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A FILIAÇÃO FAMILIAR

NO DIREITO OCIDENTAL
LORENA PEIXOTO NOGUEIRA RODRIGUEZ
MARTINEZ SALLES CORRÊA

PREFÁCIO: HUGO FRAZÃO COUTINHO

1ª EDIÇÃO ‒ 2021
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A FILIAÇÃO FAMILIAR
NO DIREITO OCIDENTAL

LORENA PEIXOTO NOGUEIRA RODRIGUEZ


MARTINEZ SALLES CORRÊA

PREFÁCIO: HUGO FRAZÃO COUTINHO

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“Tradição significa conceder votos à


mais obscura de todas as classes:
nossos ancestrais. É a democracia dos
mortos. A tradição recusa submeter-se a
essa arrogante oligarquia que
meramente ocorre estar andando por aí.”
― Gilbert Chesterton.

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P R E F Á C I O

As tradições familiares vêm sendo apagadas 3


imperiosamente de maneiras caliginosas e estratégicas,
pois é através delas que a sociedade tem conhecimento do
seu papel social, moral e cívico.
A unidade de uma família é considerada a primeira e
mais vultuosa instituição da sociedade humana, pois a partir
desta uma geração é criada, desenvolvendo vínculos
parentais e afetivos, bem como de identidade sociocultural.
Nesse íntimo é imprescindível esclarecer que a
família, como era tradicionalmente conhecida, é decorrente
de um processo diacrônico oriundo da Era Clássica e da
Antiguidade Oriental. Desde que ela passou a ser
considerada como um agrupamento cultural e político,
esboçando-se antes do Estado e transcendendo o Direito,
merece uma maior atenção por parte deste.
Como dito anteriormente, a instituição familiar além de
preceder o Estado e o Direito, foi a responsável por
formular, regrar e guiar ambos. Casas Reais e Imperiais aos
milênios antes de Cristo começaram a surgir e governar
regiões por todo o globo, fomentando a tecnologia, a
economia, os regramentos jurídicos e a cultura.
Grandes Impérios e Reinos emergiram e sucumbiram,
a exemplo do Império Romano; do Sacro Império Romano-
Germânico e do sublime Império Napoleônico, os quais
durante centenas de anos foram alguns dos poucos
responsáveis por guiar a humanidade, sendo indiscutível
que existiram outros prestigiosos reinados que
colaboraram, contudo, os citados têm demasiada
significância para o espectro atual.

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Com a evolução das famílias e seus reinados durante


a história, percebem-se as maiores evoluções que as
levaram à sociedade contemporânea, a exemplo das 4
fronteiras dos países atuais que são resultado de muitos
acordos diplomáticos, sobretudo redigidos entre familiares.
Famílias estas que estão interligadas entre si através
de laços matrimoniais puramente estratégicos, onde se
caracteriza como uma questão de Estado antes de
qualquer sentimento. Uniões como a de Isabel, a Católica,
Rainha de Castela e Leão, com Fernando II de Aragão, que
resultou na concepção da Monarquia Espanhola, e no ano
de 1492 expulsou o último reduto islâmico no sul da
Península Ibérica.
Sendo assim, as Casas foram se estabelecendo,
mantendo suas tradições e criando novas. Inspirando dessa
forma, os mais diversos núcleos familiares a seguir seus
regramentos e por esse motivo, algumas famílias
atualmente carregam consigo suas vastas árvores
genealógicas, seus escudos de armas e acima de tudo a
honra e deferência por seus ascendentes.
Por mais que as revoluções iluministas e ideológicas
tenham derrubado Reis e Imperadores e os códigos civis
republicanos tenham ignorado a extensa proporção dos
laços familiares e suas diversas formas de filiação parental,
os seus descendentes, através da tradição e do Direito
Nobiliárquico, se mantiveram firmes na esperança de
mudança.
Este livro, que a ilustríssima Doutora Lorena Peixoto
Nogueira Rodriguez Martinez Salles Corrêa me concedeu a
honra de poder redigir o seu prefácio, pode com toda
certeza contribuir para uma reflexão sobre as instituições

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do Direito de Família e suas peculiaridades, ato este que é


pertinente à manutenção de diversas famílias hoje em
território pátrio. 5
Deixo os meus sinceros votos para que todos os
brasileiros inspirados pela mudança e pela justiça, tenham
acesso a este material e que o mesmo possa ser usado nas
Academias de todo o país.

“Nada muda mais que o passado.”


(Napoleão Bonaparte)

Cordialmente

Hugo Frazão Coutinho

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CONTEÚDO

1. PROLEGÔMENOS ‒ 7
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2. ARISTOCRACIA, NOBREZA E FILIAÇÃO FAMILIAR ‒ 13

3. FILIAÇÃO NATURAL ‒ 34

4. FILIAÇÃO LEGÍTIMA ‒ 37

5. FILIAÇÃO FICTÍCIA ‒ 40

6. FILIAÇÃO POR ADOÇÃO ANTONINA ‒ COOPTAÇÃO ‒ 41

7. FILIAÇÃO DE SANGUE ‒ 45

8. FILIAÇÃO HERÁLDICA ‒ 48

9. FILIAÇÃO POR ADOÇÃO MODERNA ‒ 52

10. FILIAÇÃO COMPLEMENTAR ‒ 53

11. CONCLUSÃO ‒ 54

12. NOTAS ‒ 56

13. MATERIAL CONSULTADO ‒ 58

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1. PROLEGÔMENOS

Segundo as lendas gregas do século IV a.C., um dos 7


suntuosos rios do Hades se chamava Léthê e suas águas
profundas poderiam provocar um completo esquecimento,
ao simples toque. Não à toa, Léthê é o nome da ninfa grega
da discórdia.
Igualmente, haveria no Hades, muito próximo ao
Léthê um outro rio, chamado Mnemósine, cujas águas
fariam despertar toda a memória existente em uma alma.
Em seu ápice, aquelas águas poderiam gerar a onisciência.
Esse é o nome de outra entidade mitológica, a titânide
Mnemósine, filha de Urano (o Céu) e Gaia (a Terra),
responsável por controlar as engrenagens das lembranças
e guardar uma arca com os dons da razão, da ponderação,
do discernimento.

No contexto do mito, graças a


Mnemósine o homem pode se
recordar do passado, da infância, do
que fez ou deixou de fazer, dos
acontecimentos importantes ou
marcantes da vida. Importante que
seja assim, vez que o ser humano se
tornaria desprovido de
desnorteamento nas ações acaso
estas não pudessem permanecer
como marcos a serem recordados. E
também como freio para as atitudes
impensadas, vez que também
permanecerão vivas na lembrança.
Tem-se, pois, que a memória interliga

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o homem no tempo, no espaço e na


existência. (...) Daí que todo ser
humano guarda consigo um Baú de
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Mnemósine. (da Costa, 2014)

Diferentemente da caixa de Pandora, que espalhou


os males do mundo, a arca de Mnemósine se abria com
parcimônia, somente quando buscada, após o humano
superar inúmeras provações físicas e mentais.
As filhas dela seriam as musas Calíope, Clio, Erato,
Euterpe, Melpômene, Polímnia, Terpsícore, Tália, Urânia ‒
personificações mitológicas da Poesia Épica, da História,
da Poesia Romântica, da Música, da Tragédia, dos Hinos,
das Danças, da Comédia e da Astronomia,
respectivamente.

As Musas representadas em um sarcófago. Jastrow, 2006.

Este livro pretende ser um luzeiro no caminho até a


arca pessoal de Mnemósine, que cada ser humano carrega
consigo. Pretende despertar em cada leitor a noção de
ancestralidade, a certeza de que as formas de filiação
familiar expostas aqui não fazem parte de um passado

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remoto, pois permanecem vivas em diversas


instituições.
Ainda se não mais existissem de maneira tão palpável
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‒ com seus estatutos, atas, sentenças e inúmeros papéis
de todo gênero ‒, as filiações fazem parte da história
ocidental, da construção cultural milenar que tem
conduzido a humanidade em sua evolução civilizatória, à
medida em que surgem, juntamente com os conceitos
de núcleos familiares e direitos sucessórios, as noções
de pátria, soberania, cidadania.

A família com privilégio hereditário,


cuja estabilidade através do tempo,
era o fundamento do direito e da
autoridade, constituía o “bloco de
construção” da ordem social (...)
(Bendix, 1996).

As obrigações do indivíduo com a sua Casa se


estendem à sociedade e passam a compor o conjunto de
deveres que ele tem para com o Estado: proteger as
fronteiras, expandir o patrimônio, manter os seus
componentes (pessoas naturais e instituições) a salvo.
Ao observar as formas de filiação familiar surgidas ao
longo da história ocidental, tomando-se o recorte
geográfico do Mundo Mediterrâneo, passando pela Europa
Continental, por influências inglesas obtidas em guerras,
por península ibérica e finalizando com a sua aplicação
contemporânea do outro lado do Oceano Atlântico, em
território brasileiro, fica evidente a importância da
solidariedade entre os indivíduos e entre os povos.

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As filiações chamadas de natural, legítima, fictícia,


cooptativa ou antonina, de sangue, heráldica,
complementar e moderna deixaram marcas sociais e
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jurídicas perceptíveis na atualidade.
Além dos aspectos sociais e históricos, este livro
apresenta alguns impactos práticos, acompanhados da
fundamentação jurídica adequada, ora recorrendo ao
direito interno brasileiro, ora ao campo internacional ou
comparado e à História do Direito ‒ que é, ao fim e ao cabo,
o registro mais fiel da história da humanidade em sua
busca ética.
O tema das filiações familiares é de extrema
importância, tendo em vista que, embora algumas formas
de filiação familiar aparentemente estejam extintas, os
conceitos continuam presentes ‒ mesmo nas repúblicas ‒
em Ordens, Corporações Nobiliárquicas, Casas Reais in
exilium e associações civis destinadas à preservação
histórica ou heráldica, e onde mais houver títulos
infungíveis de sucessão hereditária.
Pretendem-se expor nesse livro, todas as formas de
filiação familiar existentes ao longo da história ocidental,
desde a Grécia Antiga ao Brasil de hoje, e se alguma delas
faltar, será por deslize em pesquisa, não por má-fé ‒ afinal,
a inspiração é na arca de Mnemósine e não nas águas do
Léthê.
Sugere-se que ao longo e após a leitura, o leitor com
caráter mais curioso reflita sobre algumas questões
propostas pela autora, sempre analisando sob três pontos
de vista diferentes: do direito civil secular; do direito
dinástico; do direito nobiliárquico.
Importante considerar que nem sempre esses três
ramos do direito coincidirão em suas respostas, e nem

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sempre serão aplicáveis ao mesmo caso. Portanto, as


reflexões a seguir são apenas exercícios dialógicos, com
finalidade didática e não pretendem insinuar respostas a
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casos concretos, que devem ser analisados
individualmente.

1. Se ao Papa fosse permitido ter filhos legítimos ao


trono, será que o Vaticano se manteria como uma
monarquia eletiva, ou fatalmente adotaria o sistema de
sucessão hereditária?

2. Qual é a diferença de filiação entre Leonor e Sofia,


as duas filhas de Dom Felipe VI, Rei de Espanha?

3. Quais os impactos jurídicos em ter um dos filhos


denominado príncipe e outro filho denominado infante?

4. Um infante pode ser alçado à posição de príncipe?

5. Um príncipe pode se tornar infante?

6. O apanágio pode ser concedido a uma mulher?

7. Qual o impacto do apanágio para a manutenção do


poder real?

8. A taxa global de natalidade no Principado d'Andorra


tende a ser muito baixa. Essa taxa estaria relacionada à
forma monárquica não hereditária, que não recebe
influência da forma de filiação adotada pelo monarca?

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9. Filhos de uma união legítima podem ser ilegítimos


em termos de herança dinástica e/ou nobiliárquica?
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10. Qual a importância das Casas em um sistema
republicano?

11. Pode haver um principado ou um reino (não


meramente histórico) em um território estabelecido, sem
ser considerado um enclave?

12. Quais as diferenças de atuação política e social


entre a oligarquia e a aristocracia?

13. O que os filhos heráldicos e os filhos cooptados têm


em comum?

14. O reconhecimento social de paternidade seria


aplicável às declarações de filiação heráldica? E no caso
da declaração antonina?

15. Em um sistema republicano, é perceptível a


reverência moral das classes artesãs, comerciantes e
campesinas em relação a alguma(s) outra(s)? De que
maneira?

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2. ARISTOCRACIA, NOBREZA E FILIAÇÃO


FAMILIAR
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Ao longo desse texto, diversas vezes a palavra
nobreza será utilizada em seu caráter amplo, para
denominar de forma conjunta os membros da realeza,
nobres titulados e não titulados, fidalgos, militares em
geral. Em suma: referindo-se às pessoas historicamente
reconhecidas na sociedade como portadoras de um bom
caráter, capazes de sacrifícios pessoais em prol do bem
comum.
Em outros momentos, a mesma palavra descreverá
tão somente a classe social à qual se convencionou
destacar como nobre: familiares relativamente próximos ao
monarca, nos quais ele pode confiar certas funções
públicas delicadas, de forma explícita ou não, sem as quais
o reino tende a implodir.
Considera-se importante que o leitor esteja atento e
afine os ouvidos, para diferenciar os dois usos.
As instituições que utilizam as formas de filiação
menos conhecidas, devem ser vistas como sobreviventes
históricas e guardiãs da cultura, analisadas a partir da
informação de que os conceitos das filiações e a
construção do direito sucessório ocidental advém do
modelo dinástico europeu, com ligeiras mudanças
adaptativas.
O Direito Civil do Ocidente foi forjado pelos povos
trabalhadores comuns e também por seus guerreiros,
comandantes militares, governantes, políticos, diplomatas,
professores, ensaístas, clérigos. A aristocracia, a
nobreza e a realeza fazem parte da História Ocidental e
da formação cultural dos povos, tanto quanto as classes

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comerciantes, manuais e campesinas, que costumam ser


mais lembradas em produções marxistas e republicanas.
As primeiras conduziram a si mesmas e também às
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últimas por milênios, de modo que esquecê-las constitui um
grave erro acadêmico ‒ metaforicamente, significa
mergulhar inteiramente no Léthê.
Em que pesem os desvios de caráter presentes em
certos governantes, de um modo geral o objetivo deles tem
sido manter uma relativa paz interna e externa, com
fortalecimento da coesão social, através de exemplo
moral efetivo ‒ se alguém duvidar desse fato, verifique a
lista de santos que em vida eram monarcas, príncipes,
nobres e membros da fidalguia não titulada.
Somente sobre os pilares éticos cristãos, os
monarcas poderiam contar com a aprovação de seus
pares, bem como a aclamação popular necessária à
manutenção do trono ‒ em todos os níveis da pirâmide.
Destaquem-se os grandes avanços em relação aos
direitos humanos e ao direito processual ‒ apenas para
citar dois exemplos ‒ ocorridos durante a Idade Média. Eles
foram proclamados por monarcas, aconselhados por seus
pares, em busca de um bem comum. Recorde-se que nas
monarquias, a sociedade constitui uma extensão do
núcleo familiar do governante.
Mais tarde, o orleanismo francês consagrou de modo
sistematizado, que a aclamação é um dos pilares de
governança, pois sem ela não há equilíbrio político:
prevalece a instabilidade econômica, a desordem social e
brotam as revoluções políticas.
Por aclamação, os povos tendem a preferir que os
filhos das famílias governantes conduzam os destinos de
suas respectivas nações. Geralmente preferem os filhos de

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sangue aos adotados, os legítimos aos ilegítimos, os filhos


de sangue ‒ mesmo os tidos fora do matrimônio ‒ aos
sobrinhos.
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Não é clara a preferência por varões, nem por
primogênitos, embora muito se escreva nesse sentido.
Assim foi sendo construído o Direito de Família
no Ocidente: a partir da importância de organização
sucessória das classes dirigentes, como uma forma de
legitimar ‒ posteriormente, legalizar ‒ os prováveis
melhores herdeiros do Poder, os indivíduos aclamados
como suficientemente competentes, bravos e honestos
para gerir os rumos daquela sociedade.
A proteção dos infantes surge exatamente nesse
contexto, com o objetivo de preservar os herdeiros de
linhas familiares que foram testadas e aprovadas com o
passar das eras, contando com a aclamação popular
necessária, para que a sociedade possa investir neles uma
educação primorosa, a mais completa possível, necessária
ao futuro governante, a fim de que ele tenha substrato
suficiente para gerir os rumos da nação.
Essa proteção especial nunca esteve focada no
indivíduo, mas sim na linhagem. Os títulos de apanágio
podem ser um bom exemplo sobre a importância que os
povos atribuem à manutenção de certas linhas familiares,
reconhecidamente portadoras da bravura necessária à
existência daquele povo.
Tais títulos são concedidos desde o nascimento.
Assim, caso o genitor morresse ‒ o que seria comum e até
provável, em épocas de saques e guerras ‒, o infante não
ficaria desprotegido, pois haveria um vínculo jurídico entre
ele e o monarca, expresso na carta patente, com infinitas

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obrigações morais consuetudinárias recíprocas ‒


resumidas na famosa expressão noblesse oblige.
Dessa forma, estava preservada a linhagem do
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falecido nobre, assim como todas as pessoas que
dependiam dele para sua proteção, por viver em suas
terras. O apanágio, em última análise, servia para
manter a salvo o território e os seus moradores,
inibindo o ataque das hordas estrangeiras.
Resumidamente, pode-se dizer que o apanágio tinha
objetivos imediatos e mediatos: imediatamente mantinha o
vínculo entre o monarca e a seguinte geração de nobreza,
sem perda de continuidade, protegendo a capilaridade do
poder real e a existência de ambas linhagens (a real e a
nobre); de forma mediata, fortalecia o conceito de
soberania, a defesa do território, a proteção dos indivíduos
sob o poder real e mantinha a paz social.
O conhecimento sobre quem eram os filhos do
nobre responsável por aquelas terras e quais os tipos
de filiação, era, portanto, conditio sine qua non para
manter toda a população local em segurança.
Na falta do nobre, as terras passavam a ser
diretamente responsabilidade do monarca reinante,
vinculado juridicamente pela carta patente de concessão
de apanágio ao filho escolhido ‒ usualmente o varão, mas
nem sempre o primogênito.
Como se verifica, o título concedido ao nascer era
uma questão de estado, de defesa da soberania e de
proteção dos povos ‒ um significado profundo e muito
diferente do que dizem os historiadores progressistas,
costumeiros em fazer chacota do título, como se o objetivo
dele fosse tão somente agraciar o ego dos senhores.

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É um espelho da verdade e da honra


dos homens e das suas famílias, um
espaço no qual o colectivo que
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representa a ideia de linhagem se
substancia na presença do individual
que, no final, é quem justifica a
criação. (Berrendero, 2011 ‒
sublinhado nosso)

Os membros da aristocracia, da nobreza e da realeza


nascem com um propósito de vida bem definido, com
obrigações que devem ser cumpridas desde a mais tenra
idade, tão logo seja possível internalizar a noção da
noblesse oblige. A obrigação de cada filho, entretanto,
varia de acordo com o tipo de filiação correspondente
a cada um.
Há quem diga que essa é uma forma de dominação
clássica, pois lastreada em relações de dependência
mútua e tradições familiares sacralizadas, na qual o
monarca promove a coesão social e a acumulação de
patrimônio ‒ com o auxílio dos membros da nobreza, pois
ela é a capilaridade do poder real.

(...) a dominação clássica se baseia


nas relações de interdependência,
onde o rei (líder político), por meio de
recompensas e privilégios herdados
dos antepassados, domina os
súditos. O rei legitima sua autoridade
porque está subordinado à tradição
sagrada, sendo incumbido da tarefa
de vigiar os grupos de súditos, para

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que tendências divergentes


trabalhem a seu favor, promovendo o
equilíbrio das tensões como
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pressuposto de efetiva dominação,
tendo como contrapartida a paz. (...)
o modelo dinástico se funda no
patrimonialismo, na acumulação de
capital e é instaurado numa espécie
de consagração familiar, com o intuito
de gerar prosperidade (...) (De Paula,
2019 - com sublinhados nossos)

Ao discorrer sobre a história da filiação familiar,


haverá inúmeras referências ao Direito Dinástico e ao
Direito Nobiliárquico.
Dentre outros motivos, porque os registros
documentais sobre filiação foram por muito tempo um
privilégio das classes ligadas à aristocracia ‒ não por amor
registral, mas porque o direito civil teve (e tem) um caráter
altamente patrimonialista, havendo o registro de filiação
familiar se tornado uma peça essencial para responder às
indagações sucessórias das famílias governantes, bem
como aos seus incontáveis reflexos políticos, com
frequentes repercussões internacionais.
A certeza sobre a filiação do monarca e do nobre
sempre foram uma questão de Estado ‒ comportamento
mais tarde imitado pela burguesia liberal, de maneira
caricata, conforme ocorreu em quase todos os âmbitos.
Diferentemente de hoje em dia, que os casamentos
entre nobres costumam tomar as manchetes desde os
primeiros olhares, antigamente se privilegiava o sigilo, até
que fosse firmado o pacto pré-nupcial e decididas

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antecipadamente as divergências sucessórias. Somente


após, os casamentos eram anunciados.
Dentre as monarquias europeias ‒ Principado de
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Andorra, Reino da Bélgica, Reino da Dinamarca, Reino de
Espanha, Principado de Liechtenstein, Grão-Ducado do
Luxemburgo, Principado de Mônaco, Reino dos Países
Baixos, Reino da Noruega, Reino da Suécia, Reino Unido
da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte e o Estado da Cidade
do Vaticano ‒ atualmente todas são monarquias
constitucionais, exceto o Vaticano, onde prevalece a
monarquia absolutista, com o poder supremo
pertencendo exclusivamente ao Chefe de Estado ‒ o
Sumo Pontífice da Igreja Católica Ortodoxa Romana: o
Papa, por direito divino o Sucessor de Pedro.
Dez desses estados utilizam a monarquia por
sucessão hereditária. Enquanto isso, o Vaticano é uma
monarquia eletiva, na qual o Colégio de Cardeais escolhe
o novo Pontífice após a morte do anterior ‒ nesse ínterim,
denominado Sé Vacante, a administração (mas não o
governo) fica a cargo do Camerlengo (Chamberlaim).

Até que o sucessor do Papa seja


escolhido, o Cardeal Camerlengo
serve como o Chefe de Estado
atuante do Vaticano. Ele não é,
entretanto, responsável pelo governo
da Igreja Católica durante a Sé
Vacante, sendo, portanto,
impossibilitado de tomar ações
próprias do Sucessor de Pedro, como
escrever encíclicas, criar ou unir
dioceses, nomear bispos, etc. Com a

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morte ou renúncia de um Papa, o


Camerlengo é o único que mantém
seu cargo, pois é ele quem cuida de
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todos os preparativos para o início do
Conclave. Segundo a Constituição
‘Universi Dominici Gregis’, compete a
ele também lacrar os aposentos e
escritórios do Papa até que um novo
Pontífice seja eleito; bem como
comunicar oficialmente a morte ou
renúncia do Papa ao Cardeal Vigário
de Roma, que por sua vez, dá a
notícia ao povo com notificação
especial, e também ao Cardeal
Arcipreste da Basílica Vaticana.
(Michelle, 2013 ‒ sublinhados
nossos).

O Principado de Andorra é uma diarquia, ou seja, é


um coprincipado parlamentar, dividido entre o Bispo de
Urgel (da província eclesiástica de Tarragona, Espanha) e
o governante francês ‒ atualmente o presidente da França.
Como tais critérios de escolha do governante,
evidentemente Andorra é uma monarquia não hereditária.
Isso não significa, entretanto, que o tipo de filiação não seja
importante.
Conhecer sobre o sistema de filiação significa
contactar a base da sociedade, pois a família é a
fundadora dos princípios, dos valores e da cultura de uma
nação. A cultura geral de um povo emerge da
complexidade das culturas familiares locais, assim como os

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nós de uma rede determinam os padrões amplos de


qualquer sistema.
À primeira vista, o leitor poderia pensar que a ideia de
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sociedade como uma extensa família, na qual todos os
indivíduos são razoavelmente conhecidos uns dos outros,
seria uma visão meramente histórica, antiquada, utilizada
tão somente para fins didáticos. Não é isso que os
experimentos têm demonstrado.
O livro Introdução às Redes Complexas (Bessa et alii,
2009) ilustra muito bem como as pessoas estão
interligadas de maneira relativamente próxima, a ponto de
ser plenamente possível calcular ‒ e visualizar in silico ‒ o
grau médio de distância entre elas.
O supracitado trabalho relata o experimento
conhecido como Problema do Pequeno Mundo, do
psicólogo social da Universidade de Harvard, Stanley
Milgran, em 1967.
Disposto a avaliar o grau de conexão entre pessoas
aleatórias, ele pediu que aproximadamente cento e
cinquenta famílias em Omaha, Nebraska e Wichita e
Kansas enviassem correspondências a algumas pessoas
pré-determinadas em Boston.
O envio, no entanto, deveria seguir algumas regras,
onde a base era: se o remetente não conhecesse o
destinatário final, ele deveria enviar a carta para um amigo
que talvez o conhecesse, até que finalmente o envelope
atingisse o alvo.
Cada pessoa que recebia o envelope, deveria
escrever o seu nome nele, em uma lista, evitando que a
correspondência fizesse um caminho circular.
A priori, os coordenadores do experimento
imaginaram que cada envelope chegaria ao seu destino

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final após aproximadamente cem passos. Mas para


espanto da equipe, o trânsito das correspondências tinha
em média entre cinco e seis passos.
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A partir do Problema do Pequeno Mundo surgiu o
conceito de seis graus de distância (ou seis graus de
separação em rede), segundo o qual pessoas aleatórias,
aparentemente sem nenhuma relação entre si, têm
probabilidade muito alta de possuírem contatos em
comum.

Em 1998, Duncan J. Watts e Steven


Strogatz desenvolveram um
algoritmo baseado em grafos
aleatórios para estudar o Problema
do Pequeno Mundo de maneira mais
geral, procurando assemelhar a rede
criada à estrutura encontrada em
interações sociais. Neste modelo, é
possível obter redes de pequeno
mundo ajustando o nível de
aleatoriedade com que são
reconectados os vértices da rede
regular original. (Bessa et alii, 2009).

Conforme se demonstrou experimentalmente, tanto in


vivo, quanto in silico, a sociedade é muito mais interligada
do que parece e não é um exagero o pensamento
monárquico, que enxerga as famílias como linhagens
complexas, sendo a sociedade um conjunto das diversas
estirpes, entrelaçadas ao longo dos tempos.
Alguns vendados negarão o sentido de falar sobre
tais temas no Brasil, pois atualmente é uma república e o

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interesse seria restrito a um grupo muito pequeno de


pessoas. Argumentarão ‒ já é possível ouvi-los ‒ que
bastariam as formas de filiação expostas no Código Civil e
23
nada a mais.
Tal raciocínio é inverídico, permeado pelo
pensamento republicano de que a família é apenas o
núcleo familiar isolado, raciocínio irreal, implantado
artificialmente e que não encontra respaldo fático,
conforme se verificou no experimento do Problema do
Pequeno Mundo ‒ que vem sendo replicado ao longo das
décadas, sempre com resultados muito similares ao do
trabalho inicial.
A legislação brasileira expõe tal disparate ao impor
limitações demasiadamente hostis às relações de
parentesco, considerando que são parentes por linha
colateral ou transversal somente até o quarto grau.

SUBTÍTULO II
Das Relações de Parentesco
CAPÍTULO I
Disposições Gerais
Art. 1.591. São parentes em linha reta
as pessoas que estão umas para com
as outras na relação de ascendentes
e descendentes.
Art. 1.592. São parentes em linha
colateral ou transversal, até o quarto
grau, as pessoas provenientes de um
só tronco, sem descenderem uma da
outra.
(...)

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§ 1 o O parentesco por afinidade


limita-se aos ascendentes, aos
descendentes e aos irmãos do
24
cônjuge ou companheiro.
(Lei n°10.406, de 10 de janeiro de
2002. Código Civil Brasileiro – com
sublinhados nossos)

Em culturas monárquicas, a população como um todo


compreende que a família não é somente um núcleo,
mas sim uma linhagem, cujos feitos ‒ bons ou nem tanto
‒ atravessam as eras e podem legitimar ou deslegitimar os
seus descendentes, engrandecendo ou diminuindo a
sociedade à qual pertencem.
Essa é a cultura que prevalece entre muitas
famílias que migraram ao Brasil, bem como em milhões
famílias brasileiras monarquistas, que mantiveram
internamente os valores imperiais. Esses milhões de
brasileiros com uma visão de mundo monárquica,
simplesmente não estão sendo atendidos pela legislação
civil atual, em sua plenitude.
Nesses grupos, a valorização do Direito Natural tem
origem na certeza de que as sociedades humanas
possuem valores intrínsecos, independentemente de
ensinamentos exteriores.

(...) a sagração, por exemplo, é uma


ratificação, uma validação de um ato
jurídico. Por outro lado, é o princípio
dinástico que prevalece, por oposição
ao princípio e às ações jurídicas, nos
períodos em que o rei é forte e o

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Parlamento enfraquecido. O rei é rei


porque é filho do rei, pela
hereditariedade e não “pela lei”.
25
Dessa forma, tende a triunfar
(BOURDIEU, 2012 ‒ sublinhado
nosso).

Bourdieu, ao destacar a aplicação dos princípios


dinásticos, em prejuízo à “lei” (leia-se, lei dos homens ou
lei positiva), refere-se precisamente à aplicação do
jusnaturalismo (jus naturale). O triunfo citado por ele é a
aclamação popular, o reconhecimento de um certo
indivíduo, por parte daquela sociedade, no sentido de ser
o grande protetor e moderador social. O rei legítimo tende
a triunfar, porque conta com a tradição cultural de seu
povo.
A América ‒ o Brasil incluído ‒ teve colonização
tardia, com um intenso fluxo migratório a partir do século
XIX, devido às instabilidades em continente europeu,
provocadas por diversas revoluções, guerras civis,
políticas imperialistas de expansão territorial, catástrofes
naturais, além de duas guerras mundiais.
Tamanho fluxo migratório envolveu famílias inteiras,
inclusive membros da realeza, da nobreza e da aristocracia
como um todo. A partir desse movimento, várias Casas in
exilium passaram a existir em grande quantidade nos
recém criados estados americanos. Há, no Brasil,
centenas de Casas nobres estrangeiras, linhas de
realezas e membros das mais diversas fidalguias, que
passaram a ocupar todos os setores da sociedade e se
adaptar ao novo país, mesmo no turbulento período
republicano.

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Esse emaranhado de tradições e culturas jurídicas


próprias frequentemente se vê em um limbo: não há
espaço social para utilizar os elementos tipicamente
26
identificadores desses grupos, tampouco um local seguro
para resolver suas questões sucessórias e impasses
internos.
Não há ‒ ainda ‒ na legislação brasileira um Código
Nobiliárquico, ou na doutrina jurídica um Compêndio
Dinástico e Nobiliárquico, capaz de reunir algumas
possíveis soluções jurídicas para os impasses mais
comuns, frequentemente enfrentados por Casas in exilium.
Frequentemente, após a migração forçada, primos
relativamente próximos descobriram seu grau de
parentesco após muitas décadas de convívio. Em um
ambiente onde não se costumam exibir brasões ou
símbolos de linhagem, a dificuldade para encontrar os
parentes e, portanto, um sucessor adequado in exilium,
confirmado por um conselho (essencial em algumas
Casas) se tornou imensa.

Os brasões, como vemos, colocam-


se em todos os níveis de
representação do nobre e possuem
uma evidente visibilidade que
transforma a leitura da representação
num conjunto sacralizado de sinais
evidentes de prestígio. (Berrendero,
2011)

Ademais, muitos herdeiros de estirpes históricas


perderam suas tradições, em decorrência do medo que
seus genitores traziam em transmitir informações valiosas

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sobre a própria família, tendo em vista as perseguições


ocorridas ao longo do último século. Não é raro encontrar
famílias que omitiram ou substituíram seus sobrenomes,
27
por outros mais discretos, ou que escondem até os dias de
hoje os objetos e documentos que provam suas linhagens.
Em que pese a existência do jus majestatis,
raríssimas pessoas sabem os procedimentos corretos para
exercê-lo e contar com a proteção estatal, tamanha a
desinformação entre as Casas exiladas.
Já se passaram mais de setenta anos desde o final
da Segunda Grande Guerra. Ao longo século XX, caiu o
Império Russo, o Império Otomano, a Inglaterra teve sua
influência diminuída, Berlim esteve nas mãos dos russos,
todo o mapa mundial foi redesenhado. Espanha e
Marrocos restauraram suas monarquias, o Oriente Médio
se modificou.
Na África, diversos reinos obtiveram reconhecimento
nacional e internacional, de modo a existirem ‒ quase ‒
como enclaves em território republicano. A França, a
Áustria e a Hungria quase restauraram algumas vezes.
Igualmente o Brasil. Casas Reais históricas em exílio
passaram a pedir ‒ e conseguir ‒ reconhecimento na ONU,
e exigir o pleno exercício do princípio do jus majestatis.
Em um mundo cada vez mais plural, onde se
reconhece o direito ao nome como um instituto de
direito personalíssimo, e permite-se alteração de registro
civil às pessoas trans ‒ sem dúvidas, um grande avanço na
efetivação dos direitos humanos ‒, é lamentável que a
república austríaca e o estado húngaro proíbam o Chefe
Dinástico da Casa de Habsburg-Lorraine (Habsburgo-
Lorena) a utilizar o seu sobrenome histórico corretamente

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‒ ao invés de von Habsburg, ele é obrigado a assinar Karl


Habsburg, sob pena de prisão.
Não houve reprimenda diplomática, não existiu um
28
processo na Corte Europeia de Direitos Humanos, nem
qualquer pronunciamento em assembleia da Organização
das Nações Unidas.
Ou seja, evidenciar a existência das dinastias
virou um tabu ‒ ainda que a evidência seja simbólica, com
o uso de seu próprio nome ‒ assim como a defesa de
quaisquer direitos naturais, a começar pelo direito à vida,
cada vez mais relativizado.
Monsenhor Juan Claudio Sanahuja analisa com
precisão cirúrgica esse processo de distorção das
tradições milenares, destacando que a valorização da vida
e da família compõem a base, a verdadeira essência da
humanidade, pois é através desses dois pilares ‒ filhos
e família ‒ que que a sociedade consegue se impor
perante o Estado.

Há uma profunda crise social em


relação ao respeito que merece a
vida humana desde a concepção até
sua morte natural. O mesmo conflito
afeta também a família (...) ambiente
natural onde os filhos são
concebidos, nascem, crescem e são
educados. (Sanahuja, 2012 ‒
sublinhado nosso).

Entretanto, o avanço das tecnologias de


telecomunicação e o aceleramento do processo
globalizante ‒ sem significar, necessariamente uma

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tendência globalista ‒ colaborou para o retorno das


organizações monarquistas em vários países,
emergindo novamente a visão da família como uma
29
linhagem, o indivíduo como parte de uma estirpe
conectada a todo o tecido social e sujeito de obrigações
familiares em relação a esse tecido.
Evidentemente, tal visão de mundo é incompatível
com o individualismo republicano, que insiste em ver as
famílias apenas como núcleos independentes,
desconectadas entre si ‒ nada poderia ser mais
artificialmente imposto.
Ao longo dos milênios, houve inúmeras maneiras
de associação familiar, ou seja, formas de ser inserido
em uma família, na posição de filho. Em todas elas, a
valorização da linhagem sempre ocorreu, fosse por
sangue ou por adoção.
A depender do recorte temporal e geográfico, houve
institutos primordiais tais quais a gens romana ‒ plural
gentes ‒, que reunia os descendentes de um mesmo
antepassado, geralmente virtuoso em política e com
grandes feitos militares.
Numerosos núcleos familiares pertenciam ao mesmo
gens e se ajudavam mutuamente, em um movimento
espontâneo de solidariedade aristocrática, um modus
operandi socialis originário das cidades-estados gregas.

“(...) o conceito de solidariedade


aristocrática está fundamentado
sobre as relações políticas existentes
no universo da polis/ciuitas greco-
romana e baseado num sistema de
participação coletiva e tradicional, o

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patrios, que em termos teóricos


promoveria a isonomia política entre
todos os aristocratas. Ou seja, todos
30
os integrantes da aristocracia, cujo
perfil estava associado à prática da
guerra, da caridade e da erudição,
encontravam-se unidos por um ideal
político, social e cultural comum,
aspectos que colocavam os aristoi
como os únicos responsáveis pelas
tarefas de governo no ambiente da
polis/ciuitas.” (Frighetto, 2011 –
sublinhado nosso)

Simultaneamente, a humanidade forjava os conceitos


de pátria e de soberania, que aliados à solidariedade
aristocrática, evoluíram para a identidade
nobiliárquica, certamente a mais marcante característica
dos reinos europeus da Antiguidade Tardia, entre 284 e
750 ‒ persistente até os dias de hoje, com ligeiras
adaptações.

Verificava-se, pois, uma


identificação em três níveis: o do
indivíduo específico, o da sua filiação
paterna e o do grupo de parentesco
em que se integrava aquele membro
concreto. Não obstante as
excepções, variações e adaptações
que podem ser apontadas, (...)
conferindo e sedimentando
identidades individuais e colectivas

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entre os fidalgos, as suas linhagens e


a nobreza como grupo social detentor
de características e prerrogativas
31
próprias que a distinguiam de todos
os outros grupos sociais. (Sousa,
2013 ‒ sublinhado nosso)

Percebe-se que os núcleos familiares das Casas


Nobres e a sua forma interna de funcionamento, passaram
a motivar imensamente toda a sociedade sob sua
influência, servindo de parâmetro ético, militar, político e
social.
Desse modo, se em um determinado local e época a
aristocracia ‒ ou a nobreza ‒ preferia extinguir-se por falta
de descendentes sanguíneos diretos, havia o reflexo no
restante da sociedade: quase inexistência de vínculos por
adoção, o que levava frequentemente à diluição de bens
da família e extinção das linhagens.
Em outros lugares e períodos, nos quais se
facilitavam as adoções de bons comandantes militares ou
políticos destacados, que pudessem levar adiante o nome
da família, mesmo sem possuir o seu sangue direto,
encontram-se facilmente inúmeros registros de adoção na
sociedade em geral.
Não seria o hábito popular suficientemente forte para
gerar no governante o costume, mas ao contrário: o
governante, ao exercer simultaneamente ‒ pessoalmente
ou por delegação ‒ a legislatura vitalícia, o juízo e o
comando militar, moldava a cultura do respectivo povo. A
aristocracia, a nobreza e a realeza forjaram o direito de
família ao longo dos séculos.

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Assim, narrar a história das famílias e da relação


de parentesco entre os pais e os filhos, implica uma
observação minuciosa da aristocracia, da realeza e da
32
nobreza, como grandes influenciadoras sociais, por
servirem de exemplo moral aos povos locais e aos
conquistados, bem como por serem detentoras da
reverência moral das demais classes sociais.
Frequentemente as leis se tornaram escritas, com o
objetivo de informar aos povos conquistados e aos
estrangeiros residentes na localidade, sobre como eram os
costumes consolidados naquela cultura.
Ou seja, contrário do que afirmam vários autores de
história do direito, a lei escrita não surge da necessidade
de organizar a sociedade, pois o regramento já existia e
estava estabilizado através do exemplo das classes
dirigentes, que proliferava seus costumes em toda a
sociedade, ao longo das gerações, por imitação e
orientação.
Os códigos escritos, via de regra, eram tão
somente uma expressão perene da cultura
estabelecida, fruto da necessidade de informar aos
recém-chegados sobre o modus operandi local.
Mesmo nos dias de hoje, é plenamente observável o
fato de que a lei escrita precisa estar anteriormente inserida
na cultura, ainda que seja em forma de princípios gerais,
caso contrário:

• 1. A lei é ignorada, fator que abala a segurança


jurídica;
• 2. Se imposta pela força, ela gera revoltas e
instabilidade política.

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A partir dessa breve ponderação, tem-se que todas


as formas de filiação familiar registradas são
simplesmente expressões culturais das respectivas
33
sociedades, em busca de sua evolução ‒ o bem comum.
Nesse contexto, cumpre observar que incluir-se como
filho não significa somente passar a ter um vínculo jurídico
diferenciado com os novos genitores, mas sim um
compromisso com toda a linhagem acolhedora e em
última análise, com a sociedade à qual a família está
inserida.
A seguir, o leitor encontrará várias formas de filiação
surgidas ao longo da história. Não será possível exauri-las,
visto que para cada uma delas, se poderia dedicar toda
uma biblioteca. Mas é plenamente viável apresentar as
suas principais características e implicações, com
exemplos e referências verificáveis.
Cumpre evidenciar que, na prática, nem sempre o
Direito Civil comum poderá ser aplicado às análises de
casos específicos em âmbito do Direito Dinástico ou do
Direito Nobiliárquico.

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3. FILIAÇÃO NATURAL

Tradicionalmente, o termo filiação natural é utilizado 34


para se referir ao vínculo de filhos gerados em uma
entidade familiar não enquadrada como casamento, seja
em dicionários de língua portuguesa ou em dicionários
jurídicos.

Filiação natural (...) Vínculo


entre pais e filho(s) gerado(s) fora do
casamento. (Aulete, 2021)

Filiação natural. A que se dá


fora do matrimônio. (Michaelis, 2021)

A Professora Doutora Maria Helena Diniz, por sua


vez, concorda com o Professor Joao Batista Vilella, ao
defender que o ideal seria utilizar o termo filiação
extramatrimonial, em lugar de ilegítimos ou de naturais.

(...) Pode ser classificada,


didaticamente, como legítima e
ilegítima. (...) há quem ache, como
João Batista Vilella, que se poderia
falar em filiação matrimonial e
extramatrimonial, por serem termos
axiologicamente indiferentes e não
discriminatórios (...). Filiação
extramatrimonial. Direito Civil.
Designação que vem sendo aceita,
por alguns autores, como João
Batista Vilella, para indicar a prole de

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pessoas não ligadas pelo casamento,


isto é, advindas da relação não
matrimonial, em virtude de a própria
35
norma constitucional reconhecer
como entidade familiar, sob proteção
estatal, o agrupamento de fato entre
homem e mulher (união estável),
vedando qualquer discriminação na
filiaçao. (Diniz, 2013).

A autora da presente obra declina desse


entendimento, visto que, ao considerar-se uma visão
histórica ‒ portanto monárquica ‒ de filiação familiar, tem-
se extramatrimonial como um termo que não informa
absolutamente nada, pois extramatrimoniais podem ser os
filhos heráldicos, os antoninos ou cooptados, os adotivos
etc.
Quanto maior a precisão do termo, mais
segurança jurídica. Daí que seria inviável, numa
perspectiva não exclusivamente republicana a divisão
entre filhos matrimoniais e extramatrimoniais.

Entretanto, cabe observar que a união estável se


aproxima cada vez mais do conceito de casamento, em
diversos ordenamentos jurídicos ocidentais. No Brasil, a
Constituição Federal indica a similaridade entre os dois
conceitos, ao determinar o seguinte.

Art. 226. A família, base da


sociedade, tem especial proteção do
Estado. (...) § 3º Para efeito da
proteção do Estado, é reconhecida a

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união estável entre o homem e a


mulher como entidade familiar,
devendo a lei facilitar sua conversão
36
em casamento. (Constituição Federal
do Brasil 1988 ‒ sublinhado nosso)

Atualmente, quanto ao início do vínculo, o


ordenamento brasileiro considera que a principal diferença
entre as duas formas de relação ‒ casamento e união
estável ‒ é que a primeira exige a legitimação por
autoridade civil ou religiosa ou ambas, em rito solene, com
registros necessários e previstos em lei. Enquanto isso, a
união estável é menos burocrática ‒ em tese ‒, valorizando
a realidade dos fatos, em detrimento do aparato
burocrático.
Portanto, um filho que seja fruto de uma união estável
é inteiramente equiparado a um filho fruto do casamento,
não existindo quaisquer distinções de direitos entre um e
outro, nem mesmo quanto à sucessão.
Excetuando-se os protocolos canônicos, os filhos
originários de união estável não devem ser chamados
de filhos naturais, mas sim legítimos, conforme se
discorrerá a seguir.

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4. FILIAÇÃO LEGÍTIMA

Embora os dicionários da Língua Portuguesa, 37


resumam a filiação legítima como aquela tida dentro do
casamento, tal definição é extremamente simplista.
Legítimos são os filhos nascidos dentro do casamento,
ou cujos pais vivam em união estável.
Ora, se os filhos adotivos ‒ portanto sem parentesco
de sangue com a família ‒ têm os mesmos direitos que os
filhos de sangue, obviamente os filhos tidos em união
estável também contam com as mesmas prerrogativas,
pois a legislação brasileira (com suas raízes civilistas
romanas) jamais relegaria ao segundo plano a importância
do parentesco sanguíneo, conceito historicamente central
na estabilização das linhagens familiares.

Art. 227. É dever da família, da


sociedade e do Estado assegurar à
criança, ao adolescente e ao jovem,
com absoluta prioridade, o direito à
vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e
à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda
forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e
opressão. (...) § 6º Os filhos, havidos
ou não da relação do casamento, ou
por adoção, terão os mesmos direitos
e qualificações, proibidas quaisquer

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designações discriminatórias
relativas à filiação. (Constituição
Federal do Brasil 1988 ‒ sublinhado
38
nosso)

Um ponto que merece análise é sobre a filiação


originária do casamento nulo.
Os atos solenes ‒ e o casamento é um deles ‒ exigem
que todos os procedimentos previstos em lei sejam
rigorosamente cumpridos, de modo que duas pessoas
podem acreditar que são casadas, mas estar em um
casamento sem validade legal, por algum vício
procedimental.
Felizmente, o legislador brasileiro previu essa
possibilidade e o Código Civil esclarece cristalinamente
que (Art. 1.617) A filiação materna ou paterna pode resultar
de casamento declarado nulo, ainda mesmo sem as
condições do putativo.
O casamento putativo é aquele nulo ou anulável, mas
que produz efeitos civis válidos sobre os consortes e a
prole, por haver sido contraído de boa-fé pelos cônjuges ou
por ao menos um deles.
Em caso de comprovada má-fé dos cônjuges, a
relação ainda gerará efeitos sobre os filhos, não os
deixando desamparados.
Assim, o direito civil secular não há diferença de
direitos entre os filhos oriundos de uma relação
matrimonial, união estável, casamento nulo ou anulável ou
os filhos adotivos. Na contemporaneidade, ganhou espaço
a noção de que o vínculo entre pais e filhos é
independente do vínculo dos genitores entre si ‒ um

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grande passo rumo à humanização do direito civil, com o


reconhecimento dos direitos das crianças.
Nos contextos nobiliárquico e dinástico, o filho
39
nascido fora do casamento precisa ser expressamente
reconhecido e declarado como herdeiro histórico,
exigências dispensadas apenas em algumas Casas,
segundo seus respectivos estatutos, exclusivamente para
os casos em que não há herdeiros legítimos.
Em âmbito internacional público, frequentemente
existe diferença de tratamento entre filhos naturais e
legítimos, pois vários estados exigem a certidão de
casamento para cada par apresentado na árvore
genealógica, sendo essa uma condição essencial à petição
de reconhecimento de nacionalidade. O mens legislatori é
claramente permeado por tradições monárquicas
atualizadas, ao criar um procedimento que objetiva impedir
os filhos naturais de obterem reconhecimento de cidadania
por filiação familiar, a menos que sejam expressamente
reconhecidos como legítimos por seus genitores ‒ estes
sim, cidadãos.

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5. FILIAÇÃO FICTÍCIA

Em linguagem jurídica, tem-se que a filiação fictícia é 40


o vínculo de parentesco estabelecido entre os pais adotivos
e a criança adotada. O termo pode ser contestado, uma vez
que fictício pode ter uma conotação pejorativa, no sentido
de simular, imitar, ou parecer aquilo que não é de fato.
No Brasil, assim como em outros ordenamentos,
atualmente a adoção precisa cumprir um rigoroso
processo, sempre com vistas ao melhor interesse do
menor.
A aplicação desse princípio jurídico ‒ melhor
interesse do menor ‒ evita alguns absurdos contrários às
boas práticas dos direitos humanos, que eram disfarçadas
como formas de adoção: o adotado com a finalidade
serviçal, que sofria explorações de toda espécie; a menina,
geralmente uma criança levada para trabalhar como
doméstica, e que com o tempo poderia adquirir o status de
membro da família, muitas vezes com citação
testamentária, mas que em geral era relegada a último
plano e estava sujeita a sofrer exploração sexual; ou ainda
a famosíssima adoção à brasileira, feita de boa-fé, mas
essencialmente indocumentada.
O referido princípio tem sido largamente utilizado em
julgamentos do Colendo Superior Tribunal de Justiça e é
um dos norteadores do Estatuto da Criança e do
Adolescente ‒ os outros dois basilares são o princípio da
prioridade absoluta e o princípio da municipalização.
A adoção de pessoa maior também é admitida,
No estudo dos ramos do direito nobiliárquico e
dinástico, uma forma de adoção que merece cuidado
especial é a adoção antonina.

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6. FILIAÇÃO POR ADOÇÃO ANTONINA ‒


COOPTAÇÃO
41
A adoção antonina, ou filiação antonina, ou filiação
per cooptationis (por cooptação) é relativamente comum
em Ordens, Casas Reais in exilium e outras instituições
cujo objetivo seja a preservação da memória histórica.
No mundo moderno, o termo filiado por coptação tem
o mesmo sentido de gestor cooptado ‒ muito usado no
direito empresarial quando a companhia decide admitir o
ingresso de uma pessoa externa à sociedade,
frequentemente dispensando-a das formalidades de praxe,
contratando-a para gerir a empresa.

Definição de Cooptação. Processo de


absorção de novos elementos na
liderança ou na política destinada a
determinar a estrutura
organizacional, como forma de evitar
ameaças à sua estabilidade ou
existência. Processo pelo qual um
meio institucional interfere em uma
organização e faz mudanças em sua
liderança, estrutura ou política.
(Selznick, 2014 ‒ tradução livre ‒
sublinhados nossos).

Entretanto, a origem do conceito é muito antiga, se


encontra nos imperadores antoninos ‒ quatro imperadores
romanos: Antônio Pio (138 - 161), Marco Aurélio (161 -
180), Lúcio Vero (161 - 169) e Cômodo (177 - 181), pois

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foram cooptados e assim formaram a Dinastia Antonina,


sem que houvesse filiação de sangue entre os sucessores.
O instituto antonino também pode ser utilizado para
42
legitimar ao trono um filho bastardo, que a priori não
constaria na genealogia oficial da Casa. Na península
ibérica, tem-se o exemplo de Dona Maria Pia de Bragança,
nascida como filha ilegítima ao trono, posteriormente
legitimada através da filiação antonina.

Ordinariamente, a investidura
do rei dá-se por hereditariedade,
recebendo o título de monarca por se
tratar do herdeiro do falecido rei,
dentro da linha de sucessão
dinástica, que pode inclusive estar
prevista na constituição do Estado.
Contudo, por exceção, é possível a
investidura por livre escolha do
monarca sucedido, mesmo que fora
do vínculo de parentesco. Trata-se da
chamada “cooptação”, largamente
utilizada pelos Antoninos, no Império
Romano, e que também foi usada por
Maria Pia de Bragança, na qualidade
de filha bastarda legitimada pelo Rei
Carlos I, de Portugal. (Dantas, 2020 –
sublinhado nosso).

Atualmente a filiação per cooptationis é realizada


exclusivamente para fins de gestão. As monarquias
parlamentaristas ‒ maioria no mundo moderno ‒
geralmente possuem regras pré-estabelecidas sobre a

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sucessão ao trono, de modo que a vontade do monarca


reinante se dobra às tais leis, no ato da sua coroação.
Quando um chefe dinástico em exílio faz a adoção
43
antonina, está elegendo um administrador e não um
filho ‒ em sentido comum de membro da família. O
monarca está tão somente delegando a administração da
dinastia a um gestor externo, preferencialmente com
objetivos específicos e bem definidos, que após serem
cumpridos, deixam de justificar a existência daquele
preposto no seio da instituição familiar.
Tratando-se de um contrato ‒ tácito ou explícito,
escrito ou não ‒ para administrar os bens históricos, o
adotado por cooptação somente adquire eventual direito ao
uso de títulos da Casa, o porte da heráldica familiar e do
sobrenome, caso receba carta patente específica, onde
devem constar todas as outorgas nobiliárquicas e
dinásticas especificamente relacionadas à sua pessoa.

Assim, o brasão como sistema de


representação metafórico da família
do pretendente; ou o elmo, que nos
fala da condição de fidalgo; e a cruz
como garantia de ter sido
reconhecido “a pública voz i fama”
como nobre, configuram um tríptico
essencial sobre a condição. Todas
são manifestações que acentuam a
significação objectiva do brilho e da
reputação social dos privilegiados, ou
o que é o mesmo, de todos quantos
podiam ter imagem. (...) A
representação do visual adquire

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formas conservadoras na exposição


dos seus elementos. As inovações
são escassas, uma vez que cada um
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dos sinais da honra do retratado se
baseia em significados atribuídos
com anterioridade e são, em última
instância, uma cartografia relativa a
velhas tradições visuais em torno da
honra. (Berrendero, 2011 ‒
sublinhados nossos)

Ainda assim, o uso dos símbolos pelo filiado por


cooptação deve ser protocolar, durante o exercício das
suas funções diretoras, exceto se o instrumento que
explicita e publiciza a outorga sustentar outras permissões.
Como se nota, a declaração de filiação por cooptação
jamais pode ser confundida com uma adoção de pessoa
adulta ou declaração de paternidade.

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7. FILIAÇÃO DE SANGUE

Os chamados filhos de sangue historicamente 45


carregavam o nome de família, pois essa era a principal
marca individual gravada por seu genitor à prole: para que
todos soubessem, em qualquer lugar e circunstância, que
ali estava um membro de sua família próxima, um Filho de
sua Casa, um herdeiro seu.

Um dos elementos identitários


mais importantes, quer em termos
individuais, quer, sobretudo, em
termos da linhagem, foi, sem dúvida
o nome. O nome próprio, de
baptismo, mas também o “nome de
família”. Já desde o início do século
XII se vinha a assistir a um processo
em que famílias nobres adoptavam
um nome estável que identificava o
grupo, e que em geral remetia para a
região da sua origem, implantação ou
sobre a qual exerciam
tradicionalmente os seus poderes
senhoriais. (Ventura, 1996 ‒
sublinhado nosso).

Algumas famílias adquiriram o hábito de fazer uma


pequena diferenciação patronímica, para diferenciar os
filhos legítimos entre si. Algumas vezes, com uso de uma
vogal diferente para os filhos de cada matrimônio, ou
inserindo uma preposição que identificasse, dentro da
família, as linhas tidas dentro do matrimônio. Dessa forma,

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era possível reconhecer a filiação de toda a prole, sem


perder as informações de sucessão dinástica ou
nobiliárquica.
46
A título meramente ilustrativo, pode-se imaginar
alguns exemplos (inteiramente fictícios):

Exemplo 1
Filhos do primeiro casamento
‒ Tabletta
Filhos do segundo casamento
‒ Tablette
Filhos do terceiro casamento
‒ Tabletti

Exemplo 2
Primogênito ‒ Escoba
Segundogênito ‒ Escob
Terciogênito ‒ Esco

Exemplo 3
Filhos dentro do casamento
‒ de Lerr
Filhos fora do casamento
‒ de Larr

As variações são infinitas. Em algumas famílias da


Itália continental, por exemplo, era comum estabelecer o
mesmo sobrenome com grafias ligeiramente distintas,
trocando-se apenas uma ou duas letras, de modo que na
linguagem falada essas diferenças eram quase
imperceptíveis ‒ comumente SS, ZZ, SC, C etc.

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Importante observar que pode haver uma


sobreposição de conceitos. Por exemplo, um filho de
sangue pode ser natural ou legítimo, ou pode nascer como
47
filho natural e ser legitimado (inclusive post mortem), assim
como pode ser filho de sangue de uma casa e cooptado de
outra.
Há inúmeras possibilidades de combinar as formas de
filiação familiar, com sobreposições em um mesmo sujeito.

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8. FILIAÇÃO HERÁLDICA

Ao que se sabe, a filiação heráldica tem origem 48


inglesa e naquela tradição se restringia às filhas de sangue,
legítimas, às quais era concedida a honra de levar adiante
as armas de família, até que nascesse um varão e ele
reunisse os requisitos para carregá-la ‒ idade, formação,
feitos etc. Importante destacar que a filha heráldica tinha
o porte, mas não a titularidade das armas.
A sua função era evitar o fim da linhagem, em uma
tradição na qual as mulheres não podiam ocupar a chefia
nobiliárquica. Assim, a devotada filha guardava os bens
imateriais e heráldicos que haviam sido de seu pai, morto
sem mais, para entregá-lo ao neto do último titular ‒ em
casos mais raros, ao bisneto.
Não bastava ser filha legítima, para ter a filiação
heráldica, pois tal condição precisava ser declarada pelo
titular das armas.

(...) definir e afirmar um sentido


e uma consciência de identidade e de
solidariedade da nobreza, tendo por
base o parentesco e a condição
social. A evocação de heróis
fundadores ou de antepassados
ilustres, as narrativas sobre certas
personagens e os seus feitos reais ou
lendários, a fixação de referências
associadas a essa memória – desde
logo, o já referido nome de família,
mas também a ligação privilegiada a
certos locais de culto como mosteiros

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e igrejas–, a ideia clara e


directamente assumida da
transmissão perene de um património
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material ou simbólico constituem
alguns dos mais importantes factores
que deram corpo às tradições
nobiliárquicas e que sobressaem nos
livros de linhagens. (...) Quanto mais
antiga fosse a linhagem, quanto mais
longe no tempo fosse possível fazer
remontar a sua origem, mais
prestigiante seria para os
descendentes dos fundadores e para
os herdeiros de tais tradições. Estes,
de geração em geração, como que
incorporavam ou encarnavam as
qualidades e os feitos dignos de
memória dos seus antepassados. E a
cada geração cumpria receber,
preservar e transmitir esse capital
simbólico que constituía uma marca
de identidade e de distinção social.
Tão importantes como o nome de
família para marcar a identidade e a
distinção das linhagens foram as
armas heráldicas, verdadeiros
símbolos identificadores da nobreza
e dos seus elementos. (Sousa, 2013
– sublinhado nosso).

Em todas as épocas, malabarismos jurídicos foram


criados para evitar a extinção de estirpes familiares. Esse

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modo inglês é bastante peculiar e as referências à filiação


heráldica fora da Inglaterra, do País de Gales e da Irlanda,
antes da Guerra dos Cem Anos são extremamente raras.
50
Como não poderia deixar de ser, considerando que a
heráldica é uma arte, mas também uma linguagem, há um
protocolo para a filha heráldica portar o escudo paterno. Ela
não podia dividir a sua lisonja em quartéis, nem misturar o
seu próprio escudo com os escudos de seus filhos.
Ao casar, também não poderia portar o escudo do
marido simultaneamente ao escudo paterno, tendo em
vista que seu marido não era herdeiro daquelas armas. O
correto seria utilizar o escudo paterno juntamente com o
seu, em escudete.

Portanto, é necessário olhar


para o visual-nobiliárquico como um
conjunto aberto, como uma parte
significativa da identidade
nobiliárquica e, ver nas distintas
representações dos seus brasões,
retratos e mais artefactos, a
significação da hierarquia dentro do
discurso sobre as distintas formas de
classificação social e atributos de
cada grupo. Temos falado aqui de
nobres, indivíduos e linhagens,
unidos pela pertença a um universo
que partilha sinais (...) É portanto a
iconografia da honra um espaço de
culto e de construção da memória
colectiva da nobreza mas, é
sobretudo uma mostra de uma

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realidade sistémica e antitética contra


o efémero. Assim, a iconografia
nobiliárquica é um regime
51
comemorativo do estatuto e da
reputação social. É uma produção
simbólica sobre os sinais do domínio
(...). (Berrendero, 2011 ‒ sublinhado
nosso)

Cabe comentar que as armas de família são parte do


patrimônio imaterial da linhagem, devendo ser protegidas
e transmitidas como qualquer bem infungível.
Atualmente, no tocante às Casas em exílio, devido a
todo o processo de descontextualização histórica,
eventualmente alguém pode chamar de filiação heráldica
uma situação que, em verdade, é uma filiação antonina.
A característica essencial da filiação heráldica é o
vínculo de sangue em parentesco direto, em primeiro
grau, por laço legítimo ‒ necessariamente a herdeira
heráldica era filha legítima do armígero.
Tais exigências não existem na filiação antonina. De
modo que se a filiação não reunir esses requisitos,
obviamente não será uma filiação heráldica.

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9. FILIAÇÃO POR ADOÇÃO MODERNA

As filiações e adoções modernas poderiam ser 52


chamadas de filiações pós-modernas ou adoção pós-
moderna, a depender da linha ideológica escolhida ‒ se ela
considerar que os tempos atuais estão em período
moderno ou pós moderno.
Tais filiações englobam todas as grandes revoluções
recentes no tocante ao direito de família, dentre as quais
se destacam:
• adoção por casais homoafetivos
• filiação por barriga de aluguel
• filiação por inseminação artificial
• filiação por doações de sêmem
• inseminação post mortem

Tamanha mudança de paradigmas tem gerado


críticas e muita resistência em alguns setores da
sociedade, especialmente nos mais religiosos, que
levantam questionamentos éticos profundos sobre o
surgimento da vida, o descarte artificial de embriões, a
possibilidade de manipulação genética e vários outros
questionamentos, que tem merecido incessantes debates.
No campo da Filosofia do Direito, aparentemente
esse surgimento tão ligeiro de tantas formas de filiação,
reacendeu as discussões entre os juspositivistas e os
jusnaturalistas.

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10. FILIAÇÃO COMPLEMENTAR

A filiação complementar é de compreensão 53


extremamente simples.
Em um sistema no qual o padrão seja matrilinear, a
complementaridade ocorrerá com a patrilinearidade. Se
por ventura o padrão for a descendência por linha paterna,
chamar-se-á de complementar sempre que ocorrer por via
materna.

Filiação complementar. 1 Antr.


Num certo sistema de descendência,
filiação oposta à que é padrão no
sistema; na descendência
matrilinear, portanto, é a filiação
paterna, e na descendência
patrilinear é a filiação materna.
(Aulete, 2021)

Em alguns reinos africanos, antes da introdução do


catolicismo, era relativamente comum que a dinastia fosse
transmitida por linha fraternal feminina, ou seja: a irmã do
monarca gerava o futuro rei.
Atualmente, com a facilidade em confirmar a
paternidade, esse sistema tende ao desuso.

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11. CONCLUSÃO

Após analisar as diferentes formas de filiação 54


surgidas ao longo da história ocidental, verificou-se o
seguinte:

1. Todas as formas de filiação listadas continuam


presentes na sociedade, em maior ou menor grau. Ou
seja, nenhuma dessas formas de filiação foi extinta.

2. A legislação brasileira, por influência do pensamento


republicano e da visão artificialmente imposta da família
como um núcleo isolado, deixa de regular várias formas
de filiação, especialmente aquelas mais relevantes em
termos sucessórios dinásticos e nobiliárquicos.

3. O Brasil precisa urgentemente de um Código


Nobiliárquico ou um Compêndio de Direito Dinástico e
Nobiliárquico. Preferencialmente curto, que não privilegie
nenhuma tradição específica, mas que sirva para nortear
as Casas em exílio, assim como as associações imperiais
que estão emergindo ‒ a exemplo do Corpo de Nobreza
do Brasil, que está se reunindo pela primeira vez após o
golpe republicano de 1889, tendo por Presidente de
Honra Dom Pedro Tiago de Orleans e Bragança, em
Petrópolis, Cidade Imperial.

4. As Universidades precisam incentivar o estudo do


Direito Dinástico, do Nobiliárquico e do Canônico,
principalmente as católicas, com destaque para as
Pontifícias, tendo em vista que estão diretamente ligadas

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ao Sumo Pontífice, e que o Vaticano é um estado


monárquico absolutista.
55

5. Todos os doutrinadores de Direito de Família


deveriam informar aos leitores, de antemão, se sua visão
é republicana (núcleos familiares isolados) ou monárquica
(consideração de linhagens familiares entrelaçadas no
tecido social).

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12. NOTAS

1. Antiguidade tardia é uma expressão usada 56


para referir-se ao intervalo temporal entre a
Antiguidade clássica greco-romana e o começo da
Idade Média, tanto na Europa continental quanto no
Mediterrâneo. Diz-se que seria aproximadamente a
época entre os anos 284 e 750, frequentemente
apontando-se como seu marco final, o início da
Dinastia Carolíngia ou a ruína da expansão moura.

2. As diferenças entre o casamento e a união


estável ainda persistem em vários âmbitos, enquanto
se igualam em outros. Muitos doutrinadores dizem
que a união estável seria menos burocrática do que o
casamento, mas o que se observa é apenas uma
prorrogação da burocracia, tendo em vista que na
abertura da sucessão, inevitavelmente haverá de se
provar o vínculo entre os companheiros e a sua
duração. O simples registro da união em cartório,
evitaria inúmeros trâmites processuais sucessórios. O
tema será melhor aprofundado em um artigo futuro.

3. A jurisprudência brasileira não se refere de


modo diferenciado aos filhos da união estável, em
comparação casamento. Ela classifica as relações
dos genitores, não a forma de filiação, afirmando que
ambos relacionamentos são legítimos, em oposição
aos relacionamentos extraconjugais.

4. Sucessão é o termo usado para se referir ao


Direito Sucessório ou das Sucessões, ramo do Direito

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que regulamenta os eventos jurídicos relacionados à


morte, principalmente para determinar a transmissão
da titularidade de patrimônio ‒ com ou sem valor de
57
mercado.

5. Segundo o Caldas Aulete, em verbete


jurídico, Vínculo entre pais e filho(s) gerado(s) dentro
do casamento; segundo o Michaelis, Filiação legítima,
JUR: a que se dá dentro do matrimônio.

6. Títulos reais e de nobreza foram abolidos na


Áustria e na Hungria pelo Adelsaufhebungsgesetz
1919. O nome de família do pai de Karl Habsburg foi
declarado como Habsburg-Lothringen em decisão
ministerial austríaca em 1957 e por uma corte alemã
(Landgericht Würzburg) em 1958. Otto estava, porém,
na época apátrida, vivendo na Alemanha com um
passaporte diplomático da Espanha, e a teve negada
a cidadania austríaca, bem como seu ingresso em
terrtório austriaco.

7. O nome oficial de Otto como cidadão alemão


desde 1978 era Otto von Habsburg.

8. Karl von Habsburg foi batizado como


"arquiduque Carlos da Áustria" e continua a ser assim
referido pelos seus apoiantes, pela Santa Sé e pela
imprensa não-austríaca. O papa Bento XVI tratou-o
várias vezes por "Sua Alteza Imperial, o arquiduque
Carlos da Áustria" em discursos públicos e
constantemente pelo Cardeal Arcebispo de Viena e
pelo núncio papal do país.

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13. MATERIAL CONSULTADO

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XVIII), Ler História, 60. 2011.

BESSA, Aline; BACELAR, Leonardo; CORREA, Lorena


P.N.R.M.S.; COSTA, Mariana; CARDOSO, Pedro.
Introdução às Redes Complexas. Material didático e
instrucional. 2009. Disponível em:
https://www.academia.edu/858124/Introdução_às_Redes_
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BOBBIO, Norberto. Dicionário de política. Brasília: Editora


da Universidade de Brasília, 1992.

BOURDIEU, Pierre. Intelectuales, política, poder. 1. ed.


Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Eudeba, 2014.

BOURDIEU, Pierre. O Poder simbólico. Tradução de


Fernando Tomaz. 16. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
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para Assuntos Jurídicos. LEI N o 10.406, DE 10 DE
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DE PAULA, Quenya Silva Corrêa. O direito da política e a


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DINIZ, Maria Helena. Dicionário Jurídico Universitário. 2º


Ed. Atual e aumentada. São Paulo, Saraiva, 2013.

IEA - Institut d'Estudis Andorrans. Topic: Edat mitjana a


la maternitat per nacionalitat; Edat mitjana de maternitat;
Indicador conjuntural de fecunditat per nacionalitat;
Indicador conjuntural de fecunditat; Taxa de fecunditat per

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edat de la mare; Taxa global de fecunditat per nacionalitat;


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2019.
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JASTROW. Unknown artist. Sarcophagus known as the


"Muses Sarcophagus", representing the nine Muses and
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LECLERCQ, Jacques. Do direito natural à sociologia.


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‒‒‒ Fin ‒‒

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