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RIBEIRO - Publicacao Dialogos e Transgressoes
RIBEIRO - Publicacao Dialogos e Transgressoes
bianca leite
edgar calel
kilombagem
lanchonete.org
mapa xilográfico
moisés patrício
rádio yande
talita rocha
visto permanente
curadoria
luciara ribeiro
de 18/11/2017
a 18/02/2018
nas páginas anteriores:
jogo
de
espelhos
diálogos
e
transgressoes
luciara ribeiro
-curadora
coletivos e artistas
afroescola
bianca leite (1985), vive e trabalha em são paulo, sp. é artista visual
formada pela universidade estadual paulista – unesp. dentre as artes
visuais, dedica-se especialmente ao desenho, pintura e escultura.
fiz a sucção da tinta e deixei a mão solta sobre o papel. nos primeiros gestos,
apertava bem devagar o dedo sobre a seringa, formando assim uma gota e
em seguida duas gotas. ao passo que ia trocando de folha, a mão bailava
em movimentos e junto às gotas vieram esguichos mais direcionados. fiz uma
pausa, olhei para os primeiros cinco desenhos e enxerguei algo que para mim,
pareciam partes internas do corpo humano. continuei o trabalho, acrescentei
a intenção de desenhar uma mulher, dividindo-a em quatro partes, em que
propositalmente deixei escorrer tinta, para representar do que somos todos
formados, de sangue materno.
edgar calel
edgar calel (1987, san juan comalapa) é artista de formação. seu trabalho
é uma busca permanente da tradução da cosmovisão maya kaqchikel,
cultura a qual pertence. seus temas tratam principalmente sobre as
práticas indígenas de sua comunidade, a espiritualidade maya, os
rituais, a identidade, a migração, entre outros. realiza isso por meio
de linguagens contemporâneas. utiliza para seus projetos técnicas de
desenho, pintura, fotografia, instalação, intervenção, performance e
ação para tempo, e site specific.
para mim, a vida está conectada com a criação porque a todo tempo estamos
em movimento, caminhando, observando e compreendendo que não há nada
estático. sempre estão acontecendo situações que contribuem para nosso
pensamento e questionamento, para logo contestarmos o que está se passando
com os temas ambientais, políticos, econômicos e artísticos.
para esta mostra, utilizo palavras que escutei de minha avó e logo as escrevi
em pedaços de papelão. é para mim uma responsabilidade poder conservar o
conhecimento de uma mulher indígena maya kaqchikel porque para ela a vida
não foi fácil, para ela não foi suficiente ser forte e resistir às adversidades da
vida e do sistema de governos ditadores e genocidas. desde que eu, minhas
irmãs e irmãos éramos muito novos, minha avó sempre falava para meus pais
que nós, seus netos, iríamos para a escola para ter acesso ao idioma espanhol
e fazer as letras falarem. e, dessa maneira, nos defendermos para não sofrer
de racismo, discriminação, exploração, exclusão e optar por um trabalho mais
digno, sem ter que passar pelo mesmo caminho que causou tristeza e dor a ela.
-chuech ruach´ulef xkoj chup bi / diante do rosto da terra nos apagaremos.
edgar calel
setembro 2017
chixot, guatemala
kilombagem
terapeutas vocais que trabalhem com o assunto ainda não são facilmente
encontrados em todos países. pouco a pouco, via internet, vem acontecendo
alguma difusão desses processos e práticas vocais pelas próprias comunidades
trans. ao passo que práticas são difundidas e compartilhadas, vamos
entendendo e reconhecendo algumas entrelinhas. entre voz grave e/ou
aguda, quais texturas e cores vocais podemos produzir? entre os estereótipos
atrelados à ideia de masculinidade ou feminilidade, suave ou rígido, leve e forte,
delicado e viril, mil texturas podem existir. a partir de uma conscientização e
reconhecimento do material que se possui, no caso da voz, talvez possamos
brincar, articular e confundir um pouco algumas ideias sedimentadas sobre
ser homem e mulher. abrir espaços para diversidades de expressão de
subjetividades, gay, trans, queer, drag, não-binárias, polivalentes.
o coletivo mapa xilográfico foi formado em 2006 para atuar nos espaços
das cidades através da intervenção urbana, audiovisual e xilogravura,
buscando problematizar as questões relativas à urbanização ao lado
dos habitantes de cada lugar, em um processo de troca e coprodução
em torno das problemáticas locais.
integrantes do coletivo
diga rios: integrante do coletivo mapa xilográfico e do bloco fluvial
do peixe seco. mestre em arte e educação pelo instituto de artes da
universidade estadual paulista - unesp. atuou como arte-educador de
cultura digital do sesc consolação (2012 – 2013). lecionou a disciplina
ética na escola superior de advocacia da oab-sp (2010 – 2013). lecionou
a disciplina arte na rua do curso de especialização em ecologia, arte e
sustentabilidade do instituto das artes da unesp - umapaz em 2010 e
2011. coordenou o núcleo de ação social da escola experimental pueri
domus. atuou como educador em escolas de são paulo lecionando
disciplinas de base comum e interdisciplinares: ética e cidadania,
educação para as mídias e direito e construção da cidadania. integrou o
grupo alerta! de intervenções urbanas.
são paulo, sp, 1984. vive e trabalha em são paulo, sp. artista visual e arte-
educador, moisés patrício trabalha com fotografia, vídeo, performance,
rituais e instalações em obras que lidam com elementos da cultura
latina e afro-brasileira. entre as exposições das quais participou,
destacam-se: bienal de dakar, no museum of african arts (senegal, 2016);
“a nova mão afro brasileira”, no museu afro brasil (são paulo, sp, 2014);
“papel de seda”, no instituto de pesquisa e memória pretos novos –
ipn museu memorial (rio de janeiro, rj, 2014). metrópole: experiência
paulistana - estação pinacoteca (são paulo, 2017) e osso exposição-apelo
ao amplo direito de defesa de rafael braga. desde 2006, realiza ações
coletivas em espaços culturais na cidade de são paulo, sp.
a minha pesquisa artística tem como foco principal a relação entre corpos
negros e cotidiano urbano contemporâneo. para tratar deste assunto caro
não apenas a mim, mas à população negra brasileira de modo geral, venho
há aproximadamente cinco anos mobilizando diferentes recursos técnicos
e expressivos com instalações, esculturas, desenhos, fotografia, vídeo e
performances. o tema aparece de diferentes formas, configurando assim
a minha poética e cada obra é um comentário crítico sobre noções como
diáspora, negritude, racismo estrutural, mas também sobre a beleza de fazeres
afro-orientados como a elaboração de oferendas dedicadas aos orixás e outros
deuses de origem africana.
embora meu trabalho possa carregar, em alguns casos, forte conteúdo
autobiográfico, afinal não há como fugir da própria experiência pessoal,
busco sempre uma linguagem universal por meio de soluções plásticas que
ultrapassem minhas referências culturais imediatas. preocupo-me em pensar
relações humanas positivas e respeitosas na qual a troca afetiva seja possível
para muito além da mercantilização da vida, algo que cada vez mais ocorre no
mundo contemporâneo, onde as trocas são reduzidas apenas à moeda. nesse
sentido, sou consciente do quanto posso contribuir com minha obra para melhor
integrar pessoas no sentido de promover novas relações sociais.
rádio yande
estamos certos de que uma convergência de mídias é possível, mesmo nas mais
remotas aldeias e comunidades indígenas, e que isso é uma importante forma
de valorização e manutenção cultural.
a instalação
DESCOLONIZAR A DESTERRITORIALIZANDO
EDUCACAO: PROPOSTAS DE A EDUCACAO - POR UMA
MEDIACOES LIBERTÁRIAS EDUCACAO DE TODOS E PARA
E TRANSGRESSORAS - TODOS: SEM ESTEREÓTIPOS
RACISMO, BRANQUITUDE E SEM FRONTEIRAS*
E EUROCENTRISMO NO com adama konate (sp), veronica
DISCURSO DA EDUCACAO quispe yujra (colectivo si yo puedo)
E DAS ARTES* (sp), paulo silva (foz do iguaçu - pr
com cristine takuá (sp), luara e sp), mano zeu (foz do iguaçu - pr)
carvalho (sp), mirella maria (sp)
e marcel cabral (sp)
29 - 11 - 17 07 - 02 - 18
quarta, quarta,
das 19h30 às 21h das 19h30 às 21h
29 - 11 - 17
18 - 01 - 18
07 - 02 - 18
a última mesa da exposição diálogos e trans- podemos afirmar que marcos estruturais das
gressões, com o tema desterritorializando narrativas sobre os continentes e povos in-
a educação - por uma educação de todos vadidos e colonizados pela europa do sécu-
e para todos: sem esteriótipos e sem fron- lo xvi se formaram no contexto da primeira
teiras foi composta por adama konate, ve- noção de território. o objetivo da produção
ronica quispe yujra, paulo silva e mano zeu de histórias, documentos, métodos e insti-
e teve a mediação de lunalva oliveira. para tuições estava relacionado com a expansão
uma melhor compreensão do debate pro- de um modo de dominação, apropriação e
posto, uma pequena investigação semântica controle do outro. será no contexto das dis-
pode ser interessante: para o geógrafo mil- putas contemporâneas sobre as identidades
ton santos (1999), as primeiras noções de ter- e narrativas históricas que se situam os deba-
ritório se constituem a partir da identidade tes sobre a desterritorialização da educação:
e exclusividade de determinada região, de desestabilizar e desconstruir estes conhe-
um domínio particular: estaria associada ao cimentos e discursos moderno/coloniais é
“sentimento de pertencer a aquele que nos fundamental, tendo a educação como parte
pertence” (santos, 1999:32). em outro mo- crítica da perpetuação de tais instrumentos
mento o território se articularia com as cons- de domínio.
truções dos estados-nação, nos quais a iden-
tidade não seria apenas absoluta, mas fruto paulo silva, estudante de história da américa
de uma construção histórica. em um terceiro latina pela unila (universidade federal da in-
momento, santos defende que este discurso tegração latino-americana), discorre em sua
sobre o território se voltaria ao processo de fala sobre a segregação promovida por espa-
internacionalização dos mesmos: os espaços ços de educação formal e a importância da
agora seriam concebidos em um campo de organização de iniciativas de educação por
forças múltiplas, com identidades instáveis, movimentos populares. incia o relato a par-
discutidas e disputadas todo o tempo. tir da necessidade de mudar de cidade para
estudar: saído do abc paulista, de uma famí-
lia de metalúrgicos, passa a morar em foz do este aprendizado da linguagem e da cultura
iguaçu (paraná) em busca de uma educação da branquitude e do poder também podem
pública gratuita e de qualidade. reconhece ser instrumentais para a defesa de direitos: é,
também que sua formação foi atravessada portanto, uma forma de desarmar o inimigo.
por iniciativas de formação organizadas por
grupos historicamente marginalizados, como por sua vez, adama konate, poeta e conse-
os movimentos punk, do hiphop e do samba. lheiro pelo conselho participativo de imi-
discorre também sobre o reconhecimento grantes, traz o relato da experiência de uma
da universidade como um espaço de classe educação em um território com várias línguas
e, por isso, a urgência de se identificar as diferentes, como é o caso de seu país natal,
maneiras pelas quais perpetua a segrega- mali. lá a educação formal apresenta uma
ção - processos de seleção, programas de barreira muito significativa: é prioritariamen-
ensino elitizados e a própria a precarização te em francês, enquanto a a população se
dos trabalhadores da instituição. ponderar comunica em outras línguas de acordo com
e atuar sobre estas questões é, sobretudo, a região. as e os estudantes começam a es-
uma transgressão deste território de poder cola tendo que aprender não apenas a ler e
do conhecimento. escrever, mas a significação de uma outra cul-
tura. para konate também é necessário que
à cargo da mediação do debate, lunalva oli- se entenda que são muitas as esferas de um
veira traz uma rica contribuição ao conside- processo de educação e ressalta que comu-
rar a palavra território (um domínio próprio, mente confundimos a falta de conhecimento
particular) e a necessidade de desterritoriali- sobre o outro, de seu território e vida com
zar a educação. em outras palavras, tirar uma preconceito, xenofobia e racismo. assim, a
territorialização, um território de conheci- educação seria um instrumento de conscien-
mento do outro. se refere, por exemplo, ao tização e respeito sobre a diversidade.
caso de tantos estudantes, que se mudam de
cidade e estado para acessar uma instituição veronica quispe yujra, representante do
de ensino de qualidade. também aponta para coletivo si yo puedo, reflete sobre os mo-
as histórias que foram desterritorializadas de delos de educação que perpetuamos e que
povos subalternizados - e que só são acessí- ainda reverberam os modelos europeu e
veis para as pessoas deste novo território de estadunidense, com especializações e dis-
poder. questiona, por fim, quantos aspectos ciplinas separadas. entendendo que esta é
identitários particulares não são negados por uma compreensão moderna e colonizada do
terem sido territorializados por outras pes- conhecimento, deve-se prezar por práticas
soas? de educação que tenham como foco a for-
mação de sujeitos críticos. o que frequente-
em seguida, mano zeu, também morador da mente acontece com o modelo hegemônico,
tríplice fronteira, declama um poema sobre o de acordo com yujra, é que ele reafirma uma
projeto de construção da segunda ponte en- posição passiva e verticalizada do direito à
tre brasil e paraguai. neste sentido, estabele- educação, quando a compreensão deve ser
ce uma analogia sobre as relações de poder sobretudo de uma construção conjunta: é
no campo dos territórios do conhecimento, necessário orientar este direito. em outro
ao perguntar: “quem é que manda, quem é aspecto, quando falamos de uma educação
que carrega?”. como representante do co- libertadora precisamos falar sobre a carta de
letivo no hay frontera, de hip hop, literatura direitos humanos para sobretudo promover
e militância, discorre sobre esta frequente uma formação para a multiculturalidade e e
imagem de uma sala de aula tradicional - pro- equidade. ao abordar o direito de migrar e
fessoras e professores em um pedestal, es- de desterritorializar a educação considera-
crevendo na lousa, e estudantes de cabeça mos, discutimos e possibilitamos a compre-
baixa nas carteiras, organizadas cartesiana- ensão dos direitos humanos e da diferença
mente - e que faz ver um modelo de edu- do outro. uma educação libertadora é, assim,
cação perpetua uma estrutura colonial de aquela que não tem território exclusivo, he-
poder, de domínio do conhecimento e das gemônico, respeitando as culturas e os direi-
narrativas do outro. por outra perspectiva, tos humanos: mundializada ao invés de glo-
balizada. não deve sobre privilégio ou direito,
mas sobre humanidade.
bruno oliveira
relator crítico
Serviço Social do Comércio
Administração Regional no Estado de São Paulo
Superintendentes
Técnico Social Joel Naimayer Padula Comunicação
Social Ivan Paulo Giannini Administração Luiz Deoclécio
Massaro Galina Assessoria Técnica e de Planejamento
Sérgio José Battistelli
Gerências
Artes Visuais e Tecnologia Juliana Braga de Mattos
Adjunta Nilva Luz Assistentes Carolina Barmell e Kelly
Teixeira Artes Gráficas Hélcio Magalhães Adjunta Karina
Musumeci Assistentes Rogério Ianelli e Érica Dias
Diálogos e transgressões
Curadoria Luciara Ribeiro Produção Colchete Projetos
Culturais e Luanah Cruz Expografia Isa Gebara Projeto
Gráfico Rafael Simões Montagem Cenotech Cenografia
Educativo Roberta Browne