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A GEOGRAFIA HISTÓRICA NO CONTEXTO DA

HISTÓRIA DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO E


Revista do Programa de Pós-
Graduação em Geografia e do
SUAS RELAÇÕES COM AS CIÊNCIAS HUMANAS1
Departamento de Geografia da
UFES Historical Geography in the Context of the History of Geogaphical Thought and its
Janeiro-Junho, 2017 Relations with the Human Sciences
ISSN 2175 -3709

Prof. Dr. Pedro de Almeida La Geografía Histórica en el contexto de la Historia del Pensamiento Geográfico y sus
Vasconcelos relaciones con las Ciencias Humanas
Professor Titular e Professor do
Programa de Pós-Graduação em
Geografia da Universidade Fe-
deral da Bahia
pavascon@uol.com.br

1 - Texto ampliado da Conferên-


RESUMO
cia realizada no IV Encontro Na-
cional de História do Pensamento O texto é iniciado com os pais fundadores da disciplina acadêmica, com a proposta
Geográfico e II Encontro Nacional da inclusão de I. Kant; segue pela apresentação de “Geógrafos clássicos”; pelas relações
de Geografia Histórica, realizado
com os historiadores; pela Geografia Neopositivista e pela Geografia Crítica. As questões
em Belo Horizonte, em 12/2016.
Foram incluídos os comentários da Pós-Modernidade e o fim da História e do espaço são discutidas, seguida pela Glo-
sobre os textos de Harvey (2003) e balização e a “revanche” da Geografia. O texto é concluído com as relações da Geografia
Soja (2000). Histórica com a História do Pensamento Geográfico e com as demais Ciências Humanas.
Palavras-chave: Geografia Histórica; História do Pensamento Geográfico;
Artigo recebido em:
16/05/2017
Artigo publicado em: RESUMEN
31/07/2017
El texto se inicia con los padres fundadores de la disciplina académica, con la propues-
ta de la inclusión de I. Kant; Sigue la presentación de "Geógrafos clásicos"; Por las rela-
ciones con los historiadores; Por la Geografía Neopositivista y por la Geografía Crítica.
Las cuestiónes de la post-modernidad y el fin de la historia y del espacio son discutidas,
seguida por la globalización y la "revancha" de la geografía. El texto se concluye con las
relaciones de la Geografía Histórica con la Historia del Pensamiento Geográfico y con las
demás Ciencias Humanas.
Palabras clave: Geografía Histórica; Historia del Pensamiento Geográfico;

ABSTRACT
The text begins with a review of the founding fathers of the academic discipline, with
the proposal for the inclusion of I. Kant. It follows with the presentation of “Classical
Geographers”; by relations with historians; by Neopositivist Geography and Critical Ge-
ography. The questions of postmodernity and the end of History and space are discussed
as well as the Globalization and the “revenge” of Geography. The text concludes with the
relations of Historical Geography with the History of Geographical Thought and with
the other Human Sciences.
Keywords: Historical Geography; History of Geographical Thought.

36
A geografia histórica no contexto da história do pensamento geográfico e suas relações com as ciências Prof. Dr. Pedro de Almeida
humanas Vasconcelos
Paginas 36 a 50

INTRODUÇÃO Physische Geographie / Géographie –


1802 [Editada por F. Th. Rink]
É um desafio tratar ao mesmo tempo
de duas temáticas próximas, porém dife- A palavra geografia designa [...] uma
rentes: História do pensamento geográfi- descrição da natureza da terra inteira. A ge-
co e Geografia Histórica. ografia e a história preenchem a totalidade do
Uma tentativa de examinar a produ- campo dos nossos conhecimentos: a geografia
ção dos geógrafos nessas temáticas, com o do espaço, e a história o do tempo (p. 72).
destaque para os “pais fundadores” da dis-
ciplina, é a de verificar a ênfase dada por Descrição Física da Terra (p. 65/92);
cada um para a Geografia Histórica. Introdução
Devemos lembrar que em outras dis- Conceitos matemáticos preliminares
ciplinas, como a Sociologia, há um ensino Tratado de Geografia Física (p.
específico dos principais sociólogos, ou 93/342)
seja, Marx, Weber e Durkheim, sendo que 1ª Parte. 1ª Sessão: Da água; 2ª Ses-
o primeiro é também reivindicado pelos são: Da terra; 3ª Sessão: A atmosfera; 4ª
filósofos, historiadores, economistas etc. Sessão: História das grandes transforma-
Neste sentido fica a questão, por que não ções que a terra sofreu outrora e que ele
valorizamos nossos “pais fundadores”? ainda sofre;
2ª Parte. Exame particular do que
Outra questão importante: poderí- contem a Terra. 1ª Sessão: Do homem (p.
amos incluir o filósofo Kant como um 218/227); 2ª Sessão: O reino animal (p.
dos “pais fundadores” da Geografia? Se- 228/262); 3ª Sessão: O reino vegetal (p.
guem algumas justificativas para inclusão 263/272); 4ª Sessão: O reino mineral (p.
de Kant: de fato, o filósofo dedicou 41 273/283);
anos de sua vida ao ensino da Geografia 3ª Parte: Observação sumária sobre
Física (1755-1796). Foram 49 ciclos de as principais curiosidades naturais de to-
cursos consagrados à essa disciplina, só dos os países, segundo uma ordem geo-
sendo superados pelos 54 ciclos dedica- gráfica: o primeiro continente: a Ásia (p.
dos à Metafísica, conforme informa M. 285/314); o segundo continente: a África
Cohen-Halimi, apresentadora do livro (p. 314/327); o terceiro continente: a Eu-
Géographie physique (p. 10). Ela destacou ropa (p. 327/334); o quarto continente: a
ainda que Kant foi o primeiro filósofo a América (p. 334/342);
introduzir a Geografia na Universidade, Suplemento à Geografia Física se-
antes da primeira cadeira da Geografia gundo o nachlass2 kantiano (p. 343/358).
criada para K. Ritter na Universidade de
Berlim, em 1820. O manual foi redigido Sendo um manual sobre a Geografia
pelo filósofo e foi recomposto a partir de Física, não era de se esperar uma discus-
notas dos estudantes (p. 11). O editor, F. são detalhada sobre o homem ou sobre a
T. Rink, também informou que, em 1802, sociedade. O “homem” é tratado em ape-
foram encontrados três cadernos de Geo- nas 10 páginas na segunda parte, junto
grafia Física redigidos por Kant em épo- com os reinos animal, vegetal e mineral.
cas diferentes (p. 63). A última parte, com 58 páginas contem
um conjunto de “curiosidades” sobre os
Os autores serão apresentados por continentes a partir de fontes secundárias,
ordem cronológica, cada um iniciado por de menor interesse.
uma citação do livro em exame, seguido Porém há uma importante contri-
pelo sumário da obra (com tom de cinza) buição conceitual a partir das relações
e concluído com breves comentários do que Kant estabeleceu entre o tempo e o
autor do texto. Deve ser destacada a ra- espaço e entre a Geografia e a História. 2 - A palavra alemã nachlass sig-
ridade dos textos mais antigos e a neces- Seguem algumas citações do autor desta- nifica uma coleção de material reu-
sidade da sua difusão entre os geógrafos cadas na Introdução do livro: nido após a morte do autor.
brasileiros. “[...] é necessário também aprender a co-
nhecer a totalidade dos objetos de nossa ex-
periência a fim que nossos conhecimentos não
2. OS “PAIS FUNDADORES” formem um agregado, mas um sistema, pois
Revista do Programa de Pós-
DA DISCIPLINA ACADÊMI- em um sistema o todo precede as partes. Aqui Graduação em Geografia e do
o todo é o mundo, a cena sobre a qual nós ire- Departamento de Geografia da
CA mos engajar todas as experiências” (p. 67); UFES
“[...] toda experiência estrangeira nos é Janeiro-Junho, 2017 37
2.1 – Immanuel Kant (1724-1804) ISSN 2175 -3709
comunicada seja sob a forma de uma nar- tivos a Cristóvão Colombo e a Américo
ração seja sob a forma de uma descrição. A Vespúcio (407 páginas);
primeira é uma história, a segunda é uma
Tomo 4. (Cont.) I – A primeira via-
Revista do Programa de Pós- geografia”;
gem de Vespúcio comparada à viagem de
Graduação em Geografia e do “[...] nós podemos fixar um lugar a to-
Departamento de Geografia da Hojeda; II – A segunda viagem de Ves-
UFES
dos nossos conhecimentos empíricos seja sob púcio comparada à viagem de Yanez Pin-
Janeiro-Junho, 2017 os conceitos, seja segundo o tempo e o espaço zon (336 páginas);
ISSN 2175 -3709 onde os reencontramos realmente. A divisão
Tomo 5. (Cont.) III – Terceira via-
do conhecimento segundo os conceitos é a di-
3 - Para um maior aprofundamen- gem de Vespúcio; IV – A quarta viagem
to sobre Kant ver o livro organiza- visão lógica, a que é feita segundo o tempo e
de Vespúcio comparada à viagem de
do por Vitte (2014). o espaço é a divisão física. Pela primeira nós
4 - Livingstone (1994, p. 134). Gonzalo Coelho (263 páginas).
obtemos um sistema da natureza (p. 68) [...]
5 - Wulf (2016).
pelo segundo nós obtemos [...] uma descrição
Humboldt foi, sobretudo, um natu-
geográfica da natureza”;
ralista e viajante. Tinha competências
“[...] a história como a geografia podem
em geologia, mineralogia, matemática e
ser chamadas todas as duas uma descrição
astronomia4. Deve ser lembrado que as
[...] a primeira é uma descrição segundo o
obras do autor sobre a América Latina
tempo e a segunda uma descrição segundo o
ficaram conhecidas como Voyage aux ré-
espaço”;
gions équinoxiales du Nouveau Continent
“[...] A história trata dos eventos que
fait em 1799, 1800, 1801, 1802 et 1804,
aconteceram uns após os outros do ponto de
num total de 34 volumes5. O estudo pu-
vista do tempo. A geografia (p. 69) é rela-
blicado em 1835, cujo título começa com
cionada aos fenômenos que se produzem no
a “História da Geografia”, foi escolhi-
mesmo tempo do ponto de vista do espaço” (p.
do pelo destaque que o autor, conhecido
70).
como “Pai da Geografia Física”, deu para
Além da Geografia Física Kant ainda questões da Geografia Histórica, sobre as
comentou no final da Introdução a exis- viagens da “descoberta” do Novo Mundo,
tência de cinco outras geografias: a geo- tendo o mesmo revelado que dedicou 30
grafia matemática; a geografia moral; a anos ao assunto.
geografia política (p. 73); a geografia do
mercado e a geografia teológica (p. 74).
B) Kosmos / Cosmos. Essai d´une des-
Acredito que essa abordagem filosófi-
cription physique du monde (4 tomos)
ca sobre a Geografia (com destaque para
1845/1857
os conceitos de tempo, espaço e sistema)
e a sua dedicação ao ensino da disciplina
En mantenant l´unité de l´espèce humai-
durante décadas, podem nos autorizar a
ne, nous rejetons [...] la distinction désolante
incluir Kant como um dos “pais fundado-
de races superieures et des races inférieures
res” da Geografia acadêmica3.
(Tomo 1, p. 430)
2.2 – Alexander Von Humboldt
Tomo 1. (1845) O Céu, a Terra, A
(1769-1859)
vida orgânica
1ª parte: O céu; 2ª parte: A Terra; 3ª
A) Examen critique de l´Histoire de la
parte: A vida orgânica. A espécie humana
Géographie du Nouveau continent et des
(580 páginas);
progrès de l´Astronomie nautique aux XVe
Tomo 2. (1847) Reflexo do mundo
et XVIe siècles (5 tomos) 1835
exterior na imaginação do homem
1ª parte: Reflexo do mundo exterior
[...] Les recherches historiques que je pu-
na imaginação do homem I – Literatura
blie en ce moment, sont l´extrait d´um travail
descritiva do sentimento da natureza se-
auquel, pendant trente ans, je me suis livré
gundo as raças e os tempos; II – Influên-
[...](Tomo 1, p. x).
cia da pintura da paisagem sobre o estudo
da natureza; 2ª Parte: Ensaio histórico
Tomo 1. Considerações prelimina- sobre o desenvolvimento progressivo da
res. Seção 1ª. Das causas que prepara- ideia de Universo (646 páginas);
ram e levaram a descoberta do Novo
Tomo 3. (1857) Uranologia da des-
Mundo (362 páginas);
crição física do Mundo
Tomo 2. Cont. Das causas que pre-
1ª parte: Introdução à parte uranoló-
pararam e levaram a descoberta do Novo
gica; 2ª parte: Sistema solar. Os planetas e
Mundo (373 páginas);
38 seus satélites. Os cometas. A luz zodiacal
Tomo 3. Seção 2ª. Alguns fatos rela- e os asteróides (758 páginas);

A geografia histórica no contexto da história do pensamento geográfico e suas relações com as ciências Prof. Dr. Pedro de Almeida
humanas Vasconcelos
Paginas 36 a 50
A geografia histórica no contexto da história do pensamento geográfico e suas relações com as ciências Prof. Dr. Pedro de Almeida
humanas Vasconcelos
Paginas 36 a 50

Tomo 4 (1857) Física do Globo. Tomo 5. (1821); Livros 90-95: Cont.


da descrição da África; Livros 96-113:
1ª parte: Dimensão e forma da Terra;
Descrição da América (800 páginas);
2ª parte: Reação do interior da terra con-
tra sua superfície. Exposição Geral (804 Tomo 6. (1826); Livros 114-134:
páginas). Descrição da Europa (774 páginas);
Tomo 7. (1828); Livros 135-155:
Cont. da descrição da Europa (792 pági-
O último trabalho de peso de Hum-
nas);
boldt, considerado como sua obra magna,
de fato é voltada para a “descrição física Tomo 8. (1829); Livros 156-174:
do Mundo”. O tomo 4º é sobre a “Física Cont. da descrição da Europa (948 pági-
do Globo”, enquanto que o terceiro tra- nas).
ta da Astronomia. No tomo 1º a “espécie
humana” está tratada junto com a vida O geógrafo dinamarquês, exilado na
orgânica. Mas deve ser destacado que no França, publicou a primeira Geografia
tomo 2º Humboldt trata do “reflexo do Universal durante 19 anos6, o que teve
mundo exterior na imaginação do ho- continuidade com a produção de Reclus
mem”, momento em que aborda a litera- (1876-1894), pela coleção editada por La
tura sobre a natureza e até a influência da Blache e Gallois (1927-1930) e mais re-
pintura da paisagem sobre o estudo da na- centemente pela editada por Roger Bru-
tureza, além de um estudo histórico sobre net a partir de 1990. Seis volumes foram
a ideia do Universo. Neste sentido, apesar dedicados a descrição dos continentes,
de ser uma obra sobre o que era chamado três dos quais tratam da Europa. Pode
na época de Geografia Física, o autor vai ser destacado que no tomo primeiro, em
além, e também a perspectiva histórica é 21 dos 22 livros, o autor trata da História
destacada. da Geografia, quando afirma que “a geo-
grafia não é ela a irmã e igual à história?
2.3 - Conrad Malte-Brun (1775- Se uma reina sobre todos os séculos, a outra
1826) não abraça todos os lugares?” (Tomo 1, p.
1-2). No segundo tomo 23 dos 45 livros
são dedicados ao exame da terra, seguido
Précis de la Géographie Universelle (8
pelo exame da distribuição dos vegetais,
tomos) 1810/1829
dos animais e do “homem físico”. Um li-
vro destaca o homem como ser moral e
L’usage a consacré, en quelque sorte, une
político o que o autor denomina de “Ge-
triple partition de la science [...]; on com-
ografia Política”.
prend dans la Géographie ancienne tout
ce qui est antérieur à l’an 500 de J. C. ou
2.4 – Karl Ritter (1779-1859)
à la grande migration des peuples; la Gé-
ographie du moyen âge, descend jusqu’à la
découverte de l’Amérique; le reste est regardé Erdkunde / La géographie générale
comme le domaine de la Géographie moderne comparée (1818; 1852)
(Tomo 1, p. 8).
Eratóstenes de Cyrene é o pai da geogra-
Tomo 1. (1810); Livro 1: Sobre o es- fia astronômica; Heródoto e Estrabão estão
tudo da Geografia em geral ...; Livros na origem da história geográfica e da geogra-
2-22: História da Geografia; (548 pági- fia histórica (1818, p. 55)
nas) ;
Tomo 2 ; (1810); Livros 23-41: Teo- Introdução à Geografia Geral Com-
ria da Geografia. Da Terra ...; Livro 42: parada. Ensaios sobre os fundamentos
... Da distribuição dos vegetais; Livro 43: de uma geografia científica (p. 37/189) -
... Da distribuição geográfica dos animais; 1852 6 - Ver comentários sobre as cida-
Livro 44: ... Do Homem Físico; Livro 45: Prefácio (p. 37/38) – 1852 des por Malte-Brun em Vasconcelos
1. Ensaio de geografia geral compa- (2012, p. 32-34)
... Do Homem considerado como ser mo-
ral e político, ou Princípios da Geografia rada: Introdução (p. 41/80) - 1818
Política (662 páginas); 1ª Parte: As formas sólidas ou conti-
Tomo 3. (1811); Livros 46-66: Des- nentes (p. 49/50);
crição da Ásia (617 páginas); 2ª Parte: As formas fluidas ou ele-
Revista do Programa de Pós-
Tomo 4. (1813); Livros 67-73: Cont. mentos (p. 51/52); Graduação em Geografia e do
da descrição da Ásia; Livros 74-79 Des- 3ª Parte: Os corpos dos três reinos da Departamento de Geografia da
crição da Oceania; Livros 80-89: Descri- natureza (p. 53/80) UFES
Janeiro-Junho, 2017 39
ção da África (710 páginas); 2. Generalidades sobre as formas só-
ISSN 2175 -3709
lidas da crosta terrestre (p. 80/102); [...] Estudo da Geographia [...] será im-
3. Discursos apresentados à Aca- possível poder tomar parte nos acontecimen-
demia Real das Ciências de Berlim co- tos da Historia dos Povos, sem o conhecimen-
Revista do Programa de Pós- locando os fundamentos da geografia to desta tão bela sciencia (p. ii)
Graduação em Geografia e do
científica (p. 103/189)
Departamento de Geografia da
UFES 3.1 – Da posição geográfica e da ex- Prefacção (i/iii)
Janeiro-Junho, 2017 tensão dos continentes (p. 103/119) – Introducção (iii/v)
ISSN 2175 -3709 1826; 1a Parte: Geographia Astronómica
7 -Capel, 1988, p. 44. 3.2 – Observações sobre os meios que (1/42)
8- Ritter e Humboldt faleceram em servem para ilustrar as relações espaciais 2a Parte : Geographia Fizica, e
1859, ano da publicação da im-
portante obra de Darwin (BECK,
pela forma e o número nos casos das re- Politica (43/53)
1979). Livingstone (op. cit.) coloca presentações gráficas (p. 118/132) – 1828; Europa (54/199)
os dois autores antes dos fundadores 3.3 – Do fator histórico na geografia Azia (200/250)
da disciplina. enquanto ciência – (p. 132/151) – 1833; Africa (251/298)
9- Na Internet encontramos infor-
3.4 – A terra, fator de unidade entre America (299/509)
mações sobre as datas de nascimen- a natureza e a história nos seus produtos [Brazil] (389/505)
to e falecimento, e que o autor foi dos três reinos da natureza ou: de uma
Presidente das Províncias do Rio ciência dos produtos da natureza em geo- É impressionante que tenhamos um
Grande do Norte (1833-1836) e
da Paraíba (1836-1838).
grafia (p. 151/165) – 1836; livro publicado em Londres, por um bra-
3.5 – Da organização do espaço na su- sileiro, sobre a Geografia em 1823. O au-
perfície do globo e do seu papel no curso tor ofereceu o mesmo “à mocidade brasilei-
da história (p. 166/189) – 1850. ra” e informou apenas que era “Natural de
Olinda”9. Na Prefacção o autor apresenta
Ritter era naturalista e foi o primei- “ [...] este pequeno Tractado de Geographia,
ro professor da cátedra de Geografia na que collegi dos melhores autores modernos
Universidade de Berlim, em 1820. No [...]” e quanto ao Brasil “para cuja descrip-
Prefácio da edição do seu livro de 1852 ção me servi da corographia do Reverendo
Ritter informou que foram incorporados Ayres, e de algumas informações de pessoas
na nova edição cinco textos que estavam fidedignas” (p. i)”. Concluiu que “He de la-
esgotados. A segunda edição do livro em mentar, porém, que em o nosso idioma não
1822 incluiu os textos sobre a África. Os tinhámos hum só volume de Geographia, ca-
volumes seguintes (18 do total de 20) fo- paz de servir de guia aos principiantes [...]”
ram dedicados à Ásia7. Ritter estava mais (p. ii-iii). Quando tratou de Portugal,
voltado para o estudo da natureza. informou que o “[...] Príncipes do Brazil,
Nas suas conferências posteriores, aonde presentemente reside o Rei, cuja Cor-
entretanto, ele avançou em outras ques- te he na Cidade do Rio de Janeiro” (p. 63).
tões. Por exemplo, em 1833 ele afirmou Quando escreveu sobre o Brasil, porém,
“A ciência das relações terrestres espaciais [a informou que “aos 26 de Fevereiro de 1821,
Geografia] necessita [...] de uma dimensão El Rei jurou a Constituição, e se retirou com
temporal ou quadro cronológico assim como a família Real outra vez para Portugal; dei-
a ciência das relações terrestres temporais [a xando o Principe Real, como Regente Cons-
História] necessita de um teatro ou quadro titucional do Brazil [...]” (p. 393), ou seja,
espacial onde estas relações foram necessaria- o livro foi escrito antes da independência
mente tecidas” (p. 132), ou ainda “Porém a do Brasil.
ciência geográfica não pode igualmente ser
privada do fator histórico se ela pretende 3. GEÓGRAFOS CLÁSSICOS
ser uma verdadeira disciplina das relações
terrestres espaciais [...]” (p. 133). Deve ser 3.1 - Elisée Reclus (1830-1905)
destacado o uso da noção de relações, e
o tratamento da Geografia como uma ci- A) Nouvelle Géographie Universelle.
ência. Deve também ser lembrado que K. La terre et les hommes (19 tomos) 1876-
Marx e E. Reclus foram alunos de Ritter 1894
segundo G. Nicolas-Obadia (1974)8.
Tomo 1: A Europa meridional (1876)
[Bazilio Quaresma Torreão (1787- 1.007 p.; Tomo 2: A França (1877) 959 p.;
1867)] Tomo 3: A Europa central (1878) 979 p.;
Tomo 4: Europa do Noroeste (1879) 970
Compendio de Geographia Universal, p.; Tomo 5: A Europa escandinava e russa
rezumido de diversos authores (1824) (1880) 941 p.;
40
Tomo 6: A Ásia russa (1881) 918

A geografia histórica no contexto da história do pensamento geográfico e suas relações com as ciências Prof. Dr. Pedro de Almeida
humanas Vasconcelos
Paginas 36 a 50
A geografia histórica no contexto da história do pensamento geográfico e suas relações com as ciências Prof. Dr. Pedro de Almeida
humanas Vasconcelos
Paginas 36 a 50

p.; Tomo 7: Ásia oriental (1882) 884 p.; chineses; Descoberta da Terra; Renasci-
Tomo 8: A Índia e a Indochina (1883) mento; Reforma e Companhia de Jesus;
982 p.; Tomo 9: Ásia anterior (1884) 951 Colônias; O Rei Sol; O Século XVIII; A
p.; Revolução; Contra revolução; As nacio-
Tomo 10: A África setentrional I nalidades; Negros e moujiks; Internacio-
(1885) 632 p.; Tomo 11: A África se- nal;
tentrional II (1886) 915 p.; Tomo 12: A Tomo 4: História contemporânea.
África Ocidental (1887) 747 p.; Tomo 13: Posfácio (448 páginas)
A África meridional (1888) 878 p.; Povoamento da terra; Repartição dos
Tomo 14: Oceano e Terras oceânicas homens; Latins e germânicos; Russos e
(1889) 994 p.; asiáticos; A Inglaterra e seu cortejo; O
Tomo 15: América boreal (1890) 721 Novo Mundo e a Oceania; O Estado
p.; Tomo 16: Estados Unidos (1892) 816 Moderno; A cultura e a propriedade; A
p.; Tomo 17: Índias Ocidentais (1891) indústria e o Comércio; a Religião e a Ci-
932 p.; Tomo 18: América do Sul (Re- ência; Educação; Progresso.
giões andinas) (1893) 847 p.; Tomo 19:
América do Sul (A Amazônia e o Prata) Logo no Prefácio Reclus escreveu que
(1894) 821 p. “[...] depois de ter escrito as últimas linhas de
um longo trabalho, a Nouvelle Géographie
Reclus foi aluno de Geografia de Rit- universelle, eu exprimi minha vontade de
ter na Universidade de Berlim. Por suas poder um dia estudar o Homem na sucessão
ideias anarquistas viveu grande parte da de épocas como eu tinha observado nas diver-
sua vida no exílio10. Após 66 anos da edi- sas áreas do globo e estabelecer as conclusões
ção do 1º tomo da obra de Malte-Brun sociológicas as quais eu tinha sido conduzido”
e 47 anos após o último número, Reclus (1, p. 5)12. Essa última produção do au-
começou a gigantesca produção indivi- tor, de fato é bem mais crítica que a obra
dual da Nouvelle Géographie Universelle, anterior e trata das questões importantes
com a edição de um volumoso exemplar como as classes sociais, as indústrias e as
por ano ao longo de 19 anos. Ao contrário cidades. Quando comenta a Comuna de
do geógrafo dinamarquês, Reclus, além de 1871, por exemplo, ele afirmou que “uma
utilizar fontes secundárias, foi um grande minoria somente compreendia que teria sido
viajante, tendo inclusive visitado o Brasil. necessário proceder com método à destruição
O governo brasileiro traduziu para o por- de todas as instituições do Estado [...]” (3,
tuguês parte do último volume, que trata p. 704). Deve ser destacado que o livro é
da América do Sul11. apresentado como Geografia Histórica,
com os títulos dos tomos iniciados com a
B) L´homme et la Terre (4 tomos) 1905 palavra “História”.

Vue de haut, dans ser rapports avec 3.2 – Friedrich Ratzel (1844-1904)
l´Homme, la Géographie n´est autre chose
que l´Histoire dans l´espace, de même que A) Antropogeografia / Geografia
l´Histoire est la Géographie dans le temps dell´Uomo (1882)
10 -Sobre Reclus ver Andrade
(Tomo 1, p. 11). (1985) e Chardack (1997).
[...] que a história não pode ser compre-
Tomo 1. Prefácio. Os Ancestrais (206 endida sem o território onde ela se desenvol- 11- Ver também comentários sobre
páginas) ve, e que a geografia de qualquer parte da as cidades efetuadas por Reclus em
Vasconcelos (op. cit., p. 61-64).
Origens; Meios telúricos; trabalho; Terra não pode ser representada sem conhecer
povos atrasados; famílias, classes, hordas; a história que imprimiu sobre esta suas pega- 12- O comentador Pelletier (2010,
Tomo 2. História antiga (489 pági- das (1990, p. 90). p. 10-11) informou que a editora
nas) Hachette, teria exigido a Reclus
“não comentar suas opiniões po-
Irânia; Caucásia; Potâmia; Fenícia; Introdução – A unidade da vida e a líticas” na Nouvelle Geographie
Palestina; Egito, Líbia, Etiópia; Grécia; biogeografia (1/10) Universelle.
Ilhas e costas helênicas; Roma; Oriente 1ª Parte – Tarefa e método da geo-
chinês; Índia; Mundos longínquos; grafia do homem (13/107)
Tomo 3. História moderna (727 pá- 2ª Parte – O movimento histórico
ginas) (111/206)
Cristãos; Bárbaros; A segunda Roma; 3ª Parte – Posição e amplitude Revista do Programa de Pós-
Graduação em Geografia e do
Árabes e berberes; Carolíngios e norman- (209/256) Departamento de Geografia da
dos; Cavaleiros e cruzados; Comunas; 4ª Parte - Os limites do povo UFES
Monarquias; Mongóis, turcos, tártaros e (259/313) Janeiro-Junho, 2017 41
ISSN 2175 -3709
5ª Parte - A superfície terrestre fia: “Descrever os movimentos da humani-
(317/465) dade sobre a terra e formular as leis” (p. 89).
6ª Parte - O mundo orgânico Define a situação como “a característica
Revista do Programa de Pós- (469/527) de um lugar ou país em relação aos outros”
Graduação em Geografia e do (p.129), ou seja, para ele um país pode
7ª Parte - O clima (531/578).
Departamento de Geografia da
UFES ser um lugar. Quando trata do espaço,
Janeiro-Junho, 2017 Ratzel era naturalista e geógrafo, com ele lembra que “A extensão de um Estado
ISSN 2175 -3709 doutorado em Zoologia. Foi também [...] depende do espaço dado à cada época da
13 - Ver Moraes (1990). um grande viajante13. Deve ser destacado História (p. 142). Quanto à História ele
14- Capel (op. cit., p. 328). Ver
também o livro de Costa; Pereira que o subtítulo do seu principal livro era: afirma que assim como a vida a História é
e Ribeiro (2012) sobre La Blache. Princípios de aplicação da ciência geográfica movimento (p. 89). O conceito de espaço
à história. O principal interesse de Ratzel é destacado.
nesse livro era o de construir “[...] uma ci-
ência que estude a difusão do homem sobre 3.3 - Paul Vidal de La Blache
a Terra” (1914, p. 9), que “[...] a geogra- (1834-1918)
fia do homem tem em comum com as ciências
naturais o método científico [...]” (1990, p. A) Tableau de la Géographie de la
101). Por outro lado ele também afirmou France (1903)
“consideramos a geografia e a história da
humanidade como ciências irmãs, do mesmo L´histoire d´un peuple est inséparable de
modo que a geografia e a geologia” (1990, p. la contrée qu´il habite (1994, p. 15).
85). Para tanto continuou: “[...] no estudo
antropogeográfico nos encontramos diante de Prefácio (15/16)
um fato cujas condições atuais não bastam 1ª Parte. Personalidade Geográfica
para explicar, então é necessário voltar os da França (17/89)
olhos ao passado e buscar aí as causas que o 2ª Parte. Descrição regional (91/534)
presente não nos revela” (p. 100). Podemos Livro 1 – A França do Norte (93/338)
destacar, portanto, as referências, a Geo- I – Ardenas e Flandres; II - A bacia
grafia como ciência (e ao método científi- parisiense; III – A região do Reno;
co), especificamente a biogeografia, assim Livro 2 – Entre os Alpes e o Oceano
como o interesse pelos movimentos dos (339/440)
povos. I – Os vales da Saone e do Ródono;
II – O Maciço Central;
B) Politische Geographie / La Géogra- Livro 3 – O Oeste (441/482)
phie politique (1897) Livro 4 – O Midi (483/534)
I – O Midi mediterrâneo; II – O Midi
[...] a geografia política [...] estuda a re- dos Pirineus; III – O Midi Oceânico;
partição política dos espaços em cada período Conclusão (535/547).
da História e se vincula mais particularmen-
te à época moderna (1987, p. 146). La Blache, doutor em História. Foi
professor catedrático de Geografia em
Prefácio (53/56) Nancy (1872) e em Paris (1898)14. Esse
1ª Parte – A ligação entre o solo e o livro é um exemplo clássico dos textos
Estado (57/85) escritos por geógrafos para introduzir os
2ª Parte – O movimento histórico e o estudos históricos. No caso o texto de La
crescimento dos Estados (87/115) Blache corresponde ao volume primeiro-
3ª Parte – O crescimento espacial dos da coleção Histoire de la France depuis les
Estados (117/125) origines jusqu´à la Révolution, dirigida pelo
4ª Parte – A situação (127/138) historiador Ernest Lavisse, e publicada
5ª Parte – O espaço (139/169) nos anos 1903 a 1922. Nesse sentido é um
6ª Parte - O mundo da água (171/187) trabalho eminentemente geográfico e não
7ª Parte – Montanhas e planícies histórico e a geografia regional começa a
(189/199) superar as geografias universais.
Cap. 25 – Relevo e história
B) La France de l´Est (1917)
Nesse segundo livro de Ratzel, o ele-
mento central é o Estado, porém visto J´ai donc cherché à suivre dans le détail
“como organismo ligado a uma fração deter- et à travers la mobilité des faits quotidiens,
42 minada da superfície da terra [...]” (p. 61). l´evolution de la contrée. J´ai recouru pour
Ratzel retoma a objeto da antropogeogra- cela aux documents d´archives [...] (p. 4)

A geografia histórica no contexto da história do pensamento geográfico e suas relações com as ciências Prof. Dr. Pedro de Almeida
humanas Vasconcelos
Paginas 36 a 50
A geografia histórica no contexto da história do pensamento geográfico e suas relações com as ciências Prof. Dr. Pedro de Almeida
humanas Vasconcelos
Paginas 36 a 50

p. [M. Sorre]; Tomo 15: América do Sul


Prefácio (1/7) (1927) 209 p. + 479 p. [P. Denis].
1ª Parte. A formação da França do
Leste (9/60) O trabalho individual de Malte-Brun
2ª Parte. A revolução e o estado so- e de Reclus em suas Geografias Univer-
cial (61/105) sais passou a ser tratado agora por uma
3ª Parte. Evolução industrial equipe de geógrafos (e de outras discipli-
(107/192) nas), em um número menor de volumes
4ª Parte. Europa Ocidental e Europa que os de Reclus, e, sobretudo, volumes
Central (193/242) com dimensões menores. A publicação é
5ª Parte. As possibilidades do merca- posterior a morte de La Blache15.
do francês (243/261)
Conclusão (263/265) 3.5 - Richard Hartshorne (1899-
1992)
A abordagem da região do leste da
França é eminentemente histórica, com Perspectives on the Nature of Geogra-
ênfase nas transformações ocorridas após phy / Propósitos e Natureza da Geografia
a revolução francesa, e, sobretudo, sobre as (1959)
transformações causadas pela industriali-
zação da região. O contexto da época, [...] Todos os trabalhos geográficos deve-
durante a Primeira Guerra Mundial tam- rão ser históricos, em maior ou menor grau.
bém é importante, considerando que boa (1978, p. 189).
parte da referida região estava sob ocupa-
ção alemã. O autor, porém, trata de outros Palavras preliminares (1/12)
assuntos que extrapolam o tema do livro. Cap. 1 – O que se entende por Ge-
ografia como o estudo da diferenciação
3.4 - Paul Vidal de La Blache; Lu- de áreas (13/22)
cien Gallois [Dir.] (1857 -1941) Cap. 2 – O que se entende por “su-
perfície da Terra”? (23/27)
Géographie Universelle (15 tomos) Cap. 3 – É a integração de fenôme-
1927-1939 nos heterogêneos uma peculiaridade da
Geografia? (28/38)
Tomo 1: [Europa] Ilhas Britânicas Cap. 4 – Qual a medida da “signifi-
(1927) 320 p.; Tomo 2: Bélgica, Países cância” em Geografia? (39/51)
Baixos, Luxemburgo (1927) 250 p. [A. Cap. 5 – Devemos distinguir en-
Demangeon]; Tomo 3: Estados escandi- tre fatores humanos e fatores naturais?
navos. Regiões polares boreais (1933) 328 (52/69)
p. [M. Zimmermann]; Tomo 4: Europa Cap. 6 – A divisão da Geografia em
central (1931) 379 p. + 845 p. [E. de Mar- campos tópicos – O dualismo entre a
tonne]; Tomo 5: Estados do Báltico. Rús- Geografia Física e a Geografia Humana
sia (1932) 355 p. [P. Camena d´Almeida]; (70/86)
Tomo 6: A França (1939) 463 p. [E. de Cap. 7 – Tempo e gênese em Geogra-
Martonne] + 459 p. + 899 p. [A. Deman- fia (87/114)
geon]; Tomo 7: Mediterrâneo. Penínsulas Cap. 8 – Divide-se a Geografia em
mediterrâneas (1934) 231 p. [M. Sorre] + “sistemática” e “regional”? (115/154)
597 p. [ J. Sion; Y. Chataigneau]; Cap. 9 – Procura a Geografia formu-
Tomo 8: Ásia Ocidental. Alta Ásia lar leis científicas ou descrever casos in-
(1929) 394 p. [R. Blanchard; F. Grenard]; dividuais? (155/181)
Tomo 9: Ásia das Moções (1929) 263 p. + Cap. 10 – O lugar da Geografia numa
548 p. [ J. Sion]; classificação das ciências (182/192) 15 - Ver comentários sobre as cida-
Tomo 10: Oceania. Regiões polares Palavras finais (193/194). des nessas obras em Vasconcelos (op.
austrais (1930) 368 p. [P. Privat-Descha- cit., p. 122-147).
nel; M. Zimmermann]; O geógrafo norte americano, com
Tomo 11: África setentrional e oci- doutorado na Universidade de Chicago
dental (1939) 284 p. + 529 p. [A. Ber- em 1924, publicou The Nature of Geogra-
nard]; Tomo 12: África equatorial, orien- phy em 1939. No livro de 1959 confirmou
tal e austral (1938) 398 p. [F. Maurette]; a Geografia como “a ciência da diferencia- Revista do Programa de Pós-
Tomo 13: América setentrional Graduação em Geografia e do
ção de áreas” (p. 13), defendendo o exame Departamento de Geografia da
(1936) 315 p. + 639 p. [H. Baulig]; Tomo do único e do particular, e dedicou um dos UFES
14: México. América Central (1928) 234 capítulos do seu livro às questões do tem- Janeiro-Junho, 2017 43
ISSN 2175 -3709
po e da gênese na Geografia. Ele conside- L´histoire, science du concret, seis anos antes
rou a Geografia Histórica como “estudo do do seu livro sobre a Geografia.
caráter mutável das áreas através do tempo”
Revista do Programa de Pós- (p. 111) e que “A descrição explanatória de 4. RELAÇÕES COM A HIS-
Graduação em Geografia e do relações individuais pode exigir a análise de
Departamento de Geografia da TÓRIA: LUCIEN FEBVRE E
UFES relações de processos que remontem conside-
Janeiro-Junho, 2017 ravelmente ao passado” (p. 114). Porém ele FERNAND BRAUDEL
ISSN 2175 -3709 observou que “os estudos que visam explicar
a História em termos de Geografia”, deve- 4.1 – Lucien Febvre (1878-1956)
16 - Sobre o debate entre Schaeffer
e Hartshorne ver Peet (op. cit.). riam ser chamados de “História Geográfica”,
17 - Claval, 1979. e faziam parte da História (p. 108)16. La Terre et l´évolution humaine (1922)

3.6 – Eric Dardel (1902-1985) En fait [...] tout historien composant


comme c´était l´usage, une histoire nationale
L´homme et la terre. Nature de la réa- [...] met en tête de son livre un « tableau gé-
lité géographique (1952) ographique » (p. 21).

Si la Géographie comme réalité terrestre Introdução – O problema das influ-


est le “lieu” de l´histoire [...] les géographies ências geográficas (11/42)
comme conceptions du monde environnant 1ª Parte: Como colocar o problema.
portent témoinage des époques successives A questão de método (49/101)
où elles étaient l´image admise de la Terre Cap. 2 – A questão de princípio e o
(1990, p. 63). método da pesquisa. Evolução humana,
evolução histórica.
Cap. 1 – O espaço geográfico (1/62) 2ª Parte: Quadros naturais e socie-
1 – Espaço geométrico, espaços geo- dades humanas (105/185)
gráficos (2/9) 3ª Parte: Possibilidades e gêneros de
2 – Espaço material (9/19) vida (189-317)
3 – O espaço telúrico (19/26) 4ª Parte: Grupamentos políticos e
4 – Espaço aquático (26/31) grupamentos humanos (323/386)
5 – Espaço aéreo (32/36) Conclusões (387/398)
6 – Espaço construído (36/41)
7 – A paisagem (41/45) Este historiador foi aluno de La Bla-
8 – Existência e realidade geográfica che17 e um dos fundadores da École des
(46/62) Annales, e nesse livro procurou defender
Cap. 2 – História da Geografia a nossa disciplina, da tentativa dos soci-
(63/124) ólogos discípulos de Durkheim, da am-
1 – A Geografia mítica (64/91) bição de incorporar a Geografia Humana
à Morfologia Social. Nessa defesa Febvre
2 – A Terra na interpretação profética
afirmou que “A morfologia social não é nem
(91/98)
pode ser equivalente à geografia humana” (p.
3 – A Geografia heroica (98/108)
95), e propôs a distinção entre “determinis-
4 – A Geografia de vento pleno
tas à Ratzel” e “possibilistas à Vidal” (p. 31),
(109/115)
tendo atacado o livro Geografia Política
5 – A Geografia científica (115/124)
de Ratzel como “uma espécie de manual
Conclusão (125/133)
do Imperialismo alemão” (p. 53). Afirmou
também que “Quem estuda a Geografia dos
Dardel foi um dos primeiros geógra-
Estados considerados na sua evolução histó-
fos a trazer a visão fenomenológica para
rica, não deve se interessar apenas [...] pela
a Geografia. Ele afirmou na página 35:
sua política exterior” (p. 100). Ele também
“Assim a geografia autoriza uma fenomeno-
destacou a definição de Vidal de La Bla-
logia dos espaços [...]” e continua: “o espaço
che de que a Geografia seria “a ciência dos
concreto da geografia nos liberta do espaço,
lugares e não dos homens” (p. 75).
do espaço infinito, inumano do geômetra ou
do astrônomo” (p. 35). A Geografia para
4.2 – Fernand Braudel (1902-1985)
ele era também “Temporalização de nosso
meio ambiente terrestre, espacialização da
Grammaire des Civilizations (1963)
nossa finitude” (p. 54). Ele afirmou ainda
que “A Terra é o desafio (enjeu) da Histó-
A civilização se define em relação às di-
44 ria” (p. 128). É importante destacar que
versas ciências humanas (1989, p. 31): são
Dardel tinha publicado em 1946 o livro

A geografia histórica no contexto da história do pensamento geográfico e suas relações com as ciências Prof. Dr. Pedro de Almeida
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Paginas 36 a 50
A geografia histórica no contexto da história do pensamento geográfico e suas relações com as ciências Prof. Dr. Pedro de Almeida
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espaços; são sociedades; são economias; são e modelos na explicação em geografia


mentalidades coletivas (p. 31-42). (103/189)
4ª Parte: A linguagem dos modelos
À guisa de prefácio (13/16) na explicação geográfica (191/294)
Introdução (17/21) 5ª Parte: Modelos descritivos em ge-
I - Gramática das Civilizações ografia (295/387)
(25/55) 6ª Parte: Modelos explicativos em
II - As civilizações não-europeias geografia (389/481)
(57/282) Cap. 21 – Tipos de explicação tempo-
1ª Parte. O Islã e o Mundo Muçulma- ral em geografia.
no (61-123)
2ª Parte. O Continente Negro O livro de David Harvey Explanation
(127/156) in Geography, de 1969, é um exemplo do
3ª Parte. O Extremo Oriente afastamento da Geografia Histórica pe-
(159/282) los autores da Geografia Neopositivista.
III – As civilizações europeias Apenas um capítulo do livro, o 21, com
(283/506) 24 páginas, traz uma discussão sobre o
1ª Parte. A Europa (287/382) tempo e as explicações temporais. Har-
2ª Parte. A América (385/463) vey comentava que “Quase todas nossas
3ª Parte. A outra Europa (468/506) noções do tempo estão relacionadas com mo-
delos a priori (são intuitivos e subjetivos), se
os comparamos com os modelos a posteriori,
Braudel o principal líder da Ecole des
que oferecem à física e a astronomia. O uso
Annales e foi orientando de Febvre. O
destes modelos a priori requer o cuidado e a
livro sobre as civilizações de Braudel de-
“vigilância continua” usuais (p. 419). O au-
monstra a análise de diferentes espaços
tor ainda criticava: “a narrativa está longe
por um historiador. De fato, a relação do
de ser ideal enquanto rigor, coerência e lógica
autor com a Geografia é múltipla: pode-
e consequentemente é deficiente como forma
mos destacar o fato de ele ter colocado o
de descrição. Seu papel explicativo resulta
mar Mediterrâneo como tema principal
débil e incidental“ (p. 423). A afirmação
da sua tese de 1949; a sua proposta da
científica da Geografia Neopositivista foi
Geohistória é dos anos 1940: “O geógra-
realizada, portanto, em detrimento das
fo trabalha então sobre o atual [...] sobre o
questões históricas.
mundo tal qual ele é [...] tentar transpor este
trabalho no passado [...] este é o programa
da Geohistória”18; e sua proposta, em 1958, 6. A ÊNFASE NA MUDANÇA
da dialética da duração em tempos breves SOCIAL NA GEOGRAFIA
(eventos), conjunturas e longa duração, CRÍTICA
dominada pelas questões de estrutura,
quando destaca a “surpreendente fixidez do 6.1 – Massimo Quaini (1941- )
marco geográfico das civilizações”19.
Marxismo e Geografia (1974)
5. A GEOGRAFIA NEOPO-
SITIVISTA ABANDONA A [...] método da economia política [...]
HISTÓRIA20 Este método baseia-se na união entre ciência
e história: a passagem do presente ao passado
David Harvey (1935 - ) e portanto o método da abstração histórica 18 - Braudel, 1997, p. 86-87.
articula-se ao chamado método regressivo (p. 19 - Idem, 1986, p. 14.

Explanation in Geography / Teorias, 19). 20- Quando Capel comentou o Ne-


opositivismo e a Geografia Quan-
leyes y modelos en geografia (1969) titativa ele declarou que “Na busca
1: Crise da geografia (11/23) da ordem espacial subjacente a
A narrativa histórica exerce, portanto, 2: Filosofia e geografia (25/35) história está praticamente ausente”
3: Materialismo histórico e geogra- (op. cit., p. 393).
o mesmo papel nas relações temporais que o
mapa nas relações espaciais (p. 422). fia (37/64)
4: Das “sociedades naturais” à “socie-
1ª Parte: Filosofia, metodologia e ex- dade histórica” (65/124)
plicação (25/46) 5: Capitalismo e contradições ecoló- Revista do Programa de Pós-
2ª Parte: A base metodológica e a ex- gicos-territoriais (125/145) Graduação em Geografia e do
Departamento de Geografia da
plicação em geografia (47/101) UFES
3ª Parte: O papel das teorias, leis O geógrafo italiano criticou a geogra- Janeiro-Junho, 2017 45
fia pela sua “alma dualista”: o determi- ISSN 2175 -3709
nismo e o possibilismo e o naturalismo Paris, Capital of Modernity (2003)
e historicismo. Ele propôs a utilização
do materialismo histórico “enquanto teo- [...] the methodology of historical-geo-
Revista do Programa de Pós- ria científica que supera a dissociação entre graphical materialism, with I have for seve-
Graduação em Geografia e do
Departamento de Geografia da
natureza e história” (p. 22-23). Quaini fez ral years envolving [...] provides, I believe, a
UFES a distinção entre as sociedades pré-capi- powerful means to understand the dynamics
Janeiro-Junho, 2017 talistas na qual predominaria a proprie- of urban change in a particular place and
ISSN 2175 -3709 dade fundiária e a sociedade capitalista time (p. 19).
21 - Peet considera o trabalho de cujo domínio seria do capital (p. 67). Nas
Milton Santos como “[...] a kind primeiras prevaleceria a relação com a na- Introdução: modernidade como um
of dialectical-existencial structura- tureza (p. 69). Quanto às sociedades capi-
lism” (op. cit., p. 127).
freio (1/20)
22 - A palavra italiana coda cor- talistas o autor informou que Marx “não 1ª Parte: Representações de Paris
responde à seção final de uma mú- separa as contradições da natureza-território 1830-1848 (23/89)
sica. das contradições da sociedade-força de traba- 2ª Parte: Materializações: Paris
lho” (p. 131) 1848-1870 (93/308)
3ª Parte: Coda22 (311/340)
6.2 - Milton Santos (1926-2001) Cap. 18 – A construção da Basílica do
Sacré-Coeur
Por uma Geografia Nova. Da crítica da
Geografia a uma Geografia crítica (1978) De fato, no seu livro publicado em
1973, A Justiça Social e a Cidade, Harvey
[...] A noção do tempo nos estudos geo- informou sua mudança de paradigma,
gráficos não é coisa nova, tanto a geografia quando abandonou as “Formulações libe-
histórica quanto a geografia retrospectiva rais” para aderir as “Formulações Socialis-
[...] não foram além da apresentação de pro- tas”. No livro A Condição Pós-Moderna, de
blemas sem lhes fornecer uma solução aceitá- 1989, ele defendeu o materialismo histó-
vel (p. 203). rico e criticou o pós-modernismo. Porém
a metodologia do materialismo histórico-
Introdução (1/9) -geográfico serviu, como ele procurou de-
1ª Parte: A crítica da Geografia monstrar, no estudo da cidade de Paris no
(11/93) século XIX.
2ª Parte: Geografia, Sociedade, Es-
paço (97/152) 7.PÓS-MODERNIDADE
3ª Parte: Por uma Geografia Crítica
(156/212) E O FIM DA HISTÓRIA
Cap. 18 – A noção do tempo nos estu- E DO ESPAÇO
dos geográficos
Conclusão: A geografia e o futuro do 7.1 - Bertrand Badie (1950- )
homem (213/219)
La fin des territoires (1995)
Na sua proposta por uma Geografia
Nova Milton Santos começou o livro com Le territoire a une histoire, tout comme
uma critica que vai desde os fundadores le príncipe de territorialité qui en derive [...]
da disciplina até a geografia empirista. Na (p. 73)
segunda parte foi destacado o conceito de
espaço. Na terceira parte, ele propôs uma Introdução (7-14)
Geografia Crítica, com destaque para as 1ª Parte: Uma invenção entre outras
noções de totalidade e formação social. (15-70)
Nessa última parte ele tratou do tempo, Cap. 1 – Antecedentes pesados
lembrando da necessidade da periodiza- Cap. 2 – A lenta ascensão do princípio
ção, e definiu o espaço como uma “acumu- da territorialidade
lação desigual dos tempos” (p. 209), propôs Cap. 3 – A ordem territorial reina so-
a noção de “tempo espacial” (p. 210) e bre o mundo
concluiu definindo o lugar como “o resul- 2ª Parte: Crises múltiplas (71-171)
tado de ações multilaterais que se realizam
Cap. 4 – Culturas do espaço e cultura
em tempos desiguais sobre cada um e em todos
do território
os pontos da superfície terrestre” (p. 211)21.
Cap. 5 – O paradoxo identitário
Cap. 6 – A decomposição dos terri-
46 6.3 – David Harvey
tórios
3ª Parte: Além dos territórios (173-
A geografia histórica no contexto da história do pensamento geográfico e suas relações com as ciências Prof. Dr. Pedro de Almeida
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252) 8.1 – Robert D. Kaplan (1952 - )


Cap. 7 – Algumas falsas ultrapassa-
gens The Revenge of Geography / La revan-
Cap. 8 – Da recomposição che de la géographie (2012)
Conclusão Geral (253-258)
Nul besoin d´être déterministe pour avoir
Após Fukuyama com seu livro sobre o conscience que la géographie est d´une impor-
fim da História de 1989, o cientista polí- tance vitale (p. 21).
tico Bertrand Badie propôs discutir o fim
dos territórios. Destacamos sua afirmação Prefácio: As fronteiras (13/25)
de que “A desordem territorial está então 1ª Parte: Os visionários (27/209)
ligada, ao mesmo tempo, as pressões iden- Cap. 1 – Do idealismo ao realismo
titárias e aos efeitos da mundialização” (p. (29/59)
214), levando a conclusão de que “O es- Cap. 2 – A revanche da geografia
paço geográfico constitui cada vez menos um (61/83)
fator de potência justificando o investimento Cap. 3 – As lições da Antiguidade
de meios custosos destinados à ampliá-lo [...]” (85/114)
(p. 156-157). O conceito de território é Cap. 4 – A Eurásia no centro de todas
central e a nossa disciplina desta vez é ata- as lutas (115/140)
cada por um cientista político. Cap. 5 – A geopolítica ao serviço dos
nazistas (141/153)
7.2 - Edward W. Soja (1940-2015) Cap. 6 – O nascimento da potência
americana (155/173)
Postmetropolis. Critical Studies of Ci- Cap. 7 – O mar, nervo da guerra
ties and Regions (2000) (175/188)
Cap. 8 – A crise da saturação
[...] Part 1 [...] contein a broadbrush (189/209)
tracing what I purposefully call the geohis- 2ª Parte: O mapa do século XXI
tory of cities and urbanism from 11,000 ye- (210/457)
ars ago to the present (p. xv). Cap. 9 – Do Império carolíngio à
União Europeia (213/239)
Prefácio (xii/xiii) Cap. 10 – O complexo russo (241/286)
1ª Parte: Remapeando a Geohistória Cap. 11 – O sonho chinês (287/343)
do Espaçourbano (1/144) Cap. 12 – A Índia entre dois mundos
2ª Parte: Seis Discursos da Posme- (345/380)
trópolis (145/348) Cap. 13 – O despertar do Irã (381/416)
3ª Parte: Espaço vivido: Repensando Cap. 14 – A questão do Oriente na
1992 em Los Angeles (349/415) hora da mundialização (417/457)
Cap. 14 – Posfácio: Reflexões críticas 3ª Parte: A América em face de seu
sobre a Posmetrópolis destino (459/497)
Cap. 15 – Braudel, o México e a visão
Este livro faz parte de uma trilogia estratégica (461/497)
começada pelas Geografias Pós-Modernas
(1989), seguida por Thirdspace (1976). Depois do “ataque” do cientista polí-
Soja defendeu um marxismo histórico e tico Badie, a Geografia encontrou apoio
geográfico, e, ao contrário de Harvey, de- em um autor fora da disciplina. Kaplan é
fendeu também uma Geografia Pós-Mo- professor da Academia Naval de Anna-
derna. O autor foi muito influenciado por polis. Seu livro tem como subtítulo “O que
Lefebvre, e adotou inclusive a noção de os mapas nos dizem dos conflitos futuros”. 23 - Peet classifica Soja entre os
Geohistória para seus estudos urbanos e Na primeira parte Kaplan cita Fukuya- geógrafos pós-modernos (op. cit., p.
regionais, com destaque para a “pós-me- 222). Também sobre Soja ver Be-
ma e comenta que nos anos 1990 “os nach e Albet (2010).
trópole” Los Angeles23. geógrafos tinham perdido sua importância
[...] as montanhas afegãs e [...] as estradas
8. GLOBALIZAÇÃO iraquianas acabaram com o desprezo de que
ela era objeto” (p. 51). Em seguida ele re-
E NOVAS IDENTIDA- viu as contribuições do geógrafo inglês
Revista do Programa de Pós-
DES: A REVANCHE DA Mackinder (com sua noção de Hertland); Graduação em Geografia e do
do alemão Haushofer; dos norte america-
GEOGRAFIA nos Spykman (e sua noção de Rimland)
Departamento de Geografia da
UFES
Janeiro-Junho, 2017 47
e Mahan. A segunda parte do livro tra-
ISSN 2175 -3709
ta das principais regiões mundiais. Além menor dimensão” e o espaço “seus ambientes
da incorporação de autores da Geografia mais globais” (p. 301).
Política, Kaplan também faz referência à
Revista do Programa de Pós- Geohistória. 8.3 – Alan R. J. Baker
Graduação em Geografia e do
Departamento de Geografia da
UFES 8.2 –Christian Grataloup (1951 - ) Geography and History: bridging the
Janeiro-Junho, 2017 divide (2003)
ISSN 2175 -3709 Géohistoire de la mondialisation
(2007) [...] historical geography may be viewed
as being concerned with the historical di-
S´il existe depuis le XVIIe siècle une gé- mension in geography and geographical
ograhie dite générale, il n´y a guère de symé- history with the geographical dimension in
trique em histoire (p. 313). history (p. 3).

Introdução (9/18) 1: Sobre as relações da geografia e a


Cap. 1 – As memórias do Mundo história (1/36)
(19/43) 2: Geografia e história locacionais
1ª Parte: Os Mundos antes do Mun- (37/71)
do (47/147) 3: Geografia e história ambientais
Cap. 2 – Antigo Mundo e novos mun- (72/108)
dos (47/81) 4: Geografia e história paisagísticas
Cap. 3 – O sistema-Antigo Mundo (109/155)
(83/117) 5: Geografia e história regionais
Cap. 4 – Por que a Europa (119/146) (156/205)
2ª Parte: A Construção do Mundo 6: Reflexões (206/227)
(151/223)
Cap. 5 – A captura da América muda Alan Baker, um dos mais eminentes
a situação (151/174) geógrafos históricos, definiu como obje-
Cap. 6 – A Europa temperada pro- tivo do seu livro o de explorar a interde-
duz o subdesenvolvimento nos trópicos pendência entre a geografia e a história (p.
(175/203) xi). Podem ser destacados seus sete prin-
Cap. 7 – Nível mundial e revolução cípios para o entendimento da geografia
industrial (205/222) histórica: (1) a geografia histórica, como
3ª Parte: Os limites do Mundo a história, faz perguntas sobre o passado;
(227/311) (2) as fontes e teorias da geografia históri-
Cap. 8 – O “curto século XX”: a mun- ca, como as da história, são problemáticas;
dialização é reversível (229/249) (3) o debate é central na prática da geo-
Cap. 9 – Um sistema espacial restrito grafia histórica; (4) a geografia histórica
pela sua lógica (251/272) é essencialmente interessada com as mu-
Cap. 10 – O mundial contra o univer- danças geográficas através do tempo; (5) a
sal (273/291) geografia histórica é central na geografia
Cap. 11 – Ler o Mundo pela geohis- como um todo; (6) a geografia histórica
tória (295/311) é fundamentalmente interessada com a
Conclusão Geral (313/317) síntese de lugares; (7) a geografia histó-
rica enfatiza as especificidades históricas
Outra contribuição importante foi o de lugares particulares (2003, p. 209-223).
livro Geohistoire de la mondialisation de
Christian Grataloup (2007; 2015), ge-
ógrafo francês que discute a Geografia
Histórica em conjunto com a globaliza-
ção. Na primeira parte do livro o autor
afirma que a data da origem do Mundo
é 1492. A descoberta da América é com-
parada com as sete grandes expedições
marítimas chinesas realizadas entre 1405
e 1433. Na segunda parte vai da “captura”
da América até a Revolução Industrial. A
terceira parte discute os temas atuais. O
48 autor conclui diferenciando os territórios,
“que parecem designar conjuntos sociais de

A geografia histórica no contexto da história do pensamento geográfico e suas relações com as ciências Prof. Dr. Pedro de Almeida
humanas Vasconcelos
Paginas 36 a 50
A geografia histórica no contexto da história do pensamento geográfico e suas relações com as ciências Prof. Dr. Pedro de Almeida
humanas Vasconcelos
Paginas 36 a 50

9. C O N C L U S Õ E S : bvre e Braudel.
Uma continuidade que pode ser ob-
RELAÇÕES DA GEO- servada nos textos examinados são as
GRAFIA HISTÓRICA Geografias Universais, espécie de enci-
COM A HISTÓRIA DO clopédias geográficas publicadas indivi-
dualmente e coletivamente em diferen-
PENSAMENTO GEO- tes períodos. Fica confirmada a perda de
GRAFICO E COM AS importância das questões históricas na
Geografia Neopositivista. Por outro lado,
DEMAIS CIÊNCIAS HU- na Geografia Crítica temos trabalhos que
MANAS tentam vincular a Geografia ao Mate-
rialismo Histórico, em um afastamento
Essa longa revisão de autores da nossa da Geografia Histórica tradicional. As
disciplina mostra que as questões tempo- questões da pós-modernidade e da globa-
rais têm importância relativa ao longo da lização não impediram a continuidade da
história. Podemos destacar a importância subdisciplina.
da Geografia Física nos textos dos pais Para terminar podemos nos pergun-
fundadores. Um destaque deve ser dado tar se Reclus, com sua obra O homem e a
à erudição dos precursores da Geografia. Terra, de 1905, não seria um dos “pais da
Reclus e até Ratzel tinham um mesmo Geografia Histórica”.
nível cultural de historiadores como Fe-

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