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18 a 21 de agosto de 2020
Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa (PB)
Área Temática: 07 – Instituições Políticas; Sessão 6; Data: 22/10; Horário: 16:30h às 18:30h
Coordenação: Marta Mendes da Rocha (UFJF); Mariana Batista (UFPE)
Resumo
Dimensão familiar é central em estudos sobre acumulação, reprodução e transmissão de
riquezas e poder político. Focado no Senado este trabalho exemplifica como o emprego de
emendas serve à manutenção de bases eleitorais de grupos político-familiares.
Abstract
The family dimension is central to studies on the accumulation, reproduction and
transmission of wealth and power. Focused on the Senate this work exemplifies how the use
of amendments serves to maintain the electoral bases of political-family groups.
Pang (1979), Carone (1971) e Emmi (1987). Outras produções, focavam em estatísticas de
partidos políticos e resultados eleitorais, como Duverger (1987), criando um vácuo nos
estudos de tal modo que, segundo Canêdo (1994), limitou a percepção da complexidade do
jogo político, principalmente nos períodos pós 1945, ditadura militar e pós redemocratização.
A partir dos anos 1990, com Oliveira (1993, 1995), Canêdo (1994, 1997) e Grill (2003,
2008), houve a retomada de estudos que consideravam em suas análises as relações entre
parentesco e política, para melhor compreensão das relações de poder e da realidade por trás
das instituições no Brasil, e que passaram a enxergar o perfil familiar da política brasileira:
Ainda para efeito deste estudo, considera-se o entendimento de Monteiro (2016, 2018)
sobre famílias do poder1, famílias políticas2 e novas famílias políticas3.
1
Famílias do poder são aquelas posicionadas no topo da pirâmide; que recebem os melhores salários da república,
além de outros expressivos auxílios que lhes garantem se constituir na classe abastada e, por consequência, aquela
que sobrevive de privilégios produzidos pelo estado e das rendas oriundas do capital. (MONTEIRO, 2018, p. 221)
2
Famílias políticas: as que ocupam cargos públicos eletivos e de representação e cargos de comando há mais de
meio século no Estado; cujos pais, tios, avós, bisavós já atuavam e controlavam politicamente determinadas
regiões, trazendo o “nome de família”, associado a outros capitais herdados e passam a ocupar posições dominantes
no campo político, jurídico e econômico estatal; herdeiros das tradicionais oligarquias. (MONTEIRO, 2016, p. 29)
3
Novas famílias políticas: adentraram o campo político na redemocratização, sob a força do capital econômico ou
ancoradas por meio da parentela; que passaram a construir quadros e inserir parentes para os cargos eletivos e de
representação política, ocupando posições privilegiadas e de comando no campo, muitas vezes, espaços deixados
4
por agentes políticos tradicionais que não conseguiram construir o herdeiro consanguíneo direto. [...].
(MONTEIRO, 2016, p. 30).
5
4
A origem do Senado remonta à Roma Antiga, enquanto organização que surge na monarquia, formada por um
conselho de ex-reis, permanecendo nas fases seguintes da República e Império. Sobre a importância do Senado
para a consolidação da república romana, Maquiavel (2008), não considera um mal as mortes protagonizadas por
Rômulo, de um colega deste, Tito Tácio Sabino nem de Rêmulo, seu próprio irmão, por interpretar que a
consequência foi a consolidação da República e a união das cidades-estado italianas e que aí, inclusive, está
presente a formação do próprio Senado:
“O que demonstra que Rômulo merece ser absolvido da morte de seu irmão e do seu colega, e que agiu não para
satisfazer uma ambição pessoal, mas em prol do bem comum, é o estabelecimento imediato do Senado, cujo
6
O Senado foi pela origem uma instituição da Coroa, ligada aos seus
interesses e participando de sua política […] era o agente do estamento
burocrático. Foi um órgão do qual se servia o Poder Moderador para dominar
a Câmara e o Ministério”. (FAORO, 1958, p. 173).
Como exemplo, Carvalho (2018) constatou que no Rio Grande do Norte, no último
século, as famílias Alves e Maia ocuparam simultaneamente espaços de poder por mais de
sete décadas na Câmara, prefeitura da capital e governo do Estado e que, de 1986 a 2018,
ocuparam, continuamente, duas, das três vagas no Senado. Nenhum outro grupo político no
Estado, seja na Colônia, Império ou República, foi tão longevo em termos de ocupação de
espaços de poder.
Além disso, a composição do Senado nem sempre foi numericamente igualitária, mas,
passou a sê-la a partir da Constituição Federal de 1988. Este integrante do Poder Legislativo,
então, passou a contar com a representação de três senadores por cada uma das 26 unidades
federativas e o Distrito Federal, o que fez com que ficasse conhecido como a casa de
conselho procurou, tomando como guia. [...] foi desnecessário então, alterar o antigo governo; tudo o que fez foi
criar dois cônsules anuais em que estavam mais ajustadas a um governo livre e popular do que a um governo
absoluto e tirano.” (MAQUIAVEL, 2008, p. 50, grifo nosso).
7
representação dos estados (GROHMANN, 2001; CHACON, 1997). Porém, segundo Neiva
(2016):
5
Outras publicações que relacionam o tema família e política (TEIXEIRA, 2014; MIRANDA, 2016), e:
FILHO, João. Famílias tradicionais dominam a política brasileira e isso não tem hora pra acabar. The
Intercept_Brasil, 2018. Disponível em: <https://theintercept.com/2018/09/02/familias-tradicionais-dominam-
a-politica-brasileira-e-isso-nao-tem-hora-pra-acabar/>
SARDINHA, Edson. Congresso, um negócio de família: seis em cada dez parlamentares têm parentes na
política. Congresso em Foco, 2017. Em: <https://congressoemfoco.uol.com.br/especial/noticias/congresso-
um-negocio-de-familia-seis-em-cada-dez-parlamentares-tem-parentes-na-politica/>
Agência Pública. Herdeiros de políticos ocupam metade da Câmara. Congresso em foco, 2016. Em:
<https://congressoemfoco.uol.com.br/especial/noticias/herdeiros-de-politicos-ocupam-metade-da-camara/>
SARDINHA, Edson. A incrível bancada dos parentes no Senado. Congresso em foco, 2017. Disponível em:
<https://congressoemfoco.uol.com.br/especial/noticias/a-incrivel-bancada-dos-parentes-no-senado/>
leis (FIGUEIREDO & LIMONGI, 1996); no levantamento jurídico em aspectos sobre nepotismo
(RODRIGUES, 2012; ARAÚJO, 2013); foco exclusivo em determinados períodos como pós-
constituinte (LEMOS, 2008), no império (SANTOS, 2016), e em diversos outros temas.
Ressalte-se ainda, que algumas pesquisas direcionam suas análises à demonstração
da ligação de senadores com empresários ou mesmo senadores oriundos da classe
empresarial (COSTA, P.R.N., COSTA, L.D. E NUNES, 2014; COSTA. P.R.N, 2012; RAVA,
2010). E, diante disso, vale a pena reforçar que a família, fio condutor da investigação neste
trabalho, antecede e perpassa não somente o Senado, mas também às empresas e às elites
em qualquer um de seus segmentos, visto que, evidentemente, todos eles têm famílias e delas
são oriundos. E, mesmo nestes casos, os interesses em jogo não são os interesses das
empresas, são os interesses das famílias por trás das empresas. Os nomes, sobrenomes e
“CPF´s” dessas pessoas, antecedem aos seus respectivos “CNPJ’s”. Portanto, o que importa
para nós, nesta pesquisa que iremos desenvolver, é quem está por traz: a origem familiar, a
classe social a qual pertence cada senador, seja de direita ou de esquerda.
Enquanto casa da tomada de decisões, o Senado tem poderes especiais, inclusive se
comparado à Câmara Federal e aos poderes executivo e judiciário: autorizar empréstimos e
operações financeiras a municípios, estados e à própria União, revisar e devolver projetos
aprovados pela Câmara, aceitação de processo e votações de impeachment de presidente
da República, processamento e julgamento de ministros do Supremo Tribunal Federal,
Procurador Geral da República e Advogado Geral da União nos crimes de reponsabilidade.
Por essa instituição, transitam as votações das principais políticas de Estado, como reforma
trabalhista, previdenciária, política e tributária, dentre outros de iniciativa própria ou advindos
da Câmara.
O Senado constitui-se, assim, num dos palcos das discussões e decisões políticas
mais importantes de uma nação, de uma República. E, quando se pensa em política, é
necessário considerar a existência de interesses diversos, desejos e objetivos a serem
conquistados, aos quais estão conectados, por meio de redes, todos os integrantes desse
colegiado.
No jogo do poder, o que está em jogo é o poder de decidir e o Senado é uma casa de
acesso ao poder decisório que tem a condição de direcionar mudanças estruturantes na
sociedade pra confirmar, manter ou alterar as relações de poder na sociedade, bem como as
desigualdades sociais e a própria condição de dominância das classes dominantes.
Este estudo cumpre também uma função de estimular pesquisas que apontem para a
realidade da representação do Senado, de modo que permita perceber se esta realidade
condiz com os princípios de sua formação, sendo uma casa da res pública ou uma casa que
serve de ressonância apenas à frações de classes dominantes da economia e da política dos
estados, situação que faria da República, na prática, uma peça de ficção.
9
Para isso, aponta para um tipo de investigação que pode ser desenvolvida e que
permita estabelecer uma conexão analítica ente família e Senado no âmbito da República. E
neste contexto, a categoria central de análise é a família, fio condutor dessa sugestão de
abordagem, pois a família importa para compreender e explicar, por exemplo, o Senado: uma
instituição dita republicana, mas que é atravessada por famílias políticas, em especial as
famílias das classes dominantes.
Em sintonia com esse argumento de Willems (1953 apud OLIVEIRA, 2018, p. 34) que
afirma que “não existe nenhuma instituição no Brasil que não seja atravessada por famílias”,
vale destacar algo aparentemente óbvio, mas que faz todo o sentido nesta nossa discussão:
todas as decisões tomadas no âmbito do Senado são decisões tomadas por pessoas físicas
e todos eles são oriundos e interconectados às suas próprias famílias.
Pode-se então perguntar: existem famílias que atravessam e controlam a instituição
brasileira chamada Senado? Quais são essas famílias? São de origem indígena, negra-
quilombola ou branca? Há quanto tempo ocupam espaços de poder? Possuem outros
parentes ocupando cargos eletivos ou de representação no aparelho estatal? Se existem as
bancadas “da bala, da bíblia e do boi”, das empreiteiras, do agronegócio, da mídia e do
mercado financeiro, há também a bancada dos grupos de origem popular?
A percepção é a de que boa parte dos assentos da Alta Câmara, são ocupados por
famílias6 poderosas, que parecem suceder a si mesmas, como numa monarquia, onde o poder
é transmitido por hereditariedade e consanguinidade. No Senado, segundo Oliveira (2018),
com base em dados do Congresso em Foco em 2017, a taxa de parentesco é maior que a da
Câmara:
Todo esse contexto, aponta para sugestões de pesquisa, para tentar responder à uma
pergunta como: O Senado Federal é, historicamente, a casa da representação de cada Estado
brasileiro, ou das famílias do poder de cada Estado? Uma resposta possível é que, além de o
Senado ser uma “Casa Grande”, (FREYRE, 2006), que abriga as famílias do poder, sua teia
conecta-se aos principais grupos familiares do poder econômico e financeiro do Brasil
(OLIVEIRA, 2018; MONTEIRO, 2016; GOULART, 2018). E, segundo Neiva (2016), é “uma
casa menos estruturada, mais fluida, com relações pessoais mais frequentes, menos
hierarquizadas e com regras de funcionamento menos estritas”.
6
Atentar à frase final do filme “Democracia em vertigem”, que desenvolve uma visão crítica sobre o imbricamento
das famílias mais poderosas do Brasil com Estado: “[...] Somos uma República de famílias” (Democracia em
vertigem. Direção: Petra Costa, Produção: Joanna Natasegara, Tiago Pavan, Shane Boris. Brasíllia (DF): 2019).
10
Há mais de sete décadas, dois grupos político-familiares, Alves e Maia, têm ocupado,
por meio de seus representantes, importantes espaços de poder no Rio Grande do Norte.
Esse fato se reproduz, especialmente plano majoritário, nas últimas quatro décadas, conforme
ilustramos abaixo:
2006 Rosalba Ciarlini Rosado PFL Wilma de Faria, PSB Carlos Eduardo Alves,
reeleito 1/1/2005-1/1/2009,
PSB
*Garibaldi Pai Supl. de Rosalba Ciarlini Rosado, Micarla de Sousa, PV,
2010 Rosalba DEM 1/1/2009-31/10/2012,
Garibaldi Alves Filho PMDB
José Agripino Maia DEM
Carlos Eduardo Alves, PDT
2014 Maria de Fátima Bezerra PT Robinson Mesquita de 1/1/2013-1/1/2017
Faria, PSD Carlos Eduardo Alves, PDT,
1/1/2017 – 6/4/18
Mesmo após uma minuciosa pesquisa mais aprofundada, não foi identificado nos
períodos da Colônia, Império, ou mesmo em fases anteriores da República, nenhum outro
grupo político-familiar que fosse tão longevo, na ocupação contínua de espaços de poder,
mesmo quando determinados cargos eram ocupados por designação.
Apesar de, cronologicamente, os grupos político-familiares estudados serem
sucessores temporais das velhas oligarquias potiguares, ao invés de se renovarem em
relação ao modus operandi político, acabaram se constituindo como herdeiros de antigas
11
MAIA
Lavosier Maia, primo de
= 1 1998
Agripino
10
MAIA = 06
Lavosier Maia 1 2006
Garibaldi Alves Filho, foi eleito prefeito de Natal uma vez, governou o RN por duas
vezes e exercera o mandato de Senador por três vezes. Pudemos constatar que Garibaldi
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Aves Filho e José Agripino Maia oscilaram no exercício do poder, desde os cargos de prefeito
e governador nos tempos das “vacas gordas” a senador, no tempo das “vacas magras”, o que
lhes permitiu receber de herança as polarizadas bases políticas de poder no Estado, que
haviam sido construídas por seus antepassados. Foi fundamental para ambos e para seus
respectivos grupos político-familiares, o fato de terem ocupado os citados cargos no poder
executivo, principalmente estadual, fato que os projetou, “longevamente”, a permanecerem
nesses espaços majoritários de poder.
Confira o detalhamento de espaços de poder ocupados pela família Alves, além do
campo majoritário, nos quadros que seguem abaixo:
ALVES
= Geraldo Neto 4 1996, 2000, 2004, 2008
07
É possível ilustrar com alguns exemplos, o procedimento que foi adotado: Conforme o
mapa acima, expomos o somatório das emendas do senador José Agripino Maia às do seu
filho, o deputado federal Felipe Maia. A imagem passa a preencher diversos espaços vazios,
antes não preenchidos no mapa de votação do senador, com apenas as emendas exclusivas
deste, o que expõe assim, o peso da influência das emendas do filho. Nas eleições, é comum
se observar a “casadinha” ou “dobradinha”, onde prefeitos, lideranças e eleitores “fecham”
acordo para votar em conjunto, o que é facilitado quando se tem pai e filho nas negociações
políticas.
Já nos dois mapas que seguem abaixo, respectivamente, estão somadas todas as
emendas dos grupos político-familiares Maia e Alves. No primeiro caso, incluindo as emendas
parlamentares do filho Felipe Maia e dos primos João da Silva Maia e Zenaide Maia. Todos
na condição de deputados federais, sendo que Joao Maia não exerce mandato a partir de
2014, tendo sido substituído pela irmã, Zenaide Maia. O resultado, porém, é um casamento
visual bastante ajustado ao relacionarmos as emendas dos familiares com a votação de José
Agripino para o Senado, onde quase todos os espaços são preenchidos no mapa.
E, no segundo caso, mesmo foi feito com a Família Alves, demonstrando o percentual
de votação de Garibaldi A. Filho ao senado – 2010 e soma dos valores de emendas
parlamentares de Garibaldi A. Filho, Garibaldi Alves, Henrique E. Alves, Ivonete Dantas,
Walter Alves e Paulo Davim, 2010 – 2018, igualmente demonstrando a conexão entre os votos
do senador Garibaldi Alves Filho e as emendas do seu grupo político-familiar.
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Família Maia (J. Agripino Maia, Felipe Maia, João Maia, Zenaide Maia): Percentual de
votação de José Agripino Maia ao senado – 2010 e soma dos valores de emendas
parlamentares de J. Agripino Maia, Felipe Maia, João Maia e Zenaide Maia, 2010 - 2018
Família Alves (Garibaldi A. Filho, Garibaldi Alves, Henrique E. Alves, Ivonete Dantas,
Walter Alves e Paulo Davim): Percentual de votação de Garibaldi A. Filho ao senado –
2010 e soma dos valores de emendas parlamentares de Garibaldi A. Filho, Garibaldi
Alves, Henrique E. Alves, Ivonete Dantas, Walter Alves e Paulo Davim, 2010 – 2018
Em relação aos estudos sobre conexões entre família e política, este trabalho abordou,
à luz de diversas teorias desenvolvidas, os complicadores que impactam sobre os processos
eleitorais e os prejuízos causados ao sistema democrático como um todo. No plano teórico,
justificou-se ainda a escolha feita pelo Senado como foco principal para uma abordagem
empírica e por fim, contribuiu com exemplos, focando na realidade vivida pelo Estado do Rio
Grande do Norte.
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governamentais, que têm suas representações em Brasília e nos Estados, e com o próprio
presidente da República, que não governa sem o Congresso. Um senador, tem o poder de
facilitar ou boicotar pleitos, a depender de quem esteja governando o seu Estado – ou
municípios, em determinadas ocasiões.
G) - O resultado desse tipo de prática, ao longo de décadas, foi o impedimento ou a
criação de dificuldades para que os de outras famílias ou grupos “periféricos” chegassem a
ocupar determinados espaços de poder, sobretudo no campo majoritário.
H) – Todo esse poder reunido, provocou interferências no jogo democrático, na disputa
eleitoral. Essa luta pela sobrevivência demonstrou ao longo da história política potiguar, que,
se cada passo estratégico que foi dado, não estava planejado desde os primórdios pelos seus
patriarcas, pelo menos a trama e a forma de fazer política, pelo que foi observado, se repetiu
a cada ciclo eleitoral. São famílias, como elucidam os conceitos de Weber (2011), que vivem
não só “para” a política, mas, principalmente, “da” política. São profissionais, por mais que
vocacionados, que a partir do exercício da política, constroem mecanismos próprios de
perpetuação nela, e dela extraem dividendos econômicos, sob o argumento de prestarem um
serviço público que justificaria os seus respectivos modus operandi.
A pesquisa mais ampla, contida na dissertação Família e Política no RN: Alves, Maia
e o suporte do Senado, que deu origem a este artigo, apurou que a sustentação política dos
grupos familiares se deu ao longo do tempo por meio das “suas” bases e instrumentos
disponíveis, que se alimentam do controle de partidos, verbas de campanha eleitoral pública
e privada e da distribuição de emendas parlamentares. Além disso, foram destacados os
cargos políticos municipais, estaduais e federais que ocupam ou nomeiam, por meio dos quais
têm acesso a outros orçamentos que controlam diretamente, no exercício desse cargo, ou
nos quais influenciam, quando indicam nomes de aliados para o seu preenchimento. E, ainda,
do uso de veículos de comunicação próprios ou de parceiros e da influência na distribuição e
aplicação de verbas publicitárias públicas e privadas, que são utilizadas para desgastar as
imagens públicas dos adversários e promover a construção positiva e fortalecimento das
imagens dos próprios membros da família ou aliados de ocasião.
Finalmente, pesquisas prévias, mesmo ainda não aprofundadas, apontam para que tal
realidade também é vivenciada pelos demais Estados brasileiros, o que indica a importância
de que tais estudos possam ser expandidos em se considerando o Senado Federal.
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