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Relatório
Visita à Unidade de Monitorização
Prolongada de Epilepsia
Helena Cristina Nunes da costa nº 10100148
21-12-2010
Índice
Índice de Abreviaturas
EEG – electroencefalograma
EMG – electromiografia
Introdução
Antes de se ter vocação para qualquer uma das inúmeras profissões que nos rodeiam é
necessário partir á descoberta do que realmente representa aquela que foi a nossa eleita. Foi
isto que esta breve visita ao Hospital Pedro Hispano representou, a descoberta do que é ser
técnico de Neurofisiologia. Uma desilusão para uns, um alívio para outros e uma utilidade
para todos os que participaram, esta será a melhor definição.
Neste relatório irei elucidar acerca dos vários temas e conceitos abordados no decorrer das,
aproximadamente, duas horas que permaneci na Unidade de Monitorização Prolongada de
Epilepsia.
Relatório 6
Revisão Bibliográfica
→ Epilepsia
• De que se trata?
O cérebro é um órgão complexo que controla e regula todas as nossas acções: os movimentos,
as sensações, os pensamentos e as emoções, regulando, ainda, a actividade dos outros órgãos
do corpo humano. Esta regulação só é possível graças as células cerebrais, os neurónios, que
trabalham em conjunto e comunicam através de sinais eléctricos.
Ocasionalmente dá-se um "curto-circuito" no cérebro, e parte ou todas essas células se
despolarizam anormalmente, daí resultando um ataque epiléptico. (2) Dependendo das
funções dos neurónios onde se dá a dita descarga eléctrica anormal, bem como se a descarga
se circunscreve apenas a um grupo de células ou se propaga a outros, ou inclusive, se atinge
simultaneamente todos os neurónios, podemos ter vários tipos de ataques epilépticos.
Relatório 7
Ainda assim, podemos distinguir dois tipos fundamentais de ataques (ou crises) epilépticos: os
"generalizados", envolvendo todo o cérebro, e os "parciais", em que a descarga se limita a uma
área cerebral.
Quando uma descarga começa numa zona circunscrita e, posteriormente, atinge todo o
cérebro, então designa-se por "crise parcial com generalização secundária".
Crise parcial
com generalização secundária
contracções musculares dos membros, surgindo após o acordar, referidas como "esticões".
• Tratamento:
Há uma série de medicamentos para a epilepsia e, cada vez mais, vão surgindo novos
produtos.
Quando o tratamento médico não surte efeito é possível, nalguns casos, recorrer à "cirurgia da
epilepsia". Para isso, o tecido cerebral lesado, que provoca as crises, tem de estar circunscrito
a uma área do cérebro, sendo ainda necessário que esta possa ser removida sem alterar a
personalidade ou as funções do doente.
A remoção cirúrgica das áreas cerebrais responsáveis pelas crises iniciou-se há cerca de
50 anos. No entanto, com as novas técnicas cirúrgicas e com novos métodos para identificar as
áreas a remover, cada vez mais se fazem operações bem sucedidas. (2)
Embora a epilepsia seja bem controlada através da medicação, 20 a 30% não o é. A
cirurgia surge assim como uma opção, contudo restrita. Esta apenas é aplicável quando as
crises experimentadas pelo doente e/ou os efeitos secundários da medicação afectam de
Relatório 10
Neste sentido para decidirem se a pessoa beneficia com a cirurgia, os médicos procuram
saber:
Os ataques são realmente crises epilépticas?
Foi tentado um controlo medicamentoso exaustivo?
O tipo de crises pode melhorar com a cirurgia?
Os benefícios ultrapassam os riscos da cirurgia?
• A Operação
da área a remover.
O cérebro pode ser estimulado com impulsos eléctricos suaves durante a operação
de molde a podem identificar-se as áreas que controlam a linguagem, os movimentos e as
sensações.
Algumas vezes toda a operação é feita com o doente acordado sob anestesia local, o
que é possível pelo facto do cérebro não ser sensível à dor.
Depois da operação o enfermo fica cerca de uma semana no hospital, após o que continua a
recuperação em casa.
Habitualmente recomenda-se manter a medicação anti-epiléptica durante mais um
a dois anos, mas algumas pessoas podem mantê-la indefinidamente para controlarem
eficazmente as suas crises. (2)
O HPH situa-se em Matosinhos, junto ao eixo viário da via rápida (itinerário Porto-
Viana do Castelo) e à Estrada da Circunvalação (via que estabelece a separação geográfica
entre as cidades de Matosinhos e do Porto). Aqui se localiza a sede administrativa da ULSM e
também os serviços transversais ao funcionamento da Instituição.
→ Localização da UMPE.
→ Sistema de funcionamento.
A UMPE foi criada no Hospital Pedro Hispano em finais de 2006. Permite fazer
monitorizações vídeo-electroencefalográficas prolongadas (também designadas “vídeo-EEG”)
em ambiente de internamento, sob supervisão técnica contínua e em condições de máxima
segurança, a doentes de todos os grupos etários. (7)
O funcionamento da UMPE é assegurado por equipa multidisciplinar de neurologistas,
técnicos de neurofisiologia e enfermeiros, com treino específico nesta área (ver Tabela 1). A
vigilância do doente é assegurada 24/24 horas. O doente permanece durante 5 dias na UMPE,
havendo casos porém em que este período é encurtado devido á elevada frequência de crises
epilépticas apresentadas pelos utentes, permitindo aos profissionais de saúde chegar às
conclusões necessárias mais rapidamente.
→ Estruturas e Infra-estruturas
A UMPE localiza-se no do Hospital Pedro Hispano, no 3º piso (ala G). Pertence ao espaço físico
do Serviço de Neurocirurgia, ocupando uma das salas dessa ala.
Área do doente:
Esta área tem ao dispor duas camas,
câmaras para a monitorização do utente,
um botão de alarme (meio através do qual
os técnicos de neurofisiologia podem
solicitar o auxilio dos enfermeiros), material
necessário para assistir o doente com
oxigénio, armários e um televisor para o
conforto do utente.
Ilustração 3 (área do doente)
Relatório 14
Área do técnico
→ Objectivos
· Suspeita de epilepsia
Existem diversas condições médicas com episódios repetidos que se podem assemelhar a
crises epilépticas, de modo a que nalguns doentes está indicada a monitorização vídeo-
electroencefalográfica prolongada para que se possam registar os episódios suspeitos e
determinar se são de natureza epiléptica ou não.
· Classificação de epilepsia
Existindo certeza num diagnóstico de epilepsia, nem sempre é simples subclassificar a forma
exacta de epilepsia que afecta o doente (os médicos usam o termo “síndrome epiléptico”). O
registo de crises e a acumulação de muitas horas de registo de actividade cerebral podem ser
um contributo precioso para chegar a uma classificação precisa do síndrome epiléptico, o que
poderá esclarecer o prognóstico e melhorar o tratamento. (8)
→ Rotina
Quando um utente chega à UMPE, são colocados neste os eléctrodos que o irão
acompanhar nos dias que se seguirão. Neste sentido os técnicos de Neurofisiologia começam
por medir e marcar os pontos do crânio nos quais serão colocados os eléctrodos para o
sistema 10/20, sendo depois acrescentados os eléctrodos para o sistema 10/10.
Após esfregar as áreas necessárias com uma substancia abrasiva e a colocação de uma
pasta condutora bem como dos eléctrodos, utiliza-se colodio e uma gaze para fixar a
montagem e impedir que esta se solte.
È utilizada ainda uma manga que protege os fios que se encontram ligados a uma box,
na qual cada entrada corresponde a um fio (são etiquetadas para evitar equívocos) e uma toca
para proteger os eléctrodos.
Visualização de vídeos
→Vídeo geral.
• Descrição:
O primeiro vídeo visualizado era um vídeo construído no âmbito de uma conferência e
tinha por base demonstrar o trabalho realizado pelos técnicos de Neurofisiologia.
→ EEG
O EEG é um exame que foi inventado em 1924 por Hans Berger (1873-1941)1 e desde
então tem havido enormes desenvolvimentos tecnológicos na área electrónica que têm
revolucionado a capacidade de analisar a actividade eléctrica do cérebro (9)
Este é um método que mede a actividade eléctrica do cérebro, podendo ser útil para
detectar um aumento dessa actividade. Infelizmente o EEG não consegue dar informações
sobre a maior parte das funções cerebrais (pensamento, memória, linguagem, etc.) mas
somente registar diferenças de potencial eléctrico entre pontos do escalpe. (10)
Ictal
( durante a crise)
EEG
Interictal
Relatório 17
→ EMG
Serve para testar a parte motora.
→ Potenciais evocados
Estuda todo o caminho percorrido pelo estímulo seja este visual ou auditivo.
→ Vídeos de Utentes.
O Homem vive em sociedade, cabe-lhe, portanto, pensar e responder à seguinte
pergunta: “Como devo agir perante os outros?”. Esta questão central da ética ganha um novo
sentido quando num contexto hospitalar, uma vez que a relação de confiança e respeito entre
utente e profissional de saúde é fulcral. Neste sentido na descrição que irei fazer dos vídeos
visualizados manterei o anonimato dos doentes a que se referem.
• Doente X
Descrição da Crise:
No inicio da gravação o doente X está acordado a ver TV, sendo visível um certo
desconforto do mesmo, acompanhado por automatismos nas pernas. Neste instante são
visíveis alterações ao nível do EEG, o que leva a técnica de neurofisiologia a intervir.
Alguns utentes que padecem de epilepsia têm aquilo que se chama de aura epiléptica,
ou seja, sentem algo que os leva a aperceberem-se que irão ter uma crise. Nesse caso, quando
na UMPE, são instruídos a avisar os profissionais de saúde batendo palmas ou chamando pelos
mesmos, no caso do doente X, ele foi incapaz de avisar os técnicos.
Apesar das ordens o Sr.X foi incapaz de obedecer a qualquer um dos pedidos, sendo
evidente através da sua atitude (olhar, o mexer nos objectos) que a crise era mais ampla do
lado direito.
Assim que acaba o ataque epiléptico coça o nariz do lado direito, sendo este um sinal
lateralizador, não contra-lateral, muito associado a crises temporais.
Sendo perceptível no traçado do EEG que o ataque epiléptico tinha já chegado ao fim,
testou-se o doente X na nomeação de objectos. Contudo mesmo após a crise ter findado o
utente continua a não responder a ordens e sem falar, somente com o decorrer de algum
tempo é que começa a responder, embora desprovido de sentido lógico:
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Sabe dizer o nome, mas não a sua idade. Começa a falar sem sentido, sendo incapaz de
se localizar no tempo e no espaço. Não sabe o que está a fazer na UMPE: “O que está aqui a
fazer?” ao que responde “ faltava uma peça; o carro andava mal”.
Concluímos assim que esta será uma descrição de uma crise parcial complexa, uma vez
que se registaram alterações da consciência e não teve nem fase tónica nem fase clónica, mas
sim automatismos à direita.
• Doente Z
Descrição da Crise:
Como já descrito a técnica começa por pôr em prática o protocolo estipulado. Embora
seja evidente a aflição do utente, este obedece a tudo, parecendo entender tudo o que lhe é
dito, embora não consiga comunicar. São, também, perceptíveis automatismos das mãos e
boca, ainda que não consiga falar, mas apenas fazer algumas vocalizações.
O ataque epiléptico prolongou-se por longos minutos até que começou por ter clónicas
nos olhos e para a direita, culminando na generalização da crise. Após algum tempo a técnica
decidiu, finalmente, chamar os enfermeiros para que estes pudessem dar a medicação devida
ao doente. Para além da medicação administrada o utente é colocado a oxigénio e de lado,
devido clónicas generalizadas.
• Doente Y
Descrição da Crise:
• Doente M
Descrição da Crise:
A história deste doente tem particularidades que me obrigam a fazer uma abordagem
diferente. Neste sentido vou em primeira instancia esclarecer alguns conceitos.
Pseudoepileptica
( durante a qual não existem
alterações anomalas no traçado do
EEG, são do foro psicologico )
Crise
Epiléptica
Não necessariamente, este fingimento poderá não ser consciente. Além disso os utentes com
este tipo de crises deverão ser respeitados e acompanhados como qualquer outro, uma vez
que embora a sua maleita não seja física esta causa sofrimento e traz limitações como se o
fosse. Devo também enfatizar que a mente humana é ainda um mistério e que a forma como
uma personalidade se constrói e os processos que o levam a acontecer incertos, devemos por
isso olhar para as doenças psicológicas e para os seus portadores com a mesma ética e
respeito com que o fazemos noutras situações. Aliás outro comportamento não será de
esperar de um profissional de saúde, caso contrário apenas estaríamos a revelar falta de
humanidade e compaixão.
No decorrer desta pequena introdução como já deve ter percebido a Doente M possui crises
pseudoepilépticas. Deste modo, apesar de subitamente ficar estática, não responder a ordens,
não se registava qualquer tipo de alterações no EEG. Para além disso o desenvolvimento da
crise não era compatível com o de uma crise epiléptica normal, tendo em conta que havia
intensificações súbitas intercaladas com momentos de calmaria e não um começo,
intensificação e recuperação como seria de esperar.
Claro está que este utente foi devidamente encaminhado para os serviços psiquiátricos.
Relatório 20
Bibliografia
1. NCBI. Bookshelf. [Online] http://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK2511/.
4. [Online] http://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK2511/table/A114/?report=objectonly.
10. A utilidade do EEG (Adaptação em modelo FAQ da palestra feita no «I Encontro de Epilepsia
em Matosinhos». ALMEIDA, ROSALVO. Hospital Pedro Hispano : s.n., 18 de Fevereiro de 2005.