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Olá, eu me chamo Yanna Garcia, sou mestranda no programa de pós graduação em

Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Paraíba e vim apresentar para vocês um


breve resumo do meu artigo intitulado “ Os vazios urbanos como lugar do possível: uma nova
perspectiva de desenvolvimento urbano”.

Bom, no decorrer dos percursos diários realizados nas cidades, é comum nos depararmos com
espaços silenciosos, que se encontram vazios, seja porque não possuem nenhuma construção
edificada ou porque apresentam edificações num estado de obsolescência e abandono, esses
espaços são chamados de vazios urbanos. Os vazios são espaços que não desempenham
função social na malha urbana e que são o resultado de uma série de fatores devido a ação de
diversos agentes, que tiveram papeis decisivos ao longo da formação das cidades
contemporâneas. Embora os espaços vazios sejam vistos ao longo de toda cidade, é possível
notar uma concentração desses exemplares nos centros antigos das urbes. No contexto
nacional, isso se dá, principalmente, pelo processo de industrialização das cidades brasileiras
ocorrido em meados do século XX, que provocou uma expansão urbana acelerada,
desnorteada e marcada por um padrão de ocupação periférico, com crescimento no sentido
centrífugo que resultou na migração da população das áreas centrais formadoras da cidade
para as novas centralidades de desenvolvimento urbano.

Em João Pessoa, capital paraibana onde se localiza o recorte espacial da minha pesquisa,
ocorreu um processo semelhante ao visto nacionalmente. Uma série de reformas urbanas
iniciadas nas primeiras décadas do século XX, promovidas pelo Estado e impulsionadas pelo
capital financeiro, acarretaram no processo de expansão da cidade para eixos outrora não
explorados principalmente em relação ao eixo leste, direção da orla marítima, e ao eixo sul,
onde foram desenvolvidos programas habitacionais da política do BNH, esse processo
desencadeou a perda significativa do contingente habitacional do centro da cidade o que, no
decorrer dos anos, fez surgir e consolidar os vazios urbanos nesse recorte. Todavia, ainda nos
dias atuais, existem moradores nas áreas centrais da cidade, embora seja um número menos
expressivo do que era visto no início do século passado, o que mudou foi a condição social e
financeira do grupo que continua habitando o centro resultando no estigma de que esse seria
um espaço marginalizado.
A semântica da palavra vazio é heterogênea. Derivada do latim vagus, tem como significado o
que não contém nada ou em que não há ocupantes ou frequentadores. Ao nos referirmos ao
urbano, vazio é sinônimo de desocupado, abandonado, ocioso, desabitado, vago, vacante ou
subutilizado. Expressões que conotam um ar negativo e adverso para o lugar que se apresente
nesse estado.
Foi só em 1996, durante um congresso internacional de arquitetura, que se abordou uma nova
ótica para os vazios urbanos quando Solà-Morales definiu vazios urbanos através da expressão
francesa terrain vague, justificando sua escolha em virtude da multiplicidade de significados
que esta expressão permite designar os lugares, territórios e edifícios que desfrutam de uma
dupla condição.
O autor defende que vague pode representar o sentido de vago, vazio, livre de atividade,
improdutiva e, em muitos casos, obsoleta. No entanto, vague também pode representar o
sentido de impreciso, indefinido, sem limites determinados, com horizonte de futuro, como
lugar do possível, lugar capaz de modificar e reurbanizar o espaço intraurbano consolidado.
A abordagem de forma positiva dessa problemática urbana possibilita a construção de um
pensamento diferente do que é observado nos agentes sociais que atuam na malha urbana
atualmente. Os terrian vague, ou vazios urbanos, passam de aspectos negativos de urbanidade
para espaços com potencial de reurbanização e de desenvolvimento urbano sustentável, ideia
também defendida por Mascaró, quando aponta que na discussão acerca da dispersão urbana,
por que estender e construir a cidade em locais fora dela se existem vazios, ruínas e imóveis
subutilizados nos centros. Os vazios urbanos centrais se encaixam perfeitamente nessa
condição de desenvolvimento urbano sustentável por serem um estoque de glebas que não
desempenham função social, mas que ficam se localizam em áreas que já possuem uma forte
infraestrutura urbana e conectividade viária.

Assim, é de suma importância destacar que as áreas centrais urbanas são localidades
complexas e requerem intervenções com abordagens específicas e respeitosas. Todavia, é
inegável considerar a pertinência e a necessidade de repensar a narrativa de caráter negativo
dos vazios urbanos, levando em consideração que a reinserção desses espaços no tecido
urbano é uma maneira de interpretar uma cidade mais igualitária e sustentável.

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