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Leis e teorias em biologia

Chapter · January 2011

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Pablo Lorenzano
National University of Quilmes
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3
Leis e teorias em biologia1
Pablo Lorenzano

existem leis na biologia, só que a expressão


Introdução
“lei”, nesse caso, tem um significado dife‑
rente do habitual. Neste trabalho, tentare‑
O objetivo deste trabalho é servir mos mostrar a possibilidade de contar com
como introdução às problemáticas das leis um enfoque filosófico unificado das teorias
e das teorias em biologia no contexto mais e das leis da ciência em geral, e da biologia
amplo da filosofia geral da ciência. Ambas em particular, que nos permita sustentar que
as problemáticas, além disso, estão relacio‑ nem as leis nem as teorias da biologia são
nadas, uma vez que se tem afirmado usual‑ peculiares, ou diferentes, das que podemos
mente que a ciência em geral contém, en‑ encontrar em disciplinas tais como a física
tre outras coisas, teorias científicas e estas, ou a química, e que a biologia, considerada
por sua vez, devem conter leis. E o que vale como uma disciplina científica, também não
para a ciência em geral também vale para as é de qualidade inferior se comparada a essas
diversas disciplinas em particular. Assim, a disciplinas. Faremos isso à luz da aplicação
biologia, como disciplina científica empíri‑ do estruturalismo metateórico e do seu con‑
ca, contém, entre outras coisas, teorias, as ceito de lei fundamental à análise da teoria
quais, por sua vez, incluem leis. Contudo, genética clássica de populações e àquela que
alguns têm argumentado que isso traz di‑ poderia ser considerada sua lei fundamen‑
ficuldades para a biologia, uma vez que a tal, a lei de concordância populacional.
biologia – afirmam eles – não possui leis
genuínas. Diante desse tipo de argumenta‑
ção, encontramos duas reações diferentes: A concepção
de um lado estão aqueles que concluem que clássica das teorias
a biologia também não possui teorias genu‑
ínas – ou, mais do que isso, afirmam que a No período que vai do fim de 1920 até
biologia não é uma verdadeira ciência, ou o final de 1950, a filosofia da ciência inicia‑
que é uma ciência de qualidade inferior, da em Viena – no âmbito do que, a partir de
tendo como referência aquelas que possuem 1929, passaria a ser denominado oficialmen‑
leis e teorias, como a física e, talvez, a quí‑ te Círculo de Viena (Carnap, Hahn, Neurath,
mica. Do outro lado estão aqueles dispostos 1929) – e continuada principalmente nos
a sustentar que ou bem não há leis nas teo‑ Estados Unidos, após a chegada nesse país
rias biológicas – e que, eventualmente, isso dos principais filósofos centro­‑europeus da
não representaria nenhum problema, dado ciência –, instaura­‑se como a corrente prin‑
que as teorias em geral não precisam conter cipal nessa área.2 Durante esse período, mo‑
leis ou, pelo menos, que as teorias da biolo‑ mento ou fase – denominada “clássica” –, a
gia constituem um tipo especial e não pre‑ filosofia da ciência esteve marcada não por
cisam conter leis – ou bem dizem que, sim, uma única concepção, mas por um conjunto

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de problemas, posições e presupostos que surge de uma forma direta e natural, dado
tinham um ar em comum. que na formalização se abstrai o conteúdo
Um dos problemas centrais da fase dos termos que formam o sistema. Com a
clássica foi a elucidação do conceito de teo­ finalidade de resolver essa questão é preciso
ria empírica. Poder­‑se­‑ia dizer que embora atribuir regras semânticas, em primeiro lu‑
todos os filósofos pertencentes a essa fase gar aos signos, constantes ou termos lógicos
considerassem as teorias como conjuntos de do vocabulário lógico VL (que estabelecem
enunciados organizados dedutiva ou axioma­ para cada um deles as condições de verdade
ticamente, nem todos concordavam quanto dos enunciados construídos com sua ajuda)
ao modo específico em que isso devia ser e, posteriormente, para os signos, constan‑
compreendido e especificado. Essa concep‑ tes ou termos específicos, próprios do siste‑
ção é conhecida com o nome de concepção ma axiomático e que – como já vimos – são
clássica – herdada, padrão, recebida, ortodo­ conhecidos com o nome de termos teóricos e
xa, tradicional, enunciativa ou sintática – das formam o vocabulário descritivo teórico VT.
teorias científicas, e tem sido defendida por Esse segundo passo é necessário se a teoria
diversos autores. Sua versão mais madura é empírica e não meramente matemático­
e elaborada, fruto de diferentes análises, ‑formal, uma vez que deve haver uma liga‑
críticas e sucessivas tentativas de superá­‑las ção dos termos teóricos, introduzidos pelo
pode ser encontrada, contudo, em Rudolf cálculo axiomático, com a experiência ou
Carnap (1956, 1966). De acordo com ela, com situações empíricas. Essa ligação é feita
as teorias científicas particulares podem por meio de certos enunciados que vincu‑
apresentar­‑se sob a forma de um sistema in­ lam alguns, mas não necessariamente todos,
terpretado que consta de: os termos teóricos. Por exemplo, “tempera‑
tura” é vinculado com outro tipo de termos
a) um sistema axiomático, e descritivos, denominados observacionais,
b) um sistema de regras semânticas para que formam o vocabulário observacional
sua interpretação. VO, como, “subir” ou “líquido”. Os termos
observacionais recebem uma interpretação
No caso de uma teoria particular, as empírica completa mediante regras semân‑
leis desta (aquelas leis que não se deduzem ticas de designação e se referem ao que é
de outras e que costumam ser denominadas observável, seja diretamente seja por meio
“fundamentais”) são os axiomas, os enun‑ de técnicas relativamente simples. Esses
ciados básicos primitivos da teoria. Esses enunciados mistos que, além dos axiomas,
enunciados constituem o que geralmente se também fazem parte da teoria, são deno‑
denomina sistema axiomático. Deles são de‑ minados regras de correspondência C; por
duzidas, como teoremas, o resto das afirma‑ exemplo, “ao aumentar a temperatura a co‑
ções teóricas. Quanto aos seus termos, um luna de líquido sobe”. Por meio das regras
sistema axiomático contém, além de termos de correspondência é proporcionada uma
lógico­‑matemáticos, termos descritivos, com interpretação empírica (observacional),
os quais se formulam os axiomas e que são os embora parcial e indireta, aos termos do
chamados termos teóricos primitivos do siste‑ formalismo axiomático abstrato que, assim,
ma. Às vezes, podem ser introduzidos termos adquirem conteúdo empírico. Dessa forma,
teóricos adicionais por meio de definições, a teoria, ou cálculo interpretado consiste na
com cuja ajuda alguns teoremas são abrevia‑ conjunção de todos os axiomas e de todas as
dos; mas os termos definidos são elimináveis, regras de correspondência T & C.
por serem meras abreviações notacionais. Essa concepção, que surge fundamen‑
Ao adotar o enfoque anterior no proble‑ talmente a partir da reflexão dos filósofos
ma de oferecer os fundamentos axiomáticos clássicos sobre a física, instaura­‑se como
das teorias científicas, para revelar assim sua uma metateoria geral, ou seja, como uma
estrutura interna, a questão da interpretação teoria filosófica sobre as teorias científicas

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em geral e não apenas sobre as de uma disso, supõe­‑se que as leis desempenham um
de suas disciplinas. Mas, paradoxalmente, papel central em uma das atividades que os
essa concepção, que contava com escassos cientistas costumam desenvolver – a de pro‑
exemplos concretos de análise de teorias porcionar explicações – pelo menos segun‑
substantivas que a sustentassem, mesmo do a análise da explicação científica conhe‑
no campo da física, deu, lugar, no campo cida como “modelo nomológico­‑dedutivo”,
da biologia, a propostas de axiomatização que está indissoluvelmente ligado ao nome
de teorias específicas. Seu principal repre‑ e à obra de Carl G. Hempel (1942, 1965;
sentante em filosofia da biologia, durante a Hempel e Oppenheim, 1948). Desde seu
fase que vai do final dos anos de 1920 até surgimento na década de 1940 até meados
o final dos anos de 1950, foi J.H. Woodger, dos anos de 1960, esse modelo foi aceito
que tentou aplicá­‑la à análise de teorias quase sem discussão pela comunidade filo‑
biológicas específicas, em especial à gené‑ sófica (Stegmüller, 1983; Salmon, 1989) e
tica clássica (Woodger, 1937, 1939, 1952, tem sido um ponto de referência obrigatório
1959).3 Posteriormente, contudo, uma para as propostas de análises alternativas e/
série de filósofos da ciência criticaram as ou complementares (como as de relevância
propostas de Woodger, tanto no que se re‑ estatística, pragmática, causal e de unificação
fere ao seu enfoque geral quanto ao modo teórica), desenvolvidas a partir de então. De
particular com que as desenvolveu, apesar acordo com Hempel, explicar um fato (seja
de que também foram adotadas por Kyburg ele particular ou geral) consiste em poder
(1968), Lindenmayer e Simon (1980) e inferir o enunciado que o descreve (conheci‑
Rizzotti e Zanardo (1986).4 Outros autores do como explanandum) como conclusão de
também tentaram aplicar a concepção clás‑ um argumento no qual as premissas (ou ex­
sica das teorias à biologia evolutiva (Ruse, planans) contêm essencialmente pelo menos­
1973; talvez Williams, 1970), e mesmo uma lei. Devido à importância, então, das
diante de críticas e objeções, também de‑ leis – seja como componentes essenciais das
fenderam sua aplicabilidade nesse âmbito teorias ou do explanans nas explicações –,
(Rosenberg, 1985). durante a fase clássica também foram rea­
Entretanto, não apenas se tem discutido lizados esforços para elucidar a noção meta‑
sobre a adequação da concepção clássica para científica de lei.
a análise das teorias biológicas em particular, Seguindo uma estratégia adotada
mas também para as teorias científicas em por Nelson Goodman (1947), Hempel e
geral. De fato, a concepção clássica das teo‑ Oppenheim (1948) tentam elucidar o concei‑
rias foi submetida, já a partir do fim dos anos to de lei (fundamental) a partir da noção mais
de 1950, a uma série de críticas que levam a ampla de enunciado legiforme. Supõe­‑se que
duvidar de sua adequação, justificando e mo‑ uma das características que devem satisfazer
tivando o desenvolvimento de alternativas, os enunciados de leis é serem verdadeiros.
em especial a grande alternativa à concepção Os enunciados legiformes, por sua vez, pos‑
clássica, e sua sucessora: a denominada “con‑ suem todas as características dos enunciados
cepção semântica das teorias científicas”, da de leis, com a possível exceção da verdade.
qual falaremos mais adiante.5 Assim, todo enunciado de lei (fundamental)
é um enunciado legiforme (fundamental),
enquanto nem todos os enunciados legifor‑
O conceito clássico de lei mes (fundamentais) são (enunciados de) leis
(fundamentais). De maneira informal, um
Como já vimos, de acordo com a con‑ enunciado legiforme (fundamental) possui
cepção clássica das teorias, as leis são um as seguintes características:
componente essencial daquelas: constituem
os axiomas por meio dos quais as teorias 1. tem forma universal, ou seja, é um
são representadas metateoricamente. Além enunciado geral que somente contém

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quantificadores universais, por exemplo suficiente ou como condição necessária,


do tipo (x)(Fx → Gx); mesmo sem considerar que as leis contêm
2. seu alcance é ilimitado, isto é, aplica-se diversas idealizações que fazem com que so‑
em todo tempo e espaço; isso estaria ga‑ mente sejam válidas de maneira aproxima­
rantido caso o universo de discurso, isto da (estes traços de idealização e abordagem,
é, o domínio de objetos cobertos pelos por outro lado, estão presentes nos diversos
quantificadores (ou intervalo das vari‑ níveis da conceitualização científica: nos
áveis individuais), consistisse em todos dados empíricos, nas hipóteses, nas leis e
os objetos físicos do universo ou em to‑ nas teorias). A verdade não é uma condição
das as localizações espaçotemporais; suficiente para que um enunciado seja con‑
3. não contém designações de objetos par‑ siderado lei, devido a que – independente
ticulares, ou seja, não se refere explicita‑ da problemática, predicação ou justificação
mente a objetos particulares, sendo, as‑ da verdade de qualquer enunciado empírico,
sim, proibido o uso de nomes próprios; ou de sua mera aceitação “como se fosse ver­
4. contém apenas termos gerais, ou seja, so‑ dadeiro” –, há uma enorme quantidade de
mente é permitida, em sua formulação, a enunciados que são verdadeiros ou são acei‑
utilização de predicados que não se re‑ tos como tais, mas que ninguém considera‑
ferem implicitamente a nenhum objeto ria lei, como o seguinte enunciado: “este é
particular ou a nomes próprios e nem a um texto pertencente a uma antologia de‑
nenhuma localização espaçotemporal. dicada à filosofia da biologia”. Por outro
lado, a verdade também não parece ser uma
Enquanto a condição (1) pretende condição necessária, uma vez que há certo
capturar a intuição de que as leis (funda‑ número de enunciados na história da ciên‑
mentais) devem ser leis gerais, estabele‑ cia que foram, em sentido estrito, refutados
cendo uma condição ou critério de caráter ou falseados, mas que não se pode duvidar
sintático (relativo à forma lógica dos enun‑ que sejam leis, como as chamadas “leis de
ciados de lei), as condições (2), (3) e (4) Newton”, ou as leis da mecânica clássica.
são condições ou critérios de caráter semân‑ A condição (1) – “de universalidade” –
tico (relativos ao âmbito de aplicação das estabelece que os enunciados de leis e, mais
leis) projetados basicamente para excluir especificamente, os enunciados legiformes,
como acidentais aquelas generalizações devem ter a forma sintática de enunciados
universais cujas variáveis não percorrem o universais, isto é, devem ser generalizações
universo inteiro ou que contêm referência, ou enunciados gerais que contenham apenas
explícita ou implícita, a particulares. Todas quantificadores universais tendo a forma ca‑
elas, incluída a condição de verdade antes nônica padrão de enunciados condicionais
mencionada, foram consideradas problemá‑ quantificados universalmente. Utilizando­‑se
ticas. A seguir, assinalaremos, brevemente, os recursos proporcionados pela lógica, os
suas dificuldades e discutiremos tentativas enunciados dessa forma costumam ser sim‑
para superá­‑las, para dedicar, depois, alguns bolizados como (x)(Fx→Gx) (onde o pri‑
parágrafos à diferença entre “leis naturais” meiro par de parênteses simboliza o quan‑
ou “da natureza”, por um lado, e “leis cien‑ tificador universal, que se lê “para todo”
tíficas” ou “da ciência”, por outro, assim ou “qualquer dado”, e x é uma variável, ou
como também às diferentes posturas gerais letra esquemática que pode ser substituída
que têm sido sustentadas sobre a natureza por (nomes de) objetos do domínio, ou que
das leis, localizando nelas a análise clássica está em lugar deles. Esta não deveria ser
de corte hempeliano. considerada uma condição suficiente para
Para começar com a discussão dos di‑ ser uma lei; contudo, há enunciados que
ferentes critérios oferecidos, a condição de possuem essa forma e que dificilmente po‑
verdade dificilmente pode ser interpretada dem ser considerados leis. É o caso daquelas
de maneira plausível, seja como condição generalizações que, para diferenciá­‑las das

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que constituem leis, são chamadas “genera­ ou que seja equivalente a um que sim é uni‑
lizações acidentais”. Consideremos o seguin‑ versal), mas exige­‑se que também seja “estri‑
te exemplo clássico: “Todas as moedas em tamente” universal. Isso que significa que o
meu bolso são de prata”. Este enunciado âmbito de aplicação das leis deve ser ilimi­
tem a forma universal exigida para as leis: tado – isto é, que as leis devem ser aplicadas
“para todo objeto em meu bolso, se este é em todo tempo e lugar (condição 2) –, ou
uma moeda, então ele é de prata”, mas não pelo menos irrestrito – isto é, que seu âmbito
é uma lei – uma vez que se aplica somente de aplicação não seja restrito a uma região
às moedas em meu bolso, onde, por outro espaçotemporal determinada (condição 2
lado, poderia haver moedas de outro ma‑ modificada; Nagel 1961) –, sem qualquer
terial –, mas uma generalização acidental. referência explícita (condição 3) ou implí‑
Mas se a condição de universalidade não é cita (condição 4) a objetos particulares, lu‑
uma condição suficiente para ser uma lei, gares ou momentos específicos, proibindo o
parece ser pelo menos uma condição neces­ uso de nomes próprios ou de uma referência
sária. Contudo, tanto este quanto qualquer tácita a nomes próprios, objetos particulares
outro critério sintático enfrenta o problema ou localizações espaçotemporais e somente
colocado pela existência de enunciados lo‑ permitindo, portanto, a utilização de pre‑
gicamente equivalentes aos enunciados em dicados “puramente universais em caráter”
consideração, mas que possuem, em geral, (segundo a terminologia de Popper, 1935),
uma forma lógica diferente. Nesse caso par‑ também chamados por Hempel “puramente
ticular, é preciso considerar a existência de qualitativos” (Hempel e Oppenheim, 1948,
enunciados que são logicamente equivalen‑ modificando a proposta de Carnap, 1947).
tes aos enunciados de forma universal, mas Contudo, essas condições também não
que possuem uma forma lógica diferente da estão livres de dificuldades. Por um lado,
canônica padrão dos enunciados de lei, seja parecem ser demasiadamente fracas, acei‑
sem afetar a universalidade (por exemplo, tando como leis enunciados universalmente
(x)(¬Fx∨Gx)), seja afetando­‑a (por exem‑ irrestritos que não constituem leis e, por ou‑
plo, (∃x)Fx→(∃x)Gx)), onde “∃” simboliza tro, demasiadamente fortes, excluindo leis
o “quantificador existencial” e lê­‑se: “há”, claramente aceitáveis. Com relação ao pri‑
“existe” ou “para alguns”. Como tentati‑ meiro ponto, basta considerar que, de acor‑
va de solucionar essa dificuldade surgiu a do com as condições estabelecidas, enuncia‑
proposta de reformular a condição de uni‑ dos como o seguinte seriam considerados
versalidade da seguinte maneira: ou bem as lei: “Todo diamante tem uma massa menor
próprias leis são enunciados universais, ou que 100.000 kg”. Quanto ao segundo pon‑
bem, referindo­‑se a equivalências lógicas, to, as leis de algumas teorias cosmológicas
considera­‑se, como uma primeira possibili‑ efetivamente só são aplicáveis à totalidade
dade, que todos os enunciados logicamen‑ do universo e do espaço­‑tempo, assim como
te equivalentes a elas devem ser universais as leis da “grande teoria unificada” (“Grand
ou, como uma segunda possibilidade, que Unification Theory”) ou as da “teoria de
as leis devem ser enunciados logicamente tudo” (“Theory of Everything”), em caso de
equivalentes a um enunciado universal. existir, – que unificariam as duas teorias fí‑
Para poder distinguir as generalizações sicas mais importantes: a relatividade e a
que são leis das generalizações acidentais, quântica – ou, talvez, as leis da “teoria das
são adicionadas ao critério sintático, pro‑ cordas” ou “das supercordas” (“string the­
porcionado pela condição de universalidade, ory” ou “superstring theory”). Entretanto,
considerações semânticas relativas ao âmbi­ essa situação não é a habitual; na verdade,
to de aplicação das leis. Desse modo, de um as leis normalmente são aplicadas a siste‑
enunciado de lei não apenas se exige que seja mas parciais e bem delimitados, e não a um
um enunciado universal (ou que todas as único sistema “cósmico”. Algumas, inclu‑
suas equivalências lógicas sejam universais, sive, envolvem de modo essencial regiões

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espaçotemporais particulares (por exemplo, livre de dificuldades, veremos mais adiante


as leis da geologia que somente seriam vá‑ a plausibilidade da ideia de identificar leis
lidas na terra, ou as leis que se referem aos com diferentes graus de generalidade den‑
primeiros minutos do universo), ou contêm tro da mesma teoria.
nomes próprios que fazem referência a ob‑ Por outro lado, aquilo que Hempel e
jetos particulares (como a anteriormente Oppenheim reconheceram em 1948 – que
mencionada segunda lei de Kepler, na qual “o problema de uma definição adequada
se menciona explicitamente o sol). Além dos predicados puramente qualitativos per‑
disso, e em geral, esses critérios (especial‑ manece em aberto” (p. 157) – não perdeu
mente a condição (2), seja em sua versão vigência ainda hoje, e a mesma coisa vale‑
original, seja na modificada) dependem, por ria para aqueles predicados que cumprissem
um lado, da verdade de uma hipótese em‑ uma função similar, como os que Goodman
pírica, a saber: a hipótese da infinitude do denomina “projetáveis” (Goodman, 1955,
universo, cuja plausibilidade tem sido ques‑ p. 86), ou para outras propostas de distin‑
tionada. Por outro lado, dependem do con‑ guir os autênticos enunciados de leis das
ceito intuitivo, e nunca bem explicitado du‑ generalizações acidentais, como a capaci‑
rante a fase clássica da filosofia da ciência, dade de dar apoio a enunciados contrários­
de campo, âmbito ou domínio de aplicação, ‑aos­‑fatos (Chisholm, 1946) ou contrafáticos
cuja precisão não é simples. (Goodman, 1947), ou ainda a inferências
Como uma tentativa de salvar estes contrafáticas. Os enunciados contrários­‑aos­
critérios, durante essa fase clássica foi pro‑ ‑fatos ou contrafáticos são enunciados con‑
posto que se diferenciasse os dois tipos de dicionais cujo antecedente é falso, mas que
leis genuínas: de um lado, leis de alcance nos dizem o que poderia ter ocorrido, o que
ilimitado, irrestrito ou fundamentais e, de ocorreria, se houvessem sido dadas certas
outro, leis de alcance limitado, restrito ou condições; ou quais tendências, faculdades
derivadas (Hempel e Oppenheim, 1948, a ou potencialidades poderia manifestar um
partir de Reichenbach, 1947). Segundo essa objeto em ambientes adequados. As leis de‑
proposta de análise, leis como as de Kepler vem dizer o que ocorreria caso se cumpris‑
– de alcance limitado ou restrito – seriam sem as condições antecedentes que, de fato,
derivadas ou poderiam ser deduzidas logi‑ não se cumprem, ou dar apoio a enunciados
camente de leis fundamentais – de alcance modais – sobre a necessidade, possibilidade
ilimitado ou irrestrito – como as de Newton. e impossibilidade física, natural ou nômica,
Contra essa proposta seria possível mencio‑ diferente da necessidade, possibilidade e
nar razões tanto históricas quanto sistemá‑ impossibilidade lógica. Ou ainda, as leis de‑
ticas. Com relação às históricas, seria preci‑ vem possuir conteúdo modal – delineando o
so mencionar que Kepler propôs suas leis, que é física, natural ou nomicamente (e não,
e elas foram consideradas como tais e não como dissemos, logicamente) necessário,
simplesmente como leis derivadas, antes de possível ou impossível. O problema principal
que Newton propusesse as suas, ou seja, an‑ dessas últimas propostas está na dificulda‑
tes de que existissem as leis das quais supos‑ de de proporcionar uma análise satisfatória,
tamente elas derivariam. No que se refere e independente, das noções de dar apoio a
às razões sistemáticas, seria preciso consi‑ enunciados contrafáticos e/ou modais; em
derar que as denominadas “leis derivadas” particular, esses últimos correm sério risco
na verdade não são derivadas ou deduzidas de tornar­‑se circulares, uma vez que a razão
literalmente das leis fundamentais – pelo pela qual podemos dar apoio a um enun‑
menos não apenas delas – sem se conside‑ ciado contrafático é que podemos inferi­‑lo
rar algumas premissas adicionais, ou não o de uma lei da natureza, tendo em vista que
são de um modo exato. Contudo, embora a consideramos que algo é física, natural ou
conceitualização (e por conseguinte a ter‑ nomicamente impossível porque viola uma
minologia) específica proposta não esteja lei da natureza, e consideramos que algo é

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física, natural ou nomicamente possível por‑ determinado; e considerar as leis naturais


que não viola uma lei da natureza. (ou da natureza) como os fatos referidos ou
proposições expressas por aquelas. Alguns
filósofos sustentam que um tratamento filo‑
Leis naturais (ou da natureza) e sófico das leis deve ser dado somente para
leis científicas (ou da ciência) as leis da natureza, e não para as leis da ci‑
ência. Outros, por sua vez, consideram mais
Na literatura científica e filosófica apropriado referir­‑se às leis da ciência e não
muitas vezes se fala não só de leis, mas tam‑ (apenas) às leis da natureza, devido a que,
bém de leis naturais, ou da natureza, por em todo caso, as leis da ciência proporciona‑
um lado, e de leis científicas, ou da ciência, riam importantes chaves para a compreen‑
por outro. Essas expressões, além disso, cos‑ são do que é uma lei da natureza.
tumam ser utilizadas como se as que per‑
tencem a um par fossem intercambiáveis
pelas que pertencem ao outro, isto é, como A natureza das leis
se fossem sinônimas ou possuíssem o mes‑
mo significado. Contudo, nós consideramos Na discussão sobre a natureza das leis,
conveniente distinguir o primeiro dos pares são dirimidas questões filosóficas globais
do segundo deles, uma vez que correspon‑ substantivas muito problemáticas, como as
dem a enfoques ou perspectivas diferentes do realismo, da modalidade, dos universais,
(ver, por exemplo, Weinert, 1995a): o pri‑ da relação entre epistemologia e metafísica,
meiro a um enfoque de tipo ontológico – cor‑ etc. A seguir será apresentada uma caracte‑
respondente a como são as próprias coisas rização muito geral das principais alterna‑
–, e o segundo a um de tipo epistemológico tivas.6 Em geral, é possível distinguir três
– centrado naquilo que conhecemos. Assim, tipos de análise das leis: a dos regularistas
embora essas expressões se refiram a regu‑ humeanos, a dos regularistas realistas e a dos
laridades, “leis naturais” e “leis da nature‑ necessitaristas (ou também universalistas).
za” (expressões que têm uma longa história Ninguém nega, a princípio, a diferença en‑
que remete há um tempo em que as pessoas tre regularidades acidentais e nômicas: to‑
pensavam a natureza como obedecendo as dos pretendem dar conta dessa diferença; a
leis de seu Criador de um modo similar a questão está nos termos em que fazem isso.
como os indivíduos obedeciam as leis im‑ As concepções regularistas analisam as leis
postas por seu monarca) referem­‑se àque‑ como regularidades (verdadeiras) de certo
las regularidades empíricas que governam o tipo (as quais têm as propriedades que vi‑
mundo natural que nos rodeia, independente mos no final da seção “O conceito clássico
de se os seres inteligentes possuem ou não co­ de lei” e que distinguiam as regularidades
nhecimento dessas regularidades ou de se foi nômicas das acidentais). Os regularistas hu­
desenvolvida uma representação linguística meanos (devido a que Hume, 1739­‑1740,
apropriada ou não para pelo menos algumas 1748, foi o primeiro defensor explícito dessa
dessas regularidades. As “leis científicas” concepção) afirmam que não há necessidades
e “leis da ciência”, por sua vez, referem­‑se na natureza; se houvesse, em todo caso, se‑
àquelas regularidades do mundo natural que riam projetadas por nós (por meio do nosso
são conhecidas por nós e que foram colocadas conhecimento, da ciência, etc.; Goodman,
em apropriadas formas linguísticas (enuncia­ 1955; Ayer, 1956; Mackie, 1966). Os re‑
dos). Outro modo de colocar a relação exis‑ gularistas realistas, por sua vez, supõem a
tente entre leis naturais (ou da natureza) e aceitação de algum tipo de necessidade ou
leis científicas (ou da ciência) é considerar modalidade na natureza, independente do
estas últimas como as próprias formulações nosso conhecimento (Lewis, 1973; 1983).
linguísticas, enunciadas, afirmadas ou asse‑ Os universalistas, por outro lado, compar‑
veradas pelos cientistas em um momento tilham com os regularistas realistas seu

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rechaço a Hume: para eles, a necessidade uma caracterização de um conceito que


nômica descansa em algum tipo de distin‑ ele denomina “lei em sentido estrito”, que
ção objetiva que não é projetada, que “está se assume como aplicável às leis da física e
na natureza”. Mas diferenciam­‑se deles por da química. Depois, analisa o que normal‑
rejeitarem a ideia de que as leis são gene‑ mente é apresentado, em biologia, como
ralizações. De acordo com eles, as leis não exemplos de leis em função de se possuem
são generalizações, mas consistem, na ver‑ as mesmas características que as leis das
dade, em relações singulares entre universais disciplinas anteriormente mencionadas.
ou propriedades naturais (Dretske, 1977; Finalmente, conclui que em biologia não há
Tooley, 1977; Armstrong, 1983). Nenhuma leis (“em sentido estrito”), mas, no máximo,
das análises propostas – sejam elas regula­ generalizações (empíricas, que não consti‑
ristas ou necessi­taristas – é completamente tuem leis), devido a que os exemplos por ele
livre de objeções e dificuldades, e atual‑ investigados de supostas leis biológicas não
mente ainda se discute a respeito. De qual‑ compartilham tais características.
quer modo, se quiséssemos localizar nessas Smart caracteriza o conceito de lei
análises a elucidação clássica do conceito em sentido estrito de um modo que corres‑
de lei científica (fundamental), diríamos ponde basicamente à elucidação clássica
que a proposta de Hempel (e Oppenheim) do conceito de lei fundamental apresentada
caracteriza­‑se por tentar defender, de algum na seção anterior: leis em sentido estrito são
modo, as regularidades humeanas, sem proposições
apelar, contudo, para elementos psicológi‑
cos ou epistêmicos. Segundo vimos, Hempel universais, no sentido de que se supõe que
se aplicam em todo tempo e espaço e que
pretende caracterizar as leis considerando
podem ser expressas em perfeitos termos
os próprios enunciados gerais, e não aquilo
gerais, sem fazer uso de nomes próprios ou
que eles expressam, como certo tipo de re‑ de uma referência tácita a nomes próprios.
gularidades, sem recorrer a uma suposta ne‑ (Smart, 1963, p. 53)
cessidade na natureza, e tampouco, explici‑
tamente, a condições epistêmicas, impondo Para investigar se na biologia há pro‑
apenas condições sintáticas e semânticas. posições que cumprem essa caracterização
Embora, desse modo, Hempel não pareça e que podem, então, ser chamadas “leis em
poder distinguir de maneira plenamente sa‑ sentido estrito” (ou fundamentais), Smart
tisfatória as generalizações que são leis (ou propõe analisar o que em biologia geral‑
regularidades nômicas) das acidentais. mente é apresentado como exemplos de
leis, como as denominadas “leis de Mendel”.
Convida a considerar primeiro a seguinte
Leis em biologia proposição que, diz ele, é uma proposição
Uma vez exposto, e discutido de um que obviamente pertence à história natural:
modo geral, o conceito clássico de lei, apre‑ “os ratos albinos sempre se reproduzem pu‑
sentaremos aqui as críticas que já foram fei‑ ros”. Dessa proposição afirma que, apesar de
tas à ideia de que em biologia encontramos ser geral no sentido lógico, não é uma lei em
leis nesse sentido, e duas reações provocadas sentido estrito, uma vez que traz a referên‑
por tais argumentos. cia implícita a uma entidade particular, ou
seja, a Terra, dado que o termo “ratos” de‑
nota a espécie determinada de animal, cuja
Argumentos contra a definição requer uma referência ao nosso
existência de leis em biologia planeta (Smart, 1963, p. 53­‑54). Ainda que
– prossegue Smart (1963, p. 54) – redefi‑
Smart e a universalidade
namos o termo “rato” sem fazer referência
A argumentação de Smart (1963) à Terra, mas por meio de uma série de pro‑
consta dos seguintes passos. Primeiro, faz priedades A1, A2,..., An somente possuídas

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Filosofia da biologia 61

por ratos entre os animais desse planeta, é físicas ou químicas, acrescidas de condi‑
muito provável que seja falsa a proposição ções iniciais). (Beatty, 1995, p. 46)
de que todos os que possuam essas proprie‑
dades e sejam albinos também se reprodu‑ ou são
zam puros. Em algum planeta pertencente a
generalizações claramente biológicas (Beatty,
uma estrela remota poderia haver uma es‑ 1995, p. 47).
pécie de animal com tais propriedades, que
sejam albinos, mas que não se reproduzam Se são generalizações do primeiro
puros. Nesse caso, tal proposição não mais tipo, não podem ser consideradas leis da
seria universalmente verdadeira e, portanto, biologia; e se são do segundo, descrevem
não teria um alcance ilimitado, e disso con‑ resultados contingentes da evolução e, des‑
cluiríamos que não estamos diante de uma se modo, carecem de necessidade natural ou
lei em sentido estrito (ou fundamental). nômica e, portanto, não deveriam ser consi‑
Se dirigimos depois nossa atenção às deradas leis da natureza.
consideradas leis da genética, como as deno‑ Beatty – por meio da elaboração de
minadas “leis de Mendel”, ocorre não só que uma tese defendida por Gould (1989) –
não temos nenhuma certeza de sua validade diferencia dois sentidos de “contingência”
fora do restrito âmbito espacial da Terra, mas evolutiva, ou seja, dois sentidos nos quais
que mesmo aqui em nosso planeta encontra‑ os agentes da evolução podem quebrar as
mos exceções. Segundo Smart, nem sequer regras, assim como fazê­‑las, e nos quais a
as populações terrestres segregam perfeita‑ natureza “falha em necessitar” (fails to ne­
mente de acordo com a denominada “lei da cessitate) a verdade das generalizações bio‑
segregação de Mendel” e isto “por uma infini‑ lógicas:
dade de razões, das quais a mais importante
é o fenômeno de crossing­‑over” (Smart, 1963, a) O sentido mais fraco – que Carrier
p. 55­‑56). A lei da segregação de Mendel, (1995) denomina “contingência sim‑
suposta lei fundamental da genética, não é, ples” –, concernente à dependência das
portanto, uma lei em sentido estrito. generalizações biológicas das circuns‑
tâncias em geral; nesse sentido fraco,
Beatty e a necessidade as condições que levam à predominância
evolutiva de um traço determinado dentro
Outro argumento contra a existência de um grupo particular podem mudar, de
de leis em biologia, muito discutido nos últi‑ forma tal que se reduz a predominância do
mos tempos, está baseado na chamada “tese traço. (Beatty 1995, p. 53)
da contingência evolutiva” e pressupõe uma
análise modal do conceito de lei (“lei natu‑ A contingência simples resulta de fon‑
ral” ou “lei da natureza”) em termos de ne‑ tes como a mutação, a seleção natural em
cessidade nômica ou natural. Segundo essa ambientes mutáveis e a deriva ao acaso
análise, para que um enunciado seja consi‑ das frequências gênicas em populações pe‑
derado lei ele deveria expressar algo mais quenas e/ou entre genótipos relativamente
do que uma regularidade verdadeira, isto é, equivalentes, entre outras.
não basta ser, além de universal, verdadeiro
contingentemente, mas deve possuir necessi‑ b) O sentido mais forte – denominado
dade natural (ou nômica). Contudo, sustenta “contingência de alto nível” por Carrier
Beatty (1981, 1987, 1995, 1997), as genera‑ (1995) –, concernente à falha das cir‑
lizações do mundo vivo são de dois tipos: ou cunstâncias em determinar de maneira
inequívoca o resultado; nesse sentido
são apenas generalizações matemáticas, forte de contingência, todas as gene‑
físicas ou químicas (ou consequências de‑ ralizações descrevem estados de coisas
dutivas de generalizações matemáticas, “contingentes”, uma vez que a

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evolução pode levar a resultados diferen‑ surpreendente que um biólogo esteja mais
tes a partir do mesmo ponto inicial, mesmo interessado no alcance na aplicabilidade de
quando estão operando as mesmas pres‑ uma teoria dentro de seu domínio preten‑
sões seletivas. (Beatty, 1995, p. 57) dido do que em sua possível universalidade
dentro desse domínio; e que, ao não esperar
Isso é devido a diversas razões, entre as generalizações universais que sejam válidas
quais estão a chamada mutação “ao acaso” dentro de um domínio, os biólogos esperam
ou “random” (a probabilidade de ocorrên‑ valer­‑se de uma pluralidade de teorias para
cia de uma mutação não é de modo algum cobri­‑lo.
proporcional à vantagem que ela confere), a
“equivalência funcional” (há muitas manei‑
ras diferentes de adaptar­‑se a um meio qual‑ Em defesa da existência de leis em biologia
quer) e a deriva ao acaso das frequências
gênicas em pequenas populações. Ruse, Manson e Carrier sobre Smart e Beatty
Essa tese da contingência evolutiva,
sustenta Beatty, está relacionada, por sua Uma estratégia possível contra essa ar‑
vez, com outros temas de filosofia da biolo‑ gumentação é questionar a análise feita por
gia, a partir dos quais obtém apoio e cobra Smart dos exemplos selecionados. Esse cami‑
sentido: os ideais explicativos da biologia, nho é seguido, por exemplo, por Ruse (1970)
especialmente o “pluralismo teórico”, e a e Munson (1975). Ambos assinalam que o
natureza das controvérsias em biologia, enunciado “os ratos albinos sempre se re‑
especificamente as controvérsias a respeito produzem puros” não constitui, de nenhuma
da “significância relativa”. De acordo com maneira, algo que um biólogo ou geneticista
Beatty, o pluralismo teórico, segundo o qual poderia apresentar como lei, seja em sentido
“diferentes itens do mesmo domínio exigem estrito ou fundamental. Segundo Ruse, tal
explicações em termos de teorias ou mecanis­ enunciado, em caso de ser considerado uma
mos diferentes” (Beatty, 1995, p. 65), é ca‑ lei, teria de sê­‑lo como uma lei derivada, ob‑
racterístico da biologia, em oposição ao mo‑ tida a partir das leis fundamentais “os genes
nismo teórico da tradição newtoniana, que albinos são recessivos” e a lei da segregação
procura explicar um domínio de fenômenos de Mendel – que, de acordo com a formula‑
em termos de tão poucos mecanismos di‑ ção que ele dá, “estabelece que, quando dois
ferentes quanto possível e, no melhor dos organismos se cruzam, cada um contribui
casos, de um único mecanismo. Para Beatty para a descendência com apenas um dos ge‑
também são características da biologia as nes do par presente em cada locus particular,
disputas de “significância relativa”, nas e que, considerando­‑se apenas esse locus, a
quais o que está em questão é o alcance na probabilidade de que seja transmitido para
aplicabilidade de uma teoria dentro de um a descendência um ou outro dos genes do
domínio, seu domínio pretendido, isto é, a par é exatamente a mesma” –, nenhuma das
proporção de fenômenos dentro do domínio quais faz referência, explícita ou implícita, à
que a teoria descreve corretamente, e não se Terra. Por outro lado, Ruse acrescenta que
o mecanismo ou teoria é a descrição correta nenhuma definição de um grupo de organis‑
(Beatty, 1995, p. 75). mos (espécie) precisa referir­‑se, nem sequer
Segundo Beatty, os exemplos de plu‑ implicitamente, à Terra, e que na prática ne‑
ralismo teórico e de controvérsias de signi‑ nhuma definição faria tal referência (Ruse,
ficância relativa – que aparecem em todos 1970, p. 246).
os níveis de pesquisa em biologia – apoiam Para Munson, por sua vez, o erro que
a tese da contingência evolutiva no seguin‑ comete Smart ao considerar o enunciado “os
te sentido: uma vez que as contingências ratos albinos sempre se reproduzem puros”
da história evolutiva excluem (impossibili‑ é o de confundir uma instância de lei com
tam) a existência de leis em biologia, não é a própria lei: esse enunciado é, na verdade,

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Filosofia da biologia 63

uma instância do princípio mendeliano que não parece ser exclusiva da biologia em
afirma que “todo organismo diploide, ho‑ nenhum dos dois sentidos, seja o mais fra‑
mozigótico com relação a um caráter reces‑ co ou o mais forte. Em relação ao sentido
sivo, reproduz­‑se puro”, em cuja formulação mais fraco, resultados concretos obtidos
não se faz referência, explícita ou implícita, com base em todas as leis científicas depen‑
a nenhuma espécie ou gene em particular, dem grandemente das condições iniciais e
e que não apenas é logicamente geral, mas de contorno que tenham sido escolhidas.
também irrestrito do ponto de vista espa­ Com respeito ao sentido mais forte, a ocor‑
çotemporal (Munson, 1975, p. 445). rência de mudanças ao acaso, que tornam
Além disso, tanto para Ruse quanto não preditivas as explicações evolutivas, é
para Munson a lei da segregação mendelia‑ uma situa­ção que também está presente na
na, que é universal em sua forma, não se mecânica quântica (dado que é impossível
refere explícita ou implicitamente a objetos predizer fenômenos quânticos; somente é
particulares (como poderia ser a Terra) e é possível predizer médias e frequências re‑
irrestrita do ponto de vista espaçotemporal; lativas dos valores medidos). Mais ainda,
tampouco contém outros termos que não o “pluralismo teórico” e as controvérsias de
sejam gerais, ou seja, atende a todos os re‑ “significância relativa” são mais comuns em
quisitos que, segundo Smart, um enunciado física do que Beatty pensa e, desse modo,
deve satisfazer para ser denominado “lei em não são características apenas da biologia.
sentido estrito”.
Quanto à existência de exceções a essa
lei, Ruse aponta que não é a lei da segrega­ Brandon, Sober e Elgin sobre leis
ção que precisa ser modificada devido à biológicas não empíricas ou a priori
existência de exceções, mas sim outra das
leis atribuídas a Mendel, ou seja, a lei da Outra estratégia utilizada para defen‑
transmissão independente, e isso não pelo der a existência de leis ou princípios em
“crossing­‑over” (recombinação, permuta), biologia – ou de enunciados que, não se
mas devido a outro fenômeno conhecido ajustando à elucidação clássica do conceito
como “linkage” (ligação gênica). Além disso, de lei, cumprem na biologia papéis equiva‑
Ruse assinala­ que embora seja verdade que lentes aos que tradicionalmente são atribuí­
existiriam exce­ções à lei da segregação, es‑ dos às leis, como, por exemplo, o de serem
pecialmente pela existência de genes extra‑ explicativas – consiste em distinguir dois ti‑
cromossômicos, essas exceções alcançariam pos de generalizações: as empíricas – even‑
uma proporção muito pequena do total dos tualmente não universais e contingentes ou
casos analisados pela genética, pelo menos de necessidade nômica limitada – e as não
com certeza não maior do que a encontra‑ empíricas – mas explicativas –, e em susten‑
da na maioria das leis físicas (Ruse, 1970, p. tar que pelo menos algumas (das) leis bioló‑
243­‑244). gicas (mais fundamentais) ou princípios são
Por outro lado, temos visto que a tese do segundo tipo. Esta é a estratégia seguida
da contingência evolutiva é suficiente para por autores como Brandon (1978, 1997),
que Beatty negue que as generalizações bio‑ Sober (1984, 1993, 1997) e Elgin (2003).
lógicas sejam leis. Contudo, mesmo quan‑ De acordo com o primeiro (Brandon
do admite não saber se existem leis físicas 1978, 1997), as generalizações desse tipo
ou químicas, concede que é possível que as são leis esquemáticas, ou esquemas de lei,
generalizações físicas ou químicas, que são que carecem de conteúdo empírico por si
verdadeiras com respeito aos mundos vivo mesmas, ou seja, que não possuem conteú‑
e não vivo, sejam contingentes, talvez não do empírico biológico, e são, rigorosamente
evolutivamente, mas “cosmologicamente” falando, matemática aplicada a problemas
contingentes. De fato, como assinala Carrier biológicos. Nesse sentido, são analíticas, e
(1995), a tese da contingência evolutiva constituem princípios organizadores das

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teorias empíricas das quais são originárias, da experiência sensível (Sober, 1984, p. 65;
tendo um papel essencial em todas as expli‑ Sober, 1997, p. S458­‑S459).
cações que essas teorias proporcionam. Mas Contudo, apesar de que as proposições
se essas generalizações carecem de conteú‑ dos modelos matemáticos da biologia evolu‑
do empírico enquanto esquemas de lei, não tiva são a priori, Sober (1984, 1993) enfatiza
ocorre o mesmo com seus pressupostos de tanto seu caráter não trivial quanto o fato de
aplicabilidade, nem com suas instanciações, serem passíveis de revisão à luz da experiên­
que são empíricos. Brandon (1997) reco‑ cia, isto é, de serem contrastáveis* empirica‑
menda algo que denomina “conservadoris‑ mente. Mesmo no caso em que tais propo‑
mo linguístico”, que consiste em manter a sições sejam concebidas como tautologias
caracterização clássica de lei e em reconhe‑ – seja por serem verdades matemáticas ou,
cer que outras coisas diferentes das leis, as‑ como em uma das interpretações habituais
sim caracterizadas, podem ter poder expli‑ do princípio da seleção natural, que ele rejei‑
cativo, sejam regularidades empíricas, mas ta (Sober, 1984, p. 74; 1993, p. 69­‑73), por
contingentes, ou generalizações não empí‑ constituírem definições –, é uma questão em‑
ricas (citando como exemplos desse último pírica (Sober, 1993, p. 16, 18, 73) saber se as
tipo o princípio de seleção natural, a lei de condições estipuladas pelo modelo proposto
Hardy­‑Weinberg e a explicação de Galton de se cumprem, isto é, determinar se o modelo
regressão em direção à média). se aplica ou não, ou se há entidades que se
Em diversos trabalhos, Sober (1984, ajustem à suposta definição proporcionada
1993, 1997) argumentou que o processo da por elas (Sober, 1984, p. 81).
evolução está governado por modelos (tais Nessa mesma linha de pensamento,
como o teorema fundamental da seleção sustenta que, inclusive quando uma genera‑
natural de Fisher, o modelo de Kimura da lização utilizada em uma explicação pudesse
evolução neutra ou a lei de Hardy­‑Weinberg) ser uma verdade matemática, “[l]a explica‑
que, na medida em que constituem leis de ção como um todo é empírica, devido a outros
processos caracterizadas por serem generali‑ dos seus componentes” (Sober, 1984, p. 79),
zações qualitativas, que dão apoio a contra‑ dado que, como ensinam Duhem e Quine,
fáticos e que descrevem relações causais e
asseverações altamente teóricas resultam
explicativas –, dizendo como os sistemas do
em predições observacionais somente
tipo especificado se desenvolvem no tempo e quando são associadas a outros pressupos‑
governando, assim, as trajetórias das popula‑ tos [o que] mostra por que pode ser difícil
ções, ao descreverem a probabilidade de dis‑ ver se uma asserção teórica é contrastável
tribuição dos estados que o sistema poderia empiricamente, uma vez que não é possível
ocupar em alguma quantidade determinada determinar isso examinando a afirmação
de tempo posterior –, podem ser conhecidos de maneira isolada. (Sober, 1984, p. 73)
como verdadeiros a priori, independente
Por outro lado, Sober (1997) suge‑
re um modo de transformar – mediante
* a explicitação da cláusula ceteris paribus
N. do Org. Em português difundiu­‑se o uso do
ou, como teria que denominá­‑la seguindo
termo “testar” (e correlatos, “teste” etc.), que
Joseph (1980), ceteris absentibus implícitas
constituem anglicismos (to test, e correlatos, em
inglês). Em espanhol, usa­‑se “contrastar” (e cor‑
nos modelos evolutivos – as generalizações
relatos, “contrastação”, etc.), para designar os biológicas contingentes em leis não contin‑
procedimentos envolvidos em passar as teorias gentes (Sober, 1997, p. S459­‑461), relacio‑
(e outras construções científicas) pelo crivo da nando, assim, mediante certa “formulação
experiência, ou em submetê­‑las ao tribunal da apropriada”, a ideia de leis biológicas (de
experiência, metáforas que se consolidaram por processo) a priori – ou enunciados gerais “do
tradição. Optamos por manter, neste capítulo, a tipo ‘se/então’” (Sober, 1993) – com a tese
terminologia empregada na versão original. da contingência evolutiva apresentada por

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Filosofia da biologia 65

Beatty. Para isso propõe, em primeiro lugar, biológicas a priori como evidência de que o
representar a tese da contingência evolutiva requisito empírico é forte demais. Eu sou fa‑
apresentada por Beatty da seguinte maneira vorável à última opção. Uma das implicações
(Sober, 1997, p. S460): de abandonar esse requisito é que a biologia
sim possui leis. (Elgin, 2003, p. 1381)
I → [se P então Q]
to t1 t2
As concepções
onde I é o conjunto de condições iniciais semânticas das teorias
contingentes obtidas em um tempo deter‑
minado (to), que causa uma generalização Começando com o trabalho de J. C. C.
ser verdadeira durante algum período de McKinsey, E. Beth e J. von Neumann, desen‑
tempo posterior (de t1 a t2). Devido a que a volvido entre as décadas de 1930 e 1950,
generalização é verdadeira somente porque torna­‑se cada vez mais estendida e acaba
se obteve I, poderíamos dizer que a genera‑ impondo­‑se em geral, próximo do final da
lização é contingente. “Contudo”, prossegue década de 1970 e na de 1980, uma nova ca‑
Sober, racterização das teorias científicas, denomi‑
nada concepção semântica das teorias (tam‑
há outra generalização que sugere este ce‑ bém chamada modelo­‑teórica, semanticista
nário, e não é nada claro que esta generali‑ ou modelista). Essa nova concepção é desen‑
zação seja contingente. Esta generalização volvida, entre outros, pelos respectivos se‑
terá a seguinte forma lógica: guidores dos autores acima mencionados, P.
(L) Se I é obtido em um tempo, en­tão a Suppes, B. van Fraassen e F. Suppe, além de
generalização [se P então Q] será válida R. N. Giere, nos Estados Unidos; M. L. Dalla
depois. (Sober, 1997, p. S460) Chiara e G. Toraldo di Francia, na Itália;
M. Przelecki e R. Wójcicki, na Polônia; G.
Poderíamos dizer, utilizando a ter‑ Ludwig, na Alemanha; N. C. A. Da Costa, no
minologia de Schaffner (1980, 1993), que Brasil; e a concepção estruturalista das teo‑
este procedimento permite “congelar” os rias, iniciada nos Estados Unidos por um es‑
acidentes “históricos” em “universalidade tudante de Suppes, J. Sneed, e desenvolvida
nômica”,7 mesmo que a priori. na Europa, principalmente na Alemanha,
Finalmente, baseado nas análises rea‑ por aquele que reintroduziu a filosofia ana‑
lizadas por Sober (1997) e tomando como lítica em geral e a filosofia da ciência em
exemplo a lei de Hardy­‑Weinberg, Elgin particular nos países de língua alemã e nos
(2003) também sustentou em um artigo re‑ outros países da Europa Central depois da
cente a existência de leis biológicas a priori. Segunda Guerra Mundial, W. Stegmüller, e
Sua argumentação consiste em afirmar que seus discípulos C. U. Moulines e W. Balzer,
generalizações biológicas não empíricas ou a e por J. A. Díez, J. L. Falguera, A. García
priori “aparecem em explicações e predições da Sienra, M. Casanueva, C. Lorenzano e
em biologia de um modo similar a como apa‑ P. Lorenzano, entre outros, na América ibé‑
recem as leis físicas em explicações e predi‑ rica, constituindo uma verdadeira família,
ções em física”; e que, embora usualmente com diferentes versões que compartilham
haja acordo no debate sobre as leis da na‑ alguns elementos gerais.
tureza em torno de que “as leis devem ser O slogan do enfoque semântico é o se‑
empíricas e universais”, prossegue Elgin, guinte: apresentar uma teoria não é apre‑
sentar uma classe de axiomas, é apresentar
ou bem temos que nos apegar ao requisi‑ uma classe de modelos. Um modelo, em
to empírico e dizer que tais generalizações sua acepção informal mínima, é um siste‑
biológicas a priori não são leis da natureza ma ou estrutura que pretende representar,
ou bem assumimos essas generalizações de maneira mais ou menos aproximada, um

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“pedaço da realidade”, constituído por enti‑ análise ou reconstrução metateórica é cen‑


dades de diversos tipos, que realizam uma trada nos modelos que determina, e não em
série de afirmações, no sentido de que nesse um conjunto particular de axiomas ou recur‑
sistema “ocorre o que as afirmações dizem” sos linguísticos por meio dos quais faz isso.
ou, mais precisamente, as afirmações são O enfoque semântico, que enfatiza a
verdadeiras nesse sistema. Por exemplo, se referência explícita aos modelos, mais do
consideramos a segunda lei de Newton, há que aos enunciados, pode parecer uma sim‑
vários sistemas ou “pedaços de realidade” ples revisão do enfoque sintático, próprio
nos quais ela é verdadeira (um corpo caindo da concepção clássica. De fato é uma revi‑
na superfície terrestre, um planeta giran‑ são, dado que pretende expressar de manei‑
do ao redor do sol, um pêndulo, etc.). Essa ra mais adequada uma ideia já contida na
ideia intuitiva pode ser precisada de diver‑ concepção anterior, mesmo que insatisfato‑
sos modos, sendo o mais usual aquele que riamente expressa. Mas não é uma simples
corresponde à teoria de modelos. revisão – se com isso se quer sugerir que se
Dado que a noção de modelo é uma trata de uma revisão sem importância –, na
noção fundamentalmente semântica (algo é medida em que é a conceitualização mais
um modelo de uma afirmação se a afirma‑ satisfatória de uma ideia essencialmente
ção é verdadeira com respeito a esse algo), correta, antes insatisfatoriamente conceitua­
e que sua análise mais comum é feita pela lizada. E exemplifica o tipo de progresso que
teoria de modelos, denomina­‑se concepção é possível aspirar em filosofia.
semântica este novo enfoque que enfatiza Até aqui, tratou­‑se da motivação e
a importância dos modelos na análise da justificativa da mudança de estratégia que
ciência. A concepção clássica é qualificada, caracteriza a família de concepções semân‑
contrariamente, como sintática devido à sua ticas. Quanto ao desenvolvimento dessa es‑
caracterização das teorias enquanto conjun‑ tratégia, cada membro da família faz isso
tos de enunciados e pela sua ênfase geral de um modo específico, não apenas tecni‑
nos aspectos linguístico­‑sintáticos. O slogan camente, mas também diferem com respei‑
mencionado expressa, portanto, o caráter to a questões filosóficas fundamentais. Não
distintivo da concepção semântica frente à compartilham, portanto, uma série de teses
concepção sintática clássica. filosóficas substantivas (além das gerais re‑
Essa opção não supõe, nem pretende, lativas à estrutura e natureza das teorias
prescindir dos enunciados ou, em geral, científicas), mas, sim, um modo e um mar‑
das formulações linguísticas; não pretende co no qual colocar os problemas filosóficos.
que os recursos linguísticos sejam supérflu‑ A mesma coisa ocorria no seio da concep‑
os para a caracterização metateórica das ção herdada, onde o acordo geral sobre o
teorias. É claro que é preciso uma lingua‑ enfoque axiomático era compatível com di‑
gem para determinar ou definir uma clas‑ ferenças radicais em temas filosóficos subs‑
se de modelos. Os modelos, na medida em tantivos, como o do realismo, da explica‑
que forem determinados explicitamente, e ção ou da causalidade. Contudo, apesar de
de ma­neira precisa, na análise metateórica, suas diferenças, as diversas caracterizações
são determinados por meio de uma série de da noção de teoria que são feitas dentro da
axiomas, princípios ou leis, isto é, mediante família semântica têm alguns elementos
enunciados. Ninguém pretende negar isso. A em comum:
única coisa que se pretende é que os concei‑
tos relativos a modelos são mais proveitosos 1. Uma teoria caracteriza­‑se em primeiro
para a análise filosófica das teorias científi‑ lugar, como já vimos, por determinar um
cas, da sua natureza e funcionamento, que os conjunto de modelos; apresentar/iden‑
conceitos relativos a enunciados; que a natu‑ tificar uma teoria é apresentar/identi‑
reza, função e estrutura das teorias é melhor ficar a família dos seus modelos carac‑
compreendida quando sua caracterização, terísticos. A determinação dos modelos

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Filosofia da biologia 67

é realizada por meio de uma série de empíricos dos quais queremos dar conta
princípios ou leis. As leis devem ser en‑ e os modelos determinados pelas leis.
tendidas, portanto, como definindo uma Essa relação pode ser de diversos tipos,
classe de modelos: “x é um modelo da mais fortes ou mais fracos, dependen‑
teoria... se e somente sedef _(...x...)”, do das versões. Pode ser de identidade,
onde _ expressa as leis em questão. Que ou de isomorfismo, ou de aproximação,
isso seja uma definição, que as leis defi‑ ou de subsunção, ou de similaridade.
nam os modelos, não significa, é claro, O essencial é que a asserção empírica
que uma teoria seja uma definição, ou expressa a pretensão de que nossa teo‑
que seja verdadeira por definição, ou ria represente adequadamente a “reali‑
coisas parecidas; significa apenas que as dade”, ou seja, que nossos modelos se
leis determinam quais entidades se com‑ “apliquem bem” aos sistemas que é pre‑
portam de acordo com a teoria. ciso explicar.
2. Uma teoria não apenas determina, por
meio de suas leis, uma classe de mode‑ Já se tentou usar as diferentes concep‑
los. Se somente fizesse isso, pouco tería­ ções semânticas das teorias na análise espe‑
mos. Já sabemos, por exemplo, o que é, cífica de diversas teorias científicas particu‑
de modo abstrato, um sistema mecâni‑ lares, entre as quais podemos contar várias
co. O que fazemos só com isso? Nada, que pertencem ao âmbito das ciências bioló‑
uma vez que definimos os sistemas gicas, biomédicas e bioquímicas.8 Essas aná‑
mecânicos para conseguir algo mais, lises, por sua vez, são feitas tanto por meio
talvez, por exemplo, para explicar o de um uso intuitivo, informal ou lato quanto
comportamento do par de objetos Terra­ sistemático das ferramentas conceituais des‑
‑Lua. Uma teoria determina uma classe sas metateorias visando ao esclarecimento
de modelos para alguma coisa: para dar de algum aspecto ou problema vinculado
conta de certos dados, fenômenos ou com (alguma(s) da(s)) conceitualizações
experiências correspondentes a deter‑ ou teorizações pertencentes a esses campos
minado âmbito da realidade. Parte da científicos.
identificação da teoria consiste, então,
na identificação desses fenômenos em‑
píricos dos quais se pretende dar conta. A noção de lei
3. Uma vez identificados os modelos teóri‑ fundamental na concepção
cos abstratos e os fenômenos empíricos estruturalista das teorias
dos quais se pretende dar conta, temos
o essencial da teoria. O que faz a teoria Em seções anteriores, primeiro expu‑
é definir os modelos com a pretensão de semos e analisamos a elucidação clássica do
que representem de maneira adequada conceito de lei e, depois, acompanhamos a
os fenômenos, ou seja, com a pretensão discussão no âmbito filosófico sobre a exis‑
de que os sistemas que constituem os fe‑ tência de leis em biologia, articulada em
nômenos dos quais queremos dar conta torno das temáticas da universalidade, da
estejam entre os modelos da teoria. Em necessidade e do caráter a priori dessas leis.
termos tradicionais, esperamos que tais Nesta seção, tentaremos mostrar como essas
fenômenos concretos satisfaçam as leis questões podem ser abordadas por meio da
da teoria, que se comportem como as noção de lei fundamental proposta no mar‑
leis dizem. Essa pretensão torna­‑se ex‑ co da concepção estruturalista das teorias
plícita mediante um ato linguístico ou científicas – também chamada concepção es­
proposicional, mediante uma afirmação, trutural, estruturalismo metateórico, e, mais
a afirmação ou asserção “empírica” da raramente, estruturalismo alemão (Redman,
teoria. A asserção empírica afirma que 1989) ou escola estruturalista alemã (Suárez
há uma certa relação entre os sistemas e Cartwright, 2008).9

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Como vimos na seção “O conceito clás‑ qualquer formulação correta da lei deveria
sico da lei”, apesar dos sucessivos e renova‑ incluir necessariamente todos os termos re‑
dos esforços realizados, ainda não dispomos lacionais (e, implicitamente, também todos
de um conceito satisfatório de lei científica, os conjuntos básicos) e, portanto, definiti‑
isto é, de um conjunto adequado de condi‑ vamente, todos os conceitos fundamentais
que caracterizam essa teoria. (Moulines,
ções necessárias, suficientes e precisas como
1991, p. 234)
critério para que um enunciado seja conside‑
rado como “lei”. Mais do que isso, Nas formulações mais fracas não se
[é] provável que nenhum conjunto de con‑ exige que nas leis fundamentais ocorram to‑
dições, que parecesse satisfatório para to‑ dos os conceitos fundamentais, mas apenas
dos, possa ser alguma vez encontrado, uma “várias das magnitudes” (Stegmüller, 1986,
vez que a noção de lei é uma noção forte‑ p. 23), “diversas funções” (Stegmüller, 1986,
mente histórica, dependente da disciplina. p. 93), “possivelmente muitos conceitos teó­
(Balzer, Moulines e Sneed, 1987, p. 19) ricos e não teóricos” (Stegmüller, 1986, p.
386), “quase todos” (Balzer, Moulines e
Por isso, dentro da tradição estrutura‑ Sneed, 1987, p. 19) ou “pelo menos dois”
lista, quando se discutem os critérios para (Stegmüller, 1986, p. 151) conceitos. Qual­
que um enunciado seja considerado uma lei quer das formulações do critério permite
fundamental de uma teoria, a tendência é que diferenciemos as leis fundamentais das
falar de “condições necessárias” (Stegmüller, “meras” caracterizações dos conceitos indi‑
1986), de “condições necessárias fracas” viduais (ou inclusive de possíveis leis espe‑
(Balzer, Moulines e Sneed, 1987); ou melhor ciais), nas quais os termos ocorrem de ma‑
ainda, apenas de “‘sintomas’, alguns inclusive neira isolada.
formalizáveis” (Moulines, 1991), embora

em cada caso particular de reconstrução


Aplicações intencionais da teoria
de uma teoria dada, parece, via de regra,
ser relativamente fácil chegar a um acordo, Esse critério permitiria discriminar as
com base em considerações informais ou
leis fundamentais das leis especiais, que,
semiformais […], sobre se um determinado
embora sinóticas, somente são válidas em
enunciado deve ser tomado como lei fun‑
damental da teoria em questão. (Moulines,
algumas, mas não em todas, as aplicações
1991, p. 233) da teoria. Segundo ele, não é necessário que
as leis fundamentais das teorias possuam­um
Na literatura estruturalista, frequen‑ alcance ilimitado, sejam aplicáveis em todo
temente são mencionados quatro critérios tempo e lugar e tenham como universo de
como condições necessárias, condições ne‑ discurso algo como uma “grande aplicação”,
cessárias fracas ou “sintomas” para ser lei que constitui um modelo único ou “cósmi‑
fundamental: co” (Stegmüller, 1979; Mosterín, 1984);
basta que se apliquem a sistemas empíricos
1. o caráter sinótico; parciais e bem delimitados (o conjunto de
2. que seja válida em todas as aplicações aplicações intencionais). De fato, como vi‑
intencionais da teoria; mos na seção “O conceito clássico da lei”,
3. o caráter quase vácuo (empiricamente); somente as leis fundamentais de algumas
4. o papel sistematizador. teorias cosmológicas, que são aplicáveis ao
modelo cósmico, entre poucas outras, são
O caráter sinótico universais nesse sentido. Contudo, esta não
é a situação habitual. As leis da física nor‑
Esse critério tem recebido diferentes malmente são aplicadas a sistemas físicos e
formulações, algumas mais fortes do que ou‑ bem delimitados (o conjunto de aplicações
tras. De acordo com a mais forte delas, intencionais), e não ao modelo cósmico. E

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Filosofia da biologia 69

isso também vale para a ciência empírica de presente a distinção kantiana entre princí‑
modo geral. Das leis fundamentais, então, pios a priori constitutivos e regulativos, pro‑
não se afirma que valem em todo tempo e põe substituir o a priori constitutivo de Kant
lugar, mas sim em todos os modelos da teo‑ por um ideal puramente regulativo, sobre
ria; e supõe­‑se que sejam válidas em todas o qual voltaremos mais adiante. Também
as aplicações (propostas ou intencionais) da encontramos essa noção em autores como
teoria, enquanto as leis mais específicas se‑ Reichenbach (1920) – que rejeita a ideia de
riam aplicáveis a domínios mais restritos. juízos sintéticos a priori – em que o a priori
é absolutamente fixo e impossível de revi‑
sar, incorporado de uma vez por todas em
O caráter quase vácuo nossas capacidades cognitivas fundamen‑
tais, mas aceita uma concepção relativizada
Esse “sintoma” refere­‑se ao fato de que e dinâmica deste, que muda e se desenvol‑
as leis fundamentais são altamente abstra‑ ve juntamente com o desenvolvimento dos
tas, esquemáticas, suficientemente vácuas e princípios pertencentes às próprias ciências
com ocorrência essencial de termos próprios, matemática e física, mantendo a função
distintivos, dependentes da teoria (chama‑ constitutiva – caracteristicamente kantiana
dos “T­‑teóricos”), de modo a resistir qual‑ – de estruturar e dar um marco ao conhe‑
quer possível refutação, mas que, contudo, cimento empírico natural mediante esses
adquirem conteúdo empírico específico (e princípios, tornando­‑o, assim, possível. A
a possibilidade de serem contrastadas) me‑ noção proposta por Reichenbach é retoma‑
diante um processo não dedutivo conhecido da e desenvolvida, mais recentemente, por
com o nome de “especialização” (Moulines, Friedman (1993, 1994, 1997, 2000, 2002,
1991). Esse processo, por meio do qual são 2004) e mencionada por Kuhn (1993), além
obtidas as leis mais específicas, chamadas de desenvolvida por ele (Kuhn, 1962/1970,
“especiais”, a partir de uma(s poucas) lei(s) 1974a, 1974b, 1976, 1983a, 1983b, 1989a,
fundamental(is) de uma teoria, consiste na 1990) em uma linha de pensamento muito
introdução de restrições ulteriores, constri‑ próxima à da concepção estruturalista. Um
ções ou especificações a (alguns dos com‑ dos componentes essenciais dos paradigmas
ponentes de) essa(s) lei(s), de maneira tal ou matrizes disciplinares são as “generaliza‑
a ir concretizando­‑a progressivamente em ções simbólicas”, que, “segundo a análise de
várias direções, até desembocar finalmente Stegmüller […] não são mais do que as leis
nas chamadas “especializações terminais”, fundamentais do chamado ‘núcleo estrutu‑
onde todos os seus componentes estão espe‑ ral’ de uma teoria” (Moulines 1978/1982, p.
cificados.10 Moulines propõe a denominação 89). Devido a que as generalizações simbóli‑
de “empiricamente irrestritos” (1978/1982, cas parecem possuir características de enun‑
p. 96) para este tipo de enunciado que, por ciados tanto analíticos quanto sintéticos,
um lado, são irrefutáveis ou empiricamente além de serem “constitutivas” das teorias
vácuos, mas que, por outro o são em um sen‑ às quais pertencem (Kuhn, 1976, p. 189) e
tido diferente ao dos exemplos paradigmá‑ “necessárias” nesse contexto (Kuhn, 1983b,
ticos de enunciados analíticos, como “Todos p. 566­‑567; 1989a, p. 22, n. 19; 1990, p.
os solteiros são não casados”. Devido a esse 317, n. 17), diferentemente das formas
caráter peculiar das leis fundamentais, tam‑ simbólicas ou leis específicas, que não são
bém já foi sugerido considerá­‑las como um constitutivas das teorias nas quais apare‑
tipo particular de enunciados “quaseanalíti‑ cem e que “são todas […] totalmente con‑
cos” ou “sintéticos a priori”, mas com uma tingentes” (1983b, p. 566), Kuhn chega a
noção relativizada de a priori. Essa última caracterizá­‑las como quaseanalíticas (Kuhn,
noção é encontrada em alguns dos epígo‑ 1974a, p. 304, n. 14; 1976, p. 198 n. 9) e,
nos de Kant, entre os quais seria possível finalmente, como sintéticas a priori (Kuhn,
mencionar Cassirer (1910) – que, tendo 1989a, p. 22, n. 19; 1990, p. 317, n. 17).

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Da mesma maneira poderiam ser caracte‑ componente “a priori” das leis poderia ser
rizadas as leis fundamentais da metateoria relacionada a um outro modo de se en‑
estruturalista.11 tender a noção de “a priori constitutivo”
(e não “meramente regulativo”), a saber,
como uma ideia pragmática de constitui‑
O papel sistematizador ção, tal como é encontrada originalmente
nos pragmatistas, em Kuhn (1962/1970,
O último dos “sintomas” poderia ser 1989a, 1990), e que atualmente defendem
entendido como estabelecendo que as leis autores como Richardson (2002). A ideia é
fundamentais possibilitam incluir na mes‑ que os princípios a priori constituem as prá­
ma teoria diversas aplicações a diferentes ticas científicas, determinando, em grande
sistemas empíricos, ao proporcionar um medida, (algumas de) as ações que reali‑
guia e um marco conceitual para a for‑ zam os cientistas durante o desenvolvimen‑
mulação de outras leis (as denominadas to da sua prática, em particular, como já
“especiais”) que, como vimos, introduzem assinalamos, a especialização, mas também
restrições adicionais com respeito às leis outras tradicionalmente reconhecidas pela
fundamentais e aplicam­‑se, assim, aos sis‑ filosofia da ciência, e estreitamente vincu‑
temas empíricos particulares. Devido, en‑ ladas a ela, como a de contrastar hipóteses
tão, ao processo de “especialização”, que e a explicação.
estrutura as teorias de um modo fortemen‑ Mas vejamos agora, brevemente, como
te hierárquico, e à obtenção de aplicações se relaciona essa noção de lei fundamental
que têm “êxito”, é possível integrar os di‑ com as discussões sobre a universalidade, a
ferentes sistemas empíricos, “modelos” necessidade e o caráter a priori das leis da
ou “exemplares” sob uma única conceitu‑ biologia presentes nas seções anteriores.
alização, onde a(s) lei(s) fundamental(is)
ocupa(m) um lugar central. Normalmente
há uma única lei fundamental “no topo” Universalidade, necessidade e
da hierarquia e uma série de leis especiais aprioricidade das leis da biologia
com diversos graus de “concretude”, “espe‑
cificação” ou “especialização”. Além disso, “Quando os filósofos discutem leis da
tendo em vista que as leis fundamentais, natureza falam em termos de universalidade
por um lado, são quase vácuas, afirmando e necessidade”, escreve um dos mais impor‑
que se dão certas relações entre seus com‑ tantes representantes da família semanticis‑
ponentes, mas deixando esses componen‑ ta, à qual pertence a concepção estrutura‑
tes indeterminados até que sejam feitas as lista, Bas van Fraassen (1989, p. 1). Os dois
correspondentes especializações, e que, argumentos apresentados contra a existência
por outro lado, funcionam heuristicamente de leis biológicas referem­‑se, justamente, à
como guias ou regras para a formulação de sua falta de universalidade e de necessidade.
leis especiais progressivamente mais restri‑ Conforme vimos, com estes critérios parece
tivas, parecem possuir, em princípio, “um que não apenas deveriam ser descartadas
valor não constitutivo, mas meramente re­ as leis biológicas como tais, mas também as
gulativo” (Kant, 1781/1787, A 180/B 223) leis físicas mais respeitáveis. De fato, devido
e, nesse sentido, também parecem situar­‑se à falta de critérios não problemáticos para
na linha de pensamento de Cassirer (1910). as leis da natureza, van Fraassen (1989)
Ao funcionar, então, regulativamente, as propõe que se prescinda dessa categoria.
leis fundamentais determinam em grande Sua crítica ao conceito de necessidade natu‑
medida (algumas das) as ações que reali‑ ral ou nômica, e seu consequente ceticismo
zam os cientistas no desenvolvimento da quanto à noção de lei da natureza, é com‑
sua prática. Essa maneira de entender o partilhado por outros autores, como Swartz

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Filosofia da biologia 71

(1995). Aceitar isso, contudo, não implica válida em todas as aplicações intencionais
para eles que não existam equações fun‑ da mesma – e uma série de leis especiais –
damentais ou princípios básicos de teorias que se aplicam a um domínio mais restrito
que realmente estruturem a prática científi‑ – com diferentes graus de “concretude”, “es‑
ca real; mas sim que elas sejam concebidas pecificação” ou “especialização”.
como leis científicas (Swartz, 1995) ou leis Em relação à temática que se refere à
dos modelos (van Fraassen, 1989, 1993), por necessidade, seria possível sustentar que a
oposição às leis da natureza. Essas leis não noção estruturalista de lei fundamental é
são concebidas como regularidades empíri‑ neutra com respeito à disputa em torno da
cas que governam o mundo natural que nos natureza das leis – até onde sabemos, isso
rodeia – independentemente de se os seres não tem sido tratado na literatura estrutu‑
inteligentes possuem ou não conhecimento ralista, mas diremos alguma coisa a esse
dessas regularidades ou de se foi desenvol‑ respeito mais adiante – e, assim, compatí‑
vida uma representação simbólica apropria‑ vel com diferentes maneiras de analisar os
da ou não para pelo menos algumas dessas conceitos de acidentalidade e de necessida‑
regularidades –, mas como criações huma‑ de natural ou nômica. Em particular, a no‑
nas, como regularidades do mundo natural ção estruturalista é compatível – na linha
(ou, melhor ainda, do mundo modelado) co‑ apontada anteriormente, de restringir nos‑
nhecidas por nós, que foram postas em for‑ sa análise às leis científicas ou da ciência,
mas simbólicas apropriadas e adotadas em e de acordo com as considerações de Kuhn
nosso esforço coletivo de explicar, predizer e já introduzidas – com a seguinte posição:
controlar esse mundo. Nessa linha, concen‑ no que concerne à noção de necessidade,
tramo-nos nas leis científicas ou da ciência, quando­ ela é utilizada não é para atribuir
apresentando a elucidação que a concepção necessida­de natural, mas, no máximo – se‑
estruturalista das teorias faz do conceito de guindo também van Fraassen e Swartz –
lei (científica) fundamental e, em seguida, necessidade dos modelos determinados pe‑
discutiremos o correspondente status das las leis fundamentais. Nesse sentido, as leis
leis da biologia ou das ciências biológicas. fundamentais das respectivas teorias bioló‑
Primeiro, consideremos a condição de gicas devem ser consideradas como neces­
universalidade. Para a concepção estrutura‑ sárias em seu âmbito de aplicação, mesmo
lista, assim como para as outras versões da quando fora desse âmbito – que inclui (a
família semanticista, não é necessário que conceitualização de) os processos que de‑
as leis fundamentais das teorias possuam ram origem aos sistemas empíricos que o
um alcance ilimitado, se apliquem em todo formam – não deva ser assim.
tempo e lugar e tenham como universo de O aspecto anterior está em estreita re‑
discurso algo como uma “grande aplicação”, lação com o caráter não empírico ou a prio­
que constitua um modelo único ou “cósmi‑ ri que possuem (pelo menos algumas) das
co”; delas se requer, isso sim, que sejam váli‑ leis da biologia de acordo com as análises
das em todos aqueles âmbitos em que se supõe apresentadas na seção “Brandon, Sober e
que a teoria se aplica, em todas as aplicações Elgin sobre leis biológicas não empíricas ou
propostas ou intencionais da teoria. E a mes‑ a priori”. Segundo nosso entendimento, esse
ma coisa ocorre com as leis das ciências bio‑ caráter poderia ser melhor concebido como
lógicas. A maioria das teorias científicas (as “quase vácuo” ou “empiricamente irrestrito”
biológicas incluídas) possui leis de diferen‑ no sentido anteriormente assinalado, em vez
tes graus de generalidade dentro do mesmo de “não empírico”, suas leis fundamentais
marco conceitual, com uma única lei funda‑ compartilhando, assim, essa característica
mental “no topo” da hierarquia – que não com leis fundamentais de outras disciplinas
vale em todo tempo e lugar, mas em todos científicas, tais como a física. Desse modo,
os modelos da teoria, e supõe­‑se que seja consideramos que, em caso de se querer

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72 Abrantes & Cols.

continuar utilizando uma terminologia de de lei fundamental discutida na seção ante‑


longa tradição na filosofia, é mais adequa‑ rior, e como a lei de Hardy­‑Weinberg pode
do concebê­‑las como enunciados “sintéticos ser obtida de uma especialização daquela.
a priori”, mas com o a priori relativizado às Para concluir esta seção, gostaríamos
teorias para as quais as leis em questão são de retomar brevemente a problemática da
fundamentais – sendo assim, como vimos, natureza das leis. Como havíamos mencio‑
constitutivas dessas teorias, de seus concei‑ nado, nenhuma das principais alternativas
tos T­‑teóricos e de (certas) práticas associa‑ contemporâneas sobre essa problemática
das a elas; assim como, talvez, conceber tais carece de objeções e dificuldades, e atual‑
leis como regulativas com respeito a essas mente ainda se discute sobre elas. Contudo,
práticas –, em vez de como enunciados “ana‑ se também quiséssemos localizar nessas
líticos” ou “a priori”, entendido como oposto análises a elucidação estruturalista do con­
a empírico. O caráter de “não empíricas” ou ceito de lei científica fundamental, diríamos
“a priori” que acreditam perceber os auto‑ que essa proposta, pelo menos do modo em
res mencionados parece dever­‑se ao fato de que aqui foi caracterizada, pareceria advogar
que as consideram independentemente de um tipo de regularidade humeana, que apela
seu aspecto aplicativo, independentemen‑ para elementos epistêmicos, pragmáticos e/
te de uma avaliação sobre sua adequação ou contextuais. Segundo vimos, de acordo
empírica aos sistemas aos quais se pretende com essa elucidação poderíamos dizer que
aplicá­‑las, supondo, então, que caso sejam determinados enunciados constituem certo
satisfeitas as condições ou constrições que tipo de regularidade, se, sendo aceitos pela
estabelecem, irão cumprir­‑se em toda uma comunidade científica respectiva, além de
série de sistemas as relações que elas formu‑ possuírem determinadas características de‑
lam, mas sem determinar ainda em qual sis‑ sempenham um certo papel no marco ou
tema empírico particular são efetivamente contexto de alguma teoria científica; se,
satisfeitas. Em outras palavras, na “teoria” sendo aceitos por certa comunidade cien‑
ou no “modelo (matemático)” estabelecido tífica, possuem caráter sinótico, valem em
“funcionam” bem, são “verdadeiras”; “so‑ todas as aplicações intencionais, têm caráter
mente” resta saber se (alguma parcela de) quase vácuo e cumprem um papel sistemati‑
o “mundo” (e qual) se comporta de acordo zador, tudo isso sem recorrer a uma suposta
com elas; se (e onde) elas se aplicam com necessidade na natureza, mas pressupondo,
êxito. Além disso, nem todas as leis indica‑ isso sim, necessidade nos modelos determi‑
das por esses autores podem ser vistas como nados por esses enunciados.
as leis fundamentais das correspondentes Como assinalamos anteriormente (na
teorias nas quais aparecem. Aquelas que não seção “A natureza das leis”), a noção estru‑
são leis fundamentais (como estaríamos dis‑ turalista de lei fundamental é neutra, bem
postos a afirmar a respeito da lei de Hardy­ como a concepção estruturalista das teorias
‑Weinberg, seguindo van Fraassen 1987, p. em geral, a respeito da disputa filosófica em
110), deveriam ser consideradas como leis torno da natureza das leis, e o estruturalis‑
especiais e, assim, não como “quase vácuas” mo metateórico como tal somente se com‑
ou “empiricamente irrestritas” nem como promete com um tipo de teses filosóficas
“sintéticas a priori”. Mais ainda, na seção se‑ substantivas, a saber, aquelas gerais relati‑
guinte aprofundaremos o exame do exemplo vas à estrutura e natureza das teorias cientí‑
mencionado que, por outro lado, exige que ficas, mas não necessariamente com outras.
se tenha claramente identificado a teoria na Portanto, é perfeitamente compatível abra‑
qual ocorre a lei de Hardy­‑Weinberg. Assim, çar o estruturalismo metateórico e aceitar
veremos como a lei de concordância popula­ a elucidação apresentada do conceito de lei
cional, explicitada na reconstrução da gené­ científica fundamental, e tentar argumen‑
tica clássica de populações, ajusta­‑se à noção tar, de maneira independente, a favor de

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Filosofia da biologia 73

regularidades não humeanas ou realistas ou, A genética clássica de


inclusive, de um universalismo de qualquer populações e sua lei fundamental
tipo; ou ainda, tentar propor um tratamento
filosófico das leis naturais ou da natureza e A genética de populações geralmente
não apenas das leis científicas ou da ciên‑ é caracterizada como o estudo da origem
cia. Mas, é claro, o estruturalismo também e da dinâmica da variação genética dentro
é compatível com as regularidades de corte das populações ou, de modo equivalente,
humeano mencionadas acima. como o estudo da mudança na composição
(ou na estrutura) genética das populações,
de geração a geração, ao longo do tempo.
Leis e teorias em biologia: Por meio do cruzamento dos indivíduos de
o caso da genética uma população, e da ulterior produção da
clássica de populações seguinte geração, a composição genética da
população da qual eles são membros pode
Aqui discutiremos a problemática das ser afetada. Muitos fatores podem afetar a
teorias e das leis em biologia no marco da transmissão e a mudança na estrutura ge‑
concepção estruturalista das teorias cien‑ nética de uma população. Essas mudanças
tíficas e da sua noção de lei fundamental, constituem a “evolução” de uma população.
sob a luz de uma proposta de análise da Na literatura geralmente são mencionados
genética clássica de populações e de sua quatro fatores evolutivos, ou forças evolu‑
lei fundamental (Lorenzano, 2008b).12 Há tivas (as “causas” das mudanças): a migra‑
várias razões para a escolha desse caso. ção, a mutação, a seleção e a deriva gênica.
Uma delas é que diversos autores tenta‑ Por outro lado, os indivíduos de uma popu‑
ram reconstruir essa teoria, seja a partir lação possuem certos traços ou característi‑
de alguma variante informal da concep‑ cas que permitem identificar essa população
ção clássica (Ruse, 1973) seja a partir de e que, pelo cruzamento dos seus indiví­duos,
alguma das versões da concepção semân‑ distribuem­‑se na seguinte geração de uma
tica (Thompson, 1983, 1989, 2007, Lloyd, certa maneira – dada sob a forma de razões
1984, 1988). Outra razão é que tem sido numéricas ou frequências relativas. Essas
sustentada a centralidade dessa teoria no razões numéricas ou frequências relativas
âmbito da biologia, seja porque constitui o na distribuição dessas características nas
núcleo da teoria da evolução, seja porque sucessivas gerações constituem, basica‑
foi incorporada a ela, ou porque mantém mente, aquilo que nos permite contrastar a
certa relação essencial com ela, pelo menos genética (clássica) de populações (ou seja,
a partir do desenvolvimento da denomina‑ constituem sua “base (empírica) de contras‑
da “síntese” (Huxley, 1942) entre a teoria tação”), ao mesmo tempo que, dito de outro
da evolução por seleção natural e a gené‑ modo, permitem expressar aqueles fenôme‑
tica clássica, que ocorreu nas décadas de nos empíricos dos quais a teoria pretende
1930 e 1940. Sua análise torna­‑se, assim, dar conta ou explicar. Finalmente, supõe­‑se
necessária para a compreensão da teoria da certo tipo de relação – que denominaremos
evolução. Finalmente, uma de suas leis, a “determinação” – entre a composição gené‑
lei ou princípio de Hardy­‑Weinberg, é uma tica dos indivíduos das populações e suas
das que são trazidas ao debate quando se características – relação de “determinação”
discute a existência de leis em biologia, que poderia chegar a depender não apenas
sendo, inclusive, para alguns, a lei funda‑ da composição genética, mas também do
mental da genética (clássica) de popula‑ ambiente no qual os indivíduos da popula‑
ções (ver seção “Brandon, Sober e Elgin ção se desenvolvem.13
sobre leis biológicas não empíricas ou a A lei fundamental da genética clássi‑
priori”). ca de populações determina o modo de dar

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74 Abrantes & Cols.

conta das distribuições dos traços ou carac‑ genético­‑não teóricos, mais acessíveis empí‑
terísticas nas gerações sucessivas. Ela esta‑ rica ou independentemente – os indivíduos
belece que: (progenitores e descendentes) e populações
(progenitoras e descendentes), o conjunto
• dadas certas populações – que se cru‑ das características, a atribuição de caracte‑
zam e deixam descendência (gerações rísticas aos indivíduos e às populações, e de
seguintes); descendentes aos progenitores, bem como
• dadas certas relações entre genes (ge‑ as frequências relativas das características
nótipos) e características (fenótipos nos observadas na descendência.
quais se expressam genes com distintos Por outro lado, a lei de concordância
graus de dominância ou epistasia); populacional sendo altamente esquemática e
• dados certos fatores evolutivos geral, e possuindo tão pouco conteúdo empí­
rico, é irrefutável (tem um caráter quase vá‑
tem lugar na descendência uma concordân‑ cuo). Então, se a frequência relativa das ca‑
cia (seja ela exata ou aproximada)14 entre as racterísticas for determinada empiricamente
distribuições (frequências relativas) de carac‑ e a distribuição dos genes for postulada hi‑
terísticas (fenótipos) e as distribuições dos poteticamente, checar que os coeficientes na
genes (genótipos) postuladas teoricamente distribuição de características e de genes na
(probabilidades esperadas ou teóricas). descendência são (aproximadamente) iguais,
Essa lei, que, por analogia com o nome sem introduzir restrições adicionais de ne‑
já utilizado para a lei fundamental da gené‑ nhum tipo, consiste em uma tarefa “de lápis e
tica clássica (mas não de populações), deno‑ papel” e não envolve nenhum tipo de trabalho
minaremos “lei de concordância populacio‑ empírico. Contudo, como ocorre com toda lei
nal”, embora não formulada explicitamente fundamental, apesar de ser ela mesma irrefu‑
na literatura genética, subjaz de maneira tável, fornece um marco conceitual dentro do
implícita nas formulações habituais dessa qual é possível formular leis especiais, cada
teoria, sistematizando­‑a, dotando de senti‑ vez mais específicas (e de âmbito de aplicação
do a prática dos geneticistas populacionais mais limitado) até chegar às “terminais”, cujas
e unificando os diversos modelos heterogê‑ asserções empíricas associadas podem ser vis‑
neos sob uma e a mesma teoria. tas como hipóteses particulares contrastáveis
Podemos ver facilmente que na lei de e, eventualmente, refutáveis.
concordância populacional proposta é pos‑ Além disso, poderíamos afirmar que
sível identificar os elementos presentes nas essa lei foi aceita implicitamente como váli­
leis fundamentais, que foram assinalados na da em todas as aplicações da teoria pela co­
seção “A noção de lei fundamental na con‑ munidade de geneticistas de populações,
cepção estruturalista das teorias”. que a adotaram como pano de fundo geral
Em primeiro lugar, a lei de concordân­ para corrigir as hipóteses teóricas propostas
cia populacional distingue­‑se como uma e realizar análises particulares das diferentes
lei sinótica, ao conectar de um modo in‑ distribuições de características encontradas,
separável os termos mais importantes da obtendo, assim, um guia para a pesquisa e o
genética clássica de populações em uma tratamento específico dessas diversas si­tuações
“grande” fórmula. Aí figuram tanto os ter‑ empíricas (caráter “sistematizador”).
mos próprios ou distintivos da genética, os A presença de todos esses elementos
genético­‑teóricos – os conjuntos dos fatores na lei de concordância populacional justifica,
ou genes (genótipo), o conjunto de fatores então, que esta, como toda lei fundamental,
evolutivos, as distribuições de probabilida‑ seja considerada como “sintética a priori”, no
de dos genes na descendência e as relações sentido relativizado, constitutivo e regulativo
postuladas entre os genes e as característi‑ examinado anteriormente: relativizado com
cas – quanto os que não lhe são próprios, os respeito à genética clássica de populações;

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constitutivo da teoria em questão, assim como De fato, é possível mostrar que, par‑
também de seus conceitos genético clássicos tindo da lei de concordância populacional,
de população, teóricos e de certas práticas as‑ podemos obter a lei de Hardy­‑Weinberg se
sociadas a essa teoria; e regulativo, mais uma são feitas especificações adequadas do tipo
vez, com respeito a essas práticas. a), c), d) e e). Assim, sua “dedução” somen‑
O papel primário da lei de concordân‑ te ocorre se são acrescentados uma série de
cia populacional foi o de guiar o processo de pressupostos (premissas) adicionais. Além
especialização, determinando os modos nos disso, nessa “dedução” não são feitas todas
quais ela deve ser especificada para obter leis as especificações; em particular, não se es‑
especiais. De acordo com ela, para contrastar pecifica de que modo os fatores se vincu‑
as hipóteses teóricas avançadas e dar conta lam com as características, razão pela qual,
das distribuições das características parentais apesar de ser uma especialização, a lei de
na descendência é preciso especificar: Hardy­‑Weinberg não pode ser considerada
uma “especialização terminal”. Mais do que
a) o número de pares de genes envolvidos; isso, nessa lei não encontramos nenhuma
b) o modo no qual os genes se relacionam das condições necessárias, ou “sintomas”,
com as características – tendo dominân‑ assinaladas na seção “A noção de lei funda‑
cia completa ou incompleta, codominân‑ mental na concepção estruturalista das teo‑
cia ou epistasia, dependendo do caso; rias” (ou seja: ter caráter sinótico, validade
c) o número de fatores evolutivos que pre‑ em todas as aplicações intencionais da te‑
cisam ser considerados; oria, caráter quasevácuo e papel sistemati‑
d) a natureza dos fatores evolutivos que zador). Desse modo, está claro que a lei de
devem ser considerados (se migração, Hardy­‑Weinberg não deveria ser considera‑
mutação, seleção e/ou deriva gênica) e da como a lei fundamental da genética clás‑
e) a forma em que se distribuem os genóti‑ sica de populações.
pos parentais na descendência (ou seja,
o modo com que muda a composição ge‑
nética das populações parentais). Notas

As diversas possibilidades de espe‑ 1. Este trabalho foi realizado com a ajuda dos
cialização podem ser realizadas parcial ou projetos de investigação PICTR, 2006 Nº 2007
totalmente, de maneira isolada ou conjun‑ e PICT2007 Nº 1558 da Agência Nacional de
Promoção Científica e Tecnológica (Argentina) e
tamente. Cada especificação estabeleceria FFI2008­‑01580 e FFI2009­‑08828 do Ministério
condições que, frente a certas situações ou de Ciência e Inovação (Espanha).
sistemas particulares considerados, pode‑ 2. Para as vicissitudes pelas quais atravessou a filo‑
riam ser qualificadas como “mais realistas”. sofia da ciência dos imigrantes centro­‑europeus
A geralmente chamada “lei de Hardy­ nos Estados Unidos durante a Guerra Fria, ver
Reisch (2005).
‑Weinberg” é um exemplo de especificação. 3. Para exemplos de análises dentro da concepção
Em sua formulação padrão estabelece que, clássica de teorias científicas, pertencentes tan‑
se for considerado um único gene com so‑ to às ciências formais quanto às empíricas, ver
mente dois alelos, A e a, é possível demons‑ Carnap (1958), que inclui alguns dos resulta‑
trar matematicamente que as frequências, dos de Woodger (1937).
4. Para uma apresentação e crítica dessas ideias,
ou proporções relativas, dos alelos A e a na ver Lorenzano (1995).
população não mudarão de uma geração 5. Para uma exposição e discussão das críticas à
para outra, após a segunda geração (ou, o concepção clássica das teorias, ver, entre ou‑
que vem a ser o mesmo, que o reservatório tros, Stegmüller, 1970; Suppe, 1974a; Díez e
gênico estará em um estado estacionário – Lorenzano, 2002a.
6. Para um estudo mais detalhado, consultar
em equilíbrio – com respeito a esses alelos), Armstrong, 1983, e van Fraassen, 1989. Ver
quando se cumprem certas condições.15 também este último, Cartwright, 1983, 2005

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e Giere, 1995, para posturas céticas sobre qual‑ 11. Ver Lorenzano (2008a) para diferentes sentidos
quer noção de lei. nos quais se pode entender a noção de a priori
7. Para uma discussão mais profunda do trata‑ constitutivo e sua vinculação com o debate em
mento que Schaffner dá à acidentalidade e/ou torno das leis e teorias científicas.
à necessidade, assim como de outros aspectos 12. Para uma análise da teoria genética clássica,
da proposta desse autor, Lorenzano pode ser mas não de populações, ver Lorenzano (1995,
consultado (em produção). 1997, 2000, 2002), Balzer e Lorenzano (2000),
8. Para uma apresentação, e avaliação, concisa de e para uma análise similar à realizada aqui das
algumas das reconstruções de teorias em biolo‑ leis dessa teoria, com a identificação de sua lei
gia realizadas por meio da utilização tanto da fundamental e obtenção das chamadas “leis de
concepção clássica quanto das diferentes va‑ Mendel” como especializações dessa lei, ver
riantes semanticistas, ver Krohs (2004, 2005). Lorenzano (2006a, 2007a, 2007b, 2008a). Para
9. Ver Balzer, Moulines e Sneed (1987) para uma uma análise da lei fundamental da teoria da
apresentação completa, ou Díez e Lorenzano evolução por seleção natural de Darwin, o cha‑
(2002a), para uma apresentação sucinta dessa mado “princípio de seleção natural”, de acor‑
concepção metateórica. Dentro da família de do com a aqui realizada, ver Ginnobili (2007a,
concepções semânticas, a concepção estrutu‑ 2007b, em produção).
ralista é a que oferece uma análise mais deta‑ 13. Caso se considere conveniente levar em consi‑
lhada da estrutura fina das teorias, por meio deração o ambiente, este poderia ser incorpora‑
tanto do tratamento de uma quantidade maior do, sem dificuldades, na análise aqui apresen‑
de elementos quanto de uma melhora no trata‑ tada.
mento dos elementos identificados previamen‑ 14. Há concordância idealmente exata no caso em
te, ao mesmo tempo que é a que mais atenção que não se considerem as aproximações que a
tem dedicado à análise e reconstrução de teo‑ genética clássica de populações contém, assim
rias científicas particulares e a que maiores fru‑ como praticamente todas as teorias empíricas;
tos tem dado no esclarecimento dos problemas ou há concordância somente aproximada, de
conceituais e na explicitação dos pressupostos forma tal que, de acordo com algum procedi‑
fundamentais de teorias científicas concretas. mento estatístico – que estabeleça, por exem‑
Nancy Cartwright assim resume as duas vanta‑ plo, que não ultrapassem uma “ε” dada as dis‑
gens relativas da metateoria estruturalista com tâncias entre os coeficientes que representam
respeito a outras propostas semânticas: “Os uma distribuição teórica e os das frequências
estruturalistas alemães sem dúvida oferecem o relativas.
tratamento mais satisfatoriamente detalhado e 15. Ou seja,
bem ilustrado da estrutura das teorias científi‑ 1. que os organismos da população sejam di‑
cas disponível” (Cartwright, 2008, p. 65). Para ploides;
uma bibliografia (quase) completa até 1994, 2. que a reprodução seja sexual;
a partir da concepção estruturalista e sobre 3. que as gerações não se superponham, que
ela, ver Diederich, Ibarra e Mormann (1989, os indivíduos que pertençam a diferentes
1994). gerações não se cruzem ou acasalem;
10. As diversas possibilidades de especialização 4. que o cruzamento ou acasalamento entre
podem ser realizadas parcial ou totalmente, de indivíduos seja ao acaso, ou seja, aleatório;
maneira isolada ou conjunta. Uma especializa‑ 5. que o tamanho da população seja muito
ção em que tenham sido realizados totalmente grande (pelo menos suficientemente gran‑
os diferentes tipos de especificação denomina­ de para que se apliquem as leis da probabi‑
‑se “especialização terminal” ou “lei especial lidade);
terminal”. E são as “asserções empíricas” asso‑ 6. que a migração seja insignificante;
ciadas a essas especializações as que, em todo 7. que a mutação possa ser ignorada;
caso, seriam contrastadas (dirigindo a elas “os 8. que a seleção natural não afete os alelos em
dardos do modus tollens”) e avaliadas, isto é, questão.
aceitas ou rejeitadas, por constatar, ou não, que
os sistemas empíricos considerados cumprem
com o proposto pelas especializações termi‑ Referências
nais sugeridas. Caso “saiam vencedoras” da
contrastação, se as especificações introduzidas
monstrarem­‑se apropriadas, diz­‑se que as apli‑ ALLÉN, S. (Ed.). Possible worlds in humanities, arts,
cações pretendidas têm “êxito”, e é assim que and sciences. In: NOBEL SYMPOSIUM, 65., 1986,
os sistemas empíricos passam a ser “modelos” Berlin. Proceedings… Berlin: Nobel Symposium,
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