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1º Ano de Neurofisiologia

Relatório
Visita à Unidade de Monitorização
Prolongada de Epilepsia
Helena Cristina Nunes da costa nº 10100148
21-12-2010

No dia 14 de Dezembro de 2010, na qualidade de aluna do 1º ano de Neurofisiologia, tive a


oportunidade de visitar as instalações da Unidade de Monitorização Prolongada de Epilepsia.
Após a referida visita foi solicitado aos alunos, por parte da coordenadora de curso Dr.
Professora Diana Tavares e no âmbito da disciplina de Introdução à Neurofisiologia, a
elaboração de um relatório. Neste sentido este documento aborda os temas nesse dia
referidos.
Relatório 2

A coisa mais importante para toda a vida é a escolha


da profissão: quanto a isso, só o acaso dispõe

Autor: Pascal, Blaise


Relatório 3

Índice

Índice de Abreviaturas .................................................................................................................. 4


Introdução ..................................................................................................................................... 5
Revisão Bibliográfica ..................................................................................................................... 6
→ Epilepsia ............................................................................................................................... 6
• De que se trata? ................................................................................................................. 6
• Tratamento:........................................................................................................................ 9
→ Hospital Pedro Hispano (HPH) ............................................................................................ 11
Visita à Unidade de Monitorização Prolongada de Epilepsia...................................................... 12
→ Localização da UMPE. ......................................................................................................... 12
→ Sistema de funcionamento. ................................................................................................ 12
→ Estruturas e Infra-estruturas .............................................................................................. 13
→ Objectivos ........................................................................................................................... 14
→ Rotina.................................................................................................................................. 15
Visualização de vídeos................................................................................................................. 16
→Vídeo geral. .......................................................................................................................... 16
• Descrição: ......................................................................................................................... 16
→ EEG ................................................................................................................................. 16
→ EMG ................................................................................................................................ 17
→ Potenciais evocados ....................................................................................................... 17
→ Vídeos de Utentes.............................................................................................................. 17
• Doente X ........................................................................................................................... 17
• Doente Z ........................................................................................................................... 18
• Doente Y ........................................................................................................................... 18
• Doente M.......................................................................................................................... 19
Bibliografia .................................................................................................................................. 20
Relatório 4

Índice de Abreviaturas

ACES - Agrupamento de Centros de Saúde de Matosinhos

EEG – electroencefalograma

EMG – electromiografia

HPH – Hospital Pedro Hispano

ULSM - Unidade Local de Saúde de Matosinhos

UMPE – Unidade de Monitorização Prolongada de Epilepsia


Relatório 5

Introdução

Antes de se ter vocação para qualquer uma das inúmeras profissões que nos rodeiam é
necessário partir á descoberta do que realmente representa aquela que foi a nossa eleita. Foi
isto que esta breve visita ao Hospital Pedro Hispano representou, a descoberta do que é ser
técnico de Neurofisiologia. Uma desilusão para uns, um alívio para outros e uma utilidade
para todos os que participaram, esta será a melhor definição.

Neste relatório irei elucidar acerca dos vários temas e conceitos abordados no decorrer das,
aproximadamente, duas horas que permaneci na Unidade de Monitorização Prolongada de
Epilepsia.
Relatório 6

Revisão Bibliográfica

→ Epilepsia
• De que se trata?

A Epilepsia é uma desordem do sistema nervoso central, caracterizada por


crises, ou seja por manifestações clínicas de um funcionamento excessivo e anormal da
população de neurónios que constitui o córtex. (1)
Uma crise isolada, devido, por exemplo, a um choque eléctrico, não
corresponde a um sinónimo de epilepsia. Este termo apenas se emprega quando as
crises têm tendência a repetir-se, espontaneamente, ao longo do tempo. A epilepsia
afecta milhões de pessoas em todo o mundo, calculando-se que, em cada mil
portugueses, 4 a 7 sofram desta doença.
Pode iniciar-se em qualquer idade, mas é mais comum até aos 25 e depois dos
65 anos. (2)
Uma vez que a epilepsia não é uma doença mental, mas sim uma doença que
tem como ponto de partida uma perturbação do funcionamento do cérebro, esta, por
si só, não acarreta qualquer diminuição da capacidade intelectual. Neste sentido é
possível ao epiléptico desenvolver uma vida escolar e uma carreira profissional
absolutamente normal. (3)
Por outro lado não podemos esquecer a carga psicológica e social que os
ataques ou crises epilépticas acarretam quer para o doente quer para os mais
próximos deste, tendo em conta o medo e ansiedade que provocam.

• Quais são os tipos de crises epilépticas?

“ Não gosto de classificar as crises, mas sim de descreve-las”


Ana Gonçalves (técnica de Neurofisiologia)

O cérebro é um órgão complexo que controla e regula todas as nossas acções: os movimentos,
as sensações, os pensamentos e as emoções, regulando, ainda, a actividade dos outros órgãos
do corpo humano. Esta regulação só é possível graças as células cerebrais, os neurónios, que
trabalham em conjunto e comunicam através de sinais eléctricos.
Ocasionalmente dá-se um "curto-circuito" no cérebro, e parte ou todas essas células se
despolarizam anormalmente, daí resultando um ataque epiléptico. (2) Dependendo das
funções dos neurónios onde se dá a dita descarga eléctrica anormal, bem como se a descarga
se circunscreve apenas a um grupo de células ou se propaga a outros, ou inclusive, se atinge
simultaneamente todos os neurónios, podemos ter vários tipos de ataques epilépticos.
Relatório 7

Crises clínicas são usualmente classificadas segundo a classificação internacional de crises


epilépticas.

Ilustração 1 ( Table 1 - Annotated International Classification of Epileptic Seizures) (4)

I. Partial seizures (seizures beginning locally)


A. Simple partial seizures (consciousness not impaired)

1. with motor symptoms


2. with somatosensory or special sensory symptoms
3. with autonomic symptoms
4. with psychic symptoms
B. Complex partial seizures (with impairment of consciousness)

1. beginning as simple partial seizures and progressing to


impairment of consciousness
a. without automatisms
b. with automatisms
2. with impairment of consciousness at onset
a. without automatisms
b. with automatisms
C. Partial seizures (simple or complex), secondarily generalized
II. Generalized seizures (bilaterally symmetric, without localized onset)
A. Absence seizures

1. true absence (`petit mal')


2. atypical absence
B. Myoclonic seizures
C. Clonic seizures
D. Tonic seizures
E. Tonic-clonic seizures (`grand mal')
F. Atonic seizures
III. Unclassified seizures
Relatório 8

Ainda assim, podemos distinguir dois tipos fundamentais de ataques (ou crises) epilépticos: os
"generalizados", envolvendo todo o cérebro, e os "parciais", em que a descarga se limita a uma
área cerebral.

Crise Generalizada Crise Parcial

Quando uma descarga começa numa zona circunscrita e, posteriormente, atinge todo o
cérebro, então designa-se por "crise parcial com generalização secundária".

Crise parcial
com generalização secundária

De todas as "crises generalizadas", as mais frequentes e conhecidas são as "tónico-clónicas":


na fase tónica, o doente perde subitamente o conhecimento, cai, e o corpo torna-se rígido; na
clónica, todo o corpo é percorrido por convulsões.
No mesmo grupo ainda há a considerar: "as ausências" próprias da infância, caracterizadas por
uma breve interrupção da consciência, sem outros sinais acompanhantes, excepto um breve
pestanejar, habitualmente descritas como "paragens", de que o próprio não se dá conta;
"atónicas", com quedas súbitas, sem perda do conhecimento; "mioclónicas", constando de
Relatório 9

contracções musculares dos membros, surgindo após o acordar, referidas como "esticões".

As crises parciais podem subdividir-se em "simples" e "complexas".


→Nas "simples", não há alteração da consciência e constam de convulsões de um
membro ou parte do mesmo, ou de sensações de formigueiros ou picadelas
percorrendo um membro, sensações abdominais, percepção de gostos ou cheiros
esquisitos, fenómenos auditivos e visuais; muitas vezes são designadas por auras.
→Nas "complexas", há alteração do estado de consciência, o doente apresenta-
se confuso ou faz gestos automáticos de mastigação ou continua a desempenhar a
tarefa que estava a executar automaticamente; outras vezes, estes "automatismos"
consistem em esfregar as mãos, deambular, mexer sem nexo na roupa e manipular
indevidamente os objectos circundantes. (2)

• Tratamento:

Há uma série de medicamentos para a epilepsia e, cada vez mais, vão surgindo novos
produtos.

O sucesso do tratamento depende de vários factores: tipo de crises, diagnóstico precoce da


doença, eficácia do(s) medicamento(s) utilizado(s), cumprimento da medicação, existência de
outras lesões associadas e de problemas socioprofissionais.

Começa-se sempre a medicação anti-epiléptica com um único medicamento


(monoterapia), de acordo com o tipo de crises, se este não for eficaz, muda-se ou associa-se-
lhe um outro.

Os efeitos secundários dos medicamentos devem ser controlados periodicamente,


mediante consulta médica e a realização de análises ao sangue para se controlar os glóbulos
sanguíneos e o funcionamento do fígado.

Quando o tratamento médico não surte efeito é possível, nalguns casos, recorrer à "cirurgia da
epilepsia". Para isso, o tecido cerebral lesado, que provoca as crises, tem de estar circunscrito
a uma área do cérebro, sendo ainda necessário que esta possa ser removida sem alterar a
personalidade ou as funções do doente.

• A cirurgia como tratamento

A remoção cirúrgica das áreas cerebrais responsáveis pelas crises iniciou-se há cerca de
50 anos. No entanto, com as novas técnicas cirúrgicas e com novos métodos para identificar as
áreas a remover, cada vez mais se fazem operações bem sucedidas. (2)
Embora a epilepsia seja bem controlada através da medicação, 20 a 30% não o é. A
cirurgia surge assim como uma opção, contudo restrita. Esta apenas é aplicável quando as
crises experimentadas pelo doente e/ou os efeitos secundários da medicação afectam de
Relatório 10

forma determinante a qualidade de vida do utente, podendo ser praticada em crianças e


adultos.
Todavia o factor determinante para o sucesso da operação é uma selecção eficaz do
doente. Esta requer uma caracterização detalhada do tipo e da frequência das crises, do
funcionamento neuropsicológico, psiquiátrico e psico-social do utente, bem como o seu grau
de incapacidade. (1)

Neste sentido para decidirem se a pessoa beneficia com a cirurgia, os médicos procuram
saber:
Os ataques são realmente crises epilépticas?
Foi tentado um controlo medicamentoso exaustivo?
O tipo de crises pode melhorar com a cirurgia?
Os benefícios ultrapassam os riscos da cirurgia?

 EXEMPLOS DE EXAMES PRÉ-CIRÚRGICOS: (2)

→ Electroencefalograma (EEG) - regista a actividade eléctrica cerebral e identificar as áreas


cerebrais onde as crises ocorrem.
→ Ressonância Magnética Nuclear (RMN) - dá imagens do cérebro, identificando vários
tipos de lesões, mormente cicatrizes ou lesões resultantes de um deficiente
desenvolvimento cerebral.
→ Registo video-EEG simultâneo, prolongado, destinado a identificar o(s) tipo(s) de crise(s) e
o seu local de origem.
→ Testes neuropsicológicos - incluindo o quociente de inteligência, a memória, a linguagem,
os quais documentam áreas de défice funcional, a lateralização da linguagem e predizem a
existência de possíveis defeitos produzidos pela cirurgia.
→ Exame psiquiátrico - destinado a avaliar alterações mentais e as motivações da pessoa
referentes à cirurgia.
→ Teste de Wada - consiste na injecção intracarotídea de amital sódico, destinando-se a
localizar os centros da memória e da linguagem. O medicamento é injectado numa das
artérias que se dirigem ao cérebro, anestesiando, durante um curto espaço de tempo, um
dos hemisférios cerebrais, durante o qual se testam a linguagem e a memória no hemisfério
acordado. Seguidamente adormece-se este último e examinam-se as funções do primeiro
hemisfério.

• A Operação

O sucesso da cirurgia da epilepsia depende de uma selecção cuidadosa dos doentes,


bem como da existência de equipas médicas e cirúrgicas experientes.
A intervenção pode demorar várias horas. Os cirurgiões localizam e removem a área
cerebral previamente identificada como a responsável pelas crises, ou então seccionam
cuidadosamente as fibras nervosas que unem as duas metades do cérebro, se este tipo de
operação está indicada, ou fazem as incisões necessárias às resseções subpiais múltiplas.
O registo de EEG durante a cirurgia pode ajudar o cirurgião a fazer um mapa exacto
Relatório 11

da área a remover.
O cérebro pode ser estimulado com impulsos eléctricos suaves durante a operação
de molde a podem identificar-se as áreas que controlam a linguagem, os movimentos e as
sensações.
Algumas vezes toda a operação é feita com o doente acordado sob anestesia local, o
que é possível pelo facto do cérebro não ser sensível à dor.
Depois da operação o enfermo fica cerca de uma semana no hospital, após o que continua a
recuperação em casa.
Habitualmente recomenda-se manter a medicação anti-epiléptica durante mais um
a dois anos, mas algumas pessoas podem mantê-la indefinidamente para controlarem
eficazmente as suas crises. (2)

• Centros onde se pratica a cirurgia da epilepsia, em Portugal.

Hospital de Santa Maria


Hospital Egas Moniz
Hospitais da Universidade de Coimbra
Hospital Geral de Santo António
Hospital Pedro Hispano

→ Hospital Pedro Hispano (HPH)

• A ULSM é constituída pelas seguintes unidades de prestação de cuidados: (5)


 Agrupamento de Centros de Saúde de Matosinhos - ACES;
 Hospital Pedro Hispano - HPH;
 Unidade de Convalescença;

O HPH situa-se em Matosinhos, junto ao eixo viário da via rápida (itinerário Porto-
Viana do Castelo) e à Estrada da Circunvalação (via que estabelece a separação geográfica
entre as cidades de Matosinhos e do Porto). Aqui se localiza a sede administrativa da ULSM e
também os serviços transversais ao funcionamento da Instituição.

A ULSM dispõe actualmente de 2.134


colaboradores, destes 1.690
desenvolvem a sua actividade no HPH, o
que representa cerca de 80% do total
de profissionais.
Podemos concluir, desta forma, a
extrema importância e o papel fulcral
que HPH desenvolve na manutenção e
melhoria da qualidade de vida, não
apenas pela sua cobertura geográfica,
mas também pelos serviços prestados
contando-se entre eles a UMPE. (6)

Ilustração 2 (Distribuição dos Recursos Humanos da ULSM pelos diferentes


locais)
Relatório 12

Visita à Unidade de Monitorização


Prolongada de Epilepsia

→ Localização da UMPE.

No HPH o Serviço de Neurologia destaca-se ao nível


da Epilepsia com consulta diferenciada e uma unidade
de monitorização prolongada de vídeo-EEG, na qual se
integra a UMPE.
Este serviço desenvolve ainda consultas diferenciadas
para demências, distonias, doenças desmielinizantes,
doenças do movimento e doenças neuromusculares.

→ Sistema de funcionamento.

A UMPE foi criada no Hospital Pedro Hispano em finais de 2006. Permite fazer
monitorizações vídeo-electroencefalográficas prolongadas (também designadas “vídeo-EEG”)
em ambiente de internamento, sob supervisão técnica contínua e em condições de máxima
segurança, a doentes de todos os grupos etários. (7)
O funcionamento da UMPE é assegurado por equipa multidisciplinar de neurologistas,
técnicos de neurofisiologia e enfermeiros, com treino específico nesta área (ver Tabela 1). A
vigilância do doente é assegurada 24/24 horas. O doente permanece durante 5 dias na UMPE,
havendo casos porém em que este período é encurtado devido á elevada frequência de crises
epilépticas apresentadas pelos utentes, permitindo aos profissionais de saúde chegar às
conclusões necessárias mais rapidamente.

De forma simplificada, a monitorização vídeo-EEG funciona da seguinte forma: o


doente é internado e são colocados eléctrodos na cabeça. Geralmente é aplicado um número
de eléctrodos superior aos EEG de rotina, sendo também fixados ao escalpe com maior
firmeza. Isto permite registar de forma contínua a actividade eléctrica cerebral. Ao mesmo
tempo, uma câmara de vídeo fixa filma toda a actividade (excepto as idas ao WC). Deste modo,
é possível registar ao mesmo tempo crises epilépticas ou outros fenómenos paroxísticos e
correlacioná-los com a actividade cerebral que está a decorrer, em tempo real.
Sempre que ocorre uma crise, os utentes são testados de forma sistemática pelos técnicos de
neurofisiologia, para melhor caracterização dos eventos.
Os registos de vídeo e de EEG são analisados pelos técnicos de neurofisiologia e
posteriormente pelos médicos da unidade, sendo elaborado um relatório final que é entregue
ao utente e ao seu médico assistente.
Na posse desta informação, o médico assistente irá integrá-la com a restante avaliação clínica,
de forma a individualizar e optimizar o tratamento. (7)
Relatório 13

Unidade de Monitorização Prolongada de Epilepsia (UMPE)


Médicos  Dr. Dílio Alves (Director do Serviço de Neurologia)
 Dr. Ricardo Rego (Assistente Hospitalar de
Neurologia)

Técnicos de  Teresa Campos, técnica especialista de 1ª classe


Neurofisiologia  Ângela Santos, técnica de 2ª classe
 Ana Luísa Gonçalves, técnica de 2ª classe
 Cláudia Lemos, técnica de 2ª classe (tempo
parcial)
 Sofia Marques, técnica de 2ª classe (tempo
parcial)

Assistente  Manuela Rodrigues


administrativo

Técnicos de  Téc. Teresa Campos (Coordenadora)


Epilepsia  Téc. Ângela Santos
 Téc. Ana Luísa Azevedo
 Téc. Claúdia Lemos
 Téc. Sofia Marques

Equipa de  Enfª Chefe: Amélia Ferreira


Enfermagem  Enf. Coordenadores: Ana Vaz e Arlindo Cruz

tabela 1 ( equipa multidisciplinar da UMPE)

→ Estruturas e Infra-estruturas
A UMPE localiza-se no do Hospital Pedro Hispano, no 3º piso (ala G). Pertence ao espaço físico
do Serviço de Neurocirurgia, ocupando uma das salas dessa ala.

• Podemos dividir a UMPE em duas áreas: a área do doente e área do técnico.

Área do doente:
Esta área tem ao dispor duas camas,
câmaras para a monitorização do utente,
um botão de alarme (meio através do qual
os técnicos de neurofisiologia podem
solicitar o auxilio dos enfermeiros), material
necessário para assistir o doente com
oxigénio, armários e um televisor para o
conforto do utente.
Ilustração 3 (área do doente)
Relatório 14

Área do técnico

Espaço reservado aos técnicos de


neurofisiologia e aos médicos que vão
acompanhar o doente. Aqui podemos
encontrar 3 computadores e 6 monitores,
sendo que um destes tem como utilidade
apenas a revisão de traçados.

Ilustração 4 (área do técnico)

→ Objectivos

A Unidade de Monitorização Prolongada de Epilepsia tem por objectivo possibilitar a


realização em internamento de exames em que se regista simultaneamente em vídeo a
actividade do doente e a actividade eléctrica cerebral correspondente.
Este tipo de exame está indicado sobretudo nas seguintes situações:

· Suspeita de epilepsia
Existem diversas condições médicas com episódios repetidos que se podem assemelhar a
crises epilépticas, de modo a que nalguns doentes está indicada a monitorização vídeo-
electroencefalográfica prolongada para que se possam registar os episódios suspeitos e
determinar se são de natureza epiléptica ou não.

· Classificação de epilepsia
Existindo certeza num diagnóstico de epilepsia, nem sempre é simples subclassificar a forma
exacta de epilepsia que afecta o doente (os médicos usam o termo “síndrome epiléptico”). O
registo de crises e a acumulação de muitas horas de registo de actividade cerebral podem ser
um contributo precioso para chegar a uma classificação precisa do síndrome epiléptico, o que
poderá esclarecer o prognóstico e melhorar o tratamento. (8)

· Determinação da frequência de crises


Em alguns casos é difícil saber com certeza se existe um controle satisfatório da epilepsia com
a medicação instituída. Isto pode ocorrer, por exemplo, porque algumas crises são muito
subtis ou porque ocorrem durante o sono. Só registando um período significativo de actividade
cerebral (tipicamente mais de 24 horas) é possível ter a certeza do que se está efectivamente a
passar. (8)
Relatório 15

· Avaliação pré-cirúrgica da epilepsia


Em casos de epilepsia que não fica controlada com recurso a medicação pode estar indicada
uma investigação mais minuciosa, para determinar se existe uma opção de tratamento com
recurso a cirurgia cerebral. Para que essa hipótese se coloque, é necessário conseguir delimitar
uma determinada região do cérebro responsável pela geração de crises. Isto implica a
realização de monitorização de vídeo-EEG prolongada, em conjunto com diversos exames de
imagem e funcionais. A decisão dependerá depois de uma avaliação global da situação por
equipas de técnicos de saúde com experiência neste campo (estas equipas incluem
especialistas em neurologia, neurofisiologia, neurorradiologia, neurocirurgia, psiquiatria, entre
outras). (8)

→ Rotina
Quando um utente chega à UMPE, são colocados neste os eléctrodos que o irão
acompanhar nos dias que se seguirão. Neste sentido os técnicos de Neurofisiologia começam
por medir e marcar os pontos do crânio nos quais serão colocados os eléctrodos para o
sistema 10/20, sendo depois acrescentados os eléctrodos para o sistema 10/10.

Após esfregar as áreas necessárias com uma substancia abrasiva e a colocação de uma
pasta condutora bem como dos eléctrodos, utiliza-se colodio e uma gaze para fixar a
montagem e impedir que esta se solte.

È utilizada ainda uma manga que protege os fios que se encontram ligados a uma box,
na qual cada entrada corresponde a um fio (são etiquetadas para evitar equívocos) e uma toca
para proteger os eléctrodos.

Todos os dias pela manha os técnicos de Neurofisiologia seleccionam os vídeos e


traçados de interesse do dia anterior e fazem a manutenção dos eléctrodos, colocando-lhes,
através de uma seringa, mais pasta condutora numa tentativa de melhorar as impedâncias.
Relatório 16

Visualização de vídeos

→Vídeo geral.

• Descrição:
O primeiro vídeo visualizado era um vídeo construído no âmbito de uma conferência e
tinha por base demonstrar o trabalho realizado pelos técnicos de Neurofisiologia.

→ EEG
O EEG é um exame que foi inventado em 1924 por Hans Berger (1873-1941)1 e desde
então tem havido enormes desenvolvimentos tecnológicos na área electrónica que têm
revolucionado a capacidade de analisar a actividade eléctrica do cérebro (9)

Este é um método que mede a actividade eléctrica do cérebro, podendo ser útil para
detectar um aumento dessa actividade. Infelizmente o EEG não consegue dar informações
sobre a maior parte das funções cerebrais (pensamento, memória, linguagem, etc.) mas
somente registar diferenças de potencial eléctrico entre pontos do escalpe. (10)

No decorrer do vídeo para além da informação dada, tivemos oportunidade de tomar


conhecimento quanto á colocação dos eléctrodos e os procedimentos a adoptar,
nomeadamente o uso de um abrasivo para limpar a área de colocação do eléctrodo e também
o uso de uma pasta condutora, tudo isto para melhorar a as impedâncias.

Tendo em conta as impedâncias é necessário que estas estejam abaixo de 10 k e


idealmente abaixo de 5 k. Para que esta realidade seja perceptível aos técnicos de
Neurofisiologia, estes têm acesso, através do monitor do computador, a um quadro de
impedâncias dos eléctrodos para, desta forma, poderem saber quais os eléctrodos que já se
encontram funcionais.

Ictal
( durante a crise)
EEG
Interictal
Relatório 17

→ EMG
Serve para testar a parte motora.

→ Potenciais evocados
Estuda todo o caminho percorrido pelo estímulo seja este visual ou auditivo.

Não é um exame utilizado com frequência, sendo os visuais os mais utilizados e os


auditivos os menos solicitados

→ Vídeos de Utentes.
O Homem vive em sociedade, cabe-lhe, portanto, pensar e responder à seguinte
pergunta: “Como devo agir perante os outros?”. Esta questão central da ética ganha um novo
sentido quando num contexto hospitalar, uma vez que a relação de confiança e respeito entre
utente e profissional de saúde é fulcral. Neste sentido na descrição que irei fazer dos vídeos
visualizados manterei o anonimato dos doentes a que se referem.

• Doente X

Descrição da Crise:

No inicio da gravação o doente X está acordado a ver TV, sendo visível um certo
desconforto do mesmo, acompanhado por automatismos nas pernas. Neste instante são
visíveis alterações ao nível do EEG, o que leva a técnica de neurofisiologia a intervir.

Alguns utentes que padecem de epilepsia têm aquilo que se chama de aura epiléptica,
ou seja, sentem algo que os leva a aperceberem-se que irão ter uma crise. Nesse caso, quando
na UMPE, são instruídos a avisar os profissionais de saúde batendo palmas ou chamando pelos
mesmos, no caso do doente X, ele foi incapaz de avisar os técnicos.

Quando o utente se encontra em crise existe um protocolo a seguir que permite ao


técnico de neurofisiologia testar o utente de forma sistemática, possibilitando uma melhor
caracterização dos eventos. Deste modo, foi pedido ao Doente X para decorar uma palavra, de
forma a, no fim, se poder avaliar a perda ou não de memória. Foi pedido, ainda, que
estendesse os braços, visando com isto inferir acerca da perda de tonus, bem como da
lateralidade, em que a observação de algo anormal num lado do corpo evidência uma lesão
ou mau funcionamento do lado contrario do encéfalo.

Apesar das ordens o Sr.X foi incapaz de obedecer a qualquer um dos pedidos, sendo
evidente através da sua atitude (olhar, o mexer nos objectos) que a crise era mais ampla do
lado direito.

Assim que acaba o ataque epiléptico coça o nariz do lado direito, sendo este um sinal
lateralizador, não contra-lateral, muito associado a crises temporais.

Sendo perceptível no traçado do EEG que o ataque epiléptico tinha já chegado ao fim,
testou-se o doente X na nomeação de objectos. Contudo mesmo após a crise ter findado o
utente continua a não responder a ordens e sem falar, somente com o decorrer de algum
tempo é que começa a responder, embora desprovido de sentido lógico:
Relatório 18

• Borracha – “ coisa para apagar as letras do carro”

• Chaves (já consegue nomear) – “ coisa para por o carro a trabalhar”

Sabe dizer o nome, mas não a sua idade. Começa a falar sem sentido, sendo incapaz de
se localizar no tempo e no espaço. Não sabe o que está a fazer na UMPE: “O que está aqui a
fazer?” ao que responde “ faltava uma peça; o carro andava mal”.

É também de acrescentar que o utente não se lembrava da palavra-teste nem da


própria crise.

Concluímos assim que esta será uma descrição de uma crise parcial complexa, uma vez
que se registaram alterações da consciência e não teve nem fase tónica nem fase clónica, mas
sim automatismos à direita.

• Doente Z

Descrição da Crise:

Contrariamente ao primeiro utente, o Doente Z possui aura epiléptica e por isso,


aquando da filmagem, teve oportunidade de dar sinal à técnica de Neurofisiologia que algo se
passava. Instantaneamente registam-se alterações ao nível do EEG.

Como já descrito a técnica começa por pôr em prática o protocolo estipulado. Embora
seja evidente a aflição do utente, este obedece a tudo, parecendo entender tudo o que lhe é
dito, embora não consiga comunicar. São, também, perceptíveis automatismos das mãos e
boca, ainda que não consiga falar, mas apenas fazer algumas vocalizações.

O ataque epiléptico prolongou-se por longos minutos até que começou por ter clónicas
nos olhos e para a direita, culminando na generalização da crise. Após algum tempo a técnica
decidiu, finalmente, chamar os enfermeiros para que estes pudessem dar a medicação devida
ao doente. Para além da medicação administrada o utente é colocado a oxigénio e de lado,
devido clónicas generalizadas.

• Doente Y

Descrição da Crise:

A doente Y possui crises extremamente curtas e pouco perceptíveis. Subitamente fica


estática, não responde a ordens, tendo apenas automatismos na cabeça (abana a cabeça).
Todavia, após a crise lembra-se da palavra teste e é capaz de retomar a conversa que estava a
ter, não havendo perda de consciência.

Registam-se alterações no EEG.


Relatório 19

• Doente M

Descrição da Crise:

A história deste doente tem particularidades que me obrigam a fazer uma abordagem
diferente. Neste sentido vou em primeira instancia esclarecer alguns conceitos.

Existem dois tipos de crise:

Pseudoepileptica
( durante a qual não existem
alterações anomalas no traçado do
EEG, são do foro psicologico )
Crise

Epiléptica

Quer dizer que um paciente com crises Pseudoepilepticas está a fingir?

Não necessariamente, este fingimento poderá não ser consciente. Além disso os utentes com
este tipo de crises deverão ser respeitados e acompanhados como qualquer outro, uma vez
que embora a sua maleita não seja física esta causa sofrimento e traz limitações como se o
fosse. Devo também enfatizar que a mente humana é ainda um mistério e que a forma como
uma personalidade se constrói e os processos que o levam a acontecer incertos, devemos por
isso olhar para as doenças psicológicas e para os seus portadores com a mesma ética e
respeito com que o fazemos noutras situações. Aliás outro comportamento não será de
esperar de um profissional de saúde, caso contrário apenas estaríamos a revelar falta de
humanidade e compaixão.

No decorrer desta pequena introdução como já deve ter percebido a Doente M possui crises
pseudoepilépticas. Deste modo, apesar de subitamente ficar estática, não responder a ordens,
não se registava qualquer tipo de alterações no EEG. Para além disso o desenvolvimento da
crise não era compatível com o de uma crise epiléptica normal, tendo em conta que havia
intensificações súbitas intercaladas com momentos de calmaria e não um começo,
intensificação e recuperação como seria de esperar.

Claro está que este utente foi devidamente encaminhado para os serviços psiquiátricos.
Relatório 20

Bibliografia
1. NCBI. Bookshelf. [Online] http://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK2511/.

2. LIGA PORTUGUESA CONTRA A EPILEPSIA. [Online] [Citação: 21 de dezembro de 2010.]


http://www.lpce.pt/doque.htm.

3. biblioteca digital da Liga Portuguesa Contra a Epilepsia. [Online] [Citação: 21 de dezembro


de 2010.] http://www.epi-dlib.com/.

4. [Online] http://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK2511/table/A114/?report=objectonly.

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