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INSTITUTO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DA AMAZÔNIA

FACULDADE DEVRY – MARTHA FALCÃO

CURSO DE DIREITO

A AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA COMO MEDIDA DE PROTEÇÃO AOS


DIREITOS HUMANOS

LAURA CID VIEIRA BELÉM

Manaus
2016
LAURA CID VIEIRA BELÉM

A AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA COMO MEDIDA DE PROTEÇÃO AOS


DIREITOS HUMANOS

Projeto apresentado ao curso de direito do


Instituto Superior da Amazônia,
Faculdade Martha Falcão como requisito
para obtenção do titulo bacharel em
Direito.

ORIENTADORES: Prof. Msc. Guilherme Gustavo Vasques Mota


Prof. Msc. Ilsa Maria Honório de Valois Coelho

Manaus
2016
A AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA COMO MEDIDA DE PROTEÇÃO AOS
DIREITOS HUMANOS
Laura Cid Vieira Belém1
Guilherme Gustavo Vasques Mota2
Ilsa Maria Honório de Valois Coelho3

RESUMO

O presente artigo aborda sobre o a audiência de custódia como medida de proteção aos
direitos humanos. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, com suporte bibliográfico histórico no
Conselho Nacional de Justiça (CNJ), e fundamentada nas medidas cautelares processuais
penais, embora questionado, inclusive em âmbito constitucional, é aceito sem ressalvas, na
maioria das hipóteses em especial das prisões, é primordial, garantir efetividade aos tratados
internacionais de direitos humanos que o Brasil é signatário. O objetivo deste artigo é destacar
que para o melhor compreensão do problema da banalização no uso das prisões cautelares no
País, que levam à superlotação carcerária e a sérias violações dos direitos fundamentais
daqueles que são investigados. Logo, observar também os princípios constitucionais e a
presunção de inocência. Em resumo, constatar os principais pontos do Pacto de São José da
Costa Rica assim como a dignidade da pessoa humana. Além disso, também foi realizado
levantamento literário acerca da Audiência de Custódia, tanto da doutrina brasileira, como da
de autores latino-americanos, cujos ordenamentos jurídicos já preveem audiências similares
há algum tempo. Dentro de um método científico que consiste no conjunto de procedimentos
intelectuais e técnicas adotadas para se atingir o conhecimento.

Palavras-chave: CNJ. Direitos humanos. Banalização. Custódia.Carcerária.

ABSTRACT

This article discusses about the custody hearing as a protective measure for human rights. The
National Council of Justice (CNJ) fundamental is the importance the implementation of
Custody Hearing for judicial consideration of criminal procedure precautionary measures,
although questioned, including constitutional, is accepted without reservations, in most cases
Especially the prisons, it is essential to Ensure effectiveness to international human rights
treaties Which Brazil is a signatory. It is important to note que for the best compreendimento
solving the problem of trivializing the use of pre-trial prisons in the country, leading to prison
overcrowding and serious violations of fundamental rights of Those being investigated. In
summary, official data Were used to Manda how has given Beheerder the interim
imprisonment in the Brazilian judicial system to Their respective statutory provision.
Moreover, it was carried Also in October literature survey about the Custody Hearing, BOTH
the Brazilian doctrine, such as the Latin American authors, systems cool Whose already
Provide for similar hearings for some team.

Keywords: CNJ. Human rights. Trivialization. Custódia.Carcerária.

1
Aluna Graduando do Curso de Direito
2
Professor do Curso de Direito da Faculdade Martha Falcão.
3
Professora do Curso de Direito da Faculdade Martha Falcão
4

INTRODUÇÃO

O presente artigo destaca conceitualizar se o Direito Penal é para proteger o réu,


porque seus direitos são vilipendiados todos os dias a partir do seu encarceramento e o
verdadeiro direito humano, que desperta em nosso ordenamento jurídico uma necessidade de
um debate acerca de seus usos e limites constitucionais.
Nesse entendimento, um breve histórico do tema proposto sobre a pena de prisão
como medida de proteção aos direitos humanos é de relevância tanto para o sistema
constitucional visando os direitos humanos e dando suporte os sistema processual penal. No
Brasil, simplesmente, nos deparamos com um fenômeno em que se tem uma Constituição
extremamente atualizada com os preceitos fundamentais de proteção da dignidade humana,
mas, ao mesmo tempo, que existe um Código de Processo Penal com clara influência
autoritária, visto que foi promulgado durante a vigência do regime ditatorial getulista (1941),
e mesmo que tenha sofrido algumas reformas pontuais posteriores, esse seu caráter ainda
continua presente.
No contexto dos Princípios Constitucionais e a Presunção de Inocência basea-se no
entendimento da nossa cultura jurídica, em sua forma constitucional tão acusatorial,
individualista, igualitária, liberal e moderna, esteja em franca esquizofrenia com o caráter
inquisitorial holista, hierarquizado, conservador e tradicional de sua vertente processual penal.
É importante ressaltar que gera consequências para as prisões cautelares, na medida
em que se deve atentar para os postulados constitucionais de proteção aos direitos
fundamentais, incluídos os tratados internacionais de direitos humanos ratificados pelo Brasil.
Nesse mesmo entendimento o contraditório e ampla defesa no mesmo tempo temos
regras como a do art. 312, CPP, que permite a decretação da prisão provisória para se
“garantir a ordem pública”, locução demasiadamente aberta que deixa margem para a
discricionariedade do juiz quando da escolha sobre o cabimento ou não da prisão no caso,
permitindo, por vezes, o uso arbitrário desta. Esse fato contradiz regras básicas de princípios
legais que também têm implicações para os detidos, que são ilegalmente expostos a ameaças
contra a sua vida, integridade física e saúde, e para abusos e maus-tratos por parte de guardas
e policiais.
A proposito dessas colocações, é importante também observar o contexto social em
que se inserem os seus direitos vilipendiados. Estamos em uma sociedade já favorável a dar
mais valor aos efeitos do crime, sem se perguntar sobre os efeitos do sistema penal sobre a
própria criminalidade.
5

Outro ponto inportante a ser relatado é o efeito que os crimes são mais evidentes e a
ideia mais disseminada de segurança pública está diretamente vinculada com a neutralização
de pessoas tidas como “perigosas”, ou seja, as classes marginalizadas pelo sistema
econômico, que acabam também sendo marginalizadas pelo sistema penal.
O indivíduo está sempre inserido em uma cotidianidade e desenvolve nela suas
habilidades, sentimentos, ideias, sentidos, sua liberdade pode ser condicionada a garantias que
assegurem o seu comparecimento em juízo.
É importante destacar que, foi adotada uma metodologia de revisão de literatura sobre
matérias atinentes à temática proposta, focando-se em obras jurídicas que defendessem uma
faceta acusatória e garantista dos direitos humanos. Dentro de um método científico que
consiste no conjunto de procedimentos intelectuais e técnicas adotadas para se atingir o
conhecimento.
Esclarecendo ainda que, também fez-se preciosa a análise de dados obtidos por meio
de pesquisas realizadas nas redes sociais de proteção aos direitos humanos, ou por
publicações oficiais do governo, que demostrassem empiricamente o tamanho do problema
que estamos lidando.
6

1.BREVE EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PENA DE PRISÃO

A restrição de liberdade existe desde que o mundo é mundo no início da civilização,


quando possuía mera finalidade de custódia, sendo desconhecida a sua natureza de sanção
penal. O principal objetivo da privação de liberdade era assegurar a integridade física do
indivíduo até o momento do seu julgamento e posterior execução.
A proposito desta época, os governantes detinham o poder, por fim, determinavam as
penalidades da forma que lhes fosse conveniente, bem como de acordo com a classe social a
que pertencia o indivíduo que cometera o delito.
Baseado na colocação de (COSTA, 2016) enfatiza que o aprisionamento era realizado
em fendas subterrâneas, calabouços nos palácios e masmorras, onde mulheres, crianças,
homens e velhos aguardavam o momento em que seriam julgados e executados.
É importante destacar que os meios de execução eram bárbaros e terríveis, podendo
variar de mutilações corporais até a temida pena de morte.
Já no entendimento de (RICCI, 2016) diz que os vestígios que nos chegam dos povos
e civilizações mais antigos coincidem com a finalidade que atribuíam primitivamente à
prisão: ligar de custódia e de tortura.
Evidentemente que na idade média surge a prisão Estado que reunia em
encarceramento os inimigos políticos do poder real e os que cometessem o crime de traição. A
prisão Estado se dava na forma de prisão custódia, onde os prisioneiros aguardavam até o
julgamento para após sofrerem a execução por meio das mutilações, pena de morte entre
outras. Também se aplicava a pena de detenção, que poderia ser temporal ou perpétua
(SILVA, 2016)
Vale ressaltar que o detentor do poder real poderia perdoar os indivíduos, que então
seriam libertados do cárcere sem serem submetidos à execução.
Segundo (SARLET, 2016) esclarece que a prisão Eclesiástica era destinada aos
clérigos rebeldes, que eram recolhidos aos mosteiros para que por meio de oração e
penitência, pudessem se arrepender do mal causado. A prisão canônica era mais humana que a
do regime prisão-custódia, sendo possível equipara-la às prisões modernas, porquanto não
havia sevícias e mutilações.
Em síntese o pensamento eclesiástico de que o arrependimento e a contrição
contribuem mais para a correção do que a mera força da coação mecânica.
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Baseado na colocação de Gemaque (2011, p. 75) diz que:

A imagem da criminalidade promovida pela prisão e a percepção dela como uma


ameaça à sociedade, devido à atitude de pessoas e não à existência de conflitos
sociais, produz um desvio de atenção do público, dirigida principalmente ao ‘perigo
da criminalidade’, ou às chamadas ‘classes perigosas’, ao invés de dirigir-se à
violência estrutural. Sobretudo em momentos de crises dos governos e da
democracia, o ‘perigo da criminalidade’ utilizado nas campanhas de ‘Lei e Ordem’,
converte-se num instrumento de produção de consenso das maiorias silenciosas
frente às relações de poder existentes. Mas a prisão não é somente uma violência
institucional, ela á também um local de concentração extrema de outras formas de
violência: violência entre.

Insistido no fato de que as garantias do direito reconhecidas pelo direito penal liberal,
em geral não passam pela porta da prisão, uma zona franca de arbítrio contra os detentos.

2.A AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA E AS DISPOSIÇÕES DO PACTO SÃO JOSÉ DA


COSTA RICA

Um conceito bem definido de custódia, nada mais é do que uma forma de garantir a
integridade física e os princípios inerentes à prisão, pois com esta modalidade tem-se que a
pessoa presa em flagrante deverá ser conduzida imediatamente à presença de um juiz
competente para verificar a legalidade da prisão e se há a necessidade da pessoa ficar presa.

Baseado na colocação de Merisio (2010, p. 11) enfatiza que:

A denominada audiência de custódia consiste, basicamente, no direito de (todo)


cidadão preso ser conduzido, sem demora, à presença de um juiz para que nesta
ocasião.
se faça cessar eventuais atos de maus tratos ou de tortura e, também, para que se
promova um espaço democrático de discussão acerca da legalidade e necessidade da
prisão.

Segundo Merisio (2010, p. 11) “Tal sistema não se trata de uma inovação jurídica,
pois já existe em outros países e é previsto em Tratados Internacionais de Direitos Humanos
como é o caso do Pacto de São José da Costa Rica e o Pacto Internacional de Direitos Civis e
Políticos, sendo o Brasil signatário de ambos.” Dessa forma a sistematica do Pacto da suporte
a outros países.
8

Nesse mesmo entendimento Merisio (2010, p. 11) enfatiza que no Pacto de São José
da Costa Rica a audiência de custódia vem prevista no item 5 do art. 7:
Toda pessoa presa, detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, à presença de um
juiz ou outra autoridade autorizada por lei a exercer funções judiciais e tem o direito de ser
julgada em prazo razoável ou de ser posta em liberdade, sem prejuízo de que prossiga o
processo. Sua liberdade pode ser condicionada a garantias que assegurem o seu
comparecimento em juízo.

Na colocação de Trindade (1998, p. 235) Outro ponto destacado é que no Pacto


Internacional de Direitos Civis e Políticos vem previsto no item 3 do art. 9 que assim dispõe:

Qualquer pessoa presa ou encarcerada em virtude de infração penal deverá ser


conduzida, sem demora, à presença do juiz ou de outra autoridade habilitada por lei
a exercer funções judiciais e terá o direito de ser julgada em prazo razoável ou de se
posta em liberdade. A prisão preventiva de pessoas que aguardam julgamento não
deverá constituir a regra geral, mas a soltura poderá estar condicionada a garantias
que assegurem o comparecimento da pessoa em questão à audiência, a todos os atos
do processo e, se necessário for, para a execução da sentença.

Logo audiência de custódia tem a importante missão de reduzir o encarceramento em


massa no país, porquanto através dela se promove um encontro do juiz com o preso.
Apesar de muitos verem a audiência de custódia como a solução para a superlotação
nos presídios, outros entendem que esta não é a medida a ser adotada no momento, pois
poderá aumentar o volume de pautas de audiências e, também, o delegado de polícia é
autoridade competente para realizar a primeira análise da legalidade da prisão.

Segundo Ricci (2016, p. 15) enfatiza que:

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em parceria com o Ministério da Justiça e o


Tribunal de Justiça de São Paulo lançou em fevereiro de 2015 o projeto Audiência
de Custódia. Este projeto tem o intuito de garantir que o preso em flagrante seja
apresentado rapidamente ao juiz, respeitando, assim, os direitos fundamentais da
pessoa presa resguardados pela Constituição Federal e pelos tratados internacionais
em que o Brasil é signatário.

É importante destacar que qualquer pessoa presa ou encarcerada em virtude de


infração penal deverá ser conduzida, sem demora, à presença do juiz ou de outra autoridade
habilitada por lei a exercer funções judiciais e terá o direito de ser julgada em prazo razoável
ou de ser posta em liberdade.
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A prisão preventiva de pessoas que aguardam julgamento não deverá constituir a regra
geral, mas a soltura poderá estar condicionada a garantias que assegurem o comparecimento
da pessoa em questão à audiência, a todos os atos do processo e, se necessário for, para a
execução da sentença”
Esclarecendo ainda que o delegado de polícia está inserido no conceito amplo de
autoridade previsto nos tratados de direitos humanos, razão pela qual se conclui que o sistema
processual brasileiro não só está de acordo com os tratados internacionais como vai além e
estabelece um duplo controle de legalidade da prisão em flagrante, realizado, a priori, pelo
delegado de polícia, e a posteriori, pelo juiz de direito.
Segundo (SILVA, 2016) existem outras preocupações e inconvenientes em ter que
conduzir todos os presos ao Poder Judiciário, inclusive ao sistema acusatório” e que,
considerando o princípio do acusatório.
Diante do exposto é necessário um distanciamento entre julgador e os fatos sob
investigação, ou seja, o princípio do acusatório traz que para evitar equívocos hipóteses
iniciais é necessário que o julgador esteja afastado dos fatos sob investigação.

2.1 Princípios Constitucionais e a Presunção de Inocência

A proposito do sub tema uma pessoa denunciada de ter cometido um crime somente
será considerada culpada após o trânsito da sentença que o condenou, quando não couber mais
recurso contra a sentença.
Baseado na colocação de Ferreira (2004, p. 233) diz que: No art. 5º, inciso LVII, da
CF/88, que dispõe acerca de que ninguém será considerado culpado até o trânsito da sentença
penal condenatória.
Com a adoção da audiência de custódia começamos a ajustar o processo penal
brasileiro aos Tratados Internacionais de Direitos Humanos. Nesse contexto o Brasil destaca
ainda que a audiência de custódia já está internalizada na legislação de vários países vizinhos
como a Argentina, Colômbia e o Chile.
Destaca-se que o atendimento imediato à pessoa detida é uma recomendação
internacional, tendo em vista que esta medida diz repeito a um instrumento de prevenção e
combate à tortura.
Desta forma, a audiência de custódia colabora no combate e na prevenção da tortura e
de tratamento cruel, desumano ou degradante na medida em que dispõe que a pessoa detida,
agredida ou não, tenha a oportunidade de encontrar com um juiz fisicamente em 24 horas,
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possibilitando a instauração de um processo para saber as circunstâncias da prisão, bem como


de responsabilizar o agente público nos casos em que se identifique sinais de violência por ele
praticado.
Outro ponto a ser destacado é que a audiência de custódia vem amenizar de alguma
forma o elevado número de presos provisórios no Brasil, tendo em vista que uma das funções
da audiência de custódia é verificar a legalidade e as circunstâncias da prisão, possibilitando a
aplicação de uma medida alternativa.
Vale lembrar que as normas de Tratados Internacionais sobre Direitos Humanos são de
eficácia plena e imediata, sendo que o Estado possui a obrigação de assegurar que um direito
seja protegido.
Nesse entendimento, a caracteristica que depende do princípio da presunção de
inocência é justamente os princípios do contraditório e a ampla defesa da inocencia.
A proposito do Pacto de São José da Costa Rica, em seu art. 8º, item 2 também traz o
princípio da presunção de inocência ao prescrever que Toda pessoa acusada de um delito tem
direito a que se presuma sua inocência, enquanto não for legalmente comprovada a sua culpa.
Por fim, cabe a quem acusa comprovar, dentro dos limites legais, que a pessoa é culpada pelo
delito.

2.2 Contraditório e ampla defesa

O centro fundamental do contraditório estaria conctado à discussão dialética dos fatos


da causa, devendo se resguardar a ambas os lados, e não somente à defesa, a oportunidade de
correspondencia dos atos praticados no curso do processo

Segundo Ferreira (2004, p. 369) enfatiza que:

O princípio do contraditório encontra-se sua base legal no art. 5º, inciso LV da


CF/88 O princípio do contraditório significa que cada ato praticado durante o
processo seja resultante da participação ativa das partes. Origina -se no brocardo
audiatur et altera pars. A aplicação do princípio, assim, não requer meramente que
cada ato seja comunicado e cientificado às partes. Relevante é que o juiz, antes de
proferir cada decisão, ouça as partes, dando-lhes igual oportunidade para que se
manifestem, apresentando argumentos e contra-argumentos. Audiência bilateral,
consubstanciada pela expressão em latim audiatur et altera pars seja ouvida também
a parte adversa.
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O princípio do contraditório satisfaz totalmente as suas exigências assim que, às


ambas partes litigantes, são concedidas iguais oportunidades de se pronunciarem mutuamente
no processo sobre as suas alegações e ações. Assim, ressalte-se que quando o princípio do
contraditório assegura às partes o direito de resposta, está garantindo tão-somente a
oportunidade exercê-lo.
O exercício desse direito não constitui uma obrigação, mas na verdade um ônus, no
sentido de que é o comportamento que se espera que a parte assuma, podendo colher
conseqüências desfavoráveis, se optar por não o fazer.

Baseado na colocação de Atienza (2006, p. 74) diz que:

O contraditório pode ser inicialmente tratado como um método de confrontação da


prova e comprovação da verdade, fundando -se não mais sobre um juízo potestativo,
mas sobre o conflito, disciplinado e ritualizado, entre partes contrapostas: a acusação
expressão do interesse punitivo do Estado e a defesa expressão do interesse do
acusado e da sociedade em ficar livre das acusações infundadas e imune a penas
arbitrárias e desproporcionadas. As partes têm a faculdade de se manifestarem a
cada ato do processo. Este princípio pode sofrer mitigações excepcionais, tal como
nos casos das medidas urgentes em que o pronunciamento judicial se dará inaudita
altera pars, sob pena de prejuízo à própria efetividade do processo.

Dessa forma, o contraditório é a possibilidade das partes se confrontarem, ou seja, a


toda alegação fática ou apresentação de prova, feita no processo por uma das partes, tem o
adversário o direito de se manifestar.
O contraditório pode ser de duas espécies: real que é quando ocorre no mesmo
momento da produção probatória e diferido que é aquele que se realiza após à produção da
prova.
Já com relação ao princípio da ampla defesa, fundamentado no inciso LV, do art. 5º da
CF/88, traduz-se na possibilidade das partes se defenderem utilizando-se de todos os meios
possíveis. a ampla defesa é o direito de se valer de amplos e extensos métodos para se
defender da imputação feita pela acusação. (BRASIL , 1988)

3 DISPOSIÇÕES LIBERTADORAS DO PACTO DE SÃO JOSÉ DA COSTA RICA

Assinado em 22 de novembro de 1969 o Pacto de São José da Costa Rica (Convenção


Americana sobre Direitos Humanos) é uma convenção internacional entre os países
integrantes da Organização de Estados Americanos (OEA) e entrou em vigência em 18 de
julho de 1978.
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Este pacto tem por escopo instituir os direitos fundamentais da pessoa humana, como
o direito à vida, à igualdade, à segurança, à liberdade, etc., trata também das garantias
judiciais, ou seja, visa assegurar que os países que o ratificaram respeitem o devido processo
legal e seus princípios.
No Brasil o Pacto de São José da Costa Rica foi ratificado em 06 de novembro de
1992, pelo decreto nº 678, quatro anos após a promulgação da Constituição da República
Federativa do Brasil (CRF/88), onde constam os direitos e garantias fundamentais a todas as
pessoas, sem quaisquer discriminações.

Segudo Resek (2014, p. 118) enfatiza que:

Numa das bases do sistema interamericano de proteção dos Direitos Humanos. Os


Estados Signatários desta Convenção se comprometem a respeitar os direitos e
liberdades nela reconhecidos e a garantir seu livre e pleno exercício a toda pessoa
que está sujeita à sua jurisdição, sem qualquer discriminação. Se o exercício de tais
direitos e liberdades não estiverem ainda assegurados na legislação ou outras
disposições, os Estados membros estão obrigados a adotar as medidas legais ou de
outro caráter para que venham a tornar-se efetivas. Cabe ao Estado-parte a obrigação
de respeitar e assegurar o livre e pleno exercício desses direitos e liberdades, sem
qualquer discriminação. Reserva-se ao Estado parte adotar todas as medidas
legislativas e de outra natureza que sejam necessárias para conferir efetividade aos
direitos e liberdades enunciados.

Os direitos assegurados no Pacto de São José da Costa Rica são essencialmente os


direitos de 1ª geração, àqueles relativos à garantia da liberdade, à vida, ao devido processo
legal, o direito a um julgamento justo, o direito à compensação em caso de erro judiciário, o
direito à privacidade, o direito à liberdade de consciência e religião, o direito de participar do
governo, o direito à igualdade e o direito à proteção judicial entre outros. (COSTA, 2016)
Assim sendo, o Pacto de São José da Costa Rica tem por finalidade garantir o
estabelecimento do regime de liberdade pessoal e justiça social, assegurando, assim, a
dignidade da pessoa humana, pois os países membros devem adotar medidas que efetivem
direitos e liberdades inerentes à pessoa humana.
É importante destacar que o princípio do contraditório ou da audiência bilateral tem
expressão no brocardo romano audiatur et altera pars . Tradicionalmente conceitua-se por
princípio do contraditório a imposição de que, sempre que for proposta uma demanda, feito
um pedido ou requerida uma determinação por uma das partes, à outra deve ser sinalizada a
oportunidade de se defender, antes do órgão julgador decidir, assegurando-se a ambas o
direito de conhecer todas as condutas assumidas pela contraparte e a definir uma posição
sobre elas, isto é, um direito de resposta.
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Deste modo, garante-se o desenvolvimento do processo em discussão dialética, com as


vantagens decorrentes da fiscalização recíproca das alegações das partes.
Outro ponto destacado é a concepção tradicional do princípio do contraditório
evoluiu por influência do direito alemão, ganhando contornos mais extensos. Hodiernamente,
pode ser compreendido como a garantia de participação efetiva das partes no
desenvolvimento de toda a demanda, através da possibilidade de influírem, com condições de
igualdade, em todos os elementos que estejam relacionados com o objeto da causa e que, em
qualquer fase do trâmite processual, figurem como potencialmente relevantes para o
convencimento do órgão julgador.
Logo com isso tem como afirmar que a principal finalidade do contraditório deixou de
ser a defesa, na acepção negativa de oposição ou resistência à atuação da outra parte, para ser
a influência, no sentido positivo do direito de incidir ativamente no desenvolvimento e no
êxito do processo.
A partir dessa importante colocação na arbitragem internacional o contraditório é
aplicado de maneira muito próxima ao processo civil. Quando as partes acordam submeter à
arbitragem questões litigiosas, presentes ou futuras, estão assumindo desde o momento de
subscrever a convenção de arbitragem, posições diferenciadas e contrapostas. Estas posições
continuam em colisão durante todo o transcurso do processo arbitral, palco de uma autêntica
dialética promovida pelo cruzamento de alegações e provas de cada parte.
Todavia, ao ouvir uma parte, o tribunal arbitral deverá ouvir a outra, pois só desta
forma se dará a ambas a possibilidade de sustentar suas razões, de exibir suas provas, de
influir sobre o convencimento do tribunal. Somente pela soma da parcialidade das partes –
uma representando a tese e a outra, a antítese – é que o tribunal arbitral pode elaborar a
síntese, em um processo dialético.

4 REAFIRMAÇÃO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

É importante ressaltar que a dignidade da pessoa humana está baseada no conjunto de


direitos inerentes à personalidade da pessoa liberdade e igualdade e também na condição de
direitos estabelecidos para a coletividade sociais, econômicos e culturais.
De acordo com (TRINDADE, 1998) o vocábulo dignidade vem do latim dignus e
significa honra, virtude. a dignidade se traduz na condição, qualidade que veda a submissão
do homem a tratamentos degradantes e a situações em que inexistam ou sejam escassas as
condições materiais mínimas para sua subsistência.
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Logo dessa forma, obtemos que a dignidade é o que limuta o homem de momentos em
que não tenha a mínima condição de sobrevivência, pois ela se embasa nos demais direitos e
garantias fundamentais, tais como a liberdade, igualdade, direitos sociais, econômicos e
culturais.

No entendimento de Merísio (2010, p. 69) enfatiza que:

A dignidade é tema de reflexão desde Aristóteles, na Grécia antiga. No entanto, há


que se considerar que na Antiguidade ela era relativa, visto que os escravos
(normalmente advindos de povos vencidos) estavam reduzidos à servidão e não
eram considerados merecedores de dignidade. O conceito evoluiu especialmente na
Idade Média, com São Tomás de Aquino, principal pensador a dedicar-se ao estudo
do tema, embora se ativesse à abordagem teológica. Há o reconhecimento da
dignidade humana, qualidade inerente a todos os seres humanos, que nos separa dos
demais seres e objetos. São Tomás de Aquino defende o conceito de que a pessoa é
uma substância individual de natureza racional, centro da criação pelo fato de ser
imagem e semelhança de Deus. Logo, o intelecto e a semelhança com Deus geram
dignidade que é inerente ao homem, como espécie.

Diante disso com o passar nos períodos da história, nem todos os homens viviam com
dignidade. Com o crescimento da sociedade a dignidade passou a ganhar um conceito mais
teológico, também religioso, visto que o homem é a imagem e semelhança de Deus, ou seja,
para ser digno tinha que ser cristão.

Na colocação de Trindade (1998, p. 101) diz que:

Na Idade Moderna, com o pensamento jusnaturalista, ocorre a laicização da


concepção de dignidade da pessoa humana. Não havia mais a necessidade de ser
cristão: bastava ser humano para ser considerado digno. Assim, a concepção de
dignidade sai do campo religioso e passa a ter como foco central o homem, pois a
dignidade é inerente a todos os seres humanos e não uma questão de crença ou
classe social. Trouxe uma nova concepção de dignidade ao dizer que tudo tem um
preço ou uma dignidade: aquilo que tem preço é substituível e tem equivalente; j á
aquilo que não admite equivalente, possui uma dignidade. Assim, as coisas possuem
preço; os indivíduos possuem dignidade.

É importante destacar que o processo de secularização acrescentou apenas com Kant,


que observou na liberdade ética do ser humano o embasamento de sua dignidade. Por ser
racional, fortalece Kant, o ser humano é capaz de conceber para si suas próprias leis, e
seguilas conforme lhe convier. Dignidade é, então, ter autonomia, o que só pode ser
proporcionada pela razão.
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Outro ponto destacado é a autonomia que dignifica o homem, por consequencia ele
jamais pode ser tido como meio para algo. Todo homem é um fim em si. A dignidade da
pessoa humana vem da capacidade do homem em criar suas leis e segui-las, pois o homem é
um ser pensante, racional. Sendo o homem um fim em si mesmo deve o homem não
prejudicar o seu semelhante e proporcionar meios para a busca da felicidade.(SARLET, 2016)

Baseado na colocação de Ferreira (2004, p. 301) diz que:

A dignidade da pessoa humana é um dos alicerces do Estado Democrático de


Direito, sendo que a Constituição Federal de 1988 a traz em seu artigo 1º, inciso III,
in verbis.
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos
Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de
direito e tem como fundamentos:
III – a dignidade da pessoa humana.

Diante disso (RICCI, 2016) Destaca que é no inicio da dignidade humana que a
ordem jurídica se depara como próprio sentido, sendo seu ponto de partida e seu ponto de
chegada, para a hermenêutica constitucional contemporânea. Consagra-se, assim, a dignidade
humana como verdadeiro superprincípio, a orientar tanto o Direito Internacional como o
Direito interno.
Outro ponto a destacar é a dignidade da pessoa humana, além de ser a base legal do
Estado Democrático de Direito, deve ser o ponto de partida para a elaboração da legislação
interna e internacional, pois deve-se atentar para as necessidades da sociedade, respeitando a
liberdade e igualdade do indivíduo e demais direitos que garantam o mínimo para a
sobrevivência.

Nesse entendimento Della-Rosa (2003, p. 55) enfatiza que:

O valor da dignidade da pessoa humana e o valor dos direitos e garantias


fundamentais vêm a constituir os princípios constitucionais que incorporam as
exigências de justiça e dos valores éticos, conferindo suporte axiológico a todo
sistema jurídico brasileiro. Na qualidade de princípio, a dignidade da pessoa humana
deve ser realizada, em cada situação concreta, o máximo possível, em todas as suas
acepções ou naquela que for pertinente à hipótese considerada. Esclarecem que a
audiência de custódia possibilita o encontro imediato do preso com o juiz, pode
significar um passo decisivo rumo à evolução civilizatória do processo penal,
resgatando-se o caráter humanitário e até antropológico da jurisdição .

Logo o processo penal evidentemente é o ramo do Direito que mais martirizar-se ou


melhor, que mais resistir, da normativa dos Tratados Internacionais de Direitos Humanos, não
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sendo descomedido de se falar, atualmente, que para chegar a um devido processo, esse deve
ser não apenas legal e constitucional, mastambém convencional.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposito do desenvolvimento do assunto, é positivo descrever que a audiência de


custódia aparece no cenário jurídico brasileiro publicado como uma garantia prevista na
Convenção Americana de Direitos Humanos que esta ratificada pelo Brasil no ano de 1992,
por meio do Decreto 678, obtendo, portanto, caráter de norma de legalidade, abaixo da
constituição e acima das demais leis que integram o ordenamento jurídico.
É importante destacar que é argumentada com perícia e sutileza por seus defensores é
que a audiência de custódia surge como um meio eficiente de evitar a superpopulação
carcerária que o Brasil tem um, aliado ao fato de que a apresentação do preso à autoridade
judicial seria uma forma de evitar a disseminação da tortura.
Neste sentido o Projeto de Lei do Senado nº 554/2011 tem como objetivo a alteração
do artigo 306, parágrafo primeiro do Código de Processo Penal, disponibilizando o prazo de
24 horas para que a pessoa presa seja conduzida no à presença de autoridade competente.
No entanto, indaga-se o porquê do limitado prazo de 24 horas estabelecido pelo
Projeto de Lei 554/2011, já que a Convenção Americana de Direitos Humanos dispõe o termo
sem demora e não 24 horas.
Em síntese, remanesce a dúvida se a autoridade competente para presidir o ato seria
somente a pessoa do juiz, ou a audiência de custódia também poderia ser realizada pela
autoridade policial, já que a Convenção Americana dispõe que o ato pode ser presidido por
“autoridade autorizada por lei a exercer funções judiciais”, e no Brasil, por força da
Constituição Federal, o delegado de polícia se encaixa no conceito de autoridade autorizada a
exercer atipicamente as funções tipicamente judiciais, mesmo que não integre o Poder
Judiciário.
Entre as finalidades da audiência de custódia, o Projeto de Lei 554/2011 e a
Convenção Americana de Direitos Humanos resguardam que a apresentação imediata do
preso tem o escopo de eliminar a violência policial no momento da abordagem no flagrante,
pois a alegação de tortura seria levada imediatamente ao conhecimento da autoridade
judiciária.
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Por fim, no plano do direito, o princípio do contraditório reclama que antes da


prolação do laudo arbitral, seja concedida às partes a chance de debater todos os fundamentos
jurídicos em que se firme a decisão.
Evidentemente que tratando-se de um fundamento jurídico na esfera da
disponibilidade privativa das partes, a possibilidade da dialética resulta da sua necessária
invocação pela parte interessada e do direito de resposta da contraparte. Todavia, há questões
que o tribunal arbitral pode conhecer ex officio, como as que dizem respeito às normas de
ordem pública do Estado em que é conduzida a arbitragem.
Em resumo se o tribunal vier a decidir oficiosamente algum ponto temático do
litígio, deve previamente convocar ambas as partes para se pronunciarem sobre ele.
Na arbitragem internacional, o principio do contraditório é observado de maneira
semelhante ao processo civil, e sua aplicação depende do que estabelece a lei processual do
país onde se convencionou dirimir os possíveis conflitos.
Seja no processo civil, ou processo penal, ou direito internacional privado, o
principio do contraditório deve ser observado e, no presente artigo, a intenção foi a de
demonstrar a teoria e a aplicação desse principio tão importante para as mais diversas lides.
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REFERÊNCIAS

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Paulo, Landy Editora, 2006.

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em: < http://thiagofscosta.jusbrasil.com.br/artigos/161368436/audiencia-de-custodia-avanco-
ou-risco-ao-sistema-acusatorio>. Acesso em: 03/04/2016.

DALLA-ROSA, Luiz Vergílio. O direito como garantia: pressupostos de uma teoria


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FERREIRA, Pinto. Comentários à Constituição Brasileira. São Paulo: Saraiva, 2004.

GEMAQUE, Sílvio César Arouk. A necessária influência do processo penal internacional


no processo penal brasileiro. Brasília: CJF, 2011.

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<http://www.cartaforense.com.br/conteudo/artigos/audiencia-de-custodia-
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SARLET, Ingo Wolfgang. A audiência de custódia. Disponível em:
<http://www.ajuris.org.br/2015/08/17/a-audiencia-de-custodia-por-ingo-wolfgang-sarlet/>.
Acesso em: 03 out. 2015.

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<http://www.conjur.com.br/2015-jul-28/adelmar-silva-audiencia-custodia-cara-inutil>.
Acesso em: 03 out. 2015.

TRINDADE, Antonio Augusto Cançado. A proteção internacional dos direitos humanos.


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Brasília: UnB, 1998.

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