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PODER JUDICIÁRIO

Juizado Modelo Especial Cível – Federação

PROCESSO Nº 032.2010.017.053-2

PARTE AUTORA: MILEIDE RODRIGUES AUDE


PARTE RÉ: SULAMERICA COMPANHIA DE SEGURO SAÚDE

SENTENÇA

Vistos etc.
Dispensado o relatório na forma do art. 38 da lei 9.099/95.

SENTENÇA

Vistos etc.
Dispensado o relatório pelo que dispõe o art. 38 da Lei 9.099/95.
A parte acionada, devidamente intimada da sessão de conciliação, conforme se
depreende do evento processual de nº 25 do PROJUDI, não compareceu, não requereu
adiamento, tampouco justificou a sua ausência, ensejando a aplicação da pena de
confissão, sofrendo, pois, os efeitos da REVELIA, com fulcro nos arts. 319 e 330, II do
CPC c/c art. 20 da Lei 9.099/95.
A parte autora é segurada da Ré e sempre adimpliu com suas obrigações pertinentes ao
contrato de saúde contratado. Afirma que a Requerida aplicou reajuste em razão da mudança de
faixa etária. Assim, requereu, liminarmente, que a Ré fosse compelida a enviar os boletos do
seguro saúde,sem o referido reajuste, requereu ainda, ao final, a confirmação da medida liminar,
que a Acionada mantenha o seguro saúde, nos moldes contratados, bem como, que seja declarada a
nulidade da cláusula contratual que estabelece o reajuste por faixa etária
Liminar concedida no evento processual nº08.

Tudo visto e examinado, DECIDO.


No MÉRITO, necessário observar que, no caso vertente, constata-se que foi firmado
contrato de seguro saúde entre as partes, conforme pode ser atestado nos documentos juntados aos
autos com a inicial.

JUÍZA ANDRÉA TOURINHO CERQUEIRA DE ARAÚJO – TITULAR DA 10ª VARA DE SUBSTITUIÇÕES


PODER JUDICIÁRIO
Juizado Modelo Especial Cível – Federação

Na hipótese dos autos, está patente a abusividade da cláusula contratual que estabelece o
aumento do valor do prêmio em face da idade do Consumidor, por restringir direito fundamental,
inerente à natureza do contrato, qual seja: obter cobertura em caso de doenças e acidentes.
A cláusula contratual autorizadora do reajuste por mudança de faixa etária é, portanto,
leonina e nula. Tal dispositivo estabelece obrigação que coloca o consumidor em desvantagem
exagerada e incompatível com a boa fé e a equidade (inc. IV do art. 51), tendo em vista que a
aderente contratou acreditando ser segurada independentemente de mudança de sua idade.
É de se admitir, no presente caso, de que não há equivalência dos direitos e obrigações
entre as partes contratantes, ao contrário do que sustenta a Ré, posto que a parte autora cumpre o
contrato, pagando o prêmio, acreditando que quando necessário teria cobertas as suas despesas
médico-hospitalares.
Assim não sendo, a Acionada deixa de atender às legítimas expectativas contratuais, e se
aumenta o plano ao máximo levando-se em conta a idade do consumidor, pretende lhe transferir
um ônus que era seu – arcar com as despesas médicas –, o que é vedado em Lei.
Não resta dúvida que há, neste particular, um desequilíbrio entre as partes contratantes,
gerando, conseqüentemente, desvantagem para o consumidor, tornando-se abusiva a cláusula que
impõe a restrição questionada.
Vale lembrar que, por se tratar de contrato de adesão, cujas cláusulas são preestabelecidas
unilateralmente, não se possibilitou à parte autora qualquer oportunidade de manifestação de
vontade, no sentido de opinar, discutir, ou mesmo incluir qualquer outra cláusula a seu critério,
restando-lhe, tão somente, submeter-se ao que determinou o prestador de serviço.
Ressalte-se ainda que a Lei Federal nº 8.078/90 admite explicitamente a intervenção do
Poder Judiciário nas relações contratuais de consumo, visando preservar o princípio da boa fé e do
equilíbrio nos contratos celebrado entre as partes, coibindo os abusos do mercado.
A jurisprudência é pacífica no sentido que:
“Seguro-saúde. Contrato de adesão. O princípio do pacta sunt servanda está
relativizado pelo advento da Lei 8078/90. Cláusula restritiva de direito
implícito do consumidor redigida sem destaque. Nulidade de pleno direito.
Sentença mantida. Recurso improvido.” (Rec. Nº JDC02-TAT-01855/96. Julgado
em 05.04.99. Rela. Juíza JANETE FADUL DE OLIVEIRA).
Demais disso, vale lembrar ainda a inclinação no sentido de que:
Plano de saúde. Aumento de mensalidade em decorrência da mudança de faixa
etária. Ilegalidade e abusividade das cláusulas contratuais. Garantia dos
princípios de equilíbrio contratual e boa-fé. Recurso improvido. Sentença
mantida. Recurso nº 7818-2/2000. Julgado em 14.02.2002. Rela. Juíza DINALVA
GOMES LARANJEIRA PIMENTEL
Ademais, o Estatuto do Idoso, ao insculpir em seu art. 15, § 3.º, a vedação à discriminação
do idoso nos planos de saúde, protege a pretensão autoral, afastando os aumentos abusivos
perpetrados pela parte acionada.

JUÍZA ANDRÉA TOURINHO CERQUEIRA DE ARAÚJO – TITULAR DA 10ª VARA DE SUBSTITUIÇÕES


PODER JUDICIÁRIO
Juizado Modelo Especial Cível – Federação

Curial assinalar, conduto, que são devidos os acréscimos provenientes dos reajustes anuais,
uma vez que estabelecidos pelo próprio Governo Federal, através da Agencia Nacional de Saúde.
Além do mais, a Acionada, em momento algum, veio ao processo se defender, reputando-se
verdadeiros os fatos articulados pelo autor e não contestados.
Assim, diante do exposto, julgo PROCEDENTE o pedido da Autora para manter o
contrato de prestação dos serviços médicos e hospitalares firmado entre as partes, e condeno a
acionada a estipular o valor do prêmio em R$ 599,81 (quinhentos e noventa e nove reais e oitenta e
um centavos), que poderá ser acrescido dos índices legais de correção anuais previstos para a
aplicação. Condeno a parte acionada na repetição do indébito a partir de 20/03/2007, apurado na
forma da planilha de fls. 05, no valor correspondente ao teto deste Juizado na data da propositura
da queixa (R$ 18.600,00), tendo em vista que a soma da repetição do indébito ultrapassa o limite
de alçada. Sobre o valor da condenação deverá incidir juros legais de 1% ao mês a partir da citação
e correção monetária a partir da inicial. Em caso de descumprimento da obrigação de fazer, arbitro
multa no valor de R$ 500,00 (quinhentos reais). Danos morais indemonstrados nos autos.
Mantenho a medida liminar concedida nos autos, intimando-se a Acionada a levantar os valores
depositados em seu favor. Caso a acionada não efetue o pagamento no prazo de 15 (quinze) dias,
deverá ser acrescido multa no percentual de 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação,
conforme dispõe o art. 475-J do CPC. Declaro extinto o processo, com resolução do mérito, na
forma do inciso I do art. 269 do CPC.
Sem custas processuais ou honorários advocatícios, por falta de previsão legal.
P.R.I.

Salvador, 05 de outubro de 2011.

ANDRÉA TOURINHO CERQUEIRA DE ARAÚJO


Juíza de Direito

JUÍZA ANDRÉA TOURINHO CERQUEIRA DE ARAÚJO – TITULAR DA 10ª VARA DE SUBSTITUIÇÕES

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