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FORA DE LUGAR Crianças e Adolescentes no Mercado de Trabalho

Book · February 2000

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3 authors, including:

Jose Sergio Gabrielli de Azevedo Claudia Monteiro Fernandes


Universidade Federal da Bahia Universidade Federal da Bahia
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1

FORA DE LUGAR
Crianças e Adolescentes no Mercado
de Trabalho

1
2

Associação Brasileira
ABET Agradecimentos: Inaiá Maria M. de Carvalho –
de Estudos do Trabalho
CRH-UFBa (autora do capítulo 6)
Coleção Teses & Pesquisas
Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais
da Bahia (SEI)
Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Realização: Associação Brasileira de Estudos do
Sócioeconômicos (DIEESE Regional Bahia)
Trabalho – ABET
Diretoria (1999-2001): Maria Regina Nabuco – IRT- Pesquisa de Emprego e Desemprego da
PUC/MG (Presidente); Liana Carleal – UFPR (1º Região Metropolitana de Salvador (PED-
Vice-Presidente); Maria Cristina Cacciamali - USP
(2º Vice-Presidente); Wilson Ferreira Menezes –
RMS) Coleção Teses & Pesquisas
UFBa (1º Secretário); Carlos Henrique Conseuil – V. 2
IPEA/RJ (2º Secretário); Ana Flávia Machado –
FACE/UFMG (1º Tesoureiro); Sandra Márcia Chagas
Brandão – SEADE (2º Tesoureiro)
Conselho Fiscal: Ivan Guimarães (SABER); Ana
Lúciai Sabóia (IBGE); João Sabóia (IE/UFRJ); José
Sérgio Gabrielli de Azêvedo (UFBa); Tarcísio Araújo
(UFPE); Rosa Maria Marques (PUC/SP) José Sérgio Gabrielli de Azêvedo (FCE-
UFBa)
Promoção: Fundo das Nações Unidas para a Infância
− UNICEF Wilson Ferreira Menezes (FCE-UFBa)
Reiko Niimi
Representante do UNICEF no Brasil Cláudia Monteiro Fernandes (CME-
Ruy Pavan UFBa)
Coordenador da UNICEF para os Estados da Bahia e
Sergipe
Iara Farias, Marília Pastuk e Patrícia Portela
Equipe UNICEF

Execução Técnica e Edição: Universidade Federal


FORA DE LUGAR
da Bahia – Faculdade de Ciências Econômicas -
Departamento de Teoria Econômica
Crianças e Adolescentes no
Mercado de Trabalho
Apoio Financeiro: Secretaria do Trabalho e Ação
Social do Estado da Bahia – SETRAS
César Augusto Rabelo Borges
Governador do Estado da Bahia
Ridalva Correia de Melo Figueiredo Associação Brasileira de Estudos do
Secretaria do Trabalho e Ação Social Trabalho – ABET
Carlos Armando Barreto de Santana
Superintendente de Desenvolvimento do Trabalho
Universidade Federal da Bahia - UFBA
2.000
Financiamento da Pesquisa: Fundo das Nações
Unidas para a Infância − UNICEF
Secretaria do Trabalho e Ação Social do Estado da
Bahia – SETRAS

Organização: Maria Regina Nabuco – ABET

Coordenação Editorial: Wilson Ferreira Menezes


(FCE-UFBa)

2
3

Obra publicada pela Associação Brasileira de Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca da Faculdade
Estudos do Trabalho (ABET) e Universidade de Ciências Econômicas – UFBa
Federal da Bahia (UFBA) em parceria com o
Fundo das Nações Unidas para a Infância A994 Azevedo, J. S. Gabrielli de; Menezes, W. F.;
(UNICEF) e a Secretaria do Trabalho e Ação Fernandes, C. M.
Social do Estado da Bahia (SETRAS). Fora de Lugar. Crianças e
Adolescentes no Mercado de Trabalho/
Auxiliares de Pesquisa: Letícia Koeppel Mendonça Azevedo, J. S. Gabrielli de; Menezes, W. F.;
(Bolsista FCE-UFBa) Fernandes, C. M. Organização: Maria
Regina Nabuco – São Paulo: Associação
Maurício Marins Machado (Bolsista FCE-UFBa) Brasileira de Estudos do Trabalho – ABET,
Geraldo Reimão dos Reis (Bolsista FFCH-UFBa) 2000.
(Coleção Teses & Pesquisas, 2).

Revisão: Antônio Plínio Pires de Moura – FCE- ISBN 85-87209-04-3


UFBa
1. Trabalho infantil – Região
Metropolitana de Salvador 2. Emprego de
Capa e Projeto Gráfico: Portfolium Laboratório de crianças e adolescentes 3. Mercado de
Imagens trabalho. I. Azevedo, J. S. Gabrielli de;
Menezes, W. F.; Fernandes, C. M. II. Maria
Regina Nabuco (Org.). III. Título. IV Série.
Normalização: Joana Barbosa Guedes – FCE-UFBa CDD 331.31

Associação Brasileira de Estudos do Trabalho – ABET Universidade Federal da Bahia - UFBA


º
Av. Brasil, 2.023 – 5 andar – sala 527 Faculdade de Ciências Econômicas
Bairro Funcionários Praça da Piedade, 6 – Centro
(031) 269.3233 – abet@super11.net (071) 263-7542
30.140-002 – Belo Horizonte - MG 40.070-010 – Salvador – BA

3
Fora do Lugar _ Crianças e Adolescentes no Mercado de Trabalho
José Sérgio Gabrielli de Azêvedo (FCE-UFBa) Wilson Ferreira Menezes (FCE-UFBa)
Cláudia Monteiro Fernandes (CME-UFBa)

Índice
ÍNDICE ............................................................................................................................................................................. 4
1. INTRODUÇÃO......................................................................................................................................................... 6
CAPÍTULO 2. CRISE E AJUSTES NOS ANOS 80 E 90 NO BRASIL REDUZEM TRABALHO INFANTIL. .. 27
DETERMINANTES MACRO ESTRUTURAIS.......................................................................................................... 27
Aspectos Demográficos ............................................................................................................................................ 30
CAI A TAXA DE PARTICIPAÇÃO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES NOS 90................................................. 33
OCUPAÇÕES .............................................................................................................................................................. 40
Composição setorial ................................................................................................................................................. 41
Posição na Ocupação ............................................................................................................................................... 44
RENDIMENTO............................................................................................................................................................ 53
Rendimento Familiar ................................................................................................................................................ 53
Rendimento Individual.............................................................................................................................................. 54
Panorama na década de 90 ...................................................................................................................................... 55
JORNADA.................................................................................................................................................................... 59
ESCOLA E TRABALHO ............................................................................................................................................. 60
CAPÍTULO 3 - CARACTERÍSTICAS DO TRABALHO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE NA REGIÃO
METROPOLITANA DE SALVADOR ........................................................................................................................ 66
1. CARACTERÍSTICAS DA PIA .................................................................................................................................... 66
COMPOSIÇÃO DA PIA POR SEXO E COR .......................................................................................................................... 68
A Composição dos Ocupados ................................................................................................................................... 70
Os inativos ................................................................................................................................................................ 79
Os desempregados .................................................................................................................................................... 80
FAMÍLIAS ....................................................................................................................................................................... 81
A distribuição das famílias ....................................................................................................................................... 81
CAPÍTULO 4. ESCOLA E TRABALHO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ................................................ 88
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................ 88
ESCOLARIDADE DAS CRIANÇAS E DOS ADOLESCENTES............................................................................... 88
ESCOLARIDADE DO CONJUNTO DA AMOSTRA ................................................................................................ 92
ESCOLARIDADE DA CRIANÇA ............................................................................................................................. 97
ESCOLARIDADE DO ADOLESCENTE ................................................................................................................ 102
RENDIMENTO E JORNADA DE TRABALHO DAS CRIANÇAS E DOS ADOLESCENTES.............................. 107
Rendimento das Crianças e Adolescentes............................................................................................................... 108
JORNADA SEMANAL DE TRABALHO DAS CRIANÇAS E DOS ADOLESCENTES ........................................... 108
A INFLUÊNCIA DA ESCOLA SOBRE O TRABALHO .......................................................................................... 110
Crianças e Adolescentes uma Visão de Conjunto................................................................................................... 111
Crianças na Escola e no Trabalho ......................................................................................................................... 112
Adolescentes na Escola e no Trabalho ................................................................................................................... 112
PRINCIPAIS OCUPAÇÕES ...................................................................................................................................... 113
Principais Ocupações das Crianças....................................................................................................................... 114
Principais Ocupações dos Adolescentes................................................................................................................. 115
PRINCIPAIS SETORES ............................................................................................................................................ 116
CONCLUSÃO............................................................................................................................................................ 117
Capítulo 5. Principais Resultados .......................................................................................................................... 120
Muda a relação das crianças com a atividade econômica ..................................................................................... 120
Atividade econômica e escolaridade ...................................................................................................................... 122
Composição por sexo, cor e situação migratória ................................................................................................... 123
Ocupações mais precárias para os que continuam na PEA ................................................................................... 125
Poucos ganham e os que ganham recebem pouco.................................................................................................. 126
Família e Trabalho Infantil .................................................................................................................................... 127
5

5
6

1. Introdução

Muitas investigações têm sido realizadas sobre a problemática do trabalho infantil. Cada
vez mais as sociedades contemporâneas percebem os malefícios da precoce inserção de
seus filhos e filhas na atividade econômica. Além de todas as seqüelas na formação
pessoal e psicológica da transformação das crianças em idade de formação em
provedores de rendimentos para si e para suas famílias empobrecidas, existem impactos
negativos na distribuição inter-geracional de oportunidades. Quando se combinam as
informações sobre as exigências de qualificação continuada e escolaridade crescente que
o mercado de trabalho vem desenhando e as possibilidades que estas crianças
precocemente ativas terão no futuro, verifica-se que a escolha pelo aumento da renda
presente pode significar uma estagnação nestes níveis com a evolução da idade das
pessoas.
Além das pesquisas, também cresce o movimento social contrário ao uso do trabalho
infantil, não somente em atividades insalubres e diretamente prejudiciais, mas ampliando-
se a concepção de que as crianças têm o direito de brincar e estudar nas suas adequadas
faixas etárias, sendo socialmente injusto a retirada destes direitos para as crianças
provenientes de famílias mais pobres. Modifica-se o marco regulatório, crescem as
campanhas de denuncias de utilização deste tipo de trabalho, ampliam-se os programas
de apoio as famílias em estímulo à retirada de seus filhos e filhas da pugna diária por
rendimentos e aumenta a exigência da responsabilidade social pelo problema, que não
deve ser circunscrito apenas às decisões familiares, exigindo uma maior participação
direta do estado nesta esfera.
A formulação de políticas públicas para enfrentar a questão, no entanto, encontra
dificuldades na própria complexidade do problema que envolve decisões coletivas no
âmbito da família, condicionadas pelo tipo de inserção que seus adultos têm na vida
econômica, bem como pela estrutura familiar, sistema de valores e acesso à infraestrutura
social disponível, que é diferenciado para os diversos segmentos da sociedade.
Políticas públicas para abordar o trabalho infantil também têm que ser elaboradas
considerando o envolvimento de diversos níveis do estado e de distintos agentes da
sociedade. Não podem ser concebidas exclusivamente como uma ação do estado,
porque sem a interferência que leve a mudanças na decisão familiar os seus impactos
finais sobre a exclusão das crianças da atividade econômica serão limitados.
Quando se amplia o escopo da problemática para incluir os adolescentes, a complexidade
aumenta, na medida em que, para os jovens de 15 a 17 anos, cresce a importância das
variáveis individuais na decisão de oferta de trabalho, assim como as questões referentes
à transição escola-trabalho aumentam de relevância, alterando as relações entre a
ocupação presente e os rendimentos futuros. Enquanto para a criança a atividade
econômica reduz suas chances de acúmulo de escolaridade, para os adolescentes, a
ocupação pode dar um treinamento no trabalho que aumente suas possibilidades de
inserção diferenciada no mercado de trabalho adulto.
Assim, uma avaliação mais ampla da inserção das crianças e dos adolescentes no
mercado de trabalho não pode se circunscrever exclusivamente a esta faixa etária, uma
vez que sua atividade econômica vai estar condicionada por múltiplos fatores que afetam
não apenas o indivíduo, mas também suas relações intra-familiares e o posicionamento
de sua família na estrutura social.
Este trabalho pretende avançar neste tipo de compreensão do problema, voltando-se para
uma região metropolitana, profundamente urbana. No seu capítulo primeiro busca-se uma
avaliação da própria percepção do tamanho da questão e uma revisão das principais

6
7
contribuições para a determinação das variáveis que influem neste tipo de
decisão. O segundo capítulo revisa o conhecimento sobre as modificações no mercado de
trabalho brasileiro de 1980 até a segunda metade da década de 90 para contextualizar as
alterações na utilização de crianças e adolescentes como trabalhadores.
O terceiro e quarto capítulos tratam detalhadamente do mercado de trabalho da Região
Metropolitana de Salvador utilizando-se de duas etapas da Pesquisa de Emprego e Desemprego1,

1
Ver descrição das duas pesquisas no Capítulo 3 e 4.

7
8

Capítulo 1.Trabalho da criança e do adolescente: A


Complexidade do Problema

Introdução
Tanto o trabalho infantil, como a inserção do adolescente no mercado de trabalho sempre
foram temas relevantes para a economia. Nos últimos anos, no entanto, fatores históricos
têm realçado as suas especificidades e complexidades, de forma que a própria dimensão
do problema se alterou.
A imagem do trabalho infantil está geralmente associada a situações lembrando as
crianças geladas nas fábricas do início da revolução industrial ou é relacionada com os
pequenos camponeses ajudando as famílias em pobres povoados da África, Ásia e
América Latina ou então os meninos e meninas catando lixo, quebrando pedra e
vendendo nas ruas das cidades do mundo subdesenvolvido. O trabalho infantil
contemporâneo reflete também estas realidades e expande-se como problemática nos
países mais ricos, atinge o trabalho doméstico e os serviços, além de desempenhar um
crescente papel nas estratégias de sobrevivência das famílias jogadas para abaixo da
linha de pobreza, na maior parte dos países do mundo.
Ao mesmo tempo em que se generaliza, o trabalho infantil também passa a ser
socialmente condenado. A problemática relacionada ao trabalho infantil se amplia,
refletindo uma percepção social dos males desta prática, uma maior consciência das
sociedades sobre os impactos negativos na distribuição de renda entre gerações e pela
intensificação da exclusão social pelo volume crescente de famílias que caem para níveis
de renda inferiores aos limites da pobreza. O problema do trabalho infantil deixa de ser
uma questão relacionada com as decisões familiares e individuais, para inserir-se no
capítulo dos direitos básicos dos cidadãos. Da mesma forma que a escravidão, o trabalho
infantil crescentemente passa a ser considerado como inaceitável.
Conforme o relatório da UNICEF1 mais de 13% das crianças de 10 a 14 anos no mundo
são economicamente ativas. Cerca de metade destas crianças encontram-se na Ásia,
porém há grande presença de trabalho infantil nos países da África e da América Latina.
Apesar de concentrado principalmente nos países de menor renda, também nos países
de maior renda o problema é crescente, expandindo-se nos chamados Tigres Asiáticos,
como conseqüência dos ajustes que estão sendo implementados nos finais destes anos
de 1990.
Os dados da Tabela 1.1 a seguir mostram a grande diversidade das taxas de participação
das crianças de 10 a 14 anos no início da década, ao mesmo tempo em que indicam a
maior incidência do fenômeno nas regiões onde concentram-se os países de menor nível
de renda, particularmente a África e a Ásia, bem como as pequenas taxas de atividade
econômica das crianças nos países Europeus e norte americanos.

8
9

Tabela 1. Taxa de Participação de crianças 10-14 anos 1990

Principais áreas TP (%) Principais áreas TP (%)


geográficas geográficas
Mundo 13.7
África 22.0 Europa 0.3
África Oriental 32.9 Europa Oriental 0.1
África Central 21.6 Europa Norte 0.0
África Norte 5.8 Europa Sul 0.8
Sul da África 4.6 Europa Ocidental 0.0
África Ocidental 24.2
Américas 7.9 Oceania 6.9
Austrália - Nova
Caribe 6.8 0.0
Zelândia
América Central 10.3 23.9
Melanésia
América do Norte 0.0 0.0
Micronésia
América do Sul 12.8 4.8
Polinésia
Ásia 15.3
Ásia Oriental
20.0
Sudeste da Ásia
11.1
Sudoeste da Ásia
14.0
Ásia Ocidental
6.7
* Devido a arredondamento, os totais podem não ser iguais aos seus componentes.
Fonte: OIT (1993). Esta tabela é baseada em: (i) retorno de um questionário especial da OIT enviado a mais de 200 países e
territórios em Abril de 1992, (ii) LABORSTA (STAT banco de dados), (iii) estimativas e projeções preliminares da OIT da
população economicamente ativa, e (iv) United Nations Population Division, Sex and Age Distribution of the World's
Populations: A revision 1992 (1950-2025) (New York, 1992).
Reproduzido de Grootaert and Kunbar, 1994. ]

A incidência de trabalho infantil aumentou consideravelmente nos países da Europa


Central e do Leste Europeu, devido à brusca mudança de economias centralizadas para
economias de mercado e às transformações sociais e políticas ocorridas no período. Ao
mesmo tempo, nos países industrializados, como o Reino Unido e os Estados Unidos1, o
crescimento do setor de serviços e a demanda por uma força de trabalho mais flexível
contribuíram para uma expansão do trabalho infantil. Tal expansão ocorreu, portanto, em
praticamente todo o mundo ocidental.
O Brasil destaca-se como um dos países do mundo com maior incidência de trabalho
infantil. Estudos da Organização Internacional do Trabalho – OIT – demonstraram que as
crianças brasileiras, em meados da década de 80, na faixa de 10 a 14 anos,
apresentaram taxa de atividade em torno de 18%, nível superior ao observado em países
como Indonésia (11,1%), Marrocos (14,3%), Honduras (14,7%), República Dominicana
(15,5%) e Portugal (16,8%), e inferior ao Paraguai (19,9%) e Haiti (24,4%)1.
Apesar da consciência de que o problema é crescente, no entanto, o real tamanho do
mercado do trabalho infantil ainda é controverso. As diferenças entre o que se considera
como trabalho infantil condenável e práticas socioculturais aceitas como normais,
dificultam a precisa mensuração do fenômeno e a formulação de políticas adequadas
para o seu combate.

9
10

Ao lado da concepção de banimento total do trabalho infantil, ainda percebe-se a


existência de posições que buscam distinguir o “bom” trabalho, do trabalho prejudicial à
criança, mesmo que os limites entre os dois tipos sejam bastante tênues e difíceis de
definir precisamente. Elementos antropológicos e formas diferenciadas das oportunidades
de inserção das famílias nos mercados de trabalho acabam condicionando a aceitação de
certas formas de trabalho infantil.
O tamanho do problema é controverso, porque a própria “visibilidade” do trabalho infantil é
determinada histórica e socialmente, havendo enorme confusão entre o trabalhar e o
“ajudar” a família nas atividades domésticas e nos “negócios”, quando o que está em jogo
é a atividade da criança. Nas famílias de menor renda, a opção entre trabalhar e estar
nas ruas valoriza a opção pelo trabalho, mesmo que as crianças estejam sujeitas a longas
jornadas, sem treinamento adequado e com insalubres condições de trabalho. As
informações estatísticas existentes em geral não levam em consideração esta
proximidade entre a atividade econômica e a inatividade das crianças e subestimam o
tamanho do trabalho infantil.
Alguns o consideram importante pelo processo de socialização e afastamento de
situações de risco, na ausência de políticas públicas e falta de perspectivas de retorno em
outras formas de ocupação do tempo das crianças das famílias pobres e/ou discriminadas
racial/etnicamente. Esta diferenciação explica porque a UNICEF afirma em geral que,
independente da posição econômica do país, “é a natureza do trabalho que a criança
realiza – e não o simples fato de trabalhar – que determina se esse trabalho lhe é
prejudicial ou não.”1 A posição da UNICEF na América Latina diferencia-se pela
condenação de qualquer tipo de atividade econômica para crianças até 16 anos de idade,
seja qual for o caráter do trabalho realizado. Coloca-se aqui como meta a erradicação do
trabalho infantil.
As diversas manifestações do trabalho infantil, bem como seus principais determinantes,
estão atrelados principalmente “à exploração da pobreza; à deficiência da educação; e às
restrições impostas pela tradição.”1 Segundo o relatório da UNICEF, o fator que mais
contribui para o trabalho perigoso e debilitante da criança é a exploração da pobreza.
Constata-se que, nas regiões onde a sociedade é caracterizada pela pobreza e pela
desigualdade, tende a aumentar a incidência e a exploração do trabalho infantil.1 Nestes
casos, o trabalho das crianças é considerado fundamental para a manutenção do padrão
econômico da família.
Este capítulo se organiza em três seções. A próxima apresenta uma resenha das
principais mudanças dos marcos regulatórios deste tipo de trabalho tanto do ponto de
vista internacional como no Brasil. A terceira seção aborda as especificidades da oferta e
demanda do trabalho infantil e juvenil, assim como destaca os impactos da renda familiar
e a frequ6encia a escola na oferta e trabalho de crianças e adolescentes, como resultado
de uma decisão familiar, mais do que fruto de uma escolha individual.

Legislação Muda nos Anos 80 e 90


Refletindo as mudanças na percepção social do problema, nas duas últimas décadas
houve um avanço significativo da legislação internacional1 associado a campanhas e
mobilização social para coibir o trabalho infantil, - com várias resoluções das
organizações internacionais, já referendadas por um grande número de países,- que
modificaram drasticamente a percepção sobre as fronteiras entre o trabalho da criança e
a chamada “ajuda nos negócios da família”, ampliando-se a aceitação da idéia de que as
crianças devem se voltar principalmente para as atividade de educação e lazer.

10
11

Já em relação aos adolescentes, as dificuldades crescentes de sua inserção no mercado


de trabalho motivou inúmeros estudos e formulação de políticas específicas visando
facilitar a transição escola-atividade econômica1, estimular a demanda de trabalho dos
adolescentes e adaptar sua formação às novas exigências de qualificação. Legislação
sobre salário de inserção, salário mínimo para adolescentes, programas especiais de
qualificação, mudanças dos sistemas educacionais para aproximar escola-trabalho e
outras políticas públicas têm sido formuladas para responder ao crescente problema de
desemprego juvenil que atinge de forma extremada a maior parte dos países do mundo.
As restrições à utilização da mão-de-obra infantil no Brasil e o avanço da legislação sobre
o assunto, principalmente a partir da década de oitenta, constituem elementos
importantes na análise da estrutura e dinâmica do mercado de trabalho da população na
faixa etária de 10 a 17 anos. A existência de uma legislação coibitiva, conjugada com
fatores sócio-econômicos, são importantes determinantes da retirada da criança do
mercado de trabalho. O papel da legislação vai muito além da simples repressão. Ela
estabelece e modifica padrões e atitudes da sociedade1, o que, de certa forma, garante
que não se retorne aos altos índices de trabalho infantil, que existiram nos países ricos
precursores da Revolução Industrial no final do século passado.
Desde a primeira Convenção Internacional sobre o Trabalho Infantil em 1919 –
Convenção sobre os Direitos da Criança n.º 5 – sobre a idade mínima (14 anos) para o
trabalho da criança na indústria, há uma maior preocupação com os direitos das crianças
e os limites a serem impostos à exploração do trabalho infanto-juvenil. Inicialmente, a
legislação restritiva dedicava-se exclusivamente às atividades industriais, tendo sua
eficácia bastante restringida. Tal legislação acabou por se constituir, no entanto, num
marco de preocupação, que possibilitou o surgimento de uma enorme variedade de idéias
com relação à maneira de atacar as formas inaceitáveis de trabalho infantil, num acúmulo
de experiências e estudos sobre o assunto, que se amplia cada vez mais. A Convenção
n.º 138 da OIT – 1973 – substitui as legislações anteriores, aplicáveis a setores
econômicos específicos.
É estabelecida a idade mínima para a admissão da criança, em qualquer tipo de trabalho,
abaixo da qual se possa comprometer sua saúde, segurança ou seu desenvolvimento
moral. A Convenção sobre Idade Mínima para o Trabalho e sua Recomendação n.º 146
são os mais abrangentes instrumentos internacionais sobre o trabalho infantil, pois
constituem um forte apelo aos diversos países na abolição do trabalho das crianças em
qualquer setor econômico, antes dela completar a idade estabelecida para a conclusão da
educação obrigatória1.
As Nações Unidas definiram o ano de 1979 como Ano Internacional da Criança,
financiando e promovendo inúmeros trabalhos sobre a questão, o que se evidencia no
aumento das investigações científicas sobre o tema de 1978 a 1985, além da maior
mobilização da sociedade e dos governos sobre a questão em seus aspectos mais
amplos, envolvendo o trabalho infantil, a nutrição, as relações familiares, a escolaridade, o
lazer e a distribuição de renda.
Finalmente a Convenção sobre os Direitos da Criança de 1989, já ratificada pela quase
totalidade dos países, reconhece em seu artigo 32 “o direito da criança a ser protegida
contra o trabalho que ameace sua saúde, sua educação ou seu desenvolvimento”.1 Em
1996, a OIT propõe a discussão de uma nova convenção sobre o trabalho infantil que
envolve situações de risco, ou a eliminação das formas mais intoleráveis de trabalho
infantil.

11
12

O avanço da legislação em relação ao tratamento a ser dispensado à criança e ao


adolescente constitui etapa indispensável para a erradicação do trabalho infantil, mas é
necessário que tais leis sejam cumpridas e que as ratificações sejam transformadas em
ação. Desta forma, um ano após a adoção da convenção de 1989, surgiu a Declaração
Mundial sobre a sobrevivência, a proteção e o desenvolvimento da criança, e um Plano de
Ação para implementar a Declaração na década de 90.
No Brasil, antes da Constituição de 1988, vigorava o limite de doze anos para o ingresso
no mercado de trabalho. Em 1987, o Governo Federal instituiu o Programa Bom Menino,
decreto-lei que dispensava empregadores de encargos sociais para a contratação de
crianças e adolescentes carentes entre 12 e 18 anos1 e obrigava as empresas a
possuírem em seus quadros de funcionários certa proporção de adolescentes.1 O
tratamento dado à questão do trabalho era de incentivo, e não de controle e tentativa de
sua erradicação.
A legislação brasileira sobre trabalho infantil avançou principalmente a partir da
Constituição de 1988, que proíbe o trabalho da criança com idade inferior a 14 anos, salvo
na condição de aprendiz para os meninos e meninas de 12 a 14 anos. O Estatuto da
Criança e do Adolescente, que revogou as disposições do Programa Bom Menino, ratifica
a proibição do trabalho da criança com menos de 14 anos, havendo ai uma defasagem de
dois anos de acordo com a última recomendação da OIT (1973), que solicita aos países
membros que elevem o limite mínimo de idade para o trabalho dos mais jovens para 16
anos. A tendência da legislação brasileira a abrir exceções à proibição da utilização de
mão de obra infantil é confirmada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente ao permitir o
trabalho de criança com menos de 14 anos na condição de aprendiz: “...o processo de
exclusão da criança do mercado de trabalho nos países mais desenvolvidos não se
encontra presente em nosso país”.1 No entanto, o Estatuto é o instrumento mais completo
até então elaborado para combater o trabalho infantil e é considerado indispensável pela
UNICEF e outras entidades atuantes no Brasil.
A Constituição brasileira fixava a idade mínima básica aos 14 anos de idade para
"qualquer trabalho" e a idade mínima superior a 18 anos para trabalho insalubre, perigoso
e noturno (Constituição, art. 7º, inc. XXXIII). Deixava em aberto a idade mínima inferior
para o trabalho do adolescente "na condição de aprendiz", uma figura criada pela
legislação para, teoricamente, fomentar a formação profissional, Tal condição é
condenada por especialistas em legislação sobre trabalho infanto-juvenil por ser
considerada um processo prematuro de aprendizado para o trabalho, anterior a uma
consolidação psicológica e da base de conhecimentos gerais do jovem de 12 a 14 anos.
O texto constitucional disciplinava apenas o trabalho executado na condição de relação
empregatícia, com subordinação a outrem mediante pagamento. Não estão incluídas
outras modalidades de trabalho, tais como o trabalho em regime familiar, o trabalho
associativo ou o trabalho em escolas profissionais.1
Com a mudança constitucional aprovada em dezembro de 1998, foi proibido o trabalho
para jovens com menos de 16 anos no Brasil. A mudança faz parte da emenda
constitucional número 20, que alterou a idade mínima para aposentadoria. Os jovens de
14 e 15 anos que já estavam trabalhando não foram afetados pela mudança
constitucional. A emenda não é retroativa. Mudou também a idade mínima para a
condição de aprendiz; o aprendizado passou a ser permitido para jovens entre 14 e 16
anos. As empresas que contrataram jovens com menos de 16 anos desde o dia 16 de
dezembro de 1998 estão sujeitas a multa.1
Desde o início dos anos 90, organizações ligadas ao combate ao trabalho infantil
reivindicam a elevação da idade mínima do trabalhador para 15 anos, como prevê a
12
13

convenção 138 da Organização Internacional do Trabalho. Apesar de ser uma


reivindicação das entidades, a mudança não foi bem recebida por todas, pois pode jogar
os jovens de 14 e 15 anos no mercado informal de trabalho, com conseqüências
negativas para eles e para a Previdência Social. A mudança poderia também afrouxar o
combate ao trabalho infantil. A mudança teria mais pontos positivos se tivesse sido
acompanhada de uma nova legislação educacional, elevando a obrigatoriedade da oferta
de ensino pelo Estado até os 16 anos, e de ações políticas de urgência nesta área.
O artigo 64 do Estatuto da Criança e do Adolescente fixa a idade mínima inferior a 12
anos para o trabalho do adolescente na condição de aprendiz, sujeito, no entanto, a duas
condições: freqüência à escola em nível de primeiro grau e serviços de natureza leve, não
nocivos à saúde e ao desenvolvimento normal.
Na noção de trabalho infantil definida pela legislação, não se compreende o trabalho
executado "no âmbito residencial sem fins lucrativos"1, que deve ser compartilhado por
todos os membros da família, e do qual todos seriam beneficiários. A participação nesses
afazeres faria parte do "processo educativo" na família. A Constituição não fixa idade
mínima para as modalidades de trabalho não empregatícias, levando a conseqüências
jurídicas várias. Estes trabalhos estão fora do âmbito da fiscalização do Ministério do
Trabalho e da competência do Ministério Público do Trabalho. "Cabe ao Conselho Tutelar
fiscalizá-lo e ao Ministério Público zelar pelo respeito às normas específicas e genéricas
que as regem. A competência para julgar os conflitos decorrentes das ações destes
trabalhos é do Juízo da Infância e da Adolescência".1
Na literatura sobre os condicionantes da inserção predominam os estudos que enfatizam
as influências das condições de oferta de trabalho, que forçam as famílias a integrarem
suas crianças e adolescentes na busca de rendimentos. Poucos estudos destacam as
características da demanda, que aproveita-se das possibilidades de mão de obra dócil,
disposta a trabalhar com salários inferiores aos dos adultos.
No que se refere aos dois segmentos da população considerados neste trabalho - as
crianças e os adolescentes - torna-se ainda mais complexa a determinação dos
elementos de oferta e demanda de um potencial mercado para estes trabalhadores. Em
primeiro lugar, as crianças deveriam ser consideradas como inativas, em fase de
formação e portanto livres de sujeição à racionalidade econômica de prover a família com
rendimentos. No entanto, a pobreza se sobrepõe a estas considerações intertemporais e
de valores éticos e humanitários, apesar das controvérsias a respeito da questão. No que
se refere aos adolescentes, os processos de transição da escola para o trabalho ampliam
complexidades do processo decisório, introduzindo elementos de incerteza crescente em
decisões sobre o estado de atividade dos indivíduos.

Especificidades de Crianças e Adolescentes


Apesar do recrudescimento da crise econômica nos anos oitenta, existe consenso na
literatura de que não houve explosão do trabalho infantil. O crescimento das taxas de
participação durante a década de 80 se dá entre as faixas de idade mais elevadas,
consideradas as mais significativas, produtiva e qualitativamente, para o mercado de
trabalho. Esse movimento contraria o senso comum que determina que, em períodos
recessivos, há inserção de indivíduos jovens e mal qualificados no mercado de trabalho
em busca de emprego.
A análise da inserção dos membros da família na força de trabalho na década de oitenta
aponta para o aumento da participação do trabalho feminino. A entrada da mulher no
mercado de trabalho, antes inativa mesmo em famílias de renda menos elevada, pode ser
vista como principal determinante da estabilidade da proporção de trabalhadores jovens,
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comparativamente à dos adultos, além das oscilações próprias da dinâmica do mercado


de trabalho.1 Cervini & Burger (1991) avaliam que, em termos gerais, as crianças e
adolescentes economicamente ativos são mais afetados negativamente nas crises ou na
desaceleração econômica do que o conjunto da PEA; em compensação este grupo reage
mais rápido às condições favoráveis do mercado.1
O crescimento da proporção de adolescentes na força de trabalho permite supor que a
continuidade do processo de urbanização das regiões metropolitanas, bem como a
existência de mercados demandantes de mão-de-obra infanto-juvenil, explicam em parte
o incremento das taxas de participação para a categoria da população na faixa etária de
15 a 17 anos.
Cabe ressaltar que, na literatura sobre o mercado de trabalho infantil urbano, não há
conformidade acerca dos distintos fatores que determinam a entrada da criança e do
adolescente no mercado de trabalho. Diversos autores afirmam, no entanto, que o nível
de renda familiar tem influência irrefutável na participação das crianças na força de
trabalho. Os dados apresentados mostram que quanto mais pobres as crianças, maior é a
sua taxa de participação. Para as crianças de 10 a 14 anos, contatou-se que a taxa de
atividade dos mais pobres era, no ano de 1989, quatro vezes maior que a dos mais
ricos.1
O trabalho urbano infanto-juvenil tem sido tolerado pela sociedade e até mesmo
incentivado, na medida em que não representa apenas uma estratégia das famílias para a
sua sobrevivência, mas um item favorecedor da profissionalização dos adolescentes, ou
até mesmo como solução para a marginalidade. Além disso, o trabalho infanto-juvenil é
diferentemente concebido e utilizado dependendo dos diferentes contextos familiares,
culturais e econômicos em que está inserida a criança.
A análise da exploração da criança deve ser feita levando-se em conta a estrutura familiar
e a posição que estas e sua família ocupam na estrutura social. Cervini & Burger (1991)
dizem que a questão de uma criança trabalhar ou não, é condicionada, em uma vertente,
pela posição que esta ocupa na estrutura familiar e da posição que essa família ocupa na
estrutura social mais ampla e, em outra vertente, pelas próprias condições do mercado de
trabalho. Lopes & Goltschalk1, analisando mais a fundo a composição familiar, afirmam
que as taxas de inserção no mercado de trabalho dos jovens de até 17 anos que
pertencem a famílias chefiadas por mulheres são mais altas do que as dos jovens de
qualquer outro tipo de estrutura familiar.
Dentre as diversas teses para explicar a inserção da criança e do adolescente na força de
trabalho, destaca-se ainda a acessibilidade aos serviços públicos de educação. De acordo
com Cervini & Burger (1991), os principais fatores que determinam, condicionam a
decisão familiar para inserir ou não da criança no mercado de trabalho estão a
acessibilidade, a qualidade e os custos da educação.1 A OIT1 destaca que a alternativa
isolada mais eficaz para conter o fluxo de crianças em idade escolar que são inseridas na
força de trabalho é a ampliação e a melhoria do sistema educacional, de modo a atraí-las
e mantê-las na escola. Alguns autores colocam a educação como o fator isolado mais
importante para a eliminação do trabalho infantil.
Ao estudo dos fatores que determinam a incorporação dos adolescentes ao mercado de
trabalho, agregam-se fatores já mencionados para a exploração da criança, além de
outros elementos mais específicos. A influência do nível de rendimento familiar sobre a
participação dos adolescentes na força de trabalho, no entanto, é menos marcante, na
medida em que o trabalho do adolescente deve ser analisado, principalmente, sob a ótica
da existência de um mercado de trabalho que absorva pessoas ainda muito jovens

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interessadas em trabalhar e inserir-se no mercado pela primeira vez. Isto acontece


porque, a partir dos 14 anos, o trabalho é permitido pela legislação e a inserção do jovem
no mercado de trabalho assume significado distinto para os próprios adolescentes e para
sua família. O trabalho da criança é mais sensível a pobreza, enquanto o trabalho do
adolescente está mais associado a atração do mercado de trabalho, à necessidade de
transição para a vida adulta e aos níveis de rendimento ali praticados, visto que a renda
auferida pelo jovem já não mais tem como objetivo principal a complementação da renda
familiar, mas o atendimento das suas necessidades individuais de consumo.
Assim, a inserção das crianças e adolescentes no mercado de trabalho urbano, do ponto
de vista da caracterização da ocupação desta parcela da população, tem suas
especificidades, apresentando características distintas dadas a idade e a situação de
domicílio dos mais jovens, bem como a condição econômica dos demais membros da
família. Conforme citação de Bairros, “sexo, idade e raça articulam-se de forma a produzir
níveis diversos de inserção na força de trabalho” 1.
A análise da inserção dos mais jovens no mercado de trabalho, em função da situação de
pobreza das famílias e a importância da contribuição proporcional do rendimento
individual de cada criança e adolescente à renda familiar, deve ser feita sem a agregação
do rendimento desta criança no total do rendimento familiar, na medida em que quanto
maior for a contribuição da criança em relação à dos adultos, mais oculta ficará a relação
entre a renda familiar e o trabalho infantil.
O diversos estudos e pesquisas sobre mercado de trabalho infantil nos mostram que a
taxa de participação tende a crescer de acordo com a idade, sendo, portanto, menor para
as crianças do que para os adolescentes. Além disso a taxa de atividade das meninas é,
em geral, bem mais baixa que a dos meninos, seguindo o mesmo movimento dos adultos.
As diferenças, no entanto, variam de acordo com cada contexto regional. As diferenças
entre gênero diminuem acentuadamente quando incluída na taxa de atividade de crianças
e adolescentes dedicados a afazeres domésticos, caraterística principal de mercados de
trabalho menos estruturados; nestas atividades, a taxa de atividade das meninas é
significativamente maior.
Um outro caminho para diferenciação da inserção das crianças e adolescentes no
mercado de trabalho é a caracterização da ocupação segundo a cor da pele. Conforme
estudos diversos, no conjunto do Brasil urbano, as crianças e os adolescentes negros
trabalham proporcionalmente mais que os demais. Bairros1, discutindo a situação na
RMS, afirma que 59% das crianças e adolescentes negros ocupados no ano de 1985
declararam ter começado a trabalhar antes dos 14 anos de idade, período importante
para a educação básica. Cervini & Burguer1 explicam que as diferenças entre brancos e
negros são maiores para as crianças do que para os adolescentes, porque as crianças
são mais atingidas pelas desigualdades sócio-econômicas que existem por trás das
diferenças raciais.

Condicionantes da Oferta
As controvérsias sobre a oferta de trabalho remontam aos primórdios da teoria econômica
e constituíram uma importante temática nos debates entre clássicos e keynesianos, na
primeira metade deste século. Alguns economistas questionam a própria existência de tal
função de oferta de trabalho, deslocando a importância do problema para os
condicionantes da demanda por trabalhadores por parte das firmas empregadoras. Do
ponto de vista macroeconômico, a questão é relevante pelas implicações sobre a
determinação dos níveis de equilíbrio do mercado de produtos e do mercado de trabalho,
enquanto, nos estudos setoriais, a discussão ganha relevância na identificação dos

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processos de alocação do tempo das famílias e das pessoas e na modelagem de


problemas referentes a avaliação de políticas públicas relacionadas com o emprego e a
renda.
Os estudos sobre a oferta de trabalho das crianças e dos adolescentes destacam
variáveis relevantes no que se refere à capacidade da unidade familiar tomar decisões, no
que relaciona com a estrutura de gastos e níveis de renda familiar e na substituição ou
complementaridade entre trabalhar e estudar. Levinson (1991)1, por exemplo, sugere três
tipos de “efeitos” influindo nesta decisão: o efeito noses to wipe, que define os encargos
domésticos, o mouths to feed, que indica as necessidades de consumo da família e o
efeito hands to lend que explicita os membros que podem contribuir para os rendimentos
da família.
Esta crescente atenção com os problemas do trabalho infantil e as formas de inserção
dos adolescentes no mercado de trabalho enfatiza, - com maior importância no caso das
crianças, - os elementos relativos às decisões de oferta de trabalho como significativos
indicadores da dimensão e profundidade do tema, deslocando as investigações da
decisão individual para o nível familiar, onde combinam-se, de forma complexa1, opções
relativas à alocação do tempo presente entre os seus membros, ajustando-se
simultaneamente as decisões sobre o consumo, a decisão intertemporal de investir na
educação e a inserção na PEA.
Desta forma, a entrada das crianças e adolescentes na PEA resulta de escolha sobre
quem deve fazer o que e qual a distribuição do tempo em cada uma das atividades.
Envolve questões referentes à Taxa de Participação e ao tipo de inserção que eles
demandarão do mercado de trabalho. As crianças tendem a buscar ocupações com
menor jornada e os adolescentes ocuparão postos tendencialmente com menor nível de
rendimentos do que mesmos postos quando ocupados por adultos.
Como já mencionado, um dos pontos controversos refere-se ao próprio conceito da oferta
de trabalho como resultante de uma decisão individual que maximiza uma função objetivo
sujeita a restrições, ajustando-se a uma situação de ótimo com a escolha entre lazer e
trabalho, dados os preços e os níveis de remuneração1. Além da problematização do
próprio processo de escolha, no que se refere às possibilidades reais de opção nos
contextos institucionais predominantes na economia atual, pode-se também questionar a
pertinência de uma decisão individual, principalmente no que se refere ao trabalho infantil.
Se a decisão não é individual, mas resulta de opção da unidade familiar, são introduzidos
problemas novos que se referem às hierarquias de decisão, as regras de distribuição dos
encargos entre os membros da família e apropriação dos ganhos de renda corrente e
futura.

Trabalho Infantil e Decisão Familiar


No bojo do movimento de crescente mobilização em torno das mudanças na percepção
social das dimensões das especificidades do trabalho infantil e dos adolescentes, bem
como dos benefícios e dos custos associados à inserção precoce no mercado de
trabalho, crescem também os estudos sobre os condicionantes da entrada das crianças
na População Economicamente Ativa. Percebe-se que a inserção precoce das crianças
no mercado de trabalho tem um grande impacto na mobilidade social intergeracional,
condenando as famílias mais pobres de hoje a uma situação futura também bastante
precária, uma vez que suas crianças perdem oportunidades de qualificação, que
poderiam melhorar suas formas de entrada na atividade econômica, viabilizando algum
grau de ascensão social.

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Também é controversa a própria definição de criança e adolescente. Na literatura


americana1, os jovens – youth – são considerados de 16-24 anos, enquanto os
adolescentes – teenage – ficam na faixa de 16 a 19 anos. Na legislação brasileira1, as
crianças são definidas como aquelas pessoas até 12 anos incompletos, enquanto os
adolescentes têm de 12 a 18 anos. Neste trabalho, consideramos adolescentes as
pessoas na faixa dos 15 a 17 anos e as crianças de 10 a 14, constituindo os adultos
aqueles com mais de 18 anos. Esta estratificação serve muito mais a “critérios
operacionais práticos”1 do que tentar responder a questões teóricas referentes aos papéis
desempenhados pelas pessoas em cada uma destas faixas, ainda que as investigações
empíricas busquem identificar diferenças de comportamento de cada grupo no que se
refere as variáveis relevantes para a inserção no mercado de trabalho.
O deslocamento da decisão do indivíduo para a família permite a consideração de
variáveis sócio - culturais associadas com o custo de reprodução da força de trabalho e
tem levado à formulação de modelos de comportamento da alocação intra-familiar dos
recursos de tempo e orçamentários. A tendência dominante destes estudos tem sido a
modelação desta decisão como um processo de escolha, resultante de uma capacidade
da unidade familiar decidir sobre o tempo de trabalho dos seus membros e a sua
especialização relativa, criando-se uma hierarquia etária1 que legitima a possibilidade dos
adultos desempenharem um importante papel na determinação da distribuição do tempo
das crianças entre o ajudar nos afazeres domésticos, o tempo para estudar e o tempo
para trabalhar. É no contexto da unidade familiar que as decisões sobre quem estuda,
trabalha ou ajuda na casa e quanto tempo será destinado a cada uma destas tarefas se
define. No que se refere aos adolescentes, esta precedência da unidade familiar perde
força relativa, porque aumentam os elementos de atração do mercado de trabalho sobre
este segmento, particularmente no que se refere aos elementos de demanda de mão de
obra pelas empresas.
Não há concordância geral sobre a necessidade de explicitação dos micro fundamentos
destas decisões, uma vez que alguns autores têm considerado que fenômenos de
natureza agregada podem refletir condições invariantes externas com maior influência
sobre o conjunto de agentes do que as opções racionais individuais. Hildenbrand1 , por
exemplo, em recente estudo teórico mostrando como as especificações de modelos
comportamentais individuais não desempenham papel indispensável na formulação de
hipóteses de grandes agregados, conclui pela relevância de indicadores da distribuição de
renda para explicar movimentos de variáveis aparentemente relacionadas com
comportamentos individuais ou familiares.
O processos de desinstitucionalização das relações familiares se intensifica nos últimos
anos, com a queda da taxa de fertilidade, aumento do número de filhos nascidos fora dos
casamentos e separações, caracterizando os últimos 25 anos como de declínio da família
nuclear1, principalmente nos países nórdicos e anglo-saxãos. Esta redução do papel da
família nuclear nestes países tem se associado a uma crescente importância das
transferências dos estados para as famílias na responsabilização por seus membros, uma
vez que a coesão interna das famílias diminui, reduzindo as transferências intra-
familiares, ampliando o número de crianças que são levadas ao mercado de trabalho.
Por outro lado, a literatura menciona também os impactos de mudanças na estrutura das
famílias como um dos elementos desagregadores da solidariedade intra-familiar que
resulta em um aumento da oferta de trabalho das crianças e adolescentes, quando as
famílias são chefiadas por um único adulto, seja o pai ou principalmente a mãe.
As relações entre o tamanho da famílias e a oferta de trabalho infantil são condicionadas
pela estrutura e tamanho da família, pelo potencial produtivo das crianças e pelo grau de
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substituição do trabalho dos pais pela criança1. Este conjunto de condicionantes do


comportamento familiar se modifica de acordo com elementos antropológicos e sociais
que definem o próprio conceito de transição da infância para a situação de adultos. Nas
sociedades ocidentais predomina claramente o conceito cronológico, que não é
universalmente determinante. Outros critérios como experiência, origem familiar,
episódios específicos da vida individual podem sobrepujar a idade na definição do que é
ser criança ou adulto1.
Também o sexo das crianças altera a sua forma de inserção no mercado. As diferenças
naturais de sexo são configuradas socialmente em distinções de gênero, que determinam
sobremaneira as possibilidades de transição da inatividade infantil para a atividade
econômica dos adultos. A Taxa de Participação1 do adulto homem reflete a decisão
tradicional da estrutura familiar patriarcal, associada a idéia do homem provedor dos
recursos para a família, enquanto a das mulheres vem se alterando substancialmente nos
últimos tempos em todo o mundo, refletindo as novas formas de inserção das mulheres
na sociedade moderna. Nos primórdios da industrialização, a participação das mulheres
na atividade econômica das famílias dos proletários era também bastante expressiva,
ainda que com o desenvolvimento da grande indústria manufatureira esta participação
tenha declinado, até os dias presentes, quando começa a aumentar de novo.
Adolescentes homens e mulheres reproduzem estes comportamentos em linhas gerais,
com especificidades decorrentes da utilização deste tempo de trabalho, em substituição
ao trabalho doméstico da mãe.
Na maioria dos países, as questões étnicas e raciais também devem ser destacadas
como importantes condicionantes das formas de inserção das crianças e adolescentes na
atividade econômica. As crianças de origens étnicas e raciais dominadas1 são
discriminadas nos sistemas escolares e nas oportunidades de absorção em atividades
consideradas menos danosas para elas. Além do mais, as expectativas familiares em
relação aos retornos dos processos tradicionais de formação de mão de obra são
distintos, refletindo as experiências dos pais e avós que vivenciaram pequenas ascensão
social com base nestes procedimentos educacionais1.
Modelar a entrada da criança e do adolescente na PEA como resultante de uma decisão
familiar pressupõe que esta unidade tem mecanismos de coesão interna que permitem
determinar a distribuição dos encargos e benefícios entre os seus membros. Na literatura
pertinente1, dois modelos de comportamento são geralmente mencionados - aqueles que
estabelecem uma relação “altruística” entre os membros da família e aqueles
“individualistas”. Nos primeiros, haveria um certo distanciamento da maximização dos
objetivos individuais dos adultos, que redistribuíram suas rendas para as crianças, tendo
diferentes implicações para as transferências inter-geracionais. Os “individualistas”
voltam-se fundamentalmente para o curto prazo, exigindo que suas crianças entrem
precocemente no mercado de trabalho como contribuintes para a renda corrente.
O uso de modelos de barganha, como jogos cooperativos ou não, para descrever a
relação entre os membros da família aumenta o uso preditivo destes modelos, apesar de
exigirem uma série de formulações de hipóteses ad hoc sobre objetivos e regras de
comportamento dos componentes da família.
Além dos micro fundamentos da decisão familiar, o contexto macroeconômico é também
extremamente relevante. Não existe um posicionamento consensual a respeito das
relações entre a inserção das crianças e adolescentes no mercado de trabalho e o ciclo
econômico. Nos momentos recessivos, a oferta de trabalho de crianças e adolescentes
tende a aumentar uma vez que o nível de renda familiar tende a ser menor e, via efeito-
renda, a família precisa inserir no mercado seus membros em idade de formação, para
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garantir o nível de consumo prévio. Este argumento deve ser matizado, no entanto, uma
vez que a entrada da criança e do adolescente na PEA irá provocar uma alteração na
estrutura de consumo familiar, reduzindo a renda imputada à contribuição que eles davam
na supervisão doméstica
Por outro lado, a inserção de crianças e adolescentes também reflete um efeito-
substituição sobre a demanda de trabalho. A crise desloca trabalhadores adultos e de
mais idade para a desocupação, colocando-os em disponibilidade para o trabalho,
concorrendo com as crianças e adolescentes entrantes. Este efeito faz com que, nos
momentos recessivos, haja mais dificuldades da inserção precoce no mercado de
trabalho, porque a demanda é satisfeita com a oferta de trabalhadores em maior idade,
dispostos a substituir as crianças em suas ocupações. Isto talvez seja uma das
explicações da volatilidade cíclica das taxas de desemprego dos adolescentes

Renda Familiar e Trabalho Infantil


No curto prazo, um dos determinantes fundamentais para a oferta de trabalho das
crianças é a renda dos adultos da família, apesar dos questionamentos1 existentes sobre
a dimensão do impacto desta variável na sua inserção no mercado de trabalho. Não
parece haver dúvida que a maior parte das crianças economicamente ativas provêm de
famílias com menor nível de renda, ainda que os dados agregados pareçam sugerir a
importância de outras variáveis neste segmento da oferta de trabalho. Também existem
algumas indicações que, entre as famílias de menor renda, são aquelas com rendas
ligeiramente mais altas que mais têm crianças participando da PEA1, entre outras coisas
porque as crianças também contribuem para a renda familiar, numa proporção mais
significativa do que entre as famílias mais ricas.
Uma outra perspectiva pode ser colocada no questionamento da própria existência da
oferta de trabalho, uma vez que não haveria a opção entre trabalhar e não trabalhar, já
que as possibilidades de inserção e de garantia de rendimentos dos adultos já teriam se
esgotado. Às família pobres só restaria a estratégia de extensão das fontes de renda com
a entrada de seus filho(a)s no mercado de trabalho. Neste caso, a renda dos adultos seria
a principal determinante da taxa de participação das crianças e adolescentes.
A renda dos adultos é o principal componente da renda familiar que deverá ser repartida
em termos de consumo e poupança, assim como entre os membros da família. Os
modelos tradicionais desta literatura1, em geral consideram a decisão familiar em duas
etapas, sendo uma primeira aquela que aloca uma parcela da renda entre os indivíduos e
a outra que postula uma escolha racional entre os diversos usos destes recursos por
parte de cada um dos membros da família.
No contexto familiar, a renda é uma variável fundamental, mas não exclusiva na
determinação da oferta de trabalho infantil, uma vez que o elemento relevante para os
processos decisórios é o gasto familiar, que depende fundamentalmente da estrutura de
consumo, que altera-se por razões sócio - culturais e é bastante influenciada pelo
tamanho da própria família. Com os mesmos níveis de renda, famílias com estruturas e
tamanho diferenciados têm comportamento distinto no que se refere aos seus gastos,
alterando suas decisões de alocação de tempo entre seus membros, influindo de forma
diferenciada a inserção de suas crianças no mercado de trabalho.
As transferências intra-familiares de renda desempenham um papel extremamente
importante na configuração da estrutura distributiva da renda da sociedade1,
especialmente quando as taxas de desemprego e de inatividade tendem a aumentar,
intensificando a carga de dependência1 sobre os ocupados, sejam eles os adultos, sejam
as próprias crianças e adolescentes. Estas transferências, que refletem valores de
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solidariedade entre os membros da família estão condicionadas pelos níveis de


rendimentos e pelo sistema de valores socio-antropologicamente determinado, incluindo
as opções sobre as expectativas de inserção futura de suas crianças na vida econômica.
No que se refere aos adolescentes, a importância da variável renda dos adultos da família
perde influência na medida em que suas possibilidades de inserção se associam também
ao uso de seus rendimentos no atendimento de suas necessidades individuais de
consumo que, se incorporados à cesta de consumo da família, poderiam superar a
contribuição marginal ao rendimento familiar. Espera-se assim que a renda do
adolescente seja suficiente para cobrir os acréscimos de seu consumo e ainda gere um
excedente para ajudar a renda familiar, naqueles casos em que esta é insuficiente para
cobrir toda a despesa básica dos seus membros.

Estrutura Familiar e Trabalho Infantil


Outro conjunto de variáveis importantes sobre a oferta de trabalho de crianças e
adolescentes relaciona-se com a estrutura familiar1. Há uma clara tendência internacional
de redução da família tradicional com o homem provedor de recursos, a mulher cuidando
dos afazeres domésticos e as crianças estudando. Em primeiro lugar, este tipo de
relacionamento familiar nunca foi predominante no mundo, apesar de sua prevalência na
Europa anglo-saxã e EUA, durante as décadas posteriores à II Guerra.
O número de famílias com apenas um adulto tem aumentado neste final de século,
especialmente com o crescimento das famílias chefiadas por mulheres. O fenômeno não
parece ser novo no Brasil. Existem indicações1 que mostram um crescimento das famílias
chefiadas por mulheres no Brasil, passando de 14% das famílias urbanas de 1960, para
15,7% em 1970, 18,7% em 1980 e 20,6% em 1986.
Estas famílias chefiadas por mulher tendem a ter mais crianças no mercado de trabalho1
e são muito heterogêneas entre si, porém tendem a se concentrar nos segmentos de
menor renda e com piores condições de ascensão social1. Há estudos no Brasil,
referentes a década de 801, que estimam uma taxa de participação de crianças três vezes
maior nas famílias sem o pai, ainda que esta proporção caia em relação aos adolescentes
e às regiões metropolitanas mais ricas.
Esta modificação das relações familiares provoca nos adolescentes dois tipos de
impactos. Nas famílias maiores, eles são levados a incorporar-se ao mercado de trabalho
mais cedo, não somente para complementar a renda familiar, mas também porque
passam a ser responsáveis por uma parcela maior do consumo da família mais reduzida.
O outro impacto tem efeito contrário, uma vez que, dada a redução do tamanho da família
e a queda de fertilidade, a adolescência pode ser sustentada mais pela renda dos adultos,
nas famílias com duplo wage earner ou através de transferências interpessoais, como no
sistema de pensões1.
Por outro lado, se há relativo consenso a respeito da tendência de redução do tamanho
médio das famílias, há intenso debate1 sobre o relacionamento entre o tamanho e a oferta
de trabalho das crianças. Alguns autores sugerem que nas famílias nucleares, quando há
redução de rendimento e seus membros adultos já estão empregados, só resta a criança
para adicionar outra fonte de ganho para a família. Outros autores afirmam, ao contrário,
que as famílias extensas tendem a ter mais crianças trabalhando, ainda que haja o
reconhecimento da existência de economias de escala na produção doméstica, que
reduziria o custo adicional das crianças à medida em que a família cresce, aumentando a
renda real das famílias pela queda do custo per capita1.

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Outros1 apontam que crianças em famílias grandes tendem a freqüentar menos a escola,
ter um pior desempenho escolar e apresentam uma tendência maior de entrada precoce
no mercado de trabalho. Quando se analisam os efeitos conjuntos do desempenho
escolar e da taxa de participação, há alguma evidência1 de que há certa especialização
nas famílias maiores, com algumas crianças saindo-se melhor na escola e outras
entrando no mercado de trabalho. Os processos de designação das diferentes
oportunidades entre os vários componentes da família, no entanto, ainda é desconhecido.
É claro que há uma grande correlação entre o tamanho da família e a presença de
crianças menores, uma vez que se o tamanho estiver relacionado com a inclusão de
membros adultos na família, não há porque destacar os seus impactos sobre o trabalho
infantil e adolescente. O efeito relevante é do crescimento do tamanho da família com a
presença de filho(a)s menores, que exigem maior atenção, deslocam força de trabalho
adulta para sua supervisão e reduzem a disponibilidade de horas para os já ocupados.
Isto é particularmente relevante para a oferta de trabalho das mulheres adultas1, no
contexto europeu e americano. Nos EUA, há uma forte correlação negativa, ainda que
declinante, entre a oferta de trabalho de mulheres adultas e a presença de crianças
menores na unidade familiar1. Estes estudos enfatizam a relação inversa entre o salário
dos cônjuges e a oferta de trabalho das mulheres, assim como o aumento da importância
da elasticidade da oferta aos próprios salários das mulheres.
Ainda que também haja possibilidade da ocorrência do mesmo fenômeno no Brasil,
controlando pelo nível de renda, a presença de empregada doméstica no domicílio pode
significar uma contra-tendência aos efeitos redutores do trabalho adulto, com a atribuição
ao trabalho (mal) pago das domésticas de muitas das tarefas de supervisão doméstica
anteriormente desenvolvidas pelos membros adultos da família, especialmente as
mulheres. Este comportamento seria compatível com os achados mais recentes, que
enfatizam a importância do próprio rendimento das mulheres que, no contexto brasileiro,
poderia ser avaliado como um tipo de custo de oportunidade, permitindo às mulheres
pagarem a outras mulheres menos do que ganham em suas atividades, para que, as
últimas, as substituam em tarefas domésticas.
A presença de dois adultos wage earners aumenta a renda média familiar reduzindo as
pressões de oferta para inclusão dos filhos no mercado de trabalho. Famílias com um
adulto, em geral são famílias chefiadas por mulher, que, além de terem só uma fonte de
rendimentos dos adultos, os chefes mulheres usualmente encontram ocupações com
rendimentos relativamente mais baixos. Famílias com um adulto e, especialmente,
aquelas chefiadas por mulher tendem a ter mais crianças economicamente ativas. Há
estudos1 que destacam também a associação entre chefia familiar e o pior desempenho
escolar, com a conseqüente entrada precoce no mercado de trabalho.
A literatura aponta como algumas tendências internacionais o aumento da Taxa de
Participação das mulheres, a queda na fertilidade e o aumento do número de famílias
chefiadas por mulher. Estas tendências também são acompanhadas de um aumento da
proporção de crianças nascidas em famílias mais pobres, principalmente naquelas
chefiadas por mulheres.
Ainda que haja uma tendência a diminuição do tamanho da família e da taxa de
fertilidade, existem evidências1 de que este processo não necessariamente está
associado a aumento da taxa de participação feminina. Nos países europeus,
especialmente nos países Mediterrâneos (Espanha, Itália e Grécia), observa-se a redução
das suas taxas de fertilidade, comparativamente aos países nórdicos e anglo-saxãos, sem
a correspondente reversão da posição relativa de suas Taxas de Participação feminina,
sugerindo famílias menores, sem ingresso na PEA das mulheres. Isto indica pouca
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mudança na divisão de trabalho entre os membros da família, mesmo com famílias


menores.
As famílias são menores, porem mantêm seu papel social, substituindo de forma
significativa o estado na manutenção da previdência social e utilizando a coesão interna
da estrutura familiar post nuclear para transferir recursos para os filhos.
Esta temática é relevante para a questão do trabalho infantil uma vez que expressa os
mecanismos intra-familiares de alocação de recursos, explicando por exemplo a
possibilidade de altas taxas de desemprego aberto, sem explosão da pobreza, uma vez
que os membros restantes das famílias repartem seus rendimentos com os
desempregados. Raciocínio semelhante poderia ser conduzido em relação a oferta de
trabalho dos membros infantis destas famílias, que apesar da perda de rendimentos e
ocupação de seus membros adultos, não estariam dispostas a modificar as taxas de
participação de suas crianças.
As economias de escala na criação das crianças são reduzidas com famílias com um
único membro adulto, além do que as mulheres em geral tendem a ter menor nível de
renda apesar das transferências inter-familiares que ocorrem com os pagamentos de
pensão1. Neste sentido a desestruturação da família nuclear tradicional tem uma alta
correlação com os níveis de pobreza1, apesar de também refletir tendências mais gerais
da conformação da nova estrutura familiar do final deste século.
A existência de crianças menores, especialmente nas fases iniciais de vida, associada a
falta de disponibilidade de acesso a equipamentos sociais de ajuda à criança também é
uma variável relevante na incorporação de crianças mais velhas no mercado de trabalho,
havendo uma divisão de trabalho com as meninas se destinando mais à ajuda no trabalho
doméstico, enquanto os meninos vão para a rua buscar recursos para ajudar no
orçamento familiar. A presença de crianças menores aumenta o custo de oportunidade
para os adultos e outras crianças irem ao mercado de trabalho em substituição ao
trabalho doméstico, na hipótese de que a opção pode ser feita com o provimento da renda
familiar necessária.

Freqüência à Escola e Trabalho Infantil


No que se refere à opção entre trabalhar e estudar, a maioria das famílias tende a evitar a
decisão polar, procurando manter as duas opções como complementares, uma vez
tomada a decisão de incorporar sua criança à PEA. A transição escola/trabalho se torna
mais relevante para os adolescentes do que para as crianças1, ainda que a taxa de
desemprego destes seja maior do que os primeiros, indicando a maior importância relativa
das variáveis de demanda de trabalho na determinação da taxa de ocupação daqueles. A
saída da escola não parece ser uma decisão abrupta, sendo ao contrário, resultante de
várias tentativas de reingresso, que se traduzem em crescente inadequação das crianças
e adolescentes com as séries que estão freqüentando1. A exclusão da escola, refletindo a
entrada tardia, os abandonos temporários e a repetência parece afetar mais o menino
trabalhador do que as meninas, a quem se destinam mais a ajuda nos afazeres
domésticos, liberando a oferta de trabalho adulta e permitindo uma melhor
compatibilidade entre o estudo e a casa.
Tirar a criança da inatividade e colocá-la na PEA é uma opção pela renda corrente em
substituição ao investimento em educação, que pode levar a aumento da renda futura. É
uma opção pelo complemento de renda familiar hoje, em detrimento da possibilidade de
um maior rendimento individual futuro. Deve-se destacar também que a influência de
outros atributos pessoais e familiares, como o sexo e a cor, podem encontrar dificuldades
históricas de inserção nos mercados, modificando completamente a percepção das
22
23

possibilidades de ganhos futuros advindos da educação, quando os pais, avós e outros


antepassados foram condenados, por processos discriminatórios diversos, a receber
menos. Isto evidentemente, impacta sobre a decisão corrente de deixar ou não os filhos
na escola, refletindo as dificuldades de absorção dos eventuais ganhos com a
escolaridade, que é distinta entre as pessoas de acordo com vários atributos pessoais
que sofrem processos discriminatórios de acesso a postos que melhoram a remuneração.
Desta forma, famílias com atributos marginalizados tenderiam a valorizar menos a escola
como mecanismo de melhora de rendimentos porque, de fato, para estas pessoas, os
ganhos marginais da educação são diferenciados1, levando a avaliação de valor presente
menor do que os benefícios correntes de elevação da renda no curto prazo.
Assim, há várias evidências de uma correlação negativa entre a escolaridade dos pais e a
taxa de participação das crianças. Dada a importância que a escolaridade tem na
estratificação social, isto poderia refletir uma busca de manutenção de posição na escala
de mobilidade social por parte dos pais mais educados que procuram manter seus filhos
mais tempo nas escolas. É enorme a dificuldade de mobilidade social quando os filhos de
pais de baixa escolaridade tendem a também ter baixa escolaridade1, por uma entrada
precoce no mercado de trabalho.
Para os adolescentes, a acumulação de atraso escolar leva a um abandono da escola
maior do que no caso das crianças, ainda que a transição escola/trabalho tenha maior
significado para aqueles1, mesmo com taxa de desemprego maior.

Condicionantes da Demanda
Poucos trabalhos buscam avaliar os condicionantes do trabalho infantil derivados das
características da demanda. Há o destaque para as necessidades específicas do perfil do
ocupante de um certo posto de trabalho, - destreza, tamanho das mãos, docilidade, altura,
por exemplo, - como importante determinante da utilização de trabalho infantil. Outros
destacam a disposição das crianças obrigadas a trabalhar e receber rendimentos
menores do que os adultos, o que reduziria os custos de produção para os
empregadores. Também devem ser mencionados os hábitos e valores que difundem a
aceitação do uso do trabalho infantil como empregados domésticos de famílias de maior
renda.
Os modelos tradicionais de formulação da demanda de trabalho não distinguem as
características específicas dos trabalhadores como relevantes na definição dos níveis de
emprego e pagamento de salários, que dependem mais da possibilidade de vendas dos
produtos, da estrutura de custos e da tecnologia. Estudos referente à discriminação no
mercado de trabalho reportam mais às características dos indivíduos, criando maiores
barreiras a entrada de trabalhadores com atributos individuais discriminados.
De forma semelhante pode-se pensar que dadas as restrições legais, os empregadores
facilitariam ou dificultariam a entrada de crianças na atividade econômica. A literatura em
geral destaca a maior presença de crianças em atividades sem remuneração em dinheiro,
nos serviços domésticos e em atividades informais, sugerindo a importância da legislação
como mecanismo que detém da utilização de crianças como força de trabalho.
Neste sentido, o tamanho do setor informal em geral pode estar associado a maior
utilização de trabalho infantil, que concentrar-se-ia em estabelecimentos menores,
sujeitos a menor fiscalização e com baixa rentabilidade e portanto com piores condições
de trabalho, com probabilidade maior de apresentar mais efeitos nocivos da atividade
econômica para o desenvolvimento da criança. O processo de terceirização de áreas
industriais pode ser um dos elementos explicativos do crescimento do trabalho infantil, por

23
24
realizadas em 1987/1988 e 1997/1998 com dez anos de intervalo. As duas pesquisas são
metodologicamente compatíveis e permitem comparações de mudanças estruturais significativas
entre os dois períodos. O capítulo 3 utiliza os conceitos tradicionais dos estudos do mercado de
trabalho na composição da população em idade ativa (PIA), apresentando também uma análise dos
resultados com referencia às famílias. O capítulo 4 reinterpreta os mesmos dados utilizando uma
categorização da PIA mais adequada às especificidades do trabalho infantil. O capítulo 5 resume os
principais resultados e no capítulo 6 a professora Inaía Carvalho apresenta sugestões de políticas.
programas de treinamento afetam a demanda de trabalhadores nesta faixa etária, possibilitando a
redução dos custos dos empregadores e atraindo os trabalhadores na perspectiva de obtenção do
“primeiro emprego” que lhes permitirá uma maior opção profissional no futuro.
A tecnologia também tem influência sobre a demanda de trabalho infantil. Há evidências1 do
impacto de novas tecnologias (revolução verde na Índia, mecanização da agricultura no Egito, o uso
de tear mecânico na indústria têxtil por exemplo) na redução do trabalho infantil, substituído por
mão de obra mais qualificada adulta. Porém, parte das novas tecnologias eletrônicas em linhas de
produção continua, voltam a empregar trabalhadores jovens, com maior destreza manual, assim
como as novas formas de relação fornecedor comprador, com redefinição do trabalho em casa,
numa nova versão do sistema putting out ampliam o uso de crianças nas linhas de produção, que
saem das fábricas e incorporam o espaço familiar como espaço produtivo.
Em relação ao trabalho doméstico, predominantemente feminino, a demanda está associada
fortemente aos níveis de renda das famílias que através de laços sociais estabelecem redes de
utilização do trabalho infantil, como estratégia de liberação de tempo para a oferta de trabalho

deslocar parte do processo produtivo dos estabelecimentos industriais mais fiscalizados


para empresas prestadoras de serviço.
A flexibilidade dos salários e seu nível mínimo1 são importantes variáveis na demanda de
trabalho infantil e adolescente. Se os salários pagos aos adultos são baixos e existem
adultos disponíveis para trabalhar, os empregadores não buscarão as crianças, uma vez
que a produtividade esperada dos adultos deve ser maior do que dos trabalhadores
infantis. Isto sugere que a fixação de salário mínimo efetivo pode ser mais um elemento
de redução da utilização do trabalho das crianças e adolescentes1.No que se refere aos
adolescentes, os programas de treinamento afetam a demanda de trabalhadores nesta
faixa etária, possibilitando a redução dos custos dos empregadores e atraindo os
trabalhadores na perspectiva de obtenção do “primeiro emprego” que lhes permitirá uma
maior opção profissional no futuro.
A tecnologia também tem influência sobre a demanda de trabalho infantil. Há evidências1
do impacto de novas tecnologias (revolução verde na Índia, mecanização da agricultura
no Egito, o uso de tear mecânico na indústria têxtil por exemplo) na redução do trabalho
infantil, substituído por mão de obra mais qualificada adulta. Porém, parte das novas
tecnologias eletrônicas em linhas de produção continua, voltam a empregar trabalhadores
jovens, com maior destreza manual, assim como as novas formas de relação fornecedor
comprador, com redefinição do trabalho em casa, numa nova versão do sistema putting
out ampliam o uso de crianças nas linhas de produção, que saem das fábricas e
incorporam o espaço familiar como espaço produtivo.
Em relação ao trabalho doméstico, predominantemente feminino, a demanda está
associada fortemente aos níveis de renda das famílias que através de laços sociais
estabelecem redes de utilização do trabalho infantil, como estratégia de liberação de
tempo para a oferta de trabalho adulta da família empregadora. Os determinantes sociais
são mais importante do que os econômicos na demanda deste tipo de trabalho.

24
25
adulta da família empregadora. Os determinantes sociais são mais importante do que os
econômicos na demanda deste tipo de trabalho.

25
26

26
27
Capítulo 2. Crise e ajustes NOS ANOS 80 e 90 NO BRASIL
reduzem trabalho infantil.

DETERMINANTES MACRO ESTRUTURAIS


A análise da inserção da criança e do adolescente no mercado de trabalho do Brasil se faz a partir
do quadro de aprofundamento das desigualdades que acompanha a década de 80. Caracterizada por
choques econômicos, desequilíbrios externos e internos, pela depreciação do salário real e queda
dos níveis de atividade econômica, a década de 80 foi marcada por períodos de crise e estagnação
econômica. Tais desajustes se materializam na forte recessão que atinge o país, com repercussões
visíveis sobre a estrutura do mercado de trabalho.
No início da década de 80, apesar da afluência aos centros urbanos, incentivada pela
industrialização, o desemprego aberto não se apresentava como um grande problema uma vez que
suas duração média e taxa eram muito baixas em termos internacionais. Por outro lado, o grau de
informalidade era elevado, absorvendo aqueles que não conseguiam se empregar nos setores
modernos.2
O ajuste do mercado de trabalho diante da crise, para alguns autores, se dá pela expansão da
ocupação clandestina, típica da economia submersa3. Outros afirmam que, apesar da constante
deterioração da economia brasileira nos anos oitenta, o ajuste do mercado de trabalho não se dá
exatamente pela precarização das formas de inserção, mas pela queda do rendimento urbano.
Algumas características, no entanto, são apontadas como determinantes na análise do perfil do
emprego e da renda:
• Intensificação dos processos de urbanização e “terciarização” – crescimento do setor
dito “terciário”, que envolve principalmente serviços – da economia;
• Aumento das taxas de atividade econômica, sobretudo das mulheres;
• Precarização das relações de trabalho, evidenciada através da redução dos níveis de
cobertura social e/ou de menores níveis de remuneração;
• E a concentração dos níveis de rendimento.4
Os dados de participação no mercado de trabalho indicam que, apesar da má performance da
economia nos anos oitenta, há um crescimento sustentado da População Economicamente Ativa e
da População Ocupada. O aumento da taxa de participação, porém, é dado pela inserção precária de
novos indivíduos no mercado de trabalho com elevação do percentual de ocupados sem carteira
assinada, relativamente aos empregados com carteira assinada, além da queda do assalariamento nas
atividades não agrícolas, rompendo a tendência de assalariamento formal da década anterior. No
quadro urbano, constatou-se uma participação menor dos empregados no setor privado e, em
contrapartida, uma expansão do número de trabalhadores autônomos.5
No início da década de 90, com o Plano Collor, tentou-se combinar uma política de estabilização
com reformas estruturais de grande vulto, como a abertura comercial e um esboço inicial de
privatização. Essa política provocou uma recessão comparável à do início dos anos 80, que fez com
que a abertura comercial não se traduzisse em um ressurgimento do déficit em conta corrente, num
empobrecimento generalizado do conjunto da PEA e numa queda da desigualdade de renda. O
contexto recessivo perdurou, apesar de uma tentativa de retorno ao crescimento no governo Itamar

2
URANI, 1996.
3
CACCIAMALI (1989), um dos autores que defendem esta tese, define economia submersa ou subterrânea como
caracterizada pelas atividades econômicas que não cumprem regulamentações institucionais, operam total ou
parcialmente na ilegalidade, enquanto que o termo setor informal representa o segmento da estrutura produtiva
organizado sob a forma de pequena produção.
4
Oliveira; Porcaro & Jorge, 1995, p.147.
5
Oliveira; Porcaro & Jorge, 1995, p. 154.

27
28
Franco, até o Plano Real, a política de estabilização mais bem sucedida das
últimas três décadas. Os primeiros resultados desta política foram a aceleração do
crescimento, com aumento significativo de salários reais (sobretudo dos mais baixos),
mesmo em detrimento das rendas médias, e uma rápida deterioração das contas
externas, em particular do balanço comercial, devido ao aumento das importações.6
Uma análise mais detalhada do mercado de trabalho permite identificar certas oscilações
no comportamento dos níveis de ocupação e desocupação nos períodos intermediários
da década de oitenta. O crescimento das taxas de participação nesta década está
relacionado sobretudo à elevação da componente População Ocupada da PEA. Não tem
efeitos sobre as taxas de desemprego aberto do primeiro período da década de 80,
marcadamente recessivo. As taxas de participação continuam elevadas em relação ao
período anterior à crise e só voltam a cair substancialmente na década de 90. Quando
analisada em relação ao sexo, percebe-se a queda da taxa de participação masculina
com aumento das taxas de desemprego aberto, enquanto que, para as mulheres, mesmo
com taxas de ocupação crescentes, os índices de desemprego elevam-se, denotando a
inserção crescente da PIA feminina no mercado de trabalho. Este fenômeno é
particularmente relevante para a análise do movimento da taxa de participação das
crianças e adolescentes, pois o crescimento da participação da mulher é um importante
fator na compreensão dos movimentos de queda e redução da participação dos filhos
mais jovens no mercado de trabalho.
Na década de 80, com a recuperação da economia brasileira a partir de 1984, as taxas de
desemprego aberto voltam a cair, determinadas pelo crescimento das taxas de ocupação,
tanto para o sexo masculino quanto para o feminino, o que garante a continuidade do
processo de diferenciação da PEA. Após o Plano Cruzado (fevereiro de 1986), tem-se
uma reedição do período recessivo anterior, dada pela elevação das taxas de
desemprego e crescimento das taxas de participação, com vistas a manutenção do
padrão de vida anterior à crise, sobretudo para as mulheres nas faixas consideradas mais
produtivas (20 e 39 anos) e em ocupações mais qualificadas.7
Nos anos 90, o crescimento da oferta de trabalho é menor, mas a informalidade cresce
pela deterioração da ocupação formal e as taxas de desemprego se descolam dos
movimentos conjunturais. Com a recessão econômica e a abertura comercial com
apreciação cambial e reestruturação organizacional, agravam-se as condições de
empregabilidade e piora ainda mais o quadro social das regiões metropolitanas
brasileiras.8 No final da década de 90, observa-se um salto significativo das taxas de
desemprego no Brasil, com o agravamento da crise internacional e a manutenção da
política de ajuste que atinge fortemente o mercado de trabalho pelo seu caráter recessivo.
Tabela 2. 1 – Taxas de Desemprego e de Atividade (%)

São Paulo Belo Horizonte Porto Alegre Salvador


Anos
Desemp. Ativid. Desemp. Ativid. Desemp. Ativid. Desemp. Ativid.
1983 9,3 56,3 10,1 53,6 8,4 56,8 7,2 50,5
1984 8,1 57,1 8,4 53,7 7,0 56,2 7,6 53,1
19929 10,4 58,6 9,6 58,9 7,1 62,8 15,1 56,9
1993 9,5 58,8 8,3 58,9 6,5 62,3 15,1 56,9

6
URANI, 1996, p.109-110.
7
Oliveira; Porcaro & Jorge, 1995.
8
Azevedo & Menezes, 1996, p, 3.
9
A partir de 1992 ocorre importante mudança metodológica na PNAD/IBGE, que será melhor explicada na seção 0,
página 44.

28
29
1995 8,4 58,4 7,0 59,2 7,5 62,4 9,6 59,1
Fonte: PNAD, reproduzido de AZEVEDO & MENEZES, 1996.
Do ponto de vista da renda, a década de 80 caracterizou-se por acentuar a
desigualdade da distribuição de renda pessoal, num contexto onde esta distribuição já
é bastante concentrada. Avalia-se que o grau de concentração de renda ampliou-se
nos anos oitenta, tendo como principais determinantes a crise do início da década e a
aceleração inflacionaria após o Plano Cruzado.10 O ano de 1986, quando foi adotado o
Plano, apresenta um perfil distributivo completamente atípico, com crescimento dos
salários reais e conseqüente aumento do consumo. Apesar da recuperação da
economia no período do Plano Cruzado, constatou-se a estabilidade bastante elevada
do nível de pobreza no Brasil, demonstrando a persistência da crítica situação socio-
econômica da maioria da população.11 Associando o comportamento do mercado de
trabalho brasileiro às oscilações da política macroeconômica, pode-se afirmar que o
grau de flexibilidade deste mercado de trabalho como um todo pode ser considerado
muito elevado na década de 80. No entanto, difere substancialmente em seus
diferentes compartimentos (setoriais, de níveis educacionais, posições na ocupação
etc.) e a depender do tipo de choque a que é mais ou menos rígido.12
Avalia-se que o crescimento da renda na década, além de ser modesto, ocorreu de
forma muito desigual, indicando perda real dos rendimentos da metade mais pobre da
população e do aumento real dos rendimentos dos mais ricos, sendo tanto maiores os
aumentos quanto mais rico o segmento populacional. Os estudos sobre distribuição de
renda revelam uma redução da porcentagem da renda que os 50% mais pobres
detinham em 1981 de 13,4% para 10,4% no final do período13, diminuindo a
participação desta parcela da população na renda total.
O rendimento real médio do trabalho caiu drasticamente no início da década de 90,
com o achatamento do salário mínimo a seu menor valor, em termos reais, desde sua
criação, em 1940. A partir de 1993, tanto o salário mínimo quanto o real médio
voltariam a aumentar a partir de 1993, e particularmente em 1995, com a implantação
do Plano Real.14
No que concerne ao rendimento das famílias, a contenção da queda se dá,
principalmente, pela redução do tamanho das famílias e aumento do número de
pessoas ocupadas por família, determinado, principalmente, pelo maior ingresso da
mulher no mercado de trabalho. Apesar de uma redução na renda pessoal, a renda
familiar se mantém com a inserção da mulher e dos filhos mais velhos no mercado de
trabalho. Uma estratégia que possibilitou mascarar o empobrecimento na década de
80 foi a incorporação dos diversos componentes familiares à força de trabalho, o que
servia para compensar os efeitos perversos, no interior da família, do agravamento do
perfil de distribuição da renda da PEA.15 São três os principais fatores para a redução
do número médio de componentes das famílias:
• Redução das taxas de fecundidade, registrada a partir da década de 60, com maior
intensidade nas décadas seguintes, resultado do processo de urbanização e
popularização dos métodos contraceptivos;

10
Miller, 1995, p.181
11
Ribeiro; Sabóia & Branco, 1995, p.124-125.
12
Urani, 1996, p. 118.
13
Ribeiro; Sabóia & Branco, 1995, p.123.
14
Urani, 1996., p. 120.
15
Cervini & Burger, 1991, p. 22.

29
30
• Processo de nuclearização das famílias, com a redução da permanência
de outros parentes com o núcleo conjugal e filhos na mesma moradia16
• A elevação do número de separações conjugais é também um fator importante
para a redução do número médio de componentes das famílias.
O declínio da taxa de fecundidade generalizou-se por todas as regiões e classes
sociais, atingindo também as populações urbanas marginalizadas e a população rural,
embora este fenômeno não ocorresse de forma homogênea no conjunto social e
regional do país17. A análise da dinâmica demográfica nos mostra, portanto, que o
Brasil apresentou queda constante da taxa de crescimento da população, associada,
principalmente, a acelerada redução dos níveis de fecundidade. Este movimento é
confirmado na década de 90, com os resultados da Contagem Populacional de 1996.
Estes fatores concorrem para caracterizar o processo de aumento da renda familiar na
década de oitenta, pautado na diminuição do tamanho das famílias e incorporação de
membro adicional, sobretudo mulheres e filhos mais velhos, ao mercado de trabalho,
fenômeno este que não anula o efeito de concentração da renda no período, dado um
patamar de rendimentos extremamente baixo, com fortes impactos sobre as condições
de vida da população. Em meados da década de 90, a tendência de queda do
rendimento individual se reverte com a implantação do Plano Real, levando a uma
melhoria do rendimento familiar, acentuada pelo declínio da taxa de fecundidade. A
renda familiar só não volta a cair no final da década, com o aumento do desemprego,
devido à inserção de outros membros da família no mercado de trabalho. A taxa de
participação de crianças não cresce, pois existe mão-de-obra adulta disposta a inserir-
se no mercado de trabalho com rendimentos reduzidos.
Aspectos Demográficos
De acordo com os dados amostrais da PNAD, a evolução da estrutura etária na
década de 90 reflete os efeitos da queda na taxa de fecundidade ocorrida no país
durante as últimas décadas. As modificações apontam no sentido de um crescimento
na participação dos adolescentes e leve diminuição das crianças. No Brasil urbano as
crianças passam de 11,4% para 10,9% em contrapartida os adolescentes crescem sua
participação na população total de 6,1% para 6,6% entre os anos de 92 e 96. O
crescimento da proporção de adolescentes é acentuadamente mais elevado na Bahia
e RMS intensificando-se nesses locais os maiores efeitos da chamada “onda jovem”.
Na Bahia os adolescentes saem de 6,8% para 7,6% enquanto que na RMS, de 6,5%
para 7,7%.
Na análise da população urbana para o Brasil na década de 90, com base nos dados
das PNAD de 1992, 1993, 1995 e 1996, os indivíduos de 10 a 14 anos representavam
10,9% da população e os de 15 a 17 anos apenas 6,6% em 1996. Há variações desta
composição de acordo com a região do país. No Sudeste, tanto crianças como
adolescentes representam fatias menores da população total, com respectivamente
10,2% e 6,2% da população. Já no Nordeste e na Bahia esses números são maiores.
Na primeira região, a faixa de 10 a 14 anos corresponde a 12,1% e a de 15 a 17 anos
7,4% da população. Para a Bahia os valores são os mais elevados, 13,0% para
crianças e 7,6% adolescentes. Essa estrutura etária mais jovem também está
representada na RMS onde crianças participam com 11,8% e os adolescentes 7,7%.

16
Ribeiro; Sabóia & Branco, 1995, p.127.
17
Oliveira; Porcaro & Jorge, 1995.

30
31
Tabela 2. 2 – Estrutura da População Urbana de Crianças e Adolescentes
Década de 1990 (%)

1992 1993 1995 1996


Crianças (10 a 14)
BR 11,4 11,6 11,2 10,9
SE 10,7 10,8 10,6 10,2
NE 12,4 12,9 12,3 12,1
Bahia 13,1 13,8 13,3 13,0
RMS 12,3 12,9 11,7 11,8
Adolescentes (15 a 17)
BR 6,1 6,2 6,5 6,6
SE 5,9 5,9 6,2 6,2
NE 6,7 7,0 7,3 7,4
Bahia 6,8 6,9 7,9 7,6
RMS 6,5 6,8 7,5 7,7
Fonte: PNAD, nossos cálculos.
A questão da queda nas taxas de fecundidade e de crescimento populacional é
bastante discutida na literatura pois diz respeito ao ritmo de crescimento mais lento da
parcela da PEA com menos de 18 anos em comparação ao conjunto da PEA no
período. A análise da inserção da criança e do adolescente no mercado de trabalho
com base na dinâmica demográfica da população brasileira nos sugere que o
decréscimo da taxa de fecundidade, e conseqüente decréscimo do incremento das
populações jovens na década de oitenta, são fatores determinantes da estabilidade da
taxa de participação destes no mercado de trabalho. A década de oitenta é
caracterizada, quanto à análise da incorporação dos mais jovens ao mercado de
trabalho, pela retração do incremento da taxa de participação desta parcela da
população, se comparada com períodos anteriores. A continuidade deste movimento
demográfico influencia também na queda da participação na década de 90.
Entre crianças e adolescentes não há diferenças significativas por sexo, apenas uma
proporção pouco menor de mulheres nas duas faixas etárias. A população urbana
constitui maioria no país, 79,4% do total em 96. O número mais elevado de crianças
na área rural como parte da estratégia de sobrevivência da família do campo, assim
como a atração da cidade para os adolescentes em busca de oportunidades de
emprego e maior escolaridade podem estar por trás de uma concentração urbana
levemente diferenciada entre crianças e adolescentes. O grupo de 10 a 14 anos
concentra-se em 76,7% na área urbana do país ao passo que para os indivíduos de 15
a 17 anos este número é um pouco maior, 78,8%.
No Sudeste, devido a maior mecanização do campo e o desenvolvimento das cidades
no interior, tem-se 87,1% das crianças e adolescentes na área urbana.
Diferentemente do Nordeste, mais agrário, onde apenas 60% das crianças e 64% dos
adolescentes residem em área urbana.
Na população urbana brasileira, aqui considerando o conjunto da população e não
apenas os mais jovens, os brancos constituem a maioria, representando 57% dos

31
32
indivíduos contra 42% de negros18. Esta proporção entretanto, apresenta
grandes variações conforme a região urbana do país. No Sudeste, pretos e pardos
respondem por apenas 32% contrapondo-se ao peso de 69% desse grupo no
Nordeste. Na Bahia os números chegam a 75% da população com uma concentração
ainda maior na RMS onde 78% dos indivíduos são negros.
Os homens estão mais presentes na população negra. No Brasil urbano, entre as
mulheres 40,5% são negras pelos dados da PNAD em 96 ao passo que entre os
homens registram-se 42,5%. No Nordeste esta diferença é um pouco maior sendo que
66,2% das mulheres e 69,2% dos homens são negros. Para RMS esses números são
76,4% das mulheres e 79,2% dos homens.
De acordo com dados da PNAD, a composição da população urbana segundo a cor
sofre poucas alterações entre os anos de 92 e 96. A proporção de negros no Brasil
urbano mantém-se em 41,5% da população em 96, assim como a população de
brancos, que são 58% dos brasileiros. No Nordeste, região do país onde há maior
incidência de negros, este grupo passa de 69,6% em 92 para 67,6% em 96. Na Bahia
esses números caem ainda mais, de 78,2% para 73,6% e na RMS um pouco menos,
80,5% em 92 para 77,7% em 96, o que pode indicar um aumento da migração de
brancos para estas regiões.
A parcela da população de amarelos e indígenas perfazem apenas 0,6% no Brasil
urbano. É no Sudeste que este grupo representa maior proporção, 0,8%. Na RMS
eram 0,5% da população em 96, comparativamente mais do que em 92, 0,2%.
O decréscimo dos fluxos migratórios interregionais e conseqüente urbanização das
regiões metropolitanas e cidades médias, principalmente no Nordeste, concorreram
para o incremento da participação dos adolescentes (15 a 17 anos) no mercado de
trabalho, durante os anos 80. O processo de urbanização brasileiro, determinado pelo
esvaziamento rural, expulsão nordestina e absorção migratória predominante em São
Paulo, assume, na década de oitenta, características diversas das registradas nas
décadas anteriores. Dada a diminuição do fluxo migratório para a região Sudeste,
associada, principalmente, à crise econômica enfrentada pelo país e à incapacidade
dos grandes centros urbanos de absorção da mão-de-obra disponível, ocorre um
redirecionamento de parte da população no sentido inverso ao de décadas passadas.
Constata-se a ocorrência de uma rápida redistribuição espacial da população no
período da década de 1980, caracterizando uma redução dos níveis de mobilidade
interregional, ocasionando redução das migrações para a região Sudeste e com uma
suposta retenção da população nordestina em sua região, o que levaria a um
crescimento das cidades médias, capitais e regiões metropolitanas locais.19 A década
de oitenta é marcada, portanto, pelo crescimento urbano expressivo determinado,
sobretudo, por contigentes populacionais impulsionados por correntes migratórias
intra-regionais e pela redução dos ritmo das correntes migratórias nordestinas para
outras regiões, com o crescimento das regiões metropolitanas menos desenvolvidas,
capitais e cidades de porte médio, possibilitado pela retenção das populações
migrantes em suas próprias áreas urbanas.
Nos anos 90, o crescimento da oferta de trabalho é menor. As mudanças no mercado
de trabalho se dão na qualidade e intensidade da informalidade, novas formas de
irregularidades do trabalho que ampliam a grande heterogeneidade das ocupações
existentes.20 A informalidade, portanto, ganha novas dimensões, passando a
incorporar contingentes antes empregados no mercado formal, que perderam seus

18
Foram considerados negros os indivíduos classificados como pretos ou pardos.
19
Oliveira & Felix, 1995a, p. 38.
20
Azevedo & Menezes, 1996, p. 3.

32
33
postos no processo de reestruturação produtiva e organizacional, abertura
econômica e com a redução do ritmo da atividade econômica, sobretudo no fim da
década.
CAI A TAXA DE PARTICIPAÇÃO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES NOS 90
O comportamento do mercado de trabalho para as crianças e adolescentes
apresentou movimentos distintos nas duas últimas décadas, com uma queda na taxa
de participação nos anos 90, invertendo o processo de crescimento ocorrido nos anos
80. Esta modificação se revelou de forma diferenciada para cada contexto regional e
com intensidades distintas entre as crianças de 10 a 14 anos e os adolescentes de 15
a 17 anos.
Durante a década de oitenta, o trabalho das crianças e dos adolescente foi afetado
pela conjuntura econômica de forma diferenciada para cada faixa etária e para cada
contexto regional. Os dados apresentados por Sabóia & Bregman (1993) para o Brasil
urbano, com base nas informações da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios), revelam estabilidade da taxa de participação das crianças de 10 a 14
anos, passando de 10,9%, em 1981, para 11%, em 1990.
A partir de 1992, as PNAD ampliaram tanto sua cobertura temática (abordando temas
como migração, fecundidade e nupcialidade), como o conceito de trabalho, de forma a
captar indivíduos que exercem atividades econômicas, anteriormente não os
caracterizados como ocupados. A principal modificação ocorreu no conceito de
trabalho, com a definição de duas novas categorias: trabalhadores na produção para o
próprio consumo e trabalhadores na construção para o próprio uso, além de isolar a
categoria de trabalhadores domésticos. Além destas modificações, “o IBGE passou a
considerar como ocupadas as pessoas de 10 e mais que realizaram algum trabalho
não remunerado durante pelo menos 1 hora na semana de referência, no lugar das 15
horas anteriormente exigidas”.21 Estas modificações nas PNAD são especialmente
importantes para o mercado de trabalho infanto-juvenil, no qual é marcante a presença
do trabalho não remunerado e de atividades para o próprio consumo e uso,
identificados muito proximamente com o trabalho no grupo familiar.
Mesmo com estas modificações conceituais, no Brasil, as taxas de participação
urbana para crianças e adolescentes de 10 a 17 anos declinaram ao longo do período
de 1992 a 96; iniciou-se a década em patamares elevados de participação, passando
de 26,8% em 1992 para 22,7% em 1996. As maiores variações ocorreram entretanto
na faixa dos 15 a 17 anos22. As crianças de 10 a 14 anos sofreram uma queda menor
de sua participação na década de 90. Apesar de um crescimento na taxa de
participação das crianças de 10 a 14 anos no início da década, em relação à década
de 80, em 1996 a taxa de participação retorna a patamares da década anterior, o que
indica de fato uma menor participação devido à mudança no conceito de trabalho
ocorrida em 1992. Portanto, é importante observar que a participação das crianças e
adolescentes cai significativamente na década de 90, mesmo com a maior
abrangência conceitual da PNAD, sobretudo para o trabalho nestas faixas etárias.

21
Graziano da Silva & Del Grossi, 1997, p.247.
22
Houve crescimento tanto dos indivíduos na faixa como da inatividade confirmado também pela menor queda da taxa
de ocupação.

33
34
Tabela 2. 3 – Taxas de Participação Urbanas de Crianças e Adolescentes
Décadas de 1980 e 1990 (%)

1981 1990 1992 1993 1995 1996


Crianças (10 a 14)
BR 12 11 14,6 14,3 13,2 10,9
SE 11 10 12,0 11,6 10,2 9,1
NE 11 13 15,6 14,8 14,4 11,2
BAHIA -* - 17,3 16,3 14,4 10,9
RMS - - 8,8 8,6 10,0 5,8
Adolescentes (15 a 17)
BR 44 46 49,3 47,8 45,9 42,2
SE 48 48 49,2 47,2 45,4 43,7
NE 34 40 38,3 37,1 36,8 30,5
BAHIA - - 47,4 45,1 43,3 34,3
RMS - - 36,1 33,5 35,0 29,5
Crianças e Adolescentes (10 a 17)
BR - - 26,8 26,1 25,3 22,7
SE - - 25,1 24,1 23,3 22,2
NE - - 23,6 22,6 22,7 18,6
BAHIA - - 27,6 25,9 25,2 19,6
RMS - - 18,2 17,3 19,8 15,2
Fonte: PNAD, 1981 e 1990 apud Miller, 1993; demais períodos, nossos cálculos.

• Dados não acessados.


No que concerne a inserção das crianças no mercado de trabalho nas grandes regiões
na década de 80, ressalta-se o decréscimo da sua taxa de participação no Sudeste,
enquanto na região Nordeste o número de crianças ocupadas ou desocupadas é
crescente, representando 10,3% da PIA, em 1981, e 12,2%, em 1990. O movimento
se inverte na década de 90, com a queda da taxa de participação das crianças no país
e com a aproximação entre as taxas de participação das crianças do Nordeste e do
Sudeste. Na década de 90, apesar do movimento decrescente, a taxa de participação
de crianças de 10 a 14 anos no Nordeste é superior à do país como um todo e pode
ser considerada elevada com base nas comparações internacionais da OIT. No
entanto, as taxas decrescem mais rapidamente na região Nordeste que no Sudeste,
com a aproximação das duas regiões em 1996.
Para os adolescentes de 15 a 17 anos, a taxa de atividade sobe no país na década de
80, alcançando 45,1% da PIA em 1990, no Nordeste (30,8% e 37,6%, em 1981 e
1990) e no Sudeste. Cresce mais no Nordeste que no Sudeste. Este movimento é bem
diverso na década de 90, quando a taxa de participação dos adolescentes cai
sobretudo no Nordeste, que tem taxas inferiores às do Sudeste no período.
A taxa de participação de crianças não difere substancialmente entre regiões, mesmo
que o nível de renda seja distinto, sendo muito próximas quando comparados o
Nordeste e o Sudeste do Brasil. Na análise das taxas de atividade dos adolescentes,
fica claro que seus níveis de incorporação ao mercado de trabalho são bastante
diferentes quando identificados distintos contextos urbanos. Como podemos ver na

34
35
Tabela 2. 3, enquanto as taxas de participação das crianças são bem próximas,
independente da região do país, as taxas dos adolescentes variam fortemente, sendo
mais reduzidas no Nordeste em relação ao Sudeste.
É importante destacar a significativa queda da taxa de participação tanto de crianças
como de adolescentes na região Nordeste, na Bahia, mas principalmente na Região
Metropolitana de Salvador na década de 90, com uma queda brutal do ano de 1995
para o ano de 1996 segundo dados das PNAD (Tabela 2. 3).
A análise dos períodos intermediários da década de 80 reforça a tese apresentada por
diversos autores de que, assim como os adultos, as crianças e adolescentes têm sua
incorporação na força de trabalho fortemente influenciada pelas oscilações próprias da
dinâmica do mercado de trabalho, diante da conjugação de períodos de crise e
aceleração da economia na década de oitenta. Conforme os dados da Tabela 2. 3,
podemos concluir que as taxas de atividade das crianças e adolescentes têm
acompanhado os ciclos econômicos.

Tabela 2. 4 - Taxa de Atividade das Pessoas de 10 a 17 anos


por grupos de idade
Brasil – Nordeste – Sudeste Urbano 1981/1990 (%)

10 A 14 ANOS 15 A 17 ANOS
ANO
BR NE SE BR NE SE

1981 10,9 10,3 10,6 42,2 30,8 46,8


1983 10,6 10,4 10,3 41,4 31,3 61,6
1985 12,4 11,9 12,0 45,7 36,0 49,6
1987 12,1 10,9 11,9 46,5 35,4 59,2
1989 12,1 12,0 11,4 45,5 35,6 60,4
1990 11,0 12,2 9,9 45,1 37,6 59,1
Fonte: PNAD/IBGE apud Sabóia & Bregman, 1993.

A participação das crianças na faixa etária de 10 a 14 anos no conjunto da PEA


cresceu de 10,9% em 1981 para 12,4% em 1985, ano marcado pela recuperação
econômica e recomposição dos níveis de emprego, enquanto que para os
adolescentes a sua incorporação ao mercado de trabalho urbano passa de 42,2% no
início da década, para 45,7% em 1985.23 O decrescimento das taxas de atividade
deste grupo etário no final da década, período caracterizado pela elevação das taxas
de desemprego, sugere que nos momentos de crise e recessão, os primeiros a serem
atingidos são a parcela da população que não possui mão-de-obra qualificada, na qual
está incluída uma quantidade expressiva de crianças e adolescentes. O mesmo não
pode ser dito da década de 90, quando há uma queda contínua das taxas de
participação.
Portanto, dentre as vertentes teóricas existentes temos duas visões que formam um
paradoxo. Por um lado, alguns autores afirmam que “a crise, ela mesma, não facilita o
ingresso e a permanência dos mais jovens no mercado de trabalho, tendendo mais a

23
Ribeiro; Sabóia & Branco, 1995, p.130.

35
36
expulsá-los do que a retê-los”24, na medida em que seleciona mais
rigorosamente aqueles que conseguem inserir-se no mercado. Por outro lado,
defende-se que “a degradação do nível de renda, principalmente dos mais pobres, em
conseqüência da grave crise econômica dos anos 80, levou as famílias a incentivarem
o ingresso precoce de seus filhos no mercado de trabalho”25, o que se refletiria numa
maior taxa de participação dos mais jovens.
A conclusão a que podemos chegar é que não há uniformidade nem consenso na
avaliação do tamanho do mercado de trabalho de crianças e adolescentes medido
pela taxa de participação na década de 80, apesar de muitas vezes a fonte para
obtenção deste dado seja a mesma. Para Miller26, a taxa de atividade no setor urbano,
apresentou redução para as crianças do país como um todo, estabilidade no Sudeste
e crescimento no Nordeste. Para os adolescentes, a taxa de atividade no setor urbano,
apresentou crescimento tanto no país quanto no Nordeste, e manteve-se no Sudeste.
Estas afirmações confirmam-se com a análise da Tabela 2. 3, na qual são feitas
referências a diferentes autores que tratam fontes idênticas e chegam a diferentes
resultados para a década de 80.
A despeito das divergências acerca do tamanho do mercado de trabalho infantil na
década passada, os dados apresentados nos mostram que, apesar da relativa
estabilidade do número de crianças e adolescentes na PEA durante os anos oitenta e
queda substancial nos anos 90, o envolvimento precoce desta parcela da população
com o trabalho ainda é intenso.
Cervini & Burguer (1991) chamam a atenção, no entanto, para o fato de que uma
parcela não desprezível do trabalho infantil pode não estar sendo apreendida pela
medição clássica de mercado de trabalho. A taxa de participação como medida da
pressão sobre o mercado de trabalho é particularmente problemática no contexto do
trabalho infantil em relação à idade inferior da PIA e à zona de indefinição entre
inatividade e atividade no que concerne a muitos aspectos do trabalho doméstico e da
freqüência escolar.
Existe uma parcela da população infanto-juvenil que, ao se dedicar exclusivamente
aos afazeres domésticos e ao estar simultaneamente excluída do sistema escolar, é
considerada como não tendo nenhuma atividade produtiva, não sendo agregada,
portanto, nas estatísticas que aferem o mercado de trabalho das crianças e
adolescentes. Nas regiões menos desenvolvidas, onde o trabalho doméstico, realizado
principalmente pela menina, assume papel importante na caracterização da ocupação
das populações mais pobres, o número de crianças e adolescentes envolvidos com
atividades realizadas no interior do domicílio concomitante à não freqüência a escola é
facilmente subestimado.
Na apresentação dos dados para a Região Metropolitana de Salvador, Bairros27
mostra que em 1988 a taxa de participação das crianças de 10 a 14 anos era de 12%
para os meninos e 5,8% para as meninas. A agregação dos indivíduos que se
dedicam exclusivamente a afazeres domésticos muda esta realidade: os meninos
mantêm uma certa estabilidade na sua taxa de atividade (12,2%), enquanto que as
meninas dobram a sua participação no mercado de trabalho (11,6%). Na década de
90, a taxa de participação para as crianças e adolescentes da RMS estava no patamar
de 18,2% em 1992, coincidindo com a média brasileira da década anterior,

24
Bairros, 1992, p. 6.
25
Miller, 1993, p. 257.
26
Miller, 1993, p. 257.
27
Bairros, 1992.

36
37
considerada pela OIT como uma das mais elevadas do mundo. Tal taxa de
participação apresentou, segundo as PNAD, ligeira queda em 1993 (17,3%), um novo
aumento considerável em 1995 (19,8%), voltando a cair para níveis bem abaixo
daqueles do início da década, para 15,2% em 1996. O movimento é o mesmo para o
grupo de crianças de 10 a 14 anos (de 8,8% em 1992 para 5,8%) e de adolescentes
de 15 a 17 anos (de 36,1% em 1992 para 29,5% em 1996). No estado da Bahia, o
movimento de queda da taxa de participação urbana foi bastante significativo na
década de 90. Sobretudo entre 1995 e 1996, quando a taxa de participação das
crianças passou de 14,4% para 10,9% e dos adolescentes de 43,3% para 34,3%.
Tanto no estado da Bahia como um todo como na RMS as taxas de participação dos
jovens de 10 a 17 anos caíram na década de 90. Na RMS, área mais urbanizada do
estado, a participação dos jovens é bem menor que no estado, o que reflete a
importância do trabalho infanto-juvenil nas áreas rurais.
Os dados apresentados nas tabelas podem não representar toda a extensão da
realidade da inserção dos mais jovens na força de trabalho, na medida em que não
consideram o contigente de jovens e adolescentes que se dedicam exclusivamente a
afazeres domésticos.
As principais conclusões a que podemos chegar acerca das taxas de participação das
crianças e adolescentes no Brasil podem ser enumeradas em cinco, conforme
sugestão de Cervini & Burger (1991).
1. A taxa de participação para crianças e adolescentes é função da idade,
acompanhando o movimento dos adultos, ou seja, é maior para os adolescentes.

2. A taxa de participação feminina é sempre inferior à masculina, em qualquer faixa


etária, particularmente na de 10 a 14 anos. No entanto, esta condição muda se
incorporada às estatísticas a parcela da população que se dedica exclusivamente a
afazeres domésticos.

3. As taxas de atividade das crianças são similares, dados diferentes contextos


urbanos, enquanto a taxa de participação dos adolescentes variam fortemente, de
acordo com a heterogeneidade da estrutura do mercado de trabalho em diversas
regiões do país. Portanto, a entrada de crianças no mercado de trabalho tem
determinantes diversos da entrada de adolescentes.

4. A taxa de participação de crianças e adolescentes negros é superior à dos


brancos, especialmente na faixa de 10 a 14 anos.

5. Por fim, não podemos deixar de constatar que existe controvérsia quanto ao
tamanho do mercado de trabalho de crianças e adolescentes no país na década de
oitenta, com resultados numéricos diferenciados na literatura.
Estas conclusões são, em geral, também verdadeiras para a década de 90, sendo que
os trabalhos disponíveis com uso de fontes numéricas ainda começam a ser mais
divulgados. Optamos, portanto, por recorrer, sempre que possível diretamente a dados
das pesquisas nacionais.

37
38
É importante fazer uma distinção da participação no mercado de trabalho das
meninas e dos meninos no Brasil, nas grandes regiões e, mais especificamente na
Bahia e na RMS. As características de participação diferem muito quando é
considerado o sexo, tanto para crianças como para adolescentes. Os meninos sempre
participam mais do mercado de trabalho que as meninas, mas a queda da participação
observada na década de 90 foi mais importante para os meninos.
Chama atenção o movimento atípico da taxa de participação dos homens no Nordeste
entre 93 e 95, quando a taxa cresce mais para os homens de 15 a 17 anos do que
para os de 10 a 14, sendo que para as duas faixas a ocorrência de crescimento
diferencia a região Nordeste do Brasil e do Sudeste. A queda de participação
acentuada dos meninos na Bahia e na RMS pode ser um elemento importante na
aproximação da taxa de participação do Nordeste daquelas do país como um todo e
do Sudeste. Por outro lado, pode também indicar o crescimento das atividades
domésticas entre os meninos, o que nem sempre é devidamente contabilizado como
participação em atividade econômica, sobretudo quando efetuada na forma de ajuda a
familiares.28
Quanto às meninas, a taxa de participação cai mais para aquelas que têm entre 10 e
14 anos do que para as adolescentes de 15 a 17 anos. No estado da Bahia, a queda
na participação ocorre tanto para as meninas quanto para as adolescentes, no
entanto, na RMS há uma certa estabilidade na participação das adolescentes, o que
indica uma queda na participação no conjunto das adolescentes nas demais regiões
do estado. Destaca-se a queda na taxa de participação das meninas de 10 a 14 anos
bastante acentuada na RMS, que pode refletir a saída das meninas para a escola,
onde elas estão mais presentes que os meninos e obtêm melhores resultados.29
As taxas de participação são mais elevadas no Nordeste que no Sudeste apenas para
os meninos de 10 a 14 anos. Para as meninas na mesma faixa, não há diferença para
as duas grandes regiões no final da década. Para os adolescentes, a região Nordeste
tem taxas de participação menos elevadas que a região Sudeste, tanto para meninos
quanto para meninas.

28
Uma indicação desta mudança nas atividades poderá ser observada na análise das ocupações, na seção 0.
29
O que será melhor visto no Capítulo 4 deste trabalho.

38
39
Tabela 2. 5 – Taxas de Participação Urbanas de Meninos, por faixa etária
Década de 1990 (%)

1992 1993 1995 1996


Crianças (10 a 14)
BR 19,1 18,7 17,1 14,0
SE 15,2 15,0 12,8 11,3
NE 21,0 19,3 19,4 16,0
Bahia 22,3 20,5 18,6 14,4
RMS 11,3 10,6 13,4 8,0
Adolescentes (15 a 17)
BR 61,2 58,9 56,4 50,6
SE 60,9 57,6 55,0 51,2
NE 48,8 47,0 48,5 40,0
Bahia 58,7 56,5 55,7 43,8
RMS 45,2 41,7 44,9 34,2
Crianças e Adolescentes (10 a 17)
BR 33,7 32,6 48,1 27,9
SE 30,9 30,0 28,4 26,5
NE 30,7 28,8 30,2 25,0
Bahia 34,5 32,3 32,3 25,2
RMS 23,0 21,0 26,0 18,2
Fonte: PNAD, nossos cálculos.

39
40
Tabela 2. 6 – Taxas de Participação Urbanas de Meninas, por faixa etária
Década de 1990 (%)

1992 1993 1995 1996


Crianças (10 a 14)
BR 10,0 10,0 9,2 7,6
SE 8,6 8,2 7,6 6,8
NE 10,2 10,3 9,4 6,5
Bahia 13,0 11,8 10,1 7,5
RMS 6,2 6,4 7,0 3,7
Adolescentes (15 a 17)
BR 37,8 37,0 35,5 33,6
SE 38,0 36,9 35,7 35,9
NE 27,7 27,1 25,3 21,6
Bahia 36,5 33,9 31,0 25,1
RMS 26,6 25,4 25,3 25,0
Crianças e Adolescentes (10 a 17)
BR 19,9 19,6 18,9 17,4
SE 19,3 18,3 18,1 17,8
NE 16,5 16,3 15,3 12,3
Bahia 20,9 19,3 18,0 14,0
RMS 13,3 13,3 14,0 12,2
Fonte: PNAD, nossos cálculos.
Apesar das diferenças regionais, a participação dos jovens no mercado de trabalho no
Brasil caiu na década de 90, após ter apresentado um crescimento na década anterior,
principalmente entre as crianças de 10 a 14 anos. Entre os adolescentes, ocorre
também uma redução da taxa de participação, mas com menor intensidade e
mantendo-se em níveis mais elevados, sobretudo para os homens; isto reflete uma
maior proximidade dos adolescentes do comportamento dos adultos no mercado de
trabalho, confirmando as hipóteses sobre o assunto.
OCUPAÇÕES
A discussão sobre a ocupação de crianças e adolescentes aborda a situação de
inserção no mercado de trabalho da proporção dos jovens que conseguiram uma
ocupação. Quanto maior a taxa de ocupação em relação à PEA, menor o número de
jovens que pressiona o mercado de trabalho, está disposto a trabalhar, mas não
consegue, e configurando a formação de um grupo de jovens desempregados.
Ao longo da década de 90, as taxas de ocupação dos jovens brasileiros
economicamente ativos apresentaram um comportamento mais irregular: queda entre
os anos de 92 e 93, crescimento em 1995 com o início do plano Real e novamente
queda significativa em 96. As taxas de ocupação mantiveram-se muito próximas para
crianças e adolescentes igualando-se em 96, a 79,5%. Os dados também revelam
uma maior dificuldade de inserção das mulheres no mercado de trabalho. A taxa de
ocupação feminina caiu de 80,4% para 74,6%, comparativamente mais do que a
masculina, 83,6% e 82,5% ao longo do período de 92 a 96. As diferenças maiores
entre meninos e meninas concentram-se na faixa de 15 a 17 anos, pondo em

40
41
evidência a existência de segmentos diferenciados no mercado de trabalho para
homens e mulheres, a exemplo do emprego doméstico.
Na Bahia, a taxa de ocupação de crianças de 10 a 14 anos da área urbana mantém-se
estável, com um ligeiro crescimento em 1995 e nova queda no ano seguinte. A
ocupação dos adolescentes cai entre 1995 e 1996 – de 82,2% para 75,3% – sobretudo
para as mulheres – de 78,8% para 66,8% nos respectivos períodos. Assim, pode-se
observar que aumenta o desemprego dos adolescentes, concomitantemente ao
aumento do desemprego dos adultos no estado, que possui as maiores taxas de
desemprego do país. Por outro lado, confirmam-se os indicadores positivos da queda
da taxa de participação das crianças com a manutenção da taxa de desemprego e a
redução da PEA infantil.
Na Região Metropolitana de Salvador especificamente, entre os jovens que participam
do mercado de trabalho, as taxas de ocupação são bastante elevadas, sobretudo para
as crianças. A partir do momento em que se decide pela participação econômica de
uma criança de 10 a 14 anos, é muito provável que esta criança seja imediatamente
direcionada para uma ocupação, a partir de indicações de seus familiares ou amigos.
Assim, a ocupação das crianças da RMS é bastante elevada sobretudo no início da
década (81,7% em 1992) e chega a 90,3% em 1995. No entanto, em 1996 ocorre um
queda substancial da ocupação para 69,2% – o que eqüivale a um aumento do
desemprego entre as crianças – causada, principalmente pela queda na ocupação das
meninas para 62% neste mesmo ano.
A ocupação cai mais substancialmente entre os adolescentes (de 78,8% em 1992 para
67,2% em 1995), o que leva a uma queda na ocupação de todo o grupo de jovens de
10 a 17 anos (de 79,7% em 1992 para 67,7% em 1996).
O ano de 1995 tem um movimento atípico na década, com aumento na ocupação
tanto para crianças como para adolescentes, o que agrava ainda mais a queda brusca
que ocorre no ano seguinte para taxas de ocupação abaixo daquelas observadas no
início da década.
Composição setorial
Ao se confrontarem os indicadores de participação setorial no mercado de trabalho da
população na faixa etária de 10 a 17 anos e dos adultos, verifica-se entre os mais
jovens a confirmação do movimento de terciarização da mão-de-obra na década de
oitenta. Um dos fatores responsáveis pelo “inchamento” do setor terciário está
intrinsecamente ligado ao incremento da desestruturação do mercado de trabalho
brasileiro, assim caracterizado pela expansão do número de trabalhadores sem
carteira de trabalho assinada, além do aumento da presença de pequenas empresas.
No que concerne a incorporação das crianças e adolescentes no setor de serviços,
podemos afirmar que, em períodos de crise, há uma tendência de crescimento da
ocupação dos mais jovens neste segmento, com destaque para o incremento da
demanda de setores menos regulados da economia. Isto ocorre devido à maior
facilidade de inserção em atividades que não requerem alto nível de educação ou
qualificação avançada, característica que possui a mão-de-obra infantil. De acordo
com os dados da PNAD, cerca de 70% das crianças e 64% dos adolescentes, em
1990, estavam incorporados às atividades terciárias. Os dados apresentados por
Miller30 confirmam a importância do setor de serviços na criação de postos de
trabalhos para as crianças e adolescentes, mas o autor destaca que, embora o setor
continue liderando, verifica-se que na década de 80 sua participação foi declinante, se

30
Miller, 1993, p. 260.

41
42
visto separadamente do comércio de mercadorias. Constata-se nesses estudos
que o trabalho infantil cresceu principalmente no comércio e outras atividades,
especialmente o comércio de mercadorias que passou a absorver 25% das crianças
ocupadas no Sudeste e 28% no Nordeste, em decorrência principalmente da
dedicação ao comércio ambulante urbano.
Na década de 90, no Brasil urbano, a importância do setor terciário é grande para
crianças e adolescentes, e crescente para os adolescentes ocupados. Cresce a
ocupação das crianças brasileiras na construção civil, apesar deste setor ser o de
menor representação no total de jovens ocupados.
Apesar da queda da participação de crianças na agricultura no país, esta queda não é
marcante na região Nordeste, mas ocorre no estado da Bahia.
Cresceu a proporção de crianças ocupadas no comércio no Nordeste, enquanto no
Sudeste cresce a proporção de crianças ocupadas no setor Serviços, o que indica
uma distinção na qualidade das ocupações exercidas pelas crianças nas duas regiões.
Entre os adolescentes há uma redução substancial de sua participação em atividades
agrícolas e um crescimento em atividades de comércio e serviços, sobretudo na RMS,
o que indica uma concentração crescente de jovens nos setores mais urbanizados e
com maior oferta deste tipo de atividade.

42
43
Tabela 2. 7 – Crianças e Adolescentes ocupados
segundo principais setores da economia
Brasil – Nordeste – Sudeste – Bahia Urbanos e RMS – 1993 / 1996 (%)

Crianças de 10 a 14 anos Adolescentes de 15 a 17


REGIÃO anos
1993 1995 1996 1993 1995 1996
BRASIL
AGRICULTURA 20,5 18,7 18,5 12,1 12,3 10,0
INDÚSTRIA 10,6 11,2 11,6 14,9 14,6 15,6
CONSTRUÇÃO CIVIL 3,3 3,7 4,4 7,4 6,3 6,8
COMÉRCIO 26,9 26,4 25,7 20,3 20,3 20,5
SERVIÇOS 37,7 38,8 38,5 44,2 45,4 46,0

NORDESTE
AGRICULTURA 21,4 24,0 24,4 13,2 18,4 14,7
INDÚSTRIA 8,7 8,9 10,1 10,1 9,1 10,9
CONSTRUÇÃO CIVIL 2,6 2,5 3,0 6,1 5,1 4,6
COMÉRCIO 30,2 28,3 41,1 22,0 20,8 22,7
SERVIÇOS 35,9 35,3 28,1 47,1 45,0 45,5

SUDESTE
AGRICULTURA 18,2 14,5 11,9 10,7 9,1 7,0
INDÚSTRIA 11,3 12,2 13,0 18,2 17,1 17,2
CONSTRUÇÃO CIVIL 4,0 5,8 7,0 8,3 6,8 8,1
COMÉRCIO 24,8 20,3 23,8 19,0 20,2 20,9
SERVIÇOS 40,5 46,4 42,8 43,0 45,8 46,2

BAHIA
AGRICULTURA 22,0 21,3 15,9 11,5 16,5 7,6
INDÚSTRIA 8,8 6,3 12,5 11,9 8,6 17,3
CONSTRUÇÃO CIVIL 3,4 2,7 5,3 6,5 5,8 7,6
COMÉRCIO 25,3 30,3 23,2 24,8 19,3 20,1
SERVIÇOS 39,2 37,7 41,9 44,8 47,6 46,6

RMS
AGRICULTURA 22,3 21,5 23,0 11,7 16,5 8,5
INDÚSTRIA 8,9 6,4 7,9 11,9 8,7 10,1
CONSTRUÇÃO CIVIL 3,1 2,7 3,1 6,4 5,9 5,8
COMÉRCIO 25,8 30,6 25,7 24,5 19,7 23,1
SERVIÇOS 38,5 37,0 38,2 45,0 47,0 51,7
Fonte: PNAD/IBGE nossos cálculos.

43
44

A análise da ocupação nos diversos ramos da atividade econômica sugere uma maior
precariedade da inserção das meninas no mercado de trabalho urbano. De acordo
com os dados apresentados por Sabóia (1993), no início da década de noventa, os
meninos na faixa etária de 10 a 17 anos ocupavam-se em sua maioria na indústria,
enquanto as meninas estavam ligadas majoritariamente a atividades desenvolvidas no
setor de serviços. A precariedade para elas é maior na medida em que sua inserção
em atividades do setor serviços de melhor qualidade é pouco provável
independentemente de sua qualificação. Tal situação se agrava se comparados os
diversos contextos regionais. Na região Nordeste, o setor terciário, caracterizado mais
que outros setores pelas formas de inserção precárias, é responsável pela geração de
68,3% dos postos de trabalho para as meninas entre 10 a 14 anos. Incorporando o
excedente de mão-de-obra, composto geralmente por trabalhadores que buscam,
através do trabalho autônomo ou em empregos precários sem a mínima proteção
social, as condições para a sobrevivência, o setor de serviços é responsável também
pela ocupação da maioria das jovens de 15 a 17 anos na região Nordeste (64%).
Em 1996, as crianças e adolescentes brasileiras que estavam ocupadas, segundo a
PNAD/IBGE, continuavam sobretudo no setor serviços – incluindo nele o comércio,
sendo 14,7% no comércio e 30,2% nos serviços – num total de 44,9% dos ocupados.
Logo em seguida, os jovens estavam mais ocupados na agricultura (39,6%). A
indústria ocupava 10,4% das crianças e adolescentes trabalhadores.
Posição na Ocupação
Os dados apresentados por diversos autores mostram que a participação de pessoas
da faixa etária de 10 a 17 anos no mercado de trabalho molda-as para as piores
ocupações, dificultando o acesso futuro a bons empregos. Para caracterizar as
crianças e adolescentes urbanos precocemente envolvidas com o trabalho, Miller31
sugere três grupos.
• Assalariados, que representavam, em 1990, 83% dos ocupados para o Brasil, 73%
para o Nordeste e 89% para o Sudeste.
• Trabalhadores não remunerados, que representavam 11,1% no Brasil, 18% no
Nordeste e 7% no Sudeste.
• Trabalhadores por conta própria, cuja participação vem decrescendo: 6,5% no
Brasil, 11% no Nordeste e 4,4% no Sudeste em 1990.
De acordo com os dados da PNAD, o trabalhador infanto-juvenil da área urbana é
principalmente assalariado. Cabe ressaltar, no entanto, que, apesar da grande maioria
das crianças de 10 a 14 anos trabalhar na condição de empregados assalariados, a
demanda pelo trabalho assalariado provém dos setores não regulamentados da
economia, visto que o trabalho infantil é proibido para menores de 14 anos. Dadas as
características distintas do mercado de trabalho para as crianças e os adolescentes, a
participação do jovem neste mercado depende, em grande parte, do nível de
formalização das atividades econômicas da região em que reside, enquanto que a
maioria das crianças trabalhadoras atrelam-se independentemente, como
assalariadas, ao mercado de trabalho em segmentos não registrados da economia,
principalmente em atividades de comércio e serviços.
Na comparação dos dados do início da década para o Brasil e Grandes Regiões, a
análise para os anos oitenta, nos mostra uma maior deterioração das condições de
trabalho dos mais jovens, com queda do número de trabalhadores assalariados e por
conta-própria e o incremento daqueles que não recebem nenhum rendimento em troca

31
Miller, 1993, p. 259.

44
45
do trabalho desempenhado. Percebe-se, no entanto, que há um grande peso dos
trabalhadores sem remuneração e dos trabalhadores por conta-própria,
especificamente entre as crianças, o que torna a inserção na força de trabalho deste
grupo populacional precária.
A tarefa de ajudar os adultos na atividade econômica familiar vai sendo transferida
para os filhos menores, quando os mais velhos vão disputar uma colocação
independente no mercado de trabalho. Este fator reflete-se na maior participação das
crianças em ocupações não remuneradas. A PNAD de 1990 confirma que parte
expressiva da ocupação das crianças brasileiras está entre os trabalhadores não
remunerados (11,1%). O principal destaque deste tipo de atividade foi sua expansão
na década de oitenta, constituindo a única condição de atividade que ganhou
participação. As atividades não remuneradas também são as mais importantes na
década de 90, de forma crescente para o Brasil e para o Nordeste.
A análise regional também nos leva a conclusões interessantes, na medida em que a
precarização das formas de inserção dos mais jovens na força de trabalho se mostra
muito mais aguda para aquelas de regiões cujos mercados de trabalho são menos
estruturados. Associada a um quadro de fragilidade e precariedade, a exploração da
mão-de-obra infantil se dá em ocupações ainda mais precárias no Nordeste que no
Sudeste. Enquanto na região Sudeste o total de trabalhadores por conta-própria e não
remunerados representava cerca de 11,3% da ocupação desta camada da população,
no Nordeste só os trabalhadores por conta-própria já alcançavam 11% do total da
ocupação e os trabalhadores não remunerados 18%, em 1990.
A criança do Nordeste corresponde a 24,9% dos não remunerados, enquanto no
Sudeste este percentual cai para 12,7%. Parcela significativa das crianças insere-se
no mercado de trabalho em atividades no interior do domicílio, ligando-se ao mercado
de trabalho indiretamente através da família, sem recebimento de salários.
A outra face da concentração de crianças e adolescentes em atividades precárias é a
importância do segmento serviços domésticos na absorção da mão-de-obra infanto-
juvenil. Sabóia (1996) afirma que uma das ocupações mais freqüentes na faixa de 10
a 14 anos é o trabalho doméstico. “No Nordeste urbano, o emprego doméstico
ocupava mais da metade da população de meninas trabalhadoras – 57% das crianças
e 52% das adolescentes.”32 Também entre as adolescentes do sexo feminino o
trabalho doméstico é muito comum. Bairros33 constatou que 83,8% das crianças e
adolescentes encontram-se nos ramos mais tradicionais do terciário, sendo que os
serviços domésticos têm uma grande importância para as meninas que representam
cerca de 1/4 do total de trabalhadores domésticos da RMS.

32
Sabóia, p.3, 1996.
33
Bairros, p. 10 , 1992.

45
46
Tabela 2. 8 - Pessoas ocupadas de 10 a 17 anos, por grupos de
idade, segundo posição na ocupação
Brasil – Nordeste – Sudeste Urbano – 1981 / 1990 (%)

TOTAL 10 A 14 15 A 17
REGIÃO
1981 1990 1981 1990 1981 1990
BRASIL
EMPREGADOS
83,9 82,3 76,1 72,9 87,3 86,5
CONTA-PRÓPRIA
6,7 6,5 9,2 8,5 6,6 5,6
EMPREGADORES
0,0 0,1 0,0 0,1 0,0 0,1
NÃO
REMUNERADOS / 9,4 11,1 18,5 7,1 7,1 7,7
SEM DECLARAÇÃO

NORDESTE
EMPREGADOS
73,2 71,0 65,8 63,2 77,5 75,5
CONTA-PRÓPRIA
12,1 11,0 12,6 11,8 11,0 10,5
EMPREGADORES
0,0 0,1 0,0 0,1 0,0 0,1
NÃO
REMUNERADOS / 14,7 18,0 21,7 24,9 10,6 13,9
SEM DECLARAÇÃO

SUDESTE
EMPREGADOS
89,0 88,6 82,5 81,8 91,3 91,2
CONTA-PRÓPRIA
4,9 4,4 8,0 5,2 3,8 4,1
EMPREGADORES
0,0 0,2 0,0 0,2 0,0 0,2
NÃO
REMUNERADOS / 6,1 6,9 9,4 12,7 4,8 4,6
SEM DECLARAÇÃO

Fonte: PNAD/IBGE reproduzido de Miller, 1993, p.268.


Com a mudança de metodologia da PNAD a partir de 1992, a análise da posição na
ocupação passou a ser mais detalhada, envolvendo entre os ocupados aqueles que
trabalham na produção para o próprio consumo ou na construção para o próprio uso.
O período de consideração do exercício de uma atividade também ficou mais
abrangente: passou de um mínimo de quinze horas semanais para uma hora na
semana. O trabalhador não remunerado passou a ser aquele que trabalha em ajuda a
membro da unidade domiciliar na produção de bens primários, como conta própria ou
empregador, ou ainda a pessoa que trabalha sem remuneração, durante pelo menos
uma hora na semana, como aprendiz ou estagiário ou em ajuda a instituição religiosa,
beneficente ou de cooperativismo. Para efeito de divulgação, em todas as tabelas que
apresentam a classificação por posição na ocupação, as categorias trabalhador não
remunerado membro da unidade domiciliar e outro trabalhador não remunerado foram
reunidas em uma única, que recebeu a denominação de não remunerado.
O trabalhador na produção para o próprio consumo é a pessoa que trabalha, durante
pelo menos uma hora na semana, na produção de bens do ramo que compreende as
atividades da agricultura, silvicultura, pecuária, extração vegetal, pesca e piscicultura,
para a própria alimentação de pelo menos um membro da unidade domiciliar. O
trabalhador na construção para o próprio uso é a pessoa que trabalhava, durante pelo

46
47
menos uma hora na semana, na construção de edificações, estradas privativas,
poços e outras benfeitorias (exceto as obras destinadas unicamente à reforma) para o
próprio uso de pelo menos um membro da unidade domiciliar.
Com estas modificações metodológicas, a pesquisa passou a ser mais sensível a
especificidades do mercado de trabalho, sobretudo o infanto-juvenil.

47
48

Tabela 2.9 – Ocupados segundo posição na ocupação


Brasil – Nordeste – Sudeste – Bahia Urbanos e RMS – 1992 / 1996 (%)

48
49

Crianças de 10 a 14 anos Adolescentes de 15 a 17 anos


REGIÃO
1992 1993 1995 1996 1992 1993 1995 1996
BRASIL
EMPREGADOS 20,0 22,5 20,9 21,7 49,5 48,5 50,3 51,1
TRABALHADORES DOMÉSTICOS 7,6 8,8 7,9 7,4 13,3 13,5 12,7 12,8
CONTA-PRÓPRIA 5,3 5,6 4,9 4,4 6,6 6,1 6,1 5,6
NÃO REMUNERADOS 54,6 55,2 56,7 57,5 27,4 28,6 27,3 26,8
TRABALHADORES NA PRODUÇÃO PARA
O PRÓPRIO CONSUMO
8,4 8,1 9,0 8,3 2,8 3,0 3,2 3,3

TRABALHADORES NA CONSTRUÇÃO
PARA O PRÓPRIO USO
0,5 0,3 0,5 0,7 0,3 0,2 0,3 0,3

NORDESTE
EMPREGADOS 12,9 12,7 11,8 13,2 29,9 27,7 27,5 28,0
TRABALHADORES DOMÉSTICOS 9,6 9,8 7,6 4,5 16,6 17,6 17,2 18,5
CONTA-PRÓPRIA 6,2 7,2 5,3 5,3 10,2 9,3 8,7 8,3
NÃO REMUNERADOS 64,5 62,7 67,1 69,0 39,2 40,9 41,4 39,6
TRABALHADORES NA PRODUÇÃO PARA
O PRÓPRIO CONSUMO
6,5 7,1 8,0 7,9 3,8 4,3 5,1 5,5

TRABALHADORES NA CONSTRUÇÃO
PARA O PRÓPRIO USO
0,3 0,3 0,2 0,2 0,5 0,3 0,3 0,2

SUDESTE
EMPREGADOS 35,2 35,3 35,5 38,2 63,4 64,9 67,5 66,6
TRABALHADORES DOMÉSTICOS 12,0 11,7 12,3 10,9 14,1 13,2 12,5 13,1
CONTA-PRÓPRIA 4,8 5,5 4,0 4,2 4,9 4,3 4,3 3,4
NÃO REMUNERADOS 37,3 37,8 36,9 38,9 15,2 15,4 13,1 14,4
TRABALHADORES NA PRODUÇÃO PARA
O PRÓPRIO CONSUMO
9,9 9,1 10,4 6,1 2,1 2,0 2,1 1,8

TRABALHADORES NA CONSTRUÇÃO
PARA O PRÓPRIO USO
0,7 0,5 0,9 1,7 0,2 0,2 0,3 0,5

BAHIA
EMPREGADOS 16,5 16,5 14,7 13,4 36,4 32,8 33,1 33,2
TRABALHADORES DOMÉSTICOS 6,6 6,5 5,4 5,2 9,0 9,9 11,3 10,6
CONTA-PRÓPRIA 6,0 4,2 3,8 4,1 8,8 7,4 9,1 6,9
NÃO REMUNERADOS 64,9 65,1 68,7 68,8 42,8 46,2 42,2 43,9
TRABALHADORES NA PRODUÇÃO PARA
O PRÓPRIO CONSUMO
5,9 7,6 7,0 8,2 2,7 3,5 4,1 5,1

TRABALHADORES NA CONSTRUÇÃO
PARA O PRÓPRIO USO
0,2 0,1 0,3 0,2 0,3 0,1 0,2 0,2

RMS
EMPREGADOS 25,5 27,4 24,3 31,7 48,8 42,6 49,1 51,7
TRABALHADORES DOMÉSTICOS 20,4 16,8 15,0 12,7 21,5 25,8 16,7 22,4
CONTA-PRÓPRIA 23,5 20,0 12,1 9,5 11,7 20,5 17,8 10,0
NÃO REMUNERADOS 27,5 30,5 47,9 30,2 15,6 10,5 14,5 13,4
TRABALHADORES NA PRODUÇÃO PARA
O PRÓPRIO CONSUMO
2,0 3,2 - 11,1 1,0 - 1,5 1,0

TRABALHADORES NA CONSTRUÇÃO
PARA O PRÓPRIO USO
1,0 2,1 0,7 4,8 1,5 0,5 0,4 1,5

Fonte: PNAD/IBGE nossos cálculos.

49
50
Os dados da

50
51

Tabela 2.9 mostram o predomínio das ocupações não remuneradas para as crianças de
10 a 14 anos, em todas as regiões do país. Entre 92 e 96 esta posição de ocupação
foi a que apresentou maior crescimento, passando de 54,6% para 57,5% no país,
sugerindo uma maior participação das crianças no auxílio das atividades de familiares.
A situação de empregado teve um crescimento menor durante o mesmo período, 20%
para 21,7% mantendo-se na segunda posição de ocupação mais freqüente. Exceto
pelo pequeno incremento dos trabalhadores ocupados na construção para próprio uso,
as demais categorias de ocupação diminuíram em participação. Entre 92 e 96,
ocorrem significativas mudanças no conjunto das categorias de ocupação da PNAD.
As categorias conta-própria e empregados caem ao longo destes anos, enquanto o
contrário se dá com outras categorias. O trabalho não remunerado, doméstico e para o
próprio consumo, crescem nesses anos. Apesar das variações mencionadas, as
ocupações que mais absorvem a mão-de-obra infanto-juvenil são praticamente as
mesmas em 96 e 92.
Na região Sudeste, a ocupação das crianças de 10 a 14 anos apresentou dois
movimentos opostos, com indicações de melhora na qualidade, com o aumento da
proporção de empregados e redução do trabalho doméstico e para consumo próprio,
mas por outro lado, o aumento da proporção de não remunerados e trabalhadores na
construção para o próprio uso. Na região Nordeste, o movimento é praticamente o
mesmo, sendo que a proporção de trabalhadores na construção para o próprio uso é
muito pequena, enquanto a de trabalhadores para o próprio consumo é um pouco
mais significativa que no Sudeste.
A análise das ocupações das crianças de 10 a 14 anos indica duas situações
principais das crianças ocupadas na Região Metropolitana de Salvador: 62% delas
estão empregadas ou exercem alguma atividade não remunerada. A posição na
ocupação dos empregados (31,7% em 1996) pode ser considerada mais regular,
indicando uma melhor qualidade na atividade exercida e provável acesso a melhores
rendimentos e alguns benefícios oferecidos aos empregados. Por outro lado, 30,2%
das crianças exercem atividades não remuneradas, representando o lado oposto da
situação, com crianças que exercem atividade sacrificando seu tempo de educação e
lazer, e nem mesmo dispõem de remuneração.
Ao longo da década, pôde-se observar, no entanto, uma melhoria nas condições de
ocupação das crianças da RMS. O número de empregados cresceu, apesar de uma
queda no ano de 1995, passando de 25,5% em 1992 para 31,7% em 1996. Em
contrapartida, mas também indicando uma melhoria nas condições de ocupação das
crianças, o número de crianças em ocupações mais precárias caiu muito – no caso
dos trabalhadores domésticos e por conta-própria – ou pelo menos manteve-se
praticamente num mesmo patamar – no caso dos trabalhadores não remunerados.
Isso indica que a situação de ocupação das crianças da RMS melhorou mais que o
quadro do país como um todo ou regional.
As atividades das crianças relacionadas com produção para o próprio uso ou
construção para o próprio consumo cresceram significativamente na década, com um
salto em 1996. Estas atividades, sobretudo no caso de crianças, representam uma
contribuição à atividade produtiva da família. A informação sobre a evolução deste tipo
de atividade na década permitiu uma visão mais clara do trabalho das crianças e

51
52
adolescentes fora do mercado tradicional, refletindo elementos específicos, e
distintos dos adultos, da atividade econômica dos mais jovens.
No país, as condições de inserção para os adolescentes de 15 a 17 anos se mantêm
relativamente estáveis. Ao contrário das crianças, os adolescentes são principalmente
empregados e em segundo lugar trabalhadores não remunerados. Sua situação de
ocupação é melhor que a das crianças e aproxima-se mais das condições dos adultos,
como tem sido sempre observado nos dados.
As diferenças regionais são muito importantes. Os adolescentes do Nordeste são
principalmente trabalhadores não remunerados e os do Sudeste são principalmente
empregados. As posições mais precárias são mais importantes no Nordeste que no
Sudeste do país. Na Bahia, a condição de não remunerado é também a mais
importante para os adolescentes, acompanhando a situação da região Nordeste. Na
Bahia e no Nordeste como um todo, a posição de trabalhador na produção para o
próprio consumo é importante para os adolescentes – mas um pouco menos que para
as crianças de 10 a 14 anos.
Na Região Metropolitana de Salvador, o trabalho doméstico destaca-se para os
adolescentes, mais do que nas áreas urbanas do estado da Bahia como um todo. A
proporção de empregados cresce e o trabalho não remunerado, apesar de ter
proporção ainda elevada, é menor que no estado como um todo. No estado da Bahia
ocorre um crescimento da proporção de adolescentes em ocupações não
remuneradas e trabalhadores na produção para o próprio consumo, enquanto que na
RMS os adolescentes passam a ser mais empregados e trabalhadores domésticos.

52
53
Tabela 2. 10 – Meninos e Meninas de 10 a 14 anos ocupados
segundo principais posições na ocupação
Brasil – Nordeste – Sudeste – Bahia Urbanos e RMS – 1992 / 1996 (%)

Meninos de 10 a 14 Meninas de 10 a 14
REGIÃO anos anos
1992 1993 1995 1996 1992 1993 1995 1996
BRASIL
EMPREGADOS 28,2 27,8 26,0 26,2 11,4 12,2 11,2 12,1
TRABALHADORES DOMÉSTICOS 0,9 1,2 0,9 0,7 24,1 23,5 21,3 21,7
NÃO REMUNERADOS 58,0 58,3 59,1 59,7 47,8 47,8 51,9 52,7

NORDESTE
EMPREGADOS 18,3 17,4 16,3 16,6 7,5 8,1 7,3 5,0
TRABALHADORES DOMÉSTICOS 0,4 0,7 0,8 0,4 18,8 19,0 14,4 14,2
NÃO REMUNERADOS 70,2 70,8 69,7 70,1 58,8 54,7 64,5 66,4

SUDESTE
EMPREGADOS 43,8 43,5 42,4 44,4 18,4 20,5 22,4 25,2
TRABALHADORES DOMÉSTICOS 1,8 1,6 1,1 1,3 32,0 30,1 33,5 30,8
NÃO REMUNERADOS 40,7 41,2 42,9 42,4 30,7 31,6 25,6 31,8

BAHIA
EMPREGADOS 22,6 20,0 17,8 17,1 5,4 9,6 9,0 5,5
TRABALHADORES DOMÉSTICOS 0,4 0,6 0,5 - 17,6 18,3 14,4 16,4
NÃO REMUNERADOS 63,7 69,0 69,7 68,3 67,0 57,2 67,0 70,0

RMS
TRABALHADORES DOMÉSTICOS - 1,6 3,4 - 58,8 46,9 35,3 44,5
NÃO REMUNERADOS 32,8 34,9 45,0 33,3 17,6 21,9 52,9 22,2

Fonte: PNAD/IBGE nossos cálculos.

As diferenças nas ocupações de meninos e meninas são marcantes. Os meninos


praticamente não estão presentes no trabalho doméstico, que fica a cargo das
meninas. Eles ficam com a posição de empregados. O trabalho não remunerado é
significativo tanto para meninos como para meninas. No Nordeste, o trabalho não
remunerado fica em torno de 70% das ocupações dos meninos e 60% das meninas de
10 a 14 anos. Esta posição na ocupação é também importante no Sudeste, mas de
forma mais equilibrada com a posição de empregados – para os meninos – e de
trabalhadores domésticos – para as meninas. Na Bahia Urbana, o trabalho não
remunerado ocupa cerca de 70% dos meninos e meninas trabalhadores.
Na Região Metropolitana de Salvador, há uma redução do trabalho não remunerado,
configurando-se uma distribuição nas ocupações equivalente com a da região
Sudeste, mas com uma proporção maior de trabalho doméstico para as meninas.

53
54
Tabela 2. 11 – Meninos e Meninas de 15 a 17 anos ocupados
segundo principais posições na ocupação
Brasil – Nordeste – Sudeste – Bahia Urbanos e RMS – 1992 / 1996 (%)

Adolescentes Homens
Adolescentes Mulheres
de
REGIÃO de 15 a 17 anos
15 a 17 anos
1992 1993 1995 1996 1992 1993 1995 1996
BRASIL
EMPREGADOS 59,1 58,4 59,6 59,0 32,8 31,4 33,4 36,2
TRABALHADORES DOMÉSTICOS 0,9 0,8 1,0 1,3 34,9 35,6 33,9 34,4
NÃO REMUNERADOS 30,3 31,7 29,9 30,3 22,4 23,1 22,6 20,4

NORDESTE
EMPREGADOS 40,3 39,0 39,0 37,9 19,4 16,4 16,0 18,1
TRABALHADORES DOMÉSTICOS 1,0 0,8 1,0 1,1 32,2 34,3 33,3 35,8
NÃO REMUNERADOS 45,5 48,1 46,8 47,4 32,8 33,6 35,9 31,9

SUDESTE
EMPREGADOS 74,5 75,4 78,0 76,1 45,0 46,7 48,8 50,1
TRABALHADORES DOMÉSTICOS 1,3 0,9 1,2 1,7 35,3 34,4 32,8 32,9
NÃO REMUNERADOS 16,2 17,0 14,4 16,2 13,5 12,4 10,8 11,4

BAHIA
EMPREGADOS 44,8 41,5 42,3 38,8 21,4 16,6 14,1 20,2
TRABALHADORES DOMÉSTICOS 0,7 0,5 0,8 1,1 23,8 27,4 33,2 32,8
NÃO REMUNERADOS 42,2 45,7 43,3 45,4 43,9 47,0 39,9 40,5

RMS
EMPREGADOS 61,3 57,5 62,6 65,6 23,5 17,1 24,0 28,9
TRABALHADORES DOMÉSTICOS 3,6 5,8 1,7 1,6 57,4 60,0 44,8 56,6
NÃO REMUNERADOS 17,5 9,2 15,1 17,6 11,8 12,9 13,5 6,6

Fonte: PNAD/IBGE nossos cálculos.

Também entre as adolescentes mulheres estão mais presentes no trabalho doméstico que os
homens de 15 a 17 anos, que estão na posição de empregados principalmente. O trabalho não
remunerado é também importante, mas menos que para as crianças. As diferenças
regionais são ainda maiores para os adolescentes. No Sudeste do país, os
adolescentes ocupados estão mais empregados e menos em ocupações não
remuneradas.
Na Bahia, o trabalho não remunerado tem elevadas proporções tanto para homens
quanto para mulheres de 15 a 17 anos. Este quadro melhora um pouco na RMS, com
redução do trabalho não remunerado, mas ainda com a divisão entre homens –
empregados – e mulheres – trabalhadoras domésticas.
RENDIMENTO
Rendimento Familiar
A contribuição do trabalho das crianças e adolescentes para a renda da família
aumenta conforme diminui o rendimento familiar, sendo mais importante nos extratos

54
55
mais pobres da população. Cervini & Burger34 destacam que mais de 30% das
famílias que possuem no mínimo uma criança ou adolescente no mercado de trabalho
têm a sua renda total composta por uma contribuição superior a 30% provinda do
trabalho infanto-juvenil. Com base nesta constatação, propõe-se que a análise da
inserção dos mais jovens no mercado de trabalho em função da situação de pobreza
das famílias e a importância da contribuição proporcional do rendimento individual de
cada criança e adolescente à renda familiar, deve ser feita sem a agregação do
rendimento desta criança, no total do rendimento familiar, na medida em que, quanto
maior for a contribuição da criança em relação à dos adultos, mais oculta ficará a
relação entre a renda familiar e o trabalho infantil.
Outra observação importante deve ser feita com relação à utilização do Salário Mínimo
com indicador de níveis de rendimento, devido à grande diversidade de necessidades
das famílias e dos indivíduos de acordo com o período de tempo e a região estudados.
A maior parte dos autores, no entanto, utiliza o Salário Mínimo como indicador, apesar
de suas limitações. Os dados apresentados por Sabóia35, por exemplo, mostram que a
taxa de participação das crianças, no início da década de 90, era de 23% nas famílias
com renda até ½ SM per capita, baixando para 5% nas famílias com rendimento per
capita superior a 2 SM; para os adolescentes, cuja participação no mercado de
trabalho é mais intensa, estas taxas eram de 54% nas famílias com rendimento
mensal de até ½ SM caindo para 30% nas famílias com renda maior que 2 SM per
capita.
Na década de oitenta, houve uma elevação da taxa de participação das crianças para
quase todas as classes de rendimento, sendo o movimento mais intenso para as
classes de rendimento mais elevado. Destaca-se que, entre as crianças de 10 a 14
anos, a taxa de atividade daquelas que viviam em famílias com renda até ¼ do SM per
capita passou de 25,9% para 26,1% entre 1981 e 1989, apresentando uma pequena
elevação. Para as famílias localizadas nos estratos de renda superiores a 2 SM per
capita, a taxa de participação das crianças cresceu mais que 50%, passando de 4,2%
para 6,5% no mesmo período. 36
Movimento semelhante é registrado para o grupo dos adolescentes de 15 a 17 anos,
no qual o crescimento da taxa de participação é registrado para todas as faixas de
rendimento estudadas. A análise da taxa de participação dos adolescentes segundo o
rendimento familiar per capita nos mostra que, entre as famílias de menor poder
aquisitivo, a inserção do jovem no mercado de trabalho se faz com mais intensidade,
podendo, em muitos casos, ser comparada com a participação dos adultos. Em 1989,
53,7% dos total de adolescentes encontravam-se envolvidos com o trabalho. Assim
como as crianças, os adolescentes têm sua participação na força de trabalho ampliada
principalmente no grupo das famílias cuja renda per capita é superior a 2 SM (24,3%,
em 1981, e 34,5% em 1989).
Estes resultados nos mostram que, mesmo após o crescimento da taxa de atividade
verificado na década para os rendimentos mais elevados, nas duas faixas etárias
consideradas, a taxa de atividade das crianças mais pobres é consideravelmente
superior à das mais ricas. Para as crianças de 10 a 14 anos, a taxa de atividade dos
mais pobres era, em 1989, três vezes superior à dos mais ricos, enquanto que para os
adolescentes esta relação era uma vez e meia mais elevada.

34
Cervini, & Burger, 1991, p. 30.
35
Sabóia, 1996, p. 3.
36
Ribeiro; Sabóia & Branco, 1995, p.131.

55
56
Em 1995, 40,4% das crianças de 0 a 14 anos provinham de famílias com
rendimento familiar per capita de até meio salário mínimo. As diferenças regionais aqui
são marcantes: a proporção destas crianças no Sudeste é de 26%, enquanto no
Nordeste é de 63,3% no mesmo ano. Entre os estados de São Paulo e Bahia as
distâncias são ainda maiores; em São Paulo, 15,8% das crianças de 0 a 14 anos
viviam em famílias de rendimento familiar per capita de até meio salário mínimo,
enquanto na Bahia a proporção destas crianças salta para 62,1% em 1995.
Por outro lado, a proporção de crianças brasileiras vivendo em famílias com renda
familiar per capita de mais de 2 salários mínimos era de 16,2%, sendo que no Sudeste
representava 23,6%, muito distante do Nordeste – 6% apenas. A distância entre os
estados de São Paulo – 29,8% – e Bahia – 5,5% – é equivalente à regional.
Rendimento Individual
Apesar da importância da contribuição do rendimento da criança e do adolescente no
total do rendimento familiar, os rendimentos auferidos por esta parcela da população
são muito baixos se comparados com o dos adultos, que também é baixo. Como
destacado anteriormente, a exploração do trabalho infanto-juvenil tem grande
relevância para as famílias mais pobres em função, principalmente, dos baixos
rendimentos recebidos pelos adultos.
Os rendimentos das crianças são bem mais baixos que os recebidos pelos jovens,
com o agravante das diferenças regionais. Miller37 constatou que os rendimentos
recebidos pelas crianças nordestinas eram muito baixos. Em 1981, 55% das crianças
remuneradas recebiam até ¼ do SM e apenas 16% recebiam mais de ½ SM de 1981.
Os dados da PNAD apresentados por esta autora confirmam a situação de pobreza
das famílias do Nordeste, onde, apesar dos baixos rendimentos auferidos pelas
crianças, estes assumem importância fundamental no complemento da renda familiar.
A situação dos adolescentes nordestinos, em termos salariais, era bem próxima à das
crianças do Sudeste. Do total de crianças ocupadas no Sudeste 34% recebia entre ½
e 1 SM e 55% recebia menos de ½ SM, enquanto que, no Nordeste, para os jovens,
estes percentuais eram de 30% e 57% respectivamente.38 Os adolescentes do
Sudeste receberam a melhores remunerações.

37
Miller, 1993, p. 266.
38
Miller, 1993, p. 266.

56
57
Tabela 2. 12 - Distribuição da população de 10 a 17 anos com rendimento
de todos os trabalhos, em classes de renda real (%)

POPULAÇÃO OCUPADA DE 10 A 14 ANOS


Classes de Renda Nordeste Urbano Sudeste Urbano
Real* 1981 1990 1981 1990
Até ¼ 54,62 55,06 32,69 24,04
De ¼ a ½ 29,68 29,28 30,10 30,72
De ½ a 1 12,27 14,22 23,56 33,75
De 1 a 2 3,43 1,34 12,63 10,43
Mais de 2 0 0,10 1,01 1,06
TOTAL 100 100 100 100
POPULAÇÃO OCUPADA DE 15 A 17 ANOS
Classes de Renda Nordeste Urbano Sudeste Urbano
Real* 1981 1990 1981 1990
Até ¼ 27,78 27,49 6,26 4,94
De ¼ a ½ 29,37 31,88 16,35 13,28
De ½ a 1 30,27 32,06 33,86 45,98
De 1 a 2 11,34 7,01 38,54 29,62
Mais de 2 1,25 1,56 4,99 6,18
TOTAL 100 100 100 100
Fonte: PNAD, apud Miller, 1993.
* Nota: em múltiplos do SM de 1981.

Panorama na década de 90
A análise do rendimento médio mensal da população urbana do Brasil com mais
de 10 anos para a década de 90 revela a predominância dos indivíduos sem
rendimento em 40% da população. Estes números são ainda maiores para as
mulheres, entre as quais 50% encontram-se nesta situação, ao passo que para
os homens essa proporção mantém-se na faixa de 27%. A elevada proporção
de mulheres sem rendimento pode estar refletindo uma maior participação
feminina nas atividades de afazeres domésticos, produção para consumo
próprio e outras atividades não remuneradas. Com a mudança de metodologia
da PNAD em 1992, passaram a ser coletadas informações sobre o trabalho na
produção para o próprio consumo e na construção para o próprio uso,
atividades de destaque para crianças e adolescentes, relacionadas com a
"ajuda" a familiares e que antes disfarçavam a questão do trabalho infanto-
juvenil.39

39
Atividades analisadas a partir da

57
58

58
59
Comparando os indivíduos sem rendimentos da PIA do Brasil, Bahia e Região
Metropolitana de Salvador constatamos que, no decorrer dos períodos, houve
uma estabilidade para o Brasil em torno de 40% um crescente aumento para a
Bahia de 45% em 1992 para a 47% em 1996, enquanto na RMS houve uma
estabilidade em torno de 45% com uma queda para 41,3% em 1995, subindo
para 45,7% no ano seguinte.
Na área urbana do Nordeste, a maior parte da população (em torno de 47% na
década) foi classificada como sem rendimento. Na região Sudeste, a proporção
da população sem rendimento é ligeiramente menor que a do país – em torno
de 38% – mas bem menor que a do Nordeste, confirmando as desigualdades
regionais. Quando analisamos os dados da Bahia urbana constatamos uma
desigualdade de rendimento ainda maior, como reflexo das próprias diferenças
regionais onde a população sem rendimento atingiu 47% em 1996, sendo que
os homens tiveram uma participação superior a 36% enquanto as mulheres a
sua participação foi ainda maior de 56%. A condição de população sem
rendimento é uma característica de destaque entre as crianças e adolescentes,
mais que entre os adultos ocupados. Encontram-se nesta classificação não
apenas os que nada recebem por seu trabalho, mas também os que ganham
em benefícios ou mercadorias, ao invés de dinheiro.
A comparação por sexo revela, como era de se esperar, maior concentração
masculina nas faixas de renda mais elevadas. Os dados de 96 mostram que
46,7% dos homens brasileiros recebem mais de 2 salários mínimos (SM),
quando entre as mulheres apenas 22,2% alcançaram este patamar de renda.
Esta diferença de renda é ainda maior na Bahia, onde 12,5% das mulheres
ganham mais que 2 salários mínimos, enquanto 28,6% dos homens ganham
acima deste valor. Na RMS, a diferenciação é ainda maior, com 34,5% dos
homens e apenas 17,8% das mulheres ganhando acima de 2 salários mínimos.
Na região Sudeste, apesar de maiores proporções da população ganhando
mais, a diferenciação entre homens e mulheres é também marcante, com 54,1
dos homens ganhando mais de 2 salários mínimos e apenas 27% das
mulheres. A proporção de mulheres torna-se maior que a de homens na medida
em que as faixas de renda são menos elevadas e sempre entre os indivíduos
sem rendimento.
A evolução das faixas de renda durante o período de 92 a 96 aponta para uma
melhoria no rendimento médio mensal da população brasileira. Houve um
aumento de 23,5% para 33,9% da população com rendimento médio de mais de
2 SM e, com exceção de relativa estabilidade para os sem rendimentos, as
demais faixas de renda, menos elevadas, sofreram decréscimo durante o
período. Este movimento é marcante na região Sudeste do país, onde a
proporção população que recebe até meio salário mínimo cai de 4,6% em 1992
para 1,3% em 1996, enquanto a que recebe mais de 2 salários mínimos cresce
de 27,8 % para 40% no mesmo período. No Nordeste ocorre uma melhoria
também significativa, mas com a concentração de maiores proporções da
população ainda em faixas de renda menores.

Tabela 2.9.

59
60
Tabela 2. 13 - Rendimento Médio Mensal para População Urbana de

60
61
10 ou mais anos de idade (%)

Classes de
1992 1993 1995 1996
Rendimento

Sem rendimento
Brasil 40,0 39,6 39,1 39,9
Sudeste 38,4 37,8 38,2 37,8
Nordeste 46,7 45,6 45,4 46,8
Bahia 45,1 45,0 44,6 47,0
RMS 45,3 44,7 41,3 45,7

Até 1/2 SM
Brasil 7,0 5,6 2,9 2,1
Sudeste 4,6 3,6 2,0 1,3
Nordeste 14,7 13,6 6,9 5,4
Bahia 10,9 9,5 5,2 3,3
RMS 5,9 5,4 3,7 2,1

Mais de 1/2 a 1 SM
Brasil 12,7 14,2 11,9 11,3
Sudeste 12,1 12,8 10,3 8,4
Nordeste 13,3 17,0 17,9 26,1
Bahia 14,8 16,5 17,0 16,9
RMS 12,4 13,6 15,0 13,1

Mais de 1 a 2 SM
Brasil 16,8 14,8 14,1 12,9
Sudeste 16,4 14,9 13,3 11,8
Nordeste 14,2 11,4 14,9 13,0
Bahia 14,4 12,6 14,7 12,7
RMS 13,1 15,1 17,3 15,9

Mais de 2 SM
Brasil 23,5 25,8 32,1 33,9
Sudeste 27,8 30,1 35,3 40,0
Nordeste 9,3 10,7 14,1 15,0

61
62
Bahia 14,8 16,2 18,5 20,0
RMS 21,2 22,6 25,3 27,9

Fonte: PNAD/IBGE, Nossos cálculos.


JORNADA
A jornada de trabalho das crianças e adolescentes é um elemento importante para
caracterizar a inserção desta parcela da população no mercado de trabalho, além de
permitir a análise mais aprofundada acerca da conjugação de trabalho e estudo.
Sabóia40 diz que um dos aspectos mais negativos do trabalho infantil é o abandono da
escola pelos jovens trabalhadores, isto ocorre pela impossibilidade de conciliação
entre as longas jornadas de trabalho a que estão submetidos estes jovens
trabalhadores e sua dedicação aos estudos.
Miller (1993) afirma, no entanto, que, durante a década de oitenta, cai o número de
crianças e adolescentes urbanos que trabalhavam mais de 40 horas semanais (de
77%, em 1981 para 70% em 1990). Por outro lado, houve aumento da participação no
trabalho parcial, tanto no trabalho realizado com uma carga horária de até 20 horas
semanais (7,5%, em 1981, e 12% em 1990) quanto naquele de 21 a 39 horas (16% e
18%, nos mesmos períodos). No caso particular das crianças de 10 a 14 anos, este
fenômeno é mais visível, com uma queda de 21% no total de crianças com jornada de
trabalho completa (de 62%, em 1981, para 49%, em 1990).41 Parte deste incremento
foi devido ao crescimento das atividades familiares e ao fato de que as crianças
contraem, em geral, vínculos contratuais mais precários, o que permite maior
flexibilidade de horário. Apesar da ligeira melhora da condição de inserção da criança
no mercado de trabalho, quase a metade das crianças de 10 a 14 anos que trabalham
na área urbana o fazem em jornada integral, o que dificulta o acesso desta criança a
escola.
A intensidade do trabalho também é função da idade e, portanto, o tempo de trabalho
das crianças é menor do que o dos adolescentes. Para os adolescentes de 15 a 17
anos, a análise por grupos de horas trabalhadas mostra que, em 1990, 79% deste
grupo etário trabalhava 40 horas semanais ou mais, em contraposição aos 83% em
1981, acompanhando o mesmo movimento de queda da jornada de trabalho verificado
para as crianças. Miller (1993) ainda destaca, no entanto, a realização de trabalho
integral por parte de mais de 71% dos adolescentes trabalhadores no Nordeste, e
mais de 82%, no Sudeste. Apesar da queda da jornada de trabalho das crianças e
adolescentes, estas permanecem muito longas: no Nordeste 61% dos jovens entre 10
e 17 anos trabalham 40 horas ou mais por semana, enquanto no Sudeste este
percentual sobe para 74%, o que confirma também que a proporção de trabalho de
jornada completa é maior no Sudeste que no Nordeste, tanto para crianças como para
adolescentes.
Um determinante da maior dedicação das crianças e adolescentes ao trabalho é a
remuneração recebida por este grupo etário por hora trabalhada. Cervini & Burger
(1991) demonstram que para o trabalho infanto-juvenil, no conjunto do Brasil urbano,
melhores remunerações só ocorrem com um aumento significativo da jornada de
trabalho, acima de 40 horas por semana, sendo que esta situação ocorre com mais
evidência na faixa etária mais frágil — 10 a 14 anos.42 Os dados da PNAD confirmam
esta tendência ao verificarmos que as crianças de 10 a 14 anos com jornada de

40
Sabóia, 1996, p. 11.
41
Miller, 1993, p. 260.
42
Cervini & Burger, 1991, p. 42.

62
63
trabalho completa ganhavam em média 0,8 SM em 1990. Este percentual cai
para a metade se analisarmos os rendimentos das crianças que trabalhavam até 20
horas semanais. Os maiores rendimentos auferidos pelos adolescentes também estão
concentrados no grupo de pessoas que trabalhavam 40 horas ou mais.
No Brasil, 3.583.000 jovens de 10 a 14 anos estão ocupados e trabalham 40 horas ou
mais por semana, de acordo com a PNAD de 1995. Entre eles estão 24% da faixa de
10 a 14 anos e 63,6% da faixa de 15 a 17 anos de idade. O trabalho em jornada
integral praticamente inviabiliza a manutenção dos jovens na escola e compromete a
qualidade da educação destes jovens trabalhadores.
Na região Sudeste do país, a proporção de jovens é bem mais significativa, com
72,1% dos adolescentes de 15 a 17 anos trabalhando nestas condições de jornada
integral, com características bem próximas às dos adultos. É no estado de São Paulo
que os adolescentes mais trabalham em jornada integral entre os jovens ocupados –
eles são 79,2%. Em certa medida, o trabalho do adolescente em jornada integral
confirma sua inserção no mercado de trabalho de forma praticamente equivalente às
condições dos adultos. As crianças do Sudeste também trabalham mais em jornada
integral: elas são 33,9% das crianças de 10 a 14 anos ocupadas.
No Nordeste do país, a proporção de adolescentes trabalhando em jornada integral é
menor que no Sudeste – 51%, assim como a proporção de crianças de 10 a 14 anos –
20,3%. Na Bahia a proporção de jovens trabalhando em jornada integral cai ainda
mais, com 48,6% dos adolescentes e 17,1% das crianças. Esta menor proporção de
ocupados em jornada integral pode significar, por um lado, uma maior precariedade
nas condições de inserção dos jovens nordestinos e baianos, mas por outro lado,
podem viabilizar a manutenção destes na escola enquanto trabalham.
O trabalho em jornada integral é especialmente perverso entre as crianças de 10 a 14
anos, que não têm acesso a direitos trabalhistas, mesmo trabalhando como adultos,
por terem sua condição de empregados considerada ilegal e, além disso, serem
prejudicadas na sua performance e manutenção na escola.

ESCOLA E TRABALHO
Diversos estudos sobre trabalho infantil demonstram que o exercício de atividades,
remuneradas ou não, dentro ou fora do espaço doméstico dificulta, quando não
impede, a freqüência das crianças e adolescentes à escola. Na análise para as
regiões metropolitanas de Recife e São Paulo, Cervini & Burger (1991) contataram que
61% das crianças urbanas conjugam o trabalho com a freqüência a escola. Contudo,
verifica-se a exclusão de 39% destas crianças do sistema, o que só ocorre para
apenas 8% entre os não-ocupados. 43
A análise da adequação entre faixa etária e nível de escolaridade é outro fator que
merece destaque. A distribuição do total de crianças que freqüentam a escola entre
aquelas que trabalham e aquelas que não realizam nenhuma atividade econômica
indicaque a conjugação de trabalho e estudo inicialmente aumenta os índices de
defasagem escolar, culminando com expulsão da criança da escola. Constata-se que
o índice de inadequação é bem maior para as crianças que trabalham e freqüentam a
escola, entre as quais 84% estão, no mínimo, atrasadas em uma série para sua idade,
do que para as crianças que não trabalham, que têm índice de inadequação acima de
63,0%. Já para o total das crianças que freqüentam a escola e trabalham, verifica-se

43
Cervini & Burger, 1991, p. 39.

63
64
que, do total de ocupados, apenas 3,9% freqüentam a escola na série adequada,
de forma positiva entre os não ocupados, esta situação ascende a 18,6%.
Para os adolescentes, são menores os níveis de dedicação exclusiva ao estudo.
Bairros (1992), na análise para a RM de Salvador, mostra que o percentual de
adolescentes que só se dedicam aos estudos é muito pequeno se comparado com as
crianças na mesma condição. Dentre os adolescentes brancos, 71% só estudam,
enquanto para as crianças brancas a participação relativa daquelas que apenas
freqüentam a escola sobe para 91%. O percentual de adolescentes que conjugam
trabalho e estudo é de 13%, 19% e 23% para os adolescentes brancos, pardos e
pretos respectivamente. O quadro de aprofundamento das desigualdades segundo a
cor é registrado também para as crianças, que têm entre seus representantes pretos o
maior percentual de crianças que trabalham ao mesmo tempo que têm que se dedicar
a atividades escolares (10,8%). Apesar da maior participação das crianças pretas
entre o grupo de trabalhadores que freqüentam a escola, este percentual ainda é
menor que os apresentados para os adolescentes independente da cor da pele.
A literatura revela também maior incompatibilidade para os adolescentes entre o
trabalho e a escola, dado que os níveis de não freqüência à escola e a defasagem
escolar são muito mais pronunciados entre adolescentes que entre crianças.44

44
Cervini & Burger, 1991, p. 39.

64
65
Tabela 2. 14 - Distribuição das pessoas de 10 a 17 anos
por condição de atividade, segundo a cor
RMS – 1988 e 1996 (%)

Condição de Brancos Pretos Pardos


Atividade
1988 1996 1988 1996 1988 1996
Só Estudam
10-14 91,4 -1 72,8 - 86,4 -
15-17 71,2 - 41,8 - 58,8 -
Total 81,6 95,8 61,6 87,4 76,8 89,0
2
Trabalham e Estudam
10-14 3,0 - 10,8 - 5,4 -
15-17 13,3 - 22,7 - 18,9 -
Total 6,3 1,4 15,1 2,0 10,1 2,3
Só Trabalham*
10-14 0,5 - 8,7 - 2,1 -
15-17 7,2 - 25,5 - 12,5 -
Total 2,6 0,2 14,8 2,3 5,7 1,8
Afazeres Domésticos
10-14 1,0 - 3,1 - 3,5 -
15-17 8,2 - 7,2 - 6,5 -
Total 6,3 1,4 4,6 5,3 4,6 4,4
Nenhuma dessas atividades
10-14 4,1 - 4,6 - 2,6 -
15-17 0,1 - 2,8 - 3,3 -
Total 3,2 1,2 3,9 3,0 2,8 2,5
Fonte: FIBGE/PNAD.
(1) Número de observações não significativo na amostra.
(2) Inclusive procurando trabalho
1988: Dados reproduzidos de Bairros, 1992, p. 8.
1996: Nossos cálculos.
Neste tópico também não há consenso a respeito dos motivos que levam as crianças
a não freqüentar a escola. Fletcher & Ribeiro45 pontuam que as informações
disponíveis impossibilitam concluir até que ponto os jovens desistem da escola por
serem forçados a trabalhar em virtude da pobreza de suas famílias ou se são levados
a trabalhar porque não têm acesso aos serviços de educação pública.
Segundo Cervini & Burger46, verificou-se uma pronunciada expansão do sistema
educacional durante a década de 80. Essa expansão nas áreas urbanas, favoreceu
especialmente a população em idade escolar, o que é constatado com o aumento da
taxa de escolarização de 83,8%, em 1981, para 89,4% em 1988. Observa-se que esse
crescimento não contemplou todas as faixas etárias; um melhor desempenho foi

45
Fletcher & Ribeiro, 1988 apud Bairros, 1992, p. 10.
46
Cervini & Burger, 1991, p. 35.

65
66
verificado entre as crianças de 7 a 9 anos, entre as quais as taxas de
escolarização subiram de 79,3% para 90,3%. Verificou-se, no entanto, uma
estabilidade para as crianças de 10 a 14 anos, com as taxas subindo levemente de
86,7% para 88,9%.47 O fenômeno de expansão da escolarização das crianças de 7 a 9
anos foi constatado com a mesma intensidade na maioria dos diferentes contextos
urbanos.
Segundo o IBGE, 4,6 milhões de crianças e adolescentes de 10 a 17 anos estudavam
e trabalhavam, de acordo com a PNAD de 1995. A continuidade dos estudos, apesar
da inserção no mercado de trabalho, pode indicar uma perspectiva de melhoria futura
das condições econômicas destes jovens, apesar deles não terem a possibilidade de
obter o mesmo desempenho daqueles que só estudam. No Nordeste, a proporção de
jovens que estudam e trabalham ao mesmo tempo é maior que no Sudeste. Nos
estados da Bahia e São Paulo, as proporções têm movimentos diferentes para
crianças e adolescentes. Entre as crianças, 17,1% estudam e trabalham na Bahia e
apenas 6,1% em São Paulo. Já entre os adolescentes, as proporções são inversas, ou
seja, maiores em São Paulo (26,3%) que na Bahia (24,5%), o que pode ser explicado
pela maior formalidade do trabalho dos adolescentes enquanto estagiários, com a
exigência de sua continuidade na escola, o que não pode ser definido para as crianças
que trabalham na “ilegalidade”.
No país como um todo, 2,6 milhões de crianças e adolescentes de 10 a 17 anos só
trabalham e não freqüentam a escola.48 A proporção de crianças que só estudam é
bem menor que aquela de crianças que estudam e trabalham, mas a de adolescentes
não é tão menor. As diferenças regionais também são destacadas aqui, com 6,4% das
crianças e 22,3% dos adolescentes do Nordeste apenas trabalhando, frente a 2,3%
das crianças e 16,6% – número abaixo dos nacionais – do Sudeste na mesma
situação. O estado da Bahia tem uma situação um pouco melhor que o conjunto da
região Nordeste, o que indica que o estado consegue manter suas crianças um pouco
mais na escola, apesar das altas taxas de participação. Estes número da Bahia estão,
no entanto, ainda bem distantes dos números do estado de São Paulo; o ideal seria
que este tipo de condição dos jovens fosse totalmente erradicado, pois compromete
totalmente o seu futuro como indivíduo e cidadão.
Situação mais problemática é a das crianças que não estudam, não trabalham e nem
realizam afazeres domésticos.49 Em 1995 elas eram 658 mil no país, representando
1,9% entre as crianças na faixa de 10 a 14 anos e 3,1% entre os jovens de 15 a 17
anos. No Nordeste e na Bahia a proporção destes jovens é praticamente a mesma
entre crianças e adolescentes. A diferença entre crianças e adolescentes é maior no
Sudeste e em São Paulo, onde as crianças estão menos nesta condição, mas os
adolescentes possuem proporções elevadas.
As condições de ocupação como trabalhadores domésticos e a dedicação exclusiva
aos afazeres domésticos, sem vínculo como empregados, são atividades importantes
quando tratamos do trabalho infanto-juvenil. Os trabalhadores domésticos
representavam 822 mil, enquanto a dedicação a afazeres domésticos era comum a 1,8
mil jovens de 10 a 17 anos no Brasil em 1995, segundo o IBGE.
Entre os trabalhadores domésticos as proporções no Nordeste são inferiores às do
Sudeste. Sobretudo as crianças de 10 a 14 anos trabalham mais em atividades
domésticas no Sudeste. Na Bahia, 5,4% das crianças e 11,3% dos adolescentes são

47
Cervini & Burger, 1991, p. 31.
48
De acordo com UNICEF/IBGE. Indicadores sobre Crianças e Adolescentes Brasil 1991-1996, p.138.
49
Esta condição equivale conceitualmente aos “outros inativos” do Capítulo 4.

66
67
trabalhadores domésticos, enquanto em São Paulo as proporções são de 12,7%
e 9,4%, também superiores às do estado nordestino. Entre os jovens que se dedicam
exclusivamente a afazeres domésticos, na região Nordeste as proporções são um
pouco mais elevadas que no Sudeste. Na Bahia, 4,6% das crianças e 10,8% dos
adolescentes dedicam-se a afazeres domésticos; no estado de São Paulo as
proporções são de 2,7% e 12,2%.
As diferenças de proporções entre trabalhadores domésticos e jovens dedicados
exclusivamente a afazeres domésticos indicam uma maior distância dos jovens do
Nordeste e da Bahia do mercado mais formalizado de trabalho, pois eles estão mais
presentes na atividade exercida dentro do domicílio e em prejuízo a sua educação e
sua inserção no mercado de trabalho.
Tabela 2. 15 - Distribuição das pessoas de 10 a 17 anos
por condição de atividade, segundo a Região
1996 (%)

Condição de Atividade Brasil Sudeste Nordeste Bahia RMS


Só Estudam
10-14 93,0 94,0 91,6 92,6 95,3
15-17 71,9 69,8 74,1 77,4 80,9
Total 85,8 85,9 85,4 87,2 90,0
Trabalham e Estudam
10-14 1,3 1,3 1,1 1,3 0,8
15-17 6,7 8,3 5,2 5,3 4,4
Total 3,2 3,6 2,5 2,7 2,1
Só Trabalham
10-14 0,4 0,4 0,4 0,2 0,1
15-17 4,7 5,0 3,8 4,3 4,0
Total 1,9 1,9 1,6 1,7 1,6
Afazeres Domésticos
10-14 3,2 2,6 3,8 3,0 2,0
15-17 12,1 11,4 11,6 8,2 7,4
Total 6,2 5,5 6,6 4,8 4,0
Nenhuma dessas atividades
10-14 2,1 1,8 3,1 2,9 1,9
15-17 4,6 5,6 5,3 4,8 3,3
Total 2,9 3,0 3,9 3,6 2,4
Fonte: PNAD, Nossos cálculos.

O estudo da situação nos anos 80 e 90 permite-nos identificar de forma mais geral


uma melhoria nas condições de vida das crianças e adolescentes brasileiros, que
tiveram uma redução na sua taxa de participação na atividade econômica. No entanto,
aqueles jovens que continuaram a participar economicamente do mercado de trabalho
passaram a exercer atividades relacionadas com a sobrevivência de sua família, para
seu próprio consumo e de seus familiares.
67
68
De acordo com a Tabela 2. 15, podemos verificar que a questão do trabalho
infanto-juvenil tem tamanho absoluto reduzido e muitos jovens que exercem atividade
produtiva também continuam estudando. Apesar disto, a questão do trabalho infantil
deve ser analisada com especial atenção devido à sua importância nas famílias e às
conseqüências irreversíveis no futuro dos jovens e das novas famílias que formarão.
É com este objetivo que, após uma visão geral do Brasil e das diferenças regionais
mais marcantes, serão detalhadas as características das crianças e adolescentes da
Região Metropolitana de Salvador frente aos adultos e às suas famílias no capítulo 3
que segue e, posteriormente, no capítulo 4, as informações sobre educação e trabalho
destes jovens.

68
69

CAPÍTULO 3 - CARACTERÍSTICAS DO TRABALHO DA CRIANÇA E


DO ADOLESCENTE NA REGIÃO METROPOLITANA DE SALVADOR

A comparação temporal entre dois bancos de dados permite uma ampla exploração
das modificações que ocorreram em dois períodos de observação, uma vez que o
volume de informações consistentes, extraídos de um mesmo universo mas em
momentos distintos, possibilita comparações de variáveis estruturais, permitindo
aprofundar o entendimento dos movimentos que ocorreram no mercado de trabalho
em relação à problemática do trabalho da criança e do adolescente.
Assim, utilizando-se dos dados da PED, analisa-se algumas características relativas
ao trabalho da criança e do adolescente na RMS. Para tanto considerou-se no
primeiro período os meses de Outubro de 1996, - quando se iniciou o levantamento
completo da amostra plena no campo50, - a Fevereiro de 1998, quando se iniciou a
atual pesquisa sobre trabalho infantil. Neste período foram realizadas 111.111
entrevistas, correspondendo a pessoas agrupadas em 28.782 famílias.
Em relação ao segundo período, amostra de 1987/1988, foram recuperadas as
informações referentes às pessoas acima de 10 anos, configurando um total de
96.858 pessoas, agrupadas em 29.309 famílias. Infelizmente, não foi possível
recuperar a informação sobre as crianças abaixo de 10 anos de idade, dificultando
algumas comparações que envolvam o conjunto dos membros das famílias.
1. Características da PIA
Destacando-se apenas a parcela da amostra para a qual há a disponibilidade de
dados sobre as formas de inserção na atividade econômica, usualmente considerada
como a População em Idade Ativa (PIA) verifica-se, na Tabela 3. 1, que em
1996/1998, cerca de 11% das crianças e 39% dos adolescentes estão ocupados ou
procurando ocupação, números que mesmo sendo inferiores aos dos adultos
apresentam uma primeira aproximação para o tamanho do problema do trabalho
infantil.
Comparando-se com os dados levantados em 1987/88 observa-se a redução do
envolvimento destas pessoas com a busca ou a realização de atividade econômica,
configurando uma queda da Taxa de Participação51. Por outro lado, observa-se
também o aumento do desemprego, particularmente entre os adolescentes. Estes
movimentos entre PIA e PEA são diferenciados para as crianças e adolescentes, já
que entre os adultos a Taxa de Participação permanece praticamente a mesma no
período de 10 anos.

50
De Julho a Setembro de 1996 foram realizadas pesquisas pilotos para ajuste da amostra.
51
Neste trabalho, utilizam-se como sinônimos as Taxa de Participação e Taxa de Atividade para expressar a proporção
de pessoas economicamente ativas em relação à população em idade ativa.

69
70
Tabela 3. 1 Composição da PIA por tipo de inserção econômica

10 a 14 anos 15 a 17 anos Mais de 18 anos


Situação 87/88 96/98 87/88 96/98 87/88 96/98
DESEMPREGO OCULTO 1,3 1,2 4,6 6,4 4,6 6,3
Desemprego por Desalento - - 2,4 3,4 1,8 2,1
Desemprego c/ TrabalhoPrecário - - 2,2 3,0 2,8 4,2
DESEMPREGO ABERTO 1,5 2,4 7,4 10,3 5,8 7,8
Desempregados/PIA 2,8 3,6 12,0 16,7 10,4 14,1
OCUPADOS 11,4 7,0 30,4 22,0 60,6 56,6
PEA/PIA 14,2 10,6 42,4 38,7 71,0 70,7
INATIVO COM BICO 2,0 1,4 - 1,5 0,7 0,6
INATIVO PURO 83,8 88,0 55,7 59,8 28,3 28,7
Inativos/PIA 85,8 89,4 57,6 61,3 29,0 29,3
PIA 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Taxa de Desemprego (DES/PEA) 19,6 33,8 28,3 43,1 14,7 19,9
Fonte: PED-RMS. UFBA/SEI/SETRAS/DIEESE/SEADE-SP. Nossos cálculos.

Dadas as esspecificidades do trabalho infantil, bem como as formas de busca da


ocupação e de inserção no mercado de trabalho o conceito de Taxa de Desemprego
entre as crianças deve ser qualificado. A busca do trabalho infantil, por exemplo,
depende muito mais da ação dos parentes e amigos, que de uma forma mais
sistemática como encontrada entre os adolescentes e adultos, em que a ação
individual desempenha um papel mais relevante.
Duas observações podem ser retidas da Tabela 3. 1 acima. Em primeiro lugar, tem-se
que as maiores taxas de desemprego referem-se aos adolescentes e em segundo, é
importante observar que a Inatividade cresceu de um a outro período entre as crianças
e adolescentes, sobretudo a inatividade sem trabalho excepcional entre as crianças de
10 a 14 anos, confirmando os dados já apresentados no Capítulo anterior.
Os dados da Tabela 3. 2 mostram que a População em Idade Ativa manteve-se quase
inalterada em sua composição etária, com um ligeiro declínio do grupo de crianças
entre 10 e 14 anos, o que pode estar refletindo parte do processo de transição
demográfica da década de 80, quando houve redução da taxa de crescimento
demográfico, e, ao mesmo tempo, repercutindo o processo de aumento da migração
de adolescentes e adultos na segunda metade da década de 90.

Tabela 3. 2 Composição da População em Idade Ativa


por grupo etário (%)

Grupos Etários 87/88 96/98


10 a 14 15,8 13,2
15 a 17 9,0 9,3
Mais de 18 75,2 77,5
Fonte: PED-RMS. UFBA/SEI/SETRAS/DIEESE/SEADE-SP.
Nossos cálculos.

A transição demográfica ocorrida em finais da década de 1980, com a queda das


taxas de fertilidade, impactou sobre o número de crianças dez anos depois. A
manutenção da proporção dos adolescentes sugere que a chamada “onda jovem”

70
71
ainda não passou na RMS, compensando a perda do número de jovens de
idades inferiores a 15 anos.

Composição da PIA por sexo e cor

Os dados da Tabela 3. 3 indicam que os homens apresentam um grau de atividade


econômica um pouco mais elevado do que as mulheres, refletindo-se em uma
proporção feminina muito mais baixa entre os ocupados do que entre os inativos.

Tabela 3. 3 Proporção de Mulheres e negros na Composição da PIA RMS (%)

% Mulheres % Negros
PIA \ Grupos Idade
10 a 14 anos 15 a 17 anos 18 e mais 10 a 14 anos 15 a 17 anos 18 e mais
1996/98
Inativos 51,8 58,1 72,6 84,2 79,3 74,5
OCUPADO 30,0 43,1 46,0 93,4 88,2 79,2
Desempregados 33,7 48,3 51,8 92,4 89,1 84,6
PEA 31,2 45,3 47,2 93,1 88,6 80,3
PIA 49,6 53,1 54,6 85,2 82,9 78,6
1987/88
Inativos 54,0 62,1 78,3 86,1 84,6 77,9
OCUPADOS 31,4 40,4 42,8 92,9 91,9 82,5
Desempregados 23,8 39,0 52,9 92,7 90,3 86,1
PEA 29,9 40,0 44,3 92,8 91,5 83,0
PIA 50,6 52,7 54,1 87,0 87,5 81,5
Fonte: PED-RMS. UFBA/SEI/SETRAS/DIEESE/SEADE-SP. Nossos cálculos

A Tabela 3. 3 mostra que as principais mudanças nas diferenças de participação das


mulheres entre os ocupados e inativos ocorreram, nestes dez anos, entre os
adolescentes e os adultos, sendo menor entre as crianças, que já apresentavam em
1987/88 diferenças significativas entre meninos e meninas. Nesta comparação
convém também notar que a proporção de mulheres crianças desempregadas cresce
substancialmente, de quase 24%, em 1987/88, para quase 34% dos desempregados
de 1996/98, refletindo uma maior disposição para inserir-se na PEA, por parte das
meninas, que não encontram ocupação.
Mesmo que a mudança relativa na participação de mulheres entre as crianças tenha
mudado pouco, elas constituem a faixa etária mais diferenciada em termos de
atividade econômica, quando comparados meninos e meninas, uma vez que, entre as
crianças ocupadas, as meninas representam apenas 30%, enquanto correspondem a
quase 52% dos inativos. Entre os adolescentes e os adultos, a diferença da
participação das mulheres quando comparados os ocupados e os inativos se reduz,
refletindo a associação entre o aumento da Taxa de Atividade feminina e a idade.
Destaque-se que entre os inativos adultos quase 73% são mulheres, indicando um
grande potencial de oferta de trabalho neste segmento, que era ainda maior em
1987/88, quando as mulheres representavam 78,3% dos inativos. As mulheres adultas
estão, portanto, menos inativas. A estabilidade da inatividade para a população como
um todo, vista na Tabela 3. 1 indica um ritmo intenso de entrada das mulheres no
mercado de trabalho na década, mesmo entre as mais jovens.
No que se refere à questão racial, no entanto, os dados mostram que também entre as
crianças aumentou a diferença entre inativos e ocupados, crescendo a atividade
econômica das crianças negras. Os dados da Tabela 3. 3 indicam que as crianças

71
72
negras apresentam um nível de ocupação mais elevado do que as crianças não
negras, uma vez que a proporção de negros entre os ocupados (93%) é
substantivamente maior do que a participação de negros entre todas as crianças de 10
a 14 anos (85%). Os mesmos dados também revelam diferentes formas de inserção
no mercado de trabalho. As diferenças de proporção dos negros entre os diversos
componentes da PIA são sistemáticas em direção a uma maior inserção econômica
dos negros na atividade econômica, com uma proporção mais elevada na composição
da PEA do que na PIA, diferença que diminui entre os adultos, quando se observa que
as crianças negras economicamente ativas representam uma proporção 1,11 vezes
maior do que a proporção de crianças de 10 a 14 anos negras entre os inativos. Esta
proporção é de 1,12 entre os adolescentes e de 1,06 entre os adultos. A maior
exposição das crianças negras ao mercado de trabalho traz conseqüências profundas
sobre o desempenho escolar e sobre as possibilidades de fluxo futuro de rendimentos,
devido as dificuldades de continuidade do processo de formação profissional. Esta
superexposição das crianças e adolescentes negros ao mercado de trabalho
aumentou quando se comparam os dados de 1996/98 com os da década passada,
particularmente no que se refere as crianças negras.
Pode-se, portanto, concluir que a atividade econômica é maior entre os meninos
negros, reduzindo a importância do atributo sexo à medida em que a idade aumenta,
ao mesmo tempo em que a inatividade das mulheres cresce. Levando-se em conta
apenas os ocupados, as diferenças entre homens e mulheres e entre negros e não
negros se ampliam quando comparados com os inativos.
Tabela 3. 4 Distribuição da PIA segundo o tempo de migração

Sempre Morou na RMS Menos de 3 anos de RMS


PIA \ Grupos Idade 10 a 14 15 a 17 18 e 10 a 14 15 a 17 18 e
anos anos mais anos anos mais
1996/98
Inativos 86,1 80,3 46,1 5,6 7,4 6,1
OCUPADO 80,7 69,3 49,6 10,1 15,8 6,8
Desempregados 82,3 79,3 60,2 6,9 7,3 7,3
PEA 81,2 73,6 51,7 9,0 12,1 6,9
PIA 85,6 77,7 50,1 6,0 9,2 6,7
Taxa de Participação 10,1 36,7 73,0 16,0 50,8 73,1
1987/88
Inativos 85,6 79,8 48,7 4,8 7,5 7,6
OCUPADO 74,4 63,3 67,2 12,2 16,3 15,4
Desempregados 83,6 77,1 59,5 3,7 7,3 8,8
PEA 76,2 71,9 65,8 10,5 13,8 13,7
PIA 84,3 76,4 73,2 5,6 10,2 11,1
Taxa de Participação 12,8 39,9 72,2 26,6 57,5 71,6
Fonte: PED-RMS. UFBA/SEI/SETRAS/DIEESE/SEADE-SP. Nossos cálculos

A migração parece ter mudado de forma nos seus componentes internos por faixa
etária. Entre os ocupados, a proporção de recém migrantes (menos de 3 anos) cai
para todas as faixas, especialmente para os adultos (de 15,4% para 6,8%). Esta
proporção entre os inativos cresce um pouco entre as crianças, se mantém
praticamente estável para os adolescentes e apresenta uma ligeira queda entre os
adultos. Já entre os desempregados, eleva-se bastante a participação dos recém
migrantes (de 3,7% para 6,9%) entre as crianças, sem o correspondente movimento
entre adolescentes e adultos. Isto sugere que as crianças recém chegadas à RMS

72
73
vem para a PEA e ficam desempregadas, ainda que haja um ligeiro aumento
também da inatividade.
Entre os que sempre viveram na RMS os movimentos são inversos. Eles aumentam
sua participação entre as crianças e adolescentes ocupados, caindo entre os adultos
ocupados, portanto, os jovens que sempre moraram na RMS estão participando mais
do mercado de trabalho. A proporção dos nativos da RMS se mantém também entre
os inativos de todas as faixas etárias, aumentando um pouco a sua proporção entre os
adolescentes desempregados.
A taxa de participação das crianças que migraram para a RMS há menos de 3 anos
(16,0%) é substancialmente maior do que a mesma taxa para as crianças que sempre
viveram na região (10,1%), indicando que o processo migratório recente está
associado claramente a um aumento da atividade econômica das crianças. Enquanto
as crianças que sempre viveram na RMS representavam 80,7% das crianças
ocupadas e 86,1% das inativas, entre as crianças recém migrantes, estes percentuais
eram de 10,1% e 5,6% sugerindo a diferenciação do grau de envolvimento com a
atividade econômica. Entre os adolescentes esta diferença da taxa de participação é
ainda maior refletindo o padrão de migração dos jovens que mudam para a RMS em
busca de emprego, aparentemente o encontrando mais do que as crianças que fazem
o mesmo percurso. As crianças recém chegadas à RMS desempregadas são uma
proporção maior (6,9%) dos desempregados do que entre todas as crianças (6,0%),
ao passo que os desempregados adolescentes recém migrantes (7,3%) compõem
uma proporção menor do que todos os adolescentes que migraram a menos de 3 anos
(9,2%). Contrariamente a isto, os adolescentes recém migrantes ocupados
representam 15,8% do grupo de ocupados. Deve-se observar também que a diferença
da Taxa de Participação entre os adolescentes recém migrantes e que sempre
moraram na RMS (50,8% e 36,7%, respectivamente) é a maior entre os grupos etários
considerados. Apesar das diferenças entre migrantes e não migrantes, quando
observamos os dois períodos no tempo, as taxas de participação tanto das crianças e
adolescentes nativos como dos recém migrados cai, mas percebe-se uma queda
muito mais significativa para os que chegam na RMS, o que pode indicar uma
mudança no perfil dos novos migrantes, que não vêm mais exclusivamente para a
atividade econômica, mas passam a vir para a região e ficam na inatividade,
provavelmente em busca de melhor escolaridade52.
Na medida em que as pessoas se incorporam a grupos de idade mais elevada, as
diferenças de inserção econômica dos migrantes se reduz, ficando praticamente
indistinta entre os adultos, que apresentam taxas de participação quase iguais entre os
recém chegados e os que sempre moraram na RMS. Entre os adultos, a taxa de
participação não se reduz no tempo e a migração ocorre para a atividade econômica.

A Composição dos Ocupados


A Tabela 3. 5 detalha a inserção dos ocupados, mostrando que as crianças se
distribuem principalmente entre as ocupações relacionadas a atividades de Conta
Própria53 e ao Trabalho Familiar. Entre os adolescentes, as ocupações assalariadas
são importantes, assim como as de Conta Própria de forma semelhante a dos adultos,

52
Esta hipótese será melhor analisada no Capítulo 4.
53
Na PED, os ocupados podem ser empregados assalariados, os que recebem exclusivamente em espécie, os conta
própria ou autônomos, os empregadores, os profissionais universitários autônomos, os donos de negócio familiar, os
domésticos e os trabalhadores familiares. Na Tabela 3., os Conta própria incorporam, além dos próprios, os
empregadores, profissionais universitários e donos de negócio familiar, que representam uma proporção pequena dos
ocupados na amostra, sobretudo entre os mais jovens.

73
74
ainda que o assalariamento sem carteira esteja mais presente entre os mais
jovens. O Trabalho Familiar é praticamente inexistente entre os adultos, enquanto o
Trabalho Doméstico absorve em torno de 10% das pessoas deste grupo etário.
Mesmo com a proporção elevada entre os adultos, a proporção de crianças e
adolescentes no trabalho doméstico é também maior que a dos adultos.
Comparando-se os dados de 1987/88 com os de 1996/98, observa-se o aumento da
ocupação de crianças principalmente no trabalho familiar, bem como o aumento do
assalariamento das crianças, sobretudo sem carteira de trabalho assinada. Entre os
adolescentes, cai a participação dos domésticos, mantendo-se o trabalho familiar e
crescendo o assalariamento. Entre os adultos há um aumento da participação do
trabalho doméstico, sugerindo uma elevação da idade média deste tipo de ocupação,
e uma redução do assalariamento – contrariamente aos mais jovens – aumentando a
proporção de assalariados sem carteira assinada. A participação do trabalho familiar
infantil que passa de 25,0% em 1987/88 para 31,5% em 1996/98 é um indicador da
utilização das crianças como complementos reais de renda, incorporando-as no auxílio
a outro membro da família em sua atividade, mesmo que sem remuneração monetária.
Tabela 3. 5 Composição da Posição na Ocupação

PIA \ Grupos Idade 10 a 14 anos 15 a 17 anos 18 e mais


1996/98
Micro empres./CP/Neg. Fam. 32,2 25,4 31,2
Domésticos 13,5 23,2 10,0
TRAB FAMILIAR 31,5 11,3 1,1
Assalariado 22,8 40,2 57,7
Assalariado Sem Cart. 21,4 27,8 9,8
Total Ocupados 100,0 100,0 100,0
1987/88
Micro empres./CP/Neg. Fam. 35,5 28,0 29,8
Domésticos 19,4 26,5 7,9
TRAB FAMILIAR 25,0 10,0 1,2
Assalariado 20,1 35,5 61,0
Assalariado Sem Cart 18,4 26,4 6,4
Total Ocupados 100,0 100,0 100,0
Fonte: PED-RMS. UFBA/SEI/SETRAS/DIEESE/SEADE-SP. Nossos cálculos

A Tabela 3. 6 sugere que a proporção de crianças no trabalho doméstico é maior


entre os recém migrantes do que entre os que sempre viveram na RMS. Enquanto
10,1% do total de crianças ocupadas têm menos de 3 anos da RMS, esta proporção
entre os domésticos se eleva para 40%. A participação relativa para adultos foi
sensivelmente menor, indicando que a ocupação doméstica dos recém migrantes
concentra-se de forma significativa entre as crianças de 10 a 14 anos e adolescentes.
Esta concentração se manifesta nas altas taxas de recém migrantes entre os
domésticos, que no entanto são muito semelhantes à proporção daqueles que sempre
viveram na RMS, entre as crianças e adolescentes, mas distintas entre os adultos.
Note-se que a proporção dos adultos domésticos que sempre viveram na RMS é maior
que entre os recém migrantes, sugerindo uma menor incidência deste tipo de inserção
ocupacional na migração mais recente.
Os dados parecem indicar também um certo padrão de migração de ocupados por
faixa etária. A proporção das crianças ocupadas (entre 10 e 14 anos) que sempre
morouna RMS diminuiu de 80,7%, uma proporção bem mais elevada que a dos
adolescentes e adultos maiores de 18 anos. Enquanto, entre os recém migrantes, a
74
75
proporção entre os domésticos é maior do que a proporção do total de ocupados,
entre os que sempre moraram na RMS esta posição relativa se altera, com os
domésticos apresentando proporções de nativos da região menores do que entre o
conjunto de ocupados.
A Tabela 3. 6 mostra ainda que nos 10 anos considerados (1987-1997) manteve-se a
proporção de crianças recém migrantes ocupadas como domésticas , enquanto
aumentava a presença de adolescentes recém chegados nesta ocupação. Cresceu a
presença de crianças e principalmente de adolescentes recém migrantes como
trabalhadores familiares, reduzindo-se a ocupação assalariada das crianças e
adolescentes que chegaram à RMS a menos de 3 anos das duas pesquisas.
Destaque-se também que entre os assalariados, a situação de ter sido sempre
residente da RMS parece ser importante para todas as faixas etárias, uma vez que a
sua proporção entre este tipo de ocupação é superior à proporção de moradores
permanentes da RMS entre o total de ocupados da região.
Tabela 3. 6 - Ocupados por Posição na Ocupação e Grupos de
Idade segundo tempo de migração para a RMS (%)

Menos de 3 anos de RMS Sempre morou na RMS


10 a 14 15 a 17 10 a 14 15 a 17
PIA \ Grupos Idade 18 e mais 18 e mais
anos anos anos anos
1996/98
Micro empres/CP/Neg Fam 5,8 9,0 4,9 86,5 74,0 46,6
Domésticos 40,0 43,9 18,0 45,2 42,3 32,0
TRAB FAMILIAR 7,1 9,0 6,4 83,6 76,9 50,5
Assalariado 2,6 5,7 5,9 89,2 79,7 54,2
Assalariado Sem Cart 2,7 6,3 9,7 89,1 79,9 55,2
Total Ocupados 10,1 15,8 6,8 80,7 69,3 49,6
1987/88
Micro empres/CP/Neg Fam 6,3 7,7 5,6 79,7 79,3 48,7
Domésticos 40,3 40,3 19,9 52,5 47,7 34,5
TRAB FAMILIAR 4,6 5,8 6,9 79,4 72,6 47,2
Assalariado 5,0 8,2 7,0 79,8 78,2 53,1
Assalariado Sem Cart 4,8 9,0 10,2 80,3 78,2 56,9
Total Ocupados 12,2 16,3 7,6 74,4 69,9 50,2
Fonte: PED-RMS. UFBA/SEI/SETRAS/DIEESE/SEADE-SP. Nossos cálculos

Detalhando os atributos pessoais dos ocupados por posição na ocupação, a Tabela 3.


7 mostra o aumento da ocupação feminina entre os adultos (de 42,9% para 46,0%) e
também entre os adolescentes (de 40,9% para 43,1%). Este aumento se dá
especialmente no emprego assalariado, mas sobretudo sem carteira de trabalho
assinada. Entre as crianças, deve-se notar a crescente participação dos meninos no
trabalho doméstico, que fez reduzir a proporção de mulheres de 92% em 1987/88 para
86,1% em 1996/98.
Os dados da Tabela 3. 7 também confirmam as hipóteses de predominância feminina
no trabalho doméstico, ainda que indiquem uma menor proporção entre as crianças de
10 a 14 anos, sugerindo que nesta faixa etária há uma presença mais do que
significativa de meninos exercendo estas atividades. A razão de masculinidade é
maior entre os assalariados em todos os grupos etários, especialmente entre as
crianças, refletindo as diferenciações de possibilidade de acesso a estes postos mais
formalizados, ainda que tenha havido um aumento da presença de mulheres neste tipo

75
76
de ocupação. Como já anteriormente assinalado, o trabalho familiar é muito raro
entre os adultos e além disto, a Tabela 3. 7 mostra que, dos poucos adultos que se
dedicam a esta atividade, a proporção de mulheres é muito grande. A proporção de
meninas e adolescentes na condição de trabalhadoras por Conta Própria cresce, mas
cai para as mulheres adultas, que passam a ser mais assalariadas.

Tabela 3. 7 Posição na Ocupação por Grupo de Idade, Sexo e Cor (%)

Proporção de Mulheres Proporção de Negros


PIA \ Grupos Idade 10 a 14 15 a 17 18 e 10 a 14 15 a 17 18 e
anos anos mais anos anos mais
1996/98
Micro empres/CP/Neg Fam 20,0 29,4 40,6 94,9 87,8 90,4
Domésticos 86,1 93,3 93,5 97,4 92,6 93,6
TRAB FAMILIAR 29,0 32,5 70,0 90,3 88,7 89,6
Assalariado 12,3 25,8 40,3 93,3 85,7 87,3
Assalariado Sem Cart 10,4 20,5 37,2 100,0 86,8 90,0
Total Ocupados 30,0 43,1 46,0 93,4 88,2 89,8
1987/88
Micro empres/CP/Neg Fam 14,9 25,3 43,8 94,4 94,0 82,3
Domésticos 92,0 94,5 92,7 94,1 94,2 93,7
TRAB FAMILIAR 27,4 30,8 72,1 90,1 88,8 80,7
Assalariado 7,5 14,9 35,3 92,4 89,4 81,1
Assalariado Sem Cart 7,5 14,0 38,4 92,8 91,0 86,4
Total Ocupados 31,7 40,9 42,9 92,9 91,9 82,5
Fonte: PED-RMS. UFBA/SEI/SETRAS/DIEESE/SEADE-SP. Nossos cálculos

Também pode-se observar que as crianças negras são encontradas em maior


proporção nas atividade domésticas e de conta própria, além dos assalariados sem
carteira, que têm um nível de ocupação superior à proporção de crianças em todas as
ocupações, com exceção do trabalho familiar. Isto pode sugerir que, como a cor é um
atributo geralmente de toda a família, a proporção de crianças negras ajudando
parentes adultos negros têm as mesmas dificuldades de inserção no mercado de
trabalho. O predomínio de negros entre os domésticos se verifica também entre os
adolescentes e adultos, indicando uma certa conformação do perfil de cor deste tipo
de ocupação.

76
77
Tabela 3. 8 Regularidade Contínua das Ocupações (%)

Posição na Ocupação Agregada 10 a 14 15 a 17 18 e mais Total


1996/98
Micro empres/CP/Neg Fam 57,9 65,4 81,1 80,1
Trabalhador familiar 83,7 82,4 88,3 85,6
Domésticos 93,9 95,3 88,2 89,0
Assalariado 89,2 93,8 92,2 92,2
Total 67,9 79,0 85,2 84,5
1987/88
Micro empres/CP/Neg Fam 58,0 64,7 73,4 72,3
Trabalhador familiar 66,6 73,7 76,8 72,6
Domésticos 91,6 96,6 86,4 88,4
Assalariado 93,3 96,2 94,9 95,0
Total 74,0 85,3 87,6 87,0
Fonte: PED-RMS. UFBA/SEI/SETRAS/DIEESE/SEADE-SP. Nossos cálculos

Os dados da Tabela 3. 8 acima mostram que as ocupações são predominantemente


regulares54 para todas as faixas etárias e tipos de ocupação. Convém destacar, no
caso das crianças, que as ocupações de conta-própria apresentam uma grande
proporção de irregularidade, assim como na atividade assalariada, que cresce tanto
para adolescentes como para crianças. O envolvimento com o trabalho familiar parece
ser uma atividade com alto grau de regularidade, que cresceu significativamente para
as crianças entre os dois períodos analisados. Em 1987/88, a regularidade das
ocupações das crianças era maior que em 1996/98, o que indica uma maior
disponibilidade de tempo fora da ocupação. O movimento é contrário para os
Trabalhadores Familiares, que passaram a trabalhar com maior regularidade em
1996/98.
Abaixo, se evidencia na Tabela 3. 9, que as crianças ocupadas têm mais tempo de
serviço como trabalhador familiar, onde metade das crianças estão nesta atividade há
um ano. Observe-se ainda que este tipo de atividade declina com o aumento da idade,
os que a exercem continuam esta forma de inserção iniciada anteriormente, uma vez
que a mediana do tempo de serviço aumenta. Como esperado, metade das crianças
assalariadas estão incorporadas nestes postos de trabalho há menos de 3 meses,
sendo de quatro meses a mediana das crianças domésticas. Valores semelhantes
foram encontrados para os adolescentes, só havendo diferenciação para os adultos, o
que é de se esperar dada a maior dispersão de idade deste grupo.

54
A regularidade está sendo definida pela repetição e continuidade da atividade e do fluxo de renda dela decorrente, ao
longo do tempo, não se relacionando com a formalização ou não dos vínculos de trabalho. Coincide com o conceito
de 'regularidade contínua' da PED.

77
78
Tabela 3. 9 Tempo de Serviço Mediano em meses

Posição na Ocupação Agregada 10 a 14 anos 15 a 17 anos 18 e mais


1996/98
Micro empres/CP/Neg Fam 6 6 36
Trabalhadores familiares 12 24 36
Domésticos 4 5 12
Assalariados 3 6 30
1987/88
Micro empres/CP/Neg Fam 6 6 36
Trabalhadores familiares 15 24 27
Domésticos 3 3 9
Assalariados 3 4 30
Fonte: PED-RMS. UFBA/SEI/SETRAS/DIEESE/SEADE-SP. Nossos cálculos

Ainda que as crianças tenham uma média de jornada de trabalho inferior aos
adolescentes e adultos, ela representa mais de um turno diário comprometido com a
ocupação, conforme se verifica na Tabela 3. 10 abaixo. As diferenças se mantêm
quando comparadas as jornadas medianas e o primeiro e nono decis da distribuição,
com exceção dos domésticos. Nestas ocupações, apesar da diferença das médias, os
valores mais altos da distribuição se aproximam, sendo que, no caso dos assalariados,
as crianças apresentam um nono decil mais elevado do que os adultos. No que se
refere à jornada média de trabalho das crianças deve-se destacar a moda de 56 horas
semanais para as ocupações de domésticos, - e de 60 horas para os adolescentes, -
que absorve quase um terço das crianças ocupadas, evidenciando claramente a
dificuldade de conciliação de trabalho e estudo neste tipo de inserção econômica. O
Trabalho Familiar foi a forma de ocupação que teve crescimento de jornada média no
tempo para as crianças, passando de 28 horas semanais em média em 1987/88 para
32 em 1996/98. A jornada média dos Trabalhadores por Conta Própria cresce
sobretudo para adultos e adolescentes.
Tabela 3. 10 Jornada média semanal dos ocupados, incluindo zeros

Decil 10% Decil 50% Decil 90% Moda


10 a 15 a Mais 10 a 15 a Mais 10 a 15 a Mais 10 a 15 a Mais
14 17 de 18 14 17 de 18 14 17 de 18 14 17 de 18
1996/98
Micro/CP/Neg Fam 1 2 6 16 24 42 48 60 77 0 0 40
Trab Familiar 6 8 10 24 30 42 56 65 77 20 24 0
Doméstico 9 22 16 42 54 50 70 72 72 56 60 48
Assalariado 7 15 18 30 36 40 60 60 57 30 20 40
1987/88
Micro/CP/Neg Fam 0 4 6 20 28 40 48 56 72 0 48 48
Trab Familiar 5 12 10 25 30 40 56 60 80 30 20 48
Domésticos 16 28 16 53 56 50 72 72 72 60 60 60
Assalariado 12 20 20 36 45 42 60 66 60 48 48 40
Fonte: PED-RMS. UFBA/SEI/SETRAS/DIEESE/SEADE-SP. Nossos cálculos

Neste aspecto, o trabalho familiar, também importante fonte de ocupações para as


crianças, apresenta uma jornada média menor, apesar da grande dispersão
evidenciada pela distância entre o primeiro e o nono decil (50 horas), ainda que menor

78
79
do que entre os domésticos (61 horas) e assalariados (53 horas). As distâncias
entre o nono decil e a mediana que indicam a concentração nos valores superiores da
distribuição, excluindo os extremos mais altos, apresentadas na Tabela 3. 11, mostram
que enquanto entre os adultos assalariados há uma maior concentração de jornadas
em torno da mediana, a dispersão cresce no que se refere ao assalariamento
adolescente e principalmente infantil, podendo ser interpretado como um indicador da
maior precariedade deste tipo de vinculo com o mercado de trabalho. No que se refere
aos outros tipos de ocupação, com exceção dos domésticos, a relação se inverte com
a dispersão de jornada aumentando com a idade dos trabalhadores. A situação dos
domésticos, ocupação intensiva na utilização de crianças e adolescentes, se explica
pela elevada jornada mediana.
Tabela 3. 11 Diferença entre nono decil e mediana da jornada semanal média

10 a 14 15 a 17 Mais de 18
1996/98
Micro/CP/Neg Fam 32 36 35
Trab Familiar 32 35 35
Doméstico 28 18 22
Assalariado 30 24 17
1987/88
Micro/CP/Neg Fam 28 28 32
Trab Familiar 31 30 40
Doméstico 19 16 22
Assalariado 24 21 18
Fonte: PED-RMS. UFBA/SEI/SETRAS/DIEESE/SEADE-SP. Nossos cálculos

Em relação a 1988, houve um aumento da cauda superior da distribuição da jornada


dos domésticos crianças e adolescentes, permanecendo estável este indicador entre
os adultos. Fenômeno semelhante pode ser observado entre os assalariados, ainda
que em menor intensidade, refletindo uma maior dispersão superior da jornada. A
dispersão aumenta no tempo para crianças e adolescentes em todas as posições na
ocupação. Entre os adultos, contrariamente, chega a diminuir um pouco para
trabalhadores familiares e mantém-se praticamente estável nas demais ocupações.
Ainda que não seja possível distinguir os dados de crianças e adolescentes por razões
de representatividade estatística, os dados da Tabela 3. 12 são sintomáticos dos
impactos da ocupação sobre a formação destes jovens. Além de jornadas
relativamente altas, a proporção de trabalhadores, especialmente os assalariados e os
de conta própria, que exercem mais de uma atividade econômica pode ser
interpretada como mais uma indicação de que há um grande grau de precariedade nas
relações de trabalho dos jovens, mesmo que a incidência do trabalho adicional seja
inferior à ocorrência do fenômenos entre os adultos. Nos dez anos considerados, o
trabalho adicional aumentou, especialmente entre os assalariados e domésticos,
sugerindo uma redução de seus níveis de rendimento. Entre os trabalhadores
familiares houve uma redução do trabalho adicional indicando que este tipo de
atividade passou a incorporar a maior parte da dedicação de seus trabalhadores,
mesmo entre os mais jovens.

79
80
Tabela 3. 12 Proporção de trabalhadores com trabalho adicional

Trabalho adicional 10 a 17 anos 18 e mais


1996/98
Micro empres/CP/Neg Fam 6,0 11,0
Trabalhador familiar 2,5 5,2
Domésticos 2,2 7,1
Assalariado 4,8 12,1
1987/88
Micro empres/CP/Neg Fam 5,4 9,8
Trabalhador familiar 3,2 4,0
Domésticos 1,3 7,3
Assalariado 2,2 8,3
Fonte: PED-RMS. UFBA/SEI/SETRAS/DIEESE/SEADE-SP. Nossos cálculos

Os dados da Tabela 3. 13 abaixo sugerem que aumenta a ocupação de crianças em


Salvador, principalmente em trabalhos familiares e em atividade de conta própria,
declinando a ocupação dos adolescentes, especialmente os assalariados, refletindo
uma maior absorção destes nos mercados de trabalho dos outros municípios da RMS,
fora de Salvador. No que se refere aos adolescentes, reduz ainda mais a participação
dos postos de trabalho familiar em Salvador. As proporções de ocupações
assalariadas em Salvador não diferem substancialmente entre os diversos grupos
etários considerados. Ressalte-se que no caso de emprego doméstico adulto há uma
super representação dos postos de trabalho em Salvador, indicando que o emprego
de maiores de 18 anos fora de Salvador na atividade doméstica é significativamente
mais raro.
Tabela 3. 13 Proporção dos que trabalham em Salvador (%)

10 a 14 anos 15 a 17 anos 18 e mais


1996/98
Micro empres/CP/Neg Fam 72,4 72,3 81,0
Trabalhador familiar 72,5 68,9 75,0
Domésticos 80,9 85,1 89,4
Assalariado 75,9 75,6 77,3
Total 74,4 76,2 79,6
1987/88
Micro empres/CP/Neg Fam 66,7 76,1 78,6
Trabalhador familiar 64,4 68,0 72,1
Domésticos 83,4 87,2 89,9
Assalariado 84,2 85,0 78,9
Total 73,0 81,5 79,6
Fonte: PED-RMS. UFBA/SEI/SETRAS/DIEESE/SEADE-SP. Nossos cálculos

Quase 10% das crianças assalariadas trabalham na própria residência com cômodos
adaptados ou não, proporção que cai para pouco mais de 6% entre os adolescentes e
menos de 2% entre os adultos. Estas proporção são agora, em 1996/98, menores do
que em 1987/88 para as crianças e adolescentes e são mais ou menos as mesmas
para os adultos. A maior participação do trabalho realizado na própria residência
ocorre entre as crianças que são trabalhadores familiares, revelando que há uma
grande aproximação entre o trabalho de ajuda a familiares e o próprio trabalho
doméstico para as crianças e adolescentes. Por outro lado, dada a natureza do

80
81
trabalho familiar em ajuda a parente, a proporção dos que fazem esta ajuda fora
da residência é um importante indicador do tipo de contribuição que estas crianças
trazem à renda familiar, mesmo recebendo apenas remuneração em espécie ou
benefício. A alta proporção encontrada entre os adultos deve ser interpretada com
cautela, devido a pouca representatividade deste tipo de inserção produtiva desta faixa
etária. O aumento da proporção de trabalho na residência das crianças e adolescentes
assalariados pode ser interpretado como um indicador de formas de assalariamento
associadas com o trabalho na família.
Tabela 3. 14 Proporção dos que têm local do trabalho fora da residência

10 a 14 15 a 17 18 e mais
1996/98
Micro empres/CP/Neg Fam 88,4 84,6 71,2
Trab. Fam. 72,1 72,5 70,8
Assalariado 91,0 94,2 98,9
1987/88
Micro empres/CP/Neg Fam. 90,8 85,5 67,7
Trab. Fam 74,1 72,8 62,3
Assalariado 98,4 99,0 99,6
Fonte: PED-RMS. UFBA/SEI/SETRAS/DIEESE/SEADE-SP. Nossos cálculos

Como mais um indicador da precariedade das formas de inserção das crianças e


adolescentes no mercado de trabalho, os dados da Tabela 3. 15 abaixo revelam que
quase 99% das crianças em atividades ditas de conta própria trabalham com menos
de dez colegas. Deve-se comentar que também entre adultos e adolescentes as
ocupações deste tipo com mais de 10 trabalhadores correspondem a pouco mais de
94% de todos os postos correspondentes. No entanto, também entre os assalariados,
a concentração de atividade econômica em pequenos estabelecimentos é bastante
alta para as crianças e adolescentes, atingindo pouco mais de 60% apenas entre os
adultos. A queda observada de 1987 para 1997 da proporção dos assalariados
adolescentes e adultos que trabalham com mais de 10 colegas indica o crescimento
da ocupação assalariada entre as pequenas empresas.
Tabela 3. 15 Proporção dos que trabalham com mais de 10 trabalhadores

10 a 14 15 a 17 18 e mais
1996/98
Micro empres/CP/Neg Fam 1,1 6,5 6,7
Trab Fam 0,7 1,4 5,0
Assalariado 12,3 15,0 39,4

1987/88
Micro empres/CP/Neg Fam - - 5,5
Trab Fam - - -
Assalariado - 22,8 58,8
Fonte: PED-RMS. UFBA/SEI/SETRAS/DIEESE/SEADE-SP. Nossos cálculos

Entre os conta própria que, como vimos na Tabela 3. 5, absorvem quase um terço das
crianças ocupadas, cerca de 80% trabalham diretamente para o público, caindo esta
proporção para 60% entre os adolescentes e pouco mais de 63% entre os adultos.
Pode-se inferir a partir destes dados que nas atividades consideradas autônomas, são

81
82
aquelas mais precárias, voltadas diretamente para o atendimento do público que
mais absorvem as crianças trabalhando nestas atividades.
Nos dois períodos considerados observa-se uma substancial mudança interna nas
formas de atuação dos Conta própria que reduzem suas atividades diretamente
relacionadas com o público, aumentando sua clientela empresarial, especialmente
entre os adultos (de 12,9% para 36,3%), ao mesmo tempo em que mantêm a mesma
proporção de utilização de instrumentos de trabalho próprios. Entre as crianças e
adolescentes, o aumento da relação com a clientela empresarial foi acompanhada de
redução da posse dos instrumentos de trabalho, sugerindo um certo assalariamento,
disfarçado de relações autônomas.
Tabela 3. 16 Algumas características dos Conta Própria

Proporção do total de CP 10 a 14 15 a 17 18 e mais


1996/98
Trabalha Para o Público 79,6 60,2 63,7
Tem Instrumentos Próprios 60,0 47,9 78,9
1987/88
Trabalha Para o Público 83,8 75,5 87,1
Tem Instrumentos Próprios 69,9 56,3 80,5
Fonte: PED-RMS. UFBA/SEI/SETRAS/DIEESE/SEADE-SP. Nossos cálculos

Entre os assalariados, os dados levantados não indicam a presença do fenômeno da


terceirização55 entre as crianças, com um pequena evidência nos adolescentes e
atingindo uma proporção de quase 8% dos assalariados adultos. Entre estes, quase
80% têm carteira assinada e mais de 70% têm emprego em empregador privado. As
crianças e adolescentes diferem em termos de formalização de vínculos, evidenciando
a eficácia das restrições legais ao trabalho infantil, apesar de que a substancial
diferença na proporção de empregadores privados que empregam crianças em
comparação aos adultos e adolescentes também possa ser interpretado como uma
evidência da burla destas restrições.
Tabela 3. 17 Algumas características dos Assalariados

Proporção do total de Assalariados 10 a 14 15 a 17 18 e mais


1996/98
Terceirizados - 1,9 7,8
Carteira Assinada 1,5 14,7 79,1
Empregador Privado 95,4 81,7 70,4
1987/88
Terceirizados - - 7,2
Carteira Assinada - 19,3 81,4
Empregador Privado 95,5 92,4 72,7
Fonte: PED-RMS. UFBA/SEI/SETRAS/DIEESE/SEADE-SP. Nossos cálculos

Os inativos
Como esperado, a maior parte das crianças e adolescentes inativos são estudantes,
como se mostra na Tabela 3. 18. A proporção reportada de crianças que não tem
atividades econômicas e, além de não estudar, vivem de ajuda de outros, que reflete
um certo grau de precariedade de renda, é de mais de 4%, crescendo para quase oito

55
A empresa onde trabalha é diferente da que paga o salário.

82
83
por cento quando se consideram os adolescentes. Entre os adultos,
aposentadorias, pensões e rendas de não trabalho constituem quase 40% da
inatividade, taxa apenas um pouco superior aos afazeres domésticos como
característica de inatividade.

Tabela 3. 18 Composição dos Inativos

10 a 14 anos 15 a 17 anos Mais de 18


1996/98
Aposentado/Outro - - 39,6
Afazeres domésticos - - 36,0
Estudante 94,7 87,9 12,3
Vive de Ajuda 4,2 7,8 12,0
1987/88
Aposentado/Outro - - 29,2
Afazeres domésticos 2,3 7,8 50,6
Estudante 93,2 83,8 10,9
Vive de Ajuda 4,1 7,8 9,3
Fonte: PED-RMS. UFBA/SEI/SETRAS/DIEESE/SEADE-SP. Nossos cálculos

Os desempregados
Os dados da Tabela 3. 19 indicam diferentes formas de procurar trabalho por parte
dos desempregados. Enquanto os adultos recorrem a visitas a empresas, buscam
agências, sindicatos, respondem ou colocam anúncios em jornais, contatam clientes e
adotam outras formas mais tradicionais de procura numa proporção superior a 70%,
as crianças e adolescentes buscam suas ocupações através de conhecidos e
parentes ou diretamente na rua. Estes dados sugerem que a inserção das crianças no
mercado de trabalho tem um grande componente relacionado com a rede de relações
sociais em que se encontra a família.
A comparação dos resultados das pesquisas no período de 1987 a 1997 mostra que
houve uma mudança da posição relativa das formas de procurar ocupação entre as
crianças e adolescentes que reduziram a busca diretamente na rua, aumentando a
busca das redes de relações através de conhecidos e amigos.
Tabela 3. 19 Formas de procurar trabalho pelos desempregados

10 a 17 anos Mais de 18
1996/98
PROC EMP/AG/SIN/Jornal/Outra 47,4 70,3
PROCURARAM CONHECIDOS 36,3 20,2
PROCURARAM NA RUA 16,3 9,6
1987/88
PROC EMP/AG/SIN/Jornal/Outra 49,7 70,1
PROCURARAM CONHECIDOS 27,8 16,0
PROCURARAM NA RUA 22,5 13,9
Fonte: PED-RMS. UFBA/SEI/SETRAS/DIEESE/SEADE-SP. Nossos cálculos

Aparentemente não há grandes diferenças entre crianças, adolescentes e adultos


quando se analisa o tempo dedicado à procura de trabalho. Em relação a 1987/88, os
dados de 1996/98 parecem sugerir uma menor pressão da demanda de trabalho por
parte das crianças que procuraram ocupação nos sete dias anteriores às das datas da

83
84
pesquisa (de 35,2% para 27,8%) de acordo com a Tabela 3. 20. Esta Tabela 3.
também mostra que a procura é mais intensa no último mês, havendo uma maior
participação na procura dentro do mês da pesquisa, porém além da semana, entre as
crianças, sugerindo que elas têm uma ação menos sistemática de busca contínua de
emprego. Os adultos, com suas responsabilidades maiores apresentam uma
proporção maior de busca nos últimos sete dias do que as crianças e adolescentes.
Tabela 3. 20 Tempo da última procura de trabalho

10 a 14 anos 15 a 17 anos Mais de 18


1996/98
ULT 7 DIAS 27,8 28,2 38,5
DE 8 A 30 DIAS 52,3 47,7 40,7
DE 1 A 3 MESES 15,6 19,1 16,2
Mais de 3 meses 4,4 5,0 4,6
1987/88
ULT 7 DIAS 35,2 28,6 31,2
DE 8 A 30 DIAS 46,5 50,4 46,2
DE 1 A 3 MESES - 18,0 16,5
Mais de 3 meses - 3,0 6,1
Fonte: PED-RMS. UFBA/SEI/SETRAS/DIEESE/SEADE-SP. Nossos cálculos

Uma outra diferença da situação das crianças e adolescentes desempregados em


relação aos adultos refere-se ao tempo de serviço na última ocupação e o tempo de
desemprego, como se vê na Tabela 3. 21 onde destaca-se a maior rotatividade das
ocupações que empregam crianças
Tabela 3. 21 Tempo de serviço na última ocupação e tempo de desemprego

% com menos de 1 ano 10 a 14 anos 15 a 17 anos Mais de 18


1996/98
Trabalhava 79,1 62,8 30,4
Saiu 92,7 89,3 64,2
1987/88
Trabalhava 60,6 63,9 31,9
Saiu 95,8 93,8 68,3
Fonte: PED-RMS. UFBA/SEI/SETRAS/DIEESE/SEADE-SP. Nossos cálculos

Famílias
Como já referenciado no Capítulo 1, a inserção das crianças no mercado de trabalho
não está exclusivamente relacionada aos níveis de renda familiar, mas também reflete
outras variáveis sociais e demográficas, relacionadas com a estrutura das famílias,
níveis de escolaridade e posição na ocupação dos membros adultos. O
relacionamento dos adolescentes com o mercado de trabalho é ainda mais complexo
porque, além das variáveis já consideradas, também reflete a decisão individual mais
aproximada do comportamento dos adultos.

A distribuição das famílias


Ao se analisar a problemática do trabalho infantil e de adolescentes pela ótica familiar
é necessário distinguir aqueles casos que se referem apenas às famílias que possuem
algum dos seus membros nas idades pertinentes. Das famílias da Região
Metropolitana de Salvador, pesquisadas pela PED em 1996/98 somente 30,4%
possuíam entre seus membros crianças, quase 24% tinham adolescentes e 42,3%
84
85
tinham adolescentes ou crianças entre seus membros, como se evidencia na
Tabela 3. 22.
Estes dados mostram que quase 60% (57,7% em 1996/98) das famílias da RMS não
estão diretamente relacionadas com a problemática do trabalho infantil e/ou
adolescente pois não possuem membros nestas faixas etárias.
Tabela 3. 22 Distribuição das Famílias segundo a idade de seus membros e relação com a
PEA(%)

1987/88 1996/98
Famílias sem crianças 66,5 69,6
Famílias sem adolescentes 76,7 76,2
Famílias sem crianças e adolescentes 56,2 57,7
Das famílias com crianças 33,5 30,4
Nenhuma criança na PEA 82,4 87,2
Uma criança na PEA 14,7 11,2
Mais de uma criança na PEA 2,9 1,7
Das famílias com adolescentes 23,3 23,8
Nenhum adolescente na PEA 55,1 57,5
Um adolescente na PEA 38,5 37,1
Mais de um adolescente na PEA 6,4 5,3
Com crianças ou adolescentes 43,8 42,3
Nenhum adolesc. ou cri na PEA 67,2 70,0
Um adolesc. ou cri na PEA 24.4 23,7
Mais de um adolesc. ou cri na PEA 8,4 6,3
Fonte: PED-RMS. UFBA/SEI/SETRAS/DIEESE/SEADE-SP. Nossos cálculos

Entre as famílias que têm crianças (30,4% de todas as famílias em 1996/98, proporção
menor que os 33,5% de 1987/88), quase 13% têm pelo menos uma de suas crianças
na PEA, enquanto 42,4% das famílias que têm membros na idade entre 15 e 17 anos
está relacionada com um ou mais de seus jovens economicamente ativos.
Mais de dois terços das famílias que têm crianças, têm apenas uma – proporção que
cresceu significativamente na década, enquanto que o terço com mais de uma criança
não insere todas no mercado de trabalho. A maior parte das famílias não utiliza suas
crianças na atividade econômica como se pode observar na segunda coluna da
Tabela 3. 23 a seguir, que sugere que quase 13% das famílias têm pelo menos um
dos seus membros na faixa de 10 a 14 anos economicamente ativo. O número de
crianças, no entanto, sugere que a existência de mais de uma criança na família
introduz o problema da escolha de quem vai para o mercado de trabalho e quem fica.
Nas famílias com mais de duas crianças, apenas aproximadamente um terço coloca a
criança adicional também no mercado de trabalho.

85
86
Tabela 3. 23 Distribuição das crianças na PEA por crianças na PIA

Crianças na PEA (%)


Crianças na PIA Nenhuma Uma Duas ou Todas
mais
1996/98
Uma 90,6 9,4 0,0 68,3
Duas ou mais 79,7 15,0 5,3 31,7
Todas 87,2 11,2 1,6 100,0
1987/88
Uma 87,2 12,8 0,0 59,5
Duas ou mais 75,2 17,5 7,3 40,5
Todas 82,4 14,7 2,9 100,0
Fonte: PED/RMS- SEI/UFBA/SEADE/DIEESE/SETRAS. Nossos cálculos

Por outro lado, a Taxa de Atividade das crianças é fortemente influenciada pelo
tamanho da família; porém, deve-se destacar que entre as famílias que têm suas
crianças na PEA a relação entre tamanho e participação diminui, indicando que há
uma certa preservação dos membros infantis em relação à exposição ao mercado de
trabalho.

Tabela 3. 24 Taxa de Atividade Média por Família com Crianças

Famílias c/ PIA infantil Famílias c/ PEA infantil


Tamanho da família Chefe Chefe mulher Chefe Chefe mulher
homem homem
1996/98
2 a 4 pessoas 7 11 92 89
5 a 7 pessoas 10 13 76 80
8 ou mais 13 11 63 60
1987/88
2 a 4 pessoas 12 17 88 86
5 a 7 pessoas 12 17 64 74
8 ou mais 13 19 58 63
Fonte: PED/RMS- SEI/UFBA/SEADE/DIEESE/SETRAS. Nossos cálculos.

Os dados da Tabela 3. 24, que refletem as Taxas de Atividade Infantil (PEA/PIA)


média das famílias entre as famílias que têm crianças e que têm crianças na PEA,
sugerem uma relação positiva entre o tamanho da família e a utilização econômica de
suas crianças, especialmente nas famílias chefiadas por mulher, como se observa nas
duas primeiras colunas da Tabela 3.. Já as duas últimas colunas, que reproduzem as
médias calculadas apenas entre as famílias que têm crianças economicamente ativas,
mostram uma menor utilização das crianças nas famílias chefiadas por mulher, com
exceção das famílias de 5 a 7 membros e uma relação inversa, para os dois tipos de
famílias entre a Taxa de Atividade média por família e o número de seus membros.
Observando-se os dois períodos analisados, percebe-se uma queda clara da atividade
das crianças em famílias com PIA infantil com até sete membros; nas famílias
maiores, com oito membros ou mais, a queda só acontece entre as famílias chefiadas
por mulheres.

86
87
Tabela 3. 25 Características do tamanho das famílias da RMS

Amostra 1987/88 Amostra 1996/98


Crianças Adolescente Adultos Criança Adolescentes Adulto
s s s
Média total membros família 4,81 5,24 3,31 5,33 5,37 3,86
(desvio padrão) 1,94 2,11 1,92 1,99 2,15 2,03
% de famílias com pelo menos
um membro na PEA tendo um 12,8 39,8 72,8 9,4 37,5 71,3
na PIA
% de famílias com pelo menos
um membro na PEA tendo dois 21,3 59,3 90,1 17,4 57,6 88,8
na PIA
% de famílias com pelo menos
um membro na PEA tendo três 31,2 67,2 93,1 30,3 75,0 93,2
na PIA
% de famílias com pelo menos
17,6 44,9 88,8 12,8 42,5 90,6
um membro na PEA
Fonte: PED-RMS. UFBA/SEI/SETRAS/DIEESE/SEADE-SP. Nossos cálculos

Os dados da Tabela 3. 25 indicam surpreendentemente uma elevação do tamanho


médio das famílias com pelo menos uma criança, um adolescente e um adulto entre
os dois pontos das pesquisas. Por outro lado, evidencia-se também que houve uma
redução da proporção de famílias com filhos na PEA, sendo esta redução maior nas
famílias com menos membros na PIA respectiva. Por exemplo, enquanto entre as
famílias com uma criança, a proporção daquelas que as inseriam na PEA caía de
12,8% para 9,4%, entre aquelas com 3 crianças a proporção das famílias com
crianças na PEA só declinava de 31,2% para 30,3%. Isto reforça a hipótese de que as
famílias maiores continuam tendo maior probabilidade de colocar seus filhos na PEA.
Outros elementos importantes na caracterização das famílias encontram-se na Tabela
3. 26 abaixo.
Tabela 3. 26 Outras características da estrutura familiar

Amostra 1987/88 Amostra 1996/98


Crianças Adolescentes Adultos Crianças Adolescentes Adultos
% de família só com chefe sem cônjuge 25,1 29,5 32,3 28,22 33,72 37,97
% de famílias com chefe assalariado com 42,9 40,1 43,2 36,12 31,57 33,96
carteira ou funcionário público
% de famílias com empregada doméstica 6,3 9,1 6,1 5,50 7,39 5,81
moradora
Tempo de serviço médio chefe de família 68,90 72,71 58,53 68,63 70,39 60,86
ocupado com PIA correspondente (media de 102,16 108,29 95,60 103,35 102,69 100,73
meses) (desvio padrão)
Tempo de migração médio chefe de família 20,9 22,2 19,7 22,6 23,4 22,5
migrante com PIA correspondente (anos) 12,0 13,0 13,5 13,0 13,5 15,0
Idade média do chefe de família (media de 43,9 45,5 41,9 44,3 45,5 44,4
anos) (desvio padrão) 11,1 11,9 14,5 11,0 11,9 15,0
Fonte: PED-RMS. UFBA/SEI/SETRAS/DIEESE/SEADE-SP. Nossos cálculos

Os dados indicam que a proporção de famílias apenas com chefe, sem o cônjuge
aumentou nas duas amostras, tanto naquelas com crianças, como nas só com adultos.
A expansão das famílias com um adulto chefe é um fenômeno esperado, assim como
a maior precariedade das relações de trabalho dos chefes de família. A proporção de

87
88
assalariados com carteira ou funcionários públicos entre os chefes de famílias
caiu entre os dois períodos considerados. Esta perda relativa das formas de inserção
produtiva mais estabilizadas entre os chefes de família, também se reproduz na queda
da participação de famílias que têm despesas com empregadas domésticas
moradoras.
Considerando-se a renda média das crianças, adolescentes e adultos ocupados que
receberam rendimentos em dinheiro, verifica-se na Tabela 3. 27 abaixo algumas
características importantes das famílias que colocam suas crianças no mercado de
trabalho, em contraste com outras que, mesmo tendo crianças entre seus membros,
as mantêm como economicamente inativas.
Tabela 3. 27 Características das Famílias com crianças

Entre as famílias com pelo menos


Características
uma criança de 10 a 14 anos

Nenhuma na PEA 1 ou mais


Chefe Mulher 25,8% 30,5%
Renda dos Adultos
Média (Real corrente) 698,7 379,7
Mediana 313 200
Quartil 3 765 440
Tempo de Serviço do Chefe
Média (meses) 98,9 84,2
Mediana 60 36
Quartil 3 168 120
Escolaridade do Chefe
Média (anos) 7,7 5,6
Mediana 8 5
Quartil 3 11 8
Chefes assalariados 34,4% 24,0%
Fonte: PED/RMS- SEI/UFBA/SEADE/DIEESE/SETRAS. Nossos cálculos.
Nas famílias com crianças na PEA, os adultos têm renda média mais baixa e seus
chefes são em menor proporção assalariados, com menor escolaridade e apresentam
uma proporção de chefes mulheres mais elevada. Essas famílias ocupam seus postos
de trabalho há menos tempo, em relação àquelas que os chefes , mesmo tendo
crianças, não as colocam no mercado de trabalho.

88
89
Tabela 3. 28 Renda média por família dos seus mebros por faixa etária
(Reais de Fevereiro de 1998)

Amostra 1987/88 Amostra 1996/98


Crianças Adoles- Adultos Crianças Adoles- Adultos
centes centes
Renda adultos Média real por família 1731,6 1831,2 1789,7 840,4 893,7 867,2
2807,1 2888,25 3088,9 1147,6 1213,7 1175,3
Renda Crianças Média real por família 130,5 136,4 127,5 53,3 49,0 53,1
198,2 212,3 180,9 44,4 42,0 44,2
Renda Adolescentes Média real por família 230,2 240,5 240,2 106,3 112,9 112,3
234,2 238,5 238,6 95,4 123,2 122,9
Renda real dos adultos por família que tem rendimento da 930,0 1167,6 1789,7 397,6 597,4 867,2
PIA correspondente 1040,5 1511,9 3088,9 415,7 807,99 1175,3
Renda real dos adolescentes por família que tem 228,4 240,5 246,1 107,3 112,9 112,9
rendimento da PIA correspondente 227,0 238,5 248,0 145,1 123,2 129,2
Renda real das crianças por família que tem rendimento da 130,5 150,5 129,2 53,3 44,7 51,8
PIA correspondente 198,2 256,7 191,8 44,4 35,7 42,8
Fonte: PED/RMS- SEI/UFBA/SEADE/DIEESE/SETRAS. Nossos cálculos.
Nota: Renda real em fevereiro de 1998, exclusive famílias com renda zero.

Na Tabela 3. 28 pode-se constatar que, entre os dois períodos analisados, houve uma
redução generalizada da renda média de todos os tipos de família, redução essa que
levou os níveis de renda a patamares inferiores à metade daqueles observados no
primeiro momento da pesquisa. Os rendimentos das crianças são muito baixos,
apenas um pouco mais que R$ 50, enquanto os adolescentes ganham um pouco
menos que um salário mínimo. Como os rendimentos das crianças correspondem a
cerca de 6,0% do rendimento familiar e os dos adolescentes à 13,0%, tem-se que a
verdadeira garantia do sustento familiar são os ganhos dos adultos, cerca de R$ 860
em média. Dessa forma, a implementação de políticas específicas para garantir a
retirada das crianças do mercado de trabalho, bem como limitar a inserção dos
adolescentes, devem assegurar grandes ganhos sociais a custos não muito elevados.
Tabela 3. 29 Distribuição dos membros das famílias

Amostra 1987/88 Amostra 1996/98


Posição no domicílio Pessoas Idade Desvio Pessoas Idade Desvio
Média Padrão Média Padrão
Todos 100,0 30,1 16,1 100,0 32,1 17,1
Chefe e cônjuge 49,2 39,7 13,9 49,1 42,6 14,5
Filho 37,5 18,0 7,0 37,3 19,3 8,0
Doméstico(a) e parente 2,0 22,7 9,5 2,0 25,0 9,8
doméstico(a)
Agregados e outros 10,7 29,9 19,8 10,9 30,2 20,5
parentes
Outros 0,6 26,6 11,0 0,7 29,2 13,1
Fonte: PED/RMS- SEI/UFBA/SEADE/DIEESE/SETRAS. Nossos cálculos.

Por fim, apresentam-se, na Tabela 3. 29, a Distribuição dos membros das famílias, nos
dois períodos analisados. O casal, chefe e cônjuge, por exemplo, representam em
torno de 50,0% do tamanho médio das famílias da RMS, com idade média em torno
dos 42 anos. Os filhos representam 37,5% do tamanho das famílias e têm, em média
19 anos, enquanto os agregados me outros parentes, com 10,9% do tamanho das
famílias, apresentam idade média de 30 anos. Os domésticos representam apenas 2%

89
90
da composição familiar e têm, em média 25 anos. Numa comparação dos dados
do primeiro momento da pesquisa (1987/88) com o segundo (1996/98), pode-se
perceber que a questão do envelhecimento populacional, tão presente nos países
economicamente mais avançados, encontra-se também presente na RMS. Isso se
verifica para todas as posições no domicílio.

90
91

Capítulo 4. ESCOLA E TRABALHO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE


INTRODUÇÃO
O mercado de trabalho não é o mesmo para crianças e adolescentes. Lógicas
bastante diferenciadas de funcionamento fazem com que esses dois grupos sociais
façam parte de distintos segmentos. O trabalho da criança, por exemplo, encontra-se
associado, mais diretamente, às condições de vida, instrução e renda das famílias.
Enquanto que, para o adolescente, há uma maior influência dos atrativos do mercado
consumidor e/ou de um modo de vida característico que exige alguma renda para
consumo; somente em segundo plano é que prevalecem as condições impostas pelas
famílias.
Este capítulo pretende avançar sobre aspectos específicos vinculados aos segmentos
de mercado de trabalho da criança e do adolescente. Para tanto, serão abordados
elementos tais como nível e condições da escolaridade, migração, rendimento, jornada
de trabalho, principais ocupações e setores onde o trabalho infanto-juvenil é mais
freqüente. Esse procedimento visa, através de tabulações especiais da base PED, a
uma avaliação do universo de trabalho dessas duas faixas etárias na RMS.
Para esse estudo, partiu-se de amostra dos dois períodos de referência. O primeiro
que vai de outubro de 1987 a dezembro de 1988, quando foi feito um levantamento de
22.404 entrevistas de pessoas na faixa etária dos 10 aos 17 anos de idade. Enquanto
que o segundo período levou em consideração as entrevistas realizadas entre outubro
de 1996 e fevereiro de 1998, quando foram pesquisados 20.653 indivíduos na mesma
faixa etária.
Nos dois períodos, subdividiu-se a amostra em dois segmentos. O primeiro considera
os indivíduos entre 10 e 14 anos56 (crianças), enquanto o segundo reúne os indivíduos
entre 15 e 17 anos (adolescentes), de forma que cinco anos formam o segmento das
crianças e apenas três anos constituem o segmento de adolescentes. No primeiro
período (1987/1988), as crianças constituíam 63,6% da amostra e os adolescentes
36,4%, já no segundo período (1996/1998) tem-se 58,7% de crianças e 41,3% de
adolescentes.
O presente capítulo encontra-se dividido em três grandes partes, além dessa
introdução. A primeira discute aspectos da escolaridade das crianças e dos
adolescentes, quando se encontram ocupados, inativos ou desempregados. A
segunda aborda, apenas para os ocupados, a questão do rendimento e da jornada de
trabalho. A terceira e última parte procura averiguar em que medida a escola tem
condição de contribuir para uma melhor alocação, em termos de ocupação e setor de
atividade, dessas pessoas no mercado de trabalho.
ESCOLARIDADE DAS CRIANÇAS E DOS ADOLESCENTES
Para uma avaliação do trabalho da criança e do adolescente na Região Metropolitana
de Salvador, inicialmente se fez uma tipificação das formas como essas pessoas se
apresentam ou não no mercado de trabalho. Com isso, ter-se-á condição de localizar
elementos específicos que auxiliem as políticas de intervenção. Essa tipificação será
exteriorizada, a partir das informações contidas na base PED, pela construção de
categorias analíticas que agregam conjuntos de pessoas com semelhantes formas de

56
A UNICEF considera como crianças as pessoas entre 5 e 13 anos de idade e como adolescentes as pessoas entre 14 e
17 anos de idade. Entretanto, o corte aqui proposto visa tão somente a uma maior condição de operacionalidade com a
base estatística disponível, bem como a uma maior comparabilidade com estudos já consagrados que utilizam esse
mesmo perfil de divisão da população infanto-juvenil.

91
92
inserção na atividade ou na inatividade econômica. Em seguida, apresentam-se
essas categorias, para que se possa classificar os diferentes tipos de trabalho infanto-
juvenil, bem como o desemprego e as formas de inatividade.
• Trabalho no Lar ou Doméstico Ampliado
São as crianças e adolescentes que normalmente seriam classificadas como inativas,
pelo fato de não terem realizado algum trabalho na semana de referência da pesquisa,
nem mesmo procurado trabalho. Entretanto, essas pessoas, além de não
freqüentarem escola, exercem afazeres domésticos, os quais foram considerados,
nesta pesquisa, como atividades “econômicas” no seio familiar. Realizando as
atividades necessárias na família, elas acabam por liberar pessoa(s) para o exercício
de alguma ocupação no mercado de trabalho.
• Trabalho para a Família ou Familiar
Essas pessoas realizaram algum trabalho para familiares na semana de referência da
pesquisa ou nos últimos trinta dias. Tratam-se de atividades que acontecem
independentemente dos afazeres domésticos, podendo ou não haver alguma forma de
remuneração, mesmo que seja em espécie e/ou benefício.
• Trabalho Informal Avulso
São crianças e adolescentes com atividades econômicas que utilizam instrumentos de
trabalho próprios, os quais exigem alguma forma de pequena capitalização. Em suas
ocupações, essas pessoas não se encontram subordinadas a familiares ou mesmo a
outras pessoas, além disso, elas não cuidam de afazeres domésticos. A categoria de
informal avulso se aproxima do conceito de trabalhador autônomo, entretanto, o
conceito de autonomia não se mostra adequado, principalmente para as crianças, por
isso mesmo passou-se a designar essa modalidade de atividade infanto-juvenil de
trabalho informal avulso.
• Trabalho Informal para Terceiros
Crianças e adolescentes com atividades econômicas subordinadas a pessoas ou
empresas específicas. Essa categoria de trabalho não está submetida a relações
familiares de trabalho, daí o nome “terceiros”, ou seja, tratam-se de pessoas e/ou
empresas que não sejam familiares. Os instrumentos de trabalho não lhes pertencem,
mesmo assim conseguem, às vezes, trabalhar para mais de uma pessoa ou empresa.
Os rendimentos dessa categoria são determinados por produção. As crianças e
adolescentes enquadradas nessa categoria também não cuidam de afazeres
domésticos.
• Empregados Irregulares
São as crianças e adolescentes com alguma forma de emprego, sem que isso resulte
no respeito às formalidades previstas em lei, de forma que eles poderiam
perfeitamente ser classificados como trabalhadores assalariados sem carteira de
trabalho assinada.
• Aprendizes
O termo aprendiz foi utilizado com base na legislação brasileira. A PED utiliza apenas
o termo estagiário de forma genérica. Foram consideradas todas as formas de
remuneração. Para os aprendizes e estagiários, a freqüência escolar é um
condicionante básico. Essas pessoas exercem suas atividades junto a firmas
particulares ou instituições públicas e recebem alguma remuneração.
• Empregados Regulares

92
93
Para o exercício de uma atividade regular, é obrigatório possuir idade igual ou
superior a quatorze anos57. Essas crianças e adolescentes trabalham para o setor
público ou privado e possuem carteira de trabalho assinada, por essa razão são
consideradas como empregados regulares.
• Empregados Domésticos
São as crianças e adolescentes que trabalham em domicílios familiares externos a
suas próprias famílias. Estas pessoas são contratadas para realizar serviços
domésticos, podendo ser remunerados monetariamente (por diária, semana ou mês)
ou mesmo ter como pagamento apenas alimentação e alojamento.
• Desempregados
Crianças e adolescentes desempregados são aqueles que não trabalharam nos
últimos trinta dias, mas exerceram algum tipo de procura por trabalho na semana de
referência da pesquisa. Para a população infanto-juvenil, foi considerado apenas o
desemprego aberto, ficando de fora o trabalho precário, que foi considerado como
ocupação. Com isso, esse trabalho precário encontra-se distribuindo entre as demais
categorias aqui expostas.
• Inativo Ideal
O inativo ideal é a criança e o adolescente que tem como atividade tão somente o
lazer e os estudos. Assim, além de obrigatoriamente apresentarem freqüência escolar,
não exercem nenhum tipo de atividade econômica, mesmo de forma excepcional, que
possa ser caracterizado como trabalho, tal como os afazeres domésticos.
• Outros Inativos
Trata-se de uma categoria residual. Essas crianças e adolescentes podem ou não
cuidar de afazeres domésticos e freqüentar escola, mas normalmente não exercem
alguma atividade econômica, podendo exercê-la em caráter excepcional.
Como pode ser visto, o conceito de inatividade considerado neste capítulo,
diferentemente do capítulo anterior, altera o conceito tradicional, na medida em que os
afazeres domésticos foram classificados como “Trabalho no Lar”58. Ainda mais, a
inatividade infanto-juvenil foi subdividida em duas formas: o inativo puro e o outro
inativo. Por outro lado, o conceito de ocupação recebeu atividades que normalmente
são classificadas como desemprego oculto por trabalho precário, de forma que o
conceito de desemprego total fica reduzido das atividades que caracterizam esse tipo
de desemprego. Esse procedimento exerce, naturalmente, uma implicação direta em
termos de redução da taxa de desemprego e, consequentemente, aumento da taxa de
ocupação.
Com essas considerações, tem-se que as categorias de trabalho e inatividade acima
descritas permitiram observar a composição da População em Idade Ativa (PIA)
amostral das crianças e adolescentes da RMS, a partir de onze categorias específicas:
oito formas de trabalho, o desemprego e duas formas de inatividade. Com essas
categorias pôde-se então elaborar um novo conceito de População Economicamente
Ativa (PEA) mais compatível com o trabalho infanto-juvenil.

57
Antes da conclusão deste estudo, a legislação brasileira sofreu modificações a partir das necessidades originadas pela
reforma previdenciária, o que levou a uma elevação na idade mínima para entrada no mercado de trabalho para 16
anos de idade. No entanto, nosso conceito foi mantido por tratar de dados anteriores a esta modificação.
58
Ao se colocar o trabalho no lar como inatividade, retorna-se ao conceito original de PEA, e passa-se a considerar que,
em 1996/98, por exemplo, 10,8% das crianças e 38,8% dos adolescentes efetivamente encontravam-se presentes no
mercado de trabalho, quando pelo conceito ampliado de PEA esses percentuais foram respectivamente 11,9% e
41,0%.

93
94
Assim, o conceito de PEA utilizado nesse trabalho é uma ampliação do conceito
original. Aqui ficam incorporadas as atividades exercidas pelas crianças e
adolescentes no âmbito familiar, as quais são normalmente classificadas como
inativas59. O conceito de PEA infanto-juvenil, ao trazer para a ocupação situações de
inatividade com trabalho excepcional, reduz a taxa de inatividade. As crianças e
adolescentes que se encontram na condição de trabalho no lar representam um
pequeno percentual da amostra, porém essa categoria de trabalho apontou um grande
crescimento na década, sobretudo para os adolescentes que passaram de 0,4% para
2,2%60.

Tabela 30 - Composição da PIA de Crianças e Adolescentes na RMS: 1987/88-1996/98


(%)

Amostra Total por Categoria Todos Crianças Adolescentes


1987/88 1996/98 1987/88 1996/98 1987/88 1996/98
Ocupados 19,9 16,0 12,4 8,3 33,0 27,3
Trabalho no lar 0,3 1,2 0,3 0,5 0,4 2,2
Trabalho familiar 3,8 3,1 3,4 2,6 4,3 3,9
Informais avulsos 3,4 2,5 2,6 1,5 4,7 4,0
Informais à terceiros 2,5 1,8 1,5 1,0 4,3 3,1
Empregos irregulares 4,5 3,6 2,3 1,5 8,5 6,6
Aprendizes 0,1 0,4 0.0 0,0 0,2 1,0
Empregos regulares 0,8 0,6 0,0 0,0 2,1 1,3
Domésticos 4,5 2,8 2,3 1,0 8,5 5,3
Desempregados 4,9 7,4 2,0 3,0 9,9 13,7
Total Inativos 75,2 76,6 85,6 88,7 57,1 59,0
Inativos ideais 66,2 70,3 77,9 83,0 45,9 51,9
Outros inativos 9,0 6,3 7,7 5,7 11,2 7,1
Fonte: PED-RMS. SETRAS/SEADE/SEI/UFBA/DIEESE. Nossos cálculos.

As participações relativas das categorias de trabalho, para o conjunto da amostra nas


duas bases analisadas, podem ser visualizadas na Tabela 30. Os dados sugerem ter
havido, entre os dois períodos, com intervalo de 10 anos, uma variação negativa da taxa
de atividade econômica para as crianças (-21,5%) e uma certa estabilidade para os
adolescentes (-4,4%). Este é um fato interessante, na medida em que caracteriza uma
redução relativa de crianças e adolescentes presentes no mercado de trabalho. Verifica-
se, dessa forma, um aumento da taxa de inatividade das crianças, que passa de 85,6%
para 88,7%, e dos adolescentes, de 57,1% para 59,0%.
No período de 1987/88 a 1996/98, os inativos ideais passaram de 77,9% para 83,0%
entre as crianças e de 45,9% para 51,9% entre os adolescentes. Esta categoria reflete a
condição ideal para a formação dos jovens e a meta da UNICEF. Os “outros inativos”, por
sua vez, apesar de mostrarem uma queda em termos percentuais, são ainda muito

59
Quando captadas pelo novo conceito de PEA, a condição de trabalho no lar somente é caracterizada se não houver
freqüência escolar das pessoas envolvidas nessas atividades.
60
A PEA assim constituída irá permitir, na seqüência desse capítulo, toda a análise do trabalho infanto-juvenil das
crianças e adolescentes, visto por escolaridade, rendimento, jornada de trabalho, ocupações e setores econômicos. Por
ora, avança-se apenas que a PEA das crianças e adolescentes é constituída de 55,8% de meninos e de 44,2% de
meninas. Existem mais meninos entre os informais, aprendizes e empregados irregulares (76,8%) e os trabalhadores
do lar, familiares e informais avulsos (61,0%), enquanto as meninas predominam entre os domésticos (92,1%). Os
desempregados ficam mais eqüitativamente divididos entre meninos (50,6%) e meninas (49,4%).

94
95
freqüentes nessas duas faixas etárias. Entre as crianças, eles foram reduzidos
de 7,7% para 5,7%, e entre os adolescentes o foram de 11,2% para 7,1%.
Destaque-se também que a redução da atividade econômica das crianças e adolescentes
entre 1987/88 e 1996/98 foi acompanhada da elevação do percentual dessas pessoas
presentes no desemprego. O percentual de desempregados na PIA passou, nesse
período, de 2,0% para 3,0% para as crianças e de 9,9% para 13,7% para os
adolescentes, com variações respectivamente de 50,0% e de 38,5%. Portanto, a atividade
econômica passou a ter um peso maior daqueles que procuram ocupação e demonstram
interesse em trabalhar.
Como esperado, a taxa de atividade é maior entre os adolescentes do que entre as
crianças, apesar de ambas terem caído na década. Entre 1987/88 e 1996/98, a taxa de
atividade dos adolescentes passou de 42,9% para 41,0%, enquanto que para as crianças
houve uma diminuição de 14,4% para 11,3%. No mesmo período, a taxa de desemprego
saltou de 13,9% para 26,5% no caso das crianças e de 23,1% para 33,4% no caso dos
adolescentes.
O trabalho familiar que absorvia 3,4% da PIA infantil em 1987/88, passou a 2,6% em
1996/98, mesmo assim, essa categoria continuou representando a principal ocupação
infantil. Logo a seguir aparecem o emprego irregular, que caiu de 2,3% da PIA para 1,5%,
e a informalidade avulsa, que passou de 2,6% também para 1,5% da PIA. As ocupações
informais com atividades voltadas a terceiros e o emprego doméstico absorvem também
proporções declinantes da PIA das crianças. Entre os adolescentes, os empregos
irregulares e os domésticos, que representavam cada qual 8,5% da PIA em 1987/88,
passaram respectivamente à 6,6% e 5,3% em 1996/98. Em termos de variação, essas
ocupações perdem terreno para o trabalho no lar e para a ocupação de aprendiz; a
primeira passou de 0,4% para 2,2% da PIA, enquanto que o aprendiz passou 0,2% à
1,0%.

ESCOLARIDADE DO CONJUNTO DA AMOSTRA


Numa tentativa de realçar aspectos genéricos que envolvam simultaneamente os dois
segmentos etários analisados, avaliou-se as condições de escolaridade da amostra nos
dois períodos considerados.

Freqüência e Atraso Escolar


Entre 1987/88 e 1996/98, percebe-se claramente um aumento da freqüência escolar das
crianças e adolescentes por categorias ocupacionais, com destaque para os empregados
regulares. O único exemplo de queda da freqüência escolar aparece com os informais
avulsos. Por outro lado, tem-se que o grau de freqüência escolar é muito elevado para o
conjunto de crianças e adolescentes. Em 1987/88, 85,7% das crianças e adolescentes
freqüentavam escola, tendo esse número passado a 91,1% em 1996/98. Por segmento
de idade tem-se que, em 1987/88, 91% das crianças e 76,2% dos adolescentes
freqüentavam escola. Em 1996/98, esses percentuais eram respectivamente 93,7% e
82,2%. Dentre as crianças e adolescentes que efetivamente freqüentavam escola, a
categoria mais representativa foi, como era de se esperar, a dos inativos ideais, que por
definição têm como atividades tão somente o estudo e o lazer. Essas pessoas
correspondiam a 76,8% da amostra com freqüência escolar em 1987/88 e a 78,7% em
1996/98.

95
96
Tabela 31 – Freqüência Escolar das Crianças e Adolescentes (%)

Categorias 1987/88 1996/98


Ocupados
Trabalho no lar 0,0 0,0
Trabalho familiar 78,3 84,7
Informais avulsos 68,3 66,7
Informais a terceiros 67,6 74,8
Empregos irregulares 71,3 75,0
Aprendizes 93,3 100,0
Empregos regulares 69,7 81,6
Domésticos 49,1 50,9
Desempregados 74,2 79,4
Total Inativos
Inativos ideais 100,0 100,0
Outros inativos 36,1 37,2
Fonte: PED-RMS. SETRAS/SEADE/SEI/UFBA/DIEESE. Nossos cálculos.

Excetuando os trabalhadores do lar, que por definição não freqüentam escola, tem-se que
os “outros inativos” figuram como o grupo de mais baixa freqüência escolar, pois no
primeiro período analisado apenas 36,1% deles freqüentavam escola, percentual que
aumentou para 37,2% no segundo período, uma variação relativamente pequena que não
alterou o elevado patamar de não freqüência escolar dessas pessoas. O percentual de
freqüência escolar dos trabalhadores domésticos também é baixo. Em 1987/88, 49,1%
dessas pessoas freqüentavam escola, tendo esse percentual aumentado para 50,9% em
1996/98. Já entre os trabalhadores informais avulsos houve redução relativa da
freqüência escolar. Entre 1987/88 e 1996/98, o percentual de informais avulsos com
freqüência escolar passou de 68,3% para 66,7%, esse movimento naturalmente contribuiu
para uma piora nas condições de escolaridade dessas pessoas. Entre os informais com
trabalhos voltados a terceiros, verifica-se uma melhora da freqüência escolar, pois entre
eles haviam 67,6% que freqüentavam escola em 1987/88, passando esse percentual para
74,8% em 1996/98.
Exceto os inativos ideais, que por definição freqüentam escola, tem-se que os mais
elevados percentuais de freqüência escolar aparecem para os trabalhadores familiares,
os empregados regulares e irregulares e os desempregados; todas essas categorias
avançaram em termos de freqüência escolar. Em 1987/88, 78,3% dos trabalhadores
familiares freqüentavam escola, esse número passou para 84,7% em 1996/98. Os
empregados regulares com freqüência escolar saltaram de 69,7% em 1987/88 para
81,6% em 1996/98 e os empregados irregulares de 71,3% para 75,0%. Os
desempregados, de 74,2% para 79,4%.

Atraso Escolar
Observada isoladamente, a freqüência escolar constitui uma informação interessante a
respeito das condições de educação das crianças e adolescentes. Mas ela pode estar
camuflando uma realidade social muito sofrida, seja pela pobreza econômica seja pela
ausência de políticas específicas. A freqüência escolar não evidencia, por exemplo, a
qualidade do ensino e o atraso escolar, aspectos muito importantes na formação
educacional das crianças e adolescentes. Esse trabalho não se propõe a uma avaliação
da qualidade do ensino nas escolas de primeiro e segundo graus da RMS, mas tem-se
condição de avançar alguns elementos acerca do atraso escolar dessas pessoas.

96
97
Curiosamente, a inatividade da criança e do adolescente não necessariamente
reflete um melhor aproveitamento escolar. Nesse sentido, a situação do inativo ideal
mostra-se paradoxal, pois, mesmo considerando que essas pessoas possuem as
melhores condições para estudar e terem apresentado as mais elevadas freqüências e
melhores alinhamentos idade-série de estudos, também apresentaram elevados
percentuais de atraso escolar. Entre as crianças e adolescentes que possuem entre um e
três anos de atraso escolar, nada menos que 77,1% são inativos ideais, quando o peso
dessas pessoas na amostra é de 70,2%.
Entre as pessoas de 10 a 17 anos que efetivamente freqüentam escola, tem-se que
apenas 15,1% podem ser consideradas como não atrasadas em termos de escolaridade
em 1987/88 e 25,3% em 1996/9861. Trata-se de um movimento positivo, mas pode-se
argumentar que o percentual de 1996/98 ainda é muito baixo para permitir que se
caracterize uma perfeita sincronia entre a idade e o ano escolar dessas pessoas. O atraso
escolar é efetivamente muito freqüente nessa faixa etária, pois, em 1987/88, 48,8% das
crianças e adolescentes vistos em conjunto apresentavam atraso escolar de um a três
anos, tendo esse percentual caído para 47,0% em 1996/98. Com atraso escolar superior
a três anos, encontravam-se ainda 36,1% das crianças e adolescentes em 1987/88 e
27,7% em 1996/98.
Esses são, sem dúvida, percentuais reveladores de uma situação extremamente
problemática para o sistema educacional da RMS62. Os resultados encontrados ainda
podem estar atestando uma espécie de “falência” do sistema educacional da RMS, visto
que a inadequação entre idade e ano escolar é generalizada em todas as formas de
atividade e inatividade infanto-juvenil. Esses números naturalmente contribuem para uma
avaliação negativa do sistema educacional como um todo.
Os dados da Tabela 32 parecem indicar que o atraso escolar começa na infância e, como
um processo cumulativo, se intensifica na adolescência. Mais da metade das crianças
apresentou atraso escolar entre um e três anos nos dois períodos observados. Deve ser
observado que, para os adolescentes, a melhor performance escolar é notória: tem-se
que, em 1987/88, 56,4% deles apresentavam atraso escolar superior a três anos, tendo
esse número diminuído para 43,6% em 1996/98 – proporção ainda muito elevada. Os
dados dessa tabela revelam também um avanço em termos de adequação idade-escola,
mas os resultados mostram-se ainda muito aquém das necessidades sociais. Assim,
mesmo considerando que houve uma melhoria educacional das crianças e adolescentes,
observada pelos aumentos dos percentuais de não-atraso escolar, tem-se que apenas
31,3% das crianças e 16,8% dos adolescentes encontram-se perfeitamente ajustadas em
termos de idade e ano cursado.
Tabela 32 - Atraso escolar de crianças e adolescentes (%)

Sem atraso 1 a 3 anos + de 3 anos


1987/88 1996/98 1987/88 1996/98 1987/88 1996/98
Crianças 18,4 31,3 57,2 52,2 24,5 16,5
Adolescentes 9,3 16,8 34,3 39,6 56,4 43,6
Todos (10 a 17 anos) 15,1 25,3 48,8 47,0 36,1 27,7
Fonte: PED-RMS. SETRAS/SEADE/SEI/UFBA/DIEESE. Nossos cálculos.

O atraso escolar é, sem dúvida, um grande problema a ser resolvido pela sociedade
brasileira, e em particular aquela da RMS. Assim, à medida que não se consegue evitar a

61
O atraso escolar está medido pela diferença entre a escolaridade ideal para a idade e a escolaridade efetiva.
62
E mesmo para um país que diz ter alcançado ainda em 1997 “a meta prevista para o 2.003 pelo Plano Decenal para a Educação”,
como afirmou o Ministro da Educação, Paulo Renato Souza, à Gazeta Mercantil de 7 de agosto de 1996/98).

97
98
fuga e a repetição escolar, como também não se consegue elevar a qualidade do
ensino de base, tem-se um impedimento muito forte para se alcançar uma melhoria
qualitativa e as condições de inserção da força de trabalho que chega, em todos os
níveis, no mercado de trabalho.
Curiosamente, a inatividade da criança e do adolescente não necessariamente assegura
um melhor aproveitamento escolar. Em 1996/98, apenas 31,9% dos inativos ideais
encontravam-se ajustados na relação idade-série cursada, enquanto que 51,8%
apresentavam atraso escolar entre um e três anos e 16,3% mostravam atraso superior a
três anos. Entretanto, mesmo que com problemas de atraso escolar, fica evidenciado que
a condição de inatividade é a melhor situação para que crianças e adolescentes possam
evoluir em termos educacionais, desde que as condições infra-estruturais e, sobretudo,
didáticas assim o permitam.
Entre as categorias de atividade econômica infanto-juvenil, pode-se observar percentuais
muito elevados de atraso escolar por mais de três anos. Encontram-se nessa situação:
75,4% dos domésticos, 60,1% dos outros inativos, 54,5% dos trabalhadores do lar,
familiares e informais avulsos, 50,8% dos informais, aprendizes e empregados irregulares,
42,4% dos desempregados e 16,3% dos inativos ideais. Além disso, encontram-se
atrasados entre um e três anos de estudo: 51,8% dos inativos ideais, 44,5% dos
desempregados, 36,9% dos trabalhadores do lar, familiares e informais avulsos e 36,6%
dos informais, aprendizes e empregados irregulares.
Muito embora o trabalho infanto-juvenil constitua um agravante para o atraso escolar, os
percentuais encontrados revelam-se muito elevados para serem tão somente imputados à
um problema da própria criança e/ou adolescente. Dessa forma, uma melhor
compreensão do funcionamento do sistema educacional poderá naturalmente contribuir
para explicar esses números alarmantes. Entretanto, abstraindo, mais uma vez, a questão
da qualidade do ensino, percebe-se que em todas as categorias de trabalhadores infanto-
juvenis o atraso escolar encontra-se presente.

Escolaridade das Crianças e Adolescentes Migrantes


Um importante fator que exerce influência sobre o trabalho infanto-juvenil é a migração. O
movimento geográfico das crianças e adolescentes, vistas por categoria de atividade
econômica, revela informações interessantes para compreendermos a problemática do
trabalho da criança e do adolescente. No período de 1987/88, 80,7% das crianças e
adolescentes da RMS eram originárias dos municípios da própria região, tendo esse
percentual alcançado 82,3% no período de 1996/98, demonstrando uma pequena
redução da migração de crianças e adolescentes para a RMS. Apesar dessa pequena
queda no percentual de migrantes, verifica-se um índice migratório ainda bastante
elevado, pois uma em cada 5 crianças e adolescentes deixou seu local de nascimento
para concentrar-se na RMS, naturalmente exercendo forte pressão sobre a infra-estrutura
dos serviços urbanos (com destaque para os serviços educacionais), os quais não têm
crescido na magnitude necessária para receber os novos chegantes e ainda permitir uma
melhoria de qualidade para toda essa demanda.
Numa visão de conjunto, como apresentada na Tabela 33, pode-se verificar que, os
inativos ideais são relativamente mais freqüentes entre os originários da RMS (72,4%)
que entre os migrantes (59,7%). Esse fato demonstra que a taxa de atividade econômica
das crianças e adolescentes migrantes é muito superior à dos que sempre moraram na
RMS. Outro aspecto que mostra a precariedade das condições de trabalho desses
migrantes é a posição ocupacional dessas pessoas. A ocupação dos migrantes aparece
proporcionalmente mais no trabalho doméstico. Encontram-se nesse situação 8,7% da
PIA de migrantes contra 1,5% dos que sempre moraram na RMS. Também nas demais

98
99
categorias ocupacionais a proporção dos migrantes é mais elevada que a dos
originários da RMS, isso acontece mesmo para os outros inativos, com exceção apenas
dos inativos ideais.
Tabela 33 - Composição da PIA Migrante e Originária da RMS: 1996/98 (%)

Originário Peso
Categorias da RMS
Migrante
amostral
Trabalhadores do lar e trabalhadores familiares 4,0 5,9 4,3
Informais avulso 2,5 2,7 2,5
Informais à terceiros e empregados irregulares 5,4 5,9 5,5
Aprendizes e empregados regulares 0,9 1,2 1,0
Domésticos 1,5 8,7 2,8
Desempregados 7,2 8,5 7,4
Inativos ideais 72,4 59,7 70,2
Outros inativos 6,1 7,5 6,3
Total 82,3 17,7 100,0
Fonte: PED-RMS. SETRAS/SEADE/SEI/UFBA/DIEESE. Nossos cálculos.

Os domésticos são, portanto, mais migrantes que qualquer outra categoria, mesmo
porque o peso dos migrantes ocupados como domésticos (8,7%) é bastante superior à
participação relativa dos domésticos na amostra (2,8%). Nesse sentido, a situação dos
desempregados encontra-se também desfavorecida, pois eles representam 7,4% da
amostra enquanto que 8,5% dos desempregados são migrantes. No sentido oposto
encontram-se os inativos ideais, pois com um peso relativo na amostra de 70,2%, tem-se
que apenas 59,7% deles são migrantes. Em 1987/88, 62,6% dos migrantes adolescentes
residiam na RMS há mais de três anos. Entre essas pessoas encontram-se 35,3% de
inativos ideais, 18,4% de trabalhadores domésticos 13,6% de outros inativos e de 9,6%
de desempregados.
Os dados da PED, para 1996/98, também revelam que 56,2% dos domésticos são
migrantes. Além dos trabalhadores domésticos, as principais categorias de migrantes são
os trabalhadores do lar e trabalhadores familiares vistos como um todo (23,9%), os
aprendizes e empregados regulares (21,1%), os outros inativos (20,8%) e os
desempregados (20,2%).
Tabela 34 - Migrantes e Originários da RMS por Categorias: 1996/98 (%)

Originário da RMS Migrante


Trabalhadores do lar e trabalhadores familiares 76,1 23,9
Informais avulso 81,5 18,5
Informais à terceiros e empregados irregulares 81,0 19,0
Aprendizes e empregados regulares 78,9 21,1
Domésticos 43,8 56,2
Desempregados 79,8 20,2
Inativos ideais 85,0 15,0
Outros inativos 79,2 20,8
Fonte: PED-RMS. SETRAS/SEADE/SEI/UFBA/DIEESE. Nossos cálculos.

Tanto as crianças e adolescentes originários da RMS como os migrantes apresentaram melhoria na


freqüência escolar. Em 1987/88, 88% dos originários da RMS e 75,4% dos migrantes freqüentavam
escola, esses percentuais sobem respectivamente para 90,9% e 80,3%, em 1996/98. Mesmo
considerando essa melhora, crianças e adolescentes migrantes continuaram relativamente
minoritários na freqüência escolar, ou seja, a freqüência escolar é proporcionalmente mais elevada
para os originários da própria RMS.

99
100
As crianças e adolescentes migrantes melhoraram um pouco mais suas condições de
escolaridade, em relação aos originários da RMS. Pode-se observar essa melhoria através do
indicador de atraso escolar dessas pessoas. Em 1996/98, 22,8% das crianças e adolescentes
migrantes não apresentavam atraso escolar, quando esse percentual era de 12,4% em 1987/88.
Comportamento semelhante, embora chegando a um resultado um pouco mais elevado, apresenta-se
para as crianças e adolescentes que sempre residiram na RMS, pois, em 1987/88, 15,8% dessas
pessoas encontravam-se sem atraso escolar, tendo esse percentual aumentado para 25,8% em
1996/98.
Tabela 35 - Freqüência e atraso escolar dos originários da RMS e dos migrantes(%)

Originários da RMS Migrantes


Condição
1987/88 1996/98 1987/88 1996/98
Com freqüência 88,0 90,9 75,4 80,3
Sem atraso escolar 15,8 25,8 12,4 22,8
Atraso de 1 a 3 anos 51,0 48,4 41,5 40,5
Atraso superior a 3 anos 33,2 25,7 46,2 36,7
Fonte: PED-RMS. SETRAS/SEADE/SEI/UFBA/DIEESE. Nossos cálculos.

Mas o atraso escolar é ainda muito presente entre as crianças e adolescentes migrantes.
Analisando por faixa de atraso, percebe-se que, em 1996/98, 40,5% das crianças e
adolescentes migrantes tinham entre um e três anos de defasagem escolar e 36,7% deles
possuíam mais de três anos de atraso. Em 1987/88, esses percentuais cresceram para
respectivamente 41,5% e 46,2%. Esses percentuais apresentam-se mais elevados para
os originários da RMS. Assim, apesar do aumento proporcional dos migrantes sem atraso
escolar, o desequilíbrio da escolaridade dos migrantes e originários da RMS continua
análogo nos dois períodos analisados. A condição de escolaridade é mais favorável para
as crianças e adolescentes originárias da RMS.
De qualquer forma os números não trazem nenhum conforto, pois tem-se que apenas
cerca de um quarto das crianças e adolescentes não se encontram atrasadas em seus
estudos.

ESCOLARIDADE DA CRIANÇA
A seguir passa-se a analisar a escolaridade das crianças de 10 a 14 anos de idade
ocupadas, desempregadas e inativas. Objetiva-se, com isso, averiguar a influência que a
inserção prematura no mercado de trabalho exerce sobre as condições de escolaridade
dessas pessoas. Para tanto, a escolaridade das crianças inativas é tomada como
referência de comparação, considerando que as atividades escolares e de lazer são
condições para se elevar o nível de escolaridade e de capacitação desse segmento
populacional.

Escolaridade das Crianças Inativas


A escolaridade das crianças inativas apresenta-se numa situação um pouco melhor em
relação às crianças ocupadas. Em 1988, 21,8% das crianças inativas encontravam-se
ajustadas em sua série escolar com respeito à sua idade; esse percentual elevou-se para
33,8% em 1996/98.
É importante destacar que, nos dois momentos da pesquisa, mais de 97% das crianças
inativas sem atraso escolar eram "inativas ideais". No primeiro período da pesquisa, as

100
101
crianças inativas com atraso escolar superior a três anos representavam 15,3%,
tendo diminuído para 13,8% no segundo período. Em todos os parâmetros considerados
na Tabela 36, a condição de escolaridade dos inativos ideais mostra-se melhor que a dos
outros inativos, mesmo considerando que os outros inativos tenham apresentado
melhoras substanciais em termos de escolaridade.
Tabela 36 - Escolaridade das Crianças Inativas (%)

Inativo ideal Outros Inativos Total dos


Condição inativos
1987/88 1996/98 1987/88 1996/98 1987/88 1996/98

Sem atraso escolar 23,2 35,5 7,2 8,9 21,8 33,8


Atraso de 1 a 3 64,2 53,4 48,3 38,8 62,9 52,5
anos
Atraso superior a 3 12,6 11,1 44,5 52,3 15,3 13,8
anos
Fonte: PED-RMS. SETRAS/SEADE/SEI/UFBA/DIEESE. Nossos cálculos.

Entre os dois períodos pesquisados, pode-se constatar uma relativa estabilidade da


proporção de crianças inativas migrantes. Em 1987/88, essas crianças constituíam 14,2%
do total de crianças inativas, tendo esse percentual diminuído para 13,7%. Entretanto,
nesse mesmo período, houve piora nas condições de escolaridade dessas crianças. Isso
pode ser verificado através da redução do percentual de crianças migrantes inativas
ideais sem atraso escolar (21,6% contra 34,9%).

Escolaridade das Crianças Ocupadas


É por demais sabido que o trabalho infantil afeta as condições de escolaridade da criança.
Pode-se avaliar seus efeitos prejudiciais à formação da criança trabalhadora pelo
acompanhamento da freqüência escolar, bem como pela equivalência entre a idade
cronológica da criança e sua série.
A melhoria das condições de escolaridade das crianças pode, pois, ser visualizada pela
avaliação do atraso escolar dessas pessoas. Em 1987/88, apenas 6,6% das crianças
ocupadas encontravam equivalência entre idade cronológica e ano escolar, tendo esse
percentual alcançado 11,4% em 1996/98. Excetuando o trabalhador no lar, que por
definição não freqüenta escola, tem-se que o trabalho doméstico é a categoria
ocupacional mais representativa do atraso escolar. Esta categoria, apresentou
percentuais muito baixos de equivalência entre idade e série escolar (5,8% e 5,3%
respectivamente para os dois períodos analisados). O percentual de crianças sem atraso
escolar caiu também para os informais com atividades avulsas, tendo passado de 21,1%
para 15,8% entre os dois períodos analisados. As demais categorias de trabalho mostram
avanços nas condições qualitativas de escolaridade, quando vistas pela ótica do atraso
escolar.
À medida que passou a haver redução do atraso escolar para o conjunto das crianças
trabalhadoras, esperava-se também uma elevação da freqüência escolar dessas pessoas.
Entretanto, o percentual de crianças ocupadas com freqüência escolar mantém-se
praticamente o mesmo entre os dois momentos da pesquisa. Esse percentual foi de
75,8% em 1987/88 e de 75,3% em 1996/98.
No entanto, a freqüência escolar mostra-se muito diferenciada entre as categorias de
trabalho infantil. Enquanto os informais com atividades voltadas a terceiros e os

101
102
empregados irregulares mantêm seus percentuais de freqüência escolar,
aproximadamente 12,0% e 20,0% respectivamente, o trabalhador familiar apresentou uma
elevação da freqüência escolar, tendo passado de 32,3% para 38,1%, e o trabalhador
doméstico reduziu de 13,4% para 8,7%. Encontra-se entre os domésticos o maior
percentual de não freqüência escolar dentre todas as categorias de trabalho analisadas.
O trabalho doméstico é, portanto, um importante alvo para políticas de combate ao
trabalho infantil e melhoria de vida das crianças.
Tabela 37 - Condições de escolaridade das crianças ocupadas por sexo (%)

1987/88 1996/98
Condição
Menino Menina Menino Menina
Freqüência escolar 78,8 68,7 82,6 60,6
Sem atraso escolar 6,1 7,6 10,1 14,2
Atraso de 1 a 3 anos 51,9 54,5 49,1 50,6
Atraso superior a 3 anos 41,9 37,8 40,8 35,2
Fonte: PED-RMS. SETRAS/SEADE/SEI/UFBA/DIEESE. Nossos cálculos.
* Percentual para o conjunto das crianças.

Tanto os meninos como as meninas ocupados apresentam um quadro de escolaridade


controverso. Ambos os sexos mostraram avanço em termos de equivalência entre idade e
série cursada, mesmo que as meninas tenham demonstrado uma melhor performance
nesse item. O percentual de meninas sem atraso escolar subiu de 7,6% para 14,2% entre
os dois períodos analisados, enquanto para os meninos houve um aumento de 6,1% para
10,1%.
Por outro lado, a freqüência escolar mostrou aumento para os meninos e declínio para as
meninas. Assim, estima-se que as melhorias são insuficientes para alterar a situação
social em termos de escolaridade das crianças, já que a maior adequação idade e série
cursada ainda merece grandes preocupações em termos de política educacional, na
medida em que apenas 10,0% dos meninos e 14,0% das meninas encontram-se
ajustadas nas suas respectivas séries.
Os dados analisados permitem avançar que houve uma melhoria nas condições de
escolaridade da criança negra. Entre os dois períodos citados, o percentual dessas
pessoas sem atraso escolar passou de 6,3% para 9,8%, enquanto o percentual com
freqüência escolar se manteve praticamente o mesmo, aproximadamente três quartos.
Tabela 38 - Condições de escolaridade das crianças ocupadas negras (%)

Condição 1987/88 1996/98


Freqüência escolar 75,3 74,4
Sem atraso escolar 6,3 9,8
Atraso de 1 a 3 anos 52,1 49,7
Atraso superior a 3 anos 41,7 40,5
Fonte: PED-RMS. SETRAS/SEADE/SEI/UFBA/DIEESE. Nossos cálculos.

As crianças que migraram para a RMS, mostraram algumas mudanças na composição da


População em Idade Ativa (PIA) entre os dois períodos observados. Por um lado,

102
103
verificou-se uma melhor composição da inatividade infantil dos que migraram
para a RMS, pois a condição de inativo ideal passou de 66,1% da migração infantil em
1987/88 para 77,3% dez anos depois, bem como os outros inativos ficaram reduzidos a
7,1% quando eles representavam 12,1%. Pode-se ainda perceber reduções relativas das
crianças migrantes com trabalho familiar, informal avulso, informal a terceiros, emprego
irregular e domésticos. Por outro lado, o percentual de crianças que migraram à RMS e
encontravam-se, no momento da pesquisa, na condição de desempregadas aumentou de
2,3% para 3,5%. Movimento semelhante aparece para as crianças com trabalho no lar
que, representavam apenas 0,3% das crianças migrantes em 1987/88, passaram a 1,5%
em 1996/98.
A condição de escolaridade das crianças migrantes pode ser avaliada pela equivalência
entre a idade e o ano escolar dessas crianças, mesmo porque a freqüência escolar
mostra-se menor para as crianças migrantes. Das crianças migrantes, 67,5%
freqüentavam escola no primeiro período pesquisado, quando no segundo período esse
percentual passou para 53,8%. Tem-se assim uma sensação que a integração dessas
crianças na RMS ficou mais difícil, pelo menos no que diz respeito às condições de
escolaridade.
Tabela 39 - Condições de escolaridade das crianças ocupadas por origem (%)

1987/88 1996/98
Condição Originári Migrante Originári Migrante
o o
Freqüência escolar 78,3 67,5 81,0 53,8
Sem atraso escolar 7,3 4,1 12,4 4,3
Atraso de 1 a 3 anos 53,4 50,4 51,3 43,3
Atraso superior a 3 anos 39,2 45,5 35,4 52,4
Fonte: PED-RMS. SETRAS/SEADE/SEI/UFBA/DIEESE. Nossos cálculos.

Muito diferente da situação das crianças migrantes, as crianças originárias da RMS


mostram melhorias educacionais. Entre 1987/88 e 1996/98, houve aumento do percentual
de crianças sem atraso escolar (7,3% para 12,4%) e houve elevação na freqüência
escolar (de 78,3% para 81,0%).

Escolaridade das Crianças Desempregadas


Analisando os dados referentes aos períodos de 1987/88 e 1996/98, chega-se à
conclusão de que houve melhora na situação de escolaridade das crianças
desempregadas. A freqüência escolar aumentou e o atraso escolar apresentou redução
significativa, mesmo que ainda se encontre numa situação bastante crítica, pois nada
menos que 85,4% das crianças desempregadas apresentam defasagem entre a idade e a
série cursada.

103
104
Tabela 40 - Condições de escolaridade das crianças desempregadas (%)

Condição 1987/88 1996/98


Freqüência escolar 81,2 85,4
Sem atraso escolar 7,1 14,6
Atraso de 1 a 3 anos 48,9 55,3
Atraso superior a 3 anos 44,0 30,1
Fonte: PED-RMS. SETRAS/SEADE/SEI/UFBA/DIEESE. Nossos cálculos.

Em termos de atraso escolar, a condição da criança negra desempregada é mais


desfavorável, em relação à criança não negra na mesma condição. Pois, no primeiro
momento da pesquisa, 91,5% das crianças desempregadas eram negras e apenas 4,3%
delas possuíam equivalência entre idade e ano escolar. No segundo momento a realidade
aparece um pouco menos adversa para essas pessoas, pois enquanto a participação
relativa delas praticamente não se alterou (92,4%), o percentual de crianças negras sem
atraso escolar mostrou-se mais elevado (14,4%).
O atraso escolar da criança desempregada não negra mostra-se bem mais razoável;
houve, no entanto, uma redução na proporção de crianças desempregadas não negras
sem atraso escolar. As crianças não negras desempregadas representavam, em 1987/88,
8,5% do total de crianças desempregadas, esse percentual passou à 7,3% em 1996/98. O
percentual de crianças não negras sem atraso escolar diminuiu de 37,5% para 18,5%.
Os meninos constituíam 70,9% das crianças desempregadas em 1987/88 e 63,4% em
1996/98. O corolário desses números é o aumento do percentual de meninas
desempregadas, que passou de 29,1% para 36,6%, acompanhando o aumento geral da
entrada feminina no mercado de trabalho. No primeiro período, 8,5% dos meninos
desempregados não tinham atraso escolar, tendo esse percentual passado à 9,8% no
segundo momento. A composição do não atraso escolar mostrou-se mais favorável às
meninas desempregadas. No primeiro período analisado, 3,7% das meninas
desempregadas não apresentavam atraso escolar, quando no segundo momento esse
percentual passou à 23,0%. Nos dois períodos analisados, percebe-se que a freqüência
escolar é relativamente mais elevada para os meninos desempregados que para as
meninas na mesma condição. Entre os meninos desempregados, tem-se 84,5% com
freqüência escolar no primeiro período da pesquisa, contra 88,5% no segundo. Entre as
meninas, esses percentuais foram respectivamente de 73,2% e 80,0%. As meninas que
conseguem manter-se na escola têm um melhor aproveitamento que os meninos; no
entanto, a sua saída é mais freqüente.
Em relação à criança desempregada originária da RMS, a criança migrante
desempregada possui relativamente mais atraso escolar e freqüenta proporcionalmente
menos a escola. Essa constatação pode ser observada nos dois períodos da pesquisa.
Percebe-se ainda entre as crianças desempregadas migrantes uma piora em termos de
atraso escolar e de freqüência escolar.
Em síntese, tem-se a dizer que, apesar da melhoria nas condições de escolaridade das
crianças ocupadas, pode-se observar dois aspectos bastante relevantes para uma
qualificação dessa melhoria. Em primeiro lugar, tem-se que os números, apesar dos
movimentos positivos apreciados entre os dois momentos da pesquisa, ainda são
reveladores de um quadro social bastante difícil. Em segundo, tem-se que, numa
comparação das crianças ocupadas com as demais, fica evidenciado que o trabalho
infantil efetivamente prejudica as condições de escolaridade das crianças.
104
105
ESCOLARIDADE DO ADOLESCENTE
No que se segue, da mesma forma que se fez para as crianças, procedeu-se uma
avaliação da escolaridade dos adolescentes economicamente ativos, sempre tomando
como referência a escolaridade dos adolescentes inativos.

Escolaridade dos Adolescentes Inativos


Os dados analisados permitem afirmar que houve, em termos gerais, uma melhora nas
condições de escolaridade dos adolescentes. Percebe-se um maior alinhamento da idade
dessas pessoas com respeito às respectivas séries cursadas. Com efeito, o percentual de
adolescentes sem atraso escolar passou de 13,3% para 21,8%, o mesmo movimento
ocorreu indistintamente entre adolescentes inativos ideais e outros inativos.
Tabela 41 - Escolaridade dos Adolescentes Inativos (%)

Inativo ideal Outros Inativos Total dos


Condição inativos
1987/88 1996/98 1987/88 1996/98 1987/88 1996/98

Sem atraso escolar 15,4 23,6 4,4 9,0 13,3 21,8


Atraso de 1 a 3 anos 46,3 48,1 22,3 22,0 41,8 45,0
Atraso superior a 3 38,3 28,3 73,2 5,9 44,9 33,2
anos
Fonte: PED-RMS. SETRAS/SEADE/SEI/UFBA/DIEESE. Nossos cálculos.

Considerando os adolescentes inativos ideais com primeiro grau incompleto, percebe-se


que os percentuais de negros e não negros mantiveram-se relativamente estáveis na
década (87,9% contra 87,3% para os negros e 12,1% contra 12,6% para os não negros).
Mas ao se considerar os adolescentes com escolaridade entre o primeiro grau completo
e o segundo grau incompleto tem-se que o negros representavam 71,0% no primeiro
período contra 61,2% no segundo, enquanto que os não negros aumentam de 29,0% para
37,7%. Ou seja, para a faixa de adolescentes com nível de escolaridade mais elevada, há
uma proporção maior de não negros que nas faixas menos elevadas e esta distinção é
acentuada na década.
Entre os adolescentes inativos ideais, o percentual de homens com o primeiro grau
incompleto passou de 38,1% para 44,2%, enquanto que o percentual de mulheres nessa
mesma condição diminuiu de 61,9% para 55,8%. As meninas adolescentes, apesar de
ainda serem a maioria nesta faixa de escolaridade, tiveram sua participação reduzida na
década.
Em 1987/88, 15,4% dos adolescentes inativos ideais possuíam equivalência entre idade e
série cursada; esse percentual subiu para 23,6% em 1996/98. Mesmo entre os “outros
inativos” percebe-se um novo quadro de escolaridade, pois, em 1987/88, 4,4% dessas
pessoas não possuíam atraso escolar, tendo esse percentual aumentado para 9,0% em
1996/98. Também houve redução do percentual de adolescentes com atraso escolar
superior a três anos, no primeiro período da pesquisa eles representavam 44,9% dos
adolescentes, tendo passado a 33,2% no segundo período.

Escolaridade dos Adolescentes Ocupados


Não se verificam mudanças estruturais significativas entre os adolescentes com o
primeiro grau incompleto. Nessa faixa de escolaridade encontram-se concentrados os
empregados irregulares (28,2% e 24,3% respectivamente para o primeiro e segundo
105
106
momentos da pesquisa), os trabalhadores domésticos (21,8% e 21,6%), os
trabalhadores familiares (14,8% e 14,2%), trabalhadores informais avulsos (14,8% e
15,0%) e os trabalhadores informais com atividades voltadas à terceiros (14,2% e
11,3%).
As melhores condições de escolaridade entre os adolescentes ocupados podem ainda
ser observadas pelo aumento do percentual dessas pessoas com equivalência entre
idade e ano escolar, bem como pela manutenção da freqüência escolar. Os
adolescentes ocupados sem atraso escolar aumentaram de 3,6% em 1987/88 para
7,9% em 1996/98, enquanto o percentual de adolescentes com freqüência escolar
mantém-se aproximadamente em 63,0%. A não freqüência escolar eleva-se entre os
trabalhadores informais avulsos (passando de 14,1% para 15,7% respectivamente nos
dois momentos pesquisados), tendo diminuído para as demais categorias de
trabalhadores.
O percentual de adolescentes migrantes praticamente não se alterou entre 1987/88 e 1996/98. No
primeiro período, eles representavam 20,1% do total dos adolescentes da RMS, passando a 19,3%
no segundo período. Entretanto, os adolescentes migrantes inativos ideais passaram de 73,5% para
84,9% do total de inativos, o que pode indicar uma migração em busca da escolaridade na RMS.
Em 1996/98, entre os adolescentes migrantes inativos ideais, 51,7% possuíam o primeiro grau
incompleto quando esse percentual era de 68,9% dez anos antes. O oposto ocorre com os
adolescentes inativos ideais originários da RMS, pois 63,6% deles possuíam o primeiro grau
incompleto em 1987/88, contra 72,1% em 1996/98. Por outro lado, existe proporcionalmente mais
adolescentes migrantes com escolaridade entre o primeiro grau completo e o segundo grau
incompleto (43,9% contra 27,7% no segundo período) que adolescentes não migrantes nessa mesma
condição (35,1% contra 26,5% no segundo período), apesar da redução proporcional na década.
Pode-se ainda constatar um crescimento relativo dos adolescentes sem atraso escolar. Entre os
originários da RMS, 14,5% não possuíam atraso escolar em 1987/88, contra 21,9% em 1996/98; já
entre os migrantes, esses percentuais foram 19,2% e 31,2% respectivamente nos dois períodos
analisados.
No sentido oposto, verifica-se o atraso escolar superior a três anos. Para os originários da RMS,
houve uma redução de 38,4% para 28,3% e para os migrantes a redução foi de 38,2% para 28,4%.
Interessante notar que a equivalência entre idade e ano de escolar é mais favorável ao adolescente
migrante, pois o percentual dessas pessoas sem atraso escolar é superior à participação relativa dos
adolescentes migrantes no total de adolescentes; o inverso acontece para os originários da RMS.
Entre 1987/88 e 1996/98, eleva-se o percentual de jovens com o primeiro grau incompleto, tendo
passado de 50,3% para 75,3%, bem como o percentual de jovens na faixa de escolaridade entre o
primeiro e o segundo grau incompleto, que passou de 7,9% para 19,2%. Além disso, percebe-se
uma melhoria nas condições de escolaridade dessas pessoas pela agregação das informações das
faixas de escolaridade que vai do primeiro grau incompleto até o segundo grau incompleto. Esta
nova faixa agregada, que concentrava 58,2% dos adolescentes ocupados em 1987/88, passou a
congregar nada menos que 94,5% em 1996/98.
O percentual de adolescentes do sexo feminino sem atraso escolar mais do que dobra entre os
períodos considerados na análise: esse número passou de 4,4% para 10,5%. Mas a freqüência
escolar dessas pessoas sofre uma pequena redução, passando de 58,4% para 53,5%, repetindo a
tendência observada para as meninas de 10 a 14 anos.
Tabela 42 - Condições de escolaridade dos adolescentes ocupados por sexo (%)

Condição 1987/88 1996/98

106
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Masculin Feminino Masculin Feminino
o o
Freqüência escolar 66,9 58,4 71,0 53,5
Sem atraso escolar 3,0 4,4 5,8 10,5
Atraso de 1 a 3 anos 24,4 23,6 26,9 29,2
Atraso superior a 3 anos 72,6 72,0 67,3 60,3
Fonte: PED-RMS. SETRAS/SEADE/SEI/UFBA/DIEESE. Nossos cálculos.

Ainda entre 1987/88 e 1996/98, o percentual de adolescentes do sexo masculino com o primeiro
grau incompleto aumenta de 63,2% para 72,6%. Percebe-se ainda uma elevação do percentual de
adolescentes do sexo masculino ocupados com o primeiro grau incompleto (60,0% no primeiro
período contra 83,3% no segundo) e daqueles com primeiro grau completo e segundo grau
incompleto (6,7% em 1987/88 e 12,7% em 1996/98). A agregação das duas últimas faixas (primeiro
grau incompleto até o segundo grau incompleto) mostra que o percentual de adolescentes do sexo
masculino ocupados também ficou mais elevado no segundo momento da pesquisa (96%),
relativamente ao primeiro (66,7%). O percentual deste grupo sem atraso escolar aumentou, tendo
passado de 3% no primeiro período analisado, para 5,8% no segundo. Também diminuiu o atraso
escolar superior a três anos. A freqüência escolar aparece num quadro um pouco mais favorável
para essas pessoas. Em 1987/88, 66,9% dos adolescente masculinos ocupados freqüentavam escola,
tendo esse percentual se elevado para 71% em 1996/98. A não freqüência à escola apresenta-se
mais elevada entre os trabalhadores domésticos, empregados irregulares e informais avulsos.
Tabela 43 - Condições de escolaridade dos adolescentes ocupados negros (%)

Condição 1987/88 1996/98


Freqüência escolar 63,1 62,5
Sem atraso escolar 2,7 6,8
Atraso de 1 a 3 anos 22,7 26,6
Atraso superior a 3 anos 74,6 66,6
Fonte: PED-RMS. SETRAS/SEADE/SEI/UFBA/DIEESE. Nossos cálculos.

Verifica-se uma elevação relativa dessas pessoas na faixa do primeiro grau incompleto (de 56,5%
para 81,7%). Também aumenta o percentual de adolescentes negros ocupados com o primeiro grau
completo e o segundo grau incompleto; essas pessoas correspondiam a 6,5% no primeiro período,
passando a representar 13,7% no segundo.
Entre 1987/88 e 1996/98, o percentual de adolescentes negros ocupados sem atraso escolar passou
de 2,7% para 6,8%. Também houve, para os adolescentes negros ocupados, redução do atraso
escolar superior a três anos. Em 1987/88, essas pessoas constituíam 74,6% do total de adolescentes
negros ocupados, tendo passando a 66,6% em 1996/98. Houve, portanto, uma melhoria nas
condições educacionais deste grupo.
A freqüência escolar do adolescente negro ocupado mantém-se praticamente a mesma entre os dois
momentos da pesquisa, entretanto percebe-se uma alteração da não freqüência à escola entre as
categorias de atividade dessas pessoas. Assim, em 1987/88, as categorias mais ausentes da escola
eram do trabalho doméstico (34,7%), dos empregados irregulares (22,9%), dos trabalhadores
informais avulsos (14,2%) e dos informais com atividades voltadas à terceiros (11,8%); mas em
1996/98, as principais categorias eram trabalho doméstico (26,8%), trabalho no lar (20,4%),

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empregos irregulares (17,6%) e informais avulsos (16,7%). O trabalho doméstico
continua como a categoria educacional que mais impede a freqüência à escola.
Os adolescentes negros têm como primeira opção ocupacional o trabalho doméstico, enquanto que
para os não negros o trabalho doméstico aparece como quinta opção. No primeiro período da
pesquisa, eram 9,1% dos adolescentes negros contra 3,8% de não negros que exerciam o trabalho
doméstico, caindo esses percentuais respectivamente para 5,9% e 2,3% no segundo período.
Após o trabalho doméstico, as opções ocupacionais mais importantes para os adolescentes negros,
respectivamente para o primeiro e o segundo períodos analisados, são empregos irregulares (de
6,9% para 8,9%), informais avulso (de 4,6% para 5,1%) e trabalhos familiares (de 4,1% para 4,5%).
Para os adolescentes não negros, as opções são: empregos irregulares (5,3%, 5,9%), trabalhos
familiares (2,9%, 3,2%), informais voltadas à terceiros (2,5%, 2,3%) e domésticos (2,3%, 3,8%).
Para os negros, o emprego regular aparece como a sétima possibilidade em 1987/88, caindo para a
oitava em 1996/98, ocupando apenas 1,3% desse grupo social, nesse último período. Também para
os adolescentes não negros o emprego regular é minoritário, em 1987/88 ele constituía a quinta
opção (2,7%), passando para a sétima opção (1,3%), em 1996/98.
Quanto ao local de trabalho, os adolescentes exercem suas atividades econômicas fora da residência
e sem instalações adequadas mas com algum tipo de equipamento. No primeiro período analisado,
12,3% dos adolescentes trabalhavam fora da residência e 3,1% não dispunham de instalações mas
tinham algum tipo de equipamento de trabalho; enquanto no segundo período, esses percentuais
caíram respectivamente para 8,7% e 2,3%.
Tabela 44 - Condições de escolaridade dos adolescentes ocupados por origem (%)

1987/88 1996/98
Condição Originári Migrante Originári Migrante
o o
Freqüência escolar 67,6 53,9 68,1 50,7
Sem atraso escolar 3,7 3,4 9,1 5,0
Atraso de 1 a 3 anos 26,4 18,5 29,7 23,6
Atraso superior a 3 anos 70,0 78,2 61,2 71,4
Fonte: PED-RMS. SETRAS/SEADE/SEI/UFBA/DIEESE. Nossos cálculos.

A escolaridade dos adolescentes migrantes ocupados apresentou um avanço. Tem-se assim uma
elevação significativa do percentual de adolescentes migrantes com o primeiro grau incompleto,
que passou de 48,2% para 81,4% entre os dois períodos analisados. Mesmo o percentual de
adolescentes migrantes ocupados com escolaridade entre o primeiro grau completo e o segundo
grau incompleto aumentou de 5,3% para 11,2%.
Ao se considerar o atraso escolar dos adolescentes migrantes ocupados, vê-se uma mudança
positiva. No primeiro período analisado, apenas 3,4% dos adolescentes migrantes ocupados não
apresentavam atraso escolar, tendo esse número passado à 5% no segundo período. Verifica-se
ainda uma redução do atraso escolar superior a três anos, que passou de 78,2% para 71,4% entre os
dois períodos analisados – proporções ainda extremamente elevadas. A freqüência escolar mostra
uma pequena alteração positiva para essas pessoas. Verifica-se uma redução de trabalhadores
domésticos com não freqüência escolar, tendo passando de 57,3% para 49,3% entre os dois
momentos da pesquisa.
Os adolescentes originários da RMS também apresentaram alterações positivas em termos de
escolaridade. Entre os dois períodos abordados pela pesquisa, tem-se que houve uma elevação

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relativa dos que possuem o primeiro grau incompleto (que passaram 59,5% para 79%) e
daqueles que encontram-se na faixa do primeiro grau completo e segundo incompleto (7,9% e
17,5%).
Pode-se ainda perceber que houve melhora na equivalência entre a idade e a série cursada pelos
adolescentes não migrantes. Em 1987/88, apenas 3,7% dessas pessoas não possuíam atraso escolar
contra 9,1% em 1996/98. Nesse mesmo intervalo de tempo, tem-se que o atraso escolar superior a
três anos diminuiu de 70% para 61,2%. Os trabalhadores domésticos são aqueles que mais se
encontram na condição de atraso escolar superior a três anos, mas também os empregados
irregulares, os trabalhadores informais avulsos e os trabalhadores informais com atividades voltadas
a terceiros detêm percentuais elevados de atraso escolar superior a três anos,
A freqüência escolar entre os adolescentes originários da RMS praticamente não se alterou entre os
dois períodos da pesquisa, tendo passado de 67,6% para 68%. Além dos trabalhadores no lar, que
por definição não freqüentam escolar, tem-se que esse problema atinge mais os empregados
irregulares e os informais avulsos.

Escolaridade dos Adolescentes Desempregados


Os adolescentes desempregados concentram-se mais na faixa de escolaridade do primeiro grau
incompleto. No primeiro período analisado, essas pessoas representavam 57,7% do total de
adolescentes desempregados, passando a representar 73% no segundo. Também houve aumento do
percentual de adolescentes na faixa escolar que vai do primeiro grau completo ao segundo grau
incompleto. Em 1987/88, essas pessoas representavam 13,8% do total de adolescentes
desempregados, tendo esse percentual aumentado para 24,1% em 1996/98.
Tabela 45 - Condições de escolaridade dos adolescentes desempregados (%)

Condição 1987/88 1996/98


Freqüência escolar 72,3 77,5
Sem atraso escolar 7,8 12,6
Atraso de 1 a 3 anos 37,2 41,1
Atraso superior a 3 anos 55,0 46,3
Fonte: PED-RMS. SETRAS/SEADE/SEI/UFBA/DIEESE.
Nossos cálculos.

Em 1987/88, os adolescentes desempregados com equivalência entre idade e ano escolar


representavam 7,8% do total dos adolescentes desempregados, esse percentual passou para 12,6%
em 1996/98. Também houve redução do atraso escolar superior a três anos entre essas pessoas, pois
em 1987/88, elas constituíam 55,0% do total de adolescentes desempregados, tendo passado a
representar 46,3% em 1996/98.
A composição dos atributos pessoais dos adolescentes desempregados sem atraso escolar mostra
que eles são constituídos proporcionalmente mais de indivíduos não negros e do sexo feminino.
Essa constatação pode ser verificada pela comparação do peso relativo dos negros e não negros no
conjunto dos adolescentes desempregados, relativamente à proporção dessas mesmas pessoas no
conjunto daquelas que não possuem atraso escolar. O mesmo raciocínio pode ser feito para os sexos
masculino e feminino. Tem-se assim que, os negros somam 89,5% dos adolescentes
desempregados, mas entre aqueles que não possuem atraso escolar apenas 85,7% são negros. As
mulheres, por sua vez, representam 43,8% dos adolescentes desempregados, enquanto que entre
aqueles sem atraso escolar, encontram-se 61,9% de adolescentes do sexo feminino.

109
110
Utilizando-se do mesmo esquema analítico, tem-se que os adolescentes desempregados
negros e os adolescentes mulheres freqüentam relativamente menos a escola. Isso pode ser
constatado nos dois períodos pesquisados.
O trabalhador adolescente negro leva algumas desvantagens no mercado de trabalho. Tanto os
adolescentes negros como não negros encontram-se, nos dois períodos pesquisados, relativamente
mais desempregados, mas o percentual de negros desempregados é mais elevado. Em 1987/88, eles
eram 10,1% da amostra, esse percentual elevou-se para 14,5% em 1996/98, enquanto que, nesse
mesmo tempo, o desemprego dos adolescentes não negros passou de 8,3% para 9,6%.
Tanto em 1987/88 como em 1996/98, praticamente não houve alteração na composição dos
adolescentes desempregados quanto à origem das pessoas. Em 1987/88, 22,8% dos adolescentes
desempregados eram migrantes; esse percentual foi de 21,3% em 1996/98. Os adolescentes
originários da RMS concentram-se mais na faixa de escolaridade que vai do primeiro grau completo
ao segundo grau incompleto, enquanto os migrantes aparecem mais freqüentemente nas faixas de
menor escolaridade.
Em relação aos adolescentes desempregados originários da RMS, proporcionalmente mais
adolescentes desempregados migrantes possuem equivalência entre idade e ano escolar; da mesma
forma, relativamente mais adolescentes desempregados migrantes encontram-se com atraso escolar
superior a três anos. Tem-se ainda que, os adolescentes desempregados originários da RMS
concentram-se mais na faixa intermediária de atraso escolar que vai de um a três anos de estudo,
enquanto os migrantes aparecem relativamente mais nas faixas limites, sem atraso escolar e com
atraso superior a três anos. Os adolescentes desempregados migrantes ainda freqüentam
relativamente menos a escola, quando comparados aos adolescentes desempregados originários da
RMS.
Para fechar a avaliação da escolaridade das crianças e dos adolescentes da RMS, podemos afirmar
que, apesar de serem detectados alguns avanços, de maneira geral, o nível de escolaridade dos
ocupados é inferior ao dos inativos. Além do mais, fica muito difícil imaginar que as condições de
escolaridade dos ocupados e desempregados respondam aos requisitos de uma nova era, com seus
desdobramentos técnicos e organizacionais, os quais impõem novas e mais complexas exigências
em termos de formação e qualificação. Perdem essas pessoas, mas também perde a economia e a
sociedade como um todo, por não encontrar à disposição uma mão-de-obra no padrão necessário
para produzir produtos de mais elevado valor agregado e sem as condições necessárias para atingir
um padrão de qualidade de vida sequer razoável.
RENDIMENTO E JORNADA DE TRABALHO DAS CRIANÇAS E DOS
ADOLESCENTES
A análise da renda leva em consideração os valores deflacionados, atualizados para o mês de agosto
de 1996/98, de forma a permitir uma comparação intertemporal dos ganhos das crianças e
adolescentes. A jornada de trabalho, por sua vez, é medida em horas semanais de trabalho.
Dentre as crianças e adolescentes que trabalham, 32% não apresentavam algum tipo de
remuneração monetária em 1987/88, tendo esse percentual passado a 37% em 1996/98. Esses
números caracterizam uma situação de exploração muito forte do trabalho infanto-juvenil, a qual se
amplia ainda mais pela baixa remuneração normalmente paga ao trabalho infanto-juvenil, muito
freqüentemente considerado uma "ajuda" a outros membros da família. Por isso mesmo, optou-se
por analisar apenas o rendimento das pessoas que efetivamente apresentam algum tipo de renda.
Esse procedimento, naturalmente, puxa a média dos rendimentos para cima, tornando difícil a
contestação das evidências aqui reveladas.
No entanto, é importante destacar que o trabalho não remunerado representa um grande peso para o
trabalho infanto-juvenil, como já foi explorado no capítulo 2 deste estudo.

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111
Rendimento das Crianças e Adolescentes
O rendimento mensal médio do conjunto das crianças e adolescentes que trabalha foi estimado em
apenas R$ 99 em 1987/88, tendo diminuído para R$ 82 em 1996/98. A queda na remuneração real
na década foi generalizada para todos os ocupados da RMS, sejam eles crianças, adolescentes ou
adultos.
No primeiro período analisado, tem-se que os 25% de menor renda apresentaram um rendimento
máximo de R$ 34, sendo R$ 68 o rendimento que separa os 50% que menos ganham dos 50% que
mais ganham (mediana da distribuição). Os 25% de maior rendimento ganharam um mínimo de
R$ 134 e apenas 5% das crianças e adolescentes recebem acima de R$ 264. No segundo período, os
valores encontrados foram inferiores, demonstrando uma perda de ganhos para as crianças e
adolescentes ocupados. Assim, os 25% de menor renda receberam R$ 40, a mediana caiu para
R$ 63, enquanto os 25% de maior renda ganharam um mínimo de R$ 117, tendo os 5% de maior
renda recebido um rendimento mínimo de R$ 200.
Estes rendimentos muito baixos, mesmo em relação às camadas mais pobres da população de
adultos da RMS, evidenciam a grande probabilidade de eficácia de políticas de complementação
renda para famílias de baixa renda, que poderiam ser um forte elemento para a redução do trabalho
infanto-juvenil na região.
Quando se considera o rendimento no trabalho adicional, é assustadora a realidade das crianças e
adolescentes, pois praticamente desaparece a remuneração quando se exerce alguma atividade além
da principal. Apenas 35% dessas pessoas ganham alguma remuneração monetária de trabalho
adicional em 1987/88, tendo esse percentual caído para 25% em 1996/98. Com efeito, dentre
aqueles que efetivamente ganham pelo seu trabalho, tem-se que uma média de rendimento mensal
calculada em R$ 70 para o período de 1987/88 e de R$ 40 para o período de 1996/98. Em 1987/88,
esse rendimento representava 70% do valor do ganho médio auferido no trabalho principal, tendo
diminuído para 50% em 1996/98. Quando considerada a faixa etária entre 10 e 17 anos que tem
alguma atividade adicional, tem-se que apenas 5% ganham acima de R$ 123 em 1996/98, quando
esse valor era de R$ 244 em 1987/88. Os 10% de maior renda recebiam um mínimo de R$ 65 no
primeiro período e de R$ 98 no segundo, enquanto que os 10% de menor renda ganham um máximo
de R$ 13 em 1987/88, tendo esse valor caído para apenas R$ 7 em 1996/98.
Entre os dois períodos analisados, verifica-se uma perda generalizada de renda para todas as
categorias ocupacionais de crianças e adolescentes. As crianças e adolescentes com emprego
regular ganhavam as mais elevadas remunerações médias, tanto no primeiro momento da pesquisa
(R$ 218), quanto no segundo (R$ 153). Os aprendizes se mantiveram em segundo lugar em termos
de rendimento médio auferido, com ganhos de R$ 216 em 1987/88 e de R$ 101 em 1996/98. Os
empregados irregulares mantêm-se em terceiro lugar em termos de remuneração média, com
R$ 118 no primeiro período e R$ 87 no segundo. Os domésticos, com um rendimento médio de
R$ 90 em 1987/88 e R$ 83 em 1996/98, ocupam o quarto posto na hierarquia dos rendimentos
médios. As mais baixas remunerações mensais aparecem para os trabalhadores familiares (R$ 80
contra R$ 88 em 1987/88), os informais avulsos (R$ 56 contra R$ 83 em 1987/88) e os informais
com serviços a terceiros (R$ 81 contra R$ 94 em 1987/88).
O rendimento médio das crianças e adolescentes do sexo masculino que, no primeiro período da
pesquisa, era superior ao rendimento médio do sexo feminino (R$ 107 e R$ 90 respectivamente),
passou a ser equivalente no segundo período analisado (R$ 81 contra R$ 85). Houve uma perda de
ganhos reais para os dois sexos, mas, além da perda real para as crianças e adolescentes do sexo
masculino, verifica-se também uma perda em relação ao sexo oposto.

JORNADA SEMANAL DE TRABALHO DAS CRIANÇAS E DOS


ADOLESCENTES
Como foi mostrado anteriormente, houve uma redução dos ganhos do trabalho infanto-juvenil no
período compreendido entre 1987/88 e 1996/98. Esse fato foi, contudo, suavizado pela redução da
111
112
jornada semanal de trabalho, o que caracteriza uma compensação em termos de
exploração do trabalho dessas pessoas. Assim é que, entre os dois períodos analisados, pode-se
observar uma diminuição da jornada semanal do trabalho principal para o conjunto da amostra
(crianças e adolescentes).
No primeiro período, a jornada média era de 39 horas semanais, tendo essa média diminuído para
35 horas no segundo período. Os dados amostrais revelam ainda que, nos dois momentos da
pesquisa, 5% das crianças e adolescentes trabalhavam acima de 72 horas semanais. Apenas 11% em
1987/88 e 10% em 1996/98 trabalhavam até 10 horas por semana. A carga semanal de trabalho que
separa os 50% que trabalham menos dos 50% que trabalham mais foi estimada em 40 horas no
primeiro período e em 35 horas no segundo. Com efeito, são jornadas elevadas, considerando que a
totalidade do tempo da criança e a maior parte do tempo do adolescente deveriam estar voltados a
atividades escolares.
No período de 1987/88, os trabalhadores domésticos trabalharam uma média de 53 horas; em
seguida vêm os empregados regulares com 44 horas semanais de trabalho, os empregados
irregulares (42 h), os trabalhadores familiares (31 h) e, finalmente, os trabalhadores avulsos e os
aprendizes trabalharam em média 25 horas por semana. No período de 1996/98, os trabalhadores
domésticos continuaram a apresentar a média mais elevada de jornada de trabalho semanal (50 h).
Em seguida aparecem os empregados irregulares (39 h), os empregados regulares (38 h) e os
trabalhadores familiares (32 h). Os informais voltados à terceiros trabalharam uma média semanal
de 26 horas. enquanto os informais avulsos o fizeram em 25 horas por semana, aparecendo os
aprendizes com a menor média de trabalho semanal (20 h).
As jornadas mais elevadas, dos trabalhadores domésticos e empregados regulares ou irregulares,
aproximam-se das jornadas realizadas por adultos, o que evidencia o caráter de grave exploração
das crianças e adolescentes na RMS.

Rendimento das Crianças


Entre os dois momentos da pesquisa, tem-se uma queda da renda média das crianças e, ao mesmo
tempo, uma elevação do percentual daquelas que trabalham sem renda. As crianças, vistas de
maneira isolada, recebiam um rendimento médio de R$ 75 em 1987/88, mas passaram a ganhar, em
1996/98, em média R$ 47, ou seja, elas passaram a receber apenas 2/3 do que recebiam dez anos
antes. Em 1987/88, 41% das crianças ocupadas tinham rendimento nulo, esse percentual subiu para
47% em 1996/98.
Em 1987/88, os 10% de crianças com menor renda recebiam no máximo R$ 18, tendo esse
percentual diminuído para R$ 10 no final da década. No extremo oposto, os 10% que ganham mais
recebiam R$ 149 em 1987/88, passando a receber R$ 105 em 1996/98. A mediana, valor que separa
os 50% de maior renda dos 50% de menor, mostrou uma redução de R$ 60 para R$ 38 entre
1987/88 e 1996/98. Apenas 5% das crianças remuneradas recebiam rendimentos superiores a
R$ 187 em 1987/88, mas esse valor caiu para R$ 122 dez anos depois.
Tratam-se portanto, de valores muito baixos, que no entanto suprem necessidades básicas destas
crianças ocupadas. Elas são o principal alvo de uma política de renda mínima, associada a exigência
de freqüência escolar, com custo reduzido que o estado tem plena capacidade de arcar, sem que isso
venha a onerar demasiadamente os cofres públicos. Os resultados a médio e longo prazos podem ser
facilmente previstos, dados resultados prejudiciais do trabalho para o rendimento escolar infantil.

Jornada de Trabalho das Crianças


Considerando-se exclusivamente as crianças, pode-se averiguar que a jornada semanal média de
trabalho foi de 34 horas no primeiro período considerado e caiu para 30 horas no segundo. Pode-se
ainda destacar que, no primeiro período, 5% das crianças trabalhavam acima de 71 horas, tendo esse
número baixado para 66 horas semanais no segundo período. Ainda tem-se que 10% das crianças
trabalhavam mais de 63 horas no primeiro período e mais de 60 horas semanais no segundo
112
113
momento analisado. Enquanto 25% trabalham acima de 48 horas no primeiro período e
acima de 42 horas semanais no segundo. Apesar da pequena melhora verificada entre os dois
períodos analisados, pode-se perfeitamente perceber que tratam-se de jornadas de trabalho
totalmente incompatíveis com a freqüência escolar.

Rendimento do Adolescente
O percentual de adolescentes ocupados sem remuneração monetária foi de 25% em 1987/88, tendo
esse percentual passando a 33% dez anos após. O trabalho não remunerado é, pois, menos presente
entre os adolescentes.
Assim, estabeleceu-se o mesmo procedimento das crianças, ou seja, analisou-se apenas os
adolescentes que efetivamente obtiam um rendimento monetário pelo seu trabalho. Entre aqueles
que trabalham contra uma remuneração, pode-se perceber uma redução dos rendimentos. A média
de ganhos dessas pessoas era de R$ 116 no primeiro momento da pesquisa, passando a R$ 95 no
segundo momento, representando portanto uma perda de 18%.
Os adolescentes agrupados entre os 10% de menores ganhos recebiam, em 1987/88, uma renda
máxima de R$ 32, mas passaram a ganhar apenas R$ 26 em 1996/98. No extremo oposto, tem-se
que os 10% de maiores rendimentos ganhavam um mínimo de R$ 215 em 1987/88, tendo reduzido
seus ganhos para R$ 159, em 1996/98. A mediana que era de R$ 105 em 1987/88 passou para
apenas R$ 81 dez anos depois. Mesmo para os 5% de maiores rendimentos houve uma perda de
ganhos. Essas pessoas recebiam um mínimo de R$ 253 em 1987/88 e passaram a ganhar R$ 211 em
1996/98.

Jornada de Trabalho do Adolescente


A jornada média de trabalho semanal dos adolescentes é superior à das crianças. Essa jornada foi
estimada em 42 horas no período de 1987/88 e em 37 horas no período de 1996/98, caracterizando
uma pequena melhora portanto. Assim, igualmente às crianças, verifica-se uma elevação da
exploração pelo ângulo da renda e da jornada de trabalho. Ganha-se menos, mas também trabalha-
se menos. Apesar dessa redução global da jornada média de trabalho dos adolescentes, tem-se ainda
um quadro social bastante problemático.
Um rápido balanço desse quadro pode ser verificado nos números que se seguem. Os 5% de
adolescentes que mais trabalham o fazem numa média semanal de 72 horas, isso se verifica nos dois
momentos analisados. Para os 10% que menos trabalham a média semanal foi de 14 horas no
período 1987/88 e de 11 horas no período ode 1996/98; enquanto que os 10% que mais trabalham o
fazem em um mínimo de 70 horas no primeiro período e de 66 horas no segundo. A jornada
semanal que separa os 50% que mais trabalham dos 50% que menos trabalham foi calculada em 44
horas no primeiro momento pesquisado e em 39 horas no segundo.
Dessa maneira, pode-se concluir que, também para os adolescentes as jornadas semanais de
trabalho são longas e incompatíveis com o desenvolvimento humano, escolar, político e social.
Para os adolescentes, a questão da inserção no mercado de trabalho é mais importante que para as
crianças. São desenvolvidas políticas de treinamento específicas visando a aumentar suas
possibilidades de acesso a melhores condições de trabalho e melhores rendimentos. No entanto,
estas políticas devem ser associadas a uma educação formal de qualidade, que é inviabilizada pelas
elevadas jornadas de trabalho.
A INFLUÊNCIA DA ESCOLA SOBRE O TRABALHO
Analisou-se, até o momento, a influência que o trabalho exerce sobre a escolaridade da criança e do
adolescentes. Nesta avaliação, constatou-se que, de alguma maneira, a performance escolar dessas
pessoas fica prejudicada em decorrência de uma inserção prematura no mercado de trabalho. Esta
questão pôde ser avaliada pelo nível de escolaridade, equivalência entre idade e série cursada e pela

113
114
freqüência escolar. No entanto, construiu-se a possibilidade de inverter o raciocínio para
complementar a abordagem do trabalho infanto-juvenil.
Assim, no que se segue, tentar-se-á observar se as condições de escolaridade das crianças e
adolescentes ocupados permitem colocar essas pessoas em circunstâncias mais ou menos favoráveis
no mercado de trabalho. Essas circunstâncias serão observadas a partir de uma comparação das
taxas de ocupação nas diferentes categorias de trabalho, bem como das condições de escolaridade
presentes nas principais ocupações e setores de atividade econômica.
Vai-se então acompanhar as condições de escolaridade dessas pessoas, para, com isso, observar se a
mais elevada escolaridade permite uma alocação diferenciada no mercado de trabalho.
Nesse sentido, a primeira informação que se tem é que, para a faixa etária que vai dos dez aos
dezessete anos de idade, o percentual de pessoas ocupadas com equivalência entre idade e ano
escolar é menos elevado (9,0%) relativamente aos desempregados (13,1%). O mesmo movimento
acontece em relação ao atraso escolar superior a três anos, que é também mais freqüente entre os
ocupados (82,1%) que entre os desempregadas (74,8%), bem como em relação à freqüência escolar,
pois até mesmo os desempregados (79,4%) freqüentam relativamente mais a escola que os
ocupados (66,7%). Considerando-se apenas as pessoas que freqüentam escola, tem-se que os
desempregados figuram mais freqüentemente entre as pessoas com equivalência entre idade e ano
escolar (14,4%) que os ocupados (12,3%).
Diante do exposto, tem-se que a condição de escolaridade tanto dos ocupados quanto dos
desempregados é muito insatisfatória, mesmo assim, essa condição se mostra um pouco pior para os
ocupados que para os desempregados. Lembrando que a situação escolar dos “Inativos ideais”
também apresenta alto grau de atraso escolar, pode-se inferir que o problema da escolaridade se
coloca para além da questão do trabalho infanto-juvenil.
Assim, pode-se afirmar que, de uma parte, a escola possibilita uma melhor condição de inserção no
mercado de trabalho, para aqueles que tiveram melhor aproveitamento; de outra parte, tem-se
também que a escola, na medida em que não consegue manter um bom padrão de curso, acaba por
contribuir para o elevado grau de defasagem e abandono escolar. Dessa forma, pode-se concluir que
o elevado grau de abandono escolar de crianças e adolescentes, contribui para uma inserção precoce
dessas pessoas no mercado de trabalho.
Essa situação se agrava, na medida em que essas pessoas passam a compor a população
economicamente ativa com as mais elementares condições de escolaridade. Por não conseguir atrair
e manter as crianças e adolescentes, o sistema escolar deve ser responsabilizado pela influência
perniciosa exercida sobre a formação de crianças e adolescentes, já que ele vem contraditoriamente
contribuindo para a ampliação do trabalho infanto-juvenil.
Por outro lado, enquanto inativos ou desempregados, as crianças e adolescentes continuam
estudando, apesar da existência de atraso escolar. Quando passam à condição de ocupadas, mais um
elemento de afastamento da escola, agrava-se o quadro de más condições educacionais, com o
aumento da não freqüência e do atraso escolar.

Crianças e Adolescentes uma Visão de Conjunto


Analisando os dados do período 1987/88, tem-se que os trabalhadores domésticos são aqueles que
têm menos escolaridade, 49,1% não freqüentam escola e apenas 1,2% não possuem atraso escolar.
Dessa forma, a menor escolaridade pode estar conduzindo a esse tipo de ocupação. No extremo
oposto, tem-se os aprendizes mostraram possuir o mais elevado nível de escolaridade, teoricamente
exigida para a manutenção desta condição de ocupação.
O trabalho familiar mostrou ser o que concentra o mais elevado percentual de pessoas com o
primeiro grau incompleto. O trabalho familiar é, para o conjunto das crianças e adolescentes,

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115
aquele que mais permite uma certa continuidade do processo de escolaridade63, pois nada
menos que 78,3% dessas pessoas freqüentam escola. Entretanto, a permissão da freqüência escolar
não significa melhor performance. Nesse sentido, o trabalho familiar pouco difere das demais
ocupações, pois apenas 6,6% dos trabalhadores familiares não possuíam atraso escolar em 1987/88.
Esse número sobe para 7,6% ao se considerar apenas as pessoas que efetivamente freqüentam
escola. Para as demais categorias, não se percebe de forma nítida uma relação muito forte entre
maior nível de escolaridade e melhor alocação no mercado de trabalho.
Não se verificou grandes mudanças na relação escola e trabalho para o período de 1996/98, muito
embora a freqüência escolar tenha se elevado em todas as categorias de trabalho analisadas, mesmo
assim pode-se afirmar que o trabalho doméstico é aquele para onde se dirigem as pessoas menos
escolarizadas, enquanto o trabalho familiar permite um menor “prejuízo” do processo educacional
das pessoas ocupadas na faixa etária dos 10 aos 17 anos. Resta saber se isso acontece
indistintamente para crianças e adolescentes vistos de maneira independentes.

Crianças na Escola e no Trabalho


Entre as crianças também é a categoria de trabalhadores domésticos que requer os mais baixos
níveis de escolaridade. Em 1996/98, essas pessoas eram as que menos freqüentavam escola, 53,3%
contra 83,9% dos trabalhadores familiares, 74,7% dos trabalhadores informais avulso e 71,4% dos
trabalhadores informais com atividades voltadas à terceiros. Entre os trabalhadores domésticos tem-
se ainda a mais elevada proporção de pessoas com mais de três anos de atraso escolar (59,1%).
Considerando-se apenas os trabalhadores domésticos com freqüência escolar, o atraso superior a
três anos passa a incorporar 49,7% dessas pessoas.
Também entre as crianças, são os trabalhos familiares que menos prejudicam a escolaridade das
pessoas envolvidas nessas atividades. Os trabalhadores familiares normalmente freqüentam escola,
bem como possuem o mais baixo nível de atraso escolar superior a três anos (33,4%); esse número
cai para 28,4% ao se considerar apenas as crianças com freqüência escolar.

Adolescentes na Escola e no Trabalho


Igualmente ao ocorrido com as crianças, o trabalho doméstico é a categoria de trabalho que mais
emprega adolescentes com menos escolaridade. No primeiro período analisado, 47,2% dos
adolescentes domésticos não freqüentam escola e 87,2% possuem atraso escolar superior a três
anos. Ao se considerar apenas os domésticos com freqüência escolar o atraso superior a três anos
passa a reunir 81,8% dessas pessoas.
No segundo período, o trabalho informal avulso é a categoria que mais emprega analfabetos
(20,2%). Ainda nesse período, entre os trabalhadores domésticos encontram-se 4,2% de pessoas
com o primeiro grau completo, o menor percentual encontrado entre todas as categorias. Nessa
situação existem, por exemplo, 76,5% dos aprendizes e 35,1% dos empregados regulares, além de
19,0% dos trabalhadores familiares, 18,9% dos empregados irregulares e 16,9% dos informais com
atividades voltadas a terceiros.
Nesse período, o percentual de domésticos sem freqüência escolar é de 50%; mesmo assim, um
percentual menor que o dos trabalhadores familiares (79,2%), dos informais à terceiros (73,2%),
dos empregados irregulares (72,2%) e dos informais avulsos (60,3%). Também entre os
adolescentes trabalhadores domésticos, analisados no segundo momento da pesquisa, é que se
encontra o mais elevado percentual de pessoas com mais de três anos de atraso escolar (77,2%), em
seguida aparecem os informais à terceiros (60,2%), os informais avulsos (58,0%) e os empregados
irregulares (50,7%).

63
Quando se considerou os adolescentes isoladamente, essa observação não se verificou, de forma que o exposto é
válido apenas para as crianças submetidas ao trabalho familiar. A questão do adolescente submetido ao trabalho
familiar será tratada logo adiante.

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Mas é importante perceber que o trabalho no lar demonstra ser aquele onde se concentra
o segundo maior percentual de pessoas com atraso escolar superior a três anos (78,3%), ficando os
domésticos em primeiro lugar com 82,4% em atraso escolar superior a três anos. Apenas a categoria
dos aprendizes apresenta uma performance escolar um pouco melhor, pois apenas 4,7% dessas
pessoas possuem atraso escolar superior a três anos. Mesmo assim, tem-se que 50,6% deles têm
atraso escolar entre um e três anos.
Assim, para os adolescentes, pode-se concluir que os trabalhos de aprendiz e o emprego regular são
as categorias que menos danos causam à escolaridade e formação das criança e adolescentes,
enquanto que o trabalho familiar, o trabalho doméstico e o trabalho no lar são os que mais prejuízos
apresentam.
PRINCIPAIS OCUPAÇÕES
Dois aspectos são relevantes para se analisar as principais ocupações das crianças e adolescentes. O
grau de importância em termos de presença da criança e do adolescente e a jornada semanal de
trabalho. O quadro abaixo foi organizado na ordem decrescente da jornada de trabalho. Não houve
alteração substancial da jornada média de trabalho nas dez principais ocupações, muito embora o
conjunto não seja exatamente o mesmo nos dois períodos analisados. Por outro lado, ao se fazer
uma comparação de cada ocupação nos dois momentos da pesquisa, percebe-se apenas pequenas
mudanças, não muito significativas, de forma que a problemática do uso do tempo da criança e do
adolescente mantém-se praticamente o mesmo, nos dois períodos analisados.
Uma diferença significativa ocorreu, por outro lado, na concentração de ocupados nas principais
ocupações, que muda entre os dois períodos. As crianças a adolescentes passaram a exercer uma
diversidade maior de ocupações, pois a concentração de indivíduos nas principais cai na década.
O emprego doméstico figura como o grande absorvedor do tempo da criança e do adolescente, em
seguida aparece o atendimento de bares (garçons), os mecânicos e vendedores de jornais. Em
1987/88, 32,2% dessas pessoas se ocupam de vendas de um modo geral (venda de jornais em
particular), tendo esse percentual diminuído para 21,8% em 1996/98. O emprego doméstico
mantém sua posição relativa nos dois momentos da pesquisa. No segundo período, aparecem os
mecânicos e auxiliares, bem como as ocupações ambulantes e estagiários, enquanto que
desaparecem os técnicos de ensino e os trabalhadores agrícolas. Também no segundo período,
apenas o estágio aparece como ocupação de meio turno, de forma a permitir a continuidade do
estudo das pessoas aí alocadas.
Fica então patente que as pessoas com melhor escolaridade acabam por se localizar mais facilmente
em estágios, bem como é esta atividade que melhor permite a continuidade da escolaridade das
pessoas aí ocupadas.

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Tabela 46 - Principais Ocupações para Crianças e Adolescentes

1987/88 Jornada 1996/98 Jornada


Principais Ocupações (%) (h) Principais Ocupações (%) (h)
Empregados domésticos 27,2 54 Empregados domésticos 27,4 53
Atendentes de bar 2,1 49 Atendentes de bar 8,1 41
(garçons) (garçons)
Faxineiros e lixeiros 3,3 36 Mecânicos e auxiliares 3,1 38
Outras ocupações 15,4 36 Vendedores (jornais) 21,8 35
Vendedores (jornais) 32,2 35 Trab. Braçais 10,3 32
(ajud.pedreiro)
Trab. Braçais 10,5 34 Ocupações ambulantes 13,4 30
(ajud.pedreiro)
Contínuos 2,8 33 Outras ocupações 4,7 30
Pescadores 3,6 24 Contínuos 3,5 28
Técnicos de ensino 1,5 16 Pescadores 2,6 23
Trabalhadores agrícolas 1,4 16 Estagiários 5,0 20
TOTAL 100,0 40 TOTAL 100,0 38
% sobre total de ocupados 84,7 % sobre total de ocupados 64,3
Fonte: PED-RMS. SETRAS/SEADE/SEI/UFBA/DIEESE. Nossos cálculos.

O quadro abaixo descreve as condições de escolaridade das quatro principais ocupações. No


emprego doméstico e no trabalho braçal aparecem as mais baixas freqüências à escola e os mais
elevados percentuais de atraso escolar superior a três anos, mesmo para aqueles que freqüentam
escola.
Tabela 47 - Características educacionais das quatro principais ocupações (%)

C/freqüência
Freqüên- Atraso superior a 3
Ocupação 1996/98 escolar e atraso
cia escolar anos
>3 anos

Vendedores de Jornais 85,8 39,9 35,0


Ocupações ambulantes 76,6 53,9 43,9
Emprego doméstico 49,6 75,1 69,5
Trabalho braçal 64,5 73,6 63,8
Fonte: PED-RMS. SETRAS/SEADE/SEI/UFBA/DIEESE. Nossos cálculos.

Principais Ocupações das Crianças


Houve uma pequena redução da jornada média de trabalho para as crianças, vistas isoladamente.
Mas, é muito elevada a jornada média de trabalho no emprego doméstico. Ocupações mais
compatíveis com a continuidade do processo escolar das crianças devem usar um tempo máximo de
20 horas semanais, de forma a não problematizar a freqüência e a performance escolar dessas
pessoas.

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No segundo período, tem-se nessa situação os estagiários e, no limite, os pescadores. O
estágio tem efetivamente como objetivo uma formação profissional, enquanto a pesca é uma
atividade não urbana. Todas as demais ocupações figuram como obstruidoras do processo de
formação da criança, com graves conseqüências sobre suas condições de escolaridade,
comprometendo desde então suas formas de inserção e rendas futuras.
Tabela 48 - Principais Ocupações das Crianças
1987/88 Freq. Jorn. 1996/98 Freq. Jorn
(%) (h) (%) . (h)
Principais Ocupações Principais Ocupações
Empregados domésticos 21,6 52 Empregados domésticos 16,8 47
Atendentes de bar (garçons) 1,2 48 Mecânicos e auxiliares 4,5 35
Faxineiros e lixeiros 2,2 37 Atendentes de bar (garçons) 9,2 38
Vendedores (jornais) 42,3 31 Vendedores (jornais) 26,6 29
Outras ocupações 15,6 30 Contínuos 1,7 28
Contínuos 1,9 29 Ocupações ambulantes 20,4 27
Trabalhadores agrícolas 2,0 27 Trab. braçais (ajud.pedreiro) 11,9 26
Trab. braçais (ajud. pedreiro) 9,5 26 Outras ocupações 5,2 22
Pescadores 2,7 19 Pescadores 3,0 21
Técnicos de ensino 1,0 17 Estagiários 0,7 8
TOTAL 100,0 35 TOTAL 100,0 31
% sobre total de ocupados 93,4 % sobre total de ocupados 70,0
Fonte: PED-RMS. SETRAS/SEADE/SEI/UFBA/DIEESE. Nossos cálculos.

Nas quatro primeiras ocupações das crianças, o percentual de freqüência escolar é elevado.
Entretanto o atraso escolar é um problema muito grave. Pode-se mesmo deduzir que as ocupações
infantis mais freqüentes não necessariamente retiram a criança da escola, mas prejudicam muito
fortemente a continuidade do processo educacional dessas pessoas. Isso pode ser verificado pelo
atraso escolar e sobretudo pelo atraso escolar com freqüência escolar.
Tabela 49 - Características educacionais das quatro principais ocupações de crianças (%)

Ocupação 1996/98 Freq Esc +3 atraso C/freq. e +3a

Vendedores (jornais) 91,6 25,7 23,5


Ocupações ambulantes 87,2 41,4 34,5
Emprego doméstico 51,4 49,5 44,6
Trabalho braçal 76,1 53,7 45,1
Fonte: PED-RMS. SETRAS/SEADE/SEI/UFBA/DIEESE. Nossos cálculos.

Principais Ocupações dos Adolescentes


Nas dez principais ocupações dos adolescentes, em média, trabalha-se 41 horas semanais, não
havendo, portanto, alteração significativa entre os dois períodos analisados. Como era de se esperar,
o adolescente trabalha relativamente mais que a criança. O emprego doméstico figura, como para as
crianças, como a ocupação que mais suprime o tempo dessas pessoas. Também entre os
adolescentes, apenas o estágio aparece como mais compatível para que se possa prosseguir nos
estudos.

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Tabela 50 - Principais Ocupações dos Adolescentes

1987/88 Freq. Jorn. 1996/98 Freq. Jorn.


(%) (h) (%) (h)
Principais Ocupações Principais Ocupações
Empregados domésticos 31,9 56 Empregados domésticos 33,8 54
Atendentes de bar 2,8 49 Atendentes de bar 8,3 44
(garçons) (garçons)
Vendedores (jornais) 24,1 41 Mecânicos e auxiliares 2,7 40
Outras ocupações 16,1 41 Vendedores (jornais) 20,6 39
Trab. braçais 11,4 39 Outras ocupações 4,1 36
(ajud.pedreiro)
Faxineiros e lixeiros 4,1 36 Trab. braçais 13,1 36
(ajud.pedreiro)
Contínuos 3,9 35 Ocupações ambulantes 9,6 34
Trabalhadores agrícolas 1,0 29 Contínuos 4,4 28
Pescadores 2,9 28 Pescadores 1,9 25
Técnicos de ensino 1,8 16 Estagiários 1,5 21
TOTAL 100,0 44 TOTAL 100,0 41
% sobre total de ocupados 79,2 % sobre total de ocupados 61,9
Fonte: PED-RMS. SETRAS/SEADE/SEI/UFBA/DIEESE. Nossos cálculos.

Nas quatro principais ocupações, a freqüência escolar mostra-se problemática para todas as
ocupações, mesmo para os vendedores (81,9%). O atraso escolar, por sua vez, é o grande problema
para os adolescentes nas quatro principais ocupações. Considerando todos os adolescentes com
freqüência escolar, tem-se que 76,3% dos trabalhadores braçais apresentam atraso escolar superior a
três anos. Nessa mesma condição, encontram-se ainda 76,4% dos empregados domésticos, 57,5%
dos ambulantes e 43,6% dos vendedores.
Tabela 51 - Características educacionais das quatro principais ocupações
dos adolescentes (%)

Freqüên-cia Atraso > 3 C/freqüência escolar


Ocupação 1996/98
escolar anos e atraso >3 anos

Vendedores (jornais) 81,9 49,4 43,6


Ocupações ambulantes 65,0 67,5 57,5
Emprego doméstico 49,2 81,8 76,4
Trabalho braçal 58,5 83,8 76,3
Fonte: PED-RMS. SETRAS/SEADE/SEI/UFBA/DIEESE. Nossos cálculos.
PRINCIPAIS SETORES
Esta seção do trabalho tenta averiguar em qual setor de atividade encontra-se o maior percentual de
trabalho infanto-juvenil e quais são as condições de escolaridade das pessoas envolvidas. A análise
de conjunto mostra que o maior percentual das pessoas na faixa etária dos 10 aos 17 anos exercem
suas atividades nos setores de comércio e serviços, os quais aparecem agregados como Setor

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120
Terciário. Isso acontece tanto no primeiro período analisado (82,0%) como no segundo
(86,9%), ficando as demais distribuídas entre a agricultura, indústria, construção civil e outras
atividades.
A freqüência escolar mostra-se superior no setor de comércio e serviços nos dois momentos
analisados. No primeiro, tem-se que 71,5% das pessoas do setor terciário freqüentavam escola,
contra 67,8% dos ocupados na indústria e demais setores. No segundo momento, a freqüência
escolar para as pessoas com ocupação no comércio e nos serviços foi de 74,1%, enquanto no
conjunto dos demais setores esse percentual foi de 71,3%.
O atraso escolar superior a três anos, para as pessoas que efetivamente freqüentam escola e
trabalham no setor de comércio e serviços, mostra-se menos prejudicial, pois no primeiro período
analisado esse atraso alcançava 46,1% das pessoas do terciário, contra 52,6% dos demais setores;
no segundo momento esses percentuais foram respectivamente de 42,3% e de 54,1%.
Tabela 52 - Condições de escolaridade de alguns setores (%)

1987/88 1996/98

Escolaridade Setor Outros Setor Outros


Terciário setores Terciário Setores

Conjunto
Freqüência escolar 71,5 67,8 74,1 71,3
Atraso +3 anos c/freqüência escolar 46,1 52,6 42,3 54,1
Crianças
Freqüência escolar 79,0 83,6 82,2 83,9
Atraso +3 anos c/freqüência escolar 35,6 32,6 28,6 31,5
Adolescentes
Freqüência escolar 68,4 62,9 70,5 66,0
Atraso +3 anos c/freqüência escolar 51,0 60,9 49,5 66,2
Fonte: PED-RMS. SETRAS/SEADE/SEI/UFBA/DIEESE. Nossos cálculos.

Para uma avaliação das condições de escolaridade das crianças e adolescentes, quando observada
por setor de atividade econômica, aparece o quadro acima. Uma análise desse quadro, mostra que o
Setor Terciário (Comércio e Serviços) atrai pessoas um pouco mais qualificadas em termos de
escolaridade, por isso esse setor prejudica um pouco menos o comportamento escolar dessas
pessoas.

CONCLUSÃO

Neste capítulo, podemos avaliar detalhadamente as condições de escolaridade das crianças e


adolescentes da RMS, associando estas informações às suas situações de atividade ou inatividade
econômica. O tamanho de trabalho infanto-juvenil reduziu-se na década, com a redução da
proporção de ocupados. Um outro elemento que indicou melhora nas condições de vida dos mais
jovens foi a elevação da inatividade, sobretudo aquela que chamamos de "inatividade ideal" –
crianças e adolescentes dedicam seu tempo apenas ao estudo e ao lazer.

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Na atividade econômica, o desemprego cresce na década. Mais crianças e adolescentes se
mostram dispostos a começar a trabalhar. Aqueles que já trabalham, por sua vez, mostraram uma
situação de piores condições de escolaridade, com menor freqüência e maior atraso escolar.
Algumas atividades exploram de forma mais perversa o trabalho de crianças e adolescentes. Para as
crianças, destaca-se o trabalho não remunerado e a categoria de trabalho no lar, que impede o
acesso a escola. Tanto para crianças como para adolescentes, o trabalho doméstico traz graves
conseqüências negativas para o desenvolvimento, prejudicando a escolaridade destes jovens
trabalhadores. As atividades ligadas ao aprendizado – de aprendizes ou estagiários – podem trazer
um certo incentivo à continuidade dos estudos. Mas nenhuma forma de ocupação traz reais
benefícios aos jovens tanto quanto a sua manutenção como inativos ideais.
As elevadas jornadas de trabalho, sobretudo entre os adolescentes, inviabilizam o acesso ou o
melhor rendimento escolar. As atividades remuneradas rendem em média valores monetários muito
baixos, o que indica chances elevadas de sucesso das políticas de renda mínima, associadas à
exigência de escolaridade, sobretudo para as famílias com crianças trabalhadoras de 10 a 14 anos.
As políticas não devem ficar limitadas apenas ao combate ao trabalho infantil, mas sobretudo à
melhoria no sistema educacional, de forma a aumentar a atratividade e a manutenção das crianças e
adolescentes na escola, dando a eles a dimensão de valor do conhecimento e da cidadania.

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Capítulo 5. Principais Resultados


A título de principais conclusões dos trabalhos da pesquisa o presente capítulo busca
resumir os achados em relação ao trabalho infanto/juvenil e vida econômica,
escolaridade, famílias e outros atributos pessoais. Os principais resultados foram:

Muda a relação das crianças com a atividade econômica


Constata-se que a utilização de crianças no trabalho é maior entre os paises mais pobres
do mundo, porém observa-se que as modificações na economia internacional, as
transformações na organização da produção principalmente dos países centrais e as
conseqüências das crises mais recentes, têm provocado um crescimento da utilização
deste tipo de trabalhador, que expande-se também para o centro do capitalismo mundial.
O problema deixa de ser exclusivo das áreas rurais e periféricas, para atingir as cidades e
o núcleo produtivo do globo.
Associado a este crescimento, há um aumento da concentração de renda e dificuldades
de inserção ampliadas para maiores parcelas das populações destes países, com o
crescimento de pessoas abaixo da linha de pobreza e a quantidade de famílias carentes.
Por outro lado, a crise fiscal e a tendência para a redução dos gastos sociais diminui a
cobertura dos programas protetores e políticas compensatórias, criando condições para
uma maior exposição das crianças ao mercado de trabalho. Além disto, as elevadas taxas
de desemprego e o processo de destruição de postos de trabalho acabam por induzir o
adolescente a buscarem antecipar sua entrada na população economicamente ativa
(PEA), porém sem sucesso em encontrar ocupações, elevando-se as taxas de
desemprego para estes segmentos.
Apesar do estabelecimento desta associação entre o aumento da concentração de renda
e a utilização de crianças e adolescentes no mercado de trabalho, não se pode afirmar
que exista uma correlação definida entre os ciclos econômicos e o trabalho infantil. Nos
momentos recessivos haveria uma espécie de efeito-renda que, aumentando as
dificuldades dos adultos proverem os rendimentos necessários para as famílias, faz com
que as crianças e adolescentes recorram à novas fontes de rendimentos. Por outro lado,
pode-se também identificar uma espécie de efeito-substituição entre os demandantes
que, nos momentos de crise, teriam à sua disposição trabalhadores adultos dispostos a
trabalhar em piores condições e com menores rendimentos, substituindo as eventuais
“vantagens” da utilização de crianças. Neste sentido, a crise seria associada a uma queda
do trabalho infantil.
Ao mesmo tempo em que cresce a utilização de crianças e adolescentes no trabalho,
também aumenta a consciência social contrária a esta utilização. A própria visibilidade do
problema se amplia, na medida em que cada vez são menos legitimados os argumentos
de que o uso de crianças na atividade produtiva é um destino melhor do que o crime e a
miséria nas ruas. Os dois problemas devem ser enfrentados simultaneamente. A exclusão
social presente, que expõe as crianças a situações de precariedade de vida cotidianas
não pode ser combatida com a condenação destas mesmas crianças a ficarem de fora
das possibilidades de melhorias futuras no mercado de trabalho, pela impossibilidade de
acúmulo de escolaridade e de informação, indispensáveis para o enfrentamento das
exigências crescentes das melhores ocupações remanescentes.

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Esta mudança de percepção pode se identificada na expansão dos movimentos
sociais de condenação ao trabalho infantil, que se amplia no mundo inteiro de forma
acentuada nos finais da década passada e nestes anos 90. Além destes movimentos
sociais que englobam vários segmentos da sociedade, as conquistas legislativas
conseguidas na modificação do marco regulatório, que define estas formas de relações de
trabalho são substanciais na redefinição de formas de enfrentamento do problema.
Evidentemente que a proibição do uso de crianças no trabalho pode ser inócua, se não
acompanhada de montagem de sistemas de fiscalização eficientes e abrangentes para
tornar custosa a desobediência aos dispositivos legais que proíbem tais práticas.
Estas modificações dificultam de forma particular os estímulos à demanda de trabalho das
crianças por parte dos empregadores, atuando principalmente sobre as forças de
demanda que afetam a questão, com pequenos resultados, no entanto, sobre as variáveis
que influem na oferta deste tipo de trabalho.
O Brasil não é exceção neste panorama internacional. Depois da Constituição de 1988 e
do Estatuto da Criança e do Adolescente a legislação brasileira deu passos importantes
na direção da extinção do trabalho infantil. Mesmo concentrando-se mais na na zona
rural (agricultura e indústria extrativa) a utilização de crianças como força de trabalho é
bastante acentuada na área urbana, apesar de apresentar sinais declinantes nos últimos
anos.
Os anos 80 e 90 foram anos de intensa mudança no mercado de trabalho brasileiro, com
ajustes nas relações de trabalho, ampliando o assalariamento sem carteira e as
atividades de conta-própria, com a crescente participação das mulheres na população
economicamente ativa e com aumento das taxas de desemprego, principalmente na
segunda metade dos anos 90. Tornam-se mais difíceis as possibilidades de encontrar
emprego regular, cai o rendimento médio das pessoas e aumenta a escolaridade dos que
permanecem ocupados.
Em relação as crianças, no entanto, não se pode identificar claramente uma associação
entre o aumento do desemprego e da precariedade no mercado de trabalho com o
crescimento do trabalho infantil. Ao contrário, observa-se uma queda da proporção de
crianças e adolescentes que estão trabalhando ou procurando emprego nos anos 90. Na
década de 80 pode se verificar que no Nordeste houve um movimento inverso com o
aumento da Taxa de Participação das crianças, fenômeno distinto do que acontecia no
Sudeste do país. Nos anos 90, em ambas as regiões reduz-se a atividade econômica das
crianças e adolescentes.
Os dados regionais permitem também inferir a importância relativa das variáveis de oferta
e demanda de trabalho, no que concerne ao trabalho das crianças e dos adolescentes.
No que se refere às pessoas entre 15 e 17 anos, há uma grande dispersão das taxas de
participação entre as regiões, refletindo parcialmente as diferentes situações da absorção
deste tipo de trabalhador, em conseqüência das condições de funcionamento destes
mercados e portanto, refletindo mais intensamente variáveis de demanda. No que refere
as crianças, no entanto, situações econômicas de distintas regiões, que refletem
funcionamentos diferenciados das condições de demanda, apresentam taxas de
participação bastante semelhantes, o que pode ser interpretado como um indicador das
importância relativa das variáveis de oferta de trabalho.
Considerando-se os dados das duas pesquisas analisadas, pode-se afirmar que na
Região Metropolitana de Salvador há uma redução da atividade econômica, tanto das
crianças, como dos adolescentes,
nos dez anos que se passaram entre 1988 e 1998, apesar de que as taxas de
participação ainda são relativamente elevadas, sendo de 11% entre as crianças e de 39%

124
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entre os adolescentes. Esta queda foi mais acentuada entre as crianças do que
entre os adolescentes. Tanto crianças como adolescentes reduziram sua participação na
PEA, porém ambos aumentaram suas taxas de desemprego, sugerindo maiores
dificuldades de encontrar ocupação no final da década de 90, do que na década anterior.
Do ponto de vista do bem estar social esta situação é bastante preocupante porque indica
que a situação das crianças e adolescentes que permanecem economicamente ativas é
mais difícil de superação uma vez que há mais dificuldades de colocação. As pesquisas
mostram que as formas de procurar trabalho para crianças e adolescentes são diferentes
das utilizadas pelos adultos. Enquanto estes utilizam informações mais formalizadas e
atuam diretamente na busca, as crianças e adolescentes recorrem muito mais à
interveniência de conhecidos e parentes. Esta informação associada a elevação da taxa
de desemprego pode ser interpretada como uma indicação de a rede de relações sociais
que levaria a inserção das crianças e adolescentes no trabalho perder eficácia,
insinuando que estas famílias são da periferia dos sistemas sociais de reconhecimento e
colocação que definem os mercados de trabalho modernos.
As famílias não estão conseguindo mais colocar seus filhos e filhas na atividade
econômica, bem como a duração da procura de trabalho das crianças aumenta entre os
dois períodos considerados. Mesmo com dificuldades de inserção, as crianças continuam
pressionando o mercado de trabalho por mais tempo, podendo refletir situações de maior
precariedade da situação econômica familiar. Esta interpretação também é reforçada pela
constatação de que aumenta bastante entre os dois períodos a proporção de crianças que
perderam a ocupação com menos de um ano de tempo de serviço e que continuam
ativamente procurando trabalho.
Concluindo pode-se afirmar que, nos dez anos considerados, houve uma redução do
problema referente ao trabalho infantil na RMS, apesar de que as crianças que
permaneceram economicamente ativas encontram-se em situação mais precária e
provavelmente são provenientes de famílias em situação mais frágil em relação ao
mercado de trabalho. No que se refere ao adolescente, que reduz também sua taxa de
participação, ainda que em intensidade menor, sua crescente taxa de desemprego
recoloca de forma central a questão da escolaridade como estratégia de inserção no
mercado de trabalho.

Atividade econômica e escolaridade


Não parece haver dúvidas de que a atividade econômica da criança dificulta o
aprendizado e reduz o desempenho escolar, trazendo conseqüências de longo prazo na
formação profissional. Desta forma, um dos elementos importantes na contenção da
oferta de trabalho infantil é o acesso ao sistema escolar, sua qualidade e seus custos. Os
dados do Brasil e da RMS parecem indicar que houve uma grande expansão deste
acesso, inclusive com uma certa melhoria de sua qualidade, refletida na redução do
atraso escolar de seus alunos.
Por outro lado, sabe-se que o abandono definitivo da escola é um processo cumulativo
que depende das sucessivas tentativas de reingresso, repetições de ano e atraso escolar
acumulado, que se concentra mais entre os adolescentes do que entre as crianças.
Os dados gerais das PNADs para o Brasil mostram que aumentou a proporção de
crianças que só estudam e diminuiu a percentagem relativa àquelas que só trabalham
refletindo a expansão do sistema escolar. Já os dados das duas pesquisas analisadas
mostram que a freqüência escolar aumentou mesmo entre as crianças ocupadas, em
todos os tipos de ocupações, exceto entre os informais avulsos. Esta constatação sugere
políticas diferenciadas para os chamados autônomos, já que se evidencia uma maior
incompatibilidade entre estudo e trabalho para este tipo de atividade. Por outro lado,

125
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apesar do aumento da freqüência à escola das crianças como um todo, este
movimento não se observa com a mesma intensidade entre as crianças negras ocupadas
Ainda que se constate que a inatividade econômica se associa à maior freqüência
escolar, isto não se verifica para a totalidade dos inativos. Os inativos ideais, que por
definição freqüentam escola apresentam a maior taxa, porém os outros inativos que não
freqüentam escola e não trabalham são os de pior condição de freqüência. Por outro, lado
os dados das pesquisa verificaram que o aumento do número de anos de escolaridade
está associado positivamente com a redução da atividade econômica das crianças e
adolescentes, confirmando a hipóteses de que trabalhar prejudica os estudos.
Em termos de atraso escolar, cuja redução pode ser interpretada como um indicador da
melhoria da qualidade do sistema escolar, observa-se uma redução para todas as
crianças. Também em relação ao desempenho, a atividade econômica tem um efeito
deletério, aumentando o atraso escolar entre as crianças e adolescentes ocupados e
especialmente entre os desempregados, em relação aos inativos, como se verifica na
tabela a seguir.
Tabela 53 Proporção de crianças e adolescentes sem atraso escolar

Crianças Adolescentes
87/88 97/98 87/88 97/98
Inativos Ideais 23,2 35,5 15,4 23,6
Desempregados 7,1 14,6 7,8 12,6
Ocupados 6,6 11,4 14,5 21,9
Fonte: PED-RMS. UFBa/SEI/SETRAS/DIEESE/SEADE-SP. Nossos cálculos.

Estes dados parecem sugerir que a maior melhoria relativa do desempenho escolar
ocorreu entre as crianças desempregadas, ainda que a maior proporção de crianças sem
atraso escolar encontre-se, como esperado, entre as crianças sem atividade econômica.
Houve também melhoria entre as crianças ocupadas, porém de forma diferenciada entre
os tipos de ocupação. As crianças ocupadas como domésticas apresentam as piores
condições de escolaridade e de desempenho na escola.
Entre os adolescentes, reduz-se muito mais o atraso escolar entre as mulheres ocupadas
do que entre os homens ocupados, ainda que tenha caído a proporção de adolescentes
mulheres que freqüentam a escola. Esta diferenciação de resultados mostra que há
formas de inserção no mercado que são distintas em termos de atributos pessoais como
sexo, cor e situação migratória, como se analisa a seguir.

Composição por sexo, cor e situação migratória


A comparação entre duas faixas etárias ao longo de 10 anos, mesmo que provenientes de
amostras distintas refletirá também as modificações da estrutura etária da população que
porventura tenham ocorrido no período considerado. A população brasileira tem passado
por um processo de transição demográfica bastante intenso nos últimos 30 anos,
reduzindo drasticamente as taxas de fecundidade e de mortalidade, levando ao seu
envelhecimento relativo. As pirâmides etárias reduzem suas bases e os grupos de idade
mais alta aumentam suas participações relativas na população total.
Além deste processo geral, há também em alguns momentos uma certa “onda jovem”,
que traz para o presente as variações de taxas de natalidade distintas em certo
momentos do passado. A comparação das duas amostras revela este fenômeno, com o
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aumento relativo da população com mais de 18 anos de idade, contração da
proporção de crianças e aumento da percentagem de adolescentes. Esta situação reduz
as pressões de oferta de crianças sobre o mercado de trabalho, ao mesmo tempo que
explica parcialmente o aumento da pressão dos adolescentes. É claro que estes
movimentos são também intermediados pela decisão de sair da inatividade e entrar na
PEA, que não depende exclusivamente de variáveis demográficas.
Ainda no que se refere a variáveis relativas à população, deve-se destacar a redução dos
fluxos migratórios para as regiões metropolitanas brasileiras, que ocorreu nas duas
últimas décadas, também diminuindo o aumento da pressão populacional sobre o
mercado de trabalho da RMS. Apesar da redução da pressão sobre a disponibilidade de
ocupações pela diminuição do número de migrantes em geral, os dados das pesquisas
parecem indicar uma diferença de comportamento quando se consideram as crianças e
adolescentes, em comparação aos adultos. Cai a proporção de pessoas que migraram
para a RMS nos 3 anos anteriores das pesquisas entre os adultos (de 11,1% em
1987/1988 para 6,7% dez anos depois), sem grande alterações para crianças (5,6% para
6,0%) e adolescentes (10,2% para 9,2%). Isto sugere a manutenção de um certo fluxo
migratório de crianças e adolescentes, sem o acompanhamento de seus pais, que pode
se refletir em um aumento das famílias já residentes há mais tempo na RMS, com a
incorporação de crianças que chegam. Estas crianças em geral têm um desempenho
escolar inferior aos originários da RMS e apresentam uma taxa de participação mais
elevada, o que intensifica a pressão sobre o mercado de trabalho.

Tabela 54 Taxa de Participação de Crianças, Adolescentes e Adultos na RMS por


situação migratória

87/88 97/98
Crianças 14,2 10,6
Sempre na RMS 12,8 10,1
Menos de 3 anos na RMS 26,6 16,0

Adolescentes 42,4 38,7


Sempre na RMS 39,9 36,7
Menos de 3 anos na RMS 57,5 50,8

Maiores de 18 anos 71,0 70,7


Sempre na RMS 72,2 73,0
Menos de 3 anos na RMS 71,6 73,1

Fonte: PED-RMS. UFBa/SEI/SETRAS/DIEESE/SEADE-SP. Nossos cálculos.

Não só as crianças e adolescentes migrantes têm uma taxa de participação mais elevada,
como também sua proporção entre os desempregados é maior do que entre a população
como um todo. A proporção de crianças migrantes desempregadas aumenta
substancialmente de 1987/88 para 1997/98, indicando a maior dificuldade de inserção
deste segmento. Isto é diferente entre os adolescentes, onde não se evidencia grande
mudança na situação de desemprego dos migrantes na comparação dos dois períodos.

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128
Entre os adultos recém chegados à RMS, a taxa de desemprego cai entre os
dois períodos considerados.
Em termos de ocupação, há uma grande concentração de migrantes entre os
empregados domésticos com 40% das crianças e 44% dos adolescentes, apesar de que
esta proporção é declinante, especialmente entre as crianças.
No que se refere a cor não parece ter havido nenhuma mudança substancial entre os
anos finais da década de 80 e da década de 90 na RMS como um todo. No entanto, os
dados da pesquisa constatam uma piora das condições ocupacionais da população
negra, especialmente com o aumento da proporção de negros entre as crianças e
adolescentes ocupados, confirmando que o movimento de saída da atividade econômica
foi diferenciados entre os negros e não negros, de forma que os negros permanecem
relativamente mais como ocupados e como desempregados.
Na RMS também se observou um aumento da atividade econômica das mulheres, ainda
que a elevação das taxas de desemprego das crianças mulheres possa ser interpretada
como uma indicação das dificuldades diferenciadas da inserção dos homens e mulheres
no mercado de trabalho.

Ocupações mais precárias para os que continuam na PEA


No Brasil, a distribuição setorial da ocupação de crianças e adolescentes, da mesma
forma que entre os adultos, muda pouco nos anos 90, com um ligeiro aumento da
ocupação nos serviços. Os dados das PNADs mostram que o comércio nordestino
desempenhou o papel de principal absorvedor das crianças, enquanto na RMS
praticamente não se altera a composição setorial da ocupação das crianças, apesar do
aumento dos serviços na absorção dos adolescentes.
Ao mesmo tempo em que as ocupações passaram a ter relações de trabalho mais
precárias, com o aumento do assalariamento sem carteira e as atividades de
trabalhadores autônomos, a regularidade e continuidade das ocupações diminuíram nos
dez anos entre as duas pesquisas. Esta perda de regularidade é particularmente visivel
entre as crianças, sugerindo que as ocupações que as absorvem tem aumentado sua
irregularidade, ampliando sua dimensão de precariedade. No entanto, convém destacar
que a situação de trabalhador familiar parece vir se consolidando com um aumento de
crianças que regularmente exercem este tipo de ocupação.
Como um outro indicador destas formas mais precárias de inserção, observa-se que a
estabilidade na ocupação tem aumentando, conforme se verifica com o aumento do
tempo de serviço entre os adultos, porém movimento inverso ocorre entre as ocupações
que absorvem crianças por menos tempo do que o faziam em 1987/88.
Do ponto de vista das posições na ocupação, os dados da PNAD mostram que as
crianças brasileiras cresceram sua ocupação em trabalhos sem remuneração, indicando
que suas atividades produtivas são fortemente associadas a inserção de outros membros
adultos da família, que enfrentam dificuldades de manutenção de seus níveis de
rendimento e de ocupação, apelando para suas crianças no auxílio e complementação.
Enquanto este tipo de ocupação cresce entre as crianças, entre os adolescentes esta
proporção se mantém praticamente estável nos dez anos considerados. Entre estes o que
cresce é a inserção assalariada sem carteira assinada. Enquanto os empregadores
privados continuam crescendo para as crianças, para os adolescentes observou-se um
ligeiro declínio detes tipo de patrão, sinalizando um aumento do emprego público destes
jovens.

128
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Indicando a proximidade entre a atividade familiar e a atividade produtiva,
observa-se também que as crianças exercem sua ocupação na própria residência em
proporção superior àa dos adolescentes e adultos, mesmo no caso de ocupações
assalariadas.
Por outro lado, como mais um indicador de que as crianças que continuam na PEA,
apesar de relativamente menos do que em 1987/88, enfrentam mais dificuldades,
observa-se o aumento do trabalho adicional, além do principal para elas em proporção
muito maior do que entre os adultos. Também a concentração de ocupação em
estabelecimentos com menos de 10 empregados é substancialmente maior entre as
crianças do que entre os adultos.
Em termos da distribuição espacial dos locais de trabalho internamente na RMS, Salvador
continua como o principal polo gerador de ocupações, sem grandes mudanças entre os
dois períodos analisados para os adultos, porém com uma ligeira desconcentração para
fora de Salvador, especialmente entre os adolescentes assalariados.
Entre as crianças que exercem atividades de autônomos, entre 1987 e 1997, parece ter
havido redução dos que trabalham para o público em geral, aumentando o trabalho para
empresas e diminuído a parcela proprietária dos próprios instrumentos de trabalho. Estas
constatações sugerem que uma grande parte destas aparentes ocupações autônomas
escondem relações de trabalho assalariadas, com alto grau de precariedade.

Poucos ganham e os que ganham recebem pouco


Como já visto, a década de 90 assistiu a um aumento do trabalho sem remuneração
ocupando crianças, principalmente no que diz respeito ao volume de trabalhadores
familiares que auxiliam outros membros da família. Ainda que não haja remuneração em
espécie, este tipo de trabalho potencializa os rendimentos dos adultos auxiliados,
destacando a importância do comportamento do conjunto familiar nas questões referentes
a inserção das crianças no mercado de trabalho. Nos finais da década de 80, os dados
parecem indicar que a contribuição direta do indivíduo de 10 a 14 anos era mais
importante do que a ajuda que ele ou ela poderia dar para o adulto empregado naquela
época. Era o tempo de taxas menores de desemprego, em que a renda familiar poderia
ser complementada. Hoje, o desemprego cresce e o assalariamento cai, modificando as
necessidades de adequação dos tipos de trabalho infantil, que desloca-se da relação
direta com o empregador,
para auxiliar a ação do adulto como autônomo ou em relações de trabalho mais precárias.
O aumento da precariedade da ocupação e da taxa de desemprego reduz a renda
individual e inibe a compensação da renda familiar com a inclusão de outro membro
adulto no mercado, como parece ter ocorrido nos anos 80. Nestas circunstancias, ao
invés de inserir as crianças em situações de difícil absorção e baixíssimos rendimentos é
mais viável utilizar o seu trabalho para complementar as atividades de outros adultos ou
de outros membros da família já ocupados, daí porque o aumento do trabalho infantil sem
remuneração.
Apesar disso vê-se claramente que quanto menor a renda da família mais probabilidade
suas crianças têm de inserir-se precocemente no mercado de trabalho. Desta forma
poucas crianças apresentam ganhos monetários e quando os têm eles são muito
inferiores aos dos adultos, apesar de que as jornadas de trabalho não são menores em
termos correspondentes.
Mesmo que as crianças trabalhem com jornada menor do que adolescentes e adultos e
que elas sejam declinantes nos dez anos considerados, elas são ainda muito altas para
individuos que não deveriam se afastar da escola devem ter suas necessidades de lazer

129
130
e formação adequados para sua idade. O declínio da jornada é mais acentuado
entre as crianças assalariadas refletindo os avanços da legislação, mesmo que também
se observe no último período uma queda da jornada das crianças que são trabalhadores
familiares. Associada a informação de que houve um aumento da freqüência escolar, isto
pode ser interpretado como uma indicação de que as famílias, apesar de ampliarem a
utilização do trabalho de suas crianças para ajudar outros membros da família que já
estão ocupados, o fazem com comprometimento cada vez menor do tempo desta criança.
Por outro lado, aumenta a dispersão de jornadas entre as crianças e adolescentes,
principalmente na cauda superior da distribuição, enquanto se mantém relativamente
estável a distribuição das jornadas entre os adultos. Esta maior dispersão reflete o fato de
que passam a existir um número relativamente maior de crianças e adolescentes com
jornadas muito maiores do que a mediana.

Família e Trabalho Infantil


Mesmo em relação aos adultos há grandes questionamentos sobre o processo de decisão
que leva a oferta de trabalho. Alguns chegam a negar a sua existência devido a
impossibilidade de escolha efetiva entre trabalhar e não trabalhar em uma sociedade
dominada pela produção de mercadorias. No que se refere às crianças, a aplicabilidade
de modelos relacionados a processos de decisão individual fica muito a desejar se
considerados os condicionantes que circunscrevem sua inserção no mercado.
Desta forma pode-se conceituar a oferta de trabalho infantil como o resultado de uma
decisão familiar mais do que opção individual, que envolve opções sobre o investimento –
continuar estudando e ter possibilidade de maior renda futura - as necessidades de
consumo – a contribuição direta ou indireta para o orçamento familiar – e a alocação de
encargos domésticos entre os membros da família.
São pouco conhecidos os processos que levam as famílias a escolher entre os que vão
estudar, os que vão trabalhar e os que vão ajudar nos afazeres domésticos. Mais
conhecidas são as relações entre a oferta de trabalho das mulheres e dos filhos,
especialmente nos EUA, onde constata-se uma redução da oferta de trabalho feminina
com a presença de crianças menores na família, apesar da crescente importância da
própria remuneração da mulher na superação destas limitações, com a expansão da
utilização de serviços domésticos adquiridos diretamente no mercado e o aumento das
ocupações em tempo parcial com flexibilidade de jornadas.
A renda familiar é uma variável fundamental na decisão de utilizar o trabalho infantil,
porém não é a única, tendo importância também o próprio tamanho da família, bem como
o espaçamento entre as idades dos filhos além da prórpia estrutura em termos de chefe e
cônjuge. A estrutura das famílias tem se alterado como resultado da queda da taxa de
fecundidade, da nuclearização das famílias e da expansão das famílias uni-pessoais e do
aumento da TP das mulheres, além do aumento das separações conjugais. Isto tem
levado a aumentar a importância da criança na célula familiar, que busca combinar as
diversas alternativas de utilização do seu tempo fazendo a criança continuar estudando,
ao tempo em que ajuda nos afazeres domésticos e também auxilia nas atividades
produtivas de outros membros ocupados da família. Este conjunto de exigências acaba
por acumular atraso escolar, reduzindo a qualidade do desempenho e aumentando a
probabilidade do abandono da escola quando adolescente. A presença de filhos
adolescentes, relativamente maior do que das crianças como resultado da “onda jovem”
da transição demográfica chama a atenção para os problemas relacionados com a
demanda de trabalho que diferencia as formas de absorção a depender do dinamismo
dos diversos mercados de trabalho entre as regiões brasileiras.

130
131
De forma surpreendente, os dados das duas pesquisas analisadas indicam um
aumento do tamanho médio das famílias na RMS, tanto entre aquelas com pelo menos
uma criança (de 4,8 membros para 5,3), como nas que têm pelo menos um adolescente
(de 5,2 para 5,4) e as de adultos que passam de 3,3 membros para 3,9 no intervalo de 10
anos.
Destaque-se que o problema do trabalho infantil afeta diretamente cerca de 30% das
famílias da RMS, porque somente esta proporção tem entre os seus membros crianças.
Destas famílias, 90% não colocam seus filhos e filhas na atividade econômica,
circunscrevendo o problema para um pouco mais de 3% das famílias da região. Um
pouco mais de 40% das famílias têm entre seus membros pelo menos um adolescente e
entre estas cerca de 57% não coloca seus filhos e filhas na PEA. A proporção de famílias
sem crianças se elevou de 66,5% em 1987/88 para 69,6% em 1997/98.
Entre as famílias com crianças há algumas diferenças importantes entre aquelas com pelo
menos uma criança na PEA daquelas com todas as suas crianças como inativas,
conforme se vê na tabela a seguir.
Tabela 55 Diferenças nas características das famílias com crianças na PEA e inativas
1997/98

Características Só Pelo menos 1 na PEA


Inativos
Chefe mulher 25,8% 30,5%
Renda média dos adultos (Real corrente) 698,7 379,7

Tempo de serviço do chefe 98,9 84,2


(meses)
Escolaridade do chefe (anos) 7,7 5,6
% de chefes assalariados 34,4% 24,0%
Fonte: PED-RMS. UFBa/SEI/SETRAS/DIEESE/SEADE-SP. Nossos cálculos.

Esta tabela revela de forma clara que a inserção das crianças no mercado de trabalho
está mais associada a famílias com menores níveis de renda, com tempos de serviço dos
chefes de família menores que pode sugerir maior rotatividade, menor escolaridade do
chefe e proporção de assalariados, assim como uma maior parcela de famílias chefiadas
por mulher.
Na comparação dos dois períodos sobre as características gerais das famílias observa-se
que aumentam aquelas com chefe sem cônjuge, em geral chefiadas por mulheres. Os
chefes de família ficaram um pouco mais velhos, têm menor renda média, ficaram menos
tempo na mesma ocupação, apresentaram uma escolaridade média menor e são menos
formalizados em suas relações de trabalho, reduzindo a proporção de assalariados com
carteira assinada ou funcionários públicos.

131
132

132
133
Capítulo 6 .Para O Resgate Das Nossas Crianças E Adolescentes
Inaiá Maria Moreira de Carvalho*

Após a conclusão do presente estudo o UNICEF promoveu uma ampla discussão dos
seus resultados, com a realização de um Seminário que congregou os diversos atores e
setores envolvidos com a questão do trabalho infanto-juvenil no estado da Bahia, do qual
resultaram as reflexões e recomendações apresentadas neste capítulo.

Dando início a esta apresentação, vale lembrar que com a promulgação do Estatuto da
Criança e do Adolescente o Brasil passou a dispor de uma legislação bastante avançada
em termos da proteção ao segmento infanto-juvenil. Decorridos praticamente dez anos,
porém, as disposições do Estatuto estão longe de se tornarem efetivas para uma grande
parcela das crianças e adolescentes brasileiros, cujas precárias condições de vida
persistem como um dos aspectos mais negativos de nossa imensa dívida social.

Em um país que representa uma das dez maiores economias do mundo mas que é
marcado por uma concentração de renda e por desigualdades extremadas, 40% da
população de 0-14 anos tem famílias com uma renda mensal per capita de até meio
salário mínimo. E na ausência de políticas e programas mais abrangentes e eficazes para
compensar tal situação, essa pobreza vem impedindo a satisfação de suas necessidades
básicas e se traduzindo em taxas de mortalidade infantil ainda relativamente elevadas, em
baixos níveis de educação e na exposição a diversas situações de risco, violência e
exploração, entre outros aspectos através da inserção precoce no mundo do trabalho.

Parte significativa da população infanto-juvenil brasileira não desfruta dessa sua etapa de
vida como um espaço lúdico e de formação, preservado de maiores responsabilidades,
voltado para o seu desenvolvimento e preparação para a vida adulta. Reprimindo
energias, sentimentos e comportamentos que caracterizam a infância e adolescência nas
sociedades modernas, milhões de crianças enfrentam a imperiosa necessidade de
contribuir para o orçamento familiar, ou, até mesmo, de assegurar a própria
sobrevivência, com o exercício de ocupações precoces, normalmente em condições
bastante adversas.

De acordo com o último Censo, com idades de variavam de 10 a 17 anos, um exército de


sete milhões de pequenos trabalhadores representava 11,67% da população ativa
brasileira em 1991. Em 1995, segundo dados do PNAD64, entre os 5 a 9 anos havia
522.000 crianças ocupadas, principalmente em atividades agrícolas, representando 3,2%
dessa população. Entre os 10 a 17 anos, 1.003.000 crianças e adolescentes procuravam
trabalho (representando 8,6% daqueles na faixa de 10 a 14 anos e 13,5% na faixa de 15 a
17 anos) e 4.621.000 conjugavam a freqüência à escola com atividades laborais (13,0%
entre os de 10 a 14 anos e 22,9% entre os de 15 a 17). Além disso, 2.691.000 dos
trabalhadores infanto-juvenis estavam afastados da escola (4,1% na faixa dos 10-14 anos
e 19,6 na de 15-17) e 3.583.000 deles enfrentavam jornadas semanais bastante
prolongadas, de 40 horas e mais (constituindo 4,1% dos ocupados com 10-14 anos e
19,6% daqueles entre 15-17). Muitas dessas atividades eram exercidas em condições
especialmente insalubres, penosas e perigosas, em ambientes prejudiciais ao

*
Professora de Sociologia, Pesquisadora do Centro de Recursos Humanos da Universidade Federal da Bahia e do
CNPq.
64
Indicadores sobre crianças e adolescentes, Brasil 1991-96 (apresentação de Simon Schwartzman, Agop Kayayan).
Brasília, DF; UNICEF: Rio de janeiro; IBGE, 1997.

133
134
desenvolvimento físico, psíquico, moral e social dos seus executores e,
geralmente, com baixa ou nenhuma remuneração.

No caso da Bahia tais problemas são flagrantes. Possuindo a quarta população e o maior
contingente de habitantes da área rural do país, com a industrialização e o
desenvolvimento acelerados à partir da década de 70 o estado tornou-se a 6ª unidade
mais rica da federação brasileira, sendo responsável por 4,7% do PIB nacional e 33,0%
daquele relativo à região nordestina em 1996.65 Mas como esse desenvolvimento teve um
caráter extremamente seletivo e concentrado, tanto em termos espaciais quanto sociais,
nesse mesmo ano em termos do índice de desenvolvimento humano a Bahia se
classificava em 2º lugar entre os estados e territórios brasileiros, acima apenas do
Tocantins, Maranhão, Piauí, Ceará, Paraíba, Alagoas e Pernambuco.66 Assim, persiste no
estado, um enorme contingente de população pauperizada, cujas precárias condições de
vida se refletem sobre as suas crianças e adolescentes, contribuindo, entre outros
aspectos, para uma inserção precoce em atividades laborais.

Em 1997, conforme informações da PNAD, 801.334 famílias baianas tinham um


rendimento mensal familiar que não superava o valor de um salário mínimo.
Representando 23,4% do conjunto de famílias, o peso desse contingente chegava a
32,5% entre aquelas residentes na área rural. Nas classes com rendimentos até três
salários mínimos encontravam-se 1.845.671 famílias, ou seja, 53,9% do total. Além disso,
nas faixas dos 10-14 anos 21,4% de meninos e meninas estavam ocupados, constituindo
um exército de 349.049 pequenos trabalhadores, dos quais 246.716 residiam na área
rural, 23.583 dedicavam-se à produção para auto-consumo e 251.792 não recebiam
qualquer remuneração.

Neste panorama sombrio, porém, há conquistas que devem ser ressaltadas, notadamente
no plano legal. Como se sabe, definindo a criança e o adolescente como sujeitos de
direitos especiais pela sua condição de pessoas em desenvolvimento, tanto a
Constituição de 1988 como o Estatuto da Criança e do Adolescente adotaram um
conceito de proteção integral que prioriza o atendimento desses direitos (à vida, à
alimentação, à educação, à profissionalização, à liberdade, à cultura e ao lazer e à
convivência familiar, social e comunitária) e a proteção dos seus detentores contra todas
as formas de violência, negligência e opressão. E como a ocupação precoce é entendida
como fator adverso ao desenvolvimento físico, intelectual e emocional desse segmento,
assim como à sua formação pessoal e educacional e à sua preparação para o futuro, o
trabalho de menores de 14 anos foi proibido legalmente, exceto na condição de aprendiz.
Mais recentemente, a Emenda Constitucional n. 20 ampliou esse limite para 16 anos e o
Brasil vem se comprometendo com convenções internacionais da OIT sobre esse
problema, notadamente no que diz respeito ao combate às chamadas “piores formas” de
trabalho infantil.

Ao mesmo tempo, um amplo movimento vem lutando pela incorporação social e


efetivação dos princípios e disposições do Estatuto, procurando transformar as
concepções, representações e estigmas tradicionais sobre a infância e a juventude
pauperizadas e as orientações assistenciais/repressivas que por quase um século
fundamentaram o seu tratamento, ao tempo em que busca melhores alternativas para
essa atenção. Colocando na pauta política brasileira essa questão, o movimento em
apreço vem dando um destaque especial àqueles contingentes em maior situação de

65
Dados do SEI/SEPLANTEC, conforme SILVA, Maria Salete e MEIRELLES, José Carlos D. A educação na Bahia. 1ª ed.
Brasília, UNICEF, MEC/Fundescola, Banco Mundial/UNDIME, 1999. 64p.
66
PNUD/IPEA/FJP/IBGE. Desenvolvimento humano e condições de Vida: indicadores brasileiros. Brasília, 1998. P.122.

134
135
risco, como os meninos e meninas de rua, os que são vítimas de abusos, maus
tratos, exploração sexual e violência, os trabalhadores precoces e os autores de atos
infracionais.

Com essa perspectiva, desde 1992 o Brasil passou a integrar a rede de 25 países
atendidos pelo Programa Internacional para Eliminação do Trabalho Infantil da OIT, que
busca apoiá-los no sentido de regulamentar e restringir progressivamente este trabalho,
com vistas à sua definitiva eliminação. Vinculado a esse programa, foi instalado em 1994
o Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil, com o objetivo de
“aglutinar e articular os agentes institucionais responsáveis pelas políticas e programas
sociais, capazes de promover medidas destinadas à prevenção e à erradicação do
trabalho infantil, particularmente em situação de risco e/ou penosa, prejudicial ao
desenvolvimento integral da criança”67.

Recebendo apoio técnico e financeiro do UNICEF e da OIT, o Fórum constitui um espaço


de articulação, troca de informações e experiências entre quase quarenta organizações
governamentais e não governamentais que o integram (como os Ministérios do Trabalho,
da Previdência e Assistência Social, da Saúde e da Educação, o CONANDA, a Fundação
ABRINQ, a CONTAG e a CUT, entre outras, incluindo representantes dos trabalhadores,
magistrados, movimentos em defesa dos direitos humanos, empresários e diversos outros
setores sociais), com um compromisso de atuação integrada.

Envolvendo um amplo processo de discussão e participação, ela tem se efetivado com a


promoção de campanhas e material informativo, o estímulo à criação de bancos de dados
e à realização de diagnósticos sobre o trabalho infantil, a formação de pessoal, a
concessão de apoio técnico e financeiro a projetos locais de formação profissional e
geração de renda, o incentivo à criação de fóruns estaduais e regionais e a busca de
diretrizes básicas para uma política nacional sobre a referida questão.

Mobilizando e sensibilizando a sociedade, essas ações tem contribuído para combater e


deslegitimar a visão do trabalho como a sina da criança pobre e como atividade
dignificante, educativa e disciplinadora, preventiva do seu encaminhamento para a
vadiagem, a vida nas ruas ou a própria delinqüência. Tem difundido a consciência de que
o lugar da criança é na escola, enfatizando o direito e o valor da educação. Reivindicado o
cumprimento das disposições legais sobre a idade mínima para o trabalho (com a
fiscalização de estabelecimentos e a denúncia e responsabilização das irregularidades e
transgressões) e a necessidade de contrapor alternativas que viabilizem essas
exigências, como a implementação de programas que ampliem a renda das famílias
pauperizadas e propiciem aos seus filhos oportunidades para que eles se desenvolvam
de forma integral e se realizem como cidadãos.

Esse resgate da infância procura orientar-se por objetivos e meta realistas, contemplando
tanto ações emergenciais e de mais curto prazo como mudanças estruturais, de mais
longa efetivação. Assim, desde 1996 o Fórum vem priorizando o combate às formas mais
perversas do trabalho infantil, atuando em áreas que o utilizam em larga escala e em
condições especialmente penosas e intoleráveis, como a produção de carvão vegetal no

67
Citação do artigo Fórum cria Mobilização pelas Crianças, incluído no número zero do periódico Criança e Cidadania,
editado e não publicado pelo Fórum Nacional, conforme recente documento do UNICEF sobre a possibilidade de um
Programa Intersetorial de Erradicação do Trabalho Infantil.

135
136
Mato Grosso do Sul, a agro-indústria açucareira da Zona da Mata e a produção
e beneficiamento de sisal na Bahia.68

Nessas áreas foi iniciado o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil – PETI – que
vem retirando meninos e meninas de 7 a 14 anos das mencionadas atividades mediante a
oferta de uma compensação financeira às suas famílias através da Bolsa Criança Cidadã,
desde que essas crianças passem a freqüentar regularmente a escola e atividades sócio-
educativas (esportivas, culturais e de lazer) no período complementar. Com recursos do
Ministério da Previdência e Assistência Social e a participação de outros ministérios e
entidades governamentais, ao lado de sindicatos, ONGs e diversos segmentos da
sociedade local, esse programa vem atendendo a cerca de 140.000 crianças e
adolescentes brasileiros, 30.000 deles nos municípios da área sisaleira baiana. Além
disso, o número desses beneficiários tende a se ampliar, inclusive pela extensão mais
recente do programa a outras atividades e regiões que utilizam intensamente a mão de
obra infantil, como a quebra de coco no Maranhão, a produção de calçados em São
Paulo, o garimpo em Rondônia e a tecelagem no Rio Grande do Norte.

No caso da Bahia, o PETI vem favorecendo uma região extremamente pobre, localizada
no polígono das secas e com um clima semi-árido, que depende de uma cultura atrasada
e de baixo valor e produtividade como sua principal fonte de renda e ocupação, sendo
que esta última envolve um trabalho braçal pesado, com baixos rendimentos e uma alta
freqüência de acidentes e mutilações. Iniciado com uma experiência piloto em duas
localidades, o programa se estende, atualmente, a 17 dos 30 municípios da região,
abrangendo não apenas os produtores de sisal como os trabalhadores das pedreiras,
também expressivas absorvedoras de mão de obra em questão.

É certo que o conjunto dos trabalhadores infantis está longe de ser integralmente atendido
e problemas significativos precisam ser enfrentados.69 Ainda assim o Programa vem
tendo efeitos que não podem ser menosprezados, notadamente se considerados os seus
impactos indiretos e mais amplos.

No que tange ao sistema educacional, por exemplo, o crescimento da demanda pela


escola e a implementação da jornada ampliada colocaram em evidência as suas precárias
condições, mostrando a urgência do aumento do número de estabelecimentos e vagas e
de uma melhoria radical da qualidade do ensino e direcionando novos esforços e
investimentos com esse objetivo, notadamente entre os governos locais.

Ainda que essa melhoria esteja longe de ser alcançada, vem se constatando que o
reforço escolar tem contribuído para uma maior aprendizagem e as atividades
desenvolvidas na jornada ampliada estão despertando um interesse especial entre os
alunos, tornando a escola mais convidativa ; que os professores passaram a solicitar
processos de capacitação que envolvessem metodologias inovadoras e participativas e
que os padrões de nutrição foram elevados com a distribuição de almoço e da merenda
no período complementar. Somando-se a outros fatores (como os efeitos positivos do
FUNDEF no que tange ao volume de recursos aplicados no ensino fundamental e à
qualificação e remuneração dos seus professores) isto tem contribuido para reduzir a
repetência e a evasão, viabilizando uma maior permanência e sucesso escolar.

68
CAMPOS, Marta Silva e outros. Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, Relatório de Avaliação 1996-97. São
Paulo, Instituto de Estudos Especiais da PUC, 1999. (versão preliminar).
69
Para uma avaliação do andamento, benefícios e dificuldades do PETI, ver CAMPOS, op.cit., e RAMOS, Alba R. N. e
DIAS, Antônio (coordenadores). Pesquisa Criança Cidadã. O trabalho infantil na área rural da região sisaleira no
estado da Bahia. Salvador, Universidade Federal da Bahia/Centro de Recursos Humanos. Convênio UFBA/SETRAS.
1997.

136
137
Por outro lado, a mobilização desencadeada na região sisaleira em torno do
programa, congregando órgãos públicos, prefeitos e diversas organizações e segmentos
sociais, vem levando a significativas discussões e articulações nessas comunidades em
busca de: a) novos procedimentos tecnológicos para uma elevação da produtividade e
uma melhoria dos padrões de produção e comercialização do sisal; b) investimentos
governamentais em infra-estrutura que viabilizem um processo de convivência com a
seca; c) e alternativas viáveis para a transformação e desenvolvimento sustentável da
região, com a introdução de atividades como a caprinocultura e a ovinocultura,
associados a pequenos fabricos de queijo, yogurte, chouriça e outros sub-produtos
desses animais.

Vale assinalar que para a elaboração e acompanhamento da proposta de intervenção na


região sisaleira a Secretaria do Trabalho e Ação Social do Estado da Bahia criou uma
Comissão Inter-institucional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil, composta
de início, por representantes dos diversos órgãos governamentais envolvidos e do
UNICEF. Posteriormente esta Comissão foi ampliada, contando, atualmente, com a
participação de cerca de 30 entidades (como as Secretarias de Educação e da Saúde do
Governo do Estado da Bahia, a UFBa, a OAB, a CUT, o MOC e a Pastoral da Criança,
entre outras), passando a cuidar, também, do conjunto de questões relativas à questão do
trabalho infantil no âmbito de todo o estado da Bahia.

Para o conjunto do Brasil, o Fórum Nacional está procurando definir as diretrizes básicas
para a promoção de uma política nacional de combate ao trabalho infantil, de forma que
as mesmas possam ser apresentadas aos vários níveis do poder executivo (federal,
estadual e municipal), ao legislativo, ao judiciário, aos empresários e trabalhadores e às
ONGs. Para tanto foi elaborado um documento preliminar, enviado aos diversos fóruns do
país para sua discussão e aperfeiçoamento, ressaltando um conjunto de medidas
prioritárias que se encaixam em seis grande eixos básicos de ação.70 Eles compreendem:

1. a ampliação do conhecimento sobre esse problema, com a produção de estatísticas


primárias e estudos mais aprofundados sobre o trabalho infantil, de forma a subsidiar
novas formas de intervenção e atender às peculiaridades regionais e locais;

2. o desenvolvimento de políticas orientadas para uma melhoria das condições de vida


das famílias compelidas a por seus filhos para trabalhar com a geração de alternativas
de ocupação e renda e a promoção do desenvolvimento local integrado e sustentável.

3. Um maior controle e fiscalização do cumprimento dos dispositivos legais sobre o


trabalho infantil, com medidas para uma maior repercussão social das denúncias e
uma responsabilização jurídica dos infratores;

4. A garantia de uma escola de qualidade para todas as crianças e adolescentes,


associada a outros estímulos ao seu bom desempenho e formação, como a
implementação de programas sócio-educativos no período complementar ao ensino
fundamental;

70
Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil. Diretrizes para a formulação de uma política
nacional de combate ao trabalho infantil.

137
138
5. A articulação institucional e continuada de trabalhadores, empregadores,
poderes públicos constituídos e organizações da sociedade civil na luta pela
erradicação do trabalho infantil;

6. e a busca de um maior reconhecimento do arcabouço jurídico relativo a esse trabalho,


de modo que as disposições da lei passem a ser compreendidas e respeitadas por
toda a sociedade.

A realização e divulgação desta pesquisa sobre o trabalho da criança e do adolescente na


Região Metropolitana do Salvador, com a utilização de um rico acervo de dados, de uma
forma bastante criativa e competente, enquadra-se na primeira dessas diretrizes e
confirma a sua relevância, na medida em que traz novos elementos para a compreensão
desse problema e para a definição de prioridades e alternativas de intervenção nas áreas
urbanas.

Destacando algumas das suas contribuições, cabe ressaltar como o movimento pelos
direitos da criança e do adolescente e o combate ao seu trabalho precoce não tem
ocorrido em vão. Apesar da crise econômica e dos seus altos custos sociais, há uma
tendência declinante na utilização dessa mão de obra (mesmo considerando que algumas
das suas modalidades podem não estar sendo captadas pelos procedimentos usuais de
coleta de dados), assim como uma expansão significativa do sistema educacional e do
número de matrículas no ensino fundamental.

O contingente de crianças e adolescentes ocupados ou em busca de trabalho permanece


bastante expressivo, como foi visto anteriormente, notadamente nas áreas rurais.
Contudo, há uma redução relativa dessa sua participação na década de noventa (com
variações regionais que se acentuam sobretudo na faixa dos 14-17 anos), ampliando-se a
proporção daqueles que se dedicam apenas à escola e diminuindo a dos que trabalham
sem estudar.

É claro que isto não está dissociado da reestruturação produtiva em curso, das
transformações e restrições do mercado de trabalho e da queda das remunerações.
Atingindo a força de trabalho adulta, esses fenômenos reduzem as “vantagens” do
emprego da mão de obra infanto-juvenil e, consequentemente, a sua utilização. Todavia,
não se pode menosprezar a influência de fatores como as restrições e punições legais, a
ênfase no significado da infância e da adolescência como etapas de formação e
desenvolvimento credoras de uma proteção especial, a deslegitimação crescente da sua
ocupação precoce, a busca de um maior nível de educação como imperativo para uma
futura inserção social e os próprios efeitos de algumas políticas públicas, como a
expansão da rede escolar e da sua cobertura, especialmente no que tange às cidades.

Apesar dos avanços assinalados, porém, as constatações relativas ao contingente que


permanece em atividade são bastante preocupantes, não apenas pela precariedade das
suas condições ocupacionais como pela carência das políticas necessárias para mudar
essa situação. Como foi visto ao longo do presente estudo, esses pequenos
trabalhadores pertencem a famílias pauperizadas, com níveis muito baixos de educação e
de renda, em larga medida chefiadas por mulheres e por integrantes do chamado
mercado informal de trabalho, que dificilmente poderão prescindir da colaboração dos
seus filhos na luta pela subsistência. Além disso, tais crianças e adolescentes se
concentram em atividades pouco sujeitas a controles e regulações, como vendedores

138
139
ambulantes, empregados domésticos e ajudantes de pedreiros, principalmente
na condição de auxiliares de membros da família e sem remuneração.

Merecem destaque as informações relativas ao serviço doméstico remunerado, que


absorvia 16,8% das crianças e 33,8% dos adolescentes ocupados entre 1996/98 na
Região Metropolitana de Salvador e ao qual se dedicavam 16.135 dos ocupados na faixa
dos 10-14 anos e 35.204 na faixa dos 15-17 anos no conjunto do estado da Bahia,
conforme a PNAD de 1997. Predominantemente feminino, com baixos salários e uma
jornada média de 53 horas semanais de trabalho, além da exposição a maus tratos e a
outros riscos, esse grupo apresentava a mais baixa freqüência e o mais alto nível de
atraso escolar entre as diversas categorias de trabalhadores analisados pela pesquisa em
discussão.

É verdade que esse atraso não decorre apenas da ocupação. Ele não pode ser
dissociado das precárias condições do ensino público, particularmente acentuadas na
Bahia. Analisando essa questão, Silva e Meirelles71 deixam patente como apesar do
crescimento da matrícula no ensino fundamental e da melhoria de alguns indicadores do
seu desempenho, a precariedade em apreço vem se refletindo negativamente nas taxas
de aprovação, reprovação e abandono e na distorção idade/série constatada nos últimos
anos, com base em dados oficiais.

Em 1997, por exemplo, enquanto a taxa de aprovação no ensino fundamental alcançava


77,5% no Brasil, na Bahia ela não ia além de 68,0%. Em contrapartida, as taxas de
reprovação e evasão chegavam a 14,2 e 17,7, respectivamente, contra 11,4% e 11,1%
constatados para o conjunto do país, e a distorção idade/série era superior não apenas à
média nacional, como a da própria região nordestina, variando de 57,0 na primeira a 75,9%
na quinta série no ano de 1998. É significativo que na zona mais rica do estado a pesquisa
sobre o trabalho infanto-juvenil na Região Metropolitana de Salvador tenha encontrado
apenas 31,3% das crianças e 16,8% dos adolescentes perfeitamente ajustados em termos
da idade e série cursada. E que mesmo entre os denominados “inativos ideais”, ou seja,
entre as crianças e adolescentes que se dedicavam apenas à escola e a atividades lúdicas,
51,8% apresentassem um atraso escolar de um a três anos e 16,3% superior a três anos.

Finalmente, os níveis de desemprego constatados pela pesquisa na faixa dos 15 a 17


anos chamam a atenção para as dificuldades de inserção dos jovens no mercado de
trabalho e para a questão da sua profissionalização.

Ao tempo em que viabilizam uma melhor compreensão das especificidades do trabalho


infanto-juvenil na Bahia, as observações assinaladas sugerem alguns caminhos para a
adaptação das diretrizes do Fórum à realidade regional. Com essa perspectiva, as
conclusões do Seminário deram ênfase à continuidade e ampliação dos esforços para a
erradicação desse trabalho, criando condições para o resgate da infância e da
adolescência pauperizadas e atacando certas questões.

Foram destacadas a intensificação das campanhas de esclarecimento e conscientização


sobre as conseqüências negativas da ocupação precoce, sobre a importância da escola,
a melhoria da qualidade do ensino público e as responsabilidades da comunidade frente
aos segmentos mais jovens da população; a ampliação da abrangência e da eficácia das
políticas públicas e da atuação das organizações não governamentais e a relevância da
família como instância básica de proteção social e como elemento decisivo para o
sucesso dessas ações.

71
SILVA e MEIRELLES, op.cit.

139
140
Levando em conta a pobreza das famílias obrigadas a envolver a ocupação dos
filhos nas suas estratégias de sobrevivência e a concentração do trabalho infanto-juvenil
em estabelecimentos e negócios familiares, na esfera doméstica e no denominado
mercado informal de trabalho, elas não podem se restringir à simples exigência do
cumprimento das determinações legais. Esta exigência precisa ser viabilizada com a
implementação e expansão de programas de renda mínima ou de subsídios à
permanência de crianças e adolescentes na escola, a exemplo do que vem sendo feito na
região sisaleira baiana pela Bolsa Criança Cidadã.

A experiência desse programa, aliás, oferece valiosos subsídios para tal tipo de iniciativa,
demonstrando, também, que em decorrência das baixas remunerações das crianças
trabalhadoras e de suas famílias pode-se melhorar suas condições e alcançar ganhos
sociais relevantes sem custos excessivos.72

Entre outros aspectos porque ele põe em questão a expansão e a melhoria de qualidade
do sistema educacional (que constitui um dos eixos prioritários de uma política nacional
de erradicação do trabalho infantil e assume uma urgência especial no estado da Bahia),
assim como a construção de uma proposta pedagógica que possa compensar as
dimensões psico-sociais do processo de pauperização, como a vivência de um cotidiano
homogêneo, linear, limitado de estímulos, socialização e trocas culturais.

Além de uma educação formal de boa qualidade, que atenda às necessidades efetivas
dessas crianças e jovens e lhes ofereça alguma perspectiva de futuro, é importante
compensar as privações assinaladas mediante a oferta de programas sócio-educativos
articulados e complementares à escola, orientados para o reforço e a aceleração da
aprendizagem, para o esporte, a arte, a cultura, o lazer e a cidadania. No caso das áreas
urbanas a relevância desses programas enquanto espaços de convivência, aprendizagem
e ressocialização de crianças e adolescentes se acentua, na medida em que pais e mães
se afastam de casa para trabalhar, as redes tradicionais de controle e socialização dos
seus filhos se desmantelam e a violência empregna o cotidiano dos bairros populares,
conforme pesquisa recente sobre famílias beneficiadas pelo Programa Cidade Mãe.73

No que diz respeito à questão da formação profissional, enfatizada crescentemente no


combate ao desemprego e à exclusão social e nas políticas direcionadas aos jovens
pobres, ao longo do Seminário foi concluído que:
a) os esforços das entidades responsáveis devem ser direcionados principalmente para a
melhoria da qualidade dessa formação;

b) com o desenho de programas que contemplem o reforço escolar, a formação técnica e


eixos transversais de uma educação para a cidadania, como o desenvolvimento
pessoal, a autonomia, a consciência crítica, a sexualidade e o acesso à cultura e ao
espaço social;

72
Ver CAMPOS e outros, op.cit.
73
Ver GUIMARÃES, Iracema B. Revisitando um cenário: sociabilidade e sobrevivência em populações pobres. Relatório
final de pesquisa apresentado ao CNPq, Salvador. 1999, 78p.
Este trabalho ressalta a importância do programa em termos da valorização e desempenho na escola, do
desenvolvimento de novos hábitos, da discussão de temas atuais de interesse dos jovens (como a violência, o uso de
drogas e a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis) e da melhoria da convivência familiar e social. O
mesmo êxito, porém, não vem sendo obtido no que tange à profissionalização dos seus beneficiários, em decorrência
dos índices de desemprego que prevalecem em Salvador, os mais elevados entre todas as regiões metropolitanas do
país.

140
141
c) de modo a construir uma nova modalidade de relação com o mercado de
trabalho e a criar alternativas ocupacionais mais amplas que as tradicionalmente
visadas pela maioria desses programas;

d) com o seu desenvolvimento em horários flexíveis e adaptados às necessidades e


possibilidades dos adolescentes, assegurando tanto a internalização de conteúdos
específicos como das informações mais gerais.

Os paradigmas desta nova etapa do capitalismo, marcada pela aceleração do progresso


técnico, pela introdução continuada de novos processos e produtos e por novos padrões
de organização da produção, supõem mudanças importantes no perfil da força de
trabalho. Sua qualificação requer, agora, o desenvolvimento do raciocínio lógico, da
coordenação motora, da concentração geral, da iniciativa e da capacidade de
comunicação e aprendizado para se adequar a funções mutantes, baseados em uma
sólida educação geral. Além disso, essa educação constitui um elemento chave para a
conquista e o exercício dos direitos de cidadania, preparando indivíduos e grupos para
decodificar signos, lidar com raciocínios abstratos e com o grande número de informações
que circulam rapidamente na sociedade atual e podendo contribuir para o combate à
pobreza, a redução das desigualdades e a democratização das oportunidades.

Por isso mesmo é preciso acabar com a tradição de “programas pobres para os jovens
pobres”, desenvolvendo propostas que estimulem a freqüência e o sucesso escolar, a
expansão da capacidade de aprendizagem, a criatividade e a expressão, assim como a
conquista de credenciais valorizadas pelo mercado de trabalho. A avaliação da qualidade
e dos resultados da formação deve ser dissociada da colocação imediata dos jovens, que
vem sendo afetada negativamente pela estreiteza desse mercado no estado da Bahia e
na própria Região Metropolitana de Salvador, que apresenta os maiores índices de
desemprego entre as capitais brasileiras.74 O encaminhamento profissional dos
educandos deve ser atribuído não às instituições formadoras mas a organismos
especializados nessa intermediação, mantendo-se uma relação de colaboração entre
essas entidades.

No entender dos participantes do Seminário o trabalho das meninas demanda,


igualmente, uma proteção especial, notadamente no que se refere ao emprego
doméstico, sua principal ocupação, onde se encontra uma grande parcela de migrantes,
afastadas das suas famílias e comunidades de origem, da escola e de outras
oportunidades de formação. Urge o desenvolvimento de campanhas e outras medidas
para quebrar seu isolamento, atraí-las para a escola e coibir sua exploração. A
importância da Comissão Inter-Institucional de Prevenção e Erradicação do Trabalho
Infantil enquanto espaço privilegiado para a divulgação e troca de informações e
experiências, para a articulação de instituições e de iniciativas comuns e para o desenho
e acompanhamento de políticas e programas que respondam a essa e outras exigências
foi outro aspecto salientando ao longo do mencionado evento.

Finalmente, as informações e reflexões suscitadas por esta pesquisa mais uma vez
deixam patente como os esforços para a erradicação do trabalho infanto-juvenil não

74
Em 1999, com a crise da desvalorização cambial, na RMS e segundo a PED, o desemprego superou os patamares
de 14% no conceito aberto e de 25% no conceito de desemprego total, conforme ALMEIDA, Paulo Henrique de e
AZEVEDO, José Sérgio Gabrielli. A Economia Soteropolitana pela Ótica da Ocupação. Relatório Final. Salvador,
Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Ciências Econômicas, 1999, p. 31.

141
142
podem se ater apenas a programas emergenciais e focalizados, dissociados de
políticas mais amplas em busca da retomada e expansão do desenvolvimento econômico,
com maior geração de oportunidades de ocupação e uma melhor distribuição de renda.
Além de um reduzido atendimento, os limites desses programas vem se evidenciando
mesmo no caso de iniciativas bem concebidas e implementadas como o Programa de
Erradicação do Trabalho Infantil em curso na área sisaleira da Bahia e em outras regiões.

Além de outros problemas, o PETI começa a enfrentar a angustiante questão do que fazer
com o desligamento dos seus beneficiários que ultrapassam os 14 anos, e que na
ausência de outras alternativas tendem a voltar a atividades penosas e arriscadas e a
condições de vida degradantes. Frente a essa situação, vem sendo proposta a extensão
do programa até os 16 anos, com a oferta de cursos profissionalizantes aos jovens
egressos através do Fundo de Amparo ao Trabalhador. Para não levar apenas a um
adiamento desse retorno, porém, medidas dessa ordem precisariam estar associadas à
transformação de contextos sócio-econômicos muito atrasados e desiguais, com a
promoção de um desenvolvimento integrado e a multiplicação das oportunidades de
trabalho e renda para o conjunto da população, cuja carência vem constituindo o grande
calcanhar de Aquiles das políticas e programas orientados para o resgate da nossa
infância e adolescência.

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