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Constelação Familiar e Terapia do Trauma

Svagito Liebermeister

Tradução: Guilherme Ashara

A Constelação Familiar é uma terapia eficaz de curto prazo que tem o potencial de chegar às
raízes de problemas em um curto período de tempo. A interação entre os representantes
colocados em uma constelação pode revelar rapidamente conflitos subjacentes dentro de um
sistema de relacionamento - por exemplo, no seio da família de um cliente. Talvez o aspecto mais
original desse método seja o fato de que o cliente raramente fala. Na maioria dos casos, depois
que os representantes dos membros da família são colocados, o cliente torna-se apenas um
observador. Os representantes são movidos pelo campo de energia do sistema, que está ligado a
uma camada mais profunda da mente não acessível normalmente. Essa camada mais profunda,
que Hellinger chama de 'alma', orienta os representantes e o facilitador na busca de soluções. É
uma maneira de ultrapassar camadas superficiais de nossas mentes, onde os nossos desejos,
atitudes e crenças são gerados, e diretamente abordar as raízes dos conflitos. Ajudando o cliente
a experienciar que ele é parte de um sistema coletivo muito maior e convidando-o a se sintonizar
com essas forças mais vastas da vida, o facilitador ajuda o cliente a chegar a um ponto onde ele
pode dizer "sim" à vida como ela é. Este "sim" à vida não deve ser entendido com dizer "sim" para
outras pessoas, ou para cada situação de vida. Essencialmente, é um "sim" para si mesmo e para
a sua própria individualidade, e dessa maneira isso pode ser considerado como uma dimensão
espiritual da vida. Em situações de vida difíceis ou desafiadoras, como choque ou trauma, essa
capacidade de dizer "sim" à vida é muitas vezes prejudicada. A pessoa torna-se desconectado do
fluxo da vida ou desenvolve atitudes negativas para com a vida e para com outras pessoas. Em
vez disso, a vida dessa pessoa pode se concentrar no medo de experimentar um evento tão
traumático novamente e em evitar qualquer coisa parecida com a situação original. Por outro lado,
pode também ser um impulso para resolver os efeitos de um trauma, o qual pode resultar em
pessoas sendo atraídas para situações que têm uma certa similaridade com o evento original. Em
geral, podemos dizer que terapia é um esforço para trazer traumas não resolvidos e energias
bloqueadas a uma completude, e assim restaurar a capacidade da pessoa de fluir com a vida,
reconectando com outras pessoas e olhando para o futuro, ao invés do passado. Este é o tipo de
'sim' que o cliente experiência, quando a terapia é bem sucedida. Na Constelação Familiar pode-
se ver que este "sim" está intimamente ligada à sua capacidade de dizer "sim" para os pais e de
recebê-los em seu coração. Não é um gesto de má vontade ou relutante, no sentido de que o
cliente aceita seus pais porque não tem escolha, mas deve, antes, ter uma qualidade de júbilo e
gratidão. Por esta razão, costumamos falar mais "tomar" (receber) os pais, ao invés de
simplesmente aceitá-los. Em termos de corpo físico, a resolução bem sucedida do trauma
geralmente leva a uma descarga da energia presa ou reprimida. Isto significa que os estados
anormais de excitação elevada no sistema nervoso desaparecem e a pessoa retorna a um
movimento normal entre a ativação e relaxamento que fica dentro de limites toleráveis. Apesar de
reconhecer a realidade do trauma, a Constelação Familiar não oferece nenhum conceito
específico para entendê-lo. Isso às vezes leva a negligenciar o fato de que os clientes
traumatizados precisam ser tratados de uma forma diferente dos outros clientes. No entanto, a
nova abordagem da Constelação Familiar trabalha mais com movimentos espontâneos dos
representantes e isso dá tempo para as camadas mais profundas do sistema familiar revelarem-
se. Isso é o mais próximo que ela chega da visão da terapia do trauma orientada para o corpo que
considera o trauma como um evento que afeta particularmente o corpo e seu sistema nervoso. O
estilo clássico de fazer constelações, onde os representantes são basicamente guiados pelo
facilitador e seus conceitos, pode facilmente antecipar a descarga natural do trauma, forçando
uma conclusão prematura que não é espelhada pelo estado atual do sistema nervoso do cliente.
Por exemplo, em uma sessão em que o trauma foi perpetrado por um ou ambos os pais, pode-se
ver o cliente sendo solicitado - quase forçado - por um terapeuta a reverenciar os pais em uma
espécie de subordinação. Tal gesto não pode levar a resultados positivos. Pelo contrário, isso
pode ser visto como uma nova forma de condicionamento, através do qual o cliente é ensinado o
que é certo e o que é errado e aprende a render-se a um conceito moral. Na pior das hipóteses,
isso poderia levar a um fortalecimento de sintomas de trauma. A nova abordagem da Constelação
Familiar dá mais espaço para descarga do trauma ocorrer naturalmente, onde o facilitador
intervém menos e permite que os movimentos do campo de energia sistêmica se desdobrem por
si mesmos. No entanto, é importante trazer mais clareza para o que realmente acontece no trauma
- não só psicologicamente, como também fisiologicamente. Neste artigo, examinarei como a
terapia do trauma pode contribuir para o trabalho dos terapeutas sistêmicos. Especificamente, vou
me referir à abordagem inovadora da terapia do trauma de Peter Levine, chamada Experiência
Somática, que é mais abrangente do que outros métodos, enfatizando as raízes biológicas do
trauma e seus efeitos sobre o corpo e sistema nervoso. No meu trabalho, eu achei essa
abordagem enriquecedora e benéfica quando se trabalha com sistemas familiares, uma vez que
ela foca sobre aspectos do trauma que podem ser facilmente negligenciados por um facilitador de
Constelação Familiar. Primeiro vou apresentar alguns conceitos básicos, depois vou discutir a sua
relevância para uma sessão de Constelação Familiar.

Insights Básicos
1. A compreensão mais importante da abordagem de Peter Levine é que o trauma ocorre no
nível do sistema nervoso e não está no acontecimento em si. Em outras palavras, o mesmo
evento pode ser traumático para uma pessoa, mas não para outra pessoa. Um evento
torna-se traumática quando prejudica a capacidade normal do sistema nervoso de lidar
com esse acontecimento. Ele tem uma qualidade de sobrecarga, com a qual o indivíduo é
incapaz de lidar. Se determinado evento é percebido como muito repentino, demasiado ou
muito rápido para a capacidade do sistema nervoso do indivíduo lidar, ele se torna
traumática. É uma situação em que o organismo não tem a opção de reagir com a sua
capacidade instintiva de "luta ou fuga". Como resultado, o organismo entra na chamada
resposta de "congelamento", onde todo o sistema se fecha em uma última tentativa de se
proteger e maximizar as chances de sobrevivência. Por exemplo, se um rato é capturado
por um gato, ele entra em um estado de congelamento que protege o rato de sentir dor e
também inibe o impulso do gato de matar, aumentando assim as chances de sobrevivência
do rato. Estudando o comportamento dos animais, tem-se observado que quando um
animal sobrevive em tais situações e retorna a seu estado de normalidade a partir de um
estado de "congelamento", ele geralmente passa por um processo de descarga. A energia
acumulada é liberada de forma espontânea - por exemplo, através do chacoalhar ou de
tremores. Isto permite que o sistema nervoso do animal retorne ao seu nível normal de
funcionamento e que o animal funcione como antes. Quando ameaçados, os seres
humanos tendem a reagir de forma bem semelhante aos animais, porque uma área mais
primitiva e instintiva do nosso cérebro - o tronco cerebral - é ativada e assume o controle.
Essa é a região do cérebro que é responsável pelo sistema nervoso autônomo e controla
nossa resposta de sobrevivência. A parte ‘humana’ do nosso cérebro mais recentemente
desenvolvida, conhecida como Neocortex, é ultrapassada. Não há necessidade, aqui, de
entrar em detalhes sobre a forma como o corpo é ativado e o que acontece em diferentes
centros cerebrais, tais como a amídala e a resposta hormonal. O princípio importante para
entender é que, quando nos sentimos ameaçados, um processo fisiológico se inicia e
permite que o corpo responda rapidamente, com muita energia, para maximizar nossas
chances de sobrevivência. Essa resposta imediata só é possível ultrapassando a nossa
capacidade de pensar sobre a situação e de exercer controle voluntário - não há tempo
nem energia disponíveis para tais processos mentais complexas. É por isso que dizemos
que, em momentos de estresse relacionados à sobrevivência funcionamos como animais,
contando com nossos instintos, com muito pouco ou nenhum controle sobre nossas
respostas. Tal como acontece com outros animais, o corpo humano gera uma grande
quantidade de energia na preparação para a luta ou fuga e, quando as circunstâncias não
permitem tais respostas, o corpo entra em modo de congelamento. Nesse estado, as duas
partes do nosso sistema nervoso autônomo - o simpático e o parassimpático - são
altamente ativadas. Quando o corpo sai do estado de congelação, uma quantidade
significativa da energia excitada não é descarregada. Em vez disso, ela permanece
aprisionada no interior do corpo e, em particular, no interior do sistema nervoso. Isso nos
torna diferentes dos outros animais que parecem não ter problemas para se livrar do
excesso de energia. O que nos torna diferentes como seres humanos? É o Neocortex, a
mente pensante, que inibe a liberação de energia depois que a ameaça passou. Portanto,
Peter Levine define estresse pós-traumático (PTS) como um prolongamento anormal do
que era originalmente uma resposta rápida a uma situação de risco. Sintomas de PTS são
respostas incompletas que se tornaram congeladas com o tempo. Eles se repetem em
sequências infinitas, assim como num disco quebrado quando a agulha fica presa em um
determinado ponto. A vítima do PTS permanece em um estado de ativação exacerbada,
como se ainda estivesse sob ameaça e, como se pode imaginar, isso suga um monte de
energia. Além disso, nesse estado de hiperatividade crónica, todo o organismo se torna
gradualmente mais vulnerável a outros eventos estressantes que podem ser adicionados
ao sistema nervoso como novos traumas. Um resultado disso é que uma pessoa que sofre
de síndrome de PTS agora se sente compelida a agir com mais cautela na vida, reduzindo
a sua quantidade de experiências de vida disponíveis. Um sistema nervoso que não pode
mais regular-se dentro dos limites normais pode ser comparado com um carro no qual o
freio e o acelerador estão pressionados ao mesmo tempo. É um estado simultâneo de
grande excitação e grande corte. Assim, uma pessoa traumatizada pode parecer estar em
um estado de alta ativação, em que não pode realmente relaxar ou pode parecer estar
dissociada e ausente, como se estivesse em modo de congelamento. Ou pode oscilar entre
esses dois estados. Este é um resumo simplificado da abordagem de Levine relativa ao
trauma. Para um estudo mais aprofundado, convido o leitor a buscar a extensa literatura
disponível nessa área. (Ver bibliografia) Um terapeuta lidando com um cliente traumatizado
precisa entender como e por que o seu cliente não é capaz de retornar a um estado normal
de funcionamento. Ele precisa ser capaz de atingir um nível mais profundo do corpo e do
sistema nervoso do cliente, a fim de curar o problema. Percepções intelectuais não serão
suficientes. É por esta razão que Peter Levine criou uma terapia específica para a cura do
trauma, a qual chamou de Experiência Somática, na qual o praticante tenta atingir o nível
do tronco cerebral no qual a energia do trauma está presa, e ajudar o sistema nervoso a
descarregar a energia estagnada. No processo, ele tem o cuidado de expor o sistema
nervoso somente a quantidade de ativação que ele pode absorver, sem entrar no
congelamento. Em outras palavras, o trabalho tem que progredir lentamente, a partir de
um estado de recursos, em que a superestimulação ou o reviver um evento traumático são
evitados. A terapia tradicional corre o risco de sobrecarregar os clientes, expondo-os muito
rapidamente a um estímulo que de alguma forma se assemelha ao evento original que
causou o trauma. É provável que essa "sobrecarga" resulte em retraumatização. A
abordagem de Levine representa um desafio interessante para o nosso trabalho como
profissionais de Constelação Familiar. Ele nos lembra que os clientes que sofrem de
trauma podem precisar ser expostos a uma situação ameaçadora mais devagar e com
mais apoio. Ele nos ajuda a compreender que uma pessoa pode conhecer todos os
emaranhamentos que levaram a um evento traumático e pode até ser consciente das
raízes no sistema familiar, mas isso tudo pode ainda não libera-la dos sintomas
relacionados. As respostas físicas que são responsáveis pelos sintomas do trauma são
regidas por uma parte do cérebro que ainda não se deu conta de que a ameaça já
desapareceu há muito tempo. O intelecto não vai fundo o suficiente para tocar essa
camada. Essa é a razão pela qual, na terapia de trauma, falamos de uma 'completude
biológica ", onde o próprio corpo pode aprender a completar o passado. Isto pode ser
comparado com completar a realização de um movimento dentro do sistema familiar, como
é feito na Constelação Familiar.
2. As técnicas de cura do trauma; e como esses princípios podem ser adotados no trabalho
de Constelação Familiar?
Refiro-me principalmente aos métodos desenvolvidos na Experiência Somática. ‘Adquirir
recursos’ é um método no qual o cliente é colocado em contato com o que o ajuda a manter
um senso de conexão e integridade interior. Podem ser recursos exteriores, tais como
pessoas, lugares especiais ou objetos. Podem ser recursos interiores, tais como as
qualidades pessoais e habilidades. Os recursos podem ser experimentados em um nível
físico, emocional, psicológico, social e/ou espiritual. Eles são únicos para o indivíduo e
também podem mudar durante uma sessão. Sua função é fortalecer o cliente ao encontrar
dificuldades ou perturbações, o que de outra forma, o levaria à retraumatização. O
levantamento de recursos é uma parte importante no trabalho com trauma. Ele prepara o
cliente para enfrentar os desafios sem ser sobrecarregado por eles. Aplicar esse princípio
à Constelação Familiar pode ter vários significados: Isso pode significar que, quando um
cliente está altamente ativado, não se pode começar uma constelação de imediato, mas
em primeiro lugar pode-se tenta diminuir sua ativação e ajudá-lo a encontrar alguns
recursos interiores ou exteriores. Isto pode ser feito através do trabalho com o corpo e
ajudando-o a tornar-se consciente de partes do corpo que estão mais calmas e menos
ativadas. Ou, pode-se ajudá-lo a perceber que, onde ele está agora, é um ambiente seguro,
onde não existe ameaça e o perigo passou. Trabalhar com o olhar do cliente pode ser um
elemento importante nesse contexto. Adquirir recursos tem muito a ver com dar ao cliente
uma sensação de bem-estar, que também é conhecida como ‘enraizamento’. No entanto,
o enraizamento não contem necessariamente um sentimento de conexão com os pés e as
pernas ou a parte inferior do corpo, já que esta pode ser a parte ativada. Por vezes, o corpo
inteiro contém tanta energia excitada que nenhum recurso pode ser encontrado no interior
do próprio corpo. Então é preciso encontrar outros recursos fora do corpo, até mesmo
imagens fantasiosas podem ser úteis, ou o próprio terapeuta pode atuar como um recurso.
Exemplo: Em uma sessão, um cliente estava muito ativado e com medo quando pensava
em sua mãe. Ao invés de pedir-lhe para dizer "sim" para sua mãe e recebê-la, o terapeuta
pediu ao cliente para imaginar como ele gostaria que sua mãe fosse, criando uma nova
imagem como uma fantasia da imaginação. Descrevendo esta imagem, o cliente começou
a relaxar, a descarregar a energia, e então foi capaz de ficar mais presente para a sessão.
A partir desse ponto de segurança, ele tornou-se gradualmente mais capacitado para olhar
para sua mãe verdadeira. Somente quando uma pessoa está suficientemente amparada
nos recursos, ela é capaz de receber uma constelação e se beneficiar com insights que
surgem durante a sessão. Às vezes, pode até ser necessário interromper uma constelação
se o cliente fica muito ativado, se ele perde a sensação de bem-estar e enraizamento, e
fica incapacitado de seguir a constelação. Adquirir recursos abrange também outro aspecto
do trabalho de constelações. Dentro de uma constelação, um terapeuta muitas vezes tem
uma escolha: trabalhar com o maior emaranhamento ou dar atenção à parte do sistema
onde o cliente pode receber maior apoio e força. Com um cliente traumatizado, será melhor
olhar primeiro para os recursos dentro do sistema familiar. Em outras palavras, o facilitador
precisa ser capaz de ver se o amor e o apoio estão disponíveis do lado da mãe, ou do lado
do pai, em seguida, ajudar o cliente a tomar consciência disso, ao invés de focar naquilo
que ele não recebeu. Às vezes, ele pode precisar encontrar amor e relaxamento ficando
rodeado por seus irmãos, ou, mais usualmente, pela própria vida. Exemplo: Em uma
constelação, uma cliente do sexo feminino não se lembrava de eventos importantes em
sua família. Ao colocar representantes para seus pais, a mãe foi atraída para longe e
começou a expressar muita violência e dor e não conseguiu sentir relaxamento mesmo
depois que mais representantes foram adicionados à constelação. A cliente entrou
progressivamente em um estado de congelamento. Perguntada como se sentia, ela
respondeu que não foi tocada com o que viu, como se aquilo a tivesse atravessado
completamente. O terapeuta interrompeu a constelação e, no lugar, colocou a verdadeira
cliente e seus três irmãos na sala, um ao lado do outro. A cliente saiu imediatamente de
seu estado dissociado, sentindo-se aliviada e olhando para seus irmãos com o amor. Ao
se defrontar com o trauma, tem-se que estar muito consciente desse princípio de encontrar
apoio para o cliente, não focando apenas nos membros do sistema familiar de onde o
trauma está se originando. Questões importantes são: Quem foi capaz de apoiar e cuidar
da criança / cliente? O que o cliente recebeu (e não o que ele não recebeu)? Titulação
descreve o processo de entrar lentamente em áreas traumáticas de ativação, para que
sentimentos e sensações possam ser processados de forma gradual, pouco a pouco, sem
sobrecarregar o cliente. Isso ajuda a minimizar a ativação, abrandando as coisas, dando
espaço para subdividir a experiência em partes gerenciáveis. Isto dá ao corpo tempo para
integrar e gerar seus recursos naturais. A titulação pode ser comparada com a abertura de
uma garrafa de champanhe que está sob pressão. Quando aberta rapidamente ela
'explode' de uma forma que grande parte do seu conteúdo é derramado. No entanto,
quando ela é aberta de forma lenta e 'titulada', o ar e a pressão podem ser liberados sem
criar uma reação explosiva. Esse princípio é importante para qualquer tipo de sessão
terapêutica quando se trata de conteúdo traumático. Por exemplo, o cliente pode ser
convidado a falar lentamente, deixando lacunas entre suas frases ou ser solicitado a falar
sobre um problema de cada vez. Bert Hellinger às vezes permite que uma pessoa expresse
apenas uma frase, o que pode ser visto como uma forma de conter a energia. Às vezes,
nem mesmo uma sentença é proferida. É bom lembrar que lidamos com um problema de
cada vez em uma sessão de constelação, deixando outras questões relatadas para outra
hora. Pode ser bom para os clientes traumatizados evitar olhar diretamente para o evento
mais desafiador, em vez disso lidar com algum problema menos temeroso, mesmo que
isso não seja considerado como a causa raiz do problema. Isto é contrário à ideia de
algumas pessoas que podem pensar que se deve sempre ir diretamente à raiz do
problema. A pendulação descreve o fluxo natural entre o trauma e os recursos (entre o
trauma e o vórtice de cura). É uma técnica utilizada para se conectar uma pequena
quantidade de ativação, permitindo-lhe a descarga, e então, oscilando de volta para o
recurso disponível. Ela também pode ser adotada como um princípio geral de uma sessão
terapêutica, onde se move entre apoiar o cliente, ajudando-o a desidentificar-se dos seus
problemas, e então desafiando a sua estrutura de ego e trabalhando sobre as suas
questões. (Eu descrevi isso com mais detalhes em meu livro “The Zen Way of Counseling”:
“O Caminho Zen do Aconselhamento: uma abordagem de meditação para trabalhar com
pessoas ". Sem tradução para o português). Esse princípio é especialmente importante,
porque no trauma o cliente, muitas vezes fica desconectado de seus recursos, facilmente
tem a sensação de estar sobrecarregado e frequentemente é incapaz de controlar seu
comportamento. Como resultado, ele pode sofrer com um certo sintoma o qual não pode
controlar, o que piora se ele for confrontado com muita ativação semelhante ao evento
traumático original. Esse princípio também se aplica a Constelação Familiar. Por exemplo,
alguém do lado do pai da família de um cliente sofreu um choque traumático grave,
enquanto do lado da mãe há mais força, permanência e apoio ao cliente. O terapeuta pode
se concentrar demais em ajudar o cliente a se desidentificar do pai e de sua família, o que
pode vir a ser impossível. O cliente pode querer até agarrar-se ao pai, ficar intimamente
ligado a ele, a não ser que o amor e o apoio da mãe sejam incluídos desde o início do
trabalho. Esta força adicional pode facilitar um movimento para longe da identificação
doentia com alguém do lado da família do pai. Frequentemente, pode-se ver um tipo de
pendulação em uma constelação, quando o terapeuta pede ao cliente para olhar para sua
mãe e para o seu pai, alternadamente. Na nova abordagem (da Constelação), trabalhando
apenas com movimentos espontâneos, pode haver uma pendulação natural não iniciada
pelo cliente, mas parte de um movimento maior, o movimento da vida, onde movimentos
emaranhados e curativos se alternam. Visto dessa perspectiva, pode-se dizer que a própria
vida tem um poder natural de autorregularão. Ou, pode-se dizer que a vida é um processo
de entrar no envolvimento e sair do envolvimento. Tem-se que criar identificação antes que
se possa desidentificar. Esses insights no trabalho com o trauma podem ajudar os
facilitadores a serem menos unidimensionais em sua abordagem, mais conscientes do fato
de que dentro de um trauma há um potencial intrínseco. Mas, para acessar esse potencial,
pode não ser suficiente tornar o cliente consciente das leis mais profundas da vida, e sim
acompanhar o cliente até um lugar onde ele seja capaz de descobrir e perceber essas leis
por si mesmo. Por exemplo, se um cliente sofreu abuso sexual, não é suficiente saber que
a vítima e o agressor, eventualmente, têm que se encontrar. Pode ser muito cedo para
confrontar a vítima com o perpetrador, como muitas vezes é feito em sessões de
Constelação Familiar. Pode ser mais importante ajudar o cliente a encontrar recursos como
um primeiro passo, para ver então, o quanto ele pode tolerar o confronto e que tipo de
movimento de cura pode surgir. Em geral, deve-se ficar intimamente conectado ao cliente
e suas reações ao que ele vê se desenrolar diante de si, e não somente assistindo e
observando os movimentos dos representantes na constelação. Frequentemente, os
facilitadores de Constelação Familiar tendem a esquecer o cliente real e só observam os
representantes da constelação. Isso pode ser aceitável em uma situação normal, mas
quando se trata de um cliente traumatizado pode-se perder o fato de que ele está sendo
submetido a um excesso de estimulação ou até retraumatização. Outro princípio do
trabalho com trauma é chamado de descarga, onde a ativação é ajudada a sair
suavemente do corpo. Isto pode ser acompanhado pela restauração de determinadas
respostas que se tornaram inibidas e congeladas dentro da fisiologia do cliente. Terapeutas
de Trauma falam especificamente sobre as respostas luta, fuga e orientação. Terapeutas
de Constelação Familiar precisam estar cientes de qualquer descarga que acontece em
um representante ou no próprio cliente, que normalmente é um sinal de que o cliente está
saindo de uma identificação ou restabelecendo uma conexão perdida. Isso pode se mostrar
em uma expiração profunda, um relaxamento físico, um sorriso ou uma expressão
emocional, como riso ou choro. Normalmente, ela deixa o cliente mais forte, mais integrado
e mais disponível para o momento presente. Em um nível emocional, isso precisa ser
diferenciado das chamadas emoções secundárias que enfraquecem o cliente e são
resultantes da continuidade da identificação. Elas não aliviam o cliente e não o abrem para
nenhum território novo. Terapeutas de trauma geralmente tomam cuidado para que
qualquer descarga de um cliente traumatizado aconteça suavemente, de forma gradual e
não deve levar a uma superestimulação. Muita importância é dada à reintegração e na
ajuda ao sistema para reorganizar-se. Esses são elementos essenciais: dar tempo e
espaço suficientes para o cliente sem se mover muito rapidamente para um novo material,
desacelerar as coisas e esperar que o cliente seja capaz de absorver o que foi processado.
Essa abordagem serve como um lembrete importante para os terapeutas de Constelação
Familiar. Geralmente é melhor olhar um emaranhamento de cada vez para enfatizar um
insight importante, como também evitar longas falas ou análise após a constelação, dando
ao cliente o silêncio e espaço suficientes para absorver o que ele viu. Pode ser também
importante verificar se o cliente chegou de volta no "aqui e agora" e é capaz de entender
que o passado se foi, não só intelectualmente, mas existencialmente. Pode ser necessário
lembrar ao cliente de um novo recurso que ele encontrou durante a sessão, ajudando-o a
tornar-se consciente do efeito que esse recurso tem sobre ele agora. A Terapia do Trauma
dá importância especial em educar o cliente, ajudando-o a entender o que é o trauma,
porque os sintomas se desenvolvem; e como apoiar o corpo, a fim de superar tais sintomas.
Verificou-se que, com a educação, o cliente se torna mais capaz de sustentar-se na vida
diária e também se sente menos envergonhado sobre sua impotência em controlar os
sintomas. Entender o que é um ataque de pânico, o que pode levar a isso, o que é útil em
tal situação, pode ser o primeiro passo para recuperar o controle. Clientes traumatizados
precisam ser capazes de recuperar o controle sobre o seu comportamento como um
primeiro passo para encontrar relaxamento e superar as consequências de seu trauma.
Isto também significa que o terapeuta pode passar lições de casa práticas para o seu
cliente fazer. Isso é diferente da abordagem usual da Constelação Familiar, onde nós não
tomamos muito tempo em explicações e não oferecemos nada de específico para o cliente
fazer depois de uma sessão. Em termos de um condicionamento familiar, essa abordagem
é adequada, mas pode não ser suficiente quando se lida com o corpo. O corpo precisa ser
apoiado pelo intelecto; precisa ser dado a ele tempo suficiente para a reaprendizagem e
talvez precise ser dado também apoio adicional através de exercícios práticos que possam
ser feitos em casa.
3. Outros benefícios.
É claro que muitos terapeutas e praticantes de Constelação Familiar já incluem alguns
desses princípios em seu trabalho. Ainda assim, é um lembrete útil, especialmente pela
razão de que o trauma não era compreendido corretamente no passado e não se prestou
muita atenção ao trauma no trabalho de Constelação Familiar. Além disso, muitas vezes
não é dada importância suficiente à necessidade de incluir o corpo. Em minha opinião,
facilitar constelações sem ajudar o corpo a integrar essas experiências não é suficiente.
No meu trabalho, eu fui adicionando a dimensão física, incluindo meditações ativas no
curso de Constelação Familiar. Eu sinto que é essencial que os clientes se tornem
conscientes do que seu corpo está carregando em termos de energias não liberadas,
presas. Para clientes com trauma, isso é ainda mais importante. Eles sofrem de sintomas
que precisam ser tratadas fisicamente e não só através da compreensão da dinâmica
familiar na qual foram criados. Por exemplo, é útil para um cliente com trauma aprender a
sentir a ativação e a descarga no nível físico, algo que é chamado de 'rastreamento' em
Experiência Somática. Isto pode ser feito antes e depois de uma constelação. Antes de
uma sessão de constelação começar, pode ser útil diminuir a excitação e ajudar o corpo a
descarregar a energia excessiva que se originou de trauma não resolvido. Esse processo
preliminar enraíza o cliente no momento presente e torna-o mais disponível para observar,
absorver e integrar o trabalho. Muitas vezes, como já mencionamos, os clientes
traumatizados ou estão hiperativados ou em um estado dissociado. Em ambos os casos
uma constelação é suscetível de ‘atravessá-los’, com pouco ou nenhum resultado positivo.
Depois de uma constelação, é útil dar tempo para a integração, rastreando o efeito do que
foi observado no corpo. Isso vai dar mais profundidade e significado do que simplesmente
perguntar ao cliente se tudo foi entendido. Na minha experiência, muitos clientes
respondem "sim" a essas questões a partir do estado de choque, em um esforço para não
parecer ignorante ou para agradar ao terapeuta, ao invés de responder a partir de uma
compreensão verdadeira. Assim, ajudar o cliente a tomar consciência das sensações
físicas antes e / ou depois de uma constelação pode enriquecer e aprofundar os benefícios
da constelação. (Este é um campo interessante para um estudo mais aprofundado). Existe
outro benefício ao fazer o rastreamento do corpo antes de uma sessão: No trabalho de
constelações, especialmente quando se trabalha com os movimentos da alma ou do
espírito, é essencial encontrar um ponto de partida ideal para a sessão. Em outras
palavras, temos que decidir quem colocar na constelação, quem escolher do sistema
familiar. Pode ser apenas uma ou duas pessoas, mas elas precisam ser as mais
adequadas, caso contrário, o trabalho pode tomar uma direção diferente, sem solução para
o problema específico. Quanto menos representantes, mais concentrado o trabalho, por
isso é importante começar com uma pessoa significativa. Às vezes isso pode ser fácil de
decidir, mas em muitas situações isso não é tão óbvio. Muitos facilitadores experientes que
assistiram Bert Hellinger começar uma sessão de constelação com apenas um
representante ficaram perplexos de como ele é capaz de chegar a uma certa conclusão.
Se concordamos com todas as conclusões de Hellinger não é algo que vamos discutir aqui,
mas é óbvio que ele dá grande importância à seleção de um membro significativo da família
relacionado ao problema do cliente. Eu descobri que orientar o cliente para rastrear suas
sensações corporais, movendo-se em ciclos de ativação e descarga no início de uma
sessão - sem estar muito preocupado com sua relação com a dinâmica familiar - pode levar
o terapeuta a descobrir a pessoa certa e importante com quem começar a constelação.
Tenho feito experiências com essa abordagem com clientes de trauma e sempre percebi
que o meu próprio corpo irá guiar-me para o que é importante. A certa altura, torna-se fácil
e óbvio ver qual pessoa do sistema familiar tem de ser selecionada para a constelação. O
exemplo a seguir mostra como o trabalha com o corpo pode ser combinado com o trabalho
de constelação: Uma cliente do sexo feminino, com cerca de 40 anos, está tendo uma
sessão. Ela tem muito medo, seu corpo está tremendo e ela tem dificuldade em falar com
um tom de voz normal. Antes de perguntar sobre seu problema, primeiro eu a ajudo a
tornar-se mais calma. Eu sugiro que ela não brigue com a sensação do tremor, e se
concentre numa área do seu corpo que está menos afetada e relativamente calma. Isso a
ajuda a tolerar a ativação mais facilmente e mais rapidamente ela se torna capaz de
descarregar um pouco da tensão física. Eu também a ajudo a perceber - simplesmente
convidando-a a olhar ao redor - que ela está em um ambiente seguro e com suporte.
Depois de algum tempo, ela me diz que uma memória está surgindo de seu pai sufocando-
a com um travesseiro quando ela tinha cerca de 6 anos de idade. Ela lembra que sentiu
que ia morrer. Sem ir mais longe nessa memória, recordo-lhe que ela não morreu e, quando
ela relaxa um pouco, eu pergunto se ela se lembra onde sua mãe estava nesse momento
e se havia algum apoio disponível. Ela me diz que sua mãe e os outros irmãos estavam
assistindo à cena e parecia terem ficado paralisados. Ela se lembra da sensação de relaxar
e não lutar. Pergunto se essa resposta/ ação talvez possa ter sido o que a salvou e ela
concorda. Saliento a sua capacidade de relaxar e se render como um recurso pessoal que
salvou sua vida. Depois disso, a sua energia lentamente começa a expandir.
Anteriormente, a energia dela havia sido sugada da periferia do seu corpo e se concentrado
no núcleo, com suas extremidades ficando subcarregadas em um estado de quase colapso
- uma condição característica do tipo físico do medo. Agora sua postura corporal muda e
seus braços tornam-se mais cheios de energia. Quando eu a convido para cuidadosamente
rastrear suas sensações corporais, ela começa a perceber a carga à medida que ela entra
nos seus braços e nas mãos. Quando isso acontece, ela faz gestos defensivos e de
proteção, especialmente com sua mão e seu braço direito. Depois de seguir isso por um
tempo, ela se sente mais ligada a terra, presente e conectada com sua força. Eu lhe explico
o que acontece no corpo após um evento tão traumático e também a dificuldade em
desenvolver a autoconfiança que ocorre quando um pai foi incapaz de ser um suporte
seguro e confiável para a criança. Agora minha cliente está mais estável e pronta para
olhar para a dinâmica familiar que pode ter levado seu pai a tornar-se uma ameaça para a
sua vida. É claro que ela vai ter que resolver essa questão com o pai, a fim de estabelecer
relacionamentos saudáveis com os homens. Em sua vida, ela tende a manter os homens
à distância, enquanto, ao mesmo tempo, está em busca de uma figura paterna. Deixá-la
encarar seu pai em uma constelação desde o início poderia ter sido uma experiência
avassaladora para ela. Tal confronto, sem uma preparação adequada poderia ter causado
nela uma forte reação ou traumatiza-la ainda mais. Agora ela está mais preparada.
Pergunto-lhe se ela se sente pronta para prosseguir com a constelação e ela concorda.
Ela escolhe representantes para o pai e para si mesma, e observa a uma distância segura.
Quando eles se olham, o pai não consegue ver sua filha como sua filha. A representante
da cliente começa a olhar para o chão e assim – de acordo com as dinâmicas da
Constelação Familiar - nós colocamos alguém ali para representar uma pessoa morta. A
cliente se deita ao lado dela. O pai é tocado por esse movimento, mas permanece
congelado. Depois de colocar dois outros homens na cena, mais movimentos acontecem
e surge a impressão de que seu pai tomou o impulso assassino de seu avô, que parecia
ter assassinado alguém. A cliente, por outro lado, assumiu o fardo de representar a pessoa
assassinada. Depois de um tempo, peço que os representantes do pai e da filha fiquem
novamente frente a frente. Dessa vez, um maior reconhecimento é possível. O pai é capaz
de ver a sua filha e a filha pode dar alguns passos em direção a ele. Nesse ponto, paro a
constelação. Mais tarde, a cliente sentiu que poderia relaxar mais com seu pai e até mesmo
visitá-lo, o que teria sido difícil anteriormente. Ela também se sentiu mais à vontade na sua
situação atual de vida, para permitir que as coisas cresçam lentamente, sem se forçar a
ter quaisquer relações estáveis com os homens.
Este exemplo mostra como o trabalho com trauma e a Constelação Familiar podem ser
combinados para se chegar a um quadro mais abrangente e completo. É claro que, por
vezes, pode-se chegar a bons resultados utilizando-se apenas um desses métodos. Mas
as chances são maiores do que se algum aspecto importante for deixado de fora ou do
que se a cliente estiver muito excitada para absorver adequadamente os insights que
estavam disponíveis para ela.

3. Dois pontos de vista que dão uma visão mais vasta:


Como vimos no exemplo anterior, pode ser útil combinar o trabalho com trauma e a
Constelação Familiar. Mesmo que o facilitador não queira fazer isso, é útil ter uma
compreensão de ambas as abordagens para a terapia e a cura. A Constelação Familiar,
por si só, frequentemente, não inclui o corpo suficientemente e pode ignorar os efeitos do
trauma sobre a fisiologia de um cliente. Como consequência, o facilitador pode tirar
conclusões precipitadas e pode confrontar o cliente com algo que só poderia vir como
resultado de um longo processo. A compreensão intelectual pode acontecer rapidamente,
mas, como vimos, é preciso tempo para absorver isso no corpo e deixar o corpo aprender
com ele. Por si só, o trabalho com trauma pode ignorar os aspectos sistêmicos. Em outras
palavras, quando não incluímos o que recebemos de uma geração anterior, somos levados
a recriar situações traumáticas semelhantes consecutivamente. Por exemplo, pode-se
ajudar uma pessoa a superar os efeitos de um acidente. Mas a menos que saibamos o que
levou essa pessoa a ter o acidente - por exemplo, uma identificação com um membro
anterior da família, a quem se quer seguir na morte - esses benefícios podem ser apenas
temporários e situações semelhantes podem ser recriadas. Então, se utilizamos um ou
ambos os métodos realmente não importa. O que importa é trabalhar em ambos os níveis,
com o pessoal, bem como o sistêmico ou coletivo. Para terminar este artigo, gostaria de
resumir alguns princípios que se deve lembrar quando se trabalha com um cliente
traumatizado:
1. O trabalho deve ser efetuado lentamente. Deve-se evitar qualquer confronto no início e
certificar-se que o cliente está em contato com seus recursos.
2. Deve-se estar atento aos sinais de ativação ou dissociação e evitar qualquer
retraumatização.
3. Frequentemente, é útil com um cliente traumatizado deixá-lo escolher os representantes,
pois isso lhe dará uma sensação de estar no controle. Isso evita dar ao cliente a sensação
dele estar sujeito a eventos incontroláveis, que é o que aconteceu no trauma original.
4. Durante a sessão, é importante manter contato com o cliente, ajudando-o a rastrear suas
sensações corporais. Dessa forma, pode-se ter certeza de que o cliente ainda está
presente para o que está acontecendo.
5. Deve-se sempre estar pronto para interromper a constelação se ela se torna muito
carregada para o cliente.
6. É bom limitar o trabalho a apenas um aspecto da constelação ou a um emaranhamento,
respeitando os limites de quanto o cliente está preparado para absorver. Pode-se também
verificar com o cliente se ele quer ir em frente ou não.
7. Muitas vezes, é melhor manter o cliente fora de sua própria constelação, permanecendo
com seu representante, pois isso lhe permite manter uma distância segura.
8. Às vezes é melhor deixar as coisas abertas à interpretação, ao invés de dar uma
explicação detalhada, ou ser muito definitivo sobre o que aconteceu. Dessa forma, nos
dirigimos para a alma, ao invés da mente e é deixado mais espaço para o cliente absorver
lentamente a situação. A colocação de representantes sem nomear quem eles
representam, também pode ser uma forma de proteger o cliente. Por exemplo, pode-se
colocar alguém para representar a questão verdadeira, escondida, subjacente, ao invés de
tentar descobrir exatamente o que essa questão pode ser.
9. O contato físico, como a colocação de uma mão sobre o braço do cliente, ou por trás do
ombro, pode servir como apoio extra. No entanto, deve-se ter o cuidado de respeitar os
limites físicos e energéticos do cliente. Trauma sempre inclui a ruptura de fronteiras e os
clientes muitas vezes não podem sentir suas próprias fronteiras, ou, preferencialmente,
pode tê-las muito rígidas. Trazendo consciência para isso, por exemplo, através de pedir
ao cliente que ele responda ao ser tocado, pode ajudar a restabelecer os limites saudáveis.
10. Podem existir meios adicionais de suporte disponíveis, dependendo da situação; por
exemplo, se for uma situação de grupo, outras pessoas da sala, ou até mesmo objetos da
sala.
11. Pode ser de ajuda dar ao cliente a compreensão dos mecanismos que levam ao trauma
e que ele não está "errado" nem é "estúpido" em seu comportamento. Além disso, quando
se quer finalizar uma constelação sem explicar o que aconteceu, deve-se verificar se é
necessário explicar para o cliente a razão pela qual é melhor não falar sobre os detalhes.
Para concluir: deve-se sempre observar o quanto um cliente pode absorver e integrar. O
terapeuta precisa tomar essa decisão, porque os clientes traumatizados tendem a
superestimar a sua própria capacidade e desafiar-se muito. O princípio de dar um pequeno
passo de cada vez, deixando espaço para a integração, é uma boa orientação para
trabalhar com trauma. Rastrear sensações físicas é a medida para saber se estamos indo
rápido demais. A expressão emocional às vezes é necessária, mas o trabalho deve se
concentrar mais em aprender a conter e sentir emoções, ao invés de ter explosões de
liberação.

Bibliografia: Levine, Peter: O Despertar do Tigre: Curando o Trauma (Summus Editorial, Brasil)
Liebermeister, Svagito: As Raízes do Amor: Um Guia para a Constelação Familiar (Edições
Demócrito Rocha, Brasil) Hellinger, Bert: Wo Ohnmacht Frieden stiftet. Familien-Stellen und
Kurztherapien mit Opfern von Trauma, Schicksal und Schuld (Carl-Auer-Systeme Verlag,
Heidelberg 2000) Rothschild, Babette: The Body Remembers The Psychophysiology of Trauma
and Trauma Treatment (W. W. Norton & Co, New York) Ruppert, Franz: Verwirrte Seelen. Der
verborgene Sinn von Psychosen. Grundzuege eine systematischen Psychotraumatologie (Kösel-
Verlag, München 2002) Liebermeister, Svagito: The Roots of Love: A Guide to Family Constellation
(Perfect Publishers, London 2006) Liebermeister, Svagito: The Zen Way of Counseling. A
meditative approach to working with people (O-Books, John Hunt Publishing, London 2009)

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