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Gabinete de Emergências e Riscos Ambientais (GERA)

Guia para a verificação da aplicabilidade do


Decreto-Lei n.º 254/2007

O Decreto-Lei n.º 254/2007, de 12 de Julho de 2007, transpõe para direito interno a Directiva n.º
2003/105/CE do Parlamento Europeu e do Conselho de 16 de Dezembro de 2003, que altera a Directiva
n.º 96/82/CE (Seveso II).

Este diploma, na senda do Decreto-Lei n.º 164/2001, de 23 de Maio, estabelece um regime que visa
preservar e proteger a qualidade do ambiente e a saúde humana, garantindo a prevenção de acidentes
graves e a limitação das suas consequências através da adopção de medidas preventivas, adequadas
ao nível de risco do estabelecimento e procedimento de resposta à emergência.

Para o efeito, estabelece um regime específico, aplicável a todos os estabelecimentos onde estejam
presentes substâncias perigosas em quantidades iguais ou superiores às indicadas na coluna 2 das
partes 1 e 2 do anexo I ao referido diploma ou quando a aplicação da regra da adição prevista na nota 4
do mesmo anexo assim o determine. Estão excluídos do âmbito deste diploma os estabelecimentos
referidos no número 2 do artigo 3º.

Este regime estabelece dois níveis de enquadramento, em função da perigosidade do estabelecimento,


determinada pela quantidade e tipologia de substâncias perigosas passíveis de se encontarem
presentes no mesmo.

Caso as referidas quantidades excedam ou igualem as quantidades indicadas na coluna 2 das partes 1 e
2 do Anexo I, ou a aplicação da regra da adição assim o determine, o estabelecimento enquadrar-se-á
no Nível Inferior de Perigosidade.

Caso as referidas quantidades excedam ou igualem as quantidades indicadas na coluna 3 das partes 1 e
2 do Anexo I, ou a aplicação da regra da adição assim o determine, o estabelecimento enquadrar-se-á
no Nível Superior de Perigosidade.

As obrigações dos estabelecimentos abrangidos por este regime dependem do nível de perigosidade do
estabelecimento, a saber:

Nível Inferior e Superior de Perigosidade

Avaliação da compatibilidade de localização (artigo 5º)


Notificação (artigo 7º)
Política de prevenção de acidentes graves (artigo 9º)
(1)
Efeito dominó : intercâmbio de informação (artigo 21º)
Obrigações em caso de acidente grave: acção e comunicação (artigo 22º)

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Nível Superior de Perigosidade (Art. 10º a 20º)

Relatório de Segurança (artigos 10º, 13º e 14º)


Auditoria ao Sistema de Gestão de Segurança (artigo 16º)
Plano de Emergência Interno (PEI): elaboração, revisão e actualização (artigos 17º e 18º)
Exercícios de simulação do PEI (artigo 18º)
Elementos para a elaboração do Plano de Emergência Externo: elaboração e actualização (artigo 19º)
(1)
Efeito dominó : exercícios de simulação do PEI conjuntos (artigo 21º)

De forma a simplificar a verificação da aplicabilidade do diploma a um dado estabelecimento, foram


identificados os passos necessários (ilustrados no fluxograma - Anexo II):

1. Inventário de “substâncias perigosas”

Proceder à identificação de todas as “substâncias perigosas” através da designação química,


composição química, nº CE (EINECS ou ELINCS), nº CAS e nº de Indexação relativo a cada
substância ou componente da preparação, bem como a sua forma física.

Entenda-se “substância perigosa”, na acepção da alínea n) do artigo 2º do Decreto-lei n.º


254/2007: as substâncias, misturas ou preparações enumeradas na parte 1 do Anexo I ou que
satisfazem os critérios fixados na parte 2 do mesmo anexo e presentes sob a forma de
matérias-primas, produtos, subprodutos, resíduos ou produtos intermédios, incluindo aquelas
para as quais é legítimo supor que se produzem em caso de acidente.

2. Classificação de perigosidade das “substâncias perigosas”

• Identificar, para cada substância perigosa, a respectiva classificação de perigosidade de


acordo com a legislação em vigor no âmbito da Classificação, Embalagem e Rotulagem
de Substâncias e Preparações Perigosas (consultar a respectiva ficha de dados de
segurança para confirmação dos elementos apresentados e o anexo I ao presente
documento para mais informações);

• Para o caso particular dos resíduos, apresentar uma proposta de classificação de


acordo as regras de classificação de preparações perigosas, ou, em alternativa, com
base noutras fontes de informação, nomeadamente: a origem dos resíduos, a
experiência prática, testes, classificação do Regulamento Nacional do Transporte de
Mercadorias Perigosas por Estrada (RPE) e classificação segundo a Lista Europeia do
Resíduos (LER);

• Para o caso particular dos explosivos, indicar a classificação RPE.

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3. Quantidade máxima (em massa) de cada “substância perigosa”

Identificar a quantidade máxima presente ou susceptível de estar presente em qualquer


momento no estabelecimento, instalação ou área de armazenagem, em toneladas.

Ex 1: Se a substância estiver armazenada num tanque, a capacidade máxima instalada


corresponderá à capacidade máxima útil desse tanque.

4. Enquadramento SEVESO

4.1 Substância Designada/ Categoria SEVESO

Identificar as substâncias designadas (parte 1 do Anexo I) e as categorias SEVESO (parte 2 do


Anexo I) de cada “substância perigosa”.

Nem todas as categorias de perigosidade previstas na legislação em vigor em matéria de classificação,


embalagem e rotulagem de substâncias e preparações perigosas são relevantes em termos da aplicação
desta legislação.

Por outro lado, algumas categorias SEVESO são atribuídas em função da sua classificação nos termos do
Regulamento de Transporte de Mercadorias Perigosas por Estrada (código ONU/ADR).

Substâncias para as quais é atribuído o símbolo “Tóxico” ou “ Muito Tóxico”, mas não classificadas como tal
(ex: carcinogénicas, mutagénicas e tóxicas para a reprodução) não se enquadram nas categorias da parte
2 do Anexo I.

Categorias da parte 2 do anexo I:

CATEGORIA SEVESO CLASSIFICAÇÃO


T+;
1 – Muito tóxicas
R26, R27, R28 (separadas ou combinadas)
T;
2 - Tóxicas
R23, R24, R25 (separadas ou combinadas)
O,
3 – Comburentes
R9, R8, R7
4 – Explosivas Divisão 1.4 ONU/ADR
E,
5 – Explosivas R2 ou R3
Divisões 1.1, 1.2, 1.3, 1.5 ou 1.6 ONU/ADR
6 – Inflamáveis R10
F;
7a – Facilmente inflamáveis
R17
F;
7b – Líquidos facilmente inflamáveis
R11
F+;
8 – Extremamente inflamáveis
R12
9i – Muito tóxicas para os N;
9 – Substâncias perigosas para organismos aquáticos R50 ou R50/53
o ambiente 9ii – Tóxicas para os organismos N;
aquáticos R51/53
10 – Qualquer classificação 10 i – Reage violentamente em
R14 ou R14/15
não abrangida pelas contacto com a água
classificações precedentes em 10 ii – Em contacto com a água
combinação com: R29
liberta gases tóxicos

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Ex 2: Uma substância classificada como Xi; R38 (irritante para a pele) não se enquadra nas categorias
da parte 2 do Anexo I.

Ex 3: A substância 5-Nitroacenafteno, classificada como Carc. Cat 2; R45, embora rotulada como T;
R45, não se enquadra na categoria 2 da parte 2 do Anexo I.

Ex 4:Uma substância classificada como R52/53 não se enquadra nas categorias 9 da parte 2 do Anexo
I.

Quando uma substância se insere em mais do que uma das categorias da parte 2 do anexo I, atribuem
se as categorias de limiar mais baixo correspondentes a cada um dos três conjuntos de categorias que
se seguem: categorias 1 e 2; categorias 3 a 8 e categoria 9.

+
Ex 5: Uma substância classificada como T; R24, F ;R12 e N;R50/53, deverão ser atribuídas as
categorias 2, 8 e 9i.
+
Ex 6: Uma substância classificada como O;R8 e F ;R12 deverá ser enquadrada na categoria 8.

4.2 Verificar se as quantidades de “substâncias perigosas” ultrapassam os limiares das


colunas 2 ou 3

Verificar se alguma das “substâncias perigosas” ou conjunto de substâncias de uma categoria


está presente em quantidade (qx) igual ou superior à quantidade limiar (Qx) indicada na coluna 2
(Qinf x) ou 3 (Qsup x) das partes 1 e 2 do Anexo I.

Se qx ≥ Qinf x o estabelecimento está abrangido pelo diploma regime de prevenção de acidentes


graves

Se Qinf x ≤ qx < Qsup x o estabelecimento está abrangido pelo nível inferior de perigosidade

Se qx ≥ Qsup x o estabelecimento está abrangido pelo nível superior de perigosidade

Se as quantidades não ultrapassarem os limiares das colunas 2 ou 3, aplicar a regra da


adição

Aplicar a regra da adição, separadamente para cada um dos seguintes grupos de categorias:

1) Σ(qx/Qx) categorias 1 e 2 - somatório das substâncias designadas da parte 1, classificadas como


tóxicas ou muito tóxicas, com as substâncias enquadradas na categoria 1 ou 2 da parte 2;

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2) Σ(qx/Qx) categorias 3 a 8 - somatório das substâncias designadas da parte 1, classificadas como


oxidantes, explosivas, inflamáveis, altamente inflamáveis ou extremamente inflamáveis, com
substâncias enquadradas nas categorias 3,4,5,6,7a,7b ou 8 da parte 2;

3) Σ(qx/Qx) categoria 9 - somatório das substâncias designadas na parte 1 e classificadas como


perigosas para o ambiente, com as substâncias enquadradas nas categorias 9i) ou 9ii) da
parte 2.

Quando pelo menos um dos referidos somatórios for igual ou superior a 1, o estabelecimento
está abrangido pelo nível de perigosidade correspondente ao limiar utilizado (Qinf X ou Qsup X).

Quando uma “substância perigosa” apresente várias categorias SEVESO, será incluída em
todos os somatórios da regra da adição correspondentes a essas categorias.

No cálculo da acumulação para um dado grupo de categorias, devem ser incluídas as


Substâncias Designadas que nele se enquadrem, considerando, no entanto, os limiares (Qx) da
parte 1 do anexo I.

Ex 7: A uma substância pertencente às categorias 2, 8 e 9i será considerada para efeito de


aplicação da regra da adição dos três grupos de categorias acima referidos.

Para este efeito, e face a algumas questões que possam ainda subsistir, aconselha-se a
consulta documento “Questions and Answers”, preparado no âmbito do Comité das Autoridades
Nacionais Competentes para a Directiva Seveso II que está disponível no site do Major
Accidents Hazards Bureau (MAHB) http://mahbsrv.jrc.it/.

Nota: A informação presente neste Guia não dispensa a consulta do Decreto-Lei n.º 254/2007, de 12 de
Julho.

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Para facilitar a verificação do enquadramento SEVESO, propõe-se o preenchimento do quadro que se


segue:

ENQUADRAMENTO SEVESO
Substância Quantidade Quantidade
Quantidade
Estado Designada / limiar da limiar da
Identificação Máxima (q) Classificação
físico Categoria coluna 2 coluna 3 q/Qinf q/Qsup
(tons)
Seveso
(Qinf) (Qsup)

Σ q/Q
Categorias
1e2
Resultado
da Regra Σ q/Q
da Categorias 3,4,5,6,7 e 8
Adição:
Σ q/Q
Categoria 9

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ANEXO I

o Fontes de consulta:

http://www.iambiente.pt/

Base de dados do Anexo I da Directiva 67/548/CEE, na sua redacção actual:


http://ecb.jrc.it/classification-labelling/ (→ search classlab → search annex 1)

Documentos de orientação e base de dados das substâncias abrangidas pela Directiva Seveso II:
http://mahbsrv.jrc.it/

Legislação em vigor no âmbito da classificação, embalagem e rotulagem de “substâncias perigosas”

SUBSTÂNCIAS PERIGOSAS

• Decreto-Lei n.º 82/95, de 22/04

• Portaria n.º 732-A/96, de 11/12

• Decreto-Lei n.º 330-A/98, de 2/11 (Supl.)

• Declaração de Rectificação n.º 3-E/99, de 30/01 (2º Supl.)

• Decreto-Lei n.º 209/99, de 11/06

• Decreto-Lei n.º 195-A/2000, de 22/08

• Decreto-Lei n.º 222/2001, de 8/8

• Decreto-Lei n.º 154-A/2002, de 11/06

• Decreto-Lei n.º 72-M/2003, de 14/04

• Decreto-Lei nº 260/2003, 21/10

• Decreto-Lei n.º 27-A/2006, de 10/02

PREPARAÇÕES PERIGOSAS

• Decreto-Lei n.º 82/2003, de 23/04

OUTROS

• Decreto-Lei n.º 267-A/2003 de 27/10 (Regulamento Nacional de Transporte


de Mercadorias Perigosas por Estrada - RPE)

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“Substância perigosa” – substâncias, misturas ou


preparações enumeradas na parte 1 do anexo I ou que
satisfazem os critérios fixados na parte 2 do anexo I e
ANEXO II presentes sob a forma de matérias-primas, produtos,
subprodutos, resíduos ou produtos intermédios, incluindo
aquelas para as quais é legítimo supôr que se produzem em
caso de acidente.
Inventariar todas as
1 “substâncias perigosas”
Para substâncias e preparações: fichas de dados de segurança

Para os resíduos: critérios e fontes de informação utilizadas para


Classificação de perigosidade de suporte da proposta de classificação de perigosidade:
Confirmação
2 cada “substância perigosa”
• Código LER
• Identificação dos componentes do resíduo
• Fichas de dados de segurança dos componentes do
resíduo
• Fichas de dados de segurança das substâncias ou
Quantidade máxima (em massa) preparações que estiveram na origem do resíduo
3 de cada “substância perigosa
• Fichas de transporte
• Resultado dos testes

Para explosivos: ficha de transporte ou ficha de dados de segurança


Substância Designada/Categoria
4 SEVESO

Sim Está abrangido


≥Qi(coluna2/
qi≥
(disposições da
coluna 3)?
coluna 2 ou coluna 3)

Não

Sim Está abrangido


Σ(qx/Qx) (coluna 2 / (disposições da
coluna 3) ≥1? coluna 2 ou coluna 3)

Não

Não está abrangido


(disposições
da coluna 2 ou
coluna 3)

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