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Quanto vale a vida?

Para tentar responder a essa questão tomarei uma antiga


história como suporte, a de Aquiles e um acometimento atual que já está marcado,
também, novamente, nos anais da história.

Hoje, 2.721 anos depois do suposto nascimento de Ilíada, talvez não haja
tanta reflexão enquanto se pergunta "quanto vale a vida?", mas que quando o
infortúnio bate à porta, ela passa a ter peso de ouro e torna a ser deveras
valorizada.

Pelo menos, para alguns, sob essa pandemia do COVID-19, a vida não
perdeu seu valor. Continua inestimável; a outros, infelizmente, a vida passou a ter o
peso de uma garrafa de whisky e uma latinha de energético; ah!, já vi a vida valer o
preço de um vermicida qualquer - sem contar alguns míseros 10 reais de uma
máscara de proteção.

Na intenção de responder a essa pergunta já manjada sobre o valor da vida,


agora gostaria de fazer uma reflexão sobre a obra Ilíada, de Homero, que menciona
diversos guerreiros, lembrando seus valores. É, portanto, a partir daí que se vê quão
a vida é valorosa e que deve-se respeitá-la profundamente - por mais que o corpo
qual ela habitava jaz inerte no solo.
São diversos os heróis que surgem descritos no poema épico, tido como a
primeira obra de literatura ocidental e, acredita-se, ter sido escrita por volta de 800 -
700 a.C, provavelmente por Homero.

Aquiles, peça fundamental nessa obra, é um exímio guerreiro, quase que


imbatível; o mais corajoso, esbanja auto-estima; foi ponto focal na guerra entre
homens na Terra - gregos x troianos - e também dos Deuses no Olimpo. Sua mãe,
deusa Tétis, o concebeu junto a um humano, Peleu. Sendo assim, Aquiles é um
semideus.
Já nos últimos dias da longa guerra de 10 anos, com Ílion (Tróia) sob o cerco
de milhares de gregos, pode-se começar a contar a tragédia, de fato, já formada a
partir da ira de Aquiles.

Dentre alguns eventos, esse é o que dá início ao que se tem como muito
trágico - sem contar o fato de Páris - filho do rei Príamo, de Tróia - seduzir e
conquistar Helena - mulher de Menelau, rei de Esparta -, desencadeando toda a
guerra. Porém não é sobre isso que quero me ater e sim sobre a fúria de Aquiles, no
fim da Ilíada.

O que norteia, então, o leitor no fim da guerra em Tróia é a sede de Aquiles


em vingar seu falecido amigo, Pátroclo. A deusa Tétis, sua mãe, o avisa do risco e
que ele terá de arcar com sua própria morte. Aquiles assume, então, tal risco e parte
ciente do seu fim, mas em busca de vingança. O jovem guerreiro moveu o que pôde
em prol de seu plano, contra os impeditivos dos deuses (canto XIX - XX - XXI).

Enfim, Aquiles vinga seu amigo Pátroclo matando o inimigo, Heitor. Após isso,
a vingança não pareceu o suficiente. Incapaz de aceitar os fatos - até porque a
vingança não traz ninguém de volta e nem faz com que os inimigos, que ainda estão
de pé, se rendam imediatamente - Aquiles surpreendeu até aos próprios deuses,
que entenderam que ele fora longe demais.

Contrariando os costumes de sua época, Aquiles vagueia com o que resta do


corpo de Heitor - mutilado na batalha pessoal. Nisso, Pátroclo é cremado e Aquiles
organiza os jogos fúnebres.

Os jogos fúnebres são considerados os mais antigos do ocidente. Era uma


enorme homenagem aos mortos - e lembram os Jogos Olímpicos, quais hoje
conhecemos. Os gregos continham uma gama muito grande de atrações esportivas
como as corridas de carro e cavalo, duelos pessoais, entre outras demonstrações de
força e habilidade.

Então, os funerais de Pátroclo foram realizados dessa forma: com grande


pompa e, como de costume, marcados pelo sacrifício de doze jovens troianos.
Por fim, Aquiles foi morto e Ílion (Tróia) caiu sob os gregos.

Aquiles ultrapassa padrões normais da vida humana por conta dessa


vingança, seria isso uma decisão heróica?

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