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Eros, erotismo e o processo pedagógico – Bell Hooks

dualismo metafísico ocidental

separação entre o corpo(sensibilidade, experiência*) e a mente (razão*)

Chamar atenção para o corpo é trair o legado de repressão e de negação que nos tem
sido passado por nossos antecessores na profissão docente, os quais têm sido,
geralmente, brancos e homens.

O mundo público da aprendizagem institucional é um lugar onde o corpo tem de ser


anulado, tem que passar despercebido.

o quão profundamente aceitamos o pressuposto de que a paixão não tem lugar na sala de
aula

Homens que se descobrem de algum modo pensando através do corpo são, mais
provavelmente, reconhecidos e ouvidos como pensadores sérios. Nós, mulheres, temos,
primeiro, que provar que somos pensadoras, o que é mais fácil quando nos
conformamos ao protocolo que considera o pensamento sério como separado de um
sujeito corporificado na história. Rich está sugerindo às mulheres que entrem nos
domínios do pensamento e do conhecimento crítico sem se tornarem um espírito
descorporificado — o homem universal.

*Até porque a mulher sempre foi representada como o lugar da sensibilidade, do


irracional, infantil, primitivo e inferior. Então o primeiro desafio é poder se mostrar
como capaz de ser racional. Mas como defende Haraway é necessário negar essa visão
de objetividade racional legada pelo homem branco e produzir conhecimento situado
em que o corpo torna-se parte fundamental de sua produção. Um corpo que vê e sente
e é capaz de conhecer o mundo a partir de suas experiências corpóreas.

Um dos princípios centrais da pedagogia crítica feminista tem sido a insistência em não
reforçar a "divisão" mente/corpo. Esta é uma das crenças subjacentes que fez dos
"Estudos da Mulher" um locus subversivo na academia.

A educação feminista para conscientização crítica está enraizada na suposição de que o


conhecimento e o pensamento crítico dados na sala de aula deveriam orientar nossos
hábitos de ser e modos de viver fora da sala de aula.

"a potênçia erótica não estava confinada ao poder sexual, mas incluía a força motriz
que faz com que qualquer forma de vida deixe de ser mera potencialidade para
alcançar sua plena realização". Dado que tal pedagogia crítica busca transformar
consciências, dotar as estudantes de modos de conhecimento que as capacitem a
conhecer melhor a si mesmas e a viver no mundo mais plenamente, ela deve em alguma
medida confiar na presença do erótico na sala de aula como uma contribuição ao
processo de aprendizagem.

A compreensão de que o erotismo é uma força que intensifica nosso esforço global de
auto-realização, de que ele pode fornecer uma base epistemológica que nos permita
explicar
como conhecemos aquilo que conhecemos, possibilita tanto professores quanto
estudantes a usar tal energia no contexto da sala de aula de forma a revigorar a
discussão e estimular a imaginação crítica.

busca do conhecimento que nos permite unir teoria e prática é uma dessas paixões. Na
medida em que nós, professoras e professores, carregamos esta paixão, que tem de estar
fundamentalmente enraizada num amor pelas idéias que somos capazes de inspirar, a
sala de aula se torna um lugar dinâmico no qual transformações nas relações sociais são
concretamente realizadas e a falsa dicotomia entre o mundo externo e o mundo interno
da academia desaparece.

Quando eros está presente no contexto da sala de aula, então o amor está destinado a
florescer. Persistentes distinções entre o "público e o privado fazem-nos acreditar que o
amor não tem lugar na sala de aula.

Professores e professoras que amam estudantes e são amados por eles ainda são
"suspeitos" na academia. Parte da suspeita baseia-se no temor de que a presença de
sentimentos, de paixão, possa impedir uma consideração objetiva do mérito de cada
estudante. Mas essa concepção está baseada na falsa pressuposição de que a educação é
neutra, de que há alguma base emocional "equilibrada" sobre a qual podemos nos apoiar
de modo a podermos tratar todos igualmente, desapaixonadamente.

Permitir que o sentimento de alguém, que o carinho e o desejo de apoiar indivíduos


particulares na sala de aula se expanda e atinja todos vai contra a concepção privatizada
de paixão.

Para restaurar a paixão pela sala de aula ou para estimulá-la na sala de aula, onde ela
nunca esteve, nós professores e professoras, devemos descobrir novamente o lugar de
Eros dentro de nós próprios e juntos permitir que a mente e o corpo sintam e conheçam
o desejo.

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