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  O patolÓGICO

O PATOLÓGICO
Centro Acadêmico Adolfo Lutz - Medicina Unicamp - ano mmix - janeiro

O PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA CARTA DOS

obsoleto ou promissor? Leia mais na P. 4
ESTUDANTES
O AO PS DO
Programa de selecionamos 2 textos da UNICAMP. O primeiro, escrito
Saúde da Família, recentes publicados na Folha por Rosana Campos, doutora e

iniciado em
1994, foi um dos
programas propostos pelo
governo federal aos municípios
para implementar a atenção
básica.
O PSF é tido como uma
das principais estratégias de
reorganização dos serviços e
de reorientação das práticas
profissionais neste nível de
assistência, promoção da
saúde , prevenção de doenças
e reabilitação. Traz, portanto,
muitos e complexos desafios
a serem superados para
consolidar-se enquanto tal.
Para esta edição,
O CAAL NOEL P. 3
Veja a reportagem que saiu no portal da UNICAMP a respeito do evento organizado pela gestão
Roda Viva na Enfermaria de Pediatria do HC, que ocorreu no dia 19/12.
de S. Paulo que debatem o
tema do PSF, sob pontos de
vista completamente distintos.
Um dos textos, publicado no
dia 30/11, escrito por José
Pinotti, ex-reitor da UNICAMP,
criticando duramente o modelo
do Programa e chamando-o de
obsoleto. Em resposta a essa
crítica, Gustavo Gusso e Zeliete
Zambon, ambos Médicos
de Família e Comunidade,
contestam na Folha de S. Paulo
do dia 07/12 o texto do ex-
reitor.
Para completar a matéria,
apresentamos 2 textos escritos
por professores e residentes
HC-UNICAMP
docente da UNICAMP, critica o
ponto de vista de Pinotti e faz
um paralelo com a inserção do
PSF dentro de nosso currículo.
Já o segundo traz a opinião
p. 2
dos residentes de Medicina da
Família e Comunidade do nosso
Hospital a respeito de estragégias
do PSF, dentro do SUS. ALUNOS DA UELTÊM
DIPLOMA SUSPENSO
O tema do PSF, além
de polêmico, necessita de
cuidadosa reflexão e análise.Não
há como definí-lo em obsoleto Veja a notícia que saiu na mídia
ou não, antes de contextualizar e a reflexão de Fabricio Costa a
o programa dentro de uma respeito do ocorrido. » leia mais, p. 7
realidade histórica de saúde de
nosso país.
Confira a matéria na página 4!
PATOCULTURAL
Veja a análise do disco “Sce-
nes From a Memory”, do grupo
Dream Theater���������������
, por Vitor No-
gueira.
» leia mais, p. 6

CÓDIGO DE ÉTICA
O Código de Ética Único da
Medicina Unicamp, que pas-
sará por Assembléia no dia
01/04/09. » leia mais, p. 3

EXAMEDOCREMESP
Camila Donini discute o polêmi-
co exame e o posicionamento
de nossa faculdade em 2008.
» leia mais, p. 7

AORIGEMDAVIDA
Mais um texto de Delfos, por
Fernando Henrique, a respeito
da origem da vida, a partir da
mitologia.
» leia mais, p. 8
 2  O patolÓGICO
CARTA AO PS
A
Campinas, 03 de novembro de 2008.
o longo do curso de Medicina da
Faculdade de Ciências Médicas da
Unicamp, os graduandos viven-
ciam experiências em diversos cam-
pos de aprendizagem. Um desses campos é o
Pronto Socorro de adultos do Hospital de Clí-
nicas, onde há inserção dos internos no sexto
ano (durante o dia e em regime de plantão no
período noturno e fins de semana), e extra-
curricularmente de graduandos que desen-
volvem atividades nos cursos de CCI, e ligas
do trauma e de emergências clínicas (LEC).
Ao longo de nossa graduação, mais intensa-
mente em 2008, tivemos a percepção da pos-
sibilidade e necessidade de algumas mudan-
ças nesse ambiente de forma a melhorar o
ensino de medicina e a garantir uma melhor
assistência a população usuária desse ser-
viço. Redigimos, então, um documento que
pretende ser o início de uma transformação,
a partir do qual reivindicaremos em conjunto
as mudanças propostas.
41ª e 42ª turma de Medicina da FCM-UNI-
CAMP
Carta dos alunos de graduação da Me-
dicina Unicamp à Superintendência do
Hospital de Clínicas da Unicamp e à Co-
missão de Ensino e Graduação da Facul-
dade de Ciências Médicas da Unicamp
Nós, alunos de Medicina da Faculdade
de Ciências Médicas da Unicamp, preocu-
pados com a educação médica, com nossa
formação e com a atenção à saúde presta-
da a nossa população, redigimos essa carta
para levantar algumas questões e pontos
de vista sobre o Pronto Socorro de nosso
HC. As idéias colocadas abaixo não têm a
pretensão de ser um documento modifica-
dor das situações nem mesmo uma crítica
pura e simples; tem sim o intuito de fazer
uma crítica construtiva e iniciar uma con-
versa que pode vir a ocorrer entre gestores
e estudantes, de forma a construir conjun-
tamente um local melhor estruturado para
ensino e serviço em medicina.
Compreendemos a complexidade de
uma possível mudança, ainda mais num
ambiente de prestação de serviço à saúde,
todo embasado em legislações e adequa-
ções, porém gostaríamos de contribuir e
provocar a discussão de questões envol-
vendo a infra-estrutura física e dos estágios
pelos quais passamos no PS.
Estruturamos as questões em três
grandes eixos: estágio acadêmico, infra-
estrutura e críticas gerais que influenciam
na efetividade das atividades no local.
Estágio acadêmico
A estrutura atual, remodelada há 1 ano,
está ótima, promovendo aproveitamento
acadêmico de excelente qualidade, com
discussão dos casos, discussão de artigos
atuais, e preceptores envolvidos e preocu-
pados com a formação dos estudantes. Os
médicos contratados possibilitam atendi-
mento na porta de forma a tornar possível
as discussões dos casos, inclusive didatica-
mente, sem onerar o serviço ou a popula-
ção que aguarda atendimento.
A parte de psiquiatria no estágio de
emergência melhorou muito com a contra-
tação do atual médico psiquiatra (Dr. Luiz
Fernando) que permanece no PS todos os
dias pela manhã, de forma horizontal, o que
possibilita uma melhor assistência e funcio-
namento do serviço, e um melhor aprovei-
tamento por parte dos estudantes que têm
essa pessoa de referência para discutir os
casos e temas da área de psiquiatria.
A especialidade de Neurologia deixa
a desejar e poderia ser melhor estrutura-
da, com um neurologista de referência
contratado para discussão dos casos que
envolvem tal especialidade e que não são
poucos ao longo de um único dia. A falta de
tal pessoa minimiza discussões de neurolo-
janeiro de 2009
gia que poderiam ser melhores exploradas
e nos deixa à mercê de um residente que
nem sempre tem boa vontade ou didática.
outros serviços quando formado. Não é
aceitável um centro de estudos e pesquisas,
tão atualizado em diversos assuntos científi-
Balancete
Isto traria benefício tanto para formação cos submeter seus pacientes e ensinar seus
quanto para população atendida. alunos apenas a lidarem com aparelhos de DEZEMBRO
Algumas especialidades poderiam ventilação mecânica tão ultrapassados. Dia Descrição Saldo
ter docentes/ contratados presentes no A equipe de enfermagem em número Débito Crédito
Saldo Mês Anterior R$ 39.416,82
PS 24h por dia para um atendimento inte- pequeno para atender a demanda de pa-
Papelaria CoMAU R$ 55,80 R$ 39.361,02
gral do paciente, mais efetivo, e com uma cientes de nosso serviço dificulta o desem-
Pen Drive - CoMAU R$ 3.000,00 R$ 36.361,02
formação mais completa do acadêmico, penho e eficiência dos atendimentos, sen- Faixa CoMAU - 25/09 R$ 98,00 R$ 36.263,02
e, tratando-se de um hospital de serviço do importante uma revisão desse número Taxi profª Valeria Aoki R$ 225,00 R$ 36.038,02
terciário, sabendo da existência dos depar- e se possível ampliação do quadro desses Xerox CoMAU R$ 14,85 R$ 36.023,17
Correios COMAU (em 29/08) R$ 42,85 R$ 35.980,32
tamentos das mais diversas especialidades profissionais, para um serviço mais eficaz,
Inscrições CoMAU em dinheiro R$ 80,00 R$ 36.060,32
tão próximos, poderíamos aproveitar a menos demorado, e de melhor qualidade.
Inscrições COMAU R$ 55,00 R$ 36.115,32
oportunidade para melhorar o ensino e Críticas gerais que influen- R$ 1,25
Troco cartazes CoMAU em 05/08 R$ 36.116,57
serviço nas áreas de Neuroclínica, Neuroci- ciam na efetividade das ativida- Caixinha CAAL (julho a novembro) R$ 393,71 R$ 36.510,28
rurgia, Ortopedia, Psiquiatria e Cirurgia, que des no local Canecas OktoberMED R$ 45,00 R$ 36.555,28
Passagem CoMAU (21/08) R$ 674,00 R$ 35.881,28
na grande maioria das vezes fica nas mãos A segurança da porta poderia ser me-
Correios CASU R$ 1,30 R$ 35.879,98
de residentes, que já são sobrecarregados lhor treinada, de forma a conter pacientes
Certificados CASU R$ 26,75 R$ 35.853,23
com seu próprio serviço. que exacerbam suas atitudes, e estarem
Despesas Profª Marília Barreto R$ 273,90 R$ 35.579,33
infra-estrutura prontos para auxiliar um estudante ou um Transporte Profº José Tonezzi R$ 40,00 R$ 35.539,33
A começar pela disposição do espaço, profissional da saúde quando esse tem sua Gastos extras R$ 15,50 R$ 35.523,83
com a sala de emergência localizada ao integridade em risco. Flyers oktoberMED - 2ª leva R$ 135,00 R$ 35.388,83
OktoberMED - antecipados R$ 322,00 R$ 35.710,83
fundo de um corredor que fica repleto de A triagem nem sempre ocorre da for-
OktoberMED - vendas R$ 670,00 R$ 36.380,83
macas com doentes, e quando chega um ma mais adequada e é ineficiente, colocan-
OktoberMED - cooperativa R$ 970,90 R$ 35.409,93
paciente que necessita de atendimento do pacientes de maior risco em situações
OktoberMED - cachorro quente R$ 170,00 R$ 35.239,93
de emergência ou urgência esse tem que de mais espera do que pacientes de menor 01/12/2008 Xerox imprensa - patológico novembro R$ 72,00 R$ 35.809,28
passar por todo PS até chegar ao local alvo, risco, do ponto de vista médico. É necessá- Salário Jerry + 1ª parcela 13º salário R$ 1.087,03 R$ 34.722,25
causando stress a toda equipe de atendi- ria a existência de educação continuada ou Alarme R$ 309,08 R$ 34.413,17
Site CAAL R$ 134,00 R$ 34.279,17
mento, ao doente, e aos pacientes que ali de supervisão do atendimento desse setor,
Xerox pagamento R$ 124,71 R$ 34.154,46
estão sendo atendidos, além de retardar o de forma a readequar e a garantir de fato
Faixa CAAL Noel R$ 26,00 R$ 34.128,46
atendimento, mesmo que em segundos. uma triagem correta.
Idiomas - pagamento professora francês R$ 660,00 R$ 33.468,46
A sala de psiquiatria, sem janelas, muito A solicitação de Raio-X não pode mais Entrada agasalho R$ 30,00 R$ 33.498,46
pequena, no meio do PS, de fronte a todas ser realizada pelos internos, o que atrasa o Entrada agasalho R$ 59,25 R$ 33.557,71
Site CAAL R$ 134,00 R$ 33.423,71
as outras macas espalhadas pelo corredor, pedido e a realização do exame. Não ve-
Patológico R$ 452,23 R$ 32.971,48
expõe o paciente e precariza o atendimen- mos objetivo nessa imposição, visto que
02/12/2008 Salário Cidinha + 1ª parcela 13º salário R$ 2.200,02 R$ 30.771,46
to. Caso seja possível, cremos que essa sala todo Raio-X é e deve ser discutido com
03/12/2008 Contador R$ 2.395,00 R$ 28.376,46
de atendimento psiquiátrico deva se locali- um docente. Nenhum aluno sairá pedindo 04/12/2008 Financiamento Reitoria CoBREM R$ 3.500,00 R$ 31.876,46
zar na entrada, ao lado dos consultórios de esse exame para todo paciente, são discuti- Repasse Cantinas R$ 5.757,49 R$ 37.633,95
atendimento, com ventilação e 2 portas. das as indicações e contra-indicações desse Venda Pen Drives (até 04/12) - 9 unidades R$ 180,00 R$ 37.813,95
Venda Pastas CASU R$ 90,00 R$ 37.903,95
As “salas” criadas recentemente com exame em cada caso, e nem todo médico
05/12/2008 Pagamento das Inscrições CoBREM R$ 2.100,27 R$ 35.803,68
divisórias na parte do corredor do PS, que contratado pode solicitar esse exame, mui-
09/12/2008 Conta de telefone R$ 411,12 R$ 35.392,56
deveriam ser utilizadas para inalação, hoje tas vezes fazendo o interno ir atrás de um Financiamento FAEPEX CASU R$ 3.000,00 R$ 38.392,56
são utilizadas para colocar pacientes que residente ou de um docente para solicitar Aluguel Randall R$ 800,00 R$ 39.192,56
deveriam ficar em isolamento (detalhe um carimbo. Inscrições CoBREM R$ 560,00 R$ 39.752,56
10/12/2008 Internet R$ 9,90 R$ 39.742,66
que a divisória não atinge o teto, não tendo É necessário um profissional de enfer-
15/12/2008 Mensalidade da conta R$ 35,00 R$ 39.707,66
nada além de paredes para isolar de ou- magem fixo na sala de medicação, pois esta
16/12/2008 Patrocínio Calourada R$ 90,00 R$ 39.797,66
tros doentes), enquanto os pacientes que fica boa parte do tempo sem cobertura, e
18/12/2008 Patrocínio Calourada R$ 300,00 R$ 40.097,66
necessitam de inalação disputam espaços muitas vezes o interno e o contratado têm Reembolso Combustível R$ 76,80 R$ 40.020,86
entre macas com pontos de oxigênio para que ficar procurando uma enfermeira que Gastos Cartório R$ 558,09 R$ 39.462,77
19/12/2008
realizar sua terapêutica. esteja disponível para atender a solicitação Placas Homenagem XLI R$ 195,00 R$ 39.267,77
2ª Parcela 13º salário Cidinha R$ 550,22 R$ 38.717,55
Os armários destinados aos alunos no médica.
2ª Parcela 13º salário Jerry R$ 249,53 R$ 38.468,02
PS são utilizados por outros funcionários, O fluxo de exames de patologia clínica
Entrada agasalho R$ 65,00 R$ 38.533,02
quando deveriam permitir o trancamento entre laboratório e PS é muito demorado, Inscrição CoBREM R$ 170,00 R$ 38.703,02
dos pertences dos alunos que estão na- sendo que um exame que demora mi- Pagamento de Inscrição CoBREM R$ 160,27 R$ 38.542,75
quele momento atuando no PS. É neces- nutos para ser realizado de fato, chega as Pagamento Alarme janeiro R$ 309,08 R$ 38.233,67
22/12/2008 Taxa extrato inteligente R$ 3,90 R$ 38.229,77
sária melhor organização desses armários mãos do médico ou do interno após horas
Lembrança de Natal dos funcionários R$ 15,84 R$ 38.213,93
e disponibilidade para utilização por parte de espera, o que acarreta acúmulo de pa-
Pagamento Telefone Embratel R$ 15,35 R$ 38.198,58
dos alunos. cientes aguardando exames e pode por Saldo Final do Mês R$ 38.198,58
O espaço em si do PS é insuficiente em vezes atrasar a terapêutica de muitos que
relação à demanda de atendimento, sen- poderiam ter seus casos corrigidos/atendi-
do necessário um melhor planejamento dos mais prontamente caso o fluxo fosse
do espaço para redistribuição das salas e mais eficaz.
macas de forma a melhor dispor e melhor Existe sala para atendimento do otorri-
aproveitar o espaço. nolaringologista no PS, porém os internos
A circulação de ar no PS é prejudicada, muitas vezes têm que levar o paciente até o
permanecendo um ar viciado, sem vazão, e ambulatório para ser atendido pelo profis-
acumulando odores. Seria importante um sional da área, pois esse não se desloca ao
estudo para implantação de melhor servi- PS. Seria mais sensato que um profissional
ço de circulação de ar, com ar condicionado estivesse presente no serviço de urgência,
e filtros adequados, ou ao menos canaliza- ou se isso não fosse possível, que se dirigis-
ção de correntes de ar, com a finalidade de se ao serviço quando bipado pela presença
obter um ambiente mais salubre aos pro- de um caso que exige sua avaliação. A falta
fissionais da área e aos doentes que ali são de um kit adequado para sutura também
atendidos. atrapalha nosso aprendizado e a assis-
Os computadores, utilizados para tência aos pacientes, uma vez que temos
checar exames são muito antigos, pouco que utilizar pinças Kelly e Cheron, ao invés
funcionais e em pouco número, sendo de porta-agulhas; nunca há tesouras, e,
necessária uma renovação das máquinas e portanto utilizamos lâminas de bisturi; e
também a aquisição de um ponto de con- freqüentemente faltam campos estéreis.
sulta on-line, com acesso a base de dados Acreditamos que mudanças são factíveis,
científica, para consultas rápidas. ainda mais quando envolve um coletivo
As macas nas salas de atendimento que a deseja juntamente, e não envolve
estão deformadas e instáveis, sendo neces- apenas algumas poucas pessoas ou pou-
sárias novas aquisições. cos setores administrativos.
Os respiradores existentes na sala de Esperançosos de nossa capacidade
urgência são arcaicos, de modelos muito conjunta de melhoria do ensino e serviço
antigos (década de 50) o que onera o ser- em medicina, aguardamos contato e pos-
viço e o ensino, uma vez que o aluno não sibilidades de reuniões e planejamentos
aprenderá manipular um respirador mais para elucidações de equívocos e possíveis
atual, provavelmente o que encontrará em atuações para efetivar o que almejamos.
  O patolÓGICO janeiro de 2009 3

Editorial A gente não quer só comida será. Isso porque há atitudes que dificilmente serão mudadas. Exemplifico:
art 5º: diga isso para alguns residentes e docentes pelas enfermarias da
vida...; art 6º: haja visto a competitividade do estudante de Medicina desde

O
segundo “O Patológico” de nossa
gestão sai em janeiro!Nesta edição,
temos o balancete de dezembro.
Contamos também com a carta
redigida pela XLI e XLII ao PS do HC e, através
de abaixo assinado promovido pelo CAAL,
representada por todos estudantes da
graduação.
A seção Spasmo! continua com 2 poemas
escritos por Eliel Faber. Já a seção Saiu na
Mídia apresenta o incidente que ocorreu na
Universidade Estadual de Londrina, seguida
pelo comentário do Fabrício a respeito.
A seção PATOCULTURAL conta com a
crítica de um álbum de heavy metal feita por
Vitor Nogueira.
Além destes, temos textos a respeito do
CREMESP, o Código de Ética Único, o Núcleo
de Diversidade da Unicamp, Delfos e a
matéria principal a respeito do PSF.
E atenção: a próxima edição será já em
fevereiro, portanto, envie seu texto o quanto
antes para chaparodaviva@gmail.com e
tenha seu texto publicado!
Até o próximo pato!
Tiragem: 600 exemplares
Impressão: Gráfica Central da
UNICAMP
Diagramação,editoração e
elaboração: Gestão Roda Viva
Foca (XLIII) - OMBUDSMAN
É evidente a melhora da qualidade dos textos neste segundo jornal da
atual gestão do CAAL. Não que a escrita esteja melhor, mas a discussão trazida
por cada um mostra-se mais madura do que no mês anterior.
Em primeiro lugar, destaca-se a carta redigida pelas turmas 41 e 42 sobre
a atual situação do PS. E isso pode ser confirmado por qualquer aluno, 1º ao 6º
ano, já que atendendo, participando de ligas ou apenas passando por lá, to-
dos já tiveram contato com o nosso PS. Um curso médico que se “gaba” pela
reforma curricular e pelos 3 anos de internato não pode deixar seus alunos “à
mercê” de um infra-estrutura tão precária em um estágio fundamental como
o da emergência. Não é necessário mais de 1 dia dentro do PS para perceber
que ele é “tocado” pela boa vontade: da enfermeira em fazer a medicação, do
residente em discutir melhor um caso ao invés de mandar o interno encamin-
har o paciente para casa mesmo este não recuperado, do segurança em não
deixar qualquer indivíduo entrar no PS, do especialista para vir avaliar um caso,
do interno em levar a amostra ele mesmo porque precisa do resultado da gaso
rápido, dentre outros.
É impossível que só tenham olhos para isso os alunos que passam um está-
gio e alguns plantões por lá, sendo que nenhum residente, médico contratado
ou docente tenha visto a atual situação do PS. Todos enxergam o que acon-
tece e as gigantescas falhas no binômio ensino / assistência dentro do nosso
“Pronto”-Socorro, mas deve ser tão difícil estruturar uma reforma completa que
é mais fácil adaptar-se a esse modelo arcaico, no qual alunos e pacientes são
os principais prejudicados. Existem, sim, pessoas fora da graduação que bus-
cam sua melhoria e muitos pontos têm sido melhorado nos últimos tempos
(já mencionados na carta). Além disso, todos têm ouvido muito sobre o “Novo
PS”, que o projeto já está pronto e que terá não sei quantos andares, mas não dá
para ficar apenas esperando um projeto que vá resolver todos os nossos prob-
lemas em um prazo ainda não estabelecido. Por hora, pelo menos uma reorga-
nização de serviços básicos (contratados para discutir casos, locais de isolamen-
to, ar de razoável qualidade, macas dignas, dentre tantos outros) é inadiável. E
continuemos nós, alunos, a reivindicar o que nos é de direito, já aproveitando e
exercendo o artigo 17 do Código de Ética presente nesta edição do jornal.
Falando em Código de Ética, queria ressaltar sua importância no sentido de
ser um norte do comportamento e conduta frente a diversas situações do dia-
a-dia para os alunos da Med UNICAMP, mas pergunto-me o quão efetivo este
o vestibular até a prova de residência; art 13: já deu uma passada no CO
e PA do CAISM?; art 28: como manter saúde física e mental e a aparência
após um dia inteiro de ambulatório, plantão na porta do PS à noite e às
vésperas da prova de residência? Desse modo não é de se estranhar que a
data de sua legitimação seja o dia 1º de abril!!! Mesmo assim, parabéns aos
que se esforçaram por esse projeto que envolveu todas as turmas.
O tema central desta edição, no entanto, foi a discussão sobre o polêmi-
co texto, transcrito nesta edição d’O Patológico, do Dr. Pinotti sobre o PSF
que saiu na Folha no final de novembro, o qual, segundo o ex-reitor da
UNICAMP, está obsoleto e cujas bases no Brasil deveriam ser revistas. Nesse
mesmo jornal, 10 dias depois, pôde-se ler uma resposta à altura, também
aqui transcrita. Entretanto, o que realmente achei digno de elogios foi a
iniciativa do CAAL em solicitar um texto para a Dra. Rosana Onocko, pro-
fessora do DMPS da UNICAMP, assim como para os nossos residentes de
Saúde de Família e Comunidade, comentando o assunto que saiu na mí-
dia. Desnecessário comentá-los sob o foco do conteúdo, mas acredito que
sejam discussões como esta que estavam faltando neste periódico, que
tragam informações de além-muros da Universidade para o cotidiano do
graduando de Medicina, melhorando sua análise dos assuntos médicos
enfrentados no dia-a-dia. Parabéns, novamente, pela iniciativa e contin-
uem trazendo-nos essa análise crítica da saúde no Brasil.
Outros textos que chamam a atenção são o Debate da UEL e sobre o
Exame do CREMESP, este com o original na íntegra no site do CAAL. Além
dos fatos em si, chamo a atenção para os comentários do Bambu (45) e
Copinho (42), respectivamente. Belíssimas críticas, cada um a seu modo. O
primeiro convida-nos a refletir não somente sobre o ocorrido, mas sobre
todo o processo que possa ter havido com aqueles estudantes e que, de
modo semelhante, está acontecendo conosco, embaixo de nossos nariz-
es. Tudo isso em uma linguagem agradável aos ouvidos e lógica à mente.
No segundo, a experiência acumulada pela autora sobre o tema mostra-se
em uma crítica consistente, com argumentos fortes e objetivos, fazendo
um contra-ponto bastante interessante à matéria que saiu no jornal.
E esta foi a tônica desta edição d’O Patológico, com críticas coerentes e
construtivas que merecem ser lidas com atenção especial principalmente
porque tratam de assuntos nos quais estamos todos envolvidos. Portanto,
considero que o saldo tenha sido positivo. Desta forma, estaremos resga-
tando a real função do nosso espaço de expressão!

O Código de Ética Único

Como o combinado, estamos divulgando o Có-
digo de Ética Único para que todos possam dar
suas opiniões, críticas e sugestões!!! É só enviar
para o email: ge_etica@yahoo.com.br até o dia
27 de março de 2009. Todas as sugestões serão
consideradas pelo Grupo de Estudo de ética,
composto por alunos da Medicina UNICAMP e a
Assembléia Geral para a Legitimação do Código
será no dia 01 de abril de 2009!!!!
Contamos com a participação de todos!!!
Código de Ética dos alunos de Medicina
da Faculdade de Ciências Médicas da UNI-
CAMP
Considerando a proposta pedagógica do
Curso de Bioética e Ética Médica,
Considerando CÓDIGO o conjunto de nor-
mas e princípios que regulam um processo,
Considerando ÉTICA o conjunto de re-
lações dos indivíduos entre si e desses com
a sociedade, fundamentada na autonomia,
consciência e coerência,
Adotamos CÓDIGO DE ÉTICA como a de-
claração formal de valores, práticas, deveres,
direitos e responsabilidades em que se pre-
zam a justiça, o zelo e a cidadania,
Proclamamos o presente Código de Ética,
elaborado com o intuito de estabelecer um
compromisso de conduta respeitosa entre os
alunos constituintes, nortear e regular a vida
acadêmica e promover a convivência har-
moniosa entre alunos, professores, pacientes,
funcionários e universidade, respeitando-se a
dignidade individual.
CAPÍTULO 1 – DOS PRINCÍPIOS FUNDAMEN-
TAIS
Art. 1o - Respeitar a vida, a liberdade e a
dignidade do ser humano, qualquer que seja a
relação com os estudantes de medicina desta
faculdade.
Art. 2º - Aprender a Arte da Medicina, con-
ciliando a técnica científica e a prática humanís-
tica que zelem pelo bem-estar da sociedade.
Art. 3º - Valorizar um ensino de qualidade
conciliado a uma saúde pública baseada na
universalidade, equidade e integralidade.
CAPÍTULO 2 – DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS
Art. 4º - Respeitar características indivi-
duais: etnia, credo, sexo, orientação sexual,
aspectos socioeconômicos, nacionalidade,
procedência, atributos físicos e intelectuais e
profissão.
I. RELAÇÃO ALUNO-ALUNO
Art. 5º - Comprometer-se a não permitir
um comportamento prepotente para com
outros alunos, subjugando-os física ou mo-
ralmente, em qualquer atividade curricular ou
extracurricular legítima.
Art. 6º - Priorizar a lealdade, a cooperação
e o sentimento de coletividade, em detrimen-
to da competitividade e do exclusivismo, para
com aqueles que o acompanha durante a sua
formação e para com alunos de outros institu-
tos, faculdades e universidades.
§ primeiro – Acolher o indivíduo em difi-
culdades, buscando apóia-lo nas suas ativida-
des acadêmicas e cotidianas.
§ segundo - Cumprir os compromissos as-
sumidos em equipe na realização das ativida-
des universitárias de aprendizado e trabalho,
sem negligenciá-las, a fim de não sobrecarre-
gar os demais.
II RELAÇÃO ALUNO-PROFESSOR
Art. 7º- Guardar respeito pelos docentes
bem como valorizar seus conhecimentos.
Art. 8º - Avaliar o conteúdo ministrado e
sua metodologia, imparcialmente, através de
críticas e propostas que visem ao aprimora-
mento do ensino.
III RELAÇÃO ALUNO-FUNCIONÁRIO
Art. 9° - Assumir uma postura de respeito,
solidariedade e apreço para com todos os fun-
cionários que contribuem direta ou indireta-
mente para a formação dos alunos.
IV RELAÇÃO ALUNO-PACIENTE
Art. 10° - Respeitar o paciente como um
todo, considerando seu contexto emocional,
sócio-cultural e econômico; bem como prezar
pela sua liberdade e dignidade.
§ primeiro – Buscar a preservação da vida
do paciente utilizando todos os recursos ne-
cessários e possíveis para manutenção de seu
bem estar.
§ segundo – Manter sigilo sobre toda e
qualquer informação a respeito do paciente.
Art. 11 - Respeitar os familiares e/ou acom-
panhantes do pacientes, esclarecendo suas
dúvidas.
Art. 12 - Esclarecer sobre sua condição de
aluno ao paciente.
Art. 13 - Assumir somente responsabilida-
des concernentes com seu limite de preparo
técnico-científico, de modo a não prejudicar
o atendimento ao paciente, expondo-o a risco
ou desconforto desnecessário.
V. RELAÇÃO ALUNO-INSTITUIÇÃO
Art. 14 - Manter ativos os órgãos represen-
tativos de estudantes como centros e diretó-
rios acadêmicos, associações atléticas, ligas
estudantis, entre outros.
Art. 15 - Zelar pela manutenção das insta-
lações da universidade e hospital escola e valo-
rizar o espaço de uso coletivo.
Art. 16 - Preservar o patrimônio público das
demais instituições vinculadas que colaboram
com as atividades de ensino como centros de
saúde e outros hospitais.
Art. 17 – Reivindicar, da instituição respon-
sável pelo ensino médico, uma infra-estrutura
adequada e professores competentes e dedi-
cados, visando uma formação acadêmica de
qualidade.
VI. RELAÇÃO ALUNO-SOCIEDADE
Art. 18 - Aprimorar o exercício da cidada-
nia e desenvolver a consciência social de sua
futura profissão.
Art. 19 - Atuar e estimular a participação
estudantil nas instâncias de decisão.
Art. 20 - Reivindicar o direito a ações de
protesto seguindo um padrão racional e civi-
lizado de conduta.
Art. 21 - Retribuir à sociedade o investi-
mento feito por esta para sua formação.
Art. 22 - Lutar pela efetivação dos princí-
pios do Sistema Único de Saúde, primando
por eles no exercício de suas atividades.
CAPÍTULO 3 - DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 23 - Preparar-se intelectual e moral-
mente para as tarefas e obrigações que o
aguardam como profissional.
Art. 24 - Ter ciência do contínuo esforço ne-
cessário para o aprimoramento técnico-cientí-
fico, cultural e ético de sua futura profissão.
Art. 25 - Manter-se atualizado e avaliar de
maneira crítica as informações que lhe são for-
necidas.
Art. 26 - Respeitar todos os cadáveres e
animais que auxiliem no aprendizado e forne-
çam os alicerces para o desenvolvimento das
ciências médicas.
Art. 27 - Prezar pelas tradições universitá-
rias que fortaleçam a dignidade humana e que
prestigiem os laços de respeito e amizade en-
tre as diversas turmas da Instituição.
§ Único: Desestimular atitudes opressivas
e humilhantes para com qualquer membro da
sociedade.
Art. 28 – Comprometer-se em manter sua
saúde física e mental e zelar pela aparência e
conduta, sobretudo no que diz respeito à vida.
CAPÍTULO 4 – DISPOSIÇÃO FINAL
Art. 29 - Considerando essas disposições
como essenciais, os estudantes de Medicina
da Faculdade de Ciências Médicas da UNI-
CAMP, comprometem-se a conhecê-las, com-
preende-las e segui-las.
O CAAL NOEL
A mesa para o café da manhã estava posta na Pediatria
do Hospital das Clínicas, nesta sexta-feira (19/12), mas o que
as crianças aguardavam ansiosamente mesmo era a chegada
do Papai Noel. Depois de algumas degustações, eis que surge
o Bom Velhinho, com uma risada que conforta qualquer cor-
pinho doente e melhor, com presentes na mão. O Papai Noel,
Mário Pincelli Netto, estudante do segundo ano de medicina,
já passava as férias= em Franca, com a família, mas quando
o assunto é o Caal Noel, festa de natal do Centro Acadêmico
Adolfo Lutz para pacientes da pediatria, ele não se impor-
ta com quantos quilômetros precisa percorrer para fazer as
crianças mais felizes. “É gratificante ver o sorriso deles e dos
pais, que também entram no clima. Ano passado, uma mãe
me abraçou e agradeceu pelo que estávamos fazendo pela fi-
lha dela. Isso não tem justamente para trazer alegria para eles.
Orlando dos Santos nem tinha o semblante de quem dor-
mira várias noites no próprio carro, durante a internação da
neta. No momento da festa, ela observava e comentava tudo
com um largo sorriso. “Vale a pena vir de Itapetininga para cá,
dormir no carro. Já tínhamos ganhado o implante coclear dela
de presente de natal e agora esta homenagem às crianças está
sendo maravilhosa. A gente fica sem saber como agradecer”,
diz o funcionário público.
Os recursos para dar alegria às crianças foram arrecadados
num pedágio e numa campanha feita entre estudantes de
medicina. “Passamos uma ‘sacolinha’ entre os estudantes”, dis-
se Lucas Augusto Trigo, aluno do segundo ano de medicina. A
confraternização foi cuidadosamente e rigorosamente prepa-
rada por estudantes, que há quatro anos oferecem o Caal Noel
aos internos da Pediatria. De acordo com Maura, funcionária
da Pediatria, eles se preocuparam com tudo, desde o cardápio
adequado para cada paciente, comprando panetones refrige-
rantes e sucos dietéticos ou salgados sem sal para os que têm
restrição alimentar. O cuidado também está na separação dos
presentes, segundo o estudante do segundo ano de medici-
na Lucas Augusto Trigo. “Separamos os presentes de acordo
com a idade e personalizamos”, disse Trigo.
Para as estudantes iniciativas como o Caal Noel, a PasCa-
al e a festa junina realizada na Casa de Repouso de pacientes
com câncer estimulam a participação em projetos de res-
ponsabilidade social. Para elas, que já realizavam este tipo de
atividade antes de ingressas na Universidade, o Caal Noel é
uma experiência muito satisfatória. “Dá trabalho, mas ao ver a
alegria das crianças, ver que proporcionamos este momento
em que elas esquecem um pouco os problemas, nós esque-
cemos os nossos também”, diz Trigo.
A movimentação no pátio da Pediatria chamou a aten-
ção da equipe de lactaristas da Pediatria. “Muito importante
a idéia dos alunos. É bom saber que existem futuros médicos
com essa proposta. Nós olhamos para essas crianças, e, mes-
mo com algum problema, elas têm sempre um sorriso para
nos dar todos os dias”, diz Sara Lícia da Silva.
www.unicamp.br/unicamp/divulgacao/2008/12/20/caal-noel-da-alegria-a-pacientes-da-
pediatria-do-hc-0
o programa de saúde da família
4  O patolÓGICO
PSF
É
PERIGOSO mexer com ícones sem ser ico-
noclasta, mas o Programa de Saúde da
Família (PSF) precisa ser rediscutido com
seriedade. Caso contrário, continuaremos
a gastar grandes quantias de recursos, com resultados
precários.
O PSF conta com 43.024 equipes de saúde coorde-
nadas por médicos para visitar famílias nas suas casas
(tem também algumas outras funções).
Gasta R$ 4 bilhões por ano e, apesar de ter come-
çado no início dos anos 90, não conseguiu a cober-
tura desejada ou diminuição apreciável dos índices
de morbiletalidade. Recentemente, avaliação da ONU
mostrou que somos o país com o terceiro pior índice
de infantil da América do Sul.
Não faltam avaliações críticas. A Unicamp (2006)
conclui: médicos com formação heterogênea, espe-
cializada, sem conhecimento suficiente para atuar na
atenção básica; baixa resolubilidade, falta compro-
misso com a comunidade; capacitações descontínu-
as, não atendem às necessidades.
O Ministério da Saúde, em 2002, já apontava: defi-
ciência nos equipamentos, na infra-estrutura, nas ati-
vidades educativas e de vigilância à saúde e no siste-
ma de referência; inadaptação às mudanças do perfil
de morbidade; vinculação precária ao trabalho, eleva-
da rotatividade; cobertura inferior a 25% em 60% dos
municípios e só de 14,5% na região de Campinas.
O PSF foi copiado de uma pequena ilha que o uti-
lizou com sucesso há 50 anos. Nosso país é um conti-
nente, e a medicina mudou completamente nesse pe-
ríodo. Ficou mais complexa, o que torna praticamente
impossível termos hoje um médico que atenda a tudo
o que se deseja de um generalista (ginecologia, obs-
tetrícia, pediatria, clínica médica e gerontologia).
O generalista no SUS
O
ARTIGO do dr. Pinotti publicado nes-
ta Folha no último dia 30 de novembro
de 2008 traz dados errados e equívocos
conceituais graves. O Programa Saúde da
Família (PSF) mantém essa marca que está consagrada,
mas desde 1998 se tornou uma estratégia de Estado e
se consolidou como modelo para reorientação da aten-
ção primária (ou atenção básica) brasileira. No relatório
de 2008 da Organização Mundial da Saúde, o Brasil é
citado 18 vezes, sendo o grande destaque justamente o
PSF, que é visto como exemplo para outros países.
Diversos estudos publicados em revistas científi-
cas reconhecidas internacionalmente comprovam a
eficácia da estratégia. James Macinko e colaboradores
publicaram um estudo em 2006 demonstrando que o
incremento de 10% das equipes do PSF leva a uma que-
da na mortalidade infantil de 4,6%, só perdendo para
alfabetização materna. O Brasil já diminuiu a mortalida-
de infantil para 20,34/1.000 e, se continuar nesse ritmo,
atingirá a meta do milênio já em 2011, com quatro anos
de antecedência.
Outros dados são igualmente errados. Por exemplo,
o dr. Pinotti diz que o PSF atingiu 43.024 equipes, mas
são, na verdade, 29.239, cobrindo 49,44% da popula-
ção brasileira (dados de outubro de 2008, disponíveis
em http://dtr2004.saude.gov.br/dab/localiza-cadastro.
php).
Talvez o equívoco mais grave cometido pelo depu-
tado seja o desprezo pela prática do médico de família
e comunidade.
A medicina de família e comunidade é uma espe-
cialidade reconhecida no Brasil desde 1981 e é a espe-
cialidade que o médico da equipe básica do Programa
Saúde da Família deveria ter. Diferentemente do clínico
geral, o médico de família e comunidade se prepara por
A tecnologia penetrou na saúde de tal forma que
tornou pouco eficiente a presença do médico na casa
das famílias, onde pode constatar coisas óbvias, mas
não tem possibilidade de realizar sequer procedimen-
tos simples, como papanicolau e mamografia para as
mulheres; PSA e toque retal para os homens, para citar
poucos exemplos. Ou seja, passados 50 anos, o PSF, a
não ser em localidades especiais, tornou-se obsoleto.
Apesar disso, expande-se sem ter a sua estratégia ra-
dicalmente reformulada.
A verdade é que ele foi sacralizado ideológica e
corporativamente e é usado politicamente pelos go-
vernos que se sucedem. Mesmo com distorções, tem
“O Programa de Saúde da
Família tornou-se obsoleto.
Apesar disso, expande-se sem
ter a sua estratégia radicalmente
reformulada”
sido mais conveniente mantê-lo e ampliá-lo.
Não estou sugerindo que o PSF deva terminar. Ele
precisa continuar, mas com transformações relevan-
tes, como ocorre em alguns municípios brasileiros,
aproveitando todos os preciosos recursos humanos e
financeiros utilizados.
Para visitar as famílias, são suficientes os agentes
de saúde, que, treinados, podem facilitar o uso do
sistema e oferecer educação para a saúde e algumas
ações de prevenção e detecção. O custo é baixíssimo,
a eficiência é alta e a delegação é fundamental.
Os pacientes devem ser atendidos nos centros de
saúde, para onde os médicos do PSF devem ser trans-
feridos, aproveitando-se suas especialidades originais.
É preciso ter aí a presença contínua de um pediatra,
que é o médico da criança; um ginecologista prepara-
meio de residência médica ou título de especialista re-
conhecido pela Associação Médica Brasileira para aten-
der problemas freqüentes da população sem distinção
de gênero, faixa etária ou órgão afetado.
Não é, definitivamente, um amálgama de clínica
médica, pediatria e ginecologia. O foco é a pessoa den-
tro do contexto familiar e comunitário. No dia 5 de de-
zembro de cada ano, comemora-se o dia do médico de
família e comunidade. O número de programas de re-
sidência médica em medicina de família e comunidade
tem crescido exponencialmente. De cinco programas
em 1998, passou a 78 em 2008, mas o número ainda é
insuficiente.
O PSF não é inspirado apenas em Cuba, como suge-
“Talvez o equívoco mais grave
cometido pelo deputado seja o
desprezo pela prática do médico de
família e comunidade”
re o artigo do dr. Pinotti. Cuba seguia o modelo de po-
liclínica com internista, ginecologista e pediatra desen-
volvido pelos bolcheviques na antiga União Soviética e
defendido pelo dr. Pinotti até 1985. Só então passou a
contar com o médico de família com formação adequa-
da como primeiro contato do paciente com o sistema
de saúde.
A Europa ocidental, e especialmente a Inglaterra, é
precursora desse modelo, que tem como objetivo não
apenas otimizar custos mas, principalmente, aprimorar
o acesso do paciente de forma longitudinal (ao longo
da vida), coordenada e integral.
Para isso, é necessária muita tecnologia, não aquela
dos tomógrafos e exames laboratoriais, que também
são fundamentais quando bem usados, mas conheci-
janeiro de 2009
do para ser o médico da mulher; um clínico, que deve
exercer também gerontologia, além de um mínimo
de tecnologia, como um posto de coleta laboratorial,
com exames simples feitos no mesmo local, um ecó-
grafo e um raio X simples.
Com isso, que custa muito pouco, poder-se-á re-
solver 80% dos problemas na atenção primária, pró-
ximo da casa do cidadão, acabar com o martírio de
idas, vindas e longas demoras e tirar a sobrecarga dos
prontos-socorros e hospitais.
Para atender a toda a demanda com qualidade,
a delegação de funções com treinamento prévio e o
trabalho em equipe são fundamentais. Os milhares
de centros de saúde que estão semi-abandonados no
país passarão a funcionar com economia de vidas e
recursos. Isso é o moderno em saúde.
A medicina é a ciência das verdades transitórias,
pois os conhecimentos mudam constantemente. O
sistema de saúde precisa ser reavaliado e transfor-
mado continuamente, com espírito crítico e pesquisa
operacional, adaptando-o também às epidemiologias
mutantes.
Nosso sistema, apesar do SUS na Constituição ser
notável, está contaminado com cópias de modelos
arcaicos e outras de países ricos que não vestem nos-
sa realidade. Essa situação é lastimável, mas abre a
oportunidade para um salto qualitativo e quantitativo
apenas com uma boa gestão.
JOSÉ ARISTODEMO PINOTTI , 73, é deputado
federal (DEM-SP), professor emérito da USP e da
Unicamp e membro da Academia Nacional de Me-
dicina. Foi secretário de Ensino Superior (governo
Serra), da Saúde (governo Quércia) e da Educação
(governo Montoro) do Estado de São Paulo, reitor
da Unicamp e presidente da Federação Internacio-
nal de Ginecologia e Obstetrícia.
Folha de S. Paulo - 30/11/2008
mento científico apropriado à atenção primária, rela-
ção médico paciente e trabalho em equipe. Inglaterra,
Portugal, Espanha, Noruega, Suécia, Holanda, Canadá,
Dinamarca e Austrália são alguns dos países com sis-
tema de saúde público forte que adotam o modelo há
alguns anos. A pesquisadora Barbara Starfield, profes-
sora Emérita da John Hopkins University, tem demons-
trado que países com maior proporção de médicos de
família e comunidade em relação ao total de médicos
têm melhores resultados.
Uma das maiores falácias em saúde a que o artigo
do deputado dr. Pinotti recorre é “a pessoa pode elimi-
nar a incerteza especializando-se”. Abordar problemas
que não são específicos de maneira focal pode signi-
ficar o início de uma cadeia de erros que não raro traz
conseqüências graves.
O Brasil é um pais continental e o primeiro com mais
de 100 milhões de habitantes que tenta organizar um
sistema de saúde público universal. Os desafios são
enormes. Talvez o maior seja a formação adequada de
um grande contingente de pessoas para trabalhar em
uma área de fundamental importância para o sucesso
de qualquer sistema de saúde. Não temos tempo nem
podemos nos dar ao luxo de perder o eixo. Todos -mé-
dicos, políticos, professores e população em geral- te-
mos que estar unidos em prol desse objetivo comum,
deixando de lado vieses corporativistas e pessoais.
GUSTAVO GUSSO , 34, médico de família e comu-
nidade, PSF/Prefeitura de Florianópolis (SC), é presi-
dente da Sociedade Brasileira de Medicina de Família
e Comunidade.
ZELIETE ZAMBON , 35, médica de família e comu-
nidade, Prefeitura de Campinas (SP), é presidente da
Associação Paulista de Medicina de Família e Comu-
nidade.
Folha de S. Paulo - 09/12/2008
  O patolÓGICO
Quem se tornou obsoleto?
R
ecebo quase que com alivio o pedido de
comentar os dois artigos que tratam so-
bre a saúde da Família... Um foi publicado
na Folha em 30/11/2008 pelo Dr. Pinotti e
o outro é uma belíssima resposta formulada por dois
médicos generalistas, o Dr. Gustavo Gusso e a Dra.
Zeliete Zambon.
Louvo o fato de alunos de medicina de minha fa-
culdade levantarem essa questão. Sou responsável
pelo módulo que introduz os alunos do curso médico
na atenção básica, no qual realizam, junto às equipes
de saúde da família de Campinas/SP, ações básicas
de saúde nas famílias e comunidades. Estaria a FCM
da Unicamp equivocada ao mostrar aos seus alunos,
logo no primeiro ano, uma modalidade de atenção
“obsoleta”?
Erra o Dr. Pinotti, sobretudo ao se pronunciar pu-
blicamente sobre um tema no qual evidentemente
não está atualizado e – como mostraram meus cole-
gas generalistas - está mal informado. De fato, não
existem 43.024 equipes de PFS (quem dera!) e sim
somente uma cobertura de menos da metade da po-
pulação do país: esse grau de implantação poderia
ser considerado de obsoleto? Só se for por natimor-
to! O dado geral do país oculta o fato de que há regi-
ões nas quais a cobertura de PSF é tão baixa como de
13 %, como ter eficácia nessas condições?
A proposta do PSF no Brasil aproximou o SUS de
algumas das diretrizes consagradas no mundo todo
(e não somente em Cuba, país que o Dr. Pinotti não
consegue nem nomear, deve achar que é contagio-
so) para a organização eficaz de sistemas de saúde
como a vinculação horizontal (longitudinality); a co-
ordenação de casos, e a regulação da rede. Parece
difícil que, por mais original e antropofágico que o
Brasil fosse, chegasse a inventar uma proposta que
superasse uma tradição que vem sendo construída
desde os anos 20 no mundo ocidental, a partir do In-
forme Dawson na Inglaterra.
Estudos recentes (Europeaid, 2007), comparando
sistemas de saúde da Europa e da América-latina,
chegaram à triste constatação de que na AL persis-
te a concepção da atenção básica segmentada e que
os maiores avanços foram em termos de expansão
da cobertura... Ora, acabamos de apontar a baixa co-
bertura no Brasil segundo os dados mais recentes do
próprio ministério da saúde. Uma rápida visita ao site
do Ministério da Saúde dá por terra com outro gran-
de oba-oba existente atualmente em certos circuitos
A Estratégia de Saúde da Fa-
mília: um olhar do Residente
A Constituição Brasileira de 1988, como um marco
histórico de construção da democracia, trouxe como
uma das suas principais conquistas a definição de um
Sistema Público de Saúde, com acesso universal, inte-
gralidade da atenção e tendo como base de sustenta-
ção a Atenção Primária em Saúde (APS).
A pesquisadora Barbara Starfield, professora Emé-
rita da John Hopkins University, demonstrou que a
APS é capaz de resolver 80% dos problemas de saúde
da população e em um estudo comparativo de siste-
mas de saúde de 12 nações industrializadas ociden-
tais, aqueles com ênfase na APS têm melhores resulta-
dos, indicadores de saúde e menores custos (Starfield,
2002). Segundo ela, a APS tem quatro características
fundamentais: acessibilidade (porta de entrada do
sistema), a longitudinalidade (acompanhamento ho-
rizontal e vínculo), a integralidade (responsabilidade
por todos os problemas de saúde da população ads-
crita) e a coordenação (capacidade de responsabilizar-
se pelo sujeito).
Nesse contexto, o Brasil definiu a Estratégia Saúde
da Família (ESF) como uma estratégia de Estado para
a implementação de uma rede de cuidados primários
sanitários brasileiros nos quais se afirma que a única
grande diretriz que nos restaria para ser alcançada
pelo SUS é a da integralidade. 21% de cobertura de
PSF no Rio de Janeiro mostram que isso é uma falá-
cia.
Já nos sistemas europeus, as iniciativas que se
mostraram mais efetivas foram aquelas que aumen-
taram a capacidade de resolução do generalista
(acesso a exames, guidelines); difusão de guidelines
com acompanhamento de educação, colaboração
e gestão conjunta dos casos com especialistas. Por
tanto, nada de especialistas substituindo generalis-
tas, senão estrategicamente situados no apoio aos
médicos gerais e suas equipes. O aumento da resolu-
tividade foi apontado como o fator mais importante
para legitimar a Atenção básica à Saúde junto à po-
pulação como porta de entrada do sistema.
No Brasil, o Ministério da Saúde lançou recente-
mente a proposta dos NASF (Núcleos de apoio à Saú-
de da Família) pela qual prefeituras poderão receber
um financiamento extra para a montagem desse
apoio especializado. Se eu fosse Ministério não fi-
nanciaria nenhum NASF em prefeituras com cober-
tura de PSF menor que 55 %. Para que apoio quando
não existe ao que apoiar?
“Esse grau de implantação poderia
ser considerado de obsoleto? Só se
for por natimorto! “
Os “milhares de centros de saúde abandonados”
aos quais se refere o Dr. Pinotti existem principal-
mente na cidade de São Paulo, exemplo doido do
que acontece com a autonomia municipal em ter-
mos de sistemas de saúde... Estão ali abandonados,
pois não há nessa cidade implantação do SUS, não
por culpa do PSF.
Em uma pesquisa avaliativa dos Centros de Saúde
de Campinas, que estamos finalizando com financia-
mento da FAPESP, a dificuldade do acesso ainda apa-
rece como principal entrave na voz dos usuários e a
rotatividade de profissionais é unanimemente apon-
tada como empecilho para o sucesso da vinculação
e da integração à comunidade, tanto pelos trabalha-
dores quanto pelos pacientes. Prevalece nos traba-
lhadores um discurso que apresenta as atividades de
assistência como aquilo que os ‘distrairia’ da preven-
ção, como se houvesse em algum lugar do mundo
uma atenção primária eficaz que não enfatizasse a
assistência! dos MD 142/242
no país. Segundo o Ministério da Saúde, a ESF é ba-
seada em um conjunto de diretrizes como o trabalho
em equipe de base territorial, a promoção e a preven-
ção da saúde, o perfil do profissional generalista, a
incorporação do agente comunitário de saúde, a nor-
matização do processo de trabalho, dentre outros. O
entendimento da ESF como um modelo de saúde re-
duzido a visitas domiciliares demonstra um profundo
“No Hospital, os pacientes vão e
as doenças ficam. Na unidade de
Saúde da Família, as doenças vão e
a pessoa fica.”
desconhecimento da proposta da estratégia.
A Residência de Medicina de Família e Comuni-
dade (MFC) da Unicamp tem como norte a formação
de um profissional generalista capacitado para atuar
nesta lógica. Segundo os presidentes da sociedade
brasileira e paulista de MFC “Não é, definitivamente,
um amálgama de clínica médica, pediatria e gineco-
logia. O foco é a pessoa dentro do contexto familiar e
comunitário.”
A residência criada em 2001 nesta universidade
tem como campo de aprendizado fundamental a in-
serção na ESF da cidade de Amparo-SP, onde a cober-
janeiro de 2009 5
Deveríamos fazer é um apelo para o aumento do fi-
nanciamento da saúde brasileira... Não existe país com
Sistema Nacional de saúde (NHS) que gaste tão pouco
em saúde como o Brasil gasta, incluindo na compara-
ção nossos vizinhos latino-americanos. Vários estudos
dos casos europeus mostraram que o financiamento
por fontes fiscais se associa a uma melhor orientação
da Atenção Primária em termos dos indicadores clás-
sicos de Starfield (acesso, vínculo, porta de entrada,
integralidade, coordenação, orientação familiar e co-
munitária).
Por que ninguém fala da falta crônica de um pla-
no de carreira para o SUS, que permitiria fixar os pro-
fissionais e valorizar a sua capacitação e dedicação,
como ocorre também em todos os Sistemas de Saúde
que funcionam do mundo? A presença do médico ge-
neralista na porta de entrada também foi reiterada-
mente apontada como de utilidade em relação à coor-
denação. O modo de pagamento desses profissionais
deveria contemplar a responsabilidade sem estimular
os procedimentos desnecessários. Sugere-se combi-
nar estímulos às atividades preventivas (por meio de
pagamentos per capita) e incentivos à dedicação dos
profissionais. Requer-se, portanto, recursos e capaci-
tação.
Havendo tanto acúmulo de evidências e de tra-
balhos sobre essa temática é no mínimo curioso que
um jornal de grande divulgação como a Folha tenha
outorgado um espaço central para um texto que peca
por ideológico. Disse-se nos estudos clássicos sobre
política pública que as formas em que se organizam
as políticas públicas evidenciam as conformações so-
ciais. O que uma dada sociedade assume como um va-
lor a ser defendido. Em Cuba morrem 7 crianças me-
nores de um ano por cada mil nascidos vivos, no Brasil
17. Na pequena ilha 99,1 % das crianças de 4 anos de
idade estão na escola, segundo mostrou um recente
informe do Congresso canadense (Canadá, 2008).
E no Brasil? A quem interessam as políticas públi-
cas? Que discussão séria existiu sobre algumas dessas
temáticas no recente processo eleitoral para as pre-
feituras brasileiras? O DEM (partido ao qual pertence
o Dr. Pinotti) não fez nenhum gesto em relação a ter
melhoras da atenção básica em São Paulo, ao contrá-
rio, está sendo obrigado a abrir serviços cuja cober-
tura atual é quase inexistente pelo Ministério Público
como, por exemplo, no caso dos CAPS (Centros de
Atenção Psicossocial) na capital paulista... Quem será
que ficou obsoleto?
ROSANA ONOCKO CAMPOS, Médica, doutora em Saúde
Coletiva, professora do DMPS/FCM/Unicamp. Coordenadora
tura atinge 92% (fonte SMS Amparo) da população e
se orienta pelas diretrizes ministeriais. Os residentes
são responsáveis por uma média de 400 famílias por
unidade de saúde da família, com atendimento indi-
vidual e abordagem familiar, realização de grupos, vi-
sitas domiciliares para pacientes acamados, projetos
de educação em saúde, discussão de casos em equi-
pe, construção de projetos terapêuticos entre outras
atividades. A residência também se insere em outros
campos de práticas como pronto-socorros de clínica,
pediatria, gineco-obstetrícia; centro obstétrico, enfer-
maria de clínica e pediatria no Hospital Estadual de
Sumaré; ambulatórios de especialidades e pequenas
cirurgias; estágio de saúde mental; vivência em plane-
jamento e gestão nos distritos de saúde de campinas
e o estágio opcional além das atividades teóricas.
Infelizmente, a realidade da APS no Brasil está lon-
ge de refletir uma ESF bem estruturada e homogênea
e assim como todo o Sistema único de Saúde apre-
senta-se em processo de construção nacional. Esta
construção deve estar isenta de corporativismos ou
posições político-partidárias, mas pautada pela ação
conjunta de gestores, profissionais de saúde, partici-
pação popular e universidades em defesa da saúde
como direito de todos.
Artigo redigido pelos R1 e R2 da Medicina
de Família e Comunidade/ Unicamp
Patocultural falácias
6  O patolÓGICO janeiro de 2009

“Scenes from a memory” - Dream Theater

O
Vitor Nogueira XLV
lá leitor. Neste texto vou dar minha opinião sobre um dos meus álbuns favoritos: Scenes from a memory do Dream Theater.
Dream Theater sempre foi uma banda que chamou atenção, seja pelas músicas pesadas, seja pelas leves, seja por seus
integrantes muito talentosos. Atualmente é uma das bandas mais importantes do cenário do heavy metal progressivo. Os
shows estão sempre lotados com fãs e pessoas que vão simplesmente para ver os músicos em ação. Mas, antes de falar do
AJUDE-NOS! MANDE AQUELE
álbum, vou contar de maneira curta, breve e resumida (resumido mesmo viu?!) a história dessa banda. Até porque o tempo é exíguo e COMENTÁRIO INFELIZ DO SEU
o conteúdo é infindável.
AMIGO PARA NÓS!!!

Spasmo!
Tudo começou quando John Petrucci (guitarra), John Myung (baixo) e Mike Portnoy (bateria) se conheceram na Berklee College of
Music, faculdade de música na qual estudavam (guarde esses 3 nomes porque os caras continuam até hoje). Na procura de um tecladista,
chamaram um amigo, Kevin Moore (não precisa guardar esse não!). O posto de vocalista estava vago, então chamaram Charlie Dominici
para se juntar ao grupo. Com esta formação, o Dream Theater lançou seu primeiro disco “When Dream and Day Unite” em 1989.
Porém, decidiram trocar de vocalista. Foi então que se juntou ao grupo James LaBrie (esse pode guardar porque também continua
até hoje!) e, com esta nova formação, lançaram o segundo disco “Images and Words” em 1992. A partir desse disco, a banda começou

Olhos de meninas
a ser reconhecida internacionalmente. Posteriormente lançaram “Awake” em 1994. Mesmo com o sucesso, o tecladista Kevin Moore
resolveu deixar a banda. Para substituí-lo, veio Derek Sherinian (ainda não é o definitivo, por isso também não precisa guardar!). Com
esta formação, lançaram “Falling Into Infinity” em 1997.
Nesta época, a banda passava por muitos problemas com a gravadora. A empresa exigia músicas “comerciais” para vender, enquanto Quando eu tinha a idade de ontem
Eu andava com as mãos sujas
a banda queria fazer rock pesado pelo prazer de tocar. A crise era grave e alguns integrantes pensavam em jogar a toalha. Mas, com o Da poeira de brincadeira
apoio dos fãs, decidiram continuar. Que havia na boneca branca
O primeiro passo foi trocar o tecladista. Assim, chamaram Jordan Rudess (até que enfim fechou a formação!). Com esta formação, a
Quando vejo o meu rosto de ontem
qual continua até hoje, lançaram em 1999 o álbum que seria a ressurreição do Dream Theater, “Scenes from a Memory”. Neste disco, a Sinto a manhã fresca com sabor
banda deu o máximo em todos os conceitos: melodias, ritmo, letras, produção e efeitos. Caso não agradasse a crítica, poderia resultar De casa da vovó
no fim definitivo da banda. Mas não foi isso que aconteceu. O disco agradou os fãs e vendeu muitas cópias. E bicicleta de garupa
O álbum narra uma história de amor e morte e, portanto as faixas não são isoladas, pelo contrário, possuem uma seqüência lógica. Quando a tarde me mostra hoje,
A trama se inicia com o personagem principal, Nicholas, em uma sessão de terapia por hipnose, na qual ele tenta resgatar da memória Dia de recordar o ontem,
os fatos que ocorreram. A primeira faixa, “Regression” representa essa consulta. Sinto saudade das mãozinhas de areia
E do gosto do bolo de chocolate
A segunda faixa, “Overture 1928” (instrumental), é uma apresentação do disco. Contém riffs de quase todas as canções do álbum e
mostra o que a banda faz de melhor: ritmos quebrados, som pesado misturado com belas melodias e solos da melhor qualidade. Em Amanhã, quando eu voltar
seguida, vêm a terceira faixa “Strange Deja Vu”, que na minha opinião é a melhor faixa do álbum. A música é muito bem trabalhada, E esquecer das alegrias vividas
Terei sido eu
com estrofes pesadas, riffs progressivos, pedal duplo da melhor qualidade e um refrão melodioso. É uma daquelas músicas que ficam
na cabeça. Ganharei a memória dos meus sonhos
A quarta faixa, “Through my Words”, contém apenas voz e teclado. É uma canção curta na qual Nicholas começa a contar, na sessão Sentirei de novo o vento das manhãs
O áspero da areia de parquinho
de terapia, os fatos que aconteceram. Serve de preparação para a quinta faixa, “Fatal Tragedy”. Nesta, é citada a morte da personagem
Victoria. É uma música de alto nível técnico. Mais uma vez estão presentes os elementos do rock progressivo e do rock melódico. Chamo E descerei em lágrimas
a atenção para o solo de guitarra com muita velocidade e técnica. A parte A minha infância querida
Por que não mais terei
instrumental que encerra a faixa é impressionante.
A sexta faixa, “Beyond this life”, é a faixa mais pesada do cd. Relata a man- O mesmo espelho nem mesmo
chete no jornal sobre a morte de Victoria. È uma das mais longas do disco com Terei aquele lacinho de cabelo, tão gigante
Na minha pequenez
aproximadamente 12 minutos de dura- ção. A parte instrumental também é
bem trabalhada, com solos de teclados, guitarra e solos harmônicos dos dois Agora, enfeito os meus dias
instrumentos. Para muitos fãs da banda, é considerada a melhor faixa do álbum. Com sonhos de novidades mil
Que se misturam com os
Em seguida vêm a faixa mais calma do álbum, “Through her Eyes”. Junto com Daquela menina
uma levada de violão e teclado, há uma melodia linda e a participação da can-
tora Theresa Thomason. Apesar da letra triste, esta é aquela canção que serve Em busca de uma página perdida, não escrita
Um perfume não sentido,
para você tocar para aquela garota que gosta de Dream Theater. Um amor não vivido,
A oitava faixa, “Home” possui uma introdução com uma influência de Finalmente, em busca de mim,
música árabe seguida por um riff de guitarra bem pesado. As sessões ins-
Que sou menina, sou você,
trumentais são bem características, com ritmos que fogem do tradicional 4 por Sou mulher de mãos com flores,
4 e solos muito bem feitos e ensaiados. Logo em seguida se inicia a nona faixa: Sou parte de um olhar distante
“Dance of Eternity” (instrumental). Esta é uma daquelas músicas que você ouve e diz: “Como alguém conseguiu compor isso?”. É a mais para as estrelas.

Sem fim
difícil de tocar e falo isso como um humilde guitarrista. Representa fielmente o rock progressivo. Inclui riffs de guitarra rápidos em
harmonia com o teclado e muito peso do baixo e da bateria. O ritmo é o mais estranho possível e cada instrumento faz o seu solo. Nesta
faixa, o que mais impressiona é o incrível talento do tecladista (Rudess) e do baterista (Portnoy).
A décima faixa, “One Last Time”, é mais calma. Como sempre nos seus discos, a banda mostra seu lado emocional em algumas faixas. Morte,
A letra é triste e o refrão fala sobre despedida e lembranças. A décima primeira faixa, “The Spirit Carries On”, é, na minha opinião, a mais Acaso?
bonita do álbum. Até a minha mãe gosta dessa música. A introdução é apenas na voz e no teclado e o solo de guitarra é um dos mais Destino?
Fracasso?
belos que já ouvi (Petrucci estava inspirado). No final, há a participação de um coral gospel que dá um toque especial.
A última faixa, intitulada “Finally Free”, é o desfecho da narração. Mostra realmente o que aconteceu, e como Nicholas e o terapeuta Não... Só se for o fracasso
reagem à história. O refrão é melodioso e a faixa se encerra com um sessão instrumental na qual Portnoy mostra o que sabe na bateria. Do não-destruir
O ser
O disco termina com Nicholas indo para sua casa, porém algo acontece e não se sabe o que é exatamente.
Scenes from a memory é um álbum marcante. Representa muito bem o que é o Dream Theater e após seu lançamento, a banda ficou Desse átomo teimoso
mais forte e famosa, e continua assim até hoje. Os álbuns lançados posteriormente são ótimos, com grande qualidade técnica e seguem Que persiste no verme
E segue
o mesmo padrão: elementos do rock progressivo junto com metal melódico e demonstram a virtuosidade dos músicos. Mas, para mim,
Scenes from a memory é simplesmente o melhor. Vale a pena conferir. Na mão da criança forasteira
RODRIGO CHAVES -contratemposmodernos.blogspot.com
Que acabou de arrancar
A linda flor que a vovó,
Tão vagarosamente, tão finalmente,
Cultivou
Morrer como não-continuar,
Vige!! Não há não!
Só há caminho
Eterno no pequeno e
Frágil
No coração da gente.
Eliel W. Faber - XLV
Saiu na mÍDIA
  O patolÓGICO
Alunos da UEL têm
diploma suspenso
Alunos de medicina invadem hospital no
PR e têm diploma suspenso
A
reitoria da Universidade Estadual de Lon-
drina (UEL) comunicou hoje ao Conselho
Universitário a suspensão da colação de
grau de 14 formandos de medicina que
teriam promovido baderna nos corredores do Pron-
to Socorro do Hospital Universitário (HU) no final do
mês passado. Uma auditoria interna da UEL apurou
que, no dia 20 de novembro, um grupo de estudantes
esteve em um bar, em frente ao HU, para comemorar
Reflexões sobre alguns cacos Fabricio (Bambu) XLV
“Como é difícil esconder-se quando os esconderijos são os quadros de uma exposição” Umberto Eco
T
alvez os caros leitores de “O Patológico” estejam es-
tranhando a minha presença nessa coluna na cor-
rente edição, diferente da costumeira presença no
Spasmo! Pois bem, resolvi me aproveitar de um fato
ocorrido envolvendo estudantes de medicina para tecer algu-
mas considerações, de maneira a ampliar a visão muitas vezes
reducionista e imagética, disseminada aos sete ventos pela mí-
dia idônea de nosso país.
Começo desde já, diferentemente de muitos e-mails que
escrevo em momentos de irritação, dizendo que não procuro
culpados nem inocentes na famigerada “baderna do HU da UEL”.
Usarei da fragmentação das imagens veiculadas, dos hinos de
uma glória insana que ecoaram pelos corredores hospitalares,
do tremor retratado nas gravações e nas vozes dos pacientes
internados, dos rojões da incompreensão e do silêncio de res-
posta dos estudantes na mídia corrente para tentar montar uma
imagem pura e nítida de uma auto-reflexão sobre nossa própria
formação médica. Sim, caro leitor, usarei da ferida alheia para
aprender a curar a ferida dos meus pares e a minhas próprias.
Desde já assumo: este texto é alvo de réplicas e tréplicas.
Eis algumas das questões que me atormentam: a formação
médica é condizente com o profissional médico que a socieda-
de brasileira quer? Ética se aprende em uma palestra antes da
cerimônia de formatura, ou é um processo gradativo, uma agre-
gação de pequenos conhecimentos aos poucos, uma parede
tijolo-a-tijolo? Os amadurecimentos. Uma palestra sobre ética
profissional é uma necessidade ou uma punição? “Temos ética
do primeiro ao sexto ano”. Prefiro: temos ética hoje e sempre!
Que utópico! Que ridículo! Caipirice, uai! Colar não é falta de éti-
ca? E ver as notas depois de uma “Avaliação de curso coerente-
estruturada-clara-e-que-não-trava-no-último-segundo-droga-
faço-de-novo-que-nada-tô-cheio”, é legal? Eu sei que tudo
O Exame do CREMESP
Camila Sunaitis Donini (XLII)
O
assunto gera polêmica desde sua criação em 2005 e per-
manece conflituoso em seu propósito. (Percebe-se que
não se trata de um texto imparcial.) Desde sua criação até
hoje muito se comentou e diversos já foram os discursos
sobre seus objetivos e justificativas por parte dos que defendem tal exa-
me. Nós na Unicamp já realizamos 3 mesas de debate sobre o assunto,
sendo a faculdade que primeiro trouxe a discussão para seus alunos (em
2005) e que primeiro se pronunciou oficialmente sobre a posição que
seus alunos tomariam, desde o primeiro ano.
O que nasceu com o intuito de ser uma pesquisa com duração de 3
anos realizado pelo CREMESP (primeiro discurso), virou uma prova que
já ocorre pelo quarto ano consecutivo e é almejada por seus criadores
como ferramenta para avaliar a condição de ensino médico. Poucos
sabem, mas muitas foram as ocasiões e reuniões em que a Associação
Brasileira de Educação Médica (ABEM) já tentou discutir o assunto com
esses que dizem querer ajudar na avaliação e melhora do ENSINO MÉ-
DICO no país, mas a postura dos conselheiros foi a revelia da instituição
que mais estuda e se empenha em criar ferramentas com a finalidade de
MELHORAR O ENSINO MÉDICO no Brasil (a qual inclusive realiza fóruns e
reuniões com MEC e MS para propor e estudar ferramentas de melhoria
da formação médica).
Quem acha que uma prova em um dia irá avaliar sua formação, creio
o encerramento do último estágio do curso. “Consu-
miram algumas derivações etílicas e, depois, o grupo
entrou com grande estardalhaço no Pronto Socorro”,
disse o reitor Wilmar Marçal.
“Entraram com bebida alcoólica, spray de espuma,
soltaram fogos de artifício no pátio, fizeram balbúr-
dia.” Eles teriam ficado cerca de 15 minutos no local.
Marçal também determinou a abertura de um Proces-
so Administrativo Disciplinar para aprofundar a inves-
tigação dos fatos e apresentar possíveis sanções, que
podem ir desde uma advertência até a expulsão, o
que os impediria de receber o diploma. As conclusões
devem ser apresentadas em 90 dias.
Os outros 82 formandos participarão da cerimônia
de colação de grau na sexta-feira, mas, pouco antes do
ato, ouvirão uma palestra sobre ética. Os nomes dos
14 estudantes que ficarão fora não foram divulgados
pela UEL. A assessoria informou que, até a tarde de
parece tão exagerado, mas precisamos passar por um momento
de refração, de introspecção, antes da reflexão indiscriminada
de nossos falsos moralismos, raios brilhosos que mais ofuscam
do que clareiam.
Qual é a qualidade de vida de um estudante de medicina? O
internato é entendido em sua totalidade? Não sei, mas acho que
o internato é o filho-problema do curso médico. O assédio moral
aos estudantes é bastante observado, não só aqui como no Haiti
também! Sem dúvida, o internato é uma etapa essencial para a
formação de um “corpo médico”, mas creio que a metodologia
empregada precisa de uma reestruturação. Do contrário, os mol-
des atuais trarão o jargão da analogia “Médico e Monstro” cada
vez mais próximo da realidade cotidiana, em um grau tão eleva-
“Temos ética do primeiro ao sexto
ano. Prefiro: temos ética hoje e
sempre! Colar não é falta de ética? “
do, a ponto de o comodismo da sociedade deixar de ser impera-
tivo. Residentes são professores, PEDs, PADs, Pais? Nenhuma das
alternativas? Urge, para se consolidar um programa de internato
sadio, além de muita coragem, uma integração muito afinada
entre docentes e discentes e demais personagens, como precep-
tores, trabalhadores dos hospitais universitários, enfermagem e
demais profissionais da área da saúde. Note, caro leitor, que o
meu primeiro questionamento, o estopim deste parágrafo, não
foi respondido. Fiz de propósito. Os estudantes de medicina se
esquecem que também possuem este direito. Devem estudar
muito, serem responsáveis, cuidarem com atenção e dedicação
do paciente (queria incluir com amor, mas para muitos isto pode
estar com a visão um pouco distorcida sobre o processo de ensino e
aprendizagem que ocorre em uma faculdade de medicina, além de estar
alienado em relação a toda discussão atual sobre os processos de avalia-
ção que abrangem o ensino médico.
Quem acha que uma prova irá mudar a estrutura e formação de fa-
culdades que tiveram “seus alunos mal avaliados”, que isso acarretará em
uma intervenção na instituição formadora, está equivocado quanto aos
conceitos de certificação, formação, avaliação, intervenção e regulação
da profissão médica. Cada uma dessas palavras tem um significado, uma
“Muitas vezes, não se posicionar é deixar
que alguém se posicione por você. “
estrutura responsável por sua aplicação e níveis de atuação diferencia-
dos.
Quem acha que os alunos da Unicamp têm medo de prova está re-
dondamente enganado, é só verificar o desempenho de nossos alunos
nas provas dos principais centros de residência do país. A diferença é que
queremos qualidade, e não simplesmente uma estatística pontual, in-
completa e pobre de um dia. Sabemos a complexidade que é avaliar uma
instituição formadora, e a complexidade que é avaliar todos os aspectos
que envolvem a formação médica (competências, atitudes...), e por isso
almejamos uma avaliação completa, para através das críticas e defeitos
levantados, ser possível, de fato, intervir na esfera que for necessário para
janeiro de 2009 7
hoje, eles não tinham apresentado recurso contra a
decisão ou advogado para defendê-los. “A priori, nos-
sa intenção não é denegrir a imagem de ninguém”,
afirmou Marçal. “Somente não poderíamos dar uma
oportunidade de proferir o juramento de Hipócrates
sem uma investigação, porque seria um atestado de
hipocrisia.”
Os diretores do HU enviaram um ofício no dia se-
guinte da baderna, alegando comportamento inade-
quado dos estudantes e pedindo providências à rei-
toria, que determinou a auditoria, referendada pela
Procuradoria Jurídica. Câmeras do circuito interno e
depoimentos de estudantes, médicos, servidores e
pacientes ajudaram na identificação. “Havia mais es-
tudantes, mas comprovadamente foi confirmada a
participação desses 14”, acentuou o reitor.
http://noticias.uol.com.br/ultnot/agencia/2008/12/09/ult4469u34452.jhtm
parecer muito forçado, muito impessoal, embora eu pense que
só assim seríamos médicos aos moldes de Hipócrates). De fato,
devem fazer o melhor que podem, mas devem ter descanso, di-
reito a dormir de maneira a reconfortar seus corpos e sonhos, de
ler Guimarães Rosa, de plantar alface, de ligar para o primo, de
tomar sorvete, de sair com amigos e não falar de Imunologia ou
das últimas sacadas do Dr. House. Que os plantões que nos são
exigidos não joguem por terra a tênue homeostasia que apren-
demos nas aulas de fisiologia, nas madrugadas com o Guyton ou
seu primo mais familiar, Guytinho e seus “genéricos”, ainda mais
apetitosos. Os pupilos de medicina precisam de momentos em
que reflitam sobre o curso, sobre a complexidade do processo
saúde-doença, das questões de mercado que interferem em sua
atuação, na ambivalência do ser humano, no desafio da dor e da
morte, na elaboração de lutos, no controle da impulsividade, da
agressividade, em síntese, do reconhecimento de que não são
médicos, mas estão em via de tornar-se um, e este “tornar-se”
engloba aprendizagem, erros e acertos. Estamos em construção.
Os estudantes de medicina precisam de um retorno ao singelo,
ao simples que aguça os sentidos e dá um significado à dedi-
cação exercida, que é muitas vezes incompreendidamente vista
como uma obrigação.
Fecho este texto dizendo que o luto dos formandos da UEL,
no dia que seria, talvez, o mais alvo de suas vidas, é a antítese
que caracteriza a formação médica que esquece o estudante
pelo caminho. Claro que tudo é passível de exceções. As
generalizações são por si só incompletas e obtusas quanto
o papel resolutivo que representam. O corporativismo que
atravanca a prática da ética e as punições exemplares são
táticas tão medievais quanto fazer de internos, curandeiros,
e de hospitais, tavernas. Aqui as palavras cessam, não as dú-
vidas.
melhoria de fato da educação médica.Levando-se em consideração mui-
tos aspectos aqui levantados, e outros discutidos ao longo dos 4 anos, os
alunos, atuais formandos (XLI Turma), se reuniram e debateram mais pro-
fundamente esse assunto, já que são os assediados para realizar tal exa-
me e são os que levam o nome da Unicamp nas estatísticas publicadas,
ou a serem publicadas, em 2008. Dessas reuniões/discussões, decidiram
realizar uma assembléia na turma, a partir da qual todos agiriam de acor-
do com o resultado dessa assembléia, democraticamente estabelecido,
já que se entendem como turma e representantes da MED UNICAMP. O
resultado final foi a postura contrária à participação no exame do CRE-
MESP por não concordar com essa prova como forma de avaliação de
qualidade. Mais uma vez a Unicamp demonstra maturidade, decisão e
postura frente a mais uma questão polêmica que envolve a formação
médica.. Há uma matéria publicada pelo CREMESP no endereço www.
caalunicamp.com.br/cremesp.pdf sobre os ditos resultados e as interpre-
tações por parte destes, para que todos possam analisar e buscar mais
informações a fim de se posicionar e se atualizar sobre o assunto.
É sempre uma boa idéia estar com a crítica em alerta, tanto na leitura
deste texto quanto do que segue. E são tantas as questões que apare-
cem... Será que mudou o nível de dificuldade das provas? Será que não
é apelação usar de um certificado sem valor para chantagear? Será que
eles estão abertos a conversas mesmo como colocam no documento?
Talvez fosse interessante conversar com alguém que já tenha ido a uma
reunião no CREMESP, e a eventos com participação do CREMESP em que
tenha sido levantada a questão... Qual seria o interesse por trás desse exa-
me? Muitas vezes, não se posicionar é deixar que alguém se posicione
por você.
 8  O patolÓGICO
A origem da vida
Grupo de estudos Humanísticos e Medicina da
Unicamp-Delfos
Fernando Henrique (XLV)
N
o início era o Caos, um abismo cego, noturno e ilimi-
tado. Do Caos fez-se o Cosmo, a organização, e do
Cosmo se fez Gaia, a nitidez, a firmeza e a estabili-
dade. Há cerca de 15 bilhões de anos ocorreu o Big
Bang, dando origem a toda a matéria existente no Universo, porém
nada era organizado, quarks e elétrons juntavam-se e separavam-
se a todo instante. Então surgiram os primeiros átomos de hidrogê-
nio que se atraiam por gravidade e somente 5 bilhões de anos de-
pois começaram a surgir estrelas, bombas formadoras de todos os
outros elementos, mais organizadas e com um início e um fim. Dos
elementos derivados da combustão de uma estrela gigante surgiu
o Sistema Solar, há 5 bilhões de anos e junto com ele a Terra, Gaia.
Depois surgiu Eros, o Amor primordial, desprovido de sexua-
lidade, representa o impulso do universo. Graças a ele, Gaia pare
o Céu e o Mar, sendo que o Céu, ou Urano, fica deitado, sobre sua
mãe Terra, copulando, na presença do Mar, gerando filhos e mais
filhos que não são seres individualizados, já que não conseguem
sair do ventre de Gaia, que tem Urano aprisionando-a. Da atmos-
fera primitiva, do Céu primitivo, composto de hidrogênio, metano,
amônia e de imensas nuvens que cobriam a Terra de relâmpagos,
surgiram os coacervados, aglomerados de aminoácidos não orga-
nizados no Mar.
O último filho de Gaia com Urano foi Cronos, “Crono de pensa-
mentos marotos”, é o tempo com circularidade e organizado. Gaia
deu a Cronos uma foice em metal branco para que castrasse Urano
e acabasse com seu sofrimento. Cronos, na primeira oportunidade,
castra o pai. Urano, em um berro de dor se afasta de Gaia, vai para o
mais alto do mundo e nunca mais volta. Assim, o espaço se desblo-
queia, a partir de agora tudo o que a Terra produzir, tudo o que os
seres vivos engendrarem, terá espaço para respirar, para viver. De-
pois de milhões de anos do surgimento dos coacervados, surgiram
os ácidos nucléicos. A combinação de todo esse caldo primordial
gerou os seres unicelulares e o ácido nucléico é o responsável pela
heteditariedade circular, repetitiva e organizada. Assim deve ter
surgido a vida na Terra.
“O auge da evolução talvez esteja
no homem, querido de Prometeu e
Athenas. “
Cronos, o tempo circular, governou o Universo por anos. Por
milhões de anos a vida se perpetuou por divisão binária das célu-
las, porém dava-se prioridade à quantidade ao invés da qualidade,
sendo que os organismos eram numerosos, porém simples. Cronos
casa-se com sua irmã Rea e tem vários filhos com ela. Esses filhos
eram engolidos por Cronos ainda simples bebês, já que Cronos te-
mia perder seu trono por um de seus filhos, assim como acontece-
ra com o próprio pai Urano. Porém, quando Zeus está para nascer
de Rea, esta vai à Creta e dá à luz clandestinamente, entregando
a educação de seu filho a divindades de Creta. No lugar de Zeus,
Rea entrega uma pedra embrulhada em panos para Cronos engolir.
Cronos nada percebe da artimanha da irmã-esposa. Quando Zeus
está em sua plenitude e maturidade, pede à mãe para dar um phár-
makon, um remédio, para Cronos vomitar. Cronos primeiro vomita
a pedra, depois todos os irmãos de Zeus como Hades, Poseidon e
Hera. É a segunda geração de deuses dotados de personalidade,
responsáveis por guardar os infernos, os mares, a família. São deu-
ses mais particularizados, diminuíram em número, mas aumenta-
ram em complexidade. Com Zeus no trono do Universo, o tempo
passar a ser como é agora, linear. Os seres vivos passaram a desen-
volver maior complexidade de acordo com modificações em seus
ácidos nucléicos, até surgir a reprodução sexuada, que destruiu a
circularidade do tempo e tornou-o linear. Cada ser que nasce é úni-
co, dotado de características misturadas do pai e da mãe.
O auge da evolução talvez esteja no homem, querido de Pro-
meteu e Athenas. Animal capaz de estudar o Universo seja na ci-
ência, seja nos mitos. É do homem que cuida a Medicina. Delfos
cuidará da Medicina e dos Mitos em uma série de artigos que vão
desde o início dos tempos até a era da beleza e cristã. O próximo
artigo tratará do mito de Édipo, mito-chave da psicanálise e tam-
bém estudado pelo Grupo de Estudos Humanísticos e Medicina da
Unicamp em 2008.
Até lá.
janeiro de 2009
Por um mundo com médicos mais humanos: Construindo bases
Diego Funahashi (Pintinho 44) - Núcleo de Diversidade Sexual da Unicamp-NuDU - nuduunicamp@gmail.com
E
m dezembro de 2008, uma importante conquista contra o preconceito e a segregação completa 60 anos: a Declaração Universal dos
Direitos Humanos. Este documento, do qual o Brasil é signatário, considera“o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros
da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis como o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo.”Contudo, mesmo
vivendo em uma cultura ligada aos direitos humanos, a associação entre direito á diversidade sexual e direitos humanos não ocorre de
forma automática. Os instrumentos internacionais de defesa dos direitos humanos, isso inclui a Declaração Universal dos Direitos Humanos, NÃO
apresentam de forma explícita, a afirmação da não discriminação contra LGBTTTI (Lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e trangêneros,
intersexo). Esses documentos citam apenas o sexismo. Discriminação por orientação sexual é bem diferente da discriminação por sexo.
O Núcleo de Diversidade Sexual da Unicamp-NuDU fará uma série de reportagens com o título - Por um mundo com médicos mais humanos, em
comemoração aos 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos e para agradecer o apoio a nossas atividades dos centros acadêmicos.
A temática de diversidade sexual será abordada sobre vários aspectos. Os temas abordados serão: Conceitos básicos; Religião; Encontros e grupos
universitários; Politicamente correto e heteronormatividade; Sexo como Tabu; Legislação e Direitos civis; e outros sugeridos ou que acharmos
necessários.
Para começar a falar de diversidade sexual, devemos entender alguns conceitos básicos. Alguns destes são pouco consensuais, irei apresentar
minha compreensão sobre eles. A definição de grupos, como os que compõem a sopa de letrinhas LGBTTTI, não é o mais correto. Quando se define
o que uma pessoa é, inevitavelmente limita-se a compreensão da pessoa- um ser construído socialmente e culturalmente- a uma simples definição
etmológica. Contudo, didaticamente, não vislumbrei um modo de elucidação diferente do conceitual. Entendo que para desconstruir uma idéia, um
conceito,um modo de pensar é preciso conhecer a norma anterior- no caso ainda a atual de enquadrar os grupos em letrinhas.
O que eu entendo por:
SEXO: refere-se às especificações morfológicas e fisiológicas dos aparelhos reprodutores feminino e masculino no corpo. O sexo determina que as
fêmeas têm vagina/vulva e os machos têm pênis; apenas isso. O sexo não determina por si só,a identidade de gênero e, muito menos, a orientação
sexual de uma pessoa.
GÊNERO não é um conceito biológico. É a construção pela sociedade para transformar o ser nascido com vagina ou pênis em mulher ou homem.
Nesse sentido, gênero é uma construção social e cultural. Essa tarefa é realizada, reforçada, e também fiscalizada, principalmente, pelas instituições
sociais: a igreja, a família e a escola. Sexo, identidade de gênero e orientação sexual são três âmbitos distintos de expressão ou vivência social de uma
pessoa.
IDENTIDADE DE GÊNERO é como a pessoa se vê, independentemente do sexo biológico. É uma construção social extremamente complexa. Assim,
biologicamente eu posso ser do sexo masculino, mas me enxergar como uma mulher (gênero). De forma simplista, minha identidade de gênero
seria mulher transexual. As terminologias gays, lésbicas, bissexuais identificam mais orientação sexual do que identidade de gênero. Travesti é uma
identidade de gênero. Elas/eles são bem complexas e eu ainda não acumulei conhecimento suficiente para falar sobre o grupo. Por exemplo: eu
conheço uma travesti que sente atração por pessoas: homens, mulheres, travestis, transexuais e etc. Os/as transexuais não necessariamente precisam
fazer a cirurgia de transgenitalização para serem transexuais.Podem apenas se sentir como pertencente a /pensar como outro gênero. Isso também
não significa quee, porque a pessoa se vê como pertencente á outro gênero, que a orientação sexual dela não possa ser homossexual. Por exemplo:
uma mulher transexual pode ser lésbica, ou seja, ela biologicamente tem estruturas masculinas, como identidade de gênero é uma mulher e como
orientação sexual sente atração por mulheres. Ficaram confusos? A sexualidade humana é bem complexa. Isso foi apenas uma amostra.
ORIENTAÇÃO SEXUAL é por quem a pessoa sente atração física. Eu entendo que existem: heterossexuais, homossexuais, bissexuais, pansexuais e
assexuais. Algumas pessoas pensam em três orientações apenas: homo, hétero e bissexuais. A orientação do desejo independe da vontade individual,
a pessoa pode controlar apenas se vai manifestação ou não essa atração. Assim, o que algumas religiões divulgam como cura da homossexualidade,
na verdade, é a repressão pela pessoa de práticas homossexuais, o desejo homossexual continua existindo.
HOMOAFETIVIDADE : Esse termo foi cunhado com o objetivo de tentar mudar a idéia geral da sociedade sobre a homossexualidade ser um
tipo de relacionamento com o objetivo único de fazer sexo. Como na sociedade em que vivemos, o sexo é visto como pecado, sujeira, tabu e não é
reconhecido como expressão do amor, da afetividade, associar essa imagem negativa do sexo a homossexualidade seria ruim. Esses termos susci-
tam inúmeras discussões. Eu particularmente sou contra a utilização deles pelo simples fato de mudar a terminologia não alterar o que as pessoas
entendem realmente dele. É o famoso politicamente correto. Discutirei isso em outro texto.
As definições abaixo são para todos! Especialmente para aqueles que vão as baladas gays, paradas e nem sabem o que é esse termo escrito nas
faixas ou para os que quando ficam bêbados e estão em grupos se acham no direito de proferir palavras homofóbicas. Existe uma grande diferença
entre uma amiga te chamar carinhosamente de viado e um qualquer, mesmo que conhecido, dizer o mesmo.
HOMOFOBIA, LESBOFOBIA E TRANSFOBIA- Postura de repulsa/discriminação em relação a identidades de gêneros ou orientações sexuais não
pertencentes ao padrão heterossexual da sociedade. Muitos bem-pensantes consideram a homossexualidade uma“uma escolha privada a ser res-
peitada e vivida com discrição no silêncio doméstico”. Isso equivale a dizer que, para ser“tolerada”, ela não deve adquirir visibilidade pública, ser objeto
de reconhecimento social, gerar direitos ou merecer a atenção do Estado. Neste caso, estamos diante de um exemplo nítido de“homofobia liberal”
Quanto à homossexualidade¹...
NÃO É CONTRA A NATUREZA – Em 1979, uma pesquisa sobre o comportamento das baleias orcas, observou pela primeira vez, a homosse-
xualidade entre os machos da espécie. Já em 1999, foi lançada uma pesquisa bastante completa e abrangente 41sobre a homossexualidade na
natureza. Em seu livro Biological Exuberance - Animal Homosexuality and Natural Diversity² ,o pesquisador Bruce Bagemihl analisou mais de 400
espécies, na maioria mamíferos e aves, todas praticantes, em maior ou menor grau, de hábitos homossexuais. A pesquisa mostra, inclusive, que as
relações homossexuais na natureza não são fruto de“confusão”do instinto, aberração ou falta de fêmeas. Pode-se dizer que, a maioria dos animais
homossexuais é assim porque é. O autor indica que a homossexualidade animal é muito comum em quase todas as espécies de mamíferos. Se por
um lado se estima que cerca de 10% dos seres humanos são homossexuais ³, no reino animal, essa parcela pode chegar a 27% dos indivíduos de
uma mesma espécie. Mais recentemente, Joan Roughgarden, bióloga inglesa amplamente reconhecida por seus estudos em teoria evolucionista,
gênero e sexualidade, lançou livro4 sobre o mesmo tema.
NÃO É ILEGAL – Não há proibição, condenação ou leis anti-homossexuais no Brasil, ao contrário, ilegal é a discriminação de pessoas em virtude
de sua homossexualidade. Mesmo que ainda não tenhamos legislação específica contra a homofobia - o que é um absurdo- de acordo com os
princípios gerais da Constituição Brasileira e com os documentos internacionais assinados pelo Brasil estaríamos supostamente incluídos. Em outro
texto discutirei as especificidades do sistema jurídico brasileiro com relação a esse tema.
NÃO É UMA OPÇÃO – Ser homossexual não é uma questão de escolha, e sim, uma condição da pessoa. Podemos dizer que ninguém escolhe ser
homossexual, ninguém vira homossexual, a pessoa é homossexual. Sendo eu um homem, eu posso optar por fazer sexo com homens, mulheres,
travestis, transexuais e etc. Mas será que eu posso escolher gostar de fazer sexo com homens, mulheres e etc.? Será que eu posso escolher por quem
irei me apaixonar?
NÃO É DOENÇA –Tanto a Organização Mundial de Saúde, quanto o Conselho Federal de Medicina do Brasil, e até o Conselho Federal de Psicologia
já retiraram a homossexualidade da lista de doenças ou desvios sexuais. No Brasil nenhuma pessoa pode ser submetida a tratamento para se“curar”
de homossexualidade. Na palavra“homossexualismo”entendemos que o sufixo“ismo”significa doença, devendo ser substituído pelo sufixo“dade”,
que significa modo de ser. A travestilidade,no entanto, ainda não foi retirada do quadro de desvios e doenças, evidenciando que ainda há muito
campo para conquistas sociais.
Para que os Direitos Humanos alcancem todas as pessoas humanas, devem ser considerados de forma universal, indivisíveis e interdependentes,
pois estão essencialmente inter-relacionados e remetem à própria natureza humana. Portanto, todo e qualquer indivíduo, independente de seu sexo,
orientação sexual, idade, classe social, raça, etnia, religião, cultura, filosofia, pensamento ou quaisquer outras qualificações, não pode ser excluído
de sua tutela. Como movimento universitário de diversidade sexual pretendemos mostrar à sociedade brasileira que, enquanto existirem cidadãos
cujos direitos fundamentais não são respeitados - por razões relativas à discriminação por: orientação sexual, sexo, raça, etnia, idade, credo religioso
ou opinião política - não se poderá afirmar que a sociedade brasileira é justa, igualitária, democrática e tolerante.