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à descoberta dos bichos Raquel Gaspar

rgaspar@viveraciencia.org
www.viveraciencia.org
Vida de anfíbio
Anfíbio quer dizer vida
dupla. A vida das rãs,

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relas e sapos passeia-
A rã-ibérica ou rã-castanha se entre a água e
(Rana iberica) é uma
excelente nadadora.
a terra. Mas a sua
é o número de espécies dependência da água
de rãs e também de obriga a que cada 1 2
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relas em Portugal. Sapos, geração cresça num


temos oito espécies. Só a tempo recorde. Aqui
rã-verde e o sapo-comum fica a sua história aos
vivem em todo o país. quadradinhos.

1. A fecundação nos anfíbios


é externa, na água. O desafio 4
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do macho é agarrar uma fêmea
e ficar na posição certa para

ERIKA ALMEIDA

VASCO FLORES CRUZ


fecundar os óvulos, à medida 4. Os girinos (ou larvas) -lhe agora ver fora de água.
que esta os põe na água, nascem passado alguns dias. O intestino longo de
protegidos por gelatina. Tudo Parecem peixes: têm uma herbívoro passa a curto de
se consegue com um abraço. cauda natatória e respiram carnívoro. A cauda regride,
2. A postura é uma gelatina por brânquias internas. completando a metamorfose.
Rãs, relas e sapos A rela-comum (Hyla arborea) tem discos de ovos (óvulos fecundados), Alimentam-se de restos
de algas, fungos e detritos.
7. O tenro juvenil sai
timidamente do ventre da
adesivos na ponta dos dedos para se agarrar. centenas ou milhares, 7
Quando eu era pequenina adorava saltar nas consoante a espécie, pois E são comidos por insectos água, equipado para a vida
muitos servirão de alimento aquáticos e peixes. terrestre. Leva ainda um
poças de água, como as rãs, as relas e os sapos. a seres aquáticos como os 5. Crescem e transformam-se. bocadinho de cauda que
Só que eles fugiam para a água... e quando tritões e as cobras de água. Primeiro aparecem as patas continuará a alimentá-lo

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3. O sapo-parteiro tem outra traseiras. durante a sua dispersão.

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voltavam à superfície, eu não conseguia quebrar estratégia: poucos ovos, mas 6. As patas dianteiras 8. Uma vez adulto, esconde-
bem protegidos. Carrega os aparecem depois e as -se e espera pelas primeiras
o feitiço da sua camuflagem. ovos às costas e só na altura brânquias são substituídas por chuvas do Outono para sair
da eclosão os põe na água. pulmões. A córnea permite- do seu refúgio. 8

O meu avô dizia que quando o bicho


salta, e mergulha em direcção
ao fundo, é uma rã. Quando salta,
Durante o dia ficam escondidos no
aconchego da humidade, em buracos
que escavam, debaixo de troncos e
Sapo-comum (Bufo bufo). A cabeça ilustra
o seu grande porte. As fêmeas têm 20cm!
mergulha e volta para as bordas, pedras, ou dentro de pequenas tocas

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é um sapo. E tinha alguma razão.
As rãs adultas vivem junto da água
de ratinhos e musaranhos. Porque,
como qualquer bom anfíbio, têm a
Auditórios de canto nocturno
e são boas nadadoras. A sua pele pele húmida, a qual produz secreções Nos lagos dos jardins das cidades, nas noites de
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lisa e as patas traseiras compridas – que os protegem dos predadores e
com membranas entre os dedos que de doenças e também lhes permite
Primavera e início de Verão, há concertos de coral
funcionam como barbatanas de calçar respirar. As relas têm a pele mais ou a muitas vozes! Traga um frontal* e venha ouvi-los.
– facilitam a natação. Mergulham para menos lisa como as rãs. Mas vivem
se esconder e manter a pele húmida. sobretudo fora de água, como os A rã-de-focinho-pontiagudo (Discoglossus O canto é a forma como os machos atraem
galganoi) é um sapo. Chamam-lhe rã porque as fêmeas. Na altura da reprodução,
Não são caçadoras submarinas porque sapos. E fazem lembrar gafanhotos
tem a pele lisa como as rãs. os habitats aquáticos recebem uma
sabia que
a sua visão debaixo de água é fraca. verdes quando, aos saltos, caçam Rela-comum. Os machos cantam em coro.
Respiram e alimentam-se à superfície. insectos em voo. A grande inovação peregrinação de machos. Chegam primeiro
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Os sapos (e as relas) podem mergulhar das relas é ter patas trepadoras. que as fêmeas e põem-se a cantar dentro
para se esconder, mas não são bons Proeza que conseguem graças aos ficha técnica de água ou perto dela usando os seus sacos A destruição dos charcos, das
nadadores e não vivem na água. Logo, discos com ventosas autocolantes Rãs, relas e sapos são anfíbios anuros, isto é vocais. Dizem que as fêmeas dos anuros linhas de água naturais, a sua
voltariam para as bordas. Mais certo que têm na ponta dos dedos. E assim os adultos não têm cauda. As larvas respiram gostam dos cantos mais graves, ou seja de poluição e uma micose na pele
seria encontrar um sapo a saltar ou vivem empoleiradas, sem cair nem por brânquias, os adultos por pulmões e, em machos maiores, mais capazes. dos animais, estão a causar a
parte, pela pele. Reproduzem-se por ovos que Nos lagos das cidades, são os machos da rã-
caminhar em terra, durante a noite escorregar, na vegetação aquática. De alimentam o embrião fora do corpo da proge- diminuição dos anfíbios. São,
ou num dia húmido. É nessa altura fazer inveja a quem gosta de escalar! verde e do sapo-parteiro que cantam. Para por isso, espécies ameaçadas
nitora (ovíparos). A sua temperatura corporal
que saem para se alimentar. E mesmo Só mais uma coisa. Rãs, relas e sapos treinar a identificação auditiva destas e e protegidas por lei.
depende da do exterior (ectotérmicos). Em
assim, não é fácil vê-los. A sua pele caçam de noite, com uma língua de Portugal, nos picos do Verão e Inverno, estivam Sapinho-de-verrugas-verdes (Pelodytes punctatus). outras espécies, consulte o blogue répteis
rugosa é manhosa pois faz com que camaleão, pegajosa. E isso, eu acho ou hibernam, respectivamente, enterrando-se Em Portugal há duas espécies. Distinguem-se pelo canto. e anfíbios de Portugal.
* Lanterna para colocar na cabeça.
pareçam grãos de terra ou de areia. que o meu avô não sabia... na terra.

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