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O ALFAIATE DE GLOUCESTER

POR

BEATRIX POTTER
Author of "The Tale of Peter Rabbit," etc

"I'LL BE AT CHARGES FOR A LOOKING-GLASS,


 AND ENTERTAIN A SCORE OR TWO OF TAILORS"
Richard III

NEW YORK

FREDERICK WARNE & CO, INC

COPYRIGHT, 1903

1
BY

FREDERICK WARNE & Co.

COPYRIGHT RENEWED, 1931

[All rights reserved]

PRINTED IN THE U.S.A. BY PRINCETON POLYCHROME PRESS

ISBN O 7232 0594 9 (cloth) ISBN O-7232-6227-6 (paper)

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MY DEAR FREDA,

Because you are fond of fairy-tales, and have been ill, I have made you a story all for yourself—a
new one that nobody has read before.

And the queerest thing about it is—that I heard it in Gloucestershire, and that it is true—at least
about the tailor, the waistcoat, and the

"No more twist!"

Christmas, 1901

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O ALFAIATE DA CIDADE CHAMADA GLOUCESTER

Na época de espadas, perucas e casacos de saia cheia com lapelas floridas, quando
cavalheiros usavam babados e coletes de tecido de seda luxuoso e seda da Pérsia com
laços dourados, vivia um alfaiate em Gloucester.

Ele estava sentado na vitrine de uma pequena loja na Rua Portão do Oeste, de pernas
cruzadas sobre uma mesa, de manhã até escurecer.

Durante o dia inteiro, enquanto havia luz do dia, ele costurava e media, remendando
seu cetim e seda fina; os materiais de costura tinham nomes estranhos e eram muito
caros nos dias do Alfaiate de Gloucester.

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Mas, embora costurasse seda fina para os vizinhos, ele próprio era muito, muito
pobre – um velhinho de óculos, com o rosto comprimido, velhos dedos tortos e um
paletó rasgado.

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Ele cortava seus casacos sem desperdiçar nada, de acordo com o bordado do tecido.
Os cortes eram com extremidades muito pequenas e os pedaços estavam sobre a
mesa.

– Larguras muito estreitas. Exceto para fazer coletes para ratos. Disse o alfaiate.

Num dia frio e amargo perto da época do Natal, o alfaiate começou a fazer um casaco. Um casaco
de seda cor de cereja bordado com flores amores-perfeitos e rosas e um colete de cetim creme,
enfeitado com tecido fino e chenille de lã verde, para o prefeito de Gloucester.

O alfaiate trabalhou e trabalhou, e ele falou consigo mesmo. Ele mediu a seda, girou-a várias vezes
e a ajustou com suas tesouras; a mesa estava toda cheia de pedaços de tecido cor de cereja.

"Nada de largura e corte de cruz; não é largura de todo; Cachecol para ratos e fitas para a ralé! Para
ratos!" disse o alfaiate de Gloucester.

Quando os flocos de neve caíram contra as pequenas vidraças com chumbo e apagaram a luz, o
alfaiate fizera o trabalho do dia; toda a seda e cetim estavam cortados sobre a mesa.

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Havia doze peças para o casaco e quatro para o colete; e havia abas e punhos de bolso
e botões em ordem. Para o revestimento do casaco, havia um fino tafetá amarelo; e
para os botões do colete, havia um toque de cor de cereja. E tudo estava pronto para
costurar de manhã, tudo medido e suficiente, exceto que havia apenas um novelo de
seda torcida cor de cereja.

O alfaiate saiu de sua loja no escuro, pois não dormia lá à noite; ele fechou a janela e
trancou a porta e tirou a chave. Ninguém morava lá à noite, a não ser ratinhos
marrons, e eles corriam para dentro e para fora sem precisar de chave!

Por trás dos lambris de madeira de todas as casas antigas de Gloucester, há pequenas
escadas de rato e alçapões secretos; e os ratos correm de casa em casa por aquelas
longas e estreitas passagens; eles podem correr por toda a cidade sem sair para as
ruas.

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Mas o alfaiate saiu da loja e voltou para casa na neve. Ele morava bem perto da
Escola, próoximo à porta de Escola; e embora não fosse uma casa grande, o alfaiate
era tão pobre que apenas alugou a cozinha.

Ele morava sozinho com sua gata, que se chamava Simpatia.

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Durante o dia todo, enquanto o alfaiate estava trabalhando, Simpatia cuidava da casa
sozinho; e ele também gostava dos ratos, embora não lhes desse casacos de cetim!

"Miau!" disse a gata quando o alfaiate abriu a porta. "Miau!"

O alfaiate respondeu: “Simpatia, faremos nossa fortuna, mas estou exausto. Pegue
esta moeda, que são nossos últimos cinco centavos, e, pegue um cachimbo de
porcelana; compre centavo de pão, um centavo de leite e um centavo de salsichas. E,
oh, Simpatia, com o último centavo de nossos quatro centavos, compre-me um
centavo de seda cor de cereja. E não perca o último centavo, Simpatia, senão eu estou
frito como sardinha no óleo, pois NÃO TENHO MAIS DINHEIRO”.

Então Simpatia disse novamente: "Miau!" E pegou o moeda e a sacola, e saiu na


escuridão da noite.

O alfaiate estava muito cansado e começando a adoecer. Ele se sentou perto da lareira
e falou consigo mesmo sobre aquele casaco maravilhoso.

"Farei minha fortuna. O prefeito de Gloucester vai se casar no dia de Natal pela
manhã, e ele encomendou um casaco e um colete bordado – forrado com tafetá
amarelo – e o tafetá é suficiente; e as sobras em pedaços servirão para fazer cachecol
para os ratos"

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Então o alfaiate começou; e de repente interrompendo-o veio uma série de pequenos
ruídos da cômoda do outro lado da cozinha:

Tip tap, tip tap, tip tap tip!

"Agora o que pode ser isso?" disse o Alfaiate de Gloucester, pulando da cadeira. A
cômoda estava coberta de louças e copos, pratos de louça pintada, xícaras de chá e
canecas.

O alfaiate cruzou a cozinha e ficou quieto ao lado da cômoda, ouvindo e espiando


através dos óculos. Mais uma vez de debaixo de uma xícara de chá, vieram aqueles
barulhinhos engraçados:

– Tip tap, tip tap, Tip tap tip!

"Isso é muito peculiar", disse o Alfaiate de Gloucester; e ele ergueu a xícara de chá
que estava de cabeça para baixo.

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Dali saiu uma pequena ratinha viva e fez uma reverência ao alfaiate! Então ela pulou
da cômoda e ficou embaixo do lambril.

O alfaiate sentou-se novamente perto do fogo, aquecendo as pobres mãos frias e


resmungando para si mesmo

"O colete é cortado de cetim cor de pêssego – ponto de tambor e botões de rosa em
uma bela seda de algodão. Fui sábio em confiar meus últimos quatro centavos a
Simpatia? Vinte e uma aberturas de seda trançada cor de cereja!"

Mas de repente, da cômoda, vieram outros pequenos ruídos:

Tip tap, tip tap, tip tap tip!

"Isso é extraordinário!" disse o Alfaiate de Gloucester, e virou outra xícara de chá,


que estava de cabeça para baixo.

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Dali saiu um ratinho cavalheiro e fez uma reverência ao alfaiate!

E então, vindo de toda a cômoda, saiu um coro de pequenas batidas, todas soando
juntas e respondendo umas às outras, como besouros de relógio em uma madeira
corroída por cupins.

– Tip tap, tip tap, tip tap tip!

E de debaixo das xícaras de chá e de tigelas e bacias, saíram muitos outros ratinhos
que pularam da cômoda para debaixo do lambril.

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O alfaiate sentou-se perto do fogo, lamentando – "Vinte e um botões de seda cor de
cereja! Para terminar ao meio-dia de sábado, e hoje é terça-feira à noite. Seria certo
soltar aqueles ratos, sem dúvida, propriedade de Simpatia? Puxa, estou perdido, pois
não tenho mais seda trançada !"

Os ratinhos saíram de novo e ouviram o alfaiate; eles notaram o padrão daquele


casaco maravilhoso. Eles cochicharam um para o outro sobre o forro de tafetá e sobre
o pequeno cachecol de rato.

E então, de repente, todos correram juntos pelo corredor atrás do lambril, gritando e
gritando uns para os outros, enquanto corriam de casa em casa; e nenhum rato foi
deixado na cozinha do alfaiate quando Simpatia voltou com o bule de leite!

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Simpatia abriu a porta e saltou para dentro, com um zangado "G-r-r-miau!" como um
gato que se irrita, porque ele odiava a neve, e havia neve em suas orelhas e neve em
sua gola atrás de seu pescoço. Ele colocou o pão e as salsichas na cômoda e cheirou.
"Simpatia", disse o alfaiate, "onde está meu novelo seda trançada?"
Mas Simpatia colocou o bule de leite na cômoda e olhou desconfiado para as xícaras
de chá. Ele queria seu jantar de ratinho gordo!
"Simpatia", disse o alfaiate, "onde está meu novelo seda trançada?"

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Mas Simpatia escondeu um pacotinho em segredo no bule de chá e cuspiu e rosnou
para o alfaiate; e se Simpatia pudesse falar, ele teria perguntado: "Onde está meu
rato?"
"Puxa! estou perdido!" disse o Alfaiate de Gloucester, e foi para a cama triste.
Durante toda a noite Simpatia caçou e vasculhou a cozinha, espiando nos armários e
debaixo do lambril, e no bule de chá onde escondera aquele novelo seda trançada;
mas ainda assim ele nunca encontrou um rato!
Sempre que o alfaiate murmurava e falava dormindo, Simpatia dizia "Miaw-ger-r-w-
s-s-ch!" e fazia ruídos estranhos e horríveis, como os gatos fazem à noite.
Pois o pobre velho alfaiate estava muito doente, com febre, dando voltas na cama; e
ainda em seus sonhos ele murmurou: "Chega de seda trançada! Chega de seda
trançada!"
Ele ficou doente todo aquele dia, e no dia seguinte e no seguinte. E o que seria do
casaco cor de cereja? Na alfaiataria da Rua do Portão do Oeste, os bordados de seda e
cetim estavam recortados sobre a mesa – vinte e uma aberturas de botões – e quem
deveria vir costurá-los, quando a janela e a porta estavam trancadas?

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Mas isso não atrapalha os ratinhos marrons; eles entram e saem sem chaves por todas
as casas antigas de Gloucester!

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Do lado de fora, o pessoal do mercado caminhava penosamente pela neve para
comprar seus gansos e perus e assar suas tortas de Natal; mas não haveria ceia de
Natal para Simpatia e o pobre e velho Alfaiate de Gloucester.
O alfaiate ficou doente por três dias e três noites; e então era véspera de Natal, e
muito tarde da noite. A lua subiu sobre os telhados e chaminés e iluminou para baixo,
por cima do portal para o lado da Escola. Não havia luzes nas janelas, nem som nas
casas; toda a cidade de Gloucester dormia profundamente sob a neve.
E Simpatia ainda queria seus ratos e miava enquanto ficava ao lado da cama.

Mas é na velha história que todos os animais podem falar, na noite entre a véspera de
Natal e o dia de Natal pela manhã (embora haja pouquíssimas pessoas que podem
ouvi-los, ou saber o que é que eles dizem).
Quando o relógio da Catedral bateu meia-noite, houve uma resposta – como um eco
de sinos – e Simpatia ouviu, saiu pela porta do alfaiate e vagou pela neve.
De todos os telhados, cumeeiras e velhas casas de madeira em Gloucester vieram mil
vozes alegres cantando as velhas rimas de Natal – todas as velhas canções que já ouvi
falar, e algumas que não conheço, como os sinos da cidade.

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Primeiro e mais alto os galos gritaram: "Senhora, levante-se e asse suas tortas!"
"Oh, Que especial, Que especial, Que especial!" suspirou Simpatia.
E agora, em um sótão, havia luzes e sons de dança, e gatos vieram pelo caminho.
"Noite Feliz, Noite Feliz! Todos os gatos em Gloucester – exceto eu", disse Simpkin.
Sob os beirais de madeira, as andorinhas e os pardais cantavam músicas de Natal; os
rouxinóis acordaram na torre da Catedral; e embora fosse madrugada os canários e
calopsitas cantavam. O ar estava cheio de pequenas melodias de passarinhos.

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Mas tudo isso provocou bastante o pobre e faminto Simpatia!
Particularmente, ele ficou irritado com algumas vozes estridentes por trás de uma
treliça de madeira. Acho que eram morcegos, porque sempre têm vozes muito baixas
– especialmente em uma geada negra, quando falam durante o sono, como o Alfaiate
de Gloucester.
Eles disseram algo misterioso que parecia ...
“Buz, quoth a mosca azul, hum, quoth a abelha, Buz e zumbido, eles choram, e nós
também!” E Simpatia foi embora sacudindo as orelhas como se tivesse uma abelha
em seu chapéu.

Da alfaiataria em Portão do Oeste veio um brilho de luz; e quando Simpatia se


aproximou para espiar pela janela, ela estava cheia de velas. Havia um pedaço de
tesoura e um pedaço de linha; e pequenas vozes de camundongo cantavam alto e
alegremente:
"Vinte e quatro alfaiates
Foram pegar um caracol,
O melhor homem entre eles
Atrevido, não toque em sua cauda,
Ela colocou seus chifres para fora como uma pequena vaca malhada,
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Corram, alfaiates, corram! Ou ela pegará todos vocês agora mesmo!"
Então, sem uma pausa, as vozes dos ratinhos continuaram:
"Peneire a aveia da minha senhora, moa a farinha de minha senhora, coloque em uma
castanha, deixe descansar por uma hora”

"Miau! Miau!" interrompeu Simpatia e ele arranhou a porta. Mas a chave estava
embaixo do travesseiro do alfaiate, ele não conseguiu entrar.
Os ratinhos apenas riram e tentaram outra melodia:
"Três ratinhos sentaram-se para girar,
A gatinha passou e espiou lá dentro.
O que você está fazendo, meus amiguinhos?
Fazendo casacos para cavalheiros.
Devo entrar e cortar seus fios?
Oh, não, Senhorita gatinha, você arrancaria nossas cabeças com uma mordida!"

"Miau! Miau!" gritou Simpatia. "Hei desajeitado!" responderam os ratinhos.


"Ei, bichinho bonitinho! Os mercadores de Londres usam vermelho;
Seda na gola e ouro na bainha. Portanto, marchem alegremente os mercadores!"

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Eles clicaram nos dedais para marcar o tempo, mas nenhuma das canções agradou
Simpatia; ele cheirou e miou na porta da loja.
"E então eu comprei
Um caneco e um panela,
Um prato e um bule,
Tudo por um centavo
e na cômoda da cozinha!", acrescentaram os rudes ratinhos.

"Miau! Scratch! Scratch!" Simpatia arrastou os pés no peitoril da janela; enquanto os


ratinhos lá dentro pularam de pé e todos começaram a gritar ao mesmo tempo em
vozes agudas: "Chega de seda trançada! Chega de seda trançada!" E eles fecharam as
venezianas das janelas e bloquearam Simpatian.
Mas mesmo assim, através dos entalhes nas janelas venezianas, ele podia ouvir o
clique de dedais e vozes de camundongos cantando:
"Chega de seda trançada! Chega de seda trançada!"

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Simpatia saiu da loja e foi para casa, pensando em sua mente. Ele encontrou o pobre
velho alfaiate sem febre, dormindo tranquilamente.
Então Simpatia ficou na ponta dos pés e tirou um pequeno embrulho de seda do bule
de chá e olhou para ele ao luar; e ele se sentiu bastante envergonhado de sua maldade
em comparação com aqueles bons ratinhos!
Quando o alfaiate acordou pela manhã, a primeira coisa que viu na colcha de retalhos
foi um novelo de seda trançada cor de cereja, e ao lado de sua cama estava a
arrependida Simpatia!

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"Puxa, estou exausto", disse o Alfaiate de Gloucester, "mas tenho meu novelo de seda
trançada!"
O sol brilhava na neve quando o alfaiate se levantou, se vestiu e saiu para a rua com
Simpatia correndo à sua frente.
Os passarinhos assobiavam nas chaminés e os caários e rouxinóis cantavam – mas
cantavam seus próprios barulhos, não as palavras que entoavam à noite.
"Puxa", disse o alfaiate, "eu tenho meu novelo de seda trançada; mas não tenho mais
força – nem tempo – do que servirá para me fazer uma única botoeira; pois hoje é
manhã de Natal! O prefeito de Gloucester se casará ao meio-dia – e onde está seu
casaco cor de cereja?”
Ele destrancou a porta da lojinha na Rua do Portão Oeste e Simpatia entrou correndo,
como um gato que espera alguma coisa.
Mas não havia ninguém lá! Nem mesmo um ratinho marrom!
As tábuas foram limpas; as pequenas pontas de linha e os pequenos pedaços de seda
foram todos arrumados e desapareceram do chão.

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Mas sobre a mesa – Oh, Que alegria! O alfaiate deu um grito. Ali, onde ele havia
deixado cortes lisos de seda, estava o mais lindo casaco e colete de cetim bordado
que já foi usado por um prefeito de Gloucester.

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Havia rosas e amores-perfeitos no revestimento do casaco; e o colete era trabalhado
com papoulas e flores de milho.
Tudo estava terminado, exceto uma única casa de botão cor de cereja, e onde aquela
casa estava faltando, havia um pedaço de papel com estas palavras – em uma letra
minúscula.
NOVELO DE SEDA TRANÇADA NUNCA MAIS!
E a partir daí começou a sorte do Alfaiate de Gloucester; ele ficou bastante robusto e
muito rico.

Ele fez os coletes mais maravilhosos para todos os ricos mercadores de Gloucester e
para todos os cavalheiros da região.
Nunca foram vistos babados, ou punhos e golas tão bordados! Mas suas casas de
botão foram o maior triunfo de todos.
Os pontos daqueles buracos de botão eram tão perfeitos – tão perfeitos – que me
pergunto como eles poderiam ser costurados por um velho de óculos, com dedos
velhos tortos e dedal de alfaiate.
Os pontos daquelas casas de botão eram tão pequenos – tão pequenos – que pareciam
ter sido feitos por ratinhos!
O FIM

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