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Livro Gagueira
Livro Gagueira
S
omos Fonoaudiólogas! Amamos o que fazemos! Dedicamo-nos à nossa
profissão com afinco! Estudamos muito! Somos ativas nas redes sociais
porque queremos compartilhar nossa vida e trajetória profissional com vo-
cês! Atuamos com pessoas que gaguejam e, no caso de crianças e adolescentes,
com “famílias que gaguejam” e estas famílias estão inseridas em uma comunida-
de, cultura e sociedade que não compreende o que é gaguejar!
Foi isso que nos uniu numa nova empreitada aqui pela Techknowledge Treina-
mentos (TK-EaD), que começa aqui nesse material gratuito que fizemos questão
de compartilhar com todos que desejam conhecer um pouco mais sobre como
proceder com a pessoa que gagueja.Se você tem alguém que gagueja na família,
um(a) aluno(a) , um(a) vizinho(a) , um paciente ou se simplesmente se interessou
pelo título desse material , é com VOCÊ mesmo que queremos falar.
FONOAUDIÓLOGAS
01 O que é
fala?
05 Enfim, o que é
gagueira?
06 Adolescentes e adultos
podem ter gagueira?
07 Quais as causas
da gagueira?
09 Quando procurar
o tratamento?
O que é fala?
X
01 | O que é fala?
Esses músculos trabalham juntos numa grande precisão, com o correto grau de
força, aumentando ou reduzindo o tônus muscular, para produzir cada som em
seu exato lugar e na sequência correta para formar determinada palavra e, essas,
na sequência correta para produzir as frases e assim por diante, para que se forme
um discurso, uma conversa, um diálogo.
CANAL
EMISSOR RECEPTOR
MENSAGEM
CÓDIGO
X
01 | O que é fala?
Para produzir a fala e para que ela tenha um significado, também dependemos
da nossa linguagem. Isso porque para que as palavras, frases e discurso sejam
coerentes e bem articulados, é necessário que a pessoa que está falando tenha
também a habilidade em formular gramaticalmente as sentenças e “puxar”/
recuperar da memória (léxico) as palavras com o sentido apropriado e este
processo leva tempo.
01 | O que é fala?
APARELHO FONADOR
Cavidade nasal
Narina
Faringe
Epiglote
Laringe Traqueia
Brônquios primários
Cavidade pleural
Pulmão
Diafragma
X
02 |
Será que a criança / adolescente /
adulto que está falando está mesmo “gaguejando”?!
Às vezes, podemos observar uma pessoa falando (ou até nós mesmos) e pensar
“será que ela está gaguejando?!”. Pois bem, para entender um pouco sobre
a gagueira, além de saber o que é FALA, precisamos conhecer alguns outros
conceitos:
FLUÊNCIA X DISFLUÊNCIA
FLUÊNCIA
É a característica da fala
espontânea, produzida com
facilidade e fluxo natural.
Refere-se ao fluxo contínuo
e suave de produção de fala.
DISFLUÊNCIAS
São quebras, bloqueios,
prolongamentos ou
repetições dos sons,
palavras ou frases
durante a fala.
X
02 |
Será que a criança / adolescente /
adulto que está falando está mesmo “gaguejando”?!
02 |
Será que a criança / adolescente /
adulto que está falando está mesmo “gaguejando”?!
E
agora?!
X
02 |
Será que a criança / adolescente /
adulto que está falando está mesmo “gaguejando”?!
DISFLUÊNCIAS - TIPO 1
A cacacasa é grande. (repete a sílaba ca)
DISFLUÊNCIAS - TIPO 2
Eu queria ééé passear
(hesita, fazendo ééé, annn entre as palavras)
02 |
Será que a criança / adolescente /
adulto que está falando está mesmo “gaguejando”?!
Se a criança repete uma ou duas vezes as palavras, faz revisões ou hesita antes de
falar, como se estivesse buscando dentro da cabecinha a palavra certa para usar,
é sinal de que ela está aprendendo novas formas de utilizar a linguagem (novas
palavras, novos conceitos, regras de gramática) e isso é absolutamente normal.
02 |
Será que a criança / adolescente /
adulto que está falando está mesmo “gaguejando”?!
ATENÇÃO
03 |
Qualquer pessoa pode apresentar
fala disfluente ou só quem gagueja?
Há uma fase do
desenvolvimento
da criança em que é
“normal” gaguejar?
X
Nem toda disfluência ocorrida na infância pode ser considerada gagueira, já que
- por volta dos três anos de idade - quando as crianças estão em plena expansão
da atividade motora e linguística, pode haver momentos ou períodos que a criança
apresente episódios de disfluências.
Toda criança passa por períodos de disfluência mais acentuada (hesitações e re-
petições principalmente, que são consideradas “disfluências comuns”), em decor-
rência do complexo processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem. Em
cerca de 80%, essas disfluências são “normais”, fazem parte do desenvolvimento
e tendem a desaparecer em seis meses.
Entretanto, estas disfluências podem evoluir para um quadro crônico (que pode
ser uma gagueira do desenvolvimento), principalmente quando temos os chama-
dos fatores de risco, como por exemplo: antecedentes familiares de gagueira, ou-
tras alterações de comunicação associadas (atrasos na aquisição e desenvolvi-
mento da linguagem, distúrbios fonológicos, alterações na motricidade orofacial,
entre outros), características psicológicas predisponentes (timidez, baixa resis-
tência à frustração, perfeccionismo, ansiedade, entre outros), famílias com traços
linguísticos desfavoráveis (fala rápida, pessoas críticas ou exigentes em relação
ao padrão de fala, estilo de vida acelerado, entre outros), dentre outros.
X
Enfim, o que é
gagueira?
X
Adolescentes e
adultos podem
ter gagueira?
X
Todo adolescente que gagueja foi uma criança que gaguejava, o que também
ocorre com praticamente todos os casos de gagueira em adultos, com exceção
dos casos de gagueira neurogênica (após um traumatismo cerebral ou desordens
neurodegenerativas), psicogênica (dado a algum “trauma” ou transtorno emocio-
nal) ou decorrente dos transtornos motores da fala (aqueles outros quadros ou
distúrbios da fluência que citamos agora a pouco).
X
Quais as causas
da gagueira?
X
No entanto, mais pesquisas são necessárias para esclarecer os dados pouco con-
clusivos até o momento, apesar de todo o avanço científico na área das alterações
de fala e linguagem. A informações das pesquisas proporcionadas pelos métodos
de neuroimagem cerebral abriram novas possibilidades que apontam diferenças
entre falantes fluentes e não-fluentes em diversas dimensões do sistema nervoso
central.
A gagueira tem
tratamento?
Melhora?
Tem cura?
X
Sim, a gagueira tem tratamento. Sim, em qualquer fase da vida (criança, adoles-
cente e adulto), a gagueira pode vir a ter melhora quando há a intervenção ade-
quada. Mas, não, a gagueira não tem cura.
Não usamos o termo “cura” até mesmo porque gagueira não é doença. E também
porque não existe alguém 100% fluente na fala o tempo todo, então seria uma
mentira se alguém prometesse para uma pessoa que gagueja ou para a família de
uma criança que gagueja que ela “nunca mais vai gaguejar”!
O tratamento ou, como gostamos de falar, a intervenção com a pessoa que ga-
gueja, seja criança, adolescente ou adulto é realizado por um Fonoaudiólogo e,
de preferência, alguém que estude os distúrbios da fluência. A especialidade em
Fluência, reconhecida pelo Conselho Federal Fonoaudiologia, foi criada há relati-
vamente pouco tempo, mas um fonoaudiólogo que tenha experiência e interesse
e faça cursos na área também é habilitado a atender pessoas que gaguejam.
X
Quanto antes for procurada uma orientação profissional correta (com fonoaudió-
logo), melhores são as chances de a criança atingir seu potencial máximo de flu-
ência na fala. A família, por sua vez, precisa de orientação e apoio para lidar com
as dificuldades da criança, a fim de fornecer a ela um ambiente de comunicação
mais propício.
São eles que passam grande parte do dia com a criança e devem saber como pro-
ceder de maneira adequada. Todos envolvidos na melhora da fluência da criança!!!
X
Quando procurar
o tratamento?
X
O quanto antes! O quanto antes! O quanto antes! Vamos repetir: deve-se procurar
o tratamento o quanto antes!!! Portanto, só para ficar claro, a família deve procurar
um FONOAUDIÓLOGO assim que perceber que a criança está “gaguejando”.
Como já falamos, pode até ser um período de disfluência normal, mas até mesmo
nesse caso, para que a ansiedade em cima da comunicação da criança não au-
mente, o fonoaudiólogo é que está habilitado a avaliar a criança e orientar, acon-
selhar a família e acompanhar o desenvolvimento de fala e linguagem, mesmo que
os fatores de risco para desenvolvimento de uma gagueira sejam baixos.
X
Seja você pai, mãe, avô, avó, cuidador ou qualquer interlocutor que tenha
contato com uma criança que gagueja, seguem algumas dicas e orientações
simples e eficazes
Ser “todo ouvidos” – aprender como ouvir e reagir à fala da criança. Na ânsia
por ajudar, a tendência da pessoa que está conversando com uma pessoa
que gagueja é interromper a fala dela, falar para ela repetir, respirar, pensar
antes de falar e ficar dando “dicas”. Mas saiba que isso pode até piorar a
fluência de fala da criança. Neste momento, faça como a expressão popular
e “seja todo ouvidos”:
Ler ou contar histórias em voz alta pode ser uma boa estratégia, pois
enfatizam o prazer da fala. Quando você estiver lendo uma história repetida
que a criança goste, deixe que ela termine algumas frases ou as reconte com
as próprias palavras, se ela quiser.
Falar “com”, em vez de falar “para” a criança – significa ter mais tolerância,
promover momentos agradáveis de comunicação, auxiliar a criança a
expressar suas opiniões e sentimentos. A forma com que se fala com a
criança pode ser determinante para que a gagueira não se agrave.
Quando for falar com a criança, usar palavras simples e frases curtas, com
vocabulário compatível à idade dela, fazendo uma pergunta de cada vez.
Quando a criança perguntar algo a você, espere um segundo ou mais antes
de responder, pois essa atitude reduz a pressão do tempo na comunicação, e
fará com que a criança se sinta mais relaxada para processar o que quer dizer
antes de começar a falar também.
Por isso, você deve tentar moldar a sua própria fala, estabelecendo um padrão
mais lento e relaxado quando for conversar com a criança. Não é necessário
reduzir de forma artificial a velocidade de fala, mas criar uma atmosfera na
qual a fala rápida não seja necessária. Pausas breves entre as palavras e
frases são muito eficientes.
pelo contrário, deve-se falar com a criança sobre isto, mas de forma serena
e tranquila – descrever os comportamentos ao invés de rotulá-los é muito
saudável.
11 |
O que não fazer com a criança que gagueja:
Atitudes que prejudicam a fluência
Às vezes, mais importante do que saber “o que fazer”, é saber “o que não
fazer” e, por isso, preparamos esses itens aqui, mesmo já tendo abordado
todas as atitudes adequadas anteriormente.
Mas lembrem-se que o que NUNCA devemos fazer com uma criança que
gagueja é deixá-la se tornar um adulto que gagueja, porque a intervenção
precoce com um fonoaudiólogo habilitado na área de Fluência e o trabalho
conjunto com família e escola é o que impedirá isso de acontecer.
No entanto, segue aqui uma listinha muito útil do que não fazer com a criança
que gagueja:
X
11 |
O que não fazer com a criança que gagueja:
Atitudes que prejudicam a fluência
Considerações
finais
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Considerações finais
É claro que o tema não se encerra aqui e, com certeza, quando esse ebook estiver
na mão de todos vamos lembrar de algumas coisas que esquecemos de comen-
tar, mas isso é natural e a escrita, assim como a fala, nunca é perfeita, mas ela
existe para que comuniquemos o que queremos, precisamos e desejamos:
Nós precisávamos fazer isso até mesmo pelo comprometimento que temos com
nossa profissão e com as famílias das pessoas e crianças que gaguejam.
X
Considerações finais
Nós desejávamos e desejamos e muito que você, que leu esse material, o incorpo-
re em seu dia-a-dia ao interagir e se comunicar com crianças e famílias que ga-
guejam e que, a partir daqui, você se interesse em aprofundar seu conhecimento
na área da Fluência da Fala.
Esperamos de coração que todos esses objetivos tenham sido alcançados! Fi-
quem de olho em nossos próximos cursos pelas redes sociais da TK!
FONOAUDIÓLOGAS
TechKnowledge
Referências
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REFERÊNCIAS
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ZACKIEVICZ, D. Dicas para auxiliar os professores a lidar com o aluno que apresenta a
disfluência (gagueira). Conteúdo adaptado de Zackiewicz, disponível na íntegra no site:
http://abragagueira.org.br/paraprofessores_1.asp