No caso de ilícito administrativo realizado por um servidor, que também é
considerado crime na espera penal, haverá comunicabilidade de instâncias?
Explique e fundamente sua resposta.
De acordo com a Lei 8.112/90, tem-se:
Art. 121. O servidor responde civil, penal e administrativamente pelo exercício
irregular de suas atribuições.
Ou seja, a responsabilidade do servidor pode ser civil, penal ou
administrativa, dependendo da irregularidade que venha a cometer no exercício de suas atribuições. A mesma lei ainda afirma:
Art. 125. As sanções civis, penais e administrativas poderão cumular-se,
sendo independentes entre si.
A respeito da comunicabilidade de instâncias, Carvalho Filho (2014)
ensina que: “A responsabilidade se origina de uma conduta ilícita ou da ocorrência de determinada situação fática prevista em lei e se caracteriza pela natureza do campo jurídico em que se consuma. (...) Cada responsabilidade é, em princípio, independente da outra. (...) Sucede que, em algumas ocasiões, o fato que gera certo tipo de responsabilidade é simultaneamente gerador de outro tipo; se isso ocorrer, as responsabilidades serão conjugadas.”
Quanto ao STF, o órgão já se posicionou em relação à independência
das instâncias e defende a não sujeição da Administração à definição da esfera judicial para a aplicação de penalidade administrativa, como pode ser visto em decisão advinda do acórdão MS 21.708/DF, de 2000:
“O Tribunal, por maioria, considerando que a imposição de punição disciplinar
independe de decisão judicial nesse sentido, indeferiu mandado de segurança impetrado contra ato que, em processo disciplinar, impusera ao impetrante a pena de demissão pela prática de ilícito funcional, sem que se aguardasse o fim da ação penal a que responde pela mesma falta. Vencido o Min. Marco Aurélio, relator, que deferia o mandado de segurança para que se aguarde o fim do processo criminal.”
Em casos concretos nos quais um mesmo ato se caracteriza tanto
como ilícito penal quanto ilícito administrativo, decorrem dele as duas modalidades de responsabilidade e ele é apurado nas duas esferas competentes, não havendo prejuízo da punição sobre a reparação, sendo possível a comunicabilidade das esferas. Caso ocorra a absolvição na esfera penal, deve-se atentar para os seus efeitos na esfera administrativa.
Ainda na Lei 8.112/90, há um artigo que trata da absolvição penal do
servidor:
Art. 126. A responsabilidade administrativa do servidor será afastada no caso
de absolvição criminal que negue a existência do fato ou sua autoria.
Nessa matéria, Alexandrino (2013) ensina que: “A absolvição penal pela
negativa de autoria ou pela inexistência do fato também interfere nas esferas administrativa e civil (art. 126). Isso porque, se a jurisdição criminal, em que a apreciação das provas é muito mais ampla, categoricamente afirma que não foi o agente autor do fato a ele imputado, ou que nem sequer aconteceu aquele fato, não há como sustentar o contrário nas outras esferas.” Portanto, se comprovada a absolvição criminal do servidor por negativa de autoria ou inexistência do fato, já tendo sido condenado em outras esferas pelo mesmo motivo, a comunicabilidade das instâncias prevê que os efeitos desta última decisão retroajam e desfaçam os das condenações anteriores. Cabendo ressaltar que a absolvição penal meramente por insuficiência de provas, por exemplo, não provoca os mesmos efeitos nas decisões das outras instâncias.
Fica clara então a possibilidade de responsabilização do servidor em
mais de uma esfera (como penal e administrativa), e do acúmulo de sanções de acordo com a conduta praticada, e que não é necessário que o procedimento em uma delas chegue ao fim para que a outra se manifeste.