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1. O nascimento da lógica
É lógico!
A lógica aparece como se fosse a conclusão de um implícito compartilhado e aceito pelos interlocutores do
discurso.
A expressão seria a conclusão de algo que eu ou outra pessoa sabemos, como se estivesse dizendo: sabendo
que ela é, o que pensa, gosta, quer, o que costuma dizer e fazer, e vendo o que está agora, concluo que é
evidente que ela disso isso, pois era de se esperar que ela dissesse.
Ao usarmos a palavra lógica estamos retornando a tradição do pensamento que se origina na filosofia grega.
Heráclito de Éfeso - afirmava que somente a mudança é real e a permanência, ilusória. Dizendo que o mundo
é um fluxo perpétuo onde nada permanece idêntico a si mesmo, mas tudo se transforma no seu contrário. A luta
é a harmonia dos contrários, responsável pela ordem racional do universo.
Parmênides de Eléia – afirmava que somente a identidade e a permanência são reais e a mudança ilusória.
Dizendo que “a guerra (ou luta) é o pai de todas as coisas”. O dia se opõe à noite, o quente ao frio, o úmido ao
seco, o bom ao mal, o novo ao velho. A ordem do mundo são essas oposições e a mudança contínua um no
outro.
O ser na visão de Parmênides é o logos, porque é sempre idêntico a si mesmo, sem contradições, imutável e
imperecível. O devir, o fluxo dos contrários, é a aparência sensível mera opinião que formamos porque
confundimos a realidade com as nossas sensações e lembranças. A mudança é o não ser, o nada, impensável
e indizível.
O pensamento só tendo validade se o que pensamos e dizemos guardarem a identidade, forem permanentes,
pois só podemos dizer e pensar aquilo que é sempre idêntico.
A mudança é impossível, do ponto de vista do pensamento e só existe como aparência ou ilusão dos sentidos.
Parmênides introduz a ideia de que o que é contraditório a si mesmo, ou se torna o contrário do que era, ou não
pode ser (existir), não pode ser pensado nem dito porque é contraditório, e a contradição é o impensável e o
indizível, uma vez que uma coisa que se torna o oposto de si mesma destrói-se a si mesma.
O devir é não ser. Por isso somente o ser pode ser pensado e dito.
Heráclito afirmava que a verdade e o logos são a mudança das coisas nos seus contrários, enquanto que
Parmênides afirmava que são a identidade do ser imutável, oposto à aparência sensível da luta dos contrários.
Para Heráclito, a contradição é uma lei racional da realidade; para Parmênides, a identidade é essa lei racional.
A história da filosofia grega é a história de um gigantesco esforço para encontrar uma solução para o problema
posto por Heráclito e Parmênides, pois se o primeiro tem razão, o pensamento deve ser um fluxo perpétuo e a
verdade, a perpétua contradição dos seres em mudança continua; mas se Parmênides tem razão, o mundo em
que vivemos não tem sentido, não pode ser conhecido, é uma aparência impensável e nos faz viver na ilusão.
Seria necessário provar que os contrários existem e podem ser pensados, mas, ao mesmo tempo provar que
identidade ou permanência dos seres também existe, é verdadeira e pode ser pensada.
A busca dessa solução teve como consequência o surgimento de duas disciplinas filosóficas: a lógica e
metafísica ou ontologia.
A dialética platônica.
Platão concorda com Heráclito no que se refere ao mundo material, chamando este de mundo sensível e dizendo
que nele há o devir permanente.
Platão dizia que o mundo sensível é uma aparência (é o mundo dos prisioneiros da caverna) é uma cópia ou
sombra do mundo verdadeiro e real. E nesse sentido Parmênides é que tem razão. O mundo verdadeiro é o das
essências imutáveis, portanto, sem contradições, nem oposições, sem transformação, onde nenhum ser passa
para o seu contraditório. Esse mundo chamado por Platão de mundo Inteligível.
Na dialética platônica é necessário identificar qual dos contrários é verdadeiro e qual é falso. Essa divisão
acontece até que não seja mais possível dividir, chegando a essência da coisa investigada.
A dialética vai separando os opostos em pares, mostrando que um é aparência e ilusão, e o outro, verdadeiro,
até chegar a essência da coisa.
Chegando-se ao mundo sensível como Heraclitiano (luta dos contrários e mudança incessante) e o mundo
inteligível como parmenidiano (a perene identidade consigo mesma de cada ideia ou de cada essência.
A analítica aristotélica
Aristóteles ≠ de Platão.
Acha desnecessário separar a realidade e a aparência em dois mundos diferentes havendo um único mundo no
qual existem essência e aparência.
Para Platão a dialética é um modo de conhecer. Para Aristóteles a lógica é um instrumento para conhecer.
2. Os elementos da Lógica
A proposição
Uma proposição é constituída por termos. Aristóteles chama os termos de categorias e as define
como “aquilo que serve para designar uma coisa”. São palavras e ideias que aparecem em tudo
quanto pensamos e dizemos. Há dez categorias ou termos:
1. substância (por exemplo, homem, Sócrates, animal);
2. quantidade (por exemplo, dois metros de comprimento);
3. qualidade (por exemplo, azul, grego, agradável);
4. relação (por exemplo, o dobro, a metade, maior que, menor que);
5. lugar (por exemplo, em casa, na rua, no alto, embaixo);
6. tempo (por exemplo, ontem, hoje, agora);
7. posição (por exemplo, sentado, deitado, de pé);
8. posse (por exemplo, armado – isto é, na posse de uma arma);
9. ação (por exemplo, corta, fere, derrama);
10. paixão ou passividade (por exemplo, está cortado, está ferido, está derramado).
Sujeito e predicados
Na proposição, a categoria da substância é o sujeito(S) e as demais categorias são os predicados
(P) atribuídos ao sujeito. A atribuição ou predicação se faz por meio do verbo de ligação, o verbo
ser. Exemplo: Pedro é alto.
2. proposição predicativa: atribui alguma coisa a um sujeito por meio do verbo de ligação ser. Por
exemplo: “Um homem é justo”, “Um homem não é justo”.
Qualidade e quantidade
As proposições se classificam segundo a qualidade e a quantidade. Do ponto de vista da
qualidade, as proposições se dividem em:
◆◆afirmativas: as que atribuem alguma coisa a um sujeito: S é P;
◆◆negativas: as que separam o sujeito de alguma coisa: S não é P.
Do ponto de vista da quantidade, as proposições se dividem em:
◆◆universais: quando o predicado se refere à extensão total do sujeito, afirmativamente (Todos
os S são P) ou negativamente (Nenhum S é P);
◆◆particulares: quando o predicado é atribuído a uma parte da extensão do sujeito,
afirmativamente (Alguns S são P) ou negativamente (Alguns S não são P);
◆◆singulares: quando o predicado é atribuído a um único indivíduo, afirmativamente (Este S é
P) ou negativamente (Este S não é P).
MODALIDADE DE RELAÇÃO
Além da distinção pela qualidade e pela quantidade, as proposições se distinguem pela
modalidade, sendo classificadas como:
� necessárias: quando o predicado está incluído na essência do sujeito, fazendo parte dela. Por
exemplo:
“Todo triângulo é uma figura de três lados”,
“Todo ser humano é mortal”;
� impossíveis: quando o predicado não pode, de modo nenhum, ser atribuído ao sujeito. Por
exemplo:
“Nenhum triângulo é uma figura de quatro lados”,
“Nenhum planeta é um astro com luz própria”;
� possíveis: quando o predicado pode ser ou deixar de ser atribuído ao sujeito. Por exemplo:
“Alguns triângulos são dotados de lados iguais”, “Alguns homens são justos”.
� necessárias (ou apodíticas): quando afirmam algo que nunca pode ser negado ou quando
negam algo que nunca pode ser afirmado. Por exemplo: “O todo é maior do que as partes”;
“Todos os homens são mortais”; “Não existem homens quadrúpedes”;
� possíveis (ou hipotéticas): quando afirmam ou negam algo que pode ser ou acontecer ou que
pode não ser nem acontecer. Por exemplo: “Poderá chover amanhã”; “Poderá haver uma
guerra”.
Graças a esses princípios, obtemos a última maneira pela qual as proposições se distinguem,
segundo a relação. Nesta classificação, não estamos mais considerando a proposição em si, mas
sua relação com outra proposição. Assim, elas podem ser:
◆◆contraditórias: quando, tendo o mesmo sujeito e o mesmo predicado, uma das proposições
é universal afirmativa (Todos os S são P) e a outra é particular negativa (Alguns S não são P); ou
quando se tem uma universal negativa (Nenhum S é P) e uma particular afirmativa (Alguns S são
P). Por exemplo: “Todos os seres humanos são mortais” e “Alguns seres humanos não são
mortais”. Ou então: “Nenhum ser humano é imortal” e “Alguns seres humanos são imortais”;
◆◆contrárias: quando, tendo o mesmo sujeito e o mesmo predicado, uma das proposições é
universal afirmativa (Todo S é P) e a outra é universal negativa (Nenhum S é P); ou quando uma
das proposições é particular afirmativa (Alguns S são P) e a outra é particular negativa (Alguns
S não são P). Por exemplo: “Todas as estrelas são astros com luz própria” e “Nenhuma estrela é
um astro com luz própria”. Ou então: “Alguns homens são justos” e “Alguns homens não são
justos”;
◆◆subalternas: quando uma proposição universal afirmativa subordina uma particular afirmativa
de mesmo sujeito e predicado, ou quando uma universal negativa subordina uma particular
negativa de mesmo sujeito e predicado. Por exemplo:
“Todos os seres humanos são bípedes” e “Os gregos são bípedes”; “Nenhum ser humano é
imortal” e “Os brasileiros não são imortais
O silogismo
Aristóteles elaborou uma teoria do raciocínio como inferência. Inferir é obter uma proposição como
conclusão de uma ou de várias outras proposições que a antecedem e são sua explicação ou sua
causa. O raciocínio realiza inferências.
O raciocínio é uma operação do pensamento realizada por meio de juízos. Quando o raciocínio é
enunciado por meio de proposições encadeadas, forma-se um silogismo.
Inferir significa conhecer alguma coisa (a conclusão) pela mediação de outras coisas. Portanto, o
raciocínio e o silogismo diferem da intuição, que, como vimos na Unidade 2, é um conhecimento
direto ou imediato de alguma coisa ou de alguma verdade.
A teoria aristotélica do silogismo é o coração da lógica. Ela constitui a teoria das demonstrações
ou das provas, da qual dependem o pensamento científico e o filosófico.
Para que se chegue a uma conclusão verdadeira, o silogismo deve obedecer a um conjunto
complexo de regras. Dessas regras, apresentaremos as mais importantes, tomando como
referência o mesmo exemplo:
◆a premissa maior deve conter o termo extremo maior (no caso, “mortais”) e o termo médio (no
caso, “homens”);
◆a premissa menor deve conter o termo extremo menor (no caso, “Sócrates”) e o termo médio
(no caso, “homem”);
◆a conclusão deve conter o extremo maior e o menor e jamais deve conter o termo médio (no
caso, deve conter “Sócrates” e “mortal” e jamais deve conter “homem”). Como a função do médio
é ligar os extremos, ele deve estar nas duas premissas, mas nunca na conclusão.
O silogismo científico
Aristóteles distingue dois grandes tipos de silogismo: os dialéticos e os científicos.
O silogismo dialético comporta argumentações contrárias, porque suas premissas são meras
opiniões sobre coisas ou fatos possíveis ou prováveis. As opiniões não são objeto de ciência, mas
de persuasão. A dialética é uma discussão entre opiniões contrárias que oferecem argumentos
contrários, vencendo aquele cuja conclusão for mais persuasiva. O silogismo dialético é próprio
da retórica, na qual aquele que fala procura tocar as emoções e paixões dos ouvintes e não o
raciocínio ou a inteligência deles.
EXERCÍCIO DE REVISÃO.
3. A filosofia grega ofereceu as duas soluções mais importantes para a oposição entre contradição-
mudança e identidade-permanência dos seres. Foram responsáveis:
a) Platão e Aristóteles
b) Plutão e Aristides
c) Plotino e Arquimedes
d) Plutarco e Alcebíades
a) Platão e Aristóteles
b) Plutão e Aristides
c) Plotino e Arquimedes
d) Plutarco e Alcebíades