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Resumo
Este texto faz uma reflexão sobre os discursos acerca do desenvolvimento do
Piauí, mostrando a configuração e as implicações deste projeto ideológico e po-
lítico tais como a criação dos territórios do desenvolvimento do Piauí. Aborda
as situações e os problemas que estão relacionados à floresta de babaçu, bem
como a mobilização social protagonizada por diversos agentes sociais que são
afetados por ações e empreendimentos que ameaçam a sua sobrevivência. Des-
creve os conflitos socioambientais existentes, as iniciativas vistas como ameaça
e os movimentos sociais que a elas se opõem. Conclui, expondo as formas de
enfrentamento e as identidades acionadas no processo de mobilização social
constituído.
1
Graduada em Ciências Sociais, Doutora em Antropologia pela Universidade Federal
de Pernambuco (UFPE), Professora do Departamento de Ciências Sociais e Programa
de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal do Piauí (UFPI). E-mail:
carmensllucia@gmail.com / Endereço: Universidade Federal do Piauí - UFPI: Campos
Universitário Ministro Petrônio Portela – Bairro Ininga, Teresina, Piauí. CEP: 64049-550.
2
Graduada em Ciências Sociais, Doutora em Antropologia pela Universidade Federal da
Bahia (UFBA), Professora da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). Endereço:
Universidade Estadual do Maranhão - UEMA: Caxias, Morro do Alecrim, s/n, Caxias/MA.
CEP: 65600-000.
3
Graduada em História, Doutorando em Antropologia na Universidade de Austin, Texas
–USA. Endereço: Universidade de Austin: Main Building (MAI), 110 Inner Campus Drive,
Austin, TX 78705.
Abstract
This text reflects on the discourses about the development of Piauí, showing the confi-
guration and the implications of this ideological and political project such as the creation
of the territories of the development of Piauí. Addresses the situations and problems
that are related to the babassu forest, as well as the social mobilization carried out
by various social agents that are affected by actions and ventures that threaten their
survival. We describe the existing socio-environmental conflicts, the initiatives seen as
threats and the social movements that oppose them. It concludes, exposing the forms
of confrontation and the identities triggered in the process of social mobilization cons-
tituted.
Key words: Development, babassu forests, conflicts, social mobilization.
1 INTRODUÇÃO
Desenvolvimento tornou-se uma palavra constante nos diá-
logos estabelecidos no Piauí, ocupando um lugar de destaque nos
planejamentos econômicos e políticas públicas desenvolvidos pelo
governo estadual. Nessa esfera, o vocábulo é sempre dotado de uma
conotação positiva. Traduz a noção de progresso, o que implica na
incorporação de um modelo caracterizado pelo abandono de prá-
ticas obsoletas em favor de novas ações que promovem o bem-estar
e a qualidade de vida. Embora o poder público seja um dos agentes
protagonista do desenvolvimento, a devida adequação ao modelo
depende dos investimentos do poder privado e da colaboração da
sociedade civil. Todos devem se unir, reunir forças para alcançar as
metas estabelecidas e retirar o Piauí da posição indesejada: um dos
estados mais pobre do Brasil.
O referido discurso sustentado pelo poder estatal está situado
em um cenário que vem se consolidando desde o século XIX, ocasião
em que o desenvolvimento passou a ser uma das mais fortes ideo-
logias/utopias do mundo ocidental, ocupando um lugar de grande
importância no panorama político e ideológico. (RIBEIRO, 1992).
Segundo Arturo Escobar (2012), o desenvolvimento é um dis-
curso que fundamenta as estratégias de dominação social e cultural,
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4 CONCLUSÃO
A relação de pesquisa e os dados coletados nos permitem afir-
mar no cotidiano vivenciado em cada comunidade, que as formas
de enfrentamento são bastante diversificadas. O processo de resis-
tência é diário e contínuo, podendo ser descrito como o que James
Scott (1985) denominou de formas de resistências cotidianas, sendo
estreitamente variado e localizado, que vai desde a recusar a aceitar
qualquer tipo de relação de trabalho proposto pelos antagonistas, até
atos de desobediência, que são os casos onde os moradores se recu-
sam a se submeter a qualquer imposição ou regras por eles ditadas.
A situação etnográfica observada no Piauí aponta para a exis-
tência de uma estratégia das organizações locais, que é a formação
de um quadro político com um forte cunho de solidariedade, obje-
tivando uma ação efetiva na organização dos movimentos sociais na
região da floresta de babaçu. As observações referem-se a situações
em que os grupos sociais vão aperfeiçoando e ressignificando seus
instrumentos de resistência.
O projeto de desenvolvimento promovido pelo governo do
Piauí, em parceria com as elites agrárias e os grandes grupos econô-
micos, criou uma conjuntura adversa. A mobilização social existente
mostra que as quebradeiras de coco se posicionam ativamente dian-
te da devastação dos babaçuais e dos inúmeros episódios de viola-
ção dos seus direitos e possui uma importante capacidade de forjar
alianças com outras coletividades e organizações. Contudo, o seu
protagonismo tem sido impactado severamente pelo poder politico
e econômico dos seus adversários, o que coloca em risco a existência
da floresta e a sobrevivência física e cultural das quebradeiras de coco
babaçu.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, A. W. B. de. Identidades, territórios e movimentos
sociais na Pan-Amazônia. In: ______ Populações tradicionais:
questões de terra na Pan-Amazônia. Belém: Associação de
Universidades Amazônicas, 2005.
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Notas:
1
O Plano Plurianual é um instrumento normativo do Planejamento Público que orienta as
ações do governo no período de quatro anos.
2
Para este artigo analisamos o Plano Plurianual de 2008-2011, 2012-2015 e 2016-2019.
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Em relação à energia eólica, em pleno funcionamento já existe o Parque Pedra do Sal,
no Território Planície Litorânea (Luís Correa e Parnaíba) e está previsto a construção do
Parque Eólico da Serra da Ibiapaba (São Miguel do Tapuio, Assunção do Piauí e Buriti dos
Montes) e o Complexo Eólico da Chapada do Araripe (Caldeirão Grande, Padre Marcos,
Simões, Bethânia, Curral Novo e Marcolândia).
4
As visitas e reuniões foram realizadas com a coordenação do Movimento Interestadual das
Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB), Sindicatos de Trabalhadores/as Rurais (Madeiro,
Luzilândia, Esperantina, Porto, São João do Arraial, Barras, Miguel Alves e União),
Escola Família Agrícola do Cocais (EFA COCAIS), Escola Família Agrícola SOINHO
(EFA SOINHO), Centro de Educação e Assessoria Ambiental (CEAA), Associação de
Quebradeiras de Coco de Miguel Alves, Comissão Pastoral da Terra e Comunidade Santa
Rita / União. Dados foram coletados ainda agências tais como Instituto de Terra do Piauí
(ITERPI), Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), Instituto Nacional de Colonização
e Reforma Agrária (INCRA) e Comissão Pastoral da Terra (CPT).
5
Recentemente, ficamos sabendo da existência de palmeiras de babaçu no município
de Picos e Bom Jesus, que se localizam, respectivamente, no Território Vale do Sambito
e Chapada das Mangabeiras. Este dado será georeferenciado futuramente, no trabalho
de campo a ser realizada na segunda fase do projeto pesquisa que resultou neste artigo.
Uma vez confirmada esta informação, o mapa da floresta de babaçu será expandido
significativamente, chegando até o sul do Piauí.
6
Depoimento retirado da entrevista com Francisca Martins, quebradeira de coco e diretora
do MIQCB – Regional do Piauí, Reunião no STTR de Esperantina, em 25 de fevereiro de
2015.
7
A ideia de região é pensada no sentido crítico usado por Pierre Bourdieu (1989).
8
Centro de Educação Popular Esperantinense, fundado na década de 1980 pelo padre
Ladislau João da Silva.
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