Você está na página 1de 2

Quando tudo parece perdido.

Deus reverte a situação (At 12.1-25)


O l iv r o d e A t o s é o relato das intervenções milagrosas de Deus na vida da igreja primitiva. O
médico e historiador Lucas vem relatando uma conversão maravilhosa após a outra: os três mil no dia
de Pentecostes, os samaritanos, o eunuco etíope, Saulo de Tarso, o centurião gentio Cornélio e a
multidão heterogênea em Antioquia. A Palavra de Deus se espalhava em círculos concêntricos. Lucas
está prestes a descrever aquele grande salto que chamamos de primeira viagem missionária. Antes
disso, contudo, precisa relatar um sério revés, a morte de Tiago e a prisão de Pedro, ambos apóstolos
e líderes da igreja em Jerusalém.
A dramática prisão de Pedro (12.1-5)
Tiago, irmão de João, e Pedro faziam parte do núcleo mais íntimo dos discípulos de Jesus. Eram
líderes influentes na igreja. Herodes mata um e prende outro. Não temos explicação sobre por que
Deus permitiu que Tiago morresse, enquanto enviou seu anjo para libertar Pedro. Afinal, ambos eram
homens dedicados a Deus e necessários à igreja. A única resposta é a soberana vontade de Deus
(4.24-30). Certamente precisamos dizer como Paulo: Por que, se vivemos, para o Senhor vivemos, se
morremos, para o Senhor morremos. Quer, pois, vivamos ou morramos, somos do Senhor (Rm 14.8).
A uns, Deus livra da morte; a outros, Deus livra na morte. Na galeria da fé, em Hebreus 11, uns foram
libertos do fogo e da boca de leões pela fé; outros, pela fé, foram mortos e serrados ao meio. Uns são
libertos pela fé; outros morrem pela fé. Uns seguem lutando na terra, outros permanecem celebrando
no céu. Deus é Deus quando nos livra da morte e quando nos leva para sua presença. Ele é Deus
quando atende a nossa oração curando e libertando e quando chama os seus filhos para voltarem
para casa e tomarem posse do reino. O mesmo salmista que glorifica a Deus pelo livramento da morte
diz que: Preciosa é aos olhos do Senhor a morte dos seus 237 A to s — A ação do Espírito Santo na
vida da igreja santos: (SI 116.15).

A oração da igreja em favor de Pedro (12.5)


A situação mostrava-se desoladora, sem esperança. Parecia que Pedro não tinha como escapar. O
que a pequena e pouca influente comunidade de Jesus poderia fazer contra o poder armado de Roma?
Os crentes não foram para as ruas organizar uma revolta popular. Não fizeram um abaixo-assinado
reivindicando seus direitos, nem apelaram para as autoridades para pedir a soltura de Pedro. Os
crentes se reuniram para orar em favor de Pedro. Buscaram o soberano Senhor do universo, pois
acreditavam no poder da oração. Warren Wiersbe diz corretamente que não devemos jamais
subestimar o poder de uma igreja que ora.364 E conhecida a palavra de Thomas Watson, ilustre
puritano: “O anjo chamou Pedro na prisão, mas foi a oração que foi buscar o anjo”. Matthew Henry
afirma que orações e lágrimas são os braços da igreja. E com isso que ela luta contra os inimigos e a
favor dos amigos.365 Quatro coisas nos chamam a atenção em relação a essa reunião de oração.
Em primeiro lugar, a quem dirigiram a oração (12.5). Os crentes dirigiram seu clamor a Deus, o
soberano Senhor. Orar é falar com aquele que está no trono, que tem poder, autoridade e controle
sobre todas as coisas. Orar é associar- -se ao mais forte. É conectar o altar ao trono. E conspirar
contra os poderes das trevas, posicionar-se acima dos poderes terrenos e buscar socorro naquele
que tem seu trono nos céus.
O livramento milagroso de Pedro (12.6-17)
Pedro já estava na prisão havia sete dias. Eram os dias da Festa da Páscoa. Durante todo esse tempo
a igreja permaneceu em oração, e Pedro permaneceu sereno, exatamente naquela que seria a última
noite da sua vida. Ele sabia que seria sentenciado à morte no dia seguinte. Mas Pedro não se
desesperou. Não tentou subornar os guardas. Apenas dormiu. Descansou na soberana providência
de Deus. Isso levou Crisóstomo, ilustre Pai da Igreja, a comentar: “E lindo o fato de Paulo cantar hinos,
enquanto Pedro, aqui, dorme”. Pedro e Paulo revelaram-se corajosos diante da morte. O livramento
de Pedro enseja-nos algumas lições. Em primeiro lugar, seu livramento foi na última hora (12.6). Deus
poderia ter evitado que Pedro fosse preso. Deus poderia ter fulminado Herodes no primeiro dia em
que Pedro foi para a cadeia, libertando seu servo das grades. Deus poderia ter arrancado Pedro da
prisão no começo da festa. Mas aprouve a Deus livrá-lo na última hora. Aprouve a Deus enviar o seu
anjo na última vigília da noite. Pedro estava preparado para morrer, mas Deus, na última hora, estende
seu braço forte, envia seu anjo e tira Pedro do cárcere. Às vezes, o livramento 242 Quando tudo
parece perdido, Deus reverte a situação de Deus só vem na última hora, na quarta vigília da noite,
quando as circunstâncias parecem irremediáveis!
A derrota fragorosa dos inimigos de Deus (12.18-23)
O apóstolo Pedro, anos mais tarde, escreveu sua primeira carta e, possivelmente, relembrando essa
experiência vivida na prisão, registrou: Porque os olhos do Senhor repousam sobre os justos, e os
seus ouvidos estão abertos às suas súplicas, mas o rosto do Senhor está contra aqueles que praticam
males (IPe 3.12). Lutar contra Deus e contra sua igreja é a mais consumada loucura. Ninguém jamais
lutou contra o Altíssimo e prevaleceu. Ninguém jamais perseguiu a igreja de Deus e logrou êxito
duradouro. Os inimigos de Deus podem parecer fortes, insolentes e vitoriosos, mas eles cairão.
Tornar-se-ão pó e serão reduzidos a nada. Três verdades devem ser aqui destacadas. Em primeiro
lugar, Deus deixa o inimigo confuso e envergonhado (12.18,19). Como responsáveis pela segurança
de 245 A to s — A ação do Espírito Santo na vida da igreja Pedro, os soldados ficaram alvoroçados.

O crescimento e a multiplicação da Palavra de Deus (12.24,25)


No início de Atos 12, Herodes parecia estar no controle, enquanto a igreja parecia estar perdendo a
batalha. Mas, ao final do capítulo, Herodes está morto, e a igreja segue muito viva e crescendo
rapidamente!373 Sempre que o mundo tenta destruir a igreja, Deus a promove. Quando anda na
presença de Deus, a igreja é 248 Quando tudo parece perdido, Deus reverte a situação indestrutível.
As prisões não a abalaram. As arenas com leões esfaimados não a destruíram. As fogueiras não
acabaram com ela. Os massacres em massa não a dizimaram. O sangue dos mártires é a sementeira
do evangelho. Herodes morreu, os judeus foram envergonhados, mas a Palavra de Deus cresceu e
se multiplicou em Jerusalém! Apesar de todos os esforços de Satanás para impedir o trabalho da
igreja, a Palavra de Deus crescia e se multiplicava (12.24). Este é o terceiro progresso desse tipo
registrado no livro de Atos (6.7; 9.31; 12.24). Apesar da oposição, a obra avançava! Dois pontos nos
chamam a atenção aqui. Em primeiro lugar, após a provação, a igreja torna-se mais ousada na
pregação da Palavra (12.24). A morte de Tiago e a prisão de Pedro, em vez de intimidar a igreja e
calar sua voz, tornou-a ainda mais ousada na pregação. O sofrimento não destrói a igreja. A
perseguição não fecha as portas da igreja. Antes, uma igreja provada é uma igreja ousada, forte, e
poderosa no testemunho. Depois dessas dolorosas experiências, não foram os inimigos que se
multiplicaram e cresceram, mas a Palavra de Deus (12.24). A obra de Deus prosseguia a despeito da
morte de Tiago e da ausência de Pedro. Em segundo lugar, após a provação, a igreja amplia a sua
visão missionária (12.25). Foi depois do livramento de Pedro que Paulo e Barnabé retornaram a
Antioquia e dali foram chamados por Deus para as missões mundiais. A partir de então, um movimento
missionário foi levantado e o mundo inteiro foi alcançado pelo evangelho nas três viagens missionárias
de Paulo.

Você também pode gostar