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DE
ESCOLA SUPERIOR DE TECNOLOGIA
Departamento de Engenharia Civil
ENGENHARIA DE TRÁFEGO
O SISTEMA PEDONAL
Janeiro de 2005
1 INTRODUÇÃO
Qualquer deslocação engloba sempre uma componente pedonal que poderá realizar-se
no seu início, meio ou fim. As deslocações são uma consequência das necessidades
gerais de mobilidade de pessoas ou bens, as quais são geradas pelas diversas actividades
económicas, sociais e de lazer.
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procurar a segregação máxima possível entre os sistemas viário e pedonal, o que
garante melhores condições de segurança e poderá assegurar mais rapidez e
comodidade;
assegurar uma interligação coerente da infra-estrutura pedonal com a
hierarquização viária e de cruzamentos. Como normalmente não é possível, nem
tão pouco racional, atingir uma segregação total, há que definir o nível de
prioridade relativa a atribuir, em cada caso, a cada sistema. As soluções a usar
deverão ser o mais normalizadas possível;
garantir a melhor interligação possível com outros modos de transporte e, entre
eles, prestando particular atenção à ligação aos transportes colectivos urbanos;
evitar soluções que conduzam a percursos pedonais extensos, na medida em que
a distância de percurso é um factor que condiciona a obtenção de bons níveis de
comodidade e de rapidez;
nas soluções projectadas dar particular importância às necessidades dos utentes
mais desfavorecidos (idosos, crianças e deficientes).
Nestes casos, importa definir os níveis de prioridade relativa, a atribuir aos sistemas
rodoviário e pedonal, em função da hierarquização viária e de cruzamentos. Convém
ainda destacar que os peões são os utentes mais vulneráveis do sistema de transportes,
pelo que a sua presença deverá constituir sempre uma preocupação de base.
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motivos e necessidades de deslocação (casa/trabalho, compras, lazer, convívio, etc.) e
que deverão ter-se em consideração.
Algumas zonas de interface modal, como sejam aeroportos, gares de caminho de ferro e
estações de metro, podem assumir grande complexidade, pelo que os objectivos gerais
de segurança, rapidez e comodidade, devem ser os orientadores da estratégia de gestão
adoptada. Algumas das técnicas usadas nestes casos são comuns às usadas nos outros
espaços pedonais. Quanto às restantes não se enquadram no âmbito do presente texto.
O corpo de um homem adulto, visto em planta (Figura 1), ocupa uma área aproximada
de 0,14 m2 (AUSTROADS, [2]). No entanto, para efeito de capacidade, considera-se
uma elipse de 0,46 m × 0,61 m equivalente a uma área de 0,21 m2.
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2.2 A velocidade de circulação
O peão desloca-se livremente com uma determinada velocidade, que pode oscilar entre
um mínimo de 0,74 m/s e um máximo de 2,39 m/s [2]. Esta grande variação deve-se a
um conjunto vasto de factores, uns intrínsecos ao próprio peão (idade, deficiências
físicas, sexo) e outros exteriores como sejam a hora do dia, o estado do tempo, o motivo
da viagem (casa-trabalho, lazer, etc), o tipo e características da infra-estrutura (passeio,
atravessamento viário ou zona pedonal) e a densidade pedonal (circulação livre,
condicionada ou congestionada).
Para a velocidade de circulação livre, de uma população normal, podem tomar-se como
referência os seguintes valores [1]:
Nos movimentos de peões, tal como nos de veículos, também é possível relacionar as
variáveis acima referidas através da expressão (1) onde as grandezas têm o significado
referido e são expressas nas unidades base.
P=V×D (1)
S=1/D (2)
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P=V/S (3)
P = 60 × V / S (4)
Por exemplo, uma velocidade de 1,25 m/s e um espaço de 1,5 m2/peão (densidade de
0,67 peão/m2), correspondem a um fluxo de 50 peões/min/m. Na Figura 2 apresenta-se
a relação típica entre espaço (S) e fluxo pedonal (P).
Fluxo
(Peões/min/m)
100
80
60
40
20
0
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5
Espaço (m2/peão)
1,50
1,25
Velocidade 1,00
(m/s) 0,75
0,50
0,25
0,00
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5
Espaço (m2/peão)
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2.4 Conceito de nível de serviço
A definição dos níveis de serviço será sempre algo subjectiva, particularmente no que
diz respeito aos valores dos fluxos que definem as diversas fronteiras. No entanto, a sua
escolha criteriosa com base na análise das relações fundamentais referidas, permite criar
uma escala de aplicação útil na avaliação da qualidade de funcionamento da infra-
estrutura pedonal.
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Tabela 1: Níveis de serviço para peões em movimento (adaptado de [1] e [2])
Restrições ao
movimento
NS (1) (2) (3) Aplicabilidade
(1) Movimento dominante; (2) Movimento não dominante; (3) Movimento de atravessamento; LL -
completamente livre; L - relativamente livre, com poucas restrições; R - com algumas restrições e
incómodas; S - Com severas restrições.
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2.4.2 Níveis de serviço para peões parados
Na definição dos níveis de serviço para peões parados (Tabela 2), o parâmetro
fundamental é o espaço médio disponível por peão. Além deste considera-se a distância
média entre peões, as possibilidades de contacto entre eles e de circulação no espaço, e
ainda o nível de conforto previsível.
Esperas prolongadas
D 0,3 – 0,6 0,6 – 0,9 Com alguma Muito desconfortáveis.
frequência limitada Exemplo: junto a
passad. semaforiz.
Em alguns Só aceitável em
E 0,2 - 0,3 < 0,6 momentos Não possível curtos períodos. Por
para todos os exemplo em
peões elevadores.
Sempre
F < 0,2 - Permanente Não possível extremamente
desconfortável.
Potencial a gerar
pânico em
multidões.
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3 DIMENSIONAMENTO DE PASSEIOS E ZONAS PEDONAIS
Além disso, os peões tenderão a evitar caminhar muito próximo da berma do passeio ou
das paredes dos edifícios, particularmente se nestes existirem montras onde as pessoas
param para apreciarem o que se encontra exposto.
Importa referir que a existência de um obstáculo isolado, apesar de ter uma influência
localizada, por si só não afecta o funcionamento de todo um passeio ou zona pedonal.
Tal sucede se existir uma repetição periódica desse obstáculo. Como exemplos podem
indicar-se as árvores e os parquímetros.
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Rua / Via Urbana
0,45
0,60
Largura
bruta
Largura
útil
0,90
0,60
0,45
Os valores até agora referidos conduzem a que se possa definir um conjunto de larguras
padrão mínimas para os passeios e que se indicam na Tabela 4.
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Tabela 4: Largura mínima de passeios (m)
Passeios com larguras inferiores a 1,5 m não são desejáveis em novas vias urbanas. No
entanto, poderá eventualmente justificar-se a utilização de valores inferiores em espaços
consolidados sujeitos a recuperação urbanística, quando se pretende defender a
segurança do peão em zonas particularmente perigosas ou ainda quando a competição
pelo espaço, entre peões e veículos estacionados, for muito forte e a fiscalização não se
mostre eficaz. Nestes casos podem adoptar-se as larguras mínimas apresentadas na
Tabela 5.
Nas zonas pedonais e, em particular nas ruas pedonais, os conceitos descritos para os
passeios são aqui igualmente aplicáveis. No entanto, convém referir que, enquanto nos
passeios se procura garantir boa capacidade e razoável conforto, nas zonas pedonais
normalmente não se colocam problemas de capacidade e o que se pretende é acautelar a
segurança pessoal. Isto porque, a certas horas do dia, existem sempre alguns troços mais
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isolados e nos quais deve ser dada particular atenção às condições de visibilidade e
iluminação.
4 ATRAVESSAMENTOS PEDONAIS
4.1 Generalidades
O tipo de solução mais indicado poderá variar desde as soluções mais simples (redução
da dimensão das entradas de um cruzamento por alteração do raio; melhoria da
visibilidade através da proibição do estacionamento reforçada pelo alargamento do
passeio em lancil; tratamento do pavimento na zona de atravessamento, etc.) até às mais
complexas e dispendiosas (semaforização dos atravessamentos ou passagens
desniveladas) passando por outras intermédias. A solução final resulta, em muitos
casos, da adopção simultânea de um conjunto de técnicas.
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base no critério referido consultando a Figura 5 e que se resume a nível quantitativo na
Tabela 7.
1500
1000
3 4
500
2
3
0
0 500 1000 1500 2000 2500
Fluxo Pedonal - P (Peões/h)
> 2 ×108 50 - 1100 400 - 750 [4] - passadeira zebrada com separador
> 2 ×108 > 1100 > 400 [5] - passadeira semaforizada c/ separador
Contudo existem algumas situações onde não se pode respeitar o critério baseado em
PV2, e nas quais se justifica a introdução de um atravessamento pedonal. Tal acontece,
por exemplo, nos seguintes casos:
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locais onde o transtorno para as comunidades seja elevado.
Podem apontar-se como soluções sem atribuição de prioridade aos peões as seguintes
intervenções:
a) Redução do raio das curvas ou introdução de curvas de raios múltiplos. Este tipo
de solução tende a reduzir as velocidades dos veículos e o tempo de exposição
dos peões ao tráfego automóvel. Há, no entanto, que verificar as necessidades de
manobra dos pesados e eventualmente proteger passeios com obstáculos que
previnam o seu galgamento intencional. Convém igualmente que se verifiquem
eventuais problemas de redução de capacidade viária, particularmente a causada
por estacionamento ilegal.
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o traço de paragem deve localizar-se a 2,0 m ou a um mínimo de 1,50 m;
colocar sinalização vertical indicativa de passadeira. Se existir sinistralidade
colocar ainda sinal de perigo afastado do atravessamento;
proibir estacionamento/ultrapassagens;
se necessário, utilizar bandas sonoras/sobreelevações para reduzir velocidade;
prever refúgio central se a largura do atravessamento for superior a 10 m.
Candeeiro
0,50
0,50
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as soluções devem, tanto quanto possível, permitir um atravessamento contínuo.
O separador central, quando existe, deve funcionar fundamentalmente como
última segurança;
só se deverão usar indicadores sonoros quando tal não possa ser mal
interpretado, o que acontece quando não se sabe a que atravessamento
corresponde. Apenas não há dúvidas nos atravessamentos simples.
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há algumas aplicações a nível experimental que recorrem a sensores (de
microondas e de pressão colocados no passeio) para tentar optimizar ainda mais
o seu funcionamento. Existem basicamente três estratégias de actuação
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atravessamentos em uma só fase, ou da demora dos peões nos atravessamentos em duas
fases, onde muitas vezes quase que se convidamos peões a atravessar uma das faixas
com vermelho. Um compromisso interessante é a solução de extensão do tempo de
limpeza (solução c). As soluções a) e b) resultam do modo semelhante, embora na
segunda se reforce a informação sobre a prioridade dos peões.
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< 4 anos
4% 5-12 anos
13%
> 60 anos
33% 13-16 anos
1%
17-24 anos
14%
20
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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