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VILLAÇA, Flávio. Espaço intra-urbano no Brasil.

São Paulo: Studio Nobel: FAPESP:


Lincoln Institute, 2001.

CAPÍTULO 1 – ESPAÇO INTRA-URBANO: ESSE DESCONHECIDO

P. 20 – Segundo o autor a necessidade de uso da expressão espaço intra-urbano é


consequência da captura de expressões como espaço urbano, estrutura urbana, etc. pelos
estudos regionais, de forma que a contra gosto, devido a redundância com “espaço urbano”
passa-se a utilizar a expressão espaço intra-urbano.

P. 20 – O espaço intra-urbano (...), é estruturado fundamentalmente pelas condições de


deslocamento do ser humano, seja enquanto portador da mercadoria força de trabalho – como
no deslocamento casa/trabalho - , seja enquanto consumidor – reprodução da força de
trabalho, deslocamento casa-compras, casa-lazer, escola, etc. Exatamente daí vem, por
exemplo, o enorme poder estruturador intra-urbano das áreas comerciais e de serviços, a
começar pelo próprio centro urbano.

Especificidades do espaço intra-urbano

P. 23 – A localização é relação a outros objetos e conjuntos de objetos e a localização urbana


é um tipo específico de localização: aquela na qual as relações não podem existir sem um tipo
particular de contato: aquele que envolve deslocamentos dos produtores e dos consumidores
entre os locais de moradia e os de produção e consumo.

P. 23 – A acessibilidade é mais vital na produção de localizações do que a disponibilidade de


infra-estrutura. (...) mesmo não havendo infra-estrutura, uma terra jamais poderá ser
considerada urbana se não for acessível – por meio do deslocamento diário de pessoas – a um
contexto urbano e a um conjunto de atividades urbanas.

P. 24 – A localização é, ela própria, também um produto do trabalho e é ela que especifica o


espaço intra-urbano. Está associado ao trabalho intra-urbano como um todo, pois refere-se às
relações entre um determinado ponto do território urbano e todos os demais. As centralidades
de aparecida estão diretamente relacionadas a questão da localização enfatizada por Vilaça, já
que atraem um grande fluxo de diário de pessoas.

P. 26 – Os deslocamentos diários dos seres humanos são o principal elemento especificador


do espaço intra-urbano (...) não consideramos as áreas metropolitanas regiões. (...) são elas
assentamentos, ou compartimentos territoriais estruturados pelos deslocamentos dos seres
humanos enquanto consumidores ou portadores da mercadoria força de trabalho; são, por isso,
cidades.

Abordagens dos espaços intra-urbano e regional.

P. 27 – O autor defende a ideia de que as transformações sociais e econômicas em escala


nacional e planetária se manifesta (materializa) no espaço intra-urbano por meio da
segregação “que passa a ser então o processo central definidor dessa estrutura”

P. 34 – uma das mais profundas transformações estruturais de nossas metrópoles – a chamada


“decadência” de seus centros – está ligada ao abandono desses centros pelas camadas de alta
renda (...) esse abandono foi provocado principalmente (mas não exclusivamente) pela nova
mobilidade territorial propiciada pela difusão do automóvel.

P. 35 – (...) as etapas do processo de estruturação espacial das cidade de um país devem


derivar da análise desse processo e não, necessariamente, das etapas de desenvolvimento
econômico nacional ou do processo nacional de urbanização.

P. 43 – No nível intra-urbano, o trabalhador já está no “local” de trabalho, e não muda de casa


toda vez que muda de emprego. O trabalhador tem sua localização essencialmente dominada
pelo capital – “segue o capital” – quando, em busca de emprego, muda de cidade, de região
(do Nordeste para o Sudeste) ou de país (as migrações internacionais). No espaço urbano para
“seguir o capital”, o trabalhador exige transporte urbano de passageiros, ao mesmo tempo em
que é esmagado pela concorrência entre classes que disputam a melhor localização intra-
urbana. (...) essa localização é aquela que otimiza suas condições de consumo. Esse trecho
casa com o tópico sobre migrações.

P. 45 – (...) para as metrópoles brasileiras – e quase certamente também para as latino-


americanas - , a força mais poderosa (mas não única) agindo sobre a estruturação do espaço
intra-urbano tem origem na luta de classes pela apropriação diferenciada das vantagens e
desvantagens do espaço construído e na segregação espacial dela resultante.

Espaço e Sociedade

P. 47 – Com efeito, o grande desnível social entre as classes nas metrópoles latino-americanas
faz com que nelas seja realçada aquela faceta da luta de classes que é travada em torno das
condições de produção/consumo do espaço urbano, isto é, em torno do acesso espacial às
vantagens ou recursos do urbano.
CAPÍTULO 3 – Os processos espaciais de conurbação.

P. 49 – (...) conurbação – fusão de áreas urbanas

P. 49 – O conceito de área metropolitana que adotamos é o do Bureau of the Census dos


Estados Unidos; é aquele que nasce da contradição entre, de um lado, as cidades enquanto
entes físicos e socioeconômicos e, de outro a cidades do ponto de vista político
administrativo.

P. 49 – A particularidade está no fato de que, a uma única cidade, passam a corresponder, em


termos de Brasil, mais de um município.

P. 50 – Nem sempre o crescimento espacial urbano é contínuo. A partir de um ser certo


tamanho a cidades tanto crescem contínua como descontinuamente.

P. 51 – Iniciou-se então uma contradição entre a cidade como organismo físico e


socioeconômico e a cidade do ponto de vista político-administrativo. Encarado desse ponto de
vista, o processo de conurbação ocorre quando uma cidade passa a absorver núcleos urbanos
localizados à sua volta, pertençam eles ou não a outros municípios. Uma cidade absorve outra
quando passa a desenvolver com ela uma “intensa vinculação socioeconômica” esse processo
envolve uma série de transformações tanto no núcleo urbano absorvido como no que absorve.

P. 51 – Evidentemente essa ideia a – de “intensa vinculação socioeconômica” – é vaga. (...)


Dentre esses vínculos devem ser destacados os deslocamentos espaciais de pessoas, já que são
eles que caracterizam o espaço intra-urbano em oposição ao deslocamento de cargas. Por
outro lado, dentre os deslocamentos de pessoas devem ser destacados os deslocamentos
rotineiros, sistemáticos, diários ou quase diários, como aqueles entre residência e local de
trabalho ou entre residência e escola.

P. 52 – Na descrição que segue, a expressão núcleo urbano será empregada para designar o
aglomerado urbano que apresenta um mínimo de atividades centrais, sejam religiosas,
administrativas, políticas, sociais ou econômicas, ou seja, que tem vida própria, por menor
que seja, organizada em torno de um centro polarizador.

P. 53 – Essa expressão é sinônimo de “aglomerado urbano nucleado”, para distingui-la dos


“aglomerados não-nucleados”, a que chamaremos de áreas urbanas; a rigor, não existe área
urbana não polarizada. Entretanto, usaremos essa expressão para designar aquelas partes da
periferia urbana cujos polos estão muito afastados e frequentemente em outro município. Na
periferia, por exemplo, são comuns bairros bastante afastados de um núcleo significativo que
os polariza.

No quadro abaixo estão destacadas as quatro formas principais de conurbação definidas por
Villaça

FORMAS PRINCIPAIS DE CONURBAÇÃO SEGUNDO VILLAÇA (2001).


Constituída por núcleos que nunca chegaram a atingir plenamente a
condição de cidade, pois já nasceram como subúrbio.
Primeira forma
Frequentemente são núcleos que cresceram rapidamente a partir de
uma estação ferroviária, junto à qual se formou o pólo.
É aquela na qual o pólo central é formado a posteriori no início ele
era ou inexistente, ou frágil ou distante. A expansão urbana se
manifesta aqui através da formação de uma imensa periferia, em
geral de baixa renda, com um núcleo local fraco que pouco
Segunda forma
apresenta além de quitandas, farmácias ou padarias. Esse caso
ocorre quando a periferia da cidade central, ou de algumas de suas
grandes cidades-subúrbios, “transborda” sobre municípios vizinhos
em pontos afastados de suas sedes.
É constituída por aglomerações que chegaram a atingir significativo
desenvolvimento enquanto cidades. Principalmente por estarem
Terceira Forma
afastadas da cidade central, mantiveram, por certo tempo, grande
autonomia socioeconômica.
É constituído de cidades muito pequenas, algumas das quais já
foram mais importantes no século XIX do que são hoje. São velhos
Quarta forma núcleos coloniais, que ainda não se expandiram (ou só recentemente
começaram a se expandir), pois permaneceram à margem da
expansão metropolitana.
FONTE: (VILLAÇA, 2001, p. 59-65) organizado pelo pesquisador.

P. 65 – A absorção é um processo em geral lento, de crescente transformação de uma área


urbana - nucleada ou não, com mais ou menos caraterísticas de cidade – em bairro ou
conjunto de bairros da metrópole.

P. 66 – A conurbação metropolitana se apresenta assim, como um processo devorador de


cidades e produtor de bairros.

CAPÍTULO 10 – OS CENTROS PRINCIPAIS


P. 238 – No social, nada é, tudo torna-se ou deixa de ser. Nenhuma área é (ou não é) centro;
torna-se ou deixa de ser centro.

P. 238 (...) será um conjunto vivo de instituições sociais e de cruzamentos de fluxos de uma
cidade real.

P. 238-239 – O processo contraditório entre a necessidade de aglomerar e ao mesmo tempo se


afastar de um ponto no qual todos gostariam de se localizar faz surgir o centro de
aglomeração, nesse ponto.

P. 239 – Surgem, então, os deslocamentos espaciais regulares e socialmente determinados e


disputas ocorrem por localizações em função do domínio do controle do tempo e energia
gastos nos deslocamentos espaciais. Surge um ponto que otimiza os deslocamentos
socialmente condicionados da comunidade como um todo – um centro.

P. 239 – O desenvolvimento da vida social faz com que surjam atividades que exigem o
deslocamento de muitos, para o mesmo ponto, às vezes ao mesmo tempo (religião, governo,
comércio).

P. 241 – (...) o valor material é a fonte de seu valor simbólico: É a excepcional importância
comunitária e social dos centros que faz com que eles passem a ser objeto de grande
valorização simbólica.

P. 242 – Qual é a origem da centralidade? Está na possiblidade de minimizarem o tempo gasto


e os desgastes e custos associados aos deslocamentos espaciais dos seres humanos.

P. 243 – (...) as diferentes classes sociais têm condições distintas de acessibilidade aos
diferentes pontos do espaço urbano. (...) São essas distinções que fazem com que, sendo
objeto de disputa entre as classes, o centro se torne mais acessível a uns do que a outros,
através dos mais variados mecanismos: desde o desenvolvimento de um sistema viário
associado a determinado tipo de transportes, até o deslocamento espacial do centro e suas
transformações (sua decadência ou pulverização, por exemplo. As transformações territoriais
por que passaram e continuaram passando os centros de nossas cidades são fruto dessa
disputa.
P. 250 – A cidade a que chamamos “tipicamente capitalista” surgiu sob a égide do mecanismo
de mercado, imperando basicamente nas transações imobiliárias, nos loteamentos e mais tarde
no espaço urbano produzido sob o impacto do automóvel.

P. 251 – Os valores supremos do capitalismo não são nem Deus nem o Estado, por milênios
homenageados pelos centros urbanos. Seus valores são o lucro, o dinheiro, a mercadoria, o
trabalho assalariado e a iniciativa privada.

O surgimento dos centros principais.

Villaça marca a segunda metade do século XX, quando ocorreram uma série de
transformações socioeconômicas no espaço brasileiro relativas a mudança da matriz
econômica, hábitos de consumo e questões culturais como o contexto no qual se insere as
mudanças nos centros principais de nossas metrópoles.

P. 253 – É impossível entender o novo centro que surgia sem o chefe de polícia, o advogado,
o banco, o médico, o hotel e sem a libertação da mulher da tutela da casa grande e do
patriarca, com sua ida à modista, ao cabeleireiro, à confeitaria, à loja e ao teatro.

P. 254 – Os centros de nossas metrópoles s]ao áreas complexas constituídas por várias
subáreas caracterizadas por certa concentração de atividades do setor terciário.

CÁPITULO 11 – Os subcentros

P. 293 – O subcentro consiste, portanto, numa réplica em tamanho menor do centro principal,
com o qual concorre em parte, sem entretanto, a ele se igualar. Atende aos mesmos requisitos
de otimização de acesso apresentados anteriormente para o centro principal. A diferença é que
o subcentro apresenta tais requisitos apenas para uma parte da cidade, e o centro principal
cumpre os para toda a cidade.

P. 293-294 – Vilaça destaca também a questão da especialização das atividades comerciais


dos subcentros, no caso de Aparecida, podemos citar por exemplo a “Região dos Pregões” na
Vila Brasília.

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