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Bovinocultura de corte

CAPÍTULO
63
Classificação e tipificação
de carcaças bovinas

Pedro Eduardo de Felício


Professor Titular
Faculdade de Engenharia de Alimentos
UNICAMP. Campinas, SP
pedro.felicio@gmail.com

Introdução

C
arcaça bovina, por definição, é o bovino abatido, san-
grado, esfolado, eviscerado, desprovido de cabeça, pa-
tas, rabo, glândula mamária (na fêmea), verga (pênis),
exceto suas raízes, e testículos (no macho). Após sua divisão
longitudinal em meias carcaças, antes da pesagem, lavagem
e resfriamento, é feita a toalete que consiste em retirar os
rins, gorduras perirrenal (sebo de rim) e inguinal (capadura),
ferida de sangria, medula espinhal, diafragma e seus pilares
(BRASIL, 1990). Essa definição é importante porque de um
país a outro, ou no mesmo país, pode variar o procedimento
de toalete. Assim, por exemplo, nos Estados Unidos, a defini-
ção de carcaça inclui a KPH fat (kidney, pelvic and heart), ou
gorduras perirrenal, pélvica e interna do tórax, enquanto no

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Bovinocultura de corte • Editor: Alexandre Vaz Pires Felício
Volume II • p. 761-1508 • ISBN:978-85-7133-070-2
Editora: FEALQ - Piracicaba, SP
Classificação e tipificação
de carcaças bovinas
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Reino Unido, a presença ou não dessas gordu- Uma tipificação, em princípio, é formada de
ras pode ser especificada. duas partes, sendo a primeira de classificação
As carcaças apresentam variabilidade nas por gênero, idade aproximada (maturidade ós-
suas principais características de peso, acaba- sea ou dentária) e faixa de peso. O peso, geral-
mento (gordura de cobertura) e conformação, mente, é um fator restritivo importante na atri-
que podem ser aferidas logo depois da toalete. buição de ágio ou deságio. A segunda parte é a
E também em outras, como a cor da carne e a tipificação propriamente dita, que consiste em
quantidade de gordura intramuscular, que devem alocar as carcaças já classificadas em tipos or-
ser avaliadas após o resfriamento. Todas são, em denados de melhor a pior, conforme outros indi-
maior ou menor grau, dependentes de fatores cadores que podem ser: conformação e acaba-
intrínsecos de gênero, idade, genética; ou mento, avaliados na carcaça quente, ainda na
extrínsecos de manejo e alimentação do gado. sala de matança, e outros como cor da carne,
As características, bem como alguns dos marbling (mármore) e área do olho de lombo,
fatores que influenciam a sua variabilidade, são por exemplo, que só são aferíveis depois do res-
denominados indicadores, porque fornecem al- friamento das carcaças, quando terá ocorrido o
guma indicação de qualidade ou rendimento. Os rigor mortis.
indicadores podem ser empregados individual- Em tese, as carcaças dos melhores tipos
mente ou combinados, para agrupar carcaças dariam carne de melhor qualidade, ou maiores
semelhantes. A isso se dá o nome de classifica- rendimentos de desossa, ou uma combinação
ção de carcaças, e os indicadores mais utiliza- interessante de ambos. Por melhor qualidade
dos são aqueles comumente empregados na entende-se a carne que, potencialmente, pode
avaliação do gado em pé, sendo importante que ser comercializada a preços relativamente su-
haja essa correspondência para facilitar a com- periores em certos mercados. Os maiores rendi-
preensão do método. mentos trazem vantagens econômicas, porque
Exemplos de classificação são as tradicio- diluem os custos por quilograma de carne de-
nais categorias de gênero: boi gordo, vacas e sossada; entretanto, em geral, precisam ser li-
touros; as que combinam gênero com idade mitados para que não prejudiquem a qualidade,
aproximada: novilhos (macho jovem, castrado), como acontece com carcaças com musculatura
novilhas (fêmea jovem, que não pariu ou de pri- bem desenvolvida, porém magras.
meiro parto), vacas (fêmea adulta), touro jovem A vantagem de uma classificação simples,
ou tourinho (macho jovem, não castrado). Outro sobre uma tipificação que hierarquiza ou orde-
exemplo, este da Argentina, é uma combinação na, é que ela reúne as carcaças com caracterís-
de acabamento de gordura e conformação den- ticas semelhantes em classes, mas deixa que o
tro de categorias de gênero e idade: novilhos de mercado mostre suas preferências, aumentan-
conformação JJ = Superior, J = Muy Buena, U = do ou diminuindo a demanda por essa ou aque-
Buena, etc., com acabamento de gordura 0 – 4, la categoria, inclusive dando oportunidade para
em que JJ1 é a preferida, porque associa um que se expressem as preferências regionais ou
excelente desenvolvimento muscular com a co- locais. Isso não seria possível com uma tipifica-
bertura de gordura tida como ideal naquele ção oficial que determinasse o que é melhor e o
país. que é pior.
Quando assume esse caráter de estabele- Para Luchiari Filho (2000), como a preferên-
cer a priori uma hierarquia de classes, como é cia do consumidor muda com o tempo, um siste-
feito na Argentina com as letras da palavra JUN- ma somente de classificação parece ser o mais
TA (Junta Nacional de Carnes), no Uruguai com apropriado, principalmente quando se observam
as letras de INACUR (Instituto Nacional de Car- mudanças rápidas nos padrões de consumo.
nes), ou na UE-União Europeia com EUROP, or- A crítica que se faz a um sistema puro de
denando a conformação – perfis da carcaça na classificação, que vise apenas ao agrupamento
América do Sul, ou musculosidade na EU -, en- de carcaças semelhantes e, eventualmente, pro-
tão o sistema torna-se uma tipificação, porque pôr metas em termos de frequências de apare-
ordena as classes para formar tipos. cimento nos matadouros-frigoríficos, mas sem
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qualquer ordenação apriorística de qualidade ou nheceu a importância que teria um sistema de


rendimento, é a enormidade de combinações tipificação, para facilitar a produção e a comer-
possíveis dos indicadores escolhidos. No caso de cialização de gado e carne. Planejou, então,
três níveis de maturidade, cinco de acabamen- publicar um boletim periódico de preços dos cor-
tos e três de conformação, o resultado seria de tes primários de carne com osso, cujas cotações
45 classes em cada um dos gêneros, o que, sem seriam dadas conforme os padrões de carcaça.
dúvida, é muito para que o mercado estabeleça Dois anos depois, adotou uma agenda que co-
comparações e venha diferenciar preços segun- meçava pelo acompanhamento e divulgação de
do as preferências das empresas frigoríficas para preços de gado, segundo uma classificação que
atendimento de seus clientes. vinculava a avaliação dos bovinos em pé com o
Já a tipificação, que ordena carcaças segun- que se podia esperar das suas carcaças. Tais
do um padrão hierárquico pré-estabelecido, tem padrões preliminares viriam a ser publicados, em
como pontos negativos: a imposição aos mais 1924, no Department Bulletin no1246, sob o tí-
diversos mercados dos conceitos de melhor e pior tulo Market Classes and Grades of Dressed Beef.
em termos de qualidade do gado e das carca- Segundo o Official United States Standards
ças; os problemas para as regiões que não atin- for Grades of Carcass Beef, os padrões prelimi-
girem as metas de bonificação; o fato de lançar nares foram postos em uso durante a I Grande
mão de diferentes classes de carcaças não ne- Guerra para seleção de carne para as forças
cessariamente homogêneas, para criar uns pou- armadas americanas e as tropas dos aliados. Mais
cos tipos; e a dificuldade de fazer revisões peri- tarde, foram incluídos nas especificações do su-
ódicas em nível nacional, em decorrência da evo- primento de carne bovina das esquadras emer-
lução da demanda no mercado, porque alguns genciais da marinha americana. E, em seguida,
setores poderiam se sentir prejudicados pelas foram sendo gradualmente empregados nas
mudanças. compras feitas por empresas de restaurantes,
Tais ponderações a respeito das vantagens hotéis e hospitais. Os padrões foram revisados e
e desvantagens de um sistema sobre o outro novamente publicados, em 1926, e adotados
referem-se às normativas governamentais. Não oficialmente na fase de implantação da tipifica-
se aplicam a situações particulares de empresas ção de carcaças bovinas iniciada no ano seguin-
frigoríficas, enquanto não há um sistema oficial te (USDA, 1989).
implantado. Também não se aplicam a possíveis Consta do artigo de Rhodes (1960), que tudo
métodos de previsão de rendimentos de carne isso aconteceu numa época de baixa remunera-
desossada, como o Yield Grading, do USDA, pois ção dos produtos agropecuários, nos EUA, en-
o resultado é uma estimativa que deve ser con- tre 1924 e 1926, quando criadores de gado de
siderada independentemente das peculiaridades raças britânicas, mais especificamente Angus, do
do mercado. Meio-Oeste americano, que terminavam novi-
lhos e novilhas à base de grãos, estavam sofren-
do com a pouca demanda pela carne e por re-
produtores. Seus representantes, sob a lideran-
ça de Alvin H. Sanders, editor da Breeder’s Ga-
Tipificação de carcaças nos zette, decidiram iniciar uma campanha, para
aumentar a demanda da carne que produziam,
Estados Unidos que teria como mote o Better Beef (carne de
melhor qualidade). Ao mesmo tempo, faziam de
Histórico da tipificação norte-
tudo, via imprensa falada e escrita, para
americana prejudicar a imagem da carne de gado termina-
O mais importante, mais consolidado e, pro- do a pasto e leiteiro (havia na época uma
vavelmente, o mais antigo método oficial de ti- campanha contra a tuberculose que enviava para
pificação de carcaças bovinas do mundo tem abate grandes números de animais do rebanho
uma história de 93 anos. Em 1916, o Departa- leiteiro), carne magra, que Sanders ridiculariva
mento de Agricultura dos Estados Unidos reco- chamando de tiger-meat (carne para tigre) ou
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cat-meat (carne para gato), e dizendo que era porque a presença dos lipídios era indicativa de
dura demais para a delicada mandíbula huma- gado de raça britânica, muito bem alimentado
na. Para ele, uma carne era Prime Beef ou era com grãos e abatido ainda jovem, o que basta-
tiger-meat, sem meio termo. va para se ter carne macia, saborosa e suculen-
Surge, então, na região Oeste, um ta, independentemente de se ter um teor maior
movimento de criadores de raças britânicas, ou menor de mármore.
principalmente a Hereford, que terminavam o A região Meio-Oeste do país, com o seu
seu gado a pasto e não queriam ver desvalori- Better Beef, ficaria com os tipos Prime e grande
zada a carne assim produzida. Esses criadores parte do Choice, enquanto a região Oeste, do
lançaram uma campanha denominada Truth-in- Truth-in-meats, com uma parte menor do Choice
meats (a carne em que se pode acreditar), para e o tipo Good (hoje Select). A identificação das
posicionar seu produto no mercado como de carcaças por meio de carimbagem foi o meio
média a boa qualidade. escolhido para criar um canal de comunicação
Ambas as campanhas partiam da premissa com o consumidor, o que foi providenciado com
de que os consumidores não sabiam diferenciar disputas ferrenhas entre três partes: os grupos
uma carne de ótima (animais da raça Angus ter- Better Beef e Truth-in-meats brigavam porque
minados com grãos) ou de boa qualidade (da raça o primeiro achava que devia identificar somente
Hereford, terminados a pasto) de uma tiger- o tipo Prime, contra a vontade do segundo que
meat – 50% das donas-de-casa respondiam nas queria que seu produto também fosse
entrevistas que seus açougueiros lhes forneci- identificado; já o segmento indústrial – no qual
am carne de boa qualidade, quando apenas 9% predominavam as gigantes Armour, Swift,
da carne do país todo poderia ser considerada Wilson, Morris e Cudahy - mostrava um certo
de ótima e boa qualidade - e que precisavam distanciamento da discussão, não querendo se
ser educados. Ambos os grupos culpavam os in- envolver; em alguns momentos, defendia um sis-
termediários pela desinformação dos consumi- tema privado de tipificação, ou seja, indepen-
dores e diziam que eles precisavam aprender a dente do governo, como fez a Swift Co. que
lição de que carne muito magra é sempre dura tomou a frente, começou a carimbar carcaças e
e que os músculos do gado só se tornam macios acabou por levar as demais a tipificar de modo
e saborosos na presença de muita gordura. privado. Entretanto, desde o início, as empresas
Tal fato mostra que a tipificação america- acataram os padrões do USDA, o que facilitou
na nasceu sob o signo da crença, que veio a ser muito a transição para o sistema oficial adminis-
imposta aos consumidores, de que a carne tem trado pelo governo federal.
que ser gorda; crença, porque não havia ainda Depois de passar por dez revisões (em 1939,
nada de pesquisa científica a respeito do assun- 1950, 1956, 1965, 1973, 1975, 1980, 1987, 1989
to. E, quando elas começaram a aparecer cau- e 1997), chegou ao que é hoje o Quality Gra-
saram frustrações por não confirmar dogmas ding (tipificação pela qualidade da carne), segun-
como esse a favor de carne muito gorda. Entre- do o USDA (1997). Na revisão de 1965, foi intro-
tanto, já estavam sendo firmados os rígidos con- duzida a exigência de que todas as carcaças fos-
ceitos da tipificação por qualidade, com os tipos sem seccionadas - entre a 12a (penúltima) e a
Prime, Choice, Good, e Standard para gado jo- 13a (última) costela - de modo a expor, para ava-
vem de até cerca de 42 meses. liação, a superfície do músculo Longissimus dor-
Com o tempo, a presença de crescentes si e a gordura subcutânea que o recobre dorsal.
teores de gordura intramuscular, que até 1965 Outros músculos menos importantes e as
era avaliada nos músculos intercostais, vistos gorduras inter e intramuscular também ficam
pela face interna das costelas, e depois passou expostos. Pôde-se, então, adotar o mármore
a ter como indicador o mármore do músculo Lon- como indicador de qualidade, em substituição ao
gissimus dorsi, tornar-se-ia sinônimo de melhor fat streaking (gordura entremeada nos múscu-
qualidade. Porém, as pesquisas conseguiam mos- los intercostais), na face interna das costelas
trar apenas uma baixa correlação entre gordura (USDA, 1989).
intramuscular e palatabilidade, possivelmente, Na mesma ocasião, foi introduzido o Yield
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Grading, que é a tipificação pelo rendimento O Yield Grade aumenta com a EG e o ren-
estimado de quatro cortes principais: os da re- dimento de desossa dos cortes RLRC (round, loin,
gião dorsal limitados, cranialmente, pela seção rib and chuck) diminui 2,3 pontos percentuais a
entre a 5a e a 6a costela e, caudalmente, na se- cada grau. Assim, se o objetivo for YGs 1 e 2,
ção entre alcatra e coxão, compreendendo rib será preciso escolher carcaças com EG bem re-
(filé de costela) e loin (contrafilé, filé-mignon, duzida, que dificilmente qualificariam para o tipo
acaltra com parte da picanha, dorsalmente, e Choice do QG, pois este é mais compatível com
pequena parte do patinho, ventralmente); round YGs 3 e 4.
(coxão mole, coxão duro, lagarto, bem como uma
pequena parte da picanha dorsalmente, e gran- Yield Grading
de parte do patinho com maminha ventralmen- O Yield Grade de uma carcaça é determi-
te, e músculos traseiros), e do dianteiro, o chuck nado com base na seguinte equação de regres-
(acém com paleta, sem peito ou músculo dian- são linear múltipla:
teiro). Esses cortes primários RLRC (rib, loin,
round, chuck) representam pouco menos de 60% YG = 2,5 + (2,50 x EG ajustada, in.) +
do total de carne, e cerca de 70% em valor. (0,20 x GPRC, %) + (0,0038 x PCQ, lbs)
Uma outra revisão importante foi a de 1975, – (0,32 x AOL, in2)
quando foi tirada do sistema a conformação que (Eq. 1)
era indicador no Quality Grading. De certo modo,
a conformação servia para distinguir a origem, Em que:
gado de corte ou leiteiro, mas favorecia o gado EG ajustada é a espessura de gordura
muito gordo que mostrava perfís mais arredon- corrigida pelo tipificador com base
dados de coxão, região dorso-lombar e paleta, em avaliação visual da gordura de
porque a avaliação era subjetiva com base nos cobertura da carcaça, em polegada;
perfis da carcaça e não no desenvolvimento GPRC é a quantidade de gordura perirre-
muscular. A conformação tornara-se desneces- nal, da pelve e da área cardíaca, em
sária, porque as pesquisas não conseguiam de- porcentagem do PCQ;
monstrar diferenças que justificassem seu uso PCQ é o peso da carcaça quente, em li-
como indicador de qualidade; no tocante a ren- bras; e
dimentos, a introdução do Yield Grading, em AOL é a área de olho de lombo, em pole-
1965, já dava uma estimativa muito bem aceita gadas quadradas.
no mercado.
Como se pode constatar (Eq. 1), o fator de
maior importância na determinação do YG é a
Tipificação americana EG ajustada, em que para cada décimo de pole-
A tipificação adotada nos EUA é um sis- gada (2,5 mm) de acréscimo, o YG sofrerá um
tema formado por dois métodos, de certo aumento de 25% de um grau. Para 0,4 pol. (10
modo, antagônicos, em que um é limitante do mm), o YG aumentará 1 grau. Assim, uma car-
outro. Um tem a finalidade de ordenar da caça com 0,2 pol. (5 mm) de EG, 3,5% de GPRC
melhor para a pior carcaça pela qualidade, é (sebo), 600 lbs (272,7 kg) de peso quente, e 12
o Quality Grading (QG). Por valorizar bastan- pol2 (77,40 cm2) de área de olho de lombo, terá
te o mármore (gordura intramuscular do mús- um YG 2,14, que, na prática comercial, é arre-
culo Longissimus dorsi na 12a costela), os me- dondado para 2 (as decimais são eliminadas, res-
lhores tipos resultam em menores rendimen- tando apenas o número inteiro). Uma carcaça
tos de cortes desossados com gordura parci- com o mesmo peso, % sebo, e AOL, que tivesse
almente removida. O outro método, o Yield 0,6 pol (15 mm) de EG e não 0,2, daria um YG
Grading, deve ordenar as carcaças do maior 3,14, que seria arredondado para 3. Na Figura
(YG1) para o menor rendimento de desossa 1, é ilustrado o método de mensuração da es-
(YG5), em razão, principalmente, da espessu- pessura de gordura na seção transversal do con-
ra de gordura subcutânea (EG). trafilé entre a 12a e 13a costela.
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tes desossados. Assim,


durante a tipificação,
cada ponto percentual a
mais ou a menos na sua
quantidade representa-
rá 20% de 1 grau para
mais ou para menos,
respectivamente. Se a
mesma carcaça com YG
3,14 tivesse 4,5% de
sebo, e não mais 3,5%,
agora teria um YG 3,34
que continuará sendo
arredondado para 3.
A área do olho de
lombo (AOL) é medida
na seção transversal do
músculo Longissimus
Figura 1. Contorno da área do olho de lombo (somente o músculo Longissimus dorsi entre a 12a e 13a
dorsi, não inclui os demais músculos assinalados com reticulado) e indicação da vértebras torácicas (Fi-
medida de espessura de gordura (EG) perpendicular à superfície da camada de gura 1). Na prática, ti-
gordura subcutânea. pificadores treinados es-
timam a AOL visual-
mente, medindo com uma lâmina plástica qua-
As gorduras perirrenal, pélvica e cardíaca, driculada eventualmente (Figura 2). AOLs mai-
ou sebo, nos EUA, permanecem com a carcaça ores implicam em maiores rendimentos de cor-
durante o período de resfriamento, portanto, tes cárneos. Uma variação de 1 pol2 (6,45 cm2)
representam uma perda de rendimento dos cor- implica em alteração de 32% de 1 grau. A car-
caça do último exemplo,
se tivesse 11 e não 12
pol 2, ou seja, 1 pol2 a
menos, teria YG 3,66,
que na prática comerci-
al continua sendo 3.
O peso da carcaça
quente também pode
ser obtido do peso da
carcaça resfriada x
1,02, porque, em média,
a perda no resfriamen-
to é de 2%. Incremen-
tos de peso da carcaça
são acompanhados de
aumentos na porcenta-
gem de gordura, por isso
resultam em redução no
rendimento de desossa,
Figura 2. Lâmina plástica quadriculada para medir a área de olho de lombo em
isto é, aumento no va-
cm2, adaptada para o sistema métrico decimal pela Associação de Criadores de
lor do YG. Para cada 100
Nelore do Brasil. Obs.: Quatro pontos contatos representam 1 cm2.
lbs (45,4 kg) de aumen-
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to no peso da carcaça quente, dá-se uma varia- Em que:


ção de 40% de 1 YG para mais. Assim, a carca- RLRC, %, é a soma dos cortes primários rib,
ça do último exemplo, cujo YG era 3,66, se ti- loin, round e chuck, desossados e com gordura
vesse pesado 700 lbs (318,2 kg) e não 600 (272,7 parcialmente removida, em porcentagem do
kg), agora passaria a YG 4,06, ou seja, 4. peso da carcaça com GPRC.
A equação do YG também pode ser escrita
no sistema métrico decimal, como se vê a seguir. Para dar um exemplo: 0,2 in de EG; 3% de
GPRC; 12 pol2 de AOL, e 600 lbs de peso de
YG = 2,5 + (0,1 x EG ajustada, mm) + carcaça, dá um RLRC de 52,15.
(0,2 x GPRC,%) + (0,0084 x PCQ, kg) - RLRC%=51,34 – (5,78 x 0,2 in.)-(0,462 x
(0,0496 x AOL, cm2) 3%)+(0,740 x 12 pol2)-(0,0093 x 600 lbs) =
(Eq. 2) 52,2%

Exemplo: YG = 2,5 + (0,1 x 8 mm) + (0,2 x 3,5%) Para transformar a equação 4 na equação
+ (0,0084 x 272 kg) - (0,0496 x 71 cm2) = 2,8 1 do Yield Grading, foi substituído o intercepto
por 2,5 e, depois, dividiram cada um dos coefici-
A equação 2 também pode ser representa- entes de regressão linear múltipla por uma cons-
da sem a GPRC (gordura pélvica, perirrenal e car- tante (k=2,3).
díaca, %), nas situações em que o sebo é removi- No Brasil, há equações disponíveis em arti-
do na sala de matança, como no Brasil, uma vez gos publicados por autores nacionais, para esti-
que a participação dela, na equação, foi original- mativas dos rendimentos em carne desossada e
mente concebida, prevendo-se que algum dia aparada só do traseiro especial, dos cortes do
ou em outro lugar poderia ocorrer sua remoção traseiro e dianteiro, dos cortes comerciais brasi-
da carcaça antes do resfriamento. Fica assim: leiros, sem ponta-de-agulha, e da carne apro-
veitável total, incluindo retalhos magros. A equa-
YG = 2,5 + (0,1 x EG ajustada, mm) + ção seguinte é um exemplo tirado de um desses
(0,0084 x PCQ, kg) - (0,0496 x AOL, cm2) artigos (Felício e Allen, 1981/1982).
(Eq. 3)
CCB (%) = 60,33 – 0,015 (PCQ, kg) – 0,462
Exemplo: YG = 2,5 + (0,1 x 8 mm) + (0,0084 (EG, mm) + 0,110 (AOL, cm2)
x 272 kg) - (0,0496 x 71 cm2) = 2,1 (Eq. 5)

Com base na equação 3, uma carcaça quen- Em que:


te (sem GPRC), pesando 272 kg, com 8 mm de CCB é o total de cortes comerciais brasi-
EG e 71 cm2 de AOL, terá um YG de 2, que cor- leiros, desossados e aparados a 5 mm
responde a 52,3% de cortes RLRC. de gordura, sem incluir a carne da
A equação original que estima a porcenta- ponta-de-agulha;
gem de cortes RLRC foi desenvolvida por pes- PCQ é o peso da carcaça quente, em kg;
quisadores do USDA (Murphey et al., 1960) a EG é a espessura de gordura, em mm;
partir de 185 carcaças de novilhos e novilhas com AOL é a área do olho de lombo, em cm2.
grandes variações de peso e acabamento. Os
autores chegaram a várias equações com dife- Exemplo de CCB (%) = 60,33 – 0,015 (272
rentes indicadores, e acabaram sugerindo a se- kg) – 0,462 (5 mm) + 0,110 (75 cm2) = 62,2%.
guinte, para servir de base ao Yield Grading na
revisão feita cinco anos depois. Luchiari Filho e Allen (1985), com base em
estudo realizado entre 1978 e 1985, com 618
RLRC, % = 51,34 – (5,78 x EG, in.) – carcaças de gado abatido pelo Instituto de Zoo-
(0,462 x GPRC, %) + (0,740 x AOL, pol2) – tecnia de Nova Odessa, SP, desenvolveram uma
(0,0093 x PCQ, lbs) equação para estimativa da quantidade de car-
(Eq. 4) ne desossada e aparada a 5 mm de gordura, a
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partir da qual seria feita uma tipificação do tipo merciais, porque em outras finalidades, de estu-
Yield Grading, com três graus, 1-3, em que do, por exemplo, trabalha-se com três outros
1>72,2%; 2=70,0 – 72,2; e 3<70,0% de porção graus acima de Slightly abundant: Very abun-
comestível (carne desossada e aparada). dant, Moderately abundant e Abundant.
Na Tabela 1, é apresentada uma correspon-
Quality Grading dência entre o grau de mármore e o teor de lipí-
Na tipificação pela qualidade da carne das dios intramusculares.
carcaças resfriadas, inicialmente determina-se o
gênero (sexo), de modo a excluir touros, que não Tabela 1. Conteúdo de lipídios intramusculares por
grau de mármore.
são tipificados e para tipificar touros jovens
(bullock beef) separadamente de castrados, no- Mármore % de lipídios
Moderadamente abundante 10,4
vilhas e vacas. As de touros jovens devem ter
Levemente abundante 8,6
maturidade A (até aproximadamente 30 meses)
Moderado 7,3
para serem tipificadas. Modesto 6,0
O próximo passo é a avaliação de maturi- Pouco 5,0
dade, que é feita pelo grau de calcificação das Leve 3,4
cartilagens das vértebras e pela cor da superfí- Traços 2,5
cie do olho de lombo, indicadores esses que, pon- Praticamente nada 1,8
derados por tipificadores treinados, darão uma Fonte: Savell, J. W.; Cross, H. R.; Smith, G. C. (1986).
nota de maturidade fisiológica. São cinco clas-
ses de maturidade: A – E, em que A refere-se às
carcaças de bovinos jovens, e E às carcaças com Padrões fotográficos, como os da Figura 3,
evidências de maturidade avançada. A corres- são empregados no treinamento de tipificado-
pondência entre maturidade fisiológica e idade res. Todas as avaliações, tanto as que fazem
cronológica aproximada pode ser assim repre- parte do Yield Grading, como do Quality Gra-
sentada: A (9 – 30 meses), B (30 – 42), C (42 – ding, são feitas nas carcaças resfriadas, 24 a 48
72), D (72 – 96) e E (acima de 96 meses). horas post mortem.
Em seguida, avalia-se o mármore, ou gor- Na Figura 4, é apresentada uma ilustração
dura intramuscular, cuja
avaliação é feita visual-
mente, na secção trans-
versal do músculo Longis-
simus dorsi em termos de
quantidade e distribuição.
Sainz e Araújo (2001)
explicam que cada grau de
mármore é dividido em 100
subunidades, e os escores
são expressos em décimos
de grau (ex.: Slight 90 ,
Smalll0, Small100). Os graus
de mármore em ordem de-
crescente são: slightly
abundant, moderate,
modest, small, slight, tra-
ces e practically devoid (le-
vemente abundante, mo-
derado, modesto, pouco, Figura 3. Padrão fotográfico de mármore representando de traços (USDA Stan-
leve, traços e praticamen- dard+) a levemente abundante (USDA Prime-). Fonte: adaptado do Meat Evalu-
ation Handbook (AMSA, 2001).
te nada). Isso para fins co-
Bovinocultura de corte

ding com Yield Grading,


que são baseadas em
índices de ajuste forne-
cidos pelo USDA e em
preços médios de mer-
cado de carcaças do
tipo Choice- (Low Choi-
ce) Yield Grade 3 (Tabe-
la 2).
Embora não cons-
te da Tabela 2, o mer-
cado da carne, nos EUA,
funciona com deságios
de acordo com o peso
da carcaça, tipo leiteiro
e hematomas. Assim,
por exemplo, carcaças
com peso inferior a 272
Figura 4. Quality Grading relacionando maturidade e mármore, segundo o USDA kg ou superior a 410 kg
(1997). são penalizadas em até
US$25/45,4 kg; tipo lei-
teiro gera desconto US$5/45,4 kg e cancela um
do Quality Grading do USDA, conforme revisão possível bônus para YG1 ou 2; e hematomas cau-
de 31 de janeiro de 1997, relacionando maturi- sam descontos, de até US$10/meia carcaça, con-
dade com mármore para dar o grau de qualida- forme a gravidade das contusões.
de da carcaça. Assume-se que a carne magra
(músculo) é firme, compatível com o grau de
mármore, e não é dark cutter (carne escura de- Tipificação de carcaças no
vido ao pH e ≥ 6,0). Como exemplo, vê-se que o
mínimo de mármore para Choice varia de small
Uruguai e Argentina
para carcaças de maturidade A a modest na ma- O Sistema Oficial de Clasificación y Tipifi-
turidade B. cación está sob responsabilidade do INAC –
A American Meat Science Association pu- Instituto Nacional de Carnes do Uruguai. As
blica uma tabela de preços médios, estimados carcaças são inicialmente classificadas pelo
para as combinações possíveis de Quality Gra- gênero-maturidade como Novillo, Vaca, Ter-
nero e Toro. Em seguida, essas
Tabela 2. Estimativas de preços diferenciados de carcaças, nos Estados classes são subdivididas como
Unidos, outubro de 2009. na Tabela 3.
Prime 1
Choice (+/o) Choice ( ) - 1
Select Standard Depois, as carcaças são tipifi-
YG 1 142 136 132 125 116 cadas pela conformação conforme
YG 2 140 134 130 123 114 a sequência de letras I – N – A – C
YG 3 138 133 1292 121 112 – U – R, e aí são feitas as combina-
YG 4 127 121 117 110 101 ções entre categoria de gênero-
YG 5 119 113 109 102 93 maturidade e conformação.
1
Choice (+/o) = High and medium Choice (modest e moderate); Choice Exemplos:
(-) = Low Choice (small); 2valor base para estimar os preços de Choice (-) AJ = Novillo Joven, de conforma-
YG 1 a 5, a partir dos quais são obtidos os demais preços de referência. ção A (comparável à retilínea);
Preços em US$/100 lbs, ou 45,4 kg de peso de carcaça, com 3% de sebo
N6 = Novillo 6 D (dentes incisivos
de rim. Para converter em US$/ arroba, dividir por 3,0. Fonte: dados da
permanentes), de conformação N
AMSA (2001) atualizados pelo Dr. J.Wise, da AMSA, em outubro de 2009.
(comparável à subconvexa);
1265
Felício
Classificação e tipificação
de carcaças bovinas
1266

Tabela 3. Combinação de gênero-maturidade com conformação na tipificação uruguaia.


Gênero-maturidade Subclasses
Novillo (novilho) Novillito 0 D1, peso min. de carcaça 170 kg, abrevia-se N
Novillo Joven (2-4 D), abrevia-se J
Novillo 6 D (6 D), abrevia-se 6
Novillo (8 D), não se abrevia
Vacas Vaquillona (0-2-4 D), peso min. de carcaça 150 kg, abrevia-se VQ
Vaca 6 D, abrevia-se V6
Vaca 8 D, abrevia-se V
Ternero (garrote) Machos castrados ou não e fêmeas, todos 0 D, e que não satisfazem os requisitos
para Novillito ou Vaquillona
Toro (touro) Machos inteiros ou castrados, que apresentem características sexuais secundárias e
dentes incisivos permanentes
1
D = nº de dentes incisivos permanentes. Fonte: Uruguay (1997, 2004).

VQC = VQ – Vaquillona de 0 a 4 D, de con- Esses dois sistemas estão bem alinhados ao


formação C (comparável a sub-re- da União Europeia, pois utilizam os indicadores
tilínea); conformação e acabamento com escalas seme-
VC6 = V – Vaca de 6 D, de conformação C. lhantes e hierarquizam as carcaças pela confor-
mação como a UE, mas existem algumas dife-
Em seguida, acrescenta-se um número cor- renças no modo de se avaliar subjetivamente as
respondente ao escore de terminación (acaba- características.
mento), avaliado conforme uma escala de cinco Ao mesmo nível de gordura na carcaça,
pontos (0-1-2-3-4). uma conformação melhor é resultado de mús-
O sistema de Classification y Tipificación Ofi- culos mais espessos e, portanto, maior relação
cial de Carnes Vacunas de la República Argenti- músculo:osso, sem diferenças aparentes na dis-
na (ARGENTINA, 1973) também classifica as car- tribuição do peso dos músculos (Luchiari Filho,
caças em categorias de gênero, maturidade e 2000). A distribuição muscular é uniforme, inde-
peso, depois tipifica pela conformação e gordura pendente da raça e seleção, desde que em iguais
de cobertura. As de machos castrados são cha- condições de gênero, castração e fase da en-
madas de Terneros, que são carcaças muito leves, gorda, exceto nos hipertróficos (dupla-muscula-
100-146 kg; Novillitos, quando leves, pesando en- tura, double-muscled em inglês, ou culard em
tre 148 e 236 kg; e Novillos, quando pesadas, mais francês), encontrados em raças europeias con-
de 236 kg. As de fêmeas, chamadas de Ternera, tinentais (italianas, francesas e belgas, por
com 100-146 kg; Vaquillona, entre 148 e 226 kg; exemplo). Em outras palavras: nas partes mais
e Vacas, pesando acima de 226 kg. Por fim as valiosas (alcatra, contrafilé, filé-mignon, coxão
de Toros, machos não-castrados. e paleta) encontra-se o equivalente a 56% do
Nesse sistema, os Novillos são tipificados peso total de músculos da carcaça (Felício, 2006).
quanto à conformação com as letras JJ –J – U –
U2 – N – T – A, e todas as outras categorias de
gênero-maturidade (Novillito, Ternero e Ternera,
Vaquillona e Vaca) com as letras AA – A – B – C – Classificação de carcaças no
D –E – F. Em ambas as sequências, as letras repre-
sentam a conformação, da melhor para a pior, como
estilo europeu
exemplo, JJ ou AA = Superior; J ou A = Muy Bue- A classificação de carcaças, sem a hierar-
na; U ou B = Buena, e assim por diante. quia de tipos, é um esquema desenvolvido no
Como no sistema uruguaio, acrescenta-se um Reino Unido e na França, no final dos anos 60 e
número para o escore de acabamento, também início dos 70, que serviu de base para os siste-
com escala de cinco pontos (0 – 1 – 2 – 3 – 4). mas em uso na União Europeia e na Nova Ze-
Bovinocultura de corte

lândia. Também, no Brasil, um sistema de classi- simples, tinha quatro dígitos, sendo uma letra
ficação simples chegou a ser ensaiado pelo Mi- para maturidade, outra para gênero (sexo), um
nistério da Agricultura na década de 70. número para acabamento e outro para confor-
Os esquemas desenvolvidos quase simulta- mação. A título de exemplo, YS24 correspondia
neamente naqueles dois países da Europa e, a carcaças de novilhos (S de steer) de até dois
possivelmente, em outros também, eram cha- dentes permanentes (Y = young), o equivalente
mados de carcase classification (classificação de a 18 a 28 meses em taurinos, com acabamento
carcaças) pelos britânicos e identification codifi- 2 (baixo nível de acabamento) e conformação 4
ée (identificação codificada) pelos franceses. O (superior), ambos em escalas de 1 a 5; YH42 iden-
objetivo era apenas classificar as carcaças, com tificava uma carcaça de novilha (H de heifer) com
base em alguns parâmetros realmente importan- acabamento 4 (uniforme) e conformação 2 (sub-
tes para quem comercializa gado e carne, for- retilínea). Tanto na França como na Inglaterra,
mando categorias homogêneas, sem qualquer optou-se por utilizar a conformação no esque-
pretensão de hierarquizá-las em tipos. Acredi- ma de classificação, porque a indústria e o vare-
tava-se que, desse modo, surgiriam tendências jo insistiam em diferenciar a procedência dos
no comércio, a partir de preferências locais ou cortes em termos de grandes grupos raciais: gado
regionais e, consequentemente, possíveis dife- leiteiro, cruzas de touros de raças britânicas com
renciações de preços que deveriam flutuar con- vacas leiteiras, cruzas de touros de raças conti-
forme a oferta e procura no mercado. Na mes- nentais com vacas leiteiras, etc. E definiu-se que
ma época, uma comissão de veterinários brasi- a conformação seria julgada pelo grau de de-
leiros do Ministério da Agricultura recomendou senvolvimento muscular ou musculosidade.
a utilização da identificação codificada no Brasil Nas Figuras 5 e 6, são apresentadas ilus-
(Pardi, 1971). trações de acabamento de carcaça (escala de 5
Enquanto na França a proposta era identi- graus) e conformação (perfis de 3 graus, de 3 a
ficar várias características, desde a raça ou cru- 5, de um total de 6).
zamento do gado até a cor da carne e da gor- Obviamente, não havia, na época, os re-
dura, o que resultava num código de muitos dí- cursos de informática e as leitoras ópticas de
gitos, no Reino Unido, a classificação era muito códigos de barra que existem hoje, então o mé-

Figura 5. Padrão fotográfico britânico de acabamento de carcaça, que é semelhante em termos de escala e
quantidade de gordura de cobertura em cada grau, de 1 a 5, ao adotado no Brasil, em que 1=ausente, 2=escas-
sa, 3=mediana, 4=uniforme, 5=excessiva. Fonte: MLC (1975).

1267
Felício
Classificação e tipificação
de carcaças bovinas
1268

Figura 6. Padrão britânico de perfis de conformação de carcaças ilustrando os três graus superiores (3=retilíneo;
4=subconvexo; 5=convexo) numa escala de 1 a 5. MLC (1975).

todo era inviável. Curioso é que os veterinários Por fim, avalia-se o acabamento de gordura, como
brasileiros que aprenderam o método na França na Tabela 5.
o simplificaram de tal modo que ele ficou prati- Diz ainda o Regulamento citado que os es-
camente idêntico ao britânico, e o utilizaram tados-membros ficam autorizados a proceder à
como classificação pura e simples em testes nos subdivisão de cada uma das classes previstas de
frigoríficos nos anos 70 (Barbosa dos Anjos co- conformação e acabamento, até um máximo de
municação pessoal1). três subposições. Para o MLC (2002), da Ingla-
Na União Europeia, prevaleceu uma classi- terra, o grau de conformação é enquadrado em
ficação das carcaças pelo acabamento (escores uma das cinco classes principais: E, U, R, O e P, e
visuais de 1 a 5) e conformação, avaliada como as classes U, O e P são subdividas em (+) e (-),
escore de musculosidade (da mais para a menos superior e inferior, respectivamente (Figura 7).
musculosa, segundo as letras S-E-U-R-O-P) na A classe E descreve carcaças de perfís incomuns,
qual é colocada tanta ênfase que acaba hierar- excepcionalmente arredondados, produzidas por
quizando as carcaças, como nos sistemas tradi- gado de dupla musculatura, que representa uma
cionais de tipificação. pequena fração dos abates. Já a classe P aplica-
Consta do Regulamento CE no. 1.234/2007 se a carcaças com desenvolvimento muscular
que, inicialmente, as carcaças são classificadas em: inferior, pobre, provindas de vacas leiteiras.
A: de machos não-castrados, com menos A classificação por acabamento é uma ava-
de dois anos; liação em cinco classes de 1 (muito magra) a 5
B: de outros machos não-castrados; (muito gorda), e as classes 4 e 5 são subdividas
C: de machos castrados; em mais magras (L) e mais gordas (H). Quando
D: de fêmeas que tenham parido; se expressa a classificação de uma carcaça, a
E: de outras fêmeas. classe de conformação sempre vem em primei-
Depois, pela conformação, conforme a Ta- ro lugar e, em seguida, o acabamento. Por exem-
bela 4. plo, carcaças bem comuns de novilhos têm con-
formação R e acabamento 4L, e na etiqueta ou
1 carimbo aparece anotado R4L.
Barbosa dos Anjos, J. Testes de aplicação comercial de um
sistema de classificação de carcaças no Rio Grande do Sul no O significado das letras é: E – excellent (ex-
final da década de 70. Comunicação pessoal. celente ou convexa); U – very good (muito boa
Bovinocultura de corte

Tabela 4. Conformação ou perfis de carcaça nas regiões dorsal, da coxa e da paleta.


Classe de conformação Descrição
S - Superior Todos os perfis extremamente convexos; desenvolvimento muscular excepcio
nal com duplos músculos
E - Excelente Todos os perfis convexos a superconvexos; desenvolvimento muscular excepcional
U - Muito boa Perfis em geral convexos,forte desenvolvimento muscular
R - Boa Perfis em geral retilíneos; bom desenvolvimento muscular
O - Média Perfis retilíneos a côncavos; desenvolvimento muscular médio
P - Fraca Todos os perfis côncavos a muito côncavos; reduzido desenvolvimento muscular
Fonte: Comunidade Europeia (2007).

Tabela 5. Quantidade de tecido adiposo no exterior da carcaça e na cavidade torácica.


Classe de gordura Descrição
1 - Fraca Gordura de cobertura inexistente a muito fraca.
2 - Leve Leve cobertura de gordura, com músculos quase sempre aparentes.
3 - Média Músculos quase sempre cobertos de gordura, com exceção dos das coxas e da pá;
reduzidos depósitos de gordura na cavidade torácica.
4 - Forte Músculos cobertos de gordura, mas ainda parcialmente visíveis ao nível da coxa e
da espádua; alguns depósitos pronunciados de gordura no interior da cavidade
torácica.
5 – Muito forte Carcaça coberta por uma camada de gordura; depósitos substanciais de gordura
na cavidade torácica.
Fonte: Comunidade Europeia (2007).

ou subconvexa); R – good (boa ou retilínea); O –


fair (razoável ou sub-retilínea), e P – poor (po-
bre, ou côncava), para conformação. E 1 – low
(gordura ausente); 2 – slight (escassa); 3 –
average (mediana); 4 – high (uniforme), e 5 –
very high (excessiva), para acabamento (MLC,
2002).

Sistema nacional de tipifica-


ção de carcaças
Histórico
No abate, sem nenhuma padronização ofi-
cial, ocorre uma seleção de carcaças para ven-
da de carne a mercados que remuneram me-
lhor. Tal seleção, geralmente feita pelo gênero
Figura 7. Sistema EUROP de classificação de car- – preferência para machos castrados - e faixa
caças da União Europeia, com subdivisões nas clas- de peso da carcaça, evitando-se a falta ou o
ses de gordura 4 e 5 e nas de conformação U, O e excesso de gordura de cobertura, é histórica no
P, segundo o MLC (2002). País, pois já era feita desde o final da II Guerra
Mundial. Dessa época, há registros de dados
1269
Felício
Classificação e tipificação
de carcaças bovinas
1270

estatísticos, das exportações para a Inglaterra, nisterial no 612, de 05.10.1989 (Pardi et al., 1996).
de traseiros com três costelas, dos tipos chilled Os parâmetros adotados para classificar são o
beef especial, de 1ª e de 2ª pelo Frigorífico An- gênero (M = macho; C = macho castrado; F =
glo, de Barretos, SP, entre 1944 e 1985. O total fêmea) e a maturidade dentária (dentes de leite
dos três tipos de carne representava cerca de ou da 1a dentição, dois, quatro, seis e oito den-
27%, no período 1944 a 1964, e 36%, de 1965 tes incisivos permanentes) do bovino (Tabela 6).
a 1985, dos bovinos abatidos naquela indústria. E para tipificar, a conformação, como avaliação
Restavam no mercado interno os dianteiros com subjetiva de perfis que demonstram o desenvol-
10 costelas do tipo chilled beef, e as demais car- vimento das massas musculares do coxão, pale-
caças que eram enquadradas nos tipos consu- ta e região dorso-lombar (C = convexa; Sc = sub-
mo, charque e conserva (Pardi et al., 1996). convexa; Re = retilínea; Sr = sub-retilínea ou sub-
Ainda segundo os mesmos autores, ao lon- côncava; Co = côncava) e o acabamento da car-
go do tempo foram feitas diversas tentativas de caça, como avaliação subjetiva da gordura sub-
racionalizar a comercialização dos bovinos de cutânea ou de cobertura, tendo como parâme-
corte com o objetivo de beneficiar, principalmen- tro o resultado esperado se uma medida fosse
te, os produtores mais organizados com uma feita (1 = ausente; 2 = escassa, 1-3 mm; 3 =
melhor remuneração de seu gado, e o consumi- mediana, 4-6 mm; 4 = uniforme, 7-10 mm; e 5 =
dor, com uma carne de melhor qualidade. Por- excessiva, 10 mm ou mais de gordura) sobre o
tarias ministeriais foram publicadas em 1968, contrafilé que, num padrão fotográfico, daria
o
1977 e 1981, e 1984. As duas últimas, a n 220, algo semelhante ao ilustrado na Figura 5.
publicada no Diário Oficial da União de
24/09/1981, e a no 193, no DOU de 26/ Tabela 6. Esquema simplificado de classificação de carcaças, con-
06/1984 (BRASIL, 1981 e 1984), já for- forme a Portaria no 612 (BRASIL, 1989)1.
mavam tipos segundo as letras da pala- Dentição (d.i.p) Macho Castrado Fêmea
vra BRASIL. Depois, vieram as Portarias 0 Jovem (B)
no 612, publicada no DOU de 10/10/ 2 Jovem (Bo)2
1989 (BRASIL, 1989), que passaria a re-
ger o Sistema Nacional de Tipificação
4 Jovem (Bo)
de Carcaças Bovinas, e a no 268 (DOU
de 08/05/ 1995), que define um tipo de
carcaça a ser comercializado como no- Adulto
vilho precoce com base na categoria de 6 (I e L) Intermediário Intermediário
(R) (R)
novilho Jovem (no máximo 4 dentes per-
manentes) da n° 612 (BRASIL, 1995). 8 Adulto Adulto
(S, I e L) (S, I e L)
Sistema oficial vigente, 1
Conforme as letras da palavra BRASIL; 2Para fins de exportação
porém pouco utilizado pela Cota Hilton, são excluídos os machos não-castrados, daí a
separação entre B e Bo (B bola).
comercialmente
O sistema brasileiro de tipificação é um es-
quema de classificação, seguido de hierarquiza- A relação entre maturidade dentária e ida-
ção das carcaças em tipos, como nos métodos de cronológica pode ser vista na Tabela 7.
tradicionalmente empregados na Argentina e Uma vez classificadas por gênero e maturi-
Uruguai. A classificação é feita quanto ao gêne- dade, como na Tabela 6, faz-se a tipificação
ro e maturidade, e a tipificação propriamente como consta da Tabela 8, hierarquizando em
dita, pela combinação das classes de gênero e seis tipos designados pelas letras B-R-A-S-I-L,
maturidade, com restrições de conformação, com restrições referentes ao peso da carcaça
acabamento e peso de carcaça, para enquadra- quente, tão mínimos que os frigoríficos estabe-
mento nos tipos. lecem os seus bem acima do que está na porta-
A legislação ainda vigente é a Portaria Mi- ria.
Bovinocultura de corte

Tabela 7. Maturidade dentária (dentes incisivos permanentes) e idade cronológica aproximada em Bos indicus
e Bos taurus.
Maturidade dentária Bos indicus Bos taurus
2 20 – 24 18 - 28
4 30 – 36 24 - 31
6 42 – 48 32 - 43
8 52 – 60 36 - 56
Fontes: Corrêa, A.N.S. (1996) para zebuínos; Kirton, A.H. (1989) para taurinos.

Tabela 8.Tabela de tipificação com as letras da palavra BRASIL.


Tipo1 Acabamento Conformação mínima
B Escassa, Mediana e Uniforme Retilínea
Bo2 Escassa e Mediana Retilínea
R Escassa, Mediana e Uniforme Sub-retilínea
A Ausente e Excessiva Sub-retilínea
SeI Todas Sub-retilínea
L Todas Côncava
1
Seriam identificados com carimbo ou etiqueta os tipos B, Bo e R, porque os demais (A, S, I e L) enquadrariam
vacas, touros e gado leiteiro que, em geral, levam a descontos nos frigoríficos; 2Bo (cota Hilton), em relação a B,
exclui carcaças com acabamento uniforme.

A classificação e o enquadramento em ti- sido empregado para que o Brasil exporte até
pos são feitos na sala de matança; não se faz cinco mil toneladas de cortes especiais a preços
nenhuma avaliação qualitativa da carne, porque compensadores.
na carcaça quente a gordura não solidificou e o Vale destacar, também, que especificações
tecido muscular ainda está na fase pré rigor como a do tipo B e, em menor escala, a do R,
mortis. É, portanto, um sistema de tipificação de foram bastante utilizadas em alguns estados ou
carcaça quente, como os da Argentina, Uruguai regiões, para selecionar e isentar de ICMS, e até
e União Europeia. mesmo diferenciar preços em programas de in-
A crítica a esse sistema diz respeito ao en- centivo para redução da idade de abate de bo-
quadramento de carcaças desiguais em tipos, nos vinos de até 4 d.i.p. (aproximadamente 30 me-
quais a qualidade da carne, ou o rendimento de ses), denominados novilhos precoce.
desossa, deveriam ser uniformes. Como se vê,
nas Tabelas 6 e 8, carcaças de machos jovens
(zero d.i.p), de machos castrados e de fêmeas
A Instrução Normativa no 9, de
jovens (0 - 4 d.i.p.), com gordura de cobertura 2004
escassa, mediana ou uniforme, e conformação O novo sistema, cuja Instrução Normativa
convexa, subconvexa ou retilínea são enquadra- (IN) no 9, de 04 de maio de 2004, instituía a obri-
das todas no tipo B que, em tese, seriam as me- gatoriedade da classificação de carcaças em todo
lhores. o território nacional a partir do início de 2005,
É preciso ter em mente que o sistema BRA- em todos os matadouros-frigoríficos com Inspe-
SIL de classificação e tipificação de carcaças foi ção Federal, ainda não foi implementado. A
planejado para atender a uma exigência da Cota avaliação das carcaças teria que ser feita por
Hilton de que os cortes cárneos (de alcatra, con- profissionais habilitados, credenciados pelo
trafilé e filé-mignon exportados livres das taxas MAPA, e pagos pelo setor privado. Os critérios
de ingresso na Europa) sejam elaborados a par- adotados na IN no 9, para classificação das car-
tir de carcaças tipificadas de gado jovem, novi- caças, são gênero, maturidade, peso e acaba-
lhos e novilhas, de no máximo quatro dentes in- mento. Os parâmetros gênero, maturidade e
cisivos permanentes, exclusivamente criados em acabamento são os mesmos do sistema preco-
pastagens (Pardi et al., 1996). E é assim que tem nizado pela Portaria no 612, mas já não é mencio-
1271
Felício
Classificação e tipificação
de carcaças bovinas
1272

nada a avaliação de conformação, e não foi es- lacionadas com três das cinco classes de acaba-
tabelecido se haverá classes de peso da carca- mento. Também na Tabela 10, podem ser vistas
ça quente ou se o peso será empregado como as quatro classes que podem compor a Cota Hil-
fator de restrição. ton, que são a CJ2 (castrado de até 4 d.i.p. com
A grande mudança em relação à Portaria gordura escassa) e CJ3 (castrado de até 4 d.i.p.
Ministerial no 612, de 05.10. 1989, que continua com gordura mediana), e as de novilhas FJ23 e
vigorando para fins de exportação pela Cota Hil- FJ23.
ton, é que será eliminada a ordenação oficial das
carcaças nos tipos B-R-A-S-I-L; supõe-se que as
indústrias farão a ordenação conforme suas ne-
cessidades. Exemplo de uma nova tipifi-
A implantação da classificação, conforme
cação de carcaça comercial
a IN no 9, foi adiada pelo MAPA, com a IN no 37,
de 29.12.2004, sendo improvável que ocorra a Desde o início de 2008, uma empresa de
curto ou médio prazo, em decorrência do desin- matadouros-frigoríficos implanta com sucesso
teresse do próprio órgão federal que emitiu a uma nova tipificação de carcaças. O sistema, todo
normativa. ele fundamentado em conhecimentos técnicos
De qualquer modo, a IN no 9 constitui um nacionais, leva em conta as características de
importante ponto de partida para implantação peso e acabamento de gordura que, combinadas,
da classificação de carcaças nos matadouros-fri- formam classes de maior, menor, ou nenhum
goríficos nacionais, seja como sistema oficial, no interesse para a empresa, dentro de cada
dia em que for preciso padronizar os critérios de gênero: machos castrados, não-castrados e
julgamento, para que todos os envolvidos na fêmeas. A maturidade dentária é utilizada para
comercialização de gado, carcaças e carne pos- hierarquizar tipos e diferenciar preços, de modo
sam utilizar uma só linguagem. a valorizar gado mais jovem com peso e
Na Tabela 9, é apresentado um exemplo acabamento desejáveis, somente nas classes de
de associação entre gênero e maturidade para peso e acabamento de maior interesse.
classificação de carcaças e, na Tabela 10, as Nas Tabelas 11 e 12, são apresentados os
combinações da tabela anterior, que podem ser esquemas empregados para classificar as car-
de maior interesse para a classificação, são re- caças pelo acabamento, maturidade dentária e

Tabela 9. Exemplo de associação da maturidade dentária com o gênero.


Maturidade Macho Castrado Fêmea
Jovem(0 e até 4 d.i.p.) Touro Jovem(0 d.i.p.) Novilho(até 4 d.i.p) Novilha(até 4 d.i.p)
Intermediário(2 e até 6 d.i.p.) Tourinho(2 d.i.p.) Novilhão(6 d.i.p.) Vaca(6 e 8 d.i.p.)
Adulto(>2 e até 8 d.i.p.) Touro/Marruco(>2 d.i.p.) Boi(8 d.i.p.)

Tabela 10. Formação de classes pela associação de gênero-maturidade com


peso quente em arrobas, de fê-
acabamento.
meas e machos castrados, res-
Gênero – Maturidade Acabamento pectivamente. A diferenciação
Escassa (2) Mediana (3) Uniforme (4)
de preços, no caso de fêmeas,
Touro Jovem MJ2 MJ3 MJ4 é feita pelo deságio para car-
Tourinho MI2 MI3 MI4 caças com peso abaixo de 12
Novilho CJ2* CJ3* CJ4
arrobas e para as de acaba-
Novilhão CI2 CI3 CI4
Boi CA2 CA3 CA4 mento ausente ou excessivo;
Novilha FJ2* FJ3* FJ4 nem ágio nem deságio para
aquelas de acabamento
*Classes de carcaça, que dependendo do peso, podem compor a cota Hil-
ton. escasso, peso de 12 a 13
arrobas, ou 8 dentes incisivos
Bovinocultura de corte

Tabela 11. Tipificação de carcaças bovinas de fêmeas, adotada por uma em- destinadas, pela Inspeção
presa nacional de frigoríficos. Federal, ao congelamento,
conserva, salga ou graxaria
Acabamento Maturidade Peso de carcaça (arrobas)
dentária <12** 12 - 13 >13 (Franco, 2008; Pedroso, co-
Ausente 0-8 municação pessoal2).
Escassa 0-8 A originalidade dessa ti-
Mediano 0 pificação está:
e 2 Deságio Preço do dia Ágio a) na combinação de classes
Uniforme 4 de peso com as de acaba-
6 mento;
8 b) na clara demonstração
Excessiva 0-8
dos tipos que interessam à
empresa, visando aos
Tabela 12 Tipificação de carcaças bovinas de machos castrados, adotada por uma mercados interno e ex-
empresa nacional de frigoríficos. terno; e
Acabamento Maturidade Peso de carcaça (arrobas) c) no modelo de roma-
dentária <15 15 - 16 16-23 >23 neio fornecido, que lista
Ausente 0-8 individualmente as car-
Escasso 0-8 caças pelo código da
Mediano 0 rastreabilidade, seguido
e 2 dos critérios que leva-
Uniforme 4 Deságio Preço do Ágio
ram ao ágio ou deságio.
6 dia
Prevê-se que esse ro-
8
Excessivo 0-8
maneio, semelhante a
um extrato bancário,
será utilizado pelos cri-
permanentes; e ágio para carcaças com peso adores como elemento auxiliar em seus
acima de 13 arrobas, uma vez satisfeitas as con- programas de seleção de touros.
dições de acabamento mediano ou uniforme e Esse programa de tipificação poderá “ser-
maturidade de 0 a 6 dentes permanentes. vir de modelo, tanto para o governo (caso ele
No caso dos machos castrados, o deságio é queira voltar a discutir a questão) quanto para
para carcaças com peso abaixo de 15 ou acima outros frigoríficos interessados (...). Quais carca-
de 23 arrobas e para as de acabamento ausen- ças valorizar e qual prêmio pagar; isso, eviden-
te ou excessiva; não há ágio nem deságio para temente, fica por conta de cada um” (Felício,
aquelas de acabamento escasso, peso de 15 a 2008).
16 arrobas; e há ágio para carcaças com peso
de 16 a 23 arrobas uma vez satisfeitas as condi-
ções de acabamentos mediano ou uniforme.
Uma terceira tabela é utilizada para carca-
ças de machos inteiros, premiando apenas as de Inovação Australiana
0 a 2 dentes incisivos permanentes, com acaba-
mentos mediano e uniforme, e peso entre 17 e Novos indicadores
23 arrobas. Tanto no caso de machos castrados Além desses indicadores mais comumente
como não-castrados, a preferência de peso, si- empregados, como esses que foram apresenta-
nalizada com maiores bônus, são as de 18 a 20 dos até aqui, na Austrália (MSA, 2000), estão
arrobas. O sistema penaliza carcaças de gado sendo estudados e aplicados na prática comer-
de origem leiteira; de marrucos (touros adultos),
tourunos e carreiros (machos castrados tardia-
2. Pedroso, Eduardo Krisztán, zootecnista, especialista em
mente, adultos); as que apresentam lesão medi- segurança dos alimentos, que forneceu esses e outros de-
camentosa em cortes do traseiro; e as que são talhes do novo sistema de tipificação.

1273
Felício
Classificação e tipificação
de carcaças bovinas
1274

cial, para carcaças de bovinos jovens, novos in- tisfatório; satisfazer a necessidade do consumi-
dicadores, como: dor em três níveis de qualidade, isto é, 3 estrelas
• Composição racial do gado, mais especi- (maciez garantida), 4 estrelas (maciez premium),
ficamente as proporções de Bos indicus ou 5 estrelas (maciez supreme); envolver todos
e Bos taurus no genótipo; os setores da cadeia produtiva da carne; e for-
• Velocidade de ganho em peso, obtida di- necer feedback das informações sobre qualida-
vidindo-se o peso da carcaça pela idade, de aos pecuaristas e às empresas frigoríficas.
que é estimada pela maturidade óssea; Os cortes são tipificados, ou seja, ordena-
há evidências de que a taxa de ganho dos de 3 a 5 estrelas, a partir de informações
possa ser positivamente associada com coletadas quando o gado é desembarcado na
os atributos de qualidade organoléptica indústria (composição genética, ou seja, partici-
da carne; pação de Bos indicus e Bos taurus no genótipo);
• Tipo de pendura da carcaça durante o quando é abatido (peso da carcaça, uso ou não
resfriamento ou pelo menos nas primei- de estimulação elétrica); quando as carcaças são
ras 10 horas de resfriamento; quando avaliadas após o resfriamento (maturidade ós-
feita pela pelve, pode contribuir para di- sea, espessura de gordura, teor de mármore,
minuir o tempo de maturação de alguns pendura pela pelve ou convencional); e na rotu-
cortes; lagem dos cortes, após a desossa e embalagem
• Tempo de maturação que, segundo o individual (exigência de maturação por um tem-
MSA – Meat Standards Australia, deve po mínimo de uma semana, sendo que a possi-
ser de, no mínimo, cinco dias, sendo po- bilidade de ser vendida, em duas ou três sema-
sitivamente correlacionado com a quali- nas, pode mudar o número de estrelas de 3 para
dade organoléptica. 4, ou de 4 para 5, conforme o corte e o método
de cocção a ser empregado), informa o MSA
(2003).
Nem todos os cortes precisam ser tipifica-
Tipificação de cortes cárneos dos e identificados e de fato não o são. Os cor-
A novidade em matéria de padrões de qua- tes do dianteiro, por exemplo, comercializados
lidade da carne bovina surgiu na Austrália, a em cubos para cocção lenta, ou para processa-
partir de 1996, com a denominação de MSA – mento, não precisam ser tipificados. Por enquan-
Meat Standards of Australia, hoje to uns poucos cortes do dianteiro,
um programa do MLA – Meat and mais especificamente, da paleta são
Livestock Australia, atualmente identificados com o selo de maciez.
executado em termos de treina- Essa inovação do Meat Standar-
mento e auditoria pelo Aus-Meat ds of Australia poderá trazer gran-
Ltd. Nas palavras dos idealizado- des mudanças ao setor da carne; na
res do método, “o MSA tem po- pecuária, aumentando a demanda
tencial para revolucionar a comer- por gado de corte com certas carac-
cialização da carne, porque dife- terísticas que, sabidamente, influen-
rentemente de outros sistemas des- ciam positivamente a tipificação dos
critivos, o MSA prevê acuradamen- cortes; e, na indústria, motivando o
te a qualidade organoléptica de interesse pelas tecnologias pós-aba-
cada corte de carne” (MSA, 2000). te capazes de aumentar a propor-
Os pontos-chave do MSA são: ção de cortes enquadrados nos me-
eliminar a necessidade de conhe- lhores tipos e, consequentemente, a
cimentos sobre carne por parte do lucratividade da operação (Felício,
consumidor; usar rótulos que ori- 2005).
entem sobre o método correto de Figura 8. Selo de qualidade
cocção para cada peça de carne, MSA, que garante a maciez
da carne.
e garantir que o resultado seja sa-
Bovinocultura de corte

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