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ESCOLA DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA

CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

HISTÓRIA DO URBANISMO E PAISAGISMO

MANAUS
2016
CENTRO UNIVERSITÁRIO DO NORTE - UNINORTE

CURSO: ARQUITETURA E URBANISMO

DISCIPLINA: HISTÓRIA DO URBANISMO E PAISAGISMO

PROFESSORA: GERALDO JORGE TUPINAMBA DO VALLE

ALUNOS (AS): KAMILA SARAIVA

LUANA AZEVEDO

SHIRLEI ALVES

THAYS SENA

TURMA: AUN05S1

HISTÓRIA DO URBANISMO E PAISAGISMO

Projeto final elaborado como parte integrante


da disciplina: História do urbanismo e
paisagismo, ministrada pelo professor Geraldo
Valle.

MANAUS
2016
AS CIDADES DO MUNDO ANTIGO

INTRODUÇÃO AO ESTUDO DAS CIDADES ANTIGAS

AQUEDUTOS / ÁGUA SUBTERRÂNEA

Absu (Apsu, Abzu, Apzu): Literalmente, águe doce. Na cosmologia suméria, o imenso espaço
e fonte das águas primordiais, onde mora AB, o pai das águas e senhor da sabedoria. Na
cosmologia babilônia, o marido de Tiamar, pai dos primeiros deuses, e após a morte deste, o
reino das águas doces subterrâneas, lar de Ea e dos Sete Sábios. Também é nome do templo
de Ea em Eridu.

As escavações e perfurações no subsolo para a obtenção de água, betume, minerais e a


construção de túneis perdem-se num tempo remoto antes do início da civilização. O que é
certo é que a construção de poços pode realmente anteceder o Homo sapiens, com os seres
humanos primitivos escavando para água, durante os períodos de estiagem, em leitos secos de
rios intermitentes. A civilização humana, se desenvolvendo nas regiões áridas ou semi-áridas
foi extremamente dependente dos suprimentos de água. Ao mesmo tempo em que o homem
aprendeu a domesticar animais, o poço tornou-se a sua mais importante possessão.

Jericó, a cidade mais antiga do mundo, já possuía uma cacimba integralmente revestida por
tijolos.

Poços muito antigos e ainda em uso são encontrados no Oriente Médio.


Um dos poços mais antigos tratados pela arqueologia, de aproximadamente 4500 anos a.C.,
foi recentemente descoberto na zona rasa da costa submergida de Israel. Muitas civilizações
utilizaram-se de amplos suprimentos de águas subterrâneas ou superficiais e muitas
declinaram por falta de água ou de meios para explorá-la.

É na Bíblia Sagrada que encontramos a citações primordiais sobre o uso e importância que os
poços tiveram para as tribos de Israel. Somente nos cinco livros que compõem o Pentateuco,
eles são citados vinte e cinco vezes. Nos templos bíblicos a escavação de poços era uma
profissão apreciada. Abraão e Isaac são reconhecidos no seu sucesso como escavadores de
poços. Para os povos da Bíblia, o poço é o símbolo da Lei, das instituições judaicas e da
Sabedoria. Entre os poços mais famosos podemos citar o poço de Maria, ao norte da Basílica
da Anunciação, em Nazaré, o Poço dos Magos, a meio caminho entre Jerusalém e Belém, os
poços de Abraão em Mambré e Bersabéia e o poço de Joab em Jerusalém. A localização
desses poços trata-se de uma tradição popular de época não determinada. Muito desses poços
milenares têm sido identificados, alguns tendo sido postos em serviço novamente.
CIVILIZAÇÃO SUMÉRIA – UR, URUK E ERIDU

UR

Ur, a semelhança de Uruk e Eridu, teve suas origens no Período Ubaid, logo no começo dos
assentamentos permanentes na baixa Mesopotâmia. Era também um importante centro
cerimonial e religioso, e durante os períodos historicamente documentados alojou, sem a
menor dúvida, o santuário do deus-lua, chamado Nannar em sumeriano e Sin em acadiano.
Como sede de governo, beneficiou-se de maciços programas de construção, desde
substanciais muralhas citadinas até vastos recintos religiosos.

ESPAÇOS RELIGIOSOS

O santuário mais importante da cidade era o templo de Nannar, o deus-lua. Tinha um zigurate
cuja construção inicial datava de c. 3OOO. Subsistem partes da grande muralha que protegia
o templo; construída em tijolo plano-convexo, tinha uma espessura de 9 metros. O complexo
propriamente cerimonial estava cercado de câmaras subsidiarias paralelas, usadas para
armazenamento. Entre as raras plaquetas das Primeiras Dinásticas descobertas, algumas
revelavam que os porcos faziam parte das oferendas regulares aos deuses e eram depois
consumidos no palácio.
GIPAR

O lado sudeste, consagrado a Ningal, esposa de Nannar, era ocupado por um imenso e
complexo edifício conhecido como Gipar. E um dos mais interessantes monumentos de Ur,
sobretudo por causa de sua importância para a vida religiosa da cidade.
De acordo com o procedimento tradicional, os construtores começaram por erigir um terraço
sobre as destruídas e terraplenadas estruturas anteriores. Sobre o terraço, ocupando toda a
superfície, construíram outra subestrutura, traçando o plano completo do edifício final em
espessas e atarracadas muralhas de adobe. Esse espaço foi então preenchido e nivelado, e
sobre ele se ergueram as muralhas reais. Inscrições em encaixes de portas designam Ur-
Nammu como o construtor. Seu neto Amar-Sin contribuiu com acessórios tais como portas.
Cercado pela mesma espécie de muralha maciçamente reforçada de todos os demais edifícios
do recinto, o Gipar estava dividido ao meio em seu interior por um corredor que corria de
extremo a extremo em toda a largura da construção. As disposições internas incluíam pátios,
cercados por compartimentos de várias dimensões. Estes tinham todas as características de
arquitetura doméstica, assim como de áreas de serviço, incluindo ampla área de
armazenagem, instalações de cozinha e outras comodidades seculares análogas. O edifício não
só serviu como principal residência da sacerdotisa en e seu numeroso séquito e criadagem; era
também a residência da deusa Ningal, que tinha seus próprios “aposentos” quase paralelos aos
da en. O pátio central estava cercado por cômodos multifuncionais, como numa residência
particular; havia potes de armazenamento e um arquivo detalhando as operações relativas a
gestão da propriedade, e acella, ou local do culto, com sua ante-sala correspondendo
exatamente a uma saia de recepção. A estatua da deusa estava ai instalada sobre um estrado.

Além desse estabelecimento divino, havia outras instalações rituais próximas dos aposentos
da sacerdotisa, e, como sabemos através dos textos, esperava-se que ela dedicasse parte do seu
tempo “a orar pela vida do rei”.

ESPAÇOS POLÍTICOS

Politicamente, o país estava dividido em províncias, cada uma com sua própria capital e
administrada por um Ensi (governador provincial) nomeado pelo rei. O Ensi era responsável
pela manutenção da estabilidade e pela coleta de impostos, tendo de prestar contas ao rei,
Cada cidade estava, assim, firmemente integrada num estado centralizado, e até mesmo as
propriedades do templo eram controladas pela autoridade governamental.

URUK

Os escavadores designaram sumariamente a maioria das estruturas monumentais como


templos e atribuiram-lhes um caráter primordialmente religioso. Por outro lado, plaquetas
administrativas também foram encontradas em Kulab e Eanna. E claro que a dispersão
intencional de objetos e plaquetas por toda a parte em Eanna obscurece qualquer
conhecimento sobre se as plaquetas foram também escritas e armazenadas ali. O exemplo de
Eridu mostrou que, mesmo quando existe uma continuidade no traçado e no equipamento
interior, não se segue necessariamente que os edifícios anteriores também tivessem o culto
como seu propósito exclusivo. Os edifícios de Uruk, em especial no distrito de Eanna, são
muito menos “típicos” em sua variedade de traçado, orientação, padrões de circulação e
técnicas de construção, entre outros fatores. Parecem ter sido construídos para um sem-
número de finalidades: cerimônias e banquetes, armazenagem de antigos valiosos, recepções e
rituais, procissões e, talvez, reuniões em que tivessem de ser tomadas decisões importantes. O
cômoro ocidental, usualmente designado como o “Zigurate de Anu”, exibe numerosas
características semelhantes a Eridu VI e aos ulteriores templos sumérios, e poderia ter servido
como “recinto sagrado” com maior plausibilidade do que a área de Eanna, com sua variedade
de tipologias.
ERIDU

Eridu é o Éden mesopotâmio, o lugar da criação. Enki e Eridu destacam a conexão entre a
localidade, especialmente o Apsu, a criação e a fertilidade. Eridu é primordial e imanente, a
lugar onde o mundo pela primeira vez se tornou habitável, onde o tijolo e a cidade foram
inventados. Mas, como a história babilônia da criação enfatiza, o principal objetivo da
“primeira casa” era o culto.

Os templos são habitualmente assemelhados a montanhas e apontados como ligação entre o


céu e a terra. Outras características importantes do templo de Eridu são, obviamente, o Apsu,
aqui também usado para referir-se ao “doce canal” e ao próprio santuário.
O santuário era, durante os tempos de prosperidade, um importante local de peregrinação.
Presumivelmente, as despesas de funcionamento do templo eram cobertas por receitas geradas
através de oferendas votivas e fortes similares. Quanta a dispendiosa manutenção dos
edifícios, porém, Eridu tinha de contar com o apoio régio, ou seja, do estado. O santuário de
Enki era não só o local; era também um dos mais antigos e prestigiosos. O vasto dispêndio no
zigurate de Enki foi justificado como um meio de restabelecer o adequado funcionamento do
santuário — para beneficio de todo o país, cortesia do rei de Ur.

Abzu também significa o santuiria (ès) de Eridu, a “montanha sagrada”, a manifestação


arquitetônica do lugar e forma sagrados na cidade. A água era a substância sagrada por
excelência — sobretudo por sua fundamental importância para a economia no clima de
deserto. A água era essencial, na magia, para purificar e transmitir o sortilégio, para auxiliar
na adivinhação.
A ERA MEDIEVAL E OS ESPAÇOS URBANOS

ESPAÇOS POLÍTICOS

Na Idade Média, os espaços de mediação cultural eram pouco desenvolvidos


como espaços políticos, mas que contêm aspectos da vida, conflitos e aspirações sociais. A
praça pública medieval contém substâncias, práticas, experiências, rotinas, hábitos ou
formatos que foram capturados no processo de consolidação da imprensa na Modernidade.
Os espaços de comunicação, ou espaços mediadores culturais, emergem de
uma necessidade da própria organização social humana e sua presença mais intensa se dá no
momento histórico da formação das aldeias, vilas e cidades, quando as coletividades se
tornam sedentárias e complexas. Esse espaço permite o desenvolvimento de mecanismos de
sobrevivência, organização e sociabilidade. O lugar dessa mediação pode ser uma área
central, um círculo vazio, uma ágora ou uma praça. Importante é que esse lugar será múltiplo
e híbrido, visto que surge da necessidade de um espaço para a ação coletiva. Essa ação pode
ser diferenciada de acordo com a cultura, a prática e a história de cada sociedade; ela se
manifesta como um concentrador e irradiador da substância cultural da própria coletividade.
Por ali, vê-se não só a política, forma fundamental na complexificação social, mas, também as
crenças, cultos, produtos, mercadorias, arte, diálogo, entretenimento, flerte, afetividade,
diversão etc.
Na Idade Média, especificamente, o local desses espaços será conhecido como
praça pública e manterá semelhanças com a ágora do período greco-romano. Segundo
Mumford (1998), pelo menos nos países latinos, onde foi chamada de plaza, campo, piazza ou
grand-place, descendem diretamente de ágora. Essas praças, segundo o autor, mantiveram por
séculos as características da Antiguidade, presentes em seu espaço aberto, com cafés e
restaurantes à volta. Um local em que o encontro, a conversa e a discussão face a face têm
lugar garantido. São encontros fortuitos, não formalizados e habituais.
Convém recordar que até o século X todas as cidades (e aglomerados humanos)
eram normalmente formados em volta de um burgo central. Os burgos eram fortalezas, cujas
muralhas encerravam um perímetro bastante limitado. Desde o princípio, os mercadores,
artesãos e servos foram obrigados a se instalar, por falta de espaço, no exterior desse
perímetro, chamado de novo burgo ou subúrbio. A partir do século XI, a indústria,
principalmente de tecido, começa a fazer parte desse entorno. O historiador Henri Pirenne
(1964) define a cidade nessa época como “uma comuna vivendo do comércio e da indústria,
ao abrigo de um recinto fortificado, gozando de um direito, de uma administração e de uma
jurisprudência” (PIRENNE, 1964, p.161).
No decurso do século XII, diz o autor, senhores laicos ou eclesiásticos fundam
“cidades novas”, que são aldeias estabelecidas em terreno virgem e cujos ocupantes receberão
lotes de terra em troca de uma renda anual.
A partir do século XI, a vida feudal começa a sofrer transformações com as
novas condições econômicas e sociais dadas pelo desenvolvimento do comércio. As cidades
emergem do abandono e tornam-se importantes entrepostos comerciais, lugar de uma vida
urbana baseada no trabalho livre assalariado, na troca e na produção artesanal de mercadorias.
Esse movimento, sem dúvida, é o que vai permitir a localização de um novo espaço físico de
mediação cultural, ainda que informal, nas praças públicas. O crescimento do comércio gera
uma nova ordem social que começa a minar a sólida estrutura do feudalismo. O espaço
público político, aos poucos, volta a ter seu local fisicamente estabelecido. Ele inicia a sua
passagem da pessoa do senhor feudal para as cidades e, principalmente, para as cortes dos
monarcas (RIBEIRO, 2004b).
Na realidade feudal mais característica, no entanto, praticamente só existia a
vida privada dentro do feudo, no seu limite territorial, o que era muito diferente da dupla
existência “publica” e “privada” do mundo grego. Apesar da falta de uma esfera pública em
oposição à outra privada, nos termos do modelo clássico grego, Habermas (1984) atenta para
o fato de que, em documentos medievais, senhorial é empregado como sinônimo de publicus.
Para o autor, publicare significa requisitar ao senhor. Ele admite a existência de uma esfera
pública feudal representativa, que se manifesta nos atributos próprios de suas condições de
poder e se realiza no conjunto das relações jurídicas e políticas do regime feudal. O caráter
público dos integrantes dessa esfera de representação manifesta-se como uma qualidade
pessoal do senhor feudal.
Como a representação pública se manifesta na própria pessoa do senhor feudal,
fica sem sentido um local específico, geograficamente definido, de espaço público político,
por exemplo, como em ágora ou o pnyx. A representação pública se manifesta em todo e
qualquer lugar em que o senhor feudal está presente. Nesse sentido, não há necessidade de
espaços públicos no aspecto estritamente político.
Mas o poder político dos feudos, no sentido de governamental, é um aspecto da
vida medieval incapaz de evitar a formação de espaços de mediação cultural durante o
período em que as cidades são reerguidas. Independente de se pôr de maneira dialógica ou
não, o poder governamental faz parte de uma infinidade de atividades da vida que mantém um
intenso movimento de transformação, ainda que sem rupturas radicais e violentas como
guerras e revoluções.
Entre os séculos XIV e XVI, as cidades passam a receber um número crescente
de camponeses que abandonam os campos atraídos pelas possibilidades de melhores
condições de vida. O comércio em expansão necessita de mão-de-obra livre e assalariada para
se desenvolver. Mas, nesses séculos de declínio do feudalismo, a exploração da terra continua
em grande parte sobre o domínio senhorial. As cidades estavam, em muitos casos, sob o
controle político-administrativo da aristocracia feudal, assim como a produção de mercadorias
e o comércio (RIBEIRO, 2004b, p. 200). Mas tais comunidades urbanas, na medida em que
eram centros independentes de comércio e de transações contratuais, também se constituíam
em corpos estranhos, o que permitiu uma circulação constante de dinheiro através da troca e a
interferência na autossuficiência da economia feudal (DOBB, 1987). A presença da
autoridade feudal na cidade justifica as lutas ocorridas entre burgueses e nobres feudais pelo
controle do comércio. Para Dobb, é preciso evitar o engano de conceber a época feudal como
um período em que o comércio houvesse desaparecido de todo e ao qual o dinheiro fosse
inteiramente estranho. “Daí ser natural que o controle das cidades e sua fundação viessem a
serem tomados como fonte valiosa de renda feudal” (DOBB, 1987, p. 87).
No desenvolvimento urbano medieval, a praça apresenta um caráter oficial
bastante distinto de uma assembleia do povo (ágora) na Grécia Antiga. Se na Antiguidade a
democracia política pôde se realizar na ágora, na Idade Média é um governo forte que procura
exibir sua autoridade em praça pública. O poder oficial na praça pública da Idade Média
acontece quando o Estado ocupa esse território com manifestações governamentais, seja ao
empreender cerimônias, anunciar leis ou realizar punições e execuções.
Esse espetáculo em praça pública significava, segundo Foucault, um exercício
do poder do Estado. A finalidade do suplício era mostrar ao extremo a dessimetria entre o
súdito que ousou violar a lei e o soberano todo-poderoso que faz valer sua força. Nessa
liturgia da pena, há uma afirmação enfática do poder e de sua superioridade.
Para se realizar em praça pública, o suplício é cercado por todo um aparato
militar. Sentinelas, arqueiros, policiais e soldados exibem um cerimonial meticuloso. Assim
como na Antiguidade, quando o espaço mediador cultural desenvolveu procedimentos
técnicos baseado na oratória e retórica, na Idade Média os procedimentos técnicos ganhavam
uma graduação científica exposta na metodologia da punição ou mesmo no método de
construção de texto dos jograis, que também nas praças se apresentavam.
Segundo Foucault, nas cerimônias de suplício, o personagem principal é a
população, cuja presença real e imediata é requerida para sua realização. A população é
chamada como espectador e convocada para assistir às exposições e às confissões públicas.
Assim como participa irada contra o criminoso, a população, diante de um suplício, poderia
recusar o poder punitivo e se revoltar. Muitas vezes impede a execução que considera injusta,
arranca um condenado das mãos do carrasco e, eventualmente, pode até perseguir e assaltar os
executores.
O suplício em praça pública foi suprimido em grande parte entre 1830 e 1848.
O poder do Estado deixou de se apresentar como um procedimento técnico do governo e
como um espetáculo ao mesmo tempo. Como consequência também se suprimiu um poder da
população sobre questões judiciais e sua capacidade de intervenção direta em ações jurídicas
do Estado.
Quando não está presente o aparato do Estado para o suplício ou outros
acontecimentos, a praça da Idade Média ressurge como um palco de comunicação da
sociedade. Em Florença, por volta do século XIV, a política era de certa forma vivida na
praça. As praças da cidade, sobretudo piazza Della Signoria, eram espaços públicos nos quais
se ouviam discursos e se debatia a política. “Discursos fluentes eram bastante apreciados,
sendo cruciais para o que os italianos chamavam de vita civile, a vida ativa política do
cidadão” (BURKE; BRIGGS, 2004, p. 82-83).
De acordo com Le Goff (1992), a praça era o centro de atração para o qual se
voltavam as preocupações do urbanismo. Em Montauban, criada em 1.144, a praça ocupava
exatamente o centro da cidade, cuja forma, em trapézio, reproduz o desenho da cidade. Bem
diferente arquitetonicamente da cidade Antiga, que tinha sua ágora, seu fórum e seus
criptopórticos, a Cidade medieval elimina os espaços livres e mantém a praça como um centro
bem protegido e de uma sociabilidade que estimula uma igualdade de comunicação entre as
classes sociais. Para Mikhail Bakhtin (1999), a cultura popular não oficial da Idade Média
tinha na praça pública um território próprio, e com datas próprias: os dias de festa e de feira.
Ainda que sem as decisões através do voto como em ágora, a praça pública da
Idade Média parece estabelecer uma espécie de utopia dialógica e comunicacional, um
território de livre acesso de classes e de linguagem. Le Goff vai definir a praça pública
medieval, a partir dos estudos de Bakhtin, como o lugar de encontro entre as duas culturas, a
popular e a erudita.
Ao imaginar a praça deslocada de um local determinado e geográfico, o
historiador Le Goff possui um entendimento muito próximo do conceito de espaço mediador
cultural. A praça, no sentido dado pelo autor, pode ser considerada não um local específico,
mas um espaço social.
As praças da Idade Média concentravam o movimento da população e eram
onde se realizavam as festas públicas, feiras, procissões, exposições, apresentações teatrais e
vários outros eventos. No fim da Idade Média e no Renascimento, diz Bakhtin (1999), a praça
pública forma um mundo único e coeso, onde aconteciam interpelações em altos brados ou
espetáculos.
A praça pública medieval, neste quadro, é um espaço de mediação cultural que
implica em uma multiplicidade de atividades comunitárias, incluindo comércio, política,
crítica, arte, diversão e sociabilidade. Ela funciona como um fator aglutinador e central
semelhante a alguns períodos de ágora. Na praça se recebem informações que são
distribuídas, assim como se recebem mercadorias, alimentos, que também são retransmitidos.
Esse caráter comercial e de troca de mercadorias e informação a constitui como um espaço
mediador cultural distante temporalmente do sistema capitalista. A troca material, por meio
do comércio e do consumo de mercadorias, assim como a troca simbólica, por meio da
comunicação e da informação, estiveram tão intrinsecamente presentes nesse espaço da Idade
Média que se pode afirmar que essas atividades fazem parte de um único processo social.
Nesse sentido, a emergência desse movimento faz parte do processo de complexificação da
coletividade humana anterior à revolução burguesa.
No entanto, o capitalismo permitiu que sua classe hegemônica elevasse a
relação comercial à última potência e, nessa radicalização, fez com que seus opositores
(trabalhadores ou qualquer grupo utópico) imaginassem a possibilidade de um espaço
mediador cultural puro, que expurgasse toda a imanência comercial (de troca) da
comunicação. Mas a análise dos espaços de comunicação, como se vê, não distingue comércio
e comunicação. Esses dois conceitos formam uma unidade indivisível. Comunicar é comerciar
e vice-versa. Ora, isso rompe com uma concepção sobre a informação muito presente na
sociedade contemporânea que é entendê-la como algo que foi criado pelo sistema capitalista e
que precisa ser expurgada de toda relação comercial.
Com isso, a noção de espaço mediador estabelece um outro caminho de análise
da imprensa, que não está fundado na pré-existência de uma comunicação pura, mas que parte
de um entendimento histórico-espacial entrecortado e matizado por procedimentos e práticas
sociais oriundas de agrupamentos civilizatórios complexos. Em última instância, e
simplificando, não é possível desvincular imprensa de espaços de troca de mercadorias,
diversão, lazer, fofocas, política etc. E isso significa dizer, como se pôde analisar no espaço
de mediação cultural medieval da praça, que a narrativa noticiosa não é algo essencialmente
oriundo do processo capitalista, ainda que essa afirmação se mostre como algo paradoxal.

Comércio em praça medieval, séculos XII e XIII

Praça medieval
ESPAÇOS RELIGIOSOS

Algumas cidades cresceram em torno de uma igreja, outras tinham igrejas


imposta a elas. Seja qual for a relação entre elas, a Igreja tem desempenhado um papel muito
importante, tanto física e cultural, no desenvolvimento da vida urbana. Em sua origem o
cristianismo era uma fé urbana. Foi carregado pelos seus primeiros missionários de cidade
para cidade. As epístolas de São Paulo foram dirigidas aos habitantes da cidade, e as primeiras
células cristãs estavam nas maiores cidades do Império Romano. Só lentamente fez a fé
penetrar a zona rural, que muito tempo se manteve a esfera do pagani, countryfolk ou
"pagãos", e ele veio até mais tarde para regiões montanhosas e escassamente povoadas. Estes
permaneceram nos cantos escuros da terra até o final da Idade Média. E ainda assim o
cristianismo sempre teve uma certa afinidade com terrenos baldios e lugares solitários.
O deserto era onde os cristãos foram para a contemplação e refresco espiritual.
Foi o resort dos "padres do deserto" e a primeira casa de certas ordens religiosas. Havia,
portanto, duas vertentes na evolução da Igreja Cristã: o que atraiu as pessoas para a
companhia dos outros e continuou suas atividades em cidades populosas e, por outro lado, que
procurou a solitária vida monástica no sentido estrito do termo. Este último não é importante
no presente contexto, exceto na medida em que, aqui e ali que contribuíram para o
povoamento e desenvolvimento de tais áreas de baldio e, assim, estimularam o crescimento
urbano. Lugares de peregrinação tornaram-se os núcleos de algumas cidades e mosteiros
remotos, por vezes, se tornaram centros comerciais, até mesmo de atividades industriais.
Muito mais importante no desenvolvimento da Igreja foram as capitais
regionais, os civitates, do Império Romano. Estes tornaram-se os centros administrativos da
igreja, tal como tinham sido dos governadores romanos. Neles bispos estabeleceram suas
visões e seus lugares. Aqui eles construíram suas catedrais e, posteriormente, os seus palácios.
Em primeiro lugar entre essas cidades catedrais, Roma foi governada pelo próprio Papa, após
a saída dos imperadores. Poucas civitates no império romano não se tornaram dioceses
episcopais, e, durante os séculos de invasão e tumulto após o eclipse do Império Romano no
Ocidente, eram os bispos que forneciam algum tipo de continuidade institucional e
preservaram muito do que foi deixado da cultura romana.
A catedral, como se tornou um grande edifício público, foi colocado
centralmente. Foi, como as basílicas romanas e templos que a precedeu, aberto ao público e
agraciado com qualquer arte e decoração que estavam disponíveis. As catedrais se apresentem
de duas formas: secular e monástica. A primeira era composta por sacerdotes seculares que
viviam no mundo compartilhando a vida com as pessoas comuns, a última era uma casa de
monges que levavam uma vida de clausura, de oração e de estudo, apesar da sua localização
no coração das cidades lotadas. Pela sua própria natureza, as catedrais monásticas foram em
grande parte separadas de qualquer assentamento que estava ao seu redor. O foco de suas
vidas foi o claustro. As catedrais seculares, por outro lado, podem ter tido claustros, mas a
vida foi focada mais nas pessoas fora de seus muros. Na verdade, catedrais monásticas só se
tornaram importantes na Sicília (Palermo e Cefalu) e, curiosamente, na Inglaterra, onde cerca
de metade das catedrais medievais eram monásticas.
É difícil não atribuir este fato à influência dos conquistadores normandos que
no século XI invadiram ambas as áreas. Uma cidade Catedral foi dominada fisicamente pela
sua catedral, como, de fato, muitos delas permanecem até hoje. Suas torres e pináculos
dignificaram seus horizontes, tanto quanto os prédios altos fazem em qualquer cidade
moderna, e a Catedral agora atrai turistas como uma vez atraiu peregrinos ao seu santuário e
relíquias sagradas. É impossível exagerar a importância económica dos peregrinos medievais.
Eles trouxeram suas contribuições para a construção da igreja, assim como a sua presença
encheu as pousadas e hospedarias.
A catedral estava no auge de uma hierarquia eclesiástica. Na sua base era a
paróquia, a unidade territorial menor no sistema administrativo da igreja medieval. Cada
paróquia, seja rural ou urbano, tinha uma igreja que servia as necessidades espirituais de seus
paroquianos. Paróquias variavam enormemente na área, mas não havia uma certa coerência
no tamanho das suas populações. Elas tiveram que ser grande o suficiente para suportar um
padre e manter uma igreja, mas ao mesmo tempo suficientemente pequeno para o sacerdote
atender as necessidades espirituais dos paroquianos. A paróquia teve sua origem no
estabelecimento de uma igreja. Nas áreas rurais, o fundador era possivelmente um senhor
local, que construiu uma igreja em uma estrutura de madeira, e dotou-o com um pedaço de
terra, que, por no futuro próximo, vai resultar em uma renda para sustentar o padre e manter a
igreja.
Durante os primeiros séculos do cristianismo, dezenas de igrejas devem ter
sido fundadas neste caminho. A maioria eram pequenas. Algumas igrejas sucumbiram, suas
congregações minúsculas eram incapazes de suportar o custo de manutenção. Outras igrejas,
especialmente aqueles nos bairros mais prósperos de uma cidade, foram reconstruídas e
rivalizavam com as catedrais. Em qualquer cidade medieval, o tamanho do edifício da igreja é
uma medida aproximada da sua riqueza e prosperidade. Igrejas medievais, com suas janelas
altas, torres e pináculos, deram a cidade um horizonte distinto. Desenhos e gravuras
panorâmicas, que começaram a multiplicar-se em direção ao fim da Idade Média e durante a
Renascença, descreveu a igrejas proeminente, mesmo exagerando sua escala e permitindo-
lhes a dominar a paisagem urbana.

Características arquitetônicas da igreja medieval:

 Formato horizontal sendo substituído pelo vertical, o que fazia com que a construção
se aproximasse do céu e demonstrava proximidade com Deus.
 Janelas em grande quantidade;
 Leveza e harmonia dos traços;
 Torres em formato de pirâmides;
 Arcos de volta-quebrada e ogivas;
 Paredes mais finas e de aspecto mais leve;
 O uso de arcos de volta-perfeita;
 Interior pouco iluminado;
 Pilares muito grossos que sustentavam arcos redondos;
 Teto abobadado;
 Predominância de linhas horizontais;
 Tanto os castelos como as Igrejas mostravam-se com um estilo de defesa, paredes
grossas e pouca incidência de janelas, construções “pesadas”. Isto ocorria porque as
igrejas deveriam servir como proteção contra as forças do mal e os castelos deveriam
proteger o povo contra as constantes invasões territoriais que ocorriam na época.

Catedral Duomo di Milano – Itália


Catedral de Chartres – França

Igreja de Saint Marys e Saint Finnons – Escócia

Igreja de Farnell - Inglaterra


AQUEDUTOS

O fornecimento de água era uma necessidade absoluta em qualquer cidade. Muitos


ofícios necessitavam de água e não podiam ser realizados sem eles. Os romanos tinham desenvolvido
a engenharia hidráulica em uma ciência. Mesmo nas pequenas cidades do provincial Grã-Bretanha, o
abastecimento de água foi trazido por uma combinação de tubos e aquedutos de qualquer fonte
distante. Quando o Império Romano no Ocidente entrou em colapso, seus sistemas elaborados de
apoio de água foram abandonados. As obras que abasteciam a cidade de Roma despertaram a
admiração dos visitantes medievais que, no entanto, provaram ser incapazes de reconstruí-los em volta
de suas próprias casas. Para os novos mestres da Europa, faltavam tanto as habilidades para construí-
los quanto a visão de perceber o quão importante eles eram. A cidade medieval, dependia
esmagadoramente de fontes naturais, poços artificiais, e quaisquer córregos e rios dentro do alcance.
Nascentes e poços foram raramente suficientes para suprir as necessidades até mesmo de uma cidade
pequena.
Capturar a água da chuva dos telhados das casas da cidade e conduzi-la para uma
cisterna não foi fácil e raramente parece ter sido tentada, exceto nas regiões mediterrâneas. Além
disso, a água coletada dos telhados, não eram menos poluídas do que a de outras fontes. E assim as
cidades lutaram, indo de uma crise para outra, de uma epidemia para outra, até que em meados do
século XIX, as fontes de infecções foram associadas a um abastecimento de água poluída. O caso
clássico foi a identificação da origem da epidemia de cólera de meados do século XIX em Londres.
Era uma bomba de rua no bairro populoso de Soho, que havia se tornado contaminada. Um surto
semelhante no final do XIX, na cidade alemã de Hamburgo terminou exatamente da mesma maneira.
O abastecimento urbano de água foi sempre de qualidade duvidosa, mas foi feita incomparavelmente
pior por métodos medievais de saneamento e resíduos dispostos. Este tem sido um problema humano
perene, de pequena consequência em um ambiente rural, mas desesperadamente importante na cidade.
Em um ambiente urbana congestionado, não era incomum cavar uma fossa doméstica
e cobri-la com placas de madeira, com um pequeno orifício. Tais artifícios deram origem a inúmeros
problemas, como o caso de um homem que tinha caído através das placas que cobrem sua fossa, que
tinha apodrecido com a umidade, e foi afogado no fosso abaixo.
Havia espaço abundante na zona rural para a escavação de fossas, mas dentro das
muralhas de uma cidade em construção, as áreas foram se tornando cada vez menores, com a
densidade da habitação aumentando. A menos que elas foram periodicamente limpas, as fossas
rapidamente enchiam e tinham que ser substituídas. Em pouco tempo, não havia espaço para mais
nada, eles ainda eram escavados sob os pisos de casas e acessados por um pequeno buraco no chão. É
difícil para nós conceber a inconveniência do mau cheiro dentro das instalações.
A fossa, tinha pouco mais do que três ou quatro pés de profundidade, era muitas vezes
revestida com vime como uma cesta e, por vezes com alvenaria. Muitos poços foram escavados e seus
conteúdos analisados por arqueólogos. Mesmo depois de cinco ou seis séculos, os seus conteúdos têm
muito a dizer nos sobre a dieta das pessoas medievais, bem como artigos domésticos, tais como
talheres e cerâmica quebrada que tinham sido jogados dentro das fossas. Onde não havia coleta de lixo
regular, havia todas era comum atirar artigos indesejados na fossa, que estava sob o chão da cozinha.
Em uma cidade bem gerida, as fossas eram regularmente limpas e seus conteúdos levados embora, às
vezes para ser despejado no rio mais próximo, às vezes para ser espalhado sobre campos urbanos.
A canalização da água não era recomendada pelas oficialidades, que temiam a
desvantagem de tornar as cidades vulneráveis a sabotagens de exércitos inimigos. Só em 1236,
Londres começou a trazer água para a cidade em aquedutos.

Roda d’água em vilarejo medieval

Poço em vilarejo medieval Bolsas de couro utilizadas para carregar


água até as casas
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Pounds, Norman John Greville. The medieval city. Greenwood Guides to Historic Events of the
Medieval World. United States of America; April 30, 2005. 264 páginas.

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