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Alocação do Direito Civil

O direito privado soluciona principalmente relações entre particulares, enquanto o


direito público tem como objeto a relação do cidadão com o poder público. No direito público
o interesse público sempre prevalece e existe uma soberania do Estado, e no direito privado os
interesses individuais de pessoas físicas ou jurídicas possuem o mesmo peso, de maneira
horizontal.

1. Definição

O Direito Civil - “Direito do Cidadão”.

Direito Civil é o ramo do Direito que trata das normas jurídicas responsáveis por
regular os direitos e obrigações de ordem privada em relação às pessoas, seus
bens e atos.

O Direito Civil compreende o conjunto de normas previstas pelo Código Civil. No


Brasil, o atual Código Civil (Lei nº 10.406 de 10 de Janeiro de 2002), está em vigor desde 11
de janeiro de 2003, contém 2.046 artigos. Esta lei determina, em sua
parte geral, o direito das pessoas (naturais e jurídicas), os bens e os fatos
jurídicos. Na parte especial, trata do direito das obrigações, do direito das
empresas, do direito das coisas, do direito da família e do direito das sucessões.

2. Princípios Básicos

a. SOCIALIDADE - o sentido social é uma das características mais marcantes do


Código Civil, demonstrando a prevalência dos valores coletivos sobre os individuais, sem
perda, porém, do valor fundamental da pessoa humana. Promove o equilíbrio da relação
contratual por meio da proteção da dignidade da pessoa humana e dos direitos da
personalidade dos contratantes.
• Há uma convergência para a realidade contemporânea, com a revisão dos direitos e
deveres dos cinco principais personagens do direito privado tradicional, como enfatiza
MIGUEL REALE: o proprietário, o contratante, o empresário, o pai/mãe de família e o
testador (Miguel Reale).

• Exemplos: O art. 1228 (função social da propriedade); art. 421 (função social do
contrato); desapropriação.

b. ETICIDADE - funda-se no valor da pessoa humana como fonte de todos os


demais valores. Prioriza a equidade, a boa-fé, a justa causa e demais critérios éticos. Confere
maior poder ao juiz para encontrar a solução mais justa ou equitativa. Nesse sentido, é posto o
princípio do equilíbrio econômico dos contratos como base ética de todo o direito
obrigacional.

• Exemplo: a possibilidade de se resolver um contrato em virtude do advento de


situações imprevisíveis, que inesperadamente venham alterar os dados do problema,
tornando a posição de um dos contratantes excessivamente onerosa.

c. OPERABILIDADE - leva em consideração que o direito é feito para ser


efetivado, para ser executado. Por essa razão, o Código Civil evitou o bizantino, o
complicado, afastando as perplexidades e complexidades.

• Exemplo: adoção de critério seguro para distinguir prescrição de decadência,


solucionando, assim, interminável dúvida.

• Neste princípio está implícito o da concretude, que é a obrigação que tem o legislador
de não legislar em abstrato, mas, tanto quanto possível, legislar para o indivíduo situado: para
o homem enquanto marido; para a mulher enquanto esposa; para o filho enquanto um ser
subordinado ao poder familiar.
Direito Civil I

Parte Geral do Código Civil

• Das Pessoas Jurídicas


– Disposições Gerais (artigos 40 a 52)
– Das Associações (artigos 53 a 61)
– Das Fundações (artigos 62 a 69)
• Do Domicílio (artigos 70 a 78)
• Dos Bens - Das Diferentes Classes de Bens
– Dos Bens Considerados em Si Mesmos » Dos Bens Imóveis » Dos Bens Móveis »
Dos Bens Fungíveis e Consumíveis » Dos Bens Divisíveis » Dos Bens Singulares e Coletivos
(artigos 79 a 91)
– Dos Bens Reciprocamente Considerados (artigos 92 a 97)
– Dos Bens Públicos (artigos 98 a 103)
- Dos Fatos Jurídicos • Do Negócio Jurídico
– Disposições Gerais (artigos 104 a 114)
– Da Representação (artigos 115 a 120) – Da Condição, do Termo e do Encargo
(artigos 121 a 137)
– Dos Fatos Jurídicos • Do Negócio Jurídico –
Dos Defeitos do Negócio Jurídico » Do Erro ou Ignorância » Do Dolo » Da Coação »
Do Estado de Perigo » Da Lesão » Da Fraude Contra Credores (artigos 138 a 165)
– Da Invalidade do Negócio Jurídico (artigos 166 a 184)
– Dos Fatos Jurídicos • Dos Atos Jurídicos Lícitos (artigo 185) • Dos Atos Ilícitos
(artigos 186 a 188)

– Da Prescrição e da Decadência • Da Prescrição – Disposições Gerais – Das Causas


que Impedem ou Suspendem a Prescrição – Das Causas que Interrompem a Prescrição – Dos
Prazos da Prescrição (artigos 189 a 206) • Da Decadência (artigos 207 a 211) – Da Prova dos
Negócios Jurídicos (artigos 212 a 232)
Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro

1. Generalidades

A Lei de Introdução (Decreto-lei 4.657/1942) não faz parte do Código Civil. Embora
anexada a ele, antecedendo-o, trata-se de um todo separado. Com o advento da Lei nº 12.376,
de 30 de dezembro de 2010, alterou-se o nome desse diploma legislativo, substituindo-se a
terminologia “Lei de Introdução ao Código Civil” por outra mais adequada, isto é, “Lei de
Introdução às Normas do Direito Brasileiro”, tirando qualquer dúvida acerca da amplitude do
seu campo de aplicação.
A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro é norma de SOBREDIREITO (ou
de apoio), consistente num conjunto de normas cujo objetivo é disciplinar as próprias normas
jurídicas. De fato, a norma de sobredireito é a norma que disciplina a criação, aplicação e
extinção de outras normas jurídicas.

2. Funções das leis

➢ regular a vigência e eficácia das normas jurídicas (arts. 1º e 2º), apresentando soluções
ao conflito de normas no tempo (art. 6º) e no espaço (arts. 7º a 9º);
➢ fornecer critérios de hermenêutica (art. 5º);
➢ estabelecer mecanismos de integração de normas quando houver lacunas (art. 4º);
➢ garantir não só a eficácia global da ordem jurídica, não admitindo o erro de direito
(art. 3º) que a comprometeria, mas também a certeza, a segurança e a estabilidade do
ordenamento, preservando as situações consolidadas em que o interesse individual prevalece
(art. 6º).

3. Fases da criação das leis


CONTAGEM DO PRAZO – “A contagem do prazo para entrada em vigor das leis que
estabeleçam período de vacância far-se-á com a inclusão da data da publicação e do último
dia do prazo, entrando em vigor no dia subsequente à sua consumação integral.” (Art. 8º, § 1º
da Lei Complementar nº 95/1998).

Art. 1 o Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e
cinco dias depois de oficialmente publicada.
§ 1 o Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se
inicia três meses depois de oficialmente publicada.
§ 2 o (Revogado pela Lei nº 12.036, de 2009).
§ 3 o Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada
a correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da nova
publicação.
§ 4 o As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova.

4. Sistemas de Vigência

- O Direito é uno. Por isso, o estudo da vigência e eficácia da lei é aplicável a todas as
normas jurídicas e não apenas às do Direito Civil. “As normas jurídicas têm vida própria, pois
nascem, existem e morrem”.

• Espécies de Sistemas:
A. PRAZO DE VIGÊNCIA ÚNICO (ou simultâneo ou sincrônico), segundo o qual a
lei entra em vigor de uma só vez em todo o país (art. 1º LINDB);
B. VIGÊNCIA SUCESSIVA (ou progressiva), pelo qual a lei entra em vigor aos
poucos, era adotado pela antiga Lei de Introdução. Exemplo: três dias depois de publicada, a
lei entrava em vigor no DF, 15 dias depois no RJ, e 100 dias depois nos demais Estados.

OBSERVAÇÃO: Mesmo termos adotado o sistema de vigência único, nada impede que
a lei pode fixe o sistema sucessivo. No silêncio, porém, a lei entra em vigor simultaneamente
em todo o território brasileiro.

• Cláusula de vigência é a que indica a data a partir da qual a lei entra em vigor. Na
ausência desta cláusula, a lei começa a vigorar em todo o país 45 dias depois de oficialmente
publicada.
– Nos Estados estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida,
inicia-se 3 meses depois de oficialmente publicada. LINDB

– “VACATIO LEGIS” • VACATIO LEGIS (lê-se "vacatio légis”) é o período que


medeia entre a publicação da lei e a sua entrada em vigor. Tem a finalidade de fazer com que
os futuros destinatários da lei a conheçam e se preparem para bem cumpri-la.

• OBRIGATORIEDADE DA VACATIO LEGIS - A CF não exige que as leis observem


o período de vacatio legis. Aliás, normalmente as leis entram em vigor na data da publicação.
Só é obrigatória em duas hipóteses:
– Lei que cria ou aumenta contribuição social para a Seguridade Social - Só pode entrar
em vigor 90 dias após sua publicação (art. 195, § 6.º, da CF);
– Lei que cria ou aumenta tributo - Só pode entrar em vigor 90 dias da data que haja
sido publicada, conforme art. 150, III, c, da CF. LINDB

- Em três hipóteses, a vigência é imediata, sem que haja vacatio legis, a saber:
– Atos Administrativos. Salvo disposição em contrário, entram em vigor na data da
publicação (art. 103, I, do CTN);
– Emendas Constitucionais. No silêncio, como esclarece Oscar Tenório, entram em
vigor no dia da sua publicação;
– Lei que cria ou altera o processo eleitoral. Tem vigência imediata, na data da sua
publicação, todavia, não se aplica à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência (art.
16 da CF).

5. Revogação das leis

É a cessação definitiva da vigência de uma lei em razão de uma nova lei.

– PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE DAS LEIS - Só a lei revoga a lei. O legislador


não pode inserir na lei a proibição de sua revogação.

ESPÉCIES DE REVOGAÇÃO:
– Quanto à forma:
• Expressa (ou direta) - é aquela em que a lei indica os dispositivos que estão sendo por
ela revogados. A propósito, dispõe o art. 9º da LC 107/2001: “A cláusula de revogação deverá
enumerar, expressamente, as leis ou disposições legais revogadas”;
• Tácita (ou indireta) - ocorre quando a nova lei é incompatível com a lei anterior,
contrariando-a de forma absoluta (“revogam-se as disposições em contrário”). A revogação
tácita não se presume, pois é preciso demonstrar essa incompatibilidade.
• Observação: que a lei posterior geral não revoga lei especial. A lei especial não revoga
a geral (§2º do art. 2º da LINDB).

REPRISTINAÇÃO - A restauração da lei revogada pela revogação da sua lei


revogadora, por sua vez, não é aceito, em regra, pelo nosso ordenamento jurídico, conforme
se verifica do § 3.º do mencionado artigo: “§ 3.º Salvo disposição em contrário, a lei revogada
não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência”.
6. Princípio da obrigatoriedade das leis (neminem excusat ignorantia legis).

• Uma vez em vigor, todas as pessoas sem distinção devem obedecer a lei, pois ela se
dirige a todos.
• Diversas teorias procuram justificar a regra acima. Para uns, trata-se de uma
presunção juris et de jure, legalmente estabelecida (teoria da presunção absoluta). Outros
defendem a teoria da ficção jurídica. Há ainda os adeptos da teoria da necessidade social,
segundo a qual a norma do art. 3º da LINDB é uma regra ditada por uma razão de ordem
social e jurídica, sendo, pois, um atributo da própria norma.

Art. 3 o Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece

7. Presunções

Juris et de jure (ou significa de direito e a respeito ao direito) – É a presunção absoluta,


que não admite prova em contrário.
Juris tantum (ou resultante somente do direito, que pertence apenas ao direito, ou
apenas de direito) - É a presunção relativa, que admite prova em contrário.

Art. 4 Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os
costumes e os princípios gerais de direito.

8. Integração das Normas Jurídicas

É o preenchimento de lacunas mediante a aplicação e criação de normas individuais,


atendendo ao espírito do sistema jurídico.
• A palavra “lacuna” designa “falta”, “omissão”, “vácuo”, e também “falha”. O direito
busca regular as condutas humanas a fim de pacificar o convívio em sociedade. Se há um fato
para o qual o ordenamento não dá tratamento pode-se dizer que, a princípio, configurada está
a deficiência normativa.
• Como forma de solução dessa “lacuna”, propõe-se alguns meios de integração como a
analogia, os costumes e os princípios gerais do direito.

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.

O Meios de integração:

a) Analogia - Figura em primeiro lugar na hierarquia do art. 4° da LICC. Consiste na


aplicação da hipótese não prevista em lei de dispositivo legal relativo a caso semelhante.
Espécies:
• Analogia legis - consiste na aplicação de uma norma existente, destinada a reger caso
semelhante ao previsto;
• Analogia juris - baseia-se em um conjunto de normas para obter elementos que
permitam a sua aplicação ao caso concreto não previsto, mas similar

b) Costume - É a prática uniforme, constante, pública e geral de determinado ato, com a


convicção de sua necessidade.

c) Princípios gerais de direito - São regras que se encontram na consciência dos povos e
são universalmente aceitas, mesmo não escritas. A equidade não constitui meio supletivo de
lacuna da lei, sendo mero auxiliar da aplicação desta.

9. Interpretação das leis

• A Lei de Introdução apresenta uma norma especial que irá guiar a aplicação das
normas jurídicas.
• Esse dispositivo fornece ao legislador uma flexibilidade interpretativa, permitindo a
adequação das normas no momento de sua aplicação.
• Essa elasticidade é fundamental para permitir ao Direito a possibilidade de
acompanhar as mudanças sociais que estão ocorrendo.
• Exemplo: Revogação diante da comprovação da adoção de filho incestuoso.
Conversão em tutela.

Art. 5 Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às
exigências do bem comum.

Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito,
o direito adquirido e a coisa julgada.
§ 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo
em que se efetuou.
§ 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele,
possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou
condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem.
§ 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba
recurso.

10. Princípio da segurança e da estabilidade social. (art. 5º, inc. XXXVI da CF)

De acordo com esse princípio, a lei não pode retroagir para violar o direito adquirido, o
ato jurídico perfeito e a coisa julgada. Devem ser respeitadas, portanto, as relações jurídicas
constituídas sob a égide da lei revogada.

A. DIREITO ADQUIRIDO - é o que pode ser exercido desde já por já ter sido
incorporado ao patrimônio jurídico da pessoa. O §2º do art. 6º da LINDB considera também
adquirido:
– O direito sob termo. O art. 131 do CC também reza que o termo, isto é, o fato futuro e
certo, suspende o exercício, mas não a aquisição do direito.
– O direito sob condição preestabelecida inalterável a arbítrio de outrem: Trata-se, a
rigor, de termo, porque o fato é futuro e certo, porquanto inalterável pelo arbítrio de outrem.
Exemplo: Darte-ei a minha casa no dia que chover, sob a condição de João não impedir
que chova. Ora, chover é um fato certo e inalterável pelo arbítrio de João e, portanto, trata-se
de termo, logo o direito é adquirido.

B. ATO JURÍDICO PERFEITO - é o já consumado de acordo com a lei vigente ao


tempo em que se efetuou. exemplo: contrato celebrado antes da promulgação do código civil
não é regido por este diploma legal, e sim pelo código civil anterior.

C. COISA JULGADA - é o efeito da sentença judicial de que já não caiba mais recurso.
É a imutabilidade da sentença.

Art. 7 o A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e
o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família.
§ 1º o Realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei brasileira quanto aos
impedimentos dirimentes e às formalidades da celebração.
§ 2º O casamento de estrangeiros poderá celebrar-se perante autoridades diplomáticas
ou consulares do país de ambos os nubentes.
§ 3º Tendo os nubentes domicílio diverso, regerá os casos de invalidade do matrimônio
a lei do primeiro domicílio conjugal.
§ 4 º O regime de bens, legal ou convencional, obedece à lei do país em que tiverem os
nubentes domicílio, e, se este for diverso, a do primeiro domicílio conjugal.
§ 5º - O estrangeiro casado, que se naturalizar brasileiro, pode, mediante expressa
anuência de seu cônjuge, requerer ao juiz, no ato de entrega do decreto de naturalização, se
apostile ao mesmo a adoção do regime de comunhão parcial de bens, respeitados os direitos
de terceiros e dada esta adoção ao competente registro.
§ 6º O divórcio realizado no estrangeiro, se um ou ambos os cônjuges forem brasileiros,
só será reconhecido no Brasil depois de 1 (um) ano da data da sentença, salvo se houver sido
antecedida de separação judicial por igual prazo, caso em que a homologação produzirá efeito
imediato, obedecidas as condições estabelecidas para a eficácia das sentenças estrangeiras no
país. O Superior Tribunal de Justiça, na forma de seu regimento interno, poderá reexaminar, a
requerimento do interessado, decisões já proferidas em pedidos de homologação de sentenças
estrangeiras de divórcio de brasileiros, a fim de que passem a produzir todos os efeitos legais.
[...]

§ 7 o Salvo o caso de abandono, o domicílio do chefe da família estende-se ao outro


cônjuge e aos filhos não emancipados, e o do tutor ou curador aos incapazes sob sua guarda.
§ 8 o Quando a pessoa não tiver domicílio, considerar-se-á domiciliada no lugar de sua
residência ou naquele em que se encontre.

Art. 8 o Para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes, aplicar-se-á a


lei do país em que estiverem situados.
§ 1 o Aplicar-se-á a lei do país em que for domiciliado o proprietário, quanto aos bens
móveis que ele trouxer ou se destinarem a transporte para outros lugares.
§ 2 o O penhor regula-se pela lei do domicílio que tiver a pessoa, em cuja posse se
encontre a coisa apenhada.

Art. 9 o Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se


constituírem.
§ 1 o Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e dependendo de forma
essencial, será esta observada, admitidas as peculiaridades da lei estrangeira quanto aos
requisitos extrínsecos do ato.
§ 2 o A obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que residir o
proponente.

Art. 10. A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em que domiciliado
o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação dos bens.
§ 1º A sucessão de bens de estrangeiros, situados no País, será regulada pela lei
brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os represente, sempre
que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus.
§ 2 o A lei do domicílio do herdeiro ou legatário regula a capacidade para suceder.

Art. 11. As organizações destinadas a fins de interesse coletivo, como as sociedades e as


fundações, obedecem à lei do Estado em que se constituírem.
§ 1 o Não poderão, entretanto ter no Brasil filiais, agências ou estabelecimentos antes
de serem os atos constitutivos aprovados pelo Governo brasileiro, ficando sujeitas à lei
brasileira.
§ 2 o Os Governos estrangeiros, bem como as organizações de qualquer natureza, que
eles tenham constituído, dirijam ou hajam investido de funções públicas, não poderão adquirir
no Brasil bens imóveis ou susceptiveis de desapropriação.
§ 3 o Os Governos estrangeiros podem adquirir a propriedade dos prédios necessários à
sede dos representantes diplomáticos ou dos agentes consulares.
Art. 12. É competente a autoridade judiciária brasileira, quando for o réu domiciliado no
Brasil ou aqui tiver de ser cumprida a obrigação.
§ 1 o Só à autoridade judiciária brasileira compete conhecer das ações relativas a
imóveis situados no Brasil.
§ 2 o A autoridade judiciária brasileira cumprirá, concedido o exequatur e segundo a
forma estabelecida pela lei brasileira, as diligências deprecadas por autoridade estrangeira
competente, observando a lei desta, quanto ao objeto das diligências.

Art. 13. A prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro rege-se pela lei que nele
vigorar, quanto ao ônus e aos meios de produzir-se, não admitindo os tribunais brasileiros
provas que a lei brasileira desconheça.

Art. 14. Não conhecendo a lei estrangeira, poderá o juiz exigir de quem a invoca prova
do texto e da vigência.

Art. 15. Será executada no Brasil a sentença proferida no estrangeiro, que reúna os
seguintes requisitos:
a) haver sido proferida por juiz competente;
b) terem sido os partes citadas ou haver-se legalmente verificado à revelia;
c) ter passado em julgado e estar revestida das formalidades necessárias para a
execução no lugar em que foi proferida;
d) estar traduzida por intérprete autorizado;
e) ter sido homologada pelo Supremo Tribunal Federal. Parágrafo único.

Art. 16. Quando, nos termos dos artigos precedentes, se houver de aplicar a lei
estrangeira, ter-se-á em vista a disposição desta, sem considerar-se qualquer remissão por ela
feita a outra lei.

Art. 17. As leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações de
vontade, não terão eficácia no Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a ordem
pública e os bons costumes.
Art. 18. Tratando-se de brasileiros, são competentes as autoridades consulares
brasileiras para lhes celebrar o casamento e os mais atos de Registro Civil e de tabelionato,
inclusive o registro de nascimento e de óbito dos filhos de brasileiro ou brasileira nascido no
país da sede do Consulado.
§ 1º As autoridades consulares brasileiras também poderão celebrar a separação
consensual e o divórcio consensual de brasileiros, não havendo filhos menores ou incapazes
do casal e observados os requisitos legais quanto aos prazos, devendo constar da respectiva
escritura pública as disposições relativas à descrição e à partilha dos bens comuns e à pensão
alimentícia e, ainda, ao acordo quanto à retomada pelo cônjuge de seu nome de solteiro ou à
manutenção do nome adotado quando se deu o casamento.
§ 2 o É indispensável a assistência de advogado, devidamente constituído, que se dará
mediante a subscrição de petição, juntamente com ambas as partes, ou com apenas uma delas,
caso a outra constitua advogado próprio, não se fazendo necessário que a assinatura do
advogado conste da escritura pública.

Art. 19. Reputam-se válidos todos os atos indicados no artigo anterior e celebrados
pelos cônsules brasileiros na vigência do Decreto-lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942,
desde que satisfaçam todos os requisitos legais. Parágrafo único. No caso em que a celebração
desses atos tiver sido recusada pelas autoridades consulares, com fundamento no artigo 18 do
mesmo Decreto-lei, ao interessado é facultado renovar o pedido dentro em 90 (noventa) dias
contados da data da publicação desta lei.

Pessoa Natural

1. Sistematização da Parte Geral do Código Civil


2. Sujeito de Direitos

• O que é o SUJEITO? – Em análise sintática, o sujeito é um dos termos essenciais da


oração, geralmente responsável por realizar ou sofrer uma ação ou estado. – Ele é o termo
com qual o verbo concorda. – Em língua portuguesa, o sujeito rege a terminação verbal em
número e pessoa e é marcado pelo caso reto quando são usados os pronomes pessoais.

• SUJEITO DE DIREITOS - é o titular ou o possível titular de direitos e obrigações.


Alguns autores utilizam as expressões “sujeitos de direito” e “pessoas” como sinônimas, mas
não é a mais correta, visto que existem sujeitos de direito despersonalizados, ou seja, sujeitos
de direito que não são pessoas. Sujeitos de Direitos

• ESPÉCIES DE SUJEITOS DE DIREITOS:

▪ SUJEITOS PERSONALIZADOS: Aqueles que têm personalidade jurídica, ou seja,


aptidão para adquirir direitos e contrair obrigações. Exemplos: Pessoas naturais (ou físicas) e
jurídicas.
▪ SUJEITOS DESPERSONALIZADOS: Aqueles que não têm personalidade jurídica,
ou seja, não têm aptidão para adquirir direitos e contrair obrigações. Exemplos: Nascituros e
“Quase pessoas jurídicas” (espólio, herança jacente, massa falida, condomínio edilício e
pessoa jurídica sem registro).
▪ Os sujeitos despersonalizados somente podem praticar os atos relacionados com a sua
finalidade ou para os quais estejam autorizados por lei. Personalidade Jurídica

3. Conceito de Personalidade Jurídica

Todo aquele que nasce com vida torna​- se uma pessoa, ou seja, adquire personalidade.
No direito romano, o escravo era tratado como coisa.
• “É a aptidão genérica para adquirir direitos e contrair obrigações ou deveres na ordem
civil” (Gonçalves).
• “É a aptidão genérica para titularizar direitos e contrair obrigações” (Stolze).
• “A aptidão, reconhecida pela ordem jurídica a alguém, para exercer direitos e contrair
obrigações” (Beviláqua).
Art. 1º Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil.

• PERSONALIDADE - é a aptidão genérica para ser titular de direitos e obrigações


(titularidade).

• CAPACIDADE - é a aptidão para o exercício dos direitos. Ela pode ser dividida em
capacidade de direito e capacidade de fato.

• CAPACIDADE CIVIL PLENA - é a aptidão para a pessoa praticar todos os atos da vida
civil por si própria. São plenamente capazes para os atos da vida civil os maiores de 18 anos
não impedidos por outra circunstância.

Art. 2º A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a
salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.

4. Início da Personalidade

• O início da personalidade jurídica varia conforme se trate de pessoa física ou de


pessoa jurídica. O dispositivo acima, trata apenas da pessoa física.
• A personalidade civil da pessoa física começa a partir do nascimento com vida (art. 2º
do CC).
Art. 2º A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a
salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.

• Existem sobre o assunto várias teorias. Veremos abaixo algumas delas:

A. TEORIA NATALISTA, que exige, para a aquisição da personalidade, o nascimento


com vida;
B. TEORIA DA VIABILIDADE, adotada na França, que condiciona o início da
personalidade à existência fisiológica de vida, isto é, de órgãos essenciais ao corpo humano,
como cérebro, rins e outros;
C. TEORIA CONCEPCIONISTA, que defende o início da personalidade desde a
concepção (ou fecundação em consequência da fusão do espermatozoide com o óvulo),
considerando o nascituro como pessoa.
D. CONCEPCIONISMO PURO - Há uma corrente mais extremada que sustenta, sem
condicionantes, que o nascituro tenha personalidade jurídica, pois já é titular autônomo de
direitos desde a concepção.

Constatamos que o nosso sistema jurídico reconhece alguns direitos ao nascituro, que
não dependem de seu nascimento com vida, mas que garantem esse nascimento com vida.
Exemplos: – Direito à integridade física e à vida.
O Pacto de São José da Costa Rica, em seu art. 4º, item I, garante o direito à vida no
nascituro, nos seguintes termos: “Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua vida. Esse
direito deve ser protegido pela lei e, em geral, desde o momento da concepção. Ninguém pode
ser privado da vida arbitrariamente”. Essa proteção também é perceptível quando o
ordenamento jurídico incrimina o aborto, nos artigos 124 a 126, do Código Penal.
– Direito ao nascimento sadio, harmonioso e em condições dignas e direito da gestante
ao atendimento pré e perinatal. O Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu art. 7º,
afirma: “A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a
efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio
e harmonioso, em condições dignas de existência”;
– Direito a receber alimentos (alimentos gravídicos), previstos na Lei Federal 11.804,
de 2008. A lei protege não apenas a gestante, autora da ação de alimentos gravídicos, mas o
próprio nascituro, ao viabilizar a percepção de um auxílio financeiro, a ser pago por aquele
em face de quem existam “indícios de paternidade”. Esse auxílio se destina a cobrir “as
despesas adicionais do período de gravidez e que sejam dela decorrentes, da concepção ao
parto, inclusive as referentes a alimentação especial, assistência médica e psicológica, exames
complementares, internações, parto, medicamentos e demais prescrições preventivas e
terapêuticas indispensáveis, a juízo do médico, além de outras que o juiz considere
pertinentes”. Início da Personalidade
– Direito ao nascimento sadio, harmonioso e em condições dignas e direito da gestante
ao atendimento pré e perinatal. O Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu art. 7º,
afirma: “A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a
efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio
e harmonioso, em condições dignas de existência”;
– Direito a receber alimentos (alimentos gravídicos), previstos na Lei Federal 11.804, de
2008. A lei protege não apenas a gestante, autora da ação de alimentos gravídicos, mas o
próprio nascituro, ao viabilizar a percepção de um auxílio financeiro, a ser paga por aquele em
face de quem existam “indícios de paternidade”. Esse auxílio se destina a cobrir “as despesas
adicionais do período de gravidez e que sejam dela decorrentes, da concepção ao parto,
inclusive as referentes a alimentação especial, assistência médica e psicológica, exames
complementares, internações, parto, medicamentos e demais prescrições preventivas e
terapêuticas indispensáveis, a juízo do médico, além de outras que o juiz considere
pertinentes”.

• A posição do STJ é concepcionista, como já foi afirmado em dois precedentes:


– REsp 1.120.676/SC: Direito dos pais de receber indenização (Seguro DPVAT – Lei n.
6.194, de 1974) por morte do feto em acidente automobilístico.
– REsp 931.556/RS: Direito de receber indenização pela morte injusta (decorrente de
acidente de trabalho) dos pais, ou de um deles, em proporção igual ao valor da indenização
devida aos seus irmãos vivos.

• A posição do STF é natalista quanto aos direitos fundamentais constitucionais, como


já foi afirmado em dois precedentes:
– ADI 3510: possibilidade de utilização de embriões congelados em pesquisas com
células-tronco embrionárias.
– ADPF 54: descriminalização do aborto de feto anencéfalo. Início da Personalidade –
Teoria adotada no Brasil

• A doutrina dominante sustenta que o Código Civil adotou a teoria natalista, de modo
que nascituro não é pessoa.

• Uma corrente minoritária filia-se à teoria concepcionista.

• Prevalece a opinião de Maria Helena Diniz, que o Brasil acolheu uma teoria mista,
pois os direitos da personalidade são adquiridos desde a concepção, como o direito à vida, à
integridade física, aos alimentos, à imagem, à sepultura, etc., enquanto os direitos
patrimoniais só são adquiridos a partir do nascimento com vida, como é o caso do direito de
comprar, vender, aceitar doação, testamento, etc. Por consequência, o nascituro não tem
personalidade jurídica em relação aos direitos patrimoniais, mas tem personalidade jurídica
quanto à aquisição dos direitos da personalidade.
Enquanto o nascituro é pessoa condicional, pois a aquisição da personalidade depende
do nascimento com vida, o Concepturo é o que ainda não foi concebido, mas há esperança de
ser (arts. 1.798 e 1.799).
Art. 1.798. Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento
da abertura da sucessão.
Art. 1.799. Na sucessão testamentária podem ainda ser chamados a suceder:
I - os filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas
estas ao abrir-se a sucessão;

5. Direitos do Nascituro

• Embora não seja expressamente considerado pessoa, tem a proteção legal dos
seguintes direitos desde a concepção:
– o nascituro é titular de direitos personalíssimos (como o direito à vida, o direito à
proteção pré-natal, direito à saúde etc.);
– o Código Penal tipifica o crime de aborto;
– tem direito à realização do exame de DNA, para efeito de aferição de paternidade
(art. 1.609, parágrafo único);
– pode ser-lhe nomeado curador para a defesa dos seus interesses (arts. 877 e 878 do
CPC);
– pode receber doação, sem prejuízo do recolhimento do imposto de transmissão inter
vivos; (art. 542)*
– pode ser beneficiado por legado e herança (art. 1.798 e 1.799)*.

OBSERVAÇÃO: Esses mencionados acima (*) só produzirão efeitos se sobreviver ao


nascimento com vida. Tratando-se de natimorto, opera-se a caducidade desses atos,
porquanto elaborados sob condição suspensiva.

Personalidade e Capacidade
1. Capacidade Jurídica

Adquirida a personalidade jurídica, toda pessoa passa a ser capaz de direitos e


obrigações.
• O art. 1º do novo Código entrosa o conceito de capacidade com o de personalidade, ao
declarar que toda “ pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil”.
• Afirmar que o homem tem personalidade é o mesmo que dizer que ele tem capacidade
para ser titular de direitos.
• Embora se completem, tais personalidade jurídica e capacidade jurídica NÃO SE
CONFUNDEM, uma vez que a capacidade pode sofrer limitação. Pode​-se ser mais ou menos
capaz, mas não se pode ser mais ou ​menos pessoa.

CAPACIDADE DE DIREITO (ou de gozo ou de aquisição de direitos)


– É a que todos têm, e adquirem ao nascer com vida.
• Essa espécie de capacidade é reconhecida a todo ser humano, sem qualquer distinção.
Estende​-se aos privados de discernimento e aos infantes em geral, independentemente de seu
grau de desenvolvimento mental. Podem estes, assim, herdar bens deixados por seus pais,
receber doações etc.
• Personalidade e capacidade completam​-se: de nada valeria a personalidade sem a
capacidade jurídica, que se ajusta assim ao conteúdo da personalidade, na mesma e certa
medida em que a utilização do direito integra a ideia de ser alguém titular dele. Só não há
capacidade de aquisição de direitos onde falta personalidade, como no caso do nascituro, por
exemplo.

CAPACIDADE DE FATO (ou de exercício ou de ação)


– É a aptidão para exercer, por si só, os atos da vida civil.
• Por faltarem a certas pessoas alguns requisitos materiais, como maioridade, saúde
etc., a lei, com o intuito de proteger as pessoas, mesmo concedendo a capacidade de adquirir
direitos, não concede o direito de os exercer pessoal e diretamente, exigindo sempre a
participação de outra pessoa, que as representa ou assiste.
• Exemplo: Os recém nascidos possuem apenas a capacidade de direito, podendo, por
exemplo, herdar. Mas não têm a capacidade de fato. Para propor qualquer ação em defesa da
herança recebida, precisam ser representados pelos pais.
CAPACIDADE CIVIL PLENA
– É a qualidade daquele que detém as duas espécies de capacidade. • Quem só ostenta a
de direito, tem capacidade limitada e necessita, como visto, de outra pessoa que substitua ou
complete a sua vontade. São, por isso, chamados de incapazes.

CAPACIDADE DE DIREITO + CAPACIDADE DE FATO = CAPACIDADE CIVIL PLENA

6. Incapacidade Absoluta

Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os


menores de 16 (dezesseis) anos.

As pessoas absolutamente incapazes não podem praticar pessoalmente os atos da vida


civil, sob pena de nulidade absoluta (art. 166, I, do CC). Devem ser representadas nos atos ou
negócios jurídicos pelos respectivos representantes legais (pais, tutor e curador). O
representante realiza o ato ou negócio jurídico sem que haja qualquer participação do incapaz.

A consequência direta e imediata dessa alteração legislativa:


• o deficiente é agora pessoa plenamente capaz, salvo se não puder exprimir sua
vontade – caso em que será considerado relativamente incapaz, podendo, quando necessário,
ter um curador nomeado em processo judicial (Estatuto da Pessoa com Deficiência, art. 84).
• Observação: a incapacidade relativa não decorre propriamente da deficiência, mas da
impossibilidade de exprimir a vontade. “a pessoa com deficiência – aquela que tem
impedimento de longo prazo, de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, nos termos
do art. 2º – não deve ser mais tecnicamente considerada civilmente incapaz, na medida em
que os arts. 6º e 84, do mesmo diploma, deixam claro que a deficiência não afeta a plena
capacidade civil da pessoa” (Pablo Stolze).

Art. 6º da Lei nº 13.146/2015 - A deficiência não afeta a plena capacidade civil da


pessoa, inclusive para:
I - casar-se e constituir união estável;
II - exercer direitos sexuais e reprodutivos;
III - exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e de ter acesso a informações
adequadas sobre reprodução e planejamento familiar;
IV - conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterilização compulsória;
V - exercer o direito à família e à convivência familiar e comunitária; e
VI – exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como adotante ou
adotando, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas.

7. Incapacidade Relativa

Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer:


I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico;
III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua
vontade;
IV - os pródigos. Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por
legislação especial.

• As pessoas relativamente incapazes podem praticar pessoalmente os atos da vida civil,


desde que assistidas pelos representantes legais (pais, tutor ou curador). O ato praticado sem
essa assistência não é nulo, mas apenas anulável (art. 171, I). Ressalte-se, porém, a existência
de alguns atos praticados validamente sem a assistência. Exemplos: a partir dos dezesseis
anos já é possível, sem assistência, fazer testamento, aceitar mandato e casar

8. Representação e Assistência

REPRESENTAÇÃO - o incapaz não esboça a sua vontade em relação à decisão pela


prática ou não do ato ou negócio jurídico, pois esta é tomada pelo representante legal. O ato é
praticado pelo representante em nome do incapaz, que sequer participa do ato.
• ASSISTÊNCIA - o próprio incapaz decide se pratica ou não o ato ou negócio jurídico,
esboçando, portanto, a sua vontade, limitando-se o assistente a apenas apresentá-lo durante a
celebração do ato. O ato é praticado pelo próprio incapaz, mas na presença do Assistente.

9. Capacidade e Emancipação

EMANCIPAÇÃO - é o ato jurídico que antecipa os efeitos civis da aquisição da


maioridade e da capacidade civil plena, para data anterior àquela em que o menor atinge a
idade de 18 anos. Com a emancipação, o menor passa a ser capaz, embora não deixe de ser
menor. É definitiva, irretratável e irrevogável (Tartuce).

Art. 5º A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada
à prática de todos os atos da vida civil. Parágrafo único. Cessará, para os menores, a
incapacidade:
I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento
público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor,
se o menor tiver dezesseis anos completos;
II - pelo casamento;
III - pelo exercício de emprego público efetivo;
IV - pela colação de grau em curso de ensino superior;
V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego,
desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria.

Fim da Personalidade

A existência da pessoa natural termina com a morte (art. 6º, primeira parte, do CC).
Art. 6º A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos
ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva.
Art. 7º Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência:
I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida;
II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até
dois anos após o término da guerra.
Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser
requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data
provável do falecimento.

1. Espécies de Morte

A. MORTE REAL - é a que pressupõe a existência do cadáver.


– É atestada pelo médico. – Se não houver médico, será atestada por duas pessoas que
tiverem presenciado ou verificado o fato (art. 77 da Lei 6.015/1973)
– Com base no atestado de óbito, o Cartório de Registro Civil lavra o registro de óbito,
e, em seguida, expede a respectiva certidão de óbito.
– Hoje prevalece o entendimento de que a verdadeira morte é a cerebral do tipo
encefálica, revelada pela ausência de impulsos cerebrais (linha reta no eletroencefalograma,
art. 3.º, § 1.º, da Lei 9.434/1997 e Resolução CFM n. 1.480/97), pois a morte clínica, isto é, a
cessação das funções circulatórias e respiratórias, por si só, é insuficiente.

B. MORTE PRESUMIDA (ou ficta) – ocorre quando, a despeito de o cadáver não ser
encontrado, há um juízo de probabilidade acerca de sua ocorrência, apurada por meio do
silogismo lógico. Pode verificar-se em duas hipóteses:
• se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida (art. 7º, I, do
CC). No Código Civil não se exige o desaparecimento em catástrofe, isto é, em um grande
acontecimento, bastando dois requisitos: o perigo de vida e a probabilidade da morte.
• se alguém desaparecido em campanha ou feito prisioneiro não for encontrado até dois
anos após o término da guerra (art. 7º, II, do CC). Antes desse prazo, a morte não pode ser
declarada, ao passo que na hipótese anterior esse prazo não é exigido.

OBSERVAÇÃO - Nessas hipóteses de morte presumida, a medida cabível é a ação de


justificação de óbito (constitutiva) e não a ação declaratória de ausência (meramente
declaratória).

EFEITOS: Nessas hipóteses de morte presumida, a medida cabível é a ação de


justificação de óbito e não a ação declaratória de ausência.
• O juiz prolatará sentença declaratória de morte presumida, fixando a data do
falecimento ou se não se souber a data exata, o juiz fixa a data provável do óbito.
• A declaração de morte presumida, nesses casos, somente poderá ser requerida
depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do
falecimento (parágrafo único do art. 7º do CC e o na Lei 9.140/1995 – Anistia)
C. AUSÊNCIA - A ausência é, antes de tudo, um estado de fato, em que uma pessoa
desaparece de seu domicílio, sem deixar qualquer notícia.
– É a espécie de fim da personalidade que se verifica com a sentença definitiva de
ausência, prolatada depois de dez anos do trânsito em julgado da sentença que concedeu a
abertura da sucessão provisória.
– Na ausência, há apenas uma suspeita de morte e não propriamente uma
probabilidade. A medida cabível é a ação declaratória de ausência, e não a ação de
justificação de óbito.

• CURADORIA DOS BENS DO AUSENTE


- Desaparecendo uma pessoa do seu domicílio, sem deixar qualquer notícia, nem
representante ou procurador, o fato é que teremos uma massa patrimonial com titular, mas
sem quem a administre.
• Assim, a requerimento de qualquer interessado direto ou mesmo do Ministério
Público, o Poder Judiciário reconhecerá tal circunstância, com a declaração fática da ausência,
nomeando curador, que passará a gerir os negócios do ausente até seu eventual retorno,
providenciando-se a arrecadação de seus bens para o devido controle.

D. MORTE CIVIL
- Consistente na perda da personalidade durante a vida, correspondente a capitis
deminutio máxima do direito romano, não encontra guarida em nosso ordenamento jurídico,
pois a personalidade é irrenunciável.
Há, porém, um resquício de morte civil em relação ao herdeiro excluído por
indignidade (art. 1.814), que, para o fim de herança, é considerado morto, tanto que os seus
descendentes herdam em seu lugar, por representação.

4. Comoriência

CONCEITO - é a morte de duas ou mais pessoas, na mesma ocasião, sendo elas


herdeiras entre si.

Art. 8o Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo


averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente
mortos.

Em não se apurando a ordem cronológica dos óbitos, o art. 8.º do CC presume a


comoriência, independentemente de sexo, idade ou estado civil, considerando-os
simultaneamente mortos.
• Assim, enquanto a premoriência (morte precedente) e a pós-moriência (morte
subsequente), devem ser comprovadas, a comoriência é presumida. Na dúvida sobre quem
tenha falecido primeiro, o art. 8º presume o falecimento conjunto.

EFEITO DA COMORIÊNCIA - os comorientes não herdam entre si.


Não haverá transmissão de bens entre os comorientes.
• Exemplo: um casal sem descendentes e ascendentes, em que o único herdeiro do
marido (A), além da sua esposa (B), seja um primo (C), e, por sua vez, a única herdeira da
varoa, além do marido, seja a sua irmã (D). Se o casal falece no mesmo evento, podem
ocorrer as seguintes situações:

– apura-se que o marido (A) pré-morreu à esposa (B). Esta recolhe a herança
daquele, transmitindo em seguida à sua irmã ;
– apura-se que a mulher pré-morreu ao marido. Este recolhe a herança daquela,
transmitindo em seguida ao seu primo;
– não se apura quem morreu primeiro. Nesse caso, presume-se a comoriência, sendo
certo que os comorientes não herdarão entre si. Assim, a herança do marido será transmitida
para seu primo; a herança da esposa, para a sua irmã. Em cada herança, incidirá um único
imposto causa mortis.
Direitos da Personalidade

1. Personalidade e Dignidade da Pessoa Humana

• CONCEITO DE DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA


– trata-se de um conceito histórico, ou seja, que foi construído através dos tempos,
sendo que o conceito usado hoje pode não ser mais útil amanhã.
• KANT foi o primeiro a reconhecer que ao homem não se pode atribuir valor (preço),
devendo ser considerado como um fim em si mesmo e em função da sua autonomia enquanto
ser racional.
• Da dignidade humana surge todos os valores e direitos que podem ser reconhecidos à
pessoa humana, tais como a afirmação de sua integridade física, psíquica e intelectual, além
de garantir a sua autonomia e livre desenvolvimento da personalidade.

“Age de tal forma que possas usar a humanidade, tanto em sua pessoa como na pessoa
de qualquer outro, sempre e simultaneamente como fim e nunca simplesmente como meio”.
(KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes e outros escritos. São Paulo:
Martin Claret, 2008, p.59)

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como
fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os
valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político. Parágrafo único.
Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente,
nos termos desta Constituição.

2. Conteúdo Jurídico do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana

• Núcleo duro ou conteúdo mínimo do princípio da dignidade - significa dizer que não
se sabe exatamente onde ele está, mas sabe o caminho. O princípio aponta um caminho. Não
dá para dar um conceito fechado de dignidade, que é algo aberto.

• A dignidade da pessoa humana serve como mola de propulsão da intangibilidade da


vida humana, dela defluindo como consequências naturais:
– o respeito à integridade física e psíquica das pessoas;
– a admissão da existência de pressupostos materiais (patrimoniais, inclusive) mínimos
para que se possa viver (Mínimo existencial); e
– o respeito pelas condições fundamentais de liberdade e igualdade.

3. Direitos da Personalidade

DIREITOS DA PERSONALIDADE – São aqueles que têm por objeto os atributos


físicos, psíquicos e morais da pessoa em si e em suas projeções. São direitos subjetivos da
pessoa de defender o que lhe é próprio, ou seja, a sua integridade física (vida, corpo etc),
intelectual e moral.
• O homem não deve ser protegido somente em seu patrimônio (como era no CC/16),
mas principalmente em sua essência.

CARACTERÍSTICAS - Sendo direitos característicos à pessoa, em suas projeções


física, mental e moral, os direitos da personalidade são dotados de certas características
particulares, que lhes conferem posição singular no cenário dos direitos privados. Assim, os
direitos da personalidade são:

A. CARÁTER ABSOLUTO - se materializam na sua oponibilidade erga omnes,


irradiando efeitos em todos os campos e impondo à coletividade o dever de respeitá-los.
B. GENERALIDADE (ou caráter necessário) - são outorgados a todas as pessoas,
simplesmente pelo fato de existirem.
C. EXTRAPATRIMONIALIDADE - é a ausência de um conteúdo patrimonial direto,
aferível objetivamente, ainda que sua lesão gere efeitos econômicos, não obstante, sob alguns
aspectos, principalmente em caso de violação, possam ser economicamente mensuráveis.
D. INDISPONIBILIDADE - significa que nem por vontade própria do indivíduo o
direito pode mudar de titular, o que faz com que os direitos da personalidade sejam alçados a
um patamar diferenciado dentro dos direitos privados. Abarca tanto a intransmissibilidade
(impossibilidade de modificação subjetiva, gratuita ou onerosa — inalienabilidade) quanto a
irrenunciabilidade (abandono do direito).
E. IMPRESCRITIBILIDADE - inexiste um prazo para seu exercício, não se
extinguindo pelo não uso. Ademais, não se deve condicionar a sua aquisição ao decurso do
tempo, uma vez que, segundo a melhor doutrina, são inatos, ou seja, nascem com o próprio
homem.
F. IMPENHORABILIDADE - Embora consequência lógica da indisponibilidade dos
direitos da personalidade, a ideia de impenhorabilidade merece destaque especial. Entretanto,
essa impenhorabilidade não possui o caráter absoluto, tendo em vista que alguns desses
direitos podem sim ser penhorados, como nos casos do direito autoral e o direito de imagem
(patrimoniais).
G. VITALICIEDADE - Os direitos da personalidade são inatos e permanentes,
acompanhando a pessoa desde a primeira manifestação de vida até a sua morte. Sendo
inerentes à pessoa, extinguem-se, em regra, com o seu desaparecimento. Excepcionalmente,
há direitos da personalidade que se projetam além da morte do indivíduo, como veremos no
caso do direito ao corpo morto (cadáver), a honra do indivíduo ocorrer após o seu falecimento
(atentado à sua memória).
4. CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE

- Toda classificação varia necessariamente em função dos critérios metodológicos


adotados por cada autor. Assim, sem pretender esgotá-los, classificamos os direitos da
personalidade de acordo com a proteção à:
▪ CORPO - vida e integridade física (corpo vivo, cadáver, voz);
▪ MENTE - integridade psíquica e criações intelectuais (liberdade, criações intelectuais,
privacidade, segredo);
▪ ESPÍRITO - integridade moral (honra, imagem, identidade pessoal).
• Ressalve-se, porém, que a relação aqui feita não deve ser considerada taxativa.

DIREITO À VIDA - A vida é o direito mais precioso do ser humano. Sem ela, nada
existe, sendo o advento de seu termo final a única certeza absoluta de toda a humanidade.
• O Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos de 1966, em seu art. 6.º, III,
referindo-se ao direito à vida, dispõe que:

“1. O direito à vida é inerente à pessoa humana. Este direito deverá ser protegido pela
lei, e ninguém poderá ser arbitrariamente privado de sua vida”.

A ordem jurídica assegura o direito à vida de todo e qualquer ser humano, antes mesmo
do nascimento, punindo o aborto e protegendo os direitos do nascituro.
• Implica o reconhecimento estatal da legitimidade do combate individual e coletivo a
todas as ameaças à sadia qualidade de vida. Exemplos: Aborto do anencéfalo (ADPF 54),
eutanásia, utilização das células-tronco embrionárias etc.

DIREITO À INTEGRIDADE FÍSICA


• Correlato ao direito à vida, reconhece-se, também, o direito à integridade física. De
fato, o direito tutelado é, no final das contas, a higidez (estado saudável) do ser humano no
sentido mais amplo da expressão, mantendo-se, portanto, a incolumidade (ausência de perigo)
corpórea e intelectual, repelindo-se as lesões causadas ao funcionamento normal do corpo
humano.

CAPÍTULO II - DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE Art. 15. Ninguém pode ser


constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção
cirúrgica.

• Direito ao corpo humano


- O direito à integridade física, por sua amplitude, compreende o direito ao corpo vivo e
às suas partes integrantes, o direito ao corpo morto ou ao cadáver.

DIREITO AO CORPO VIVO - O corpo, como projeção física da individualidade


humana, também é inalienável, embora se admita a disposição de suas partes, seja em vida,
seja para depois da morte, desde que, justificado o interesse público, isso não implique
mutilação, e não haja intuito lucrativo.
– Questões importantes:
• transplante de órgãos entre pessoas vivas (Lei n. 10.211/01); • retirada de órgãos
genitais em virtude da transexualidade (cirurgia de readequação sexual).

- O transplante de órgãos e tecidos de pessoas falecidas, no caso de não ter havido


manifestação expressa por parte do de cujus, o ordenamento jurídico brasileiro experimentou
uma reviravolta.
– Adotamos o sistema do consentimento presumido no Direito brasileiro o art. 4.º da Lei
n. 9.434/97:

Art. 4.º Salvo manifestação de vontade em contrário, nos termos desta lei, presume-se
autorizada a doação de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano, para finalidade de
transplantes ou terapêutica post mortem.

– Diante da dificuldade de precisar o instante da morte humana e o receio de um


irreparável erro médico:
– Por isso, através de uma medida provisória (MP n. 1.959), posteriormente convertida
na Lei n. 10.211, de 23 de março de 2001, passou a ter o referido artigo a seguinte redação:
Art. 4.º A retirada de tecidos, órgãos e partes do corpo de pessoas falecidas para transplantes
ou outra finalidade terapêutica, dependerá da autorização do cônjuge ou parente, maior de
idade, obedecida a linha sucessória, reta ou colateral, até o segundo grau inclusive, firmada
em documento subscrito por duas testemunhas presentes à verificação da morte.

CAPÍTULO II - DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE


Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo,
quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes.
Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para fins de transplante, na forma
estabelecida em lei especial.

DIREITO AO CORPO MORTO (cadáver)


- Se a personalidade jurídica termina com a morte da pessoa natural (mors omnia
solvit), deixaria de existir também sobre o cadáver qualquer direito como emanação da
personalidade jurídica. Todavia, com fundamento na dignidade do ser humano, tem-se
admitido a preservação como direito da personalidade do cadáver.

Art. 14. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio
corpo, no todo ou em parte, para depois da morte.
Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer tempo.

– A violação do cadáver deve ser admitida em duas hipóteses:


• Direito à prova: em caso de morte violenta, ou havendo suspeita da prática de crime, é
indispensável a realização do exame necroscópico, na forma da legislação processual penal
em vigor (art. 162 do CPP).
• Necessidade: admite-se a retirada de partes do cadáver para fins de transplante e em
benefício da ciência, na estrita forma da legislação em vigor, e sem caráter lucrativo.

DIREITO À VOZ
- A tutela da voz traduz a proteção jurídica de um importante componente físico de
identificação do ser humano. A voz ganha individualidade, identificando pessoas e estilos.
• A voz do ser humano, entendida como a emanação natural de som da pessoa, é
também protegida como direito da personalidade.
• De fato, dispõe o inciso XXVIII, a, do art. 5.º da Constituição Federal de 1988:

art. 5.º - [...] XXVIII - são assegurados, nos termos da lei: a) a proteção às participações
individuais em obras coletivas e à reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas
atividades desportivas.

DIREITO À INTEGRIDADE PSÍQUICA


• A pessoa é um ser psíquico atuante que interage socialmente devendo também ser
defendido:
• Direito à liberdade
- O art. 5.º da Constituição Federal de 1988 é um verdadeiro monumento à liberdade,
em todas as suas formas, seja individualizada, seja coletiva.
• CONCEITO – é a faculdade de cada um decidir ou agir segundo a própria
determinação (livre arbítrio). Este direito não é absoluto.
Liberdade é a faculdade fazer tudo o que a lei permite e de não fazer o que a lei proíbe.
Um indivíduo é livre para fazer tudo aquilo que a lei não vede.

Art. 5º CF (...) II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão
em virtude de lei;

• Liberdade – desdobramentos:
– LIBERDADE DE PENSAMENTO:
• Manifestação do pensamento e vedação ao anonimato:
• Liberdade de culto:
– Ensino religioso facultativo;
– Casamento religioso com efeito civil.
• Liberdade de cátedra;
• Liberdade da informação;
• Liberdade jornalística (ou de comunicação social) – Sigilo da fonte – Direito de
Resposta.
– LIBERDADE DE LOCOMOÇÃO;
– LIBERDADE DE EXPRESSÃO COLETIVA:
• Liberdade de reunião;
• Liberdade de associação.
– LIBERDADE DE AÇÃO PROFISSIONAL.

DIREITO À INTEGRIDADE MORAL


- Os direitos da personalidade também objetivam tutelar a esfera moral da pessoa.
A. Direito à honra - Poderá manifestar-se sob duas formas: – objetiva: correspondente à
reputação da pessoa, compreendendo o seu bom nome e a fama de que desfruta no seio da
sociedade; – subjetiva: correspondente ao sentimento pessoal de estima ou à consciência da
própria dignidade.
B. Direito à imagem - constitui a expressão exterior sensível da individualidade
humana, digna de proteção jurídica. – imagem-retrato - que é literalmente o aspecto físico da
pessoa; – imagem-atributo — que corresponde à exteriorização da personalidade do indivíduo
(como ele é visto socialmente).

DIREITO À INTEGRIDADE MORAL - Os direitos da personalidade também


objetivam tutelar a esfera moral da pessoa.
Direito à identidade - O direito à identidade traduz a ideia de proteção jurídica aos
elementos distintivos da pessoa, natural ou jurídica, no seio da sociedade.

CAPÍTULO II - DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE


Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à
manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a
publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu
requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama
ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais.
Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para
requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes.

Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do


interessado, adotará as providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a
esta norma.
LEITURA OBRIGATÓRIA - ADIN 4.815 - Por unanimidade, o Plenário do SFT julgou
procedente a ação e declarou inexigível a autorização prévia para a publicação de biografias.
A decisão dá interpretação conforme a CF aos arts. 20 e 21 do CC, em consonância com os
direitos fundamentais à liberdade de expressão da atividade intelectual, artística, científica e
de comunicação, independentemente de censura ou licença de pessoa biografada,
relativamente a obras biográficas literárias ou audiovisuais (ou de seus familiares, em caso de
pessoas falecidas).

A PROTEÇÃO DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE


- Em linhas gerais, a proteção dos direitos da personalidade poderá ser:
– Preventiva — principalmente por meio do ajuizamento de medida de urgência, ou
ordinária com multa cominatória, objetivando evitar a concretização da ameaça de lesão ao
direito da personalidade;
– Repressiva — por meio da imposição de sanção civil (pagamento de indenização); ou
– Penal (persecução criminal) em caso de a lesão já haver se efetivado.

Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e
reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.
Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida
prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral
até o quarto grau.

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