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Monografia
(1)RIBEIRO, Irene; “Raul Lino – Pensador Nacionalista da Arquitectura” Disertação de Mestrado em Filosofia – FLUP ;
(2)RIBEIRO, Irene; “Raul Lino revistado: Memórias de uma arquitectura “Arte Nova” portuguesa”FLUP
Trabalho Realizado por:
(3) RIBEIRO, Irene; “Raul Lino – Nacionalismo e Pedagogia” Tese de Mestrado Ana Francisca
João Ferreira
Mafalda Cabeleira
Susana Boliqueime
Introdução
O significado histórico e estético da obra de Raul Lino bem como da polémica produzida pela sua
intervenção, directa ou indirecta, na arquitectura em Portugal, parece ser um objectivo cuja análise
poderá contribuir para a compreensão do fenómeno da globalidade da cultura portuguesa do século
XX(1).
O conservadorismo foi sempre uma linha de força do pensamento de Raul Lino, ao longo de toda uma
vida dedicada à defesa dos valores tradicionais da cultura portuguesa que o autor pretendia preservar e
recriar no domínio da arquitectura. Desde o nacionalismo oitocentista(1) em que se enquadram as suas
primeiras produções, até ao reconhecimento mais ou menos operante e ambíguo que dele faz o Estado
Novo(1) – cuja ideiologia a obra de Lino actualizou em síntese, os ecos do pensamento nunca mais
deixaram de se fazer sentir, por vezes de forma fora do senso-somum, na paisagem construída e cultural
do país.
Foram grandes os seus combates, teóricos e mesmo arquitectónicos, que empreendeu em nome de
princípios valorizadores do património cultural nacional e maiores ainda, os combates que provocou
contra si e contra as consequências que a sua obra produziu na arquitectura portuguesa do século XX(2).
Referencias históricas retiradas do texto
(1)RIBEIRO, Irene; “Raul Lino – Pensador Nacionalista da Arquitectura” Disertação de Mestrado em Filosofia – FLUP ;
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É possível olhar a obra inicial de Raul Lino, ultrapassados que são, há muito, os que foram, legítimos
preconceitos de muitos arquitectos “modernos”, numa perspectiva nova – neste caso, numa abordagem
sobre o seu contributo para uma Arte Nova portuguesa, que se afirmou em algumas das suas obras de
forma distinta do que foi a arquitectura Arte Nova em Portugal(1).
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Referencias históricas retiradas do texto
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(2)RIBEIRO, Irene; “Raul Lino revistado: Memórias de uma arquitectura “Arte Nova” portuguesa”FLUP
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(2)RIBEIRO, Irene; “Raul Lino revistado: Memórias de uma arquitectura “Arte Nova” portuguesa”FLUP
A estas influências de várias estilos, junta-se vários aspectos que também interferem no seu trabalho
como a religião, a filosofia, as letras, o pensamento, o nacionalismo, o racionalismo...
Nota-se que não é muito existente a fundamentação metafísica do pensamento de Raul Lino. A deriva
ontológica em que se move, não chega a ser explicitada no seu discurso teórico, mas pressente-se na
sua prática arquitectónica , sobretudo no que diz respeito a uma consciente antropologia do habitar.
Por outro lado este é um homem religioso. Radica-se numa fé inabalável, que nunca questiona nem
explica: “Não tenhamos, portanto, a preocupação de definir o objecto da nossa fé, que o importante é
que a sintamos bem no fundo da alma, e eu julgo que esta será a sua forma mais pura e porventura a
mais arreigada.” (Raul Lino in “Casas Portuguesas – Alguns apontamentos sobre o arquitectar das casas
simples”)
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(2)RIBEIRO, Irene; “Raul Lino revistado: Memórias de uma arquitectura “Arte Nova” portuguesa”FLUP
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Casa do Cipreste
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(3) RIBEIRO, Irene; “Raul Lino – Nacionalismo e Pedagogia” Tese de Mestrado
Há uma religiosidade constantemente implícita nos seus textos, em especial naqueles em que se refere
não tanto às obras do homem, mas á própria natureza que, dentro da tradição emersoniana, venera de
forma quase mística: “Imitemos a trepadeira e vamos, entretanto ascendendo, se não pudemos em linha
recta, pelo menos em espiral, evitando dúvidas, hesitações e os demais demónios. Copiemos as plantas.
Elas tendem sempre para a claridade”(Lino, Diário de Notícias, 5\2\1968).
A filosofia está presente na obra de Raul Lino enquanto este, de uma forma nem sempre filosoficamente
explicitada, reflect sobre os valores fundamentais que norteiam a sua concepção estética e os principios
em que a radica.
Não é a frieza analítica do rigor filosófico que o trabalho teórico de Raul Lino se desdobra. Não é no
respeito escrupuloso de uma racionalidade científica que o arquitecto produz os seus textos, mesmo
aqueles que, quer pela análise, quer pela sua proposta, se revelaram mais operativos no contexto do
pensamento português. O seu discurso, que invade uma vasta pluralidade de espaços de comunicação,
aparece sempre contaminado por um indefinível sentido poético.
As suas casas, como as suas ideias, radicam de um aparente pensar português, potenciado no seu
nacionalismo, até pela sua condição de estrangeirado, numa continua emergência dos modelos
lusitanos dominantes na época, idealisticamente considerados numa dimensão de intemporalidade.
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Cronologias – Vida e obra
Raul Lino foi um polifacetado artista, pensador e arquitecto português nascido em 1879. A sua
existência atravessou os momentos mais significativos do século XX português: atingiu a maioridade em
1900, com cerca de trinta anos assistiu à implantação da República, desde a quarta década de vida
acompanhou toda a autarcia do Estado Novo, da sua formação, em 1926, até ao seu tão esperado fim,
em 1974. Morreu, aos noventa e cinco de idade, nesse mesmo ano da Revolução de Abril. Ao longo da
sua extensa vida foi sempre uma testemunha avisada e crítica das estruturais transformações que
modificaram e caracterizaram o século XX(1).
A família tradicional portuguesa da segunda metade do século XIX comungava dos princípios das
sociedades urbanas europeias, mas num país de profundas tradições religiosas e rurais, ainda que
estruturalmente abaladas, recentemente, pelas ideias e reformas liberais, algo subsistia ainda de forma
já muito decadente da sociedade do antigo regime. As cidades e vilas do país conservavam ainda as
estruturas urbanas de finais do século XVIII, o conforto doméstico, excluindo as grandes capitais de
Lisboa e Porto, pautava-se por hábitos que só viriam efectivamente a mudar-se pelo primeiro quartel do
século XX. Assim, Raul Lino pode contemplar uma cidade, os ambientes e um país, alheado de uma
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Raul Lino
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(1)RIBEIRO, Irene; “Raul Lino – Pensador Nacionalista da Arquitectura” Disertação de Mestrado em Filosofia – FLUP ;
(2)RIBEIRO, Irene; “Raul Lino revistado: Memórias de uma arquitectura “Arte Nova” portuguesa”FLUP
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Casa suburbana no Minho
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http://img110.imageshack.us/img110/6194/vitralazad
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O encontro e a amizade que manteve com o arquitecto alemão Albrecht Haupt foi certamente um dos
mais importantes momentos de formação como arquitecto(2). Na verdade Haupt era apaixonado pela
arquitectura do renascimento e frequentemente dedicava campanhas de estudo pela Itália, Espanha e
Portugal, buscando o contacto directo com as obras, por mais recônditas que estivessem, desenhando-
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O conhecimento que adquiriu dos edifícios portugueses mais exemplificadores da nossa arte de
edificar, privilegiou-o face aos seus contemporâneos nacionais, formados numa arquitectura burguesa
dominante de importação francesa, filiada em termos formais nos Beaux-Arts(2).
Limitava-se a opor a uma tradição constructiva despojada de finais do século XVIII que ainda perdurava,
denominada de “estilo pombalino” derivado à sua concepção ocorrer por ocasião da reconstrução de
Lisboa levada a cabo pelo Marquês de Pombal. Raul Lino de posse de uma cultura estruturalmente
sólida e europeia conseguiu ver mais longe e de forma idealizada os factores estruturantes e
condicionantes da expressão cultural portuguesa. Não que os visse de forma profissionalizada, através
Referencias históricas retiradas do texto
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O Raul Lino desta época, a da sua maturidade, contemporâneo da segunda geração de arquitectos
modernos, de Mies van der Rohe a Le Corbusier, acabou por rejeitar o funcionalismo – princípio pelo
qual o arquitecto projecta um edifício deveria fazê-lo baseado na finalidade que terá esse edifício; e o
Referencias históricas retiradas do texto
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Terá convivido directamente com a obra e o espírito renovador dos arquitectos ingleses que tentavam
contrariar as gramáticas decorativas historicistas, num retorno a um romantismo nostálgico e a um
encantamento simbolista, associados à intenção moralizante de articular todas as artes, maiores e
menores, e de produzir objectos, todos os objectos, dentro dos parâmetros de uma exigência estética
que respeitasse organicamente os materiais e, ao mesmo tempo promovesse a beleza no quotidiano
doméstico. Raul Lino seguiu sempre de muito perto o ideal wagneriano de uma “arte total” promovido
por aqueles ingleses, na sua valorização medievalizante da artesania, no combate à estandardização
produzida pela máquina, na exaltação do campo, na articulação entre tradição nacionalista e respeito
pela envolvência natural, na capacidade de estabelecer uma unidade arquitectónica e decorativa entre o
interior e o exterior(1).
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Dedicou-se assim às artes decorativas, onde, bem no estilo da Arte Nova, procurou exprimir um
simbolismo emblemático e poético, ao mesmo tempo naturalista e abstractizante, imbuído sempre da
sua sensibilidade e afectividade subjectivas. Desenhou peças de mobiliário e de cerâmica, vitrais,
cenários para teatro, figurinos, tecidos, rendas e bordados. Ilustrou livros. Dedicou-se também à
serralharia artística e ao azulejo. Desdobrou a sua actividade como arquitecto entre a decoração de
interiores e a concepção espacial e botânica dos jardins.
(1)RIBEIRO, Irene; “Raul Lino – Pensador Nacionalista da Arquitectura” Disertação de Mestrado em Filosofia – FLUP ;
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(1)RIBEIRO, Irene; “Raul Lino – Pensador Nacionalista da Arquitectura” Disertação de Mestrado em Filosofia – FLUP ;
Ilustração
(2)RIBEIRO, Irene; “Raul Lino revistado: Memórias de uma arquitectura “Arte Nova” portuguesa”FLUP
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(3) RIBEIRO, Irene; “Raul Lino – Nacionalismo e Pedagogia” Tese de Mestrado
Numa mais emocional do que racional adesão ao espírito do movimento Arts and Crafts, Raul Lino
apenas não parece ter sido sensível à dimensão social democratizante que todo aquele movimento
comportava. O seu idealismo individualista, elitista e quase aristocrático, não lhe permitiu desenvolver a
consciência social e política que acompanhava o espírito da “arquitectura doméstica”.
Tinha preocupações de carácter estético e moral, nunca políticas. A sua consciência política, por
ingenuidade ou denegação, parecia inexistente - o que era, de resto, muito conveniente à pretensa
neutralidade da “política sem política” em que o salazarismo pretendia educar os cidadãos.
Ao longo dos seus 70 anos de artista e arquitecto, defendeu a tradição na concepção das formas,
afirmando que a arte e a arquitectura são elas também um produto do homem e para os homens, com
história, genealogia, características e funcionalidades próprias do espaço e do tempo em que se inserem
(1)RIBEIRO, Irene; “Raul Lino – Pensador Nacionalista da Arquitectura” Disertação de Mestrado em Filosofia – FLUP ;
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(1)RIBEIRO,
IlustraçãoIrene; “Raul Lino – Pensador Nacionalista da Arquitectura” Disertação de Mestrado em Filosofia – FLUP ;
(2)RIBEIRO, Irene; “Raul Lino revistado: Memórias de uma arquitectura “Arte Nova” portuguesa”FLUP
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A par da sua carreira de arquitecto produz obra teórica que publica, escreve artigos, dá conferencias e
faz incursões nas variadas artes, do cenário à pintura, têxteis, cerâmica, mobiliário, azularia, vitral, etc.
Foi autor de numerosos textos teóricos sobre o problemática da arquitectura doméstica popular
Caso de Estudo:
Para a segunda fase do trabalho escolhemos a obra “Jardim-Escola João de Deus de Coimbra” que foi
inaugurado a 2 de Abril de 1911. Consideramos esta obra interessante devido ao seu carácter socio-
cultural e pedagógico.
Referencias históricas retiradas do texto
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(2)RIBEIRO, Irene; “Raul Lino revistado: Memórias de uma arquitectura “Arte Nova” portuguesa”FLUP
Os fundos foram conseguidos através de donativos, mas principalmente graças aos serões musicais
organizados pelo orfeão académico de Coimbra . A associação João de Deus, além de contribuir
esforçadamente para a extinção do analfabetismo, terá lançado as bases fundamentais de uma urgente
reforma no processo de todo o ensino.
Para além do edifício da associação João de Deus em Coimbra, o arquitecto acabou por oferecer
bastantes projectos dentro da mesma linha de pensamento para a mesma associação. Este projecto foi
sendo desenvolvido por todo o País, hoje em dia existem mais de trinta jardins escolas por todo o País.
No meio de tanta desorientação em assuntos educativos, a obra nacional de João de Deus ficará firme,
duradoura e utilíssima, como genuinamente nacional, como os valores que Raul Lino tentava impor,
assim como o regime fascista.
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João de Deus – Coimbra, Raul Lino Foto actual do edifício
(2)RIBEIRO, Irene; “Raul Lino revistado: Memórias de uma arquitectura “Arte Nova” portuguesa”FLUP
Grande número destes artigos estão compilados para publicação em livro, com o título “Arte e Sentido
da Vida”. Dentro dos vários temas, os preferidos do autor são, a crise materialista do mundo, os
exageros sociais da técnica, a desumanização do homem, em textos em que sobretudo trata de assuntos
de educação, de arquitectura, de artesanato, de ecologia, de arte em geral, neles dando,
frequentemente, páginas de memórias pessoais.
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Ilustração
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Palácio da Comenda
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Na história da arquitectura portuguesa contemporânea, Raul Lino nunca deixou de ser uma figura
polémica. Foi inequivocamente reconhecido pelo Estado Novo, em cuja ideologia populista se viu
tranquilamente integrado. Conviveu sem grandes conflitos com os primeiros arquitectos modernos
portugueses que, na aproximação dos anos quarenta, também se foram tradicionalizando, por um
abandono do modernismo em detrimento da arquitectura monumentalista imposta pelo regime. Foi
sobretudo incompreendido e rejeitado pelos jovens arquitectos do segundo modernismo, posterior à
Carta de Atenas de 1945 e ao Congresso de Arquitectura Portuguesa de 1948, defensores à outrance do
funcionalismo e do empenhamento social e político da arquitectura, que em Raul Lino apenas liam o
reaccionarismo fascista e a mentira arquitectónica da “casa portuguesa”.
Só muito recentemente, seja pela distância histórica que se foi ganhando em relação ao salazarismo,
seja pelas próprias potencialidades estruturais do pensamento pósmoderno, é que aquela liminar
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Ao mesmo tempo nacionalista, uma vez que defendia a construção da “casa Portuguesa” e da cultura
que o próprio regime tentava impor na consciencia do povo português e estrangeirado, uma vez que o
arquitecto em questão estudou e partilhou (como anteriormente referido) nas suas viagens e estadia
pelo estrangeiro, Raul Lino exprimiu claramente a forma como se concretizaram em Portugal as
contradições internas da arte europeia e da própria crise de consciência do fim do século XIX. Na sua
obra inicial, conseguiu fazer a síntese e, de algum modo, a superação dessas contradições através de
realizações artísticas de carácter tipicamente português. Procurou a autenticidade na relação entre os
meios e os fins, na dignificação dos materiais, na correspondência entre o interior e o exterior, na
arquitectura complementada pela decoração. Criticou a desumanização urbana e a desfiguração
paisagística, manifestando genuínas preocupações ecológicas.
Defendeu intuitivamente os princípios de um habitar poético, sempre ligado à sua própria experiência
vivencial e à dos seus destinatários. Valorizou a preservação do património histórico, sem cair no mero
historicismo revivalista. Por tudo isto, se pode considerar este arquitecto como um autor que, de forma
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Raul Lino participou na eterna busca de uma identidade nacional que provavelmente atravessa toda a
cultura portuguesa e que, na conjuntura concreta que enquadrava a sua actividade inicial, se
configurava num movimento pela definição de paradigmas culturais nacionalistas, neste caso
arquitectónicos – a objectivação do modelo da “casa portuguesa”.
Para a sua religiosidade naturalista e lírica, o mundo natural, criado por Deus, era, afinal, o centro de
toda a criação humana. E cada edifício, tal como cada homem, era um corpo vivo, com uma alma
própria. E o estilo, neste caso um estilo nacional, só poderia resultar dessa adequação espontânea entre
a natureza e a arte, entre a tradição e a modernidade.
A imagem de Raul Lino não se esgota nas críticas, mais ferozes, ou mais benevolentes das leituras
“modernas”, ou “pós-modernas” de que foi objecto. A sua obra inicial representa hoje, a um século de
distância desses seus primeiros projectos pré-modernos, um objecto de estudo que ainda exige uma
análise crítica e sempre permite um novo encantamento. Raul Lino representa um momento
circunstancial de afirmação original portuguesa.
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Não é difícil entender a sua “modernidade”, com efeito o seu entendimento da lição histórica ensinada
pelos gregos quanto ao “moderno”, fez dele um clássico, um modelo. A sua obra de imensa criatividade
não pode ser confundida no tempo, é uma expressão da sua época, mas o seu pensamento é
intemporal, pois as suas premissas também o eram. Por isso mesmo a sua pedagogia ainda hoje e
sempre será de grande utilidade. Talvez precisamente porque a repressão sobre o nosso coração e
sentimento nos torne ainda mais sanguíneas e mais vivas as suas palavras, de incontestável actualidade.
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