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PREFÁCIO

S
omos Fonoaudiólogas! Amamos o que fazemos! Dedicamo-nos à nossa
profissão com afinco! Estudamos muito! Somos ativas nas redes sociais
porque queremos compartilhar nossa vida e trajetória profissional com vo-
cês! Atuamos com pessoas que gaguejam e, no caso de crianças e adolescentes,
com “famílias que gaguejam” e estas famílias estão inseridas em uma comunida-
de, cultura e sociedade que não compreende o que é gaguejar!

Foi isso que nos uniu numa nova empreitada aqui pela Techknowledge Treina-
mentos (TK-EaD), que começa aqui nesse material gratuito que fizemos questão
de compartilhar com todos que desejam conhecer um pouco mais sobre como
proceder com a pessoa que gagueja.Se você tem alguém que gagueja na família,
um(a) aluno(a) , um(a) vizinho(a) , um paciente ou se simplesmente se interessou
pelo título desse material , é com VOCÊ mesmo que queremos falar.

Se, por acaso, você é um fonoaudiólogo ou fonoaudióloga que se interessa pelo


tema, mas não teve uma formação abrangente na área da Fluência da Fala, suas
alterações, avaliação e intervenção, fique de olho na TK e nas nossas redes so-
ciais, porque em breve teremos novidades por aí!

Preparamos tudo com muito carinho e respeito a você e às “crianças, adolescen-


tes, adultos e famílias que gaguejam”. Por um mundo onde a gagueira seja conhe-
cida e não temida! Beijos e boa leitura a todas(os)!

FONOAUDIÓLOGAS

Simone Herrera Renata Donadeli Paula Moura Techknowledge


@simoneherrera @renatadonadelifono @dicasdafono @tk.ead.br
SUMÁRIO

01 O que é
fala?

02 Será que a criança / adolescente / adulto que


está falando está mesmo “gaguejando”?!

03 Qualquer pessoa pode apresentar fala


disfluente ou só quem gagueja?

04 Há uma fase do desenvolvimento da


criança em que é “normal” gaguejar?

05 Enfim, o que é
gagueira?

06 Adolescentes e adultos
podem ter gagueira?

07 Quais as causas
da gagueira?

08 A gagueira tem tratamento?


Melhora? Tem cura?

09 Quando procurar
o tratamento?

10 O que posso fazer


para ajudar?

11 O que não fazer com a criança que gagueja:


Atitudes que prejudicam a fluência
X

O que é fala?
X

01 | O que é fala?

Falar é considerada uma característica essencialmente humana. É uma função


motora, mas é também uma função social, pois falamos para nos comunicar,
interagir e nos fazer entender.

É uma necessidade de todos pois os seres humanos necessitam do contato


com o outro e a fala é a forma de comunicação mais usada. Com ela é possível
expressar mais informações, sendo mais rica de recursos que a complementam,
como gestos, entonação, expressões, etc.

Falar não é simples. A fala é uma habilidade complexa iniciada no sistema


nervoso central, conduzida pelo sistema nervoso periférico e cujo resultado é a
movimentação controlada, coordenada e sinérgica de certos músculos.

Esses músculos trabalham juntos numa grande precisão, com o correto grau de
força, aumentando ou reduzindo o tônus muscular, para produzir cada som em
seu exato lugar e na sequência correta para formar determinada palavra e, essas,
na sequência correta para produzir as frases e assim por diante, para que se forme
um discurso, uma conversa, um diálogo.

CANAL

EMISSOR RECEPTOR

MENSAGEM
CÓDIGO
X

01 | O que é fala?

O encadeamento de fala é quando há uma sequência de sons que são produzidos


para formar sílabas, palavras e sentenças durante um intervalo de tempo,
praticamente sem oscilações, inserções ou esforço. Para que isso ocorra, a pessoa
que fala necessita de condições orgânicas, ambientais, emocionais, sociais, para
ser capaz de adequar o uso da comunicação oral ao devido contexto e a seus
objetivos comunicativos.

Para produzir a fala e para que ela tenha um significado, também dependemos
da nossa linguagem. Isso porque para que as palavras, frases e discurso sejam
coerentes e bem articulados, é necessário que a pessoa que está falando tenha
também a habilidade em formular gramaticalmente as sentenças e “puxar”/
recuperar da memória (léxico) as palavras com o sentido apropriado e este
processo leva tempo.

A fala é também um processo de aprendizado. Desde que nascemos estamos em


contato com a Língua utilizada no nosso ambiente familiar e vamos aprendendo
seus sons, sua entonação e ritmo, assim como vamos adquirindo e desenvolvendo
a linguagem e compreendendo que “cada coisa tem um nome” – desta forma,
gradativamente, vamos aprendendo o vocabulário, as expressões, enfim todas as
funções de linguagem.

Para FALAR, usamos nosso CÉREBRO (por conta do sistema nervoso e da


formulação e processamento da linguagem), nossos músculos e órgãos vinculados
à RESPIRAÇÃO (pulmões, diafragma e até mesmo o nariz), FONAÇÃO (pregas
vocais, conhecidas como “cordas vocais”, que produzem nossa VOZ), nossos
músculos e ÓRGÃOS FONOARTICULATÓRIOS (como lábios, língua, bochechas,
dentes, etc). Complicado, né?! É muita coisa para aprender e coordenar ao mesmo
tempo!!!
X

01 | O que é fala?

APARELHO FONADOR

Cavidade nasal
Narina
Faringe
Epiglote
Laringe Traqueia
Brônquios primários
Cavidade pleural

Pulmão
Diafragma
X

Será que a criança /


adolescente / adulto que
está falando está mesmo
“gaguejando”?!
X

02 |
Será que a criança / adolescente /
adulto que está falando está mesmo “gaguejando”?!

Às vezes, podemos observar uma pessoa falando (ou até nós mesmos) e pensar
“será que ela está gaguejando?!”. Pois bem, para entender um pouco sobre
a gagueira, além de saber o que é FALA, precisamos conhecer alguns outros
conceitos:

FLUÊNCIA X DISFLUÊNCIA

FLUÊNCIA
É a característica da fala
espontânea, produzida com
facilidade e fluxo natural.
Refere-se ao fluxo contínuo
e suave de produção de fala.

DISFLUÊNCIAS
São quebras, bloqueios,
prolongamentos ou
repetições dos sons,
palavras ou frases
durante a fala.
X

02 |
Será que a criança / adolescente /
adulto que está falando está mesmo “gaguejando”?!

FALA FLUENTE X FALA DISFLUENTE

FALA Fala sem esforço, suave, sem rupturas/interrupções ou


FLUENTE com o mínimo de rupturas/interrupções possível, na
qual há equilíbrio entre a produção dos sons, palavras
e frases com a suavidade (ausência de esforço),
velocidade, entonação e pausas consideradas naturais.

A fala fluente envolve características como movimento


e suavidade, continuidade e velocidade adequada,
para que o outro com quem nos comunicamos possa
compreender essa fala (chamada de inteligibilidade de
fala).

Portanto, o falante fluente é aquele que pode produzir


sequências de sílabas, palavras e frases sem esforço
aparente, pela combinação de emissões bem articuladas,
com uma velocidade adequada e de maneira contínua.
A fala fluente contém as nuances apropriadas do
significado, associadas ao ritmo, velocidade, entonação
e às intenções comunicativas de quem está falando.
X

02 |
Será que a criança / adolescente /
adulto que está falando está mesmo “gaguejando”?!

FALA Fala que apresenta quebras ou rupturas involuntárias


DISFLUENTE em seu fluxo, suavidade, ritmo, velocidade e/ou esforço
na produção de sons, palavras ou frases. Envolve
rupturas, interrupções, alterações de velocidade e
entonação da fala.

Tudo isso em conjunto pode impedir que o outro com


quem estamos nos comunicando nos compreenda (isto
é, diminuir a inteligibilidade de fala).

A principal característica de uma fala disfluente, então,


é a presença das chamadas DISFLUÊNCIAS. Mas nem
toda disfluência é sinal de gagueira...

E
agora?!
X

02 |
Será que a criança / adolescente /
adulto que está falando está mesmo “gaguejando”?!

CALMA...vamos fazer um exercício. Observe os diferentes tipos de quebras na


fala (disfluências) e faça um X naquelas que você já observou na sua fala ou em
alguém:

DISFLUÊNCIAS - TIPO 1
A cacacasa é grande. (repete a sílaba ca)

/P (prende o som do p) are com isso!

Amo minha f_ (estica o som do f) amília

Eeeeeeu quero comer. (repete o som do e)

DISFLUÊNCIAS - TIPO 2
Eu queria ééé passear
(hesita, fazendo ééé, annn entre as palavras)

Eu ia, eu fui pra escola


(reformula as frases)

Mãe, mãe eu quero!


(repete palavras)

Você é muito chata, muito chata!


(repete frases ou parte das frases)
X

02 |
Será que a criança / adolescente /
adulto que está falando está mesmo “gaguejando”?!

VOCÊ DEVE TER NOTADO QUE EXISTEM


DIFERENTES TIPOS DE DISFLUÊNCIAS
Disfluências tipo 1 Disfluências tipo 2
São mais características da São consideradas comuns
gagueira e chamamos de e fazem parte do discurso
“disfluências gagas”. de todo falante e são
chamadas de “disfluências
comuns”.

Se a criança repete uma ou duas vezes as palavras, faz revisões ou hesita antes de
falar, como se estivesse buscando dentro da cabecinha a palavra certa para usar,
é sinal de que ela está aprendendo novas formas de utilizar a linguagem (novas
palavras, novos conceitos, regras de gramática) e isso é absolutamente normal.

Se, em alguns momentos, ela apresenta disfluências do tipo 1 e repete sons e


sílabas mais de duas vezes (pa pa pa pato) ou apresenta prolongamentos (duração
exagerada dos sons) e certa tensão associada à fala, como se estivesse fazendo
força ou faltando ar na hora de falar, fique atento! Essas disfluências também
podem ocorrer no período de desenvolvimento de fala e linguagem, mas devem
desaparecer em, no máximo, seis meses.

Se as disfluências do tipo 1 ocorrem sempre, em quase todas as situações


comunicativas, com muitos bloqueios (demora para conseguir falar ou solta um
som de repente como se ele estivesse preso) e, além disso, há tensão e movimentos
faciais (piscar olhos, tremer a boca, etc.) e/ou corporais (mãos, pernas, cabeça,
etc.) associados à fala, muito provavelmente essa criança apresenta gagueira.
Nesses casos, é comum que algumas crianças aparentem ter medo de falar e
evitem situações comunicativas.
X

02 |
Será que a criança / adolescente /
adulto que está falando está mesmo “gaguejando”?!

ATENÇÃO

Na dúvida, é sempre importante buscar ajuda especializada e o profissional


habilitado para avaliar e tratar os casos de gagueira é o Fonoaudiólogo.

Ao passar por uma avaliação com um profissional, será possível determinar


se há necessidade de intervenção imediata ou não e, nos casos em que há
necessidade, quanto antes intervir maiores são as chances de alcançar bons
resultados.
X

Qualquer pessoa pode


apresentar fala disfluente
ou só quem gagueja?
X

03 |
Qualquer pessoa pode apresentar
fala disfluente ou só quem gagueja?

Como já dissemos, as disfluências são comuns na fala normal de todo falante,


que pode manifestar incertezas e/ou imprecisões articulatórias e na formulação
da linguagem e da fala. Nem todas as “não-fluências” são consideradas
problemáticas, já que não existem pessoas totalmente fluentes durante todo o
tempo, assim como não existe alguém que gagueje todo o tempo.

No adulto, às vezes, essas “não-fluências” são consideradas “vícios de linguagem”.


Em geral, são acompanhadas de uma fala mais rápida, que pode comprometer a
compreensão daquilo que é dito.

Quando os ouvintes prestam mais atenção na forma como o falante se expressa do


que no conteúdo daquilo que ele está falando, pode ser que o falante tenha cruzado
a linha entre o adequado e o inadequado, numa esfera socialmente delimitada, o
que de significar a linha entre ser um falante fluente e um falante não-fluente.
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03 | Qualquer pessoa pode apresentar


fala disfluente ou só quem gagueja?

O que diferencia a gagueira das disfluências comuns de todo falante é que a


ruptura de fala, sem recuperação espontânea e imediata pode ser gagueira (mas
o diagnóstico é dado por um fonoaudiólogo, após uma avaliação fonoaudiológica,
lembre-se disso!!!).

As que apresentam recuperação espontânea são disfluências que todos os falantes


podem ter. Afinal, todos podem ser disfluentes em algum momento, mas alguns
tocam “a bola pra frente” e não se incomodam com isso e outros – até mesmo
por experiências negativas anteriores – terão seu processo de comunicação
impactado.
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Há uma fase do
desenvolvimento
da criança em que é
“normal” gaguejar?
X

04 | Há uma fase do desenvolvimento da


criança em que é “normal” gaguejar?

Nem toda disfluência ocorrida na infância pode ser considerada gagueira, já que
- por volta dos três anos de idade - quando as crianças estão em plena expansão
da atividade motora e linguística, pode haver momentos ou períodos que a criança
apresente episódios de disfluências.

Na verdade, em relação à aquisição e desenvolvimento da linguagem, é o momen-


to em que a maioria das crianças está aprendendo a se expressar verbalmente de
forma mais completa: ampliando vocabulário, aumentando a velocidade de fala,
aprendendo a formar frases e encadeá-las em discursos e diálogos com duas ou
mais pessoas, a usar a fala para interagir socialmente de forma mais ampla.

Esse processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem é muito complexo


e, durante os três primeiros anos de vida, ocorre um pico de complexidade, com
aumento de demandas linguísticas em cima da criança. Paralelamente, ela está
desenvolvendo sua capacidade de relação social, iniciando os manejos das regras
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04 | Há uma fase do desenvolvimento da


criança em que é “normal” gaguejar?

conversacionais, aprendendo a respeitar turnos, ampliando e introduzindo novos


temas em seus diálogos.

Em relação à fala e à fluência, para a produção de fala, também é exigido da crian-


ça o desenvolvimento das habilidades motoras. Como já vimos, elas facilitam um
planejamento adequado, coordenado e preciso dos movimentos fonoarticulató-
rios, que permitem à criança a emissão de sílabas, palavras e frases.

É neste período que também se observa um aumento do número de sons que a


criança é capaz de combinar e do conhecimento das regras que regem o uso e a
combinação destes sons. Tudo isto gerará em uma maior inteligibilidade de fala,
até que a criança seja capaz de se comunicar com uma linguagem inteligível com
todos os que a rodeiam.

Toda criança passa por períodos de disfluência mais acentuada (hesitações e re-
petições principalmente, que são consideradas “disfluências comuns”), em decor-
rência do complexo processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem. Em
cerca de 80%, essas disfluências são “normais”, fazem parte do desenvolvimento
e tendem a desaparecer em seis meses.

Entretanto, estas disfluências podem evoluir para um quadro crônico (que pode
ser uma gagueira do desenvolvimento), principalmente quando temos os chama-
dos fatores de risco, como por exemplo: antecedentes familiares de gagueira, ou-
tras alterações de comunicação associadas (atrasos na aquisição e desenvolvi-
mento da linguagem, distúrbios fonológicos, alterações na motricidade orofacial,
entre outros), características psicológicas predisponentes (timidez, baixa resis-
tência à frustração, perfeccionismo, ansiedade, entre outros), famílias com traços
linguísticos desfavoráveis (fala rápida, pessoas críticas ou exigentes em relação
ao padrão de fala, estilo de vida acelerado, entre outros), dentre outros.
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04 | Há uma fase do desenvolvimento da


criança em que é “normal” gaguejar?

Portanto, embora seja comum todas as crianças manifestarem disfluências de


fala nessa fase do desenvolvimento, e nem todas cheguem a desenvolver uma
“gagueira”, também é fato que é exatamente nessa fase que as crianças que ga-
guejam começam a manifestar as disfluências de fala de forma mais intensa.

Sendo assim, como a gagueira surge predominantemente nessa faixa etária, é


essencial que na presença de fatores que sejam considerados de risco, a família
dessa criança acompanhe o desenvolvimento e evolução dessa fala e procurem
ajuda especializada de um fonoaudiólogo para que a oriente adequadamente e
que haja uma intervenção precoce com a fala dessa criança. Isso fará toda a dife-
rença, porque “nada justifica que uma criança que gagueja se torne um adulto que
gagueja”. A intervenção precoce faz toda a diferença!!!
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Enfim, o que é
gagueira?
X

05 | Enfim, o que é gagueira?


A gagueira é um distúrbio de fluência da fala, que pode ocorrer em pessoas
independentemente de raça, de níveis socioeconômicos e culturais e de grau de
escolaridade, acometendo predominantemente o gênero masculino (proporção de
4 meninos para 1 menina).

Sua taxa de ocorrência na população é de 4 a 5%, existindo um índice de recuperação


espontânea elevado, principalmente durante a infância apenas 20% das crianças
que apresentam disfluências na infância se tornam pessoas que gaguejam).

A chamada gagueira do desenvolvimento é a mais comum e compõe 80% dos casos


e suas manifestações se iniciam na infância. É o que efetivamente conhecemos
como “gagueira”. Há outros distúrbios da fluência da fala, mas o mais comum e
prevalente é a gagueira. Por isso, a gagueira e as crianças e famílias que gaguejam
são o foco deste material que desenvolvemos para vocês!
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Adolescentes e
adultos podem
ter gagueira?
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06 | Adolescentes e adultos podem ter gagueira?

Normalmente, adolescentes e adultos que gaguejam eram crianças que já gague-


javam. No caso dos adolescentes e adultos, o grau das alterações da fala costu-
ma ser maior e mais estável do que nas crianças, até mesmo porque houve já um
tempo de estabilização da fala, em que o amadurecimento motor e de padrões de
linguagem já ocorreu em sua maior parte.

Todo adolescente que gagueja foi uma criança que gaguejava, o que também
ocorre com praticamente todos os casos de gagueira em adultos, com exceção
dos casos de gagueira neurogênica (após um traumatismo cerebral ou desordens
neurodegenerativas), psicogênica (dado a algum “trauma” ou transtorno emocio-
nal) ou decorrente dos transtornos motores da fala (aqueles outros quadros ou
distúrbios da fluência que citamos agora a pouco).
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06 | Adolescentes e adultos podem ter gagueira?


Ao chegar na idade adulta, as alterações da fluência (bloqueios e repetições) tam-
bém podem aumentar em frequência e intensidade. É possível que venham acom-
panhados de alterações fisiológicas, momentos de “falta de ar”, alta ansiedade,
esgotamento do ar na hora de falar, tensão muscular em órgãos fonoarticulatórios
e em outras áreas do corpo, provocando movimentos associados.

Deve-se destacar também uma grande variabilidade das manifestações do trans-


torno no adulto, em relação ao local/ambiente e ao interlocutor – característica
esta não tão observável em crianças. Os adultos também tendem a antecipar as
situações de comunicação e a apresentar mais ciclos de fluência/disfluência (me-
lhora/piora).

Mesmo assim, uma intervenção fonoaudiológica pode auxiliar e muito a pessoa


que gagueja em qualquer fase da vida, sendo que o fonoaudiólogo poderá também
indicar outros profissionais que sejam necessários para a melhora no caso, se em
sua avaliação ele verificar fatores intervenientes que possam também estar con-
tribuindo para a piora na qualidade comunicativa e de vida da pessoa que gagueja
(Ex: tratamentos psicológicos, médicos, etc).
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Quais as causas
da gagueira?
X

07 | Quais as causas da gagueira?

Atualmente, existe uma forte tendência na literatura mundial em formular expli-


cações multicausais ou modelos teóricos que integrem os diversos aspectos da
gagueira. Em geral, todas estas teorias atribuem a origem da gagueira à existência
de certa predisposição individual e hereditária, que interage com outros fatores
(psicológicos, linguísticos, ambientais e motores).

No entanto, mais pesquisas são necessárias para esclarecer os dados pouco con-
clusivos até o momento, apesar de todo o avanço científico na área das alterações
de fala e linguagem. A informações das pesquisas proporcionadas pelos métodos
de neuroimagem cerebral abriram novas possibilidades que apontam diferenças
entre falantes fluentes e não-fluentes em diversas dimensões do sistema nervoso
central.

Os déficits encontrados nas funções cerebrais implicam regiões classicamente


associadas com o controle motor da fala e com o processamento da linguagem,
não apresentando alterações estruturais, mas sim na “transmissão” das informa-
ções entre várias regiões do cérebro.

Em geral, os resultados das pesquisas indicam diferenças que mostram que as


pessoas que gaguejam, em comparação aos que não gaguejam, não formam um
grupo homogêneo, havendo muitas variações individuais. O mais provável é que
os fatores não atuem isoladamente, mas em combinação, por isso o termo “cau-
sas multifatoriais”.
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A gagueira tem
tratamento?
Melhora?
Tem cura?
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08 | A gagueira tem tratamento? Melhora? Tem cura?

Sim, a gagueira tem tratamento. Sim, em qualquer fase da vida (criança, adoles-
cente e adulto), a gagueira pode vir a ter melhora quando há a intervenção ade-
quada. Mas, não, a gagueira não tem cura.

Não usamos o termo “cura” até mesmo porque gagueira não é doença. E também
porque não existe alguém 100% fluente na fala o tempo todo, então seria uma
mentira se alguém prometesse para uma pessoa que gagueja ou para a família de
uma criança que gagueja que ela “nunca mais vai gaguejar”!

O tratamento ou, como gostamos de falar, a intervenção com a pessoa que ga-
gueja, seja criança, adolescente ou adulto é realizado por um Fonoaudiólogo e,
de preferência, alguém que estude os distúrbios da fluência. A especialidade em
Fluência, reconhecida pelo Conselho Federal Fonoaudiologia, foi criada há relati-
vamente pouco tempo, mas um fonoaudiólogo que tenha experiência e interesse
e faça cursos na área também é habilitado a atender pessoas que gaguejam.
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08 | A gagueira tem tratamento? Melhora? Tem cura?


Em relação à gagueira infantil, há grandes possibilidades de sucesso na obtenção
de fluência permanente se a família procurar auxílio especializado tão logo obser-
ve as que a disfluência da criança está se manifestando de forma a interferir na
qualidade da comunicação.

Quanto antes for procurada uma orientação profissional correta (com fonoaudió-
logo), melhores são as chances de a criança atingir seu potencial máximo de flu-
ência na fala. A família, por sua vez, precisa de orientação e apoio para lidar com
as dificuldades da criança, a fim de fornecer a ela um ambiente de comunicação
mais propício.

Se assim for, as chances de a criança desenvolver habilidades comunicativas


com potencial máximo de fluência são maiores. Veja que usamos o termo “poten-
cial máximo de fluência” e não “cura” ou “100% de fluência” porque acreditamos
mesmo que todos possamos desenvolver habilidades de comunicação com gran-
de potencial de fluência de fala, de forma a conseguirmos nos comunicar onde,
quando e com quem quisermos, de forma saudável e prazerosa! É isso que todos
queremos para as crianças!!!

Um dos fatores críticos para o sucesso do trabalho terapêutico com a gagueira


infantil é o envolvimento dos pais, principalmente quanto a eficácia do processo
comunicativo em todos os seus elementos, inclusive os não-verbais, como con-
tato de olho, linguagem corporal compatível e entonação adequada ao discurso.

A generalização e a manutenção dos resultados obtidos em terapia fonoaudioló-


gica (tanto de aumento da fluência quanto de melhora da linguagem em geral, em
termos de habilidades comunicativas) só se fortalecerá se a criança conseguir
manter o padrão em todos os ambientes e situações e com todos os interlocuto-
res. Potencial máximo de fluência, lembram?!
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08 | A gagueira tem tratamento? Melhora? Tem cura?


Os aspectos comunicativos da família, as formas escolhidas para aprovação da
fala fluente, como lidar com a fala disfluente em cada ambiente e situação co-
municativa, a aceitação da fala da criança, o respeito ao que ela está falando, o
monitoramento da velocidade de fala, auxiliar no controle do esforço na produção
dos sons, a respiração adequada – todas estas são questões que competem à
Fonoaudiologia, mas que devem ser foco da orientação e intervenção com pais,
família, cuidadores e escola.

São eles que passam grande parte do dia com a criança e devem saber como pro-
ceder de maneira adequada. Todos envolvidos na melhora da fluência da criança!!!
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Quando procurar
o tratamento?
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09 | Quando procurar o tratamento?

O quanto antes! O quanto antes! O quanto antes! Vamos repetir: deve-se procurar
o tratamento o quanto antes!!! Portanto, só para ficar claro, a família deve procurar
um FONOAUDIÓLOGO assim que perceber que a criança está “gaguejando”.

Como já falamos, pode até ser um período de disfluência normal, mas até mesmo
nesse caso, para que a ansiedade em cima da comunicação da criança não au-
mente, o fonoaudiólogo é que está habilitado a avaliar a criança e orientar, acon-
selhar a família e acompanhar o desenvolvimento de fala e linguagem, mesmo que
os fatores de risco para desenvolvimento de uma gagueira sejam baixos.
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O que posso fazer


para ajudar?
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10 | O que posso fazer para ajudar?

Seja você pai, mãe, avô, avó, cuidador ou qualquer interlocutor que tenha
contato com uma criança que gagueja, seguem algumas dicas e orientações
simples e eficazes

Ser “todo ouvidos” – aprender como ouvir e reagir à fala da criança. Na ânsia
por ajudar, a tendência da pessoa que está conversando com uma pessoa
que gagueja é interromper a fala dela, falar para ela repetir, respirar, pensar
antes de falar e ficar dando “dicas”. Mas saiba que isso pode até piorar a
fluência de fala da criança. Neste momento, faça como a expressão popular
e “seja todo ouvidos”:

Abaixe-se para ficar no mesmo nível físico da criança – isso ajuda a


demonstrar a ela o seu interesse pelo que ela conta.
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10 | O que posso fazer para ajudar?

Mantenha o contato de olho – pode parecer estranho, mas fazer essa


interação face a face e manter o contato de olho de forma natural
(principalmente com as crianças que tentam evitar olhar diretamente
para o interlocutor) pode ajudar e muito na comunicação. É claro que
sem forçar a criança a olhar para você, mas se mostrando atento e
disponível a ela.

Não apresse a criança a falar – se puder dar atenção imediata à


criança, ótimo, continue a comunicação com as dicas anteriores
(ficar no mesmo nível físico e ser todo ouvidos, olhando para a
criança atentamente); no entanto, se você estiver com pressa,
melhor pedir que a criança aguarde um momento até você terminar
o que está fazendo ou ter maior disponibilidade para falar com ela,
mas – realmente – cumpra a promessa de dar atenção e, quando for
conversar com a criança, dê atenção total a ela. A pressão de ter que
falar rápido porque o interlocutor está com pressa é uma das piores
situações comunicativas para alguém que gagueja.

Prestar mais atenção ao conteúdo do que a criança está falando do


que à forma: é muito comum alguns pais se incomodarem com as
disfluências e corrigirem a fala da criança o tempo todo, sem dar
atenção ao conteúdo. Por exemplo:
A criança diz:
- Hoje eu ganhei um ppppprêmio na escola!
E a resposta que ela recebe é:
- Vamos falar direitinho? Não é ppppprêmio, é prêmio! Repete para
mim: PRÊMIO!
O ideal, seria oferecer um modelo adequado de fala (corrigindo
indiretamente), mas dando atenção ao que a criança quer contar.
Neste caso, a resposta mais adequada seria:
X

10 | O que posso fazer para ajudar?

- Então você ganhou um PRÊMIO? Que legal, parabéns! E que PRÊMIO


foi esse?
Dessa forma você repetiu corretamente a palavra gaguejada
sem apontar a gagueira e incentivou continuidade na interação
comunicativa.

Reservar um tempo, diariamente, para dar atenção exclusiva à criança: a fala


mais lenta e relaxada pode ser mais eficaz quando a criança tiver algum tempo
de atenção dos pais só para ela, sem distrações e sem ter que competir com
outras pessoas.

Ler ou contar histórias em voz alta pode ser uma boa estratégia, pois
enfatizam o prazer da fala. Quando você estiver lendo uma história repetida
que a criança goste, deixe que ela termine algumas frases ou as reconte com
as próprias palavras, se ela quiser.

Falar “com”, em vez de falar “para” a criança – significa ter mais tolerância,
promover momentos agradáveis de comunicação, auxiliar a criança a
expressar suas opiniões e sentimentos. A forma com que se fala com a
criança pode ser determinante para que a gagueira não se agrave.

“Falar com” pressupõe troca de ideias, diálogos, brincadeiras de fala,


compreensão da dificuldade e pode resultar numa diminuição da gagueira.
O “falar para” geralmente inclui ordens do que a criança tem que fazer, além
de – nestes momentos – os adultos tenderem a usar uma fala mais ríspida,
com aumento de velocidade de fala – o que pode aumentar as disfluências.
Também não é bom fazer perguntas em demasia para a criança, pois isto faz
da comunicação um inquérito, um bombardeamento. Há pais que acreditam
que, ao perguntar, estão realmente conversando.
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10 | O que posso fazer para ajudar?

Quando for falar com a criança, usar palavras simples e frases curtas, com
vocabulário compatível à idade dela, fazendo uma pergunta de cada vez.
Quando a criança perguntar algo a você, espere um segundo ou mais antes
de responder, pois essa atitude reduz a pressão do tempo na comunicação, e
fará com que a criança se sinta mais relaxada para processar o que quer dizer
antes de começar a falar também.

Ajudar a criança a falar mais devagar: para muitas crianças, determinadas


mudanças nos pais e/ou outros membros da família são a melhor forma de
estimular a fluência.

Por isso, você deve tentar moldar a sua própria fala, estabelecendo um padrão
mais lento e relaxado quando for conversar com a criança. Não é necessário
reduzir de forma artificial a velocidade de fala, mas criar uma atmosfera na
qual a fala rápida não seja necessária. Pausas breves entre as palavras e
frases são muito eficientes.

Observe o estilo de vida das pessoas que convivem com a criança.


Frequentemente a criança reflete o estilo de vida da família e, se esse estilo
for acelerado, ela não conseguirá falar mais devagar. Para que ela consiga,
será necessária uma mudança na postura da família, pois se todos falarem
mais devagar ela também o fará; é uma reação natural!

Usar a comunicação não-verbal – expressar apoio, usar um padrão vocal


afetuoso, demonstrar afeto e compreensão, tocar a criança, acolhê-la,
procurar controlar as expressões faciais – a “leitura” que a criança faz destas
situações pode ajudar a aumentar ou diminuir a fluência. Se a comunicação
não-verbal for positiva, a criança se sente tranquila, percebe que tem atenção
e o tempo disponível para que ela possa fazer uso da comunicação verbal.
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10 | O que posso fazer para ajudar?

Aumentar o tempo disponível para a comunicação – estratégias como


mostrar algo ou como se faz algo ao invés de apenas mandar, falar mais
devagar, abaixar-se no mesmo nível físico que a criança já demonstra a ela
que se está disponível para ela e para a comunicação.

Revisar seu estilo de vida – as rotinas e os compromissos da vida diária fazem


muitas vezes a agenda familiar ficar extremamente ocupada e estressante.
Procurar rever horários e atividades para que a criança tenha horários para
brincar, para que os pais tenham horários disponíveis (separadamente e
ambos juntos) para os filhos pode ser extremamente útil para a comunicação
da criança.

Excesso de regras e compromissos não facilitam a fluidez da comunicação.


A estrutura da disciplina reduz a ansiedade, a consistência permite a
previsibilidade e a fala fica mais tranquila, já a inconsistência aumenta
comportamentos de evitação e insegurança.

Mostrar aceitação para a criança que gagueja – procurar entender as


diferenças individuais da fala (comuns a qualquer pessoa). Gaguejar não é a
melhor coisa, mas também não é algo incontornável; é preciso procurar não
encarar isso como uma dificuldade intransponível.

Aumentar a tolerância e expressar aceitação permitem que a criança perceba


que, apesar de sua fala não ser fluente todo o tempo, seus pais gostam dela
e a aceitam como ela é. Para isto, é importante não brigar com a criança por
conta de episódios de gagueira.

A criança não é só a gagueira, é preciso valorizá-la por outras características


positivas, por habilidades que ela tenha – que devem ser muitas. Demonstrar
aceitação não significa não falar sobre a gagueira, ou não tocar no assunto;
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10 | O que posso fazer para ajudar?

pelo contrário, deve-se falar com a criança sobre isto, mas de forma serena
e tranquila – descrever os comportamentos ao invés de rotulá-los é muito
saudável.

Conversar com a criança de que a boca às vezes “tranca”, tentar reduzir os


medos e as frustrações sobre a fala não-fluente, mostrando como lidar com
estes sentimentos e que as pessoas se frustram também por outros motivos.

Auxiliar a criança a pensar em formas de não se intimidar com possíveis


comentários desagradáveis ou brincadeiras de mau gosto, rótulos, risadas e
apelidos. É bom que a criança tenha clareza de que gaguejar não vai impedi-
la de fazer o que pretende ou conquistar seus objetivos.

Diminuir as altas expectativas em relação à fala da criança – é importante


não estabelecer objetivos difíceis de alcançar em relação à fala da criança.
Ninguém é 100% fluente. Os objetivos em relação à fala fluente devem se
adequar à idade, maturidade, época do tratamento em que a criança se
encontra.

Os pais devem frequentemente observar seus níveis de exigência e devem


falar sobre a gagueira abertamente, ela nunca deve ser um tabu, assim todos
ajudam a desmistificar a gagueira como uma barreira e entender isso como
uma característica da fala. Com certeza, isso ajudará a pessoa que gagueja a
se sentir compreendida e incluída!

Converse sobre a gagueira com a criança abertamente: encoraje a criança a


falar sobre o assunto com você, mostre paciência e aceitação ao conversarem.
A gagueira não deve ser um assunto evitado ou proibido. Superar a gagueira
é mais uma questão de perder o medo de gaguejar do que de se esforçar
para falar melhor. Lembre a criança de que as disfluências são naturais à
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10 | O que posso fazer para ajudar?

fala de qualquer pessoa e que é normal que, às vezes, apareçam rupturas na


fala. Frequentemente, a gagueira pode ocorrer sem incomodar o ouvinte e a
criança não deve se sentir intimidada ao falar.

Se você trabalhar em alguma escola que tenha crianças que


gaguejam como alunos, você também pode e deve participar

O professor, após os pais, é peça-chave na detecção e no sucesso da


intervenção com as crianças que gaguejam. Na verdade, não existem regras
para a participação da criança que gagueja em sala de aula, mas ela deve
participar ou ter a oportunidade de participar de forma plena das atividades
escolares e de sua integração social e só o claro diálogo entre família, a
criança e a escola podem ajudar a estabelecer como será essa participação.
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10 | O que posso fazer para ajudar?

É claro que o fonoaudiólogo que realiza a intervenção com a criança


também pode ajudar nesse diálogo, que deve ser aberto, claro e frequente,
porque a participação da criança em situações comunicativas na escola vai
modificando conforme ela vai se sentindo mais à vontade e aumentando seu
domínio de fluência da fala.

Todas as “dicas” colocadas anteriormente continuam valendo aqui, mas


algumas atitudes que promovem a fluência especificamente por parte dos
professores podem auxiliar e muito a inserção e adaptação da criança que
gagueja ao ambiente escolar. Seguem aqui algumas:

Agir com a criança que gagueja da mesma forma que age


com as outras;

Prestar atenção ao conteúdo e não à forma da mensagem;

Prestar atenção à fluência e não à disfluência;

Respeitar a flutuação da fluência (incentivar participação em sala


de aula em dias mais fluentes);

Falar sobre a fluência de fala com a criança em particular, mostrando-


se disponível e dizendo para a criança que é importante que ela fale
como se sente, demonstre seus sentimentos e opiniões;

Se a criança for disfluente em alguma das solicitações de fala que


você fizer, você não deve corrigi-la, mas apenas repetir o conteúdo da
mensagem, para ajudá-la a ter certeza de que ela foi compreendida;
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10 | O que posso fazer para ajudar?

Reduzir a própria velocidade de fala, dando o modelo à criança de


uma fala mais suave e lentificada;

Se estiver direcionando perguntas à sala, não exclua a criança da


atividade, mas faça a ela perguntas que possam ser respondidas
com poucas palavras. Chame a criança que gagueja logo no começo
da atividade, não demore, para que ela não fique ansiosa e piore sua
fluência;

Em relação à leitura em voz alta, ao invés de pedir que cada criança


leia separadamente, peça que leiam em coro ou em duplas, isso
ajuda a criança que gagueja reduzindo sua ansiedade e fornecendo
um ritmo de fala para que ela tenha um padrão/referência;

Encoraje a criança a te relatar se sofrer bulliyng, fale com ela


abertamente sobre isso, mostre-se solidária, diga que a ajudará
a resolver a situação. Tome atitudes imediatas com as crianças
que praticaram o bulliyng, tentando fazer que os colegas auxiliem
a criança que gagueja, buscando a colaboração e utilizando dos
mecanismos e ferramentas anti-bullying disponibilizados pela
instituição de ensino. Comunique, junto a Coordenação da escola,
as famílias envolvidas na questão;

De preferência, toda a equipe escolar que atua diretamente com


a criança deve também receber as orientações necessárias para
auxiliar a criança a ter um ambiente comunicativo adequado e
favorável, de respeito e cooperação.
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O que não fazer com a


criança que gagueja:
Atitudes que prejudicam
a fluência
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11 |
O que não fazer com a criança que gagueja:
Atitudes que prejudicam a fluência

Às vezes, mais importante do que saber “o que fazer”, é saber “o que não
fazer” e, por isso, preparamos esses itens aqui, mesmo já tendo abordado
todas as atitudes adequadas anteriormente.

Mas lembrem-se que o que NUNCA devemos fazer com uma criança que
gagueja é deixá-la se tornar um adulto que gagueja, porque a intervenção
precoce com um fonoaudiólogo habilitado na área de Fluência e o trabalho
conjunto com família e escola é o que impedirá isso de acontecer.
No entanto, segue aqui uma listinha muito útil do que não fazer com a criança
que gagueja:
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11 |
O que não fazer com a criança que gagueja:
Atitudes que prejudicam a fluência

Dizer à criança “pare, pense, respire antes de falar”: evite dar


instruções e dicas de como ela tem que fazer para não gaguejar.
Todos esses conselhos geram ressentimento e insegurança e não
ajudam a falar de forma mais relaxada, pelo contrário. Com o tempo,
isso fará com que a criança evite falar com medo de ser corrigida;

Criticar ou corrigir a fala da criança: isso pode frustrá-la e fazê-la se


sentir incapaz de expor seus pontos de vista;

Completar a fala da criança ou interrompê-la enquanto está tentando


falar: a pressão externa prejudica a fluência;

Perguntas difíceis ou muito abertas para responder como “Porque


você derramou o suco?”;

Apressar a criança enquanto ela estiver tentando falar: agindo assim


você aumentará a ansiedade da criança e dificultará sua expressão
de fala;

Usar palavras e expressões difíceis: estas dificultam a compreensão


da mensagem e podem gerar medo e ansiedade de não conseguir
responder. Utilize vocabulário adequado à faixa etária e compreensão
por parte da criança;

Gritar com a criança quando ela gaguejar: o grito pode ser


interpretado como uma punição à gagueira (que é involuntária) e
causar consequências emocionais negativas;
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11 | O que não fazer com a criança que gagueja:


Atitudes que prejudicam a fluência

Comparar a fala da criança com a de outras crianças: isso a fará se


sentir envergonhada ou diminuída;

Forçar a criança a falar ou ler em público: recitar poemas ou contar


algo em público pode ser uma experiência traumatizante para a
criança que tem dificuldade para falar. Se ela o fizer espontaneamente,
tudo bem, não há razões para sentir vergonha, todos nós temos
limitações;

Superproteger a criança: não faça tudo pela criança ou arranje a


vida de modo que ela não precise falar. A superproteção poderá
aumentar seu medo de falar, se expor e lutar pelo que deseja;

Exigir demais da criança: exigir da criança um nível de perfeição


muito elevado pode prejudicar sua autoestima e, consequentemente,
dificultar interações comunicativas.
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Considerações
finais
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Considerações finais

É claro que o tema não se encerra aqui e, com certeza, quando esse ebook estiver
na mão de todos vamos lembrar de algumas coisas que esquecemos de comen-
tar, mas isso é natural e a escrita, assim como a fala, nunca é perfeita, mas ela
existe para que comuniquemos o que queremos, precisamos e desejamos:

Nós queríamos elaborar um material que ajudasse a todos a compreender a dinâ-


mica de uma pessoa que gagueja, em especial, de uma criança e de uma família
que gagueja.

Nós precisávamos fazer isso até mesmo pelo comprometimento que temos com
nossa profissão e com as famílias das pessoas e crianças que gaguejam.
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Considerações finais

Nós desejávamos e desejamos e muito que você, que leu esse material, o incorpo-
re em seu dia-a-dia ao interagir e se comunicar com crianças e famílias que ga-
guejam e que, a partir daqui, você se interesse em aprofundar seu conhecimento
na área da Fluência da Fala.

Esperamos de coração que todos esses objetivos tenham sido alcançados! Fi-
quem de olho em nossos próximos cursos pelas redes sociais da TK!

FONOAUDIÓLOGAS

Simone Herrera Renata Donadeli Paula Moura


@simoneherrera @renatadonadelifono @dicasdafono

TechKnowledge

@tk.ead.br tk-ead.com.br contato@tk-ead.com.br


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Referências
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http://abragagueira.org.br/paraprofessores_1.asp

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