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A questão que se coloca agora é como tornar necessário o progresso no

campo das artes. A base sob o qual Diderot irá lançar seu tratado é a vantagem
que se apresenta em remeter as artes às produções da natureza. O mecanismo
da observação ao qual soma-se a enumeração e o exame detalhado são
ferramentas que dão nascimento à diversas artes, e utilizando-se disso que
Diderot pensa seu projeto. Trata-se, portanto, de duas tarefas e seus
respectivos requisitos. A primeira se consiste em uma “enumeração exata das
produções da natureza”, o que exige um conhecimento bastante extenso de
história natural; a segunda tarefa é “um exame circunstanciado das diferentes
faces sob as quais uma mesma produção pode ser considerada”, o que exige
uma dialética bastante profunda. A partir daqui vemos a construção de um
método no campo das artes e é natural que ao se apresentar tal inovação
apresente-se junto os motivos que o tornam essencial e uma defesa aos
argumentos que supostamente o tornaria ineficaz.
Diderot começa com a defesa. as artes portanto, não mais serão alvo do
progresso ocasionado pelo acaso, não serão mais alvo apenas da necessidade,
esse método é baseado em uma pesquisa do que já fez no passado nascer
novas artes mecânicas, ou seja, é um método que não foge da experiência, da
história e da reflexão, não é fundado em fantasias, e isso lhe garante frutos
reais. Além disso, Diderot apresenta o próprio progresso da história natural
como uma prova de eficiência de seu método. “Devemos ao acaso um bom
número dos nossos conhecimentos; apresentou-nos muitos pelos quais não
buscávamos; como presumir que não obteríamos nenhum se acrescentássemos
nossos esforços ao seu capricho e introduzíssemos ordem e método em nossas
pesquisas? Se hoje possuímos segredos outrora desconhecidos e nos é
permitido extrair conjecturas do passado, por que o futuro não nos reservaria
riquezas com as quais não contamos?” Há um tratado de artes para o futuro se
baseando no contingente progresso do passado.
Ademais, Diderot critica os que pensam o futuro de descobertas apenas com
os próprios conhecimentos. O que poderíamos pensar de um descobridor que
desiste de navegar por não ter terra a vista no horizonte? Diderot adota uma
perspectiva altamente progressista, incentiva a evolução das artes e o progresso
do conhecimento acima dos grilhões que são os limites empregados em uma
determinada época. Muitas vezes, um artesão com seus conhecimentos práticos
é capaz de fazer suscitar novas artes que são injustamente criticadas pelos que
nada sabem a respeito de arte e criticam apenas pelo próprio conhecimento.
Para reforçar seu argumento evoca novamente Francis Bacon, “quem restringe
sua esperança de realizar novas invenções só porque baseia suas conjecturas
em coisas que estão ao alcance das mãos e acredita que por isso as outras
seriam impossíveis ou menos verossímeis, saiba que não tem sabedoria
suficiente nem mesmo para escolher o que é conveniente e pertinente”.
  Como se não bastasse, Diderot nos mostra um “motivo adicional” novamente
observando a evolução das artes na história. Quanto tempo os humanos
demoraram para descobrir coisas que estavam diante de seus olhos? Como
imprimir ou gravar.

   Por fim, no sub-capítulo intitulado Diferença singular entre as máquinas.,


Diderot faz a transição da análise geral das artes para uma classificação de
cada máquina em particular. Temos duas variáveis: a máquina e sua ação.
Temos também duas opções: uma máquina complexa produzindo ações simples
e uma máquina simples produzindo uma ação complexa. Em ambos os casos,
devemos partir do mais simples para o mais complexo, por exemplo, um relógio
é uma máquina complexa e sua ação é simples, devemos começar por
exemplicar primeiro que o relógio marca o tempo etc. para depois explicar as
tecnologias que envolvem sua máquina. No caso de uma máquina de tear que é
uma máquina simples cuja ação envolve uma produção, portanto algo mais
complexo, devemos primeiro começar explicando seus mecanismos, depois
passamos a explicar seus efeitos.

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