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RESUMO
Os núcleos urbanos no semiárido brasileiro apresentam memórias, trajetórias, histórias da
dramaticidade dos desafios de abastecimento de água. No agreste de Pernambuco, região de
maior déficit de balanço hídrico do estado, encontra-se a sedenta cidade de Caruaru, que, no
período de um século (1916-1983), vivenciou os percalços da hidratação dos projetos de
expansão, inicialmente a partir do curso natural do rio Ipojuca como fonte primeira,
posteriormente nos elevados das fontes na Serra dos Cavalos. As disputas com distintas
concepções de soluções e os conflitos entre os diferentes usos deixaram as marcas no
caminho, nas relações dos diferentes sujeitos com as águas. O artigo elaborou-se com base
em registros documentais normativos da municipalidade, textos jornalísticos, de escritores
locais e em diálogos com relatos de memórias de moradores por meio de entrevistas em uma
abordagem na perspectiva da História Ambiental.
Palavras-Chave: Abastecimento público, Recursos hídricos, Gestão hidroambiental.
1
Doutorando em Ecologia Humana e Gestão Socioambiental, PPGEcoH. Universidade do Estado da Bahia, UNEB,
Brasil. Docente na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Caruaru, FAFICA, Brasil. fecobhpe@yahoo.com.br
INTRODUÇÃO
Fonte: https://suportegeografico77.blogspot.com/2017/11/atividade-com-
mapa-mesorregioes-de_18.html
Fonte: http://www.sudene.gov.br/delimitacao-do-semiarido.
5
Condé, 2011, p. 27.
6
A nominação de Serra dos Cavalos, segundo a narrativa dos próprios moradores, refere-se ao meio de transporte
desde outrora como na atualidade, por vezes, o único possível em períodos chuvosos.
7
A nominação de Serra dos Cavalos, segundo a narrativa dos próprios moradores, refere-se ao meio de transporte
desde outrora como na atualidade, por vezes, o único possível em períodos chuvosos.
8
Pernambuco. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente. Plano Estadual de Recursos Hídricos – PERH-
Síntese. Documento Síntese. Recife, 1998.
8
Brasil. Conselho Nacional de Recursos Hídricos – CNRH. Divisão Hidrográfica Nacional. 2003. Resolução n.º 32.
http://www.cnrh.gov.br/divisao-hidrografica-nacional?tag=
9
Ibid.
per capita.10 São identificados dois povos indígenas (Xukuru de Ororubá e Xukuru de
Cimbres), nove Comunidades Quilombolas e populações ciganas da etnia Calon.
Caruaru, com população estimada de 356.128 pessoas,11 localiza-se na Unidade de
Análise (UA-2) da bacia do Ipojuca, região de maior déficit de balanço hídrico de
Pernambuco (PARH, 2005). Um desafio à compreensão e à gestão.
Fonte:http://www.condepefidem.pe.gov.br/c/document_library/get_file?p_l_id=7
8673&folderId=141869&name=DLFE-12005.pdf
10
IBGE. Censo demográfico 2010. Rio de Janeiro, 2010. Consultado 26/6/2019: https://censo2010.ibge.gov.br/.
11
IBGE. 2017. Censo agro 2017. Rio de Janeiro. Consultado 26/6/2019: https://censos.ibge.gov.br/agro/2017/
Fonte: http://www.apac.pe.gov.br/pagina.php?page_id=3&subpage_id=82
Fonte: http://www.mma.gov.br/publicacoes/agua/category/42-recursos-hidricos
12
Souza, Marcos, and Vládia Oliveira. 2006. “Os enclaves úmidos e subúmidos do semiárido do Nordeste brasileiro”.
Mercator: Revista de Geografia da UFC. p. 86. Consultado 4/5/2016: www.passeidireto.com/arquivo/2640195/os-enclaves-
umidos-e-subumidos-do-semi-arido-do-nordeste-brasileiro.
13
Mello Netto, Antônio Vieira de, Rachel Caldas Lins, and Solange Fernandes Soares Coutinho. [1990]. Áreas de
exceção do Nordeste brasileiro: considerações conceituais. Consultado 6/4/2016:
http://observatoriogeograficoamericalatina.org.mx/egal3/Geografiasocioeconomica/Geografiaagricola/01.pdf.
14
Odum, Eugene P., and Gary W. Barrett. 2011. Fundamentos de ecologia. 5. ed. São Paulo: Cengage. p. 24.
15
Brasil, 2001.
Quando eu era jovem, onde hoje é mata, era tudo pasto batido. As pessoas
caçavam, pois não era proibido. Algumas áreas sempre foram matas, o coronel
Jaime roçou o mato fino e plantou o café abaixo da mata. Deu muito bom na
sombra. Naquele tempo sempre chovia, e na mata nunca seca.
O riacho Taquara corria água o ano todo até uns 15 anos atrás. As nascentes
eram onde hoje tem o açude. Os engenhos eram movidos por água. Se pescava
de balaio, se buscava a ‘intera’ na quinta ou sexta, não precisava de rede. Tinha
piaba, piau, caritu, cará e traíra, essa o maior. O pessoal comia até jacaré.
16
Entrevista realizada em 3 de setembro de 2016, Sítio Araçá, Serra dos Cavalos, Caruaru, PE.
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Entrevista realizada em 3 de setembro de 2016, Sítio Araçá, Serra dos Cavalos, Caruaru, PE.
18
Marques, Josabel Barreto. 2012. Caruaru, ontem e hoje: de fazenda a capital. Recife: Edição do Autor.
19
Ferreira, Josué Euzébio. 2016. Do relevo e das paisagens até as águas. Caruaru. Digitado. Texto produzido para o
Projeto Águas da Serra, 100 anos de História.
20
Leitão, Azael. 1949. Um homem e uma época. [S. l: s. n.:]. p. 33.
Ambrósio: “No começo, só se plantava nas margens dos riachos, usavam regadores, e a
água rendia. Primeiro chegaram as mangueiras, depois a energia, foram colocando
bombas”, o que teria resultado na redução de água para todos. Transformações com
impacto na administração pública a exemplo da incorporação de novos cargos e
funções, tais como de Vigia de Barragem, Tomador de Consumo, Chafarizeiras, entre
outros. O cargo de Chafarizeiras eram sempre mulheres, por vezes envoltas em
denúncias de favorecimento e elevação injustificada de preços, atividade com
momentos de judicialização no reconhecimento de direitos funcionais como
vencimentos regulares, indenizações e aposentadorias.
Nos últimos seis anos, o Semiárido brasileiro vem passando por um período de
seca com fortes impactos no acesso aos recursos hídricos, particularmente no estado
de Pernambuco e na sua porção agreste. Esse panorama levou o governo estadual a
decretar “Situação de Emergência” (Decreto Estadual n.º 42.019, de agosto de 2015),
com graves reflexos sobre a Serra dos Cavalos, sendo esta uma área de recarga
natural.
22
Muniz, Lenir. 2009. “Ecologia política”: O campo de estudo dos conflitos socioambientais. Revista Pós Ciências
Sociais, 6(12):181-196. p. 181.
em que nasci ficava onde hoje é o Açude Guilherme de Azevedo, lá não existe mais
nada. Meu pai nasceu também lá, quando era fazenda do Major Bento”.
24
Creado, Eliana Santos Junqueira. 2014. Um fragmento de mata atlântica na capital de São Paulo: fronteiras instáveis
entre natureza e uma megacidade. Curitiba: Appis.
25
Falcão, Verônica. 2001. “Brejos ameaçados de desaparecer”. Jornal do Commercio, Recife, 25 mar. Consultado
14/6/2016: http://www.apoena.org.br/artigos-detalhe.php?cod=191.
[...] cada cultura local interage com seu próprio ecossistema local e com a
combinação de paisagens e as respectivas biodiversidades nelas contidas, de
forma que o resultado é uma ampla e complexa gama de interações finas e
específicas.26.
26
Toledo, Vítor, and Narciso Barrera-Bassols. 2015. A memória biocultural: A importância ecológica das sabedorias
tradicionais. São Paulo: Expressão Popular. p. 40.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os sujeitos locais são afetos aos discursos emitidos por outras fontes não
necessariamente próximas, bem como o caminho inverso deve ser praticado; ou seja,
ser permeável aos discursos (práticas e saberes) dos locais pelos tomadores de
decisões, ouvindo os que estão e fazem parte da história dos lugares. A observância ao
Ambiente como um processo socioecológico (cultural e histórico) nos faz ver pelos
olhos de outros, em meio às suas lembranças, memórias, para perceber por distintas
considerações à biodiversidade, à sociodiversidade e às águas.
REFERENCIAS
Diniz, José Nilo Bezerra. 2018. Abastecimento de água no Brasil setentrional: a gestão
hídrica em Aracati, século XIX. Água y Territorio, Jaén, (11):18-21, Ene.-Jun.
Ferreira, Josué Euzébio. 2016. Do relevo e das paisagens até as águas. Caruaru.
Digitado. Texto produzido para o Projeto Águas da Serra, 100 anos de História.
Mello Netto, Antônio Vieira de, Rachel Caldas Lins, and Solange Fernandes Soares
Coutinho. [1990]. Áreas de exceção do Nordeste brasileiro: considerações conceituais.
Consultado 6/4/2016:
http://observatoriogeograficoamericalatina.org.mx/egal3/Geografiasocioeconomica
/Geografiaagricola/01.pdf.
Marques, Josabel Barreto. 2012. Caruaru, ontem e hoje: de fazenda a capital. Recife:
Edição do Autor.
Molina, Letícia Gorri. 2014, jul./dez.. “Estudos da memória”: em foco uma discussão
teórica da importância de suas diferentes abordagens. PerCursos, Florianópolis,
15(29):7-38.
Odum, Eugene P., and Gary W. Barrett. 2011. Fundamentos de ecologia. 5. ed. São Paulo:
Cengage.
Santos, Carlos Fernando. 2015. Os índios nos vales do Pajeú e São Francisco:
Historiografia, legislação, política indigenista e os povos indígenas no Sertão de
Souza, Marcos, and Vládia Oliveira. 2006. “Os enclaves úmidos e subúmidos do
semiárido do Nordeste brasileiro”. Mercator: Revista de Geografia da UFC. 86-102.
Consultado 6/4/2016: www.passeidireto.com/arquivo/2640195/os-enclaves-
umidos-e-subumidos-do-semi-arido-do-nordeste-brasileiro.
ABSTRACT
The urban nuclei in the Brazilian semiarid region present memories, trajectories, and stories
of the dramaticity of water supply challenges. In the agreste of Pernambuco, the region with
the largest water balance deficit in the state, lies the thirsty city of Caruaru, which in the
period of a century (1916-1983) experienced the mishaps of hydration of expansion projects,
initially from of the natural course of the river Ipojuca as the first source, later in the high
sources of the Serra dos Cavalos. The disputes with different conceptions of solutions and the
conflicts between the different uses left the marks in the way, in the relations of the different
subjects with the waters. The article was elaborated based on normative documentary
records of the municipality, journalistic texts, of local writers and in dialogues with reports of
residents' memories through interviews in an approach from the perspective of
Environmental History.
Keywords: Public supply, Water resources, Hydro-environmental management.
Recebido: 31/05/2019
Aprovado: 26/06/2019