e as Comissões de proteção do trabalhador, o direito à
a qual tem no Estado o seu guardião. Eficiência dos Ministérios (1938). greve, até os mais recentes – opinião,
Portanto, no cerne da democracia Destacam-se, ainda, o SESI e o SENAC, imprensa, intimidade, meio ambiente
atual, o trabalho assalariado e seu os Departamentos Administrativos ou aquelas conquistas abortadas, das
significado político ainda são o centro Estaduais (de controle). quais se mencionam a auto-gestão, os
dos direitos. Vargas aprofunda a reforma do conselhos e a socialização dos meios
Ressalte-se novamente a Estado e diagnostica (com esses de produção.
condição essencial de satisfação das instrumentos) a incompatibilidade A democracia, portanto, é
necessidades humanas (trabalho e entre a racionalidade administrativa consequência de um processo histórico,
salário, habitação, ensino, segurança, e a irracionalidade de política. cujas conquistas correspondem a
proteção e organização solidária) como Os valores democráticos, políticos, etapas históricas; foram obtidas por
o princípio sobre o qual se assentam a sociais e econômicos (que contribuem meio de lutas, nas quais as lideranças
liberdade, a igualdade e a fraternidade, decisivamente para o fim do Estado foram exercidas pelos movimentos
as quais serão reais e concretas quando Novo no Brasil) já não podem, no revolucionários; e está em constante
as necessidades estiverem atendidas. Ocidente, conviver com regimes não- processo. Também ocorreram retrocessos
No Brasil, o Estado-providência se democráticos, restando apenas duas que ultrapassam o imaginário histórico –
instaura com a Revolução de 1930. exceções: Portugal e Espanha. pesadelos, como o totalitarismo nazista,
Exemplo de direitos concedidos O conteúdo da democracia moderna, o regime fascista ou o estalinismo, na
são os direitos trabalhistas, sociais que se inicia revolucionariamente com Alemanha, Itália e União Soviética,
e previdenciários, instituídos no a conquista da burguesia francesa, é respectivamente.
Brasil em 1930, como programa de político – exercer o poder, separar os A democracia atual é representativa
uma revolução destinada a criar uma poderes e administrar o Estado. e também caracterizada pelos avanços
burguesia nacional. Aqui também se A democracia, atualmente, tem dos direitos. Eles medem a democracia.
inclui o sufrágio universal, direto e características diferentes daquela O sufrágio, a separação dos poderes, a
secreto e as recém-criadas organizações democracia liberal. O processo liberdade, a igualdade e a fraternidade
estatais e populares, com cunho histórico passou por novas etapas. são vertentes históricas inderrogáveis
colaborativo. Seu conteúdo é muito mais amplo e que constam em todos os estatutos
Além da criação da Justiça do – a soberania não é apenas formal nacionais dos países civilizados; o
Trabalho e da Justiça Eleitoral, a e passiva –, ela se dotou de outros catálogo atual é extenso e abrange os
Revolução de 3 de outubro de 1930 e valores, que foram sendo agregados direitos individuais e coletivos.

3. O controle e a democracia

A
democracia social e O novo papel fundamental do Paralelamente, como se renascidas,
econômica contemporânea, Estado como condutor e instaurador- as ideias de abrangência integral da
um ideal revolucionário, garantidor de conquistas democrático- democracia, presentes não apenas nas
como movimento histórico, sociais e econômicas. conquistas, mas na sua manutenção e
à medida que determinadas questões A função da administração pública na sua efetividade ou concretização,
se aprofundam no curso de lutas torna-se mais nítida na prestação de atribuem ao controle da administração
e conquistas, ganha um novo serviços, que são originados nessas (como ao controle do governo em
componente. conquistas. suas diferentes funções) um relevo

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fundamental. Embora o controle competência do controle externo. da efetividade das conquistas
Controle Externo e Democracia
externo não seja em si o condutor de Essa relação entre democracia democráticas, a sua legitimidade. É no
políticas públicas, é ele o fiscalizador e controle da administração é a âmbito da execução administrativa que
da legitimidade administrativa; o afirmação de que a administração o controle obtém relevância, criação
controlador também dos objetivos não deve ser apenas a expressão revolucionária moderna de 1789, e,
conquistados pela sociedade, valores democrática de conquistas, mas a sua contemporaneamente, integrante e
normatizados, cuja fiel observância efetividade. instrumento democrático da soberania
pelos administradores é também O controle essencial é o popular.

4. O controle do governo


4.1. O controle ético dos hebreus sobre os magistrados.
Aristóteles, na Política, assinala
Os registros mais antigos do que o princípio fundamental de
controle da administração pública Aristóteles, na uma forma democrática de governo
encontram-se na Bíblia hebraica ou é a liberdade. Segundo o filósofo, a
Torá (Pentateuco). Política, assinala opinião dominante somente pode ser
Certamente, povos da Antiguidade, que o princípio exercida nessa forma de governo.
como babilônios, persas ou hindus, Um dos princípios da liberdade
também conheceram, como os fundamental é o revezamento no governo – como
hebreus, mecanismos de controle de uma forma valor da democracia, pela aplicação
administrativo. da igualdade numérica – a maioria é
Os hebreus, no auge de sua democrática soberana. Se todos devem ser tratados
civilização, com o Estado organizado, de governo é a com igualdade, ensina Aristóteles, e
adotaram na religião normatizada como há mais pobres do que ricos, os
liberdade.


preceitos de ordem ética, sob o pobres possuem mais poder que os
formalismo e o rigorismo das regras ricos – a vontade da maioria é a vontade
religiosas, das quais já se destacou dos pobres, mais numerosos.
o prefácio histórico da democracia Outro princípio ensinado por
(anterior aos gregos), a imperiosidade estudiosos, sejam exatamente os Aristóteles é aquele em que o homem
da justiça, não apenas emanada dos profetas. livre deve viver livremente, segundo sua
reis-juízes, como também norma de Os profetas não discursavam vontade. Se assim não for, ele não é livre,
convivência. para o futuro, como já pensaram mas escravo. Os homens não deveriam
Os preceitos, entre os hebreus, e afirmaram muitos autores. Ao ser governados por outros homens, se isso
regram, nitidamente, quanto à contrário, seus discursos dirigiam- fosse possível. Mas, se assim é impossível,
administração, para o comedimento, a se, e de forma impetuosamente diz Aristóteles, no Livro VI, Capítulo I, da
parcimônia da classe dirigente estatal, lírica, aos acontecimentos cotidianos Política: “que eles se revezem no governo
a justiça e a fraternidade. que lhes eram contemporâneos – uns dos outros; e esta é a contribuição do
A ética na Bíblia hebraica, nesse riqueza concentrada, a opulência dos segundo princípio à liberdade baseada
aspecto, permite concluir que, governantes e da hierarquia religiosa, na igualdade”.
mesmo nos períodos históricos de o desregramento dos hábitos e da vida Esses os fundamentos, ou
maior abundância e riqueza – ocorre cotidiana e o acentuado helenismo princípios, a liberdade do homem e
com Salomão –, o rei deveria tratar da elite. o revezamento no governo. Com eles,
do tesouro estatal com os mesmos São os profetas o testemunho da Aristóteles classifica as características
critérios éticos normatizados aos quais inconformidade com os excessos e da democracia, das quais destaca:
devia obediência ao fazer justiça. exageros da vida pública ou privada e • eleição dos magistrados por todos
Os preceitos éticos preparam a com o descumprimento dos preceitos dentre todos;
vida cotidiana, não apenas na corte, ético-religiosos. • todos devem governar cada um,
na religião e na sua hierarquia, como   cada um deveria governar todos;
entre os habitantes, em sua maior  4.2 O controle democrático • a duração das funções públicas seja
parte compostos de camponeses e entre os gregos breve;
pastores. • um homem não possa exercer a
Notável que as figuras bíblicas A democracia ateniense, segundo mesma função pública mais de
hebraicas, hoje destacadas pelos Aristóteles, também incluía o controle uma vez ou com alguma frequência

26 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


(exceto certos cargos militares); das magistraturas constituem o políticas: adoção das novas leis,
• todos os juízes sejam escolhidos por maior de todos os poderes (...) declaração de guerra, conclusão
todos para todos os assuntos, ou, na enquanto para administrar os de tratados de paz ou de alianças.
maioria deles, para os assuntos mais dinheiros públicos, comandar os Os órgãos do que chamamos hoje
importantes; exércitos e exercer as magistraturas Poder Executivo eram, aliás, em
• os assuntos mais importantes, tais mais importantes, é preciso um Atenas, singularmente fracos: os
como a auditoria de contas, da sentimento elevado. principais dirigentes políticos, os
constituição e dos contratos privados É importante tornar dependente estrategos, deviam ter suas funções
são decididos na assembleia; o poder, e não suportar aqueles que confirmadas, todos os meses, pelo
• os magistrados não sejam soberanos dele dispõem e obrem segundo Conselho (Boulê).
sobre qualquer causa ou sobre umas os seus caprichos, porque a O regime da democracia direta
poucas; possibilidade de fazer tudo o que fazia ainda, em Atenas, com que a
• os magistrados, membros da se quer impede de resistir às más designação dos juízes se realizasse
assembleia, dos tribunais devem inclinações da natureza humana. por sorteio, e o povo tivesse
ser remunerados; Como certas magistraturas, competência originária para julgar
• nenhuma magistratura é vitalícia. para não dizer todas, têm o manejo os dirigentes políticos e os réus dos
Certamente, a expressão “auditoria dos dinheiros públicos, é forçoso principais crimes.
de contas”, acima, é uma tradução que haja uma outra autoridade Mesmo nos processos que se
relativamente livre (Política, edição da para receber e verificar as contas, desenrolavam perante os juízes
Editora Martin Claret, 2006 – a edição sem que ela seja encarregada oficiais, qualquer das partes tinha o
brasileira teve sua tradução cotejada com de qualquer outro mister. Os direito de recorrer da sentença para
a inglesa de Benjamin Jowet e a francesa magistrados que a exercem um tribunal popular (ephesis).
de M. Thurot). Está-se diante de uma são chamados controladores, A soberania popular ativa
característica da democracia, dentre examinadores, inspetores. completava-se com um sistema
outras, classificada por Aristóteles, ou Conclui o sábio e filósofo de de responsabilidades. Era lícito
seja, a auditoria de contas. Estagira que todos os ardis dos tiranos a qualquer cidadão mover uma
Era essa a prática? parecem caber na democracia. Para os ação criminal (apagoguê) contra
O exercício (setenta vezes ao legisladores e para aqueles que querem os dirigentes políticos; e estes,
ano) para assuntos relevantes da fundar um governo democrático, ao deixarem seus cargos, eram
democracia ateniense na Ágora e o principal e difícil trabalho não é obrigados a prestar contas de sua
as variadas e amplas atribuições da estabelecê-lo, nem a única tarefa. Trata- gestão perante o povo.
assembleia permitem indicar uma se, principalmente, de mantê-lo. Pela instituição do graphê
resposta positiva. São conselhos de Aristóteles. paranomôn, o cidadão tinha o
Aristóteles não apenas enunciou os Maquiavel, como Aristóteles, direito de se opor, na reunião da
tipos de democracia que observara nas também daria seus conselhos de como Ekklésia, a uma proposta de lei
cidades gregas, mas delas extraiu suas manter um governo. violadora da constituição (politéia)
características. O Capítulo II do Livro Fábio Konder Comparato, em da cidade; ou, caso tal proposta já
VI não parece apenas ser um conjunto A Afirmação Histórica dos Direitos tivesse sido convertida em lei, de
de classificações sobre as formas de Humanos, já referido, salienta: responsabilizar criminalmente o
democracia grega, mas também o Efetivamente, na vida política seu autor.
resultado de suas observações. ateniense, por mais de dois séculos Os comentários de Fábio Konder
Nesse aspecto, Aristóteles é um (de 501 a 338 a.C.), o poder dos Comparato levam a concluir a relação
cronista político da sua época e um governantes foi estritamente estreita, umbilical entre o controle
sistematizador da classificação dos limitado, não apenas pela soberania dos magistrados, exercido em Atenas,
tipos de governo e da enunciação das leis, mas também pelo complexo e o seu sistema democrático, embora
das características do exercício de um conjunto de instituições de nitidamente de governo, mas com
democrático. cidadania ativa, pelas quais o povo, instituições funcionais que permitiam
Observador e sistematizador da pela primeira vez na História, à assembleia na Ágora ouvir as
realidade abordada, Aristóteles ainda governou-se a si mesmo. contas obrigatórias e responsabilizar
assumiu a educação de Alexandre, Basicamente, a democracia os magistrados (a palavra “auditar”
incumbido por Filipe, quando ateniense consistiu na atribuição significa “ouvir”).
certamente lecionou ao famoso pupilo ao povo, em primeiro lugar, do A relação entre democracia e
algumas das lições que se tornaram poder de eleger os governantes e de controle da administração, exercida
perenes pelo seu classicismo. tomar diretamente em assembleia pelos magistrados na Grécia, é o
O exame das contas e a escolha (a Ekklésia) as grandes decisões próprio fundamento histórico que iria,

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 27


muito depois, no Ocidente, permitir a das atribuições do recenseamento, Desse elenco, verifica-se a
Controle Externo e Democracia
construção de instituições de controle avaliação de patrimônio e incumbências relevância dos poderes, a magnitude
da administração pública. financeiras, os censores, durante o do cargo.
De outro lado, Pinto Ferreira cita recenseamento, efetuavam devassa José Carlos Moreira Alves, por
que, em Atenas, havia uma Corte na vida pública e privada. O que era seu lado, classifica o censor como
integrada por dez oficiais, eleitos narrado na lectio senatus. A devassa se cargo republicano da magistratura,
anualmente pela Assembleia. referia aos anos posteriores ao último cujas características fundamentais
À Corte respondiam os arcontes, lustrem. são: temporariedade, colegialidade,
senadores, embaixadores, sacerdotes, Por meio da nota ou animadvercio gratuidade e irresponsabilidade do
comandantes de barcos e, perante ela, censoria, os censores podiam destituir magistrado. Colegiados, os censores
apresentavam a prestação de contas do membros do Senado, impedir o ingresso podiam, como os demais magistrados,
dinheiro recebido e do dinheiro gasto. no Senado de ex-magistrados (senatu vetar ato do colega pela “intercessio”
Quando as despesas não eram movere vel praeterire), excluir cidadãos (veto).
justificadas, a Corte aplicava penas, da classe dos equites, determinar A irresponsabilidade cessava com
como a proibição de testar e de exercer transferência de tribo (tribunus mutare o exercício do cargo e, como todos,
outra magistratura. iubere), e, por fim, excluir cidadãos da deviam prestar contas dos seus atos
O controle era também amparado comitia tributa. perante o povo.
nas características que Aristóteles A censura era uma punição grave A “potestas” era a competência
enumerou, as quais (prazo de exercício em Roma. de o magistrado expressar a sua
da magistratura, não exercício da Os censores eram considerados própria vontade como do Estado;
mesma magistratura, dentre outras) magistrados “sine imperio”, enquanto já o “imperium”, segundo Alves,
evidenciam a preocupação preventiva, que Roma conhecia também os era a personificação do Estado, a
provavelmente baseada na experiência magistrados “cum imperio”, dentre supremacia do próprio Estado – como
histórica, para não permitir também o esses os “praetores” ou “judices”, arregimentar tropas e comandá-las,
desvio dos dinheiros públicos. genericamente consulados, e o apresentar propostas nos comícios,
Da história da democracia ateniense “dictator”, literalmente, aquele que faculdade de deter e punir cidadãos e
se conclui sobre a íntima relação dispõe sem consultar, magistrado a administração da justiça.
entre democracia, responsabilidade e supremo de caráter extraordinário, Todos os magistrados possuiam a
controle dos magistrados. adotado desde o início do período “potestas”, nem todos o “imperium”.
republicano. Embora carecessem de Aos censores, atribuía a
4.3. O controle republicano “imperium”, eram uma verdadeira República somente a primeira. Alves
em Roma magistratura moral e, em muitos classifica os magistrados em três
aspectos, considerada a dignidade espécies: magistraturas patrícias ou
Na antiga Roma, o Senado tinha mais elevada que um cidadão romano plebeias, magistraturas ordinárias
também a incumbência de apurar a poderia aspirar. Normalmente, ou extraordinárias e magistraturas
responsabilidade dos que detinham as somente aqueles que já haviam sido maiores e menores.
funções da manipulação dos dinheiros cônsules eram eleitos para o cargo de O censor era um magistrado do
públicos. censor, o que demonstra a importância tipo de magistraturas maiores, ao
A censura era uma magistratura do cargo. lado do consulado, pretura, ditadura
romana patrícia, sine imperio, Suas atribuições, segundo e tribunato.
compreendendo dois censores, eleitos Giordani, eram as seguintes: “census”  
pela comitia centuriata dentre os – recenseamento quinquenal dos 4.4. O controle na idade média
senatores consulares. cidadãos, para reparti-los em centúrias  
A sua evolução levou a censura e tribos, segundo a idade, fortuna, Na Idade Média, foram criadas as
a uma magistratura importante, residência e condição; “regimen Câmaras de Contas, que integravam
investidos de potestas censoria, morum” – fiscalização dos costumes, o Conselho do Rei e cuja função
conferida aos censores mediante a podendo censurar os cidadãos cuja era controlar o tesouro real para o
lex centuriata potestade censoria. vida pública ou privada revelasse soberano.
Com isso, estavam revestidos de uma aspectos reprováveis. Era expedida a O tesouro (e mais, o Estado) se
dignitate não sujeita à vis maioris nota censoria, privando o cidadão dos confundia, na Idade Média, com a
potestatis nem ao jus intercessionis dos direitos políticos (“jus sufragii” e “jus pessoa do rei; este tinha a preocupação
tribunos da plebe. honorum”) “lectio senatus” – uma lista e o auto-zelo de proteger o patrimônio
Segundo Vandick Londres da de senadores reprovados moralmente, real, que era considerado pertencente
Nóbrega – História e Sistema do podendo ser excluídos ou declarados ao próprio rei.
Direito Privado Romano, ao lado indignos. Até então, na baixa Idade Média, a

28 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


ideia de um controle dos governantes A formalização mais antiga e Quando o novo governo, em
– não apenas dos seus gastos, mas conhecida das Casas dos Contos remonta assembleia, proclama a liberdade, a
dos atos políticos inclusive, era a 1389, com o Regimento dos Contos, o finalidade era instituir a liberdade de
uma incumbência do próprio rei ou qual será complementado por D. João I propriedade, como fundamento dos
príncipe, que se assistia de conselhos e D. Duarte, datados, respectivamente, demais direitos políticos. Somente
integrados pela realeza. de 28 de novembro de 1419 e 22 de aqueles que fossem proprietários
A inovação criadora e histórica março de 1434. e pudessem pagar a taxa de voto
de um corpo controlador, alheio aos Regulamentava-se a disciplina estariam habilitados ao direito ao
governantes, embora incluído no burocrática da atividade das finanças, sufrágio. A taxa era tanto mais elevada
governo, somente realizar-se-á a partir bem como se editava uma série de quando a etapa de sufrágio fosse
da Revolução Francesa. normas, bastante duradouras, sobre também superior à anterior.
Os países baixos, assim como conferência e recenseamento das As virtudes cívicas apregoadas
Portugal, tiveram experiências específicas cobranças da Coroa. pelos revolucionários, à primeira
de controle das finanças públicas. Isso Com D. Manuel, em 1514, e depois madrugada, no 4 de agosto, são
não exclui a Inglaterra, que, a partir com D. Sebastião, em 1560, fundem-se indissociáveis das virtudes privadas
da consolidação do Parlamento, a ele várias atividades no controle dos Contos dos homens. Uma delas era a
atribuiu funções de controle. do Reino. propriedade privada.
Cingindo-se à história do controle São essas as instituições que irão O artigo segundo da Declaração de
português, verifica-se que, após crise fazer surgir o Tribunal de Contas 1789 consagra:
financeira do século XIV, com a fixação de Portugal, na esteira de reformas Artigo 2. A finalidade de
do reino em Lisboa e a construção de financeiras face à complexidade das toda associação política é a
uma nova organização estatal, D. João finanças de Portugal. conservação dos direitos naturais
I consolida a organização financeira Por isso mesmo, a história oficial de e imprescritíveis do homem.
nacional, indissociável das questões Portugal considera que o nascedouro do Tais direitos são a liberdade, a
políticas. Tribunal de Contas lusitano remonta a 5 propriedade, a segurança e a
Entretanto, bem antes, já existiam de julho de 1389, quando se estabeleceu resistência à pressão.
as Casas dos Contos, certamente desde o mais antigo Regimento dos Contos A igualdade – formal, como
o reinado de D. Dinis, representando conhecido. comentada – ao lado da liberdade,
uma importante garantia de clareza    forma o novo ideário burguês do qual
e eficiência na gestão financeira, 4.5  O controle na o Estado é um ente político, a ele
anteriormente incumbida à Cúria Regia revolução francesa submetido, em contraste, uma vez
e, depois, aos ofícios do Conselho Real, mais, com o absolutismo e a realeza.
sempre sob a autoridade do rei. Durante a Revolução Francesa, O novo regime instituído colocou,
Os fatores novos são a progressiva ainda que não tenha instalado o órgão revolucionariamente, sob os limites
complexidade da administração de controle da administração pública, da legalidade absoluta, os novos
financeira, a localização da administração surge o primeiro fato político e histórico governantes. Estes limites impostos
régia em Lisboa e a distinção entre segundo o qual, com inscrição na aos governantes, que os aprisionam
finanças públicas e finanças da casa real Declaração Universal dos Direitos do à vontade legislada da Assembleia,
e determinam a autonomia crescente da Homem e dos Cidadãos, solenemente se constituirão, com Napoleão, com
organização financeira real. planetária, é clausulado o direito outros limites, no controle externo
O mesmo fenômeno vinha ocorrendo assegurado ao homem e ao cidadão técnico, o Tribunal de Contas –
em outros países da Europa que, aliás, de exercer o controle financeiro e produto essencialmente republicano
são anteriores: séculos XII e XIII (já tributário da administração pública. de controle dos governantes.
referidos). Ao derrubar o “ancien régime”, Na Declaração de 1789 se estatui,
A tendência é, portanto, uma os burgueses de Paris instauram pela vez primeira na História, o controle
autonomização das questões de gestão a República e, em contraste com da administração pública financeira
das questões de controle. o absolutismo, criam um Estado e tributária, como direito político
A criação dos Contos (existiu liberal. universal, tanto na determinação
uma na Vila Rica) é a demonstração A nova ordem estabelecida é da contribuição pública como a
dessa autonomização do aparelho essencialmente política, como já cobrança, fiscalização da arrecadação
do Estado e da sua funcionalização observado acima. Os direitos e exigência da prestação de contas dos
relativamente à separação da gestão conquistados – como a liberdade e a administradores.
entre finanças públicas e finanças reais igualdade – são direitos políticos e se São os direitos inscritos nos artigos
(estas entendidas como aquelas próprias distingue o homem civil (político) do 14 e 15 da Declaração:
da realeza). homem privado. Art. 14. Todos os cidadãos têm

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o direito de verificar, pessoalmente, consentimento para a cobrança da agente público, da mais alta dignidade
Controle Externo e Democracia
ou por meio de representantes, contribuição pública. ao mais modesto, está igualado na
a necessidade da contribuição A cláusula décima quarta também obediência à sociedade.
pública, bem como de consenti- contém o outro valor, surpreendente A cláusula também apresenta a
la livremente, de fiscalizar o seu para a época: fiscalizar o seu real concreção da liberdade (direito
emprego e de determinar-lhe emprego (das contribuições). Como de pedir) e da igualdade (a todo agente
a alíquota, base de cálculo, a na igualdade e liberdade, em relação público), situando a administração
cobrança e a duração. ao consentimento das contribuições pública como serviente e existencial à
Art. 15. A sociedade tem o públicas, o direito é atribuído aos sociedade. Quando o texto do artigo 15
direito de pedir, a todo agente cidadãos pessoalmente ou por meio usa o termo sociedade (e não cidadão),
público, que preste contas de sua de seus representantes. como no antecedente artigo 14, está se
administração. O controle externo do Poder dirigindo ao homem como ser social.
A conquista da burguesia iria Executivo estava finalmente erigido Prestar contas é exercício de
modificar a História. em valor-princípio inscrito na democracia, inspirada na Ágora e no
Nessas duas cláusulas declaratórias cláusula declarada e que iria servir direito romano (censores).
se comprova: de preâmbulo à primeira Constituição Fundem-se nos artigos 14 e 15
No art. 14, o valor igualdade, republicana francesa. todos os valores históricos apropriados
erigido em princípio declarado quando Normas de qualidade e acuidade pela burguesia no 14 de julho.
afirma a todos os cidadãos (certamente técnicas surpreendentes e com Re su mida m e n t e , o s a r t ig o s
os cidadãos ativos, para os quais a natureza funcional completam a 14 e 15 declaram aos cidadãos os
generalidade igualitária é uma das declaração: todos os cidadãos, em seguintes valores notáveis, históricos
bandeiras da Revolução Francesa) e igualdade e livremente, têm o direito e revolucionários, embora carecedores
lhes atribui um determinado direito, de fiscalizar o emprego e determinar- de aributos de direitos subjetivos,
que é o de verificar a necessidade da lhe a alíquota, a base de cálculo, a principalmente pela ainda ausência
contribuição pública. cobrança e a duração da contribuição de um órgão estatal de controle
Impressiona como os pública. São normas que se dirigem concretizador destes mesmos
revolucionários, lembrando a Carta diretamente à eficiência e eficácia valores:
Magna, também impuseram aos controlada, determinando-lhes o • direito de verificar;
governantes a limitação do poder de objeto no mais recôndito âmago da • p e s s o a l m e n t e o u p o r s e u s
tributar, exigindo que a cobrança dos atividade financeira e tributária do representantes;
tributos fosse aquela apenas necessária Estado. • a necessidade da contribuição
ao Estado. O artigo 14 é um real paradigma de pública;
A cada cidadão (democracia efetivação da liberdade, da igualdade, • consenti-la livremente;
direta e assembleísta – a razão do da solidariedade e da observância do • fiscalizar o seu emprego;
iluminismo – não colocada acima cumprimento do interesse coletivo • determinar-lhe a alíquota, a base de
dos sentimentos e da subjetividade) público, no sentido financeiro e cálculo, a cobrança e a duração;
é atribuído o direito de consentir e administrativo. • a sociedade tem direito de pedir;
fiscalizar. Verificar (direito individual) É paradigmamente uma norma de • a todos os agentes públicos
é consequência destes direitos; logo, direito administrativo e financeiro, que prestem contas da sua
também é racional. com clareza e funcionalidade jamais administração.
O direito também se exercia por alcançadas até então. Somente se A Revolução Francesa cria o direito
meio de representantes (a democracia pode deduzir a sua precisão como administrativo e financeiro como
indireta, por delegação). Os escrúpulos produto e consciência política normatizador de atividade financeira
e restrições sobre os quais Rousseau burguesa, como conhecedora de do Estado, tendo por fundamento a
havia teorizado estão presentes nas meios técnicos aprimorados para igualdade, a liberdade, a democracia
alternativas de democracia direta ou impor aos governantes, além dos e a legalidade. Institui também o valor
delegada. valores referidos, o princípio da estrita financeiro relativo à prestação de
Igualdade, democracia, legalidade financeira e tributária. contas, etapa última e indispensável
necessidade e, ainda, consentimento O artigo 15, seguinte, é consequência de atividade financeira estatal.
para a contribuição pública são direitos do direito de consentimento (a A atividade financeira é
liberais, individuais do homem e do soberania do cidadão) e do direito de essencialmente administrativa e
cidadão. fiscalização da contribuição pública. executada pelo agente público.
Soma-se ao valor igualdade o Ele atribui à sociedade o direito de Portanto, também se pode inferir estar
mais antigo anseio da humanidade pedir a todo agente público que preste nascendo o direito da administração
– a liberdade, mediante o livre contas de sua administração. Qualquer pública, este demarcado pela serviência

30 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


e existencialidade em relação à acontecimentos, que conduziram, das diferenças de voto entre os
sociedade e à estrita legalidade e menos de um ano após a cidadãos (art. 29), muito embora o
controle político. promulgação da Constituição art. 23 volte a falar em “soberania
Eram os mais novos produtos de de 1791, à guerra externa e à nacional”;
exportação da Revolução Francesa. queda da monarquia, provocou b) a proclamação de que “a lei
Em 1791, a nova Constituição, no fatalmente a cessação de vigência deve proteger a liberdade pública
Título Primeiro, art. 2º, como disposição daquela ordem constitucional. e individual contra a opressão
fundamental garantida, com natureza A Assembleia Legislativa, que dos que governam” (art. 9), sendo
civil e natural, acresce à Declaração havia sucedido à Constituinte que todo aquele, contra o qual se
o direito à repartição igualitária de 1789, decidiu, pois, convocar pretender executar pela violência
(princípio de justiça tributária e nova Assembleia Constituinte, uma medida arbitrária, tem o
financeira) dos tributos entre todos que tomou o nome de Convenção, direito de repeli-la pela força (art.
os cidadãos, na proporção de seus por influência do exemplo norte- 11);
recursos (proporcionalidade). americano. Já nas eleições para c) a afirmação de que a
“Art. 2. Que todos os tributos a composição dessa assembleia insurreição do povo contra os
sejam repartidos entre os cidadãos de ficou patente a predominância do governantes que violam os seus
modo igual, na proporção dos seus espírito democrático: aboliram-se direitos é “o mais sagrado dos
recursos.” o sufrágio censitário e a distinção direitos e o mais indispensável dos
Em 1793 (Ano I), pouco tempo entre cidadãos ativos e passivos. deveres” (art. 35).
após a Constituição de 1791, No dia de instalação dos O art. 20 da Declaração de 1793,
acontecimentos históricos levaram trabalhos da Convenção (21 de nesse contexto político inteiramente
à queda da monarquia (a monarquia setembro de 1792), os deputados novo, de reafirmação da soberania e
ainda continuava existindo) e à guerra decidiram, por unanimidade, dos direitos do povo, ratifica os artigos
externa. extinguir a monarquia e instituir 14 e 15 de 1791.
A nova Assembleia, sob a o regime republicano. Na mesma Art. 20. Nenhum tributo pode
denominação de Convenção (por sessão, proclamaram que “não ser estabelecido, a não ser por
influência norte-americana), foi pode existir Constituição que não razões de utilidade geral. Todos os
escolhida em clima de ampla disputa seja aceita pelo povo”. cidadãos têm o direito de concorrer
entre os girondinos e os jacobinos. Os (...) ao estabelecimento de tributos, de
primeiros eram adeptos do sufrágio e Chegou-se, finalmente, a uma fiscalizar o seu emprego e exigir
propugnavam manter o espírito liberal solução de compromisso, mediante uma prestação de contas.
de 1789, com os direitos individuais concessões mútuas. O texto final, Comparativamente, o texto do
sobrepostos aos direitos sociais. porém, mais retórico do que os artigo 20 da Declaração dos Direitos do
Os jacobinos, com facções radicais das declarações anteriores, não Homem e do Cidadão da Constituição
e já sob influxo da crescente miséria ficou isento de contradições e de 1793 é claramente não técnico.
da população urbana, propunham imprecisões de linguagem. Em Não usa a expressão contribuição
a adoção do texto elaborado por particular, a distinção entre os pública e sim tributos (cuja origem
Robespierre, com o reconhecimento direitos do homem e os do cidadão vem de “tributs” – parte de um povo,
amplo de direitos sociais e a declaração perdeu a nitidez que tinha na e de “distribuere” – distribuir entre
do caráter ordinário do direito de declaração de 1789. as tribos, daí o caráter solidário do
propriedade e não mais divino (como A declaração de direitos da tributo.
em 1789). Constituição de 1793, de modo Também não se refere mais às
Há algumas inovações em matéria geral, limitou-se a enfatizar o necessidades, substituindo-a por
de direitos políticos, como a abolição conteúdo das declarações utilidade pública, aprimorando a
do voto censitário, o direito de anteriores. Contrariamente funcionalidade, já que necessidades
insurreição, soberania popular e o à opinião tradicionalmente são um conjunto de carências,
direito de defesa contra a opressão dos estabelecida, ela não representou individuais e coletivas, públicas ou
que governam. avanço algum em matéria de privadas. Os tributos destinam-se às
Todavia, em 1793 a Declaração direitos sociais, em comparação carências individuais ou coletivas
perde a nitidez entre os direitos do com a Constituição de 1791. Dentre com natureza pública, assim eleitas
homem e do cidadão. as poucas inovações do texto de pela lei.
Fábio Konder Comparato analisa 1793, salientam-se: A Declaração de 1793 ratifica o
as condições políticas da época da a) o reconhecimento de que direito do cidadão de concorrer ao
seguinte maneira: a soberania política pertence ao estabelecimento dos tributos como
A precipitação dos povo (arts. 25 e 26), com a abolição valor representativo da democracia,

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afirmação novamente da igualdade depreende, por inferência, dos arts.
Controle Externo e Democracia
entre os homens. 3 e 9 da declaração de deveres da
Além de concorrer para o Constituição de 1795.
estabelecimento (criação ou Em 1848, Cumpre, ademais, ressaltar que,
instituição) dos tributos, a Declaração nessa declaração de deveres, as
de 1793 atribui aos cidadãos: restaurada a virtudes privadas são consideradas
• fiscalizar o seu emprego; indissociáveis das virtudes cívicas
• exigir uma prestação de contas. monarquia, (art. 4), e a garantia da propriedade
A Constituição de 1793, entretanto, privada é apresentada como o
não chegou a ser aplicada. outro cenário fundamento da cultura agrícola,
A realidade da guerra contra de “todas as produções, todos os
as potências monárquicas exigiu de ameaça meios de trabalho e de toda ordem
um governo provisório, de caráter social” (art. 8). É a consagração
republicano. O Poder Executivo estava aos ideais constitucional explícita da ordem
atribuído à Assembleia, que, mediante privatista burguesa e do sistema
comissões de deputados, dirigia as de 1789 está capitalista de produção.
questões de Estado. Duas se destacaram: O artigo 16 da Declaração de 1795
configurado.


comissões de governo e as de salvação dispõe:
pública, essa última liderada por “Art. 16. Todo tributo é estabelecido
Robespierre, cujos poderes tendiam em razão da utilidade geral; ele deve
rapidamente à exceção, instaurando o ser repartido entre os contribuintes, em
período do “terror”. Entre os direitos fundamentais já função dos seus recursos”.
Em 27 de julho de 1794 (9 do não se incluem nem o de “resistência A Declaração de 1795 é um
termidor do ano II), um golpe de estado à opressão”, nem as liberdades de retrocesso em relação às Declarações
aprisiona e executa Robespierre. A opinião, de expressão e de culto, anteriores. Erige-se em normas e valores
resposta veio em 21 de março do ano nem tampouco os direitos sociais distribuídos entre direitos e deveres,
seguinte (1º de germinal do ano III), consagrados nas declarações alguns fundamentados em ensinamentos
protagonizada pelos “sans-culottes”. anteriores: o direito ao trabalho, à religiosos ou escolásticos: os artigos 3,
Do conflito das ruas de Paris e assistência pública e à instrução. 4 e 5 (notadamente), nos quais figuram
do clamor popular, nasce uma nova Considera-se inexistente a “garantia conceitos subjetivos que parecem
Constituição, na qual está definida social”, “se a divisão dos poderes não extraídos de manuais de catecismo – as
a hegemonia burguesa, liderada na é estabelecida, se seus limites não palavras também parecem retiradas
Assembleia pelos girondinos. são fixados e se a responsabilidade de preces, com sentido moral alheio
Diz Comparato: dos funcionários públicos não é à racionalidade de 1789: “corações”,
A nova Carta política, assegurada”. Na mesma linha da “bom filho”, “bom pai”, “bom amigo”,
promulgada em 22 de agosto de 1795, limitação de poderes, considera-se “bom irmão”, “gravadas no coração”
já não fala em soberania popular, crime que o cumprimento de uma e outras (“não façais a outrem o que
preferindo uma fórmula neutra: pena redunde em sua agravação não quiserdes que se faça a vós”), que
a “universalidade dos cidadãos”. (art. 13). são tipicamente paulinas ou do Novo
Ao mesmo tempo, são reforçados A ideia de uma declaração de Testamento.
os mecanismos de separação e deveres, inaugurada pela Constituição Não por acaso, em 1793, o
controle dos Poderes estatais. Ou francesa de 1795, é conceitualmente preâmbulo abandona o laicismo das
seja, o novo modelo teórico é dado criticável. Em primeiro lugar, quem outras Declarações para dizer: “o povo
por Montesquieu, e não mais por diz direitos reconhece, por via de francês, em presença do Ser Supremo...”,
Rousseau. lógica consequência, a existência como que reimpondo o caráter divino do
É nesse espírito que é vazada de deveres correlatos. No caso governo.
a declaração de direitos, agora dos direitos humanos, os deveres Em 1848, restaurada a monarquia,
completada por uma declaração de correspondentes são do Estado e outro cenário de ameaça aos ideais de
deveres dos cidadãos. A organização também dos particulares. Por outro 1789 está configurado.
das matérias é mais sistemática e lado, como os direitos humanos são O descontentamento com o reinado
a redação, mais concisa e precisa sempre pretensões dirigidas contra de Luiz Felipe de Orléans (no trono
do que na declaração de 1793, quem detém uma posição de força desde 1830), agravado pelas colheitas
mas muitos artigos expressam ou poder, não faz sentido falar em frustradas de 1846/1847, que provocara
definições doutrinárias e não normas direitos humanos do Estado (ou da miséria e fome entre os camponeses,
jurídicas. pátria) contra os indivíduos, como se acarretou uma revolta popular em

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Paris, que se inicia em 23 de fevereiro dos encargos na proporção de sua desenvolvimento das instituições
de 1843. fortuna...”. holandesas, que,  além desse aparelho
Visava a revolta a derrubada do rei e Enquanto trata da redução das administrativo especializado, ainda
a reinstauração da república – segundo despesas públicas e dos impostos, fez aportar em Pernambuco um grupo
o modelo de 1792/1793. Instala-se um o texto mantém-se em paradigmas de  cronistas e pintores, comprovando
governo provisório (com um ministro conceituais subjetivos e doutrinários o nível de civilização alcançado na
operário – Albert, fato inédito até então) da anterior Constituição, onde figuram Holanda, a qual, além disso, dispunha
e são convocadas eleições gerais para as expressões “amar a Pátria, Família, de uma sociedade tolerante e de
uma nova assembleia constituinte. Propriedade e Ordem Pública”. convivência pacífica entre distintos
O eleitorado camponês, Positivamente, entretanto, é a grupos religiosos.
tradicionalmente conservador, que se primeira Constituição da França a Todavia, a história do controle
apresenta em grande número, votou pela afirmar solenemente, no art. II, o valor externo brasileiro se desenrola no final
ordem e segurança. Os republicanos democrático. do segundo império e se consolida com
moderados passam a deter a maioria das “A República francesa é democrática, a proclamação da república.
cadeiras; ainda assim, na Constituição una e individual”.  
de 1848, embora o seu liberalismo (que Estava consolidada, de 1789 a 1848, 4.7 O controle externo no Brasil
se traduz na redução intervencionista a cláusula da Declaração que afirmava a republicano
e financeira do Estado e a exclusão todos o direito, como homem e cidadão,
constitucional dos direitos trabalhistas), assegurado: O controle externo surge no Brasil
há um certo compromisso com o futuro • verificar a necessidade de tributos; em 7.11.1890; portanto, nos albores da
Estado do bem-estar social, no seu • fiscalizar a sua aplicação; República nascente, com o Decreto nº
artigo 13. • exigir a prestação de contas dos 966-A, criando o Tribunal de Contas,
No campo dos direitos individuais e agentes públicos da administração. de autoria de Ruy Barbosa à época,
políticos, é abolida a pena de morte para Nascia para os países do Ocidente Ministro da Fazenda.
crimes políticos (art. 5º) e restaurada o controle da administração pública, No IIº Império registra-se a
a convenção de 1793, que abolia a valor histórico que demarca a evolução primeira tentativa de criação de um
escravidão em terras francesas (art. 6º). da humanidade na sua trajetória Tribunal de Contas, cujo modelo seria
É, portanto, uma Constituição híbrida, civilizadora. Valor, agregue-se, o Tribunal de Contas da França ou
entre liberal e avanços de direitos democrático e humano. dos equivalentes da Bélgica e Itália.
humanos e políticos, compromissada A etapa histórica seguinte seria a Esta frustrada tentativa, de autoria
entre o passado e o futuro. criação de Tribunais de Contas, como dos Senadores do Império Visconde
O preâmbulo declara que a controle da administração pública, mas de Barbacena e José Inácio Borges, em
Assembleia está em presença de Deus, situado externamente a ela. Por esta 1826, é o primeiro marco histórico do
e o art. I proclama: razão, o controle é externo. Tribunal de Contas do Brasil.
Art. I – A França constitui-se em Ainda em 1845, Manoel Alves
República. Ao adotar esta forma   4.6. O controle externo no Brasil B r a n c o p r o p ô s a o Pa r l a m e n t o
definitiva de governo, ela tem por novo projeto, também frustrado no
objetivo caminhar mais livremente Os registros de uma Câmara de Legislativo.
na via do progresso e da civilização, Contas no Brasil, quando da ocupação Posteriormente, nova tentativa,
assegurar uma repartição sempre holandesa chefiada por Maurício de mais uma vez resultando em insucesso,
mais equitativa dos encargos Nassau, tem importância histórica de autoria de Pimenta Bueno, Silveira
individuais e das vantagens da relevante, porque revelam a existência Martins, Visconde de Ouro Preto e
sociedade, aumentar as facilidades de uma atividade controladora sobre o João Alfredo.
de vida de todos pela redução governo do ocupante, quanto às suas O Império do Brasil não dispôs
gradual das despesas públicas e despesas e atividades. de um órgão independente com
dos impostos, bem como fazer com Trata-se de um modelo obviamente atribuição de controle externo.
que todos os cidadãos, sem nova adotado nos países baixos, cuja curta O Decreto nº 966-A, de 7.11.1890,
comoção, pela ação sucessiva e duração na terra ocupada não resultou também não teve execução, mas a ideia
constante das instituições e das leis, em nenhuma influência na futura e e o prestígio do autor – Ruy Barbosa,
acedam a grau sempre mais elevado republicana criação do Tribunal de na envergadura do cargo que então
de moralidade, de luzes (lumières) e Contas brasileiro, mesmo porque não exercia, Ministro da Fazenda – foram
de bem-estar. se tratava de um país independente que essenciais para a institucionalização
No art. VI, dentre outros, declara-se, fora invadido e ocupado, mas colônia da constitucional na primeira Carta
para servir à República e amar a Pátria, coroa portuguesa. republicana de 1891.
que os “cidadãos devem (...) participar O fato vale por demonstrar o notável O artigo 89 da primeira Carta

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republicana dispunha: Diploma Magno com nítida influência o Tribunal de Contas, e, em seu
Controle Externo e Democracia
É instituído um Tribunal de social-democrática determinava: artigo 77, eleva suas competências,
Contas para liquidar as contas Artigo 39. É mantido o Tribunal demonstrando a necessidade destas
da receita e despesa e verificar de Contas que, diretamente ou Cortes e o prestígio institucional
a sua legalidade, antes de serem por delegações organizadas de de um ente assimilado à estrutura
prestadas ao Congresso. acordo com a lei, acompanhará a estatal, não mais apenas republicana,
Liquidar as contas da receita execução orçamentária e julgará presidencialista, mas também
(dos ingressos que aportam aos as contas dos responsáveis por democrática.
cofres públicos como patrimônio) dinheiro ou bens públicos. O artigo 77 da Carta de 1946
e da despesa (a saída de recursos A novidade da Carta de 1934 é a prescrevia em seus incisos:
financeiros) é técnica eminentemente permissão ao Tribunal de Contas para I – acompanhar e fiscalizar
de registro de contabilidade pública. criar delegações, medida racionalizante diretamente ou por delegações
Verificar a legalidade das contas, e modernizante para a descentralização criadas em lei, a execução do
contudo, implica juízo de valor como do controle, atribuindo-lhe mais orçamento;
prestação judicialiforme, realizada eficiência e eficácia, assim como II – julgar as contas dos responsáveis
por um órgão cuja denominação, para antecipando a economicidade. por dinheiro e outros bens públicos,
polêmica permanente, nasce com o De outro lado, a Constituição e a dos administradores das
nome de Tribunal. de 1934, acertadamente, substitui entidades autárquicas;
Contas prestadas de receita e a limitada técnica contábil de III – julgar da legalidade dos
despesa, como já observado, liquidar receitas e despesas por contratos e das aposentadorias,
referem-se ao relato ou relatório acompanhamento da execução reformas e pensões.
da desincumbência do mandatário orçamentária. As Cartas outorgadas de 1967 e
outorgado para as competências a ele Isso tinha significado de atribuir 1969 (esta sob denominação mascarada
atribuídas. ao Tribunal de Contas atuação da Emenda nº 1) diminuíram
A verificação de legalidade é, sem constitucional permanente ao sensivelmente as competências do
dúvida, o aspecto de competência do longo dos exercícios financeiros, de Tribunal de Contas.
nascente Tribunal de Contas mais forma rotineira, como controlador Produziram, entretanto, alguns
importante e de relevo constitucional constante dos atos de execução das avanços técnicos, notadamente
na história do Tribunal de Contas no leis orçamentárias. no controle orçamentário, com
Brasil. E, pela vez primeira, fixa a extinção do controle prévio ou
Antes de serem prestadas contas ao competência ao Tribunal de Contas acompanhamento orçamentário,
Congresso Nacional, após a liquidação para julgar as contas dos responsáveis adotando o sistema de auditorias
e a verificação de legalidade, traduz por bens e dinheiros públicos. financeiras e orçamentárias.
procedimento constitucional e que irá A utilização do termo “julgar” se O incisivo autoritarismo dessas
se refletir na adequada conceituação tornará a terceira questão polêmica na Cartas reduziu drasticamente
da natureza do Tribunal de Contas, definição da natureza desse órgão, ao a independência do Tribunal de
tormentosa e polêmica, como a própria lado da denominação e da prestação Contas, dando, inclusive, poderes
denominação – Tribunal – do órgão de de contas ao Parlamento com o parecer ao Presidente da República para
controle externo. do Tribunal. determinar a execução de ato sustado
O Decreto nº 1.116, de 17.12.1892, A Carta autoritária de 1937, em pelo Tribunal de Contas.
antecipa o texto constitucional futuro, seu artigo 144, manteve o Tribunal de O modelo de Tribunal de Contas
possibilitando o início das atividades Contas, com as mesmas competências, que, inicialmente, se assemelhava ao
do Tribunal. mas acrescidas do julgamento dos da Bélgica (controle prévio), a partir
Sucessivas reformas aprimoraram contratos firmados pela União. de 1946 aproximou-se sobremaneira
a organização do Tribunal de Contas, A declaração do artigo 144 durou do Tribunal italiano, evidenciado
realizadas em 1911, 1918 e 1922. apenas até 1938, quando o Estado mais ainda em 1967 e 1969, embora as
Constitucionalizado e em Novo, já instaurado desde novembro restrições quanto à independência.
funcionamento, o Tribunal de de 1937, cerceou o Tribunal de Contas Em 1975, através da Lei nº 6223, de
Contas consolidou-se e integrou em da União e por igual os estaduais, que 14 de julho, pacificou-se a controvérsia
definitivo a estrutura organizacional vinham sendo criados, como o do Rio sobre a fiscalização financeira que
do Estado brasileiro, republicano e Grande do Sul, em julho de 1935, os Tribunais de Contas exerciam
presidencialista. por decreto do interventor Flores da sobre “as entidades públicas com
A Constituição de 1934, em seu Cunha. personalidade jurídica de direito
artigo 39, reafirmava a importância A redemocratização de 1945, com privado, com capital majoritário da
do Tribunal de Contas. O primeiro a Constituição de 20.9.1946, restaura União, Estados, Municípios, Distrito

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Federal ou a qualquer entidade da quanto à legalidade, legitimidade, Poderes e Instituições de Estado,
respectiva administração indireta” economicidade, aplicação das harmônicos e independentes, mas
e sobre “as fundações instituídas ou subvenções e renúncia de receitas, colaborativos – é o representante
mantidas pelo Poder Público”. será exercida pelo Congresso eminente do povo, não apenas
Ocorria que, desde o Decreto-Lei nº Nacional, mediante controle na função primeira de elaborar o
200, de 1967, a União regulamentara externo, e pelo sistema de controle estatuto do Estado e da Sociedade,
a administração pública central e interno de cada Poder. mas também na função não
descentralizada, adotando critérios Parágrafo único. Prestará menos importante de fiscalizar
de planejamento e controle interno da contas qualquer pessoa ou a administração pública direta e
administração pública. entidade pública que utilize, indireta.
A criação de empresas estatais, arrecade, guarde, gerencie ou São conteúdos fiscalizatórios:
a conceituação legal de entes administre dinheiro, bens e • c o n t á b i l – n ã o a p e n a s n a
indiretos privados e a sua crescente valores públicos ou pelos quais contabilidade pública, mas também
multiplicação, no que se denominava a União responde, ou que, em na privada, porque o universo
de Estado gerencial, exigiram uma nome desta, assume obrigações abrangido pela fiscalização
determinação legal rígida, firmada na de natureza pecuniária. contábil compreende os entes de
Lei nº 6223/75, cuja iniciativa resultara O dispositivo inicia a Seção direito público (administração
da competência em matéria financeira IX (e última) do Capítulo I – Do direta, autarquias e fundações
instituída pela Emenda nº 1, art. 8º, Poder Legislativo (Título IV – Da com natureza pública) e os entes
XVII, letra “c”, segunda parte. Organização dos Poderes). de direito privado (sociedades
Também importante ressaltar Trata-se da derradeira competência de economia mista, empresas
que nessa quadra todos os Estados já constitucional atribuída ao Poder públicas e fundações estatais com
dispunham de Tribunal de Contas, Legislativo, exercida por ambas as natureza privada). A finalidade é
fiscalizando a administração estadual Casas. a verificação dos registros e sua
e municipais respectivas. Determina o dever-poder de confiabilidade, bem como servir
Algumas capitais de Estados – Rio fiscalização, exercido pelo Congresso de base para as demais funções de
de Janeiro, São Paulo, Salvador – tinham Nacional, mediante controles fiscalização;
seu Conselho de Contas próprio. Porto externos e internos. • financeira – a atividade financeira,
Alegre teve o seu instalado, com Qual o significado de fiscalização, como observado, destina-se a obter
efêmera duração, porque então, a exercida mediante controle? recursos que ingressam no Estado
partir de 1964, já estavam vedados, A fiscalização é um meio sem condição no passivo e serão
mantidos os existentes. O de Porto de verificação que não possui a utilizados para a satisfação das
Alegre foi declarado inconstitucional amplitude do controle. Controle é o necessidades públicas, coletivas
na Corte Suprema. gênero de fiscalização. ou individuais;
Alguns Estados também possuem A fiscalização sediada no Poder • orçamentária – trata do planejamento,
Tribunal de Contas dos Municípios Legislativo, exercida mediante elaboração, normatização e
– como o Estado da Bahia – também controle externo e, portanto, em execução orçamentários. São as
vedados desde 1964. bases técnicas, é de natureza política peças fundamentais da atividade
Em 1988, o modelo vigente, com no sentido finalístico. Controle financeira do Estado – prevendo as
a ampliação das competências e externo ou interno, de outro lado, é receitas e determinando as despesas.
a independência e autonomia eminentemente técnico, ainda que São três: Orçamento Anual ou
restabelecidas, voltou-se para o modelo ambos tenham a mesma matriz de Fiscal, Orçamento Plurianual e Lei
italiano mesclado com o Tribunal de dever-poder. de Diretrizes Orçamentárias;
Contas da França. Ao atribuir ao Poder Legislativo • operacional – introduzida na Carta
   o exercício da competência de 1988, a fiscalização operacional
4.8 O controle externo na fiscalizatória no elenco que enumera, se dirige essencialmente aos atos
Constituição de 1988 a Constituição, na primeira parte do e fatos da administração pública e
artigo 70, demonstra-se coerente com objetiva aquilatar o cumprimento
Dispõe o artigo 70 e seu parágrafo o princípio do Estado Democrático de normas que determinam as
único da Constituição Federal: de Direito, que institui em 5 de ações estatais. Como inovação
Art. 70. A fiscalização contábil, outubro de 1988. constitucional, é instrumento de
financeira, orçamentária, Na tradição das Constituições avaliação e aprimoramento de
operacional e patrimonial anteriores, ainda que não tenha tão tarefas executivas;
da União e das entidades da alargada a competência, o Poder • patrimonial – a mais antiga das
administração direta e indireta, Legislativo – preeminente entre os ações fiscalizatórias, junto com

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a financeira, tem por objeto os Ministério Público e Tribunal de
Controle Externo e Democracia
bens que compõem o patrimônio Contas, nos níveis federativos
público – não apenas imobiliários, respectivos.
também dinheiros, títulos e valores. O “auxílio” O parágrafo único do artigo 70
Também se dirige aos bens móveis prestado pelo nomina o universo dos que prestam
permanentes e de consumo. contas: qualquer pessoa física ou
Ao qualificar a fiscalização com Tribunal de Contas entidade pública e as ações das quais
o advérbio “quanto” no caput do da União não é a é devida a prestação de contas.
artigo 70, a Constituição impõe Dispõe ele:
três princípios à ação fiscalizatória: única competência, Parágrafo único. Prestará contas
legalidade, legitimidade e embora mais qualquer pessoa física ou entidade
economicidade, além dos objetivos pública que utilize, arrecade,
fiscalizatórios de aplicação das relevante; outras guarde ou gerencie dinheiro, bens
subvenções e renúncia de receitas. competências se e valores públicos ou pelos quais
• legalidade – a fiscalização quanto a União responde, ou que, em
à legalidade, aliás, incluída no elencam para o nome desta, assume obrigações de
caput do artigo 37, que rege a Tribunal de Contas. natureza pecuniária.


Administração Pública, não se As operações citadas – utilize,
limita a fiscalizar o cumprimento arrecade, guarde ou gerencie –
da estrita legalidade, mas da abrangem, propositadamente, a
concordância com o espírito da administração pública direta e
lei, como conformidade aos demais se, conforme o artigo 37, caput, aos indireta, inclusive, na última, quando
princípios constitucionais e que princípios de legalidade, moralidade, for pessoa de direito privado. É a
compõem o interesse público – publicidade, impessoalidade e razão do termo “gerencie”, definição
garantia normativa dos direitos eficiência, além dos enunciados típica da atividade privada. Mas o
fundamentais; princípios incluídos nos incisos do elenco de operações é meramente
• legitimidade – é a fiscalização artigo 37 – v.g., licitação, concurso enunciativo – não clausulado, porque
da ação administrativa na sua público, responsabilidade civil, além outras operações financeiras ou
adequação e conformidade com o dos demais princípios aplicáveis (v.g. ações administrativas, cujo elenco é
sistema jurídico; igualdade, informação) explícitos ou amplo, também se inserem no rol de
• e c o n o m i c i d a d e – r e l e v a n t e implícitos. atividades fiscalizadas.
objeto de fiscalização, com Na fiscalização determinada pelo Aos entes federados mencionados,
ênfase na eficiência (como na artigo 70 da Carta Federal imbrica-se, também se aplica o parágrafo único do
operacionalidade), atento ao e com ela é conexa, a ação integral da artigo 70, face à simetria federativa,
princípio da proporcionalidade e administração pública, cujo fim é a imposição constitucional cogente em
razoabilidade, excede os limites realização dos direitos humanos. razão de modelo obrigatório adotado
do custo-benefício da economia Observa-se, por igual, que o disposto na Carta de 1988.
privada, para avaliar os resultados no artigo 70 é modelo obrigatório, em De outro lado, como auxílio ao
pretendidos e os obtidos segundo razão da simetria federativa adotada controle externo, dispõe o artigo
os princípios financeiros – dos em 1988, para as Cartas Estaduais, 71 da Constituição de 1988: “Artigo
quais sobressai a satisfação das ou seja, a fiscalização atribuída como 71. O controle externo, a cargo do
necessidades públicas. dever-poder ao Congresso Nacional é Congresso Nacional, será exercido
• aplicação de subvenções é a também dever-poder das Assembléias com o auxílio do Tribunal de Contas
utilização de dinheiros públicos Legislativas, Câmaras Municipais da União (...)”
(que são transferidos sem retorno) e Câmara Legislativa do Distrito Segue-se no texto constitucional o
com as condições que a legislação Federal. elenco de competências do Tribunal
lhes impõe. Em resumo, como O objeto da fiscalização dos entes de Contas da União, impositivo para
na renúncia de receitas, trata- federados são, respectivamente, as as demais Cortes de Contas, no que
se de fiscalizar a administração administrações públicas estadual, couber, em cumprimento ao artigo
financeira, sob os mesmos municipal e distrital, sob os mesmos 75 e seu parágrafo único.
princípios enunciados no artigo princípios referidos e no elenco O “auxílio” prestado pelo Tribunal
70, da C.F. de 1988. fiscalizatório determinado pelo de Contas da União não é a única
Além dos princípios referidos artigo 70. competência, embora mais relevante;
no artigo 70, impende salientar que A administração pública, como outras competências se elencam para
a Administração Pública submete- observado, expande-se nos Poderes, o Tribunal de Contas. 

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5. Conclusões

A
democracia é um processo liberdade e solidariedade, e, após, com primeiro lugar, o julgamento de contas
histórico e dialético no qual a Comuna como conquista de direitos do chefe de poder executivo. Mas a ele,
os pólos de contradição sociais e econômicos. Tribunal, confere o Estatuto Político
opõem o poder, de um lado, As ideias socialistas germinam, outras competências que são alheias
e o povo, de outro lado. com os anarquistas e marxianos, às funções de colaboração com o poder
Neste trabalho, optou-se por na superação das contradições de legislativo.
abordar inicialmente a concepção classe, na eliminação da propriedade A função constitucional do controle
democrática, enquanto ética, solidária privada dos meios de produção e externo da administração pública
e de justiça social entre os hebreus, da teoria da república democrática, possui dupla ordem de competências.
originada de uma concepção religiosa- com o poder centrado sobre o poder A função de controle está atribuída
normativa segundo a qual o rei deveria legislativo e os conselhos, cujas ao Congresso Nacional e, também, ao
ser justo. Para os hebreus, a democracia primeiras experiências ocorrem na Tribunal de Contas da União.
não implicava o valor de escolha Revolução de 1917, com as críticas A primeira ordem de competências
dos governantes ou as deliberações de Gramsci, notadamente quanto ao reside no parlamento; elas se arrolam
coletivas, mas o cumprimento das papel dos intelectuais, da tradição estreitamente no artigo 49, incisos
normas (com caráter religioso) com um cultural, dos caminhos próprios da IX e X, e dizem com o julgamento
sentido ético e, quando relacionadas Europa ocidental e da função do bloco das contas anuais prestadas pelo
ao poder, continham a determinação hegemônico. Presidente da República, oferecidas
de conduzir uma sociedade fraterna A democracia nos séculos XIX pelo Tribunal de Contas, com parecer
e justa. e XX não é mais apenas o processo prévio; a apreciação dos relatórios de
Também para os hebreus, quando histórico de lutas pela representação execução dos planos de governo e a
os profetas (Isaías e Oséas) falavam ao política, mas das conquistas sociais e fiscalização e controle dos atos do Poder
povo sobre os desvirtuamentos éticos econômicas e a crescente participação Executivo, inclusive administração
dos governantes e dos costumes isso e deliberação popular nos assuntos direta. O mecanismo constitucional
tinha o significado de uma advertência, do Estado. interno para estas competências são
com o peso da ameaça religiosa, para o Paralelamente, embrionário entre as comissões técnicas e o próprio
retorno aos cânones normatizados. os hebreus, gregos ou romanos, com Plenário.
Para os gregos atenienses, a algumas experiências históricas No Tribunal de Contas, a função de
democracia era, sobretudo, a eleição durante a Idade Média e nascente, no controle externo corresponde ao longo
dos magistrados ou o sorteio, e a Brasil, com os holandeses, o controle elenco do artigo 71 da Carta Magna,
votação em assembleia das principais da administração pública é um dos acima analisado.
deliberações sobre a vida na cidade. novos atributos da democracia. As competências são distintas e
Para os gregos, a democracia era a Contemporaneamente, o processo obedecem a dois graus diferenciados
participação do povo no processo de democrático inclui as características – o controle parlamentar é político e
decisões na Ágora e, em outra medida, o resultantes de um longo processo descontínuo – somente o julgamento
controle exercido sobre os magistrados, histórico, no qual se sobressaem a das contas é periódico.
através da figura dos auditores, como liberdade e a igualdade, e inclui, O controle exercido pelo Tribunal
exercício democrático. também, notadamente após a de Contas tem a ótica da legalidade,
Os romanos fixaram-se na ideia Revolução Francesa, na vertente legitimidade e economicidade – adentra
da república, com a sua organização latina, a criação de instituições de ao universo dos planos e programas e
política, civil e militar; a isso acresceram Estado com poderes de controle sobre desce até a simplicidade dos atos
também a figura jurídica dos censores, a administração pública. Nessa senda admissionais ou inativatórios.
controladores da conduta dos gestores, histórica, o Brasil está inserido a partir Parte da competência do Tribunal de
plenamente normatizada. da Proclamação da República, com a Contas é desempenhada em auxílio ao
Essa longa evolução, cuja vertente criação do seu Tribunal de Contas, Poder Legislativo. Como já se observou,
encontra em Maquiavel a retomada inspirado no modelo então instituído a função é de auxílio ou colaboração
de idéias clássicas, sobretudo do na França. (a todos os Poderes e ao Ministério
poderio do império romano, irá ter na Fixando-se no caso brasileiro, a Público), mas isso não torna o Tribunal
Revolução Francesa os fundamentos partir do modelo adotado na Carta um órgão auxiliar. Como afirmado, ele
da moderna democracia, inicialmente Magna de 1988, o Tribunal de Contas é Instituição de Estado, não inserido
po l ít i c a , c o mo r e pr e s e n t a ç ã o , é prestador de auxílio ao poder no Poder Legislativo, do qual (e os
separação de poderes, igualdade, legislativo, a quem compete, em demais) mantém sua independência e

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autonomia recíprocas. Sua subordinação propósito, que é a dignidade da pessoa
Controle Externo e Democracia
é exclusivamente às responsabilidades humana, acentua a existência de um
que a Carta lhe impôs. policentrismo institucional, necessário
A isso se pode acrescentar, como ao Estado e existencial à sociedade.
argumento, que as contas das Mesas O fenômeno Em conexão e harmonia, os entes
do Senado e da Câmara Federal estão político e estruturais portam valores e garantem
submetidas ao próprio Tribunal em outros tantos valores, todos emanados
competência para julgamento, e não histórico do da soberania popular.
para o referido parecer de auxílio. Esse percurso histórico, iniciado
Que a competência é opinativa, controle da com a religião normatizada, impositora
consultiva, corretiva, sancionadora administração de condutas éticas, cujo objetivo
e judicante já foi também observado fundamental era a solidariedade e a
acima. pública é, justiça, que passou pela extraordinária
Julgamento de um tribunal “sui experiência ateniense, tem um novo
generis”, mas com características no Brasil, contorno moderno.
próprias de jurisdição, porque o essencialmente A estrutura moderna do Estado
julgamento se realiza sobre atos e ocidental fundamenta-se nos valores
constitucional.


fatos governamentais e não sobre as históricos da Revolução Francesa. A
condutas dos agentes respectivos. sua Declaração é o primeiro estatuto
O julgamento com critérios a garantir ao homem o controle do
objetivos ou de técnica jurídica própria administrador.
é realizado com a irretratabilidade que é Os valores históricos, evoluídos em
própria das decisões judiciais, quando Nascido com a República brasileira, processo dialético, são fundamentos
o âmbito do processo incidir sobre é ele instituição necessária à República. estruturais do Estado, aos quais ele
as gestões financeira, patrimonial, O controle do cumprimento estrito e deve servidão.
contábil, orçamentária, operacional e, indisponível da ação administrativa A primeira servidão do controle
mais recentemente, fiscal dos órgãos (as esferas orçamentárias, externo da administração pública,
jurisdicionados. financeiras, operacionais, contábeis e do qual o Tribunal de Contas é
Pa r a e s s a c o m p e t ê n c i a patrimoniais são essencialmente ações ente essencial, é com o homem e a
independente, autônoma e harmônica, administrativas, ainda que providas de sociedade.
ainda que o Poder Legislativo normas próprias) é responsabilidade do Na ampliação histórica do controle,
tenha idêntica função com outras controle externo do poder preeminente na diversificação da sua finalidade e,
competências, a Carta de 1988 e da instituição conceitualmente a partir de 1988, sua distinção como
igualou, limitadamente, o Tribunal própria para esta função. Instituição típica, o Tribunal de Contas
de Contas aos tribunais judiciários A peça-chave desse comando alça-se a órgão de controle democrático
com prerrogativas indispensáveis ao constitucional é o Tribunal de Contas, da administração pública.
controle da res pública. ao emitir o parecer sobre as contas Inserido na estrutura do Estado, com
As prerrogativas não são apenas da do Chefe de Estado, julgar todos os funções de controle externo, o Tribunal
Instituição, mas moldadas à semelhança demais responsáveis e exercer as de Contas possui competências para
ou assimilação de membros do Poder restantes competências que lhe foram emitir parecer sobre as contas do
Judiciário. deferidas soberanamente pelo povo – Presidente da República e julgar
O fenômeno político e histórico mandato indisponível, indelegável e as contas dos chefes dos demais
do controle da administração indispensável à República. poderes e ministério público com
pública é, no Brasil, essencialmente A Constituição de 1988 é fruto da assemelhação aos tribunais judiciários.
constitucional. Em uma única redemocratização, conquistada em Jamais alcançou estatuto histórico
oportunidade, a Constituição novos patamares históricos, ao final do irretroativo dessa amplitude.
remete à lei infraconstitucional – no século que Hobsbawn nominou de curto, O Tr i b u n a l d e C o n t a s , n a
dimensionamento das sanções, matéria em que os Estados se transformaram em Constituição de 1988, é serviente do
tecnicamente alheia ao texto magno. democráticos e nos quais as estruturas dever-poder da responsabilidade a ele
Instituição de Estado tendem a absorver a superação atribuída pela soberania popular, para
constitucionalizada, o Tribunal técnica, mas institucionalmente a concretização da democracia, do
de Contas não é singelamente mantida, da separação dos poderes. O resguardo da república e da dignidade
administrativo. Ele é centralmente desdobramento estrutural do Estado, humana – dimensões primeira e última
constitucional, no dizer de Carlos ou do seu aparato diretivo em entes do Estado Democrático de Direito
Ayres Britto. e instituições, todos com o mesmo constituído pelo povo brasileiro.

38 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


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Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 43


Agente de Controle
Controle Externo e Democracia

Alexandre Figueiredo, Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Ceará e diretor-


presidente do Instituto Plácido Castelo – unidade de assessoramento estratégico do
TCE/CE – apresenta, neste artigo, elaborado pela equipe da Instituição, o que tem sido
feito pelo órgão para despertar o interesse da sociedade em exercer de forma responsável
o controle social.

Conselheiro Alexandre Hilária Barreto Marcella Feitosa Pedro Henrique Camelo


Figueiredo TCE-CE Diretora-Executiva Coordenadora Assessor

T “
odas as sociedades atuais Insuflar o cidadão para exercer de
que apresentam elevados forma responsável o chamado controle
índices de satisfação das social.
necessidades básicas para O cidadão comum maduro já está
a vida civilizada têm, em comum, o “envernizado” com tantas notícias
traço marcante e distinto da atitude
coletiva de cobrança dirigida a seus
Precisamos desalentadoras.
Precisamos, portanto, investir
líderes. O exemplo mais recente é
o das manifestações paredistas na investir no jovem cidadão. Nosso propósito
é contribuir para essa mudança de
Grécia, face às medidas saneadoras
no jovem
atitude, sacudindo os estudantes
anunciadas que impõem sacrifícios a e orientando-os de como, quando,
seus cidadãos. onde e quais os meios de exercer o
Tais movimentos visam determinar
a mudança de rumos (ou a manutenção
cidadão. controle social. Assim, decidimos ir
à montanha.


de direitos) de baixo para cima, O artigo a seguir mostra como
corrigindo os governos ou freando estamos fazendo para alcançá-la. É um
abusos de governantes que afetam a trabalho de formiguinha, mas é um
sociedade de forma deletéria. Muitas esforço constante e geometricamente
vezes, manifestações tímidas, mas que o oprime e que é decorrente da progressivo. Prefiro que aqueles
constantes, evitam o levante da massa ação ou inação dos nossos governantes que estão fazendo diretamente esse
que poderia descambar em agitações é resultante da falta de conhecimento trabalho contem a sua história. Por isso,
com resultados violentos, como as que da existência de meios pacíficos de pedi que o fizessem na forma de artigo,
vimos, há pouco, nas caminhadas em controlar os investimentos públicos ora publicado neste prestigioso meio
Atenas. que deveriam ser feitos com eficiência que é a Revista TCMRJ, atendendo,
Tragédia grega coletiva. e transparência. assim, ao honroso convite que nos
Aqui, tais movimentos são raros. Daí a necessidade de despertar foi feito para participar da edição que
Raríssimos. Mas, o último derrubou a sociedade para uma mudança de cuida especificamente do assunto.
um presidente da República! atitude, saindo da impassividade para
A demora do indivíduo brasileiro atuar de forma insistente e cotidiana Alexandre FIgueiredo
Diretor – Presidente do Instituto Plácido Castelo
em reagir a situações desvantajosas na cobrança dos nossos direitos.

44 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


A experiência do Programa
Agente de Controle no
Tribunal de Contas do Ceará
O Papel dos Tribunais de Contas no Brasil

C
omo Agentes Públicos,
verificamos acentuado
desconhecimento da
população sobre o papel
dos Tribunais de Contas no controle
externo da administração pública.
Não é possível dizer que exista uma
cultura disseminada na sociedade
em querer saber o que fazem os
Tribunais de Contas (TC´s) e porque
eles existem. Entretanto, quando o
interesse existe, na maioria das vezes,
os cidadãos desconhecem os canais
de expressões disponíveis a eles,
pois grande parte das atribuições das
instituições públicas é constituída
com a participação direta das pessoas,
a exemplo das Cortes de Contas
que oportunizam aos cidadãos a
contribuírem com o controle social dos
gastos públicos, por se tratar de um
direito assegurado pela Constituição
Federal ao cidadão.

O Programa Agente de Controle

P
ensando nisso, em 18 de Diretor-Presidente do Instituto, zelar, sugerir, dialogar, reivindicar e
setembro de 2009, foi lançado Conselheiro Alexandre Figueiredo, por denunciar a má aplicação do orçamento
o Programa Agente de considerar importante a necessidade de público do Estado.
Controle, uma iniciativa do interação entre o TCE/CE e a sociedade. Para seu desenvolvimento, o
Tribunal de Contas do Estado do Ceará, O Agente de Controle tem como objetivo programa conta com uma coordenação
através do Instituto Plácido Castelo principal fortalecer as atividades de pedagógica, estagiários de comunicação
(IPC), unidade de assessoramento fiscalização, na aplicação dos recursos social e pedagogia e a participação
estratégico do TCE/CE. O IPC visa, públicos estaduais, bem como divulgar, voluntária de servidores e gestores
precipuamente, ao desenvolvimento para a sociedade, a importância da do TCE/CE e IPC, bem como com um
das atividades destinadas à promoção prática de ações voltadas para o controle suporte tecnológico. A primeira etapa
do aperfeiçoamento profissional, social, apostando na sensibilização de do trabalho vem ocorrendo mediante
operacional e tecnológico dos servidores que os agentes de controle somos todos visitas às instituições de ensino da rede
públicos do Estado do Ceará. nós, que, através de gestos parceiros, pública, privada e universidades da
O Programa foi idealizado pelo podemos de alguma forma acompanhar, capital cearense, onde são proferidas

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 45



palestras com o objetivo de disseminar, “como podemos colaborar na escola,
Controle Externo e Democracia
no meio estudantil e da população pois nela em tudo está presente o
em geral, a importância do controle dinheiro público?”. Uns respondem: -
social sobre as finanças públicas, bem
como estimular o acompanhamento
À medida “não pixar, não quebrar, zelar”.
A dinâmica do programa segue esse
e avaliação dos programas, projetos, que as ações diálogo com a constante preocupação de
atividades e ações governamentais.
A segunda etapa prevê a visita do
governamentais contextualizar as temáticas elaboradas
pela equipe com os discursos de
programa aos municípios do Estado do vão cada turma visitada, e, através de
Ceará, grêmios e conselhos escolares e
outras instituições que solicitarem.
acontecendo, participações nas perguntas e sugestões,
os jovens sorteados recebem uma camisa
Com apenas oito meses da as nossas com a logomarca do programa.
implantação do Programa Agente de
Controle, foram visitadas 12 escolas de
contrapartidas Entendemos que esse trabalho
representa e dissemina o papel do
ensino fundamental e médio da rede como cidadãos Tribunal de Contas do Ceará, não apenas
estadual, num total de 22 encontros,
contemplando cerca de 850 alunos. O
também como órgão de controle dos gastos
públicos, como também uma instituição
programa conta também com o apoio precisam existir. moderna da gestão pública, voltada para


da Secretaria de Educação do Ceará e as questões sócioambientais.
da Superintendência das Escolas de As bases metodológicas do programa
Fortaleza, de forma que o programa tem foram traçadas, entendendo que a
sido bem recomendado e recebido pelas educação, enquanto eixo norteador do
direções das instituições de ensino. e a comunidade em que vivem. desenvolvimento humano, é capaz de
A metodologia desenvolvida pelo Destacamos que, durante as formar valores e favorecer caminhos
programa prevê a interação com os palestras, quando o facilitador fala para novas formas de perceber, pensar
jovens, motivando a participação através que “o dinheiro de todo cidadão gera e agir no mundo. Assim sendo,
de interrogações e dinâmicas integrativas o orçamento público”, os estudantes compreendemos que, no processo de
sobre o que pensam dos seguintes normalmente participam com exemplos ensino e aprendizagem dos saberes, a
temas: Estado e o seu funcionamento; que fazem parte de suas vivências: escola tem valorosa participação, ao
Constituição Federal; Estrutura dos “comprando bombons, pão, relógio, cds, incorporar no seu fazer pedagógico,
Poderes da República; Funcionamento até com a Lanhouse, cada gasto deste aspectos relacionados à dimensão
da Administração Pública, Origem vai um pouquinho para se transformar cotidiana da criança e do jovem, nas
e Destinação dos Recursos Públicos; em imposto?” (fala de um jovem). suas relações com a família e com a
Participação e atuação da sociedade Então, essas falas espontâneas dos comunidade.
sobre políticas públicas; Importância jovens contribuem para o facilitador Ao final do trabalho, aplicamos
do controle externo que é exercido dialogar, ampliando com exemplos e uma avaliação no sentido de obter
pelos Tribunais de Contas; Canais de orientando para a participação de cada respostas às seguintes indagações:
expressões dos cidadãos junto ao TCE/ um de nós, pois esse dinheiro retorna “Você já conhecia o TCE/CE?”, “O que
CE e o Instituto Plácido Castelo. para a sociedade sob forma de políticas achou dos assuntos abordados?” e “Você
Os referidos temas são exibidos em públicas. gostaria de ser um agente de controle
slides, com gravuras alegres e coloridas, A abordagem sobre a “participação nos gastos públicos?” Consta, ainda, um
durante as palestras que são bastante e atuação da sociedade sobre políticas trecho aberto para críticas e sugestões.
participativas e têm duração máxima públicas” favorece uma dinâmica Nessa oportunidade, os alunos recebem
de 60 minutos. À medida que os alunos especial. O diálogo inicia-se, quando também: a “Cartilha em formando
apontam questões sobre outros enfoques, é questionado o que se entende por cidadãos” (trocadilho proposital), que
o palestrante é orientado a responder políticas públicas, após a socialização foi desenvolvida em forma de gibi,
numa linguagem acessível e educativa. com os exemplos da turma, a temática narrando ‘a excursão de uma escola
Pois, para além de uma compreensão prossegue com o foco de provocar para conhecer o TCE/CE’ . Nessas visitas
de orientar o jovem cidadão a ser um no jovem a sua participação nessas os jovens alunos são convidados para
agente social no acompanhamento dos políticas, então o facilitador diz: “à conhecer as instalações e o trabalho
gastos públicos, o programa reconhece medida que as ações governamentais vão do Tribunal, recebem um lápis com o
que, na vida desses jovens, existem acontecendo, as nossas contrapartidas nome do programa e o site do TCE, e
outras dimensões que precisam ser como cidadãos também precisam são convidados para continuarem as
reconhecidas pela valorização, respeito, existir”. É ainda aproveitado esse discussões acompanhando o Twitter/
parceria e diálogo com a escola, a família destaque para provocar outra reflexão: agentecontrole.

46 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


Conclusão

C
om   a implantação do
gestão pública. Entendendo também da lei, denunciar irregularidades ou
Programa Agente de
que ao convocar a sociedade para ilegalidades aos tribunais de contas
Controle, entendemos
assumir sua participação legitimada (art. 74, § 2º)”, estamos atuando
que o Tribunal de Contas
pela Constituição Federal de 1988, como órgão que pensa na gestão
do Ceará vem avançando em sua
quando atribui “a qualquer cidadão, pública participativa e transparente e
missão constitucional e contribuindo
partido político, associação ou sindicato oportunizando  o acompanhamento e a
para os processos de cidadania e
como parte legítima para, na forma fiscalização dos recursos públicos.
participação da sociedade civil na

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 47


O controle dos Tribunais
Controle Externo e Democracia

de Contas

Senador Renato Casagrande


Presidente da Comissão de
Fiscalização e Controle

O
s Tribunais de Contas influência política e apadrinhamentos dos Tribunais de Contas dos Estados e
são órgãos auxiliares sobre a composição dos tribunais, um dos Municípios; dois integrantes do
dos Legislativos na já que hoje a escolha da grande Ministério Público junto ao TCU; dois
fiscalização contábil, maioria de ministros e conselheiros membros do Ministério Público junto
financeira, orçamentária, operacional se baseia em aspectos eminentemente aos Tribunais de Conta dos Estados e
e patrimonial. A democracia brasileira subjetivos. um dos Municípios; dois advogados
preserva, assim, na sua engrenagem A outra é a PEC 30/2007, que cria indicados pela OAB; dois cidadãos
um sistema de controle externo para o Conselho Nacional dos Tribunais idôneos indicados pelas duas casas
os três níveis de Poder nos três níveis de Contas e do Ministério Público do Congresso Nacional. O colegiado
de Governo. junto aos Tribunais de Contas. O elegeria ainda um corregedor geral.
Os tribunais de contas da União, órgão se insere no espírito republicano O cerne da proposta é a criação de
estados e municípios, no entanto, e democrático de transparência e um órgão de controle dos tribunais de
não contam com uma instância respeito ao bem público que norteou contas e correspondentes Ministérios
suficientemente autônoma que exerça a criação de órgãos fiscalizadores de Públicos, medida imprescindível, pois
o seu controle externo. Está posto o Executivo, Legislativo e Judiciário, no Estado Democrático de Direito
velho problema: Quem controla os destacadamente durante e após a não se concebe conjuntos orgânicos
controladores? Constituição de 1988. imunes a qualquer fiscalização.
Com o objetivo de aperfeiçoar O Conselho teria atribuições de Entende-se como pilares de um regime
o sistema de controle e suscitar o controlar a atuação administrativa e democrático, a soberania nacional, a
debate sobre o modelo dos Tribunais financeira dos tribunais de contas; igualdade social e graus crescentes
de Contas, apresentei duas Propostas controlar o cumprimento dos deveres de participação como suposto do
de Emenda Constitucional. Ambas funcionais dos membros do Ministério sistema político. A fundação de
as matérias estão tramitando na Público junto aos Tribunais de Contas órgão de controle dos TCs reforça tais
Comissão de Constituição e Justiça e zelar pela estrita observância das princípios, deixando-nos em posição
do Senado.   A primeira delas, a PEC disposições referentes à atuação dos bastante confortável, pois traz ao
15/2007, altera o sistema de acesso aos Tribunais previstas na Constituição. debate público um tema à altura do
TCs, que passaria a ser por concurso Terão assento no Conselho dois papel constitucional do Congresso
público. O objetivo é controlar a ministros do TCU; três conselheiros Nacional.

48 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


Por um Rio Sustentável

N
o final de 2009, o prefeito do Rio de
Janeiro, Eduardo Paes, lançou, em solenidade
no Palácio da Cidade, o programa “Rio
Sustentável”, no qual privilegia diversas
ações que apontam o nível de comprometimento do Rio
de Janeiro com a causa ambiental. A redução dos gases do
efeito estufa, a criação do Fórum Carioca de Mudanças
Climáticas e Desenvolvimento Sustentável, o lançamento
do Plano Sustentável de Gestão de Resíduos, a criação
de um programa de redução de gases do efeito estufa
voltado para a área de Transportes, o estabelecimento de
um programa de adaptação do Sistema de Saúde e Defesa
Civil para minimizar os impactos das mudanças de
clima, e a implantação de um programa de ecoeficiência
e sustentabilidade da Prefeitura para economizar água,
energia, gás e combustíveis são alguns dos tópicos que
serão desenvolvidos.
O Rio está fazendo a sua parte.

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 49


Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 49
Um Rio Sustentável
Por um Rio sustentável

“27 de novembro de 2009: data histórica para nós,


cariocas”. Vice-Prefeito e Secretário Municipal de
Meio Ambiente, Carlos Alberto Muniz afirma que, no
assunto sustentabilidade, a Cidade do Rio de Janeiro
“está antenada com as grandes metrópoles mundiais”
e fala do “olhar ambiental sobre o Rio de Janeiro”
que a atual gestão municipal vem adotando.

Carlos Alberto Muniz


Secretário Municipal de Meio Ambiente

Que fato tornou a data tão do efeito estufa na cidade; 2 – criação do evento, nós observamos um
importante para a Cidade do Rio de do Fórum Carioca de Mudanças fato extremamente positivo: se de
Janeiro? Climáticas e Desenvolvimento um lado as grandes potências não
Na manhã de 27 de novembro Sustentável, que vai envolver poder chegaram a um claro e esperado
de 2009, nós lançamos o programa público, sociedade civil organizada acordo escrito, tão desejado pela
“Rio Sustentável”, em solenidade e iniciativa privada; 3- lançamento opinião pública mundial, por outro
no Palácio da Cidade presidida pelo do Plano Sustentável de Gestão de pudemos observar um acontecimento
prefeito Eduardo Paes. Lá estavam Resíduos; 4 – criação de  um programa feliz para o planeta: cidades muito
conosco aliados fundamentais nesta de redução de gases do efeito estufa importantes como Rio de Janeiro,
luta, como os governos federal e voltado exclusivamente para a área Sidney e Nova Iorque assumiram
estadual, representantes da sociedade de Transportes; 5 – estabelecimento a vanguarda das ações práticas,
organizada, ONGs, entre outros. de um programa de adaptação do encamparam compromissos sonhados
Preocupado com a melhoria da Sistema de Saúde e Defesa Civil para por ambientalistas e já desenvolvem
qualidade de vida da cidade, o prefeito minimizar os impactos das mudanças programas para enfrentar os efeitos
do Rio assinou seis decretos, firmou de clima, como previsão de epidemias nocivos do aquecimento global.
contrato com a Coppe-UFRJ para a e de enchentes; 6 – implantação
atualização do inventário de emissões de um programa de ecoeficiência e Nas grandes cidades, o transporte
de CO2 (o primeiro foi feito em 1998), sustentabilidade da Prefeitura para é o maior responsável pela emissão
e assinou um protocolo de intenções economizar água, energia, gás e de gases de efeito estufa. Como
com a Associação Comercial do Rio combustíveis. solucionar este problema na Cidade
de Janeiro, Fundação Brasileira de do Rio de Janeiro, onde os transportes
Desenvolvimento Sustentável e o Qual a sua opinião sobre a 15ª respondem por 77% do total das
movimento “Rio Como Vamos”. Este Conferência das Partes (COP-15), emissões de gases poluentes?
protocolo buscará estabelecer uma realizada em dezembro de 2009, em Pela primeira vez na história da
estratégia integrada para atingir tais Copenhague? cidade estabeleceu-se uma meta
metas.  A atual Prefeitura criou uma Política para reduzir a emissão de gases. A
Municipal de Mudanças Climáticas e proposta é reduzir em 8% até 2012
De que tratam os decretos assinados Desenvolvimento Sustentável, que e estabelecer um novo indicativo de
pelo prefeito Eduardo Paes? tivemos a honra de apresentar na 16% para 2016, ousando ainda mais:
Os seis decretos tratam das Cop-15. Apesar de muitos analistas redução de 20% até 2020. O Rio foi
seguintes ações: 1 - redução dos gases terem dado mais ênfase às falhas a primeira cidade da América Latina

50 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


“ Pela primeira
vez na história
da cidade
estabeleceu-se
uma meta
para reduzir
a emissão de
gases.


a realizar seu inventário de gases do
efeito estufa, em 1998, quando o
estufa até o final de 2012 (com base
no inventário de 2005).
uma cultura sustentável, inclusive
motivando - o positivamente no
Protocolo de Kioto acabara   de ser O Programa de Ciclovias em sentido de preservar e usufruir a
assinado. Agora,  promove a sua execução é um desdobramento do paisagem da Cidade Maravilhosa.
atualização: será um instrumento projeto “Ciclovias Cariocas”, criado
de fundamental importância para em 1993, e visa a incentivar o uso da São Paulo editou a primeira
orientar as políticas públicas, visando bicicleta enquanto meio de transporte lei municipal que obriga o uso
ao enfrentamento das consequências não poluente, econômico e saudável. de energia solar nas construções
das mudanças climáticas em nossa A Cidade, que foi a pioneira no País públicas e privadas. No Rio já existe
cidade. Os primeiros dados já estarão na implantação de ciclovias em malha algum projeto similar?
disponíveis neste primeiro semestre urbana, pretende assumir a liderança Uma das medidas importantes
de 2010. latino-americana em quilômetros que vêm sendo elaboradas pela
de ciclovias construídas, superando Secretaria Municipal de Meio
O uso de bicicletas está sendo cada a colombiana Bogotá. Atualmente, Ambiente para a redução de gases
vez mais prestigiado nas grandes com 150 quilômetros de ciclovias, do efeito estufa é a implantação do
cidades. Como incentivar o uso ciclofaixas e pistas compartilhadas, “Rio Solar” nas comunidades de baixa
deste meio de transporte no Rio de o Rio de Janeiro planeja dobrar sua renda, beneficiadas pelo Programa
Janeiro? malha cicloviária nos próximos anos, de Aceleração do Crescimento -
“Rio Capital da Bicicleta” é um dos dando prioridade à consolidação do PAC (do governo federal) e pela
programas estratégicos da Prefeitura sistema da Zona Oeste. instalação das UPPs (unidades de
do Rio, de caráter multiplicador, que A coordenação do Programa é polícia pacificadora do governo do
atende a diferentes objetivos que da Secretaria Municipal de Meio estado), com o objetivo de reduzir o
incluem a melhoria do transporte Ambiente, que faz a gestão do GT consumo e o desperdício de energia.
público e da mobilidade urbana, Ciclovias, formado por representantes
já que o projeto prevê a contínua da SMU/Secretaria Municipal Além dos já citados nas respostas
inserção da bicicleta como um modal de Urbanismo, SMTR/Secretaria anteriores, que outros projetos e
de transporte – não apenas como Municipal de Transportes, SMO/ programas estão em andamento na
instrumento de lazer - e a educação Secretaria Municipal de Obras e SMAC?
no trânsito. O Programa também organizações não governamentais
está relacionado com o Projeto de vinculadas ao tema. • PROJETO LAGOA LIMPA
despoluição, já que contribui para o Finalmente, o Programa objetiva O projeto de recuperação da
atendimento das metas de redução de a melhoria da qualidade de vida Lagoa   Rodrigo   de Freitas está em
8% das emissões de gases do efeito e da saúde do cidadão, criando pleno desenvolvimento para que o

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 51


Por um Rio sustentável
carioca possa usufruí-la, além de milhões de mudas, que fará do Rio quais haverá bicicletários integrados
recuperar parte de sua história e fazer de Janeiro a Capital Verde do Sudeste às ciclovias.
dela um grande palco permanente brasileiro. Em horário de pico, a Transcarioca
para os esportes aquáticos. Para irá transportar cerca de 25.800
tal, a Prefeitura articulou uma • PROGRAMA MUTIRÃO REFLO- passageiros por hora, em cada sentido,
parceria  público-privada  que reúne RESTAMENTO / SEMEANDO retirando das ruas um número maior
técnicos da Prefeitura, do Estado e FLORESTAS de veículos, sendo a rede de ônibus
o apoio da EBX, para devolver a boa Há 20 anos a Secretaria Municipal dessas áreas drasticamente reduzida
balneabilidade às águas da Lagoa. de Meio Ambiente (SMAC) comanda o e reescalonada.
Esta recuperação depende de “Mutirão Reflorestamento”, programa De acordo com o cronograma
diversas ações: eliminar o aporte de vitorioso que plantou, nas áreas inicial, a obra desses corredores está
esgotos sanitários na Lagoa, esforço que degradadas da cidade, cinco milhões prevista para começar até abril de
vem sendo desenvolvido pela CEDAE, de mudas, o que corresponde a dois 2010, e levará em consideração toda
mas ainda não concluído; recolher as mil campos de futebol. a cobertura vegetal (existente e a
algas e o lixo sobrenadante, que já é O Mutirão prossegue seu trabalho, ser reflorestada) e as características
feito rotineiramente pela COMLURB, agora, com a meta ambiciosa de arquitetônicas das estações,
por meio de um catamarã fornecido plantar, até 2013, 4 milhões de mudas respeitando a identidade cultural
pela EBX; dragar os trechos   mais de espécies nativas da Mata Atlântica, de cada bairro, por ocasião das
assoreados,   principalmente   os da em áreas que somam 1.500 hectares necessárias desapropriações. O
orla; e nivelar o fundo da Lagoa. distribuídos por toda a cidade, o que término estimado é em 2013, portanto,
A dragagem do lodo terá o efeito ajudará a melhorar a qualidade do ar antes da Copa do Mundo de 2014.
de minimizar o desprendimento para o carioca. Mas as maiores vantagens desse
de gás sulfídrico, que exala odor A principal característica do transporte limpo estão na diminuição
desagradável, ataca equipamentos e programa é a parceria da SMAC do tempo de viagem do cidadão e na
utensílios residenciais, e consome o com as comunidades carentes, das redução da emissão de gases do efeito
oxigênio dissolvido na água, que pode quais são recrutados seus atuais 700 estufa que são gerados pelo constante
ocasionar mortandade de peixes. plantadores. aumento do número de veículos
Outros dois objetivos da maior Já está sendo feito o levantamento que trafegam nos horários de rush,
importância são: melhorar a ligação das áreas que serão beneficiadas; os principalmente em direção ao Centro
da Lagoa com o mar, o que, através bairros da Zona Oeste serão os mais da Cidade.
de dutos subaquáticos, aumentará plantados por apresentarem menor
a salinidade das águas, oferecendo cobertura vegetal. • PROGRAMA DE COLETA SELETIVA
melhores condições de vida aos SOLIDÁRIA DE RESÍDUOS
peixes; e instalar uma comporta para • TRANSPORTE LIMPO PARA A SÓLIDOS GERADOS NA CIDADE
regular a água das bacias hidrográficas CIDADE DO RIO DE JANEIRO Entre as diretrizes que a Prefeitura
dos rios Macacos e Rainha, de modo a (SMAC em articulação com do Rio propõe para o Meio Ambiente
permitir o deságue na Lagoa. diversas Secretarias coordenadas está a “implantação de uma solução
Assim, a cidade receberá um pela de Transportes) sustentável para a destinação dos
legado de maior qualidade de vida, Na área do transporte limpo, resíduos sólidos gerados na cidade”.
e o Rio voltará a presenciar a prática dois corredores expressos de ônibus Por isso é de grande importância
mais frequente de remo, esqui, articulados serão implantados até a adoção de uma gestão de resíduos
motonáutica, entre outros esportes, 2012: o BRT (Bus Rapid Transit) que garanta a redução do volume de
na sua lagoa mais querida. que ligará a Barra à Penha, também lixo domiciliar a ser destinado aos
chamado T5, e Transcarioca, orçado aterros sanitários, com o consequente
• RIO SUSTENTÁVEL / MUDANÇAS em R$ 900 milhões, e unindo Santa aumento da vida útil desses aterros,
CLIMÁTICAS / AQUECIMENTO Cruz à Barra, através do Túnel da e a redução das emissões de gases
GLOBAL Grota Funda, com custo de R$ 300 do efeito estufa, devido à redução,
O legado ambiental será o ponto milhões. Esses ônibus articulados também, do número de veículos
culminante do projeto “Rio 2016”. trafegarão segregados em pistas utilizados no transporte desses
Aplicaremos mais de R$ 2,5 bilhões próprias, exclusivas, e usarão resíduos. Face ao exposto, a coleta
em ações com relevante impacto combustível híbrido. seletiva tornou-se instrumento
sobre o meio ambiente e a qualidade A Transcarioca terá 28 quilômetros imprescindível, cuja prática deve ser
de vida, como a macrodrenagem da e sua implantação exigirá a intensificada.
Bacia de Jacarepaguá, o saneamento desapropriação de 3.630 imóveis.Este Para dar o exemplo, a Prefeitura está
da Zona Oeste, e o plantio de 4,5 percurso contará com 37 estações, nas implantando a “COLETA SELETIVA

52 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


“ A Cidade do Rio
de Janeiro está
localizada na Região
Metropolitana do
Estado que tem
a segunda maior
concentração de
população, de veículos,
de indústrias e de
fontes emissoras de
poluentes do país.

SOLIDÁRIA”(instituída pelo Decreto


Municipal n° 30.624, de 22/04/09)
e industriais, REEE/resíduos de
equipamentos eletroeletrônicos, entre

significativamente, configurando a
época seca, o que também contribui
em todos os órgãos da administração outros. para a degradação da qualidade do
pública municipal. Os materiais, com ar.
potencial de reciclagem, separados • PROGRAMA DE MONITORA- Deve-se considerar, ainda, que a
pelas diversas unidades municipais MENTO DA QUALIDADE DO AR cidade está sujeita às características
(ao todo são 2.110, incluindo NA CIDADE – MonitorAR do clima tropical, com intensa
escolas, hospitais, postos de saúde A Cidade do Rio de Janeiro está radiação solar e temperaturas
e prédios da administração pública), localizada na Região Metropolitana elevadas, favorecendo os processos
serão doados às Cooperativas de do Estado que tem a segunda maior fotoquímicos, com geração de
Catadores. A implantação desta concentração de população, de poluentes secundários como, por
prática, aliada à ampliação dos veículos, de indústrias e de fontes exemplo, o ozônio.
serviços de coleta seletiva “porta à emissoras de poluentes do país. Em 04 de julho de 2008, após
porta”, já realizada pela COMLURB, A topografia da Cidade é bastante negociações sobre o conteúdo do
permitirá o recolhimento estimado acidentada e abriga três maciços: projeto, foi firmado o convênio entre
de 31.000 toneladas/mês de materiais Gericinó, Tijuca e Pedra Branca. a Petrobras e a Prefeitura da Cidade do
recicláveis, o atendimento a todos os Estes dois últimos, paralelos à orla Rio de Janeiro, através da Secretaria
160 bairros da Cidade, a melhoria marítima, atuam como barreira física Municipal de Meio Ambiente, para
no ordenamento urbano, e menor aos ventos provenientes do mar, restabelecimento e ampliação da
consumo de matérias-primas não- dificultando a dispersão atmosférica Rede Municipal de Monitoramento da
renováveis. de poluentes nos bairros situados Qualidade do Ar, projeto denominado
A Coordenadoria de Resíduos mais para o interior do continente. MONITORAR-RIO, no valor total
Sólidos da SMAC vem trabalhando No período de maio a setembro, de R$10.505.521,00, com duração
na elaboração de instrumentos legais devido à atuação dos sistemas prevista de 60 meses. O MONITORAR-
que viabilizem o reaproveitamento de alta pressão que dominam a RIO tem por objetivo determinar o
direto ou indireto de resíduos, como região, observa-se com frequência a nível de concentração dos poluentes
por exemplo: RCC/ resíduos da ocorrência de situações de estagnação presentes na atmosfera da Cidade do
construção civil, pneus fora de uso, atmosférica, o que eleva os índices Rio de Janeiro.
óleos e gorduras de uso culinário de poluição. No mês de julho, o Os resultados colhidos pela Rede
em estabelecimentos comerciais número de dias de chuva reduz-se de Monitoramento são fundamentais

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 53



Por um Rio sustentável
para a elaboração de diagnósticos da ano. Poste-riormente, em dezembro de
qualidade do ar e permitem subsidiar 2005, o monitoramento foi retomado,
as ações governamentais no que com a ampliação para 35 pontos de
se refere ao controle das emissões coleta.
atmosféricas, com vistas à melhoria A qualidade Após estudo estatístico, elaborado
da saúde e da qualidade de vida da das areias é com a massa de dados gerada pelo
população, bem como para a proteção monitoramento, foi editada, em 28 de
da fauna e flora locais. consequência do janeiro de 2010, a Resolução SMAC 468,
uso inapropriado que alterou os limites da classificação
• PROGRAMA DE MONITORAMEN- da qualidade das areias, entrando em
TO DA QUALIDADE DAS AREIAS pela população, vigor no recente verão de 2010.
DAS PRAIAS DA CIDADE DO RIO que além de Este monitoramento atende ao
DE JANEIRO Plano Nacional de Gerenciamento
Criado para avaliar a evolução levar seus Costeiro que visa especificamente
da qualidade das areias das praias, animais à praia, a orientar a utilização racional dos
o “Programa de Monitoramento da recursos da zona costeira, dando
Qualidade das Areias das Praias deixa restos prioridade à conservação e proteção
do Município” é uma ferramenta de alimentos e das praias (dentre outros bens) que são
de gestão municipal para a orla patrimônio público de uso comum do
marítima. de embalagens povo. O monitoramento complementa,
Na Prefeitura do Rio de Janeiro, atraindo vetores ainda, a avaliação da qualidade das
a Coordenadoria de Planejamento e águas estabelecida na Resolução
Monitoramento Ambiental - CPMA da como ratos e CONAMA 274/2000 que, em seu artigo


Secretaria de Meio Ambiente (SMAC) pombos. 8º, recomenda a avaliação das condições
tem a competência de elaborar parasitológicas e microbiológicas da
padrões técnicos para a execução de areia para futuras padronizações a
projetos de saneamento ambiental e serem ditadas pelo Conselho Nacional
para a supervisão de monitoramentos de Meio Ambiente.
ligados aos recursos ambientais. que além de levar seus animais à As informações geradas serão
Em atendimento à lei, em 1999, a praia, deixa restos de alimentos e de utilizadas para informação direta ao
SMAC iniciou um estudo da qualidade embalagens atraindo vetores como ratos público usuário, conforme exigência da
da areia das praias de Copacabana e e pombos. O estudo indicou, ainda, que Lei nº 3312, de 04 de dezembro de 2001,
Prainha, com a finalidade de servir a concentração de microorganismos por meio de totens a serem instalados
de embasamento a um programa no cordão arenoso (faixa de areia) é nas praias do município, pelo Governo
de monitoramento. A partir dos também decorrente da variação dos do Estado do Rio de Janeiro, cujo
resultados obtidos, a Secretaria valores de umidade e temperatura processo de autorização encontra-
elaborou uma primeira classificação da areia, por ocorrência de chuvas e se em andamento. A população da
das areias das praias em relação à incidência de radiação solar. Cidade está cada vez mais esclarecida
sua qualidade, implementada através Tal indicação culminou no Art.4º da e reivindicadora quanto ao seu direito
da Resolução SMAC 81/2000. Nessa Lei Complementar nº 41, de 7/10/1999, à informação.
resolução não foi utilizado o termo regulamentada pelo Decreto “N” nº Outra interação que deverá ocorrer
“impróprio” para classificar a areia, 18.038, de 28/10/1999, que dispõe sobre será com a Secretaria Municipal de
por ser considerado que a qualidade o estudo de sombra das edificações nas Saúde para que seja possível avaliar a
pode sempre ser melhorada, por praias, e na Lei Complementar 47, de consequência na saúde da população
ações de limpeza e, principalmente, 01/12/2000, regulamentada pelo Decreto da Cidade, da frequência às suas
atitudes da população. nº 20.504, de 13/9/2001, que proíbe a praias com areias contendo parasitas
A partir desse estudo, a SMAC construção residencial ou comercial provenientes de dejetos humanos
também editou a Resolução SMAC nº na orla marítima com gabarito capaz e de animais, o que pode constituir
67, de 7/2/2000, que dispõe sobre ação de projetar sombra sobre o areal e/ou sério problema “estético-sanitário”.
emergencial mitigadora das línguas calçadão. A qualidade da areia das praias e do
negras nas praias do Município do Em outubro de 2001, a SMAC/CPMA Piscinão de Ramos está disponível
Rio de Janeiro. iniciou o “Programa de Monitoramento para a população, a cada 15 dias, no
O estudo demonstrou que a da Qualidade das Areias das Praias Portal da Prefeitura, no Diário Oficial
qualidade das areias é consequência do Município” com a avaliação de 34 do Município e em outros meios de
do uso inapropriado pela população, pontos de praia, pelo período de um comunicação.

54 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


A Educação e o desenvolvimento
sustentável
Para a Secretária de Educação,
Claudia Costin, uma educação
de qualidade é fundamental para
garantir que, no futuro, o indivíduo
tenha condições de crescer por
conta própria, sem ajuda do governo
ou de entidades assistenciais. E
é neste sentido que a Secretaria
Municipal de Educação está
trabalhando.

Claudia Costin
Secretária Municipal de Educação do Rio de Janeiro

O
s indicadores sociais aos casos brasileiros. As cidades – recente, conseguiu alcançar um
das últimas décadas, com raríssimas exceções – crescem modelo sustentável de crescimento
principalmente nos desordenadamente, sem políticas econômico e também social.
países latino-americanos, públicas efetivamente voltadas para Uma educação de qualidade, que
revelam mais que um desenvolvimento um modelo de crescimento que mantenha o aluno permanentemente
socioeconômico em descompasso possibilite, ao mesmo tempo, a na escola, em toda sua vida escolar,
com a preservação do patrimônio distribuição da riqueza sem que os é fundamental para garantir a
natural, que venha garantir a futuras recursos naturais sejam postos sob possibilidade de preparar o indivíduo
gerações um padrão de igualdade ameaça; que ponha em risco todos os para que, no futuro, tenha condições
social. Esses mesmos indicadores avanços conquistados até aqui. de crescer por conta própria, sem
nos mostram que largamos lá atrás e Não podemos pensar em um ajuda do governo ou de entidades
já perdemos um tempo inestimável futuro seguro com medidas paliativas. assistenciais. Como também se faz
na corrida para alcançar um modelo E quando falamos em futuro, não mais que urgente um projeto de
sustentável de desenvolvimento, podemos deixar de pensar em nossas Educação que busque maneiras de
que nos permita prover o presente e crianças. E quando falamos nelas, propiciar autonomia intelectual e
o futuro num mesmo compasso, em obrigatoriamente temos que pensar espírito inquiridor aos alunos. A
plena harmonia. em Educação. Todos os caminhos possibilidade de exercitar o raciocínio,
E s s e c o n t ex t o m u n d i a l d o já pensados para solucionar as de questionar e obter respostas a
desenvolvimento se constrói a partir disparidades sociais e econômicas no perguntas de forma independente dos
de vários agentes, em cada um dos longo prazo convergem para um único professores é a base de uma cidadania
países, a partir de suas várias formas de ponto de consenso: o investimento consciente e, mais do que isso, a
governo e de estrutura administrativa. prioritário da gestão pública na condição para que a Cidade, o Estado
Em especial, as administrações educação de seus cidadãos. Foi assim e o País e sua população, no caso pelos
municipais, que aqui me atenho que a China, para falar de um exemplo próprios méritos, se desenvolvam.

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 55


Por um Rio sustentável
Aqui no Rio, estamos trabalhando
para dar um salto de qualidade
na Educação de nossas crianças,
a partir de um planejamento local
com definição de prioridades e
metas de ensino. A ampliação da
jornada escolar, que vem sendo
implantada na rede municipal, onde
já há mais de 300 escolas em período
integral, é exemplo de prioridade
que conduz nossos alunos para o
caminho do bom desempenho na
aprendizagem. Estudos mostram
que crianças que permanecem mais
tempo no ambiente escolar têm
mais chance de sucesso na escola e,
consequentemente, mais chances de
formar e consolidar valores éticos e
morais.
Nas áreas mais pobres,
dominadas por narcotraficantes
ou milicianos, se faz ainda mais
urgente a ampliação das horas de
permanência da criança na escola.
Ao assumir a Secretaria de Educação,
em janeiro do ano passado, percebi
que nas escolas situadas naquelas
regiões, a taxa de evasão escolar era
o dobro da média da rede municipal,
composta por 1.064 unidades. Além
de apresentarem fraco desempenho
na aprendizagem. Decidimos, então,
criar o programa Escolas do Amanhã
para 150 unidades – com mais de
107 mil alunos – situadas nestas
áreas conflagradas. Um dos pilares
do programa é o período integral
para os alunos, que passaram a ter
diversas atividades educacionais,
culturais e esportivas no chamado
contra-turno.
Além de um planejamento com
prioridades e metas educacionais,
temos várias ações desenvolvidas


pelas escolas, nas quais os alunos
trabalham temas como a preservação
do meio ambiente e da cultura do
nosso País. Temos um caminho claro, Estudos mostram que crianças
mas não podemos desistir. Nossas
crianças precisam de um futuro. Mas que permanecem mais tempo no
precisam, antes, serem preparadas ambiente escolar têm mais chance de


para garantir que este mesmo futuro
seja construído a partir da consciência sucesso na escola.
de que é possível e viável crescer sem
perdas.

56 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


2014: O desafio de organizar uma
Copa sustentável no Brasil
Especialmente contratado pelo Ministério
do Esporte para traçar planos de
sustentabilidade para a Copa do Mundo de
2014, Claudio Langone fala do desafio de
organizar uma Copa sustentável.

Claudio Langone
Coordenador da Câmara Temática de Meio Ambiente e Sustentabilidade da
Copa 2014, Ministério do Esporte

O contexto brasileiro A agenda ambiental global ganhou Nosso país é reconhecido pela sua
novo impulso com a emergência megadiversidade, em função de seu
A decisão da FIFA de realizar a da questão climática como um dos enorme patrimônio natural, como
Copa 2014 no Brasil foi uma grande grandes temas do início do novo uma voz fundamental nas negociações
conquista para o país. Além de sermos milênio. O aquecimento global multilaterais envolvendo o tema
grande referência no futebol mundial, é um tema sempre presente nas ambiental, sobretudo depois de sediar
essa decisão ocorreu num momento reuniões dos líderes mundiais, e a ECO 92 e de liderar o acordo que
em que o país experimenta a retomada nesse momento todas as atenções se levou ao Protocolo de Kyoto, em
do crescimento econômico, combinada voltam para o processo de negociação 1997. O Brasil também é reconhecido
com expressivas políticas de inclusão que definirá o regime climático global por ter uma sociedade civil muito
social, e um aumento significativo de pós 2012. Todas as perspectivas ativa, e por sua grande capacidade
seu protagonismo no plano global. indicam que, face à constatação de na área ambiental em todos os
A Copa do Mundo é o evento global que as metas do Protocolo de Kyoto segmentos: governos, empresariado,
com maior visibilidade de mídia, e são insuficientes para enfrentar o universidades, organizações da
será uma grande oportunidade para o desafio de reduzir as emissões de gases sociedade. Tem como peculiaridade
Brasil se mostrar para o mundo. Mas de efeito estufa, se adotará medidas a forte interface entre as questões
eventos desse tipo também precisam mais efetivas nesse sentido para a ambientais e de inclusão social, o que
ser aproveitados para, no contexto de próxima década. Embora, face ao levou a uma evolução da dimensão
sua preparação, promover mudanças impasse na Conferência das Partes de “ambiental” para a “socioambiental”.
no país, olhando não só para o Copenhague, ainda não se saiba qual A Copa 2014 acontecerá em pleno
atendimento dos requisitos essenciais a extensão dos compromissos a serem início da entrada em vigor do novo
para recebê-los com qualidade, mas adotados para o novo regime, é certo regime climático global, o que colocará
também para o chamado “legado”, as que ele será mais abrangente e rigoroso desafios importantes para o país,
transformações que o país pode ter, seja do que o Protocolo de Kyoto. sede e organizadores, já que nas
na criação de novas oportunidades, na A Copa 2014 envolve um Copas da Alemanha e da África do
melhoria de sua infraestrutura, ou conjunto de desafios e um grande Sul, bem como nos Jogos Olímpicos
mesmo do aumento da autoestima de leque de possibilidades relacionadas de Sidney e Pequim, tem-se adotado
sua população. ao desenvolvimento sustentável. uma estratégia de ”esverdeamento”

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 57



Por um Rio sustentável
desses eventos. No caso específico da sobre a viabilização adequada do
FIFA, a entidade, no seu Caderno de licenciamento ambiental das obras
Encargos, recomenda aos países sede prioritárias que fazem parte dos
que adotem a iniciativa denominada Um dos grandes compromissos do Brasil como país
‘Green Goal”, que teve início na Copa desafios que temos sede.
da Alemanha, em 2006. é o de desenvolver Nesse contexto, está sendo
Na verdade, as oportunidades para organizada uma agenda de trabalho
o Brasil não se restringem à Copa do na população um visando o adequado diálogo entre
Mundo, mas a um ciclo de grandes “sentimento de os responsáveis pelas obras e os
eventos internacionais que iniciará em pertencimento”, órgãos licenciadores (na sua grande
2012, com a realização da RIO +20, maioria estados e municípios),
Conferência das Nações Unidas Para o que faça com que a buscando identificar os principais
Desenvolvimento Sustentável, passará sociedade se sinta problemas enfrentados, as boas
pela Copa em 2014, e culminará com envolvida no processo. práticas de licenciamento que possam


as Olimpíadas de 2016. ser replicadas, e mesmo eventuais
aperfeiçoamentos normativos que
A Agenda para a preparação do Plano sejam necessários, além de um sistema
Estratégico de Ações do Brasil para a de monitoramento que permita a
Copa 2014 – um desafio de país de definir as diretrizes da agenda identificação de eventuais dificuldades
de sustentabilidade e coordenar e e das medidas a serem adotadas para
No âmbito do governo brasileiro, monitorar a referida agenda. superá-las.
o Ministério do Esporte está liderando
o processo de preparação do Brasil A construção da Agenda de As iniciativas em construção
para a Copa 2014. Após a definição Sustentabilidade
das 12 cidades-sede, em 2009, em Dentre as principais iniciativas
janeiro de 2010 foram escolhidas as A definição das diretrizes é em curso na preparação da Agenda
obras de infraestrutura prioritárias, fundamental, uma vez que ela Brasileira, destacam-se:
no âmbito do chamado Comitê permite definir com clareza quais as
de Responsabilidade, que reúne o grandes linhas a seguir, de maneira 1) Articulação com BNDES para
governo federal, estados e cidades a facilitar a definição dos projetos garantir a certificação dos estádios
sede, formalizadas através de um a serem adotados, as metas a serem Seguindo diretriz da FIFA, o
compromisso denominado Matriz de perseguidas, e posteriormente, BNDES está exigindo dos tomadores
Responsabilidades, com destaque para possibilitar a aferição do grau de de financiamento para as construções/
estádios, portos, aeroportos e obras de efetividade das mesmas, a exemplo reformas de estádios que tenham
mobilidade e circulação. do que foi feito na Alemanha, em um padrão mínimo de certificação
Em março de 2010, o Comitê de 2006. de construção sustentável, feito por
Responsabilidade definiu o modelo A construção da Agenda de instituições credenciadas junto ao
de governança, baseado em um Sustentabilidade da Copa 2014 foi INMETRO.
Comitê Nacional e Comitês unificados iniciada em novembro de 2009, Como a maioria dos casos é de
no âmbito das cidades-sede. Para priorizando, no primeiro semestre reformas, deverá ser escolhido um
dar efetividade a agendas setoriais de 2010, a estruturação das parcerias conjunto de quesitos construtivos e de
relevantes, foi definida a criação de institucionais necessárias para sua gestão para melhorar a sustentabilidade
nove Câmaras Temáticas, dentre elas a consolidação. Dentre as iniciativas desses equipamentos. Várias dessas
de Meio Ambiente e Sustentabilidade. mais relevantes, está a construção de medidas, embora tenham estimativa
Cada Câmara Nacional terá sua Acordos de Cooperação do Ministério de um custo inicial maior, diminuem
correspondente nas 12 cidades-sede, do Esporte com o Ministério do Meio os custos de manutenção e gestão dos
garantindo, assim, que as diretrizes Ambiente, a Abema – Associação estádios, como por exemplo, eficiência
emanadas nacionalmente sejam Brasileira de Entidades Estaduais energética e recirculação da água de
efetivadas, e, ao mesmo tempo, de Meio Ambiente, e a Anamma irrigação dos gramados.
que as peculiaridades locais sejam – Associação Nacional de Órgãos
valorizadas. Nesse contexto foi Municipais de Meio Ambiente. Tais 2) Copa Orgânica
instalada em 11 de maio de 2010 a Acordos visam fazer com que o Iniciativa em construção com ONGs
Câmara Temática Nacional de Meio setor ambiental assuma a liderança do setor e os ministérios envolvidos
Ambiente e Sustentabilidade da Copa da Agenda de Sustentabilidade, ao com o tema, visando uma estratégia
2014, que terá a responsabilidade mesmo tempo em que lança foco de alavancar a produção de produtos

58 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


orgânicos e/ou sustentáveis no país copa tem um grande potencial de negócios verdes
até a Copa, deixando como legado mobilização da população, e um • Copa com eficiência energética
uma maior oferta desses produtos ao dos grandes desafios que temos é • Copa que valoriza e ajuda a
mercado brasileiro, com redução de o de desenvolver na população um promover e proteger a biodiversidade
preço. A meta é dobrar o faturamento “sentimento de pertencimento”, que brasileira
envolvendo produtos orgânicos no faça com que a sociedade se sinta • Copa que constrói estádios com
país até 2014. Um dos principais envolvida no processo. sustentabilidade
beneficiados seria a agricultura A diversidade – Uma das grandes • Copa que incentiva a reciclagem
familiar, uma vez que a produção marcas do Brasil é a diversidade. e a minimização da geração de
orgânica representa significativa Embora muito desigual, o Brasil é um resíduos
agregação de valor à renda desse país democrático, com patrimônio • Copa que utiliza a água de maneira
segmento. natural megadiverso, com enorme racional
A proposta é de que na Copa, potencial de atratividade turística, • Copa que incentiva a mobilidade e
seja garantido o fornecimento de com grande diversidade racial, circulação sustentáveis
orgânicos às delegações interessadas, tolerância religiosa, uma enorme • Copa que incentiva o consumo
à rede hoteleira, restaurantes, eventos riqueza cultural, uma gastronomia d e p r o d u t o s o rg â n i c o s e / o u
relacionados com a Copa, e em parte rica e diversificada, entre outras sustentáveis
dos alimentos comercializados nos características muito peculiares. • Copa que promove o ecoturismo nos
estádios e seu entorno. Biomas Brasileiros – As Cidades- biomas brasileiros
sede são representativas da
3) Parques da Copa diversidade dos biomas brasileiros, Os próximos passos
Iniciativa proposta pelo MMA possibilitando apresentar ao mundo
e ICMBio, em articulação com o nossa megadiversidade e alavancar o O período que se inicia após a
Ministério do Turismo, visando à ecoturismo. Copa do Mundo de 2010, na África
estruturação de parques e reservas para Oportunidades para negócios do Sul, dará início a uma nova etapa
que tenham condições de absorver a verdes – temos boa capacidade do trabalho, com a definição do
demanda sobretudo de visitantes instalada na questão ambiental e processo de construção participativa
estrangeiros interessados em conhecer boa oportunidade de divulgação das diretrizes e seu cronograma, com
áreas preservadas no país. É um desafio global de “produtos” brasileiros (ex. vistas à consolidação das mesmas, e
importante, porque o Brasil atualmente biocombustíveis, produtos orgânicos ao início do processo de seleção e
possui um número muito pequeno de e/ou sustentáveis, produtos dos povos execução dos projetos.
áreas em condições de absorver essa tradicionais, etc…) Nesse sentido, está prevista, para
demanda. Tem relevância para todo Sustentabilidade com inclusão o início do segundo semestre de
o país, mas especial destaque para a Social – um dos grandes desafios 2010, a realização de um Seminário
Amazônia e o Pantanal, cujos estados do Brasil para a Copa é mostrar Internacional Sobre a Agenda de
foram escolhidos como sede em ao mundo que está enfrentando a Sustentabilidade da Copa 2014, para
função desse diferencial. O projeto luta contra a desigualdade. Por isso, o qual serão convidados especialistas
buscará parcerias com o setor privado temos uma grande oportunidade da Alemanha, da África do Sul, de
para sua viabilização. de desenvolver políticas que organizações internacionais como
articulem sustentabilidade ambiental o PNUMA – Programa das Nações
Qual será o diferencial brasileiro? com inclusão social, por exemplo, Unidas para o meio ambiente, e
valorizando os produtos dos povos especialistas brasileiros, com o
A abrangência regional como da floresta, parcerias com associações intuito de identificar erros e acertos
oportunidade – A realização da Copa e cooperativas de recicladores, entre das experiências já consolidadas e
tem um efeito diferenciado sobre o outros. os desafios que o Brasil terá para
país em relação aos outros eventos, em construir a mais sustentável de todas
função de sua amplitude de localização. Alguns exemplos de diretrizes que as Copas.
O fato de serem 12 cidades/estados- podem ser adotadas pelo Brasil Ao final de 2010, o governo
sede permite fazer com que os efeitos brasileiro pretende apresentar uma
das iniciativas relativas à Copa atinjam • Copa que neutraliza suas emissões primeira versão do Plano estratégico
todas as regiões brasileiras, podendo e coopera com o combate ao de ações do Brasil para a Copa 2014,
trazer benefícios significativos, não aquecimento global. incluindo aí um capítulo específico
só em obras de infraestrutura, mas na • Copa que promove sustentabilidade com a Agenda de Meio Ambiente e
geração de oportunidades. ambiental com inclusão social Sustentabilidade.
A mobilização da sociedade – A • Copa que incentiva e alavanca

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 59


A revitalização do
Por um Rio sustentável

Porto e o turismo

O Secretário Especial de Turismo,


Antonio Pedro Figueira de Mello, conta
como planeja recuperar o Porto do Rio
e devolver “vida a uma região que,
há décadas, via todos os projetos de
melhoria criarem poeira dentro de gavetas
burocráticas”.

Antonio Pedro Figueira de Mello


Secretário Especial de Turismo do Município do Rio de
Janeiro

O
turismo carioca cresce na direção do Porto.
O projeto de revitalização da região, batizado
de “Porto Maravilha”, já está modificando a
economia e a qualidade de vida no local. Há
pouco mais de dez anos, o Rio sequer figurava no ranking de
destinos preferidos dos turistas de cruzeiro. Hoje, a cidade se
transformou no “home port” nacional: gera 10 mil empregos anos abandonados, hoje recebem desde eventos do porte
diretos e 25 mil indiretos, com salários médios superiores a da Conferência da ONU para as Cidades (Un-Habitat) até
R$ 1.500,00 por mês e recebeu, na última temporada, mais eventos de gente descolada como o “Fashion Rio” e o “Noites
de 800 mil turistas, com geração de renda na ordem de Cariocas” – mostrando que o porto está, sim, na moda.
US$ 250 milhões na economia da cidade. A revitalização do porto servirá de estopim para iniciar um ciclo
É claro que tanta pujança tinha que reverberar no de desenvolvimento na região. O projeto tem iniciativas nas áreas
entorno. E o entorno do Porto do Rio, região que por muitos de infraestrutura, habitação, cultura e entretenimento, incluindo
anos viveu uma forte degradação, começa a mudar de cara. a reurbanização da Praça Mauá e das principais ruas do entorno;
O local, que já colhe os frutos do crescimento do turismo a construção de uma garagem subterrânea para 1000 veículos, a
náutico, irá se beneficiar também dos grandes eventos criação de 499 novas residências, com a recuperação de imóveis
esportivos que a cidade irá sediar nos próximos anos. Toda antigos; a implantação da Pinacoteca do Rio, para exposições
a área do porto, com seus prédios antigos e docas históricas, de arte; e a construção do Museu do Amanhã, para exposições
se tornará uma nova atração, cheia de vitalidade, no coração interativas e projeções científicas. Ou seja: devolverá vida para
do Rio. Hoje, tapumes por todos os lados ainda encobrem uma região que teve sua época de ouro nos anos 50, e que há
o que está por vir, mas os armazéns do cais, que passaram décadas via todos os projetos de melhoria criarem poeira dentro de

60 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ



gavetas burocráticas. A expectativa é atrair devolver a vida a regiões portuárias
para a região novos investimentos na área em outras grandes cidades. Foi o caso,
de construção civil, hotelaria, comércio por exemplo, de Puerto Madero, em
e serviços. Revitalizado e modernizado,
A revitalização Buenos Aires, que bairro fantasma e
decadente nos anos 80, passou a ser
o Porto se abrirá para oportunidades de
novos investimentos privados na área
do porto servirá um dos metros quadrados mais caros da
capital argentina, passagem obrigatória
de construção civil, hotelaria, comércio e
serviços, estabelecendo um ciclo virtuoso
de estopim para para todos os turistas que visitam a
nos bairros da Saúde, da Gamboa e do iniciar um ciclo de cidade em busca de bons restaurantes
e bares badalados. Prova de que o
Santo Cristo, e que também irá se refletir
nos bairros adjacentes, como São Cristóvão desenvolvimento na turismo, indústria sem chaminés e mais


e Caju. incontestável vocação carioca, tem tudo
O projeto carioca se inspira em região. para ser uma atividade sustentável –
outros casos de sucesso, que nos anos e, mais que isso, de progresso para a
80 utilizaram a verve turística para Cidade Maravilhosa.

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 61


Reestruturação do transporte público
Por um Rio sustentável

em modo sustentável
“Sustentabilidade em transporte significa atender as
exigências das modernas necessidades de mobilidade sem
que isso se constitua em ameaça ao modo de vida das
próximas gerações, ou seja, sem elevar os já alarmantes
níveis de qualidade do ar em nossas cidades”.  O
Secretário Municipal de Transportes, Alexandre Sansão
Fontes, explica as medidas que estão sendo adotadas para
oferecer à Cidade do Rio de Janeiro, maiores “condições de
acessibilidade e mobilidade sustentável”.

Alexandre Sansão Fontes


Secretário Municipal de Transportes do Município do Rio de Janeiro

A
o longo das três últimas degradação do transporte público é fazer uso de mais de um meio de
décadas, a cidade do Rio de uma preocupação da Prefeitura que, transporte pagando apenas uma
Janeiro sofreu modificações através da  Secretaria Municipal de tarifa em seus deslocamentos diários,
em sua estrutura urbana, Transportes, deu início a um processo também é um agente indutor desse
expressas por políticas de uso e de reestruturação dos sistemas de processo. Os estudos preliminares
ocupação do solo e intervenções no transportes operantes na cidade, desse projeto nos permitiram fixar
sistema viário, que privilegiaram  o tendo por objetivo a obtenção de uma tarifa integrada de R$ 2,40 - a
transporte individual em detrimento melhoria progressiva das condições mais baixa do Brasil e obtida sem
do transporte público. A consequência de acessibilidade  e mobilidade subsídios.
natural foi o crescimento exponencial sustentável  com a constituição de Essas premissas fazem parte do
da taxa de motorização individual, uma rede equilibrada, mediante um projeto de licitação do conjunto de
que não só eleva as emissões de gases sistema hierarquizado e integrado de linhas de ônibus da cidade, anunciado
poluentes como põe a mobilidade de transportes e de gerenciamento da recentemente, e da reestruturação do
seus cidadãos em xeque. mobilidade.  transporte complementar, também em
 Hoje, os grandes conglomerados  Nesse sistema hierarquizado, os fase de licitação na Zona Oeste, cujo
urbanos  sofrem com  graves diferentes modos de transporte modelo  vai avançar gradativamente
problemas de trânsito, deverão desempenhar  suas funções para o restante da cidade. Nesse sistema
congestionamento e emissão de primordiais de forma integrada, tanto que está sendo traçado, a implantação
gases. Desenvolve-se, em escala no âmbito físico, quanto tarifário. No de corredores de BRT - Bus Rapid
mundial, um esforço dessas cidades âmbito municipal, a constituição de Transit - como o TransCarioca (Barra-
contra o  fenômeno de redes racionais de transporte implica Penha), TransOeste (Barra-Guaratiba)
automotorização  crescente.  Esta na redistribuição de linhas de ônibus, e TransOlímpico (Barra-Deodoro) será
luta pode ser travada em vários promovendo o atendimento justo das decisiva. Os três corredores fazem
tipos de frente, entre as quais demandas por viagens de acordo com parte do caderno de compromissos do
podemos destacar a busca da maior as características de cada região; e Rio de Janeiro com a organização dos
eficiência dos transportes públicos, o na modernização da frota, a partir Jogos Olímpicos de 2016 e mudarão,
estímulo às viagens não motorizadas, da adoção de padrões tecnológicos de forma incisiva, o perfil de viagens
seja pela criação de ciclovias, seja em  sintonia com  o que existe de realizadas no município, pois não são
pelo fechamento de áreas urbanas à mais moderno, seguro e eficiente em apenas corredores de entrada e saída
circulação de veículos. transporte público.  da Barra da Tijuca, mas caminhos
  O enfrentamento deste quadro A  implantação do Bilhete para o desenvolvimento de outras
e a reversão desta tendência de Único,  que permitirá  à população regiões da cidade. 

62 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


Rio, capital da Ciência e Tecnologia

Rubens Andrade
Vereador, ex-Secretário de Ciência
e Tecnologia

A
pós um ano como Secretário
de Ciência e Tecnologia
da nossa cidade, posso
confirmar que o Rio
de Janeiro tem condições de se
transformar na capital da Ciência e
Tecnologia do nosso país.


A Secretaria foi criada em 1º de
janeiro de 2009. Não havia estrutura
e plano de trabalho. Conseguimos, Inovamos com a criação do projeto
junto à equipe formada, elaborar um
projeto para levar a nossa cidade a “Internet Itinerante”. Um carro
ocupar o lugar que atualmente ocupa adaptado com oito computadores e
na área da Ciência e Tecnologia.
Inicialmente, dividimos uma impressora conectados à internet,
que percorre os bairros onde há maior


nossa atuação em 5 áreas: Apoio
ao Desenvolvimento Científico e
Tecnológico, Áreas com alto valor necessidade do serviço.
agregado de C&T, Inclusão Digital,
Formação Inicial e Continuada e
Popularização e Difusão da C&T. elaboramos a minuta do projeto de lei fazer parte do Conselho Deliberativo
para a criação da Fundação Rio C&T, do Parque Tecnológico do Rio. Até
Apoio ao Desenvolvimento com objetivo de apoio e fomento à então, a prefeitura do Rio não era
Científico e Tecnológico: pesquisa, desenvolvimento e formação representada no Conselho.
e constituímos um grupo de trabalho Passamos a integrar e a participar
Nesta área, trabalhamos para que elaborou proposta para política do Conselho Deliberativo da BIO-
implantação do Centro Tecnológico do de implantação e consolidação dos RIO, Pólo de Biotecnologia do Rio
Rio, que será um Centro de Pesquisa, Parques Tecnológicos e Incubadoras. de Janeiro.
Desenvolvimento e Demonstrações Destaco nossa interação com os Trabalhamos pela definição do uso
em imóvel cedido ao CAND (Centro Parques Tecnológicos e Incubadoras urbanístico no bairro da Gávea com o
de Avaliação Não Destrutiva); de nossa cidade. Passamos também a Parque Tecnológico Sócio Ambiental

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 63


Por um Rio sustentável
Cultural da Gávea e articulamos a e Inovação; Inovação Estratégica; à internet e conteúdos, constituem
participação da Prefeitura, através da Pe s q u i s a , D e s e n v o l v i m e n t o e fator estratégico para o sucesso dos
Secretaria de Ciência e Tecnologia, na Inovação em Áreas Estratégicas e projetos de Inclusão Digital.
constituição do Território Tecnológico Ciência, Tecnologia e Inovação para Inovamos com a criação do projeto
de São Cristóvão. o Desenvolvimento Social. “Internet Itinerante”. Um carro
A Secretaria participou da XIV adaptado com oito computadores
Cumbre de Mercociudades, em Áreas com Alto Valor e uma impressora conectados à
Rosário, na Argentina. A delegação Agregado de C&T internet, que percorre os bairros onde
brasileira foi representada pela Frente há maior necessidade do serviço. É
Nacional de Prefeitos. Vinte cidades Com o objetivo de criar novas possível enviar currículos, acessar
participaram. vagas de trabalho e atrair mais e-mails, fazer pesquisas escolares,
Participamos também do XIX empresas da área de Tecnologia da imprimir segunda via de contas de
Seminário Nacional de Parques Informação para a cidade, iniciamos prestadoras de serviços, como luz,
Tecnológicos, Incubadoras e Empresas, toda tramitação para alcançarmos água, gás e outros.
e do 3º Info Fórum Global de Inovação a redução do ISS das empresas O projeto “Praça Digital” encontra-
e Empreendedorismo, realizados pela de TI, reduzindo de 5% para 2% o se em fase de implantação. Ele
Associação Nacional Promotora de Imposto Sobre Serviços. O projeto prevê a instalação de Módulos com
Empreendimentos Inovadores em foi elaborado e enviado à Câmara computadores permitindo acesso
parceria com o Sebrae. Municipal do Rio de Janeiro. gratuito à internet, em praças de
Organizamos e coordenamos o Também pela primeira vez, a vários bairros da cidade, promovendo
Seminário “Rio de Braços Abertos prefeitura do Rio esteve presente na a integração e revitalização de áreas
para a Tecnologia”, com a participação organização da RIOINFO, 7º Encontro públicas.
do professor Josep Pique, diretor do Nacional de Tecnologia e Negócios. O “Rio Digital” é um projeto em
Distrito@22Barcelona. Uma troca de Além disso, integramos e fase de implementação e implantação.
experiência valiosíssima, já que ele participamos do Conselho Deliberativo Centros de inclusão digital em espaços
abordou toda a mudança estratégica da da Sociedade Núcleo de Apoio à públicos, com o objetivo de atender à
cidade de Barcelona, particularmente Produção e Exportação de Software população na prestação de serviços,
da área portuária. do Rio de Janeiro- RIOSOFT. via acesso gratuito à internet, e
Articulamos e convocamos o Em parceria com a ASSESPRO, ensino à distância e presencial. A
primeiro encontro do Fórum Nacional realizamos o Seminário de Linhas parceria com instituições doadoras
de Secretários Municipais de Ciência de Fomento, sobre todas as linhas de computadores para entrega
e Tecnologia, como parte integrante de financiamento existentes na área em entidades que necessitem do
da Frente Nacional de Prefeitos, de TI, com a participação de várias equipamento, já é uma realidade.
realizado na cidade do Rio de Janeiro, empresas, totalizando 200 pessoas Elaboramos projetos apresentados
do qual participaram vinte e uma presentes. ao Ministério da Justiça, para fazerem
cidades do nosso estado. parte do Pronasci (Programa Nacional
Promovemos o Seminário “Novas Inclusão Digital de Segurança Pública com Cidadania),
Te c n o l o g i a s p a r a u m a C i d a d e destinados ao público jovem das
Sustentável” com o ambientalista A Secretaria de Ciência e comunidades, como o “Carioca
Sérgio Besserman, como parte Tecnologia constituiu o Grupo de Digital”.
integrante do projeto Cidade, Trabalho Inclusão Digital e Serviços, Somos parceiros da Secretaria
Cidadania, Ciência e Tecnologia, com reuniões semanais. Uma de de Estado de Ciência e Tecnologia,
que tem por objetivo a promoção de suas realizações foi o Seminário de no projeto Estado Digital que
seminários e simpósios que visem Inclusão Digital e Serviços, com disponibiliza acesso gratuito à
difundir novas tecnologias. 250 participantes, no auditório do internet nas orlas de Copacabana,
Coordenamos a primeira Centro Administrativo da Prefeitura. Ipanema, Leblon, comunidades Santa
Conferência Municipal de O grande objetivo foi a discussão Marta, Cidade de Deus e Rocinha,
Comunicação, cujo tema foi sobre a inclusão digital, fundamental Avenida Brasil, Sambódromo e Zona
“Comunicação: meios para a para o desenvolvimento humano, Portuária.
construção de direitos e de cidadania principalmente nas áreas com
na era digital”, com 350 participantes, baixo Índice de Desenvolvimento Formação Inicial e Continuada
e também a Conferência Municipal Humano (IDH) e baixo Índice de
de Ciência e Tecnologia, com o Desenvolvimento Social (IDS). Integramos o projeto “Rio Poupa
debate dos seguintes temas: Sistema Disponibilizar serviços, formação Tempo”, em um shopping no bairro
Nacional de Ciência, Tecnologia inicial e continuada, acesso gratuito Bangu, onde a população, além de

64 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


“ Fizemos também uma parceria com o Museu de
Astronomia e levamos o planetário móvel para estudantes


que nunca tiveram a oportunidade de assistir às sessões.

pesquisas na internet, pode fazer Também elaboramos o projeto Organizadora da Semana Nacional
cursos na área de informática. para a implantação de CVT - Centro de Ciência e Tecnologia no Armazém
Para se ter uma idéia, de julho a Vocacional Tecnológico da Indústria de Cultura e Cidadania, no centro
dezembro de 2009, atendemos 3.840 Criativa, e apoiamos o projeto CECID da cidade e no Centro Esportivo
pessoas e formamos 358, em alguns – Centro Experimental de conteúdos Miécimo da Silva, em Campo Grande.
destes cursos: Capacitação Inicial, Interativos Digitais. Recebemos 13 mil visitantes, que
Trabalhando com Textos (word/open tiveram acesso gratuito à internet.
office). Popularização e Difusão da C&T Fizemos parte da Comissão
Em parceria com o governo federal, Organizadora do evento “Astronomia
destaco o FORSOFT RIO, projeto para Nesta área, o objetivo era na Cinelândia”, com 20 mil visitantes,
Formação de Jovens em Programação aproximar ainda mais os projetos de no qual disponibilizamos acesso
de Computadores e Inglês Técnico, e ciência e tecnologia da população. gratuito à internet aos visitantes.
o PROEJA FIC, Programa de Educação A “Caravana da Ciência Carioca”, Fizemos também uma parceria com
de Jovens e Adultos, em convênio uma parceria com a Fundação Centro o Museu de Astronomia e levamos
com o Instituto Federal de Educação de Ciências e Educação Superior à o planetário móvel para estudantes
Ciência e Tecnologia. Distância do Estado do Rio de Janeiro que nunca tiveram a oportunidade
O projeto “Casa Brasil”, – CECIERJ, com uma carreta adaptada de assistir às sessões.
funcionando no Ciad Mestre Candeia com vários experimentos científicos Em março de 2010, retornei à
em convênio com o Governo Federal, e duas tendas com um planetário Câmara Municipal do Rio de Janeiro,
disponibiliza: telecentro, sala de móvel, é um bom exemplo desta reassumindo o mandato de vereador.
leitura, auditório, laboratório de difusão. No ano passado, a Caravana Mas, tenho a certeza de que o trabalho
informática, estúdio multimídia, recebeu a visita de 12.554 pessoas, desenvolvido na Secretaria de Ciência
oficina de rádio e cursos de em 7 bairros. e Tecnologia renderá frutos para
informática básica, produção para Elaboramos projeto para a nossa cidade e sua população.
web (HTML), arte digital, montagem constituição de uma carreta adaptada Entidades de classe, empresas,
e manutenção de computadores. Em na área de ciência e tecnologia, o estudantes e trabalhadores da área
2009, formaram-se 398 alunos no “Território da Ciência”, para atender de ciência e tecnologia têm agora um
Casa Brasil e chegou-se à marca de ao município do Rio de Janeiro. canal com a Prefeitura do Rio.
10 mil acessos à internet. Pa r t i c i p a m o s d a C o m i s s ã o

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 65


Por um Rio sustentável

A Voz do Povo

“Como os cariocas podem contribuir


para tornar o Rio uma cidade mais
sustentável?”
Moradores do Rio respondem à enquete da Revista
TCMRJ demonstrando como cada um vê a questão
da sustentabilidade.

Helio Crespo Barbara de


Empresário Oliveira Coimbra
33 anos Estudante
morador 17 anos
da Barra da moradora de
Tijuca Marechal Hermes

Mais carinho com a cidade


Ações desenvolvidas em O carioca pode tornar o Rio mais sustentável
conjunto com o poder público cuidando com mais carinho da cidade: não jogando
lixo nas ruas, economizando água, fazendo o plantio
Pequenas iniciativas no dia a dia dos cariocas de árvores em locais desmatados, não fazendo
podem tornar a cidade “mais maravilhosa” queimadas, mesmo que sejam aquelas pequenas
ainda, tais como: reciclagem do lixo domiciliar, fogueirinhas, pois elas também agridem o meio
redução do consumo de energia (chuveiros ambiente, e descartando o lixo separadamente,
elétricos), incentivo do replantio e reflorestamento em lixeiras de coleta seletiva. O óleo utilizado
das encostas e morros da cidade, implantação na cozinha também não deve ser jogado na pia,
do ônibus ecológico, aumento de ciclovias e pois polui os rios. Há lugares que coletam o óleo
campanhas para utilização destas. Estas ações usado. A consciência de cada um de nós fará muita
deverão ser desenvolvidas em conjunto com o diferença amanhã. Se nós precisamos respirar, a
poder público e os cariocas, cabendo a todos uma nossa cidade também precisa.
parcela de participação”. Quero poder continuar cantando a estrofe da
música que diz “o Rio de Janeiro continua lindo”.

66 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


66 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ
André Carvalho
Biólogo e Mônica Carvalho
psicoterapeuta Mestrando em design
46 anos 26 anos
morador do moradora da
Flamengo Tijuca

Ações individuais dos cariocas


fazem diferença
Viver no mundo
sem ferir o mundo Talvez o mais importante seja não se dar por satisfeito
e acreditar que você está “fazendo a sua parte” apenas por
Presenciei essa cena em um ônibus. Uma senhora, separar o lixo e ter comprado uma sacola de pano que se
sentada ao lado do netinho, oferece-lhe uma bala. diga ecológica. Há muito mais a se fazer. Além das dicas
Ávido, o menino tira o papel que a envolve e joga-o no mais comuns sobre transporte, energia e água, deve-se
chão. A avó o repreende, obrigando-o a catar o papel. pensar principalmente no consumo e na participação.
Ele obedece, e... joga-o pela janela! Nunca esquecerei As orientações para diminuir o número de carros nas
o movimento de cabeça da avó, de aprovação, seu ruas são muitas e vão desde preferir o transporte público
sorriso orgulhoso. Ensinara ao neto um princípio: ou a bicicleta a criar a rotina de dar carona aos familiares,
não sujar o que é de todos. Ela incorporou o princípio vizinhos e colegas de trabalho. Também deve-se evitar
ético fundamental a uma atitude sustentável: somos o desperdício de energia e água, cultivando os simples
co-responsáveis pelo bem comum. Mas jogar lixo na hábitos de apagar as luzes, fechar a torneira, não lavar
rua não era errado, pois a rua – para ela e a maioria - a calçada e usar equipamentos econômicos.
é “terra de ninguém”. Proust disse que “a verdadeira No supermercado, é fundamental ler os rótulos e
viagem de descobrimento não consiste em procurar dar preferência, por exemplo, a produtos orgânicos,
novas paisagens, mas em ter novos olhos”. Aplicando produzidos localmente e com embalagens econômicas
essa ideia à questão ambiental, precisamos renovar ou que possam ser recarregadas. Porém, é preciso
nosso olhar, percebendo que ‘ambiente’ não é só tomar cuidado com o marketing verde. Quem garante
Mata Atlântica ou Floresta Amazônica. Ambiente é que aquela característica anunciada pelo fabricante é
onde estamos e vivemos. Perceber a cidade - árvores, relevante? Será que não é só uma estratégia para vender
lagoas, praias, mas também ruas, calçadas, prédios – mais? Por isso, deve-se sempre procurar por selos verdes
como nosso ambiente. Com essa consciência, abrir de órgãos confiáveis.
mão do individualismo Big Brother dos dias atuais. Tão importante quanto o papel como consumidor é
Evitar desperdiçar água e luz, não chamar dois o papel como cidadão. Nas últimas eleições, o tema do
elevadores, fazer coleta seletiva de lixo (mesmo que meio ambiente ganhou destaque. É preciso acompanhar
seu prédio não tenha o sistema, o pessoal da limpeza se o que foi prometido está sendo cumprido.
tem a quem vender lixo reciclável), não emporcalhar Mas a participação vai além, ela está no envolvimento
a rua, revezar caronas, ou ir caminhando, ao local de com a cidade, o bairro e a própria rua. É importante
trabalho. Perceber a si mesmo não como proprietário reservar um tempo para participar das reuniões de
ou usuário do ambiente urbano, mas como parte condomínio e verificar se as estações de tratamento de
integrante dele. Viver no mundo sem ferir o mundo. É água estão ligadas, se há coleta seletiva do lixo e em quais
nesses pequenos gestos invisíveis que manifestamos dias ela é feita e até propor a implantação de sistemas
nossa atitude ética em relação à comunidade e à nossa de aproveitamento de água e tetos verdes.
cidade. O espaço público é terra de todos, e não terra Apesar do Rio ser uma cidade grande, as ações
de ninguém. individuais dos cariocas fazem diferença, quando são
disseminadas e se tornam hábitos.

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 67


Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 67
Retrat
o
Vila Isabel
Rio

dos
s
Bairro

“ São Paulo dá café / Minas dá


leite / e a Vila Isabel dá samba
Noel Rosa

Petisco da Vila, o mais tradicional bar do bairro

L
ar dos compositores Noel Rosa, da cidade do Rio de Janeiro. Na ocasião, assinatura da Lei do Ventre Livre.
Orestes Barbosa, Pixinguinha, coube ao compositor Almirante escolher Oficialmente fundado em 3 de
Martinho da Vila, Braguinha, as 20 músicas que ficariam gravadas no janeiro de 1872, o bairro de Vila Isabel
Almirante e muitos outros, “a chão, da Praça Maracanã, no início do abriga nove prédios tombados pelo
Vila de Noel significava para o Rio de Boulevard 28 de Setembro, à Praça Patrimônio Histórico, a exemplo do
Janeiro o que Ipanema representou na Barão de Drummond. primeiro Jardim Zoológico do Brasil,
década de 60”, afirmou o jornalista e Bairro de classe média da Zona atualmente denominado “Recanto da
historiador Sérgio Cabral. Norte do Rio, Vila Isabel nasceu da Princesa” – onde o Barão de Drummond
Pa r a e n f a t i z a r a g i n g a e a iniciativa do comerciante mineiro João criou o jogo do bicho – e da Basílica
musicalidade do bairro, Negrão de Lima, Batista Viana Drummond, futuro Barão Nossa Senhora de Lourdes, que recebeu,
governador do Estado da Guanabara de de Drummond, que adquiriu as terras do Papa João XXIII, o título de “Basílica
1965 a 1971, autorizou a decoração da “Imperial Quinta do Macaco”, de Menor”, em 23 de maio de 1959.
das calçadas do Boulevard 28 de propriedade da Imperatriz D. Amélia. Mantendo a tradição boêmia, o
Setembro com mosaicos portugueses Abolicionista e amigo de figuras de bairro de Vila Isabel continua atraindo
que desenham partituras de sucessos destaque com quem compartilhava enorme quantidade de pessoas que
de grandes autores da Música Popular ideais políticos, Drummond batizou buscam curtir boa música, ou mesmo
Brasileira. Ideia do arquiteto Orlando o bairro em homenagem à Princesa o papo com os amigos. Dentre os
Madalena, o projeto fez parte das Isabel e a principal via, Boulevard 28 mais conhecidos bares da região, o
comemorações dos quatrocentos anos de Setembro, em referência à data de Petisco da Vila reúne fregueses ilustres

68 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


desde 1969, quando inaugurado: eram
presenças certas no bar o cantor e
compositor Aldir Blanc, Martinho da
Vila, Neguinho da Beija-Flor, Jamelão
e o cartunista Jaguar. Graças a esses
e tantos outros frequentadores, o
Petisco da Vila alcançou o posto de
maior vendedor de chope do país,
com consumo médio de 42 mil litros
por mês.
O bairro sedia ainda a escola de
samba Vila Isabel, fundada por “seu
China” (Antonio Fernandes da Silveira),
egresso do Salgueiro. Inicialmente,
bloco simples, conhecido por “Azul e
Branco de Vila Isabel”, a Vila passou a
se chamar GRES Unidos de Vila Isabel
somente em 1947, quando desfilou,
pela primeira vez, como escola de
samba. Em 1968, desfilou com o enredo
“Quatro séculos de modas e costumes”,
trazendo como destaque na avenida Basílica Nossa Senhora de Lourdes
um modelo original de vestido do
costureiro Paco Rabanne. As 20 músicas escolhidas para ficarem gravadas nas
Mas, a Unidos de Vila Isabel se
consagrou definitivamente quando, calçadas musicais de Vila Isabel:
em 1988, foi campeã do carnaval com
• Cidade Maravilhosa - André Filho (esta primeira ainda na Praça Maracanã)
o enredo “Kizomba – Festa da Raça”,
• Abre Alas - Chiquinha Gonzaga
idealizado por Martinho da Vila. O
• Pelo Telefone - Donga/Mauro de Almeida
samba-enredo, homenagem aos 100 • Mal-me-quer - Cristóvão de Alencar/Armando Reis/Newton Teixeira
anos da abolição da escravatura, foi • Feitiço da Vila - Noel Rosa/Vadico (em frente à Associação Atlética Vila
composto por Rodolpho de Souza, Isabel)
Jonas e Luiz Carlos da Vila. Em 2000, a • Ave Maria - Ertildes Campos/Jonas Neves
escola foi rebaixada ao Grupo de acesso • Aquarela do Brasil - Ary Barroso
A, retornando, cinco anos depois, ao • Jura - Sinhô
grupo principal para, em 2006, ser a • Carinhoso - Pixinguinha/João de Barro
• Linda Flor - Henrique Vogeler/Luís Peixoto
grande vencedora do carnaval com
• A Conquista do Ar - Eduardo das Neves
o enredo “Soy loco por ti America: a
• Luar do Sertão - Catulo da Paixão Cearense/João Pernambuco
Vila canta a latinidade”, de autoria do • Chão de Estrelas - Orestes Barbosa/Sílvio Caldas
carnavalesco Alexandre Louzada. • Linda Morena - Lamartine Babo
Após anos sem quadra de ensaio • A Voz do Violão - Francisco Alves/Horácio Campos
fixa, a escola ganhou o espaço no • Na Pavuna - Homero Dornellas/Almirante
Boulevard 28 de Setembro onde, na • Primavera do Rio - João de Barro/ Ernesto Nazareth
década de 60, funcionava uma garagem • Apanhei-te Cavaquinho - Ernesto Nazareth
de bondes e, posteriormente, um galpão • Florisbela - Nássara/Frazão
• Renascer das cinzas - Martinho da Vila (esta última já na Praça Barão de
do Detran. Em 2008, depois de passar
Drummond).
por uma reforma de 4 milhões de reais,
a atual quadra do GRES Unidos de Vila
Isabel (4 mil metros quadrados de área
construída) foi considerada a mais
moderna quadra de escola de samba
do Rio de Janeiro. É tão moderna que
até possui três banheiros: o masculino,
o feminino e o GLS.

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 69


Ipanema
o
Retrat
Rio

dos
s
Bairro

I
panema, em tupi-guarani, que acabou por emprestar nome à General Osório, e da tradicional
significa “água ruim”. Infeliz rocha. Feira Hippie, realizada sempre aos
coincidência: proprietário das Pr a i a d e m u s a s c o m o H e l ô domingos, na praça N. Sra. da Paz.
terras da região, José Antonio Pinheiro e Leila Diniz, Ipanema A Casa de Cultura Laura Alvim, o
Moreira Filho, à época Comendador, sempre “ditou moda” e hábitos: Teatro Ipanema e os “badalados”
batizou o bairro em homenagem aplaudir o por de sol, por exemplo, bares do bairro fazem parte da
ao pai, Barão de Ipanema. Que se tornou costume desde quando, história cultural do Rio. Durante o
injustiça: totalmente contrárias no verão de 68, o jornalista Carlos carnaval, blocos tradicionais como
à tradução da língua “tupi”, as Leonam, estarrecido com tamanha a “Banda de Ipanema”, “Simpatia é
águas claras e limpas da praia de beleza, bateu palmas para saudar Quase Amor” e “Rola Preguiçosa”
Ipanema atraem turistas do Brasil aquele cair de tarde. Nos anos 60 lotam as ruas do bairro com foliões
e do mundo. e 70, Ipanema foi palco da Bossa de todas as idades.
Dentre os pontos que consagraram Nova, do Tropicalismo, do Pasquim,
as areias de Ipanema, merecem da tanga e do top-less. Ipanema:
destaque o Posto 9, frequentado por Sofisticada e com intensa vida história que singulariza
celebridades e grupos de jovens, e noturna, Ipanema figura dentre
a Ponta do Arpoador, que abrigou os principais pontos turísticos da Originalmente, a região (da
as baterias finais do primeiro cidade do Rio de Janeiro. Moradores atual Ipanema) pertencia à Fazenda
Campeonato Brasileiro de Surfe, em se orgulham do Parque Garota de Copacabana e abrigava a aldeia
1965. No “Arpoador”, era costume Ipanema, da Igreja Nossa Senhora “Jaboracyá”, da tribo dos Tamoios.
caçar baleias somente com arpões, da Paz, recentemente reformada, da Em decorrência da chegada da Corte
em meados do século XVII – prática feira de frutas e verduras, na praça portuguesa ao Brasil, em 1808, e do

70 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ



aumento populacional da cidade em apartamento tomaram o lugar das
meados do século XIX, ocorreram antigas residências e os gabaritos
iniciativas de povoamento da larga foram aumentados. Surgiram apart-
faixa de terra e areia, entre o mar hotéis e grandes centros comerciais,
e a lagoa. A Corte preferiu seguir Lembra que que tornaram Ipanema um dos
em direção à Floresta da Tijuca,
norte da cidade, enquanto o corpo tempo feliz/ bairros mais caros do Rio de Janeiro.
Recentemente, vários albergues
diplomático e os ingleses preferiram
ocupar a Zona Sul, onde só havia
Ah! Que foram instalados em pequenas casas
de vila, antes menos procuradas.
vilas de pescadores. saudade/ Em “Carta ao Tom”, endereçada
Poucas décadas depois, em
1883, foi criado o Loteamento Ipanema era à Rua Nascimento Silva, 107, antiga
residência do maestro, Vinicius
Villa Ipanema, empreendimento
alavancado com o prolongamento da
só felicidade/ de Moraes rememora, nostálgico:
“Lembra que tempo feliz/ Ah! Que
linha de bondes de Copacabana até a Era como saudade/ Ipanema era só felicidade/
região. Em 1894, foram construídas
as praças Floriano Peixoto (atual se o amor Era como se o amor doesse em
paz”. À época, Vinicius observou
General Osório) e Coronel Valadares doesse em que a “famosa garota nem sabia/


(Nossa Senhora da Paz), e a primeira a que ponto a cidade turvaria/
rua do bairro, Rua 20 de Novembro, paz. Esse Rio de amor que se perdeu”.
hoje Visconde de Pirajá. Mais Crítica ferrenha, se de fato turvou,
tarde, novas ruas foram abertas e Ipanema não sentiu: as águas da
muitos lotes vendidos, consolidando Vinícius praia continuam cristalinas, a banhar
definitivamente a ocupação do de Moraes muitas garotas de Ipanema, que se
bairro. multiplicam para deleite dos poetas;
Na década de 70, prédios de “canções do amor demais”!

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 71


Sambódromo: retrato da al
Sambódromo 25 anos

A
Passarela Professor Darcy
Ribeiro, popularmente
conhecida como
Sambódromo, foi
inaugurada em 2 de março de 1984,
durante o primeiro governo de Leonel
Brizola (1983-1987). Idealizado pelo
antropólogo Darcy Ribeiro, vice-
governador à época, o Sambódromo foi
projeto do arquiteto Oscar Niemeyer
que substituiu, por concreto, as
estruturas de ferro e madeira que eram
montadas, anualmente, para o desfile
das escolas de samba.
Além da Passarela, o projeto
incluía um local com salas de aula
– para que o espaço funcionasse o
ano inteiro – e uma praça, ao final
da avenida, para confraternização
dos integrantes da escola com o
público. Isso aconteceu somente no
primeiro ano do Sambódromo, em
1984, quando a Mangueira, última
escola a desfilar, foi e voltou na
avenida seguida por uma multidão que
descia das arquibancadas. A verde-e-
rosa sagrou-se primeira vencedora da
Passarela do Samba.
A estrutura do Sambódromo
possui 700 metros de extensão, em
peças pré-moldadas de concreto, e
conta com cerca de 300 banheiros, 35
bares e capacidade de 65 mil pessoas. célebres desfiles de carnaval da
A obra, que mudou definitivamente Desfiles inesquecíveis: história do Sambódromo, “Ratos
o destino do carnaval carioca, foi momentos de emoção e Urubus...” não deu o título à
realizada em 120 dias. A passarela era Beija-Flor, que acabou em segundo
a antiga aspiração dos sambistas que, Ao longo de duas décadas e meia, o lugar; atrás apenas da Imperatriz
desde 1970, lutavam por um espaço Sambódromo gerou boas recordações Leopoldinense, que desfilou o
definitivo para o desfile das escolas naqueles que acompanham o carnaval samba “Liberdade, Liberdade, abre
de samba. carioca. Em 1986, por exemplo, a as asas sobre nós”, enredo marcante e
Para o fundador do Centro de Beija-Flor desfilou “O mundo é uma luxuoso, contraponto da mendicância
Memória da Liesa, historiador Hiram bola”, com 20 centímetros de água da Beija-Flor.
Araújo, a construção do Sambódromo de chuva na pista. Ninguém esquece Marca registrada do carnaval
significou a libertação econômica aquele carnaval em que Joãozinho carioca, mulheres maravilhosas
das escolas, que passaram a contar Trinta transformou lixo em fantasia, encantaram diversas gerações.
com financiamentos governamentais. e levou mendigos para a Avenida: Ninguém esquece de quando, em
“Toda a subvenção do governo ia para “Ratos e Urubus, larguem minha 1991, aos 84 anos, a saudosa atriz
as empreiteiras, para montagem e fantasia”, de 1989. Dercy Gonçalves desfilou seminua,
desmontagem da estrutura”. Embora esteja entre os mais em carro alegórico da Unidos da

72 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


legria carioca

Os mais idosos
se emocionam
ao lembrar
da comissão
de frente da
Mangueira
de 1999, que
homenageou
sambistas
antológicos
como
Pixinguinha,
Cartola e Clara
Nunes.

Viradouro, que a homenageava. E


como não lembrar do “Negro que
Rio, em 2001? Memória recente, e o
campeonato polêmico da Mangueira,

de prateado e iluminadas de azul, se
entrelaçam como a formar cadeias
virou ouro na terra do Salgueiro”, em 2002, com “Brasil com “Z” é pra genéticas. Em 2010, a Unidos da
de 1992? Cabra da Peste, Brasil com “S” é Tijuca voltou a surpreender com as
Dentre as referências dos mais Nação do Nordeste”? No primeiro ano mágicas trocas de roupa da comissão
jovens, certamente constará aquela em que os jurados puderam atribuir de frente. Inesquecível!
batida “funk” da bateria da Viradouro notas “quebradas” (antes, valiam Inesquecíveis, também, os desfiles
que, em 1997, encantou foliões e apenas notas inteiras ou frações de da Portela e da Unidos de Vila Isabel!
jurados com “Luz! Trevas! A explosão meio ponto), a Estação Primeira de São tantas boas lembranças! De
do universo!”. Os mais idosos se Mangueira venceu a Beija-Flor de pandeiros giratórios a ritmar os giros
emocionam ao lembrar da comissão Nilópolis por mero 0,1 ponto. das baianas; inesquecíveis 25 anos
de frente da Mangueira de 1999, que Passados seis anos, estudiosos e de porta-bandeiras a carregar, com
homenageou sambistas antológicos carnavalescos ainda comentam as leveza, quilos de tradição secular –
como Pixinguinha, Cartola e Clara alegorias humanas de Paulo Barros, sempre reverenciadas por rapapés
Nunes. que surpreendeu ao apresentar aquele meticulosos. 25 anos de inesquecíveis
E aquele astronauta que sobrevoou carro do DNA, da Unidos da Tijuca, mulatas, essência do samba, emblema
a Avenida, durante o desfile da Grande em 2004 – pessoas nuas, pintadas da força do Brasil...

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 73


Carnaval, 25 anos depois
Sambódromo 25 anos

Passados 25 anos da inauguração do


Sambódromo, o presidente da Liesa,
Jorge Castanheira, avalia acontecimentos
históricos e a situação do Carnaval
carioca, que ingressa na maturidade.
Dos carros alegóricos à introdução da
tecnologia, o “Carnaval foi e sempre
será uma manifestação cultural do povo
brasileiro”, afirma Castanheira, em
entrevista à Revista TCMRJ.

Jorge Castanheira
Presidente da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de
Janeiro - Liesa

Há quantos anos o senhor adequando-se às realidades de cada há algum tempo. Atualmente os


faz parte da LIESA e há quantos anos época.  jovens, assim como as crianças e as
é o presidente? pessoas da “melhor idade”, fazem
Comecei na Liga como colaborador As mudanças de valores sociais (de parte deste magnífico espetáculo.
desde a sua fundação, em julho estética, de arquitetura) mudaram a No momento em que todos buscam
de 1984, e como funcionário até  o forma de fazer carnaval? maior integração dentro da sociedade,
ano de 1993. Pela segunda vez me Não há  sociedade que não  se o Carnaval é um exemplo de como
encontro na presidência da LIESA. transforme em 25 anos. E as mudanças esta interação pode ser plenamente
O primeiro mandato foi durante o na sociedade refletem também no alcançada. 
período de 1995/1997 e, após alguns Carnaval, que é uma manifestação
anos, retornei em abril de 2001, da cultura popular desta mesma O carnaval permanece sendo “a
atendendo ao convite para participar sociedade. Com a criação do festa de alegria popular” ou se tornou
da diretoria, como vice-presidente, Sambódromo e a fundação da LIESA, mais um “produto mercadológico
cargo que muito me orgulhei de as Escolas de Samba passaram a ter internacional”?
ter ocupado até o mês de maio de um nível de organização cada vez O Carnaval sempre foi e
2007. Logo em seguida fui eleito melhor e, como disse anteriormente, sempre será, primordialmente,
presidente e, posteriormente, reeleito procuraram alternativas para crescer e uma manifestação cultural do povo
para exercer o mandato até maio de tornar o desfile ainda mais competitivo, brasileiro. E, por isso, é uma festa que
2012. atraente e grandioso.  proporciona alegria, encantamento
e cultura. Na sociedade globalizada
Por que os critérios de julgamento, E o carnaval interfere na construção e mercadológica do século XXI,
de desempate e pontuações mudaram das novas identidades sociais? tudo acaba se transformando num
ao longo de 25 anos? Acredito que o Carnaval seja produto - e, se é bom, com alcance
Po r q u e o C a r n a v a l f o i s e construído por conta destas novas internacional. É o caso, por exemplo,
modernizando. As Escolas de Samba identidades. Os desfiles das Escolas de das grandes competições esportivas.
vêm se esmerando para apresentarem, Samba, a cada ano, comprovam, com É o caso do nosso Carnaval. 
a cada ano, um espetáculo de maior novos exemplos, essa visão conceitual.
qualidade. Sendo assim, os níveis de Hoje, todas as classes sociais A introdução dos novos instrumentos
exigência e os critérios de julgamento participam e atuam efetivamente no de tecnologia transformou as Escolas
também tiveram que ser alterados, Carnaval, o que não era tão comum de Samba? Também mudou a forma

74 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


de fazer carnaval? lógicos, matemáticos de julgamento existam parâmetros e indicações, a
Entendo esta questão como uma fazem análises pouco razoáveis subjetividade, a opinião de cada um,
aplicação do desenvolvimento de do carnaval, indo até contra os sempre dará o norte da avaliação.
novos materiais e produtos e de aplausos do povo?
novas ferramentas com o auxílio da Não necessariamente, pois o Que curiosidades e destaques o
tecnologia. Como em toda sociedade, que é chamado de critério lógico e senhor tem para contar desses 25 anos
a evolução é bem-vinda. Há alguns objetivo é, na realidade, a base do de existência do Sambódromo?
anos, para se conseguir movimento nosso Manual do Julgador. Nele Vários foram os momentos de
num carro alegórico colocava-se estão concentradas as orientações grande entusiasmo e encantamento
diversas pessoas movendo complexos básicas que o julgador deve seguir durante os espetáculos apresentados
mecanismos. Hoje, uma só pessoa, para avaliar uma Escola de Samba, pelas Escolas de Samba através de
ou até um programa de computador sob o ponto de vista específico do suas diretorias e grupos de trabalho
pode permitir que vários efeitos seu quesito de julgamento. O público na área de criação (carnavalescos,
especiais aconteçam. Assim, muda- normalmente avalia o espetáculo compositores, diretores e demais
se, é claro, a forma de fazer carnaval, de uma forma geral, analisando o segmentos). Já tivemos sambas e
mas jamais a sua essência, que é conjunto do que foi apresentado enredos que ficaram marcados pela
o seu maior patrimônio, ou seja, a em desfile, e não por aquilo que beleza e inventividade com que
sensibilidade e a criatividade de é determinado, especificamente, foram apresentados na Avenida
quem o concebe, produz e inova em cada um dos dez quesitos em Marquês de Sapucaí e é por isso
constantemente.  julgamento. Além disso, é natural que os Desfiles das Escolas de
que exista a subjetividade e o gosto Samba do Grupo Especial vêm
Durante esse tempo frente de cada um. Um julgador de fantasias nos surpreendendo a cada ano,
à  presidência da LIESA, o senhor avalia de acordo com a sua visão garantindo a permanência do título
constatou alguma injustiça  cometida estética. O mesmo acontece com o de maior espetáculo realizado a céu
a alguma das Escolas? Até que julgador de alegorias e adereços, ou aberto no mundo.
ponto critérios muito objetivos, qualquer outro quesito. Por mais que

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 75


Revelações de Nestor Rocha mudam
Sambódromo 25 anos

história do Sambódromo
Conselheiro do TCMRJ, Nestor Rocha participou da
elaboração do projeto arquitetônico da Passarela do
Samba. Adorador de arquitetura e, à época, Secretário
de Turismo e Esportes do Rio de Janeiro, Nestor Rocha
apresentou a ideia original de construção da “Passarela”
ao então governador Leonel Brizola, que logo encampou a
ideia. Confira a entrevista, concedida à Revista TCMRJ, que
reforma a história do carnaval carioca.

Conselheiro Nestor Rocha


TCMRJ

Por que o conselheiro-


presidente Thiers Montebello indicou
o senhor para falar sobre a ideia de
construção do Sambódromo?
Certa vez, apenas a título de
curiosidade, comentei com o amigo
Thiers que havia sido minha a ideia
de se construir o lugar fixo para os
desfiles das escolas de samba. Mas,
na época, 1983, o assunto em torno
do projeto tomou rumo político de
tal importância que não valia a pena
discutir a paternidade da ideia. Até
porque o meu objetivo maior sempre
foi o bem da Cidade!

E como nasceu a ideia? pagar, estava em situação muito difícil seriam cobertas também com placas de
Eu passava por ali, na Marques na época. Apresentamos o estudo à aço. Estava pronto o projeto.
de Sapucaí, e via aquele monta-e- CSN, que gostou da possibilidade
desmonta de arquibancadas, ano a ano. de fornecer as estruturas de aço em O senhor chegou a prever resultados
A operação levava sete, oito meses. pagamento da dívida. Junto com dois financeiros do projeto?
Imaginei, então, que deveria existir arquitetos da Riotur, estudamos a Eu tenho formação em mercado
algum jeito de tornar aquele espaço montagem da estrutura metálica com financeiro; fizemos, também, um
definitivo. Em 1983, quando ocupava aços de ponte. Fizemos o projeto. estudo de viabilidade econômica de
o cargo de Secretário Municipal de E fomos buscar no Rio Grande do como aumentar a receita do espaço.
Turismo e Esportes, conversei com Sul uma fábrica de pré-moldados Então, pensamos nas arquibancadas,
alguns arquitetos da Riotur e acabamos para, inclusive, construirmos escolas que surgiriam do chão, do piso, e
por desenvolver o estudo sobre a embaixo das arquibancadas – espaço poderiam ir bem alto, porque o aço de
possibilidade de tornar realidade que ficaria vazio, metragem quadrada ponte permitiria isso. Caberia o dobro
aquela ideia. nova a ser aproveitada. Eram dois de pagantes.
andares de escola. E propusemos a divisão do desfile
Como nasceu o projeto? Outra ideia que fazia parte do em dois dias, sete escolas por dia (na
Procuramos a Companhia projeto era construir, na pista, piscinas época, os desfiles ocorriam em um único
Siderúrgica Nacional, que devia olímpicas, para prática esportiva das dia). O dobro, com certeza, de pagantes,
impostos ao Estado; e não tinha como escolas. Quando do desfile, as piscinas e, portanto, de receita. Várias ideias

76 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


surgem nessas horas. Nós percebíamos costumo dizer que ele é minha única meu também não). A ideia da Apoteose
que o turista não aguentava ficar até o testemunha. foi do Darcy, que veio com a história de
final e ia embora, muitas vezes, no meio que os desfiles ficariam “enlatados”: os
do desfile. Assim, pensamos em fazer Se o projeto já havia sido idealizado foliões sairiam marchando, sem muito
como em espetáculos internacionais: por vocês da Riotur, por que o arquiteto espaço, imprensados. Darcy achava
bilhetes com duração de 4 horas Oscar Niemeyer foi convidado para que, ao chegar à Apoteose, as escolas
(mais ou menos duas a três escolas), desenhar a Passarela? poderiam, então, fazer evoluções. Todos
de modo que houvesse revezamento. No dia seguinte ao da apresentação foram contra, à exceção do próprio
Mais turistas assistindo, maior o do meu projeto, Brizola me chamou Niemeyer, que afastou os setores 13 e 6
faturamento. Único problema: na para irmos ao local, à Marquês de para atender ao Darçy. Mas acabou não
época, as escolas atrasavam muito; o Sapucaí. E aí já foram também o vice- dando certo; e, hoje, grades prejudicam
turista teria pago e assistiria a apenas governador, Darcy Ribeiro, e alguns os dois setores: o tal do “enlatado”
parte do espetáculo. Surgiram muitas secretários de Estado, a quem o Brizola continua na mesma marcha.
críticas. Hoje, estes problemas foram já havia mostrado o projeto. Dali, Quanto à questão das piscinas,
sanados; dificilmente você espera fomos para uma reunião no Palácio descobriu-se que, embaixo da Marquês
muito entre uma escola e outra. Guanabara, com a presença também de Sapucaí, passa um rio. E, com a
do Gessi. O Brizola questionou a pressa, não seria possível realizar as
Já constava do projeto o local que estrutura em aço ponte. O Darcy, então, obras de tratamento deste rio, fazer
abrigaria os desfiles? disse que era muito amigo do Oscar uma modificação complicada. Então,
Havia quem falasse em os desfiles Niemeyer e se ofereceu a conversar abriu-se mão do parque aquático.
serem realizados na Barra da Tijuca. com o arquiteto. Eu também pensei O Niemeyer é craque: com o projeto
Havia, também, quem questionasse a em ouvir outra opinião, e procurei o dele, ganhamos a área de ventilação entre
possibilidade de a Marquês de Sapucaí arquiteto Sergio Bernardes, que ficou os módulos. Mas, em compensação, a
ficar obsoleta, por ser no centro da encantando. O Sergio já tinha uma altura das arquibancadas diminuiu,
Cidade. Nós defendíamos que, se o concepção paisagística: em vez de porque as construíram em concreto. E,
local ficasse ultrapassado, bastaria aço ponte, Sergio pensava em montar com a diminuição das arquibancadas,
transferir as estruturas desmontáveis um gramado enorme; as cadeiras perdemos bastante receita.
para outro lugar. Escolhemos aço de seriam distribuídas na entrada, e cada
ponte porque poderia ser desmontado, espectador montaria a sua. Quanto foi investido para criar o
além do custo baixo, dado que o aço Foi tudo muito rápido! Dois dias Sambódromo e quanto se deixou de
seria fornecido. Além disso, havia depois, nos reunimos na casa do gastar naquele monta-e-desmonta?
a garantia de o material não sofrer Brizola, onde o Niemeyer já estava com Se compensou, provavelmente
corrosão por, no mínimo, 50 anos. outra ideia de projeto para apresentar. não. O custo da construção foi muito
Estavam também alguns secretários. Eu mais elevado do que se, talvez, ao
Como o projeto chegou às mãos do queria o bem da Cidade. Na ocasião, longo desses 25 anos, estivéssemos
então Governador Leonel Brizola? disse ao Brizola: leva isso como ideia sua pagando a locação das estruturas
Eu andava com o projeto debaixo mesmo. Então, o Niemeyer apresentou o da antiga arquibancada. Mas aquilo
do braço, pra cima e pra baixo. Foi o projeto dele: arquibancadas separadas, representou uma tomada de posição,
Gessi Sarmento, secretário particular em blocos de aço. Após diversas por postura política. Se você fizer as
do Brizola, quem me deu a ideia de discussões, chegamos à conclusão contas, talvez financeiramente fosse
levar o projeto para o governador. de que seriam mais apropriados os mais barato ter investido o dinheiro
Brizola estava chegando de viagem; blocos em concreto, até porque, em gasto na construção. Mas a obra gerou
fomos esperá-lo no aeroporto. Eu, aço, não haveria condições de alcançar uma marca na Cidade. O Sambódromo
com as plantas debaixo do braço. certos movimentos arquitetônicos. é mais um ponto turístico do Rio.
O Gessi contou que eu tinha algo Contei minha proposta à CSN e acabei
interessante para mostrar. Rumamos assentindo com a construção em Para finalizar, conselheiro, o senhor
em direção à casa do Brizola, onde concreto. gosta de carnaval? Torce por alguma
João Araujo, pai do Cazuza, aguardava escola de samba?
a nossa chegada. Apresentei, então, Como ficou o projeto final do Não sou carnavalesco, mas vou
as plantas para o Governador que, Niemeyer? Muito diferente do seu? assistir a todos os dias de desfile. Adoro!
além do projeto em si, quando viu as O Niemeyer, poucos dias depois, E, cada vez que vou, fico observando
escolas embaixo, adorou mais ainda; apresentou o projeto que se tornou o os detalhes da obra e lembrando de
ficou fascinado. Brizola mostrou ao original: a estrutura em concreto, com quantas visitas fizemos ali, na época da
João, que também gostou muito do os camarotes e o desenho da gota. Mas construção. Não tenho escola preferida,
projeto. Eu até brinco com o João; ainda não tinha a Apoteose (aliás, o gosto mesmo é do espetáculo.

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 77


Rio

Sr. Aroldo de
Mendonça
“As boas ações
elevam o espírito
e o predispõem a
praticar outras”.

A Revista TCMRJ esteve em Belford Roxo, na quarta-feira, dia 12 de maio,


com o Sr. Aroldo Mendonça, para entrevistá-lo para a seção “Gente que Faz a
Diferença”. Seria mais uma entrevista igual a de pessoas comprometidas com o
bem-estar social, com a mania de servir ao próximo arraigada na alma, de uma
maneira indelével. Gente do porte de Flordelis dos Santos (Revista nº 43), que
fugiu da Favela do Jacarezinho para salvar crianças das drogas e de abusos físicos
e sexuais, e da Dra. Vera Cordeiro (Revista nº 42), que fundou a Associação Saúde
Criança Renascer para ajudar na recuperação de crianças e na reestruturação de
famílias. Porém, ao chegar lá, fomos surpreendidos com a luta de um homem
de 82 anos para servir, de uma maneira melhor possível, às vezes fora de suas
possibilidades, aos carentes e necessitados, apenas pelo gosto de ser útil.
O Sr. Aroldo de Mendonça é o criador do Banco de Leitos Hospitalares
Francisca Mendonça, que empresta leitos hospitalares a pessoas necessitadas, sem
recursos para adquirir ou alugar.

78 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


sempre que me via reformar aquelas Atualmente temos 1.200 camas
Onde o Senhor nasceu?
camas, falava que era muito bom o emprestadas.
Como foi sua infância?
trabalho que eu fazia e que sempre
Nasci em São Vicente de Paula,
alguém iria precisar daquele material. O que representa o reconhecimento
3º distrito de Araruama, no Rio de
Quando o diretor me mostrou as camas público do trabalho desenvolvido
Janeiro. Minha infância foi difícil. Eu
quebradas, eu lembrei das palavras pelo senhor, inclusive com a
fui conhecer cama e colchão aos meus
de minha mãe e propus que levaria Medalha Tiradentes concedida
dez, doze anos. Fui criado na esteira.
todas as camas e devolveria metade pela Assembleia Legislativa do Rio
delas consertadas. Aceito o acordo, de Janeiro, em 2009?
Como surgiu o Banco de Leitos
levei as camas e cadeiras, reformei as É mais uma responsabilidade,
Hospitalares?
dele e comecei a reformar as minhas. porque se eu agora não mantiver
Em 1988, eu tinha uma empresa
Assim surgiu o Banco de Leitos esse trabalho, eu me torno, além de
de material de construção aqui em
Hospitalares, que tem o nome de fundador, um afundador, e eu não
Caxias, com 30 a 40 empregados, 10
Francisca Mendonça para homenagear quero deixar essa imagem.
caminhões, galpões, um posto para
minha mãe.
abastecer meus caminhões e uma
oficina montada para manutenção Quantas pessoas são atendidas
Seu modo de atuar no atendimento pelo Banco de Leitos e de que
dos meus carros. Minha mãe, dona
aos carentes lhe trouxe algum tipo de modo?
Francisca, foi a responsável por eu
problema? Atendo a uma média de seis
fundar o Banco de Leitos Hospitalar.
O único problema é que nesses a oito pessoas por dia, incluindo
Ela morava num apartamento no
21 anos eu devo ter tido umas 500 empréstimo de andador, muletas,
centro de Caxias. Ao visitarmos uma
camas perdidas. Pessoas que levavam remédios. Nesses 21 anos eu jamais
amiga de minha cunhada, na Casa de
e vendiam a cama. Hoje eu uso outro disse a alguém que não tinha uma
Repouso Santa Maria, na Praça Seca,
critério. O parente do doente leva cama. Jamais neguei um leito. Eu só
minha mãe adorou o lugar. Havia umas
a cama mediante o preenchimento mando vir aqui quando já tenho a
duzentas senhoras, umas tocando
de um contrato de comodato para cama separada.
piano, umas violão, outras rezando.
empréstimo.
Ao sair da capela onde entrara, minha
mãe pediu: Meu filho, me traz para De que maneira o trabalho social
De que maneira sua organização influi na sua vida?
cá!
atua e onde são aplicadas as suas Fico satisfeito e feliz em ser útil
Chamei meus outros irmãos e
ações? a alguém, poder fazer o bem, ajudar.
assumi total responsabilidade por
Dentro das possibilidades, eu Eu me sinto realizado em poder
nossa mãe, que tinha 93 anos, e atendi
atendo a todo o Rio de Janeiro. fazer esse trabalho.
ao seu pedido.
Ia visitá-la às
terças, quintas e
domingos. Numa das
visitas eu vi que havia
uma quantidade de
camas, cadeiras e
carrinho de comida
quebrados. Ofereci-me
para consertar. Trazia
o material, reformava
e devolvia. Um dia fui
chamado pelo diretor,
que me agradeceu pelo
conserto dos materiais
e me levou ao 3º andar,
onde me mostrou uma
quantidade enorme de
camas quebradas.
Minha mãe,

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 79


Rio

Rio de Janeiro,
amor à primeira vista
Chef Claude Troisgros

M
Foto: Sérgio Pagano
oro no Rio de
Janeiro desde
1979...
O meu
amor pela cidade foi
imediato, como se diz, à
primeira vista, le coup de
foudre.
Sol forte, calor úmido,
cheiros tropicais, céu azul,
formaram minhas primeiras
impressões.
Depois a praia, as mulhe-
res graciosas, a natureza
abundante e o mar a perder
de vista.
Num terceiro momento
me cativou o humor à flor
da pele, o jeitinho carioca,
a felicidade constante.
Enfim veio a Pedra
Bonita, o Cristo Redentor,
o Pão de Açúcar, a Baia de Guanabara e o Maracanã.
Hoje caio no samba, escuto bossa nova, bebo caipirinha e como
feijoada. Sou frequentador de botecos e tomo aquele chope bem
gelado. Agradeço todo dia pelo o por do sol no Arpoador, pratico
kitesurf no Pepe, salto de parapente na Pedra Bonita, ando nas
Paineiras e frequento o Posto 11....
Uma simples caminhada pelas ruas é divertida. Quase certeza de
encontrar um amigo e dar uma paradinha para tomar uma água de
coco. A orla da Lagoa, meu habitat, é assim. Aliás, no Rio é assim:
toda hora é hora de encontrar um amigo.
Como um bom carioca, como me considero, respiro e vivo essa
cidade que me abriu os seus braços.
Eu agradeço à cidade e posso dizer que sou Carioca na alma e no
sotaque, posso falar que o Rio de Janeiro é uma “Marrravilha”!!!

80 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 81
Produtividade e Ociosidade da Rede Médica
artigo

da Estratégia de Saúde da Família (ESF) no


Município do Rio de Janeiro
Elaborado com base em auditoria operacional
realizada em 2009, o presente trabalho mostra que a
produção de consultas de cada CAP e do município,
em 2006 e 2007, poderia ter sido razoavelmente
maior, conforme detalhado nas tabelas apresentadas.

Amâncio Fernandes Pulcherio


Técnico de Controle Externo do Tribunal de Contas do Município do Rio de
Janeiro

Introdução

O
presente trabalho foi da SMSDC (Secretaria Municipal estão aqui registrados e poderão
elaborado por ocasião de Saúde e Defesa Civil), tendo ser complementados no futuro, por
da auditoria operacional por tema a Estratégia de Saúde da ocasião de novas inspeções.
efetuada em 2009 no âmbito Família. Os resultados alcançados

Sumário e Conclusões

O “
objetivo do trabalho foi organiza-se por Áreas de Planejamento
verificar se o número de (AP), cada uma sob uma Coordenadoria
consultas médicas por de Área de Planejamento (CAP). Cada
ano, em 2006 e 2007, CAP abrange diferentes bairros. Ao
realizadas pela ESF (Estratégia de todo, são 10 CAPs integradas pela
Saúde da Família) no município A metodologia Superintendência de Integração de
do Rio de Janeiro, poderia ter sido Áreas de Planejamento (SIAP). A
maior do que o número de consultas utilizada foi a auditoria operacional realizada focou
efetivamente realizadas. Se pudesse seguinte: comparar sua atenção em cinco CAPs, a saber:
ter sido maior, isso revelaria um certo 3.1, 3.3, 5.1, 5.2 e 5.3; tais CAPs
grau de ociosidade das equipes ESF o número concentram 52 unidades de ESF, de
naqueles anos. A razão de se limitar o de consultas um total de 64 em todo o município
estudo aos anos de 2006 e 2007 é que do Rio de Janeiro.
os dados cadastrados nos sistemas realizadas A conclusão a que se chegou no
de informação da SMSDC em 2008 com o objetivo presente estudo foi que, em 2006 e em
e 2009 ficaram muito aquém da 2007, o número de consultas poderia
realidade, devido a diversos fatores, de consultas ter sido maior, tanto no município
o principal sendo que nesses últimos realizadas. do Rio de Janeiro como nas CAPs


anos houve mudança de sistema, o estudadas; no município poderia ter
que acarretou uma baixa realização sido pelo menos 30% maior em 2006 e
de cadastramentos. pelo menos 39% maior em 2007.
Geograficamente, a SMSDC

82 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


Desenvolvimento

I
sto posto, está apresentada a seguir
a metodologia de determinação
do aqui denominado grau de
ocupação (produtividade) das
equipes médicas da ESF durante um
ano. Esse índice está, em geral, situado
entre zero e um, embora pudessem
ter sido encontradas exceções em
qualquer nível (equipe, CAP ou
município), em que o número de
consultas médicas realizadas fosse
maior do que o objetivo calculado.
Nesse caso, a ocupação seria maior que
1 (ou maior que 100%). Mas, conforme
mostrado mais adiante, essas exceções
não ocorreram nas CAPs analisadas
nem em termos de município como
um todo. Em todas as CAPs analisadas guarnecer suas equipes). Apenas é óbvio, o grau de ocupação da equipe
e no município do Rio, a produtividade para ilustrar: no limite, se uma equipe será maior, se forem expurgados os
foi sempre menor que um. O mais ficou 12 meses sem médico durante meses sem médico, e será menor, se
próximo que se chegou de 1 foi na CAP o ano, o número máximo que se forem considerados todos os meses.
5.3, em 2006, com a produtividade poderia exigir dessa equipe (objetivo Aqui adotar-se-á a terminologia com
(grau de ocupação) alcançando 0,989 de consultas realizadas) seria zero expurgo (somente meses com médico)
= 98,9%. A ociosidade, então, para consultas médicas por ano. Por outro e sem expurgo (todos os meses, com ou
esse caso foi de 1 - 0,989 = 0,011 lado, é responsabilidade da SMSDC sem médico).
= 1,1%. Nos casos excepcionais em guarnecer, de forma adequada, as Para que se possa fazer esse cálculo
que a produtividade seja maior que equipes médicas. Então, do ponto (com expurgo) para uma CAP, necessita-
1, a ociosidade seria negativa, pois de vista da gestão da SMSDC, esse se de três informações básicas:
Ociosidade = 1 - Ocupação. fato deve ser considerado e o número • quantas equipes médicas existem
Feita essa ressalva, a metodologia objetivo de consultas realizadas deve na CAP (Eq);
utilizada foi a seguinte: comparar ser calculado levando em conta todas • número médio ponderado de meses
o número de consultas realizadas as equipes, em todos os meses, com em que as equipes da CAP dispuseram
(número já disponível) com o objetivo ou sem médico. Neste trabalho, o de médicos (Mp) durante o ano (para
de consultas realizadas (esse objetivo cálculo será feito das duas formas, não fazer exigência não razoável
funciona com uma espécie de número considerando a responsabilidade das às equipes, como já anteriormente
padrão de consultas). Dessa forma, o equipes (levando em conta apenas alertado);
Grau de Ocupação será simplesmente os meses com médicos) e da SMSDC • número mensal de consultas (Cm)
o resultado da divisão do número de (todos os meses). Ficará claro quando que uma equipe médica deve dar.
consultas realizadas pelo objetivo de estiver se falando de cada caso. A SMSDC adota o valor 324 para
consultas calculado como descrito Então, a chave da comparação é a esse parâmetro, assim composto:
mais adiante. E o Grau de Ociosidade determinação do objetivo de consultas um médico deve ser capaz de dar 3
é dado por 1o Grau de Ocupação. realizadas, cujo cálculo está detalhado consultas de 20 min cada, por hora
Cabe destacar que algumas equipes a seguir, já considerando o destaque de trabalho, trabalhando 4 horas
não dispuseram de médico durante anterior. por turno, 6 turnos por semana, 4,5
todos os 12 meses do ano. Então, se não Inicialmente, o cálculo será feito semanas por mês. Assim, 3 x 4 x 6 x
se levasse esse fato em consideração, tomando como base apenas os meses 4,5 = 324 consultas por médico por
estaria se fazendo, talvez, uma em que as equipes dispunham de mês. Esse número (324) será aqui
exigência não razoável de consultas a médicos. Posteriormente, levar-se-á chamado de Objetivo Específico de
essa equipe (embora a exigência feita à em conta todos os meses, com e sem consultas por médico por mês. Vale
direção da SMSDC fosse perfeitamente médico; neste último caso, o cálculo é a pena lembrar que, via de regra, uma
legítima, pois é dever da SMDC imediato, muito mais simples. Como equipe médica possui um médico.

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 83


Há exceções raríssimas em que uma diretamente pela SMSDC. A segunda Objetivo Anual = 324 x Mp x Eq
artigo
equipe dispõe de mais de um médico. (número médio) foi calculada pelo A tabela a seguir apresenta os
Mas o caso, em muito predominante, TCMRJ, a partir de dados obtidos junto cálculos com expurgo realizados para
é o de 1 médico por equipe. à SMSDC. 5 CAPs e para o município do Rio de
A primeira e a terceira dessas Então, o Objetivo de Consultas da Janeiro, como um todo, nos anos de
informações foram fornecidas CAP é dado simplesmente por: 2006 e 2007.

Grau de Ocupação / Ociosidade Médica das unidades ESF (com expurgo)


CAP / Município Item 2006 (1) 2007
3.1 Total de Consultas 69.005 62.583
Cidadãos Cadastrados 104.387 111.555
Consultas Realizadas / Cidadãos Cadastrados 0,66 0,56
Número de Equipes 32 33
Número Médio de Meses com Médico nas Equipes 9,75 10,15
Objetivo de Consultas / Cidadãos Cadastrados 0,968 0,973
Consultas Realizadas / Objetivo de Consultas (Grau de Ocupação) 0,683 0,577
Grau de Ociosidade = (1 – Grau de Ocupação) em % 32% 42%
3.3 Total de Consultas 15.726 12.090
Cidadãos Cadastrados 30.795 31.613
Cons. Real. / Cid. Cadastr. 0,51 0,382
Número de Equipes 10 10
Nº Médio de Meses com Médico 9,6 8,1
Obj. de Cons./ Cid. Cad 1,010 0,830
Cons. Real./ Obj.Cons. (Ocupação) 0,506 0,461
Ociosidade em % 49% 54%
5.1 Total de Consultas 27.761 43.045
Cidadãos Cadastrados 52.483 61.484
Cons./Cid. Cadastr. 0,53 0,70
Número de Equipes 16 18
Nº Médio de Meses com Médico 8,375 8,444
Obj. de Cons./Cid. Cad. 0,827 0,801
Cons. Real./Obj.Cons. (Ocupação) 0,639 0,874
Ociosidade em % 36% 13%
5.2 Total de Consultas 38.882 37.293
Cidadãos Cadastrados 37.628 41.080
Cons./Cid. Cadastr. 1,03 0,91
Número de Equipes 14 14
Nº Médio de Meses com Médico 8,93 9,93
Obj. de Cons./Cid. Cad. 1,076 1,096
Cons. Real./Obj.Cons. (Ocupação) 0,960 0,828
Ociosidade em % 4% 17%
5.3 Total de Consultas 49.667 48.515
Cidadãos Cadastrados 42.515 47.942
Cons./Cid. Cadastr. 1,17 1,01
Número de Equipes 16 16
Nº Médio de Meses com Médico 9,69 10,75
Obj. de Cons./Cid. Cad. 1,181 1,162
Cons. Real./Obj.Cons. (Ocupação) 0,989 0,871
Ociosidade em % 1% 13%
Rio de Janeiro Total de Consultas 240.520 238.710
Cidadãos Cadastrados 305.586 335.223
Cons./Cid. Cadastr. 0,79 0,71
Número de Equipes 102 105
Nº Médio de Meses com Médico 9,49 9,74
Obj. de Cons./Cid. Cad. 1,026 0,989
Cons. Real./Obj.Cons 0,767 0,720
Ociosidade em % 23% 28%
Fonte: SMSDC / Coordenação de Saúde da Família

84 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


Doravante não mais será 2006, algumas dessas equipes ficaram valores de grau de ocupação.
mencionado que o cálculo está sendo alguns meses sem médico. Então, A tabela anterior reflete tais
feito com expurgo. Está implícito. como foi dito anteriormente, essa cálculos, apresentando também o
Mais adiante, quando os índices forem ausência de médicos na equipe será número de equipes por CAP e o
calculados sem expurgo, chamar-se-á aqui considerada. A SMSDC informou número médio de meses com médico,
a atenção para esse caso. ao TCMRJ os dados que permitiram para cada CAP e para o município do
Para ilustrar o cálculo do índice, à equipe dessa Corte o cálculo do Rio, conforme informado pela SMSDC.
será apresentada a determinação número médio (ponderado) de meses Observar que na tabela preferiu-se
detalhada de apenas um índice com médico na CAP 5.3. Encontrou-se trabalhar com os números índices
de ocupação de uma CAP em um o número médio de 9,6875 meses com de consultas (realizadas e objetivo)
determinado ano. Os índices para as médico nas equipes da CAP 5.3, em por habitante, e não com os números
outras CAPs e para o município do 2006. Levando-se esse valor no cálculo absolutos. A vantagem de se utilizar
Rio podem ser calculados de forma anterior, obtém-se finalmente: os números índices é conseguir uma
semelhante. Objetivo de Consultas CAP 5.3 comparação mais significativa entre
Como mencionado, a chave da em 2006 (com expurgo) = 324 x 16 x as CAPs e o município, já que as
comparação está na determinação 9,6875 = 50.220 consultas. populações envolvidas são bastante
do objetivo de consultas realizadas Como foram realizadas apenas diferentes. Mas, evidentemente, as
por CAP. 49.667 consultas, conclui-se conclusões não mudam, pois tanto
Aqui será escolhida, para explicação facilmente que o grau de ocupação o numerador como o denominador
do método, arbitrariamente, a CAP 5.3, (produtividade) das equipes médicas foram divididos pelo número de
no ano de 2006. Como determinar o na CAP 5.3 em 2006 foi 49.667 / 50.220 cidadãos.
objetivo de consultas da CAP 5.3 em = 0,989 = 98,9%. E a ociosidade da A partir desse ponto, os índices
2006? CAP 5.3 em 2006 é dada por 100 x serão recalculados sem expurgo, para
Como foi mencionado, Objetivo 98,9 = 1,1%. Isto quer dizer que a fins de comparação com os resultados
Anual = 324 x Mp x Eq. CAP 5.3 realizou apenas 98,9% de obtidos anteriormente. Os cálculos
A SMSDC informou que a CAP seu potencial de consultas médicas aqui são muito mais simples, pois
5.3 dispunha de Eq = 16 equipes em 2006. não será necessário calcular o número
médicas em 2006. Logo, se essas Com isso, obtém-se o valor buscado médio de meses com médico. O
equipes estivessem guarnecidas por com expurgo. Repetindo o cálculo para número objetivo de consultas é dado
médicos durante os 12 meses do ano, o as demais CAPs e para o município, simplesmente por:
objetivo de consultas realizadas seria para 2006 e 2007, mantendo o Objetivo Anual = 324 x Eq (sem
simplesmente: valor constante de 324 utilizado expurgo)
324 consultas por mês por médico anteriormente, e levando em conta A tabela a seguir apresenta os
x 16 médicos x 12 meses por ano = para cada CAP o número específico de cálculos sem expurgo realizados para
62.208 consultas em 2006 na CAP médicos (equipes) e o número médio 5 CAPs e para o município do Rio de
5.3. específico de meses com médico em Janeiro, como um todo, nos anos de
Acontece que, durante o ano de 2006 e 2007, chega-se aos demais 2006 e 2007.

Grau de Ocupação / Ociosidade Médica das unidades ESF (sem expurgo)

CAP / Município Item 2006 2007

3.1 Total de Consultas 69.005 62.583


  Cidadãos Cadastrados 104.387 111.555
  Consultas Realizadas / Cidadãos Cadastrados 0,66 0,56
  Número de Equipes 32 33
  Objetivo de Consultas / Cidadãos Cadastrados (sem expurgo) 1,192 1,150
  Consultas Realizadas / Objetivo de Consultas (Grau de Ocupação) 0,555 0,488
  Grau de Ociosidade = (1 – Grau de Ocupação) em % 45% 51%
3.3 Total de Consultas 15.726 12.090
  Cidadãos Cadastrados 30.795 31.613
  Cons. Real. / Cid. Cadastr. 0,51 0,38
  Número de Equipes 10 10
  Obj. de Cons./ Cid. Cad 1,263 1,230
  Cons. Real./ Obj.Cons. (Ocupação) 0,404 0,311

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 85


artigo
  Ociosidade em % 60% 69%
5.1 Total de Consultas 27.761 43.045
  Cidadãos Cadastrados 52.483 61.484
  Cons. Real../Cid. Cadastr. 0,53 0,70
  Número de Equipes 16 18
  Obj. de Cons./Cid. Cad. 1,185 1,138
  Cons. Real./Obj.Cons. (Ocupação) 0,446 0,615
  Ociosidade em % 55% 38%
5.2 Total de Consultas 38.882 37.293
  Cidadãos Cadastrados 37.628 41.080
  Cons.Real./Cid. Cadastr. 1,03 0,91
  Número de Equipes 14 14
  Obj. de Cons./Cid. Cad. 1,447 1,325
  Cons. Real./Obj.Cons. (Ocupação) 0,714 0,685
  Ociosidade em % 29% 31%
5.3 Total de Consultas 49.667 48.515
  Cidadãos Cadastrados 42.515 47.942
  Cons.Real./Cid. Cadastr. 1,17 1,01
  Número de Equipes 16 16
  Obj. de Cons./Cid. Cad. 1,463 1,298
  Cons. Real./Obj.Cons. (Ocupação) 0,798 0,780
  Ociosidade em % 20% 22%
Rio de Janeiro Total de Consultas 240.520 238.710

  Cidadãos Cadastrados 305.586 335.223


  Cons.Real./Cid. Cadastr. 0,79 0,71
  Número de Equipes 102 105
  Obj. de Cons./Cid. Cad. 1,298 1,218
  Cons. Real./Obj.Cons (Ocupação) 0,606 0,585
  Ociosidade em % 39% 42%

Fonte: SMSDC / Coordenação de Saúde da Família

Os gráficos a seguir ilustram os resultados conseguidos:

Grau de ocupação das equipes médicas (com expurgo)

86 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


Grau de ocupação das equipes médicas (sem expurgo)

Nos gráficos, observa-se que todas sempre superior àquele sem expurgo. Ocupação sem expurgo ser inferior a
as entidades, com exceção da CAP De uma forma simplista, pode-se um é da SMSDC. Embora simplista,
5.1, tiveram seu grau de ocupação dizer que a responsabilidade primária tal interpretação é muito apropriada
diminuído de 2006 para 2007. pelo Grau de Ocupação calculado para fins de focalização dos esforços
Evidentemente, o Grau de com expurgo ser inferior a um é gerenciais.
Ocupação calculado com expurgo será das equipes médicas e pelo Grau de

CONCLUSÃO

E
m suma, para que serve todo
esse cálculo? Para mostrar Cálculos:
que a produção de consultas
de cada CAP e do município Aumento possível no município do Rio de Janeiro (com expurgo):
poderia ter sido razoavelmente maior, 1/Grau de Ocupação em 2006 = 1/0,77 ≈ 1,30 → 30% ;
conforme detalhado nas tabelas 1/Grau de Ocupação em 2007 = 1/0,72 ≈ 1,39 → 39%.
anteriores. No caso do município
como um todo, poderia ter sido Aumento desejável (sem expurgo):
cerca de 30% maior em 2006 e 39% 1/Grau de Ocupação em 2006 = 1/0,61≈ 1,64 → 64% ;
maior em 2007, comparada com os 1/Grau de Ocupação em 2007 = 1/0,59 ≈ 1,70 → 70%.
valores expurgados, e 64% maior
em 2006 e 70% maior em 2007,
No futuro, vale a pena efetuar novos cálculos, quando os dados completos
quando comparada com os valores
de 2008 e 2009 estiverem disponíveis.
não expurgados.

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 87


O Fundo Municipal para atendimento aos
artigo

direitos da criança e do adolescente e as


despesas com a manutenção das atividades
dos conselhos tutelares e do cmdca-rio
Embora a Lei Federal An. 8.069/1990 esteja prestes a
completar 20 (vinte) anos de existência, há muito a ser
feito para que os direitos fundamentais assegurados pela
Constituição da República e regulamentados no Estatuto
da Criança e do Adolescente façam parte da realidade de
crianças e adolescentes brasileiros, conclui o autor do
presente estudo.

Marcelo Simas Ribeiro


Contador da Coordenadoria de Auditoria e Desenvolvimento – CAD do TCMRJ
Bacharel em Direito. Pós-Graduado em Direito Público e em Direito Privado pela UGF

1. INTRODUÇÃO

A
Constituição da República à convivência familiar e comunitária, e especificados, definindo-se, até
Federativa do Brasil de além de colocá-los a salvo de toda mesmo, os parâmetros da prioridade
1988 conferiu destaque forma de negligência, discriminação, absoluta (art. 4º, parágrafo único,
aos direitos da criança e do exploração, violência, crueldade e do ECA). O Estatuto também criou
adolescente. Ao sintetizar no caput de opressão”. Além disso, a Carta Magna, e regulamentou novos mecanismos
seu art. 227 os preceitos fundamentais em seu art. 204, incisos I e II, dispôs políticos, jurídicos e sociais necessários
da Declaração Universal dos Direitos acerca da descentralização político- à efetivação dos referidos direitos.
da Criança, a CRFB elevou a criança administrativa dos programas e da Nesse contexto, os Conselhos dos
e o adolescente à categoria de cidadão participação popular na formulação e Direitos da Criança e do Adolescente
ao estabelecer que “É dever da família, no controle da política de atendimento ocupam papel de destaque para a
da sociedade e do Estado assegurar à à criança e ao adolescente. concretização dos direitos do público
criança e ao adolescente, com absoluta Com a edição da Lei Federal n. 8.069, infanto-adolescente uma vez que
prioridade, o direito à vida, à saúde, de 13.07.1990 (Estatuto da Criança e são órgãos de caráter deliberativo e
à alimentação, à educação, ao lazer, do Adolescente – ECA), os direitos natureza paritária, compostos por
à profissionalização, à cultura, à fundamentais, estabelecidos em nossa representantes governamentais e da
dignidade, ao respeito, à liberdade e Carta Política, foram detalhados sociedade civil

2. ANÁLISE DA DELIBERAÇÃO CMDCA-RIO N. 795/2009

C
onsoante o disposto no art. 88, segundo leis federal, estaduais e resoluções dos Conselhos de Direitos
II, do ECA, os “[...] conselhos municipais”. (grifei) são atos administrativos normativos.
municipais, estaduais e Os conselhos também são gestores Logo, desde que estejam no âmbito
nacional dos direitos da dos fundos para atendimento aos de suas atribuições e competências,
criança e do adolescente são órgãos direitos da criança e do adolescente possuem força de lei, do ponto de
deliberativos e controladores das (art. 88, IV, do ECA), de acordo com o vista formal e material, conforme
ações em todos os níveis, assegurada que se depreende da leitura do art. 214, leciona o Mestre Fernando Henrique de
a participação popular paritária por caput, do ECA. Moraes Araújo (1), vinculando as ações
meio de organizações representativas, Cabe ressaltar que as deliberações/ governamentais e da sociedade civil

88 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ



organizada, em respeito aos princípios administrativo e financeiro do
constitucionais da participação popular Município.
(art. 204, II, CRFB) e da prioridade Os recursos Parágrafo único. A Secretaria
absoluta à criança e ao adolescente (art. Municipal de Desenvolvimento Social,
227, caput, CRFB). humanos, mediante seu órgão competente,
No dia 05.10.2009, o Conselho
Municipal dos Direitos da Criança e
materiais e prestará o apoio técnico interdisciplinar
indispensável ao regular exercício das
do Adolescente do Município do Rio financeiros, funções dos Conselhos. (grifei)
de Janeiro (CMDCA-Rio) aprovou a No mesmo sentido é o parágrafo
Deliberação n. 795, cujo art. 1º possui necessários único do art. 3º da Resolução
o seguinte teor:
Art. 1º - Financiar com recursos
ao pleno CONANDA n. 75/2001, que estabelece
os parâmetros para a criação e
na ordem de até R$ 79.400,00 (setenta funcionamento funcionamento dos Conselhos Tutelares.
e nove mil e quatrocentos reais), do De acordo com o dispositivo em
Fundo Municipal para Atendimento dos Conselhos comento, a lei orçamentária municipal
dos Direitos da Criança e do
Adolescente, a compra de materiais
Tutelares, deverá, em programas de trabalho
específicos, prever dotação para o
para manutenção das atividades dos devem ser custeio das atividades desempenhadas
Conselhos Tutelares e CMDCA-Rio, pelo Conselho Tutelar, inclusive
como forma de potencializar suas ações disponibilizados para as despesas com subsídios dos
na defesa e garantia de direitos de
pelo Poder Público Conselheiros, aquisição e manutenção


crianças e adolescentes. [...] (grifei) de bens móveis e imóveis, pagamento
Apesar de poder editar deliberações Municipal. de serviços de terceiros e encargos,
e fixar os critérios de utilização dos diárias, material de consumo, passagens
recursos do Fundo Municipal para e outras despesas.
Atendimento dos Direitos da Criança os recursos do Fundo Municipal Sobre o tema, André Pascoal da
e do Adolescente (FMDCA), por meio para Atendimento dos Direitos da Silva assim leciona:
de planos de aplicação de recursos Criança e do Adolescente, conforme Os gastos públicos relativos
(art. 260, § 2º, do ECA), o CMDCA- disposto na Lei Federal n. 8.069/1990, ao Conselho Tutelar, inclusive
Rio, no exercício de suas atribuições, na Lei Municipal n. 3.282/2001 e na remuneração de seus membros, caso
deve respeitar outros dispositivos Deliberação CONANDA n. 75/2001. houver, são dever do município, em
normativos, o que não ocorreu ao Isso porque o Princípio decorrência do disposto no art. 88,
elaborar a Deliberação n. 795/2009, constitucional da legalidade I, do ECA. Tais despesas integram o
conforme demonstrado na análise administrativa significa que toda e orçamento público municipal e devem
efetuada nos subitens 2.1 e 2.2 a qualquer atividade administrativa deve observar todas as regras relativas às
seguir: ser autorizada por lei. Não o sendo, a despesas regulares do Poder Público no
atividade, como regra, é ilícita.(2) trato das questões orçamentárias. Deve
2.1. CONSELHOS TUTELARES No que tange aos Conselhos haver sua previsão no plano plurianual
Tu t e l a r e s , o p a r á g r a f o ú n i c o de ação e nas leis orçamentárias anuais
O CMDCA-Rio, ao editar uma d o a r t . 1 3 4 d a L e i Fe d e r a l e de diretrizes orçamentárias, com
Deliberação que permite a destinação n. 8.069/1990 determina que a dotações e empenhos específicos para
de recursos do FMDCA para a compra previsão dos recursos necessários ao a justificação dos gastos. Aliás, essa é a
de materiais para manutenção das funcionamento dos mesmos constarão diretriz do art. 134, parágrafo único.
atividades dos Conselhos Tutelares – que da lei orçamentária municipal. Contudo, ao contrário do que
são órgãos permanentes e autônomos, No Município do Rio de Janeiro, as pode parecer, não se reputa lícito
não jurisdicionais, encarregados pela regras para a implantação, a estrutura, o seja empregado o dinheiro destinado
sociedade de zelar pelo cumprimento processo de escolha e o funcionamento ao Fundo Municipal de Direitos da
dos direitos de crianças e adolescentes, dos Conselhos Tutelares encontram- Criança e do Adolescente para a
previsto no Estatuto (art. 136 do ECA), se disciplinadas na Lei Municipal n. criação, estruturação, e implementação
– ocasionou flagrante violação ao 3.282/2001 que, em seu art. 2º, assim do Conselho Tutelar e remuneração de
Princípio constitucional da legalidade determina: seus membros.
administrativa (art. 37, caput, da Art. 2.º Os Conselhos Tutelares Isso porque as reservas constituintes
CRFB), na medida em que a compra serão vinculados administrativamente do Fundo Municipal são direcionadas
de materiais para os Conselhos à Secretaria de Desenvolvimento pelo Conselho Municipal de Direitos da
Tutelares não deve ser efetuada com Social e receberão suporte técnico, Criança e do Adolescente, a partir de

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 89


ação deliberativa deste, no sentido de antecipação dos efeitos da tutela Deliberação CONANDA n. 75/2001,
artigo
levantar e apontar as áreas da infância e contra o Poder Público. Adequada a além da doutrina e da jurisprudência
juventude que necessitam da aplicação determinação de reforma do imóvel e sobre o tema.
de verbas do Fundo para o incentivo de de aquisição de materiais de escritório Logo, não há dúvida de que:
projetos e investimentos específicos e veículo, porquanto necessários a) a Deliberação sob análise viola o
de interesse da população infanto- ao funcionamento do Conselho Princípio constitucional da legalidade
juvenil. Em outras palavras, há que ser Tutelar. Adequada, da mesma forma, administrativa;
efetuado um verdadeiro diagnóstico a determinação de priorização ao b) os recursos humanos, materiais
social para o endereçamento de verbas atendimento psicológico dos casos e financeiros, necessários ao pleno
públicas do Fundo que fomentem encaminhados pelo Conselho, em funcionamento dos Conselhos
políticas públicas necessárias ao atenção ao princípio da máxima Tutelares, devem ser disponibilizados
desenvolvimento de determinada proteção. NEGADO SEGUIMENTO. pelo Poder Público Municipal.
área ou setor da população que deve EM MONOCRÁTICA (Agravo de
ser aplicada a despesa decorrente do Instrumento nº 70013368261, Oitava 2.2 CMDCA-RIO
Fundo. Logo, essas verbas não podem Câmara Cível, Tribunal de Justiça do
ser destinadas à implementação e RS, Relator: Rui Portanova, Julgado em Os recursos do Fundo Municipal
manutenção do Conselho Tutelar, 08/06/2006) (grifei) para o Atendimento aos Direitos da
porque isso é dever do Poder Público, E M E N TA : A Ç Ã O C I V I L Criança e do Adolescente não podem
não podendo constituir matéria a ser PÚBLICA. CONSELHO TUTELAR. destinar-se à compra de materiais para
elencada no plano de ação e no plano I M P L A N TA Ç Ã O. É d e v e r d o manutenção das atividades do próprio
de aplicação do Fundo Municipal de município, por determinação contida Conselho Municipal dos Direitos da
Direitos da Criança e do Adolescente. nos art. 132 e 134 do ECA, instalar Criança e do Adolescente, conforme
(3) (grifei) e prover o regular funcionamento disposto na Lei Municipal n. 1.873/1992
Neste contexto, os nossos Tribunais do Conselho Tutelar. Sentença e na Deliberação CONANDA n.
de Justiça, ao se manifestarem sobre a confirmada no reexame necessário 105/2005, com as devidas alterações.
matéria, assim decidiram: (TJMG; RN 1.0444.04.910504-2/001; Considerando que inexiste previsão
EMENTA: CONSELHO TUTELAR. Natércia; Terceira Câmara Cível; Rel. legal para aplicação dos recursos do
INSTALAÇÃO. LEI MUNICIPAL. Des. Lamberto de Oliveira Sant’ Anna; FMDCA no financiamento de despesas
PREVISÃO ORÇAMENTÁRIA. AÇÃO Julg. 04/08/2005; DJMG 30/08/2005) com o próprio Conselho, verifica-se que
CIVIL PÚBLICA. (grifei) a edição da Deliberação n. 795/2009,
I – O Ministério Público tem EMENTA: Ação civil pública contra infringiu o Princípio constitucional da
legitimação para ajuizar ação civil o prefeito municipal para compeli-lo legalidade administrativa.
pública para compelir a Prefeitura a providências na abertura de crédito No que concerne ao CMDCA-Rio, a
Municipal a cumprir a legislação especial ao Conselho Tutelar – Ação Lei Municipal n. 1.873/1992 que o criou
federal e local referente à proteção à ao procedente – Recurso não provido. e instituiu o FMDCA, em seu § 2º do
infância e à juventude (art. 129, III, Ao Conselho Tutelar é assegurada art. 1º, assim determina:
CR e 201, V, ECA); II – Havendo lei a previsão de recursos necessários Art. 1° - [...]
municipal e previsão orçamentária é ao seu funcionamento. Sendo órgão § 2° - O CMDCA é dotado de
imperativo que o Executivo providencie autônomo, não depende de meios autonomia e contará com dotação
instalações, pessoal de apoio e meios reservados ao Conselho Municipal dos própria e a infra-estrutura necessária
adequados ao funcionamento do Direitos da Criança e do Adolescente, ao seu funcionamento no que concerne
Conselho Tutelar. Isso não implica cabendo ao Executivo inseri-lo na lei a instalações, equipamentos, pessoal
em despesas ruinosas, mas apenas orçamentária com dotação própria e material. (grifei)
o mínimo necessário para a atuação (TJSP, C. Esp., Ap. cível 039.888.0/1-00, No mesmo sentido, é o art. 4º da
de qualquer repartição pública. III de Guarulhos, rel. Des. Alves Braga, j. Resolução CONANDA n. 105/2005, que
– Apelação da municipalidade não 5.2.1999) (grifei) dispõe sobre os parâmetros para criação
provida (TJRJ - 17ª C. Cível, Ap. 999/99, Nesta ordem de ideias, e a partir dos e funcionamento dos Conselhos dos
reg. 050599, rel. design. Des. Bernardo elementos constantes na Deliberação Direitos da Criança e do Adolescente,
Moreira Garcez Neto, j. 17.3.1999) sob exame, bem se percebe que o com as alterações introduzidas pela
(grifei) CMDCA-Rio se afastou do Princípio Resolução CONANDA n. 116/2006,
EMENTA:   ECA. CONSELHO da legalidade, na medida em que assim estabelece:
TUTELAR. MELHORAMENTOS. O editou uma Deliberação cujo texto Art. 4º. Cabe à administração
Ministério Público tem legitimidade contraria frontalmente o disposto pública, nos diversos níveis do Poder
ativa para propor ação em prol de na Lei Federal n. 8.069/1990 (ECA), Executivo, fornecer recursos humanos
criança e adolescente. Cabível a na Lei Municipal n. 3.282/2001 e na e estrutura técnica, administrativa e

90 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


institucional necessários ao adequado permanentes que são, devem correr por além da doutrina e da jurisprudência
e ininterrupto funcionamento do conta da Prefeitura, com a respectiva sobre o tema.
Conselho dos Direitos da Criança previsão no orçamento geral. A receita Portanto, resta claro que:
e do Adolescente, devendo, para do Fundo, como é sazonal, não pode • a Deliberação sob exame viola o
tanto, instituir dotação orçamentária ser atrelada a nenhuma despesa sobre Princípio constitucional da legalidade
específica que não onere o Fundo a qual não se tenha definido o período administrativa;
dos Direitos da Criança e do de utilização das verbas. (4) (grifei) • os recursos humanos, materiais e
Adolescente. Neste contexto, o Tribunal de financeiros, necessários ao pleno
§ 1º. A dotação orçamentária a que Justiça de São Paulo, ao se manifestar funcionamento do CMDCA-Rio,
se refere o caput deste artigo deverá sobre a matéria, assim decidiu: também devem ser disponibilizados
contemplar os recursos necessários ao EMENTA: Conselho Municipal dos pelo Poder Público Municipal.
custeio das atividades desempenhadas Direitos da Criança e do Adolescente
pelo Conselho dos Direitos da Criança – Condenação do Município na 2.3 SÍNTESE
e do Adolescente, inclusive despesas destinação de verba para o Fundo
com capacitação dos conselheiros; Municipal prevista em lei municipal e Do que foi exposto, evidencia-se
§ 2º. O Conselho dos Direitos da obrigação de providenciar estrutura objetivamente que:
Criança e do Adolescente deverá contar necessária ao funcionamento do • A Deliberação n. 795/2009 do
com espaço físico adequado ao seu CMDCA e Conselho Tutelar. Acerto Conselho Municipal dos Direitos
pleno funcionamento, cuja localização da decisão de primeiro grau. Recursos da Criança e do Adolescente do
será amplamente divulgada, e dotado improvidos. (TJSP, C. Esp., Ap. cível Rio de Janeiro viola o Princípio
de todos os recursos necessários ao seu 019.845-0/6, de Cotia, rel. Des. Ney constitucional da legalidade;
regular funcionamento. (grifei) Almada, j. 3.11.1994). (grifei) • Os recursos do FMDCA não devem
Sobre o tema, o 4º Centro de Apoio Nesta linha de raciocínio, e com ser utilizados para o financiamento
Operacional do Ministério Público base nos elementos integrantes da de despesas destinadas à manutenção
do Estado do Rio de Janeiro assim se Deliberação objeto desta análise, das atividades dos Conselhos
pronunciou em sua cartilha, destinada evidencia-se que o Conselho Municipal Tutelares e do CMDCA-Rio;
aos operadores do sistema: dos Direitos da Criança e do Adolescente • Todos os recursos materiais
Certo é que NÃO devem ser do Município do Rio de Janeiro violou necessários à implementação, à
elaborados PTs com recursos do Fundo o Princípio da legalidade ao editar manutenção e ao funcionamento
abrangendo gasto para manutenção uma Deliberação cujo conteúdo dos Conselhos Tutelares e do
da estrutura do CMDCA, do Conselho vai de encontro ao estabelecido na Conselho Municipal dos Direitos da
Tutelar, ou para remuneração dos Lei Municipal n. 1.873/1992 e na Criança e do Adolescente devem ser
Conselheiros, tanto de Direitos Deliberação CONANDA n. 105/2005 c/c disponibilizados pela Prefeitura da
quanto Tutelares; pois esses gastos, a Deliberação CONANDA n. 116/2006, Cidade do Rio de Janeiro.

3. CONCLUSÃO

E
m virtude da análise efetuada, constitucional da prioridade absoluta Poder Público, poderá impedir
pode-se concluir que, embora na efetivação dos direitos de crianças ou obstaculizar o pleno exercício
a Lei Federal n. 8.069/1990 e adolescentes. do direito de o Conselho propor e
esteja prestes a completar 20 Atualmente, por falta de controlar ações da Política Municipal
(vinte) anos de existência, há muito a ser conhecimento e/ou interesse de seus de Atendimento à Criança e ao
feito para que os direitos fundamentais membros, a atuação do CMDCA-Rio Adolescente (art. 2º da Lei Municipal
assegurados pela Constituição da concentra-se no Fundo Municipal n. 1.873/1992) e de propor políticas
República e regulamentados no ECA para o Atendimento aos Direitos da públicas que assegurem o atendimento
façam parte da realidade de crianças Criança e do Adolescente por meio à criança e ao adolescente em todos
e adolescentes brasileiros. dos Planos de Ação e de Aplicação do os níveis e, com esse fim, mobilizar e
Verifica-se que, embora os FMDCA, o que é muito pouco quando articular o conjunto das entidades da
Conselhos de Direitos da Criança e comparado à quantidade e à relevância sociedade civil e dos órgãos do Poder
do Adolescente tenham a atribuição de das atribuições e competências do Público (art. 3º, I, da Lei Municipal
formular políticas de proteção integral Conselho. n. 1.873/1992).
para o público infanto-adolescente, Cabe mencionar que o art. 4º da Lei Contudo, as atribuições e
eles não possuem participação ativa Municipal n. 1.873/1992 dispõe que competências do CMDCA-Rio, em
no processo orçamentário, o que nenhuma ação de natureza burocrática regra, não têm sido respeitadas pelo
dificulta a concretização do Princípio ou política, de qualquer órgão do Poder Executivo do Município do Rio

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 91


de Janeiro. Tal fato é injustificável devem ser observadas pelo Poder criminal, cível, administrativa e
artigo
uma vez que o Conselho tem natureza Público. política.
de órgão estatal especial, sendo uma Por isso, os Conselhos de Direitos, Somente assim, poderão mudar
instância pública essencialmente que são reflexo da democracia o quadro de abandono existente em
colegiada que possui metade dos participativa, devem capacitar seus nosso país e tornar menos sofrida
conselheiros eleitos pela sociedade membros a fim de que estes possam a vida de milhares de crianças e
civil e a outra metade indicada pelo exercer plenamente suas atribuições e adolescentes em situação de risco
governo. Logo, as deliberações do competências não se eximindo de suas pessoal e social e que estão alijados
Conselho Municipal dos Direitos da responsabilidades e não cometendo das condições mínimas aceitáveis para
Criança e do Adolescente, quando em erros que possam culminar na sujeição qualquer ser humano.
harmonia com a legislação pertinente, dos conselheiros a sanções de natureza

4. NOTAS

(1) ARAÚJO, Fernando Henrique (2) CARVALHO FILHO, José dos Santos. Malheiros, 2009, p. 511.
de Moraes. Da destinação ilegal de Manual de Direito Administrativo. 17. ed.
recursos dos fundos dos direitos da Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007, p. 17. (4) RIO DE JANEIRO (ESTADO).
criança e do adolescente e a sujeição Conselhos dos Direitos e Fundos da
dos conselheiros de direitos à lei de (3) CURY, Munir. Estatuto da Criança Criança e do Adolescente: Noções jurídicas
improbidade administrativa, p. 8. e do Adolescente Comentado. Comentários para os Operadores do Sistema. Ministério
jurídicos e sociais. 9ª ed. São Paulo: Editora Público do Estado do Rio de Janeiro: 4º
CAO do MPERJ, 2005, p. 18.

5. REFERÊNCIAS

A RA Ú J O, Fe r n a n d o H e n r i q u e do Adolescente e dá outras providências. PRÓ-CONSELHO BRASIL. PPA, Fundo


de Moraes. Da destinação ilegal de D.O.U. de 23.06.2005. da Infância e Declaração de Benefícios
recursos dos fundos dos direitos da Fiscais. Disponível em: http://www.mp.mg.
criança e do adolescente e a sujeição _______. Resolução CONANDA n. 106, de gov.br/portal/public/interno/repositorio/
dos conselheiros de direitos à lei de 17/11/2005. Altera dispositivos da Resolução id/7416. Acesso em: 4 mai. 2010.
improbidade administrativa. Disponível n. 105/2005 que dispõe sobre os Parâmetros
em: http://www.mp.sp.gov.br/portal/page/ para Criação e Funcionamento dos RIO DE JANEIRO (ESTADO). Conselhos
portal/cao_infancia_juventude/doutrina/ Conselhos dos Direitos da Criança e do dos Direitos e Fundos da Criança e do
doutrinas_artigos. Acesso em: 6 mai. Adolescente e dá outras providências. Adolescente: Noções jurídicas para os
2010. D.O.U. de 21.11.2005. Operadores do Sistema. Ministério Público
do Estado do Rio de Janeiro: 4º CAO do
B RAS I L . C o n s t i t u i ç ã o ( 1 9 8 8 ) . _______. Resolução CONANDA MPERJ, 2005.
Constituição da República Federativa n. 116, de 20/06/2006. Altera
do Brasil: promulgada em 5 de outubro dispositivos das Resoluções RIO DE JANEIRO (MUNICÍPIO). Lei
de 1988. Disponível em: http://www. n. 105/2005 e n. 106/2006, que dispõem Municipal n. 1.873, de 29/05/1992. Cria o
presidencia.gov/br/legislacao/. Acesso em: sobre os Parâmetros para Criação e Conselho Municipal dos Direitos da Criança
3 mai. 2010. Funcionamento dos Conselhos dos Direitos e do Adolescente, define os objetivos
da Criança e do Adolescente e dá outras da política municipal de atendimento à
_______. Lei Federal n. 8.069, de providências. D.O.U. de 21.06.2006. criança e ao adolescente, institui o Fundo
13/07/1990. Dispõe sobre o Estatuto da Municipal para Atendimento dos Direitos
Criança e do Adolescente, e dá outras CARVALHO FILHO, José dos Santos. da Criança e do Adolescente, e dá outras
providências. D.O.U. 16.7.1990. Manual de Direito Administrativo. 17. ed. providências. DORIO de 04.06.1992.
Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007.
_______. Resolução CONANDA _______. Lei Municipal n. 3.282, de
n. 75, de 22/10/2001. Dispõe sobre os CURY, Munir. Estatuto da Criança e 10/10/2001. Dispõe sobre a implantação,
parâmetros para a criação e funcionamento do Adolescente Comentado. Comentários estrutura, processo de escolha e
dos Conselhos Tutelares e dá outras jurídicos e sociais. 9ª ed. São Paulo: funcionamento dos Conselhos Tutelares
providências. D.O.U. 14.11.2001. Malheiros, 2009. do Município do Rio de Janeiro. DORIO
de 11.10.2001.
_______. Resolução CONANDA n. GARCIA. Emerson; ALVES, Rogério
105, de 15/06/2005. Dispõe sobre os Pacheco. Improbidade Administrativa. 4ª _______. Deliberação CMDCA n. 795,
Parâmetros para Criação e Funcionamento ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. de 05/10/2009. DORIO de 08/10/2009.
dos Conselhos dos Direitos da Criança e

92 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


Algumas considerações sobre a
transferência de tecnologia para o
setor público
Expor um panorama relacionado à transferência de
tecnologia para o setor público, abordando aspectos
econômicos e legais referentes ao tema, é o objetivo
primordial deste estudo, objeto de pesquisa e reflexões
para a conclusão do Curso de Pós-Graduação em Direito
Administrativo Empresarial da Universidade Candido
Mendes/RJ.

Rodrigo da Fonseca Chauvet


Bacharel em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Pós-graduado em Direito Administrativo Empresarial e Mestrando em Direito
Econômico e Desenvolvimento pela Universidade Candido Mendes/RJ

1. INTRODUÇÃO

O
desenvolvimento das formas de captação de tecnologia inexistência de oferta no mercado de
tecnológico está está relacionada à transferência de determinado bem ou serviço, bem como
diretamente relacionado tecnologia, que pode ocorrer tanto da oscilação de preço na aquisição do
ao desenvolvimento no âmbito privado, envolvendo produto. Ademais, a aquisição de certa
econômico e social de um determinado empresas privadas, quanto no setor tecnologia pode impulsionar o avanço
grupo social. A promoção e o incentivo público, englobando não apenas entes tecnológico de setores estratégicos em
ao desenvolvimento cientifico, à integrantes da Administração Direta, um processo continuo de pesquisa e
pesquisa e à capacitação tecnológica são como também empresas públicas, desenvolvimento.
deveres do Estado, conforme disposto sociedades de economia mista, O que se pretende investigar,
no artigo 218 da Constituição. instituições científicas e tecnológicas portanto, são os contornos jurídicos
A criação e divulgação de ou agências de fomento. Ademais, que justifiquem e embasem a atuação
determinada técnica ou conhecimento tem-se mostrado cada vez mais do Estado como ente captador de
têm o poder de contribuir com o usual a transferência de tecnologia tecnologia, para que, ao final, seja
desenvolvimento de indivíduos, entre os setores público e privado, possível demonstrar que, em setores
indústrias ou nações. A tecnologia fato que assume importância para o estratégicos, é valida a aquisição pela
é um dos fatores diretamente presente estudo, mais detidamente a Administração Pública não apenas do
relacionado ao desenvolvimento e transferência operada do setor privado bem ou serviço necessário a curto prazo
requer investimentos em pesquisa para a Administração Pública. para atender aos interesses públicos.
como estímulo ao processo de Em diversos setores econômicos ou Busca-se demonstrar que, em certos
inovação. Seja no setor público, seja sociais, a transferência de tecnologia casos, será justificada a obtenção da
no privado, a obtenção de tecnologia de entes privados para entes públicos tecnologia em si pelo Estado, para
tem o condão de aumentar a eficiência pode significar o fim da dependência produção do bem ou serviço, como fato
e competitividade das empresas do Estado do conhecimento obtido apto a gerar eficiência e independência
gerando melhorias na produção de apenas por empresas privadas, para a Administração e consequente
bens e prestação de serviços. trazendo independência para a benefício para a coletividade.
Paralelamente aos processos de Administração Pública e afastando-a No entanto, a transferência de
pesquisa e desenvolvimento (P&D), uma de imprevisibilidades como a eventual tecnologia para a Administração

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 93



Pública não pode prescindir de
artigo
uma análise das funções do Estado,
sobretudo com a conjuntura fixada
com a Constituição de 1988. É tema
recorrente nas discussões políticas e
O objetivo maior
jurídicas a definição e a amplitude do consistirá na
papel do Estado nos diversos setores
econômicos e sociais. Na esfera exposição dos
política, os inflamados e novelescos contornos legais
debates muitas das vezes carecem de
fundamentação jurídica refletindo a que justifiquem
ausência de métodos e planejamento na
atuação da Administração Pública.
a transferência
Em recente reportagem intitulada de tecnologia do
“Bom-senso radical – Rejeitar o papel
do Estado na economia capitalista é
setor privado para
rejeitar o ar que se aspira”, o tema a Administração
referente ao tamanho e papel do
Estado foi mais uma vez abordado, Pública de modo
ainda de que de forma extremamente a atender ao
parcial, expondo-se, basicamente, os
benefícios decorrentes da atuação do interesse público.


Estado sobretudo na esfera econômica.
Entretanto, independentemente do
cenário político dominante durante
determinado período histórico, mister
se faz a observação dos contornos
constitucionais do papel do Estado, regulador e fiscalizador das atividades Posteriormente, serão apresentadas
fixando-se as situações nas quais o desenvolvidas e pelos serviços as atividades que, por força
Estado deve intervir, seja na esfera prestados pelo setor privado. constitucional, requerem a atuação do
econômica ou social, bem como os Por outro lado, tem-se que a Estado, bem como alguns princípios
limites para sua ação. proximidade entre os dois setores, jurídicos que devem embasar e limitar
No presente trabalho, pretende- público e privado, além de delegar ao o desenvolvimento de certas atividades
se demonstrar, no atual contexto de particular atividades anteriormente pela Administração Publica. O objetivo
Estado Regulatório, as diferentes prestadas por entes públicos maior consistirá na exposição dos
atividades a cargo do Estado e os integrantes da administração direta ou contornos legais que justifiquem
aspectos legais a serem considerados indireta, faz com que o Estado tenha a transferência de tecnologia do
nos processos de transferência de acesso a benefícios que possam lhe ser setor privado para a Administração
tecnologia para a Administração transferidos pelas entidades privadas Pública de modo a atender ao interesse
Pública. não integrantes da Administração público.
Vislumbra-se uma crescente Pública, como ocorre com a tecnologia Tratar-se-á ainda de algumas regras
aproximação dos entes públicos com desenvolvida pelas empresas privadas especificas que, com o intuito de
empresas privadas para a realização nos diferentes setores industriais. estimular a captação de tecnologia por
de atividades que, numa conjuntura Assim, o presente estudo, determinadas instituições integrantes
de Estado de Bem Estar Social, seriam, inicialmente, dedica-se a uma perspectiva da Administração Pública, dispensam a
em regra, prestadas pelo próprio histórica acerca da ciência, tecnologia e realização de licitação quando o objeto
Estado. Com essa aproximação, a informação no Brasil, além de tratar de estiver relacionado à transferência de
Administração Pública, busca no conceitos relacionados à transferência tecnologia.
particular, um parceiro para prestação de tecnologia. Será exposta a origem Por fim, serão apresentadas as
de serviços públicos, atuação no das instituições nacionais relacionadas conclusões, quando se demonstrarão
ordenamento econômico e social, à pesquisa e desenvolvimento, bem as hipóteses nas quais é justificável
focando suas ações interventivas como os diferentes cenários econômicos e convergente com o interesse
em atividades e hipóteses cuja ao longo das últimas décadas e suas público a transferência de tecnologia
atuação do Estado é imprescindível. consequências quanto aos processos de das empresas privadas para a
Paralelamente, atua o Estado como pesquisa e desenvolvimento. Administração Pública.

94 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


2. CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO NO BRASIL

A
inovação tecnológica é para a geração de emprego e renda. as atividades e os instrumentos de
reconhecida nos tempos Sendo assim, é importante ressaltar apoio ao desenvolvimento da ciência
atuais como o motor o incentivo à cultura empreendedora e tecnologia no país.
para o desenvolvimento em setores marginalizados ou Foram criadas, nas duas décadas
econômico, através da criação de discriminados da sociedade, tais seguintes, instituições e instrumentos
novos produtos e serviços, introdução como segmentos étnicos, raciais ou que tinham como foco o atendimento
de novos equipamentos e processos religiosos. Outro foco está associado à crescente demanda no campo
produtivos, ou pelo surgimento de a nichos específicos voltados para tecnológico. Financiar as atividades
novas formas de organização da oportunidades criadas pelas novas de pesquisa e desenvolvimento (P&D)
produção e prestação de serviços. Seus tecnologias, nas quais existem e formar pessoal técnico para empresa
impactos são notáveis na promoção da possibilidades de entrada e sucesso nacional seriam os objetivos do Fundo
competitividade das empresas e das de novos empreendimentos. Este de Desenvolvimento Técnico Científico
nações, podendo ainda contribuir com objetivo visa o melhor desempenho (FUNTEC), criado no Banco Nacional
a qualidade e eficiência dos serviços inovativo e competitivo e inserção em de Desenvolvimento Econômico
prestados diretamente pelo Estado. áreas de ponta. (BNDE), fundado em 1952.
Até pouco tempo atrás, a teoria Esforços visando o estímulo Po s t e r i o r m e n t e , e m 1 9 6 9 ,
econômica ignorava o papel da inovação a pesquisadores e estudantes de c r i a r a m - s e a Fi n a n c i a d o r a d e
tecnológica em suas formulações instituições de ensino e pesquisa Estudos e Projetos (Finep) e o Fundo
teóricas e em seus modelos, tratando-a para que, a partir do resultado de Nacional de Desenvolvimento
como uma variável exógena ao suas pesquisas, empreendam novos Científico Tecnológico (FNDCT),
funcionamento da economia. No negócios, vêm sendo realizados por que contribuíram para formar um
entanto, com a aceleração do processo alguns países. Dessa forma, muitos núcleo de elaboração de políticas e
de transformação da tecnologia, é esforços são direcionados para de fomento do sistema e ampliaram
exigida uma atenção maior no sentido a interação entre instituições de os instrumentos de política científica e
de compreender sua dinâmica e seus pesquisa e empresas, com o intuito tecnológica, num modelo denominado
impactos econômicos. de criar condições que estimulem o Sistema Nacional de Desenvolvimento
Existem fortes evidências empreendedorismo de pesquisadores Científico e Tecnológico (SNDCT).
empíricas de que a inovação e cientistas. Ciência, Tecnologia e Inovação
tecnológica e o esforço inovativo No Brasil, o Sistema Nacional passaram a ter uma importância
possuem efeitos positivos sobre a de Ciência, Tecnologia e Inovação crescente na estratégia econômica
economia, especialmente nos setores concentra um conjunto de instituições do governo, baseada no binômio
com maior intensidade tecnológica. cujos principais objetivos ou estratégias “segurança e desenvolvimento”.
Diante deste fato, para que haja um consistem basicamente na formação Desta forma, a política de C,T&I no
salto de qualidade da produção e qualificada de pessoal, infra-estrutura Brasil foi construída tendo o Estado
na prestação dos serviços, torna-se tecnológica e na geração e absorção de como órgão central e cabendo, o
relevante a ampliação da capacidade conhecimento. fomento e a promoção de iniciativas,
de inovação das empresas. Com a criação, a partir da década a três instituições principais: a CAPES,
A inovação tecnológica deve de 1950, das agências e entidades o CNPq e a Finep.
ser vista como um fenômeno que fariam parte do Sistema Nacional Em 1985, com a criação do
horizontal, presente em todos os de C,T&I, a institucionalização de Ministério de Ciência e Tecnologia
setores da economia. Nesse sentido, uma política voltada para área de (MCT), o cenário institucional
a existência de uma estrutura de inovação foi alavancada. Iniciou-se em âmbito federal foi alterado. A
incentivo adequado ao processo com a criação do Conselho Nacional Finep e o CNPq, antes vinculados
de desenvolvimento tecnológico é de Pesquisa (CNPq) e da Campanha à Secretária de Planejamento da
requisito fundamental para que haja Nacional de Aperfeiçoamento de Presidência da República, passaram
ampliação da capacidade inovativa. Pessoal de Nível Superior (CAPES), a ficar subordinados ao MCT. Outros
O foco do estímulo e da criação neste mesmo período. ministérios setoriais passaram a se
de uma cultura empreendedora varia Entre 1964 e 1985, ficou a cargo do preocupar com o desenvolvimento
conforme as prioridades e os objetivos CNPq a formulação da política nacional científico, como o da Saúde,
de políticas. É possível citar, como um de C&T. Criado em sua estrutura Agricultura e Minas e Energia.
desses focos, a promoção de novos em 1964, o Conselho Científico Paralelamente, as Fundações de
empreendimentos como alternativa Tecnológico (CCT) passou a coordenar Amparo à Pesquisa (FAPs), atuando,

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 95


basicamente, na promoção da pesquisa privado ficaram inibidas. brasileiro junto ao Banco Interamericano
artigo
e na formação de recursos humanos, Este período dos anos 1990 é de de Desenvolvimento (BID) para
têm uma importante participação grande instabilidade para o sistema capitalizar a Finep. Mesmo com essas
no incentivo à pesquisa realizada de C,T&I. A prioridade passa a ser a operações, o período em questão
no domínio dos estados, estando absorção de tecnologia e não mais o apresenta os mais baixos valores de
vinculadas às secretárias de ciência desenvolvimento tecnológico próprio. desembolsos realizados pelo FNDCT,
e tecnologia do ente da federação, e Esta época conturbada apresentou mostrando assim, a dimensão que as
contam, basicamente, com recursos acentuada flutuação dos recursos do questões econômicas impactaram no
orçamentários. sistema, aumento do questionamento desenvolvimento de C,T&I.
Entre 1970 e 1990, prevaleceu do Estado como promotor do bem Ao fim deste período, os recursos
o entendimento de que o comum, valorização do mercado e destinados a investimentos eram
desenvolvimento econômico da livre iniciativa e demanda por claramente insuficientes para atender
e tecnológico era fundamental e inovação, por sistemas mais ágeis e à demanda da área. Com a extinção
precisava ser subsidiado pelo Estado. previsíveis. Esta situação manteve-se do Programa de Apoio Científico
Através de seus agentes de fomento, até o Plano Real, em 1994, pois nos e Tecnológico (PADCT), dedicado
os recursos dos Estados seriam anos posteriores a inflação conseguirá a incentivar o desenvolvimento
transferidos para parcela do setor se manter relativamente sob controle, científico tecnológico em setores
produtivo. Assim, o funcionamento embora a um custo significativo para prioritários, o FNDCT passa a ser
do sistema de C,T&I brasileiro, até o país. o único mecanismo de apoio a
meados da década de 80, se deu com Durante este período de investimentos institucionais no
base na legitimidade da atuação do estabilização, o sistema nacional de sistema de C,T&I, em âmbito federal.
Estado como agente promotor do C,T&I, referente ao apoio a universidades A retomada dos investimentos
desenvolvimento e articulador de e instituições de pesquisa, sobreviveu em P&D só se torna possível com
iniciativas. à custa de empréstimos externos, a criação dos Fundos Setoriais,
No entanto, a crise da dívida contraídos pelo governo federal. Já aos quais são destinados recursos
externa e o crescimento da inflação, a promoção do desenvolvimento públicos a serem investidos em
neste mesmo período, se desdobram tecnológico nas empresas entrou em pesquisa e desenvolvimento.
em uma crise do Estado. Desta crise devido à escassez da demanda Ve r i f i c a - s e , p o r t a n t o , q u e
forma, o subsídio dado pelo Estado por financiamento a investimento, diversos fatores podem influenciar
para o financiamento a projetos pelo elevado custo de financiamento políticas relacionadas à inovação e ao
de desenvolvimento tecnológico do projeto e a incerteza em função desenvolvimento tecnológico. Muitas
e os recursos fiscais alocados às do risco da própria atividade de das vezes a carência de recursos pode
agências do sistema nacional de C,T&I desenvolvimento tecnológico. É até impossibilitar programas de
decresceram ano a ano, até a criação importante mencionar que em 1998 o pesquisa e desenvolvimento. Não
dos Fundos Setoriais como fundos de governo começou a adotar uma política obstante, uma alternativa para o
recursos para C,T&I. de forte ajuste fiscal com o objetivo de progresso tecnológico, que se mostra
O novo cenário, na década de 1990 reduzir as despesas e demonstrar à fundamental ao desenvolvimento
é marcado pelo fim das transferências comunidade internacional que o Brasil econômico, consiste na transferência
de recursos fiscais para o setor não seria o próximo país a não saldar de tecnologia, o que merece ser
empresarial. Junto com a incerteza suas dívidas. analisado focando-se, o presente
que se formou no plano econômico, Entre 1993 e 1999, o FNDCT foi o trabalho, na captação da tecnologia
as iniciativas de desenvolvimento beneficiário de parte dos empréstimos pela Administração Pública.
tecnológico do setor empresarial e externos, contraídos pelo governo

3. A TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA

O
termo “transferência público. Com o passar do tempo, e, após a aprovação do código de
de tecnologia” sugere a entretanto, foram criados instrumentos propriedade industrial, Lei nº 5.772,
utilidade da propagação e de proteção e defesa das criações de 21 de dezembro de 1971. Um
difusão de certa tecnologia. técnicas, o que prevalece nos dias novo enfoque refletiu no tema em
Em uma breve síntese histórica tem-se atuais. questão com a Constituição de 1988,
que, no passado, era considerado livre No Brasil, o primeiro conjunto através das mudanças introduzidas
o acesso e utilização da tecnologia, de normas a tratar do tema se deu no ordenamento econômico,
considerada como bem de domínio no âmbito do direito tributário promulgando o princípio da livre

96 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ



iniciativa como um dos fundamentos varia de acordo com os recursos da
da ordem econômica, consagrando empresa, o setor industrial em que a
a mínima participação do Estado atividade é desenvolvida, o ambiente
no exercício direto das atividades socioeconômico, político, cultural em
econômicas. que a empresa exerça a atividade. Sua
Tais alterações repercutiram na Em um contexto transferência pressupõe a existência do
disciplina do controle realizado pela controlador da tecnologia de um lado,
Administração Pública nas operações de parcerias e e de outro, aquele que carece de tal
de transferência de tecnologia, com a aproximação do tecnologia, implicando em operações
aprovação da resolução 22 do INPI, que de aquisição e de disponibilidade.
reduziu o controle feito pelos órgãos setor público Quando operada entre empresas
públicos em relação aos contratos de com o privado, privadas, a transferência de tecnologia
transferência de tecnologia, limitando- gera uma série de vantagens a ambos,
se ao controle de sua averbação no a transferência concedente e adquirente, valendo
registro competente, havendo hoje o de tecnologia mencionar a aquisição de melhor
controle com mera enumeração dos tecnologia para competição no
documentos necessários para registro pode ser uma mercado, atração de clientela tendo
dos contratos de transferência. das fontes de em vista a tecnologia adquirida,
No entanto, antes de tratar de recebimento de royalties pela utilização
transferência de tecnologia em si, vale, capacitação e da tecnologia transferida.
ainda que brevemente, abordar-se o desenvolvimento. Já quando se realiza a transferência


conceito de tecnologia, que pode ser do setor privado para o setor público,
dividido em três blocos de bens ou vislumbram-se, além das vantagens
produtos técnicos. O primeiro, que para a empresa privada concedente,
não reúne requisitos mínimos para algumas delas já citadas, como o
receber proteção jurídica específica, eventual recebimento de royalties,
é composto por tecnologia “menor” tecnologia consiste no “conjunto de benefícios para o ente público
ou “artesanal”, representa habilidades conhecimentos e informações próprios que por sua vez podem refletir
ou descobertas de seu criador, como a de uma obra, que pode ser utilizado vantagens para a sociedade como
mera simplificação de tarefas, aplicadas de forma sistemática para o desenho, um todo. Isto porque, a obtenção
em regras sobre outra tecnologia mais desenvolvimento ou fabricação de de tecnologia pela Administração
importante. Num segundo nível da produtos ou a prestação de serviços”. Pública pode gerar desenvolvimento
tecnologia estão os conhecimentos e Tratando da transferência de do ente adquirente no setor onde
regras cuja característica principal não tecnologia, pode-se dizer que atua, obviamente de acordo com a sua
reside tanto no grau de criatividade consiste no processo de aquisição norma instituidora e os fundamentos
utilizada para sua concepção, mas na e disponibilidade de tecnologia, legais a serem observados para
vantagem competitiva que proporciona pressupondo a existência de um suas ações, gerando, indiretamente,
ao seu controlador e, portanto, em sujeito que controla a tecnologia a ser vantagens para os administrados,
regra, não é divulgada por seu criador. transferida e, noutro lado, aquele que verdadeiros destinatários dos objetivos
Por fim, no terceiro bloco de bens carece de tal tecnologia e pretende instituidores de cada ente integrante
integrantes de tecnologia encontram- adquiri-la. da Administração.
se os conhecimentos e regras técnicas Há décadas já se apontava que Tem-se, portanto, que em um
que, atendendo aos requisitos, estão uma das diretrizes fundamentais contexto de parcerias e aproximação
amparados pelo direito de propriedade para o desenvolvimento científico e do setor público com o privado, a
industrial, o chamado direito de tecnológico consiste na “instauração transferência de tecnologia pode
exclusiva. de um processo seletivo para a ser uma das fontes de capacitação e
Ao conceito de tecnologia pode importação de tecnologia, orientado desenvolvimento em prol dos fins a
ser atribuído ainda uma concepção em função de critérios de estratégia que se destina cada ente público. Por
ampla e outra restrita. De forma industrial de natureza setorial e óbvio, a transferência de tecnologia
ampla, a tecnologia pode ser definida de um objetivo central de reforço para o setor público deve respeitar
como “o conjunto de conhecimentos e progressiva consolidação da os princípios e regras relacionados à
científicos cuja adequada utilização capacidade tecnológica nacional”. Administração Pública, observadas
pode ser fonte de utilidade ou benefícios Frise-se que a tecnologia pode ser as funções a serem desempenhadas
para a Humanidade”. Já em uma obtida por meios próprios ou através pelo Estado, conforme será exposto
concepção mais restrita tem-se que a de terceiros. A forma de obtenção adiante.

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 97


artigo
4. AS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS PELA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E
SUA RELAÇÃO COM A TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA

A
Constituição de 1988, constitucionais. A captação da presta atividades aptas a atender
além de estruturar o Estado, tecnologia não deve ser vista como necessidades e utilidades gerais da
tratou da ordem econômica um fim em si do Estado, mas apenas sociedade. Para tanto, a lei define
e social, e enfatizou o papel um meio, geralmente oneroso, para como serviço público determinada
de regulador do Estado, ressaltando acesso à determinada tecnologia que atividade, submetendo-a a um regime
o papel da iniciativa privada na poderá ser utilizada nas diversas especial (público).
produção de riqueza. Deste modo, foi atividades desenvolvidas pelo Estado, As atividades de ordenamento
legitimada a atuação do estado através gerando eficiência com vistas ao econômico relacionam-se ao papel do
da intervenção na ordem econômica, desenvolvimento e maior atendimento Estado de intervir na economia com
respeitada a livre iniciativa. do interesse público. o intuito de corrigir suas distorções
Historicamente, o Estado de Bem Po d e - s e d i z e r a i n d a q u e a e deformações geradas por conta do
Estar Social origina-se do fracasso transferência de tecnologia para o abuso do poder econômico ou da
do Estado Liberal, onde os excessos setor público deve estar inserida ausência de interesse da iniciativa
de liberdade comprometeram o num c ontexto mais amplo de privada em atuar em determinado
atendimento de diferentes interesses planejamento para a execução de setor.
públicos por conta, dentre outros políticas públicas. Aponta-se a noção Tr a t a n d o d o o r d e n a m e n t o
aspectos, dos abusos do poder de planejamento como principal social, cabe ao Estado desenvolver
econômico. No entanto, a ineficiência fator de intervenção do estado na atividades no campo social, que
e limitação de recursos do Estado economia, refletindo um programa de englobam saúde, educação, trabalho,
de Bem Estar Social gerou o Estado desenvolvimento, definindo setores previdência, assistência social, dentre
Regulador. Surge o novo modelo de estratégicos, selecionando aqueles outras, de acordo com os preceitos
estado com papel de incentivar e que caberiam a cada um dos setores, constitucionais.
fiscalizar a atuação privada, impedindo público e privado. Uma vez planejado Por fim, em relação ao fomento,
abusos e incentivando a concorrência, o desenvolvimento, posteriormente, é dever do Estado – vale dizer que
a fim de alcançar a produtividade e devem ser elencadas as despesas tal atividade surge no contexto de
a competitividade que resultarão no necessárias à sua execução, o que seria limitação da hipertrofia do Estado,
bem estar geral. a base para justificar investimentos em alcançada no contexto de Estado
Entretanto, há hipóteses nas quais transferência de tecnologia. de Bem Estar Social. Assim, neste
o Estado deve atuar diretamente, seja As atividades administrativas papel, o Estado deve atuar como
na prestação de serviços públicos, seja a serem desenvolvidas pelo Estado incentivador da sociedade em setores
através da intervenção na economia. podem ser definidas em cinco econômicos e sociais, de acordo com
A ordem econômica na Constituição categorias: o exercício do poder o planejamento público. No presente
fixa os mecanismos de fomento, de de polícia, a prestação de serviços estágio de Estado, é fundamental a
incentivos, tributação e moeda, criação públicos, a execução do ordenamento existência do planejamento indicativo
de empresas estatais e repressão do econômico e do ordenamento social e e do incentivo público como atividades
abuso do poder econômico como o oferecimento de fomento público. propulsoras de iniciativas privadas.
formas de intervenção do estado na A execução das funções de polícia Com o intuito de atribuir objetividade
economia. Portanto, a captação de está relacionada à harmonização ou e delimitação ao presente trabalho,
tecnologia pelo Estado deve estar equilíbrio dos interesses coletivos destaca-se que, dentre as diferentes
inserida no presente contexto, levando com os direitos individuais e exercício funções de Estado acima expostas,
em conta as diferentes funções do das liberdades. Busca-se, com a possuem maior importância no que
Estado e atendendo aos dispositivos presente função, o equilíbrio que tange à transferência de tecnologia
constitucionais. viabilize a convivência social, sendo para o setor público a prestação de
Assim, seja na prestação de serviços necessária, portanto, a imposição de serviços públicos, bem como as
públicos, seja através da intervenção certas limitações ao particular em prol atividades relacionadas à intervenção no
no ordenamento econômico, a de uma convivência harmoniosa entre ordenamento econômico. Ademais, vale
transferência de tecnologia para os membros da sociedade. ressaltar que, para desempenhar tais
o setor público deve sempre estar Quanto aos serviços públicos, tem- atividades, o Estado deve alinhar-se aos
fundada no atendimento do interesse se que o Estado, atuando diretamente princípios e regras que fundamentam a
público, respeitados os contornos ou através de seus delegatários, sua atuação, como se passa a expor.

98 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


5. PRINCÍPIOS APTOS A EMBASAR E NORTEAR A TRANSFERÊNCIA
DE TECNOLOGIA PARA O SETOR PÚBLICO


artindo de uma perspectiva atividade econômica, observados os
atual, na qual é da iniciativa requisitos previstos em lei. Nessa
privada o papel de principal opção fundamental não cabe ao
atuante na atividade estado a produção de riqueza e sua
econômica, conforme previsto no artigo Toda intenção do redistribuição, não devendo o estado
173 da Constituição, o Estado deverá, Estado em desenvolver atividades econômicas
apenas excepcionalmente, desenvolver, excluindo ou concorrendo com
diretamente, atividades que devem ser transferir a iniciativa privada, senão em
prestadas, primordialmente, pelos tecnologia para hipóteses excepcionais, de relevante
setores privados. interesse coletivo ou de imperativo
Ademais, tratando especificamente si deve, em de segurança nacional. Seu papel
da transferência de tecnologia para a primeiro lugar, consiste em estimular a empresa
Administração Pública, é de se observar privada a gerar desenvolvimento
que, além de fundamentada do texto convergir com o através da atividade econômica.
constitucional, há de se ter precauções interesse público. Devem restar claros os limites das


com tal atividade, já que malefícios atividades de titularidade estatal
podem ser causados à economia do e aquelas inerentes ao particular,
país com uma política inadequada de que antecedem a própria criação do
importação de tecnologia. Dentre os estado.
prejuízos, vale citar a dependência da regras, são ponderáveis, cabendo ao Em um contexto de planejamento
tecnologia de outros países, o desestímulo intérprete averiguar, no caso concreto, e visando a conciliação da presença
à inovação, além de hipótese de aquisição qual deles deve prevalecer. do estado com o principio da livre
de tecnologia obsoleta. Obviamente não se intenciona, iniciativa, deve o setor econômico
Não obstante, tem-se que, na no presente estudo, uma abordagem ser, antes de exploração pelo poder
prática, União, Estados, Municípios, ampla acerca da principiologia jurídica. público, oferecido à iniciativa
além dos entes integrantes da Realizar-se-á um mero apontamento privada, primeiramente, através de
Administração Indireta, buscam, em de alguns princípios que devem ser instrumentos de fomento (incentivos
certos setores, não apenas a aquisição considerados quando da transferência fiscais, empréstimos públicos,
de bens ou serviços em licitações de tecnologia para o setor público; são subsídios). Não despertando o
realizadas ou contratos por eles eles: o Principio da Livre Iniciativa, interesse privado e estando o setor
firmados, mas também a transferência o Principio da Subsidiariedade, o definido na lei do plano como
de tecnologia relacionada ao produto Principio da Eficiência, bem como o essencial para o interesse público,
ou serviço adquirido. Princípio da Economicidade. deve o estado explorá-lo sob o regime
Portanto, mister se faz uma análise de direito publico se o definir como
das normas aptas a fundamentar 5.1. Princípio da livre iniciativa serviço público, ou regime privado,
e delimitar as hipóteses em que se se definido como exploração de
justificam o interesse e a atuação da Um dos fundamentos da ordem atividade econômica. A existência
Administração Pública em captar econômica constitucional encontra- de empresas estatais, como fator de
a tecnologia desenvolvida pelo se expresso no caput do artigo 170 inibição ou redução de espaços das
setor privado. Tal embasamento da Constituição que consiste na livre empresas privadas, deve ficar restrita
e delimitação da atuação da iniciativa. É obvio que o exercício às hipóteses de segurança nacional ou
Administração Pública devem ser da livre iniciativa está limitado aos relevante interesse coletivo, além das
inicialmente realizados com base nos demais princípios constitucionais, tais descentralizações administrativas
Princípios Constitucionais os quais, a como, a função social da propriedade, destinadas à prestação de serviços
todo momento, devem fundamentar os a livre concorrência, a defesa do públicos.
atos dos entes públicos, representando consumidor; entretanto, no atual Diante de tal contexto, toda
“cânones pré-normativos, norteando a contexto de estado regulador, a regra intenção do Estado em transferir
conduta do Estado quando no exercício é que as atividades econômicas sejam tecnologia para si deve, em primeiro
de atividades administrativas”. prestadas por particulares. lugar, convergir com o interesse
Obviamente não se pode olvidar que Nesse contexto, é assegurado público; em segundo lugar, respeitar,
os princípios, diferentemente das a todos o exercício de qualquer ainda que indiretamente, a livre

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 99


iniciativa. Isto porque, obviamente, coletivos”. paralelamente aos menores custos
artigo
a captação de tecnologia, na maioria Trazendo o aludido princípio para a sociedade.
das vezes, não deve ser vista como um para o contexto da transferência de É possível, portanto, vislumbrar
fim em si. A tecnologia transferida tecnologia, argumenta-se que, em que a captação de novas tecnologias
será utilizada, seja em atividades um contexto de livre iniciativa, cabe para o setor público pode e deve
relacionadas à intervenção na aos particulares optarem por seus se embasar em tal princípio, já
economia, seja na prestação de investimentos e pela melhor forma que avanços tecnológicos podem
serviços públicos por parte do de intervirem na economia. Não representar, consequentemente, maior
Estado, de modo a gerar maior obstante, em setores estratégicos e eficiência para a Administração,
eficiência e qualidade nas atividades em prol do atendimento ao interesse desde que respeitados, obviamente,
desenvolvidas pelo Estado. publico, mostra-se plausível o os limites constitucionais de atuação
Assim, em respeito à livre iniciativa, interesse da administração pública do Estado, conforme já exposto (artigo
o Estado deverá captar a tecnologia em absorver tecnologia de forma 173 da Constituição).
desenvolvida por entes privados se a atuar em setores específicos, de
tal tecnologia vier a ser utilizada em forma subsidiária, respeitando ainda 5.4. Princípio da Economicidade
serviços públicos desenvolvidos pelo os limites constitucionais para sua
Estado ou em atividades econômicas atuação. O princípio em questão está
que se fundamentem nos basilares diretamente relacionado ao Princípio
do relevante interesse coletivo ou 5.3. Princípio da eficiência da Eficiência e encontra-se expresso
segurança nacional. no artigo 70 do texto constitucional.
Há, entretanto, outras hipóteses Dentre os princípios expressos no A economicidade expõe um dos
de aplicação de tecnologia captada, texto constitucional, vale destacar aspectos da eficiência, ligado à
seja em atividades de fomento ou o Princípio da Eficiência, inserido ideia fundamental de desempenho
pesquisa, mas, que por não estarem na carta magna pela Emenda qualitativo, no sentido de que se
relacionadas, em tese, à intervenção Constitucional nº 19/1998. Conforme busque a melhor forma, em uma
direta na economia não afrontam a exposto pela doutrina “significa que analise de custos e benefícios, para a
livre iniciativa. a Administração deve recorrer à alocação de recursos públicos.
moderna tecnologia e aos métodos De acordo com o professor
5.2. Princípio da Subsidiariedade hoje adotados para obter a qualidade Ricardo Lobo Torres, o controle da
total da execução das atividades a economicidade inspira-se no princípio
O Princípio da Subsidiariedade seu cargo (...)”. Um dos aspectos da do custo-benefício, que, por sua vez,
relaciona-se à idéia de que a eficiência está relacionado, portanto, fundamenta-se “na adequação entre
Administração Pública apenas deve à capacidade da Administração em receita e despesa, de modo que o
atuar de forma secundária, deixando captar avanços tecnológicos que cidadão não seja obrigado a fazer
os administrados decidirem e agirem lhe permitam atuar de modo mais maior sacrifício e pagar mais impostos
de acordo com os seus interesses. eficaz com o intuito de alcançar seus para obter bens e serviços que estão
Estabelece ainda um escalonamento objetivos. disponíveis no mercado a menor
de atribuições, cabendo aos entes Vale destacar que a eficiência está preço”.
maiores agirem na defesa dos relacionada ao desenvolvimento do Focando no contexto da aquisição
interesses coletivos apenas quando conceito de administração pública de tecnologia pela Administração
necessário for. gerencial. Reconhece-se que, neste Pública, partindo de uma análise
Conforme expõe o Professor atual contexto de administração, a considerando a economicidade, é
Diogo de Figueiredo Moreira Neto, mera eficácia, no sentido de que os possível afirmar que, ao pretender
“a subsidiariedade prescreve o atos devem meramente ser aptos a investir na captação de tecnologia,
escalonamento de atribuições entre gerar resultados juridicamente deles o ente público deve verificar se as
entes ou órgãos, em função da esperados, é algo insuficiente. Os atos vantagens a serem atingidas com
complexidade do atendimento dos da administração devem ir além de tal a tecnologia adquirida justificam
interesses das sociedades. Cabe, fim, devendo apresentar qualidades os investimentos feitos, em uma
assim, primariamente, aos indivíduos intrínsecas de excelência, para que relação de custo benefício. E mais:
decidirem e agirem no que se refira aos atendam, da melhor forma possível, é necessário avaliar se não havia
seus respectivos e inerentes interesses as finalidades neles previstas. Assim, alternativa mais apropriada e menos
individuais, e, apenas secundária e a eficiência pode ser observada como custosa para o desempenho de certa
sucessivamente, aos entes e órgãos, a melhor realização possível da atividade pela Administração Pública
sociais e políticos, instituídos para gestão dos interesses públicos, com que não dependesse de investimentos
tomar decisões sobre interesses a plena satisfação dos administrados, em transferência de tecnologia.

100 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


Frise-se que tecnologia está a Administração Pública, mas apenas tecnologia pelo Estado deve limitar-se
relacionada a desenvolvimento e em um meio que possibilitará melhoria às hipóteses que, em uma perspectiva
melhoria no desempenho de atividades. do desempenho de certas atividades de custo benefício, sejam vantajosas à
No entanto, a captação de tecnologia públicas. Portanto, a captação de Administração Pública.
em regra não será um fim em si para

6. A TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA PARA DESEMPENHO DE


ATIVIDADES PELA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

R
espeitada a livre determinado período histórico, foram a melhoria no desempenho de tais
iniciativa, considerada a colocadas, pela Constituição ou pela atividades, observada apenas, dentre
subsidiariedade do Estado, Lei, a cargo do Estado. outros aspectos, a relação entre os
bem como sua busca pela Ao tratar da ordem econômica, custos gerados com o investimento
eficiência e economicidade, tem- a Constituição, em seu artigo 175, em tecnologia e os benefícios gerados
se que, para desempenhar certas estabelece que “incumbe ao poder com tal investimento.
atividades, a captação de tecnologia público, na forma da lei, diretamente Necessário ressaltar que o presente
pode significar desenvolvimento para ou sobre o regime de concessão estudo foca-se na transferência de
o Estado e paralelo benefício para a ou permissão, sempre através de tecnologia para a Administração, sem
coletividade. licitação, a prestação de serviços perder de vista que investimentos
Conforme exposto acima, dentre públicos”. Paralelamente, o artigo 173, em tecnologia podem ser feitos
as funções primordiais do Estado, ao estabelecer os parâmetros para de diferentes maneiras, sendo a
destacam-se, no presente estudo, a intervenção do Estado na Economia, transferência de tecnologia apenas
prestação de serviços públicos, bem não exclui a prestação de serviços um de seus aspectos. Uma forma
como a intervenção no domínio públicos pelo Estado como uma das relevante de incremento tecnológico,
econômico, o que passa a ser atividades econômicas passíveis apenas para exemplificar, refere-
analisado. de exploração pela Administração se a investimentos em pesquisa e
Salienta-se apenas que processos Pública. desenvolvimento.
de transferência de tecnologia para o Tem-se, portanto, que cabe ao
Estado podem estar pautados em outros Estado a prestação de serviços públicos 6.2. A Transferência de Tecnologia
fatores e atividades que ultrapassam a e, de acordo com os princípios que para Atividades Relacionadas à
intervenção no domínio econômico regem a Administração Pública e as Intervenção no Domínio Econômico
ou a prestação de serviços públicos, atividades por ela desempenhadas,
o que deve estar fundamentado caso merecendo destaque neste momento Para tratar da intervenção do
a caso. os Princípios da Eficiência e da Estado na economia, merece destaque
Economicidade, tal prestação deve o artigo 173 da Constituição ao
6.1. A Transferência de Tecnologia visar atender da melhor forma possível dispor que “a exploração direta de
para a Prestação de Serviços o interesse público, seja pela busca atividade econômica pelo Estado só
Públicos incessante da qualidade dos serviços, será permitida quando necessária aos
seja pela redução dos custos da imperativos da segurança nacional ou
Os serviços públicos são “as atividade (relação custo benefício). a relevante interesse coletivo, conforme
atividades de prestação de utilidades Nesses aspectos, vislumbra-se definidos em lei”.
econômicas a indivíduos determinados, a necessidade de investimento em Antes de explorar o artigo acima
colocadas pela Constituição ou pela tecnologia pela Administração Pública exposto, fazendo sua relação com a
Lei a cargo do Estado, com ou sem para a prestação dos serviços públicos, transferência de tecnologia, mister
reserva de titularidade, e por ele seja em relação aos serviços sociais, elucidar que as atividades econômicas
desempenhadas diretamente ou seja quanto aos serviços públicos stricto sensu estão relacionadas à
por seus delegatários, gratuita ou econômicos. Portanto, obviamente, atuação empresarial do Estado,
remuneradamente, com vistas ao bem- levando em conta as peculiaridades considerado seu interesse fiscal ou
estar da coletividade”. de cada situação específica, pode-se estratégico enquanto os serviços
Do conceito acima exposto afirmar que, em regra, justifica-se públicos, conforme exposto acima,
depreende-se que os serviços públicos o interesse da Administração em têm por objetivo o atendimento
podem ser considerados atividades realizar investimentos na captação direto de necessidades ou utilidades
econômicas que, a partir de uma de tecnologia para a prestação de públicas, dentro de uma perspectiva
análise de interesse da coletividade em serviços públicos, de modo a gerar de universalidade e igualdade.

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 101


Pode-se afirmar que, na atuação no A partir daí, vale uma análise da de atividades estatais demonstra-se a
artigo
ordenamento econômico, há uma forma da intervenção a ser feita, isto é, importância da captação tecnológica
finalidade distinta da prestação de do modo de prestação das atividades a pela Administração Pública para
serviços públicos que consiste na serem desenvolvidas em concorrência que execute, de forma eficiente, seu
“ordenação econômica, na conformação com a iniciativa privada. papel de intervir no ordenamento
social, de serviço nacional, isto é, na Como já exposto ao longo do econômico.
promoção econômico social da nação presente trabalho, a tecnologia é um dos Obviamente, necessário frisar que a
considerada em conjunto”. grandes fatores de desenvolvimento mera transferência de tecnologia pode ser
Feita a distinção, verifica-se que e competitividade. Assim, em um algo insuficiente se não vier relacionada
a exploração de atividade econômica cenário de concorrência, é fundamental a um plano real de desenvolvimento,
pelo Estado, em um contexto de que a Administração Pública faça uso que pode ser pautado em pesquisa
livre-iniciativa e subsidiariedade, de tecnologia avançada para prestação e desenvolvimento para se atingir a
deve-se justificar na segurança de suas atividades relacionadas à inovação, ou ainda, no aprofundamento
nacional ou no relevante interesse intervenção na economia, sob pena ou aprimoramento da tecnologia captada
coletivo. Verificados tais requisitos, a de não cumprir de forma eficiente seu pela Administração Pública, evitando-
Administração Pública está, em tese, papel constitucional. se a permanência em um estado de
apta a intervir na economia. Deste modo, também neste ramo dependência tecnológica.

7. ANÁLISE DE CASOS CONCRETOS RELACIONADOS À TRANSFERENCIA DE TECNOLOGIA

E
m setores estratégicos, a em assegurar a defesa nacional. ao processo de transferência. Isso
aquisição de tecnologia pelo Neste caso, a União pretende porque, sem tais investimentos, em
Estado pode impulsionar exigir a transferência irrestrita de breve, a tecnologia adquirida tornar-
avanços em prol do tecnologia e o direito de produção se-á ultrapassada, mantendo o Estado
desenvolvimento. Mostra-se crescente sob licença da aeronave no Brasil e de em uma condição de dependência
o interesse do Estado na aquisição de exportação do know-how ao mercado tecnológica.
tecnologia de empresas privadas, fato sul-americano. A renovação da frota Ademais, é notório e já confirmado
comprovado com diversas licitações aérea está supostamente justificada no pelas próprias empresas fabricantes
que possuem como objeto, não apenas imperativo de segurança nacional e no das aeronaves que não pretendem
a aquisição do bem ou serviço, mas interesse da aquisição da tecnologia transferir integralmente a tecnologia,
também a captação da tecnologia referente aos bens adquiridos. Ao mas apenas parte do know how
em si. menos em tese, a aquisição de tal referente à produção das peças das
Vale mencionar, como exemplo, tecnologia traria independência para aeronaves, o que deve ser avaliado
tratando da aviação civil e da segurança a produção de futuras aeronaves, pela União no momento da aquisição,
nacional, o interesse da União em ou, ao menos, para a manutenção e já que a transferência parcial da
renovar sua frota de aviões englobando, correta utilização dos bens adquiridos, tecnologia pode, eventualmente, ser
no processo licitatório a ser realizado podendo gerar ainda o potencial inútil ao adquirente.
em breve, a compra de 36 aviões de para comercialização do know-how Outro fator que merece destaque
combate, a transferência de tecnologia adquirido. está relacionado aos custos da
como “condição-chave” do certame. Entretanto, em que pesem todos os transação, já que, certamente, a
Um exemplo também relacionado argumentos aptos a justificar o interesse transferência da tecnologia relacionada
ao setor de transportes refere-se à do Estado em receber a tecnologia ao bem negociado aumenta os riscos
construção do chamado “trem de relacionada aos bens adquiridos, e custos assumidos pelo possuidor da
alta velocidade” que interligará as devem ser destacados alguns pontos tecnologia, e que fornecerá o bem à
cidades do Rio de Janeiro, São Paulo referentes à transferência. Administração Pública. Como elucida
e Campinas. Primeiramente, se por um lado a Marçal Justen Filho:
Quanto ao primeiro caso, frise- tecnologia adquirida pode impulsionar “Pode-se dizer, então, que uma
se desde já, que não se trata de o progresso técnico naquele concessão até pode ser modelada
hipótese de intervenção no domínio determinado setor, investimentos de modo a transferir para o
econômico ou de prestação de serviços pelo Estado relacionados à pesquisa concessionário riscos ilimitados.
públicos pelo Estado. A aquisição de e inovação para aprimoramento e Não seria despropositado defender a
aeronaves de guerra está relacionada à desenvolvimento contínuo da possibilidade de até mesmos riscos
competência da União, nos termos do tecnologia adquirida mostram-se extraordinários serem impostos ao
artigo 21, inciso III, da Constituição, fundamentais como complemento concessionário.

102 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ



Mas o resultado prático seria a
frustração do interesse público. A
solução de impor ao concessionário
que arque com os efeitos negativos
de todos e qualquer gerará a elevação De posse da
relevante dos custos da transação tecnologia,
(...).
Esse é o motivo pelo qual a as atividades
Constituição Federal tutelou a equação poderão ser
econômico-financeira dos contratos
administrativos: reduzir os custos prestadas com
da transação, do que derivam efeitos maior eficiência
benéficos para a coletividade (...).
Assim, mais um aspecto a ser pelo Estado.


considerado quando se intenciona
adquirir, não apenas o bem ou o
serviço, mas, também, a tecnologia a
ele relacionada, refere-se ao aumento
dos custos da transação, o que não
apenas aumentará o ônus ao Poder Químico Farmacêutico do Exército medicamentos, tecnologia esta apta
Público, com a elevação dos custos (LQFEX) para aquisição de produtos a gerar progresso e independência
da contratação, mas, também, poderá farmacêuticos juntamente com a em setor fundamental, relacionado
reduzir o número de concorrentes respectiva transferência de tecnologia à saúde.
interessados no negócio. da formulação dos produtos Considerando que um dos objetivos
Tratando da transferência de farmacêuticos, compreendendo os do presente trabalho consiste na
tecnologia relacionada à construção direitos de uso, produção e exploração exposição de um método que justifique
do “trem de alta velocidade” que comercial, exclusivamente no território a intenção da Administração Pública
interligará as cidades do Rio de Janeiro, nacional. O objetivo consistiu na em captar a tecnologia desenvolvida
São Paulo e Campinas, o fundamento capacitação do LQFEX para o pleno pelos entes privados, vale elucidar que
não mais se relaciona ao imperativo atendimento da demanda do Ministério a prestação dos serviços públicos deve
da segurança nacional. Considerando da Saúde e Secretarias Estaduais e ser prestada, conforme previsto no
que para o presente estudo não foi Municipais de Saúde. artigo 175 da Constituição Federal, pelo
viabilizado o acesso ao processo Neste caso, a aquisição da Poder Público, seja diretamente, seja
administrativo relacionado ao caso, tecnologia mostra-se relacionada à através de concessão ou permissão.
imagina-se que todos os princípios prestação de serviços públicos na área Assim, não apenas a atuação da
e regras estejam sendo observados de saúde. De acordo com Alexandre dos Administração Pública para a prestação
e mostrem-se aptos a justificar o Santos Aragão “serviços públicos são dos serviços na área de saúde está,
interesse público na captação da as atividades de prestação de utilidade em tese, justificada com o processo
tecnologia em questão. econômica a indivíduos determinados, licitatório ora mencionado, mas,
Isto porque, como já exposto, colocadas pela Constituição Federal também, o interesse na transferência
a transferência de tecnologia, em ou pela lei a cargo do estado, com da tecnologia relacionada aos bens
regra, torna mais oneroso o acesso ao ou sem reserva de titularidade, e por a serem adquiridos como forma de
bem ou ao serviço. Cabe, portanto, à ele desempenhadas diretamente ou permitir a produção independente dos
Administração Pública demonstrar por seus delegatários, gratuita ou produtos relacionados ao atingimento
os benefícios a serem auferidos com remuneradamente, com vistas ao bem do interesse público em questão.
a captação da tecnologia relacionada estar da coletividade”. Ademais, conforme exposto
ao meio de transporte em questão, Partindo do conceito proposto, no edital relacionado ao processo
justificando, assim, o interesse público, verifica-se que serviços relacionados à licitatório acima mencionado, o
respeitando, dentre outros aspectos, a saúde podem ser prestados diretamente certame estaria fundamentado, dentre
eficiência e a economicidade. pelo Estado, com a finalidade de gerar outros aspectos, na portaria 978 do
Outro exemplo pode ser extraído da o bem estar da sociedade em geral. A Ministério da Saúde, de 16 de maio
área de saúde, como ocorreu no Pregão partir de tal premissa, estaria, em tese, de 2008. De acordo com a portaria,
Eletrônico nº 05/2009, relacionado demonstrada a justificativa do LQFEX expedida com o intuito de contribuir
ao Processo Administrativo nº em intencionar captar a tecnologia com o desenvolvimento do complexo
73/2009, realizado pelo Laboratório para a produção de determinados industrial de saúde, a balança

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comercial da indústria brasileira de independentemente das oscilações do desempenhadas pelo Estado, respeitada
artigo
saúde mostra-se frágil e dependente, mercado internacional. a livre iniciativa e a subsidiariedade.
sem competitividade internacional Verifica-se, portanto, que a De posse da tecnologia, as
expressiva, contribuindo para a transferência de tecnologia já vem atividades poderão ser prestadas
vulnerabilidade da política social, sendo objeto de importantes licitações com maior eficiência pelo Estado.
com alto grau de impacto sanitário e realizadas pela Administração Pública. Ademais, a tecnologia em si pode
orçamentário para o Sistema Único No entanto, não se podem perder de servir como impulso inicial para o
de Saúde (SUS). Assim, a captação vista os contornos legais aptos a embasar aprimoramento tecnológico, o que,
de tecnologia nesse setor estratégico as hipóteses em que se justifica a a longo prazo, poderá transformar
poderia garantir o abastecimento transferência de tecnologia para o setor o Estado de captador para difusor e
de produtos no mercado interno, público, observadas as funções a serem exportador de tecnologia.

8. NORMAS RELACIONADAS A LICITAÇÔES REFERENTES AO ESTÍMULO À INOVAÇÃO


E À PESQUISA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA

F
oram anteriormente expostas inovador”.
as diferentes funções do Po r s u a v e z , o D e c r e t o n º 8.1. Instituições Científicas e
Estado, as quais devem 5.563, de 11 de outubro de 2005, Tecnológicas (ICT)
ser desempenhadas, seja ao regulamentar a norma acima
pela Administração Direta, seja mencionada, prevê, em seu artigo 7º, Conforme já exposto, primeiramente
pela Indireta, ou ainda, por seus que, nos termos do artigo 24, inciso há de ser verificado se o ente público
delegatários. Não obstante, vale XXV, da Lei nº 8.666, é dispensável a que pretende adquirir a tecnologia da
observar que a legislação, em estímulo realização de licitação em contratação empresa privada é caracterizado como
à transferência de tecnologia feita realizada por Instituição Científica e ICT ou como agência de fomento,
por entidades específicas, trata do Tecnológica (ICT) ou por Agência de acordo com a definição da Lei nº
tema apontando vantagens referentes de Fomento para transferência de 10.973, de 2 de dezembro de 2004,
à licitação quando o objeto estiver tecnologia. bem como do Decreto nº 5.563, de 11
relacionado à transferência de Dispensar a licitação nos casos de outubro de 2005.
tecnologia. acima expostos justifica-se no A Lei nº 10.973/04 estabelece
A Lei nº 8.666, de 21 de junho de incentivo à ciência e captação de medidas de incentivo à inovação e
1993, prevê, em seu artigo 24, inciso tecnologia por certas entidades da à pesquisa científica e tecnológica
XXV, que é dispensável a licitação Administração Pública. Frise-se no ambiente produtivo, com vistas à
“na contratação realizada por que as normas aqui expostas não capacitação e ao alcance da autonomia
Instituição Científica e Tecnológica se aplicam a outros entes públicos tecnológica e ao desenvolvimento
– ICT ou por agência de fomento para não qualificados como ICT ou como industrial do País, nos termos dos
a transferência de tecnologia e para o agência de fomento. Deste modo, artigos 218 e 219 da Constituição.
licenciamento de direito de uso ou de faz-se necessário conceituar as ICT’s Tal norma, bem como o decreto
exploração de criação protegida”. e as agências de fomento de forma a que a regulamenta, definem a
Ademais, a Lei nº 10.973, de 2 delimitar a aplicação do dispositivo ICT como “órgão ou entidade da
de dezembro de 2004, estabelece, legal em questão. administração pública que tenha por
em seu artigo 20, caput, que “os Salienta-se, desde já, que missão institucional, dentre outras,
órgãos e entidades da administração as entidades integrantes da executar atividades de pesquisa básica
pública, em matéria de interesse Administração Pública não ou aplicada de caráter científico ou
público, poderão contratar empresa, qualificadas como ICT ou agência tecnológico”.
consórcio de empresas e entidades de fomento sujeitam-se às Um dos eixos de atuação previstos
nacionais de direito privado sem fins demais normas constitucionais e na Lei de Inovação (Lei nº 10.973),
lucrativos voltadas para atividades de infraconstitucionais que dispõem regulamentada pelo Decreto n.º 5.563,
pesquisa, de reconhecida capacitação acerca de necessidade de realização de 11 de outubro de 2005, é o estímulo
tecnológica no setor, visando à de licitação pelos órgãos públicos à participação das Instituições
realização de atividades de pesquisa para a contratação de diversos Científicas e Tecnológicas - ICTs no
e desenvolvimento, que envolvam bens ou serviços, nos quais se processo de inovação.
risco tecnológico, para a solução inclui a transferência de tecnologia, Neste aspecto, é permitido às
de problema técnico específico ou observadas as hipóteses de dispensa ICTs, mediante remuneração e por
obtenção de produto ou processo ou inexigibilidade. prazo determinado, nos termos de

104 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


contrato ou convênio, compartilhar seus direitos sobre a criação, mediante a licitação neste caso justifica-se
seus laboratórios, equipamentos, manifestação expressa e motivada, no incentivo à ciência e captação
instrumentos, materiais e demais a título não-oneroso, nos casos e de tecnologia por tais entidades da
instalações com microempresas condições definidos em regulamento, Administração Pública.
e empresas de pequeno porte em para que o respectivo criador os exerça
atividades voltadas à inovação em seu próprio nome e sob sua inteira 8.2. Agências de fomento
tecnológica, para a consecução responsabilidade, nos termos da
de atividades de incubação, sem legislação pertinente. As Agências de Fomento tem como
prejuízo de sua atividade finalística; Além de tais incentivos, consta missão institucional, promover o
ou ainda permitir a utilização de ainda na Lei nº 10.973 que as ICT’s, desenvolvimento econômico e social
seus laboratórios, equipamentos, juntamente à União e às agências do Brasil por meio do fomento público
instrumentos, materiais e demais de fomento, deverão promover e à Ciência, Tecnologia e Inovação em
instalações existentes em suas próprias incentivar o desenvolvimento de empresas, universidades, institutos
dependências, por empresas nacionais produtos e processos inovadores em tecnológicos e outras instituições
e organizações de direito privado empresas nacionais e nas entidades públicas ou privadas.
sem fins lucrativos voltadas para nacionais de direito privado sem fins Em regra, têm por finalidade
atividades de pesquisa, desde que tal lucrativos voltadas para atividades apoiar estudos, projetos e programas
permissão não interfira diretamente de pesquisa, mediante a concessão de interesse para o desenvolvimento
na sua atividade-fim, nem com ela de recursos financeiros, humanos, econômico, social, científico e
conflite. materiais ou de infraestrutura, a tecnológico do País, tendo em vista
Merece ser ressaltado que a Lei de serem ajustados em convênios ou as metas e prioridades setoriais
Inovação prevê uma série de outros contratos específicos, destinados estabelecidas nos planos do
estímulos à participação das ICT’s a apoiar atividades de pesquisa e Governo.
nos processos de inovação. Assim, desenvolvimento, para atender às Para atingir a sua finalidade,
é facultado à ICT celebrar contratos prioridades da política industrial e costumam atuar na concessão a
de transferência de tecnologia e de tecnológica nacional. pessoas jurídicas brasileiras, de direito
licenciamento para outorga de direito Tratando especificamente da público ou privado, financiamento
de uso ou de exploração de criação eventual exigência de realização sob a forma de mútuo, de abertura
por ela desenvolvida; a ICT poderá de processo licitatório, quando da de crédito, ou, ainda, de participação
obter o direito de uso ou de exploração contratação de transferência de no capital social respectivo, celebram
de criação protegida; é possível à tecnologia, uma vez qualificando-se convênios e contratos com entidades
ICT prestar, a instituições públicas como ICT, aplica-se ao órgão assim nacionais ou estrangeiras, públicas ou
ou privadas, serviços compatíveis caracterizado o artigo 7º do Decreto nº privadas e internacionais, elaboram,
com os objetivos desta Lei, nas 5.563, de 11 de outubro de 2005, nos direta ou indiretamente, estudos e
atividades voltadas à inovação e à termos do artigo 24, inciso XXV, da Lei projetos que considere prioritários
pesquisa científica e tecnológica, no nº 8.666, de 21 de junho de 1993. e, posteriormente, se for o caso,
ambiente produtivo; é facultado à O referido decreto estabelece que negociar, com entidades ou grupos
ICT celebrar acordos de parceria para “É dispensável, nos termos do art. interessados, o aproveitamento dos
realização de atividades conjuntas 24, inciso XXV, da Lei no 8.666, de resultados obtidos, inclusive, mediante
de pesquisa científica e tecnológica 21 de junho de 1993, a realização de participação nos empreendimentos
e desenvolvimento de tecnologia, licitação em contratação realizada por que forem organizados para esse fim.
produto ou processo, com instituições ICT ou por agência de fomento para a Os dispositivos acima invocados
públicas e privadas; os acordos e transferência de tecnologia e para o em relação às ICT´s aplicam-se
contratos firmados entre as ICT, as licenciamento de direito de uso ou de igualmente em relação às agências de
instituições de apoio, agências de exploração de criação protegida”. fomento, sendo necessário, portanto,
fomento e as entidades nacionais de Por sua vez, o artigo 24, inciso apresentar-se sua correta definição.
direito privado sem fins lucrativos XXV, da Lei nº 8.666 de 21 de junho As Agências de Fomento são
voltadas para atividades de pesquisa, de 1993, prevê que é dispensável a qualificadas pelo Decreto n° 5.563
cujo objeto seja compatível com a licitação “na contratação realizada de 11 de outubro de 2005 e pela
finalidade desta Lei, poderão prever por Instituição Científica e Tecnológica Lei de Inovação como “órgão ou
recursos para cobertura de despesas - ICT ou por agência de fomento para instituição de natureza pública
operacionais e administrativas a transferência de tecnologia e para o ou privada que tenha entre seus
incorridas na execução destes acordos licenciamento de direito de uso ou de objetivos o financiamento de ações
e contratos, observados os critérios exploração de criação protegida”. que visem a estimular e promover
do regulamento; a ICT poderá ceder Verifica-se, portanto, que dispensar o desenvolvimento da ciência, da

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 105


tecnologia e da inovação”. processos inovadores em empresas Entre as diversas instituições
artigo
Deste modo, nos termos da nacionais e nas entidades nacionais instituídas como agências de fomento,
Lei n° 10.973, cabe à União, aos de direito privado sem fins lucrativos vale exemplificar a FINEP - Financiadora
Estados, ao Distrito Federal, aos voltadas para atividades de pesquisa, de Estudos e Projetos, uma agência
Municípios e às respectivas agências mediante a concessão de recursos vinculada ao Ministério da Ciência e
de fomento estimularem e apoiarem financeiros, humanos, materiais ou de Tecnologia, encarregada do fomento
a constituição de alianças estratégicas infraestrutura, a serem ajustados em e financiamento das atividades de
e o desenvolvimento de projetos de convênios ou contratos específicos, pesquisa e do desenvolvimento no
cooperação envolvendo empresas destinados a apoiar atividades de âmbito, tanto das empresas como das
nacionais, ICT e organizações de pesquisa e desenvolvimento, para entidades de Ciência e Tecnologia
direito privado sem fins lucrativos atender às prioridades da política (C&T), que tem como objetivo a geração
voltadas para atividades de pesquisa industrial e tecnológica nacional. e aplicação do conhecimento. Enquanto
e desenvolvimento, que objetivem Cabe ainda às agencias de fomento outras agências de financiamento,
a geração de produtos e processos a promoção, por meio de programas como os bancos de desenvolvimento,
inovadores. específicos, de ações de estímulos financiam instalações e equipamentos,
Estas entidades, assim como as à inovação nas micro e pequenas a FINEP viabiliza o salto qualitativo,
ICT’s, devem promover e incentivar empresas, inclusive mediante extensão intensivo em tecnologia da informação
o desenvolvimento de produtos e tecnológica realizada pelas ICT’s. e do conhecimento, das empresas.

9. CONCLUSÃO

O
objetivo primordial do instituidores de cada ente integrante da públicos desenvolvidos pelo Estado
presente estudo consistiu Administração. ou em atividades econômicas que
em expor um panorama Em seguida, partindo de um se fundamentem nos basilares do
relacionado à transferência contexto de Estado Regulador, foram relevante interesse coletivo ou
de tecnologia para o setor público, apontadas as diferentes funções do segurança nacional.
abordando aspectos econômicos e Estado, quais sejam, o exercício do Quanto à subsidiariedade do
legais referentes ao tema. poder de polícia, a prestação de serviços Estado, expôs-se que em um contexto
Tratou-se, inicialmente, de aspectos públicos, a execução do ordenamento de livre iniciativa cabe aos particulares
referentes à ciência, tecnologia econômico e do ordenamento social e optarem por seus investimentos e
e inovação, onde se demonstrou a o oferecimento de fomento público. A pela melhor forma de intervirem na
importância da inovação tecnológica delimitação das funções de Estado é o economia. Não obstante, em setores
como motor para o desenvolvimento ponto de partida para embasamento dos estratégicos e em prol do atendimento
econômico, através da criação de processos e criação de um método que ao interesse público, mostra-se
novos produtos e serviços, introdução justifique a transferência de tecnologia plausível o interesse da administração
de novos equipamentos e processos para o setor público. Partindo das pública em absorver tecnologia de
produtivos, ou pelo surgimento de novas atividades a serem desenvolvidas forma a atuar em setores específicos,
formas de organização da produção e pelo Estado é possível avaliar, em de forma subsidiária, respeitando
prestação de serviços. Deste modo, seus cada caso, a legalidade e legitimidade ainda os limites constitucionais para
impactos são notáveis na promoção da da Administração Pública em captar sua atuação.
competitividade das empresas e das tecnologia das empresas privadas. Tratando do Princípio da Eficiência
nações, podendo ainda contribuir com Não obstante, a legitimidade verificou-se ser possível vislumbrar que
a qualidade e eficiência dos serviços e legalidade dos processos de a captação de novas tecnologias para o
prestados diretamente pelo Estado. transferência de tecnologia para a setor público podem se embasar em tal
Abordando-se a transferência de Administração Pública devem passar princípio, já que avanços tecnológicos
tecnologia em si, como o processo pela análise dos princípios jurídicos, podem representar, consequentemente,
de aquisição e disponibilidade de dos quais mereceram destaque a livre maior eficiência para a Administração,
tecnologia, viu-se que a captação iniciativa, a subsidiariedade do Estado, desde que respeitados, obviamente, os
de tecnologia pelo ente público a eficiência e a economicidade. limites constitucionais de atuação do
pode resultar no desenvolvimento Demonstrou-se que, em respeito Estado, conforme previsto no artigo 173
do ente adquirente no setor onde à livre iniciativa, o Estado deverá da Constituição.
atua, gerando, indiretamente, captar a tecnologia desenvolvida Em relação à Economicidade,
vantagens para os administrados, por entes privados se tal tecnologia expôs-se que a captação de tecnologia
verdadeiros destinatários dos objetivos vier a ser utilizada em serviços em regra não será um fim em si para

106 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


a Administração Pública, mas apenas o Estado e paralelo benefício para a como instituição científica e tecnológica
um meio que possibilitará melhoria coletividade. (ICT) ou agências de fomento.
do desempenho de certas atividades Entretanto, demonstrou-se que todo Em relação às ICT’s, apontou-se o
públicas. Portanto, a captação de processo de transferência de tecnologia estimulo à transferência de tecnologia
tecnologia pelo Estado deve limitar-se para a Administração Pública deve com o fato de ser dispensável para
às hipóteses que, em uma perspectiva estar relacionado a uma política de tais instituições a realização de
de custo benefício, sejam vantajosas à investimentos em inovação e tecnologia, licitação em contratação realizada
Administração Pública. evitando-se a estagnação do processo para a transferência de tecnologia
Posteriormente, realizou-se a de desenvolvimento e a manutenção e para o licenciamento de direito
análise das funções de Estado que mais da dependência tecnológica. Ademais, de uso ou de exploração de criação
se relacionam com a transferência de o interesse da captação de tecnologia protegida. Destacou-se, também, que é
tecnologia, destacando-se a prestação pelo setor público deve considerar a dispensável a licitação na contratação
de serviços públicos, bem como as elevação dos custos da transação com realizada por ICT para a transferência
atividades relacionadas ao ordenamento a aquisição da tecnologia. de tecnologia e para o licenciamento
econômico. Nesse aspecto, observou- Em seguida, foram apontadas de direito de uso ou de exploração de
se que, respeitada a livre iniciativa, algumas normas relacionadas a criação protegida. Quanto às agências
considerada a subsidiariedade do licitações referentes à inovação e de fomento, conclui-se que também
Estado, bem como sua busca pela à pesquisa científica e tecnológica em relação a elas se aplicam as normas
eficiência e economicidade, para com o exame da natureza jurídica do referentes às licitações aplicáveis às
desempenhar certas atividades, a ente público que pretende formular o ICT’s como forma de estímulo à ciência
captação de tecnologia pode significar contrato de transferência de tecnologia e captação de tecnologia por tais
desenvolvimento e independência para (CTT) e de sua eventual caracterização entidades da Administração Pública.

10. REFERÊNCIAS

I – LIVROS Concessões de Serviços Públicos. Editora radical – Rejeitar o papel do Estado na


ASSAFIM, João Marcelo de Lima, A Dialética, São Paulo, 2003. economia capitalista é rejeitar o ar que
Transferência de Tecnologia no Brasil se aspira. Revista Carta Capital. 3.3.2010
(Aspectos Contratuais e Concorrenciais NETO, Diogo de Figueiredo Moreira, Curso nº585, ano XV.
da Propriedade Industrial). Lúmen Júris de Direito Administrativo. Editora Forense,
Editora, Rio de Janeiro, 2005. Rio de Janeiro, 2006. III – LEGISLAÇÃO
Decreto nº 5.563, de 11 de outubro de 2005,
BASTOS, V. D., Incentivo à Inovação: ORTIZ, Gaspar Ariño. Princípios de que regulamenta a Lei nº 10.973, de 02 de
Tendências Internacionais e no Brasil e o Derecho Público Econômico. Ed. Comares dezembro de 2004.
papel do BNDES junto às grandes empresas. e Fundacion de Estúdios de Reegulacion.
Revista do BNDES, Rio de Janeiro, v. 11, n. Granada, 1999. Lei nº 5.772, de 21 de dezembro de
21, p. 107-138, jun. 2004. 1971, pela qual foi aprovado o Código de
S CHUMPETER, J. A., A Teoria do Propriedade Industrial.
CALDAS, R.; et al., Gestão Estratégica em Desenvolvimento Econômico. São Paulo;
Ciência, Tecnologia e Inovação, Parcerias Nova Cultural; 1988. Lei nº 8.010, de 29 de março de 1990, que
Estratégicas; nº 11; 2001. dispõe sobre importações de bens destinados
SOUTO, Marcos Juruena Villela, Direito à pesquisa científica tecnológica.
CASSIOLATO, J.; LEMOS, C.; LASTRES, H.; Administrativo em Debate, Editora Lúmen
et al., Tendência das Políticas de Inovação Júris, Rio de Janeiro, 2004. Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, que
em Países Selecionados. Rio de Janeiro; trata das licitações e contratações pela
UFRJ; 2004. II – ARTIGOS Administração Pública.
ARAGÃO, Alexandre dos Santos. O conceito
FIGUEIREDO, Nuno Fidelino. A transferência de serviços públicos no direito constitucional Lei nº 10.406, de 11 de janeiro de 2002, a qual
de tecnologia no desenvolvimento industrial brasileiro. Revista eletrônica de Direito institui o novo Código Civil Brasileiro.
no Brasil. IPEA/INPES. Rio de Janeiro, Administrativo Econômico, Nº 17.
1972. Lei nº 10.973, de 02 de dezembro de 2004,
TORRES, Ricardo Lobo. O Tribunal de Contas que dispõe sobre incentivos à inovação e à
FILHO, José dos Santos Carvalho, Manual e o controle da legalidade, economicidade pesquisa científica tecnológica no ambiente
de Direito Administrativo. 14ª Edição. e legitimidade. Rio de Janeiro, Revista do produtivo.
Lúmen Júris Editora, Rio de Janeiro, 2005. TCE/RJ, nº 22, jul/1991.

FILHO, Marçal Justen, Teoria Geral das COSTA, Antonio Luiz M. C.. Bom-senso

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 107


artigo
”.
to de teu sal sã o lágrimas de Portugal...
“Oh, mar salgado! Quan
Fernando Pessoa

Água de Lastro                                    

José Geraldo da Fonseca  


Desembargador Federal do Trabalho

O que é “água de lastro”? “Lastro” é qualquer volume


líquido ou sólido acondicionado nos
Quem é do mar sabe muito bem que tanques de um navio para assegurar
o mar é um monstro vivo, faminto, com sua estabilidade e capacidade de
sua imensa goela eternamente à espreita flutuação. Todo navio precisa de lastro.
dos aventureiros, dos desavisados e dos Quando um navio de carga ou de
atrevidos em geral. De todos os perigos, turismo navega descarregado, ou com
o mar esconde um sobre o qual quase a sua capacidade abaixo da tonelagem
ninguém fala, exceto as gentes do mar natural, precisa do lastro para manter-
e os caiçaras brutos como eu: a água se estável, para garantir as condições
consome combustível e água,  vai
de lastro. ideais de flutuabilidade e a eficiência do
baixando o calado bruto,  ficando
A Comissão de Constituição, Justiça leme e para manter, abaixo do espelho
mais leve e mais suscetível à raiva
e Cidadania aprovou o Projeto de d’água, as hélices de impulsão. Se não
dos ventos e dos oceanos. A meio
Decreto Legislativo nº 1053/08, da for assim, corre o risco de adernar ou
caminho, ou já no destino, quando
Comissão de Relações Exteriores e de se ver partido ao meio pelos ventos,
completa a carga, ou reabastece, e
de Defesa Nacional, que ratifica a pelas intempéries, pela força do mar.
sua tonelagem se aproxima do ideal,
Convenção Internacional para Controle Toda a carga e a tripulação podem ficar
livra-se da água de lastro que levou
e Gerenciamento da Água de Lastro à deriva e as consequências desastrosas
daqui e a deixa no porto onde atracar
e Sedimentos de Navios. Segundo são previsíveis.
para reabastecer ou completar a carga.
a Convenção, a inspeção da água Na navegação mercante, o lastro é
Se faz o caminho inverso, isto é, se
de lastro passa a ser obrigatória. As tirado do próprio mar. Para que a nave
levanta ferros do estrangeiro, à meia-
autoridades navais deverão dispor de tenha estabilidade, seus tanques são
carga, e vem reabastecer ou completar
meios de coletas e análise de amostras completados com água do mar, das
a tonelagem aqui, despeja nas nossas
do contrapeso usado nas embarcações. baías e estuários de onde a embarcação
águas o lastro que trouxe do porto
O deslastro não mais poderá ser feito à suspende (zarpa) ou onde efetivamente
estranho. Assim, de forma silenciosa
noite ou em águas rasas, nem a menos atraca. A isso se dá o nome de “água
e imprevisível, vão cambiando a vida
de 200 milhas náuticas da terra, e de lastro”. Se um navio desses
de um mar para outro, espalhando
sempre a uma profundidade mínima parte do Brasil com a sua tonelagem
misérias e destruindo, na calada dos
de 200 metros. Apenas em situações incompleta, precisa do lastro para
portos, toda a fauna marinha que
críticas de navegação, poderá ser feito seguir adiante. Enche os seus tanques
encontram pelo caminho.
em até 50 milhas náuticas do local da com as nossas águas e zarpa rumo
Quando uma água de lastro é tirada
atracação. ao seu destino. Nesse trajeto, como
daqui e despejada noutro canto, ou

108 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


tirada do estrangeiro e jogada aqui, para a saúde humana. Esse escambo espalhados ao redor do planeta. Entre
deixa no novo porto toda a sorte de clandestino de vida natural está 1980 e 1998, essa contabilidade subiu
vida, micro-organismos, bactérias destruindo os mares, rios e oceanos. para 2.214 espécies. A IMO também
e imundícies que trouxe do mar de Pior: não há solução à vista! diz que 12 bilhões de toneladas de água
onde veio. Entre esses, agentes tóxicos, O comércio marítimo é necessário de lastro são transportadas anualmente
dejetos humanos e micro-organismos e irreversível, não há tecnologia pelo mundo, e que cerca de 4.500
patogênicos. A água de lastro pode disponível para substituir a água de novas espécies são cambiadas pra
abrigar no interior dos tanques desde lastro nem como evitar um desastre lá e pra cá nesse comboio macabro.
organismos vivos milimétricos, ecológico que vem, aos poucos, Scheffer diz que a cada nove semanas
invisíveis a olho desarmado, até anunciando a sua força. Estudos do uma nova espécie marinha exótica
peixes de 30 centímetros. Em seu Professor Ariel Scheffer da Silva, invade um ambiente em algum lugar
estágio larval ou planctônico, esses Biólogo do Instituto Ecoplan, mostram do globo, o que as torna  uma das
organismos microscópicos  habitam a que os navios mercantes se ocupam de quatro maiores ameaças aos oceanos
superfície das águas e se proliferam mais de 80% das cargas do comércio e mares. Essa troca inevitável de
sem controle num novo ambiente mundial. Segundo diz, um cargueiro ambientes marinhos  causou e causa
marinho. com capacidade para 200.000 toneladas diariamente prejuízos financeiros e
Dentre as espécies mais suscetíveis pode precisar de 60.000 toneladas de naturais dificilmente contabilizados
de serem engolidas na operação de água de lastro. com exatidão. Esses novos seres
lastro estão as anêmonas, as cracas, A International Maritime invadem diariamente o nosso quintal de
os caranguejos, os caracóis, os Organization (IMO), um organismo água e alteram para pior um equilíbrio
mexilhões e os ouriços-do-mar, assim especializado da ONU, estima que, em ecológico já em frangalhos. Isso se
como agentes patogênicos como o 1939, cerca de 500 espécies exóticas dá  porque essas espécies, tiradas do
vibrião da cólera (vibrio colerae), letal foram introduzidas em ecossistemas seu habitat, livram-se, pelas mãos dos

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 109


homens, dos seus predadores naturais sem lastro, e não há nenhum outro
artigo
e passam a ser, no novo ambiente, elas lastro mais à mão que a própria água
próprias um outro tipo de predador para por onde o navio flutua, o caminho mais
as espécies originárias, ou começam a curto para a solução do problema está
crescer de modo tão descontrolado que na maneira de tratar a água de lastro
se tornam um estorvo econômico, uma antes de despejá-la noutro ecossistema.
ameaça à fauna marinha ou à saúde Utiliza-se, atualmente, um sistema
da população local, seja a que vive da de filtros que impedem a sucção de
pesca, seja a que consome o pescado. organismos maiores para dentro dos
Há exemplos clássicos desse tanques de lastro, mas a quantidade de
desequilíbrio causado pelos navios água bombeada para completar o lastro


cargueiros ou de turismo. Em 2001, contém um nível elevado de matéria
a Agência Nacional de Vigilância orgânica que praticamente anula as
Sanitária (ANVISA) detectou que em vantagens da filtragem. A filtragem
71% das amostras de água de lastro não impede o bombeamento de
de navios de cinco portos do país
havia bactérias marinhas, inclusive a
É o mar quem bactérias e vírus ou outras substâncias
planctônicas ou larvares. Adota-se,
presença de bacilos do vibrio colerae,
o vírus causador do cólera humano.
decide o também, a ozonização da água de
lastro, mesmo processo de purificação
Esse vírus sobrevive até 26 dias na
água salgada, 19 dias na doce e até
destino dos da água potável ou da água industrial,
mas o ozônio, além de economicamente
12 dias no esgoto. Até onde se sabe, homens, e não inviável, produz substâncias corrosivas
o cólera chegou ao Brasil em 1991, quando reage com o cloro da água
trazido pelas águas de lastro dos navios o contrário. do mar, além de agredir de maneira


que partiram do Peru. Até hoje a Índia importante a salubridade do ambiente
tenta erradicar de suas águas o vibrião de trabalho. Também se recomenda o
do cólera, um problema que já foi aquecimento das águas de lastro como
endêmico nas décadas de 70 e 80. O forma de extermínio de alguns tipos
vibrião também chegou a seus portos as águas brasileiras pelo lastro dos de bactérias e micro-organismos. Não
pela ação dos cargueiros. Nos EUA, navios vindos da Argentina. Comum se sabe, ainda, qual o nível de calor
a água-viva carnívora já consumiu nos rios e arroios chineses e no sudeste necessário para garantir a eficiência
US$10 milhões do orçamento público. da Ásia, o mexilhão saiu no lastro dos do sistema, mas é evidente que a
Os Grandes Lagos dos EUA sofrem até navios da Bacia do Prata, alcançou o queima de combustíveis utilizados
hoje com o dreissena polymopha, Rio Paraná e foi espalhando destruição na  geração dessa fonte de calor cria
ou mexilhão-zebra, que infesta mais a uma velocidade de 240 km por ano. um poluente, e isso é complicador, e
de 40% das águas americanas e impõe Em 2001, já estava presente na Usina não uma solução. Fala-se na eficiência
um custo anual de US$138 milhões de Itaipu, que perde, em média, US$1 da desoxigenação. O método até pode
ao governo com a manutenção de seu milhão por dia a cada paralisação do ser eficiente na eliminação de peixes,
equipamento público e controle das sistema, e, em 2002, já era visto nas larvas e bactérias aeróbicas, mas é de
espécies aquáticas e terrestres, pois hidrelétricas de Porto Primavera e nenhuma valia contra os dinoflagelados,
esse tipo de molusco cria suas colônias Sérgio Motta, em São Paulo. cistos, bactérias anaeróbicas e diversos
nos encanamentos hidráulicos e em É possível que a contaminação dos outros tipos de organismos bentônicos.
qualquer tipo de passagem de água. rios se tenha dado pela transposição A eletroionização tem sido utilizada
Mais de 40 espécies alienígenas foram dos barcos de pesca esportiva. Em 2004, no tratamento da água doce, mas
identificadas nesses Lagos desde 1960, chegou à Usina de Barra Bonita. não se tem estudo conclusivo sobre
e cerca de 50 na Baía de São Francisco, a sua eficiência com água do mar. A
desde 1970. O que estamos fazendo para supersaturação de gás é uma técnica
Não vai por muito, Guaraqueçaba, contornar o problema? que pode ser utilizada em conjunto com
no litoral paranaense, sofreu com a outras, mas, isoladamente, não tem a
maré vermelha que infestou suas Economicamente, não é viável utilidade desejada nem é eficiente com
águas e dizimou quase inteiramente imaginar um sistema que permita 100% certos tipos de organismos vivos.
a fauna. Os cientistas apostam que de esterilização da água de lastro, nem Por esse método, produz-se água
o fenômeno foi causado pela água existe, por enquanto, um método que de lastro com excesso de gás e, em
de lastro. O mexilhão dourado assegure esse nível de pureza. Uma vez seguida, estimula-se a redução da
(limnoperna fortunei) contaminou que nenhum cargueiro pode trafegar pressão com formação de bolhas.

110 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


Esse processo provoca hemorragia e homens, e não o contrário. Utiliza- método de diluição para o deslastro.
embolia em certos organismos, mas se, também, o método sequencial, Por esse método, o carregamento
não tem nenhuma utilidade com vírus, consistente no deslastreamento total da água de lastro começa pelo topo
algas, bactérias, protozoários e cistos. do tanque seguido de lastreamento, do tanque, mas, ao mesmo tempo, e
Sugere-se, ainda, o tratamento da mas a complexidade da operação com a mesma intensidade de vazão,
água de lastro com raios ultravioleta. expõe a tripulação a níveis de estresse faz-se o deslastreamento pelo fundo,
Embora eficaz com micro-organismos, altos demais para o serviço no mar, de tal sorte que o nível de água
não funciona com protozoários, fungos além de pôr a embarcação em um no tanque de lastro seja uniforme
e algas. De modo ainda inconclusivo, o momento de total instabilidade, e constante. Por esse sistema, os
choque elétrico tem sido testado em o que pode lhe custar caro. sedimentos orgânicos existentes no
laboratórios com promissora eficiência. Recomenda-se o  transbordamento, fundo do tanque são removidos sem
Por fim, a cloretação é eficiente com o que tem vantagens e desvantagens. que a embarcação comprometa sua
a água doce e até mesmo em grandes Transbordamento é a sucção da água estabilidade. Dentre as vantagens
volumes de água a bordo de navios, mas de lastro dos tanques, durante  certo desse método, em relação aos demais,
estudos indicam que concentrações tempo, esparramando-a pelo convés os técnicos apontam a maior eficiência
elevadas de cloro como as que seriam da embarcação. A vantagem do método em relação ao transbordamento e
necessárias ao tratamento da água está na diminuição do nível de estresse menor complexidade que o sequencial,
de lastro podem originar substâncias e no aumento do nível de segurança da constância no nivelamento do
tóxicas. Tudo o que se pode fazer tripulação, mas não é tão eficaz quanto tanque lastreado e regularidade
é combinar alguns procedimentos o deslastreamento sequencial e na navegabilidade da embarcação,
conhecidos que permitem diminuir o agrega dois outros senões: os tanques de nenhuma exposição da tripulação
risco sem comprometer a viabilidade lastro podem ser submetidos a pressão a agentes tóxicos ou patogênicos e
econômica do transporte marítimo de excessiva durante o bombeamento possibilidade de adoção dos diversos
cargas e pessoas. e expor a tripulação ao contato de tipos de tratamento do nível de pureza
Enquanto a pureza ideal da água organismos tóxicos ou patogênicos das águas de lastro, simplicidade e
de lastro não é alcançada antes de pelo espraiamento das águas de economia na construção dos navios e
ser despejada no mar, outro problema lastro às partes superiores do navio. facilidade de manejo entre armadores
tão sério quanto esse está na maneira Outro método recomendado para o e operadores portuários.
como se faz o deslastro, pois o próprio deslastro é o fluxo contínuo. Consiste Daqui por diante, quando você
processo de troca da água de lastro na troca do lastro sem esvaziar os passar pela Ponte Rio-Niterói e vir,
cria situações críticas de segurança tanques por inteiro. Numa espécie fundeados na barra, aqueles cargueiros
para a tripulação, para a carga e para de “vasos comunicantes”, enchem- e cruzeiros de luxo, apinhados de
a própria embarcação. Alguns métodos se os tanques com água limpa na turistas, esperando a praticagem
têm sido adotados, mas a solução ideal proporção de três partes de água rebocá-los para atracarem no porto,
está longe de ser alcançada. O mais limpa para uma de água de lastro, lembre-se que um crime ecológico
eficiente sistema de troca de água mantendo-se, com isso, a estabilidade está sendo cometido por dinheiro,
de lastro é o que prevê o deslastro da embarcação, e substituindo-se o e na sua cara. Se você permite um
em alto mar e a uma profundidade lastro paulatinamente. Tanto quanto crime, podendo evitá-lo, a culpa não é
superior a 500 metros. Em condições o método sequencial, o de fluxo apenas daquele que delinque. Talvez
normais  de navegação, esse método contínuo tem a desvantagem de expor agora você alcance a profundidade
pode ser seguro para a tripulação, a tripulação ao contato com a água de daquele verso de Fernando Pessoa,
para a carga ou para o navio,   mas lastro que é expelida dos tanques. que eu fiz questão de botar no início
é inviável dependendo do tipo de Os especialistas concordam que o deste texto: “Oh, mar salgado!
embarcação e das condições do tempo. método brasileiro é, de todos, o mais Quanto de teu sal são lágrimas de
É o mar quem decide o destino dos eficiente e seguro. O Brasil adota o Portugal...”.

Sobre “água de lastro”, consulte:


ARAGUAIA, Mariana. Água de lastro e suas ameaças em potencial.
DIAS E CORDEIRO, Itamar. Águas de Lastro e Desequilíbrio Ambiental: o Turismo tem culpa? 
SILVA, Ariel Scheffer (todos os artigos em que o texto se baseia estão disponíveis nestes sítios):
http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81gua_de_lastro
http://www.google.com.br/search?sourceid=navclient&hl=pt-BR&ie=UTF-8&rlz=1T4DABR_pt-BRBR293BR294&q=%c3%
a1gua+de+lastro
http://zoo.bio.ufpr.br/invasores/controlelastro.htm
http://www.brasilescola.com/biologia/sgua-lastro-suas-ameacas-potencial.htm
http://www.revistaturismo.com.br/artigos/aguasdelastro.htmlhttp://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?se=./agua/salgada/index.
html;conteudo=./agua/salgada/artigos/aguadelastro.html

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 111


Vale a pena ler de novo
clipping

Matérias publicadas na imprensa que, por sua


atualidade, não perderam o interesse.

Revista Justiça & Cidadania - fevereiro de 2010

112 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 113
Atividade Física Inclusiva
saúde

Cristine Ottoni Lourenço


Professora de Educação Física pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e idealizadora do
Projeto AFIN – Atividade Física Inclusiva

O
Projeto AFIN - Atividade é totalmente fundamentado nos é executado na Estação de Rádio
Física Inclusiva - é uma princípios inclusivistas, atendendo da Marinha (ERMRJ), por meio de
iniciativa inovadora prioritariamente aos portadores de parceria entre a OSCIP Arte, Vida &
na lha do Governador necessidades especiais, ajudando Esporte, que é a atual responsável
onde é realizado há oito anos, a promover a verdadeira inclusão jurídica do Projeto e a Prefeitura do
promovendo, por meio da atividade social de seus participantes. Rio de Janeiro, através da Secretaria
física, a inclusão de indivíduos com A natação e a hidroginástica de Esportes e Lazer, que patrocina
necessidades especiais, de diversas são excelentes atividades físicas, todos os custos.
faixas etárias, provenientes de várias pois possibilitam a realização de Há seis meses houve a ampliação
comunidades menos favorecidas do movimentos sem causar impacto do Projeto AFIN com a contratação
bairro e adjacências. às articulações e aos tendões, de equipe multidisciplinar nas áreas
Baseada na dissertação que fiz de estimulando toda a musculatura, de fisioterapia, fonoaudiologia e
conclusão do curso de Licenciatura aumentando o tônus muscular; psicologia, objetivando aumentar
Plena em Educação Física: “A promove ainda efeitos benéficos ainda mais os resultados
atividade física inclusiva para a sobre todo o sistema cardiovascular, anteriormente observados,
pessoa com deficiência mental aumenta a autoestima pelos principalmente relativos às pessoas
educável”, a motivação para a criação progressos alcançados na execução com necessidades especiais e seus
do projeto surgiu do convívio muito das atividades, diminuição responsáveis.
próximo com meu irmão, Carlos do estresse, além de propiciar Muitos resultados positivos
Eduardo, portador da Síndrome uma convivência fraterna entre foram observados ao longo desses
de Down, com quem dividi muitos as pessoas. Tais fatos levam, na oito anos, e o principal deles foi ter
momentos de aprendizado, e tive a maioria dos casos, a recuperação a certeza que a Inclusão, quando
oportunidade de avaliar, de forma de enfermidades, inclusive com bem realizada, é benéfica e possível,
crítica, as metodologias que não diminuição de remédios ou até tanto para a pessoa com necessidades
cumpriam uma função de inclusão mesmo sua exclusão. Alguns casos especiais e seus familiares, quanto
real. são relatados na melhora para dormir, para as pessoas que não possuem
No Projeto AFIN são oferecidas na regularização da pressão arterial, deficiência alguma, que têm a
gratuitamente aulas de natação diminuição de crises asmáticas, oportunidade de conviver com a
e hidroginástica para crianças, superação de depressão ou síndrome diversidade humana, respeitando
jovens, adultos e idosos portadores do pânico e em especial no Projeto e admirando a superação de seus
de eficiência ou não, carentes AFIN, verdadeira inclusão social! próprios limites e também do outro,
e não carentes. A partir de sua Atualmente, cerca de 400 pessoas aumentando assim o respeito mútuo
metodologia, o Projeto AFIN são atendidas pelo Projeto, que entre as pessoas.
114 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ
A importância da estruturação do Programa
de Saúde da Família no fortalecimento da rede
pública de atenção oncológica em pediatria:
da detectação precoce aos cuidados paliativos

Claudia Azevedo Ferreira Guimarães


Rabello*
Mestre em saúde da família pela UNESA
Membro da equipe multidisciplinar do
serviço de Oncologia Pediátrica do Instituto
Nacional de Câncer (INCA)

O
presente artigo discute detectação precoce do câncer infantil da Saúde (MS) que estabelecem
a necessidade de e para o apoio aos cuidados paliativos a descentralização das ações
comunicação da Rede do quando a criança se encontra Fora de oncológicas, a desospitalização, a
Sistema Único de Saúde Possibilidade de Cura Atual (FPCA) humanização e que qualificam a
(SUS) no tocante à política de atenção sejam, ou não, terminais. Tudo isto com Atenção Básica, através do PSF, como
oncológica e o papel do Programa apoio nos Princípios Constitucionais, o nível responsável pela “porta de
de Saúde da Família (PSF) neste nas Diretrizes do SUS, no Estatuto da entrada” do SUS e como responsável
contexto, enfatizando este último Criança e do adolescente (ECA) e em pela execução dos cuidados
como o nível mais adequado para a normas elaboradas pelo Ministério continuados.

Introdução

A
assistência oncológica a segunda causa de óbito entre 0 e 14 ligado a fatores de risco, podendo
pediátrica no Brasil anos em países desenvolvidos, e como estar vinculado à genética e ao contato
constitui-se em um campo a mais importante causa de óbito nos ou uso de algumas substâncias pela
emergente dado ao aumento países em desenvolvimento, sendo a gestante2 . Apresentam características
do número de casos de câncer infantil segunda causa de morte em crianças particulares como diferentes locais
nos últimos anos. Apesar de ser e adolescentes entre 0 e 19 no Brasil1. de acometimento primário, diferentes
considerado raro quando comparado Vale dizer que o câncer infantil, ao origens histológicas e diferentes
ao câncer no adulto, constitui-se como contrário dos adultos, não se encontra comportamentos clínicos, alcançando

* Graduada nas áreas de Direito e Saúde, Bioeticista pelo IFF/FIOCRUZ, Consultora em Direito da Infância e da Adolescência, Mestre em saúde da
família pela UNESA na área de concentração Organização, Gestão e Avaliação de Serviços Básicos de Saúde, Membro da equipe multidisciplinar
do serviço de Oncologia Pediátrica do Instituto Nacional de Câncer (INCA).

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 115


altos índices de cura, quando 50 anos, se de fato esses titulares da resolubilidade do tratamento,
diagnosticados a contento. A literatura de direito, na qualidade de pessoas qualidade de vida das crianças
demonstra que existem características em desenvolvimento, vêm sendo sobreviventes, ou em cuidados
histológicas que se correlacionam tratados com a devida prioridade paliativos e a gestão orçamentária.
com os tecidos fetais nos diferentes exigida no ECA. Além disso, esse Em sendo o PSF o eixo da atenção
estágios de desenvolvimento, sendo estudo epidemiológico sustenta-se na básica responsável pelo primeiro
considerados como embrionários. incidência, mortalidade e sobrevida, contato com as famílias através da
O início do cuidado dispensado sendo urgente a necessidade de clientela adstrita em microáreas, em
às crianças e adolescentes com estudos que demonstrem os estádios muito pode auxiliar na detectação
câncer, no INCA, se faz desde de cada espécie de câncer infantil precoce do câncer infantil, facilitando
1957, mas, apesar disso, a primeira bem como, o número de crianças sua cura ou auxiliando nos cuidados
publicação mais abrangente acerca e adolescentes que se encontram paliativos quando da assistência
da epidemiologia do câncer infantil FPCA, que permanecem invisíveis domiciliar, já que este ambiente se
foi feita pelo INCA apenas em 20071, no sistema de saúde. Isto permitiria apresenta como de domínio das equipes
o que permite refletir, ao longo desses avaliar o impacto sob o ângulo de saúde de família que lá atuam.

O Programa de Saúde da Família

O “
serviço público de saúde respaldo a especificidades, tais como:
brasileiro é hierarquizado, desenvolver ações voltadas para o
regionalizado,
descentralizado e, ao mesmo
As ações núcleo familiar; dispor de agentes
capacitados nas ações básicas de saúde
tempo, integral, articulado e contínuo. neste espaço que residam na comunidade; realizar
Cada ente federativo possui suas
competências bem definidas quanto
representam visitas domiciliares a todas as famílias
abrangidas; captar recursos humanos;
sua administração, implementações desafios a um desenvolver estratégias de comunicação
das políticas, execução dos serviços,
financiamento e formas de transferência
olhar técnico que visem ao envolvimento das
comunidades nas ações de saúde.
de valores a serem repassados (Lei no. e político mais São alvos do PSF, principalmente,
8080/90)3. Para efeito de responsabilidade
na esfera jurídica, há uma solidariedade
ousado, que ações de promoção de saúde e
prevenção de doenças, além da redução
decorrente de dispositivo Constitucional rompa os muros dos índices de mortalidade infantil
expresso (Art. 30, VII)4, tese reforçada
pelo Pacto pela Saúde5.
das unidades de (vigilância nutricional e vacinação),
combate à tuberculose, hipertensão
Cada nível de atenção desempenha saúde e enraíze-se arterial, diabetes, doenças sexualmente
um papel dentro do sistema que, a
grosso modo, se comporta da seguinte
para o meio social transmissíveis e otimização da saúde
da mulher (planejamento familiar,
forma: nível primário ou atenção básica, onde as pessoas prevenção do câncer de colo de útero
responsável por ações de prevenção e
promoção de saúde, incluindo o PSF
vivem, trabalham e de mama), promoção de saúde da
gestante e do aleitamento materno,
e se relacionam.


como principal, onde deveria funcionar prevenção de acidentes domésticos na
como porta de entrada do sistema e comunidade e a melhora da qualidade
permitir a organização da demanda; de vida do idoso.
nível secundário, responsável por A gerência e execução das ações
internações e exames; e, nível terciário, para implantação desse modelo ficam
responsável pela internação. Apesar finalidade de busca de um modelo a cargo dos municípios (Art.18 da Lei
desses papéis definidos, algumas ações assistencial socialmente mais justo. no. 8080/90)3, mas, o financiamento do
são de responsabilidade de todos As políticas governamentais no Programa só veio a ganhar vulto em 1996,
eles, como por exemplo, as ações Brasil acenaram para mudança na através da Norma de Operação Básica
educativas. abordagem da assistência, conforme a (NOB/96)8, que estabelece incentivo
O PSF, produto da luta travada Resolução no. 259, de 4 de dezembro financeiro ao Programa de Saúde da
pelo movimento de Reforma Sanitária de 1997, do Conselho Nacional de Família e ao Programa de Agentes
Brasileira, foi implantado em 1994 Saúde7, que criou o Programa de Saúde Comunitários de Saúde (PACS), para os
(ANDRADE e COLS, 2005)6, com a da Família (PSF). Esse documento dá municípios que os implantarem.
116 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ
O documento do Ministério da conhecida como “Distrito Sanitário”. econômico dos indivíduos, das famílias
Saúde (1998)9 sobre o PSF enfatiza como Esta ideia exige a mudança do paradigma e da comunidade, em determinada
pontos centrais, além do estabelecimento em relação ao processo saúde-doença, microárea cuja população é adstrita
de vínculos, a criação de laços de com o abandono do modelo Flexneriano à unidade, ou seja, esta é a principal
compromisso e de corresponsabilidade vigente, criado em 1910, que valoriza referência de saúde para essas pessoas,
entre profissionais de saúde e população. o modelo de saúde microbiológico, fato que permite intervir na realidade, e
As ações que o referido documento enfatizando a especialização, para a planejar e programar as ações de saúde
propõe apontam ainda, para que a adoção de um novo modelo que volte-se local, com isso, racionalizar a oferta
família passe a ser objeto precípuo de para a produção social da saúde, onde de serviços, de forma a transformar a
atenção, a partir do ambiente em que a prática sanitária migre da atenção demanda espontânea para uma oferta
vive, uma vez que “as ações neste espaço médica para a vigilância em saúde, e a organizada (MENDES, 1996; PAIM,
representam desafios a um olhar técnico ordem governativa da cidade abandone s/d)10.
e político mais ousado, que rompa os a gestão médica e adote a gestão social, Desta forma, fica claro que nenhum
muros das unidades de saúde e enraíze- com fulcro na qualidade de vida. outro nível de atenção possui o
se para o meio social onde as pessoas Isto só é possível através do PSF que conhecimento acerca das famílias
vivem, trabalham e se relacionam”. A atua junto à comunidade e trabalha como as equipes que atuam no PSF,
própria legislação do SUS faz menção à com o cadastramento das famílias, o deixando claro o forte papel que
responsabilidade da família no processo que propicia uma transformação do podem desempenhar junto a elas e toda
de tratamento (parágrafo 2º, do art. 2º, ambiente e a busca da construção comunidade, tendo ainda um papel
da Lei 8080/90)3. de uma cidade saudável, como bem fundamental no cuidado e assistência,
O PSF é um modelo de organização descreve o referido autor. principalmente quando da assistência
dos serviços de atenção primária O PSF mantém coerência com domiciliar, além da promoção de novos
existente no SUS, composta por equipes os seguintes princípios do SUS: hábitos de vida e a facilitação do
multiprofissionais de, no mínimo: um universalidade de acesso; integralidade diagnóstico precoce de doenças, com
médico generalista ou de família; um de assistência; preservação da um enfoque que vai além da assistência
enfermeiro; um auxiliar de enfermagem; autonomia das pessoas na defesa de sua individual, envolvendo a situação
e quatro a seis agentes comunitários, integridade física e moral; igualdade da das famílias e o contexto social e
os quais prestam assistência integral assistência à saúde; e, descentralização ambiental, no qual estão inseridos. Este
e contínua à população pela qual são político-administrativa, com ênfase na tipo de abordagem permite também
responsáveis. Estes últimos devem descentralização dos serviços para os minimizar a exposição a agravos
pertencer à comunidade, de forma a municípios. psicológicos e socioeconômicos que
conhecer seus problemas, oferecer Como o PSF trabalha com o conceito possam acometer as famílias em
confiança à comunidade e facilitar o de promoção de saúde e prevenção consequência da doença (Senna e
acesso da equipe. de doenças de forma descentralizada, Antunes, s/d)11 e de algumas doenças
O PSF deve utilizar-se da concepção permite que se conheça todo o contexto que acometem especificamente o
criada por Mendes (1996, p.258) 10 social, cultural, religioso, político e cuidador familiar12, 13 e 14.

A Rede de Atenção oncológica

A
Portaria no 2439/GM, de 8 a promoção e a vigilância em vezes, o critério de admissão do usuário
de dezembro de 2005, que saúde, e divide a responsabilidade na rede, deixando de fora uma parcela
institui a política de Atenção das ações oncológicas em níveis de excluídos ou executando ações que
oncológica15 nas três esferas de atenção básica, média e alta não são específicas daquele nível,
de gestão, demonstra claramente a complexidade, sendo o primeiro como por exemplo, o oferecimento
necessidade de comunicação entre a nível responsável pela detectação dos cuidados paliativos pela alta
rede de assistência à saúde do SUS, precoce das neoplasias e os dois complexidade.
de acordo com a diversidade regional, outros, respectivamente, responsáveis Por tudo isto, em homenagem ao
e a hierarquia, para seu perfeito pelos cuidados paliativos. Tudo isto Princípio da Solidariedade, surgem
funcionamento, levando em conta baseado em conceitos que englobam as redes sociais de apoio através da
a articulação entre o Ministério da a intersetorialidade e o processo de mobilização da sociedade civil e de
Saúde e as Secretarias de Saúde dos referência e contrarreferência. entidades do terceiro setor16 com o
Estados e dos Municípios, instituindo Apesar da objetividade do desenho fito, neste caso, de auxílio às ações
o INCA como Centro de referência da teórico de todo o funcionamento do oncológicas de forma democrática e
alta complexidade. Além disso, aponta sistema, este não se faz da forma participativa.
como componentes fundamentais correta, invertendo, na maioria das
Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 117
A saúde da criança no contexto oncológico: a importância da detectação
precoce e dos cuidados paliativos

C “
omo dito anteriormente, o adolescentes.
câncer infantil vem merecendo Por outro lado, quando não mais
cada vez mais atenção pelas é possível a cura, seja pelo estadio
autoridades de saúde e pelas avançado da doença, seja pela história
equipes de saúde, pelo aumento de A saúde da natural da doença, através de sua
sua incidência e de sua prevalência. letalidade, ou pela resposta inadequada
O PSF pode colaborar na política de criança e do ao tratamento (progressão em vigência
atenção oncológica de duas formas de tratamento ou recaída), surge a
precípuas: prevenindo o câncer nos adolescente, filosofia do cuidado integral através
futuros adultos, através da estimulação
de hábitos de vida saudável na infância,
no sistema de dos cuidados paliativos, alicerçados nos
Princípios da Dignidade Humana4e25,
e ações educativas, já que o câncer saúde pública da Integralidade26 e da Qualidade de
infantil não está ligado a fatores de Vida27.
risco; e, na detectação precoce, através brasileiro, Os cuidados paliativos surgem na
da capacitação das equipes de saúde modernidade, em 1967, com Cicely
da família pela alta complexidade, ainda se Saunders, através dos denominados
como já existe projeto em andamento hospices (locais mais apropriados à
denominado Programa Unidos pela apresenta morte), mas, hoje, não significando
Cura17, que tem participação do serviço um local específico para morrer, mas
de oncologia pediátrica do INCA. inadequado. uma filosofia de cuidados, onde quer


A detectação precoce deve objetivar que o paciente se encontre, até porque
diagnosticar o câncer infantil o mais os pacientes FPCA nem sempre são
breve possível de forma a alcançar o terminais (Figueiredo, 2001)28.
mais baixo estadiamento, com isso, Os cuidados paliativos surgiram
aumentar as chances de cura com febre persistente, emagrecimento, dor como uma filosofia fruto do avanço
tratamentos menos agressivos, propiciar óssea importante, aumento do volume tecnológico, resultando no aumento
o mínimo de sequelas ocasionadas abdominal, sangramento vaginal, da sobrevida, graças a artefatos
pela doença e pelo tratamento, primar adenomegalia, cefaléia, dentre outros, médicos, fazendo surgir uma nova
pelo diagnóstico diferencial, e evitar podem apontar para algum tipo de população dependente de tecnologia,
tratamentos ou abordagens errôneas câncer como, por exemplo, leucemias, especificamente Crianças Dependentes
iniciais que têm impacto direto no tumores de sistema nervoso central, de Tecnologia (CDT)29, redesenhando
prognóstico. Vale dizer que, hoje, o rabdomiossarcomas, neuroblastomas, o perfil epidemiológico e demográfico
INCA recebe a maioria das crianças entre outros. da população, não sendo diferente do
em estágio avançado de doença 18 Também mostra-se importante a que vem ocorrendo com as crianças e
e que, no contexto internacional, associação de câncer com algumas adolescentes com câncer.
40% das crianças ainda têm atraso síndromes genéticas (síndrome de A Organização Mundial de Saúde,
no diagnóstico19. Tal fato contraria Down, hemihipertrofia congênita, em 2003 (OMS/WHO) 30 , leva em
diretamente o disposto nos documentos anomalia do trato genital) e doenças consideração o conceito da “dor total”
internacionais sobre atenção à saúde como a neurofibromatose, o xeroderma elaborado por Saunders31, com base
da criança (Convenção 19 da ONU)20 pigmentoso e a hepatite b, que podem na dor física, psicológica, social e
que prioriza o chamado 4 “P”s, a levar a algumas neoplasias no futuro espiritual, enfatizando:”[...] controle da
saber: Prevenção, Proteção, Provisão próximo ou remoto. Spector et al 24 dor e de outros sintomas, entre outros
de assistência e Participação, e também demonstram ainda a associação do problemas sociais e espirituais, é da
os princípios da Vulnerabilidade21, da baixo peso ao nascer com alguns maior importância [...]”.
Prioridade de Assistência, expresso tipos de cânceres infantil como o A filosofia dos cuidados paliativos
no ECA22, e do Melhor Interesse da hepatoblastoma, retinoblastoma, faz surgir a discussão sobre a
Criança23, face ao direito à saúde ser astrocitoma e ependimoma. Isto aponta desospitalização das crianças e
fundamental e indisponível. para a atenção diferenciada que tem adolescentes FPCA, já que alguns
Simples ações, como uma atenção que ser dada pelo pediatra do PSF poucos estudos permitem apontar o
maior aos sinais e sintomas, tais como: quando do follow up dessas crianças e domicílio como o locus ideal para o

118 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


cuidado32 e 33, para o acolhimento da Domiciliar Interdisciplinar (PADI), no será feito da mesma forma que o já
criança doente e de sua família, e para Instituto Fernandes Figueira (IFF)13, implantado destinado aos adultos.
humanização34 no processo do cuidado restou demonstrado que os insumos e Sustento um modelo de cuidados
e na morte na infância. Um estudo aparelhos necessários à implantação paliativos infantis centrado na atenção
realizado em Boston, por Wolfe et al35, do programa só foram obtidos através básica, especificamente pelo PSF, por três
em 2001, demonstrou que 49% das do Poder Judiciário por demandas aspectos: 1 - porque o sistema jurídico
crianças morreram no hospital, e que as ajuizadas pela Defensoria Pública. e administrativo do SUS e da Rede de
crianças que morreram em decorrência Quanto aos cuidados paliativos Atenção Oncológica assim dispõem;
do tratamento sofreram mais do que oncológicos, existe, quanto aos adultos, 2 - porque a filosofia do PSF centrada
as que morreram em decorrência da uma unidade do INCA (HC IV) 39 na comunicação, intersetorialidade,
progressão da doença, o que permite destinada à atenção dos pacientes diagnóstico local de saúde, assistência
apontar para uma possível obstinação FPCA, além da assistência domiciliar domiciliar nas microáreas e do cuidado
terapêutica neste ambiente. sob a forma de Visita Domiciliar. Tais integral com a família, abarcando
Vários são os documentos editados cuidados, como se pode perceber, principalmente o cuidador, em muito
pelo MS no sentido da otimização da estão ligados à alta complexidade e não se aproxima da filosofia dos cuidados
Assistência Domiciliar (AD): Portaria GM/ conseguem abarcar todos os pacientes paliativos; e 3 - porque, a exemplo do
MS no 2.416/199836, Lei no 10.424/200237, que deles necessitam, por haver critérios que ocorre com os sistemas de saúde
Portaria SAS/MS no 249/200238, Portaria para sua implantação e continuidade. do Canadá40 e Espanha41, que possuem
no 2.439/200515, dentre outros, mas, Quanto às crianças, persiste no INCA os três níveis de atenção funcionando
nota-se uma incongruência entre o o modelo hospitalocêntrico, pois, o adequadamente, os cuidados paliativos
discurso do MS e a aplicação prática processo de iniciação dos cuidados são de responsabilidade da atenção
da AD. Um estudo de minha autoria, paliativos, através da visita domiciliar, básica.
realizado no Programa de Assistência ainda é insipiente e tudo indica que
Conclusão

A
saúde da criança e do ser o ideal e demonstram, claramente, capacitação e educação continuada dos
adolescente, no sistema de o funcionamento de todo o sistema de profissionais, em parceria com os demais
saúde pública brasileiro, saúde de forma invertida. níveis de atenção; e, melhora da gestão
ainda se apresenta Por ser o INCA o centro de administrativa quanto ao provimento de
inadequado apesar de vários programas referência de alta complexidade do MS, aparelhos de uso contínuo no domicílio
destinados a ela pelo MS. Falta, à responsável pela política oncológica, e insumos.
toda população brasileira, condições deveria procurar atender de forma Por todo o exposto, em muito
socioeconômicas para o enfrentamento mais eficaz aos preceitos expressos na pode auxiliar o Tribunal de Contas do
da desnutrição, mortalidade infantil, Portaria no. 2.439/2005, prioritariamente Município do Rio de Janeiro, através
endemias e demais problemas. O quanto à obediência aos níveis de de sua auditoria em saúde, expedindo
combate ao câncer infantil não foge a atenção, fortalecendo os elos com os Recomendações que traduzam a
esta realidade pois, além da ausência de estados e municípios pois, os poucos necessidade de expansão do PSF em
políticas públicas eficazes, há o estigma projetos existentes entre o INCA e determinada área, e fiscalizando o
próprio da doença, principalmente estes últimos, ainda demonstram-se cumprimento das ações desenvolvidas
na crença que as crianças não são insuficientes. pelos gestores, em cumprimento aos
acometidas por esta enfermidade. É de suma Importância a parceria recursos orçamentários recebidos e nelas
Além da detectação precoce e do entre alta complexidade e as secretarias aplicados. Além disso, pode também
cuidados paliativos, constitui também municipais de saúde, para permitir a auxiliar, através da análise prévia de
um problema, a devolução da criança detectação precoce do câncer infantil, projetos, eventuais parcerias entre a
à rede após controle da doença, cujo e para prover os cuidados paliativos alta complexidade e o PSF. Tudo isto se
enfoque não será objeto de discussão infantis, aliando o uso de tecnologia refletiria, inclusive, na minimização de
no presente artigo. leve à tecnologia “dura”, mas, para isso, ajuizamentos de demandas judiciais,
Nota-se que apesar dos cuidados necessita-se melhorar a implantação do individuais ou coletivas, já que é
paliativos serem oferecidos pela alta PSF através do aumento do número de possível o controle de implantação
complexidade, a exemplo do que ocorre equipes; ter o PSF maior abrangência de políticas públicas pelo Judiciário,
com o PADI/IFF e com o INCA, haja territorial; ser ampliada a equipe básica de posição referendada pelo Supremo
vista, não haver outra forma da rede saúde, englobando outros profissionais Tribunal Federal no ano corrente, sem
absorver os pacientes Dependentes de da área da saúde; melhora e incentivo no que isso signifique a interferência no
Tecnologia ou FPCA, estão longe de repasse orçamentário; investimento em mérito administrativo.
Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 119
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GM, no 2439, de 8 de dezembro de 2005. Rio de janeiro. ESAD.

120 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


em pauta

III Encontro Brasileiro para


Capacitação dos Controladores
Internos e Externos
Rio sedia III Encontro
em pauta

Nacional de Controladores
Chuva não impede realização do CON1NTER

Conselheiros Salomão Ribas, TCE/SC, Manoel Castro, do TCE/BA, Francisco Neto, do TCM/BA, Thiers Montebello e Antonio Carlos
Flores de Moraes, do TCMRJ, e a procuradora Vanice Lírio do Valle

Políticas Públicas dos Servidores e Os aeroportos permaneceram fechados de Moraes, do TCMRJ, apresentou
Políticas Públicas nas Licitações e as ruas, desertas. breve currículo dos palestrantes, “as

N
Entretanto, a despeito das mais notáveis inteligências jurídicas,
unca choveu tanto no Rio dificuldades decorrentes das chuvas especialmente nas áreas de administração
de Janeiro. Mais intensa da antevéspera, autoridades e membros pública e de controle”, segundo Thiers
chuva já registrada na capital de órgãos de controle de diversos Montebello, presidente do TCMRJ. Para
fluminense, as tempestades Estados brasileiros se reuniram, de Thiers Montebello, as novas práticas e
que assolaram a cidade em 05 de 07 a 09 de abril, no Othon Palace experiências dos Tribunais de Contas
abril de 2010 provocaram 205 mortes, Hotel, de Copacabana, para discutir brasileiros devem ser divulgadas e
alagamentos e desabamentos em novas estratégias de capacitação de compartilhadas, inclusive “em atividade
diversos bairros. servidores e gestores que atuam em acadêmica”.
Em entrevista concedida na manhã controle interno e externo (contábil Primeira expositora do Encontro,
de terça-feira, 06 de abril de 2010, e planejamento) e realizam auditoria a procuradora do município do Rio de
o prefeito Eduardo Paes reconheceu interna. O “III Encontro Brasileiro para Janeiro, Vanice Lírio do Valle, abordou
que “não existe galeria pluvial limpa Capacitação de Controladores Internos novas políticas públicas do servidor,
capaz de escoar tal volume de água” e Externos – CON1NTER” contou com “tema de extrema importância”. “O
e apelou aos cariocas que não saíssem o apoio da Associação dos Membros dos servidor público é o gasto mais expressivo
de casa. “As encostas da cidade estão Tribunais de Contas do Brasil (Atricon), em qualquer unidade administrativa, o
muito encharcadas e as chances de da Associação Brasileira dos Tribunais gasto mais significativo, diz a Lei de
deslizamento são enormes”, afirmou de Contas dos Municípios (Abracon), Responsabilidade Fiscal. Portanto, trata-
Eduardo Paes. Diversas famílias do Instituto Rui Barbosa (IRB) e do se de tema que requer tanta atenção
ficaram desabrigadas, aulas em escolas Tribunal de Contas do Município do quanto as contratações”, afirmou.
municipais e estaduais tiveram de ser Rio de Janeiro – TCMRJ. Vanice do Valle discorreu sobre
suspensas e audiências agendadas nos Coordenador do Encontro, o as inovações da Constituição Federal
fóruns da cidade restaram canceladas. conselheiro Antonio Carlos Flores

122 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


Conselheiros Carlos Pinna e Salomão Ribas, André Araújo, da JAM Jurídica, e Antonio Carlos Flores de Moraes

de 1988, que preconiza o “princípio que a Constituição traça o são


do concurso público”, a aplicação do igualmente, seja qual for o governo. Controle Externo da Qualidade,
Regime Jurídico Único e a aposentadoria Pode-se discutir como fazer, com que Experiência Carioca, Controle da
em regime público diferenciada do meios, quando será o momento mais Educação e Ministério Público
RGPS, que “resultou no engessamento apropriado. Mas se sabe aquilo que Especial
das carreiras, na efetivação dos se deve fazer, porque está traçado na
contratados, no desequilíbrio atuarial Constituição, dotada de supremacia. Em palestra inaugural do segundo
dos regimes públicos e nas sucessivas Nossa Constituição de 1988 segue dia do Encontro, o conselheiro do TCE/
reformas previdenciárias”, criticou. exatamente esse caminho”. SC e presidente da Atricon, Salomão
Segundo Vanice do Valle, “este O desembargador Jessé Torres Ribas Júnior, discutiu atividades e
tema, política pública dos servidores, observou, também, que o Judiciário objetivos do “Controle Externo da
tem de ser retomado, não somente sob teve alargamento da competência Qualidade”. “Controle e qualidade são
perspectiva remuneratória – embora institucional de forma indireta, “à duas palavras curiosamente mágicas.
importantíssima – mas para estimular medida que se criaram novos direitos, A palavra qualidade fala por si, pode se
a inteligência, o compromisso e o que a Constituição estabeleceu políticas isolar em determinado contexto, porque
empréstimo do melhor das capacidades públicas obrigatórias, que o Ministério já tem significado. A ideia de qualidade,
do servidor ao serviço público. A Público passou a ser autor de novos que veio migrando da vida comunitária
disciplina do serviço público merece tipos de ações, e que as defensorias para a vida industrial, daí para a vida
releitura a partir da própria centralidade públicas passaram a patrocinar direitos pública, é vinculada a processo, e não
da pessoa: os servidores públicos não dos hipossuficientes”. necessariamente a produto”, observou.
podem seguir à margem das políticas Sobre as expectativas da sociedade Palavra polissêmica, conforme
públicas”, finalizou Vanice. acerca da atuação dos gestores públicos, definição apresentada por Salomão
Segundo palestrante do Encontro, Jessé Torres ponderou: “Que juízo nossa Ribas, “controle pode estabelecer
o desembargador do Tribunal de sociedade faz da gestão das instituições ideia de domínio (estar no controle da
Justiça do Estado do Rio de Janeiro, públicas e privadas brasileiras? E onde situação); de fiscalização (exercício do
Jessé Torres Pereira Júnior, tratou estão os resultados? Os resultados poder de polícia, para determinadas
da necessidade de aplicação de estão na avaliação que a sociedade normas e padrões serem respeitados);
princípios constitucionais às licitações faz, e não dentro das instituições”. de verificação de conformidade com
públicas. Segundo Jessé Torres, as Para Jessé Torres, a missão de gestores algum paradigma/standard; ou do
Constituições promulgadas em 1946 e controladores deve ser “melhorar simples controle remoto do aparelho de
e 1988 apresentaram diretrizes de os índices desses resultados, elevar o TV”, apontou.
governo fundadas em “prioridades grau de confiabilidade das instituições Para Salomão Ribas, a multiplicidade
e objetivos que traduzissem o perante a sociedade; ter a sociedade como de órgãos de controle existentes no
pensamento daquelas sociedades, a real destinatária dos nossos esforços, Brasil provoca “entrechoques”, de
ao transmitir orientações gerais aos de tal maneira que possamos atender que resultam questões inconclusivas
agentes públicos. E se a Constituição as suas prioridades e expectativas”, e processos de trâmite extremamente
é dotada de supremacia, as políticas concluiu. moroso. “Temos, no Brasil, controle de

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 123


variadíssima natureza e de múltiplas brasileiro. “A Lei de Responsabilidade “O controle visa garantir que algo
em pauta
finalidades. Contamos basicamente com Fiscal consolidou algumas ideias, e ocorra como planejado, eliminando ou
os controles administrativo, legislativo forçou a administração pública a operar minimizando influências negativas;
e judiciário, cada um com determinada com transparência e planejamento. buscar toda a verdade dentro do
finalidade a ser buscada no trato da coisa Estabelecemos, também, o Programa que a lei define. Mas sem deixar de
pública. Mas, todos os procedimentos de Modernização dos Tribunais de reconhecer que os controles internos
que cercam esse tipo de controle Contas – Promoex. Não satisfeitos, são operacionalizados, desenvolvidos,
legislativo não finalizam a questão, estamos, nós brasileiros, construindo determinados e exercidos por pessoas:
porque adotamos a multiplicidade duas outras soluções: a Lei de Qualidade é o elemento humano que controla
do controle, principalmente quando Fiscal - projeto em tramitação no atividades numa organização. Ainda
construímos a Constituição de 1988”, Congresso - que altera a LRF e cria que você tenha controle interno e
especulou. novas normas de construção do ciclo externo bem desenhados, bem operados,
Embora reconheça a importância do de gestão orçamentária; e o projeto ainda assim, o controle dá uma
princípio da inafastabilidade do Poder de Lei, em curso no Senado, que segurança razoável, justamente porque é
Judiciário, Salomão Ribas afirmou que, altera profundamente as normas e desenvolvido por pessoas, com emoções
em consequência da imensa demanda procedimentos da administração pública e incertezas”, ponderou.
de acesso à Justiça, “em vez de termos brasileira”, prometeu. Marcia informou que a cidade do
exclusivamente um devido processo Salomão Ribas destacou, também, Rio de Janeiro tem aproximadamente 6
legal, nós passamos a ter um infinito a criação das Agências Reguladoras, milhões de habitantes e que o orçamento
processo legal, ‘apostando’ sempre na instituições que objetivam garantir da Prefeitura para 2010 gira em torno de
morosidade do Poder Judiciário. Daí o controle da qualidade de serviços R$ 13,5 bilhões, já distribuídos para
é que surgiu, de uma velha aspiração prestados ao consumidor. Entretanto, as áreas de saúde (cerca de R$ 2,4
da Ordem dos Advogados do Brasil, a “esse sistema, aqui no Brasil, ainda não bilhões) e educação (cerca de R$ 2,5
discussão em torno do controle externo funciona muito bem. Temos também as bilhões). Aproximados R$ 2 bilhões
do Poder Judiciário, no âmbito do Ouvidorias, para que o cidadão tenha já estão destinados a investimentos
Parlamento. Criou-se, então, o Conselho direito à reclamação da qualidade diversos. Segundo Marcia, cerca de
Nacional de Justiça, outro tipo de do serviço. No âmbito dos TCs, as 105 mil servidores ativos representam
controle que difere do legislativo, do auditorias operacionais são o que se pagamentos que totalizam quase
administrativo e até do judiciário, e é pode e deve fazer para efeito de avaliação R$ 4 bilhões. Inativos, cerca de 54
os três ao mesmo tempo”. de resultado. As auditorias se destinam mil servidores recebem em torno
Segundo Salomão Ribas, os a orientar, estabelecer recomendações de R$ 2 bilhões, sem contabilizar
Tribunais de Contas sempre exerceram em assessoramento ao administrador outras 26 Secretarias e 18 entidades
controle formal dos atos de contabilidade público e, evidentemente, prestar da administração direta – volume de
pública, atividade, entretanto, incapaz conhecimento ao público”. dados e gastos que requerem rigoroso
de assegurar a efetiva qualidade do Para encerrar, Salomão lembrou que controle.
serviço oferecido. “A contabilidade é os instrumentos de controle interno “A Controladoria-Geral foi a primeira
um grande instrumento para avaliar a e externo somente poderão operar Controladoria Municipal a congregar as
qualidade da administração pública, mas adequadamente “se os responsáveis forem atividades de controle numa secretaria
não o meio adequado para a avaliação capazes de produzir e disponibilizar de governo. Costumamos dizer que
da qualidade do serviço prestado pela informações, em linguagem clara e a Controladoria se fundamenta
administração. Avançamos por outras compreensível ao cidadão comum”. no compromisso e na paixão com
áreas de conhecimento – economia, E concluiu: “Há, na realidade, que se permanente atualização, inovação e
administração, engenharia - e chegamos buscar a obediência ao princípio geral modernas práticas de contas. Controle
à conclusão de que era indispensável, da boa administração; administração é isso: compromisso sério com a
além da verificação da legalidade que deve ser feita com probidade, responsabilidade, com a ética, mas,
(da conformidade), que tivéssemos, acima de tudo, e que deve levar em também, compromisso de paixão,
também, a avaliação de desempenho, conta a satisfação, isto é, o atendimento porque fácil não é!”, argumentou.
de resultado. Daí surgiu a ideia da pleno das necessidades do cidadão Marcia contou que, desde 1993,
avaliação operacional, que nos permite contribuinte. É direito fundamental da quando criada, a Controladoria já
fazer algum tipo de controle real sobre a pessoa o direito à boa administração. E experimentou quatro processos de
qualidade do serviço público”, contou. é o que todos desejamos”. mudança estrutural, sempre no intuito
Salomão analisou, ainda, os Na sequência, a sub-controladora de aprimorar os serviços de cada
procedimentos e as medidas legislativas de Integração de Controle da PGM/ organização. “A Controladoria, por conta
que visam a transparência e a melhoria RJ, Marcia Andrea Peres, tratou da exatamente desse princípio norteador
da qualidade do serviço público experiência carioca de controle interno.

124 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


da inovação, de práticas modernas,
está sempre buscando se atualizar
para poder prestar serviço melhor ao
controle e, no fundo, ao cidadão carioca,
que é o nosso principal cliente. No
primeiro ciclo, em 1996, a nossa grande
missão foi implantar um sistema de
controle; manualizar procedimentos
de controle interno; e centralizar, na
Controladoria, todos os empenhamentos
de despesa e licitações das entidades
da administração direta. Depois de
avaliarmos o ambiente implementado
e o grau de maturidade de todos os
envolvidos, entendemos que era hora
de nos aperfeiçoarmos”.
Para se aperfeiçoarem, Marcia
apontou três estratégias procedimentais.
“Passamos, então, ao segundo
ciclo: mantivemos a liquidação da
administração direta na Controladoria; Ministro Benjamin Zimler, do TCU, analisa as novas vertentes do controle da
Administração Pública
começamos a liberar a realização
de empenhos pelas Secretarias; e quarto ciclo traz a tônica de análise e sessenta e duas) Unidades Escolares,
reestruturamos a Auditoria, criando preventiva, reformulação da área de com, aproximadamente, 75 mil alunos e
áreas específicas de atuação - Auditoria controles internos e incorporação da 36 mil professores. A principal proposta
de conformidade, de desempenho, de área de informações gerenciais, com do Programa de Visitas às Escolas
programas e de pré-auditoria”, disse. análises mais sistemáticas. Priorizamos Municipais é a tramitação rápida dos
Criada em 2005/2006, “terceiro os problemas, identificamos as causas e relatórios até a Secretaria, conferindo
ciclo” do processo de modernização, definimos o tratamento para a orientação. celeridade às resoluções dos problemas
a Sub-Controladoria de Integração e E é fundamental a integração que temos apontados”, apostou.
Controles visa estimular a introdução com o controle externo. Ressalto que Segundo Cássio, o Programa ainda
de procedimentos de controle interno o TCMRJ é formado por um grupo de permite que as escolas sejam visitadas
nos processos de trabalho e em sistemas competência técnica fantástica e de várias vezes ao ano, como forma de dar
informatizados. “Nós acreditamos que, conselheiros sempre dispostos a discutir continuidade à inspeção. Em 2009, 195
por conta da demanda em potencial temas relevantes. Fazemos importante escolas foram visitadas; 2.391 alunos,
e dos recursos restritos, quanto mais trabalho em conjunto. Controle é difícil 997 professores e 997 pais foram
você criar autocontroles dentro do de exercer; é fundamental acreditar que entrevistados. “O checklist é a principal
sistema informatizado, mais você é possível melhorar, e fazer com que se ferramenta de diagnóstico da Unidade.
libera o grupo de analistas e auditores materialize”, concluiu Marcia. Dentre os itens a serem verificados
de fazerem análises específicas para Em seguida, os técnicos da 3ª estão: condição estrutural, hidráulica e
controlar atividades que poderiam Inspetoria Geral do TCMRJ, Cássio das elétrica da escola, segurança, combate
já estar ‘barradas’ no sistema. Agora, Neves Monteiro e Marcus Vinicius da a incêndio, frequência e carência de
estamos no quarto ciclo, iniciado no ano Silva, apresentaram procedimentos e professores e merendeiras, e qualidade e
passado, 2009”, contou. resultados do “Programa de Visitas às quantidade da merenda”, assegurou.
Marcia argumentou que “o Escolas do Rio de Janeiro”, adotado, Para conferir respaldo científico
aperfeiçoamento e a orientação surgem desde 2007, também no Distrito Federal, aos dados coletados, o TCMRJ firmou
da necessidade de que o controle seja à semelhança do Programa criado no parceria com a Universidade Federal
melhorado”, e reiterou a importância da TCMRJ. do Rio de Janeiro – UFRJ, em contrato
parceria com o Tribunal de Contas do Cássio Monteiro explicou que o de prestação de serviços de controle
Município do Rio de Janeiro. “Estamos Programa foi desenvolvido, em 2003, e estatística. “Esse Programa só se
atentos às reformulações. Dentro por técnicos da 3ª IGE, responsável por tornou viável graças à criação do
da diretriz da nova administração, inspecionar as atividades da Secretaria Sistema Estatístico de Dados – SED, à
a prioridade é olhar a prevenção e de Educação. “A Rede Municipal é formação acadêmica multidisciplinar
melhorar a participação do gestor. Esse composta por 10 Coordenadorias dos servidores da Inspetoria e graças,
Regionais de Educação - CREs, 1062 (mil também, às parcerias com setores
Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 125

estratégicos, como UFRJ e CREF. Outro Willeman observou que o Ministério
em pauta
ponto de suma importância para o Público de Contas integra “a intimidade
sucesso do Programa é a interação do estrutural do próprio Tribunal de Contas;
TCMRJ com a Secretaria de Educação”,
observou.
O Ministério ou seja, o STF acabou por definir que o
Ministério Público Especial não se
Em continuação à demonstração
dos resultados do Programa, o Inspetor
Público confunde, em atribuições, competências
e concursos distintos, com o Ministério
Setorial da 3ª IGE, Marcus Vinicius da
Silva, apresentou o “Sistema Estatístico
Especial Público Comum. Portanto, membros do
MP Comum não podem legitimamente
de Dados” (SED), software desenvolvido
com a colaboração da assessoria de
exerce função exercer atribuições do MP de Contas”.
Segundo Mariana, a interpretação do
informática do TCMRJ. Com base
em informações armazenadas no
essencial STF visa garantir a atuação independente
do Ministério Público junto às Cortes de
sistema, Marcus Vinicius realizou ao controle Contas; visa “outorgar aos procuradores
análise comparativa dos resultados a necessária independência funcional,
aferidos em 2008 e 2009. “Na cidade externo, às sem qualquer ingerência, tão-somente
do Rio de Janeiro, houve aumento do submetidos à própria consciência”,
número de escolas que consideramos atividades asseverou. Entretanto, Mariana
precárias. Eram 14,5% em 2008; reconheceu desafios decorrentes da
passaram a ser 17,1%, em 2009. As finalísticas dos obrigação constitucional de conferir
unidades consideradas “boas” caíram
de 48,1%, em 2008, para 40,9%, em Tribunais de “independência funcional” aos membros
do Ministério Público Especial, órgão que

Contas.


2009. Escolas sem qualquer problema, não detém autonomia administrativa
em 2008, chegavam a 23,55%; em 2009, e financeira, uma vez inserido na
diminuíram para 12,44%. Em 2008, estrutura dos Tribunais de Contas.
6.901 alunos não receberam refeições “Conceder independência funcional
completas, apenas lanches emergenciais; ao membro de órgão que não tem
ao passo que, em 2009, esse número do MP Especial e apontou desafios autonomia orgânico-institucional,
saltou para 24.851 alunos. O nosso a que os órgãos de controle deverão na prática, gera alguns desafios. Por
sistema permite ter não só a visão geral enfrentar. Segundo Mariana Willeman, exemplo: processo de escolha, nomeação
das condições da escola, mas também “o Ministério Público Especial exerce e destituição da chefia!”, especulou.
de cada Coordenadoria; podemos, função essencial ao controle externo, Ao interpretar os artigos 128, § 3º, e
então, indicar, à Secretaria de Educação, às atividades finalísticas dos Tribunais 130 da Constituição Federal de 1988,
qual Coordenadoria apresenta o maior de Contas”. Mariana comentou, em especial, as
problema, sinalizando oportunidades Baseada na redação do artigo condições de investidura dos cargos de
de melhoria”, esclareceu. 105 da Constituição Federal de 1988, chefia do Ministério Público de Contas.
S e g u n d o M a r c u s Vi n i c i u s , que estende garantias subjetivas “O Procurador-Geral também deve
compromisso com os cidadãos cariocas, aos membros do Parquet, Mariana ser escolhido, nomeado e destituído,
o TCMRJ tem disponibilizado os distinguiu as atribuições do Ministério exatamente da mesma forma como
resultados das inspeções e auditorias Público Especial. “Trata-se claramente acontece com a chefia do Ministério
na internet. “E, agora, o Tribunal está de cláusula de garantia, que estende Público Comum”.
colocando, no google earth, todas as aos membros do Ministério Público Para Mariana Willeman, somente a
informações sobre escolas e obras Especial todo estatuto jurídico aplicável Assembleia Legislativa poderá destituir
públicas municipais. O controle social ao Ministério Público da União e o Procurador-Geral do Parquet Especial
faz parte do marco estratégico do ao Ministério Público dos Estados. de Contas, instrumento de equilíbrio
TCMRJ. Quero agradecer à equipe de Este estatuto também tem aplicação entre os poderes constitucionais. “O
informática do Tribunal, porque nós no âmbito do Ministério Público de Ministério Público de Contas atua
da 3ª IGE sonhamos; e eles fizeram Contas, mas subjetivamente; as normas com independência diante de todos
acontecer”, finalizou. de extensão abrangem tão-somente os poderes da República, inclusive
Para erradicar conflitos doutrinários as garantias de ordem subjetiva, não diante do próprio Tribunal de Contas.
acerca da interdependência dos órgãos as garantias orgânico-institucionais”, É claro que isso, na prática, acarreta
fiscalizadores, a procuradora do afirmou. situações complicadas, porque, na
Ministério Público Especial e professora Em referência ao entendimento do realidade, se acaba tendo um órgão
da PUC-Rio, Mariana Montebello Supremo Tribunal Federal, exarado em independente dentro de outro órgão
Willeman, analisou as competências julgamento da ADI 789/ DF, Mariana constitucionalmente independente.

126 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


Mas nós não podemos conceber a de Contas. É fundamental que todos os e externo, que violem direitos dos
existência do Ministério Público sem Estados da Federação, de fato, criem essa controlados. Segundo Willeman, “a
independência! O Ministério Público, carreira especializada e destinem uma Teoria do Órgão imputa ao Estado a
chefiado por procurador que não tem vaga do corpo deliberativo ao membro vontade do agente público quando atua
independência, é um Ministério Público que tenha origem no Ministério Público nessa qualidade. Sempre que o agente
amputado. Não existe subordinação Especial”. estatal, atuando nessa qualidade, viola
hierárquica entre Ministério Público Entretanto, ainda existem Estados da alguma norma jurídica ou contrato,
e presidente da Corte de Contas”, Federação em que o Ministério Público pode surgir para o Estado a obrigação
defendeu. Especial não está estruturado, a despeito sucessiva de reparar esses danos. Mas
Mariana também tratou da da norma constitucional vigente. “Essa nem sempre foi assim. Passava-se a ideia
aquisição da garantia de vitaliciedade presença técnica no corpo deliberativo de que o Estado praticava condutas em
dos membros do Ministério Público, é muito importante porque concretiza benefício da sociedade e, se agia em
recém-aprovados em concurso. “Como o comando constitucional (…); limita- benefício da sociedade, todos deveriam
se pode admitir que o vitaliciamento se a discricionariedade da chefia do arcar com os danos advindos da conduta
do membro do Ministério Público, poder Executivo e prestigia-se o corpo do Estado. Chegava-se ao extremo de se
dotado de independência funcional, técnico do Tribunal de Contas. Não dizer que o poder do Estado era divino;
seja conduzido exatamente por aqueles se pode admitir que, mais de 20 anos e, se também divino, o Estado decerto
em relação aos quais deve ser realizado depois da promulgação da Constituição, não errava”.
o controle? O vitaliciamento destes ainda existam Tribunais de Contas em Flávio Willeman observou que a
membros só pode ser conduzido por que não há carreira de auditor e não há responsabilização do Estado independe
seus pares”. E observou: “Membros carreira do Ministério Público Especial”, da manifestação da vontade do agente
do Ministério Público não podem criticou. público. “Conduta, dano e nexo de
estar subordinados à corregedoria do Mariana também enfatizou a causalidade são os três elementos
Tribunal de Contas; mas sim ao controle importância de os órgão fiscalizadores da responsabilização civil estatal
correicional realizado por colégio de estarem integrados, em relação de moderna, baseada na teoria objetiva
procuradores, que venha a ser instalado constante colaboração. “Cada Ministério de responsabilidade civil. O Estado
dentro do próprio Ministério Público Público exerce função essencial à somente ficará livre do dever de
de Contas”. determinada atividade do Estado. As indenizar se provar ausência de nexo
Mariana defende que também as atribuições de cada órgão devem ser de causalidade: que o fato ocorreu por
garantias orgânico-institucionais sejam respeitadas, mas a integração entre os atuação exclusiva da vitima, por atuação
estendidas ao Ministério Público de Ministérios Públicos será fundamental exclusiva de terceiros, que não o Estado,
Contas, “condição sine qua non da total para o fortalecimento do controle da ou por fato da natureza, caso fortuito ou
independência, e total autonomia”, administração pública. Não estou, força maior”.
do Parquet Especial. Para solucionar absolutamente, colocando o corpo Em relação à responsabilidade civil
empasses decorrentes da atual condição deliberativo como ‘mau’ e o Ministério do Estado por atos lícitos, Willeman
de conflito, Mariana sugere “a revisão da Público como ‘bem supremo’; defendo afirmou que “está sedimentado, não de
jurisprudência endógena do Supremo que haja respeito recíproco. Ambos forma genérica, mas casuisticamente,
Tribunal Federal”, que viabilizaria são independentes e ambos atuam ser possível chegar ao dever de indenizar
introduzir o Ministério Público na em controle externo, da forma mais do Estado por condutas licitas, quando
estrutura do Tribunal de Contas. eficiente possível; em última análise, causarem dano manifestadamente
“Acho pouco provável; não tenho tanta conforme o princípio republicano irrazoável; quando a pessoa ou o grupo de
confiança de que o Supremo vá rever demanda”, finalizou. pessoas sofrerem diminuição irrazoável
jurisprudência já tão consolidada! e desproporcional de seu patrimônio. É
Outra possibilidade está relacionada Responsabilidade Civil do Estado, a analise da responsabilidade civil, que
à eventual integração do Ministério Controle das Obras Públicas, Rede desfoca o elemento principal da conduta
Público Especial ao Ministério Público de Controle e Atuais Desafios do para o dano”.
Comum”, considerou. Controle Segundo Flávio Willeman, o prazo
Ao final, Mariana apontou diferentes para a Administração Pública mover
estratégias de aprimoramento do controle Em apresentação inaugural do dia ação regressiva em face do agente
externo. “Considero fundamental 9 de abril, último dia do Encontro, causador do dano não prescreve. “A
que os critérios constitucionais para o procurador do Estado do Rio de jurisprudência e a doutrina caminham
provimento dos cargos de conselheiros Janeiro, Flávio Willeman, discutiu para entender que é imprescritível
e ministros sejam fielmente observados “Responsabilidade Civil do Estado” e qualquer ação do Estado para buscar
no âmbito da União, dos Estados e dos possível responsabilização dos agentes ressarcimento de prejuízos perante
Municípios em que ainda existe Tribunal públicos por atos de controle interno agentes seus. Não há prescrição. E o

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 127


fundamento seria o artigo 37, § 5º, parte de controle estatal para proteção do partidárias são imensas e de retórica
em pauta
final, da Constituição da República”, cidadão. “A Constituição de 1988 cuida muito forte. Exatamente por isso, são
concluiu Willeman. dos direitos individuais do cidadão e criados órgãos paralelos ao Parlamento
Em seguida, a Inspetora Setorial estabelece remédios constitucionais, que que o auxiliam no julgamento das
da 2ª Inspetoria Geral de Controle são instrumental extraordinário para o contas públicas, como os Tribunais
Externo do TCMRJ, Maria da Graça cidadão se defender de formas de poder de Contas, dotados de autonomia e
Simões Costa, e a técnica de Controle abusivas do Estado. Direito de petição, independência. O TCU, por exemplo,
Externo, Sheila Maria Neves, também direito de receber informações dos desempenha atividade fiscalizadora,
da 2ª IGE, apresentaram resultados órgãos públicos, ação popular e habeas consultiva, informativa, judicante,
do “Sistema de Controle de Obras corpus são garantias e direitos que têm sancionadora, corretiva, normativa e
Municipais” – SICOM. Maria da a finalidade de assegurar a liberdade do de ouvidoria”, considerou.
Graça Costa explicou que o SICOM cidadão”, endossou Zimler. Quanto aos atuais desafios
disponibiliza ferramentas operacionais Para Zimler, a atividade estatal apresentados aos órgãos de controle,
de análise e acompanhamento das obras está sujeita a dois tipos básicos de Zimler garantiu que o TCU tem
realizadas no Rio de Janeiro, a partir de controle: o político e o administrativo. agido de forma mais incisiva. “A
publicações do Diário Oficial. “A eficácia “O controle político visa manter o Corte de Contas da União tem
do sistema baseia-se no princípio da equilíbrio, o funcionamento harmônico adotado medidas com vistas a
publicidade: os atos praticados por entre os poderes, e se baseia no aprimorar a atuação do controle
administrador público devem ser sistema de freios e contrapesos, externo, no sentido de minimizar
publicados para serem considerados receita do Constitucionalismo. a ocorrência de danos à União. O
válidos e produzirem efeitos, ressalvadas O controle administrativo visa melhor exemplo dessa nova forma
as hipóteses de sigilo, previstas em lei”, assegurar a legalidade, a legitimidade de atuação é a adoção de medidas
enfatizou. e a economicidade das atividades cautelares”. Segundo Zimler, o
Maria da Graça afirmou que o SICOM administrativas desenvolvidas por TCU deve estar preparado para
visa “criar banco de dados autônomo que todos os Poderes. Esse controle pode ser lidar, em futuro próximo, com “o
acompanhe, em tempo real, a gestão dos interno ou externo”, observou. aumento do número de concessões
contratos de obras públicas, sem gerar Benjamin Zimler afirmou que e permissões de serviços públicos,
ônus para as entidades fiscalizadas; visa “não há hierarquia entre os sistemas bem como aumento dos respectivos
diminuir o número de diligências para de controle externo e interno. Há valores; a aproximação do limite de
obtenção de informações e disponibilizar complementariedade; os controles crescimento da máquina de controle;
ferramentas de trabalho, que facilitem o externo e interno devem agir em o crescimento dos questionamentos
controle externo”. harmonia, criando espaço de conjugação jurídicos relacionados à atuação do
Em palestra de encerramento do de esforços. Mas podem produzir efeitos Tribunal; a dependência dos serviços
Encontro, o Ministro do Tribunal de diversos ao executar, cada um, a sua de tecnologia da informação;”.
Contas da União – TCU, Benjamin função de controle. O controle externo, Zimler destacou, também,
Zimler, analisou as novas vertentes do graças ao aparato jurídico que o cerca, a necessidade de padronização e
controle da Administração Pública. graças aos poderes que a Constituição incremento das ações de inteligência,
Para Zimler, as atividades de controle confere, é mais contundente do que o para potencializar os resultados das
são inerentes a qualquer forma de interno. Por exemplo, os Tribunais de atividades de controle. “Isso será
organização. “A ideia de controlar é Contas podem condenar os responsáveis essencial, tendo em vista a crescente
universal. Mas deve haver certo padrão e aplicar sanções. O controle externo complexidade dos atos praticados pela
de controle, ou seja, a referência que brasileiro é extremamente pródigo em Administração Pública, a ampliação
será confrontada com as variáveis – competências e atribuições. Por isso, do leque de atuação dos entes privados
atos ou contratos. Dessa confrontação, temos de ter prudência e toda cautela, (em especial no que concerne à
se a variável não se adequar ao padrão para exercer esse poder controlador delegação de serviços públicos) e a
pré-estabelecido, ocorrerá desvio ou com inteligência, razoabilidade e limitação dos recursos disponíveis
erro, que acionará ação corretiva ou proporcionalidade. Já o controle interno para o controle”, finalizou.
punitiva”, ponderou. possui a vantagem de proporcionar Encerradas as exposições do III
Segundo Zimler, controlar as contato mais próximo com o objeto CON1NTER, a empresa JAM-Jurídica,
atividades do Estado consiste em controlado”. patrocinadora do Encontro, anunciou
acompanhar e confrontar as ações Zimler assegurou, também, que a que doaria mantimentos e roupas às
administrativas com os padrões definidos competência do Congresso Nacional de famílias desabrigadas, vítimas das
em normas constitucionais. Zimler fiscalizar os atos públicos se contrapõe à enchentes no Rio de Janeiro, em vez de
explicou que o artigo 5° da Constituição natureza de atividade político-partidária sortear brindes entre os participantes,
Republicana estabelece mecanismos do Órgão. “As disputas político- como de costume. Feliz iniciativa.

128 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


Presidente Thiers Montebello
visita a Universidade de Alicante
e entidades da Administração
Pública na Espanha

Thiers Montebello explana sobre a realidade brasileira na Câmara de Comércio de Orihuela

A
convite do eminente
catedrático Jose Manuel
Canales Aliende, da
Universidade de Alicante,
o conselheiro-presidente Thiers
Montebello participou de uma série de
encontros relacionados ao intercâmbio
de ações e experiências focadas
no presente e futuro dos sistemas
de controle de contas públicas. Os
eventos aconteceram de 12 a 14 de
maio, em Alicante e Orihuela - cidades
integrantes da Comunidade Autônoma
de Valencia, no Reino de Espanha.
Na chegada, Thiers Montebello,
acompanhado do Chefe de Gabinete,
Sérgio Aranha, e do Assessor Especial,
Sérgio Tadeu Sampaio Lopes, foi
recebido pelo Dr. José J. Sanmartin
Pardo. Em almoço na Universidade de Alicante, o presidente Thiers faz entrega da placa
As reuniões de trabalho tiveram alusiva à visita à aquela entidade de ensino. Presentes, os Raúl L. Sánchez, Mª
início na manhã do dia 12, na sede Aranzazu Calzada Gonzáles, Jose Manuel Canales Aliende e José J. Sanmartin Pardo

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 129


em pauta

O presidente expõe para alunos da FUNDESEM

do hotel Meliá Palácio de Tudemir, na


cidade de Orihuela. Neste primeiro
encontro (charla-coloquio na expressão
espanhola), representantes políticos,
acadêmicos e empresariais discutiram
realidades brasileira e espanhola no
que diz respeito a investimentos da
iniciativa privada em parceria com
o poder público. Neste mesmo dia, o
presidente Thiers Montebello falou
para um público com predominância
do meio empresarial, no auditório da
Câmara de Comércio local.
As atividades do dia 13 começaram
com visita ao campus da Universidade
de Alicante, dirigida pelo professor
Sanmartin Pardo, seguida de almoço-
reunião nas instalações da própria
Universidade, com a presença da
vice-reitora de Assuntos Institucionais Thiers Montebello, Sérgio Aranha e Sérgio Tadeu Sampaio Lopes com a diretoria da SUMA
e Catedrática de Direito Romano, Mª
Aranzazu Calzada Gonzáles, e dos Thiers Montebello. José López Garrido, diretor
catedráticos e professores, Canales No último dia, a delegação da Instituição, e sua equipe,
Aliende, Raúl Lafuente Sánches, conheceu as instalações da SUMA – proporcionaram à delegação do
Vicente J. Benito Gil e Sanmartin Gestión Tributária - entidade estatal TCMRJ, ilustrada exposição das
Pardo. especializada no processamento e atividades ali desenvolvidas, com
Ao final da tarde, a professora recebimento de impostos e taxas - que, suporte em avançados recursos de
Rosa Ana Cremades Cortés, diretora por meio de convênio, presta serviços tecnologia de informação, resultando
Del Instituto de Gestión Pública a todos os 141 (cento e quarenta e um) comprovada a inegável capacitação
(IGP), recebeu a delegação visitante Municípios integrantes da Província técnica e operacional da Instituição,
na sede da FUNDESEM Business de Alicante. A SUMA atua, ainda, em demonstrando, com elementos
School, onde os alunos, na maioria nível de consultoria a diversas outras concretos, a efetividade de suas ações
vereadores e prefeitos de Alicante, comunidades autônomas da Espanha na arrecadação de receitas para os
assistiram à palestra do Conselheiro e de Portugal. entes políticos conveniados.

130 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


TCMRJ sedia I Colóquio sobre
Mudanças Climáticas, Jogos
Verdes e Sustentabilidade
O
Tr i b u n a l d e C o n t a s
do Município do Rio de
Janeiro sediou, no dia 26 de
março, o I Colóquio sobre
Mudanças Climáticas, Jogos Verdes
e Sustentabilidade no Rio. O evento,
realizado pelo ICLEI – Governos Locais
pela Sustentabilidade, Secretariado para
a América Latina e Caribe em parceria
com a Prefeitura do Rio de Janeiro,
e o apoio da Associação Nacional de
Órgãos Municipais de Meio Ambiente Laura Valente Macedo, Thiers Montebello, Maurício Lobo, Konrad Otto Zimmermann e
Sergio Besserman
– ANAMMA e do Tribunal de Contas
do Município do Rio de Janeiro, Janeiro. considerado um fracasso, teve o acordo
reuniu representantes do governo, Thiers Montebello informou que político assinado por mais de 100
ambientalistas, imprensa e a sociedade há sete anos o TCMRJ despertou países, de impedir que a temperatura
civil para debater o papel das cidades para a problemática ambiental. Foi da terra aqueça mais de 2 graus, o que
e do governo nas atuais discussões o primeiro tribunal, depois do TCU, não é possível, mas passou a haver uma
ambientais. a despertar para essa questão. E, em meta”, falou.
O Colóquio abordou, na parte da 2004 foram realizadas as primeiras Besserman falou também sobre
manhã, temas como os resultados da auditorias ambientais. O Tribunal sustentabilidade, a marca do Rio.
15ª Conferência sobre o Clima (COP implantou uma agenda ambiental e A seguir, Konrad Zimmermann,
15), realizada em 2009 em Copenhague, prosseguiu capacitando o corpo técnico voltando ao tema meio ambiente
as expectativas para a 16ª Conferência, e produzindo e participando de eventos em grandes eventos, afirmou que os
que acontecerá este ano no México, relacionados com o meio ambiente. cidadãos devem ser encorajados a olhar
além de discutir a sustentabilidade e Laura Valente comentou que o ICLEI os resultados obtidos em outras cidades,
a preocupação com o meio ambiente defende a questão do poder público e comparar o que está sendo feito. E
em grandes eventos, como os Jogos atuar junto com a população, dando o indagar, “é isso que eu quero mostrar a
Olímpicos. exemplo, e falou da sustentabilidade meus convidados?”
A abertura dos trabalhos ficou a nas compras públicas, que é um tema Coordenador da segunda mesa,
cargo de Maurício Lobo, da Secretaria relevante para a Copa do Mundo e formada pelo prefeito de Apuí, Antonio
Municipal de Meio Ambiente, vice- depois para as Olimpíadas. “O tema Marcos Maciel e por Florence Karine
presidente da Região Sudeste da mudanças climáticas tem relação Laloë, gerente de projetos do ICLEI,
ANAMMA. Maurício informou que com os Jogos sim, pois são eventos de o vereador Alfredo Sirkis retomou o
a ideia do encontro foi “aproveitar os grande impacto. Temos que pensar na tema Copenhague, colocando suas
vários conhecimentos presentes e tentar redução da pegada ecológica e pegada de conclusões: o sistema das Nações
provocar uma discussão”. carbono desses grandes eventos, que são Unidas é absolutamente incapaz de
Foram chamados a participar um transtorno para a cidade, mas que negociar um acordo que seja de fato
da mesa a diretora do ICLEI, Laura temos que transformar em oportunidade eficaz para manter a meta que foi
Valente de Macedo, o presidente Thiers de crescimento, de legado. Enfim, de colocada pelos cientistas do IPCC, que
Montebello, Konrad Otto Zimmermann, ensinamentos para a população nessas é manter o aquecimento global em 2°
secretário geral do ICLEI e Sergio cidades”, disse. C, e que nesse momento “a bola está
Besserman, presidente da Câmara Sergio Besserman fez um breve com as cidades, com a opinião pública
Técnica de Desenvolvimento Sustentável comentário sobre Copenhague, que das diversas cidades, dos estados, e na
e Governança Metropolitana do Rio de embora a maioria das pessoas tenha opinião pública dos diversos países pode

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 131


em pauta

Márcia Real, Carlos Alberto Muniz, Laura Macedo, Patrick Hays e Konrad Zimmermann

Antonio Marcos Maciel, Alfredo Sirkis e Florence Laloë Maurício Lobo, Carlos Minc e Laura Macedo

gerar as condições de acúmulo para prefeito de North Little Rock, EUA e tema, Maurício Lobo, o Ministro do
um paradigma político diferente, no Konrad Otto Zimmermann. Meio Ambiente, Carlos Minc, Laura
âmbito internacional, daquele que tem Márcia Real iniciou dirigindo uma Valente e Konrad Otto Zimmermann.
prevalecido nas últimas conferências”. pergunta à mesa: “O que os governos A mesa seguinte, que discutiu
Sirkis mencionou o problema da locais pretendem levar para o México “O papel das cidades anfitriãs” teve
China, acrescentando que lá o principal na COP16?” como participantes Maurício Lobo,
é fazer valer o nacionalismo e concluiu Carlos Alberto Muniz comentou Felipe Goes, assessor-chefe de assuntos
sua exposição considerando que, neste a Conferência de Copenhague, econômicos da prefeitura do Rio, Laura
momento, a situação é extremamente considerando que o resultado foi Valente, Konrad Zimmermann e Márcia
grave. Tudo aponta para um crescimento excepcional e não deve frustrar: “se Real.
do aquecimento acima de 2º C. de um lado as grandes potências não A consultora ambiental
O prefeito de Apuí, sul do chegaram a um claro e esperado acordo Patrícia Kranz moderou o painel
Amazonas, falou que tristemente seu escrito, por outro, cidades como Rio “Sustentabilidade dos Jogos Verdes,
município entrou para a lista de maior de Janeiro, Sidney e Nova Iorque agenda e legado”, que contou com a
desmatamento, e das dificuldades que encamparam compromissos sonhados participação de Helio Neves, Chefe
encontra para deter o processo, mas que por ambientalistas e desenvolveram de Gabinete do Secretário do Verde
está a fim de contribuir. programas para enfrentar os efeitos e Meio Ambiente de São Paulo e
Florence Laloë falou das políticas, nocivos do aquecimento global”, disse. Weber Coutinho, gerente da Secretaria
confirmou que grande parte das emissões No período da tarde as atividades Municipal de Meio Ambiente de Belo
de gases do país vem do desmatamento se concentraram em torno da sessão Horizonte e, em segundo momento,
e que hoje, mais de 3.000 cidades do “Jogos Verdes, Cidades Vencedoras”, no Claudio Langone, consultor ambiental
mundo assumiram o compromisso de qual foram apresentadas oportunidades do Ministério dos Esportes, Roberto
redução. concretas aos governos locais e demais Abinder, Coordenador Geral de Projetos
O painel seguinte foi mediado por atores interessados para cooperação no Urbanos da Secretaria Municipal
Márcia Real, superintendente do Clima planejamento e organização de mega da cidade do Rio de Janeiro, e a
e Mercado de Carbono da Secretaria eventos com menos impacto para as diretora do Centro Cultural do TCMRJ,
de Estado do Meio Ambiente do Rio cidades anfitriãs. Maria Bethania Villela, que, no final
de Janeiro, e teve como participantes o Após a apresentação de Monika dos debates agradeceu, em nome do
Secretário Municipal de Meio Ambiente Zimmermann, diretora do Centro TCMRJ, aos participantes pela presença
do Rio de Janeiro, Carlos Alberto Muniz, Internacional de Treinamento do ICLEI, e pela escolha do TCMRJ para sediar
Laura Valente de Macedo, Patrick Hays, participaram da mesa que debateu esse o evento.

132 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


Ministro Massami Uyeda recebe
homenagem da Alerj
O
Ministro do Superior Tribunal Em nome do
de Justiça, Massami Uyeda, Tribunal de Justiça
foi homenageado, no dia d e S ã o Pa u l o ,
27 de maio, com a mais Casa que abrigou
importante comenda concedida pela Massami Uyeda, o
Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), desembargador Luiz
a Medalha Tiradentes, e o Título de Roberto Sabbato
Cidadão do Estado do Rio de Janeiro. As reconheceu a “ilibada
homenagens, de iniciativa do presidente reputação e o notável
da Alerj, deputado Jorge Picciani, e do conhecimento
líder do Governo na Casa, deputado Paulo jurídico” do amigo
Melo, foram entregues em seção solene “paulista de origem
extraordinária, no Plenário Barbosa nipônica, versado em
Lima Sobrinho, e reuniu ministros, francês, que hoje herda
desembargadores, conselheiros e (...) a descontração do
Deputado Paulo Melo cumprimenta Ministro Massami Uyeda
autoridades de diferentes Poderes. carioca”.
Presidente da seção, o deputado Paulo Representante dos muitos amigos de
Melo convocou os integrantes da mesa, Massami Uyeda, o Ministro do Superior
de quem teceu elogiosos comentários, e Tribunal de Justiça, Jorge Scartezzini,
apresentou breve histórico da atuação do confirmou: “o Uyeda é sem dúvida
homenageado Ministro Massami Uyeda. uma das individualidades em que se
“Em o homenageando, homenageio a resumem e esplendem com refulgência
Justiça, em especial a Justiça do meu igual às qualidades que fazem a força, a
Estado, que tem dado uma demonstração beleza e a dignidade humanas”. Segundo Ministro Uyeda
com o Colar
de que podemos ser duros, cumprir a lei o Ministro Scartezzini, Uyeda reúne do Mérito
sem nos afastarmos, um milímetro sequer, “dialética inflexível, erudição formidável concedido,
do direito do cidadão. Homenageio a e, acima de tudo, a força que lhe vinha da em novembro
de 2008, pelo
Justiça, pelo seu inequívoco trabalho a consciência de estar a serviço da verdade, TCMRJ
serviço da democracia, da cidadania e que o tornaram invencível no exercício
da justiça para todos”. da judicatura”. às de seu povo, que tem a alegria,
O presidente do Superior Tribunal Em discurso de agradecimento, o a espontaneidade, a efusividade, e
de Justiça, Ministro Cesar Asfor Rocha, Ministro Massami Uyeda atribuiu “à a força. O Rio tem sal e açúcar, sol
referiu-se ao Ministro Uyeda como “um generosidade do coração do povo carioca e alegria. Tem samba e futebol, tem
dos mais corretos e dignos magistrados a honrosa outorga de duas das mais trabalho e dedicação. Pode-se mesmo
do Brasil”. Para Asfor, Massami Uyeda, destacadas condecorações do Estado do dizer, sem sombra de equívoco, que o
sempre discreto e pertinaz, destaca-se Rio de Janeiro: a Medalha Tiradentes Rio de Janeiro é a capital sentimental
por atuar de forma serena e justa; “amigo e o Título de Cidadão do Estado”. Para do Brasil”.
invariável e um dos mais fiéis adeptos Uyeda, as honrarias resultam também Ministro do STJ desde 2006, Massami
da lealdade, virtude que para ele e para das “deferências do coração generoso, Uyeda ingressou na magistratura em
os brasileiros japoneses é uma herança fraterno e amigo dos parlamentares do 1978. Juiz de carreira, atuou como
que remonta aos primeiros séculos da Estado do Rio”. advogado e membro do Ministério
história do Japão”. Massami Uyeda aproveitou a ocasião Público de São Paulo. Em 1997,
Representante do Governo do para enaltecer as qualidades da Cidade diplomou-se em Direito Comunitário
Estado, o Chefe da Casa Civil, Régis e do Estado que o adotaram: “A Cidade Europeu pela Escola de Magistratura
Fichtner, trouxe “abraço carinhoso do e o Estado do Rio de Janeiro fascinam Francesa, em Paris. O Ministro Massami
Governador Sérgio Cabral e afirmou que a todos. Não há quem não se renda Uyeda recebeu o Colar do Mérito
“esta homenagem [ao Ministro Uyeda] é aos seus encantos e belezas, não só Ministro Victor Nunes Leal, concedido
mais do que merecida”. às belezas da natureza, mas também pelo TCMRJ, em 2008.

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 133


TCMRJ inicia preparativos para
em pauta

o colar do Mérito 2010

A
Presidência
do TCMRJ e o
Centro Cultural
já iniciaram
os preparativos para a
solenidade de entrega do
Colar do Mérito Ministro
Victor Nunes Leal, que será
realizada em novembro
deste ano, pelo sétimo ano
consecutivo.
Criado com o objetivo
de reconhecer o mérito de
personalidade e instituições
que tenham contribuído para
a expressão, relevância e
reconhecimento do Sistema
Tribunal de Contas do Brasil,
o Colar do Mérito do TCMRJ,
distinção máxima do órgão,
foi instituído por meio da
Deliberação nº 157, de 15 de
junho de 2004.
As personalidades que
serão agraciadas este ano são
o presidente de honra da FIFA
e membro do Comitê Olímpico
Internacional, João Havelange,
o deputado federal, presidente
da Câmara dos Deputados,
Michel Temer, o advogado
Juarez Freitas, e o presidente
do Tribunal de Contas do Reino
Unido de Espanha, Manuel
Núñez Pérez.

Carta de João Havelange

134
134 maio 2010
maio 2010 -- n.
n. 44
44 Revista TCMRJ
Revista TCMRJ
TCMRJ aprova Planejamento
Estratégico

Carlos Werneck apresenta a etapa final do Plano Estratégico do TCMRJ

O
Tribunal de Contas do aproximadamente sete meses. que impulsionam o cumprimento da
Município do Rio de Carlos Werneck frisou, ainda, missão institucional e o alcance da
Janeiro concluiu, no mês o caráter participativo do processo versão de futuro do Tribunal.
de março, a elaboração de de elaboração do Planejamento A missão do Tribunal, descrita
seu Plano Estratégico para o período Estratégico, com efetivação das no Planejamento Estratégico de
de 2010 a 2014. A apresentação do proposições formuladas pelo corpo 2010/2014, é “exercer o controle
resultado do trabalho, realizado com de servidores, e o consequente externo da gestão dos recursos
o envolvimento de representantes de compromisso de todas as unidades públicos a serviço da sociedade
todas as unidades do Tribunal, foi com a sua implementação, carioca” e a visão de futuro “ser
realizada no auditório Luiz Alberto e da necessidade de cumprir as referência como órgão de controle,
Bahia, no dia 15 de março, pelo diretor ações previstas no Programa de reconhecido pela sociedade como
do Núcleo de Estudos e Pesquisas – Modernização do Sistema de Controle indispensável à melhoria da gestão
NEP, Carlos Augusto Werneck. Externo dos Estados, Distrito Federal pública e à defesa do interesse
Na ocasião, diante de todo o e Municípios Brasileiros – Promoex. social”.
Corpo Deliberativo e responsáveis A aprovação do Plano Estratégico A coordenação, acompanhamento
pelos diversos setores do Tribunal, do Tribunal de Contas do Município e monitoração dos resultados do
Werneck iniciou recordando que do Rio de Janeiro foi efetivada pela Planejamento Estratégico serão
a elaboração do planejamento foi Deliberação nº 177, de 22 de março realizados pelo NEP, conforme
iniciada em 24 de agosto de 2009, com de 2010, publicada no DO Rio do dia estabelecido na Deliberação nº
a colaboração dos técnicos do TCE/ 23 de março. 175/2009.
RN, Ricardo Barbosa Villaça e Cleyton O Planejamento Estratégico Estiveram presentes à apresentação
Marcelo Medeiros, e do assessor consiste em um conjunto de o presidente Thiers Montebello, todos
jurídico Glaucio Torquato. práticas gerenciais voltadas para a os conselheiros, o procurador-chefe,
O Plano Estratégico do TCMRJ obtenção de resultados com base no Carlos Henrique Amorim Costa, e
baseou-se no mesmo método usado pelo estabelecimento e acompanhamento representantes de todos setores do
TCU e sua elaboração ocorreu durante de metas, ações e práticas corporativas Tribunal.

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 135


Diretores da ATRICON e IRB
em pauta

tomam posse

Manoel Paulo de Andrade Neto, TCDF, Salomão Ribas, Ubiratan Aguiar, Anilcéia Machado, presidente do TCDF, Victor Faccioni,
Severiano Costandrade, Thiers Montebello e o presidente da Associação do MP de Contas, José Augusto Athayde

T
omaram posse no dia 4 de
fevereiro, as novas diretorias
da Atricon e do Instituto Rui
Barbosa para o biênio de 2010
e 2011. A solenidade foi realizada no
Plenário do Tribunal de Contas do
Distrito Federal, em Brasília.
A Atricon – Associação dos
Membros dos Tribunais de Contas do
Brasil – passou a ser presidida pelo
conselheiro Salomão Ribas, do TCE/SC.
O conselheiro-presidente do TCMRJ, Conselheiros Thiers Montebello, Salomão Ribas, Maria Adélia de Arruda Sales de
Thiers Montebello, tomou posse como Souza,TCE/RN, Odailton Knorst Ribeiro, assessor-chefe da Assessoria Jurídica da
Presidência do TCE/RO e Wladimir Reale, advogado e presidente da Adepol
vice-presidente do órgão. Coube ao
Conselheiro Antonio Joaquim, do TCE/ posicionamento da entidade nos casos enfatizou a comunicação como
MT, o cargo de 2º vice-presidente. relativos à conduta ética de seus membros, instrumento do controle social. “É tempo
Em seu discurso de transmissão de e da necessidade de se desenvolver uma de sairmos do anonimato, é tempo de
cargo, o ex-presidente da entidade, Victor campanha nacional visando à imagem mostrar às pessoas o que os tribunais de
Faccioni, agradeceu a todos os tribunais dos tribunais de contas. contas fazem”, disse.
de contas estaduais e municipais, ao A criação de um calendário de Entre as metas da nova gestão do IRB
Colégio de Presidentes, Ministério eventos, a implantação de uma política está o incentivo ao controle social por
Público e ao Ministério do Planejamento, de comunicação social e a comemoração meio da comunicação. O IRB também
pelo apoio recebido no Promoex, e falou dos dez anos da Lei de Responsabilidade investirá na área pedagógica, com a
da honra de presidir a Atricon por dois Fiscal são algumas das metas traçadas promoção de simpósios com oficinas e
biênios. Após uma retrospectiva do pela nova diretoria da Atricon para o cursos para os servidores dos TCs.
período que dirigiu o órgão, Faccioni biênio. A posse das novas diretorias dos
parabenizou os novos presidentes e Na mesma cerimônia, foi empossado órgãos representativos dos TCs fez parte
empossou-os nos cargos. o conselheiro-presidente do Tribunal da programação do encontro técnico do
Salomão Ribas, ao tomar posse, de Contas do Tocantins, Severiano Promoex, ocorrido no período de 3 a 5 de
defendeu a necessidade da Atricon Costandrade, na presidência do Instituto fevereiro. Estiveram presentes ao evento
trabalhar uma pauta de prioridades, Rui Barbosa – IRB, sociedade civil de o presidente do Tribunal de Contas da
iniciando pelos projetos legislativos caráter técnico, pedagógico, científico e União, Ministro Ubiratan Aguiar, e cerca
em trâmite no Congresso Nacional. cultural, criada pelos TCs do Brasil. de 50 conselheiros de diversas Cortes de
Ribas falou também da importância do O novo presidente, em seu discurso, Contas do Brasil.

136 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


Cartilhas revelam resultado de
Auditorias do TCMRJ
E
m maio de 2010, o Tribunal
de Contas do Município do
Rio de Janeiro lançou mais
duas cartilhas, intituladas:
“Auditoria Operacional na Ação
Fiscalização Eletrônica em Vias
Públicas” e “Auditoria em Áreas de
Proteção Ambiental”. Ambas contêm os
sumários das auditorias operacionais
realizadas nos programas de governo
da Prefeitura do Rio de Janeiro.
Para elaboração da cartilha
“Fiscalização Eletrônica em Vias
Públicas”, técnicos do TCMRJ
consideraram: a materialidade
orçamentária relacionada à boa de proteção ambiental do Rio de Janeiro, a capacidade de cumprimento de
aplicação dos recursos públicos; as à luz dos princípios da economicidade, metas, e as iniciativas de realização de
diretrizes estratégicas e os objetivos eficiência, eficácia e efetividade. monitoramento e de ações preventivas
definidos no Plano Plurianual Para redigi-la, auditores do Tribunal e corretivas.
(PPA)2006/2009; a relevância e o risco investigaram a conformidade das ações O Tribunal de Contas do Município
da ação de governo, associados ao da jurisdicionada com a legislação e do Rio de Janeiro tem promovido
alcance dos objetivos; bem como os com as normas ambientais relativas às intercâmbio de informações a respeito
impactos sociais e econômicos dos unidades de uso sustentável. das auditorias realizadas em programas
acidentes de trânsito sobre a população Por ocasião da auditoria, também do governo municipal, a fim de
do Município. foram considerados os aspectos colaborar com o aperfeiçoamento
A cartilha “Auditoria Operacional operacionais das unidades de da administração pública e honrar o
em Áreas de Proteção Ambiental” conservação, a adequação da gestão às compromisso da Corte com o cidadão
revelou a avaliação da gestão das áreas informações técnicas e administrativas, carioca.

Estudantes visitam o TCMRJ


A
lunos de duas turmas do Curso de Direito da
Universidade Candido Mendes visitaram o
Tribunal de Contas do Município do Rio de
Janeiro no último bimestre.
A primeira turma, com 22 alunos, esteve no TCMRJ
no dia 29 de março, e a segunda, com 24 alunos, no dia
19 de maio, quando, no auditório Luiz Alberto Bahia,
foram apresentados às ações do controle externo nas
contas municipais pelo coordenador do NEP, Carlos
Augusto Werneck, pelo inspetor da 3ª IGE, Marcus
Vinícius e pela inspetora da 6ª IGE, Marta Varela.
Após a exposição dos técnicos, os universitários
assistiram a sessão plenária, na Sala de Sessões Ministro
Luciano Brandão, onde acompanharam o processo
decisório de uma Corte de Contas.

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 137


Povo se une contra a covardia
registro

em defesa do Rio

I
dealizada pelo governo do estado
do Rio de Janeiro, a manifestação
“Contra a covardia em defesa
do Rio”, realizada no dia 17
de março, reuniu mais de 150 mil
pessoas no Centro da Cidade. Nem
a chuva impediu o comparecimento
em massa ao ato público contra a
emenda “Ibsen Pinheiro”, que muda
o critério de distribuição dos royalties
do petróleo, o que pode tirar cerca de
R$ 7,32 bilhões de royalties por ano
do caixa do estado e de 89 municípios
fluminenses.
O protesto ganhou a adesão
de prefeituras, organizações não
governamentais, associações
empresariais, entidades civis e
Passeata percorrendo a Avenida Rio Branco
sindicatos, visto que, como está
claro na Constituição, o pagamento
dos royalties não é uma benesse,
mas uma forma de compensar a
não incidência do ICMS no local de
origem da extração do petróleo, e os
gastos decorrentes das ações contra
o impacto ambiental, causado pela
exploração aos municípios e estados
produtores de petróleo, e suas áreas
limítrofes. A emenda fere o artigo 20
da Constituição federal, segundo o
qual, quem tem direito aos royalties
são os estados e municípios em cujos
territórios ocorre a extração.
O governo do estado e a prefeitura
do Rio decretaram ponto facultativo a
partir das 15h, mantidos os serviços
essenciais, e as prefeituras do Palco armado na Cinelândia
interior ofereceram mil ônibus para
o transporte dos servidores que Sapucahy, grupos Molejo, Pixote, por ano com a aprovação da emenda,
quisessem participar da “Passeata Hawaianos e Revelação, e baterias de também estiveram presentes.
em defesa do Rio”, que saiu da escolas de Samba. Decorrida sem incidentes, a grande
Candelária em direção à Cinelândia, Além do Rio, também decretaram manifestação, que reuniu políticos de
onde um imenso público participou ponto facultativo os municípios de vários matizes, artistas, sindicalistas e
de um showmício com a presença de Niterói, São Gonçalo, Maricá, Nova cidadãos, foi uma demonstração clara
diversos artistas como Sandra Sá, Iguaçu, Búzios e Cabo Frio. Algumas e democrática de como o cidadão
Neguinho da Beija-Flor, Fernanda cidades do Espírito Santo, que pode e deve defender seus direitos
Abreu, Gustavo Lins, Leandro da perderam cerca de R$ 400 milhões quando ameaçado.

138 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


TCMRJ presente no Encontro de
Planejamento Estratégico dos TCs
O
Tribunal de Contas do
Município do Rio de Janeiro
foi um dos tribunais de contas
participantes do Encontro de
Planejamento Estratégico nos Tribunais
de Contas, ocorrido na cidade de Natal,
Rio Grande do Norte, nos dias 15 e 16
de abril, numa promoção conjunta da
Associação dos Membros dos Tribunais
de Contas do Brasil – Atricon, do
Instituto Rui Barbosa – IRB, do Promoex
Leonardo Renne Guimarães Lapa, Carlos Pinna de Assis, Severiano José Costandrade,
e do TCE/RN. Maria Adélia Sales, Thiers Montebello, Luiz Sergio Gadelha Vieira, e Heloisa Garcia Pinto
Diversos temas foram discutidos
no encontro, que teve como objetivo Fiscal. o tema “Acompanhamento e Avaliação
a troca de experiências dos trabalhos A abertura do evento contou, ainda, de Resultados do Planejamento
desenvolvidos pelos diversos tribunais com apresentação do poeta popular Estratégico”.
de contas participantes do Programa Paulo Varella, considerado um dos Na sexta-feira, a programação contou
de Modernização dos Tribunais de melhores poetas matutos do Nordeste, com as palestras: “O Planejamento e as
Contas- Promoex. Na oportunidade, o que fez a plateia se alegrar e se emocionar Auditorias”, por Inaldo da Paixão Santos
TCMRJ relatou a aprovação de seu Plano com seus relatos, enfocando a realidade Araújo, Auditor de Controle Externo
Estratégico, que vigorará de 1 de julho de nordestina. e substituto de Conselheiro do TCE/
2010 a 30 de junho de 2014. No primeiro dia, foram discutidos BA; “A Importância da Comunicação
Na abertura do evento, a conselheira- os seguintes temas: “A Importância para a  efetividade do Planejamento”, a
presidente do TCE/RN, Maria Adélia do Planejamento para os Tribunais cargo do conselheiro Fernando Augusto
Sales, enfatizou a importância do de Contas”, ministrado por Leonard Mello Guimarães, do TCE/PR;  “A Gestão
PROMOEX, que é realizado em todo o Renne Guimarães Lapa, da Secretaria Estratégica no Governo Federal – O caso
Brasil com recursos do Ministério do de Planejamento e Gestão do Governo do Ministério da Agricultura, Pecuária
Planejamento e Banco Interamericano Federal; “Planejamento Estratégico nos e Abastecimento”, por Paulo Sérgio
de Desenvolvimento – BID, com TC´s do Brasil”, a cargo do conselheiro Vilches Fresneda, Coordenador-Geral de
contrapartida local, para uma maior Luiz Sergio Gadelha Vieira, da Diretora Articulação Institucional da Assessoria
integração nacional dessas organizações Nacional do Promoex, Heloisa Garcia de Gestão Estratégica. Os participantes
(tribunais de contas), com técnicos Pinto, e da Coordenadora Nacional debateram, ainda, “Integração de
e conselheiros compartilhando do GPL/ Promoex, Maria José Diniz Informações entre os Tribunais de
conhecimentos e informações, o que Mourão. Contas” e “Ações para Efetividade
fortalece o controle externo: “Não há À tarde, Antonio Arias Rodríguez da Modernização nos Tribunais de
dúvida de que existe uma forte relação de (da Sindicatura de Contas do Principado Contas”.
causa e efeito entre esse grau de interesse de Astúrias), Antonio López Díaz (do Além do presidente do TCMRJ, Thiers
e a importância de um plano estratégico Conselho de Contas da Galícia), Rafael Montebello, participaram do Encontro
para a instituição que o adota”. Medina Jáber (da Audiência de Contas os servidores Sérgio Tadeu Sampaio
Logo após os discursos de abertura, das Ilhas Canárias), Olayo González Lopes, Assessor Especial da Presidência,
o presidente do TCMRJ e presidente em Soler (Fiscal Geral do Tribunal de Rodolfo Luiz Pardo dos Santos, Assessor-
exercício da Atricon, Thiers Montebello, Contas da Espanha) e Hubert Weber chefe de Informática, e Carlos Augusto
e o presidente do IRB e conselheiro (Membro do Tribunal de Contas Werneck, Diretor do Núcleo de Estudos
do TCE/TO, Severiano Costandrade, Europeu) apresentaram “Experiência de e Projetos, que considerou o evento
componentes da mesa, enfatizaram a Planejamento nos Tribunais de Contas uma oportunidade de integração entre
melhoria dos resultados alcançados pelos da Espanha”. Markus Buhatem Kock, conselheiros e técnicos participantes,
tribunais de contas, sobretudo após a Auditor Federal de Controle Externo do que puderam compartilhar informações
implantação da Lei de Responsabilidade Tribunal de Contas da União, abordou e experiências.

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 139


Até aonde você vai para salvar
registro

uma vida? industrialmente ou reproduzir em


laboratório partes fundamentais do
sangue;
• o sangue é essencial e insubstituível no
atendimento a grandes emergências
(acidentes de carro, incêndios...),
procedimentos cirúrgicos, incluindo
partos e tratamentos de doenças
como leucemia, linfoma, anemia
falciforme e hemofilia;
• em cada cinco pessoas internadas
nos hospitais, uma necessita de
transfusão de sangue durante o
período em que permanece
hospitalizada;
• a cada três minutos, uma pessoa
Juliana da Silva Longo fala sobre a assistência prestada pelo Hemorio precisa de uma bolsa de sangue no

P
Rio de Janeiro.
alestra realizada pelo Hemorio Na área de assistência hematológica Após a exposição, foi apresentado
em 29 de abril, no Auditório realizada pelo Hemorio, destaca-se o um vídeo institucional do Hemorio,
Luiz Alberto Bahia, mostrou atendimento exclusivo para tratamento narrado pela atriz Taís Araújo,
aos servidores do TCMRJ a de pacientes com doenças primárias em que ela completa todos os
importância da doação de sangue. do sangue, tais como, a hemofilia, as procedimentos do doador de sangue
Maria Rita Veríssimo, responsável anemias hereditárias, leucemia, entre desde seu cadastramento (o candidato
pelo Centro Médico de Urgência do outras. à doação informa seus dados e
Tribunal, abriu o encontro falando O Hemorio abastece cerca de 200 recebe um questionário que deverá
da campanha, desenvolvida junto ao hospitais públicos ou conveniados ser respondido), triagem clínica (o
Hemorio, “ATÉ AONDE VOCÊ VAI com o SUS, em todo estado, incluindo doador é entrevistado e examinado
PARA SALVAR UMA VIDA? O TCM grandes emergências, maternidades por profissional de saúde, em local
LEVA VOCÊ AO HEMORIO”, na qual e UTI’s, expedindo, mensalmente, que garanta a privacidade e o sigilo
todos os servidores que desejassem cerca de 20 mil bolsas de sangue. Só das informações, visando à segurança
ajudar o Hemorio teriam o apoio o serviço de Hematologia do Hemorio do doador e do transfundido, sendo
do Tribunal, que disponibilizaria utiliza uma média de 4,5 mil bolsas verificados ainda, os sinais vitais, peso
transporte até a entidade. por mês. e nível de hemoglobina), até a coleta do
A seguir, passou a condução da Segundo Juliana, “o Hemorio sangue (são coletados cerca de 450ml
palestra a Juliana Tristão da Silva Longo, tem capacidade de atender até 600 de sangue em uma bolsa de uso único
responsável pela captação de doadores, candidatos/dia. Mas o número tem e estéril, sendo, portanto, a doação de
que mostrou o funcionamento do se mantido em uma média diária sangue totalmente segura).
Hemorio e os procedimentos para a de 350 doadores no salão, entre Na continuação do vídeo, a
coleta de sangue. segunda e sexta-feira, e nos fins de também atriz Maria Ceiça falou de
De acordo com a Política Nacional semana, a média pode chegar a 150 sua experiência como doadora e de
do Sangue, todo estado no Brasil candidatos”. como precisou de doação na época do
tem um hemocentro coordenador, Juliana apresentou, também, as nascimento de seu segundo filho, além
responsável pela captação de doadores razões da importância da doação de de diversas outras pessoas que fizeram
voluntários, coleta, processamento, sangue: uso do banco de sangue do Hemorio.
distribuição do sangue e coordenação • apenas 1,6% da população doa Ao final do encontro, Rita Veríssimo
da rede de hemoterapia. O Hemorio é sangue, quando o necessário é que testificou da utilização do Hemorio por
o hemocentro coordenador do Estado 3 a 4% adotem a prática; diversos servidores do TCMRJ, nos
do Rio de Janeiro. • até hoje, não é possível fabricar seus tratamentos de saúde.

140 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


Ministro Cezar Peluso assume a
presidência do STF
O
ministro Cezar Peluso tomou
posse, dia 23 de abril, como

Foto: Thais Bezerra / Jornal da Cidade/SE


presidente do Supremo
Tribunal Federal (STF) para os
próximos dois anos. A solenidade contou
com a presença do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva e dos presidentes
da Câmara dos Deputados, Michel
Temer, do Senado, José Sarney, além de
diversas autoridades dos três Poderes da
República, entidades de classe e políticos.
O ministro assume automaticamente a Ministro Vice-Presidente do STF, Carlos Ayres de Brito, entre os conselheiros Carlos
presidência do Conselho Nacional de Pinna de Assis, do TCE/SE e Thiers Montebello, presidente do TCMRJ
Justiça (CNJ), conforme determina a
terá uma atitude mais discreta que a de de São Paulo (TJ-SP), para o cargo de
Emenda Constitucional 61, recentemente
seu antecessor Gilmar Mendes. “Só quem desembargador. O ministro permaneceu
aprovada pelo Congresso Nacional.
ama deveria ter o poder de punir”, disse. no tribunal estadual de 1986 a 2003,
Na mesma cerimônia, tomou posse
“Não faz muito indagaram-me sobre atuando também como membro efetivo
como vice-presidente o ministro Carlos
que marca gostaria de deixar. Disse que do Órgão Especial daquela Corte, até
Ayres de Britto, que deixou a presidência
gostaria de ser lembrado como alguém ser convidado pelo presidente Lula
do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
que contribuiu para recuperar o prestígio para assumir uma cadeira no Supremo
Coube ao decano do STF, Celso
e o respeito público a que fazem jus os Tribunal Federal.
de Mello, fazer o primeiro discurso
magistrados e a magistratura do meu Cezar Peluso é autor de vários livros
da cerimônia. O ministro lamentou as
país”. e artigos, com ênfase no Direito Civil;
práticas difundidas entre as autoridades
O presidente do STF, que fica se graduou em Ciências Jurídicas, em
brasileiras e citou essas distorções éticas
no cargo até 2012, afirmou que a 1966, na Faculdade Católica de Direito
como um dos desafios que aguardam
sociedade não pode exigir soluções de Santos, e possui diversos cursos de
Peluso, a quem definiu como “juiz
que satisfaçam todas as expectativas especialização e pós-gradução, também
modelar, profundamente vocacionado e
nas decisões de temas polêmicos. com maior foco no Direito Processual
altamente qualificado”.
– A magistratura, como todas as Civil.
Para o procurador-geral da República,
demais instituições humanas, não Também com 67 anos, o ministro
Roberto Gurgel, a posse de Peluso
é e nem pode ser perfeita – disse. Carlos Ayres de Britto chegou ao STF
representa o “tempo de renovação”
Nascido em Bragança Paulista, 67 com o ministro Cezar Peluso, em 2003.O
da Corte. “A renovação é muito bem
anos, o ministro Cezar Peluso chegou ministro Ayres de Britto também foi
ilustrada pela galeria dos presidentes
à Suprema Corte por indicação do relator de casos de grande repercussão
no Salão Branco do Supremo Tribunal
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em nacional.
Federal”, disse. Gurgel apontou que os
junho de 2003 – uma escolha considerada Formado em Direito pela Universidade
corredores do Supremo se sucedem como
técnica. Federal de Sergipe, fez o curso de pós-
“pista comum do interesse público”. “As
O ministro Peluso iniciou sua carreira graduação em Aperfeiçoamento em
decisões dos tribunais são o último
como juiz substituto, concursado, da Direito Público e privado e mestrado em
passo da Justiça. Sem as decisões, o
14ª Circunscrição Judiciária de São Direito do Estado. Também tem mestrado
país caminharia para a desordem. O
Paulo, em Itapetininga, ainda em 1968. em Direito Constitucional.
Ministério Público e o Conselho Nacional
Após passagens como juiz auxiliar da O jantar oferecido após a cerimônia
do Ministério Público depositam imensa
Corregedoria Geral da Justiça, convocado de posse do ministro Cezar Peluso, que
confiança na presidência”, completou.
pelo Conselho Superior da Magistratura, reuniu a nata da comunidade jurídica
No discurso de posse, Peluso deixou
entre 1978 e 1979, e juiz do Segundo brasileira, foi organizado pela Associação
claro que não pretende pautar sua
Tribunal de Alçada Civil, 5ª Câmara, Paulista de Magistrados – APAMAGIS, no
administração de acordo com os anseios
entre 1982 e 1986, Cezar Peluso foi sistema de adesão.
da opinião pública, e demonstrou que
chamado para o Tribunal de Justiça

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 141


Presidente do TCMRJ recebe
registro

título de Cidadão Petropolitano


N
o dia 15 de março, o presidente do TCMRJ,
Thiers Montebello, foi homenageado pela
Câmara Municipal de Petrópolis com o
título de Cidadão Petropolitano. A festa
da entrega da honraria, tradicional na cidade, foi
realizada no Petropolitano Futebol Clube e fez parte
das comemorações de 167 anos do município.
A homenagem do legislativo local é feita a pessoas
que, nascidas fora de Petrópolis, realizam trabalhos
importantes para o município. A indicação de Thiers
Montebello foi proposta pelo Vereador Wagner Silva.
Também foram homenageados o presidente da
Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro,
deputado Jorge Picciani, os então secretários estaduais
de Habitação, Leonardo Picciani, de Transportes, Julio
Lopes e de Assistência Social, Benedita Silva, o vice-
prefeito do Rio, Carlos Alberto Muniz, o presidente da
Câmara Municipal do Rio, Jorge Felippe, os deputados
estaduais Domingos Brazão e Átila Nunes, e o jogador Thiers Montebello recebe a homenagem das mãos de Wagner Silva
do Flamengo Dejan Petkovic.

Controle Popular
é tema de
Monografia
N
o dia 7 de junho encerra-se o prazo para participação
na 9ª Edição do concurso Anual de Monografias
Prêmio Maurício Caldeira de Alvarenga, promovido
pelo TCMRJ. O tema este ano é “Controle Popular
das Contas Públicas: Existem alternativas realistas?”
As normas a serem observadas para a apresentação dos
trabalhos estão na Resolução nº 617, publicada no DO de 03
de março de 2010.
As três melhores monografias inéditas receberão
R$ 9.000,00, R$ 7.000,00 e R$ 5.000,00 respectivamente, já
descontado o Imposto de Renda, retido na fonte.
A abertura dos envelopes contendo as fichas de identificação
dos autores das monografias vencedoras será feita em sessão
pública, no dia 13 de setembro, na Sala de Sessões Ministro
Luciano Brandão, e a solenidade de entrega dos prêmios
ocorrerá no dia 21 de setembro, no auditório Luiz Alberto
Bahia, do TCMRJ.

142 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


Ministro e deputados
comemoram 50 anos de Brasília

Deputados
Carlos Murilo e
Michel Temer,
e o Ministro
Luciano
Brandão,
durante o ato

O
s deputados Michel Temer, presidente da Câmara dos Deputados, e
Carlos Murilo, membro efetivo da Comissão Permanente do Distrito
Federal em 1960, e o Ministro Luciano Brandão, diretor da Câmara
dos Deputados no período de 1960 a 1977, estiveram no Bosque
dos Constituintes, em Brasília, no dia 20 de abril, plantando três exemplares
de baobá do cerrado (Cavallinesia arborea K Schum), em comemoração ao
aniversário de 50 anos de Brasília e cinquentenário da transferência do Poder Ministro Luciano Brandão rega o
baobá que plantou
Legislativo para a nova capital federal.

ANDES lança jornal LRF completa


dez anos
C
O
om o objetivo de estabelecer
canais de comunicação não presidente Thiers
só com seus associados, Montebello esteve em
mas também com os membros dos Brasília, no dia 5 de maio,
demais Poderes do Estado e com a para a comemoração dos
comunidade jurídica, a Associação dez anos da Lei de Responsabilidade
Nacional dos Desembargadores – Fiscal – LRF.
ANDES lançou, em abril, o jornal O evento foi realizado no
O Tribunal. Senado Federal, durante a sessão
O veículo tem como plenária.
missão primordial promover a O autor do requerimento
comunicação entre associados e propondo a homenagem, senador
dirigentes, restabelecer o diálogo Tasso Jereissati, destacou o papel
com a classe política - sobretudo do legislativo na história da Lei
com os membros do Poder Complementar nº 101/00, criada em
Legislativo - e abrir espaço para 4 de maio de 2000, e considerada um
que os parlamentares possam dos mais importantes instrumentos
externar seus pontos de vista de promoção do equilíbrio na
em relação a temas de interesse gestão das finanças públicas no
geral. Capa do primeiro número Brasil.

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 143


Visitas ao TCMRJ
Fevereiro.2010
Foto: Bráulio Ferraz

Foto: Bráulio Ferraz


Dia 3 - Conselheiro José Carlos Araújo, Dia 10 - Prof. Carlos Botassi e Prof. Domenico,
do TCM/PA ambos titulares de Direito Público das Universidades
de La Plata (Argentina) e Milão (Itália)

Abril.2010
Foto: Bráulio Ferraz

Dia 26 - Thiers Montebello


com os advogados Mauro
Gomes de Mattos, Ricardo
Binato e o juiz do MT Antonio
Horácio da Silva Neto

Maio.2010
Dia 26 - Kyra Gracie ,
pentacampeã mundial de jiu-
jitsu, entre o vice-presidente,
José de Moraes e o presidente
Thiers Montebello

144 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


Com base na análise criteriosa do Corpo Instrutivo, da Secretária Geral e da

votos
Procuradoria Especial, os votos dos Conselheiros expressam a decisão mais justa
e legítima para os assuntos da municipalidade.

de parceria a fim de atender aos


AUDITORIA OPERACIONAL TCMRJ/PROMOEX objetivos do presente trabalho.
Foram elaborados dois formulários
para aplicação aos agentes comunitários
Estratégia de saúde de saúde e aos gestores das unidades
da mulher – SMSCD da ESF, sendo os mesmos revisados
e aperfeiçoados pela equipe de dois
Doutores em Estatística da UFRJ/
Conselheiro - Relator: Antonio Carlos Flores COPPEAD. A seleção das unidades a
de Moraes serem visitadas e cálculo de margem de
Processo nº 40/000.884/2010 erro e nível de confiança também foram
Sessão Plenária de 29.03.2010 efetuadas pela instituição acadêmica.
A equipe auditora da 4ª Inspetoria
manifestou os seus agradecimentos
A Jurisdicionada deverá tomar Saúde; pelo apoio emprestado pela Assessoria
ciência e se pronunciar em relação 2. Condições de abastecimento de de Informática e pela Coordenadoria de
às oportunidades de melhoria medicamentos nas unidades de Auditoria e Desenvolvimento, durante
sugeridas pela equipe auditora bem saúde; o transcorrer do trabalho.
como prestar esclarecimentos aos 3. Capacitação das equipes de saúde Registrou, ainda, o apoio e parceria
questionamentos formulados. da família; das unidades da Estratégia de Saúde da
4. Suporte da rede municipal de saúde Família, e da Coordenação de Saúde da
Submete-se à apreciação desta Corte quanto às demandas das unidades; Família, pela presteza no atendimento
de Contas o Relatório de Auditoria 5. Ta x a d e p e r m a n ê n c i a d o s às solicitações.
Operacional TCMRJ/PROMOEX, profissionais das equipes de Entrevistando durante suas
realizada na Secretaria Municipal de saúde; visitas, observando, coletando dados,
Saúde e Defesa Civil – Estratégia de 6. Possíveis incompatibilidades da tabulando, elaborando gráficos,
Saúde da Família (ESF), elaborado pela jornada de trabalho dos profissionais, fotografando, a equipe auditora
equipe auditora da 4ª IGE, referente tomando-se por base a consulta apresentou suas considerações no
aos anos de 2007 a 2009. A referida efetuada no DATASUS/Cadastro item 11 (Oportunidades de Melhoria),
Auditoria ocorreu nos meses de abril a Nacional de Estabelecimento de visando sugerir à Jurisdicionada
setembro de 2009. Saúde (CNES), e (Secretaria Municipal de Saúde e
O objetivo do presente trabalho 7. Indicadores de saúde. Defesa Civil) a adoção de medidas, que
visou auxiliar a atual gestão da Continuou a equipe auditora da 4ª naturalmente aprimorarão o trabalho
Secretaria Municipal de Saúde e Defesa IGE, informando que a Rede Municipal desenvolvido, assim como elencou
Civil, fornecendo diagnóstico sobre as de Saúde do Rio de Janeiro se organiza no item 12 (Questionamentos), que
condições estruturais e operacionais em 10 (dez) Áreas de Planejamento, deverão merecer esclarecimentos da
da Estratégia de Saúde da Família no possuindo 64 unidades da Estratégia Jurisdicionada.
Município do Rio de Janeiro. da Saúde da Família, e 222 equipes Foi, ao presente processo, apensado
Durante a fase de planejamento, (em abril 2009). o de número 40/000.999/2009, que
a equipe de auditoria desta Corte A distribuição das unidades trata da Futura Auditoria Operacional
promoveu várias reuniões na da ESF no território do Município em Saúde.
Coordenação de Saúde da Família não é homogênea, pois as áreas de A presente Auditoria Operacional
(setor da SMSDC, responsável direto Planejamento 3.1, 3.3, 5.l, 5.2 e 5.3 TCMRJ/PROMOEX foi encaminhada
pelo gerenciamento da Estratégia de concentram 52 daquele total. Em à Coordenadoria de Auditoria e
Saúde da Família) e em unidades de termos percentuais de cobertura, juntas Desenvolvimento – CAD, visando
saúde que a integram, com o objetivo respondem por 85% da cobertura ciência dos itens 1.5 (Agradecimentos
de identificar suas artérias. populacional da ESF. à ASI e CAD ), 2.2 (Financiamento
Em sequência, foi definido o Durante o seu trabalho auditor da Assistência Farmacêutica Básica)
seguinte escopo de trabalho: a equipe reuniu-se com a UFRJ/ e 2.3 (Financiamento da Implantação
1. Financiamento da Estratégia de COPPEAD, resultando na formalização e Manutenção das Equipes de Saúde
Revista TCMRJ n. 33 - agosto 2006 145
Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 145
da Família). instituição a que servem, demonstrado requer o imediato estabelecimento de
votos
Promovidas as anotações de forma cabal, pelos servidores estratégias, capazes de minimizar o
pertinentes, a CAD encaminhou os MARCELO DA SILVA RIBEIRO, PAULO problema.
autos à Secretaria de Controle Externo AUGUSTO PIMENTEL E AMÂNCIO A participação da comunidade
para tramitação. FERNANDES PULCHERIO, lotados na organizada em muito colabora com
O Sr. Diretor da Secretaria de SCE/4ªIGE, por ocasião da execução a Estratégia da Saúde da Família.
Controle Externo, às fls. 60, observou da Auditoria Operacional TCMRJ/ É exemplar o Portal de Regulação,
que o trabalho em comento é resultado PROMOEX – Estratégia da Saúde da uma iniciativa da A. P. 3.1. Justo,
do engajamento deste Tribunal no Família. nesta área, tivemos na década de
Programa de Modernização do Controle Um outro aspecto que desejo 80, uma colaboração intensa de
Externo – PROMOEX, cujo Grupo ressaltar foi o estabelecimento de representantes das Associações
Temático de Auditoria Operacional parcerias externa e interna, com o de Moradores da Zonal Auxiliar
definiu a função Saúde como o tema propósito de apresentar o melhor da FAMERJ, havendo um trabalho
a ser avaliado no ano de 2009, nos possível, em termos de Relatório. conjunto com os profissionais da
termos do Ofício Circular nº 42/2008 A procura pela comunidade saúde. Saúde é direito de todos, mas
– GDPROMOEX, que teve sua proposta acadêmica (UFRJ/COPPEAD) e a também responsabilidade de todos.
aprovada pelo Exmo Sr. Presidente busca/troca de informações, com As capacitações dos profissionais
desta Corte, conforme consta nos setores internos desta Corte de Contas, envolvidos também merecem atenção
autos do processo 40/000.999/2009, em muito contribuiu para o resultado especial, notadamente no referente ao
em apenso. alcançado. comparecimento da clientela alvo.
Continuou o Sr. Diretor da Um redimensionamento das Outra questão que merece
SCE versando sobre o minucioso unidades de saúde pelas Áreas de prioridade em termos de solução
relatório, de conteúdo relevante, em Planejamento faz-se necessário, imediata é a relativa ao pessoal, haja
cuja conclusão foram sugestionadas construindo -se mais unidades, vista que a possibilidade aventada de
algumas oportunidades de melhoria (fls. principalmente nas regiões cobertas acumulações irregulares, em termos de
52/53v), e formulados questionamentos pelas CAPs 5.1, 5.2 e 5.3 e dotando-as incompatibilidade horária, prejudica
(fls. 53/54) a serem esclarecidos dos recursos humanos necessários o bom funcionamento da proposta
pela Jurisdicionada. Aduziu, ainda, (equipes). (ESF).
proposta de encaminhamento de cópia A Cidade do Rio de Janeiro, As aplicações parciais de recursos
do presente relatório, para ciência, como demonstra a tabela 50 (fls. 40), oriundos da União e do Estado
ao Conselho Municipal de Saúde; apresenta o menor percentual de necessitam de esclarecimentos e
à Comissão de Saúde da Câmara implantação de equipes, comparando- correções imediatas.
Municipal; à Secretaria Estadual de se com São Paulo, Belo Horizonte, Urge uma otimização dos exames
Saúde, Defesa Civil e ao Departamento Curitiba e Recife. disponibilizados por algumas
de Atenção Básica do Ministério da O suporte logístico, notadamente unidades, aproveitando-se de forma
Saúde. na área de informática, urge mais racional, profissionais e equipamentos/
Ratificando tais posicionamentos, investimentos. Esta carência prejudica aparelhos capazes de melhor subsidiar
encaminhou a matéria para apreciação principalmente os trabalhos de os diagnósticos.
do Sr. Secretário Geral que, às fls cadastramento das famílias, assim Face ao exposto, em conformidade
61, externou sua concordância, como a regulação das solicitações com o Relatório elaborado, o opinamento
encaminhando os autos ao Exmo das unidades básicas ou de média do Corpo Instrutivo e o parecer da
Senhor Presidente, para ciência e complexidade. douta Procuradoria Especial, voto por
distribuição. O fornecimento de medicamentos diligência, para que a Jurisdicionada
Designado Relator, submeti os autos não pode sofrer solução de continuidade, tome ciência e se pronuncie em relação
à apreciação da douta Procuradoria seja através de interrupções ou de às Oportunidades de Melhoria (item
Especial, que em parecer exarado, reduções. A título apenas de exemplo, 11) e preste os esclarecimentos aos
às fls. 62, opinou por diligência, nos como fica a situação de um hipertenso, Questionamentos formulados (item 12).
termos indicados no pronunciamento do diabético ou ainda do portador Voto, ainda, pelo envio de cópias
do Corpo Instrutivo. de grave processo inflamatório sem do Relatório de Auditoria e Voto
É o Relatório. os medicamentos prescritos? As ao Conselho Municipal de Saúde;
consequências são previsíveis e de à Comissão de Saúde da Câmara
Preliminarmente, extrema gravidade para os pacientes. Municipal; à Secretaria Estadual de
VOTO considero justo e A rotatividade dos recursos Saúde e Defesa Civil e ao Departamento
oportuno registrar a dedicação, a humanos, cujas diferentes causas estão de Atenção Básica do Ministério da
competência e o compromisso com a explicitadas no presente Relatório, Saúde.

146 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


visualizados na Tabela V (fls.28/33 – capa
RELATÓRIO DE MONITORAMENTO de documentos).
A análise considerou a evolução do
Programas de Urbanização de número de crimes ocorridos, tomando
por base a situação de 2007 em relação
Áreas de Baixa Renda - SMH à de 2004, conforme Tabela VI (fls.34/36
– capa de documentos), podendo se
verificar que:
• Houve redução de homicídios
Conselheiro-Relator: Ivan Moreira dos Santos dolosos em grande parte da cidade,
Processo nº: 40/000.059/2010 excetuando-se as RAs do Méier,
Sessão Plenária de 15.03.2010 Jacarezinho e Inhaúma; Tijuca e
Vila Isabel; Centro; Penha, Ramos,
Complexo do Alemão e Vigário
A realização de obras pela SMH, das normas de legalização urbanística Geral; Campo Grande e Guaratiba.
sem ordenamento urbanístico prévio, a serem implementadas pela Secretaria • O roubo a transeuntes apresentou
dificulta a adoção das normas de Municipal de Urbanismo – SMU. grande crescimento de ocorrências
legalização urbanística a serem Diante disso, adotou-se mapear a em todos os bairros da cidade, com
implementadas pela Secretaria situação do Município do Rio de Janeiro percentuais que variaram entre
Municipal de Urbanismo. através de alguns indicadores sensíveis 53,45% a 308,13%, com destaque
à existência e/ou ao crescimento de para o caso de Guaratiba, Barra de
Trata o presente processo do Relatório favelas. Guaratiba e Pedra de Guaratiba, com
de Monitoramento de Programas de Na Parte IV do Relatório são um aumento da ordem de 900%.
Urbanização de Áreas de Baixa Renda analisados os seguintes Indicadores de • Em relação ao roubo de veículos, em
(Programas Bairrinho e Favela Bairro) Avaliação: geral, houve diminuição no número
desenvolvidos pela Secretaria Municipal de casos, tendo, contudo, crescido
de Habitação – SMH. IV.1 – Produto Interno Bruto (PIB) as ocorrências nas RAs de Botafogo;
A equipe de inspeção assinala que A abordagem feita procurou comparar Tijuca e Vila Isabel; Anchieta,
as auditorias dos Programas Bairrinho e a evolução do PIB ao longo de 10 (dez) Realengo e Bangu; Copacabana
favela Bairro partiram de três questões anos, ou seja, no período de 1996/2006. e Barra da Tijuca.Vale destacar o
principais, são elas: No período analisado, o Município crescimento ocorrido nos bairros
• contribuição para a melhoria das do Rio de Janeiro apresentou um de Andaraí, Grajaú e Vila Isabel,
condições de infraestrutura básica; empobrecimento econômico da ordem com 77,44%, Bangu, Gericinó,
• efetividade das ações de caráter social de 10%, enquanto que o estado e o País Padre Miguel e Senador Camará,
realizados; cresceram, respectivamente, 34% e 16%, com 77,09% e Guaratiba, Pedra de
• efeitos no ordenamento urbanístico conforme dados contidos na Tabela II Guaratiba e Barra de Guaratiba, com
das comunidades. (fls.20 - capa de documentos). 63,64%.
As constatações mais importantes Com vistas a identificar a atividade • O furto de veículos também se
resultantes destes trabalhos foram: econômica responsável pela retração da apresenta em declínio, havendo,
• baixa qualidade e má execução dos economia municipal, foi examinada a entretanto, aumento nas RAs de Méier,
sistemas implantados; composição do PIB por setores (Tabela Jacarezinho e Inhaúma; Anchieta,
• falta de prestação de serviços de III). Na análise, observou-se uma queda Realengo e Bangu; Ilha do Governador
manutenção; acentuada (-15%) de serviços, principal e Paquetá, Jacarepaguá e Cidade de
• inadequada utilização das instalações vocação da região, seguida de perto pela Deus; Barra da Tijuca, Campo Grande
por parte da população; arrecadação de impostos (-8%). e Guaratiba. O crescimento mais
• inexistência da previsão de pelo significativo ocorreu nos bairros de
menos uma via de acesso, que permita IV.2 – Violência Guaratiba, Barra de Guaratiba e Pedra
o trânsito de veículos; Tendo em vista a elevada importância de Guaratiba.
• pouca efetividade das ações sociais; da variável “violência” nos mais diversos A equipe de Inspeção ressalta que
• inexistência de controle de crescimento segmentos da cidade, a equipe de apesar de os índices de homicídio
das favelas. inspeção obteve estatísticas referentes doloso terem diminuído, em geral, no
A equipe de inspeção, às fls. 10, aos quatro principais crimes praticados Município, este tipo de crime cresceu
ressalta que a SMH, ao realizar obras no período 2004 a 2008, segundo o justamente nos bairros que, além de
em localidades sem um ordenamento Instituto de Segurança Pública do Estado abrigar em um grande número de
urbanístico prévio, dificulta a adoção do Rio de Janeiro – ISP, que podem ser favelas, possuem em seus territórios
Revista TCMRJ n. 33 - agosto 2006 147
Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 147
aquelas que constantemente são citadas foi a de não dispor de dados acerca da próximas e/ou inseridas em Unidades de
votos
pela imprensa como locais de violentos verticalização das favelas. Conservação, sendo 23 (vinte e três) a
confrontos, tais como Jacarezinho, Borel, Tendo em vista a ausência de 400 (quatrocentos) metros, 17 (dezessete)
Morro da Formiga, Morro dos Macacos informações oficiais, a equipe de a 300 (trezentos) metros, 34 (trinta e
e Complexo do Alemão. Mencionam, inspeção, realizou uma pesquisa que quatro) a 200 (duzentos) metros e 43
ainda, os técnicos deste Tribunal de consistiu em verificar in loco a situação (quarenta e três) a 100 (cem) metros.
Contas, que estas localidades são as de diversas favelas, em vários pontos Com destaque para a existência de 65
mesmas que vêm originando ondas de da Cidade, objetivando constatar a (sessenta e cinco) total ou parcialmente
violência na cidade, denotando que existência de edificações com mais inseridas nos limites de alguma destas
esta situação vinha se desenhando, pelo de quatro pavimentos, uma vez que Unidades, das quais 55 (cinquenta e
menos, desde o ano de 2004. prédios de até três andares são aceitos cinco) encontram-se discriminadas com
pela Prefeitura, pois existem na maioria as respectivas áreas invadidas, na Tabela
IV.3 – Crescimento Horizontal dessas comunidades. XII (fls.54/55 – capa de documentos). Isto
O crescimento da área territorial das O levantamento realizado resultou significa que as favelas avançaram em
favelas nos anos de 2004 e 2008, em no relatório fotográfico inserido às direção às Unidades de Conservação,
relação a 1999, e o surgimento de novas fls.69/85 da capa de documentos. havendo aumento de cerca de 282% de
comunidades apontam para um total de favelas adentradas nestas Unidades.
1023, segundo dados obtidos através de IV.5 – Meio Ambiente
imagens de satélite, pelo Instituto Pereira O Município do Rio de Janeiro V – Posto de Orientação Urbanística e
Passos – IPP, os quais se encontram possui 73 (setenta e três) áreas Social - POUSO
detalhados na Tabela I (fls.01/19 – capa protegidas, distribuídas por Áreas de Partindo da premissa de que só
de documentos). Proteção Ambiental (APAS), Áreas de a urbanização de uma favela não a
No período de 1999 a 2004, verifica- Proteção Ambiental e Recuperação transformaria em um bairro, mas sim a
se, a princípio, segundo a equipe de Urbana (APARUs), Áreas de Relevante sua regularização, surgiu a concepção
inspeção, o surgimento de 56 (cinquenta Interesse Ecológico (ARIE), Parques do Projeto POUSO, na estrutura da
e seis) novas favelas, e entre 2004 a Naturais Municipais, Parques Estaduais, Secretaria Municipal de Habitação –
2008 mais 19 (dezenove) comunidades, Parques Nacionais e Reservas Biológicas, SMH. Assim, os POUSOS são postos
conforme referendado na Tabela VII assinaladas na Tabela IX(fls.46/48 – capa descentralizados da Prefeitura dentro
(fls.37/39 – capa de documentos). de documentos). das comunidades e têm como tarefa
Outra constatação é a de que a área No estudo intitulado “Indicadores principal a regularização urbanística e
total ocupada por favelas no Município Ambientais da Cidade do Rio de Janeiro”, a integração dessa área à cidade formal.
teve um incremento de 7,91%, passando elaborado pelas Secretarias Municipais Existem, também, os POTs (Postos de
de 43.180.115m² para 46.593.914m². de Meio ambiente e de Urbanismo e Orientação Técnica), que se diferenciam
Somente a AP2 apresentou estagnação, pelo Instituto Pereira Passos, é feita, em por se encontrarem em locais que ainda
ainda que também apresente um de seus capítulos, uma classificação, não foram urbanizados, diferentemente
acréscimo em algumas de suas Regiões de acordo com as distâncias existentes, dos POUSOS.
Administrativas, como apresentado no ano de 2004, entre as favelas e as Dentre as atribuições previstas
na Tabela VIII (fls.40/45 – capa de unidades de conservação. para os POUSOs, pode-se destacar:
documentos). O trabalho demonstrou que, naquela preservar o espaço público livrando-o
época, 118 favelas estavam próximas e/ de invasões; manter o alinhamento das
IV.4 – Crescimento Vertical ou inseridas em alguma das Unidades ruas, servidões e escadarias; evitar que
Considerando o reduzido número de Conservação consideradas, sendo se construa em áreas de risco; controlar
de comunidades atendidas pelos Postos que 21 (vinte e uma) estavam a 400 o crescimento da comunidade (tanto
de Orientação Urbanística e Social (quatrocentos) metros, 14 (quatorze) horizontal quanto verticalmente) para
(POUSO), a equipe de inspeção indagou a 300 (trezentos) metros, 21 (vinte que os equipamentos implantados não
aos Gerentes das Áreas de Planejamento e uma) a 200 (duzentos) metros, 45 se tornem insuficientes; articular-se com
da Secretaria Municipal de Habitação (quarenta e cinco) a 100 (cem) metros outros órgãos, visando uma mudança na
quais as comunidades que notadamente e 17 (dezessete) encontravam-se total percepção dessas áreas como bairros da
estavam crescendo verticalmente nos ou parcialmente dentro dos limites de cidade, nos quais os serviços urbanos
últimos anos. Muito embora seja da alguma destas unidades. deveriam se fazer presentes; elaborar
competência daquela secretaria atuar, Com os dados atualizados para 2008, legislação urbanística e edilícia para cada
indiscriminadamente, em todas as constantes da Tabela XI (fls.50/53 – capa área, em conjunto com a SMU.
favelas da Cidade que já tenham sido ou de documentos), pode-se observar a O POUSO também tem a incumbência
estejam sendo urbanizadas, a resposta dinâmica do crescimento dessas favelas, de realizar um trabalho socioeducativo,
dada por sua Gerência de Urbanização 182 (cento e oitenta e duas) delas estavam de forma a mudar o comportamento

148 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


dos moradores em relação ao espaço em na AP-5. Além disso, muitas das obras realizadas
que vivem. Eles foram concebidos para Com a finalidade de quantificar o precisam ser refeitas, quer seja pela falta
terem caráter transitório, permanecendo total de recursos investidos em programas de manutenção adequada, ou pela má
na comunidade o tempo necessário para de urbanização de áreas de baixa renda, utilização dos moradores.
que se complete a transição da favela à foram relacionados os valores dos contratos Diante do exposto, a equipe de
condição de bairro. efetuados com a indicação dos meses inspeção sugere o encaminhamento
Existem 30 (trinta) POUSOs e 02 de realização de seus orçamentos (Io), de cópias do presente Relatório às
(dois) POTs, que atendem 61 (sessenta e de modo a serem deflacionados e terem Secretarias Municipais de Habitação
uma) comunidades, assim distribuídos: seus preços atualizados para setembro de e de Urbanismo, para que , após
4 (quatro) na AP-1, 8 (oito) na AP-2, 13 2009, possibilitando a comparação dos examinarem o seu conteúdo, teçam
(treze) na AP-3, 2 (duas) na AP-4 e 3 (três) custos dessas intervenções. Na tabela XIV seus comentários acerca das avaliações
na AP-5. Os POTs estão localizados na (fls.59/68 – capa de documentos) pode- e sugestões propostas.
Rocinha e na Chácara do Céu. se observar que foram investidos, em Os Senhores Diretor da Secretaria
A Tabela XIII (fls.56/58 – capa de valores atualizados, R$ 1.899.260.698,89 de Controle Externo e Secretário Geral,
documentos) relaciona POUSOs e (um bilhão, oitocentos e noventa e nove bem como a Procuradoria Especial,
comunidades atendidas, especificando milhões, duzentos e sessenta mil, seiscentos manifestam-se de acordo com a
suas Áreas de Planejamento. e noventa e oito reais e oitenta e nove proposição formulada pela equipe de
centavos) em urbanização de favelas. inspeção.
VI – Intervenções Realizadas Verifica-se, dessa forma, que em pouco
A Secretaria Municipal de Habitação mais de uma década, foram urbanizadas, É o Relatório.
é a responsável pela implantação e através desses programas, aproximadamente
implementação dos programas de 150 (cento e cinquenta) comunidades de
urbanização em favelas no Município. Ao um universo de 1023 favelas cadastradas
VOTO Na forma dos
pareceres emitidos,
longo desses anos foram realizados 215 pela Prefeitura. Os quase 2 (dois) bilhões de voto pela baixa dos autos em diligência,
(duzentos e quinze) contratos de obras reais investidos não foram suficientes para para que as Secretarias Municipais
em diversas comunidades da cidade, urbanizar totalmente as áreas beneficiadas, de Habitação e de Urbanismo se
sendo 37 (trinta e sete) efetuados na AP-1, uma vez que inúmeras delas receberam pronunciem acerca das avaliações e
50 (cinquenta) realizados na AP-2, 68 intervenções parciais, que resultaram sugestões contidas na Conclusão do
(sessenta e oito) na AP-3, 18 (dezoito) na da insuficiência dos contratos e/ou da presente Relatório.
AP-4 e os 42 (quarenta e dois) restantes dinâmica de crescimento das comunidades.

de AUDITOR do Tribunal de Contas do


DENÚNCIA Município do Rio de Janeiro (Edital nº
001/2008), cujos atos executórios foram
Irregularidades na prova oral por este Tribunal delegados, por via do
do concurso para o cargo de Contrato nº 52/2007, à FUNDAÇÃO
GETÚLIO VARGAS – FGV PROJETOS –
auditor do TCMRJ NÚCLEO DE CONCURSOS”.
Sustenta o Denunciante, em sua
peça, resumidamente, que:
Conselheiro-Relator: Jair Lins Netto a) a decisão, a respeito dos recursos
Processo nº 40/004.868/2009 interpostos pelos candidatos aos
Sessão Plenária de 10.03.2010 cargos de Procurador e de Auditor
(este o caso do Denunciante),.
pelo Sr. ALBERTO DO VALE ALMEIDA, em relação às notas atribuídas à
Até que, em caráter definitivo,
funcionário público municipal, inscrito prova oral, teria sido proferida
seja julgado o mérito das denúncias
no CPF sob o nº 711.247.647-04, residente de forma genérica, sem se ater às
apresentadas, o TCMRJ deverá se
e domiciliado na Rua Dias Ferreira nº especificidades de cada candidato
abster de praticar qualquer ato
471, apto. 302, Leblon, nesta Cidade, e dos argumentos por eles
visando à homologação do Concurso
através da qual aponta a existência, no apresentados;
para auditor.
seu entender, da “existência de fortíssimos b) após a divulgação da referida
indícios de irregularidades e ilegalidades decisão, tendo em vista a FGV ter
Submete-se a exame desta Corte praticadas na etapa denominada PROVA se recusado, arbitrariamente, a dar
de Contas a Denúncia formulada ORAL do concurso público para o cargo vista ao Denunciante do processo
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administrativo referente ao concurso era especialista na citada matéria; Salienta que, com tal providência,
votos
público, ele se viu obrigado a impetrar h) igualmente, teriam sido violados a a FGV assumiria a efetiva ocupação
um Mandado de Segurança para que Constituição Federal, a Lei Federal dos atos de execução do certame em
fosse garantido o seu direito de vista e nº 9.748/99 e o Decreto Municipal nº todas as suas fases até o resultado final
cópia do mencionado processo, o que 2.477/80, ante a manifesta ausência de do processo seletivo, tendo colocado
lhe foi concedido; motivação dos resultados preliminar e à disposição dos interessados um site
c) o direito de vista se mostrou inviável, definitivo da prova oral; eletrônico, no qual estariam sendo
uma vez que o referido processo i) duvida que os recursos tenham sido lançados todos os registros e informações
administrativo se compunha pela efetivamente julgados pela banca pertinentes ao referido certame.
montagem de documentos dispersos examinadora, considerando-se a Acrescenta que não teve
e sem ordem sequencial, a induzir, ausência absoluta de evidências que conhecimento, por parte da contratada,
de acordo com o Denunciante, uma tal fato tenha ocorrido e as declarações de ter havido quaisquer irregularidades
seletividade arbitrária e conveniente prestadas pelo Professor Eduardo no processo, na forma em que os fatos
por parte da organizadora do Valadares, descritas nos tópicos 1.2 j são narrados na presente Denúncia, salvo
concurso; e 1.2 k desta denúncia. com relação às demandas existentes
d) a decisão administrativa referente ao Em consequência, pleiteia o perante o Poder Judiciário, todas elas
resultado do concurso foi publicada no Denunciante, em sede preliminar, o relativas ao concurso para o cargo de
site eletrônico da FGV sem data e sem conhecimento e o processamento de seu Procurador.
assinatura e divergia do documento requerimento como Denúncia, adotada Em nova manifestação, à fls. 33/34,
apresentado ao Denunciante que, ao a tramitação preferencial prevista no a Assessoria Jurídica esclarece que a
contrário, continha a assinatura dos art. 134, caput e inc. III, do Regimento Denúncia sob exame foi apresentada por
membros da banca examinadora, Interno desta Corte de Contas, assim servidor desta Corte, mas na condição de
pelo que infere que tal documento como a abstenção, por parte deste mesmo cidadão; que as competências arroladas
fora assinado posteriormente à data Tribunal, da prática de qualquer ato que no art. 3º da Lei Orgânica do TCMRJ
de sua publicação, sem razões que vise à homologação do concurso público são desempenhadas pelo seu Plenário,
justificassem tal fato; para o cargo de Auditor enquanto não embora essa condição não esteja expressa
e) a toda evidência, constituíram-se houver julgamento definitivo do mérito no referido texto legal; que, em assim
e desconstituíram-se direitos dos desta Denúncia. sendo, deve ser operada a distribuição
candidatos sem a subscrição e o Requer, no mérito, a apuração dos desta Denúncia a um dos Exmos. Srs.
conhecimento dos membros da banca fatos relatados nestes autos e, uma Conselheiros, a quem caberá dirigir o
examinadora; vez confirmadas as irregularidades processo; que, neste exercício, caberá
f) diante dessas ocorrências, o e as ilegalidades apontadas, o ao Conselheiro-Relator adotar todas as
Denunciante teria procurado restabelecimento da legalidade da prova providências necessárias à instrução
pessoalmente os membros da banca oral do concurso público para Auditor do processo; e que, considerando o
examinadora e teria obtido deles deste Tribunal de Contas. direito constitucional do contraditório
esclarecimentos, narrados às fls. 07, Como meios de prova, pretende e da ampla defesa, encerra sua
08, 09, 10 e 11 dos presentes autos, que a oitiva dos Srs. Eduardo Valadares e manifestação sugerindo que se dê
comprovariam diversas irregularidades Flávia Viveiros de Castro, membros da conhecimento da presente Denúncia à
e ilegalidades praticadas pela FGV por banca examinadora, e do Sr. Leonardo contratada, Fundação Getúlio Vargas,
ocasião da atribuição das notas da prova Teixeira, coordenador do concurso, para que esta apresente defesa ou
oral, bem como do julgamento dos conforme itens 1.2, 1.3 e 1.4 de sua preste esclarecimentos a respeito das
recursos interpostos pelos candidatos, peça. supostas irregularidades praticadas no
dentre eles o Denunciante; Finalmente, pretende a apuração desenvolvimento de suas obrigações
g) ocorreu violação ao disposto nos itens de responsabilidade do(s) agente(s) contratuais.
11.3 e 11.4 do Edital relativo à prova público(s) envolvido(s). Às fls. 35, o Exmo. Sr. Conselheiro
oral, porquanto o resultado preliminar A Assessoria Jurídica se manifesta Presidente Thiers Montebello designou
da prova oral não apresentou a mínima às fls. 27/32 fazendo um resumo da a mim, Jair Lins Netto, como Relator do
motivação das notas atribuídas, bem Denúncia apresentada, esclarecendo que processo em exame.
como teria havido interferência na a mesma decorre do contrato firmado O Denunciante, Alberto do Vale
elaboração do resultado da prova oral entre este Tribunal e a FGV, cujo objeto Almeida, à fls. 36/37, junta petição aos
do Denunciante, especialmente no seria a prestação de serviços técnicos e autos, requerendo a sua admissão no
tocante à disciplina “Auditoria”, eis especializados, visando à organização e processo como Terceiro Interessado,
que a deliberação da nota foi colegiada, à realização da seleção pública para o embora seja ele o cidadão denunciante,
quando tão somente um único provimento das vagas abertas aos cargos por ser candidato participante da etapa
professor, o Sr. Eduardo Valadares, de Procurador e Auditor. oral do concurso para Auditor e ter sido
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considerado inabilitado nessa fase pela não tendo sido, por essa razão, o mesmo Por inócuo, na forma do entendimento
FGV, a fim de que possa exercer todos homologado. manifestado pela douta Procuradoria
os direitos inerentes à intervenção À fls. 42/44, o Sr. Moisés Maciel, Especial, com o qual compartilho in
processual de terceiros, na forma prevista brasileiro, casado, contador judicial, totum, deixo de acolher o pedido de
no Decreto Municipal nº 2.477/80, CPF nº 009.009.947-89, residente e fls. 36/37 formulado pelo Denunciante,
na Lei Federal nº 9.784/99, no Código domiciliado na Avenida Carolina Fraga para que pudesse intervir no feito
de Processo Civil e na Constituição nº 67/69, Cidade de Atílio Vivacqua, como Terceiro Interessado, vez que,
Federal. Espírito Santo, também candidato na qualidade de Autor da Denúncia,
A douta Procuradoria Especial, em inscrito para o Concurso de Auditor e poderá ele participar de todas as fases do
parecer visado pelo Sr. Procurador- igualmente considerado inabilitado na processo, requerendo o que entender de
Chefe (fls. 38/40), protesta, desde logo, prova oral, requer a sua admissão no direito e obtendo todas as certidões do
pela realização de diligência para que feito como Terceiro Interessado. feito que julgar necessárias.
a FGV preste os esclarecimentos que Por outro lado, acolho o pedido
julgar pertinentes, tendo em vista as É o Relatório. de fls. 42/43, deferindo ao Sr. Moises
denúncias constantes da peça de fls. Maciel o ingresso nos autos na qualidade
02/26, considerando inócuo o pedido do Por preenchidos os de Terceiro Interessado, porquanto
Denunciante para que ingresse no feito
VOTO pressupostos legais, demonstrado o seu legítimo interesse
também como Terceiro Interessado, eis conheço da presente Denúncia e no deslinde da matéria tratada neste
que já compõe o pólo ativo da relação determino o seu processamento na processo.
jurídica-processual-administrativa, forma do disposto no art. 134, inc. III, Notifique-se a contratada, Fundação
como Denunciante, não podendo, por tal do Regimento Interno desta Corte de Getúlio Vargas, para que, no prazo
motivo, agregar, na mesma relação, outra Contas. de 30 (trinta) dias, preste os devidos
condição de intervenção processual, Ante as graves irregularidades esclarecimentos a respeito das supostas
agora como Terceiro Interessado. apontadas na peça de fls. 02/26, irregularidades que por ela teriam sido
À fl. 40v., solicitei à Presidência supostamente ocorridas na fase oral do praticadas no cumprimento de suas
desta Corte de Contas que informasse Concurso para Auditor deste Tribunal, obrigações contratuais.
em que estágio se encontrava o Concurso e que, se comprovadas, maculariam o Após a manifestação da Fundação
para Auditor, esclarecendo se já haveria seu resultado final, julgo necessário que Getúlio Vargas e a sua subsequente
resultado final e se o mesmo já teria sido este Tribunal se abstenha de praticar análise pelos diversos órgãos desta
homologado. qualquer ato visando à homologação do Corte, examinarei da necessidade da
Em resposta, a Assessoria Jurídica, referido resultado, até que, em caráter adoção de novos procedimentos visando
à fl. 41, esclarece que não foi ainda definitivo, esta Corte julgue o mérito das à apuração, de forma cabal e definitiva,
registrado o resultado final do concurso, denúncias apresentadas. daquelas supostas irregularidades.

Ltda., em 07 de outubro de 2008,


CONTRATO cujo objeto é o reconhecimento de
dívida para quitação da importância
de R$ 99.886,95, devida pelo Grupo
Reconhecimento de Dívida Estação à Riofilme, apurada no Processo
Riofilme nº 12/500.226/2007, em 13 parcelas
semanais de R$ 7.683,62, corrigidas
mensalmente pelo IPCA-E/IBGE.
Conselheiro-Relator: José de Moraes Correia A diligência foi determinada nos
Neto termos do Voto nº 625/2009-JMCN, na
Processo nº 40/005.869/2008 Sessão Plenária Ordinária realizada em
Sessão Plenária de 10.03.2010 30.09.2009, para que a Jurisdicionada,
atendendo ao requerido no item 2º da
diligência determinada na forma do
A exibição de obras cinema- Retorna de segunda diligência o Voto nº 142/2009-JMCN, justificasse
tográficas brasileiras de longa Processo nº 40/005.869/2008, contendo não constar nos autos a estipulação de
metragem é obrigatória, por força de o Termo de Reconhecimento de Dívida multa pelo atraso do repasse. Ainda,
lei, a chamada “cota de tela”. nº 37/2008, celebrado entre a para que, tendo em vista o Princípio
Distribuidora de Filmes S/A – Riofilme Geral de Direito da Segurança Jurídica,
e o Grupo Estação Cinema e Cultura a Jurisdicionada desenvolvesse estudos

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internos para a definição do instrumento objetivo final que confere sentido difícil crer que a simples exigência de
votos
formal ideal para veicular seus pactos e agrega valor econômico à obra um contrato seja motivação suficiente
visando à exibição de filmes em salas audiovisual, pelo confronto com o para espantar e afastar os exibidores, a
de cinema, informando a este Tribunal espectador/observador, sua fruição quem, também, interessam fatores como
e passando a adotá-lo em substituição e avaliação, o âmbito de atuação da a garantia e a confiabilidade, assim como
ao contrato verbal. Jurisdicionada é mais amplo e, além da o crescimento do mercado.
Finda a diligência, a 3ª IGE, em distribuição de obras audiovisuais para Difícil, também, aceitar que seja a
instrução de fls. 44-45, examina exibição em salas de projeção, inclui norma do mercado a inexistência de
o pronunciamento do Órgão a distribuição para venda ou aluguel, garantias dos direitos e deveres das
jurisdicionado, de fls. 41-42, constatando em pontos próprios, a co-produção, a partes envolvidas – direitos e deveres
que as informações requeridas no item realização de mostras e a participação esses que só podem ser viabilizados
2 da instrução de fls. 30 verso não foram em festivais. pela formalização de instrumento
prestadas. Assim, submete ao Relator As salas de projeção são de contrato. Muito embora a prática
a justificativa da Jurisdicionada para fundamentais para a exibição comercial da informalidade nos negócios entre
a inexistência de contrato de exibição, da obra audiovisual1. Portanto, existe distribuidor e exibidor possa estar
ao mesmo tempo que, à fl. 31, opina uma interface importante com as bastante disseminada, o que se observa
por diligência, para que a Riofilme empresas exibidoras, proprietárias das hoje é que as relações comerciais se
atenda ao requerido nos comentários salas de projeção, que são representadas consubstanciam em contratos formais,
do corpo técnico deste Tribunal, de por entidades nacionais, das quais as até mesmo em ambiente virtual: as
fls. 30 verso. principais são a Federação Nacional das empresas que atuam no comércio
O Senhor Diretor da Secretaria de Empresas Exibidoras Cinematográficas eletrônico (e-commerce) exigem do
Controle Externo e o Senhor Secretário- (Feneec), a Associação Brasileira de comprador certas garantias, no ato da
Geral , assim como a douta Procuradoria Exibidores Cinematográficos (Abracine) compra, e oferecem-lhe outras, em
Especial, em parecer de fls. 46, opinam e a Associação Brasileira das Empresas contrapartida. Mesmo para o simples uso
por diligência, para os fins sugeridos. Operadoras de Multiplex (Abraplex). Não de recursos oferecidos gratuitamente,
se há de esquecer, porém, que a exibição como um endereço postal eletrônico,
É o Relatório. de obras cinematográficas brasileiras exige-se do usuário prévia concordância
de longa metragem é obrigatória, por com os termos de um contrato-padrão.
A atipicidade da força de lei, em termos de um número No caso em exame, verifica-se, por
VOTO situação que se mínimo de dias, por sala, por ano: um lado, considerável lapso de tempo
apresenta já foi ressaltada por este a chamada “cota de tela”, definida, (vários meses) entre a data em que o
Relator, no Voto nº 625/2009-JMCN (fls. anualmente, por decreto do Presidente repasse deveria ter sido feito à Riofilme e
34-38). As características próprias do da República, no cumprimento das o momento em que, após a celebração do
funcionamento do mercado de exibição atribuições conferidas pelo inciso IV, do termo de reconhecimento de dívida ora
de filmes em salas de cinema servem, art. 84 da Constituição Federal. em exame, o pagamento foi efetivamente
para a Jurisdicionada, como justificativa Não poderiam os exibidores, então, feito. Por outro lado, não se constata a
para a distribuição dos filmes de sua negar-se a exibir filmes nacionais em aplicação de multa, porque, apesar da
carteira, sem a formalização de contrato, suas salas, por quaisquer motivos. incontestável natureza sinalagmática
sob a alegação de que a exigência de tal No caso de discordarem de uma dessa relação, inexiste um respaldo
formalidade contraria a dinâmica do possível exigência da Riofilme, de contratual.
mercado exibidor e poria em risco de celebração de contrato para reger a Acresça-se que não pode ser
inviabilidade a atividade comercial da distribuição dos filmes da carteira da eliminada a hipótese de um cenário
Riofilme. Jurisdicionada, poderiam, é verdade, futuro em que, seguindo as coisas
No caso, é relevante levar em conta preferir buscar outras distribuidoras, como estão, uma exibidora conteste
que, muito embora a exibição seja o preterindo a Riofilme. No entanto, é o dever de repassar ou o valor a ser

Segundo H. Jessen (Direito Autoral, Rio de Janeiro, Forense, 1980, p.247): “Uma vez produzido (rodado nos estúdios) o filme cinematográfico,
este é montado, extraindo-se dele diversas cópias (...), para oportuna projeção cinematográfica. Seu produtor (autor) passa a ser o único titular
de direitos sobre o filme cinematográfico, inclusive para explorá-lo economicamente (exibi-lo) ou autorizar sua exibição. (...) Quase sempre o
titular de direitos relativos ao filme cinematográfico (...) não pode explorá-lo diretamente, em virtude de não ter casa exibidora. Daí o interesse
em procurar terceiros, empresas distribuidoras de filmes cinematográficos, que se encarregam de contratar com empresas exibidoras (cinemas)
o negócio comercial (cessão de direitos para a exploração econômica do filme). (...) A distribuição de filmes cinematográficos consiste, pois,
na intermediação realizada entre o titular de direitos da exploração econômica do filme e a empresa exibidora, mediante pagamento. Pelo
contrato de distribuição de filme cinematográfico, as empresas recebem o filme respectivo e o encaminham, mediante remuneração, à empresa
exibidora, autorizando-a a explorar economicamente o mesmo. A distribuidora presta serviços ao titular de direito do filme cinematográfico,
auferindo comissões. Este último, todavia, tem direito a receber determinada importância (preço) da empresa exibidora, pela cessão do direito
da exploração econômica do filme, seja uma importância fixa (royalty), ou seja, uma participação na receita da bilheteria”.

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repassado, gerando, em qualquer dos diligência dos autos, para que a Riofilme Órgão jurisdicionado, se necessário
casos, prejuízo para a Jurisdicionada, atenda ao requerido nos comentários do mediante consulta e o concurso da
que, repetimos, lida com recursos corpo técnico deste Tribunal, de fls. 30 douta Procuradoria-Geral do Município,
financeiros exclusivamente públicos, verso. Por se tratar de reiteração, relembro estude a possibilidade de elaborar um
tendo a obrigação de preservá-los, à Jurisdicionada que o descumprimento instrumento formal que, garantindo
gerando lucro, seja de natureza social, de diligência desta Corte de Contas os interesses comerciais de ambas
seja econômica, ou – o que é o ideal – pode resultar na aplicação de sanções as partes dentro dos parâmetros do
lucro social e econômico. previstas na Lei Municipal nº 3.714, de Princípio Geral de Direito da Segurança
Neste sentido, acolhendo a 17.12.2003, publicada no D.O. Rio de 18 Jurídica, permita a preservação da
proposição do Corpo Instrutivo e da do mesmo mês. relação entre a distribuidora e os
douta Procuradoria Especial, voto por Reitero a recomendação de que o exibidores a que recorrer.

no item 1 das fls. 254), a jurisdicionada


PRESTAÇÃO DE CONTAS DE GESTÃO tinha informado que não poderia atender
à recomendação da Auditoria Geral
sobre o ponto “baixa de materiais em
2005 – RIOCOP desacordo com a legislação”1 (que, de
acordo com a CGM, comprometeria
a prestação de contas de gestão em
R$ 4.521.424,63), visto que não existiam
Conselheiro-Relator: Nestor Guimarães funcionários suficientes e tampouco
Martins da Rocha recursos financeiros para custear uma
Processo nº 06/380.006/2006 comissão de sindicância, esta Corte
Sessão Plenária de 10.02.2010 solicitou à RIOCOP que justificasse a
incoerência dessa resposta com a relativa
ao ponto de auditoria, comentado no
A fim de que seja assegurado o 13.08.2008, nos termos do voto do Relator, parágrafo anterior.
exercício do direito contraditório e à Excelentíssimo Senhor Conselheiro O órgão jurisdicionado inseriu as
ampla e irrestrita defesa, vota-se por Nestor Guimarães Martins da Rocha, que respostas às fls. 314 às 332, conforme
audiência do liquidante. retorna de diligência. segue:
Inicialmente, cumpre ressaltar que o
p.p. já havia sido baixado em diligência 1- Contabilização sem documentação
Examina-se uma vez mais a Prestação na 5ª Sessão Ordinária, de 29.01.2007, e suporte (andamento da sindicância
de Contas de Gestão da RIOCOP, exercício na 66ª Sessão Ordinária, de 03.10.2007, administrativa):
de 2005, que retorna da diligência ambas nos termos do voto do Relator, O órgão jurisdicionado inseriu ao
determinada na Sessão Ordinária de Excelentíssimo Senhor Conselheiro presente cópia do processo nº
13.08.2008, e como as anteriores, nos Nestor Guimarães Martins da Rocha. 06/000.310/2008, com o resultado da
termos do voto de minha lavra. Esta Coordenadoria, em análise às sindicância administrativa referente à
A instrução de fls. 333/334v da respostas remetidas pela jurisdicionada apuração de irregularidades dos fatos
Coordenadoria de Auditoria e nas diligências anteriores, sugeriu que proporcionaram o extravio de
Desenvolvimento, peça instrutiva que que a diligência fosse renovada, para documentos relativos à “contabilização
transcrevo na íntegra, que recebeu o que o Sr. Eduardo Amazonas Pontual, sem documentação suporte”.
beneplácito do Sr. Coordenador da CAD, liquidante da empresa, trouxesse aos A Comissão de Sindicância
conclui no sentido da cientificação do autos informações sobre o andamento concluiu (fls. 328) “que a documentação
responsável para que apresente sua da sindicância administrativa (Portaria comprobatória dos valores que foram
defesa com relação ao apontado no item “P” nº 001/2008, de 12.02.2008) aberta transferidos para ‘RESULTADOS DE
3 de sua análise: para apurar os fatos que ensejaram o EXERCÍCIOS ANTERIORES’ são
“Trata o presente processo da extravio dos documentos comprobatórios inexistentes, e que não houve ato
Prestação de Contas de Gestão de 2005 dos registros contábeis (no valor de intencional de funcionários que até
da RIOCOP (Companhia Municipal de R$ 1.893.545,48). hoje permanecem na empresa, a fim de
Conservação de Obras Públicas), baixada Além disso, considerando que na acarretarem transtornos na contabilidade
na 56ª Sessão Ordinária, ocorrida em diligência anterior (conforme exposto da mesma”.

1
Resolução CGM nº 365, de 27/12/2001.

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Considerando a conclusão da 3 – Dispensa indevida de licitação. despesa descumprindo o parágrafo 5º,
votos
Comissão, o liquidante da RIOCOP Foi constatado nas inspeções do art. 23, da Lei n° 8.666/93, afrontando
encaminhou ao Secretario Municipal ordinárias realizadas em 2001 e norma legal de natureza operacional
de Obras e Serviços Públicos o termo 2007, processos n° 40/000.258/2002 (alínea “a”, inciso I, do art 3º, da Lei n°
de constatação de bens em transição e 40/002.926/2007, em anexo, que 3.714/2003).
de baixa por extravio para ciência, desde 2001 a RIOCOP vem contratando Portanto, a critério do Plenário desta
solicitando a aprovação e o arquivamento serviços de contabilidade através da E. Corte, o fato poderá ser enquadrado
do mesmo. dispensa de licitação, com fulcro no como potencial gerador de manifestação
artigo nº 24, inciso II da Lei nº 8.666/93. pela irregularidade.
2- Baixa de materiais em desacordo Contudo, a soma dos valores mensais Face ao exposto, sugere-se a
com a legislação e contabilização sem pagos no exercício financeiro, referentes à cientificação do responsável Senhor
documentação suporte: contratação dos serviços de contabilidade, Eduardo Amazonas Pontual para que
Em anexo, consta o Oficio nº ultrapassaram o limite legal de apresente sua defesa, nos termos do
124/2008, de 27.08.08, no qual o R$ 16.000,002, caracterizando, assim, inciso LV, do art. 5º, da Constituição
órgão jurisdicionado encaminhou o fracionamento da despesa, vedado Federal, conforme art. 1º da Lei Municipal
cópia do resultado da sindicância pelo parágrafo 5º do art. 233 da Lei nº nº 3.714, de 17.12.2003.”
administrativa referente à apuração 8.666/93, o que torna a licitação uma fase A lúcida análise do Sr. Secretário
de irregularidades apontadas no RAG obrigatória para a contratação legal da Geral em seu judicioso parecer acerca da
nº 303/2006, fls. 129/130, referente prestação do serviço de contabilidade. matéria às fls. 336/338 dos autos, no qual
à baixa de materiais em desacordo Em resumo, é vedada a utilização de transcrevo na íntegra a seguir, conclui
com a legislação e contabilização sem modalidade inferior de licitação quando pela audiência do Sr. Eduardo Amazonas
documentação suporte, no valor de o somatório do valor a ser licitado Pontual a fim de assegurar ao responsável
R$ 4.521.424,63. caracterizar modalidade superior. Neste o direito constitucional ao contraditório e
A Comissão de Sindicância sentido conclui-se que é vedado o à ampla defesa com relação ao abordado
concluiu “que tanto o material que fracionamento de despesa para a adoção às fls. 333/334v do feito:
compunha esse estoque, como os de dispensa de licitação ou modalidade “A Coordenadoria de Auditoria e
bens dados para Penhora no Balanço de licitação menos rigorosa que a Desenvolvimento – CAD, com o plácito
Patrimonial de 31.12.2005 não existem determinada para a totalidade do valor do Sr. Diretor da Secretaria de Controle
mais desde 1997. Recomendou que do objeto a ser licitado. Externo, conclui que o exame da Prestação
por identificação dos fatos que Ressalta-se, ainda, que a RIOCOP, de Contas de Gestão da RIOCOP de 2005”,
levaram a insubsistência passiva ao não proceder à licitação dos serviços revelou a necessidade da notificação do
do estoque, seja lavrado o Termo de de contabilidade, poderá incorrer em responsável”, em função da contratação
Constatação de Materiais em Transição crime, a critério do Ministério Público, de serviços de contabilidade, mediante
de Baixa por extravio, uma vez que que é o titular da ação penal pública, dispensa de licitação, cuja soma
não ficou evidenciada a ocorrência de com base no que preceitua o art. 89 da dos valores envolvidos no exercício
irregularidade”. Lei nº 8.666/934:” suplantaria o limite fixado no art. 24, II
Considerando a conclusão da Em conclusão, a CAD aduz: c/c o seu parágrafo único, do Estatuto
Comissão, o liquidante da RIOCOP “ O exame revelou a necessidade da de regência.
encaminhou ao Secretário Municipal notificação do responsável acerca do item Cumpre ressaltar, por relevante,
de Obras e Serviços Públicos o termo 3 desta análise. A situação evidencia: que a Lei nº 289, de 25 de novembro
de constatação de bens em transição Que desde o exercício de 2001 a de 1981, com as alterações decorrentes
de baixa por extravio para ciência, RIOCOP está contratando serviços de da Lei Complementar nº 82, de 16 de
solicitando a aprovação e o arquivamento contabilidade através de dispensa de janeiro de 2007, ao tratar de uma das
do mesmo. licitação, mediante o fracionamento de cláusulas do devido processo legal,

2
Art. 24, parágrafo único da Lei n° 8.666/93. Os percentuais referidos nos incisos I e II do caput deste artigo serão 20% (vinte por cento) para compras,
obras e serviços contratados por consórcios públicos, sociedade de economia mista, empresa pública e por autarquia ou fundação qualificadas, na
forma da lei, como Agências Executivas. (Redação dada pela Lei nº 11.107, de 2005)
3
Art. 23, § 5o É vedada a utilização da modalidade “convite” ou “tomada de preços”, conforme o caso, para parcelas de uma mesma obra ou
serviço, ou ainda para obras e serviços da mesma natureza e no mesmo local que possam ser realizadas conjunta e concomitantemente, sempre
que o somatório de seus valores caracterizar o caso de “tomada de preços” ou “concorrência”, respectivamente, nos termos deste artigo, exceto para
as parcelas de natureza específica que possam ser executadas por pessoas ou empresas de especialidade diversa daquela do executor da obra ou
serviço. (Redação dada pela Lei nº 8.883, de 1994)
4
“Art. 89. Dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses previstas em lei, ou deixar de observar as formalidades pertinentes à dispensa ou à
inexigibilidade:
Pena - detenção, de 3 (três) a 5 (cinco) anos, e multa.
Parágrafo único. Na mesma pena incorre aquele que, tendo comprovadamente concorrido para a consumação da ilegalidade, beneficiou-se da
dispensa ou inexigibilidade ilegal, para celebrar contrato com o Poder Público”.

154 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


nos processos de prestação e tomada de “Entendemos que, ao contrário da inquinado.
contas, prescreve: Lei Orgânica desta Corte de Contas Considerando que a Constituição
“Art. 44. Verificada irregularidade nas (a qual discriminou as formas de Federal assegura aos litigantes, em
contas, o Tribunal: comunicação de seus atos), o Regimento processo judicial ou administrativo, e
“(...) Interno utiliza o termo notificação aos acusados o contraditório e a ampla
II – se houver débito, ordenará a como sinônimo de intimação, ou seja, defesa, com os meios e recursos a eles
citação do responsável para, no prazo para dar ciência a alguém dos atos e inerentes (art. 5º, inciso LV).
estabelecido no Regimento Interno, termos do processo num ambiente de Considerando que o art. 56 da Lei
apresentar defesa; Tomada de Contas.” Orgânica (Lei n º 289/81) assegura ao
III – se não houver débito, determinará “A fim de harmonizar dois dispositivos responsável ampla defesa em todas as
a audiência do responsável para, no que, a primeira vista, representam uma etapas do processo de julgamento das
prazo estabelecido no Regimento Interno, antinomia, imprescindível que se contas.
apresentar razões de justificativa.” esclareça que o Regimento Interno data Considerando que é ilegal o
Da leitura dos dispositivos de 10 de março de 1983 e a Lei Orgânica fracionamento de despesa quando as
transcritos, podemos depreender que foi alterada em janeiro de 2007 pela Lei prestações de serviços ou fornecimento
constatada a possibilidade de decisão Complementar nº 82. Assim, não se de produtos podem ser realizadas
desfavorável ao responsável e não trata de uma verdadeira antinomia, pois conjuntamente mediante procedimento
havendo débito, deverá ser determinada o Regimento Interno deve ser lido à luz licitatório prevista no art. 37, inciso XXI,
a sua audiência, a fim de ser assegurado da Lei Orgânica.”. (gizamos) da Constituição Federal e art. 3º da Lei
o direito de apresentar as razões de Assim sendo, diante da Federal nº 8666/93.
justificativa. possibilidade de decisão desfavorável Considerando que precisam ser
Cabe registrar, no ponto, que o ao responsável, somos, salvo melhor melhor esclarecidas nos autos as
instrumento da notificação é cabível juízo, pela audiência do Sr. EDUARDO razões da contratação de serviços de
quando o Tribunal decide pela AMAZONAS PONTUAL, a fim de que contabilidade, através de dispensa de
irregularidade das contas, condenando seja assegurado o exercício do direito licitação, a fim de que se possa formar
o responsável ao pagamento de ao contraditório e à ampla e irrestrita juízo do mérito adequado acerca da
determinada quantia ou aplicando defesa, nos termos do art. 5º, LV, da matéria.
multa, na forma da legislação pertinente. Constituição Federal. Considerando os pareceres
Confira-se a dicção do preceito: Outrossim, sugerimos, promovida uniformes da Secretaria Geral e da
“Art. 65. O responsável será a referida comunicação, sejam os autos douta Procuradoria Especial no sentido
notificado para, no prazo estabelecido no encaminhados à Coordenadoria de da audiência do responsável a fim de
Regimento Interno, efetuar e comprovar Auditoria e Desenvolvimento – CAD, conceder a ampla defesa.
o recolhimento da dívida a que se refere para que o interessado possa ter acesso Voto com fundamento no art. 44,
o art. 50 e seu parágrafo único.” a todos os elementos constantes do inciso III, da Lei nº 289/81, c/c o art.27,
Oportuno esclarecer que o Regimento processo e, querendo, apresente suas inciso III, da Lei Complementar nº
Interno desta Corte de Contas, em razões de justificativa ou preste os 82/2007, POR AUDIÊNCIA do Sr.
função de sua aprovação ter ocorrido esclarecimentos julgados pertinentes.” Eduardo Amazonas Pontual, liquidante
em 1983 (Deliberação nº 34), utiliza o A douta Procuradoria Especial, da RIOCOP, para que apresente, no prazo
termo notificação em acepção diversa através de parecer visado pelo de 30 (trinta) dias, a contar da ciência
da prevista na Lei Complementar nº Sr.Procurador-Chefe (fls 339), endossa o da comunicação, razões de justificativa
82, publicada em 2007, devendo o opinamento proposto pelo Sr. Secretário para a contratação de serviços de
operador do direito promover a releitura Geral. contabilidade com base em dispensa
dos dispositivos, vale dizer, quando de licitação, cuja soma dos valores
constatado o confronto com o novo É o Relatório. envolvidos no exercício ultrapassa o
sentido, prevalecerá, evidentemente, o limite fixado no art. 24, II, c/c parágrafo
significado delineado pelo pergaminho Considerando que único, da Lei Federal nº 8666/93.
orgânico. VOTO a audiência nos Devo alertar ao responsável de que o
Essa compreensão do tema encontra termos da Lei Orgânica deste Tribunal não atendimento da exigência ensejará
apoio em luminoso pronunciamento do (art.44, III) ocorre nas situações em a aplicação de multa prevista na Lei nº
douto Órgão Jurídico da Presidência que, verificada irregularidades nas 3.714, de 17 de dezembro de 2003.
desta Casa, subscrito pela culta Assessora contas, e não houver débito, o Tribunal O presente processo deverá
Jurídica, Drª SARA JANE LEITE DE determinará a oitiva do responsável para ficar sobrestado na CAD até que o
FARIAS, quando abordou a matéria que no prazo estabelecido no Regimento responsável apresente esclarecimentos
em consulta formulada nos autos do Interno (Deliberação nº 34/83) apresente ou justificativas acerca do abordado
processo nº 40/001.214/2004: razões de justificativa a respeito do fato no feito.
Revista TCMRJ n. 33 - agosto 2006 155
Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 155
Seção de Copa
por dentro do tcmrj

M
arise e sua equipe da ajudam muito neste ponto, mantendo
Copa, sempre atentos
e preocupados com o
  E aquele café sempre limpo o nosso ambiente de
trabalho”, elogiou. 
bem-estar dos colegas fresquinho, Marise, que também coordena e
de trabalho, não deixam esvaziar, canta no coral do TCMRJ, fala da alegria
nunca, as garrafas térmicas (com café gostoso, depois do e do orgulho que sente ao desempenhar
quentinho) distribuídas nas três copas almoço? Ou no suas obrigações. “Eu passei para o cargo
instaladas no prédio do TCMRJ. de copeira do TCMRJ no concurso de
O setor de Copa do Tribunal, meio da tarde, para 1992; um ano e meio depois fui nomeada
composto por oito garçons, três
copeiras e um copeiro, tem por função:
espairecer... Não chefe do setor. Sou muito grata por estar
este tempo na chefia. Embora eu seja
deixar café nas copas à disposição pode faltar! formada em Direito (desde 1983), não
dos funcionários; manter limpo o tenho o menor constrangimento em
ambiente; zelar por todo material da dizer que sou copeira do Tribunal. Eu
seção – copos, pratos, talheres e os amo esta Instituição. Deus sabe que
eletrodomésticos fogão, geladeira etc de reposição de algum item que esteja bênção foi ter colocado esse trabalho
–; servir água e café aos gabinetes por acabar; providenciar conserto de na minha vida. O mínimo que posso
dos conselheiros, procuradores e telefones, aparelhos eletrodomésticos, fazer é reconhecer isso e demonstrar
respectivas assessorias. “Servimos máquinas de uso da copa; buscar reparo trabalhando.  E eu procuro dar o meu
ainda durante as seções do Plenário, ou troca de cadeiras, mesas e armários melhor!
palestras, reuniões e pregões. O coffe que estejam quebrados. Verificar (e eu
brake, oferecido em alguns eventos, cobro sempre) a limpeza dos uniformes Equipe da Copa:
também é de responsabilidade da e boa aparência dos garçons e copeiros Copeiras: Marisa Félix de Lima, Maria
Copa”, informou Marise. da minha equipe: barba feita, unhas e Augusta da Silva, Rosangela Rosa da
Marise Barbosa de Souza, chefe cabelos tratados são exigências básicas Silva
do setor de Copa do TCMRJ desde para a função que exercem”.  Copeiro: Marcelo Veiga Gil
1993, fala das atribuições do cargo. Marise lembra que, há algum tempo, Garçons: Décio Francisco Rosa, Jair
“É meu dever supervisionar as não se encontram pingos de café Carlos de Souza, João Nunes Pereira,
atividades de limpeza e conservação derramados nos corredores do TCMRJ. Alexandre Nunes Pereira, Alcinei
das dependências e dos objetos da “Foi dada uma ordem, disciplinadora, de Costa Souza, José Américo de
copa; auxiliar no controle do material, de não transitarmos com copinhos pelas Mello Júnior, Luciano Serafin, Sérgio
alertando à chefia sobre a necessidade dependências do Tribunal. Os colegas Francisco Oliveira Paula

156 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


livros
DIRITTO AMMINISTRATIVO e
GIUSTIZIA AMMINISTRATIVA Paulo César Melo da Cunha
Assistente da Assessoria
Organizador: Franco Gaetano Scoca Jurídica do TCMRJ

T
anto na busca de soluções em profundidade e clareza o sistema jurídicas são tratadas na doutrina
para os conflitos do cotidiano, jurídico administrativo italiano, estrangeira e (por que não?) revelar
quanto para a evolução trazendo ao nosso conhecimento um indícios positivos e influenciar
científica, o profissional do sistema de Jurisdição Administrativa as organizações sociais a aplicar
Direito não pode se afastar da poderosa que, apesar de não corresponder à os conceitos que já se encontram
ferramenta do estudo do Direito nossa realidade, merece, no mínimo, validados em outros ordenamentos.
Comparado. Não há dúvida que, para um exame detido, com vistas a O trabalho intitulado Diritto
muitas das nossas inquietações de evidenciar como as propriedades Amministrativo, lançado em 2008, se


hoje, podemos encontrar remédio em apresenta minuciosamente estruturado
outros sistemas jurídicos, às vezes em dez partes, tratando temas a
quase sem necessidade de nenhuma partir da organização administrativa,
adaptação. abordando a administração pública
Todavia, há que se reconhecer, e sua evolução e a administração
ainda, a dificuldade de acesso à Os livros revelam como operador jurídico; a estrutura e
doutrina estrangeira, vez que raramente
está disponível em prateleira. Esta
em profundidade a relação organizativa; a organização
administrativa; a situação jurídica
seção, contudo, pode contribuir para e clareza o subjetiva (tanto da Administração
abrandar tal escassez, exibindo títulos como do particular); a atividade e
importantes da doutrina jurídica. sistema jurídico o procedimento administrativos; o
Dentro desse contexto é que acesso à documentação administrativa;
apresentamos as obras em destaque: administrativo a eficácia e invalidade do procedimento
Diritto Amministrativo e Giustizia
italiano. administrativo; a atividade contratual;


Amministrativa, editados pela G. poder público e economia (ocupando-
Giappichelli Editore - Torino. Sob se da função de regulação do mercado
coordenação do eminente professor e dos serviços públicos); o regime
Franco Gaetano Scoca, os livros revelam de bens; e, por fim, o controle e a

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 157


livros
responsabilidade da Administração e
dos seus dirigentes.
Já a obra Giustizia Amministrativa, IV Fórum Bibliocontas
em sua terceira edição, representa
um passo adiante aos elementos reunirá bibliotecários e
abordados no título acima, oferecendo
reflexões sobre o sistema de tutela do
ordenamento e o comportamento da
arquivistas dos TCs no Rio
Administração Pública e dos sujeitos
privados, ressaltando que a tutela não
se exaure no plano processual, mas,
sim, estende-se ao plano substancial,
fundamental (via, por exemplo,
recurso administrativo).
Neste propósito, o estudo
retrata, de forma bem ordenada, a
gênese do sistema de tutela contra
a Administração Pública, passando

E
pela formação do sistema jurisdicional
e administrativo e sua evolução; a ntre os dias 29 de setembro e 01 de outubro próximos, estarão
forma da jurisdição; a competência; reunidos, na sede do Tribunal de Contas do Município do Rio
características gerais do processo de Janeiro, bibliotecários, arquivistas e responsáveis por centros
administrativo, em que o modelo de de memória dos Tribunais de Contas de todo o Brasil, no IV
processo se mostra com seus perfis Fórum Bibliocontas.
funcional, objetivo e estrutural, focado Este grupo de profissionais reúne-se a cada dois anos, desde 2003,
no princípio do processo a partir da quando foi realizado, em Recife, o I Fórum. O nome BIBLIOCONTAS,
estrutura de equidade; a estática e escolhido pelo grupo para representá-lo, denomina também o canal
a dinâmica do processo, com seus de comunicação utilizado diariamente pelos seus membros, um grupo
pressupostos (abordando as fases virtual hospedado no sítio Grupos.com.br (http://www.grupos.com.br/
introdutória, cautelar, instrutória e group/bibliocontas/Messages.html?action=index).
decisória); os ritos do processo; a O IV Fórum Bibliocontas, organizado pela Divisão de Biblioteca e
observância do julgado; finalizando Documentação em parceria com o Centro Cultural do TCMRJ, terá como
com a tutela não jurisdicional, via tema “Compartilhando informações: um olhar para o Controle Externo”,
recurso administrativo e o recurso e reflete o desejo e a preocupação de todos os bibliotecários, arquivistas e
extraordinário ao Chefe de Estado, outros profissionais da informação atuantes nos Tribunais de Contas do
assim como os instrumentos de justiça aperfeiçoamento de seu papel primordial como fornecedores de suporte
alternativa. informacional ao controle externo, atividade-fim destas instituições. No
Tais títulos italianos, portanto, evento serão abordados temas como as novas ferramentas para gestão da
exibem conceitos modernos do informação digital, portais corporativos, redes sociais e outros.
Direito Administrativo, donde, aliás, Na ocasião, os membros do Bibliocontas terão oportunidade de
a doutrina brasileira se alimenta refletir sobre as melhores práticas desenvolvidas nos últimos dois anos
pelos resultados efetivos e imediatos, e avaliar o quanto caminharam para alcançar os objetivos traçados
realçando o mérito das boas práticas no Fórum anterior. Será mais um encontro pessoal de um grupo que,
administrativas, providência que via web, faz contato diário, compartilhando informações, ideias e
a Administração Pública, cada vez documentos, ampliando os acervos e as fontes de pesquisa de cada uma
mais, deve revelar, pautando-se das unidades de informação dos Tribunais de Contas.
pelos resultados voltados à busca do O Grupo Bibliocontas, rede social cujos laços entre seus membros
interesse público primário. estão formados pelo profissionalismo somado à amizade, terá agora
Por tais razões, recomenda-se a mais uma oportunidade de crescimento e aperfeiçoamento para que
leitura das obras, que podem trazer possa continuar, cada vez mais, trabalhando pelo fortalecimento dos
aos interessados respostas plenamente Tribunais de Contas.
satisfatórias pela apresentação de Mais informações sobre o evento: tcmrj_biblioteca@rio.rj.gov.br ou
pensamentos enriquecedores e (21) 3824-3647 ou 3824-3781.
atuais.

158 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ



Outrossim, informo-lhe que a publicação
recebida integrará a Biblioteca Nereu Corrêa
Com meus cumprimentos, agradeço a gentileza desta Corte de Contas, para leitura, consulta
do envio do exemplar nº 43 – janeiro/2010, da revista e pesquisa de nosso Corpo Funcional.
desse Tribunal de Contas/RJ. Conselheiro José Carlos Pacheco
Aproveito o ensejo para parabenizar o Presidente do Tribunal de Contas de
Excelentíssimo Senhor Presidente e toda equipe Santa Catarina
envolvida na publicação pelo excepcional trabalho


realizado, apresentando matérias da maior qualidade Agradeço a gentileza da remessa da edição
técnica e de alto valor informativo. nº 43, janeiro de 2010, ano XXVII, da Revista
TCMRJ e felicito Vossa Excelência e seus
Paulo Jobim Filho colaboradores pela iniciativa de dedicar amplo
Secretário Municipal de Administração espaço a questões relacionadas com o Plano
Diretor da Cidade, essencial para a melhoria
da qualidade de vida no Rio de Janeiro.
Tenho a grata satisfação de registrar o Janeiro. Maurício Azêdo
recebimento de atencioso cartão, juntamente Ellen Peres Presidente da Associação Brasileira de
com a edição de janeiro/2010 da Revista Presidente Interina da Fundação para a Imprensa – ABI
TCMRJ, que li com muito interesse. Infância e Adolescência
Cumprimentando-o pelo texto de
Palavras do Presidente, agradeço a gentileza Estou retornando de Corrientes, Argentina,
com que me distinguiu. Agradeço o gentil envio da Revista onde proferi uma série de aulas no curso de
Senador Marco Maciel TCMRJ, e cumprimento pela excelência de pós graduação em Administração Pública e
seu conteúdo. Controle promovido pela Universidad de la
Ministro Vasco Della Giustina Cuenca del Plata, a convite da Reitoria dessa
Ao ilustre Conselheiro Thiers Montebello Superior Tribunal de Justiça Instituição e a qual somente conhecia mediante
do Tribunal de Contas do Município do Rio referências de registros acadêmicos.
de Janeiro, meus melhores agradecimentos Tive uma impressão altamente favorável
pela remessa da Revista TCMRJ nº 43, de Tem o presente a finalidade de acusar do ambiente acadêmico e do nível dos quarenta
janeiro de 2010. o recebimento e agradecer o exemplar da alunos que participaram desta atividade.
Condorcet Rezende Revista do Tribunal de Contas do Município O convite inseriu-se no âmbito do
Advogado do Rio de Janeiro - janeiro/2010, elaborado convênio cooperativo mantido com a PUC-RS
por esse Tribunal. e igualmente visitei os Tribunais de Chaco e
Cumprimento Vossa Excelência e Corrientes.
Bastante impressionado com a revista do equipe pela iniciativa e excelente trabalho Na apresentação, fui informado de que o
TCMRJ (nº 43), quero agradecer o amigo pela apresentado, o que constitui importante fonte convite decorria de uma leitura realizada pelos
remessa, e reiterar a convicção que juntos o de consulta e aprimoramento na fiscalização coordenadores do curso do artigo “Ética na
TC e o MP podem colaborar, e muito, pela da gestão da coisa pública. Administração Pública” publicado na Revista
dignidade no serviço público do Brasil. Conselheiro Antonio Carlos Caruso deste Tribunal, cujo exemplar se encontrava
Jarbas Soares Júnior Tribunal de Contas do Município de São naquela Universidade.
Procurador Geral de Justiça Paulo Ouvi elogios à qualidade da publicação
do Tribunal e referências de que aquela
atividade acadêmica estava intimamente
Registro o recebimento de exemplar Cumprimentando-o cordialmente, tenho relacionada com a divulgação do artigo o
da Revista TCMRJ – Tribunal de Contas a satisfação de acusar o recebimento de um qual era o credenciamento para o convite
do Município do Rio de Janeiro, nº 43, exemplar da Revista TCMRJ nº 43, janeiro de que, honrosamente, recebera e aceitara
trazendo importante tema de debate visando 2010, dessa renomada Corte de Contas. prontamente.
ao aprimoramento e agilização do sistema Agradecendo a remessa, colho do Transmito, portanto, a Vossa Excelência,
de controle de contas no País. Informo ensejo para parabenizá-los pela publicação, seus ilustres pares, auditores, servidores e à
que dispensarei minha melhor atenção ao destacando a matéria sobre o Plano Diretor competente equipe da Revista TCMRJ, essa
assunto. para a cidade do Rio de Janeiro. manifestação acadêmica tão longínqua quanto
Senador Epitácio Cafeteira Todos aqueles que se deleitam com uma autêntica, demonstrando que uma das formas
boa leitura, seja através de livros, revistas, éticas de exercer a administração pública é o
jornais, informativos, ou qualquer outro meio aprimoramento profissional e intelectual dos
É com satisfação que agradeço a de comunicação escrita, sabem da existência administradores e a sua divulgação competente
V. Exa a remessa da Revista TCMRJ de toda uma estrutura produtiva que gerou pelos meios adequados, dentre os quais inclui-
nº 43/jan.2010, desse Egrégio Tribunal de aquele veículo de informação e que envolve se o trabalho editorial da publicação com a
Contas do Município. cuidadoso trabalho intelectual e pesquisa, notoriedade especializada da Revista.
Aproveito a oportunidade para envolvendo muitas pessoas. Neste sentido, Aceite V. Excelência e todos os que
parabenizar pela qualidade, variedade e é que cumprimentamos os organizadores colaboram nesta Casa meus elevados
preciosas informações no que à contribuição da publicação que recebemos, seja em cumprimentos e respeito.
para a construção de uma sociedade mais relação à qualidade do material impresso Professor Mestre Wremir Scliar
justa, voltada à valorização da cidadania e e, principalmente com a fidelidade das Diretor da Escola Superior de Gestão e
qualidade de vida da população do Rio de informações ali contidas. Controle Francisco Juruena – TCE-RS

Revista TCMRJ n. 44 - maio 2010 159


Diretoria de Publicações
REVISTA Editora: Vera Mary Passos
Redatores: Denise Cook, José Luciano dos Santos Clemente e
Vera Mary Passos
REVISTA TCMRJ Equipe: Andréa Macedo, Carla Rosana Ditadi, Denise Losso, Meri
Tribunal de Contas do Município do Rio de Janeiro Silva, Priscilla Chuff e Rose Pereira de Oliveira
Ano XXVII – Nº 44 – Maio de 2010 - ISSN 2176-7181 Edição de Arte: Carlos D
Fotografia: Ivan Gorito Maurity
Rua Santa Luzia , 732/8º andar - Centro - Rio de Janeiro - RJ Projeto Gráfico: Carlos D
CEP 20.030-042 Impressão: Stamppa Grupo Gráfico
Tel: (OXX21) 3824.3690 - Fax: (OXX21) 2262.7940 Tiragem: 5.500 exemplares
Internet: www.tcm.rj.gov.br
CAPA: Vista aérea da Praia Vermelha.
E-mail: tcmrj_publicacao@rio.rj.gov.br
Pedidos de exemplares desta Revista pelo telefone 3824-3690 Os artigos assinados são de responsabilidade de seus autores.

TRIBUNAL DE CONTAS DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO

Presidente: Thiers Vianna Montebello Gabinete da Presidência


Vice-Presidente: José de Moraes Correia Neto Chefe de Gabinete: Sérgio Aranha
Corregedor: Jair Lins Netto Assessor Especial da Presidência
Gabinetes: Sérgio Tadeu Sampaio Lopes
GCS-1 - Jair Lins Netto Assessoria de Áudio Visual
GCS-2 - Fernando Bueno Guimarães Bráulio Ferraz
GCS-3 - Antonio Carlos Flores de Moraes
GCS-4 - Thiers Vianna Montebello Assessoria de Comunicação Social
GCS-5 - Nestor Guimarães Martins da Rocha Elba Boechat
GCS-6 - José de Moraes Correia Neto Assessoria de Informática - ASI
GCS-7 - Ivan Moreira Rodolfo Luiz Pardo dos Santos
Procuradoria Especial: Assessoria Jurídica - AJU
Procurador-Chefe: Carlos Henrique Amorim Costa Luiz Antonio de Freitas Júnior
Procuradores: Antonio Augusto Teixeira Neto; Armandina Assessoria de Legislação - ALE
dos Anjos Carvalho; Edilza da Silva Camargo; Francisco Maria Cecília Drummond de Paula
Domingues Lopes
Assessor de Segurança Institucional
Secretaria Geral: Silvio Freire de Moraes José Renato Torres Nascimento
Secretaria de Controle Externo: Marco Antonio Scovino Centro Cultural - CC
1ª IGE - Responsável: Maria Cecília A. de S. Cantinho Maria Bethania Villela
2ª IGE - Responsável: Simone de Souza Azevedo Diretoria de Publicações - DIP
3ª IGE - Responsável: Elizabeth de Souza Mendes Arraes Vera Mary Passos
4ª IGE - Responsável: Lucia Knoplech
5ª IGE - Responsável: Heron Alexandre Moraes Rodrigues Divisão de Biblioteca e Documentação - DBD
6ª IGE - Responsável: Marta Varela Silva Maria Goreti Fernandes Moça
7ª IGE - Responsável: Marcos Mayo Simões Secretaria das Sessões – SES
Elisabete Maria de Souza
Coordenadoria de Auditoria e Desenvolvimento - CAD
Claudio Sancho Mônica Centro Médico de Urgência – CMU
Maria Rita Veríssimo
Secretaria de Atividades Administrativas - SAA
Heleno Chaves Monteiro Revista do Tribunal de Contas do Município do Rio de Janeiro
Ano I , n.1 (set/1981) .- Rio de Janeiro: TCMRJ,
Departamento Geral de Finanças - DGF 1981-
José Netto Leal Júnior ISSN 2176-7181
Departamento Geral de Pessoal - DGP
1. Administração Pública - Controle - Periódicos - Rio de
Alexandre Angeli Cosme
Janeiro (RJ)
Departamento Geral de Serviços de Apoio – DGS
Sergio Sundin CDU 35.078.3(815.3)(05)

160 maio 2010 - n. 44 Revista TCMRJ


Ouvidoria do TCMRJ:
canal de comunicação
com a sociedade.

Recebendo e encaminhando sugestões,


reclamações, denúncias e críticas, a Ouvidoria
do TCMRJ completa mais um ano de serviços
prestados ao cidadão carioca.

Pelo telefone 0800-2820486 ou no site


www.tcm.rj.gov.br, o cidadão poderá colaborar
com o acompanhamento da gestão pública.

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