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RAUL LINO

Monografia

Referencias históricas retiradas do texto

(1)RIBEIRO, Irene; “Raul Lino – Pensador Nacionalista da Arquitectura” Disertação de Mestrado em Filosofia – FLUP ;

(2)RIBEIRO, Irene; “Raul Lino revistado: Memórias de uma arquitectura “Arte Nova” portuguesa”FLUP
Trabalho Realizado por:
(3) RIBEIRO, Irene; “Raul Lino – Nacionalismo e Pedagogia” Tese de Mestrado Ana Francisca
João Ferreira
Mafalda Cabeleira
Susana Boliqueime
Introdução

O significado histórico e estético da obra de Raul Lino bem como da polémica produzida pela sua
intervenção, directa ou indirecta, na arquitectura em Portugal, parece ser um objectivo cuja análise
poderá contribuir para a compreensão do fenómeno da globalidade da cultura portuguesa do século
XX(1).

O conservadorismo foi sempre uma linha de força do pensamento de Raul Lino, ao longo de toda uma
vida dedicada à defesa dos valores tradicionais da cultura portuguesa que o autor pretendia preservar e
recriar no domínio da arquitectura. Desde o nacionalismo oitocentista(1) em que se enquadram as suas
primeiras produções, até ao reconhecimento mais ou menos operante e ambíguo que dele faz o Estado
Novo(1) – cuja ideiologia a obra de Lino actualizou em síntese, os ecos do pensamento nunca mais
deixaram de se fazer sentir, por vezes de forma fora do senso-somum, na paisagem construída e cultural
do país.

Foram grandes os seus combates, teóricos e mesmo arquitectónicos, que empreendeu em nome de
princípios valorizadores do património cultural nacional e maiores ainda, os combates que provocou
contra si e contra as consequências que a sua obra produziu na arquitectura portuguesa do século XX(2).
Referencias históricas retiradas do texto

(1)RIBEIRO, Irene; “Raul Lino – Pensador Nacionalista da Arquitectura” Disertação de Mestrado em Filosofia – FLUP ;

(2)RIBEIRO, Irene; “Raul Lino revistado: Memórias de uma arquitectura “Arte Nova” portuguesa”FLUP

(3) RIBEIRO, Irene; “Raul Lino – Nacionalismo e Pedagogia” Tese de Mestrado


E, no entanto, as suas ideias estéticas e a sua produção artística, sobretudo na fase inicial, podem ler-se
como uma tranquila reflexão sobre os valores do património, do espírito do lugar, da funcionalidade
simbólica e da tradição, articulados com os valores do orgânico, do paisagístico, da funcionalidade
prática e da modernidade.

É possível olhar a obra inicial de Raul Lino, ultrapassados que são, há muito, os que foram, legítimos
preconceitos de muitos arquitectos “modernos”, numa perspectiva nova – neste caso, numa abordagem
sobre o seu contributo para uma Arte Nova portuguesa, que se afirmou em algumas das suas obras de
forma distinta do que foi a arquitectura Arte Nova em Portugal(1).

Casa nos arredores de Lisboa Casa nos arredores de Lisboa

http://img223.imageshack.us/img223/5053/raullinofp3.jpg http://farm2.static.flickr.com/1339/1389453930_a77ab
Referencias históricas retiradas do texto

(1)RIBEIRO, Irene; “Raul Lino – Pensador Nacionalista da Arquitectura” Disertação de Mestrado em Filosofia – FLUP ;

(2)RIBEIRO, Irene; “Raul Lino revistado: Memórias de uma arquitectura “Arte Nova” portuguesa”FLUP

(3) RIBEIRO, Irene; “Raul Lino – Nacionalismo e Pedagogia” Tese de Mestrado


De facto, as primeiras propostas arquitectónicas de Raul Lino representam uma intervenção original
que, dentro do mais genuíno espírito da Arte Nova, não se limitaram ao que está mais frequentemente
presente nos numerosos exemplares deste estilo em Portugal – as fachadas adornadas com motivos
femininos e vegetais, a profusão de azulejos e gradeamentos, elementos que configuram um
decorativismo superficial de contornos eróticos, coloridos e barrocos.

Referencias históricas retiradas do texto

(1)RIBEIRO, Irene; “Raul Lino – Pensador Nacionalista da Arquitectura” Disertação de Mestrado em Filosofia – FLUP ;

(2)RIBEIRO, Irene; “Raul Lino revistado: Memórias de uma arquitectura “Arte Nova” portuguesa”FLUP

(3) RIBEIRO, Irene; “Raul Lino – Nacionalismo e Pedagogia” Tese de Mestrado


Por outro lado, nos seus primeiros projectos, também não cedeu à que era a mais dominante influência
arquitectónica estrangeira em Portugal do início do século XX(3) – o estilo beauxartiano francês, pesado,
ecléctico e decadente, que deu origem a tantos objectos de monumental visibilidade, que ainda hoje, na
sua granítica permanência, se avolumam na paisagem urbana nacional.

A estas influências de várias estilos, junta-se vários aspectos que também interferem no seu trabalho
como a religião, a filosofia, as letras, o pensamento, o nacionalismo, o racionalismo...

Nota-se que não é muito existente a fundamentação metafísica do pensamento de Raul Lino. A deriva
ontológica em que se move, não chega a ser explicitada no seu discurso teórico, mas pressente-se na
sua prática arquitectónica , sobretudo no que diz respeito a uma consciente antropologia do habitar.

Por outro lado este é um homem religioso. Radica-se numa fé inabalável, que nunca questiona nem
explica: “Não tenhamos, portanto, a preocupação de definir o objecto da nossa fé, que o importante é
que a sintamos bem no fundo da alma, e eu julgo que esta será a sua forma mais pura e porventura a
mais arreigada.” (Raul Lino in “Casas Portuguesas – Alguns apontamentos sobre o arquitectar das casas
simples”)

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Referencias históricas retiradas do texto

(1)RIBEIRO, Irene; “Raul Lino – Pensador Nacionalista da Arquitectura” Disertação de Mestrado em Filosofia – FLUP ;

Casa do Cipreste
(2)RIBEIRO, Irene; “Raul Lino revistado: Memórias de uma arquitectura “Arte Nova” portuguesa”FLUP

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(3) RIBEIRO, Irene; “Raul Lino – Nacionalismo e Pedagogia” Tese de Mestrado
Há uma religiosidade constantemente implícita nos seus textos, em especial naqueles em que se refere
não tanto às obras do homem, mas á própria natureza que, dentro da tradição emersoniana, venera de
forma quase mística: “Imitemos a trepadeira e vamos, entretanto ascendendo, se não pudemos em linha
recta, pelo menos em espiral, evitando dúvidas, hesitações e os demais demónios. Copiemos as plantas.
Elas tendem sempre para a claridade”(Lino, Diário de Notícias, 5\2\1968).

A filosofia está presente na obra de Raul Lino enquanto este, de uma forma nem sempre filosoficamente
explicitada, reflect sobre os valores fundamentais que norteiam a sua concepção estética e os principios
em que a radica.

Não é a frieza analítica do rigor filosófico que o trabalho teórico de Raul Lino se desdobra. Não é no
respeito escrupuloso de uma racionalidade científica que o arquitecto produz os seus textos, mesmo
aqueles que, quer pela análise, quer pela sua proposta, se revelaram mais operativos no contexto do
pensamento português. O seu discurso, que invade uma vasta pluralidade de espaços de comunicação,
aparece sempre contaminado por um indefinível sentido poético.

As suas casas, como as suas ideias, radicam de um aparente pensar português, potenciado no seu
nacionalismo, até pela sua condição de estrangeirado, numa continua emergência dos modelos
lusitanos dominantes na época, idealisticamente considerados numa dimensão de intemporalidade.

Referencias históricas retiradas do texto

(1)RIBEIRO, Irene; “Raul Lino – Pensador Nacionalista da Arquitectura” Disertação de Mestrado em Filosofia – FLUP ;

(2)RIBEIRO, Irene; “Raul Lino revistado: Memórias de uma arquitectura “Arte Nova” portuguesa”FLUP

(3) RIBEIRO, Irene; “Raul Lino – Nacionalismo e Pedagogia” Tese de Mestrado


“Ao contrário da casa portuguesa cantada por Amália Rodrigues, a de Raul Lino é uma casa soberba.
Quando se tem oportunidade de contactar com o seu legado, saltam à vista a qualidade do desenho,
recheado de motivos portugueses e a integração com o meio circundante. Com Raul Lino é possível
conceber uma “Arquitectura Portuguesa”. http://cronicas-
(Ricardo Esteves em
portuguesas.blogspot.com/2007/05/casa-portuguesa-do-arquitecto-raul-lino_05.html )

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Planta – Casa do Cipreste

http://media.photobucket.com/image/casa%20do%20cipreste/nop57751/Arquitectura/Raul%20Lino/CiprestePlanta.jpg
Cronologias – Vida e obra

Raul Lino foi um polifacetado artista, pensador e arquitecto português nascido em 1879. A sua
existência atravessou os momentos mais significativos do século XX português: atingiu a maioridade em
1900, com cerca de trinta anos assistiu à implantação da República, desde a quarta década de vida
acompanhou toda a autarcia do Estado Novo, da sua formação, em 1926, até ao seu tão esperado fim,
em 1974. Morreu, aos noventa e cinco de idade, nesse mesmo ano da Revolução de Abril. Ao longo da
sua extensa vida foi sempre uma testemunha avisada e crítica das estruturais transformações que
modificaram e caracterizaram o século XX(1).

A família tradicional portuguesa da segunda metade do século XIX comungava dos princípios das
sociedades urbanas europeias, mas num país de profundas tradições religiosas e rurais, ainda que
estruturalmente abaladas, recentemente, pelas ideias e reformas liberais, algo subsistia ainda de forma
já muito decadente da sociedade do antigo regime. As cidades e vilas do país conservavam ainda as
estruturas urbanas de finais do século XVIII, o conforto doméstico, excluindo as grandes capitais de
Lisboa e Porto, pautava-se por hábitos que só viriam efectivamente a mudar-se pelo primeiro quartel do
século XX. Assim, Raul Lino pode contemplar uma cidade, os ambientes e um país, alheado de uma

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transformação que praticamente só nas reformas estruturais do Estado Novo virá a ser definitivamente
mudada.

Raul Lino

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(2)RIBEIRO, Irene; “Raul Lino revistado: Memórias de uma arquitectura “Arte Nova” portuguesa”FLUP

(3) RIBEIRO, Irene; “Raul Lino – Nacionalismo e Pedagogia” Tese de Mestrado


Por outro lado a sua educação efectuada em Londres desde os 10 anos de idade e depois a partir de
1893 na Alemanha, conferiu-lhe uma base cultural, que lhe permitiu ver claramente a especificidade da
cultura portuguesa e ibérica, separando-a claramente dos aspectos negativos e dinâmicos, que
atentamente apontou, e a que todas as sociedades em transição estão sujeitas no seu processo de
evolução.

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(3) RIBEIRO, Irene; “Raul Lino – Nacionalismo e Pedagogia” Tese de Mestrado


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(2)RIBEIRO, Irene; “Raul Lino revistado: Memórias de uma arquitectura “Arte Nova” portuguesa”FLUP

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Casa do Cipreste

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Casa suburbana no Minho

http://img183.imageshack.us/img183/8223/raullinocd2.jpg

Janela - Casa do Cipreste

http://img110.imageshack.us/img110/6194/vitralazad
2xg.jpg

O encontro e a amizade que manteve com o arquitecto alemão Albrecht Haupt foi certamente um dos
mais importantes momentos de formação como arquitecto(2). Na verdade Haupt era apaixonado pela
arquitectura do renascimento e frequentemente dedicava campanhas de estudo pela Itália, Espanha e
Portugal, buscando o contacto directo com as obras, por mais recônditas que estivessem, desenhando-

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(3) RIBEIRO, Irene; “Raul Lino – Nacionalismo e Pedagogia” Tese de Mestrado


as e documentando-as abundantemente, inclusive por fotografia. Raul Lino como desenhador do seu
atelier foi sendo familiarizado com os grandes modelos de uma gramática renascentista, apercebendo-
se bem das variantes regionais e locais que vieram a caracterizar as variadas entidades constructivas.
Este aturado treino permitiu também visionar no panorama da Europa do sul as características
individuais da arquitectura portuguesa. Raul Lino regressou a Portugal em 1897, onde continuou os seus
estudos. Desempenhou cargos no Ministério das Obras Públicas e foi Superintendente dos Palácios
Nacionais(2). Foi membro fundador da Academia Nacional de Belas Artes, sendo seu presidente no
momento da sua morte(2).

O conhecimento que adquiriu dos edifícios portugueses mais exemplificadores da nossa arte de
edificar, privilegiou-o face aos seus contemporâneos nacionais, formados numa arquitectura burguesa
dominante de importação francesa, filiada em termos formais nos Beaux-Arts(2).

Limitava-se a opor a uma tradição constructiva despojada de finais do século XVIII que ainda perdurava,
denominada de “estilo pombalino” derivado à sua concepção ocorrer por ocasião da reconstrução de
Lisboa levada a cabo pelo Marquês de Pombal. Raul Lino de posse de uma cultura estruturalmente
sólida e europeia conseguiu ver mais longe e de forma idealizada os factores estruturantes e
condicionantes da expressão cultural portuguesa. Não que os visse de forma profissionalizada, através
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(1)RIBEIRO, Irene; “Raul Lino – Pensador Nacionalista da Arquitectura” Disertação de Mestrado em Filosofia – FLUP ;

(2)RIBEIRO, Irene; “Raul Lino revistado: Memórias de uma arquitectura “Arte Nova” portuguesa”FLUP

(3) RIBEIRO, Irene; “Raul Lino – Nacionalismo e Pedagogia” Tese de Mestrado


uma deformação provocada pela sua actividade de arquitecto. Na verdade, soube ver e ler em Portugal
os ingredientes que mais tarde um grupo de pensadores igualmente viriam a identificar sob outras
análises, como base de uma vocacionada identidade biológica, geográfica, social e política denominada
Integralismo Lusitano(2).

A fase de maior reconhecimento público da obra e do pensamento deste arquitecto corresponde ao


momento mais afirmativo e fascizante do regime, os anos quarenta. Ao ser director dos Monumentos
Nacionais, a partir de 1949(3), veio a ter efectivas responsabilidades na política cultural do salazarismo.
São também esses os anos em que se intensificou a sua produção teórica, com a publicação de diversos
livros e de uma imensa quantidade de artigos na imprensa. É também este o tempo da estabilização
formal e depois da sucessiva redução da sua gramática arquitectónica, em que se foi afastando
progressivamente, senão dos ideais estéticos da juventude, pelo menos da sua operacionalização
prática consequente. Isto deu origem a uma arquitectura conformada e menos criativa do que tinha sido
a das suas obras primeiras(3).

O Raul Lino desta época, a da sua maturidade, contemporâneo da segunda geração de arquitectos
modernos, de Mies van der Rohe a Le Corbusier, acabou por rejeitar o funcionalismo – princípio pelo
qual o arquitecto projecta um edifício deveria fazê-lo baseado na finalidade que terá esse edifício; e o
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racionalismo – princípio que rompeu com a contradição e sinalizou o primeiro passo na plastificação das
linhas construtivas, surgindo um ornamentalismo vazio(século XX) , mostrando-se totalmente insensível
ao futuro formal e social da arquitectura. De igual modo, tinha já antes ignorado, nos anos vinte/trinta,
as manifestações mais tradicionais do movimento moderno, do puritanismo formal de Adolf Loos à
Escola de Chicago - nem o organicismo e a sensibilidade estrutural ao espírito de Frank Lloyd Wright lhe
mereceu o mínimo apreço(1).

Terá convivido directamente com a obra e o espírito renovador dos arquitectos ingleses que tentavam
contrariar as gramáticas decorativas historicistas, num retorno a um romantismo nostálgico e a um
encantamento simbolista, associados à intenção moralizante de articular todas as artes, maiores e
menores, e de produzir objectos, todos os objectos, dentro dos parâmetros de uma exigência estética
que respeitasse organicamente os materiais e, ao mesmo tempo promovesse a beleza no quotidiano
doméstico. Raul Lino seguiu sempre de muito perto o ideal wagneriano de uma “arte total” promovido
por aqueles ingleses, na sua valorização medievalizante da artesania, no combate à estandardização
produzida pela máquina, na exaltação do campo, na articulação entre tradição nacionalista e respeito
pela envolvência natural, na capacidade de estabelecer uma unidade arquitectónica e decorativa entre o
interior e o exterior(1).

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Dentro do espírito desta estética de conteúdos, em que se pretendia uma moralização do gosto, numa
intenção de promover a beleza em todos os gestos da vida humana, Raul Lino tenta constantemente
encontrar soluções artísticas para os objectos do dia a dia. Para além de projectar a arquitectura de
edifícios, em que se harmonizassem estrutura e decoração, pretendia também criar objectos práticos
cuja forma fosse inteiramente subordinada à função, num constante respeito pela dignidade e
autenticidade dos respectivos materiais.

Dedicou-se assim às artes decorativas, onde, bem no estilo da Arte Nova, procurou exprimir um
simbolismo emblemático e poético, ao mesmo tempo naturalista e abstractizante, imbuído sempre da
sua sensibilidade e afectividade subjectivas. Desenhou peças de mobiliário e de cerâmica, vitrais,
cenários para teatro, figurinos, tecidos, rendas e bordados. Ilustrou livros. Dedicou-se também à
serralharia artística e ao azulejo. Desdobrou a sua actividade como arquitecto entre a decoração de
interiores e a concepção espacial e botânica dos jardins.

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Para tudo isto convocou, romanticamente, as formas de uma tradição cultural portuguesa, de raiz
erudita e popular, por vezes impregnadas de influências árabes, orientais, ou internacionalmente
europeias. E, sobretudo, recriou os símbolos através dos quais se orientava no mundo, da natureza que
amava à sua pessoalíssima mitologia privada.

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(1)RIBEIRO, Irene; “Raul Lino – Pensador Nacionalista da Arquitectura” Disertação de Mestrado em Filosofia – FLUP ;
Ilustração
(2)RIBEIRO, Irene; “Raul Lino revistado: Memórias de uma arquitectura “Arte Nova” portuguesa”FLUP
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(3) RIBEIRO, Irene; “Raul Lino – Nacionalismo e Pedagogia” Tese de Mestrado
Numa mais emocional do que racional adesão ao espírito do movimento Arts and Crafts, Raul Lino
apenas não parece ter sido sensível à dimensão social democratizante que todo aquele movimento
comportava. O seu idealismo individualista, elitista e quase aristocrático, não lhe permitiu desenvolver a
consciência social e política que acompanhava o espírito da “arquitectura doméstica”.

Tinha preocupações de carácter estético e moral, nunca políticas. A sua consciência política, por
ingenuidade ou denegação, parecia inexistente - o que era, de resto, muito conveniente à pretensa
neutralidade da “política sem política” em que o salazarismo pretendia educar os cidadãos.

O conservadorismo ideológico de Raul Lino que o impediu de compreender e aceitar o modernismo,


levou-o mesmo a manifestar admiração por formas monumentais e académicas, como as que surgem na
arquitectura italiana e alemã, da Roma classizante e fascista, à obra do nazi Albert Speer(3). Tudo isto é
manifestamente contraditório com os seus ideais estéticos de juventude, na sua procura inovadora,
organicista e anti-académica, que era, afinal a da Arte Nova(3).

Ao longo dos seus 70 anos de artista e arquitecto, defendeu a tradição na concepção das formas,
afirmando que a arte e a arquitectura são elas também um produto do homem e para os homens, com
história, genealogia, características e funcionalidades próprias do espaço e do tempo em que se inserem

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e da comunidade para que são produzidas. É, assim, um defensor da tradição versus modernismo ou um
modernista da tradição.

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(3) RIBEIRO, Irene; “Raul Lino – Nacionalismo e Pedagogia” Tese de Mestrado


Figura polémica pela sua postura romântica na procura de uma arquitectura tipicamente portuguesa,
que teoriza e projecta modelos, mas sobretudo pela sua posição contra as correntes moderna e
internacional, é sobretudo um homem de cultura que projecta, viaja, escreve e desenha num percurso
raro no panorama arquitectónico português do século XX(1).

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(1)RIBEIRO,
IlustraçãoIrene; “Raul Lino – Pensador Nacionalista da Arquitectura” Disertação de Mestrado em Filosofia – FLUP ;

(2)RIBEIRO, Irene; “Raul Lino revistado: Memórias de uma arquitectura “Arte Nova” portuguesa”FLUP
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(3) RIBEIRO, Irene; “Raul Lino – Nacionalismo e Pedagogia” Tese de Mestrado


Da sua vasta obra, muito estudada e publicada projectando mais de 700 obras, destaca-se o conjunto de
residências de Cascais e Monte Estoril, a Casa dos Patudos em Alpiarça, 1904, a Casa do Cipreste em
Sintra, 1912, a Moradia na Rua Castilho, n.º 64 a 66 em Lisboa ganhando o Prémio Valmor, 1930, o
Cinema Tivoli em Lisboa, 1925, o Pavilhão do Brasil na Exposição do Mundo Português de 1940, Loja
Gardénia, Lisboa, O edifício dos Paços do Concelho em Setúbal, Casa da Quinta da Comenda em Setúbal,
, Casa dos Penedos em Sintra, Casa Branca em Oeiras, assim como o projecto do Jardim-Escola João de
Deus, efectuando o primeiro em 1909 em Coimbra sendo posteriormente alargado por todo o país num
total de 11 projectos feitos até 1957(1).

A par da sua carreira de arquitecto produz obra teórica que publica, escreve artigos, dá conferencias e
faz incursões nas variadas artes, do cenário à pintura, têxteis, cerâmica, mobiliário, azularia, vitral, etc.
Foi autor de numerosos textos teóricos sobre o problemática da arquitectura doméstica popular

Caso de Estudo:

Para a segunda fase do trabalho escolhemos a obra “Jardim-Escola João de Deus de Coimbra” que foi
inaugurado a 2 de Abril de 1911. Consideramos esta obra interessante devido ao seu carácter socio-
cultural e pedagógico.
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A Câmara Municipal de Coimbra facultou um terreno com uma superfície de 4800m2 e o projecto de
arquitectura foi oferecido pelo arquitecto Raul Lino, segundo as orientações pedagógicas de João de
Deus Ramos.

Os fundos foram conseguidos através de donativos, mas principalmente graças aos serões musicais
organizados pelo orfeão académico de Coimbra . A associação João de Deus, além de contribuir
esforçadamente para a extinção do analfabetismo, terá lançado as bases fundamentais de uma urgente
reforma no processo de todo o ensino.

Para além do edifício da associação João de Deus em Coimbra, o arquitecto acabou por oferecer
bastantes projectos dentro da mesma linha de pensamento para a mesma associação. Este projecto foi
sendo desenvolvido por todo o País, hoje em dia existem mais de trinta jardins escolas por todo o País.

No meio de tanta desorientação em assuntos educativos, a obra nacional de João de Deus ficará firme,
duradoura e utilíssima, como genuinamente nacional, como os valores que Raul Lino tentava impor,
assim como o regime fascista.

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(1)RIBEIRO, Irene; “Raul Lino – Pensador Nacionalista da Arquitectura” Disertação de Mestrado em Filosofia – FLUP ;
João de Deus – Coimbra, Raul Lino Foto actual do edifício
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(3) RIBEIRO, Irene; “Raul Lino – Nacionalismo e Pedagogia” Tese de Mestrado


Espólio Escrito
O João
Arq.deRaul
DeusLino deu um
– Coimbra, grande
maquete contributo, participando assiduamente, desde os anos 40, na imprensa
de grupo
lisboeta. Registou-se o seu primeiro artigo a 23.05.1923, no Diário de Lisboa. Desde Janeiro de 1959 é
colaborador permanente do Diário de Noticias onde publicou cerca de 135 artigos.

Grande número destes artigos estão compilados para publicação em livro, com o título “Arte e Sentido
da Vida”. Dentro dos vários temas, os preferidos do autor são, a crise materialista do mundo, os
exageros sociais da técnica, a desumanização do homem, em textos em que sobretudo trata de assuntos
de educação, de arquitectura, de artesanato, de ecologia, de arte em geral, neles dando,
frequentemente, páginas de memórias pessoais.

Para além de artigos, Raul Lino publicou vários livros e ensaios:

- “A Nossa Casa”, 1.ª Edição 1918

- “A Casa Portuguesa”, 1929

- “Casas Portuguesas!, 1.ªEdição 1933

- “Auriverde Jornada”, 1937

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- “L’Evolution de l’Architecture au Portugal”, 1937

- “4 Palavras sobre Urbanização”, 1945

- “4 Palavras sobre Arquitectura e Música”, 1947

- “Os Paços Reais da Vila de Sintra”, 1948

- “Royal Palace of Sintra – Summary”, 1.ªEdição 1950

- “Arte, Problema Humano”, 1951

- Evocação de Alexandre Rey Colaço”, 1957

- “Arquitectura, Paisagem e a Vida”, 1957

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(1)RIBEIRO, Irene; “Raul Lino – Pensador Nacionalista da Arquitectura” Disertação de Mestrado em Filosofia – FLUP ;

(2)RIBEIRO, Irene; “Raul Lino revistado: Memórias de uma arquitectura “Arte Nova” portuguesa”FLUP

(3) RIBEIRO, Irene; “Raul Lino – Nacionalismo e Pedagogia” Tese de Mestrado


Montagem

Ilustração

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Palácio da Comenda

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Referencias históricas retiradas do texto

(1)RIBEIRO, Irene; “Raul Lino – Pensador Nacionalista da Arquitectura” Disertação de Mestrado em Filosofia – FLUP ;

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Conclusão

Na história da arquitectura portuguesa contemporânea, Raul Lino nunca deixou de ser uma figura
polémica. Foi inequivocamente reconhecido pelo Estado Novo, em cuja ideologia populista se viu
tranquilamente integrado. Conviveu sem grandes conflitos com os primeiros arquitectos modernos
portugueses que, na aproximação dos anos quarenta, também se foram tradicionalizando, por um
abandono do modernismo em detrimento da arquitectura monumentalista imposta pelo regime. Foi
sobretudo incompreendido e rejeitado pelos jovens arquitectos do segundo modernismo, posterior à
Carta de Atenas de 1945 e ao Congresso de Arquitectura Portuguesa de 1948, defensores à outrance do
funcionalismo e do empenhamento social e político da arquitectura, que em Raul Lino apenas liam o
reaccionarismo fascista e a mentira arquitectónica da “casa portuguesa”.

Só muito recentemente, seja pela distância histórica que se foi ganhando em relação ao salazarismo,
seja pelas próprias potencialidades estruturais do pensamento pósmoderno, é que aquela liminar

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(2)RIBEIRO, Irene; “Raul Lino revistado: Memórias de uma arquitectura “Arte Nova” portuguesa”FLUP

(3) RIBEIRO, Irene; “Raul Lino – Nacionalismo e Pedagogia” Tese de Mestrado


rejeição da obra do arquitecto Raul Lino foi dando lugar a um novo e crítico reconhecimento do valor do
seu trabalho.

Ao mesmo tempo nacionalista, uma vez que defendia a construção da “casa Portuguesa” e da cultura
que o próprio regime tentava impor na consciencia do povo português e estrangeirado, uma vez que o
arquitecto em questão estudou e partilhou (como anteriormente referido) nas suas viagens e estadia
pelo estrangeiro, Raul Lino exprimiu claramente a forma como se concretizaram em Portugal as
contradições internas da arte europeia e da própria crise de consciência do fim do século XIX. Na sua
obra inicial, conseguiu fazer a síntese e, de algum modo, a superação dessas contradições através de
realizações artísticas de carácter tipicamente português. Procurou a autenticidade na relação entre os
meios e os fins, na dignificação dos materiais, na correspondência entre o interior e o exterior, na
arquitectura complementada pela decoração. Criticou a desumanização urbana e a desfiguração
paisagística, manifestando genuínas preocupações ecológicas.

Defendeu intuitivamente os princípios de um habitar poético, sempre ligado à sua própria experiência
vivencial e à dos seus destinatários. Valorizou a preservação do património histórico, sem cair no mero
historicismo revivalista. Por tudo isto, se pode considerar este arquitecto como um autor que, de forma

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original e portuguesa, se integra nas raízes estéticas da modernidade e no movimento artístico da Arte
Nova.

Raul Lino participou na eterna busca de uma identidade nacional que provavelmente atravessa toda a
cultura portuguesa e que, na conjuntura concreta que enquadrava a sua actividade inicial, se
configurava num movimento pela definição de paradigmas culturais nacionalistas, neste caso
arquitectónicos – a objectivação do modelo da “casa portuguesa”.

Para a sua religiosidade naturalista e lírica, o mundo natural, criado por Deus, era, afinal, o centro de
toda a criação humana. E cada edifício, tal como cada homem, era um corpo vivo, com uma alma
própria. E o estilo, neste caso um estilo nacional, só poderia resultar dessa adequação espontânea entre
a natureza e a arte, entre a tradição e a modernidade.

A imagem de Raul Lino não se esgota nas críticas, mais ferozes, ou mais benevolentes das leituras
“modernas”, ou “pós-modernas” de que foi objecto. A sua obra inicial representa hoje, a um século de
distância desses seus primeiros projectos pré-modernos, um objecto de estudo que ainda exige uma
análise crítica e sempre permite um novo encantamento. Raul Lino representa um momento
circunstancial de afirmação original portuguesa.

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Pode-se ver e ler na Arquitectura de Raul Lino, nos materiais que utilizou, nas formas diversas com que
pretendia adaptar a construção ao lugar, procurando essa essência do topos, que faz do edificar um
processo de harmonia com a Natureza envolvente.

Não é difícil entender a sua “modernidade”, com efeito o seu entendimento da lição histórica ensinada
pelos gregos quanto ao “moderno”, fez dele um clássico, um modelo. A sua obra de imensa criatividade
não pode ser confundida no tempo, é uma expressão da sua época, mas o seu pensamento é
intemporal, pois as suas premissas também o eram. Por isso mesmo a sua pedagogia ainda hoje e
sempre será de grande utilidade. Talvez precisamente porque a repressão sobre o nosso coração e
sentimento nos torne ainda mais sanguíneas e mais vivas as suas palavras, de incontestável actualidade.

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(3) RIBEIRO, Irene; “Raul Lino – Nacionalismo e Pedagogia” Tese de Mestrado

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