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RESUMO
A cidade brasileira, historicamente, tem sido construída segundo os interesses das classes
dominantes, resultando num tecido urbano heterogêneo, cujas partes têm acesso diferenciado
à infra-estrutura urbana e qualidade ambiental.
No entanto, esse processo, na atualidade, vem assumindo novas formas. Adaptada para
atender aos novos estilos de vida da burguesia, que prioriza cada vez mais o uso dos espaços
fechados em detrimento dos espaços públicos abertos, e usando estratégias que promovem a
segregação espacial segundo critérios sociais, a cidade se volta para a construção de espaços
que buscam atender aos sonhos da pequena parcela da população que pode consumir. Dessa
maneira, a preferência por espaços públicos fechados, o grau de isolamento dos diferentes
grupos sociais e o nível de mobilidade da população estão subordinados ao seu padrão
econômico, com sérias implicações sobre o uso e qualidade dos espaços urbanos exteriores.
Esse trabalho tem por objetivo analisar a relação entre esses padrões de comportamento e o
uso dos espaços públicos exteriores. Para tal, usa como estudo de caso a cidade de
Uberlândia, MG.
1. INTRODUÇÃO
Tanto a forma física quanto a distribuição de usos e atividades na cidade são determinantes na
maior ou menor utilização dos espaços exteriores e, por conseqüência, da criação de um
ambiente propício a uma maior ou menor interação social. No entanto, os indivíduos que
formam uma determinada sociedade, de acordo com suas preferências, podem optar por
utilizar ou não o potencial oferecido pelos espaços públicos.
Um exemplo de como a mudança de grupo social que ocupa determinado lugar pode
modificar a utilização de uma estrutura física existente é encontrado nas várias operações de
gentrificação1 ocorridos em diversas cidades no Brasil e no mundo. A substituição de uma
população, na maioria das vezes, de baixa renda por outra de maior status social gera um
grande impacto sobre os espaços exteriores, tanto em termos de intensidade de utilização
como dos usos e atividades que são expulsos ou atraídos para a área. Isso decorre do fato de
que as populações de diferentes níveis econômicos utilizam de maneira diferenciada o espaço
urbano. As populações pobres em geral dependem do espaço para estabelecer sua rede de
relações sociais e, portanto, utilizam intensamente os espaços públicos, ao passo que as
populações de renda média e alta contam com mais recursos para estabelecer suas relações
sociais independentemente do espaço ou desejam preservar contatos mais seletivos2.
Quer dizer, espaços urbanos congruentes com o estilo de vida dos grupos cuja socialização
depende do espaço, em especial dos espaços abertos de uso coletivo, não são incompatíveis
com aqueles que têm seus sistemas de encontros pessoais relativamente independentes da
1
O termo gentrificação aqui é utilizado para designar o processo de “substituição da população de uma área
mediante a introdução de grupos sociais de maior poder aquisitivo atraídos por intervenções de recuperação,
tanto imobiliárias como urbanas” (AMENDOLA, 2000:28).
2
Sobre os diferentes padrões de utilização do espaço público pelas diferentes classes sociais ver Holanda, 1985.
base espacial. O contrário, no entanto, é mais difícil de ocorrer. Espaços que dificultam a
integração entre pessoas, usos e atividades exigem um esforço muito maior por parte da
sociedade para estabelecer sua rede de relações, o que muitas vezes implica na adaptação dos
espaços para novas funções.
Dessa maneira, entendemos que os padrões de socialização de um determinado grupo têm
implicações diretas no uso dos espaços coletivos da cidade. De acordo com Holanda (1998),
as características da sociedade que são mais determinantes na maior ou menor utilização do
espaço público estão relacionadas à preferência pela utilização dos espaços interiores ou
exteriores, o grau de isolamento dos grupos sociais e a amplitude espacial dos sistemas de
encontros. Naturalmente que essa é uma divisão somente teórica, visto que, na prática, todas
essas características estão inter-relacionadas e formam um sistema coerente de vida, baseada
numa determinada visão de mundo e num conjunto de valores.
Serão essas categorias de análise que utilizaremos ao longo desse trabalho para verificar a
relação entre padrões de comportamento e o uso dos espaços públicos exteriores, tomando
como estudo de caso a cidade de Uberlândia, MG.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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