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Cleriston F.A.1
Summary : The theme of denial has raised several questions about the paths of democracy in
current Brazilian society, especially after Jair Messias Bolsonaro took office as President of
the Republic of Brazil. Adding the general picture that our elites have always been in
collusion with ideals of socioeconomic and racial supremacy, where historical issues were not
only relegated to contempt and neglect, but were maximized in order to create a favorable
framework for ideologies where intolerance and willful irresponsibility are seen as an
accepted and dogmatizing modus operantis. This scientific research work aims to understand
and analyze the main causes and effects of the denial accepted by the portion of Brazilians
who support the current government and its guidelines that directly promote the emergence of
a wave of anti-citizenship in defense of the democratic lines of institutional civility, of
cultural and scientific relations. It is a bibliographically based study of theoretical character,
field and case study. Of the 10 (ten) articles researched, having as research references the
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Graduado em Filosofia pela Faculdade de Santa Cruz da Bahia – BA desde 2016; pós-graduado em Docência
do Ensino Superior pela Unifacs desde 2019; professor do ensino médio desde 2018 e atual graduando em
Física pela Uniasselvi.
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terms negationism and pocketnarism, it is concluded that the knowledge of the term and its
immediate consequences demonstrate the urgency of a collective and democratic action to
reverse the current and future situations of an action predetermined and interested in the
subversion of civil and institutional measures relating to the interest of the community guided
by common sense and harmony of sociocultural plurality.
1. Introdução
"Por exemplo, em 9 de abril de 2011, alguns grupos de extrema direita fizeram uma
manifestação na cidade de São Paulo a favor do Deputado Jair Bolsonaro5. A
organização para a realização da manifestação começou através da internet, nas redes
sociais do Orkut e Facebook, nas comunidades dos grupos. No site do suposto
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Referência ao título da novela da rede Globo de 9 de janeiro a 12 de agosto de 1989, cuja trama é a
da eleição de um simplório matuto para o cargo de prefeito de uma pequena cidade do interior do
Brasil que, como de praxe, é controlada por uma complexa rede de interesses, segredos e crimes do
colarinho branco. O matuto em questão, Sassá Mutema, no entanto, se rebela das influências
partidárias e segue como um inovador das práticas politicas ao seu modo bronco e inocente.
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“Os neonazistas usam os livros revisionistas para atrair mais público para o
movimento, de modo que as interpretações do revisionismo fazem com que até
negros e pardos simpatizem com o nacional-socialismo. Essa aceitação por parte das
minorias é construída a partir do mito de Jesse Owens, por conta de sua participação
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Eufemismo dado ao movimento eleitoral e militante à favor de Jair Bolsonaro, sendo uma clara adaptação ao
“lulismo” vigente nos governos federais do PT anteriores ao impeachment de Dilma Rousseff, porém marcado
pela profunda simpatia à ações truculentas da polícia militar, exaltação de figuras obscuras da História da
Ditadura, apaixonada devoção ao ideal de meritocracia total e apoio ao liberalismo na sua forma mais
selvagem e irresponsável em questões de ecologia, bem estar social para os mais necessitados e irretocável
defesa ao patrimonio em qualquer situação imaginável;
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nas Olimpíadas de Berlim, em 1936. A utilização do caso Jesse Owens tem como
pressuposto mostrar um nacional socialismo sem preconceitos contra os negros. O
atleta negro estadunidense foi o campeão da prova dos 100 metros rasos no
atletismo. Segundo a historiografia, Hitler teria se recusado a cumprimentar o
vencedor da prova, pois isso implicaria em prejuízo ao nacional socialismo, pois um
negro vencer um ariano em seu próprio território colocaria em xeque a
“superioridade racial” dos Alemães. O revisionista S. E. Castan em seu já
mencionado livro “O Holocausto Judeu ou Alemão: Nos Bastidores da Mentira do
Século”, procura recontar essa história partindo de documentos e de fontes orais que
absolvem Hitler de qualquer responsabilidade. Segundo a teoria negacionista, a
idealização de um Führer (titulação usada por Hitler como “guia” do povo
germânico) com preconceitos a negros foi uma corrente patrocinada por entidades
sionistas que obtinham o domínio dos meios de comunicação. A partir dessa análise,
torna-se possível que alguns negros absorvam a doutrina nazista como uma política
que abrangeria todas as pessoas." (ANDRADE, 2013)
O crescente ideal de “guerra” contra ordens internas que estariam semeando o ideal
de anarquia, comunismo, roubo de propriedade privada, ameaça ao Estado e a Nação e seus
símbolos religiosos e morais, a ordem tradicional e subversão dos costumes conservadores são
os pilares da plataforma típica de modelos de pensamento como o que rege o bolsonarismo
graças a principal peça que possibilita toda essa mecânica azeitada em seu momento mais
oportuno: a estabilidade no poder e a eliminação de qualquer inimigo politico civil ou
politico.
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É notório o apoio da ala da “Bancada da Bíblia”: parlamentares supostamente conservadores e tradicionalistas
no campo dos costumes que usam do poder de influência sobre a massa de manobra neoevangélica para
atingir suas metas de controle e manipulação do Estado laico. Desnecessário dizer que a chamada “Bancada da
Bala” também tem interesses em comum com esse grupo autodenominado “de pessoas de bem”: grandes
latifundiários, inimigos da questão preservacionista e defensores da propriedade privada acima da lei e da
ordem social.
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gratuitos e antiéticos à órgãos de imprensa que apenas fazem seu papel: a divulgação de fatos
e dados.
Embora não seja um fenômeno social característico apenas do atual período, não se
pode negar que agora, mais do que nunca, assistimos a um espetáculo da idiotização funcional
da mentalidade do que se conceitua generalizadamente entender por “classe média” brasileira.
De fato, o negacionismo está presente até no modo de falar do político brasileiro e com Jair
Messias Bolsonaro este fato atingiu um grau de saturação ad infinitum, tornando evidente o
fato de que a comunicação se limita apenas ao jogo conceitual de pragmatismos de variados
enquadramentos.
Uma das grandes ferramentas do diálogo negacionista são só chamados significantes
flutuantes, que nada mais são do que, segundo as palavras de Danillo da Conceição Pereira
Silva, “de palavras e imagens que, embora sejam centrais para instauração da hegemonia de
um projeto político (e sua vitória num pleito eleitoral, por exemplo), não possuem um
conteúdo estável, claro, transparente e sempre invocável sem a necessidade de procedimentos
de estabilização e/ou delimitação da natureza e do escopo de sua significação, por isso em
constante disputa no jogo político”.
Ainda segundo Danillo da Conceição Pereira Silva, o necessário embaralhamento dos
sentidos e significados revisionistas usados servem para a:
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Em especial no caso das operações durante e depois do período da Ditadura de 64 até o início dos anos 80,
embora os militares sempre estiveram orquestrando ou auxiliando, na penumbra do cenário político, os mais
diversos atores à favor de um projeto de hegemonia elitista em termos econômicos, culturais e ideológicos em
nome do combate ao comunismo e ao avanço crescente da Esquerda na figura dos movimentos sociais a partir
dos anos 70 do século XX.
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"A série documental “Brasil – A Última Cruzada” busca traçar uma história do
Brasil a partir da opinião de diversos comentaristas, entre eles profissionais
formados em História e jornalistas. Desse modo, o episódio “A Vila Rica” trata
sobre o período colonial, as relações com Portugal, as relações com os indígenas e a
escravidão. O discurso reducionista apresentado na série não só apresenta a história
sem embasamentos, como demonstra uma exaltação de Portugal em detrimento dos
ameríndios que aqui habitavam, bem como dos homens e mulheres oriundos da
África que aqui foram escravizados. Para ilustrar a fala, imagens de escravos vão
aparecendo. Podemos perceber que a escolha de imagens para corroborar com a fala
não é em vão, as imagens abaixo surgem sem sequer uma indicação se retratam de
fato a escravidão no Brasil, quem as fez, onde é possível encontrá-las, assim como
toda a informação trazida ao longo do documentário. Além disso, as imagens
reforçam a ideia da escravidão como “chaga” da humanidade, colocando como um
horror distante da realidade do Brasil atual. Tanto a fala do narrador quanto as
imagens apresentadas não fazem referência a luta e resistência dos próprios escravos
no que diz respeito a sua condição, tampouco mencionam a vida social da colônia, a
cultura material e a relação da colônia brasileira com outras colônias. Ignora-se a
historiografia e reforça-se o senso comum sobre algo que mantém suas raízes
profundamente fixas em nossa sociedade. Os convidados seguem comentando que 'o
fundamento da escravidão nunca foi a origem étnica', como uma tentativa de refutar
os argumentos sobre uma reparação histórica (e até mesmo sobre toda a discussão
do sistema de cotas raciais no Brasil), deslegitimando reinvindicações de negros no
Brasil, em uma tentativa de esconder o racismo presente."(LUIZ,2020)
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É o que se conceitou se chamar de “mimimi”, termo que sintetiza o menosprezo pela opinião alheia de
maneira que se entenda essa opinião como sem fundamento, baseada no infantilismo e imaturidade diante da
realidade mundo defendida pela contra-argumentação. O termo se tornou famoso no uso do filósofo Luis
Felipe Pondé ao se referir ao militante de esquerda, que mora com os país depois do 30 anos, defensor da
Natureza e da pureza das boas ações, mas ainda sim um voraz consumidor das benesses do capitalismo
selvagem;
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https://www.youtube.com/channel/UCKDjjeeBmdaiicey2nImISw
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"… análise do negacionismo como elemento que ganha força como fenômeno da
pós-verdade em oposição aos valores seculares herdados do Iluminismo, nos mostra
que há um tortuoso plano institucionalizado em curso. Esse plano tem empurrado a
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"Nesse horizonte, eles representam uma quarta onda de populismo5 que foi
organizada como resposta à três recentes crises globais: os ataques terroristas de 11
de setembro nos EUA, a grande recessão de 2008 e a crise de refugiados de 2015.
Altamente ideológica, tais líderes oferecem narrativas messiânicas e salvacionistas,
que variam dadas as especificidades locais dos respectivos países, em tornos de
pautas relativas à imigração, segurança pública, corrupção e políticas internacional.
Nesse contexto, a atual crise planetária/sanitária originada pela pandemia do vírus
Covid-19 reconfigura uma nova fase dessa quarta onda populista: ao mesmo tempo
que temos a possibilidade de se observar as fragilidades no trato institucional de
uma crise por parte do reacionarismo institucionalizado, temos o risco de uma
guinada cada vez mais autoritária no controle dos corpos e da máquina pública,
promovida por um pensamento ideológico propagado nas últimas décadas pelos
mesmos gurus do apocalipse que influenciam diretamente lideranças da ultra direita
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global. Para fins desse ensaio, nos deteremos ao caso brasileiro dessa nova dinâmica
social de modo a capturar o núcleo filosófico que compõe o Bolsonarismo. Para
isso, apresentaremos três traços ou hipóteses dessa constelação obscurantista em sua
dimensão social, geopolítica, e sobretudo ideológica, de modo apreender uma
dimensão oculta da política sistemática de dominação em voga no evento pandêmico
que eu denomino de “negacionismo viral exterminista”. (VERAS, 2020)
A maior “vitória” da ação negacionista na atual sociedade brasileira tem sido o senso
de desconfiança gerado no campo da economia e do combate eficaz da pandemia de COVID-
19 pois são pontos que tem impacto direto na vida da população no que lhe é mais caro: saúde
e subsistência da família. As manobras do presidente estão claramente ligadas à interesses
ordinariamente políticas e de sua manutenção no poder federativo pelo máximo de tempo
possível quer por fetiches de egocentrismo ou de benesses de imunidade diplomática.
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Vale lembrar os casos lamentáveis dos discursos da diplomacia brasileira em relação á China com a
construção conspiratória de que a pandemia seria um projeto de sabotagem em escala mundial da economia
dos países capitalistas em favor da crescente influência do gigante asiático na balança comercial atual.
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Aos olhos do mundo, já somos um dos países com graves complicações relativas a
pandemia, pois o governo bolsonarista se mantêm numa posição de total e constante
questionamento de bases e normas aceitas e consagradas em outras nações que lhes permitiu
resultados positivos, reorganização da sua estrutura social e retomada progressiva das
atividades básicas e vitais para suas populações. Não é o que tem acontecido com nossa
realidade. No geral, tem-se assistido uma guerra de tensões entre os governos federal,
estaduais e municipais pela ativação da usina de captação de tributos fiscais.
Dentro deste discurso, apela-se para todos espectros possíveis do moralismo e da
patriotada ululantes:
"À primeira vista, poderia parecer que o negacionista “pró-economia” é pautado por
uma relação erótica construtiva com o mundo. Seu discurso diz querer “salvar
vidas”, proteger “as crianças”, “as mulheres”, “os pobres”, “a família”, evitar “a
destruição do país”. Tudo muito bonito e edificante, não fossem as metáforas e
referências à morte que interpelam e dão sentido a esse imaginário. O mundo tal
como representado nesse discurso é o mundo do “menos pior”, é o esgoto, o
incêndio, o armário vazio, as crianças ao relento… Essa é “a verdade destruidora”
que os não-negacionistas “não veem”. A contiguidade ambivalente entre pulsões de
vida e de morte, à raiz dessa imaginação, pode ser notada na guerra declarada pelo
negacionista. “Vamos em frente, nós temos garra, somos guerreiros. Nós temos uma
Pátria para lutar por ela, nós temos a nossa missão para cumprir.” — e arremata —
“Eu com vocês, vamos à luta”. O negacionista, que não está sozinho, se oferece à
posição de mártir, se dispõe a morrer dizendo que pode “até não estar aqui” mais
tarde, embora queira arrastar consigo os demais, seus “colaboradores” e
consumidores do mercado, “à luta”, para “o normal de segunda”."(SZWAKO,2020)
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Inação e desinformação do Governo Bolsonaro agravam a pandemia no Brasil -
https://brasil.elpais.com/brasil/2021-04-16/inacao-e-desinformacao-do-governo-bolsonaro-agravam-a-
pandemia-no-brasil.html
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Covid-19, são os mesmos atores que têm as mesmas reações: “Isso não vai acontecer conosco
porque nós vamos para outro lugar. Nós vamos para outra Terra” (Onde aterrar?..., 2020, apud
MOREL,2021).
Ou seja: o negacionismo não é meramente apenas uma “teimosia” de gente “burra”,
mas, também, uma estratégia egoísta de cercear os recursos legítimos em uma democracia
saudável e multicultural.
"Deve-se destacar que o artigo não pretende esgotar o tema, ou seja, a caracterização
de agremiações pentecostais e neopentecostais sobre a epidemia de coronavírus,
pois, trata-se de uma tentativa de aproximação por meio de uma análise das
complexas relações entre religião, opinião pública, laicidade e ciência na
contemporaneidade. Esses temas poderão suscitar novas agendas de pesquisa
envolvendo as dimensões exploradas neste artigo, adotando outros instrumentos para
coleta de dados como a aplicação de entrevistas semi-estruturadas, de acordo com
um roteiro delineado a partir de novos tópicos. Por ser um estudo ainda incipiente,
as informações obtidas, os recortes selecionados e as técnicas de pesquisa aplicadas
são provisórios, visto que o artigo entende que cada resultado é passível de
mudanças através de novas verificações, e esse cuidado deve ser observado tanto do
ponto de vista teórico, quanto metodológico a respeito das escolhas dos materiais e
do tratamento dos dados selecionados. A presença dos evangélicos durante a
epidemia, amplamente marcada pela exploração de algumas lideranças sobre o tema,
seja no temor causado pelo fechamento de templos e igrejas, o que remete a uma
visão profícua sobre a função pastoral, suas estratégias de culto, preocupações com a
queda de arrecadação através dos dízimos e o proselitismo propagado, seja no
tratamento dado aos impactos causados, minimizando o alcance da doença através
das asserções nos meios de comunicação, fornecendo explicações sobre a amplitude
da epidemia de coronavírus, muitas vezes remetendo a uma visão apocalíptica,
apoiada em preceitos bíblicos, corresponde apenas a alguns aspectos que reforçam a
importância do presente estudo, cujo propósito é fornecer dados para ampliar e
enriquecer o debate no campo das Ciências Sociais e da Religião voltado para a
compreensão das questões que envolvem as dimensões especificamente religiosas na
sociedade e os temas que abrangem a crença nas palavras e daquele que as
pronuncia (Bourdieu, 1989), formas de poder simbólico que também surgem
mediante a utilização das mídias oficiais pelas denominações evangélicas."
(GONÇALVES, 2020)
Desta maneira, fica evidente que o negacionismo segue diretrizes muito bem articuladas, não é
resultado de mera desinformação ou falta de estudo. Serve ao mais concentrado intuído de
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3 Considerações Finais
onde o “diferente” não é visto como perigo ou ameaça, mas complemento para uma forma
mais eficiente de ser civilizado e racional, elementos que o negacionismo odeia com todas as
forças, pois tais conceitos representam o total inverso do que tal ideologia prega e acredita.
4 Referências
VERAS, Thor João de Sousa, Negacionismo viral e política exterminista: notas sobre o
caso brasileiro da Covid-19, UFSM - Voluntas: Revista Internacional de Filosofia, DOI:
10.5902/2179378643934. Santa Maria, v.11, e45, p. 1-13, ISSN 2179-3786, Publicação:
17/07/2020. Ciencias Sociales y Religión/Ciências Sociais e Religião, Campinas, v.23,
e021001, 2021