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21.

BOBINAS, INDUTORES E TRANSFORMADORES

21.1. INTRODUÇÃO

Os materiais magnéticos macios como as chapas de ferro-silício laminadas, as


ferritas macias ou a liga ferro-níquel sinterizada, apresentam alta permeabilidade
magnética relativa (produzindo elevado fluxo magnético quando submetidos a um campo
magnético pequeno), e baixa coercitividade (apresentam baixo magnetismo remanente).
Estes materiais são utilizadas basicamente na construção de indutores, eletroímãs,
transformadores e motores elétricos. Nestes dispositivos circula um fluxo magnético
elevado. O objetivo deste capítulo é mostrar como são construídos os indutores e
transformadores. A análise do comportamento destes dispositivos em circuitos elétricos
não será abordada, uma vez que não é o objetivo deste curso.

21.2. INDUTOR

Um indutor típico basicamente é um fio de cobre nú esmaltado enrolado. As


vezes utiliza-se fio com uma bainha plástica de isolação. O núcleo pode ser o próprio ar,
mas geralmente é constituído de um material magnético como as ferritas macias. As
ferritas macias popularmente conhecidas por ferrites são materiais construídos através
dos processos da Metalurgia do Pó, e são constituídos de óxido de ferro e óxido de outro
elemento como o níquel, cobalto, magnésio, etc. Assim, estas ferritas são designadas
segundo sua constituição com relação ao óxido na fórmula, no caso, níquel, cobalto, etc.
De acordo com o material da ferrita, são construídos indutores com diferentes
indutâncias, uma vez que, quanto maior a permeabilidade relativa da ferrita, maior a
indutância para mesma geometria do indutor e para uma mesma corrente. A
permeabilidade relativa destas ferritas macias pode varia de 1.500 até 10.000. A
constituição dos materiais dos núcleos que podem ser utilizados estão descritas no
capítulo 17.
Os indutores são caracterizados pela indutância e corrente máxima que o fio
esmaltado pode suportar. A aquisição comercial de um indutor com as características
desejadas é bastante difícil, uma vez que no mercado não são encontrados indutores com
valores variados como no caso dos resistores e capacitores. Por este motivo, quando é
necessário um indutor com determinadas características ele deve ser construído. A
indutância para um indutor de núcleo toroidal como mostrado na Fig. 21.1, pode ser
calculada como
N 2 A
LK [21.1]
l

onde L = indutância [Henry]


N = número de espiras
 = permeabilidade magnética do material do núcleo [Henry/m]
A = área da seção transversal do núcleo [m2]
l = comprimento médio ou perímetro da circunferência do núcleo [m]
K = constante que considera fluxo disperso e outros fatores (ideal K =1)

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Fig. 21.1 - Indutor com núcleo toroidal

Assim, para a construção de indutor com certa indutância específica, parte-se um


núcleo de ferrita qualquer e arbitra-se uma permeabilidade relativa entre 1.500 e 3.000
(raramente se terá uma ferrita com permeabilidade relativa na faixa dos 10.000 uma vez
que estas ferritas são muito raras e caras). Após, tira-se as medidas do núcleo da ferrita a
disposição, no caso área da seção transversal e comprimento médio do núcleo, e partir da
Eq. 21.1, isola-se o termo número de espiras e calcula-se N. Após, mede-se a indutância.
O que irá ocorrer é que raramente se acertará, mas o erro não será grande. Então, com os
novos valores de indutância medidos, calcula-se agora a permeabilidade relativa, e após,
com o valor da permeabilidade correto, calcula-se novamente o número de espiras.
Os indutores são utilizados na construção de fontes de tensão contínua como
filtros para diminuição do ripple, apresentando (em série) os mesmos efeitos de um
capacitor (em paralelo). As fontes chaveadas existentes nos computadores são um
exemplo.
São utilizados também em circuitos ressonantes, como circuito selecionador de
frequências nos dispositivos transmissor/receptor de ondas eletromagnéticas (rádio/TV).
A razão disto é que um circuito LC (indutor/capacitor) apresenta uma variação da
impedância em função da frequência do sinal que alimenta o circuito.
Como possuem a característica de variar sua impedância em função da frequência
do sinal de corrente que circula através de seus terminais, os indutores são utilizados
como divisores de frequência em caixas de som por exemplo. Assim, quando colocados
em série com alto falantes de baixas frequências, funcionam como filtro, bloqueando as
altas frequências, permitindo somente a passagem das baixas frequências.

21.3. BOBINAS DE RF (RÁDIO FREQUÊNCIA)

Uma bobina nada mais é do que um indutor. As bobinas de RF são indutores com
núcleos, geralmente de ferritas macias, que possuem uma fenda (tipo parafuso) conectado
ao nucleo de ferrita. No caso dos rádios, as bobinas de RF tem aspecto aproximadamente
cúbico e a fenda ou parafuso fica na parte superior. As fendas ou parafusos possuem
cores diferentes e cada cor está relacionada com a frequência em que esta bobina é
utilizada.
Um circuito composto de um indutor e um capacitor (circuito LC), é um circuito
ressonante, usualmente utilizado em circuitos de seleção de frequência de ondas de rádio
por exemplo. Assim, cada sinal sintonizado de um rádio por exemplo, está em

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ressonância com um circuito LC. Entretanto, um único indutor real, tem como circuito
equivalente um circuito RLC e não somente uma indutância. A resistência surge devido a
própria resistividade do fio de cobre. A capacitância surge devido as capacitâncias
parasitas que surgem entre cada duas espiras adjacentes, que funcionam como placas em
paralelo de um capacitor. Entretanto, esta influência da capacitância parasita só é sentida
em altas frequências. Portanto, uma única bobina de RF é um circuito ressonante tipo
LC. No caso das bobinas de RF, cada uma bobina possui certa frequência de ressonância
e a cor da fenda, especifica esta frequência. Este é o motivo das cores diferentes. Quando
a o fenda (parafuso) é girado com uma chave de fenda por exemplo, o núcleo se desloca
dentro da bobina, aumentando ou diminuindo o acoplamento magnético do indutor,
variando assim a indutância.

21.3. CARACTERIZAÇÃO DAS BOBINAS

É comum caracterizar as bobinas com o seguinte conjunto de parâmetros técnicos:

 Valor nominal do coeficiente de auto-indução


 Tolerância do valor nominal
 Resistência do enrolamento (para corrente contínua)
 Corrente máxima
 Frequência de ressonância intrínseca
 Fator de qualidade às frequências de referência
 Resistência de isolamento estre as espiras
 Coeficiente de temperatura
 Gama de variação do valor nominal (em bobinas com núcleo móvel)
 Gama de frequências recomendada, em particular devido ao efeito pelicular e às
capacitâncias parasitas entre as espiras.

21.4. TRANSFORMADORES E A NECESSIDADE DA


TRANSFORMAÇÃO DAS CORRENTES ALTERNADAS

As exigências técnicas e econômicas impõem a construção de grandes usinas


elétricas, em geral situadas muito longe dos centros de aproveitamento, pois devem
utilizar a energia hidráulica dos lagos e rios das montanhas por exemplo. Surge assim a
necessidade do transporte de energia elétrica. Por motivos econômicos e de construção,
as secções dos condutores destas linhas devem ser mantidas dentro de determinados
limites o que torna necessária a limitação da intensidade das correntes das mesmas.
Assim, as linhas deverão ser construídas para suportar tensões elevadas, que podem
atingir até 220 kV por exemplo. Estas linhas de são chamadas de linhas de transmissão e
os condutores destas linhas são suportados por torres. Na cidade, esta tensão é baixada
para 13,8 kV nas subestações (em Porto Alegre por exemplo). Estas linhas são chamadas
de linhas de distribuição e os condutores são suportados na parte de cima dos postes. Nos
próprios postes esta tensão é abaixada para 220 V (tensão de linha). Todas estas
transformações de tensão é realizadas nos TRANSFORMADORES. A Fig. 21.2 mostra
um esquema do caminho percorrido pela energia elétrica até uma residência.

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Fig. 21.2 - Caminho percorrido pela energia elétrica até uma residência

21.5. DEFINIÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DE TRANSFORMADORES

Transformador é um dispositivo elétrico que tem por finalidade transferir energia


elétrica de um circuito para outro, com a mesma frequência, mas sob diferentes níveis de
tensão. Na sua forma mais simples consiste de um núcleo de ferro com dois enrolamentos
(Fig. 21.3). O enrolamento na qual se aplica a tensão (ou corrente) é chamado de
enrolamento primário e o outro, que disponibiliza a tensão na saída, é chamado de
enrolamento secundário.

Fig. 21.3 - Esquema simplificado de um transformador

Os transformadores podem ser classificados como abaixadores ou elevadores de


tensão. Quando a tensão do primário é superior à do secundário tem-se um transformador
abaixador. Caso contrário, tem-se um transformador elevador de tensão. Os
transformadores podem ser monofásicos e trifásicos. Normalmente, os transformadores
de alta potência (rede de transmissão e distribuição por exemplo) são trifásicos e os de
baixa potência (residências por exemplo para transformar de 127 para 220 V ou vice
versa) são monofásicos.

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Os autotransformadores possuem um único enrolamento onde a entrada está
ligada em todas as espiras enquanto que o secundário, possui uma série de derivações que
permitem ajustar a tensão de saída.
Os transformadores de pulso, usualmente possuem o mesmo número de espiras no
primário e secundário, e serve para desacoplamento elétrico entre dois circuitos com
tensão diferentes, como por exemplo, desacoplar eletricamente um circuito de baixa
tensão de um circuito de alta tensão.
Os transformadores de corrente, usualmente são utilizados para medição de altas
correntes.

21.6. ASPECTOS CONSTRUTIVOS

As técnicas de construção usadas nos transformadores variam bastante


dependendo do tipo e aplicação dos mesmos. O projeto do transformador é determinado
pela frequência do sinal que ele irá trabalhar, pelas tensões e correntes envolvidas e por
vários outros fatores. Os transformadores são encontrados em aplicações de alta ou baixa
tensão, altas ou baixas correntes, altas ou baixas frequências, significando uma variedade
enorme de modelos, tamanhos e formato. A aplicação ao qual o transformador é
destinado, determina em primeiro lugar que tipo de núcleo ele terá e como serão seus
enrolamentos.
Com relação ao material do núcleo, este pode ser construído a partir dos seguintes
materiais, de acordo com a frequência:

 Para operação em baixas frequências, como o 60 Hz da rede, os núcleos são


construídos de finas chapas laminadas de aço silício, com 3% de Si. As chapas são
isoladas eletricamente umas das outras.

 Para operações em altas frequências, utilizam-se núcleos maciços de ferrita macia


(mesmo tipo de ferrita utilizadas em indutores)

 Para frequências extremamente elevadas, utiliza-se núcleos de ar (neste caso, as


bobinas são enroladas em suportes de papelão, plásticos ou cerânicos)

A Fig. 21.4-a mostra um transformador com núcleo de colunas e a Fig. 21.4-b um


transformador com núcleo toroidal. A Fig. 21.5-a mostra um transformador de núcleo de
ferro e a Fig. 21.5-b um transformador de núcleo de ar, enrolado sobre um suporte
cerânico.

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Fig. 21.4 – Núcleos de transformadores – (a) na forma de colunas – (b) toroidal

Fig. 21.5 (a) – Transformador com núcleo de ferro

Fig. 21.5 (b) – Transformador com núcleo de material cerânico

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Os transformadores convencionais são construídos com lâminas de ferro-silício
com 1,5 a 3% de silício, e expessuras de 0,3 a 0,5 mm. As chapas são adquiridas na
forma de fitas metálicas em bobinas. Estas lâminas já vem de fábrica com uma camada
isolante, não necessitando de um processo de oxidação em fornos como no caso dos
motores elétricos. A razão pela qual as chapas são laminadas e isoladas eletricamente, é
porque esta forma limita a circulação de correntes parasitas no núcleo a áreas menores,
diminuindo sensivelmente a perda de potência por correntes induzidas.
As bobinas são desenroladas, e uma máquina estampadora corta as lâminas
conforme mostra a Fig. 21.6. Posteriormente as chapas são agrupadas e fixadas na forma
de um núcleo, conforme mostra a Fig. 21.6. Após são inceridos os enrolamentos.
Praticamente não existem diferenças entre a forma de um transformador de baixa
potência e um de alta potência. Em ambos os casos, a parte do núcleo onde são
introduzidas as bobinas tem a forma da letra E. No caso do transformador trifásico, cada
fase (primário e secundário) ocupa uma coluna do E. No caso do transformador
monofásico, os enrolamentos do primário e secundário ocupam a coluna central do
núcleo.

Fig. 21.6 – Forma das chapas do núcleo de um transformador monofásico

21.7. ASPECTOS CONSTRUTIVOS DOS ENROLAMENTOS,


ISOLAÇÃO E REFRIGERAÇÃO

Os transformadores monofásicos de baixa tensão e baixa potência usualmente são


de dois tipos. O primeiro, são aqueles comumente utilizados para alterar uma tensão de
127 para 220 V ou vice-versa. O segundo tipo são transformadores abaixadores de 127 /

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220V para tensão bem menores com 12V / 1 A. Estes últimos são encontrados em
equipamentos eletrônicos das fontes de tensão contínua. Os enrolamentos dos
transformadores monofásicos citados, são construídos com fios de cobre nú esmaltados,
enrolados em carretéis (as vezes plásticos) na forma de bobinas. O esmalte é uma resina
(ou verniz) termofixo, que carboniza a uma certa temperatura. O pretume que se nota em
certos transformadores danificados nada mais é do que substâncias a base de carbono que
resultam da carbonização deste verniz.
Os transformadores de potência trifásicos, os enrolamentos são cabos (fios com
diâmetros maior) e a isolação é feita com papel (usualmente não são utilizados verniz
para isolação das espiras). Os carretéis são construídos de madeira. O núcleo com as
bobinas são montados numa estrutura dentro de um invólucro que após é enchido com
óleo mineral. A função deste óleo é de isolação e dissipação de calor. Estes invólucros
externos dos transformadores possuem dutos lateriais que servem como radiadores.
Assim, com o aquecimento, pelo efeito sifão, o óleo circula pelos dutos lateriais, onde
então se resfria, retornando pela parte de cima do invólucro. Os fabricantes de
transformadores recomendam que seja uma análise do óleo mineral em média uma vez
por ano. Assim, transformadores maiores, como de subestações, possuem um pequena
torneirinha por onde uma pequena amostra do óleo é recolhida para análise.

QUESTÕES

1. Como pode ser construído um indutor?

2. Onde os indutores são utilizados?

3. O que são bobinas de RF?

4. Como se caracteriza uma bobina?

5. Porque os transformadores são úteis

6. Quais os tipos de transformadores existentes/

7. Como são construídos os núcleos dos transformadores em função da frequência?

8. Como são construídos os núcleos dos transformadores convencionais?

9. Como são construídos os enrolamentos de baixa potência (monofásicos)?

10. Como são construídos os enrolamentos dos transformadores de alta potência


(trifásicos)?

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